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Qualidade das águas urbanas Apresentação As águas pluviais, ao percorrerem o ambiente urbano, incorporam poluentes até chegar ao corpo de água mais próximo. Nesta Unidade de Aprendizagem, você vai estudar este assunto: quais poluentes são esses, quais as suas fontes e de que maneira influenciam na qualidade das águas. Bons estudos. Ao final desta Unidade de Aprendizagem, você deve apresentar os seguintes aprendizados: Reconhecer as principais fontes dos poluentes incorporados às águas no ambiente urbano.• Relacionar os distintos poluentes incorporados à água nas áreas urbanas.• Identificar problemas relacionados à contaminação das águas nos centros urbanos.• Infográfico O infográfico a seguir trata dos parâmetros que alteram a qualidade das águas no ambiente urbano. Conteúdo do livro Leia o trecho selecionado a seguir retirado do livro Fundamentos de projeto de edificações sustentáveis, ele faz parte do capítulo Qualidade e a conservação da água. Nele, você encontra mais informações detalhadas acerca dos principais poluentes associados às águas pluviais no ambiente urbano. Boa leitura. PROJETO DE EDIFICAÇÕES SUSTENTÁVEIS PROJETO DE EDIFICAÇÕES SUSTENTÁVEIS Fundamentos de Fundamentos de Marian Keeler Bill Burke Marian Keeler Bill Burke ARQUITETURA E CONSTRUÇÃO Addis, B. Edifi cação: 3000 Anos de Projeto, Engenharia e Construção *Allen & Iano Fundamentos da Construção Civil, 5.ed. Brown & DeKay Sol, Vento e Luz: Estratégias para o Projeto de Arquitetura, 2.ed. Burden, E. Dicionário Ilustrado de Arquitetura, 2.ed. Charleson, A. A Estrutura Aparente Ching & Binggeli Arquitetura de Interiores Ilustrada, 2.ed. Ching, F. Representação Gráfi ca em Arquitetura, 3.ed. Ching, Onouye e Zuberbuhler Sistemas Estruturais Ilustrados Ching, F. Técnicas de Construção Ilustradas, 4.ed. Chivelet & Solla Técnicas de Vedação Fotovoltaica na Arquitetura Curtis, W. Arquitetura Moderna desde 1900, 3.ed. Doyle, M. Desenho a Cores, 2.ed. *Eastman & Cols. BIM *Farrelly, L. Fundamentos de Arquitetura French, H. Os + Importantes Conjuntos Habitacionais do Século XX *Gray, Constanzo e Plesha Dinâmica Gregory, R. As + Importantes Edifi cações Contemporâneas Henry Dreyfuss Associates As Medidas do Homem e da Mulher Todo o escopo da edifi cação ecológica em um único livro! Independentemente da área de atuação, seja na arquitetura, na engenharia civil, no planejamento do uso do solo, na gestão de recursos e resíduos, ou mesmo no governo, as escolhas feitas durante a atividade profi ssional têm um impacto inevitável no meio ambiente. Assim, compreender os fundamentos do projeto integrado de edifi cações sustentáveis é essencial para o desenvolvimento de um meio ambiente melhor. É exatamente disso que trata este livro. Fundamentos de Projeto de Edifi cações Sustentáveis apresenta a história, a teoria e a tecnologia da edifi cação sustentável, descrevendo abordagens práticas nos setores de planejamento, projeto e construção de edifi cações que atenuem, e até mesmo revertam, os impactos das construções no meio ambiente. Marian Keeler e Bill Burke explicam de forma didática os conceitos da arquitetura sustentável e os aplicam a problemas de projeto, exercícios de pesquisa, questões para estudo, projetos em equipe e tópicos para discussão. Os capítulos escritos por especialistas no movimento sustentável cobrem tópicos como: O processo do projeto integrado de edifi cações O surgimento da edifi cação sustentável e de sua legislação As substâncias químicas presentes nos ambientes internos que afetam os humanos e as edifi cações O consumo de energia e as normas relacionadas O projeto efi ciente em consumo de energia para edifi cações habitacionais e comerciais A qualidade e a conservação da água Os bairros e as comunidades sustentáveis A gestão dos resíduos de construção e demolição Karlen, M. Planejamento de Espaços Internos, 3.ed. Keeler & Burke Fundamentos de Projeto de Edifi cações Sustentáveis Leggitt, J. Desenho de Arquitetura: Técnicas e Atalhos que Usam Tecnologia *Littlefi eld, D. Manual do Arquiteto: Planejamento e Projeto, 3.ed. Pereira, J.R.A. Introdução à História da Arquitetura *Plesha, Gray e Costanzo Estática McLeod, V. Detalhes Construtivos da Arquitetura Residencial Contemporânea Mills, C.B. Projetando com Maquetes, 2.ed. Roaf, Crichton e Nicol A Adaptação de Edifi cações e Cidades às Mudanças Climáticas Roaf, S. Ecohouse: A Casa Ambientalmente Sustentável, 2.ed. *Waterman, T. Fundamentos de Paisagismo *Livros em produção no momento de impressão desta obra, mas que muito em breve estarão à disposição dos leitores em língua portuguesa. PR O JETO D E ED IFIC A Ç Õ ES SU STEN TÁ V EIS Fundam entos de M arian K eeler Bill Burke ARQUITETURA/SUSTENTABILIDADE 80912_Capa_Fundamentos_de_Projeto_de_Editoracoes.indd 180912_Capa_Fundamentos_de_Projeto_de_Editoracoes.indd 1 5/5/2010 15:37:375/5/2010 15:37:37 Catalogação na publicação: Ana Paula M. Magnus – CRB-10/Prov-009/10 K26f Keeler, Marian. Fundamentos de projeto de edifi cações sustentáveis [recurso eletrônico] / Marian Keeler, Bill Burke ; tradução técnica: Alexandre Salvaterra. – Dados eletrônicos. – Porto Alegre : Bookman, 2010. Editado também como livro impresso em 2010. ISBN 978-85-7780-733-8 1. Arquitetura. 2. Arquitetura sustentável – Aspectos ambientais. I. Burke, Bill. II. Título. CDU 728 Sobre os autores MARIAN KEELER, associada ao American Institute of Architects, profissional com certificação LEED, é especia- lista em consultoria em edificações sustentáveis. Trabalha na Simon & Associates, de São Francisco, Califórnia, Estados Unidos, e também escreve sobre o tema. BILL BURKE, membro do American Institute of Architects, é Coordenador do Programa de Arquitetura do Pacific Energy Center em São Francisco, Califórnia, Estados Unidos, e integra o Conselho Diretor do American Institute of Architects de São Francisco. Iniciais_Eletronico.indd iiIniciais_Eletronico.indd ii 6/25/10 10:32:45 AM6/25/10 10:32:45 AM A Qualidade e a Conservação da Água Kevin Conger e Jamie Phillips, CMG Landscape Architecture 15 OS SISTEMAS NATURAIS E AS MUDANÇAS NOS AMBIENTES URBANOS Antes que as nossas cidades se transformassem em prósperas metrópoles, este continente era composto por uma grande variedade de habitats, incluindo flo- restas de árvores decíduas, campinas virgens, matas ripárias, pântanos e charcos. Córregos e lagos transpor- tavam a água da chuva. Os pântanos corriam parale- lamente aos oceanos, agindo como sistemas naturais de filtragem e proteções contra grandes tempestades. A água da chuva se infiltrava no solo, reabastecendo os lençóis freáticos e contribuindo para o fluxo dos rios. A bacia de drenagem urbana: funções Nos Estados Unidos, todas as áreas urbanas se de- senvolveram de maneira semelhante, passando de centros de transporte e vilarejos agrícolas a próspe- ras