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LINGUISTICA APLICADA AO ENSINO DO PORTUGUES

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LINGUÌSTICA 
APLICADA AO 
ENSINO DO 
PORTUGUÊS 
Letramento e o ensino 
da língua materna
Objetivos de aprendizagem
Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados:
  Reconhecer a importância do conceito de letramento para o ensino 
de língua materna.
  Analisar como o ensino de língua materna promove a circulação dos 
alunos em diferentes práticas de letramento.
  Avaliar propostas de projeto que integrem a noção de letramento 
como prática social e o ensino de língua materna.
Introdução
O conceito de letramento é muito mais complexo e abrangente do que 
o de alfabetização. Enquanto na alfabetização o foco é a decodificação 
de signos linguísticos, no letramento há uma análise crítica do uso social 
da língua. Ou seja, não basta saber ler e escrever; é necessário saber usar 
a leitura e a escrita como parte do processo de significação do indivíduo.
Neste capítulo, inicialmente, você vai verificar a importância do letra-
mento para o ensino de língua materna. Em seguida, você vai estudar 
diferentes práticas cotidianas de letramento. Por fim, vai avaliar o papel da 
escola e do professor no processo de desenvolvimento do senso crítico 
do aluno por meio do uso de textos.
1 A importância do letramento no processo 
de alfabetização
É por meio da leitura que os indivíduos desenvolvem a sua capacidade analítica 
e refl exiva em diferentes contextos sociais. No entanto, saber decodifi car letras, 
palavras ou enunciados não garante que a pessoa seja letrada; isso apenas 
certifi ca que o sujeito é alfabetizado.
Os termos “letramento”, “alfabetização” e “escolarização”, embora mante-
nham uma forte relação semântica, não têm o mesmo significado. De acordo 
com Macedo (2006), além de se tratarem de três termos distintos, há uma 
relação de evolução entre a alfabetização e o letramento:
Enquanto se entende por escolarização a ação ou efeito de sujeitar-se ao en-
sino escolar, alfabetização refere-se ao processo de aquisição individual de 
habilidades para a leitura e escrita; trata-se da aprendizagem de habilidades 
específicas, como por exemplo, relacionar símbolos escritos com unida-
des sonoras (fonemas) os quais, associados a um processo de construção 
de sentido, evoluem para o que se chama de letramento (MACEDO, 2006, 
documento on-line).
Ser letrado não é sinônimo de ser alfabetizado ou escolarizado. Há crian-
ças que sabem ler e escrever antes mesmo de irem à escola. Caso a leitura 
e a escrita façam sentido para as crianças e as auxiliem a refletir, e não 
apenas a repetir o código, elas serão alfabetizadas e letradas, mas não serão 
escolarizadas. No entanto, há crianças que frequentam a escola, saem-se 
bem em um ditado na aula de língua portuguesa, mas não conseguem refletir 
sobre aquilo que leem. Nesse caso, a criança é escolarizada e alfabetizada, 
porém não é letrada.
O desenvolvimento da leitura e da escrita dentro da perspectiva do letra-
mento não é sinônimo de alfabetização. O problema é que existe uma grande 
confusão com os dois conceitos: letramento e alfabetização. Para Soares 
(2000), a concepção de letramento ainda é muito nova na alfabetização, 
pois os estudos sobre esse tema tiveram início apenas na segunda metade 
da década de 1980. Certamente, tal concepção emergiu no Brasil graças ao 
contexto político do País. Garcia (2011) afirma que, com o fim do regime 
militar, em 1985, e com a implementação da Constituição de 1988, uma nova 
fase da educação brasileira nasceu. Ou seja, o conceito de letramento surgiu 
em função de uma nova situação educacional, em que os alunos deveriam 
ser estimulados a pensar.
Na óptica de Soares (2000), o conceito de letramento representou uma 
nova necessidade educacional que precisava ser nomeada, já que a reflexão 
sobre a leitura fazia parte do novo currículo da educação brasileira. Portanto, 
por meio do conceito de letramento, para a autora, os educadores não desen-
volveram necessariamente uma nova visão sobre a leitura, mas modificaram 
profundamente as práticas pedagógicas em relação à aquisição da linguagem.
