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Direitos Sociais e Competências em Serviço Social Material Teórico Debates Contemporâneos: Sustentabilidade, Questão Ambiental e Tecnologia Responsável pelo Conteúdo: Prof.a Mariana Aparecida da Silva Revisão Técnica: Prof. Me. Denis Barreto da Silva Revisão Textual: Prof.a Ms. Luciene Oliveira da Costa Santos • Debates Contemporâneos – Contextualização • Crises Ecológica, Capitalista e de Civilização • Tecnologia da Informação e o Serviço Social: Possíveis Interações e Contribuições • Problematizando o Tema • Serviço Social e Tecnologia da Informação • Práxis e a Tecnologia · Debater a relação entre sustentabilidade, questão ambiental e a atuação profissional diante da tecnologia; · Estudar o contexto econômico atual e o surgimento do conceito da ecologia social. OBJETIVO DE APRENDIZADO Debates Contemporâneos: Sustentabilidade, Questão Ambiental e Tecnologia Mantenha o foco! Evite se distrair com as redes sociais. Mantenha o foco! Evite se distrair com as redes sociais. Determine um horário fixo para estudar. Aproveite as indicações de Material Complementar. Não se esqueça de se alimentar e se manter hidratado. Aproveite as Conserve seu material e local de estudos sempre organizados. Procure manter contato com seus colegas e tutores para trocar ideias! Isso amplia a aprendizagem. Seja original! Nunca plagie trabalhos. Orientações de estudo Para que o conteúdo desta Disciplina seja bem aproveitado e haja uma maior aplicabilidade na sua formação acadêmica e atuação profissional, siga algumas recomendações básicas: Assim: Organize seus estudos de maneira que passem a fazer parte da sua rotina. Por exemplo, você poderá determinar um dia e horário fixos como o seu “momento do estudo”. Procure se alimentar e se hidratar quando for estudar, lembre-se de que uma alimentação saudável pode proporcionar melhor aproveitamento do estudo. No material de cada Unidade, há leituras indicadas, dentre elas: artigos científicos, livros, vídeos e sites para aprofundar os conhecimentos adquiridos ao longo da Unidade. Além disso, você também encontrará sugestões de conteúdo extra no item Material Complementar, que ampliarão sua interpretação e auxiliarão no pleno entendimento dos temas abordados. Após o contato com o conteúdo proposto, participe dos debates mediados em fóruns de discussão, pois irão auxiliar a verificar o quanto você absorveu de conhecimento, além de propiciar o contato com seus colegas e tutores, o que se apresenta como rico espaço de troca de ideias e aprendizagem. UNIDADE Debates Contemporâneos: Sustentabilidade, Questão Ambiental e Tecnologia Contextualização Para iniciarmos nossa abordagem sobre o contexto contemporâneo, levando em consideração a questão da sustentabilidade e do meio ambiente, do mundo do trabalho, não só para os assistentes sociais, mas para outras áreas também, a reportagem abaixo traz uma informação importante para reflexão sobre o chamado “Capitalismo Sustentável”: Fonte: iStock/Getty Images As 100 empresas mais sustentáveis do mundo em 2016 “São Paulo – A Corporate Knights, publicação canadense especializada em responsabilidade social e desenvolvimento sustentável, divulgou nesta semana a sua tradicional lista The Global 100, que contempla as empresas com as melhores práticas de sustentabilidade corporativa. O levantamento foi criado em 2005 e é anunciado, anualmente, durante o Fórum Econômico Mundial, em Davos. A publicação seleciona empresas de todos os setores com base em 12 indicadores principais.” Acesse o link e leia a reportagem na íntegra: https://goo.gl/TN0hiZ Ex pl or A reportagem traz uma face da conhecida sustentabilidade, principalmente envolvendo grandes empresas mundiais. Para você, o que é sustentabilidade? Na sua opinião, existe “Capitalismo Verde”? Guarde essas reflexões para o andamento do conteúdo. 