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AULA 4

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HISTÓRIA DA IDADE MÉDIA ORIENTAL
MUNDO ÁRABE PRÉ-ISLÂMICO: O ISLÃ EM 
SEUS PRIMÓRDIOS
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Olá!
Ao final desta aula, o aluno será capaz de:
1. Identificar as características sociais, políticas, econômicas e religiosas do povo árabe antes do surgimento do
Islamismo;
2. Conhecer alguns dados da biografia de Maomé que contribuíram para a concepção do Islamismo;
3. Caracterizar os principais elementos pertinentes à crença Islâmica;
4. Analisar os entraves encontrados por Maomé na difusão da fé islâmica.
1 A Arábia pré-islâmica
Os muçulmanos costumam denominar o período anterior ao surgimento do Islamismo de Jahiliyah, ou seja,
Idade da Ignorância. A não possuía centralização política, visto que estavaregião da Península Arábica
subdividida em várias comunidades independentes.
Em termos geográficos, podemos dividir a península em duas grandes porções: ao norte uma área bastante
inóspita, com clima semi-árido e ao sul, de clima mais ameno, ocupada hoje pelo Yemen. Observe nos mapas que
é banhado pelo Mar Vermelho e o Golfo Pérsico.
Antes de Maomé e a difusão do Islamismo, o que prevalecia era a ética tribal.
Cada indivíduo buscava estabelecer vínculos sanguíneos e de parentesco, por meio de um ancestral comum,
formando um clã. Os clãs interagiam ligando-se em tribos ( ).qawm
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“Era essencial cultivar uma ardente e absoluta lealdade ao e seus aliados. Somente a tribo poderia garantirqawm
a sobrevivência dos indivíduos […] Para cultivar esse espírito comunitário, os árabes desenvolveram uma
ideologia chamada […] A implica coragem na batalha, paciência e resistência ao sofrimento,muruwah muruwah
dedicação às obrigações cavalheirescas de vingar o mal feito à tribo, proteger os mais fracos e afrontar os fortes.” 
ARMSTRONG, K. Uma biografia do Poeta.São Paulo: Companhia das Letras, 2009, p. 70.
Várias tribos viviam de forma nômade, peregrinando pelo deserto, praticando o pastoreio e utilizando os oásis
como entrepostos. Eram conhecidos como beduínos. Em contrapartida, também existiam tribos sedentarizadas,
ocupantes das regiões mais próximas da costa, caso daquelas que se fixaram em Meca e . Os dois grupos seYatrib
relacionavam através de interações comerciais.
No norte da Península, alguns grupos estabeleceram reinos de duração variável. Como exemplos podemos citar
os gassânidas, que firmaram, com o passar do tempo, relações com o Império Bizantino e o reino de Hira, que
pendia para o lado do Império Persa.
Esses dois Estados serão, posteriormente, os primeiros alvos da expansão islâmica.
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Na região conviviam também pequenos grupos judaicos e cristãos, no entanto, o grosso dos habitantes da
Península era politeísta. Possuíam diversos santuários, sendo que o mais importante era a Caaba, situada na
cidade de Meca. A redor do santuário ficavam
depositadas imagens de vários ídolos, cerca de 360, representando as várias tribos da Península. Era tradição
que peregrinos fossem anualmente ao local e realizassem sete voltas, a , em torno do monumento.tawwaf
No interior da Caaba ficava a Pedra Negra, provavelmente, um meteorito. Segundo a tradição islâmica seria uma
pedra enviada dos céus. Originalmente era branca, mas teria enegrecido por absorver os pecados da humanidade.
2 Maomé e o princípio do Islamismo
Para entendermos o surgimento do Islamismo precisamos conhecer alguns detalhes da biografia do profeta
Maomé. A data de seu nascimento é motivo de controvérsia; varia entre 570 e 576. Seu pai faleceu pouco antes
do parto e a mãe, quando contava apenas seis anos. Por conta dessas adversidades, passou a viver com seu avô
paterno.
