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Introducao a literatura grecolatina - FINAL

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Introdução à literatura 
greco-latina
PATRÍCIA JERÔNIMO SOBRINHO
1ª Edição
Brasília/DF - 2018
Autores
Patrícia Jerônimo SOBRINHO
Produção
Equipe Técnica de Avaliação, Revisão Linguística e 
Editoração
Sumário
Organização do caderno de estudos e pesquisa ..................................................................................................... 4
Introdução ............................................................................................................................................................................. 6
Aula 1
A CIVILIZAÇÃO GRECO-LATINA: CARACTERÍSTICAS E ESPECIFICIDADES E A NARRATIVA 
LITERÁRIA GREGA E LATINA ...................................................................................................................................... 7
Aula 2
HOMERO E A ÉPICA GREGA .....................................................................................................................................19
Aula 3
CATULO, HORÁCIO, VIRGÍLIO E OVÍDIO: A LÍRICA LATINA .............................................................................28
Aula 4
ÉSQUILO, SÓFOCLES E EURÍPEDES: A TRAGÉDIA GREGA .............................................................................42
Aula 5
PLAUTO E TERÊNCIO: A COMÉDIA LATINA .........................................................................................................62
Aula 6
O LEGADO DA CULTURA GRECO-LATINA ............................................................................................................75
Referências ..........................................................................................................................................................................82
4
Organização do caderno de 
estudos e pesquisa
Para facilitar seu estudo, os conteúdos são organizados em unidades, subdivididas em capítulos, 
de forma didática, objetiva e coerente. Eles serão abordados por meio de textos básicos, com 
questões para reflexão, entre outros recursos editoriais que visam tornar sua leitura mais agradável. 
Ao final, serão indicadas, também, fontes de consulta para aprofundar seus estudos com leituras 
e pesquisas complementares.
A seguir, apresentamos uma breve descrição dos ícones utilizados na organização dos Cadernos de 
Estudos e Pesquisa.
Provocação
Textos que buscam instigar o aluno a refletir sobre determinado assunto antes 
mesmo de iniciar sua leitura ou após algum trecho pertinente para o autor 
conteudista.
Para refletir
Questões inseridas no decorrer do estudo a fim de que o aluno faça uma pausa 
e reflita sobre o conteúdo estudado ou temas que o ajudem em seu raciocínio. 
É importante que ele verifique seus conhecimentos, suas experiências e seus 
sentimentos. As reflexões são o ponto de partida para a construção de suas 
conclusões.
Sugestão de estudo complementar
Sugestões de leituras adicionais, filmes e sites para aprofundamento do estudo, 
discussões em fóruns ou encontros presenciais quando for o caso.
Praticando
Sugestão de atividades, no decorrer das leituras, com o objetivo didático de 
fortalecer o processo de aprendizagem do aluno.
5
Organização do caderno de estudos e pesquisa
Atenção
Chamadas para alertar detalhes/tópicos importantes que contribuam para a 
síntese/conclusão do assunto abordado.
Saiba mais
Informações complementares para elucidar a construção das sínteses/conclusões 
sobre o assunto abordado.
Sintetizando
Trecho que busca resumir informações relevantes do conteúdo, facilitando o 
entendimento pelo aluno sobre trechos mais complexos.
Para (não) finalizar
Texto integrador, ao final do módulo, que motiva o aluno a continuar a aprendizagem 
ou estimula ponderações complementares sobre o módulo estudado.
6
Introdução
Esta disciplina vai apresentar-lhe o mundo da literatura greco-latina, a partir da leitura de textos 
da épica e da tragédia grega, da lírica e da comédia latina. 
O objetivo é dar a você condições necessárias a fim de que possa perceber as contribuições 
da literatura greco-romana para a cultura e a literatura da nossa época. Assim, ao considerar 
a perenidade da literatura greco-latina, passaremos a compreender melhor a nossa época e a 
nossa literatura, a literatura brasileira.
Objetivos
 » Apresentar a história da Grécia Antiga e da Grécia Helênica, bem como a formação de 
Roma. 
 » Analisar a literatura épica, a lírica latina, a tragédia grega e a comédia latina, mediante 
a leitura crítica de enxertos das principais obras.
 » Despertar o aluno para a observação dos elementos da cultura greco-romana na sociedade 
contemporânea.
Passemos, portanto, a conhecer um pouco do mundo greco e latino a partir do que preparamos 
para você.
Bom estudo!
7
Nesta primeira aula, faremos uma introdução e uma contextualização ao mundo antigo grego 
e romano. Esses povos foram, dentre os antigos, os que criaram todo um universo cultural 
(filosofia, poesia, leis, artes e organização política) que teve grande influência na época e continua 
influenciando, de forma latente, a configuração das sociedades atuais.
Seguiremos, aqui, uma ordem cronológica. Abordaremos, primeiramente, a civilização grega desde 
suas origens até sua assimilação pelos romanos. Deteremos-nos, posteriormente, na civilização 
romana e concluiremos com alguns apontamentos sobre a narrativa literária grega e latina.
Objetivos
 » Discorrer sobre a civilização greco-latina, destacando suas características e especificidades.
 » Dissertar sobre a literatura grega e sua respectiva influência na literatura latina.
1
AULA
A CIVILIZAÇÃO GRECO-LATINA: 
CARACTERÍSTICAS E ESPECIFICIDADES 
E A NARRATIVA LITERÁRIA 
GREGA E LATINA
8
AULA 1 • A CIVILIZAÇÃO GRECO-LATINA: CARACTERÍSTICAS E ESPECIFICIDADES E A NARRATIVA LITERÁRIA GREGA E LATINA
A Grécia Antiga e a Grécia Helênica
A civilização grega começou a existir por volta de 1.200 a 1.100 a.C., com a chegada dos “dórios” 
ao sul da Península Balcânica, conquistando os aqueus que aí habitavam. Antes da chegada dos 
dórios, a região da bacia do Mar Egeu era habitada por duas importantes civilizações: a Cretense, 
na ilha de Creta, e a Aqueana ou Micênica, que se estendia pelas ilhas do mar Egeu e pela Costa, 
em Micenas, Tirinto e Troia.
Quando falamos em Grécia Antiga não estamos falando de um único país, mas de várias cidades 
independentes. Por volta de 800 a.C., os vários grupos que tinham chegado à região nos séculos 
anteriores se organizaram em cidades-estados. Cada uma era como se fosse um pequeno país. 
Elas constituíam a “pólis”. 
No começo, cada cidade-estado era governada por um rei, que arava a terra como todo mundo. 
A terra era a principal riqueza e sua posse, símbolo de prestígio. Com o tempo, cada cidade 
desenvolveu características políticas e econômicas próprias, mas em todas elas se falava a 
mesma língua. 
Figura 1. Templo de Zeus. 
Fonte: (<http://www.placesonline.es/europa/grecia/atenas/detalle_foto.
asp?filename=50928_tempio_di_zeus_atene&wcontent=11430>)
E era para celebrar o seu deus mais poderoso, Zeus, que de 4 
em 4 anos se reuniam em uma grande festa: as Olimpíadas. 
Em 700 a.C., atletas de todas as cidades gregas se encontravam 
na cidade de Olímpia para festejar Zeus, competindo nas 
primeiras Olimpíadas. Durante cinco dias, os atletas se enfrentavam nas provas de corrida, salto, 
natação, luta e pentágono. Os vencedores se tornavam heróis em suas cidades. Mas os jogos 
não mascaravam as diferenças entre as cidades-estados e o militarismo se destacava como a 
característica de uma das mais poderosas dessas cidades: Esparta – fundada, por volta do século 
XI a.C., por um grupo de helenos chamados “dórios”. 
Saiba mais
Os gregos acreditavam que os deuses 
moravam no templo sagrado, o 
Olímpio. Neste templo, os deuses 
(dentre eles Poseidon – o rei do mar, 
e Dionísio – deus da alegria e do 
vinho) eram presididos por Zeus e 
sua mulher, Hera. Os deuses tinham a 
feição perfeita, sempre lindos e jovens. 
Viviam as mesmas relaçõesque os 
humanos: apaixonavam-se, tinham 
filhos, sentiam ódio, guerreavam. 
Brigavam muito entre si e, quando 
decidiam descer entre os homens, às 
vezes, acabava em confusão. Por isso 
os homens sempre procuravam saber 
o que os deuses queriam. Consultavam 
os oráculos, templos onde as 
sacerdotisas recebiam as mensagens 
dos deuses.
http://www.placesonline.es/europa/grecia/atenas/detalle_foto.asp?filename=50928_tempio_di_zeus_atene&wcontent=11430
http://www.placesonline.es/europa/grecia/atenas/detalle_foto.asp?filename=50928_tempio_di_zeus_atene&wcontent=11430
9
A CIVILIZAÇÃO GRECO-LATINA: CARACTERÍSTICAS E ESPECIFICIDADES E A NARRATIVA LITERÁRIA GREGA E LATINA • AULA 1
A população de Esparta estava assim dividida: “cidadãos”, classe dominante de origem dórica, 
composta por grandes proprietários de terra; os “esparciatas”, que se dedicavam às tarefas públicas 
e militares; e os “hilotas”, escravos, servos do Estado.
O estilo de vida nesta cidade era praticamente o de um quartel, onde tudo girava em torno do exército. 
Depois de séculos acostumados com a guerra e sem serem muito numerosos, para manterem a 
posição de domínio, eles estabeleceram uma disciplina militar muito rígida. A principal função 
do Estado era fazer com que os cidadãos espartanos fossem bons soldados. Esparta se impôs aos 
outros povos da região e reuniu algumas cidades sob sua liderança na Liga do Peloponeso. 
A vida dentro de Esparta era dura como em um acampamento militar para os homens. Já as 
mulheres espartanas, estas se dedicavam à leitura, às compras e à ginástica, uma vez que deveria 
dar à luz a “crianças saudáveis” para serem “soldados fortes”. Crianças deficientes eram mortas. 
Com apenas sete anos, a criança entrava para o exército. Mudava-se para o acampamento para 
ser treinada. 
Se todos os homens iam para o exército, quem cuidava das terras? 
Eram os escravos, que cultivavam a terra e trabalhavam nas oficinas 
dos artesãos. A escravização dos atenienses tornou-se comum nos 
séculos VIII e VII a.C. Pequenos donos de terras não conseguiam 
produzir de forma suficiente para sustentar a família e faziam dívidas, 
comprando grãos e ferramentas de famílias ricas.
Sempre ouvimos falar na Grécia pela sua beleza, pelas suas artes. Porém, se os cidadãos de Esparta 
passavam o tempo todo no Exército, quem produzia essas artes? Na época, a Grécia tinha muitas 
cidades independentes e foi outra cidade grega que ficou famosa pelas artes. Você sabe qual é? 
Acertou se disse Atenas – ocupada pelos “jônios” desde o século X a.C.
Atenas foi fundada em homenagem à deusa da sabedoria. Possui algumas diferenças em relação 
à Esparta. Para começar, ela foi fundada por um grupo de helenos chamados “jônios”, que 
chegaram aos poucos e pacificamente, estabelecendo-se na península da Ática. Lá construíram a 
cidade, reunindo os prédios públicos e o templo da deusa Atenas, na Acrópole. Na costa, fizeram 
o porto de Pireu.
Figura 2. O Partenon templo construído para a deusa Atenas.