8 9 Debates Contemporâneos – Contextualização Considerando o contexto de modernização, constantes transformações na área tecnológica e impactos socioambientais, torna-se necessária a interação do serviço social com outras áreas de conhecimento que complementem sua atuação profissional. Michael Löwy, em seus estudos sobre crise ecológica, crise capitalista e crise de civilização nos traz o panorama de crises econômicas vivenciadas na contemporaneidade. Vivemos em um sistema mercantilista que visa o lucro absoluto, independente do viés das ações e de suas contrapartidas para que ocorram. Em meio à omissão estatal em lidar com as questões sociais geradas pelo desenvolvimento capitalista exarcebado, retomamos as práticas neoliberais de corte de recursos para áreas como saúde, assistência social, educação, além das privatizações de empresas, terceirização da responsabilidade governamental para o terceiro setor e da demissão massiva de funcionários, formando o então exército industrial de reserva. Todos esses aspectos mantêm a continuidade dos períodos de crise. Löwy considera uma ilusão acreditar que o capitalismo esteja vivendo uma crise final fadada à extinção. São necessárias ações sociais que visem à modificação do sistema em longo prazo e de forma consistente por meio do movimento humano que percebe as contradições presentes no sistema. Em outros termos: se não houver uma ação social e política anticapi- talista, um movimento de insurgência dos explorados e oprimidos, o sistema poderá continuar ainda por muito tempo. Acabará, como no passado, por encontrar alguma saída para a crise, seja por medidas keynesianas – hipótese mais favorável – seja pelo fascismo e pela guer- ra. (LÖWY, 2013, p. 79) Crises Ecológica, Capitalista e de Civilização Ainda considerando os estudos de Michael, ele desenvolve a crise em três eixos: ecológica, capitalista e de civilização, destacando no próprio título de seu estudo a alternativa ecossocialista que em breve iremos discorrer. Ao nos depararmos com a crise ecológica, percebemos que há inúmeras empresas que possuem em seus discursos o viés ecossocial, de preservação ambiental ao mesmo tempo em que são utilizados os recursos e fontes naturais para sobrevivência no mercado. Mesmo que presenciemos o fim desses recursos, a exploração do que restar estará presente em nossas ações. 9 UNIDADE Debates Contemporâneos: Sustentabilidade, Questão Ambiental e Tecnologia Observando o fenômeno da “coisificação”, ou seja, da transformação de tudo e todos em mercadorias, percebemos que essa é uma característica crucial do modelo econômico vigente. O ser humano, como ser social, e por meio do seu trabalho, como parte integrante de um grande processo de transformação da natureza, contribuiu para a construção da mercadoria. A crise econômica e a crise ecológica resultam do mesmo fenômeno: um sistema que transforma tudo – a terra, a água, o ar que respiramos, os seres humanos – em mercadoria, e que não conhece outro critério que não seja a expansão dos negócios e a acumulação de lucros. (LÖWY, 2013, p. 79-80) Nessa direção, entramos na discussão sobre a chamada crise de civilização trazida pelo autor, como uma “crise mais geral”, pois envolve uma crise em contexto macro.Essa crise mais geral é nomeada como crise da civilização, como descreve o autor: As duas crises são aspectos interligados de uma crise mais geral, a crise da civilização capitalista industrial moderna. Isto é, a crise de um modo de vida [...] (LÖWY, 2013, p. 80) Vivemos um estilo de vida distorcido, imposto pelo imperialismo do modo de vida americano. Um modo de viver que, na verdade, não representa a realidade mundial. O american way life representa uma ilusão para os moldes contemporâneos, mas que ainda consegue alcance em contexto mundial. Esse modo de vida é sustentado pelo autoconsumo em um sistema de produção que visa o