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ASPECTOS FILOSÓFICOS E SÓCIO-ANTROPOLÓGICOS DA EDUCAÇÃO Carmem Silvia da Fonseca Kummer Liblik; Mauricio Tinori Piqueira; Lísia M. Macedo Soares. Aspectos Filosóficos Socioantropológicos da Educação © by Editora Telesapiens Todos os direitos reservados. Nenhuma parte desta publicação poderá ser reproduzida ou transmitida de qualquer modo ou por qualquer outro meio, eletrônico ou mecânico, incluindo fotocópia, gravação ou qualquer outro tipo de sistema de armazenamento e transmissão de informação, sem prévia autorização, por escrito, da Editora Telesapiens. LIBLIK, Carmen Silvia da Fonseca Kummer / PIQUEIRA, Mauricio Tintori / SOARES, Lísia M. Macedo Aspectos Filosóficos Socioantropológicos da Educação. ISBN: 978-65-81507-18-3 I.Filosofia. II.Socioantropologia. III. Educação. Fundador e Presidente do Conselho de Administração: Janguê Diniz Diretor-Presidente: Jânyo Diniz Diretor de Inovação e Serviços: Joaldo Diniz Diretoria Executiva de Ensino: Adriano Azevedo Diretoria de Ensino a Distância: Enzo Moreira Créditos Institucionais Todos os direitos reservados ©2022 by Telesapiens Aspectos Filosóficos Socioantropológicos da Educação OS AUTORES CARMEM SILVIA DA FONSECA KUMMER LIBLIK Olá. Meu nome é Carmem Silvia da Fonseca Kummer Liblik. Sou formada em Bacharelado e Licenciatura em História, com Mestrado e Doutorado em História pela UFPR. Também sou formada em Química Ambiental pela UTFPR, com especialização em Tutoria em EAD pela UNINTER. Tenho experiência profissional na área de ensino e produção de material didático há 14 anos. Passei por empresas como a UNINTER, PUC-PR e UFPR. Sou apaixonada pelo que faço e adoro transmitir minha experiência de vida àqueles que estão iniciando em suas profissões. Por isso fui convidada pela Editora Telesapiens a integrar seu elenco de autores independentes. Estou muito feliz em poder ajudar você nesta fase de muito estudo e trabalho. Conte comigo! MAURICIO TINTORI PIQUEIRA Olá. Meu nome é Mauricio Tintori Piqueira. Sou doutor em Ciências Sociais e mestre em História pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP), com uma experiência de docência na área de Ciências Humanas de mais de 14 anos. Sou professor universitário e do Ensino Médio, com experiência como professor e coordenador do curso de História da Faculdade de Ribeirão Pires e, docente na Rede Pública do estado de São Paulo. Sou apaixonado pelo que faço e adoro transmitir minha experiência de vida àqueles que estão iniciando em suas profissões. Por isso fui convidado pela Editora Telesapiens a integrar seu elenco de autores independentes. Estou muito feliz em poder ajudar você nesta fase de muito estudo e trabalho. Conte comigo! LÍSIA M. MACEDO SOARES Olá. Meu nome é Lísia M. Macedo Soares. Sou formada em Psicologia, especialista em Gestão Saúde Mental e Mestra em Administração. Tenho experiência técnico-profissional como Docente nos cursos de Enfermagem, Ciências Contábeis, Engenharias e Administração. Nestes cursos de graduação, tive o prazer de lecionar a disciplina Estudos Socioantropológicos. Na minha última experiência, fundei um núcleo de Atendimento Educacional ao discente – NAED, onde atuei como Psicóloga oferecendo aos alunos apoio psicopedagógico. Sou apaixonada pelo que faço e adoro compartilhar minha experiência de vida àqueles que estão iniciando em suas profissões. Por isso fui convidada pela Editora Telesapiens a integrar seu elenco de autores independentes. Estou muito feliz em poder ajudar você nesta fase de muito estudo e trabalho. Conte comigo! ICONOGRÁFICOS Esses ícones que irão aparecer em sua trilha de aprendizagem significam: OBJETIVO Breve descrição do objetivo de aprendizagem; OBSERVAÇÃO Uma nota explicativa sobre o que acaba de ser dito; CITAÇÃO Parte retirada de um texto; RESUMINDO Uma síntese das últimas abordagens; TESTANDO Sugestão de práticas ou exercícios para fixação do conteúdo; DEFINIÇÃO Definição de um conceito; IMPORTANTE O conteúdo em destaque precisa ser priorizado; ACESSE Links úteis para fixação do conteúdo; DICA Um atalho para resolver algo que foi introduzido no conteúdo; SAIBA MAIS Informações adicionais sobre o conteúdo e temas afins; EXPLICANDO DIFERENTE Um jeito diferente e mais simples de explicar o que acaba de ser explicado; SOLUÇÃO Resolução passo a passo de um problema ou exercício; EXEMPLO Explicação do conteúdo ou conceito partindo de um caso prático; CURIOSIDADE Indicação de curiosidades e fatos para reflexão sobre o tema em estudo; PALAVRA DO AUTOR Uma opinião pessoal e particular do autor da obra; REFLITA O texto destacado deve ser alvo de reflexão. SUMÁRIO UNIDADE 1 Origens e Conceito da Filosofia..........................................14 Origens da Filosofia........................................................... 14 Crítica aos Sofistas............................................................. 18 Conceito de Filosofia......................................................... 19 Sócrates, Platão, Aristóteles e seus Lugares na História da Filosofia................................................................................23 Sócrates............................................................................. 23 Platão................................................................................. 28 Aristóteles......................................................................... 34 Conhecimento Mítico e Conhecimento Filosófico..............41 A Questão do Saber: o Conhecimento e sua Tipologia......45 Os Tipos de Conhecimento................................................ 47 Conhecimento Popular ou Senso Comum................ 47 Conhecimento Filosófico......................................... 48 Conhecimento Científico......................................... 49 Conhecimento Teológico ou Religioso.................... 51 UNIDADE 2 Filosofia e Pensamento Educacional na Modernidade .....56 Leitura e Recortes Acerca de Educação e Filósofos da Modernidade .......................................................................60 René Descartes .................................................................. 60 Jean Jacques Rousseau ...................................................... 64 Immanuel Kant ................................................................. 67 Georg Hegel ...................................................................... 70 Tendências e Correntes Filosóficas: Contexto Histórico e Pressupostos ........................................................................75 Correntes Filosóficas: Abordagens e Suposições ..............79 Positivismo ....................................................................... 79 Utilitarismo ....................................................................... 82 Pragmatismo ..................................................................... 88 Materialismo ..................................................................... 92 Fenomenologia.................................................................. 96 Existencialismo ............................................................... 