Letramento e o ensino da língua materna2
Letramento: uma alfabetização crítica
O ato de ler ultrapassa a decodifi cação, pois é uma atividade que possibilita 
a compreensão do indivíduo como autor da sua existência num determinado 
contexto. Na visão de Freire (2009, p. 11), o ato de ler “[...] não se esgota na 
decodifi cação pura da palavra escrita ou da linguagem escrita [...]”, pois “[...] 
a leitura do mundo precede a leitura da palavra [...]”.
Antes das reformas curriculares nacionais, a escola ignorava as experiências 
e vivências dos alunos, considerando que o conhecimento docente era mais 
importante e mais útil do que o conhecimento discente. Com a evolução da 
linguística e da pedagogia, juntamente às novas políticas públicas educa-
cionais e aos Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN), a escola passou a 
compreender que o conhecimento de mundo dos alunos é fundamental para 
o processo de aprendizagem. Afinal, para que a leitura atinja seu objetivo, ou 
seja, a compreensão, é necessário que os alunos façam relações entre o que 
leem e aquilo que já conhecem.
De acordo com os PCN, na leitura, o aluno é um sujeito ativo que deve 
buscar compreender e interpretar o texto de maneira autônoma. Para isso, 
ele deve unir seus objetivos de leitura ao seu conhecimento de mundo sobre 
o assunto e sobre o autor; além disso, deve aplicar, de maneira racional, tudo 
o que sabe sobre linguagem. Nesse contexto, ler é “[...] uma atividade que 
implica estratégias de seleção, antecipação, inferência e verificação, sem as 
quais não é possível proficiência [...]” (BRASIL, 1998, p. 69).
O letramento acontece na medida em que a leitura prepara e desenvolve 
as crianças, no processo de aquisição da linguagem, para compreender e agir 
no mundo de forma crítica. Segundo Freire (2009), a compreensão textual 
somente é alcançada com uma leitura crítica dos textos. Porém, para atingir 
esse patamar, o leitor precisa relacionar o texto com o seu contexto, já que a 
linguagem e a realidade se relacionam dinamicamente.
Para Tfouni (2002, p. 20), “[...] enquanto a alfabetização se ocupa da apren-
dizagem da escrita por um indivíduo, ou grupo de indivíduos, o letramento 
focaliza os aspectos socio-históricos da aquisição de um sistema escrito por 
uma sociedade [...]”. Isto é, ser letrado não significa saber ler e escrever, e sim 
integrar-se à sociedade de maneira crítica por meio da leitura e da escrita. 
Portanto, a prática do letramento se reflete na consciência acerca do papel da 
escrita em suas mais variadas manifestações.
Na visão de Soares (2003, p. 5), a alfabetização e o letramento representam 
dois processos que “se mesclam, se superpõem e frequentemente se confun-
dem”. Isso ocorre porque ambos têm um objetivo bastante parecido. Contudo, 
3Letramento e o ensino da língua materna
é importante não apenas saber diferenciá-los, mas também compreender que 
o letramento é mais abrangente do que a alfabetização, pois somente com ele 
a leitura passa a fazer sentido na vida daquele que a pratica.
O indivíduo, no processo de alfabetização, desenvolve a habilidade da 
decodificação dos signos linguísticos. Todavia, apenas com o letramento ele 
aprimora o seu papel na sociedade em que está inserido. No entanto, não se 
pode ignorar a necessidade da alfabetização: o sujeito precisa ser alfabetizado 
para ser letrado.
De acordo com Galvan e Remenche (2013, documento on-line) “[...] o 
letramento traz consequências políticas, econômicas, sociais, culturais e cog-
nitivas para as pessoas ou para o seu grupo social, pois seu comportamento, 
suas atitudes, suas compreensões a respeito do mundo, da vida, da sociedade, 
passam a ser diferentes [...]”. Ou seja, com a leitura, o indivíduo é capaz de 
mudar e de evoluir.