lucro, mas que contraditoriamente torna-se insustentável ao ter que dizimar inúmeros recursos naturais em busca desse objetivo. Um modo de vida almejado por muitos e vividospor poucos em sua essência. Mas, do ponto de vista da humanidade, o maior perigo, a ameaça mais preocupante, é a crise ecológica, que, contrariamente à crise financeira, não tem solução nos marcos do sistema. (LÖWY, 2013, p. 80) 10 11 A reportagem abaixo mostra uma das preocupações com a crise ecológica que é o aumento da poluição no mundo, percebido que em diversos países mesmo que haja o discurso de mudança, ou melhora da situação, a prática ainda não consegue abarcar todas as medidas de contenção dos impactos ambientais. Aumentam índices de poluição no mundo todo, alerta OMS 18 de maio de 2016 Suzana Camargo Fonte: iStock/Getty Images Mais de 80% das pessoas que vivem em áreas urbanas, onde há monitoramento da qualidade do ar, estão expostas a níveis de poluição além do recomendado pela Organização Mundial de Saúde (OMS). O alerta foi divulgado na última semana, quando a entidade publicou um levantamento realizado nos últimos cinco anos, em 3 mil cidades de 103 países. Leia a notícia na íntegra em: https://goo.gl/z0ZWyR Ex pl or Segundo Löwy, dentre os processos destrutivos que vivemos, o que apresenta maior risco é o de mudanças climáticas que ocasionam diversas catástrofes naturais. Diante desses grandes impactos ambientais, não há apenas um responsável, mas o de maior impacto é o modo de produção capitalista. De todos estes processos destrutivos, o mais óbvio, e perigoso, é o processo de mudança climática, um processo que resulta dos gases a efeito de estufa emitidos pela indústria, pelo agro-negócio e pelo sistema de transporte existentes nas sociedades capitalistas modernas. (LÖWY, 2013, p. 80) Diante do cenário, o ecossocilalismo surge em meio ao caos gerado pelo processo de acumulação capitalista, mas é preciso haver uma análise crítica das concepções atuais sobre o que significa esse termo. Deste modo, o ecossocialismo implica uma crítica profunda, uma crítica radical das experiências e das concepções tecnocráticas, burocráticas e não ecológicas de construção do socialismo. Isso nos exige, também, uma reflexão crítica sobre a herança marxista, o pensamento e a tradição marxista, sobre a questão do meio ambiente. (LÖWY, 2013, p. 82) O processo de produção capitalista é pautado principalmente no uso de fontes de energia fósseis, como cita Löwy, o carvão e o petróleo são as principais, sendo também as fontes de aquecimento global a partir da emissão de gases poluentes. 11 UNIDADE Debates Contemporâneos: Sustentabilidade, Questão Ambiental e Tecnologia A discussão presente no estudo de Löwy traz à tona que apenas transformando o modo de produção e utilizando outras fontes de energia, é que teremos uma transição do capitalismo para o socialismo, ou para outro modelo econômico e social que seja mais justo. A título de exemplo, o sistema produtivo capitalista funciona com base em fontes de energia fósseis – o carvão e o petróleo –, responsáveis pelo aquecimento global, de modo que um processo de transição ao socialismo só é possível quando houver a substituição dessas formas de energia pelas energias renováveis, que são a água, o vento e, sobretudo, a energia solar. Por isso, o ecossocialismo implica uma revolução do processo de produção das fontes energéticas. (LÖWY, 2013, p. 83) Ecossocialismo ou Capitalismo Sustentável? O que estamos vivendo? Fonte: boredpanda.com François Chesnais contextualizou que a crise econômica e financeira, iniciada em meados de 2007, mundialmente tornou-se um dos aspectos para a implantação de uma crise maior, a então chamada crise de civilização. Chesnais aprofunda o debate ao citar que as duas fontes de riqueza para o capital estão se esgotando, no caso, a natureza e o próprio homem como trabalhador, pois é o gerador de energia para uso da força de trabalho e consequente transformação do meio em que vive. Há também o antagonismo do capital em relação à “natureza”. Mais do que nunca assistimos, em escala planetária, ao processo de exploração até o esgotamento das “duas fontes de onde brota toda a riqueza: a terra e o trabalhador” (CHESNAIS, 2011, p. 193) Será que podemos considerar que vivemos a era da “sustentabilidade”? Porém, qual a contrapartida para vivermos esse momento? Ele oferece transparência em seus efeitos? 