100 UNIDADE 3 Compreendendo as diferenças entre o senso comum e o conhecimento científico.....................................................108 O senso comum e o conhecimento científico ....................108 O conhecimento como um atributo do ser humano...........109 O senso comum...............................................................112 O conhecimento científico...............................................114 É possível a convivência entre ciência e senso comum?....117 As ciências sociais..............................................................120 As áreas das ciências sociais............................................121 Os objetos de estudo das ciências sociais e suas metodologias de pesquisa......................................................................128A História da Sociologia..................................................134 Os antecedentes intelectuais da Sociologia.....................135 As transformações sociais decorrentes da Revolução Industrial .......................................................................138 Os primórdios da Sociologia...........................................142 O Surgimento da Sociologia Educacional......................148 Émile Durkheim: o ideólogo da Educação.......................149 Karl Marx: a educação como meio de conformação e transformação social........................................................152 Max Weber e a educação como instrumento de “status social”.. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .155 Antropologia e seu campo de estudo...................................157 O nascimento da Antropologia.........................................157 O que é Antropologia ............................................161 Campo de atuação da Antropologia.......................161 Antropologia e ciências afins................................163 Etnocentrismo.....................................................166 O que é etnocentrismo ?...................................................167 Relativismo cultural.........................................................170 Relativismo cultural: conceito e aplicabilidade.................170 Antropologia educacional.................................................174 Conexão entre Antropologia e Educação........................175 Antropologia educacional: suas origens...........................177 UNIDADE 4 Concepções e Contribuições da Filosofia da Educação...182 Filosofia da Educação e Formação Docente..................187 Filosofia da Educação e Educação Brasileira..................192 Filosofia da Educação, Contemporaneidade e Subjetividade.....................................................................202 Produção de Subjetividades.............................................210 Filosofia da Educação e Pós-Modernidade.....................217 REFERÊNCIAS...............................................................225 UNIDADE 01 Aspectos Filosóficos Socioantropológicos da Educação14 OBJETIVO Origens e Conceito da Filosofia Ao final do estudo deste capítulo, você será capaz de explicar o conceito da Filosofia e estabelecer relação com as suas origens. Origens da Filosofia Toda civilização que atinge certo grau de desenvolvimento sente-se naturalmente inclinada à prática da educação, da Filosofia, da ciência e das artes. No mundo ocidental, as bases que contribuíram para a origem e o desenvolvimento dessas grandes áreas de produção de conhecimento vieram da Grécia Antiga, especialmente a partir do século VI a.C. A Filosofia, a ciência e as artes, como as conhecemos, são invenções gregas. Para o filósofo Bertrand Russel: [...] o advento da civilização grega que produziu tal explosão de atividade intelectual é um dos acontecimentos mais importantes da história do mundo ocidental. No curto espaço de dois séculos os gregos produziram na arte, na literatura, na ciência e na Filosofia uma assombrosa torrente de obras-primas, que estabeleceram os padrões gerais da civilização ocidental. (2013, p. 14) O início da Filosofia se caracteriza pela compreensão de explicações racionais para a realidade humana. Os primeiros filósofos, chamados então de pré-socráticos, buscavam Aspectos Filosóficos Socioantropológicos da Educação 15 explicações relacionadas ao mundo físico ou da natureza. Esses filósofos tinham pensado no dinamismo universal, como o nascer, crescer, morrer, como característica essencial do princípio (arché), que gera, sustenta e absorve todas as coisas. A Filosofia da natureza (physis) se caracteriza pela busca pela unidade e harmonia, inserindo na cultura grega a ideia do uno, do qual todas as coisas derivam. A civilização ocidental, que brotou das fontes gregas, se baseia numa tradição filosófica científica que começou com Tales de Mileto há 2.500 anos e nisso difere de outras grandes civilizações ocidentais. Conforme Russel, a noção predominante que percorre toda a Filosofia grega é o logos, termo que tem a conotação, entre outras, de “palavra” e “medida”. Portanto, o discurso filosófico e a investigação científica estão intimamente vinculados. “A doutrina ética surgida desse vínculo vê o bem no conhecimento, objeto de investigação desinteressada” (RUSSEL, 2013, p. 19). Tales de Mileto (624-546), considerado o primeiro filósofo pré-socrático, afirma que o princípio originário único de todas as coisas é a água. Esse filósofo estabeleceu um princípio a partir do qual trabalharia, formulando, para tanto, a seguinte pergunta: “Qual é a matéria-prima básica do cosmos”? A noção de que tudo no universo pode ser reduzido a uma única substância é a teoria do monismo, e Tales e seus seguidores foram os primeiros a propor isso dentro da Filosofia ocidental. Tales concluiu, portanto, que toda matéria, independentemente de suas aparentes propriedades, deve ser água em algum estágio de transformação. Essa intenção pode ser considerada a primeira tentativa de explicação para a origem da vida. Para Anaximandro (611-546), discípulo de Tales de Mileto e o primeiro cartógrafo grego, o infinito e o indeterminado seriam a origem de todas as coisas. Em outras Aspectos Filosóficos Socioantropológicos da Educação16 palavras, o ilimitado seria uma reserva infinita de material, que se estende em todas as direções. Dele surge o mundo e a ele retornará no final. Anaxímenes (586-525) admite que o ar, em função de sua grande mobilidade na natureza, seria o princípio de todas as coisas. As diferentes formas de matéria que encontramos à nossa volta surgem do ar, por meio de processos de condensação e rarefação. Para ele, o ar é a substância de que é feita a alma e, assim, mantém os seres vivos e o mundo. Contudo, Heráclito (535-470) problematiza essa questão ao afirmar que “tudo se move, nada permanece imóvel e fixo, tudo muda”. Esse elemento expressa de modo exemplar as características de mudança contínua, que ocorre no mundo físico. Enquanto outros filósofos procuravam explicações científicas para a natureza física do cosmos, Heráclito o entendia como governado por um logos divino, às vezes interpretado como “razão” ou “argumento”. O filósofo em questão considerava o logos uma lei universal, cósmica, que de acordo com a qual todas as coisas começam a existir e todos os elementos materiais do universo são mantidos em equilíbrio. Heráclito ainda sugeriu que o equilíbrio dos opostos – dia e noite, quente e frio, por exemplo – levava à unidade do universo. Tudo seria parte de um único e fundamental processo ou substância – o princípio central do monismo. Por outro lado, ele afirmou que uma tensão é constantemente gerada entre esses pares de opostos, de forma que tudo está em permanente estado de fluxo e mudança. E finalmente temos Demócrito (460-370) e Leucipo (início do século V a.C.), que desenvolveram a teoria dos átomos para explicar a composição de todas as coisas, ou seja, que tudo era composto de partículas minúsculas, indivisíveis e imutáveis. Eles afirmaram que um espaço vazio separa os Aspectos Filosóficos Socioantropológicos da Educação 17 átomos, permitindolhes que se movam livremente. Ao se movimentarem, os átomos podem colidir uns com os outros, formando assim novas composições de átomos. Conhecida como atomismo, a teoria concebida por Demócrito e Leucipo ofereceu a primeira visão mecanicista completa do universo, sem qualquer recurso à noção de um ou mais deuses. Ela também identificou propriedades fundamentais da matéria, que se provaram importantes para o desenvolvimento das ciências