Para Soares (2000), a alfabetização não representa uma evolução social, 
mas o letramento, sim. Para a autora, as noções semânticas de estado e de 
condição são fundamentais para a reflexãocontrastiva entre pessoas analfa-
betas, alfabetizadas ou letradas:
Estado ou condição: essas palavras são importantes para que se compreendam 
as diferenças entre analfabeto, alfabetizado e letrado; o pressuposto é que quem 
aprende a ler e a escrever e passa a usar a leitura e a escrita, a envolver-se em 
práticas de leitura e de escrita, torna-se uma pessoa diferente, adquire um 
outro estado, uma outra condição (SOARES, 2000, p. 36).
O professor, em sala de aula, deve estimular não apenas a alfabetização. 
O processo de ensino e de aprendizagem escolar da língua materna deve ter 
como principal objetivo fazer com que os alunos passem a enxergar o mundo 
com outros olhos, de forma mais crítica. Isso vale não apenas para as aulas 
de língua portuguesa, mas também para a construção do conhecimento como 
um todo.
Somente com o desenvolvimento e o domínio da língua materna é que 
as crianças e os adolescentes podem se posicionar, refletir e questionar não 
somente a ordem das coisas, mas também o seu papel social e as relações de 
poder. O empenho do professor para o desenvolvimento de alunos letrados 
colabora para a construção de uma sociedade mais justa e democrática.
No Quadro 1, a seguir, veja uma síntese das principais diferenças entre 
alfabetização e letramento.
Letramento e o ensino da língua materna4
Alfabetização Letramento
Conceito A alfabetização é o processo 
de aprendizado que 
viabiliza a decodificação 
dos signos linguísticos, 
a leitura e a escrita.
O letramento é o 
desenvolvimento consciente 
do uso competente 
da leitura e da escrita 
nas práticas sociais.
Indivíduo Alfabetizado é o sujeito 
que sabe ler e escrever.
Uma pessoa letrada sabe 
usar a leitura e a escrita de 
maneira crítica e de acordo 
com as necessidades sociais.
Atividades 
envolvidas
Codificar e decodificar a 
escrita e os números.
Organizar discursos, 
interpretar e compreender 
textos, refletir.
Quadro 1. Principais diferenças entre alfabetização e letramento
2 As práticas de letramento no cotidiano
Como você viu, o letramento e a alfabetização mantêm uma relação estreita, 
mas são dois conceitos diferentes — tanto na prática quanto na teoria. De 
acordo com Soares (2000), ser alfabetizado não signifi ca ser letrado. Considere 
o seguinte:
As pessoas se alfabetizam, aprendem a ler e escrever, mas não necessaria-
mente incorporam a prática da leitura e da escrita, não necessariamente 
adquirem competência para usar a leitura e a escrita, para envolver-se com 
as práticas sociais da escrita: não leem livros, jornais, revistas, não sabem 
redigir um ofício, um requerimento, uma declaração, não sabem preencher 
um formulário, sentem dificuldade para escrever um simples telegrama, uma 
carta (SOARES, 2000, p. 46).
Para a autora, é necessário que o professor não valorize apenas a leitura 
e a escrita mecanizada do aluno, mas que, a partir disso, crie condições para 
que os alfabetizados fiquem imersos em um ambiente letrado. Na óptica de 
Soares (2000, p. 44), letramento “[...] é o estado ou a condição de quem se 
envolve nas numerosas e variadas práticas sociais de leitura e de escrita [...]”.
5Letramento e o ensino da língua materna
Esse modelo ideológico de ensino e aprendizagem, segundo Marcuschi 
(2001), centraliza sua atenção nas práticas sociais específicas dos atos de ler 
e de escrever e evidencia a relevância do processo de socialização na cons-
trução do significado. Afinal, é com base nas práticas sociais e escolares de 
letramento que o aluno se torna capaz de refletir sobre as funções sociais da 
escrita e de apropriar-se dela em diferentes esferas.