12 13 O vídeo abaixo traz uma breve ilustração das consequências da exploração dos recursos naturais e quais as formas de substituição dos atuais processos de uso da natureza. O Futuro que queremos - https://youtu.be/dr5dueiANhI Ex pl or Percebemos que os três eixos de crise citados por Löwy estão intrinsecamente conectadas, uma leva a outra em um ciclo contínuo que só será rompido através de mudanças, em longo prazo, do modo de vida que levamos e do modelo de sistema econômico excludente e devastador que criamos, que possui como motor a ganância humana. CRISE DE CIVILIZAÇÃO CRISE ECOLÓGICA CRISE CAPITALISTA Ecossocialismo Segundo Löwy, ecossocialismo, Trata-se de uma corrente de pensamentos e ação ecológicos que toma como suas as aquisições fundamentais do marxismo – ao mesmo tempo que se livra de seus entulhos produtivistas. (LÖWY, 2010, p. 37) Apresenta-se como uma corrente que lida com a contradição de estar indo de encontro ao processo de acumulação capitalista e, ao mesmo tempo, entender que apenas os trabalhadores e as organizações são capazes de modificar a situação atual de degradação ambiental. Seguindo na esteira de estudo de Löwy, ele aponta que o ecossocialismo se baseia em dois argumentos, que iremos discorrer abaixo: 1. O modo de produção e a forma de consumo fundados sobre uma lógica de produção e uso ilimitados dos recursos, desde os financeiros aos ecológicos, em que consideramos o meio-ambiente. O primeiro argumento, então, está sustentado no modus operandi clássico do capital. Segundo cálculos recentes, se o consumo médio de energia dos EUA fosse generalizado para o conjunto da população mundial, as reservas conhecidas de petróleo poderiam ser esgotadas em 19 dias. Esse sistema está, portanto, necessariamente fundado na manutenção e no agravamento da desigualdade entre o Norte e o Sul. (LÖWY, 2010, p. 37) 13 UNIDADE Debates Contemporâneos: Sustentabilidade, Questão Ambiental e Tecnologia 2. Contemplamos o risco da própria sobrevivência humana em detrimento do “progresso” capitalista, através dos resultados catastróficos da exploração dos recursos naturais não renováveis. Nesse argumento, há a pretensa ideia do “Capitalismo Verde” que vende o conceito da sustentabilidade. Porém, para que o ecossocialismo evolua patamares, reforçamos que é necessária uma reforma em sentido macroracional em sentido social e ecológico, tendo o apoio de uma profunda reorientação tecnológica, como cita o autor. Neste sentido, podemos tentar montar um raciocínio de como esse contexto interfere na atuação profissional, de assistentes sociais e outras áreas de conhecimento também, pois as transformações citadas, se ocorrerem em sentido macro, consideramos o sentido global, mundial de seu alcance. A primeira questão colocada é, portanto, a do controle sobre os meios de produção e, principalmente, sobre as decisões de investimento e transformação tecnológica, que devem ser arrancados dos bancos e empresas capitalistas para tornarem-se um bem comum da sociedade. (LÖWY, 2010: 38) Nessa perspectiva, já conseguimos vislumbrar características contemporâneas, que é o surgimento de novos campos de trabalho para os assistentes sociais, com o consequente desafio de reciclagem profissional. Tecnologia da Informação e o Serviço Social: Possíveis Interações e Contribuições Fonte: iStock/Getty Images Para iniciarmos nosso debate quanto à tecnologia e o serviço social, observemos a imagem acima. Ela representa o que vivemos cotidianamente: a conexão. 