Fonte: (<http://farm4.static.flickr.com/3169/3102228832_424f0ece6d.jpg>)
Saiba mais
Espartano é um adjetivo 
que usamos até hoje para 
significar algo severo, sem 
adornos. 
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AULA 1 • A CIVILIZAÇÃO GRECO-LATINA: CARACTERÍSTICAS E ESPECIFICIDADES E A NARRATIVA LITERÁRIA GREGA E LATINA
Atenas tornou-se o principal centro dos jônios. Foi lá que surgiram várias coisas que influenciam 
nossa vida até hoje, dentre elas, uma forma de governo muito conhecida entre nós: a “democracia”. 
Logo no início, a sociedade ateniense era formada: pelos “eupátridas”, aristocratas que tinham 
grandes extensões de terras trabalhadas por escravos; pelos “georgói”, pequenos proprietários de 
terras, cultivadas por eles mesmos; pelos “demiurgos”, trabalhadores livres como comerciantes, 
artesãos, donos de pequenas oficinas, adivinhos, médicos, professores.
Na época, a base da vida econômica era a terra. Logo, 
consideravam-se cidadãos somente os homens que possuíam 
terras (eupátridas e georgói) e que prestavam serviço militar. 
Os cidadãos eram filhos de pais atenienses que nasciam 
na cidade. Uma vez por semana eles se reuniam em uma 
assembleia, “eclesia”, para discutir e votar as leis propostas pelo 
senado e também para escolher os seus dirigentes. Não eram 
considerados cidadãos os estrangeiros, os escravos, as mulheres, 
os artesãos. Insatisfeitos com o poder dos aristocratas, o povo 
se rebelou e exigiu que as leis fossem escritas e conhecidas 
por todos. 
Em 620 a.C., um eupátrida chamado Dracon escreve as leis, que são reformadas em 594 a.C., por 
Sólon. Este suaviza as leis, reparte as terras, incentiva a educação popular. Porém, os mais ricos 
continuam tendo maior poder político. Em 560 a.C., Psístrato toma o poder e estabelece uma tirania 
que dura 50 anos, até que o governo passa para Clístenes, que divide a cidade em 100 distritos 
denominados “demos”, habitados por cidadãos ricos e pobres que podiam escolher seus chefes. 
Esse sistema de “demos” e de livre escolha política dos cidadãos foi chamado de “democracia”. 
A mulher ateniense possuía poucos direitos na democracia ateniense. Ela dedicava-se à família 
e ao marido. Não saía de casa. Na época, as atividades públicas e o divertimento eram só para 
homens. As mulheres pobres trabalhavam no campo ou no comércio.
Para os gregos, o homem era a maior de todas as criações da natureza. Essa valorização do homem 
estava presente nas esculturas, na pintura, na literatura, nas ciências e na filosofia. Procuraram 
a origem e o destino da existência humana. “Conhece a ti mesmo”, era o que pregava Sócrates, 
grande pensador e mestre de Platão. Junto com Aristóteles, criador da lógica, são os grandes 
nomes da filosofia grega. 
Se Atenas era tão diferente de Esparta nos costumes, será que elas não eram rivais? Sim, elas 
eram rivais, mas tiveram que se reunir contra um inimigo comum que ameaçava toda a Grécia: 
os persas. Estes tinham um grande império que queriam expandir conquistando a Grécia. Dário 
era o imperador persa que dominou brutalmente as colônias gregas da Ásia Menor. Quando ele 
exigiu a rendição das cidades gregas, Atenas e Esparta se rebelaram.
Saiba mais
Religião era um dos principais 
elementos de ligação entre a 
população grega. Como a religião 
grega era politeísta (pregava-se a 
existência de vários Deuses), a ligação 
se dava por meio de cultos e rituais 
comuns dedicados a uma divindade, 
a um santuário. Santuários como o 
de Delfos ou Olímpia eram locais de 
celebração das festas comuns a todas 
as populações gregas.
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A CIVILIZAÇÃO GRECO-LATINA: CARACTERÍSTICAS E ESPECIFICIDADES E A NARRATIVA LITERÁRIA GREGA E LATINA • AULA 1
Em 490 a.C., acontece a primeira guerra entre os persas e os gregos. Ela é chamada de “guerra 
médica”, isso porque os gregos achavam que os persas eram da tribo dos medos. Os gregos vencem 
e Atenas constrói uma frota de navios para se defender melhor. Em 479 a.C., os persas voltam a 
atacar e, uma terceira vez, em 450 a.C. Os gregos vencem definitivamente e Atenas, com a sua 
frota, passa a ser a maior potência do Mediterrâneo. 
Foi depois da vitória contra os persas que Atenas atingiu o máximo do seu desenvolvimento. Nas 
praças se reuniam artistas e cidadãos orgulhosos da sua democracia. Foi a época do governo 
de Péricles, que governou mais de 30 anos e promoveu a chamada idade de ouro da cultura 
ateniense, tanto que ficou conhecido como século de Péricles.
E o que aconteceu com Esparta? Você deve estar se perguntando. 
Esparta foi se sentindo cada vez mais ameaçada pelo poder de 
Atenas. Muito da riqueza dos atenienses era feita às custas do 
domínio sobre outras cidades gregas. O resultado disso: guerra, 
a guerra do Peloponeso. Essa guerra começou em 431 a.C. e 
durou mais de 20 anos. Atenas perdeu a guerra e Esparta impôs 
a sua força militar a toda a Grécia. 
Figura 2. Guerra do Peloponeso.
Fonte: (<http://www.educ.fc.ul.pt/docentes/opombo/hfe/protagoras/
images/mapa_guerra_pol.jpg>)
Anos depois, as cidades gregas se revoltaramcontra essa tirania. A cidade de Tebas se impôs, 
mas todas acabaram se enfraquecendo. Foi a decadência do mundo grego. Na época, o jovem 
rei da Macedônia, Felipe II, dominou os gregos e reuniu todas as cidades para atacar os persas 
e estabelecer um império. Felipe II foi assassinado às vésperas da partida. Quem realizou 
seus planos foi o seu filho, Alexandre Magno (“Alexandre O Grande”), o maior guerreiro 
da Antiguidade. 
Saiba mais
Muito do que existia na Grécia 
Antiga não foi criado pelos gregos. 
Foi herdado dos cretenses e do 
Oriente Médio. Mas, cabe aos 
gregos algumas criações, como 
os gêneros literários. Além dos 
poemas de Homero, o século de 
ouro foi marcado pelo surgimeno 
da poesia lírica. O teatro também 
é invenção dos gregos. Ele se 
desenvolveu a partir de rituais em 
louvor a Dionísio, deus do vinho 
e da uva. Foi, dessa forma, que 
nasceu a tragédia grega, como 
veremos nas aulas seguintes. Os 
gregos foram, ainda, os primeiros 
a se preocuparem com a história 
(Heródoto foi o “pai da história”) 
e a desenvolverem o estudo da 
medicina (Hipócrates, o “pai da 
medicina”). Foi na Grécia, também, 
que surgiram os maiores filósofos: 
Sócrates, Platão, Aristóteles.
12
AULA 1 • A CIVILIZAÇÃO GRECO-LATINA: CARACTERÍSTICAS E ESPECIFICIDADES E A NARRATIVA LITERÁRIA GREGA E LATINA
Em 334 a.C., Alexandre desembarca perto de Troia e vence os persas. Quando morre, 12 anos 
depois, Alexandre Magno já tinha conquistado todo o Oriente Próximo. Sua morte leva à divisão 
das conquistas entre os generais, mas o que sobra de mais importante é a difusão da cultura 
grega no Oriente. 
O mundo Romano: formação, monarquia e império
Você já ouviu a frase: “Roma não se fez em um dia!”. Pois é, diz a lenda, contada pelo poeta Virgílio 
no livro “A Eneida”, que Eneias, um príncipe troiano, fugiu para a península Itálica depois que 
os gregos destruíram a cidade de Troia, na guerra de Troia, fundando a aldeia de Alba Longa. 
Muito tempo depois, dois irmãos que queriam ser reis de Alba Longa brigaram. O vencedor, 
que era tio-avô dos gêmeos Rômulo e Remo, jogou os meninos no rio Tibre. Os deuses 
protegeram as crianças, que foram amamentadas por uma loba. Quando cresceram, Rômulo 
e Remo voltaram para Alba Longa, mataram o rei e fundaram uma cidade sobre sete colinas. 
Essa cidade se chamou Roma. 
A lenda de “Rômulo e Remo” se mistura com a história dos latinos, que eram os habitantes do 
Lácio, no centro da península Itálica. Quando os latinos chegaram ao Lácio, o mapa da península 
estava assim:
Figura 4. Península Italiana no século IV a.C.
Fonte: (<http://images.slideplayer.com.br/1/297400/slides/slide_7.jpg>)
http://images.slideplayer.com.br/1/297400/slides/slide_7.jpg
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A CIVILIZAÇÃO GRECO-LATINA: CARACTERÍSTICAS E ESPECIFICIDADES E A NARRATIVA LITERÁRIA GREGA E LATINA • AULA 1
A Magna Grécia, ao sul, era ocupada pelos “gregos”, o norte e o centro eram ocupados pelos 
“etruscos”. Várias famílias latinas se fixaram no monte Palatino. Neste monte, em 753 a.C., 
fundaram a aldeia de Palatina. Essa data ficou sendo a da fundação de Roma. Nem os habitantes 
de Palatina, nem as das outras seis aldeias, conseguiram conter os avanços dos etruscos, que 
vieram, dominaram o Lácio, juntaram as sete aldeias e criaram a cidade de Roma, que passou a 
ser governada por reis com poder absoluto. 
Figura 5. As sete colinas de Roma
Fonte: (<http://2.bp.blogspot.com/-YqU_v2pW2II/UUogJwsdLEI/AAAAAAAAT3g/45TsCLGVAKM/s640/Sete-colinas-de-
Roma-001.png>)
As aldeias eram organizadas por três grandes grupos: “patrícios”, 
“plebeus” e “escravos”. Os patrícios eram os descendentes dos 
pais da cidade, formavam várias famílias ligadas por laços de 
parentesco, ocupavam cargos públicos, governavam e tinham 
as melhores terras da região. Cada família formava uma “gens”. 
A plebe era constituída por estrangeiros e por romanos que não 
faziam parte das gens. Eram livres, mas não tinham direitos 
e nem participavam do governo. O grupo dos escravos era 
formado por plebeus, que não puderam pagar as suas dívidas, 
e prisioneiros de guerra. Eram tratados como se fossem coisas e não existiam na legislação. 
Nesse período, o poder dividia-se entre o Monarca (chefe político, militar supremo, juiz e 
sacerdote), o Senado (composto por 300 patriarcas que controlavam o poder do monarca) e a 
Assembleia Curiata (formada por patrícios, indicavam o sucessor do monarca, decidiam sobre 
as guerras e votavam leis).
A família romana era formada pelo pai, mãe, filhos, os escravos e os clientes. Estes últimos eram 
plebeus que, para melhorarem de vida, tornavam-se protegidos de uma família patrícia. Em troca, 
Saiba mais
Você conhece a poesia que diz 
assim: “A última flor do Lácio 
inculta e bela...”? É o poema “Língua 
Portuguesa”, de Olavo Bilac. O poeta 
chama de “A última flor do Lácio” o 
português, porque este veio do latim, 
assim como outras línguas: francês, 
espanhol, italiano, romeno.
