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DOI: 10.55905/cuadv16n1-034 Recebimento dos originais: 08/12/2023 Aceitação para publicação: 10/01/2024 620 CUADERNOS DE EDUCACIÓN Y DESARROLLO, v.16, n.1, p. 620-652, 2024 Felicidade traz dinheiro? Uma revisão sistemática da literatura sobre a economia da felicidade Does happiness bring money? A systematic review of the happiness economy literature Ahmed Sameer El Khatib Doutor em Educação, em Administração de Empresas Instituição: Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP) Endereço: Rua Oleska Winogradow, 100, Jardim das Flores, Osasco - SP, CEP: 06120-042 E-mail: ahmed.sameer@unifesp.br RESUMO A mais antiga referência da filosofia sobre o termo felicidade é derivada do filósofo grego Tales de Mileto, que designa felicidade como ter um corpo saudável, uma alma com boa formação e ser um indivíduo de sorte. Já para Sócrates, a felicidade não possui uma conexão tão direta com o corpo, a maior importância é dada a estar bem com a alma, propiciado por uma conduta adequada e virtuosa. Para Kant, a felicidade está ligada com os desejos e prazeres, não constitui parte de uma investigação filosófica. Nas últimas décadas que os estudos que envolvem felicidade na Economia se estabelecem de fato como temática alternativa. A explicação para isto encontra-se no progresso material alcançado pelo mundo e pelos questionamentos de alguns economistas da validade de indicadores estritamente econômicos, como o Produto Interno Bruto (PIB), para representar a satisfação com a vida dos cidadãos de um país. Dessa forma, o objetivo principal deste é contribuir para o corpo de conhecimento existente, consolidando as descobertas da literatura sobre Economia da Felicidade; agrupando-as em temas e subtemas principais; descrevendo os mecanismos com base nos artigos empíricos precedentes, destacando as variáveis independentes, dependentes, de controle e moderadoras, para estudar as relações causais entre as variáveis em estudo; propondo uma agenda para pesquisas futuras; e informar os legisladores sobre as decisões que influenciam o nível de felicidade humana por meio de regras e regulamentos legislativos. Nossos resultados sugerem priorizar a conceituação de felicidade enquanto computa o nível de felicidade nos níveis individual ou coletivo. Além disso, o estudo recomenda que os governos estabeleçam as condições que permitam aos indivíduos relatar a felicidade independentemente da pressão política para responder estrategicamente por números impressionantes de nível de felicidade no nível macro. Palavras-chave: felicidade, bem-estar subjetivo, economia da felicidade. ABSTRACT Philosophy's earliest reference to happiness is derived from the Greek philosopher Thales of Miletus, who designates happiness as having a healthy mailto:ahmed.sameer@unifesp.br 621 CUADERNOS DE EDUCACIÓN Y DESARROLLO, Portugal, v.16, n.1, p. 620-652, 2024 body, a well-formed soul, and being a lucky individual. For Socrates, happiness does not have such a direct connection with the body, the greatest importance is given to being well with the soul, fostered by a proper and virtuous conduct. For Kant, happiness is linked to desires and pleasures, not part of a philosophical investigation. In recent decades, studies involving happiness in economics have established themselves as an alternative theme. The explanation for this lies in the material progress achieved by the world and the questioning of some economists of the validity of strictly economic indicators, such as the Gross Domestic Product (GDP), to represent satisfaction with the life of the citizens of a country. Thus, the main objective of this is to contribute to the existing body of knowledge, consolidating the findings of the literature on the Economy of Happiness; grouping them into main themes and subthemes; describing the mechanisms based on previous empirical articles, highlighting the independent, dependent, control and moderating variables, to study the causal relationships between the variables under study; proposing an agenda for future research; and informing legislators about the decisions that influence the level of human happiness through legislative rules and regulations. Our results suggest prioritizing the concept of happiness while computing the level of happiness at the individual or collective levels. In addition, the study recommends that governments establish the conditions that allow individuals to report happiness regardless of political pressure to strategically account for impressive numbers of happiness level at the macro level. Keywords: happiness, subjective well-being, economy of happiness. 1 INTRODUÇÃO Alcançar a felicidade é o objetivo final do ser humano (Nagraj, 2008). Todas as atividades humanas, sejam elas econômicas, políticas ou sociais, são direcionadas para atingir esse objetivo (Gaur, Sangal & Bagaria, 2009). Aristóteles (350 a.C.) afirmou que o não cumprimento dessa meta renova a motivação de pensar além do material para que os humanos sejam felizes (Irwin, 1985). Como parte do movimento geral, em conjunto com a fundação da economia comportamental, uma nova linha de pesquisa, outra tem despertado interesse de pesquisadores: A Economia da Felicidade. A economia da felicidade se baseia no conceito mais amplo de utilidade e bem-estar, incluindo a função de utilidade interdependente, utilidade procedimental e a interação entre influências racionais e não racionais na determinação do comportamento 622 CUADERNOS DE EDUCACIÓN Y DESARROLLO, Portugal, v.16, n.1, p. 620-652, 2024 econômico (Graham, 2005). O estudo da felicidade e do bem-estar subjetivo está crescendo para incorporar publicações em várias disciplinas, da psicologia à economia e sociologia (Diener, 1984). A pesquisa sobre felicidade também cresceu em campos como filosofia, psiquiatria, neurociência cognitiva e gerontologia, significando um relato acadêmico mais amplo sobre como os sentimentos e expectativas das pessoas mudam com diferentes experiências de vida (Hallberg & Kullemberg, 2020). A economia da felicidade tem atraído cada vez mais a atenção de pesquisadores e formuladores de políticas no campo da economia e dos negócios. Este conceito intrigou os estudiosos desde que a questão se a felicidade é relativa ou absoluta foi destacada (Hsee, Yang, Li & Shen, 2009). Hsee et al. (2009) afirmaram que tal argumento tem implicações sociais, onde a felicidade é relativa ao dinheiro e à aquisição de um item, mas pode ser relativa ou absoluta com o consumo do item. No início dos anos 1970, Richard Easterlin foi o primeiro economista moderno a revisitar o conceito de felicidade. Easterlin relatou um aumento na felicidade nos Estados Unidos de 1946 a 1956-1967, com um declínio na década de 1970 e, em seguida, com mudanças mínimas nos próximos 24 anos (Easterlin, 1974). Décadas depois, Easterlin (2013) implementou uma pesquisa em diferentes países e descobriu que, em curtos períodos, o crescimento econômico e a felicidade estavam positivamente correlacionados, enquanto no longo prazo as tendências de felicidade e renda não estavam relacionadas. Outra contradição marcante no artigo foi que a satisfação com a vida na China não aumentou, independentemente do aumento do PIB real per capita de um nível inferior. Todo esse debate nos leva a revisar criticamente a literatura existente associada ao campo da economia da felicidade a partir das lentes de um indivíduo (compreender a si mesmo), família (relação entre pessoas), sociedade (relação entre pessoas e sociedade) e meio ambiente (relação das pessoas com a natureza). Tem havido pouca pesquisa incorporando todas essas questões e reconhecendo a felicidade de um ponto de vista holístico. Portanto, isso