físicas – particularmente a partir do século XVIII – até as teorias atômicas que revolucionaram a ciência no século XX. A vitória de Atenas sobre os persas, em 479 a.C.,marca também a consolidação da democracia na cidade. Dentre os novos valores que surgem está o da educação. Trata-se de formar cidadãos aptos à vida pública. Para tanto, exige-se deles que sejam excelentes oradores e que saibam argumentar em público. Dessa educação encarregam-se os sofistas (sábios), cuja característica era a reflexão sobre o homem e sua vida em sociedade. Os principais temas que emergiram dessa relação foram: a ética, a política, a arte, a religião, a retórica, a educação, ou seja, tudo aquilo que compõe o que chamamos de cultura. Por outro lado, os sofistas não se preocupavam com o que uma argumentação, pode ter de justo ou injusto, moral ou imoral. Basta-lhes que seus discípulos aprendam a falar – não importa o quê, mas bem, de modo convincente – e que os remunerem pelo ensino. Se os sofistas não se preocupam com o conteúdo de um argumento, é porque compartilham com os atenienses a experiência da democracia, em que o mundo humano aparece como uma criação do próprio homem. Nesse mundo não há um único princípio que a tudo comande, mas apenas convenções em que os homens estabelecem para depois abandonar. Os valores e as verdades são instáveis e relativos. Aspectos Filosóficos Socioantropológicos da Educação18 A própria linguagem, essa capacidade essencialmente humana, também não passa de convenção, sem poderes para expressar a verdade, a não ser verdades relativas de cada um. O estabelecimento da democracia grega coincide com o aparecimento dos sofistas, que ensinavam tudo a qualquer um que desejasse, especialmente no que se refere ao homem que quisesse obter ensinamentos a fim de obter êxito nas assembleias. A demanda intelectual desse contexto histórico não admitia mais a superioridade intelectual restrita aos aristocratas. A concepção de virtude (areté) não poderia ser mais considerada algo transmitido de pai para filho. “A construção de uma concepção de virtude como aprendizado se fortalecia e necessitava de professores que acreditassem nessa possibilidade. os sofistas eram esses homens” (FRANKLIN & PINHEIRO, 2014, p. 22). Porém, os sofistas foram muito criticados, é o que veremos a seguir. Crítica aos Sofistas De acordo com Franklin e Pinheiro (2014), há 4 questões principais que resumem as críticas aos sofistas. A primeira questão referia-se à concepção do saber como tal. Tornou-se consenso, para os sofistas, que tudo poderia ser ensinado, desde a virtude até a arte da política. Devido a isso, suas maiores preocupações debruçavam-se na arte pedagógica, ou seja, como levar o outro ao saber. São claros seus impactos pedagógicos, pois todo professor necessita de alunos e para a satisfação de seus alunos era necessário delegar-lhes o que mais desejavam, ou seja, a sabedoria prática. A segunda questão choca-se com os princípios morais aristocráticos. Os sofistas geralmente eram estrangeiros Aspectos Filosóficos Socioantropológicos da Educação 19 e exigiam remuneração por seus ensinamentos. Eles preenchiam uma lacuna deixada pela forma aristocrática de ver o ensino. Os sofistas não tinham posses e, por isso, cobravam pelos ensinamentos, tornando a venda do saber uma profissão: a profissão do mestre e do professor. A terceira questão se relacionava ao apego à sociedade. Sendo os sofistas professores itinerantes, nômades, não poderiam respeitar os limites da cidade-estado (polis), o paradigma do Estado-Ideal, segundo Platão e Aristóteles. Aos olhos modernos, os sofistas superaram seus opositores, pois alargaram as dimensões das cidades, transportando ideias e costumes para além de seus limites, tornando-se assim homens do mundo (panhelênicos). A quarta questão para discussão dizia respeito à liberdade de espírito em relação à tradição e às normas estabelecidas pela cidade. Os sofistas tinham uma inabalável confiança na capacidade e habilidade do homem em compreender todos os tipos de inovações e situações. Conceito de Filosofia “Amigo da sabedoria”: eis a definição da palavra Filosofia, constituída do termo filon, que equivale a amigo, e do termo sofia, que equivale à sabedoria. A Filosofia não é apenas atividade de pensadores brilhantes e excêntricos como popularmente se pensa. Filosofia é o que todos fazemos, quando estamos livres de nossas atividades cotidianas e temos uma chance de nos perguntar o que é a vida, o universo, a morte, o amor, a tristeza e todos os infindáveis temas que intrigam a humanidade. Nós, humanos, somos criaturas naturalmente curiosas e não conseguimos deixar de fazer perguntas sobre o mundo à nossa volta e o nosso lugar nele. Também somos dotados de uma capacidade intelectual, que nos permite tanto Aspectos Filosóficos Socioantropológicos da Educação20 raciocinar quanto divagar, atributos importantes para a prática do pensamento filosófico. Chegar às respostas para as questões fundamentais é menos determinante para a Filosofia do que o próprio processo de busca dessas respostas pelo uso da razão, em vez de aceitar sem questionamentos as visões convencionais ou a autoridade tradicional. A Filosofia, como aponta Thomas Nagel, é diferente da ciência e da matemática. Ao contrário da ciência, ela não se apoia em experimentos ou na observação, mas apenas na reflexão. E, ao contrário da matemática, não dispõe de nenhum método formal de verificação. “Ela se faz pela simples indagação e arguição, ensaiando ideias e imaginando possíveis argumentos contra elas, perguntando-nos até que ponto nossos conceitos de fato funcionam” (NAGEL, 2001, p. 2). A principal ocupação da Filosofia da Filosofia é questionar e entender ideias muito comuns, que todos nós usamos no dia a dia sem nem sequer refletir sobre elas. O historiador perguntará o que aconteceu em determinado tempo do passado, enquanto o filósofo indagará: “o que é o tempo”? O matemático investigará as relações entre os números, ao passo que o filósofo perguntará: “o que é um número”? O psicólogo talvez pesquise como a criança aprende a linguagem, mas a indagação do filósofo será: “o que dá sentido a uma palavra?” (NAGEL, 2001, p. 3). Compreender filosoficamente a realidade é compreender, como as pessoas se constituem em grupos, em comunidades, em sociedades e como organizam suas ideias. Na história do pensamento que a humanidade vem construindo ao longo do tempo, muitos foram os pensadores e pesquisadores que deram uma definição ou um Aspectos Filosóficos Socioantropológicos da Educação 21 conceito para a Filosofia. Por vezes, esses conceitos foram complexos, por vezes simples; por vezes rebuscados e quase incompreensíveis. Mas de maneira geral, como argumenta Cipriano Luckesi, “a Filosofia é um corpo de conhecimento, constituído a partir de um esforço, que o ser humano vem fazendo de compreender o seu mundo e dar-lhe um sentido, um significado compreensível” (1993, p.22). Corpo de conhecimentos, em Filosofia, significa um conjunto coerente e organizado de entendimentos sobre a realidade. A leitura de um texto de Filosofia nos proporciona o entendimento dos valores e sentidos, que seu autor desenvolve a partir do contexto que o cerca. O ato de filosofar permite, assim, a sistematização dos desejos e aspirações dos seres humanos, bem como o sentido para a relação com as pessoas, o amor, a amizade, o mundo do trabalho, a ciência, a educação, a política, a cultura, entre outros. Dito de outro modo, a Filosofia pode ser compreendida como um campo de construção de ideias/concepções, que permite a reflexão de assuntos do cotidiano (como as relações entre as pessoas) até as questões políticas de uma nação. Para além de uma mera atividade abstracionista ou idealista, a Filosofia oferece um direcionamento