14
AULA 1 • A CIVILIZAÇÃO GRECO-LATINA: CARACTERÍSTICAS E ESPECIFICIDADES E A NARRATIVA LITERÁRIA GREGA E LATINA
prestavam favores a essa família. Na família romana, o pai desempenhava o papel de sacerdote 
religioso. Ele venerava os espíritos dos antepassados e gênios protetores da casa, chamados de 
lares. O fogo sagrado dos lares ficava sempre aceso em lareiras. Os romanos adotaram os deuses 
dos gregos. 
A liberdade das mulheres não era a mesma da dos gregos, ou melhor, das mulheres espartanas. 
Na época, os romanos estavam se tornando grandes guerreiros e eles precisavam proteger as 
mulheres e as crianças. Afinal, eram as mulheres que garantiam a sobrevivência da classe dos 
patrícios.
Por volta de 750 a.C., os etruscos invadem Roma, tomando a cidade. Os patrícios tiveram o poder 
enfraquecido. Somente em 509 a.C., os latinos conseguem expulsar os etruscos do Lácio. Essa 
expulsão coincide com a República e o começo da expansão territorial de Roma. A aristocracia 
continua governando, mas os plebeus começam a pressionar. 
“Res” quer dizer “coisa”; “pública” é “pública” mesmo, de todos, coisa do povo. Mas, por que era 
chamada de “República” um governo onde somente os patrícios mandavam? Será que os plebeus 
lutavam pela igualdade social? Eles lutavam pela igualdade somente por um motivo: a maioria 
das tropas do exército romano era formada por plebeus.
 Se os plebeus lutavam nas guerras, era justo também que participassem do governo da cidade. 
Foram necessários 200 anos de luta até que os patrícios cedessem às pressões dos plebeus e 
igualassem os seus direitos sociais (por exemplo, de se casar com membros de classes diferentes), 
políticos (de compor os magistrados e o Senado, por exemplo) e jurídicos (por exemplo, de 
participar da escrita de leis). 
Em 454 a.C. foi escrita e publicada a lei das 12 tábuas. Doze pranchas de bronze foram o 
ponto de partida para o que se ensina hoje nas faculdades de Direito como Direito Romano. 
Conhecendo as leis, os plebeus puderam participar dos comícios e, como eram a maioria, 
aprovavam várias leis. Em 345 a.C, as leis Canuleias permitiram que plebeus se casassem 
com patrícios. Portanto, todo cidadão romano podia se candidatar e exercer qualquer 
cargo público. 
Em 265 a.C., depois de dominar a Magna Grécia, Roma é dona 
absoluta da Península Itálica. Suas aspirações, agora, incluem 
terras do além mar. Roma se tornou uma das cidades mais 
poderosas do Mediterrâneo. Depois que já mandava em todo o 
mediterrâneo, Roma começou a conquista do Oriente e tomou 
territórios da Grécia e da Síria. 
Agora que já conhecemos um pouco da antiguidade grega e romana, vamos conhecer um pouco 
da literatura grega e latina.
Saiba mais
A religião romana era essencialmente 
politeísta, e o culto ao imperador era 
de grande significado pelo fator da 
unidade que representava.
15
A CIVILIZAÇÃO GRECO-LATINA: CARACTERÍSTICAS E ESPECIFICIDADES E A NARRATIVA LITERÁRIA GREGA E LATINA • AULA 1
Introdução à literatura grega
Já vimos que devemos aos gregos a criação de quase todos osgêneros literários, ou seja, gênero 
lírico, épico e dramático. Podemos dizer que a literatura grega possui três períodos: Arcaico (do 
século XVIII ao V a.C.), Clássico (do século V ao IV a.C.) e Alexandrino (do século IV ao III a.C.).
Diferentemente do sentido que o vocábulo “arcaico” tem hoje, para os gregos essa palavra 
significa o princípio, a origem dos fatos. É exatamente isso o que representa o período Arcaico 
da literatura. Depois de desaparecer por quatrocentos anos (entre os séculos XII e VIII a.C.), a 
escrita retorna à Grécia no período Arcaico. Nessa época, a cultura oralizada ainda sobressai, 
apesar de já existir a escrita. 
A literatura surge sendo cantada pelos “aedos e rapsodos” (poetas da antiguidade grega). A 
“Ilíada” e “A Odisseia”, os dois poemas homéricos, são produzidos nesse momento. “A Teogonia” 
e “Trabalhos e Dias”, poemas de Hesíodo, também datam da mesma época.
Figura 6.
 
Fonte: (<http://www.ebooksbrasil.org/>)
Figura 7.
 
Fonte: (<http://www.iluminuras.com.br/>)
16
AULA 1 • A CIVILIZAÇÃO GRECO-LATINA: CARACTERÍSTICAS E ESPECIFICIDADES E A NARRATIVA LITERÁRIA GREGA E LATINA
Os poemas de Homero e de Hesíodo são o princípio de toda a literatura que se faz no Ocidente 
greco-latino. Esses poemas retratam o mundo mítico dos deuses e heróis, heróis em guerra. 
Tratam do universo, de um mundo ligado à natureza, do nascimento dos deuses e da justiça 
entre os humanos.
Já o período Clássico é caracterizado pelo mundo da “polis”, da cidade, substituindo o mundo 
mais ligado à natureza. Nesse momento, a filosofia surge para explicar de forma lógica o mundo. 
Nasce, também, o teatro trágico grego, refletindo sobre a condição e fragilidade dos homens. 
Apoiando-se em mitos antigos, o teatro traz à tona o conflito entre o passado e o presente da 
cidade. Ésquilo, Sófocles e Eurípides são os grandes autores trágicos gregos deste período.
E o período Alexandrino nos mostra a expansão do mundo helênico com o império de Alexandre 
Magno, o Grande, e a criação da Biblioteca de Alexandrina, por volta do século III a.C., reunindo 
várias obras importantes. Pertence a esse período o poema “Argonáuticas”, de Apolônio Rodes 
(de 295 a.C.), o último grande poema do mundo grego que chegou até nós, cuja influência, 
séculos mais tarde, será marcante na vida poética de Virgílio. Após, com a dominação da Grécia 
por Roma, começa a surgir uma literatura latina.
Figura 8.
Fonte: (<http://skoob.s3.amazonaws.com/livros/267377/A_ARGONAUTICA_1348106458P.jpg>)
Introdução à literatura latina
Das origens da literatura latina até Virgílio, nem tudo podemos chamar de literatura. Desde a 
fundação de Roma (em 753 a.C.) até a publicação da “Eneida” (XVII a.C.) são quase oito séculos. 
Desse tempo, somente podemos denominar literário o que fora produzido a partir do emprego 
literário do latim. Trata-se de uma literatura que nasce de um ponto de convergência entre a 
cidade, que se faz senhora devido à glória romana, e uma língua, que se faz literária.
17
A CIVILIZAÇÃO GRECO-LATINA: CARACTERÍSTICAS E ESPECIFICIDADES E A NARRATIVA LITERÁRIA GREGA E LATINA • AULA 1
A expansão dos romanos pelo mediterrâneo após a vitória sobre Cartago, o fervilhamento cultural 
de Alexandria dos Ptolomeus e o domínio militar sobre os gregos são fatores que propiciaram o 
surgimento da literatura latina.
Do século VIII a.C. ao III d.C., situa-se um período em que se 
predomina a oralidade e a literatura cristã (a partir do século 
III ao IV), distanciada do espírito da Roma Gloriosa. Essa fase é 
chamada de Primitiva ou Pré-literária. Em seguida, podemos 
distinguir os períodos Arcaico (século III ao I a.C.) e Clássico 
(século I a.C. ao I d.C.).
É no período Arcaico que passa a existir a literatura latina, 
marcada a partir de Livius Andronicus, escravo oriundo de 
Tarento. Ele escreveu “Odissia” (aproximadamente em 250 
a.C.), uma adaptação da “Odisseia” de Homero. Também vale 
mencionar o “Bellum Punicum” ou “Guerra Púnica”, escrito por 
Naevius por volta de 209 a.C. Nele, o autor trata da primeira 
guerra entre Roma e Cartago.
Já o período Clássico tem início com o aparecimento da retórica de Cícero (106 a 43 a.C.) e vai 
até o romance de costumes com Petrônio, cerca de 68 da nossa era. Nesse intervalo, surgem 
grandes autores de poesia, principalmente, a partir de 43 a.C., na era chamada de Augusto. É 
no período clássico que aparecem os grandes poetas: Catulo, Lucrécio, Virgílio, Horácio, Tibulo, 
Propércio e Ovídio. A literatura latina atinge o seu apogeu. Também é neste período que surge 
o maior dos poemas do mundo latino, a “Eneida”, que celebra a glória de Roma. 
Figura 9.
Fonte: (<http://www.ebooksbrasil.org/eLibris/eneida.html>)
A “Eneida”, assim como a “Ilíada” e a “Odisseia”, é um poema épico (também chamado de epopeia), 
ou seja, narrativa cujo assunto é o feito heroico passado, relevante para um povo.
Saiba mais
Logo após o seu apogeu, os gregos 
entraram em declínio. Foram 
dominados por outros povos, 
particularmente, pelos romanos a 
partir dos três últimos séculos a.C. “A 
Grécia cativa, cativou Roma” – escreveu 
um poeta romano. Ou seja, mesmo 
dominados, os gregos encantaram os 
romanos. Os deuses e mitos da Grécia 
foram apropriados pelos romanos, 
rebatizados com outros nomes. Por 
exemplo, Zeus, deus pai dos gregos, 
virou Júpiter; Afrodite, deusa do amor, 
se tornou Vênus; Dionísio, deus do 
vinho, virou Baco.
18
AULA 1 • A CIVILIZAÇÃO GRECO-LATINA: CARACTERÍSTICAS E ESPECIFICIDADES E A NARRATIVA LITERÁRIA GREGA E LATINA
Sintetizando
Vimos até agora:
 » A expansão da cultura clássica greco-latina é caracterizada pelo seu desenvolvimento em várias etapas: as conquistas 
de Alexandre, o Grande; a expansão romana por todo o Mediterrâneo; e a romanização do mundo circum-mediterrâneo 
(Península Ibérica e Itália). 
 » Todas as províncias do Império Romano adotaram o sistema político romano e a cultura greco-latina. 
 » Grécia é o berço de todos os estilos literários. Até o século V a.C., a poesia lírica, o teatro trágico, a comédia são 
desenvolvidos no território grego. 
 » A helenização do mundo romano se consolida no século I a.C. A partir desse momento, se desenvolve em Roma uma 
produção literária latina, apesar de reproduzir os estilos literários gregos. Assim, encontramos grandes comediógrafos, 
como Plauto e Terêncio, e grandes poetas, como Ovídio, Horácio e Virgílio.
19
Na aula 1, conhecemos as duas principais culturas da Antiguidade – a grega e a romana –. Vimos 
que elas se assemelham, mas também são diferentes em alguns aspectos, como na política, na 
guerra, na organização social, na literatura. 
Nesta segunda aula, você entrará em contato com o primeiro grande poeta grego que consagrou 
o gênero épico com as suas grandiosas obras: a “Ilíada” e a “Odisseia”. Analisaremos a literatura 
épica mediante a leitura crítica de enxertos da “Ilíada”.