nos 623 CUADERNOS DE EDUCACIÓN Y DESARROLLO, Portugal, v.16, n.1, p. 620-652, 2024 incita a identificaras lacunas e definir a agenda para futuros pesquisadores neste campo que está por vir. O arcabouço deste artigo está dividido em sete grandes temas: 1) Conceitualização de Felicidade; 2) Compreensão do Sujeito; 3) Relações Humanas; 4) Facilidades Físicas ou Materiais; 5) Meio Ambiente; 6) Política e Governo; e 7) Mensuração da Felicidade. Este artigo contribui para o corpo de conhecimento existente, consolidando as descobertas da literatura ao agrupar em temas e subtemas principais, descrever os mecanismos com base nos artigos empíricos, destacar as variáveis independentes, dependentes, de controle e moderadoras consideradas para avaliar as relações causais entre as variáveis em estudo, propor uma agenda para pesquisas futuras na área; e informar os legisladores sobre as decisões que influenciam o nível de felicidade humana por meio de regras e regulamentos legislativos. O restante do artigo está organizado da seguinte forma. A seção 2 discute a plataforma teórica, discutindo especificamente o conceito de felicidade e apresenta a metodologia de revisão; A seção 3 apresenta a plataforma metodológica do estudo. A seção 4 apresenta os achados, segregados em achados descritivos e discussão temática. Já a seção 5 destaca as lacunas na literatura existente. A seção 6 apresenta as orientações para pesquisas futuras e a última seção apresenta as conclusões. 2 PLATAFORMA TEÓRICA 2.1 ECONOMIA DA FELICIDADE: CONCEITOS Filósofos e economistas, de Aristóteles a Bentham, Mill e Smith, integraram a busca pela felicidade em seus trabalhos. Com esforços mais rigorosos dos economistas, surgiram explicações mais frugais do bem-estar. O advento da economia comportamental levou à fundação de novas linhas de pesquisa. A economia da felicidade depende de um ponto de vista mais abrangente sobre a utilidade e o bem-estar, incluindo o comportamento econômico (Graham, 2005). Do ponto de vista da filosofia utilitarista, a pesquisa da felicidade se refere ao bem-estar como um estado discreto e subjetivo dos 624 CUADERNOS DE EDUCACIÓN Y DESARROLLO, Portugal, v.16, n.1, p. 620-652, 2024 indivíduos. Nesse sentido, a maximização do bem-estar pode estar baseada no julgamento ético de acordo com as pesquisas sobre felicidade (Boffo, Brown & Spencer, 2017). Por exemplo, Layard (2005) identifica o bem-estar positivo com “um sentimento bom” e o bem-estar negativo com “um sentimento ruim”. Por outro lado, a abordagem “eudemônica” do bem-estar pode ser extraída da obra de Aristóteles e de sua ideia sobre o tipo de vida que se pode levar, contrapondo-se à abordagem subjetiva (Austin, 2016). Aristóteles sugere que riqueza e renda são meios de propósito geral para ter mais liberdade para levar o tipo de vida que se deseja e, pela mesma razão, o crescimento econômico não é o fim e o desenvolvimento deve se preocupar em melhorar a vida e a liberdade de um indivíduo. A liberdade crescente não apenas torna a vida mais produtiva e irrestrita, mas também nos permite ser pessoas sociais mais plenas, interagindo e influenciando o mundo em que vivemos (Sen, 1999). Assim, de acordo com Sen (1999), bem-estar se refere ao que as pessoas são capazes de ser e fazer, entendendo as múltiplas necessidades objetivas, que incluem não só as necessidades físicas básicas, mas também as necessidades fundamentais para avançar no cumprimento de objetivos pessoais com liberdade e criatividade no trabalho, educação e construção de relações familiares e sociais saudáveis, e outras atividades (Boffo et al., 2017). Bem-estar subjetivo é o termo científico para felicidade, conforme elaborado de forma concisa por Diener (2015). Refere-se a um estado relativamente estável, como satisfação com a vida e experiências emocionais (Eid & Diener, 2004). Assim, o bem-estar subjetivo compreende três componentes principais, a saber: a existência de emoções positivas ou altos níveis de efeitos positivos, ausência de emoções negativas ou baixos níveis de efeitos negativos e satisfação com a vida (Diener, 1984). A presença de efeitos positivos e a ausência de efeitos negativos atualizam o equilíbrio afetivo e são afetados por eventos diários (por exemplo, comer uma comida saborosa, enfrentar o trânsito), enquanto a satisfação com a vida se refere a uma avaliação cognitiva de longo prazo da própria vida (Yang & Srinivasan, 2016). 625 CUADERNOS DE EDUCACIÓN Y DESARROLLO, Portugal, v.16, n.1, p. 620-652, 2024 Bem-estar econômico é indicado pela autossuficiência econômica de uma pessoa, como resultado do resultado econômico de um indivíduo (por exemplo, renda), situação financeira (por exemplo, ativos e dívidas) e escolha futura em relação à situação econômica (Judge, Ilies & Dimotakis, 2010). Sem (1999) sugeriu o uso de renda e commodities como a base material de nosso bem-estar. A economia no Arthasastra de Kautilya (a versão editada, reorganizada, traduzida e introduzida produzida por L. N. Rangarajan séculos depois) é definida como "algo como instruções sobre a prosperidade material" (Kautilya, 1992). O bem-estar econômico se refere à segurança financeira presente e futura. A segurança financeira presente implica na capacidade de atender às necessidades básicas e controlar as finanças de rotina, junto com a capacidade de fazer escolhas econômicas que proporcionem uma sensação de satisfação e segurança e uma situação financeira e de emprego sólida. A segurança financeira futura refere-se à capacidade de superar choques financeiros e manter renda suficiente ao longo da vida (Bascug & Birkenmaier, 2016). 3 PLATAFORMA METODOLÓGICA Este artigo tem como objetivo principal discutir os temas explorados pela literatura existente em todos os países. A abordagem metodológica deste artigo envolve a Análise dos artigos precedentes publicados até o ano de 2020; a categorização dos temas de acordo com diferentes parâmetros; a apresentação de um resumo de cada uma das contribuições; e o fornecimento de um escopo para pesquisas futuras. A metodologia da revisão foi inspirada nos trabalhos de Tranfield, Denyer e Smart (2003), Nofal, Nicolaou, Symeonidou e Shane (2018), Talan e Sharma (2019) e Bansal, Garg e Sharma (2020), envolvendo uma revisão protocolo para permitir transparência e replicabilidade, fornecendo uma descrição explícita de cada etapa realizada durante todo o processo de revisão, especificando as questões de pesquisa abordadas, a estratégia de busca e os critérios de exclusão e inclusão dos estudos na revisão (Davies & Crombie, 1998). A 626 CUADERNOS DE EDUCACIÓN Y DESARROLLO, Portugal, v.16, n.1, p. 620-652, 2024 metodologia envolve três estágios - planejamento, condução e relatório da revisão. 3.1 PLANEJAMENTO E CONDUÇÃO DA REVISÃO O banco de dados Web of Science (WoS) foi acessado para pesquisar literatura relevante. Como um banco de dados multidisciplinar, o WoS facilita o acesso à literatura de finanças, economia, tecnologia e outros campos e permite a obtenção das pesquisas mais recentes e significativas. Além disso, em comparação com o Scopus, o WoS tem uma cobertura confiável que remonta a 1990 (Aghaei, Salehi, Yunus, Farhadi, Fooladi, Farhadi & Ale Ebrahim, 2013). A consulta de pesquisa resultou em uma lista inicial de 411 artigos, dos quais 218 foram finalmente selecionados, conforme ilustrado na Figura 1 a seguir: Quadro 1 - Diagrama de fluxo (com base nas diretrizes de itens de relatório preferenciais para revisões sistemáticas e meta análises (PRISMA)). Fonte: Do Autor (2020) Somente documentos em inglês na forma de um artigo, revisão ou editorial foram considerados para nossa pesquisa. Artigos baseados em 627 CUADERNOS DE EDUCACIÓN Y DESARROLLO, Portugal, v.16, n.1, p. 620-652, 2024 tecnologia pura foram excluídos da pesquisa. Trabalhos baseados em várias outrasáreas de pesquisa, a saber, reabilitação, biomédica, ciências sociais, comunicação, odontologia, cirurgia oral, medicina, abuso de substâncias, urologia, nefrologia, abuso de substâncias, pediatria, nutrição, dietética e hereditariedade genética foram excluídos da nossa pesquisa. Excluímos os artigos em que a felicidade é apenas um meio e não o objetivo final de realização, por exemplo, artigos que sugerem uma orientação para a felicidade. A busca foi conduzida no ano de 2020 usando os critérios booleanos em que o termo “felicidade” é usado como sinônimo de Bem-estar Subjetivo (BES), satisfação com a vida, bem-estar e bem-estar, como evidenciado em trabalhos anteriores (Vitterso & Nilsen, 2002; Backman, 2016). 