para as ações dos sujeitos, ou seja, um rumo para ser seguido. Ela estabelece, como afirma Luckesi, um quadro organizado e coerente de “visão de mundo” sustentando, consequentemente, uma proposição organizada para o agir (LUCKESI, 1993, p. 23). As finalidades das açõestomadas por todos nós são aquelas que configuram um sentido para a existência, em suas mais variadas dimensões. É interessante notar que a Filosofia dos gregos revela, como aponta Russel, a influência de certo número de dualismos para compreender o mundo (verdade x falsidade, certo x errado, justo x injusto, bem x mal, bom x ruim, harmonia x discórdia Aspectos Filosóficos Socioantropológicos da Educação22 RESUMINDO etc.). O pensamento ocidental, portanto, tem em sua base o dualismo como maneira de perceber e interpretar o mundo e seus fenômenos. Sob uma ou outra forma, esses continuaram sendo tópicos sobre os quais os filósofos escrevem e discutem. “Por conseguinte, vem o dualismo da aparência e da realidade, muito vivo nos dias de hoje” (RUSSEL, 2013, p. 21). Junto com eles temos as questões da mente e da matéria, da liberdade e da necessidade, além de existirem as questões cosmológicas, que se referem a perguntas como: se as coisas são uma ou muitas; simples ou complexas e, finalmente, os dualismos do caos e da ordem, do ilimitado e do limite. Neste capítulo, abordamos o conceito da Filosofia e estabelecemos relação com as suas origens, além de estudarmos as principais críticas aos sofistas. Aspectos Filosóficos Socioantropológicos da Educação 23 Sócrates, Platão, Aristóteles e seus Lugares na História da Filosofia Ao final do estudo deste capítulo, você será capaz de reconhecer as bases teóricas que fundamentam a história da Filosofia da Educação a partir dos estudos de Sócrates, Platão e Aristóteles. Sócrates As três maiores figuras da Filosofia grega estão ligadas a Atenas. Sócrates e Platão eram atenienses de nascimento e Aristóteles ali estudou e mais tarde ensinou. Sócrates (469- 399 a.C.) nasceu em Atenas e foi condenado por “impiedade”, ou seja, sua condenação foi baseada em acusações de não crer nos deuses da polis e corromper os jovens. Esse filósofo viveu o apogeu e a crise da democracia ateniense. Atenas, após a vitória sobre os persas, havia se tornado uma grande potência, estendendo sua influência por quase toda a Grécia (ABRÃO, 1999, p. 41). A vida cultural é intensa, com grandes escultores e artistas, dramaturgos como Ésquilo, historiadores (Heródoto e Tucídides), o médico Hipócrates e os homens públicos como Péricles. Contudo, a hegemonia de Atenas fez crescer rivalidades com Esparta, as quais culminariam na Guerra do Peloponeso em 431 a.C. O conflito durou décadas, findando em 404 a.C. com a derrota de Atenas. O regime democrático ateniense se enfraqueceu em função de intrigas, conspiração e corrupção. OBJETIVO Aspectos Filosóficos Socioantropológicos da Educação24 DEFINIÇÃO A crise de valores políticos e morais é muito significativa nesse contexto histórico de forma que a condenação de Sócrates, em 399 a.C., é uma “triste metáfora da decadência da democracia e da própria Atenas” (ABRÃO, 1999, p. 42). Encontramos em Sócrates um precursor das escolas estoica e cínica do período posterior da Filosofia grega. Com os cínicos, compartilha a sua própria despreocupação para com os bens terrenos e com os estoicos, o seu interesse pela virtude como o maior dos bens. Sabe-se que realizou seu ensino em locais públicos e era considerado um orador leigo. Como ele não deixou nada escrito, precisamos confiar nos escritos de dois de seus discípulos: o general Xenofonte e o Platão. O principal interesse de Sócrates, como mostra os diálogos de Platão, incide na busca e definição de termos éticos, como sabedoria, beleza, moderação, amizade, justiça e coragem. É interessante perceber que não nos são dadas respostas definitivas a tais questões, mas nos é mostrada a importância de fazê-las (RUSSEL, 2013, p. 77). Terminologia ou expressões comumente ligadas ao filósofo: daimon (voz divina particular), maiêutica socrática, “conhece-te a ti mesmo”, alma (psyché), felicidade (eudaimonia). O método de ensino socrático ficou conhecido como maiêutica, que significa “parto do conhecimento”, em que o aprendiz desenvolvia raciocínios dedutivos até gerar o conhecimento. A ação de Sócrates era induzir ao desvelar o que o aluno já tinha em sua alma (psyché), por meio de um rigoroso questionamento. Aspectos Filosóficos Socioantropológicos da Educação 25 Isto ressalta a linha fundamental do pensamento socrático. Embora ele sempre diga que nada sabe (“só sei que nada sei”), não considera que o conhecimento esteja além do nosso alcance. O importante é o dever de tentar a busca do saber. Sócrates sustenta que o que faz o homem errar é a falta de conhecimento pois, se soubesse, não erraria. A causa dominante do mal seria a ignorância de modo que, para se alcançar o Bem e o conhecimento, precisamos possuir conhecimento. O vínculo entre o Bem e o conhecimento é um marco presente em todo pensamento grego. É interessante notar que a ética cristã se opõe a esse pensamento. Para ela, o importante é o sujeito possuir um coração puro, e isto provavelmente se encontra com mais facilidade entre os ignorantes (RUSSEL, 2013, p. 77). Sócrates tentou esclarecer os problemas éticos por meio da discussão. Esse modo de descobrir as coisas mediante perguntas e respostas é chamado de dialética, da qual Sócrates foi um mestre. Para Sócrates, conhecer a virtude tornou-se o principal objetivo do verdadeiro conhecimento, de tal forma que virtude e conhecimento tornam-se sinônimos. Com Sócrates, as questões morais deixam de ser tratadas como convenções baseadas nos costumes, as quais se modificam conforme as circunstâncias e os interesses, para se tornar problemas que exigem do pensamento uma elucidação racional. Nesse sentido, ele é fundador da Ética. Pensar racionalmente as questões morais implica denunciar tudo aquilo que aparece como virtude, desmascarando-o na sua falsidade. Com isso, SAIBA MAIS Aspectos Filosóficos Socioantropológicos da Educação26 SAIBA MAIS Ética Definição Origem Por que seguimos Flexibilidade Exceções Significado Exemplo Moral A ética é o estudo e a reflexão sobre a moral, das regras de conduta aplicadas a alguma organização ou sociedade. Individual Porque acreditamos que algo é certo ou errado. A ética é normalmente consistente, embora possa mudar caso as crenças de um indivíduo mudem ou dependendo de determinada situação. Uma pessoa poderá ir contra sua ética para se ajustar a um determinado princípio moral, como o código de conduta de sua profissão. Ética vem da palavra grega «ethos” que significa conduta, modo de ser. João teve uma atitude antiética ao furar a fila do banco. A moral se refere às regras de conduta que são aplicadas a determinado grupo e cultura. Sociedade Porque a sociedade nos diz o que é certo ou errado. A moral tende a ser consistente dentro de um determinado contexto, sendo aplicado da mesma forma a todos. Porém, pode variar de acordo com cada cultura ou grupo. Uma pessoa que segue rigorosamente os princípios morais de uma sociedade pode não ter nenhuma ética. Da mesma forma, para manter sua integridade ética, pode violar os princípios morais dentro de um determinado sistema de regras. Tem origem na palavra latina “moralis”, que significa “costume”. No Brasil é imoral ter mais de uma esposa, enquanto em alguns países, como a Nigéria, é moralmente aceito. Fonte: https://www.diferenca.com/etica-e-moral/ Sócrates põe o dedo na ferida da própria Atenas, que havia mergulhado em corrupções e fingia ser justa. Principal diferença entre moral e ética. Aspectos Filosóficos Socioantropológicos da Educação 27 Sócrates simplesmente questiona, não ensina nem quer aprender. Seu pensamento parece