Como você sabe, uma das responsabilidades da escola é formar sujeitos 
críticos e cidadãos. Para Galvan e Remenche (2013, documento on-line) “[...] 
cabe à escola a responsabilidade de formar indivíduos letrados, capazes de 
modificar a realidade e agir, autonomamente, na sociedade [...]”. Portanto, o 
ensino de uma leitura crítica, embora seja guiado principalmente pelo professor 
de língua portuguesa, é de responsabilidade de todas as disciplinas, visto que 
todas as áreas fazem parte da formação crítica e cidadã dos alunos. A partir 
disso, o professor deve preparar os estudantes para que eles cumpram bem o 
seu papel de indivíduos letrados não somente na aula de português, mas na 
sociedade em geral.
Para Kleiman (1999, p. 12), o letramento tem o papel de “[...] desenvolver 
de novas e eficientes estratégias que permitam ao aprendiz a compreensão 
da palavra escrita, a fim de funcionar plenamente na sociedade que impõe a 
cada dia mais exigências de letramento, isto é, de contato e familiaridade com 
a escrita para a sobrevivência [...]”.
O acesso ao mundo da escrita, portanto, não é tarefa apenas do professor 
de língua portuguesa, mas também é responsabilidade da escola, até porque 
a alfabetização e o letramento são processos complexos e necessários que 
abarcam não somente o sujeito de forma individual, mas se refletem no seu 
posicionamento social. O letramento é “[...] mais do que uma decisão individual, 
é uma opção política, uma vez que estamos inseridos num contexto social e 
cultural em que aprender a ler e escrever é mais do que o simples domínio de 
uma tecnologia [...]” (MACIEL; LÚCIO, 2008, p. 31).
Para que isso aconteça, é necessário que o corpo docente se organize com 
o objetivo de que o aluno alfabetizado se torne um sujeito letrado. Somente 
assim os estudantes serão cidadãos críticos, ativos e atuantes na esfera social, 
já que a aprendizagem, na óptica do letramento, implica não apenas direcionar 
o aluno para ser um analista de sua língua, mas também, e principalmente, 
transformá-lo em um usuário consciente de suas habilidades linguísticas, 
capaz de adequá-las a qualquer situação comunicativa.
Dessa forma, para cumprir o objetivo de deixar a sociedade cada vez 
mais letrada, são necessárias condições sociais, culturais e econômicas para 
a educação brasileira como um todo. No momento em que os professores 
Letramento e o ensino da língua materna6
tiverem apoio institucional para preparar materiais que incentivem a prática 
de leitura, concomitantemente a metodologias motivacionais, vão ser capazes 
de formar cidadãos pensantes, e não apenas máquinas humanas reprodutoras 
de conhecimento.
O letramento além da teoria
Você já se deu conta de que a sociedade está cada vez mais letrada? Atualmente, 
na comunicação humana, o uso da escrita no celular está tão presente quanto 
o uso da fala. Segundo Santos (2009, p. 3),
[...] somos praticamente forçados a interagir com a escrita, pois estamos 
imersos em ambientes nos quais a circulação de material escrito é exacer-
bada. Mas é evidente que este envolvimento acontece em diferentes níveis e 
dependendo desta interação é que favorecemos ou não uma maior inserção 
social e cultural do cidadão.
É crucial refletir em sala de aula sobre como o letramento faz parte da vida 
das pessoas. O aluno precisa perceber que aquilo que é ensinado ultrapassa os 
muros escolares e tem utilidade direta na sua vida. Por sua vez, o professor deve 
perceber que as pessoas não aprendem apenas em sala de aula, principalmente 
quando está em jogo a linguagem. A imersão leitora na língua materna, seja 
em contexto escolar ou não, é essencial para o domínio de tal língua e para o 
pensamento crítico. As diferentes realizações da leitura, inclusive, na visão 
de Di Nucci (2002), auxiliam no processo de ensino e aprendizagem. Veja:
As diferentes práticas de letramento presentes no cotidiano do indivíduo 
contribuem para que ele possa desenvolver as habilidades de codificar e 
decodificar a língua escrita e de compreendê-la em seu contexto, sendo que 
tais habilidades variam de intensidade, em função dos usos. Essa variação é 
decorrente da familiaridade que ele tem com as práticas sociais e escolares 
da escrita no cotidiano, o que determina os diferentes níveis de letramento 
(DI NUCCI, 2002, documento on-line).