Objetivos
 » Explicar o que é uma epopeia, destacando os elementos essenciais desta forma lírica. 
 » Dissertar sobre o poeta grego Homero que reconstitui com riqueza de detalhes a 
civilização grega.
 » Analisar a epopeia grega a partir de trechos do poema épico “Ilíada”, de Homero, que 
narra a Guerra de Troia.
2AULAHOMERO E A ÉPICA GREGA
20
AULA 2 • HOMERO E A ÉPICA GREGA
A épica grega
Aristóteles (no capítulo XXIII de sua “Poética”) define a epopeia ou poesia épica como uma imitação 
narrativa metrificada. Ou seja, é um poema narrativo extenso que “[...] mostra conjuntamente 
vários acontecimentos simultâneos, os quais, se estiverem bem conexos com o assunto tornam 
mais grandiosos.” (ARISTÓTELES, s.d, p. 335). 
A epopeia desenvolve-se em torno de uma ação inteira e completa – com princípio, meio e 
fim. Além disso, contém outro traço relevante, relacionado à necessidade em “[...] apresentar 
pensamentos e beleza de linguagem.” (ARISTÓTELES, s.d, p. 335). Em síntese, epopeias são 
composições que narram em versos uma grande ação heroica.
Sugestão de estudo
O filme “300” (2007)expressa muito bem o que é uma narrativa épica. Se você não o assistiu, não perca tempo! 
Veja os elementos essenciais da epopeia. 
Partes da epopeia clássica:
1) Proposição – parte que abre o poema e na qual o autor indica genericamente 
o que vai cantar.
2) Invocação – pedido de inspiração a seres sobrenaturais.
3) Narração – exposição eloquente da ação.
O poeta pode incluir mais duas partes que são facultativas: “dedicatória”, que é 
o oferecimento do poema a uma personalidade importante; e “epílogo” que é o 
remate do poema, a conclusão, o fechamento, o desfecho. 
(Adaptado de: CABRAL, António. Morfologia Literária. 1º ed. Porto: Porto Editora, 1971.) 
O exemplo clássico de epopeia é a poesia de Homero, considerado o primeiro escritor a produzir 
poesia de caráter épico com suas obras a “Ilíada” e a “Odisseia”. Vamos conhecer melhor este poeta?
Sugestão de estudo
Além de a “Ilíada” e a “Odisseia”, de Homero, outro poema considerado épico é “Eneida”, de Virgílio, produzido na Roma 
Antiga. 
HOMERO 
Homero foi um poeta da Grécia Antiga que viveu mais ou menos há 850 anos a.C. Entretanto, muitos 
historiadores e arqueólogos duvidam de que ele realmente tenha existido. Muitos acreditam que 
21
HOMERO E A ÉPICA GREGA • AULA 2
é um personagem lendário, pois não há provas concretas de sua existência. Suas obras podem 
ter sido escritas por outros autores antigos, ou talvez são apenas coleções de tradições orais do 
período da Grécia Antiga.
Figura 10. Homero.
Fonte: (<http://dicionarioportugues.org/pt/homerico>)
A vida de Homero é uma mistura de lenda e realidade. Segundo Church (1970, p. 9): “eruditos 
modernos [...] suspeitam de que os poemas homéricos são obras de muitos autores e de várias 
épocas da História da Grécia, depois da Guerra de Troia.” Reza a tradição que Homero era cego 
e nasceu em Esmirna, que é hoje na Turquia. 
A morte de Homero também é um mistério. Ele teria morrido na ilha de Ios, também chamada 
de Nio. No entanto, pesquisadores modernos dizem que não há nenhuma fonte de dados segura 
que mencione Homero como uma figura real. Neste estudo, vamos considerar a “Ilíada” e a 
“Odisseia” como poemas de autoria de Homero.
Escritas no período Arcaico da Literatura Grega (VIII – V a.C.), a “Ilíada” e a “Odisseia” são obras 
fundadoras da literatura ocidental que ultrapassaram as barreiras do tempo (são lidas até hoje) 
e do espaço (são lidas por diferentes povos). 
A “Ilíada” narra a Guerra de Troia, desde as suas motivações, a genealogia dos deuses, dos heróis, 
os detalhes das batalhas e o intrincado conflito entre os deuses e os homens. Já a “Odisseia” narra 
a volta do herói Ulisses a Ítaca, ilha governada por ele. Mas o herói leva vinte anos para conseguir 
retornar a sua ilha, sofrendo todo o tipo de atribulações. Ambos são poemas de estrutura oral, 
próprio para ser cantado pelo aedo ou rapsodo, ao ritmo dos versos.
Sendo verdadeiras ou não, ou a mescla de tudo isso, o que nos interessa nessas epopeias é a 
“verossimilhança” que elas podem ter em contato com a história, como destaca o filósofo Brandão 
(1996), em sua obra “Mitologia Grega”:
22
AULA 2 • HOMERO E A ÉPICA GREGA
A Ilíada, ao revés, descreve um fato histórico, se bem que revestido de um 
engalanado maravilhoso poético. Na expressão, talvez um pouco “realista” de 
Page, o que o poema focaliza “são os próprios episódios do cerco de Ílion e 
ninguém pode lê-lo sem sentir que se trata, fundamentalmente, de um poema 
histórico. Os pormenores podem ser fictícios, mas a essência e as personagens, 
ao menos as principais, são reais. Os próprios gregos tinham isso como certo. 
Não punham em dúvida que houve uma Guerra de Troia e existiram, na verdade, 
pessoas como Príamo e Heitor, Aquiles e Ájax, que, de um modo ou de outro, 
fizeram o que Homero lhes atribui. A civilização material e o pano-de-fundo 
político-social, se bem que não se assemelhem a coisa alguma conhecida ou 
lembrada nos períodos históricos, eram considerados pelos gregos como um 
painel real da Grécia da época micênica, aproximadamente 1.200 a.C, quando 
aconteceu o cerco de Troia (BRANDÃO, 1996, vol. I, p. 80).
O filósofo também comenta sobre a autenticidade de a “Odisseia”:
Ulisses teria sido o mascaramento da busca do estanho ao norte da Etrúria, com 
o descobrimento das rotas marítimas do Ocidente. Tratar-se-ia, desse modo, 
de uma genial ficção, embora assentada em esparsos fundamentos históricos, 
porque, no fundo, a Odisseia é o conto do nóstos, do retorno do esposo, da 
grande nostalgia de Ulisses. Este seria o ancestral dos velhos marinheiros, que 
haviam, heroicamente, explorado o mar desconhecido, cujas fábulas eram moeda 
corrente em todos os portos, do Oriente ao Ocidente: monstros, gigantes, ilhas 
flutuantes, ervas milagrosas, feiticeiras, ninfas, sereias e Ciclopes. (BRANDÃO, 
1996, vol. I, p. 85).
Por intermédio desses poemas, os gregos puderam conhecer a sua história e a dos deuses, 
também. Ou seja, por meio deles, criou-se, poeticamente, a origem histórica e lendária do povo 
grego, tornando o passado conhecido e fazendo-o parte da memória coletiva.
Para melhor entendermos a estrutura dessas obras, vamos fazer um breve estudo de a “Ilíada”. 
Preparado?
A Ilíada
A “Ilíada” narra os acontecimentos do décimo ano da Guerra de Troia, centrando-se no herói 
Aquiles – príncipe, líder dos Mirmidões, herói e melhor de todos os guerreiros. A narrativa tem 
início com uma invocação às Musas, feita pelo poeta-narrador: 
1º Trecho
Canta-me, ó deusa, do Peleio Aquiles
A ira tenaz, que lutuosa aos Gregos,
Verdes no Orco lançou mil fortes almas,
23
HOMERO E A ÉPICA GREGA • AULA 2
Corpos de heróis a cães e abutres pasto:
Lei foi de Jove, em rixa ao discordarem
O de homens chefe e o Mirmidon divino.
(HOMERO, Canto I, 2009. Disponível em: <www.ebooksbrasil.org/adobeebook/iliadap.pdf> 
Acesso em: 17 out. 2014)
Depois da invocação, começa-se a narrar o motivo da ira de Aquiles e o porquê do confronto do 
herói com o rei Agamenon – rei de Micenas e comandante supremo dos gregos. 
2º Trecho
Nume há que os malquistasse? O que o Supremo
Teve em Latona. Infenso um letal morbo
No campo ateia; o povo perecia,
Só porque o rei desacatara a Crises.
Com ricos dons remir viera a filha
Aos alados baixéis, nas mãos o cetro
E a do certeiro Apolo ínfula sacra.
(HOMERO, Canto I, 2009. Disponível em: <www.ebooksbrasil.org/adobeebook/iliadap.pdf> 
Acesso em: 17 out. 2014)
A ira foi provocada pelo rapto, por Agamenon, de uma jovem cativa, Criseida – filha de Crises, 
sacerdote de Apolo. Crises se dirige a Agamenon e lhe oferece um valioso tesouro, mas ele se 
recusa a devolver Criseida. O sacerdote, então, invoca Apolo e pede-lhe vingança. Apolo atende 
e durante nove dias os gregos padecem de uma peste violenta. 
Aquiles, aconselhado por Hera, convoca uma assembleia para saber o que estava acontecendo 
e o adivinho Calcas revela a ofensa praticada por Agamenon. 
3º Trecho
Anima-se o bom velho: “Sacrifícios
Nem votos pede Apolo; em nós o ultraje
Punindo vai do Atrida, que ao ministro
O livramento rejeitou da filha;
Nem grave a destra poupará castigos,
Se não reverte a jovem de olhos pretos,
Sem resgate ou presente, ao pai querido,
Remetendo-se a Crisa uma hecatombe.
Com isto por ventura o deus se aplaque.”
(HOMERO, Canto I, 2009. Disponível em: <www.ebooksbrasil.org/adobeebook/iliadap.pdf> 
Acesso em: 17 out. 2014)
http://www.ebooksbrasil.org/adobeebook/iliadap.pdf
http://www.ebooksbrasil.org/adobeebook/iliadap.pdf
http://www.ebooksbrasil.org/adobeebook/iliadap.pdf
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AULA 2 • HOMERO E A ÉPICA GREGA
Essa revelação enche Agamenon de cólera. Mas ele decide entregar Criseida, desde que haja uma 
recompensa. Aquiles alega que não há como compensá-lo. Agamenon revela que quer Briseida, 
a jovem cativa que coube a Aquiles. Este se enfurece. Anuncia que sairia da guerra, se tivesse de 
entregar a cativa. Agamenon pouco importa. A ira de Aquiles só aumenta. Agamenon cumpre 
sua palavra, retira Briseida deAquiles e devolve a filha de Crises ao pai. 
4º Trecho
De Crisa em funda barra entrava Ulisses.
Ferram-se as velas, no atro bojo as metem;
Enxárcias afrouxando, o mastro arreiam;
A remo aportam, a âncora seguram,
E atadas as rajeiras, desembarcam;
Pós a hecatombe do arci-argênteo Febo,
Da sulcadora nau saiu Criseida.
No altar o sábio Ulisses a apresenta,
Vira-se ao pai querido: “Aqui mandou-me,
Crises, o rei dos reis trazer-te a virgem
E estas cem reses com que o deus mitigues
Que em dores nos soçobra.” Alvoroçado
O velho ao peito ansioso aperta a filha.