metrópoles. Durante esse período de desenvolvi- mento, os sistemas de água naturais foram alterados e redirecionados lentamente de modo a criar terras que pudessem ser trabalhadas. Por fim, as áreas urba- nas acabaram cobertas por superfícies impermeáveis, como prédios, ruas e estacionamentos, os quais im- pedem a infiltração da água da chuva. Os pântanos foram represados e aterrados para gerar terras agrí- colas e canteiros de obras. Para irrigar fazendas, os córregos foram redirecionados ou confinados em di- ques e, a seguir, canalizados. As tubulações levavam o escoamento pluvial das áreas urbanas diretamente para córregos ou oceanos. Em vez de entrar no solo, o escoamento pluvial passava por superfícies imper- meáveis arrecadando poluentes como combustíveis e detritos, que chegavam com ele aos sistemas de esgo- to e corpos d’água naturais – córregos, lagos, baías e oceanos (Figura 15-2). As superfícies impermeáveis alteraram a duração e a intensidade do fluxo dos córregos durante as chuvas, o que deu início a uma cadeia de consequênciasim- previstas. Tais consequências incluem os alagamentos mais frequentes e localizados, a desestabilização dos barrancos dos córregos, a perda de árvores e vege- tação ribeirinhas, a destruição contínua dos habitats que dependem da água e a degradação da qualida- de da água nos oceanos. A redução da infiltração re- Condensação Precipitação Evaporação Oceano Rio Nascente de água fresca Lençol freático Infiltração Evaporação Transpiração Geleira Escoamento por terra Figura 15-1 Diagrama do ciclo da água – ou hidrológico. Keeler_15.indd 201Keeler_15.indd 201 30.04.10 17:25:2930.04.10 17:25:29 202 Fundamentos de Projeto de Edificações Sustentáveis sultante da pavimentação das superfícies prejudica o abastecimento dos lençóis freáticos, um fato de extre- ma importância. Uma vez alterados, os sistemas de água naturais, assim como seus habitats e ecossistemas específicos, não podem ser recuperados por completo. No entan- to, é possível reverter parte desses efeitos adversos através de estratégias que promovem o uso de sistemas ecológicos e naturais para administrar a qualidade e o volume das águas pluviais. Os arquitetos e engenhei- ros podem colaborar com a restauração das funções hidrológicas naturais em bacias de drenagem urbanas desde que cada lote contribua com pequenas mudan- ças. Trata-se de um esforço gigantesco e de longo pra- zo, mas, embora a gestão do escoamento de um único lote pareça irrelevante, conseguiremos proteger a qua- lidade da água e preservar os ecossistemas naturais em nossas áreas urbanizadas e em urbanização se mudar- mos a maneira de ocupar a maioria dos lotes. As políticas da água nos Estados Unidos Em 1972, o Congresso dos Estados Unidos aprovou a Lei da Água Limpa (CWA) com o intuito de controlar a descarga de poluentes em corpos d’água receptores, como oceanos, baías, rios, lagos e córregos. A CWA determina a criação dos regulamentos referentes às águas pluviais em todo o país. As leis e políticas esta- duais, regionais e municipais que fazem referência à CWA ajudam a garantir que as exigências de escoa- mento pluvial sejam adequadas à geografia, ao clima e aos padrões de desenvolvimento de cada cidade. O escoamento das águas pluviais, atualmente apontado pela Agência de Proteção ao Meio Ambien- te dos Estados Unidos (EPA) como um dos principais responsáveis pela degradação da qualidade da água no país, começou a ser regulado apenas em 1987, com a inserção do parágrafo 402(p) na CWA. O pa- rágrafo 402(p) propôs um plano em duas fases focado no controle do escoamento de águas pluviais poluí- das conforme o Sistema de Eliminação de Descargas Poluentes. A emenda de 1987 obrigou os projetistas a mini- mizar a quantidade de sedimentos e outros poluentes integrados ao escoamento do lote durante a constru- ção, a criar projetos que minimizassem as novas áreas impermeáveis e a incorporar equipamentos capazes de deter, reter ou tratar o escoamento pluvial durante todo o ciclo de vida do projeto. À medida que surgem inovações em termos de tecnologia e projeto, o projeto de baixo impacto e as melhores práticas de manejo e tratamento de águas pluviais se tornam mais efetivos e passam a ser usados de maneira mais consistente durante os processos de planejamento e projeto. Os poluentes preocupantes Conforme mencionado, as águas pluviais carregam os poluentes acumulados nas superfícies impermeáveis ao percorrê-las, levando-os, em níveis concentrados, até os sistemas aquáticos naturais, o que resulta em danos graves aos ditos sistemas e às áreas de vida sel- vagem. ÁREAS NATURAIS Árvores, arbustos e o solo ajudam a absorver a chuva e reduzem o escoamento em áreas ainda não urbanizadas As árvores e outras plantas barram a força das águas pluviais e ajudam a reduzir a erosão da superfície As raízes fortalecem o solo, minimizando a erosão A vegetação ajuda a construir um solo orgânico absorvente ESCOAMENTO DE ÁGUAS ESCOAMENTO DE ÁGUAS ÁREAS URBANIZADAS A chuva escoa mais rapidamente de áreas urbanas e suburbanas, onde os níveis de superfícies impermeáveis são altos As superfícies pavimentadas de cobertura e de solo escoam a água Os sistemas de drenagem pluvial levam a água diretamente para os corpos d’água As ruas agem como córregos, coletando as águas pluviais e levando-as para corpos d’água Os poluentes acumulados nas superfícies impermeáveis são enviados para córregos, rios e lagos Figura 15-2 Diagrama mostrando a transição do estado natural ao urbanizado. Keeler_15.indd 202Keeler_15.indd 202 30.04.10 17:25:2930.04.10 17:25:29 Capítulo 15 A Qualidade e a Conservação da Água 203 Por essa razão, é importante conhecer os tipos de poluentes encontrados na água da chuva, suas fontes genéricas e as maneiras de removê-los antes de entra- rem nos sistemas naturais. A seção a seguir descreve os poluentes mais comumente encontrados na água da chuva em áreas urbanas construídas. O escoamento remove ou dissolve determinados poluentes e os carrega consigo. Após serem expostos ao escoamento, os poluentes são transportados de duas maneiras: na fase dos dissolvidos ou solúveis e na fase dos sólidos ou sedimentos (Figura 15-3). Os poluentes solúveis, isto é, dissolvidos em água, são transportados pelo escoamento devido à fraca atração exercida pelas moléculas da água. Eles são bastante móveis, visto que se tornam, essencialmente, parte da água escoada, passando por onde ela pas- sa. Em geral, os poluentes solúveis são removidos so- mente por meio de tratamento químico ou tratamento biológico com plantas ou organismos do solo. O tra- tamento biológico acontece quando há contato pro- longado entre a água da chuva e a vegetação ou os microorganismos do solo. Os poluentes transportados na forma de sedimen- tos – ou fase sólida – ficam completamente presos a partículas do solo, de poeira ou à matéria orgânica, podendo se tornar parte