3.2 SELEÇÃO DE ARTIGOS Inicialmente, cada artigo foi avaliado na primeira triagem de acordo com a área de estudo, resultando na exclusão de 85 artigos. Esse processo resultou em 326 artigos, que foram avaliados com base em resumo e palavras-chave. Em seguida, 65 artigos foram excluídos por estarem em duplicidade quanto ao método, tema e amostra estudada. Desses 326 artigos, excluímos os que realizavam pesquisas baseadas na felicidade com alunos da pré-escola e incluímos aqueles em que o estudo foi realizado com alunos do ensino médio e superior. Isso levou à exclusão de 43 artigos e à pré-seleção de 218 artigos. Com isso, 218 artigos foram selecionados. Com uma análise aprofundada, categorizamos as questões levantadas pelos autores e suas contribuições feitas neste campo. 3.3 ETAPAS DA REVISÃO Para a revisão da literatura, buscou-se uma abordagem de revisão sistemática, que envolveu uma análise aprofundada da literatura existente indexada na base de dados Web of Science (WoS), com o intuito de delinear os tópicos críticos de pesquisa nesta área, seguida por a identificação de lacunas na literatura. 628 CUADERNOS DE EDUCACIÓN Y DESARROLLO, Portugal, v.16, n.1, p. 620-652, 2024 4 RESULTADOS 4.1 DESCOBERTAS DESCRITIVAS Os artigos em estudo foram analisados em termos de publicações anuais definindo o número de publicações por ano e citações anuais destacando o número de artigos citados em cada ano. Dos 218 artigos considerados para a análise, o máximo de artigos foi publicado no ano de 2016 (37), seguido do ano de 2017 (23) e 2013 (22). A origem da pesquisa em economia da felicidade remonta a 1989, quando três artigos foram publicados. 4.2 DISCUSSÃO TEMÁTICA A partir da categorização, esta seção apresenta os temas e os subtemas de cada um dos artigos estudados (Tabelas 1 e 2), seguidos da tabela de mecanismo que discute os diversos artigos empíricos, destacando os mais independentes, mediadores e de controle variáveis. Tabela 1 - Temas e Subtemas considerados na Revisão Sistemática da Literatura Temas Subtemas Tema 01: Conceitualização de Felicidade 01.1: Conceitos 01.2: Hedonismo 01.3: Eudaimonismo Tema 02: Compreensão do Sujeito (Ser Humano) 02.1: Bem-estar Físico 02.2: Bem-estar Psicológico 02.3: Bem-estar Emocional e Mental 02.4: Bem-estar Espiritual 02.5: Religião 02.6: Traços de Personalidade 02.7: Fatores Socioeconômicos Tema 03: Relações Humanas 03.1: Casamento 03.2: Família 03.3: Rede Social 03.4: Sociedade 03.5: Cultura 03.6: Diferenças de Gênero 03.7: Educação Tema 04: Facilidades Físicas ou Materiais 04.1: Renda 04.2: Inflação 04.3: PIB 04.4: Desemprego 04.5: Eventos da Vida 629 CUADERNOS DE EDUCACIÓN Y DESARROLLO, Portugal, v.16, n.1, p. 620-652, 2024 04.6: Adaptação 04.7: Liberdade 04.8: Comparação Social Tema 05: Meio Ambiente 05.1: Segurança e Proteção 05.2: Meio Ambiente Tema 06: Política e Governo 06.1: Política Governamental 06.2: Contexto Político e Economia 06.3: Programa de Desenvolvimento 06.4: Desigualdade Geográfica 06.5: Migração Tema 07: Mensuração Da Felicidade 07.1: Escala 07.2: Survey 07.3: Modelo Fonte: Do Autor (2020). Os resultados podem ser úteis para os formuladores de políticas tomarem decisões práticas em termos de emprego, saúde, educação, engajamento no trabalho, crescimento social e econômico que afetam direta ou indiretamente os níveis de felicidade, por meio de reformas legislativas e mudanças institucionais. As referências são indicadas na Tabela 2 a seguir: Tabela 2 - Principais temas de pesquisa em economia da felicidade Temas Referências Principais Tema 01: Conceitualização de Felicidade Vermunt (1989); Ryan & Deci (2001); Sousa (2005); Martin (2008); Feldman (2008); Svensson (2011); Caunt, Franklin, Brodaty & Brodaty (2013); Straume & Vitterso (2012); Badhwar (2014); Lepp (2018). Tema 02: Compreensão do Sujeito (Ser Humano) Ryff (1989); Vermunt (1989); Hosen (1993); Bishop et al. (2006); Miquelon & Vallerand (2006); Di Tella & MacCulloch (2008); Selim (2008); Siahpush, Spittal & Singh (2008); Linley, Maltby, Wood, Osborne & Hurling (2009); Simsek (2009); Spiers & Walker (2009); Xiao, Tang & Shim (2009); Raibley (2012); Edouard & Duhaime (2013); Power (2013); Schutz et al. (2013); Ramanathan et al. (2014); Backman (2016); Mujcic & Oswald (2016); Pandya (2017). Tema 03: Relações Humanas Ruvolo (1998); Stacy J. Rogers & DeBoer (2001); Roysamb et al. (2003); Di Tella & MacCulloch (2008); Benjamin, Heffetz, Kimball & Szembrot (2014); Jones (2014); Schnitzlein & Wunder (2016); Heizomi, Allahverdipour, Jafarabadi, and Safaian (2015); Bartels (2015); Kelley & Evans (2017). 630 CUADERNOS DE EDUCACIÓN Y DESARROLLO, Portugal, v.16, n.1, p. 620-652, 2024 Tema 04: Facilidades Físicas ou Materiais Stacy J. Rogers & DeBoer (2001); Biswas- Diener and Diener (2006); Leigh & Wolfers (2006); Clark, Frijters & Shields (2008); Di Tella & MacCulloch (2008); Mahadea & Rawat (2008); Selim (2008); Hsee, Yang, Li & Shen (2009); Xiao at al. (2009); Boyce, Brown & Moore (2010); Delhey (2010); Easterlin, McVey, Switek, Sawangfa & Zweig (2010); Delhey & Kohler (2011); Oishi, Kesebir & Diener (2011); Blanchflower, Bell, Montagnoli & Moro (2014); Strizovic & Mratinkovic (2016); Graham, Zhou & Zhang (2017); Poormahmood, Moayedi & Alizadeh (2017); Joo & Lee (2017). Tema 05: Meio Ambiente Roysamb et al. (2003); Di Tella & MacCulloch (2008); Benjamin et al. (2014); Potapov, Shafranskaya & Bozhya-Volya (2016); Ambrey & Daniels (2019). Tema 06: Política e Governo Radcliff (2001); Gundelach & Kreiner (2004); Di Tella & MacCulloch (2008); Clapham (2010); Kroll (2015); Meier & Chakrabarti (2016); Strotmann & Volkert (2018); Alessandrini & Jivraj (2017); Oishi et al. (2020). Tema 07: Mensuração Da Felicidade Lewis & Joseph (1995); Hills & Argyle (2002); Joseph, Linley, Harwood, Lewis & McCollam (2004); Cox (2012); Weiss et al. (2013); Santos (2013); Benjamin et al. (2014); Roberts, Tsang & Manolis (2015); Choi & Jang (2016); Joshanloo (2017). Fonte: Do autor (2020). 