(HOMERO, Canto I, 2009. Disponível em: <www.ebooksbrasil.org/adobeebook/iliadap.pdf> 
Acesso em: 17 out. 2014)
Aquiles pede à sua mãe, a deusa Tétis, que convença Zeus, o rei dos deuses, a trazer desgraças 
para os aqueus enquanto ele, Aquiles, não for apaziguado e voltar a lutar. Zeus deve favores a 
Tétis e atende ao seu pedido. Heitor, o campeão dos troianos, empurra os gregos de volta aos 
seus navios atracados na praia. Agamenon envia uma embaixada a Aquiles para pedir que ele 
volte a lutar. Oferece prêmios valiosos a Aquiles, mas este recusa a oferta e permanece afastado 
do combate. A guerra continua. 
Pátroclo, amigo de Aquiles, pede permissão para vestir a armadura dele para que os troianos 
pensassem que ele havia voltado. Aquiles aceita o pedido. Pátroclo expulsa os troianos, mas 
Heitor o mata. Aquiles fica transtornado de tristeza e de fúria, retorna à guerra, furioso. Depois 
de cercar todo o exército troiano, persegue Heitor ao redor da cidade e o mata. 
5º Trecho
E ele feroz: “Um pacto ousas propor-me,
Acerbíssimo Heitor! Pacto há sincero
Entre homem e leão, lobo e cordeiro?
http://www.ebooksbrasil.org/adobeebook/iliadap.pdf
25
HOMERO E A ÉPICA GREGA • AULA 2
Ódio nutrem recíproco e perpétuo.
Não, tratados jamais; de um de nós ceve
O sangue esparso ao belicoso Marte.
O valor todo envida; ora te cumpre
N’hasta acérrimo ser e audaz guerreiro.
Não tens refúgio, pune-te Minerva
Por minha destra; as agonias vingo
Dos meus que trucidaste.” E aqui dispara:
Furta-se Heitor; Minerva às escondidas
Da areia arranca o pique, ao dono o entrega.
[...]
E desferida a lança, ao meio acerta;
O escudo a repulsou. Do bote inútil
Sentido o herói, demisso o rosto, enfia
Por não ter outra lança, e a gritos pede
Uma a Deifobo de alvo abroquelado;
Este ali não se achava, e conhecendo
A ilusão, clama Heitor: “Ai! morte os numes
Me aprestam já!
(HOMERO, Canto XXII, 2009. Disponível em: <www.ebooksbrasil.org/adobeebook/iliadap.pdf> 
Acesso em: 17 out. 2014)
Após o combate, Aquiles amarra o cadáver de Heitor à sua carruagem e dá várias voltas ao 
redor da cidade de Troia, para que todos os troianos possam vê-lo mutilado. Certa noite, guiado 
pelo deus Hermes, Príamo pede a Aquiles para devolver o corpo de seu filho. A tristeza e fúria 
de Aquiles cedem lugar à compaixão. Ele devolve o cadáver e oferece uma trégua para que os 
troianos possam velar Heitor. A ira de Aquiles termina com o poema, quando ele se reconcilia 
com Príamo, pai de seu inimigo Heitor.
Sugestão de estudo
A “Odisseia” (1997), de Andrei Konchalovsky, e “Troia” (2004), de Wofgang Petersen são os filmes mais recentes sobre a 
“Ilíada” e a “Odisseia”. Que tal assisti-los? Bom filme!
6º Trecho
Seu suspirar maior tristeza infunde;
E ao povo imenso Príamo: “Troianos,
Ide, lenhai, sem susto de emboscada;
http://www.ebooksbrasil.org/adobeebook/iliadap.pdf
26
AULA 2 • HOMERO E A ÉPICA GREGA
Que, ao despedir-me, Aquiles prometeu-me
Só na dozena aurora o saltear-nos.”
Ligam presto às carroças bois e mulos,
Juntam-se ante a muralha. Ingentes cargas
De lenha acarretando nove dias,
Ao décimo entre lágrimas levantam,
E no cimo da pira Heitor colocam,
E ateiam fogo. A dedirrósea Aurora
Veio raiando, e a gente refervia.
Depois que em roxo vinho apagam todos
Em roda a chama, seus irmãos e amigos,
De arroios d’água as faces alagadas,
Em urna de ouro os brancos ossos colhem,
De finos mantos carmesins coberta,
Na cova a metem, que por cima forram
De grossas lajes. Do sepulcro ereto
Em roda há sentinelas, que previnam
Dos de greva louçã qualquer ataque.
Já tumulado, aos paços reverteram,
Onde Príamo rei, de Jove aluno,
Lhes deu funéreo esplêndido convívio.
Heitor doma-corcéis tais honras teve.
(HOMERO, Canto XXIV, 2009. Disponível em: <www.ebooksbrasil.org/adobeebook/iliadap.pdf> 
Acesso em: 17 out. 2014)
Você deve ter notado que a “Ilíada” termina no vigésimo quarto canto. Isso mesmo! Ela é composta 
por vinte e quatro cantos (algo como os capítulos dos textos em prosa) distribuídos ao longo de 
14.412 versos em hexâmetro dactílico, que é o formato tradicional da épica grega. Hexâmero é 
um verso composto de seis sílabas poéticas e dactílico faz alusão ao ritmo do poema, uma sílaba 
longa e duas breves.
Veja um exemplo de verso decassílabo, com acento tônico principal na sexta e décima sílabas:
 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10
En/fim, / não/ hou/ve/ for/te/ Ca/pi/tão 
 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10
Que/ não/ fo/sse/ tam/bém/ dou/to e/ ci/en/te, 
http://www.ebooksbrasil.org/adobeebook/iliadap.pdf
27
HOMERO E A ÉPICA GREGA • AULA 2
Imagine como deve ser escrever um poema com tantos versos, seguindo com a mesma rima, 
métrica e o mesmo ritmo! 
E por falar em rima, métrica, ritmo, que tal darmos uma olhadinha na estrutura do texto a 
“Ilíada”? Como já vimos, os elementos essenciais da epopeia são: proposição, invocação, narração, 
dedicatória e epílogo. 
Na proposição o poeta apresenta o seu objetivo principal. Ela é breve e, às vezes, é reduzida a 
uma única palavra. Após a proposição, segue a invocação, em que o poeta clama a força de seres 
sobrenaturais. E a dedicatória é o oferecimento do poema a uma personalidade, que pode ser 
tanto material quanto espiritual. Normalmente, essas três partes constituem, logo no início do 
poema, o proêmio.
Podemos notar que o proêmio aparece nos sete primeiros versos do Canto I da “Ilíada” (lá no 1º 
Trecho). A invocação é feita por meio do verbo “cantar” e pelo vocativo a uma deusa, que não 
é nomeada. Já o assunto, a proposição, é a ira de Aquiles que enviou vários heróis para o Hades 
(inferno), cumprindo o que havia estabelecido a Zeus. A dedicatória da “Ilíada” fica clara desde o 
primeiro verso, isto é, o poema é dedicado ao herói Aquiles, filho da deusa Tétis e do mortal Peleu. 
A ira de Aquiles termina juntamente com o poema (6º Trecho), quando ele se reconcilia com 
Príamo, pai de Heitor, momento em que ocorre o funeral de seu inimigo. É o epílogo do poema. 
E a narração, é toda a ação descrita no decorrer do poema. 
Sintetizando
Vimos até agora:
 » As primeiras obras da literatura grega são a “Ilíada” e a “Odisseia”, ambas atribuídas ao poeta Homero. 
 » Na “Odisseia”, o tema são as aventuras de Ulisses, um dos heróis gregos que foi para Troia e que planejou o cerco da cidade, 
com a ajuda do grande cavalo de madeira.
 » Na “Ilíada” são narrados os diversos eventos da Guerra de Troia. 
28
Depois da épica grega, vamos conhecer a lírica latina. Nesta aula, você terá a oportunidade de 
estudar os autores mais representativos da lírica latina: Catulo, Horácio, Virgílio e Ovídio.
Na poesia lírica, o poeta expressa seus sentimentos, transmitindo emoções ao leitor. Na Grécia, 
o gênero lírico surgiu ligado à expressão dos sentimentos do poeta, mas devia cumprir alguns 
requisitos formais (versos datílico, iâmbico, coriâmbico), assim como o acompanhamento musical 
da lira (de onde surge o nome “lira”). 
Da Grécia, a lírica chegou a Roma. Aqui perdeu um dos seus requisitos: o acompanhamento 
musical. A lírica romana trata de diferentes temas do cotidiano, como o amor e o ódio, suas 
composições são breves e faz alusões aos mitos.
Objetivos
 » Discorrer sobre a poesia lírica na Grécia e em Roma.
 » Dissertar sobre a poesia líricaem obras da literatura latina quanto à época e à natureza 
dos textos. 
 » Analisar a lírica latina a partir de fragmentos de textos de Catulo, Virgílio, Horácio e Ovídio.
3
AULA
CATULO, HORÁCIO, VIRGÍLIO E OVÍDIO: 
A LÍRICA LATINA
29
CATULO, HORÁCIO, VIRGÍLIO E OVÍDIO: A LÍRICA LATINA • AULA 3
A lírica latina
As obras que pertencem ao gênero lírico são, geralmente, escritas em verso. Elas expressam os 
sentimentos do autor, despertando no ouvinte ou no leitor sentimentos semelhantes. Como 
quase todos os gêneros literários, o lírico surgiu na Grécia, onde os aedos ou rapsodos recitavam 
poemas usando o acompanhamento musical, a lira. Isso difere o gênero lírico romano do grego, 
porque o primeiro foi feito para ser lido e não cantado como este.
De acordo com Palisca e Grout (1994, p. 20), a “poesia lírica significava poesia cantada ao som 
da lira [...] Muitas outras palavras gregas que designavam os diferentes gêneros de poesia, como 
ode e hino, eram termos musicais.” Aristóteles, em “Poética”, destaca como elementos da poesia 
a melodia, o ritmo e a linguagem. A atividade poética seria um método de libertação interior, 
a expressão dos sentimentos da alma. Seja lendo ou declamando, o poeta tem de emocionar, 
sensibilizar o ouvinte ou leitor.
Devido ao caráter pragmático dos romanos, mais preocupados com conquistas militares do que 
os seus sentimentos, a poesia lírica nasce mais tarde em Roma, quando eles já tinham consolidado 
os gêneros épico e dramático.
Há duas características que definem a lírica romana:
 » O leque de temas abordados pelos poetas.
 » A variedade de versos usados para expressar os sentimentos.
O aparecimento dos primeiros textos líricos, em Roma, coincide com os problemas sociais e 
econômicos que marcaram a segunda metade do século II. a.C. Os problemas internos resultaram 
na perda do sentimento nacional, que deu sentido à criação de obras épicas. Começa a ser 
importante o indivíduo como tal e não como parte de uma comunidade. Nessa época, destaca-
se o círculo de poetas reunidos em torno da figura do general Lutacio Cátulo. Há poucos dados 
que temos sobre a vida dos membros deste grupo e sua produção literária.
No século I a.C., surge o grupo denominado “neotéricos”, ou “Poetas Novos” que rompiam com 
o passado literário romano (mitológico) e utilizavam uma temática considerada “menor” pelos 
seus críticos da época. Dentre os poetas desse grupo, o mais importante e mais lírico é Catulo. 
Posteriormente, aparecem Horácio, Virgílio e Ovídio. 