É importante que os alunos conheçam os benefícios de serem nãoapenas 
alfabetizados, mas também letrados. A capacidade de relacionar a leitura e 
a escrita como parte da interação social de qualquer comunidade falante é o 
primeiro passo para que o desenvolvimento do letramento seja atingido, já que, 
segundo Deely (1990), os discursos escritos são elaborados em um processo 
7Letramento e o ensino da língua materna
contínuo de interação social. Afinal, formular um texto implica utilizar os 
signos de forma que outro sujeito seja capaz de compreendê-los.
Na visão de Galvan e Remenche (2013), a leitura crítica oportuniza que a 
aquisição de conhecimento no processo de ensino e aprendizagem se converta 
num processo mais concreto, real e útil. Tal processo auxilia todos os campos 
do saber e aprimora a oralidade, a leitura e a escrita como funções sociais, 
pois conviver com a língua escrita possibilita melhorias no vocabulário e na 
oralidade. Ou seja, a sala de aula é apenas mais um momento de prática social, 
porém é o momento que se reflete sobre o funcionamento da língua como 
sistema libertador, e não opressor.
Você sabia que as expressões “práticas de letramento” e “eventos de letramento” 
são praticamente sinônimas? O conceito de “eventos de letramento” põe em jogo 
os elementos mais analíticos de atividades que envolvem a leitura e a escrita em 
um momento específico. Por sua vez, a definição de “práticas de letramento” não se 
relaciona à situação imediata em que os eventos acontecem, mas busca analisá-los de 
acordo com o significado que os indivíduos atribuem à escrita e à leitura nos eventos 
de que participam.
3 O letramento no ensino como prática social
Ninguém toma atitudes sem uma fi nalidade. Por exemplo, as pessoas se 
exercitam porque desejam se manter saudáveis e bonitas; trabalham para se 
sustentar ou adquirir algo; estudam por uma prova ou por um título. Esse é o 
comportamento humano, e o seu refl exo está em todos os âmbitos sociais, seja 
no ambiente de uma academia de ginástica, de um emprego ou de uma sala 
de aula. Portanto, quando você refl ete sobre o papel do letramento no ensino, 
precisa considerar que a leitura e a escrita escolares devem contemplar uma 
fi nalidade; ou seja, os alunos precisam ter um estímulo, um direcionamento 
e um motivo.
O letramento está mais presente no cotidiano do que se pode imaginar. 
As práticas sociais também auxiliam o desenvolvimento mais aprofundado 
do letramento no processo de ensino e aprendizagem escolar. O professor, 
consciente do conhecimento prévio de seus alunos, deve mergulhar naquele 
Letramento e o ensino da língua materna8
universo para fazer com que o ensino lhes pareça útil, pois infelizmente 
ainda há um elevado índice de evasão escolar no Brasil, ou seja, os alunos até 
ingressam na escola, mas não permanecem nela.
Um dos motivos da evasão escolar é a incompatibilidade entre a escola e a 
realidade do aluno. A evasão se concentra nos alunos de classes mais baixas. 
Quando esses estudantes frequentam o colégio, eles não se sentem acolhidos. 
O seu conhecimento de mundo, a sua cultura e a sua linguagem são ignorados. 
Dessa forma, eles se desestimulam a permanecer no processo educativo.
Para Marcuschi (2001), o letramento concentra sua atenção em práticas 
sociais específicas de leitura e de escrita. Além disso, o autor destaca o sig-
nificado do processo de socialização na construção do sentido. Dessa forma, 
a prática do letramento deve servir para todo e qualquer ser humano, advindo 
de qualquer classe social: baixa, média ou alta.
No entanto, para que se consiga atingir esse objetivo, tanto a escola quanto 
os professores necessitam compreender o universo de cada comunidade escolar. 
A partir disso, ambos devem trabalhar para que o conhecimento faça sentido na 
vida de seus alunos. Somente assim os estudantes vão conseguir se reconhecer 
como indivíduos pertencentes a uma esfera social e importantes para ela.