desprovido de conteúdo direto. Mesmo assim, ele propõe algo ao desestruturar as respostas fáceis de seus interlocutores, mostrando que o pensamento deve ser prudente. Se as respostas são formuladas de modo fácil é porque a pergunta não foi bem elaborada. Portanto, o que Sócrates propõe é formular perguntas adequadas, isto é, ummétodo de investigação que encaminhe o pensamento em direção à essência das coisas, sem desvios. Quando se indaga se o exercício militar torna um homem corajoso, as possíveis respostas sempre giram em torno das vantagens e das desvantagens que esse treinamento oferece, sem alcançar o verdadeiro problema: o que é a coragem. Discutem-se os meios (o exercício militar) para atingir os próprios fins (a coragem), em vez de examinar os próprios fins. Sócrates, porém, não apresenta diretamente à questão “o que é...” ao seu interlocutor. Primeiro ouve a resposta e apresenta objeções aos argumentos dos outros. É como se os pensamentos tivessem de experimentar outras possibilidades antes de adentrar ao campo certo do conhecimento. O diálogo, ou a dialética, cumpre essa função de “experimentação”. O pensamento sempre necessita de um interlocutor, com quem possa discutir e o verdadeiro conhecimento nasce desse diálogo; “não é transmissível do mestre ao aluno, mas arrancado do interior de uma discussão – um verdadeiro trabalho de parto (a maiêutica)” (ABRÃO, 1999, p. 44). EXEMPLO Aspectos Filosóficos Socioantropológicos da Educação28 Platão Figura 1: Busto de Platão Fonte: @pixabay Mais de dois mil anos já se passaram desde o dia em que Platão (428-347 a.C.) ocupava o centro do pensamento filosófico da Grécia e em que todos os olhares convergiam para a fundação de sua escola, conhecida como Academia. Nascido numa família nobre em Atenas, foi batizado como Arístocles, mas ganhou o codinome de Platão, que significa “amplo”. Quando jovem, Platão começou a estudar com Crátilo, Heráclito e, por fim, Sócrates, sendo que seu objetivo era se preparar para a vida política por meio da Filosofia. Aspectos Filosóficos Socioantropológicos da Educação 29 SAIBA MAIS A organização da Academia seguia o modelo das escolas pitagóricas do sul da Itália, com as quais Platão mantivera contato durante as suas viagens. A Academia é precursora das universidades que se desenvolveram a partir da Idade Média. Como escola, sobreviveu por mais de novecentos anos, período mais longo do que o de qualquer outra instituição antes ou depois. Em 529 d.C., foi definitivamente fechada pelo imperador Justiniano, cujos princípios cristãos se sentiam ofendidos por esta sobrevivência das tradições clássicas. Os estudos acadêmicos eram ministrados mais paralelamente às matérias tradicionais das escolas pitagóricas: aritmética, geometria plana e espacial, astronomia e som ou harmonia constituíam a base do currículo. Todas as matérias seguiam o método dialético. Num sentido bastante real, este continua sendo o objetivo genuíno da educação, até mesmo nos dias de hoje. Não é função de uma universidade mostrar aos estudantes o maior número possível de fatos. Sua verdadeira tarefa é ensinar hábitos de exame crítico, bem como a compreensão de cânones e critérios referentes às matérias. Com o ensino propiciado na Academia platônica, o movimento sofista declinou rapidamente (RUSSEL, 22013, p. 81-82). Ainda hoje, definem-se as propriedades e características de uma corrente filosófica, seja ela qual for, pela sua relação com o platonismo. Todos os séculos da Antiguidade que se seguiram a este filósofo, ostentam na sua epistemologia traços da Filosofia platônica, especialmente o mundo greco-romano que se unificou sob a universal Filosofia do neoplatonismo. Platão, o mais importante propagador e continuador da obra de Sócrates, é quem dá à Filosofia a sua primeira Aspectos Filosóficos Socioantropológicos da Educação30 sistematização. Todavia, Platão nunca escreveu um livro- texto (seus escritos estão na forma de diálogos) e sempre se recusou a estabelecer a sua Filosofia como sistema. Parece ter percebido que o mundo, no todo, é complexo demais para ser comprimido num molde literário ou filosófico preconcebido. Seus principais diálogos são: ■ 399-387 a.C. Apologia, Críton, Górgias, Hípias maior, Mênon, Protágoras (primeiros diálogos); ■ 380-360 a.C. Fédon, Fedro, A República, O banquete (diálogos intermediários); ■ 360-355 a.C. Parmênides, Sofista, Teeteto (diálogos finais). Desde as investigações dos filósofos pioneiros, sobre o princípio do mundo, ou as exigências lógicas de Parmênidas e Zenão, e os impasses a respeito da pluralidade das coisas, até as questões sobre os valores humanos (formuladas, por um lado, pelos sofistas e, de outro, por Sócrates), passando pelos rigorosos estudos matemáticos dos pitagóricos, todos esses aspectos, que constituíram os temas do pensamento ocidental, encontramse não apenas sintetizados, mas também colocados em novos termos por Platão. (ABRÃO, 1999, p. 46). A cultura antiga, que posteriormente a religião cristã assimilou na Idade Média, era uma cultura inteiramente baseada no pensamento platônico. É só a partir dela que se pode compreender uma figura como Santo Agostinho, que traçou a fronteira histórico- filosófica da concepção medieval do mundo, por meio da sua Cidade de Deus, tradução cristã da República de Platão. Em 399 a.C., o mentor de Platão, Sócrates, foi condenado à morte. Como Sócrates não havia deixado nada escrito, Platão assumiu a responsabilidade de preservar para a posterioridade o que tinha aprendido com o mestre. Primeiro na Apologia, relato Aspectos Filosóficos Socioantropológicos da Educação 31 sobre a defesa de Sócrates em seu julgamento, e depois ao usá- lo como personagem de uma série de diálogos. Nesses diálogos, às vezes é difícil distinguir quais pensamentos são de Sócrates e quais ideias partiram do discípulo. No entanto, evidencia-se um retrato de Platão usando os métodos do mestre, especialmente a dialética, para explorar e explicar suas próprias concepções. A República é provavelmente o mais famoso dos diálogos de Platão. A construção de um Estado ideal deu nome ao diálogo. Num primeiro momento, Platão tinha como preocupação buscar definições de valores morais como “justiça” e “virtude”. A Filosofia platônica recusa a solução dos sofistas para os quais a justiça e a injustiça não passam de convenções. Sócrates já havia apontado um caminho diferente: uma e outra confundem-se porque os homens não sabem verdadeiramente o que é a justiça, isto é, não conhecem a sua essência. Ao contrário, permanecem no nível das aparências, constituindo o mundo dos sentidos, o mundo sensível, em que tudo é instável e variável, de acordo com as circunstâncias e os pontos de vista. Vejamos a seguir como Platão desenvolve a noção de justiça: Principiemos com o primeiro tópico indicado por mim, a saber, o que é a justiça e qual é a sua origem. Dizem que cometer injustiça é naturalmente bom e sofrê-la é naturalmente mau, mas que o mal de sofrer injustiça excede a tal ponto o bem de cometê-la que aqueles a cometeram e sofreram, tendo experimentado as duas posições, quando [afinal] lhes falta a capacidade de cometê-la e de se esquivarem de sofrê-la, decidem ser vantajoso estabelecer um acordo mútuo e comum de não a cometer nem a sofrer. O resultado é passarem a produzir leis e contratos e o que a lei determina classificam como justo e lícito. Isso, de acordo com eles, constitui a origem e a essência da justiça. É o meio-termo entre o melhor e o pior: o melhor Aspectos Filosóficos Socioantropológicos da Educação32 é perpetrar injustiça sem ser punido por isso, o pior é sofrê-la sem ser capaz de vingar-se. A justiça é um ponto mediano desses dois extremos. As pessoas a estimam não como um bem, mas porque são demasiado fracas para cometer injustiça com