14 15 Estamos conectados e expostos a uma rede mundial, podemos manter contato com pessoas em diferentes países em tempo real, trocar mensagens, pagar contas, estudar,enfim, ações proporcionadas pelo avanço tecnológico. Neste tópico, tentaremos observar aspectos positivos e outros nem tanto da expansão da tecnologia, bem como a mudança do perfil dos profissionais para se adequarem aos novos modelos de negócio que surgem no mercado de trabalho e para os quais os assistentes sociais devem estar preparados ou se atualizarem quanto a esse processo. Para contextualizarmos melhor, existe um movimento na área da tecnologia da informação chamada de “internet das coisas”. Você já ouviu falar nisso? Fonte: iStock/Getty Images A Internet das coisas: https://goo.gl/Gb4vpK Ex pl or E, então, o que achou da Internet das Coisas? Era muito desconhecido para você? Faz parte do seu cotidiano? A tecnologia já modificou seu modo de vida e suas relações interpessoais? Ela impacta nos seus estudos? E trabalho? Essas são questões importantes e que merecem nossa reflexão, pois estamos cada vez mais conectados, e isso não seria excluído dos processos de trabalho do serviço social e de outras profissões. Outro exemplo de que a interação com a tecnologia se faz necessária é o que vemos nas reportagens abaixo: 1-Supercomputador da IBM será atendente do Bradesco em 2016 https://goo.gl/oSv4kS 2-Supercomputador Watson da IBM começa a trabalhar em hospital (notícia de 05 anos atrás) https://goo.gl/xk5m0c Ex pl or 15 UNIDADE Debates Contemporâneos: Sustentabilidade, Questão Ambiental e Tecnologia As reportagens trazem à tona a realidade, pois o exemplo citado do supercomputador Watson é um fato. A tecnologia está se expandindo e criando nichos de mercado diversificados. Observamos que o Watson será treinado pelos atendentes já existentes no banco, porém, vemos que a adaptação dos funcionários a esse novo contexto se faz necessária. Para embasar nossa discussão nesse sentido, utilizaremos os estudos de Renato Veloso sobre a tecnologia da informação e o trabalho dos assistentes sociais nesse sentido. O autor cita que, para o trabalho com tecnologia, é necessária a apropriação crítica dessa ferramenta que pode ser benéfica para o exercício profissional e, ao mesmo tempo, trazer um tecnicismo que deve ser observado com cautela pelos profissionais. Uma apropriação crítica das tecnologias da informação (TI) que não sucumba a posturas mistificadoras, simplificadoras e reducionistas fortemente presentes no debate sobre o tema, pode adicionar novas possibilidades para a condução do exercício profissional. (VELOSO, 2010, p. 518) Nessa direção, podemos perceber a Tecnologia da Informação (TI) em dois sentidos: a TI pode ser pensada como mediação e também como integrante de um conjunto de instrumentos teórico - metodológicos, ético- políticos e técnico- instrumentais socialmente construídos [...]. (VELOSO, 2010, p. 518) O uso da tecnologia no exercício profissional oferece um caráter estratégico de intervenção e possibilita transformações importantes para os espaços de trabalho. É importante nos atentarmos que esse perfil estratégico pode não apenas servir para a otimização de giro de capital, como também para o aprimoramento dos trabalhadores e da luta por uma sociedade igualitária. Trata-se, portanto, de um potencial estratégico que pode voltar-se não apenas aos interesses dos segmentos dominantes da sociedade, mas também à consecução de um projeto de sociedade que confere prioridade às demandas dos(as) usuários(as) das políticas públicas e dos segmentos populares. (VELOSO, 2010, p. 518) Fonte: iStock/Getty Images 16 17 Problematizando o Tema Veloso nos faz pensar que as inovações tecnológicas