4.1.1 Conceitualização de felicidade Os conceitos de eudaimonia e prazer hedônico de Aristóteles constituem duas distantes concepções filosóficas de felicidade (Irwin, 2005). O hedonismo define o bem-estar como obtenção de prazer ou evitação da dor, enquanto a eudaimonia se refere às atualizações do potencial humano, significando a crença de que o bem-estar constitui a realização ou realização da verdadeira natureza de alguém (Waterman,1993; Kahneman, Diener & Schwarz, 1999). A hedonomia é um ramo emergente da economia, onde a economia se concentra em maximizar a riqueza com recursos limitados, o que se refere a maximizar a felicidade com riqueza limitada. Além disso, é complementar à economia convencional na definição da ideia de felicidade. A análise econômica da felicidade é behaviorista e focada na escolha externa, e a hedonomia argumenta ainda que a felicidade pode ser melhorada aumentando a associação entre631 CUADERNOS DE EDUCACIÓN Y DESARROLLO, Portugal, v.16, n.1, p. 620-652, 2024 resultados externos, preferências e experiências. Ele examina o grau em que os resultados externos afetam a felicidade, e quando e por que as escolhas falham em aumentar o nível de felicidade (Hsee, Hastie & Chen, 2008). As pessoas geralmente valorizam a felicidade (Diener, 2000) e, com base em seu valor, a busca pela felicidade é reconhecida como um “direito inalienável” na Declaração de Independência dos Estados Unidos. Portanto, é razoável esperar que as pessoas que valorizam a felicidade relatem níveis mais elevados de felicidade. No entanto, Mauss et al. (2011) descobriram que valorizar a felicidade é autodestrutivo, o que implica que valorizar a felicidade aumenta a chance de ficar mais decepcionado. Contraditório a isso, Luhmann et al. (2016) empregou a Escala de Valorização da Felicidade e opinou que valorizar a felicidade pode não ter um impacto negativo no bem-estar de alguém. Raibley (2012) aspirou definir a conexão teórica entre felicidade e bem-estar e argumentou que a felicidade é altamente favorável quando valorizada ou quando é definida como a referência para realizar o potencial de alguém e, portanto, não é exclusivamente suficiente para atingir altos níveis de bem-estar. Joshanloo et al. (2016) examinaram a associação entre quatro concepções de felicidade e satisfação com a vida entre 2.715 estudantes universitários e descobriram que a autotranscedência e o conservadorismo afetam positivamente a satisfação com a vida, mas o hedonismo autodirigido e o autoaprimoramento minam a satisfação com a vida. Luhmann et al. (2016) afirmaram a necessidade de uma definição mais aprimorada, base teórica e operacionalização da felicidade. Correspondentemente, Carlquist et al. (2017) e Judge et al. (2010) opinou que muitos cientistas sociais e economistas têm destacado a necessidade de clareza conceitual na pesquisa sobre bem-estar, que pode então fornecer insights significativos para desenvolvimentos científicos e para formular políticas e programas apropriados. Além disso, a partir do número de artigos que enfocam os conceitos de felicidade ou bem-estar subjetivo, há a necessidade de uma definição bem elaborada e elevada de felicidade 632 CUADERNOS DE EDUCACIÓN Y DESARROLLO, Portugal, v.16, n.1, p. 620-652, 2024 4.2.2 Compreensão do ser humano Extensas pesquisas transversais e longitudinais relatam diferenças no bem-estar psicológico em relação ao status socioeconômico. Judge et al. (2010) observaram a relação entre capacidade mental e bem-estar psicológico ao tomar o comportamento não saudável como uma variável mediadora e encontraram uma relação significativa entre eles. As circunstâncias contextuais podem causar instabilidade na satisfação de vida moderadamente estável por longos períodos (Martin, 2008). Uma distinção pode ser feita entre as condições organizacionais sociais e individuais de felicidade no nível macro da sociedade, no nível meso da organização e no nível micro do estado individual (Veenhoven, 2015). Chan, Wong e Yip (2017) relataram uma forte ligação negativa entre a depreciação relativa da renda e a felicidade percebida. No entanto, foi observada uma ligação negativa fraca entre felicidade e autoavaliação de saúde no caso de Hong Kong ter políticas de saúde equitativas. Graham et al. (2017) relataram que descanso e lazer insuficientes resultam em menor satisfação. Um estudo em uma amostra de países europeus relatou que o PIB per capita nacional aumenta o bem-estar subjetivo, a situação financeira e a saúde nas sociedades avançadas, sugerindo que os formuladores de políticas deveriam gastar menos fundos na redução das desigualdades (Zagorski, Evans, Kelley & Piotrowska, 2014). Os entrevistados em cidades com educação são considerados menos felizes do que seus colegas que vivem em áreas rurais e são menos instruídos. Em alguns fundamentos morais, algum nível de virtude é necessário para o bem- estar, onde virtude é o valor intrínseco de qualquer ser humano (Haybron, 2016; Snow, 2016). A felicidade é uma condição interna e um reflexo de boas experiências de vida (Lepp,2018). A compreensão de si mesmo melhora o bem- estar fisiológico, o que leva a melhores relacionamentos que impactam ainda mais o desempenho e o crescimento (Heizomi, Allahverdipour, Jafarabadi & Safaian, 2015). Os indivíduos que têm um forte sentimento de autoengano dão maior prioridade à sua opinião sobre a vida do que as circunstâncias reais da vida, por exemplo, um dos estudos opinou que as crianças envolvidas no cuidado 633 CUADERNOS DE EDUCACIÓN Y DESARROLLO, Portugal, v.16, n.1, p. 620-652, 2024 de alguém podem ter problemas de saúde e ter diminuído o bem-estar por causa da baixa autoestima (Lloyd, 2013). Compreender a si mesmo reduz a taxa de divórcio e aumenta o bem-estar conjugal (Rogers & DeBoer, 2001). Por outro lado, também gera um sentimento de gratidão e promove consistência, o que causa felicidade, e esse sentimento de gratidão disposicional é considerado muito relevante para o bem-estar subjetivo. Está estabelecido que a autoatualização é mais relevante do que a riqueza material e são os ricos que podem elaborar mais sobre esse conceito de forma mais realista do que os pobres, que ainda estão empenhados em satisfazer suas necessidades básicas de acordo com a teoria da hierarquia de necessidades de Maslow. Tomando a criatividade no trabalho e a autonomia pessoal como indicadores de preocupações pós-materialistas e a renda como um substituto da preocupação material, Delhey (2010) discutiu a relevância de se compreender a si mesmo. As atividades religiosas, por exemplo, diminuíram de alguma forma o desempenho econômico, mas podem não afetar significativamente o bem-estar das pessoas e da sociedade (Campante & Yanagizawa-Drott, 2015). 4.2.3 Relações humanas Independentemente do status econômico da família, a integração social contribui positivamente para a felicidade (Tsai & Qian, 2015). Algumas formas de felicidade, quando levadas ao extremo, entre as culturas, podem causar uma aversão à felicidade (Joshanloo & Weijers, 2013). Contextualmente, a felicidade varia entre as culturas. Na cultura ocidental, os indivíduos tentam encontrar a felicidade por meio de uma agência independente; enquanto na Ásia Oriental, a cultura define a felicidade como um equilíbrio entre o eu e os outros. Um dos estudos relata que a variação observada na eficiência dos indivíduos entre os continentes estabeleceu que os países do norte e centro da Europa são mais eficientes em comparação com as economias de transição asiáticas (Ferrera, Salinas-Jimenez, 2015). Além disso, Ford et al. (2015) testaram o impacto das diferenças culturais e opinou que a cultura medeia a associação de ser inspirada 634 CUADERNOS DE EDUCACIÓN Y DESARROLLO, Portugal, v.16, n.1, p. 620-652, 2024 para buscar a felicidade na Rússia e no Leste Asiático, mas ele não é válido para os EUA e Alemanha. É provável que um aspecto da felicidade tenha uma utilidade marginal relativamente alta (Baetschmann, Staub & Studer, 2016) levando ao bem-estar. A felicidade, se valorizada mais, pode causar decepção psicológica (Mauss, Tamir, Anderson & Savino, 2011). Cuidar melhora a qualidade de vida, o que aumenta ainda mais o bem-estar psicológico. No entanto, cuidar desde muito jovem tem uma relação negativa com a felicidade, pois os resultados de um estudo realizado com 4.192 crianças da escola primária indicaram que as autoridades devem fornecer um ambiente de apoio para confidenciar e buscar ajuda (Lloyd, 2013). Foi recomendado às autoridades de saúde e bem-estar que elaborassem políticas e programas com foco no bem-estar e na qualidade de vida das pessoas com deficiência (Lin, Lin & Wu, 2010). Criar