impunidade. Aquele, todavia, que possui o poder de cometê-la e é um homem autêntico, não faria acordo algum com ninguém para não fazer injustiça a fim de não a sofrer. Para ele isto seria loucura. Conforme tal teoria, Sócrates, eis aí a natureza da justiça e sua origem. (PLATÃO, 2006, p. 89) Para Platão, a justiça reina quando cada um cuida da própria vida. Cada indivíduo realiza o trabalho que lhe compete, sem se imiscuir nosassuntos alheios. Nesse sentido, o sistema político funciona tranquila e eficientemente. A justiça, nesse sentido grego, está vinculada à noção de harmonia, o sereno funcionamento do todo por meio da adequada função de cada parte (RUSSEL, 2013, p. 94). O raciocínio levou Platão a uma única conclusão: deve haver um mundo de ideias, ou formas, totalmente separado do mundo material. Ele concluiu que os sentidos humanos não conseguem perceber tal lugar, pois só nos é perceptível pela razão. Platão foi mais além ao afirmar, que o reino de ideias é de fato a “realidade”, e o mundo que nos cerca é moldado por essa outra realidade. Para ilustrar esse pensamento, que num primeiro momento pode ser confuso, Platão apresentou o que se tornaria conhecido como a “teoria da caverna”. Ele nos convidou a imaginar uma caverna escura, na qual as pessoas estão aprisionadas desde o nascimento, amarradas e observando fixamente a parede ao fundo. Elas só podem olhar para frente, nunca para os lados. Atrás dos prisioneiros há uma chama brilhante que lança sombras na parede para a qual eles olham. Aspectos Filosóficos Socioantropológicos da Educação 33 Há também uma plataforma entre o fogo e os prisioneiros, na qual pessoas andam e exibem vários objetos de tempos em tempos, de modo que as sombras desses objetos são lançadas na parede. Tais sombras são tudo o que os prisioneiros conhecem do mundo, e eles não têm noção alguma sobre os objetos reais. Se um prisioneiro conseguir se desamarrar e se virar, verá ele mesmo os objetos. Mas, depois de uma vida de confinamento, ele provavelmente ficará muito confuso e talvez fascinado pelo fogo, e muito provavelmente se voltará de novo para a parede, a única realidade apresentada a ele desde o nascimento. Platão discorre que tudo que nossos sentidos apreendem no mundo material não passa de imagens na parede da caverna, ou seja, são simples sombras da realidade. Essa crença é a base de sua teoria das formas: para cada coisa na terra que temos o poder de apreender com nossos sentidos, há uma correspondente “forma”(ou “ideia”) – uma eterna e perfeita realidade daquele objeto – no mundo das ideias. Como o que apreendemos pelos sentidos é baseado em uma experiência de “sombras” imperfeitas ou incompletas da realidade, não podemos ter um conhecimento real das coisas. No máximo, podemos ter opiniões, mas conhecimento genuíno só pode vir do estudo das ideias, e isso só pode ser alcançado pela razão. Essa separação em dois mundos distintos – um, da aparência, e outro, do que Platão considerou como realidade de fato – solucionou o problema da busca de constantes num mundo aparentemente em transformação. O mundo material pode estar sujeito à mudança, mas o mundo das ideias de Platão é eterno e imutável. Aspectos Filosóficos Socioantropológicos da Educação34 Aristóteles Figura 2: Stanza della Segnatura, de Rafael Sanzio. Em relação às figuras centrais, Platão está à esquerda e Aristóteles à direita. Fonte: @pixabay Aristóteles nasceu em 384 a.C. na cidade de Estagira, na Calcídica, que se encontrava sob a dependência da Macedônia. Mas sua relação com este reino – que logo mais seria um grande império, subjugando a Grécia e, depois, a Pérsia – não se limita ao local de nascimento. Nicômaco, seu pai, era médico da corte de Filipe, rei da Macedônia. O filho deste, o célebre Alexandre Magno, teve o próprio Aristóteles como preceptor, entre 343 e 340 a.C. (ABRÃO, 1999, p. 53). Aspectos Filosóficos Socioantropológicos da Educação 35 SAIBA MAIS Aristóteles tem na história da Filosofia uma influência decisiva. No período final da Idade Média, a versão cristã de seu pensamento torna-se praticamente a doutrina oficial da Igreja. A ciência moderna que nasce no Renascimento desenvolvese em meio ao acirrado combate contra o aristotelismo (ou às imagens que se criaram a seu respeito). Pensadores como Kant, Hegel, Marx fazem de Aristóteles uma fonte de inspiração, e até hoje se discutem as questões lógicas por ele propostas. Tamanha influência presta-se a equívocos: muitos, simplificadamente, opõem Aristóteles a seu mestre Platão, e outros ainda continuam a considerá-lo grande inimigo do desenvolvimento científico, ignorando as marcas que ele deixou na ciência. Aristóteles tinha apenas dezessete anos quando chegou a Atenas para estudar na Academia de Platão, que na época, com sessenta anos, já tinha desenvolvido suas teorias. Estudioso e comprometido com os ensinamentos da Academia, Aristóteles tinha um temperamento muito diferente se comparado com Platão. Se Platão era brilhante e intuitivo, Aristóteles era erudito e metódico. Contudo, havia um respeito mútuo e Aristóteles permaneceu na Academia, como aluno e posteriormente professor, até a morte de Platão, vinte anos depois. Aristóteles escreveu uma série de trabalhos definitivos, com grande preocupação literária e em forma de diálogos, da mesma forma que Platão. Essa informação só foi possível pelas citações feitas por autores posteriores, como Cícero, Plutarco, Diógenes, Laércio, entre outros. O que temos da vasta obra aristotélica limita-se praticamente a notas, que o Aspectos Filosóficos Socioantropológicos da Educação36 filósofo preparava para seus ensinamentos no Liceu. Como tais, tinham caráter resumido, apenas indicativo e muitas vezes só compreensíveis para o próprio autor. As principais obras de Aristóteles são: ■ Ética a Nicômano; ■ Política; ■ Órganon; ■ Retórica das paixões; ■ A poética clássica; ■ Metafísica; ■ De anima (da alma); ■ O homem de gênio e a melancolia; ■ Magna moralia (Grande Moral); ■ Ética a Eudemo; ■ Física; ■ Sobre o céu. Por se dedicar ao estudo dos seres vivos e de tudo o que a natureza contém, Aristóteles não desprezou a observação das coisas que se apresentam aos sentidos. Logo, procura integrar a percepção do mundo sensível ao conhecimento científico e filosófico. Mas isso não significa que ele tenha se submetido ao mundo sensível e às suas variações e incertezas. Os sentidos que captam as coisas individuais consistem o ponto de partida: a percepção dessas coisas produz, no intelecto, imagens a elas correspondentes. A atividade do intelecto consiste em separar dessas imagens os aspectos acidentais, como o tamanho e a cor, para ficar com o que lhes é comum e essencial. A percepção do mundo sensível mostra que tudo se transforma continuamente. Para dar conta disso, Aristóteles Aspectos Filosóficos Socioantropológicos da Educação 37 elabora noções de ato (energeia) e de potência (dynamis). O ato refere-se ao estado atual do ser, como existe aqui e agora. A potência, por outro lado, indica aquilo em que este ser se transforma, sem, no entanto, deixar de sê-lo. Por exemplo: a semente de uma árvore, enquanto ato, é semente, mas como potência é a árvore que dela vai germinar. As mudanças e o movimento são o modo como as potencialidades do ser vão se atualizando, passando da potência ao ato (ABRÃO, 1999, p. 56). Como Platão, Aristóteles preocupou-se em encontrar algum fundamento imutável e eterno num mundo caracterizado pela mudança. Mas concluiu que não há necessidade de procurar por esse lastro num mundo de formas perceptíveis apenas à alma. A evidência principal estaria aqui, no mundo à nossa volta, perceptível pelos sentidos. Aristóteles acreditava que as coisas no mundo material não são cópias imperfeitas de alguma forma ideal de si mesmas, mas que a forma