É importante lembrar que sua família era da tribo dos coraixitas ( ), grupo que administrava a cidade deQuraysh
Meca no período em que o Islamismo nasceu. Apesar disso, como veremos à frente, Maomé enfrentou várias
adversidades até que suas ideias vigorassem.
Já adulto foi empregado como chefe de caravana de uma rica viúva, Khadidja. Apesar da significativa diferença de
idade, após alguns anos se casaram. O enlace acarretou para Maomé uma ascensão econômica e social em sua
comunidade. Dessa união nasceram sete crianças, sendo que apenas quatro meninas vingaram: Roqaia, Ummu
Keltsum, Zeineb e Fátima, a única que lhe deixará descendentes.
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Por conta de sua atividade profissional, Maomé viajava muito e, segundo seus biógrafos, essas viagens teriam
facilitado a ele o contato com grupos adeptos do Judaísmo e do Cristianismo. Tais relações se manifestam
quando percebemos elementos desses credos na lógica do Islã.
Por volta do ano de 610, Maomé, que desenvolvera o hábito de longos retiros e jejuns, teria recebido uma
mensagem angelical para que iniciasse sua pregação.
“Maomé foi arrancado de seu sono e se sentiu tomado pela devastadora presença divina. Mais tarde ele
explicaria essa experiência inefável dizendo que um anjo o envolvera num terrível abraço que o fez sentir como
se o ar estivesse sendo expelido para fora do corpo.
O anjo deu-lhe uma ordem: ! Recita! […] Mas, disse ele, o anjo simplesmente o abraçou de novo até que,Iqra
quando pensou haver chegado ao limite de resistência, sentiu saírem-lhe da boca afora as palavras divinamente
inspiradas de uma nova Escritura.” ARMSTRONG, K. Uma biografia do Poeta. São Paulo: Companhia das Letras,
2009, p. 56.
Por algum tempo, Maomé relutou em acreditar no que vivenciara. Achava que havia sido tomado por um jinni
(gênio mau). Seu círculo mais próximo, composto de sua esposa, seu genro, seu futuro sogro e alguns amigos, no
entanto, o estimularam a divulgar as revelações que recebera. Após iniciar sua pregação pública, Maomé recebeu
a adesão de várias pessoas da cidade. Essa nova crença foi batizada de Islão, que significa submissão a Allah
(Deus).
A região de Meca e as lideranças locais enriqueceram pelo comércio movimentado por peregrinos. A Caaba
atraía indivíduos de diferentes tribos, pois reunia em seu exterior imagens de vários ídolos e a Pedra Negra. Por
conseguinte, era comum que para lá afluíssem centenas de pessoas.
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A pregação de Maomé enfatizando a existência de uma única divindade era um potencial perigo para os negócios
coraixitas. Vários relatos indicam que os seguidores do Profeta passaram a ser perseguidos, sofreram atentados
pessoais e a seus bens.
Por algum tempo, Maomé passara ileso a essas perseguições. Lembre-se do que comentamos acima: sua família
também pertencia à tribo dominante.
Alguns anos após o início de sua pregação e a ampliação do número de convertidos, o próprio Maomé foi
ameaçado.
Sem opção, ele retirou-se com um grupo de seguidores para uma cidade relativamente distante de Meca, a cidade
de Yatrib (mais tarde rebatizada de Medina, cidade do Profeta).
Esse episódio, datado de 622 e denominado Hijra ( ), tornou-se o marco do Islamismo.Hégira
O ano de 622, ou seja, Hijra representa o início do calendário islâmico. Esse calendário é baseado nos ciclos da
lua e possui 354 dias.
São 12 meses de 29 ou 30 dias.
Por vezes traduzido como fuga, a Hégira representou, na verdade, uma retirada estratégica de Maomé. Em
Medina ele encontrou algumas comunidades judaicas e grupos árabes politeístas, bem como indivíduos que
aderiram à sua mensagem. O ambiente era, definitivamente, menos hostil que em sua cidade natal.