Catulo
Caio Valério Catulo nasceu em Verona (87 a.C.), em uma família bem posicionada economicamente 
e socialmente (seu pai era amigo do imperador Júlio César). Isso abriu a Catulo muitas portas, 
permitindo-o frequentar os círculos mais elitistas. Neles, Catulo conheceu a sua futura amante, 
30
AULA 3 • CATULO, HORÁCIO, VIRGÍLIO E OVÍDIO: A LÍRICA LATINA
Clódia – a Lésbia de seus poemas, uma mulher da alta sociedade romana que foi casada com o 
governador da Gália. 
Figura 11. Caio Valério Catulo.
Fonte: (< https://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/b/b2/Catull_Sirmione.jpg>)
A relação de Catulo e Clódia foi conturbada por rompimentos e reconciliações. Ela era muito 
bonita, possuía uma legião de admiradores e, para desespero de Catulo, não tinha medo de 
trocar de amante. Os altos e baixos dessa relação são descritos pelo próprio Catulo, em diversos 
poemas, como no “Poema 5”:
Vamos viver, minha Lésbia, e amar,
e aos rumores dos velhos mais severos,
a todos, voz nem vez vamos dar.
Minha vida!, me dizes que este nosso amor
será feliz aos dois, será eterno.
Deuses grandes, fazei que prometa a verdade,
que sincera e de coração o diga
e que nos seja dado, a vida inteira, sempre
este pacto viver de amor sagrado.
(CATULO, Poema 5. In: CATULO. O cancioneiro de Lésbia. Tradução de Paulo Sérgio de 
Vasconcellos. São Paulo: Hucitec, 1991.)
Podemos observar, nesse trecho do “Poema 5”, que o poeta pede ajuda aos deuses para que as 
palavras de Lésbia sejam verdadeiras. O amor por Lésbia constitui uma força avassaladora que 
toca o poeta profundamente. É um amor verdadeiro, leal, como destacado no “Poema 87”:
Mulher alguma pode se dizer bastante
amada quanto amada é por mim Lésbia.
Em pacto algum jamais houve tanta confiança
31
CATULO, HORÁCIO, VIRGÍLIO E OVÍDIO: A LÍRICA LATINA • AULA 3
quanto a que em mim se viu em teu amor.
(CATULO, Poema 87. In: CATULO. O cancioneiro de Lésbia. Tradução de Paulo Sérgio de 
Vasconcellos. São Paulo: Hucitec, 1991.)
Mas o amor do poeta é diferente do de sua amada. Os dois caminham em sentidos opostos. Lésbia 
se nega a casar, renuncia o amor conjugal. Catulo se tortura por esse comportamento da amada.
Infeliz Catulo, deixa de loucura,
e o que pereceu considera perdido.
Agora ela não quer: tu, louco, não queiras
nem busques quem foge nem vivas aflito,
porém duramente suporta, resiste.
Vai, menina, adeus, Catulo já resiste,
Ai de ti, maldita, que vida te resta
Mas tu, Catulo, resoluto, resiste.
(CATULO, Poema 62. In: In: CATULO. O cancioneiro de Lésbia. Tradução de Paulo Sérgio de 
Vasconcellos. São Paulo: Hucitec, 1991.)
No “Poema 85”, Catulo expressa sentimentos de amor e ódio. Sente-se atormentado, culpado, 
por ter alimentado, em vão, por tantos anos um amor. 
Odi et amo. Quare id faciam, fortasse requiris.
Nescio, sed fieri sentio et excrucior.
Odeio e amo. Talvez queiras saber “como?”
Não sei. Só sei que sinto e crucifico-me.
(CATULO, Poema 85. In: CATULO. O cancioneiro de Lésbia. Tradução de Paulo Sérgio de 
Vasconcellos. São Paulo: Hucitec, 1991.)
Conforme podemos perceber, assim como todos os poetas líricos, Catulo identifica-se perfeitamente 
com a tríade amor, mulher e poesia. Porém, além do amor, outros temas sobressaem nos poemas 
de Catulo: amizade, inimizades, rivalidade poética com os seus contemporâneos. 
Catulo demonstra grande domínio pela língua: sabe ser culto, quando deve; grosseiro, quando 
ataca seus inimigos; e terno e comovedor, quando expressa seu amor por Lésbia. Para exprimir 
essa ternura e afetividade, ele se vale, muitas vezes, de palavras no diminutivo (por exemplo, 
“flosculus”=florzinha).
Horácio
Quinto Horacio Flaco nasceu em Venusa, sul da Itália, em 65 a.C. Era filho de um escravo liberto 
que pode lhe proporcionar uma educação completa, em Roma e Atenas. Igualmente a outros 
poetas da época, Horacio pertenceu ao grupo de protegidos de Mecenas. 
32
AULA 3 • CATULO, HORÁCIO, VIRGÍLIO E OVÍDIO: A LÍRICA LATINA
Figura 12. Quinto Horácio Flaco.
Fonte: (<http://www.dec.ufcg.edu.br/biografias/quintush.jpg>)
A obra completa de Horácio inclui sátiras, epístolas e, entre o gênero lírico, epodos e odes. Os 
epodos formavam uma coleção de 17 poemas com temáticas variadas. Dentre eles, o mais 
conhecido é “Beatus ille”, que possui tema bucólico, em que poeta falava da vida no campo 
confrontando-a com a vida movimentada da cidade. 
Horácio não imitou os poetas alexandrinos, senão a temática e as estrofes dos líricos como Safo, 
especialmente em seus quatro livros de odes – um total de 104 odes sobre variados assuntos 
(sentimentos pessoais, cenas do cotidiano, patriotismo...). 
É precisamente das odes de Horácio, de onde partem as questões do “Carpe Diem” (aproveitar a 
vida) e “Aurea Mediocritas” (vida medíocre materialmente, mas rica em realizações espirituais), 
aquelas que os poetas do Renascimento usaram.
Que seja o que há de ser amanhã; deixe de procurar em vão, 
e qualquer dos dias que a sorte (te) conceder, junta ao lucro. 
Não desprezes, ó rapaz, os doces amores nem as danças, 
enquanto a velhice desagradável está longe de ti, 
que estás na mocidade. 
Assim, não só os comícios como 
as praças e os doces sussurros, à noite, 
são retomados na hora combinada; 
como também o agradável riso 
de um íntimo ângulo, 
33
CATULO, HORÁCIO, VIRGÍLIO E OVÍDIO: A LÍRICA LATINA • AULA 3
revelador da misteriosa amada, 
e a garantia arrancada dos braços ou do dedo mal obstinado.
(Horácio. Ode I,9. Extraído de “A lírica de Horácio: uma lição clássica de contornos atuais”, de 
José Mario Botelho. Disponível em: <http://www.filologia.org.br/cluerj-sg/anais/ii/completos/
minicursos/josemariobotelho.pdf> Acesso em 17 out. 2014.)
Nesse trecho, da “Ode I, 9”, Horácio aconselha o jovem a aproveitar a vida (“Carpe Diem”), os 
amores, as danças, sem grandes preocupações, e deixar o futuro nas mãos do destino. Ou seja, 
a vida é breve e deve ser aproveitada. Na Ode “I, 11”, continua o aconselhamento.
(Que) Tu não procures saber (é sacrilégio saber) 
que fim, a mim e a ti, ó Leucônia, os deuses terão reservado; 
nem questiones os cáculos babilônicos. 
Quão melhor (é) suportar o que vier! Ou Júpiter
(te) destinou mais invernos ou (é este) o último, o qual agora
quebra o mar tirreno contra as rochas opostas. 
Que tu sejas prudente, purifiques teus vinhos e, no pouco tempo, 
cortes a longa esperança. Enquanto falamos, a idade invejável terá fugido: 
aproveite o dia; (sê) o quanto menos possível crédula no futuro!) 
(Horácio. Ode I, 11. Extraído de “A lírica de Horácio: uma lição clássica de contornos atuais”, de 
José Mario Botelho. Disponível em: <http://www.filologia.org.br/cluerj-sg/anais/ii/completos/
minicursos/josemariobotelho.pdf> Acesso em 17 out. 2014.)
Horácio, aqui, aconselha Leucônia (que representa a juventude, imprudente e pouco observadora) a 
não desafiar as coisas divinas. Ele ressalta que é importante se preparar para o futuro, desconhecido, 
mas que não se deve deixar de gozar as coisas boas da juventude.
As melhores odes de Horácio, na opinião da maioria dos críticos, são do tipo filosófica, na qual 
ele desenvolve suas ideias sobre a passagem do tempo, o desfrute das pequenas coisas. Horácio 
descreve a natureza, as ideias e os sentimentos, às vezes personificados por divindades alegóricas.
As características que definem o seu estilo são: equilíbrio, contenção e sua constante preocupação 
com o polimento do verso. Cada palavra e cada verso são integrados em uma estrutura perfeita. 
não é em vão que se diz que com Horácio a versificação Latina atingiu o auge da perfeição.
Virgílio
Publio Virgílio Maro viveu no século I a.C. Não era romano, mas italiano. Nasceu em uma família 
rica que lhe permitiu estudar em Cremona, Milão e Roma. Porém, suas propriedades, como de 
tantas outras pessoas, foram confiscadas e entregues aos soldados de Augusto. O infortúnio 
de Virgílio durou pouco, pois conseguiu entrar no círculo de poetas protegidos por Micenas, 
tornando-se poeta oficial da Corte. 
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AULA 3 • CATULO, HORÁCIO, VIRGÍLIO E OVÍDIO: A LÍRICA LATINA
Figura 13. Publio Virgílio Maro.
Fonte: (<http://www.ebooksbrasil.org/eLibris/eneida.html>)
Virgílio foi um poeta prolífico (autor de muitas obras). Em sua juventude, associou-se ao grupo de 
poetas conhecidos como “neotéricos” e publicou uma série de sete poemas de métricas variadas 
e de estilo alexandrino no livro intitulado “Anexo Vergiliana”. 
Entre 42 e 39 a.C. escreveu em hexâmetros a obra “Bucólicas”, dez composições de tema pastoril 
em forma de diálogo. O poeta utilizava os pastores para falar sobre os problemas do seu tempo. 
Essa é precisamente a obra que fez Virgílio ser reconhecido como autor lírico. 
De 36 a 29 a.C. trabalhou no poema didático “Geórgicas” escrito em quatro livros de hexâmetros. 
E, finalmente, o poeta dedicou seus últimos 11 anos de vida para escrever o que se tornaria sua 
obra mais famosa universalmente “Eneida”. Já falamos dela, no início desta aula, está lembrado?
Embora tivessem grande admiração pelos gregos e suas narrativas, os romanos queriam um 
poema que narrasse a origem e o crescimento do Império romano. O Imperador Augusto, então, 
encomenda a Virgílio um poema semelhante ao de Homero, a fim de glorificar a história romana 
e registrar para sempre o nome de seu herói. Virgílio enfrenta o desafio e escreve “Eneida”.
Os doze cantos de “Eneida”, escrito em versos, narram a lenda do herói Eneias, sobrevivente 
da Guerra de Troia e ancestral dos fundadores da Roma Antiga. “Eneida” começa com o poeta 
Virgílio cantando as glórias do herói Eneias (proposição) e, em seguida, fazendo invocação às 
Musas, pedindo para inspirá-lo.