delas; às vezes, os próprios poluentes são sólidos. Metais como o ferro, por exem- plo, podem ser transportados quando estão presos nas partículas do solo ou como partículas granuladas dis- tintas. A mobilidade dos poluentes sólidos depende do transporte das partículas de sedimentos. As partículas de sedimentos propriamente ditas estão associadas a dois métodos de transporte. As partículas menores são absorvidas ou “suspensas” na água, que adquire uma aparência turva ou barrenta. As partículas maiores rolam ou são arrastadas ao lon- go de superfícies terrestres ou fundos de córregos pela força da água em movimento. Logo, os poluentes só- lidos são encontrados na água, na forma de pequenas partículas suspensas, ou no fundo dos corpos d’água, junto com as partículas maiores. Os sedimentos Os sedimentos advêm tanto da erosão do solo em áreas devastadas ou de canteiros de obra não estabi- lizados como de superfícies impermeáveis em áreas construídas, onde partículas de solo são depositadas pelo tráfego e pelo vento. Todos os terrenos geram um pouco de sedimentos, mas locais desprotegidos ou degradados contribuem com quantidades enormes, não importando o fato de serem áreas relativamente pequenas. Todas as partículas de pó e poeira presen- tes no solo – ou depositadas em estradas, coberturas ou estacionamentos – são carregadas pela chuva e se tornam sedimentos nas águas pluviais. Com a água da chuva, as emissões industriais de poeira, particulados e até fumaça são transformadas em sedimentos. Os sedimentos ameaçam a qualidade da água de duas sa is Po lu en te s Meio de Transporte Solúvel [U], Com Sedimentos [B] Bacias de Drenagem Rua do Tipo I – Coletor Rua do Tipo 2 – Bairro Coberturas de Edificações Estacionamentos Pátios de Empresas Áreas de Manutenção ou Serviço Lavagem de Veículos Parques Recreativos – Áreas Esportivas Parques com Áreas Urbanas ou Cívicas Espaços Abertos Agricultura Bacias e Lagoas (Bacias de Detenção e Bacias de Detenção Secas) se di m en to s se di m en to s su sp en so s m at ér ia o rgân ic a – lix o só lid o nu tr ie nt es v eg et ai s – fe rt ili za nt es – fó sf or o b ac té ria s m et ai s p es ad os – c ob re , m er cú rio , c ro m o, c hu m b o m et ai s p es ad os – fe rr o, a lu m ín io , m an ga nê s m at ér ia o rg ân ic a – di ss ol vi da nu tr ie nt es v eg et ai s– fe rt ili za nt es – n itr og ên io m et ai s p es ad os – b or o, z in co , c ád m io ól eo s e go rd ur as su b st ân ci as q uí m ic as tó xi ca s e si nt ét ic as p es tic id as ef ei to s da te m p er at ur a B B B B BUB UB UBU U U U Figura 15-3 Tabela mostrando os poluentes e suas fontes. Keeler_15.indd 203Keeler_15.indd 203 30.04.10 17:25:3030.04.10 17:25:30 204 Fundamentos de Projeto de Edificações Sustentáveis maneiras. Além de poluírem, eles carregam outros po- luentes consigo. Com frequência, os poluentes carre- gados com sedimentos são mais prejudiciais à quali- dade da água que os sedimentos propriamente ditos. A matéria orgânica O termo “matéria orgânica” se refere a materiais na- turais como folhas, gravetos, pedaços de grama e de- jetos de animais, além de materiais produzidos pelo homem, como papel, lixo doméstico e outros tipos de lixo que vão parar no escoamento pluvial. A ma- téria orgânica também inclui substâncias dissolvidas provenientes de folhas de árvores, papéis e resíduos plásticos. A maior parte da matéria orgânica ocorre na forma de grandes pedaços sólidos que se sedimentam rapidamente; contudo, as substâncias dissolvidas re- presentam um problema grave. Elas servem como ali- mento para bactérias e outros organismos que, além de se multiplicarem, também consomem oxigênio, preju- dicando a vida selvagem local. Quando esse consumo reduz o oxigênio a níveis muito baixos, a água se torna fétida (“podre”) e emite odores fortes, o que altera o número e a mistura das espécies aquáticas. As bactérias As áreas urbanas possuem grandes populações de ani- mais de estimação, produzem muito lixo doméstico e outros resíduos e apresentam quantidades significati- vas de animais nativos, como pombas, gaivotas, esqui- los e ratos – sendo que todos fornecem bactérias para o escoamento pluvial. As tubulações com vazamentos e o transbordamento de esgotos, fatos mais frequentes em áreas urbanas mais antigas, são fontes de bacté- rias especialmente potentes. Com facilidade para se prenderem às partículas do solo e se dissolverem na água, as bactérias se acumulam nos sedimentos depo- sitados, representando uma ameaça para a saúde e a segurança sempre que tais sedimentos são agitados. Os metais pesados Os metais encontrados no escoamento de águas plu- viais incluem: Cobre, mercúrio, cromo e chumbo • Ferro, alumínio e manganês • Boro, zinco e cádmio • Os metais presentes na água da chuva vêm de emis- sões de automóveis, tintas patináveis, conservantes de madeira e vazamentos e emissões tanto industriais como comerciais. As demais fontes incluem os minerais naturais presentes em pedras, solo, partículas de asfalto e vegetação. O zinco presente no escoamento provém de coberturas e calhas de metal. Os metais contidos nas águas pluviais são tóxicos para muitas formas de vida e, em situações extremas, chegam a contaminar o abastecimento público de água. Visto que alguns me- tais se acumulam em animais aquáticos, quantidades tóxicas conseguem subir na cadeia alimentar, termi- nando por afetar os humanos que consomem peixes ou moluscos com altos níveis de metais acumulados. Dentre os metais mais preocupantes presentes na água da chuva, destacam-se o chumbo, o cobre, o cádmio, o cromo e o zinco. Contudo, já foi identificada a pre- sença de muitos outros metais em águas pluviais. As substâncias químicas tóxicas e sintéticas: os pesticidas É possível encontrar uma grande variedade de substân- cias químicas tóxicas e sintéticas na água da chuva; a maior parte vem de produtos manufaturados que libe- raram produtos químicos, de processos industriais, da combustão de combustíveis fósseis e de óleos lubri- ficantes. Autoestradas muito frequentadas apresentam altas concentrações de substâncias químicas sintéticas – em sua maioria, produtos da combustão. O escoa- mento pluvial pode coletar os pesticidas utilizados no controle de ervas daninhas e pragas animais. Muitas substâncias químicas têm efeitos tóxicos em diferentes plantas e animais aquáticos. Como ocorre com os me- tais, algumas substâncias químicas sintéticas e tóxicas se prendem aos sedimentos e se dissolvem na água. Embora possam ficar presas aos sedimentos por longos períodos, tais substâncias costumam se dissolver nova- mente na água quando as condições químicas e bioló- gicas mudam. Grande parte das substâncias químicas pode se acumular na cadeia alimentar, tornando-se uma possível ameaça à vida aquática, aos peixes e aos alimentos consumidos pelos humanos. Os óleos e as gorduras Nas poças e nos córregos, os