Ainda que informalmente, Maomé passou a exercer uma liderança na localidade e mediar os conflitos existentes.
Realizou importantes alianças através dos casamentos de suas filhas e de novas núpcias contraídas por ele
próprio. Organizou vários ataques a caravanas oriundas de Meca até que o conflito tornou-se flagrante.
No ano de 630, Maomé teria marchado para Meca e tomado a cidade sem novos derramamentos de sangue visto
que a liderança aceitou a rendição. O primeiro ato de Maomé teria sido aproximar-se da Caaba e destruir todos
os ídolos lá existentes, deixando apenas a Pedra Negra intacta. O Islão estabelecera sua base.
3 Os pilares do Islamismo
Para os seguidores do Islamismo, osmuçulmanos (cujo significado é “aquele que se submete”), existem algumas
premissas básicas que são conhecidas como os pilares da religião. São cinco:
Dar constantemente o testemunho de que a única divindade que merece ser adorada é Allah e que Maomé
(Muhammed) é seu Shahadah, ou seja, seu Profeta.
Realizar as cinco orações obrigatórias em direção ao solo sagrado de Meca.
Doar esmolas (Zakaah) aos pobres no valor de, aproximadamente, 2,5% dos seus bens.
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Praticar o jejum no mês sagrado do Ramadã (estariam isentos do jejum os enfermos, as lactentes, os idosos, as
grávidas e as mulheres no período menstrual).
Realizar a peregrinação (Haij) à Meca, pelo menos uma vez na vida, desde que a pessoa possuísse meios para fazê-
lo.
4 O Islamismo: fontes principais
Os muçulmanos, como os cristãos e os judeus, também possuem um Livro Sagrado, o ou . EstáCorão Alcorão
subdividido em
114 capítulos, também conhecidos como e teria sido concebido ao longo dos 23 anos de pregação doSuras 
Profeta.
Segundo a historiadora Karen Armstrong:
“(...) o Corão não apresenta as várias suras na ordem em que foram proferidas por Maomé. Quando a primeira
compilação oficial foi feita, por volta de 650, cerca de vinte anos após a morte de Maomé, os editores colocaram
as suras mais longas no começo e as mais curtas, que incluem as primeiras reveladas pelo Profeta, no final.” 
ARMSTRONG, K. Uma biografia do Poeta. São Paulo: Companhia das Letras, 2009, p. 61.
Em relação à figura de Maomé, os muçulmanos tinham uma preocupação especial. Jamais idealizar sua figura e
muito menos adorá-lo.
Ele foi o Profeta como Abraão, Moisés, João Batista e Jesus, mas não deve ser divinizado.
Ele é, sim, um modelo a ser seguido.
“Maomé é um homem como qualquer outro, mas é como uma joia entre as pedras. Enquanto as pedras comuns
são opacas e pesadas, a joia é translúcida, transpassada pela luz que transfigura. […] Sua carreira profética foi um
símbolo, uma teofania, que não só mostra a atividade de Deus no mundo, mas também ilustra a perfeita sujeição
humana a Deus.”
ARMSTRONG, K. São Paulo: Companhia das Letras, 2009, p. 294.Uma biografia do Poeta.
Saiba mais
Você deve se lembrar da polêmica gerada pelo jornal dinamarquês Jyllands-Posten, que
publicou uma série de charges sobre Maomé. Caso não se recorde, acesse o seguinte link e
conheça a questão:
<http://www.presseurop.eu/pt/content/news-brief-cover/126331-caricaturas-de-maome-
jyllands-posten-ameacado>.
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O Alcorão prega, dentre outras coisas, o Monoteísmo absoluto, onde existe apenas um Criador, sábio e
misericordioso que punirá os pecadores e abençoará os dignos de mérito na vida eterna.