Desse modo, a partir de práticas sociais e escolares de letramento, o sujeito 
conseguirá compreender a importância da escrita e o papel social que ela 
cumpre em uma sociedade letrada. É necessário que se desenvolva a per-
cepção de adequação e de apropriação da linguagem em distintas situações. 
O processo de letramento escolar não pode ser configurado como um mundo 
à parte; ele deve preparar os alunos para as diferentes realidades nas quais 
eles podem ou não se inserir.
Como trabalhar o letramento em sala de aula?
O processo de aprendizagem, antes de qualquer outro aspecto, deve ser acessível 
e signifi cativo. Uma forma de atrair o interesse dos estudantes é valorizar a 
cultura, a linguagem e os conhecimentos prévios que eles têm. A partir disso, 
pode-se ampliar a visão dos alunos, apresentando novas ideias e novos projetos.
Como você já viu, a necessidade de desenvolver o conhecimento crítico em 
sala de aula é tarefa de todos os professores, não apenas do professor de língua 
portuguesa. Inclusive, na visão de Galvan e Remenche (2013, documento on-
-line) “[...] projetos interdisciplinares podem ampliar as forças mediadoras de 
conhecimento, proporcionando avanços educacionais valiosos para a leitura 
e a escrita dos alunos [...]”.
9Letramento e o ensino da língua materna
De acordo com Kleiman (1995, p. 40), é importante considerar “[...] situações 
em que a escrita constitui parte essencial [...], tanto em relação à interação entre 
os participantes como em relação aos processos e estratégias interpretativas 
[...]”. Ou seja, os alunos precisam perceber o quão útil e importante é dominar 
a linguagem e ser letrado na sociedade contemporânea. Dessa forma, para 
pensar na aprendizagem em relação ao letramento, segundo Leal (2007, p. 54), 
é necessário, “[...] em primeiro lugar, [compreender] que um texto produzido 
por um aprendiz manifesta-se como produto de um sujeito que, a seu modo, 
através das diversas possibilidades e formas de linguagem, busca estabelecer 
um determinado tipo de relação com o seu interlocutor [...]”.
Para que o indivíduo escreva textos relevantes, é substancial, de acordo 
com Santos (2009, p. 4), “[...] que ele encontre interlocutores verdadeiros que 
estimulem modos diferentes de relacionar seus textos às suas necessidades. 
Precisa saber fazê-lo numa situação real de práticas sociais de escrita, no 
contexto do letramento, que é um processo contínuo [...]”. Ou seja, a produção 
textual é apenas uma das tantas manifestações do letramento em sala de aula.
Para objetivar e estimular a produção textual em sala de aula, pode-se 
apontar quem são os interlocutores, escolher um tema que facilite e valorize 
o acesso a conhecimentos prévios e especificar quais são os objetivos do 
texto. Caso o professor consiga abarcar esses três aspectos, provavelmente 
ele obterá sucesso, pois dessa forma estimulará a escrita a fim de desenvolver 
o letramento no processo de ensino e aprendizagem escolar. Nessa mesma 
perspectiva, segundo Leal (2007), quando o sujeito escreve, ele age para atender 
a uma finalidade específica e, com essa finalidade, sempre há um destinatário. 
Ou seja, quando o texto parecer incoerente ou desconexo, é imprescindível 
questionar como é possível deixá-lo legível e coerente para o seu público leitor. 
Dessa maneira, o aluno verá utilidade em sua escrita.
O uso de dispositivos didáticos também é positivo para a formação de alunos 
letrados. Levá-los à biblioteca, apresentar-lhes jogos e utilizar mídias sociais 
são ações que deixam o ambiente mais acolhedor e estimulam o aprendizado. 
Inclusive, segundo Barton e Hamilton (1998, p. 8), as práticas que envolvem 
o letramento “[...] são atividades em que o letramento desempenha um papel. 
Geralmente existe um texto escrito, ou textos, que é central para a atividade. 
A atividade realizada deve ser relacionada com outras do cotidiano, interligada 
a outros contextos, dando significado assim ao evento [...]”. Consequentemente, 
a escolha de um material que instigue a reflexão é um dos diferenciais para 
a preparação das aulas. Com isso, a possibilidadede alcançar os objetivos 
previamente propostos torna-se maior.