essencial de uma coisa é, na verdade, inerente a cada exemplo dessa coisa. Por exemplo, “o aspecto canino” não é apenas uma característica compartilhada pelos cães – é algo inerente a todo e qualquer cão. Ao estudar coisas particulares, portanto, conseguimos alcançar um pensamento sobre sua natureza universal e imutável (ATKINSON, 2012, p. 59-60). Da mesma forma que Platão, Aristóteles tem um pensamento sistematizado em relação à cidade (a polis grega), mas analisa a articulação do homem com a cidade de maneira diferente.O centro do seu parecer está na felicidade (eudaimonia) como eixo central das relações virtuosas, permeando todo o agir humano. Isto significa dizer que Aristóteles considera que todas as ações humanas são motivadas pelo desejo de felicidade. Do corpus aristotelicum, a Ética a Nicômaco é o mais importante dos textos sobre o problema ético na produção de Aristóteles, conjuntamente com a Ética a Eudemo, os Magna moralia e um pequeno tratado chamado Sobre as virtudes e vícios. Aspectos Filosóficos Socioantropológicos da Educação38 IMPORTANTE A análise do problema ético em Aristóteles depende de uma caracterização nos traços essenciais do seu horizonte específico: o horizonte prático. Se a Filosofia na sua dimensão teórica visa à constituição de uma situação que permita contemplar a verdade, na sua dimensão prática, contudo, a Filosofia tende a expressarse no agir. A virtude é um conceito fundamental na Ética de Aristóteles. A virtude é entendida pelo filósofo como meiotermo, ou ponto intermediário entre dois extremos ou dois vícios. Cultivar ações justas e controlar os apetites e impulsos é, ao mesmo tempo, treinar nosso modo da melhor forma possível. A razão vai impor o justo-meio entre qualquer dos dois extremos (excesso ou seu contrário). O justo-meio não aparece em Aristóteles como uma ação medíocre (média), mas sim como o ponto alto de uma ação deliberada e comandada apenas pela razão. A vitória da razão sobre os instintos é inevitável no mesmo modo deliberativo de viver. É ainda neste diálogo que Aristóteles disserta sobre a conduta humana e sua busca pela felicidade. Isto é, a conduta do homem está baseada nisso que entendemos por felicidade, mas a natureza da felicidade é o caminho para tentarmos compreender como Aristóteles poderia sugerir as regras do bem agir. Em se tratando da felicidade, a seguir apresentamos o trecho IV do Livro I do tratado Ética a Nicômaco: Retomando, procuremos compreender, agora – uma vez que todo o saber toda a intenção tem um bem Aspectos Filosóficos Socioantropológicos da Educação 39 por que anseiam – o que dissemos sobre a perícia política e o que ela visa atingir sobre qual será o mais extremo dos bens susceptível de ser obtido pela ação humana. Quanto ao nome desse bem, parece haver acordo entre a maioria dos homens. Tanto a maioria quanto os mais sofisticados dizem ser a felicidade, porque supõem que ser feliz é o mesmo que viver bem e passar bem. Contudo, acerca do que possa ser a felicidade estão em desacordo e a maioria não compreende o seu sentido do mesmo modo que o compreendem os sábios. Para uns é alguma daquelas coisas óbvias e manifestamente boas, como o prazer, a riqueza ou a honra; para uns é uma coisa, para outros, outra - muitas vezes até para o mesmo podem ser coisas diferentes. Para quem está doente é a saúde, para quem é pobre, a riqueza. (ARISTÓTELES, 2009, p. 20) Por conseguinte, para Aristóteles, é possível viver feliz na medida em que a pessoa cultive a honra, o prazer e o intelecto. O filósofo entende que a razão é um dos elementos que constitui as capacidades do homem, mas ela não é a única. A alma humana pode sofrer alguma interferência da faculdade do desejo ou do apetite, por isso não podemos considerá-la absolutamente racional. Diante da possibilidade dessa interferência, a virtude ética surge como domínio dessa parte da alma que não é racional. Sua redução aos limites da razão, segundo as explicações de Karen Franklin e Celso Pinheiro, passa a ser o grande trabalho da formação do indivíduo. “Essa virtude ética se adquire com a repetição de certas ações até que se estabeleçam como hábito” (FRANKLIN & PINHEIRO, 2014, p. 39). Aspectos Filosóficos Socioantropológicos da Educação40 IMPORTANTE A dialética segundo Platão e Aristóteles No platonismo, a dialética é um processo de diálogo que se baseia no debate entre interlocutores comprometidos com a busca da verdade. Nesse debate, a alma (psyché) se eleva, gradativamente, das aparências sensíveis às realidades inteligíveis ou ideias. No aristotelismo, a dialética se constitui pelo raciocínio lógico que, apesar de coerente em seu encadeamento interno, está ancorado em ideias apenas prováveis, e por esta razão traz em seu cerne a possibilidade de ser refutado. RESUMINDO Apesar das grandes diferenças, Aristóteles e Platão se aproximam pela similaridade de suas preocupações com o ser e com o proceder do homem. É relevante assinalar como o pensamento de todos os filósofos gregos influencia o pensamento posterior. Sócrates, Platão e Aristóteles vivem em um período histórico de decadência do Estado Grego, apesar de serem os principais pensadores da polis como cidade-estado. “Suas considerações sobre educação, cidadania, virtude e conhecimento foram fundamentais para a construção da relação entre Filosofia e Educação desde sua origem” (FRANKLIN & PINHEIRO, 2014, p. 41). Aspectos Filosóficos Socioantropológicos da Educação 41 Conhecimento Mítico e Conhecimento Filosófico OBJETIVO Ao final do estudo deste capítulo, você será capaz de identificar a diferença entre conhecimento mítico e conhecimento filosófico, destacando suas principais características. O que é o mito? “Sei bem o que é, desde que ninguém me pergunte; mas quando me pedem uma definição, fico perplexo”. Assim escreveu Santo Agostinho em suas Confissões, abraçando a difícil causa de apreender essa categoria esquiva chamada tempo e descrevendo a aflição a dar uma definição do mito (apud RUTHVEN, 1997, p. 13). Os mitos têm uma qualidade que Wallace Stevens atribui à poesia: conseguem resistir à inteligência. Por isso eles atraem os sistematizadores. Estes nos “tranquilizam, afirmando que o mito nada mais é que ciência primitiva, ou história, ou personificação de fantasias do inconsciente” (apud RUTHVEN, 1997, p. 13-14). Os mitos são, evidentemente, uma série de histórias criadas pelos seres humanos. Mas essas histórias foram, durante longos séculos, motivo de crença e fé. Elas tiveram, no espírito dos gregos e dos latinos, o valor de dogma, condicionadas ao status de realidade. Como tal, inspiraram os homens e as mulheres, deram esteio a instituições por vezes respeitabilíssimas, sugeriram aos artistas, aos poetas, aos literatos a ideia de criações de admiráveis obras-primas. Aspectos Filosóficos Socioantropológicos da Educação42 A Antiguidade, cujos conhecimentos científicos e filosóficos eram praticamente inexistentes, elegeu as divindades para suprir a necessidade de compreender os mistérios do mundo. No caso da Grécia e Roma, bem como muitos países escandinavos, é isso que explica a existência do grande número de deuses. Para Pierre Commelin, estudioso da mitologia grega, tudo o que provocou a admiração, o espanto, o temor ou o horror nos primeiros homens e nas primeiras mulheres adquiriu, aos seus olhos, um caráter divino. As virtudes e as paixões mais abstratas dos seres humanos, também têm esse status de serem marcadas por um cunho sobrenatural, de trazerem a chancela divina e revestirem, com uma fisionomia particular, as insígnias e os atributos da divindade (COMMELIN, 2011, p. 9). Estudar a mitologia é iniciar-se na concepção de um mundo primitivo, percebido numa penumbra misteriosa. Não ver nela mais que a aberração de espíritos rústicos e supersticiosos é, sem