óleos e as gorduras pre- sentes no escoamento se manifestam como manchas ou reflexos com as cores do arco-íris. Os óleos e ou- tros agentes lubrificantes vazam de veículos e, com as chuvas, são coletados de estradas, estacionamentos e outros locais onde o uso de automóveis é intenso. O vazamento e a armazenagem inadequada de combus- tíveis também contribuem para a poluição das águas pluviais. A maior parte dos óleos e gorduras se pren- de aos sedimentos, chegando, por fim, ao fundo dos corpos d’água. Ambas as substâncias se concentram nesses locais, podendo afetar de maneira adversa os organismos que vivem nos sedimentos do fundo. Os nutrientes vegetais: os fertilizantes e os fósforos Os nutrientes vegetais mais comuns incluem compos- tos de nitrogênio e fósforo, que são substâncias quí- micas presentes em fertilizantes comerciais e esterco, responsáveis por promover e sustentar o crescimento desejado das plantas. Todavia, quando atingem os corpos d’água, esses mesmos nutrientes costumam Keeler_15.indd 204Keeler_15.indd 204 30.04.10 17:25:3030.04.10 17:25:30 Capítulo 15 A Qualidade e a Conservação da Água 205 provocar o crescimento indesejável de algas, bac- térias e plantas, resultando em superpopulações de algas e proliferação exagerada de bactérias e plantas na água. Considerando-se que pequenas quantida- des de nutrientes bastam para acelerar o crescimen- to de algas e plantas, é muito importante controlar a quantidade que entra na água da chuva de modo a proteger os corpos d’água receptores. Os nutrientes que se unem à água da chuva provêm de diferentes fontes, incluindo o escoamento de gramados e jar- dins fertilizados, campos agrícolas, vazamentos de esgotos sanitários e águas servidas de sistemas de tan- que séptico. Áreas extremamente ajardinadas, como campos de golfe e parques industriais e comerciais, são capazes de inserir grandes quantidades de nu- trientes nas águas pluviais. A presença excessiva de nutrientes vegetais na água resulta em um processo conhecido como eutroficação, que ocorre à medida que tais nutrientes se acumulam em corpos d’água, provocando o crescimento exagerado de plantas e algas e reduzindo a quantidade de oxigênio dispo- nível para os peixes e outros animais. Com o avanço da eutroficação, os corpos d’água podem apresentar escuma ou traços de algas, água turva, odores fortes e a mortandade de peixes; além disso, a água potável pode começar a apresentar gosto e odor desagradá- veis. Apesar de ocorrer naturalmente a uma velocida- de menor, a eutroficação é acelerada pelos poluentes presentes nas águas pluviais. O manejo das águas pluviais urbanas: o projeto de baixo impacto É possível integrar sistemas de base ecológica e natural ao projeto de infraestrutura, arquitetura e paisagismo para reduzir os impactos da urbanização na qualidade da água e remover os poluentes das águas pluviais. As medidas de proteção da qualidade da água são com- binadas a esforços que visama melhorar os espaços públicos, criar e recuperar as áreas de vida selvagem, articular os sistemas naturais em ambientes urbanos e oferecer ruas com vegetação e arborização. Este con- ceito de projeto com objetivos múltiplos é conhecido como projeto de baixo impacto (LID), que enfatiza a integração do manejo das águas pluviais ao planeja- mento e ao projeto urbanos com a finalidade de pro- mover uma abordagem completa baseada em bacias de drenagem. O LID pode ser integrado a qualquer tipo de empreendimento, desde espaços abertos e áreas de recreação de uso público até áreas habitacio- nais e industriais de alta densidade. Ele busca simular padrões de drenagem e processos hidrológicos ante- riores às tais intervenções. Sua aplicação mais efetiva consiste em uma abordagem completa que inclui o projeto do terreno, o controle das fontes e controles de tratamento (descritos a seguir). O projeto do terreno: objetivos principais O projeto cuidadoso do terreno é capaz de minimizar os impactos do escoamento de águas pluviais desde o início. Quanto mais o manejo das águas pluviais é inte- grado a cada etapa do projeto, mais fácil se torna criar uma estratégia bem-sucedida e multifuncional para de- terminado terreno. A integração do manejo pluvial ao projeto desde seu início minimiza os impactos do es- coamento da água da chuva. Logo, a integração de tal manejo ao projeto de determinado terreno maximiza o potencial de controle adequado das águas pluviais. A preservação e a proteção de córregos, pântanos e vegetação preexistente Além de aumentar a beleza natural da área, os cór- regos, os pântanos e a vegetação preexistente ofere- cem recursos de drenagem natural, coletam a água da chuva, filtram o escoamento e reabastecem os lençóis freáticos. Esses recursos definem e aumentam a quali- dade do terreno, visto que, por natureza, são capazes de transportar e tratar as águas pluviais. A vegetação realiza esse manejo de modo natural, uma vez que as folhagens coletam a água da chuva, o que desacelera seu avanço e facilita a infiltração no solo. A preservação dos padrões de drenagem natural e da topografia na definição do projeto do terreno Por meio da análise aprofundada dos padrões de dre- nagem e da topografia do terreno, é possível utilizar as redes de drenagem preexistentes como uma estru- tura a partir da qual organizar o empreendimento. Al- terar a topografia do terreno por meio de nivelamento aumenta significativamente as probabilidades de que a quantidade de água venha a diminuir devido à in- serção de sedimentos nos corpos receptores. A minimização e a desconexão das superfícies impermeáveis O solo coberto por estruturas como moradias, pátios, ruas e infraestrutura de transporte é conhecido como superfície impermeável. Para controlar o volume de águas pluviais, o ideal é minimizar e desconectar tais superfícies. Isso permite a arquitetos e engenheiros tra- tar quantidades menores de escoamento em diferentes áreas de determinado terreno, em vez de lidar com as quantidades maiores e mais poluídas de águas pluviais de toda uma área. As concentrações de poluentes di- minuem com a desconexão das superfícies imperme- áveis. Além disso, a desconexão facilita o tratamento estratégico da água da chuva e reduz seu fluxo. A canalização estratégica do percurso das águas pluviais desde o primeiro contato até o ponto de descarga Os sistemas de transporte de águas pluviais definem o deslocamento da água da chuva desde o contato ini- Keeler_15.indd 205Keeler_15.indd 205 30.04.10 17:25:3030.04.10 17:25:30 206 Fundamentos de Projeto de Edificações Sustentáveis cial com a superfície, quando a chuva se transforma em água pluvial, até o destino final ou ponto de des- carga, após os tratamentos de descontaminação. As águas pluviais vistas como recursos, e não, como dejetos O manejo tradicional via as águas pluviais como um problema, algo que precisava ser eliminado o mais rápido possível. Hoje