Letramento e o ensino da língua materna10
Conviver com diferentes pessoas, culturas e realidades faz parte do coti-
diano docente. Embora a docência não seja a profissão mais bem paga do País, 
é uma das mais gratificantes. Um dos estímulos para não desistir do ensino é 
um resultado que somente se pode alcançar por meio da educação: transformar 
crianças em cidadãos críticos e conscientes em relação à sociedade. Isso repre-
senta não apenas um avanço intelectual, mas muda a sociedade como um todo.
A cada aluno que estuda e desenvolve sua criticidade, surge uma nova 
possibilidade de interesse escolar e, quem sabe, consequentemente, se revele 
um futuro profissional importante para o desenvolvimento social. Portanto, 
preparar bons leitores representa diminuir, nem que seja aos poucos, a de-
sigualdade, fazendo com que a sociedade avance não apenas cultural, mas 
também economicamente. Ao fim, todos saem ganhando.
BARTON, D.; HAMILTON, H. Local literacies: reading and writing in one community. 
London: Routledge, 1998.
BRASIL. Ministério da Educação. Secretaria de Educação Fundamental. Parâmetros 
Curriculares Nacionais: terceiro e quarto ciclos do ensino fundamental: língua portu-
guesa. Brasília: MEC, 1998.
DEELY, J. Semiótica básica. São Paulo: Ática, 1990.
DI NUCCI, E. P. Práticas de letramento de alunos do ensino médio: um estudo descritivo. 
2002. Tese (Doutorado em Educação) – Faculdade de Educação, Universidade Estadual 
de Campinas, Campinas, 2002.
FREIRE, P. A importância do ato de ler: em três artigos que se completam. 50. ed. São 
Paulo: Cortez, 2009
GALVAN, J. P.; REMENCHE, M. L. O ensino da leitura na perspectiva do letramento. 
In: OS DESAFIOS da escola pública paranaense na perspectiva do professor PDE. 
2013. Disponível em: http://www.diaadiaeducacao.pr.gov.br/portals/cadernospde/
pdebusca/producoes_pde/2013/2013_utfpr_port_artigo_jussiane_palu.pdf. Acesso 
em: 01 fev. 2020.
GARCIA, J. P. Breve percurso histórico para pensar a questão dos PCNs na educação brasileira. 
2011. Disponível em: http://www.educacaopublica.rj.gov.br/biblioteca/educacao/0293.
html. Acesso em: 01 fev. 2020.
KLEIMAN, A. B. Oficina de leitura: teoria e prática. Campinas: Pontes, 1999.
11Letramento e o ensino da língua materna
Os links para sites da Web fornecidos neste capítulo foram todos testados, e seu fun-
cionamento foi comprovado no momento da publicação do material. No entanto, a 
rede é extremamente dinâmica; suas páginas estão constantemente mudando de 
local e conteúdo. Assim, os editores declaram não ter qualquer responsabilidade 
sobre qualidade, precisão ou integralidade das informações referidas em tais links.
KLEIMAN, A. B. Os significados do letramento: uma nova perspectiva sobre a prática 
social da escrita. Campinas: Mercado das Letras, 1995.
LEAL, L. F. A formação do produtor de texto escrito na escola: uma análise das relações 
entre os processos interlocutivos e os processos de ensino. In: VAL, M. G. C.; ROCHA, 
G. (org.). Reflexões sobre práticas escolares de produção de texto: o sujeito-autor. Belo 
Horizonte, Autêntica, 2007.
MACEDO, C. M. R. A. Uma reflexão sobre os conceitos: letramento, alfabetização e es-
colarização. 2006. Disponível em: http://www.leffa.pro.br/tela4/Textos/Textos/Anais/
Textos_Em_Psicolin/Artigos/Uma%20reflex%C3%A3o%20sobre%20os%20concei-
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MACIEL, F. I.; LÚCIO, I. S. Os conceitos de alfabetização e letramento e os desafios da 
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