Acreditam em Jesus como um Profeta anterior a Maomé, mas não em sua morte na cruz como redenção para a
humanidade. É pecado mortal modificar, sujar ou adulterar de qualquer forma o Alcorão. Além disso, antes de
tocá-lo, os fiéis fazem um ritual de purificação.
A segunda fonte da lei islâmica utilizada pelos muçulmanos é a que significa “caminhos trilhados peloSuna
Profeta”. Seria o conjunto das falas, práticas e juízos emanados pelo Profeta. As , ou seja, os registrosHaddits
validados desse conjunto são a base para a conduta do bom muçulmano.
Quando falamos de mundo islâmico temos que citar ainda a , o conjunto de leis que regem a vida dosSharia
muçulmanos. Seria composta pela combinação de diversas origens: o Alcorão, as Sunas e os , decisões dosFatwas
sábios do Islão sobre questões do dia a dia, sempre amparadas. A é a materialização da Lei de . Sharia Allah
Outro elemento do Islão, que é alvo de muita polêmica e má interpretação, é o conceito de . Usualmente éJihad
traduzido como Guerra Santa. Na verdade, como você estudará em História da Idade Média Ocidental, a
expressão foi usada primeiramente pelos cristãos ao tentar reconquistar os territórios da Terra Santa das mãos
dos seguidores do Islamismo.
A tradução mais correta para o termo é empenho. Costuma-se dividir a em dois tipos: a e a Jihad Jihad Maior 
.Jihad Menor
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A Maior seria um embate pessoal, o indivíduo em busca do controle de sua alma, do domínio de si mesmo. A
Menor se relaciona ao empenho dos muçulmanos em levar seu credo para outras pessoas, ou seja, exercer o
proselitismo.
A historiadora Karen Armstrong resumiu de forma bastante precisa o que é o Islamismo.
“O Islã é uma fé prática e realista que vê a inteligência humana e a inspiração divina trabalhando
harmoniosamente lado a lado. […] O sucesso político da (comunidade – grifo nosso) tornara-seumma
quase um sacramento para os muçulmanos: era um sinal externo da presença invisível de Deus em seu
meio. A atividade política continuaria a ser uma responsabilidade sagrada, e o sucesso futuro do império
muçulmano era um “sinal” de que a humanidade como um todo poderia ser redimida.” (ARMSTRONG, K. 
Uma biografia do Poeta.São Paulo: Companhia das Letras, 2009, p. 281.)
5 O início da expansão do Islamismo
Maomé foi o articulador de uma união até então inexistente na Península Arábica. Para obter êxito, além de ser
um convincente líder religioso, precisou de sua capacidade de articular acordos e também do uso das armas.
Até o ano de 632 quando faleceu, Maomé havia reunido praticamente toda a Península Arábica sob a égide do
Islamismo. Muitas tribos beduínas haviam se submetido ao Profeta, mas não haviam se convertido de fato. Prova
disso é que, logo após a morte do Profeta, muitas romperam os acordos firmados.
Havia o risco real de que toda a tecitura política urdida por Maomé se rompesse, ainda mais porque ele não
deixara nenhum indício ou indicação de quem deveria sucedê-lo na liderança da . Esse é o assunto daumma
próxima aula.
O Islamismo pós Maomé. Até lá!!!
O que vem na próxima aula
• Formação do mundo islâmico após Maomé;
• Formação da dinastia Omíada;
• Formação da dinastia Abássida.
CONCLUSÃO
Nesta aula, você:
• Compreendeu que a Arábia pré-islâmica possuía características muito diferentes das assumidas após a 
difusão do Islamismo;
• Aprendeu que o Islamismo recebeu influência das duas grandes religiões monoteístas de então, o 
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• Aprendeu que o Islamismo recebeu influência das duas grandes religiões monoteístas de então, o 
Judaísmo e o Cristianismo;
• Analisou os problemas enfrentados por Maomé para difusão dessa nova religião.
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