em dia, sabe-se que a água da chuva é um recurso subutilizado capaz de reduzir a demanda do abastecimento de água potável. As águas pluviais são fontes importantíssimas para fins não po- táveis, incluindo irrigação, descarga de bacias sanitá- rias e emprego em torres de resfriamento. O tratamento das águas pluviais na fonte Os tratamentos de águas pluviais são mais efetivos quando os diferentes processos físicos, biológicos e químicos buscam remover um poluente de cada vez. Os princípios que embasam as tecnologias de tratamento das águas pluviais sugerem que tratar os poluentes na fonte por meio do uso de lagoas de re- tenção, biodigestores, pisos porosos e filtros reduz os custos do processo e também a possibilidade de pre- cisar lidar com múltiplos poluentes posteriormente. As grades verdes usadas para remediar um escopo mais amplo de poluentes As grades verdes (ou treatment trains, um termo cunhado por Horner e Skupien em 1994) se referem a uma série de técnicas ou recursos separados que par- ticipam do tratamento das águas pluviais.¹ Visto que nem sempre se consegue tratar a água da chuva por meio apenas das melhores práticas de manejo, é fre- quente a necessidade de elaborar uma série de trata- mentos para remover os poluentes. Nas grades verdes, cada unidade é projetada para remover poluentes es- pecíficos; em geral, a grade é criada para remover pri- meiramente os poluentes maiores, como grandes pe- daços de lixo, enquanto os poluentes menores, como sólidos e substâncias químicas diluídas, são tratados em etapas posteriores. O controle na fonte As medidas de manejo que impedem os poluentes de contaminar a água da chuva são chamadas de contro- le na fonte. Além de implementar práticas de proje- to de baixo impacto durante o projeto do terreno, os arquitetos devem identificar os locais onde se inicia a poluição das águas pluviais, o que lhes permitirá fazer uso do controle na fonte para evitar ou minimi- zar o impacto. O emprego de pesticidas não sintéticos e coberturas verdes são exemplos de estratégias de controle que impedem o escoamento de coletar subs- tâncias químicas ou poluentes ao entrar em contato com o telhado. Os controles na fonte também conse- guem reduzir o escoamento produzido por superfícies impermeáveis presente em coberturas, garagens de automóveis, estacionamentos e estradas. O principal objetivo do controle na fonte é manejar o equilíbrio da água, reduzindo o volume do escoamento. As estratégias de projeto do terreno e as medidas de controle na fonte minimizam a quantidade e melho- ram a qualidade do escoamento pluvial do local. En- tretanto, é impossível eliminar todas as superfícies que contribuem com o escoamento. É preciso, portanto, implementar controles de tratamento para acomodar o escoamento restante. Tais controles consistem em boas práticas de manejo de águas pluviais permanentes, como biodigestores ou canteiros pluviais, criadas para receber e tratar o escoamento do terreno. Em geral, as boas práticas de manejo para controle e tratamento são projetadas para realizar uma ou mais das seguintes es- tratégias de tratamento de águas pluviais: infiltração, detenção, biofiltragem, retenção, biorretenção e esgo- tamento até uma estação de tratamento. As seis estraté- gias de tratamento são descritas a seguir (Figura 15-4). As melhores práticas de manejo para controle e tratamento A infiltração É possível remover os poluentes levando a água da chuva a um reservatório e permitindo que ela se in- filtre lentamente no solo. O solo retira as partículas poluentes da água assim como os filtros de ar cole- tam as partículas de poeira presentes no ar. Alguns poluentes se prendem quimicamente às partículas do solo. Outros são alterados pela contaminação bioló- gica dos microorganismos do solo. Para usar os tipos de tratamento de infiltração, é necessário que o solo do terreno apresente taxas de permeabilidade mode- radas. Os solos com taxas de infiltração muito altas li- beram a água da chuva diretamenteno lençol freático sem antes filtrar os poluentes; por outro lado, os solos com taxas de infiltração muito baixas nem chegam a absorver a água. Bacias de infiltração: • as bacias de infiltração são áreas de reserva com pouca profundidade, criadas para permitir a infiltração da água da chuva e usar a capacidade de filtragem natural do solo de modo a remover os poluentes do escoamento pluvial. Os equipamentos de infiltração armazenam o escoa- mento até sua absorção gradual no solo e, por fim, no lençol freático. Além de ser extremamente efi- ciente em termos de remoção de poluentes, essa prática também reabastece o lençol freático. ¹ Horner, R.R., J.J. Skupien, E.H. Livingston &.E. Shaver. August 1994. Fundamentals of Urban Runoff Management:Technical and Institutional Issues. Terrene Institute, Washington, DC, em colabora- ção com a U. S. Environmental Protection Agency. Keeler_15.indd 206Keeler_15.indd 206 30.04.10 17:25:3030.04.10 17:25:30 Capítulo 15 A Qualidade e a Conservação da Água 207 Valetas de biorretenção: • são valetas longas, estrei- tas, cheias de pedras e sem saída que recebem o escoamento das águas pluviais. O escoamento é armazenado temporariamente no espaço vazio en- tre as pedras, infiltrando-se pelo fundo até chegar ao solo natural. Áreas de infiltração direta subterrânea: • semelhan- tes às valetas de biorretenção, as áreas de infiltra- ção direta subterrânea são colocadas no subsolo, sob praças, ruas ou calçadas. É possível canalizar a água da chuva até as áreas de infiltração subter- râneas ou permitir que ela se infiltre diretamente pelas partes permeáveis do piso. Pisos permeáveis: • os sistemas de pisos permeáveis permitem que parte da água da chuva se infiltre pelos pisos em vez de percorrê-los para ser coleta- da posteriormente. Dependendo das considerações do terreno e do projeto, é útil implementar essas técnicas de infiltra- ção junto a outras – como no caso de pisos permeá- veis modulares sobre áreas de infiltração direta sub- terrânea (Figuras 15-5 e 15-6). A biofiltragem Semelhante às técnicas de infiltração no solo, a biofil- tragem faz com que a água da chuva seja filtrada por plantas que removem os poluentes. O acréscimo de biomassa ou plantas vivas à filtragem aumenta a capa- cidade de remover poluentes da água, promovendo a complexidade e aumentando a quantidade de micro- organismos presentes no solo e nas plantas que agem como filtros. Biodigestores com plantas e canteiros pluviais: os biodigestores com plantas são canais rasos e abertos cujas laterais inclinadas e o fundo ficam cobertos por vegetação, responsável por coletar e por transportar lentamente o escoamento até os pontos de descar- ga em terrenos mais baixos. Eles são projetados para tratar as águas por meio da filtragem feita pela vege- tação, que ocorre em uma matriz de subsolo cons- truída, e/ou da filtragem para subsolos