Armas canto, e o varão que, lá de Troia
Prófugo, à Itália e de Lavino às praias
Trouxe-o primeiro o fado. Em mar e em terra
Muito o agitou violenta mão suprema,
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CATULO, HORÁCIO, VIRGÍLIO E OVÍDIO: A LÍRICA LATINA • AULA 3
10 E o lembrado rancor da seva Juno;
Muito em guerras sofreu, na Ausônia quando
Funda a cidade e lhe introduz os deuses:
Donde a nação latina e albanos padres,
E os muros vêm da sublimada Roma.
Musa, as causas me aponta, o ofenso nume,
Ou por que mágoa a soberana deia
Compeliu na piedade o herói famoso
A lances tais passar, volver tais casos.
Pois tantas iras em celestes peitos!
(VIRGÍLIO. Eneida. Canto I. Disponível em: <http://www.ebooksbrasil.org/eLibris/eneida.html> 
Acesso em: 17 out. 2014.) 
Eneias, um dos participantes da Guerra de Troia, abandonou a cidade depois da vitória dos 
gregos e foi em direção à Península Itálica e às praias do Lácio, onde hoje está Roma. Entretanto, 
partindo da Sicília, os navios de Eneias são atingidos por violenta tempestade provocada por 
Éolo (rei dos ventos) a pedido de Juno (esposa de Júpiter e mãe de Marte), dona das terras da 
Itália, além de protetora da cidade de Cartago, ao norte da África. 
A justificativa do pedido de Juno diz respeito a uma profecia de que dos troianos nasceria uma 
raça que destruiria Cartago e dominaria o mundo. Juno, então, pede que Éolo afunde, com uma 
forte tempestade, os navios que viajam Eneias e os seus soldados. Vênus (deusa do amor e da 
beleza) intercede pelos troianos que chegam salvos às praias do norte da África, onde foram 
recebidos por Dido, rainha de Cartago. 
Ao chegar a Cartago, encontra Dido que lhe oferece um banquete. Ela se apaixona por Eneias. 
Que hóspede novo aporta às nossas plagas?
Quão gentil parecer! que ações! que esforço!
Creio, nem creio em vão, provém dos deuses.
Temor vileza argúi. Dos fados jogo,
Ai! que exaustas batalhas decantava!
Se em grilhões nupciais não mais prender-me
Fixo não fosse em mim, dês que traiu-me
Com morte o amor falaz; ao toro e fachas
Tédio se não tivesse, eu talvez, Ana,
A esta só culpa sucumbir pudera.
(VIRGÍLIO. Eneida. Canto IV. Disponível em: <http://www.ebooksbrasil.org/eLibris/eneida.html> 
Acesso em: 17 out. 2014.) 
http://www.ebooksbrasil.org/eLibris/eneida.html
http://www.ebooksbrasil.org/eLibris/eneida.html
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AULA 3 • CATULO, HORÁCIO, VIRGÍLIO E OVÍDIO: A LÍRICA LATINA
Por solicitação de Dido, Eneias relata a história da Guerra de Troia e o seu fim, e suas andanças 
durante os sete anos que viveu vagando por terras e mares. Eneias narra, expressando o amor que 
sente pelo seu pai, Anquises, pela esposa e pelo seu filho. Eneias conta que ele e seus soldados 
foram atacados por harpias e ciclopes, e que o seu pai foi morto em Drépamo. 
Júpiter percebendo que Dido havia se apaixonado por Eneias, envia o emissário Mercúrio para 
ordenar que Eneias abandone Cartago. Eneias cumpre a ordem. Ao saber disso, Dido joga terríveis 
maldições contra Eneias e seu povo. Roma travaria lutas sangrentas com Cartago. 
Chegando novamente à Sicília, Eneias realiza jogos fúnebres em homenagem à morte do seu 
pai Anquises. Eneias faz uma escala em Cumas e consulta uma sacerdotisa de Apolo, para tomar 
ciência do que o espera, no futuro. Nessa consulta, ele obtém permissão para fazer uma visita ao 
reino dos mortos, a fim de encontrar o seu pai. Ele encontra Anquises e este lhe dá informações 
de que enfrentará muitas guerras e vitórias até chegar à Itália. 
Detençoso a república restauras.
Hão de outros, sim, mais molemente os bronzes
Respirantes fundir, sacar do mármore
Vultos vivos; orar melhor nas causas;
Descrever com seu rádio o céu rotundo,
O orto e sidério curso: tu, Romano,
Cuida o mundo em reger; terás por artes
A paz e a lei ditar, e os povos todos
Poupar submissos,debelar soberbos.
(VIRGÍLIO. Eneida. Canto IV. Disponível em: <http://www.ebooksbrasil.org/eLibris/eneida.html> 
Acesso em: 17 out. 2014.) 
Depois de conversar com o pai, Eneias segue a viagem. Chega à região do Tibre, lugar onde 
governa o rei Latino. Este oferece a sua filha Lavínia em matrimônio. Amata, a rainha, fica furiosa 
com a aliança, assim como Turno, seu sobrinho, a quem a moça havia sido prometida. Latinos 
e troianos entram em guerra. 
Júpiter (na mitologia grega, Zeus) procura interceder, a fim de que a guerra chegue ao fim, mas 
a violência continua. A guerra dá uma trégua para que se enterrem os mortos. Cogita-se numa 
proposta de paz, porém, os exércitos se defrontam. Turno e Eneias se enfrentam. Eneias enfia a 
espada no peito de Turno, dando fim à guerra. 
Turno olha humilde, súplice ergue a destra:
“Bem mereço, é teu jus, perdão não peço;
Mas, se de um pai (de Anquises te relembres)
Comove-te a velhice, a Dauno eu rogo
http://www.ebooksbrasil.org/eLibris/eneida.html
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CATULO, HORÁCIO, VIRGÍLIO E OVÍDIO: A LÍRICA LATINA • AULA 3
Me entregues, se não vivo, ao menos morto.
Venceste, e viu-me enfim a Itália toda
As palmas levantar: Lavínia é tua;
Os ódios não requintes.” O acre Eneias
Para, os olhos volteia, a mão reprime:
Iam-no as preces quase enternecendo,
Quando o infeliz talim se mostra ao ombro
E a cravação do cingidouro fulge,
Despojos de Palante, a quem menino
Prostrara Turno com letal fereza,
E essa divisa infesta em si trazia.
Da cruel dor no monumento os olhos
Mal embebe, enfuriado o herói vozeia:
“Que! tu me escaparás dos meus com presa!...
Nesta ferida imola-te Palante,
Palante vinga-se em teu ímpio sangue.”
No peito aqui lhe esconde o iroso ferro:
Gelo os órgãos lhe solve, e num gemido
A alma indignada se afundou nas sombras.
(VIRGÍLIO. Eneida. Canto XXII. Disponível em: <http://www.ebooksbrasil.org/eLibris/eneida.
html> Acesso em: 17 out. 2014.) 
Como se pode notar, em “Eneida”, Virgílio busca inspiração do passado lendário. As profecias e a 
mitologia servem para o poeta buscar a origem de Roma. Sua linguagem é harmoniosa, elegante, 
com numerosas figuras retóricas. Ele se vale do hexâmetro homérico, verso largamente usado 
na épica clássica.
Ovídio
Públio Ovídio Naso nasceu em Sulmona (centro da Itália) em 43 a.C. e morreu nove anos depois 
de ter sido exilado por Augusto em Tomis (Romênia) em 17 d.C. Pertencia a uma rica família. 
Estudou em Roma e começou a participar na vida política para satisfazer o seu pai, mas logo se 
dedicou exclusivamente à poesia, sua grande paixão e o que o tornou famoso. 
http://www.ebooksbrasil.org/eLibris/eneida.html
http://www.ebooksbrasil.org/eLibris/eneida.html
38
AULA 3 • CATULO, HORÁCIO, VIRGÍLIO E OVÍDIO: A LÍRICA LATINA
Figura 14. Públio Ovídio Naso.
Fonte: (< http://dicionarioportugues.org/pt/ovidio>)
A produção de Ovídio é difícil de ser classificada em gêneros literários, já que a maioria de suas 
obras tem elementos comuns a vários gêneros. Alguns historiadores dividem as obras de Ovídio 
em três grupos: poemas de amor (“Amores”, “As Heróides”, “Ars Amatoria”, “Remédios de Amor”, 
“Arte de Amar” e “Receitas de Beleza”); poemas eruditos (“Metamorfoses” e “Os Fastos”); e poemas 
do exílio (“Os Tristes”, “Epístolas do Ponto” e “Íbis e Haliêutica”). 
Em meados do ano 8 d.C., o imperador Augusto expulsa Ovídio de Roma por causa de seu livro 
“Ars Amatoria”. O imperador considerava a obra imoral, o que causou a Ovídio um profundo 
desgosto até o final de sua vida. Escreve o poema “Os tristes” para justificar seus erros do passado, 
elogiando Augusto descaradamente e tentando ganhar o perdão dele, o que nunca se concretizou. 
O imperador não se pronunciou e Ovídio viveu no exílio por mais dez anos (o exílio ficava na 
costa do Mar negro, região distante de Roma), deprimido e magoado. Foi na época do exílio que 
Ovídio escreveu sua obra mais famosa “Metamorfoses”.
Figura 15.
Fonte: (< http://cdn.cml.pt/fotos/l164/_BBI1809_g.jpg>)
39
CATULO, HORÁCIO, VIRGÍLIO E OVÍDIO: A LÍRICA LATINA • AULA 3
“Metamorfoses” é um poema narrativo, composto por 15 livros (cantos) escritos em hexâmetros 
datílicos que abordam poeticamente a cosmologia e a criação do mundo. É uma obra da fase 
madura de Ovídio. Já com 45 anos, ele possui experiência acumulada quantos aos modelos 
literários e os gêneros cultivados até então, tanto que podemos dizer que, como criador, sofre 
uma metamorfose contínua (inova-se, modifica-se e se atualiza) que reflete na reformulação 
constante dos mesmos temas em diferentes gêneros, desde “Amores” até “Ars Amatoria.”
Ovídio começa “Metamorfoses” com uma invocação, como era de costume entre os poetas épicos.
Faz-me o estro dizer formas em novos corpos
mudadas. Deuses, já que as mudastes também,
inspirai-me a empresa e, da origem do mundo
ao meu tempo, guiai este canto perpétuo.
(OVÍDIO. Metamorfoses. Livro I. Disponível em: <http://www.usp.br/verve/coordenadores/
raimundocarvalho/rascunhos/metamorfosesovidio-raimundocarvalho.pdf> Acesso em: 23 ou. 2014.)
Após a invocação, começa a história descrevendo a primeira metamorfose importante: a criação 
do universo.
Antes do mar, da terra e céu que tudo cobre, 
a natureza tinha, em todo o orbe, um só rosto
a que chamaram Caos, massa rude e indigesta;
nada havia, a não ser o peso inerte e díspares
sementes mal dispostas de coisas sem nexo.
(OVÍDIO. Metamorfoses. Livro I. Disponível em: <http://www.usp.br/verve/coordenadores/
raimundocarvalho/rascunhos/metamorfosesovidio-raimundocarvalho.pdf> Acesso em: 23 ou. 2014.)