uma famíliafoi positivamente associado à satisfação com a vida (Botha & Booysen, 2014; Baetschmann, Staub & Studer, 2016). Os autores relaram o impacto da distância geográfica e do tempo no bem-estar psicológico das correlações intergeracionais, sugerindo que, se os irmãos ficam distantes da casa dos pais, os fatores da comunidade são considerados mais influentes do que as características dos pais (Schnitzlein & Wunder, 2016). Um aumento na renda familiar supostamente aumentou a felicidade conjugal em um curto prazo; ao passo que, no longo prazo, a relação entre os indicadores era fraca (Rogers & DeBoer, 2001). As funções familiares influenciam a satisfação com a vida; Botha e Booysen (2014) relataram que o funcionamento familiar equilibrado torna as pessoas mais satisfeitas e felizes em comparação com os indivíduos que vivem em operações familiares instáveis, com foco na dinâmica intrafamiliar para o bem-estar. Estudos eudemônicos e hedonômicos sustentam que a satisfação com a vida influencia positivamente a reprodução infantil (Kim & Hicks, 2016). O estudo relatou que o bem-estar marcial aumenta ao longo do tempo, afirmando que a felicidade conjugal mais elevada em um ano anterior levará a um nível de felicidade mais alto nos anos seguintes (Dush, Taylor & Kroeger, 2008). Além disso, um dos estudos relatou uma associação positiva entre dados 635 CUADERNOS DE EDUCACIÓN Y DESARROLLO, Portugal, v.16, n.1, p. 620-652, 2024 demográficos e felicidade auto-relatada e opinou que pessoas casadas e educadas são relativamente mais felizes, mas ter muitos filhos supostamente prejudica a felicidade. As pessoas, por meio da resiliência, desenvolvem uma abordagem progressiva em relação às emoções positivas, levando-as à satisfação com a vida à medida que desenvolvem os recursos para viver bem (Cohn, Fredrickson, Brown, Conway & Mikels, 2009). Uma comparação entre países da felicidade sugeriu que os bens relacionais estão positivamente associados ao bem-estar subjetivo (Sarracino, 2013). A autora, por meio de narrativas, estabeleceu a relação incerta entre felicidade e bem-estar por meio de estudos femininos com foco na ideologia da igualdade de gênero na Europa Ocidental (Snow et al., 2017). No que diz respeito à educação de lazer, o autor relatou uma relação positiva significativa entre felicidade e experiências de lazer, incluindo desafios, consciência, tédio e angústia e felicidade (Lepp, 2018). Um dos autores usou o método de regressão de quantis para observar a relação positiva da felicidade com a situação decrescente de renda, saúde e fatores sociais; enquanto a educação tem uma relação positiva nos quantis inferiores e uma relação negativa nos quantis superiores com a felicidade (Binder & Coad, 2011). Um dos estudos em Ruanda indicou que a valorização dos amigos e o orgulho nacional previam felicidade na vida (Ngamaba, 2015). O comércio do indivíduo determinava a felicidade - os empreendedores são mais felizes do que os funcionários e, ao mesmo tempo, a contribuição das ideias e o crescimento pessoal dos funcionários os levam a experimentar a felicidade (Mahadea & Ramroop, 2015). O comportamento pró-social causa felicidade (Ambrey & Daniels, 2017). Comprar pelos canais de mídia promove a exclusão social, que afeta a felicidade e o bem-estar (Dennis, Alamanos, Papagiannidis & Bourlakis, 2016). O sentimento de gratidão deixa a pessoa feliz. O autor conduziu o teste de apreciação de gratidão (Gratitude Test), ou seja, uma medida de gratidão disposicional, e os resultados corroboraram a teoria, concluindo que a gratidão está positivamente relacionada ao bem-estar social (Watkins, Woddward, Stone & Kolts, 2003). 636 CUADERNOS DE EDUCACIÓN Y DESARROLLO, Portugal, v.16, n.1, p. 620-652, 2024 4.2.4 Facilidades materiais ou físicas As instalações físicas consistem em fisioquímicos que ajudam a nutrir e proteger nossos corpos. Essas reações físico-químicas produzem sensações positivas que nos fazem felizes ou infelizes. Esse processo depende do contato constante com os resultados físico-químicos. Portanto, pode ser complicado manter a felicidade, uma vez que a dependência dessas instalações é temporária. A literatura existente apoia a realização das necessidades materiais básicas para uma vida confortável (Veenhoven, 2015). A desigualdade de renda por desemprego leva à infelicidade (Oshio & Kobayashi, 2011). O estado civil pelo aumento absoluto e relativo da renda no caso das mulheres leva à felicidade e bem-estar conjugal e reduz o risco de divórcio. No entanto, a maior contribuição das mulheres na renda familiar tem um efeito inverso sobre a felicidade e o bem- estar (Rogers & DeBoer, 2001). Além disso, eventos de vida como morte, divórcio e deficiência têm um impacto ao longo da vida no nível de felicidade de um indivíduo, mas também retornam a um nível de ponto definido conhecido como adaptação hedônica (Lucas & Donnellan, 2007). Fisher (1930) e Boulding (1950) sugerem que o “capital de consumo” é a fonte final de prosperidade. A relação renda-felicidade pode ser menos relevante para a economia em comparação com a relação capital-felicidade (Van Hoorn & Sent, 2016). A exclusão social leva a menos felicidade, especialmente no caso das pessoas com problemas de mobilidade e deficiência, e os consumidores que compram através dos canais online enfrentam mais infelicidade e menos bem- estar (Dennis, Alamanos, Papagiannidis & Bourlakis, 2016). Uma pesquisa significativa sobre as economias asiáticas relata a relevância da integração social em comparação ao status econômico, contrastando as economias ocidentais (Tsai & Qian, 2015). Kroll (2015) opinou que as necessidades materiais influenciam o bem-estar subjetivo de um indivíduo, com os ricos sendo mais satisfeitos do que os cidadãos pobres. Comparações sociais e adaptação hedônica podem ser razões importantes por trás do paradoxo felicidade-renda (encaixado em questões sociais ou de renda), como a expansão do déficit de 637 CUADERNOS DE EDUCACIÓN Y DESARROLLO, Portugal, v.16, n.1, p. 620-652, 2024 capital social, desequilíbrio trabalho-vida pessoal e desigualdade social (Li, 2016). A pesquisa relata que mais riqueza líquida está mais relacionada à satisfação com a vida (Ruberton, Gladstone & Lyubomirsky, 2016). Felicidade entre os jovens é um eufemismo de satisfação financeira, que leva ainda mais à satisfação com a vida (Xiao, Tang & Shim, 2009). A crença de que a felicidade está positivamente correlacionada com renda e riqueza é refutada pelo paradoxo felicidade-renda em comparações internacionais, mas é aceita em comparações nacionais (Ma & Zhang, 2014). Kobayashi (2010) e Oshio (2011) investigaram a associação entre a desigualdade regional e a valorização da felicidade de um indivíduo e concluíram que áreas com alta desigualdade de renda relata ser infelizes e insalubres. A literatura estabeleceu empiricamente uma associação positiva entre risco e bem- estar individual; quanto mais arriscados são os empreendimentos, melhor é o bem-estar do consumidor (Ayadi, Paraschiv & Vernette, 2017). O conceito subjetivo de felicidade, em contraste com o conceito objetivo, é influenciado significativamente pelas instalações físicas (Tenaglia, 2018). Uma ligação direta e indireta por meio de comportamento não saudável às pressões ocupacionais foi estabelecida através da saúde ao bem-estar subjetivo (Judge, Ilies & Dimotakis, 2010). O domínio econômico afeta o bem-estar individual e social e tem um efeito de transbordamento em outros domínios da vida (Tay, Batz, Parrigon & Kuykendall, 2017). Poucos estudos científicos relataram herdabilidade substancial entre bem-estar e satisfação com a vida (Roysamb, Tambs, Reichborn-Kjennerud, Neale & Harris, 2003; Bartels, 2015). Além disso, com base no fato de que uma alimentação saudávelleva à felicidade, os legisladores devem se concentrar nas questões de nutrição de seus cidadãos para serem um país feliz. 