preexistentes. Os biodigestores capturam os poluentes particulados, promovem a infiltração e reduzem a velocidade do escoamento pluvial. Eles fazem parte do sistema de drenagem da água da chuva, podendo substituir redes de meio-fios, sarjetas e esgotos pluviais (Figura 15-7). Os canteiros pluviais funcionam de maneira se- melhante aos biodigestores com plantas, embora cos- tumem ser construídos em ambientes urbanos com pouco espaço. Algumas laterais apresentam guias (meio-fios) ou paredes para fins de integração com o projeto do terreno, o que não impede a realização do processo de filtragem. Jardins de chuva: são áreas de terreno baixas pro- jetadas para capturar e permitir a infiltração do escoa- mento pluvial. Os jardins de chuva apresentam plan- tas que toleram a umidade em solos permeáveis com alto conteúdo orgânico, capazes de absorver a água Lagoa coberta Po lu en te s Tr an sp o rt ad o s p o r Se d im en to s Se di m en to s Se di m en to s su sp en so s M at ér ia o rg ân ic a – lix o só lid o N ut rie nt es v eg et ai s – fe rt ili za nt es – fó sf or o Ba ct ér ia s M et ai s p es ad os – c ob re , m er cú rio , c ro m o, c hu m b o M et ai s p es ad os – fe rr o, a lu m ín io , m an ga nê s Po lu en te s so lú ve is M at ér ia o rg ân ic a – di ss ol vi da N ut rie nt es v eg et ai s – fe rt ili za nt e – ni tr og ên io M et ai s p es ad os – b or o, z in co , c ád m io Po lu en te s q u e ex ig em tr at am en to c o m p le xo Ó le os e g or du ra s Su b st ân ci as q uí m ic as tó xi ca s e si nt ét ic as Pe st ic id as Ef ei to s da te m p er at ur a Sa is Po lu en te s Meio de transporte Solúvel [u], com sedimentos [b] Tipos de tratamento Boa manutenção na fonte Valeta de birretenção Bacia de infiltração Pisos permeáveis/porosos Biofiltro Biodigestor com plantas e canteiro pluvial Biorretenção Bacia de detenção Bacia de detenção construída Bacia de retenção B B B B B U U U UUB UB UB Figura 15-4 Semelhante à Figura 15-3, esta tabela descreve poluen- tes e métodos de tratamento para removê-los das águas pluviais antes que elas cheguem aos sistemas na- turais. Keeler_15.indd 207Keeler_15.indd 207 30.04.10 17:25:3030.04.10 17:25:30 208 Fundamentos de Projeto de Edificações Sustentáveis da chuva e devolvê-la para a atmosfera. Ainda que sejam similares aos biorretentores, eles não costumam incluir a construção de sistemas subterrâneos ou a co- nexão a drenos subterrâneos, sendo mais adequados para fins de paisagismo habitacional ou para áreas com baixa permeabilidade que apresentam solos de boa drenagem. A parte baixa do terreno se enche de água durante a chuva. A vegetação auxilia na retirada dos poluentes e na absorção da água. Biorretenção: esse tratamento funciona como um sistema de filtragem baseado no solo e na vegetação, capaz de remover os poluentes com diferentes proces- sos físicos, biológicos e químicos. Em geral, tais siste- mas apresentam várias técnicas sobrepostas, incluindo biodigestores com plantas, leitos de areia, bacias de detenção, camadas de matéria vegetal orgânica, hú- mus e vegetação. O biodigestor com plantas reduz a velocidade do escoamento pluvial, que, posteriormen- te, é distribuído de maneira homogênea na bacia de detenção. A filtragem da água armazenada pelo solo da área de biorretenção até o subsolo leva dias para acontecer. Para que o processo de remoção ocorra, é importante que as superfícies da vegetação e do solo fiquem em contato com os poluentes por um período adequado. Devido à complexidade de suas camadas, o sistema de biorretenção é considerado bastante eficaz na remoção de poluentes das águas pluviais. A detenção e a sedimentação É possível reduzir uma grande quantidade de sedimentos permitindo seu acúmulo em bacias de detenção secas ou bacias de detenção úmidas com períodos de espera prolongados. Os períodos de espera são especialmente importantes porque permitem a remoção de mais sedi- mentos e de partículas sedimentadas mais finas. Bacias de detenção: também conhecidas como bacias de retenção ou lagoas pluviais, as bacias de detenção são bacias construídas que possuem uma reserva permanente de água durante todo o ano, com profundidade média de 60 a 120 cm. Essas bacias tratam o escoamento pluvial mediante sedimentação e tratamento biológico. O principal mecanismo de JARDIM DE CHUVA BACIA DE DETENÇÃO ÁGUAS PLUVIAIS ÁGUAS PLUVI AIS ÁGUA S PLU VIAIS DRENO ÁREA DE INFILTRAÇÃO TUBO DE GÁS ( DIÂMETRO 5 CM) TUBO DE CONDENSAÇÃO (DIÂMETRO 10 CM) REDE TELEFÔNICA REDE ELÉTRICA ADUTORA DE ÁGUA (DIÂMETRO 20 CM) REDE DE ÁGUA TUBO DE 20 IN DE VAPOR DE ÁGUA DA CONCESSIONÁRIA DE ENERGIA NRG Figura 15-5 A água da chuva é filtrada por meio retirada de poluen- tes pelo solo e pela vegetação. Este diagrama mostra o biofiltro usado no Mint Plaza, em São Francisco, nos Estados Unidos, um centro de eventos com espaçopúblico externo. Figura 15-6 Figura 15-7 Os biodigestores com plantas (jardins de chuva) e canteiros pluviais filtram a água da chuva por meio da vegetação e do subsolo. Keeler_15.indd 208Keeler_15.indd 208 30.04.10 17:25:3030.04.10 17:25:30 Capítulo 15 A Qualidade e a Conservação da Água 209 remoção promove a sedimentação do escoamento pluvial que fica no reservatório, embora a retirada dos poluentes também ocorra por meio de ativida- des biológicas. As bacias de detenção estão entre as práticas de tratamento de águas pluviais mais usadas. Seu projeto apresenta diferentes versões, mas a mais comum consiste na bacia de detenção seca, em que a armazenagem ocorre acima da reserva permanente de modo a deter o escoamento e promover a sedi- mentação (Figura 15-8). Bacias de retenção construídas: bacias construídas que possuem uma reserva permanente de água igual- mente ampla e rasa, com profundidade média de 45 cm, um amplo grau de cobertura vegetal e algumas áreas de água aberta. Em termos de retenção de po- luentes, as bacias construídas estão entre as práticas de tratamento de águas pluviais mais efetivas. À me- dida que o escoamento pluvial percorre a bacia, a se- dimentação e o tratamento biológico em seu interior promovem a remoção dos poluentes. A passagem da água da chuva pelas raízes permite à vegetação remo- ver os poluentes dissolvidos (Figura 15-9). Bacias de detenção secas: também conhecidas como bacias de retenção secas, as bacias de detenção secas são reservas cujas saídas foram projetadas para deter o escoamento pluvial por um período mínimo (por exemplo, 48 horas), o que permite a sedimen- tação das partículas e dos poluentes associados. Ao contrário das bacias de detenção com espelhos d’água permanentes, esses sistemas não possuem reservas de água permanentes. O aproveitamento da água da chuva A qualidade da água se relaciona com a quantidade da água a tratar. Se economizarmos água diariamente, haverá uma quantidade muito menor para limpar e tratar antes da sua reinserção em nossos sistemas na- turais (Figuras 15-10, a-b). Uma das maneiras mais efetivas de economizar água para fins não potáveis consiste no uso de uma cis- terna ou grupo de cisternas. As cisternas – ou contêine- res geralmente usados para coletar e armazenar água – podem ser pequenas, para poucos litros, ou muito maiores. Algumas cisternas subterrâneas têm capacida- de para milhares de litros de água. Embora os modelos subterrâneos sejam comuns, as cisternas também são encontradas no solo ou acima dele, onde é possível usar a força da gravidade para facilitar o reaproveita- mento da água. Usadas já na Grécia e na Roma Antigas, as cisternas são indicadas especialmente para o mane- jo de águas pluviais. As cisternas pequenas podem ser usadas em residências individuais, enquanto as maio- res conseguem atender toda uma comunidade ou área habitacional. Elas podem utilizar bombas e se destinar a fins não potáveis, como irrigação ou descarga de ba- cias sanitárias, e todas devem ser dotadas de redes para evitar o entupimento, o que também impede que se tor- nem áreas de reprodução de insetos. Além disso, é im- portante que haja acesso à luz para inibir o crescimento de algas. As cisternas atuais são muito mais sofisticadas que as usadas na antiguidade. Ainda que costumem ser utilizadas principalmente para irrigação, também exis- tem cisternas com filtros e sistemas de purificação de água, que tornam a água própria para consumo. Outra maneira de melhorar a qualidade da água está no uso de coberturas verdes. Também chamadas de tetos verdes ou ecotelhados, as coberturas verdes colocam vegetação e solo sobre parte da superfície de cobertura ou em sua totalidade. Se comparadas às su- perfícies sólidas ou aos materiais de cobertura tradicio- nais, as coberturas verdes oferecem inúmeros benefí- cios ambientais, incluindo a redução da temperatura e Figura 15-8 As bacias de deten- ção, também conhecidas como bacias de retenção ou lagoas plu- viais, são bacias construídas com espelhos d’água permanentes durante todo o ano. Essas bacias tratam o escoamento pluvial me- diante sedimentação e tratamento biológico. Keeler_15.indd 209Keeler_15.indd 209 30.04.10 17:25:3130.04.10 17:25:31 210 Fundamentos de Projeto de Edificações Sustentáveis a filtragem dos contaminantes presentes no escoamen- to por meio da vegetação, o que melhora a qualidade da água. Essas coberturas são particularmente benéfi- cas na hora de reduzir as concentrações de cobre, zin- co e hidrocarbonetos aromáticos policíclicos (PAH). Além disso, elas reduzem o volume do escoamento pluvial por meio da absorção em um solo preparado. Vários estudos mostram que as coberturas verdes ab- sorvem 75% de precipitações de meia polegada (1,3 cm) ou menos. Por meio da retirada pelas raízes e da absorção do solo, muitos poluentes presentes na água da chuva são filtrados. Os benefícios oferecidos pelas coberturas verdes aumentam à medida que a vegeta- ção cresce com o passar do tempo (Figura 15-11). A combinação de melhores práticas de manejo, construídas em série de modo a lidar com poluentes específicos, é conhecida como grade verde. Além de melhorar a qualidade da água, as grades verdes au- mentam a eficiência no longo prazo e reduzem as exigências de manutenção de todos os tratamentos envolvidos no processo. Assim como a pré-lavagem dos pratos sujos aumenta a eficiência de uma máquina lava-louças, a remoção dos sedimentos antes da infil- tração da água da chuva aumenta, no longo prazo, a capacidade dos subsolos de permitir tal infiltração, im- pedindo os sedimentos de entupir os espaços porosos que possibilitam a movimentação da água. As configu- rações de grades verdes mais comuns incluem: Coletor de silte + biodigestor + bacia de retenção • Cisterna + jardim de chuva • Canteiro pluvial + valeta de biorretenção • Cobertura verde + biodigestor com plantas • A conservação de água no projeto de paisagismo É extremamente importante criar um projeto de pai- sagismo com vegetação sustentável e eficiente no consumo de água. O projeto de paisagismo com ve- getação depende da região. O clima, as condições do solo e os índices de precipitação locais influem no paisagismo. Esses projetos geralmente se tornam sustentáveis quando estão relacionados às condições específicas do lugar. O consumo eficiente de água depende tanto do índice de precipitação em determi- nado ano como dos tipos de plantas escolhidos para o projeto. Em geral, o ideal é usar espécies nativas ou adaptadas ao clima e às áreas de vida selvagem locais. Já é sabido que o uso de espécies exóticas que conseguem crescer em uma região, mas que se com- portam de maneira agressiva e reprimem as plantas nativas nos ecossistemas locais, prejudica as áreas de vida selvagem. Certas espécies de abelhas melíferas, por exemplo, estão acostumadas a coletar néctar em determinadas espécies de plantas nativas; caso tais espécies sejam reprimidas por plantas exóticas, as abelhas serão forçadas a ir para outro lugar ou aca- barão morrendo. A vegetação é a espinha dorsal dos habitats naturais, afetando as cadeias das espécies de modo extremamente significativo. Figura 15-9 Bacias de retenção construídas: dentre as melhores práti- cas de manejo, as bacias de retenção construídas oferecem o mais alto valor em termos de habitat, visto que possibilitam o melhor tratamento das águas pluviais. Figura 15-10 a, b Um engenhoso sistema modular de coleta e arma- zenagem de água, criado pela Rainwater HOG, na Austrália. (a) (b) Keeler_15.indd 210Keeler_15.indd 210 30.04.10 17:25:3230.04.10 17:25:32 Capítulo 15 A Qualidade e a Conservação da Água 211 Na Califórnia, um estado com grande quantidade de microclimas, baixas precipitações pluviais anuais e espécies vegetais e animais adaptadas de maneira específica, o projeto de paisagismo com vegetação depende muito do contexto do terreno e do consu- mo de água. (Ossistemas nativos poderiam causar a proliferação de espécies invasivas ou ser prejudica- dos por elas.) Se forem escolhidas de acordo com as condições do terreno, as novas plantas provavelmente se adaptarão com facilidade. Não serão necessárias práticas que já se tornaram comuns, como o uso de fertilizantes especiais, o controle de pragas e a irriga- ção intensa. As plantas crescem com facilidade por- que estão adaptadas ao local. Essa prática é capaz de reduzir a quantidade de água usada na irrigação. Em grande escala, muitas cidades criaram sistemas de reaproveitamento de água para fins de irrigação. A água reaproveitada vem do sistema de tratamento de esgoto sanitário, tendo sido tratada até chegar a um ní- vel adequado para o reuso não potável. O uso da água reaproveitada faz parte de uma estratégia de equilíbrio em grande escala. A energia utilizada para limpar e transportar a água recuperada deve ser compatível com a quantidade de água necessária para a irrigação. No caso da irrigação em pequena escala, é possível