surgem com um caráter único de que serão a modificação e transformação do mundo, ou seja, a tecnologia envolve o que poderíamos chamar de um certo glamour. Porém, é importante destacar que as máquinas ainda possuem em sua origem a idealização de projetos humanos, são ao mesmo tempo dotadas de um procedimento social e de interação com o trabalho social. Vamos entender um pouco a categoria da mediação no campo da tecnologia, pois ela está sendo utilizada como mediadora entre o ser humano e a sociedade, principalmente tornando processos mais ágeis. As inovações tecnológicas estão expostas ao processo dialético, a cada dia, surgem novos produtos e serviços, o que produz um excessivo lixo de produtos obsoletos. O autor aponta que o problema não está na tecnologia, mas sim no uso que fazemos dela. Como já descrevemos, a tecnologia pode ser muito útil para a vida em seu contexto global, mas ao mesmo tempo é preciso que tenhamos uma visão crítica desse uso para que possamos usufruir dessa ferramenta de forma consciente para que não acabemos reforçando o caráter hegemônico do capital. O problema não está na tecnologia em si, mas no uso social que se faz dela. Esse entendimento considera a incidência de um determinado padrão de organização das relações sociais que absorve as inovações tecnológicas no sentido de alcançar as finalidades e projetos hegemônicos nesse tipo de sociedade. (VELOSO, 2010, p. 519) Ainda no seu estudo, o autor também especifica que há um desafio que não pode ser ignorado, que é o uso social que pode ser feito da tecnologia. Não há dúvidas de que ela é utilizada para o aumento do lucro e da substituição do trabalho vivo pelas máquinas, que conseguem aumentar a produção do sistema em menor tempo que os seres humanos. Porém, não devemos perder de vista que ela é quase indispensável nos dias atuais, o cotidiano é tomado pelas conexões com diferentes plataformas, sejam smarthphones, celulares, computadores etc., vivemos a era digital apontada há anos e que tende a evoluir ainda mais em pouco tempo. Trata-se de um grande desafio o que aponta para a importância da luta pela construção de novos usos sociais da tecnologia, voltados à satisfação das necessidades sociais da população como um todo, e não apenas de uma pequena minoria. Mais do que uma questão meramente tecnológica, trata-se de uma luta política que busca colocar a serviço dos trabalhadores o produto de seu próprio trabalho. (VELOSO, 2010, p. 519-520) Como você acredita que será o futuro? - https://goo.gl/Sa6PWz Ex pl or 17 UNIDADE Debates Contemporâneos: Sustentabilidade, Questão Ambiental e Tecnologia Serviço Social e Tecnologia da Informação É indiscutível o espaço ganho pela tecnologia atualmente e em como é importante para nós. Agora, vamos aprofundar um pouco em que sentidos a tecnologia e o Serviço Social podem construir novos caminhos profissionais e agregar valor para os dois campos. Se pensarmos nos espaços de trabalho que os assistentes sociais ocupam, ainda nos deparamos com processos de trabalho morosos, demorados em sua execução. Por exemplo, se observamos os processos judiciais, há um enorme número de processos e de papel que fica parado com informações importantes para os profissionais que trabalham no Tribunal de Justiça. Outro exemplo que podemos citar é a falta de investimento em infraestrutura tecnológica, seja na área da assistência social, saúde, habitação etc., há um grande déficit que precisa ser superado. Mas diante dessa situação percebemos um problema que é a pouca interação de alguns profissionais com computadores e outros periféricos. O auxílio na formação desses profissionais é fundamental para que seja mantida a usabilidade da tecnologia. Os aplicativos existentes hoje primam em oferecer telas que os usuários finais consigam utilizar, de forma quase intuitiva, seus recursos, o que facilita a interação dos indivíduos com as máquinas. Precisamos vencer algumas resistências a processos tecnológicos que ainda persistem entre as gerações. O ponto de partida é a noção de que as TI podem potencializar os processos de trabalho em que os(as) assistentes sociais estão inseridos(as), adicionando novas possibilidades para a sua condução. Reconhece-se, no entanto, que ela não cria tais possibilidades por si só, mas a partir da articulação com os aspectos que compõem o perfil e o trabalho profissionais.