Muitas histórias, contadas nesta obra, mostram a relação entre os mortais e os deuses, as 
consequências da obediência ou desobediência, e sua posterior recompensa ou punição. É neste 
trabalho que os temas presentes nas poesias de Ovídio, amor e erotismo, são discutidos com 
maior profundidade em uma tentativa de explorar as várias emoções humanas e onde a narrativa 
e o talento descritivo do autor brilham mais fortes do que nunca. O livro tornou-se quase um 
manual de mitologia grega. O desejo de incluir o máximo possível de mitos e lendas demonstra 
que ele não só conhecia como utilizava os modelos da tradição literária anterior.
O fio condutor da obra é a cronologia, desde a formação do universo até a transformação de Júlio 
César em constelação. Heróis e personagens são transformados em animais, vegetais, constelações. 
A rainha do Érebo geme e do profano
ave fez,e aspergindo-lhe água do Flégeton,
no rosto bico, penas e olhos grandes forma. 
Assim mudado, é envolto em fulvas asas,
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AULA 3 • CATULO, HORÁCIO, VIRGÍLIO E OVÍDIO: A LÍRICA LATINA
cresce-lhe a fronte e as unhas, compridas, se encurvam
e apenas move as penas dos braços inertes;
fez feia ave, núncia de luto vindouro;
coruja ignava, agouro funesto aos mortais.
(OVÍDIO. Metamorfoses. Livro V. Disponível em: <http://www.usp.br/verve/coordenadores/
raimundocarvalho/rascunhos/metamorfosesovidio-raimundocarvalho.pdf> Acesso em: 23 ou. 
2014.)
Júlio César, no fim de “Metamorfoses”, transforma-se em uma estrela. Ele obtém essa condição 
não apenas devido à glória conquistada em vida, mas pela vontade olímpica. Sua divinização é 
fruto da conciliação dos esforços divino e humano. 
Ilustre nos trabalhos de Marte e sob a toga [vitorioso]
não deve tanto às guerras triunfalmente encerradas,
nem aos feitos civis, ou tanto à glória velozmente conquistada,
ter se tornado novo corpo celeste, astro flamejante,
quanto à sua progênie.
(OVÍDIO. Metamorfoses. Livro XV. Disponível em: <http://www.usp.br/verve/coordenadores/
raimundocarvalho/rascunhos/metamorfosesovidio-raimundocarvalho.pdf> Acesso em: 23 ou. 
2014.)
Ovídio recupera as histórias cosmológicas contadas em épocas anteriores, principalmente a 
partir de Hesíodo, para tratar de diferentes genealogias heroicas das mais antigas para as mais 
recentes, com base na localização geográfica das famílias e dos heróis. Entretanto, o passado e 
o presente, às vezes, se unem, rompendoa cronologia. 
Não há em “Metamorfoses” uma unidade temática, como em “Eneida”, por exemplo. Essa variedade 
se estende, também, aos registros poéticos: mistura passagens épicas com bucólicas, líricas e, até 
mesmo, dramáticas. Por isso é tão complicado enquadrar a sua obra em um gênero literário. Também 
não tem uma conotação política, como “Eneida”. Ovídio escreveu “Metamorfoses” para surpreender, 
distrair e divertir. Portanto, não há ideais patriotas nem finalidade ético-religiosa, base da épica romana. 
No epílogo de “Metamorfoses”, Ovídio afirma ter terminado a sua grande obra e que a escrita 
nunca iria morrer, porque recitariam seus versos.
Sintetizando
Vimos até agora:
 » A época de esplendor da poesia latina coincide com os problemas sociais e econômicos que marcaram a segunda metade 
do século II. a.C. 
 » Neste século, os poetas novos, ou “neotéricos”, são considerados renovadores da lírica latina. 
 » Dentre os poetas novos, destaca-se Catulo, um poeta culto e refinado, herdeiro da lírica grega. A maioria de seus poemas 
relata o amor dedicado à amante Lésbia. 
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CATULO, HORÁCIO, VIRGÍLIO E OVÍDIO: A LÍRICA LATINA • AULA 3
 » O imperador Augusto assume o poder absoluto. Ele começa uma política de renovação moral dos romanos e recuperação 
dos valores nacionais após guerras e disputas políticas internas.
 » O longo mandato do imperador Augusto coincide com a idade de ouro da literatura latina. Nela, três poetas latinos tiveram 
grande importância: Virgílio, Horácio e Ovídio.
42
Nas aulas anteriores, conhecemos a épica grega (Homero) e a lírica latina (Catulo, Horácio, Virgílio 
e Ovídio). Nesta quarta aula, falaremos sobre a tragédia grega. Os gregos foram os criadores da 
tragédia. Inicialmente, ela tinha um profundo sentido religioso, já que a obra trágica nasceu como 
representação do sacrifício de Dionísio (Baco) e formava parte do culto público. 
Para os gregos antigos, Dionísio era a divindade protetora da vida e símbolo do prazer, da dor 
e da ressurreição. Durante o tempo de colheita, em sua honra cantavam-se diferentes hinos. 
Nas praças, o público comemorava e dançava. Os atores e cantores eram considerados pelos 
sacerdotes personagens invioláveis e sagrados. 
É nesse contexto de “representações” que esta aula se insere. Faremos, aqui, um estudo sobre o 
teatro grego na sua origem, mais especificamente, da tragédia grega. Também leremos alguns 
trechos escolhidos das principais obras de Ésquilo, Sófocles e Eurípedes. 
Objetivos
Esperamos que, após o estudo do conteúdo desta aula, você seja capaz de:
 » Dissertar sobre o surgimento do teatro grego.
 » Descrever a estrutura das tragédias gregas.
 » Analisar a tragédia grega a partir de fragmentos de textos de Ésquilo, Sófocles e Eurípedes.
4
AULA
ÉSQUILO, SÓFOCLES E EURÍPEDES: A 
TRAGÉDIA GREGA
43
ÉSQUILO, SÓFOCLES E EURÍPEDES: A TRAGÉDIA GREGA • AULA 4
O teatro grego
É consenso entre os estudiosos que o teatro grego surgiu em rituais de louvor a Dionísio, deus 
da uva e do vinho. Sacerdotes e seguidores reuniam-se em um templo ou saiam em procissão 
cantando hinos de louvor ao deus. 
Na metade do século VI a.C, um sacerdote de Dionísio, 
chamado Téspis, deu início a uma revolução. Durante o 
culto, em vez de cantar: “Ele, Dionísio é formidável”, cantou: 
“Eu, Dionísio, sou formidável.” Ou seja, Téspis rompeu com 
as tradições das declamações em coro (coral), e passou 
apresentar-se como protagonista (proto = principal + 
agonista = ator). Ele inventou, portanto, o ofício do ator e a 
arte de compor peças teatrais: a dramaturgia. 
Inicialmente, as peças eram representadas em praça pública, 
na Ágora. Depois, por causa do fluxo de espectadores e para 
melhor visualizar a encenação, no século V a.C. (em Atenas), 
foram construídos grandes edifícios ao ar livre: os teatros. 
A palavra teatro (Theátron) tem origem grega e significa 
“o lugar de onde se vê”. Graças a sua arquitetura, todos 
podiam ver e ouvir os autores representando. Na época, os 
teatros tinham capacidade para mais de dez mil pessoas. 
Um espaço tão grande em uma época tão remota se justifica 
diante da função do teatro na Grécia: função social, coletiva, 
proporcionando às pessoas a sensação de pertencimento ao grupo. Hoje, além dos teatros, vários 
outros lugares desempenham essa função, como as praias, os parques, os shoppings. 
A seguir apresentamos a planta de um teatro grego clássico, com os seus respectivos ambientes:
Figura 16. Teatro Grego Clássico.
Fonte: (<http://portaldoprofessor.mec.gov.br/storage/discovirtual/aulas/3850/imagens/teatrogregomapa.jpg>)
Saiba mais
Dionísio, deus da uva, do vinho, da 
embriaguez e da fertilidade, a princípio, 
era homenageado pelos primitivos 
habitantes da Grécia, por meio de 
procissões que procuravam relembrar 
sua vida. O cortejo era realizado na 
época da colheita da uva. Os habitantes 
acreditavam que dessa forma garantiriam, 
sempre, uma abundante colheita. Aos 
poucos, e ao longo de centenas de anos, 
as procissões vão se organizando melhor. 
O que inicialmente era um grupo de 
pessoas desorganizadas, cantando e 
dançando a luz de tochas, sacrificando o 
bode (animal que comia o broto das uvas); 
com o passar do tempo se transformou 
em grandiosas representações, que reunia 
toda a comunidade, em diferentes khorós 
(coral ou coro) cantados por participantes 
vestidos de bodes, os sátiros, e pelas ninfas.
(Fonte: Recanto das letras. Disponível em: 
<http://www.recantodasletras.com.br/
teorialiteraria/190350> Acesso em: 08 out. 2014.)
http://www.recantodasletras.com.br/teorialiteraria/190350
http://www.recantodasletras.com.br/teorialiteraria/190350
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AULA 4 • ÉSQUILO, SÓFOCLES E EURÍPEDES: A TRAGÉDIA GREGA
Como podemos observar, o teatro grego clássico tinha uma estrutura circular e era composto 
pelas seguintes partes:
 » Orquestra: parte circular onde aconteciam as evoluções do coro (coral).
 » Cena: parte que ficava localizada atrás da orquestra. Inicialmente, tinha a função de 
camarim, onde os atores se vestiam e que também servia como cenário. Hoje, a cena é 
o que conhecemos por palco. 
 » Proscênio: local à frente das cenas, onde eram feitas as encenações.
 » Párodos: lugar onde eram realizadas as entradas ao teatro e onde entrava e saía o coro 
(coral).
 » Setores (Diazoma): o que estava mais próximo do espetáculo (Diazoma B), chamado de 
Proedria, era reservado às autoridades e aos convidados mais importantes. 
Dada a regularidade das representações e da grande participação do público, o teatro assumiu 
o papel de difusor de ideias, de problemas e da vida política e cultural grega. As peças tratavam 
de um passado mítico, mas o mito era apenas uma metáfora para abordar os problemas 
da sociedade.
A tragédia grega
A tragédia grega é um gênero literário nascido na Grécia Antiga e intimamente ligado com o 
épico. Nela, o mito se funde com a ação, ou seja, com a representação direta. O público vê com 
seus próprios olhos os personagens que atuam de forma autônoma em cena. As ações estão 
focadas na própria condição humana, no caso, nas pessoas comuns. 
Aristóteles escreveu na “Poética” (no capítulo VI):
É pois a tragédia imitação de uma ação de caráter elevado, completa 
e de certa extensão, em linguagem ornamentada e com as várias 
espécies de ornamentos distribuídos pelas diversas partes [do drama], 
[imitação que se efetua] não por narrativa, mas mediante atores, e 
que, suscitando o “terror e a piedade, tem por efeito a purificação 
[catarse] dessas emoções”. (ARISTÓTELES, s.d, p. 296). 
Para o autor, a imitação da ação se compõe de peripécias, reconhecimento e patético. A peripécia 
é “a mudança da ação no sentido contrário ao que foi indicado [...] em conformidade com o 
verossímil e o necessário.” (ARISTÓTELES, s.d, p. 306). Já o reconhecimento, segundo Aristóteles 
(s.d, p. 306), “faz passar da ignorância ao conhecimento, mudando a amizade em ódio [...]”. E o 
patético “provoca a morte ou o sofrimento, como as das mortes em cena, das

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