usar cisternas para armazenar a água vinda da cobertura, a qual será direcionada para a irrigação do local. São muitos os métodos naturais usados para tratar as águas pluviais por processos biológicos; porém, seu sucesso depende muito da escolha das plantas certas. Como ocorre com todos os projetos de paisagismo com vegetação, é fundamental compreender os ob- jetivos do programa de necessidades e do regime de manutenção de longo prazo. O projeto de paisagismo está relacionado ao solo local e às taxas de infiltração, à quantidade de água que será mantida perto das plan- tas e ao clima e à zona de vegetação locais. As plantas que crescem rápido são bastante efe- tivas em termos de remoção de poluentes, visto que, à medida que se desenvolvem, incorporam poluentes em sua biomassa; logo, quanto mais rápido elas cres- cem, mais poluentes são removidos. Esse fenômeno é conhecido como fitorremediação. Muitas espécies vegetais típicas de pântanos crescem de modo extre- mamente rápido, o que as torna bastante efetivas na remoção de poluentes. Tais espécies costumam ser usadas no projeto de biofiltros vegetais. Esses biofil- tros são adequados quando o solo de infiltração seca de maneira lenta e moderada; no entanto, dependen- do do índice de precipitação local, o uso de espécies pantanosas com alto consumo de água pode se tornar exagerado em solos com alta capacidade de precipi- tação. Logo, o projeto de paisagismo com vegetação é bastante específico em áreas de biofiltragem. Assim como a escolha de espécies nativas, a to- lerância a secas e o consumo de água no local, o controle de pragas é fundamental para o projeto de paisagismo com vegetação. As práticas mais comuns envolvem o uso de pesticidas sintéticos para matar as pragas. As substâncias químicas presentes nesses pes- ticidas são incorporadas pelas águas pluviais e preci- sam ser removidas antes que elas voltem aos sistemas naturais. Tais substâncias incluem produtos químicos que se prendem aos sedimentos e produtos químicos solúveis em água, o que exige diferentes tratamentos para removê-los da água. Por essa razão, está sendo estudado e implantado o manejo integrado de pragas. Para manter as pragas em níveis aceitáveis de maneira ambientalmente segura, o manejo integrado de pra- gas, uma abordagem ecológica, utiliza informações referentes aos seus ciclos de vida, junto a técnicas de controle de baixo risco. Uma vez que os problemas com pragas costumam indicar desequilíbrios ecológi- cos, o objetivo consiste em planejar e administrar os ecossistemas de modo a impedir, em primeiro lugar, que os organismos se tornem pragas. Isso significa que é necessário criar planos de paisagismo focados no uso de espécies nativas ou que se adaptem ao clima e às condições do solo locais. As diretrizes de manejo integrado de pragas ajudam a reduzir ou eliminar o uso de pesticidas artificiais, reduzindo, consequente- mente, o risco de o escoamento pluvial coletar subs- tâncias químicas e conduzi-las aos sistemas aquáticos naturais. Figura 15-11 Por meio da vegetação, as coberturas verdes filtram os contaminantes presentes na água da chuva escoada e, portanto, me- lhoram sua qualidade. Keeler_15.indd 211Keeler_15.indd 211 30.04.10 17:25:3230.04.10 17:25:32 Encerra aqui o trecho do livro disponibilizado para esta Unidade de Aprendizagem. Na Biblioteca Virtual da Instituição, você encontra a obra na íntegra. Dica do professor Assista ao vídeo para obter um entendimento mais amplo relacionado à qualidade das águas urbanas. Aponte a câmera para o código e acesse o link do conteúdo ou clique no código para acessar. https://fast.player.liquidplatform.com/pApiv2/embed/cee29914fad5b594d8f5918df1e801fd/57483da5ffeacab42b20d5883ca3c264 Exercícios 1) A impermeabilização foi um dos principais impactos que ocorreu no solo durante o processo de desenvolvimento dos centros urbanos, e afetou inevitavelmente a dinâmica da água nesse ambiente. Mais que isso, alterou as condições das águas pluviais e, por consequência, dos corpos de água mais próximos, devido: A) À lixiviação de poluentes nas superfícies urbanas. B) Ao aumento da quantidade de água que escorre na superfície. C) À implementação de um sistema de coleta seletiva. D) À ausência de chuva. E) À implementação de um sistema de esgoto cloacal. 2) Durante a ocorrência do processo de lixiviação, os contaminantes são transportados de duas formas. Nesse sentido, é correto afirmar que: A) Os poluentes transportados não alteram a qualidade das águas urbanas. B) Os chamados insolúveis são os poluentes que se dissolvem em água. C) Os poluentes transportados não se misturam à água escoada. D) Os chamados solúveis são os poluentes que se dissolvem em água, que se misturam e passam a fazer parte da água escoada. E) Os chamados solúveis são os poluentes sólidos, que não se misturam à água de escoamento. 3) Você está analisando a qualidade das águas urbanas e precisa apontar os principais poluentes incorporados às águas durante o percurso no ambiente urbano. Nesse sentido, você estranharia estar relacionado: A) Sedimentos. B) Metais pesados. C) Resíduo atômico. D) Matéria orgânica. E) Óleos e gorduras. 4) As substâncias químicas utilizadas como fertilizantes em jardins são responsáveis pela incorporação às águas urbanas de que substâncias: A) Óleos e gorduras. B) Bactérias. C) Ferro e manganês. D) Nitrogênio e fósforo. E) Sedimentos. 5) A falta de esgoto doméstico contribui: A) Com a incorporação de metais pesados. B) Com a incorporação de óleos. C) Com a incorporação de substâncias sintéticas. D) Com a incorporação de mercúrio. E) Com a incorporação de bactérias. Na prática Imagine que você é fiscal ambiental na secretaria municipal de meio ambiente de um município com aproximadamente 75 mil habitantes e, portanto, com autonomia nos processos de licenciamentos ambientais. Você está analisando um processo e um dos diversos itens abordados no Termo de Referência está relacionado à apresentação de um parecer quanto a riscos de inundações. Você não encontra o laudo solicitado e vai olhar melhor as fotografias do local, de diferentes ângulos. Saiba + Para ampliar o seu conhecimento a respeito desse assunto, veja abaixo as sugestões do professor: Meio ambiente e sustentabilidade Conteúdo interativo disponível na plataforma de ensino! Urbanização e qualidade da água: monitoramento em lagos urbanos de Londrina - PR Aponte a câmera para o código e acesse o link do conteúdo ou clique no código para acessar. Gestão de águas pluviais urbanas Aponte a câmera para o código e acesse o link do conteúdo ou clique no código para acessar. http://www.educadores.diaadia.pr.gov.br/arquivos/File/2010/artigos_teses/2010/Geografia/dissertacoes/7urbanizacao_qualidade_agua.pdf https://files.cercomp.ufg.br/weby/up/285/o/Gest%C3%A3o_de_Aguas_Pluviais__.PDF?1370615799
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