4.2.5 Meio ambiente O equilíbrio ecológico leva a uma vida sustentável. A população deve ser informada sobre as questões críticas do meio ambiente para que uma vida sustentável possa ser alcançada, já que a natureza é responsável pelo bem- 638 CUADERNOS DE EDUCACIÓN Y DESARROLLO, Portugal, v.16, n.1, p. 620-652, 2024 estar geral do mundo (CBS/GNH, 2017). Um estudo internacional usando dados de satisfação com a vida estabeleceu empiricamente uma diferença estatisticamente significativa na poluição do ar como o preditor de bem-estar subjetivo (Welsch, 2006). Pegadas de carbono mais altas estão negativamente associadas ao bem-estar. A relação é linear, orientando estrategicamente os formuladores de políticas sobre os benefícios de aumentar o bem-estar por meio da redução das pegadas de carbono (Ambrey & Daniels, 2020). O meio ambiente está positivamente associado à percepção de saúde, que, por sua vez, impacta o bem-estar (Roysamb, Tambs, Reichborn-Kjennerud, Neale & Harris, 2003). Shier e Graham (2015) estudaram o impacto do meio ambiente no bem-estar dos assistentes sociais e concluíram um impacto direto do meio ambiente físico, cultural e sócio-político fatores sobre seu bem-estar. Além disso, Nisbet, Zelenski e Murphy (2011) exploraram a associação entre natureza e bem-estar e concluíram que a natureza tem um efeito positivo que é suficiente para superar emoções negativas e ajuda as pessoas a se recuperarem de situações adversas, descobrindo que a natureza tem potencial para melhorar saúde psicológica. Di Tella e MacCulloch (2008) estudaram as respostas de felicidade de 350.000 pessoas nos países da OCDE (Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico) de 1975 a 1997 e concluíram sua correlação negativa com a degradação ambiental (medida pelas emissões de óxido de enxofre) e taxas de criminalidade. Além disso, Benjamin et al. (2014) estimou a alta utilidade marginal relativa para aspectos relacionados à segurança ao propor uma pesquisa para um índice de bem-estar em nível individual. Proteção e segurança são outras condições para a felicidade, que requerem controle e intervenção governamental. O combate ao crime e, em particular, ao crime violento, é uma prioridade. O crime prejudica as vítimas financeiramente e muitas vezes psicologicamente, como em um caso em que uma experiência direta de roubo reduz significativamente o nível de felicidade da vítima, indicando o maior impacto dos custos psicológicos não pecuniários do que as perdas pecuniárias (Kuroki, 2013). Felicidade média e seguridade social 639 CUADERNOS DE EDUCACIÓN Y DESARROLLO, Portugal, v.16, n.1, p. 620-652, 2024 estão positivamente relacionadas, mas essa correlação se dissolve quando o PIB é controlado. Consequentemente, isso requer mais pesquisas sobre esse “vazamento de felicidade” oculto (Veenhoven, 2018; Fabian, 2020). 4.2.6 Política e governança A literatura existente revela que o bem-estar subjetivo é altamente influenciado por fatores sociopolíticos, mas os acadêmicos deixaram de considerar o tamanho e o papel do governo como determinantes do bem-estar (Pacek, Radcliff & Brockway, 2020). A satisfação com a vida pode ser vista através das lentes das ideologias políticas, uma vez que os países com democracias estáveis têm alta satisfação com a vida em comparação com os países com democracias fracas (Loubser & Steenekamp, 2017), sugerindo que os governos devem fortalecer as democracias para aumentar a satisfação com a vida. Alessandrini e Jivraj (2017) enfocaram os aspectos dos laços de impacto social e a Felicidade Nacional Bruta do Butão (FNBB) para enfatizar o estudo de contextos e iniciativas individuais, e sugeriram ainda evitar a fusão de diferentes agendas de bem-estar para a elaboração de políticas sofisticadas. Os indicadores objetivos de bem-estar do Programa de Desenvolvimento das Nações Unidas são distintos da percepção subjetiva dos próprios indivíduos (Schimmel, 2009). Os eventos políticos podem influenciar a felicidade e o bem- estar da população, que sempre aumenta com o aumento da renda do país à medida que as normas materiais aumentam com a renda (Easterlin, McVey, Switek, Sawangfa & Zweig, 2010). Países com democracias estáveis têm um alto nível de satisfação com a vida do que países com desafios políticos e econômicos (Radcliff, 2001; Loubser, Steenekamp, 2017), afirmando ainda que a economia política é um fator essencial para atingir o objetivo de felicidade individual (Boffo, Brown & Spencer, 2017). Tenaglia (2007) discutiu o impacto das variáveis macroeconômicas na felicidade e encontrou uma relação significativa do conceito externo de felicidade com os desejos objetivos, renda e trabalho, enquanto não existia uma relação significativa entre os conceitos subjetivos de felicidade e os desejos subjetivos. 640 CUADERNOS DE EDUCACIÓN Y DESARROLLO, Portugal, v.16, n.1, p. 620-652, 2024 O desemprego afeta negativamente a satisfação com a vida, mas não afeta a felicidade (Böckerman & Ilmakunnas, 2006). A depreciação da renda relativa impacta negativamente a felicidade percebida dos indivíduos, sugerindo que os formuladores de políticas desenvolvam mais esquemas de bem-estar para lidar com o sentimento de privação (Chan, Wong & Yip, 2017). A própria situação econômica dos indivíduos e as condições econômicas gerais têm um impacto significativo na satisfação com a vida, mas a situação econômica tem um impacto mais influente no bem-estar (Maennig & Wilhelm, 2012), sinalizando que os formuladores de políticas devem enfatizar mais as percepções no que diz respeito à satisfação com a vida. em causa, o que pode acontecer devido à falta de autocompreensão. De acordo com o famoso fenômeno do paradoxo de Easterlin, os níveis de felicidade não aumentam apesar do crescimento econômico sustentado [161]. O paradoxo da felicidade explica que o aumento na renda dos pares prejudica mais os pobres do que os ricos (Paul & Guilbert, 2013; Sarracino, 2013). Um dos estudos na China discutiu o “paradoxo do crescimento”, argumentando que a satisfação com a vida na China foi reduzida com seu crescimento econômico sem precedentes e redução da pobreza (Li, 2016; Graham; Zhou & Zhang, 2020). A desigualdade de felicidade tem uma relação inversa com o crescimento da renda (Clark, Fleche & Senik, 2016). O autor argumentou que, no caso dos países avançados, a desigualdade medida pelo coeficiente de Gini não tem impacto na saúde e no bem-estar, direcionando a política para a redução de desigualdade dificilmente afetará o bem-estar, embora seja significativamente evidente e necessária no caso de países em desenvolvimento e menos desenvolvidos (Zagorski, Evans, Kelley & Piotrowska, 2014) Em contraste, um dos estudos argumentou que o crescimento da renda não leva à felicidade uma vez que um nível limite é atingido e a situação é evidente em países com privação de crescimento da renda (Mahadea & Rawat, 2008). A desigualdade de renda afeta significativamente a felicidade pessoal (Yu & Wang, 2017). Portanto, os formuladores de políticas devem se concentrar na distribuição de renda de forma a reduzir a desigualdade e aumentar o bem-estar. 