(VELOSO, 2010, p. 522-523) Há várias potencialidades da TI que podem otimizar o trabalho dos assistentes sociais. Segundo Veloso, precisamos situar a TI na nossa perspectiva de trabalho para que possamos entendê-la e utilizá-la seguindo os preceitos éticos e teórico- metodológicos do Serviço Social, buscando sempre a garantia de direitos e a qualificação profissional. Existem vários sistemas utilizados pelos serviços públicos e que auxiliam os profissionais na alimentação e busca de dados referentes a usuários. Conheça alguns abaixo: Tribunal de Justiça - https://goo.gl/72HL5n Prefeitura do Município de São Paulo (PMSP) – SISRUA- https://goo.gl/hwxOY9 PMSP- outros sistemas - https://goo.gl/bIxKkT Ex pl or 18 19 Práxis e a Tecnologia O Serviço Social deve procurar quais são os pontos estratégicos para o uso da TI, pois ela proporciona diferentes formas de interação. Não podemos e nem devemos excluir que seu processo de “inclusão” favorece sim a minoria que detém os meios de produção, mas não podemos esquecer também que esse é o modelo no qual vivemos e em que aceitamos e desconsideramos inúmeros acontecimentos. Não iremos pautar nosso desfecho em declarações rasas de ser “bom” ou “ruim”, pois isso depende da experiência de cada um de nós e ao meio em que estamos expostos diariamente em nosso cotidiano, seja ele de trabalho, ou de vida. O que importa na discussão de práxis profissional é perceber oportunidades e trabalhar com elas, uni-las ao que acreditamos e agregar valor àquilo que ela pode oferecer com maior impacto nas diferentes atuações profissionais. Como vislumbra Veloso (2011), podemos utilizar a tecnologia visando fortalecer o Projeto Ético- Político profissional. O ponto de partida é a noção de que a TI pode potencializar os processos de trabalho em que os(as) as Assistentes Sociais estão inseridos(as), adicionando novas possibilidades para a sua condução. Reconhece-se, no entanto, que ela não cria tais possibilidades por si só, mas a partir da articulação com os aspectos que compõem o perfil e o trabalho profissionais. Assim, a potencialidade da TI para o Serviço Social depende da existência de determinadas condições que a efetivem. (VELOSO, 2011, p. 113) O grande desafio posto ao Serviço Social é o de não se deixar levar pelo tecnicis- mo que o uso da tecnologia pode ocasionar, a criticidade perante os processos de trabalho é indispensável, bem como a capacidade de realizar mediações e análises de conjuntura. Ações como essas não devem se resumir apenas à utilização da TI. Coloca-se, assim, um desafio para o Serviço Social no sentido de não sucumbir à razão instrumental, ou seja, não limitar a sua atuação profissional à mera utilização de técnicas e instrumentos de trabalho, perdendo de vista as finalidades que se pretende alcançar. (VELOSO, 2011, p. 117) Observamos que a crise de civilização está posta. É o panorama atual. A palavra crise é quase um apêndice do sistema capitalista. Enquanto houver a contradição essencial do sistema, que é a minoria que possui os meios de produção e a maioria que vende sua força de trabalho e não se apropria do que produz, estaremos fadados às crises. Presenciar falas de sustentabilidade e posturas que garantem o “Capitalismo Verde” são extremamente questionáveis e merecedoras de profundas análises críticas. Sustentável para quem? Quando? Onde? Como? Capitalismo Verde? Qual