641 CUADERNOS DE EDUCACIÓN Y DESARROLLO, Portugal, v.16, n.1, p. 620-652, 2024 Um estudo realizado no Japão sobre o impacto da desigualdade de renda sobre a felicidade indicou que as pessoas que vivem em áreas de alta desigualdade são percebidas como menos felizes, o que reforça ainda mais que as pessoas com menos estabilidade no emprego são sensíveis à desigualdade. O bem-estar das pessoas, direcionando os formuladores de políticas sociais a mitigar a desigualdade com a intenção de promovera felicidade, é afetado negativamente pela desigualdade em nível de área (Oshio & Kobayashi, 2011). O estudo discutiu a influência do crime no bem-estar psicológico dos indivíduos, sugerindo que os formuladores de políticas enfatizam mais a diminuição das taxas de crime para aumentar o bem-estar psicológico (Kuroki, 2013). Binder e Coad (2011) observaram que a relevância da renda, estado de saúde e fatores sociais diminui com o aumento dos níveis de felicidade. Uma alimentação saudável melhora o bem-estar. Portanto, o governo deve se concentrar na nutrição e promover a agricultura natural para melhorar a vida saudável (Mujcic & Oswald, 2016). Um estudo realizado em Ruanda sustentou que um aumento no bem-estar da renda e no bem-estar financeiro aumenta a felicidade (Ngamaba, 2016) e o foco em indicadores demográficos e econômicos pode melhorar o bem-estar da economia. A literatura ainda apóia o empreendedorismo para promover o bem-estar (Mahadea & Ramroop, 2015). Em um estudo cross-country, o autor discutiu que um aumento na liberdade econômica está positivamente associado a uma melhoria no bem-estar até um certo nível, mas com o tempo o aumento da liberdade econômica diminui o bem- estar subjetivo, mantendo outros fatores constantes (Pruk & Keseljevic, 2016). 4.2.7 Medição da felicidade Numa primeira tentativa de revisitar o conceito de felicidade, Richard Easterlin relatou que, independentemente do crescimento do PIB per capita, o nível de felicidade dos cidadãos não melhora no longo prazo (Easterlin, 1974; Easterlin, 2013). Em resposta a esta pesquisa, Adler e Seligman (2016) sugeriram que o bem-estar subjetivo está correlacionado com diferentes aspectos da vida (incluindo renda) e, portanto, índices multidimensionais que são 642 CUADERNOS DE EDUCACIÓN Y DESARROLLO, Portugal, v.16, n.1, p. 620-652, 2024 descritivos devem ser construídos, e vários fatores refletindo o as preferências e os valores dos próprios cidadãos podem ser incorporados. Além disso, os erros de medição relataram que a felicidade não é afetada pela desigualdade da nação, mas ao alterar as medições, os resultados corrigidos declararam que a desigualdade de renda afeta a desigualdade de felicidade (Delhey & Kohler, 2011). Lewis e Joseph (1995) também investigaram a confiabilidade interna e a validade de uma escala de depressão-felicidade, indicando maior felicidade e satisfação com a vida. Complementarmente, Joseph et al. (2004) desenvolveram uma forma curta de seis itens da escala de depressão-felicidade e examinaram sua validade e confiabilidade e, adicionalmente, confirmaram ter uma pontuação de validade discriminante desejável com medidas de felicidade, depressão e personalidade. Benjamin et al. (2014) propuseram fundamentos e uma metodologia para uma pesquisa para rastrear o bem-estar em um nível individual, enfatizando a utilidade em "aspectos fundamentais" do bem-estar e concluíram altas utilidades marginais relativas para aspectos relacionados à família, saúde, segurança, liberdade, valores e mais alguns. Lucas e Donnellan (2007) investigaram a estabilidade de longa duração e mudança de bem-estar usando um modelo estatístico (Stable Trait, AutoRegressive Trait, and State - STARTS) para analisar os dados de satisfação com a vida e encontraram um grau considerável de instabilidade que pode ser devido a circunstâncias contextuais. Além disso, Roberts et al. (2015) recomendaram um modelo que explica a associação negativa entre materialismo e satisfação com a vida e concluíram efeitos negativos, efeitos positivos e gratidão como fatores essenciais que associam materialismo e insatisfação com a vida. Por outro lado, Bond e Lang (2019) destacaram que a felicidade é ordinal e, portanto, usando respostas de pesquisas que envolveram escalas de intervalo e razão, os dados de felicidade ordinal são impossíveis de afirmar e as conclusões apropriadas não podem ser tiradas. Além disso, Adler e Seligman 643 CUADERNOS DE EDUCACIÓN Y DESARROLLO, Portugal, v.16, n.1, p. 620-652, 2024 (2016) sugeriram que, em vez de almejar números de crescimento do PIB, os governos deveriam fornecer melhores condições de bem-estar por meio de melhores serviços públicos, planejamento urbano e uma rede de segurança social mais forte. 4.3 MECANISMO Inúmeros estudos precedentes incluíram nas pesquisas as variáveis independentes, mediadoras e de controle. Pesquisas diversas e escalas foram desenvolvidas neste campo e, portanto, é imperativo destacar as variáveis em cada categoria, que também auxiliará um futuro pesquisador na seleção das variáveis adequadas desejadas para a realização de pesquisas empíricas. Diversos levantamentos e escalas têm sido desenvolvidos neste campo e, portanto, é imperativo destacar as variáveis em cada categoria (variáveis independentes, mediadoras e de controle) o que também auxiliará futuras pesquisas na seleção das variáveis adequadas desejadas para a realização de pesquisas empíricas. Para todos os artigos mencionados abaixo, a variável dependente foi denominada felicidade, bem-estar subjetivo, satisfação com a vida, bem-estar ou bem-estar e, como discutido na Seção 2, nós as usamos indistintamente para uma melhor compreensão do conceito sobre o todo (Vitterso & Nilsen, 2002; Boo, Yen, & Lim, 2016; Lepp, 2018). A felicidade é essencial não apenas para o bem-estar dos indivíduos, mas para o bem-estar da sociedade, e para garantir a maximização da felicidade, é necessário considerar mais do que apenas o dinheiro (Nagraj, 2008; Gaur et al., 2009). Os esforços globais têm crescido para considerar esses fatores; por exemplo, o Butão desenvolveu o Gross National Happiness Index, ou Social Impact Bonds no Reino Unido (Alessandrini & Jivraj, 2017), que, junto com a economia, considera outros problemas sociais na determinação do bem-estar de seus cidadãos. É necessário focar nas experiências das pessoas para obter uma compreensão mais profunda de como o crescimento econômico afeta o bem- estar das pessoas. No entanto, muitos economistas concluíram que a renda relativa é mais importante para as pessoas, o que acaba afetando seu nível de 644 CUADERNOS DE EDUCACIÓN Y DESARROLLO, Portugal, v.16, n.1, p. 620-652, 2024 felicidade [(e.g., Mahadea & Ramroop , 2015; Clan, Wong & Yip, 2017). As pessoas geralmente fazem escolhas que envolvem um relacionamento misto entre suas preferências existentes (felicidade) e as opções que fornecem o apelo imediato mais significativo ao custo da felicidade de longo prazo (como consumir drogas e comer demais). Um debate recorrente discute as preferências das pessoas e um estudo conhecido de Henrich et al. (2001) concluiram que as preferências sobre as escolhas econômicas não são derivadas externamente, mas sim determinadas pelas interações entre as interações econômicas e sociais da vida cotidiana. A maioria dos estudos controlou as variáveis sociodemográficas, incluindo idade, sexo, educação, desemprego e outras variáveis. Existem 31 variáveis mediadoras, enquanto em alguns casos, as variáveis sociodemográficas, nomeadamente idade e sexo, também são utilizadas como variáveis mediadoras (Austin, 2016; Kushlev et al., 2017; Heintzelman & Diener, 2020). Por outro lado, no que diz respeito à variável independente, rendimento e outras relacionadas com o rendimento variáveis, a saber, renda absoluta ou per capita (Sarracino, 2013), renda relativa (Boyce, Brown & Moore, 2010; Melzer & Muffels, 2017), renda familiar (Mujcic & Oswald, 2016; Ngamaba, 2016), nível de renda ou desigualdade de renda em nível de área (Oishi, Kesebir & Diener, 2011; Oshio & Kobayashi, 2011; Yu & Wang, 2017; Cheung, 2016) são vistas como as maiores variáveis independentes no impacto da felicidade/bem subjetivo- ser/satisfação com a vida. 5 LACUNAS NA LITERATURAEXISTENTE O objetivo desta pesquisa foi consolidar a literatura já publicada ao longo dos anos sobre o conceito de felicidade nos diversos aspectos destacados pelos pesquisadores em estudos anteriores. A Economia da Felicidade levanta uma lista de lacunas de pesquisa que ainda precisam ser abordadas. Isso inclui as implicações dos resultados de bem-estar para os indicadores nacionais e os padrões de crescimento econômico. Numerosos pesquisadores, incluindo Carlquist et al. (2017) e Ford et al. (2015), defenderam a criação de uma conta 645 CUADERNOS DE EDUCACIÓN Y DESARROLLO, Portugal, v.16, n.1, p. 620-652, 2024 nacional de bem-estar para complementar as contas de renda nacional. Lloyd (2013) observou que nas sociedades pós-modernas, é vital estudar a associação entre dinheiro, desenvolvimento sustentável, crescimento econômico e felicidade humana. Isso apela para um índice mais amplo que pode ser usado para medir o objetivo social final, ou seja, felicidade e prosperidade. Além disso, as Diretrizes da OCDE (2020) para medir o Bem-Estar Subjetivo sugerem que os criadores de pesquisas incorporam armadilhas como preconceitos culturais (que são difíceis de capturar) ao empregar dados contrafactuais, vinhetas e dados de migrantes. Graham (2005) destacou os vieses potenciais nos dados da pesquisa, incluindo as dificuldades associadas à análise de tais dados, e isso defende ainda mais a necessidade de dados de bem-estar de qualidade superior e, em particular, dados de painel que podem incorporar ainda mais as limitações existentes, e facilitar a avaliação das direções mais adequadas de causalidade (por exemplo, causalidade entre renda e felicidade, saúde e felicidade, educação e felicidade). Melhores dados complementados com sofisticadas técnicas econométricas são os requisitos que permitem análises e resultados mais confiáveis. A literatura existente destaca que o crescimento econômico é necessário, mas não é exclusivamente suficiente para a redução da pobreza, destacando a necessidade de políticas baseadas em avaliações de bem-estar individual, em vez de políticas gerais ou políticas públicas (Graham, 2005). Nossos resultados sugeriram priorizar a conceituação de felicidade ao computar o nível de felicidade em um nível individual ou coletivo. Baetschmann et al. (2016) destacou que a pesquisa sobre o bem-estar subjetivo perde a questão do que é felicidade e, em vez disso, focou mais nos fatores que determinam a felicidade dos indivíduos e suas consequências. Depois de rastrear os desenvolvimentos significativos da pesquisa da felicidade na economia, o estudo destacou as taxas de suicídio, segurança, religião, desigualdade social e liberdade como as questões adicionais a serem considerados para pesquisas futuras sobre felicidade. Além disso, o estudo recomendou que os governos estabeleçam condições que permitam aos 646 CUADERNOS DE EDUCACIÓN Y DESARROLLO, Portugal, v.16, n.1, p. 620-652, 2024 indivíduos relatar a felicidade independentemente da pressão política para responder estrategicamente por números impressionantes de nível de felicidade no nível macro. Os efeitos dos fatores de política social, incluindo o orçamento do bem-estar e a desigualdade de renda sobre a competitividade e felicidade nacionais, são imperativos e devem ser considerados na construção de índices de bem-estar. O impacto do ambiente físico, incluindo clima, qualidade do ar, emissões de carbono, bem como segurança e proteção contra roubo e crime sobre o bem-estar, precisa de mais atenção. 6 RECOMENDAÇÕES PARA PESQUISAS FUTURAS Estudos evidenciam que os seres humanos desejam viver em um estado de felicidade e prosperidade (Diener, 1984), e o fator mais crucial para a felicidade de um ser humano é a conduta humana definitiva (Frey, 2008). No entanto, a maioria das pessoas não sabe compreender suas próprias necessidades, aspirações e desejos, o que teoricamente é denominado como autoconhecimento (Gaur et al., 2009). A compreensão de si mesmo é um caminho para a felicidade mental, que ajuda ainda mais na obtenção da felicidade espiritual e material (Bhattacharya, 2010; Rowold, 2011). Também auxilia no estabelecimento do quadro certo de valores envolvendo ações voltadas para a realização de objetivos e aspirações. Depois de rastrear os desenvolvimentos significativos da pesquisa da felicidade na economia, o estudo destacou as taxas de suicídio, segurança, religião, desigualdade social e liberdade como as questões adicionais a serem considerados para pesquisas futuras sobre felicidade. Além disso, o estudo recomendou que os governos estabeleçam condições que permitam aos indivíduos relatar a felicidade independentemente da pressão política para responder estrategicamente por números impressionantes de nível de felicidade no nível macro. Os efeitos dos fatores de política social, incluindo o orçamento do bem-estar e a desigualdade de renda sobre a competitividade e felicidade nacionais, são imperativos e devem ser considerados na construção de índices de bem-estar. O impacto do ambiente físico, incluindo clima, qualidade do ar, 647 CUADERNOS DE EDUCACIÓN Y DESARROLLO, Portugal, v.16, n.1, p. 620-652, 2024 emissões de carbono, bem como segurança e proteção contra roubo e crime sobre o bem-estar, precisa de mais atenção. Portanto, para ser continuamente capaz de cumprir as aspirações humanas básicas de felicidade e prosperidade, é essencial obter a compreensão correta de si mesmo, dos outros, ou seja, da família, da sociedade e do resto da natureza, e como isso garante a felicidade contínua. Essa compreensão vem com a transformação da auto-realização de que humano é a coexistência do eu e do corpo, enquanto o corpo é a entidade material. Essa compreensão amplia ainda mais as necessidades do eu ser temporário e transitório - ou seja, fome e sede - enquanto a necessidade do corpo não é materialista, mas permanente - ou seja, amor e respeito. Uma vez que nossos desejos e aspirações são baseados na aceitação natural, podemos viver em harmonia dentro de nós mesmos. Portanto, o objetivo geral deve incluir o entendimento correto nos níveis individual, familiar, social e natural (meio ambiente). 7 CONSIDERAÇÕES FINAIS Há uma contradição entre os novos insights e as teorias convencionais da felicidade e economia (Wiese, 2014). Consequentemente, Frey (2008) cunhou a nova divisão da economia como revolucionária, uma vez que transformou os métodos de pesquisa com uma nova medida de utilidade. Felicidade e economia enfatizam clareza conceitual, já que funções de utilidade individuais podem ser derivadas das pesquisas (Wiese, 2014). Este artigo analisa os conceitos econômicos através das lentes dos níveis individual, social e ambiental que reconhecem o progresso até agora, destacando as lacunas de pesquisa e comentários adicionais sobre os caminhos com escopo para pesquisas futuras. A felicidade humana tem atraído cada vez mais a atenção de pesquisadores e formuladores de políticas no campo da economia e dos negócios e tem crescido substancialmente em termos de conceitos, métodos e abordagens. A estrutura integrativa proposta por este artigo especifica os fatores independentes que impactam diretamente a felicidade humana com base em três fatores, incluindo 648 CUADERNOS DE EDUCACIÓN Y DESARROLLO, Portugal, v.16, n.1, p. 620-652, 2024 a compreensão ou conhecimento, as relações humanas e a relação homem- natureza. 649 CUADERNOS DE EDUCACIÓN Y DESARROLLO, Portugal, v.16, n.1, p. 620-652, 2024 REFERÊNCIAS Aghaei, C. A.; Salehi, H.; Md Yunus, M.M.; Farhadi, H.; Fooladi, M.; Farhadi, M., & Ale Ebrahim, N. (2013). 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