o signifi cado e impactos sociais desses termos? É preciso questionar. Ex pl or 19 UNIDADE Debates Contemporâneos: Sustentabilidade, Questão Ambiental e Tecnologia Porém, são novas roupagens que surgem em meio a contemporaneidade e que apontam como novos nichos de trabalho, assim como o estudo da tecnologia e de sua gestão para o Serviço Social. Estamos caminhando para um futuro que pode ser incerto em alguns aspectos, mas que, sem dúvidas, tende a ser enriquecido cada vez mais com aprimoramentos no campo tecnológico. Iamamoto retrata que a ecologia tornou-se uma preocupação para grandes empresas, um novo “olhar social” para os resultados de seus processos produtivos. O “novo espírito social” de dirigentes de grandes grupos econômicos, expresso na atualidade, não pode ser confundido com impulsos distributivos e/ou humanitários generosos. Trata-se de uma recente tendência das empresas apresentarem uma face social inscrita em suas estratégias de marketing. (IAMAMOTO, 2015, p. 129) Como categoria profissional, é preciso articulação e engajamento crítico, não no sentido de revoltas ou resistências inócuas, é preciso medição, reflexão com embasamentos teóricos que qualifiquem as argumentações e sustentem posicionamentos. A interação com a tecnologia já não é mais algo que precise assustar, mas sim que traga novos panoramas, interações profissionais diferentes e com pessoas diferentes. A interdisciplinaridade está envolvida nesse aspecto, pois interagir com outras áreas de conhecimento agrega experiências diferenciadas a qualquer processo de trabalho. Durante esta unidade, estudamos: Importante! • A contextualização dos debates contemporâneos; • As crises: ecológica, capitalista e de civilização; • Os conceitos de ecossocialismo, sustentabilidade e capitalismo verde; • O Serviço Social e suas interações com a Tecnologia da Informação. Em Síntese 20 21 Material Complementar Indicações para saber mais sobre os assuntos abordados nesta Unidade: Leitura O Serviço Social na Cena Contemporânea IAMAMOTO, M. V. O Serviço Social na Cena Contemporânea. In: Serviço Social: Direitos e Competências Profissionais. Brasília: CFESS/UNB, 2009 https://goo.gl/5IvpjI Livros Crise Ecológica, Crise Capitalista, Crise de Civilização: A Alternativa Ecossocialista LÖWY, M. Crise Ecológica, Crise Capitalista, Crise de Civilização: a alternativa ecossocialista. Caderno CRH, Salvador, v. 26, 67, p. 79-86, Jan./Abr. 2013. A Questão Socioambiental e a Atuação do Assistente Social NUNES, L. S. A questão socioambiental e a atuação do assistente social. In: Textos & Contextos (Porto Alegre), v. 12, n. 1, p. 196 - 212, jan./jun. 2013. Crise Ecológica, Capitalismo, Altermundialismo: Um Ponto de Vista Ecossocialista LÖWY, M. Crise Ecológica, capitalismo, altermundialismo: um ponto de vista ecossocialista. In: Margem Esquerda, v.14. Boitempo Editorial, São Paulo, 2010. Serviço Social e Meio Ambiente GOMEZ, J. A. D.; AGUADO, V.; PÉREZ, A. G. In: Serviço Social e meio ambiente. São Paulo, Cortez, 2007. Tecnologias da Informação e Serviço Social: Notas Iniciais sobre o seu Potencial Estratégico para o Exercício Profissional VELOSO, R. Tecnologias da Informação e Serviço Social: notas iniciais sobre o seu potencial estratégico para o exercício profissional. Emancipação, Ponta Grossa, 10(2): 517-534, 2010. 21 UNIDADE Debates Contemporâneos: Sustentabilidade, Questão Ambiental e Tecnologia Referências IAMAMOTO, M. V. O Serviço Social na Contemporaneidade: trabalho e formação profissional. 22ed. São Paulo: Cortez, 2015 VELOSO, R. Serviço Social, Tecnologia da Informação e Trabalho. São Paulo: Cortez, 2011. CHESNAIS, F. Não só uma crise de econômica e financeira, uma crise de civilização. In: Mészaros e os desafios do tempo histórico. Orgs.: JIKINGS, I. e NOBILE, R. São Paulo: Boitempo, 2011. 22
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