dúvida, julgá-la apenas de acordo com as aparências; mas, por outro lado, ver nela apenas alegorias, procurar a explicação de todos esses mitos, de todas essas fábulas, de todas essas lendas na observação do mundo físico, é superar os limites da realidade. Seguimos na mesma linha de pensamento de Pierre Commelin (2011): a imaginação e a fantasia têm um importante papel nessa longa enumeração de crenças mitológicas aceitas pelos povos antigos. Cada século, cada geração compraz-se em aumentar o número de seus deuses, de seus heróis, de suas maravilhas e de seus milagres. Os mitos antigos, em especial a Teogonia de Hesíodo,narravam o modo pelo qual o mundo havia emergido do caos, como se diferenciaram as suas diversas partes, como se constituiu e estabeleceu o conjunto da sua arquitetura. Mas o processo de gênese, nessas narrativas, reveste-se da forma de um quadro genealógico. Ou seja, como bem argumenta o historiador e antropólogo Jean Pierre Vernant, “ele se desenrola seguindo Aspectos Filosóficos Socioantropológicos da Educação 43 a ordem de filiação entre os deuses, no ritmo dos sucessivos nascimentos, dos casamentos, das intrigas, misturando e opondo os seres divinos de gerações diferentes” (VERNANT, 1990, p. 478). A deusa Gaia (Terra) engendra sozinha Ouranós (Céu) e Póntos (Onda salgada); acasalada a Ouranós, que ela acaba de criar, dá à luz os Titãs, primeiros mestres do céu, revoltados contra o seu pai e cujos filhos, os Olímpicos, vão, por sua vez, combater e derrubar, a fim de confiar ao mais jovem deles, Zeus, a incumbência de se impor no cosmo, como soberano novo, uma ordem enfim definitiva. (VERNANT, 1990, p. 478-479) No mundo grego, o pensamento racional surge no século VI a.C., especificamente nas cidades gregas da Ásia menor. O nascimento da Filosofia marcaria, assim, o começo do pensamento científico – poder-se-ia dizer simplesmente: do pensamento. Vernant sugere que na “escola de Mileto, o logos teria pela primeira vez libertado do mito, como as escaras caem dos olhos do cego” (VERNANT, 1990, p. 411). Mais que uma mudança de atitude intelectual, do que uma mutação mental, trata-se de uma revelação decisiva e definitiva relacionada ao pensamento. O aparecimento do logos, portanto, introduziria na história uma descontinuidade radical: “viajante sem bagagem, a Filosofia viria ao mundo sem passado, sem pais, sem família; seria um começo absoluto” (VERNANT, 1990, p. 442). Essa nova maneira de pensar, racional e filosófica, é considerada oposta ao pensamento mítico. É como se na Grécia do século VI a.C., o homem tivesse se libertado das fantasias da mitologia e da religião, para se afirmar e se desenvolver racionalmente. Aspectos Filosóficos Socioantropológicos da Educação44 IMPORTANTE RESUMINDO As principais diferenças entre Mito e Filosofia Mito: narra os acontecimentos passados, buscando um entendimento sobre a origem, as causas sobretudo até o momento presente; Filosofia: ocupa-se em explicar não somente os acontecimentos passados, mas tudo como é no presente e como será no futuro; Mito: narra a origem do mundo baseando-se em genealogias e ação de forças sobrenaturais; Filosofia: explica a origem do mundo pela combinação de elementos naturais; Mito: não se preocupa com as contradições nem com as coisas incompreensíveis; Filosofia: exige um pensamento coerente, racional, lógico. A autoridade sobre o conhecimento não está no filósofo, mas fundada na razão que todas as pessoas possuem. Neste capítulo, estudamos a diferença entre conhecimento mítico e conhecimento filosófico, destacando suas principais características. Aspectos Filosóficos Socioantropológicos da Educação 45 A Questão do Saber: o Conhecimento e sua Tipologia OBJETIVO Ao final do estudo deste capítulo, você será capaz de classificar a tipologia do conhecimento e descrever cada um dos tipos. Na prática docente, muitas vezes se exercita o ensino sem se perguntar o que é o conhecimento, seu sentido e seu significado. Para um exercício satisfatório do ensino, entre outros elementos fundamentais (como Psicologia e Sociologia da Educação), é importante, como aponta Luckesi, possuir uma teoria do conhecimento. Teoria do conhecimento nada mais é do que “um entendimento do que vem a ser o conhecimento, seu processo, seu modo de ser” (LUCKESI, 1993, p. 121). O que significa “conhecer”? De modo geral, pode-se dizer que “conhecer é elaborar um modelo de realidade” e “projetar ordem onde havia caos” (CYRINO & PENHA, 1992, p. 13). Nesse sentido, três elementos são necessários para que haja conhecimento: ■ O sujeito, que é o ser que conhece; ■ O objeto, aquilo que o sujeito investiga para conhecer; ■ A imagem mental em forma de opinião, ideia ou conceito que resultam da relação sujeito-objeto e que passa a habitar a subjetividade daquele que conhece. Visto que o ser humano é um sujeito pensante, senciente (que percebe o mundo por meio dos sentidos e das impressões) Aspectos Filosóficos Socioantropológicos da Educação46 REFLITA O conhecimento pode ser entendido como aquilo que adquirimos nos livros, nas aulas e nas conversas, com o objetivo de alcançar o entendimento da realidade. O que está em primeiro lugar, o que está na raiz do conhecimento, é a elucidação da realidade e não a retenção de informações contidas nos livros. Essas informações deverão ser auxiliares no entendimento da realidade; contudo, elas por si mesmas não são o conhecimento que cada sujeito tem da realidade. É preciso utilizar-se das informações de maneira intelectualmente ativa para que se transformem em efetivo entendimento do mundo exterior. Muitas vezes o conhecimento e comunicante, o resultado é a transmissão dessa articulação mediante linguagem simbólica, a qual o diferencia dos demais seres existentes. Essa linguagem pode ser oral ou escrita, verbal ou não verbal. O saber é um conjunto de informações e conhecimentos que todo sujeito mobiliza para relacionar-se com o mundo, interagir com os semelhantes, com a sociedade, com o universo e com a vida (CHARLOT, 2000). Em função da relação sujeito-objeto, da qual resultam informações, conhecimentos e saberes, o sujeito busca compreender, representar e explicar os objetos com os quais convive em sua vida prática e até aqueles que ele imagina que possam existir como ideia formal apenas. A isso chamamos conhecimento, produto da inteligência simbólica humana por meio da qual o múltiplo ganha uma unicidade, a diversidade recebe certa harmonia e o vazio é preenchido por um sentido, sendo o principal deles o sentido existencial, a razão de ser da vida, o motivo pelo qual o homem e a mulher são, pensam, sentem, julgam, valoram, decidem e agem no aqui-agora de seu ser estar no mundo. Aspectos Filosóficos Socioantropológicos da Educação 47 Os Tipos de Conhecimento Ao tratar sobre a construção do conhecimento e o ensino das ciências, Ana Maria Carvalho (1997) define quatro tipos de conhecimento, quais sejam: (1) conhecimento popular ou senso comum, (2) conhecimento filosófico, (3) conhecimento teológico, (4) conhecimento científico. Conhecimento Popular ou Senso Comum O conhecimento popular é valorativo por excelência, pois se fundamenta numa seleção operada com base em estados de ânimo, conhecimentos prévios, experiência, impressões e emoções do sujeito. A característica de assistemático baseia-se na “organização” particular das próprias experiências do indivíduo cognoscente, e não em uma sistematização das ideias, isto é, na busca de uma formulação geral que explane os fenômenos observados. Além disso, é um tipo de conhecimento verificável, uma vez que está circunscrito à vida do cotidiano e se relaciona ao que se pode perceber na vida diária. Por fim, pode ser falível e inexato, pois se conforma com a aparência e com o que se ouviu dizer a respeito do objeto. O conhecimento do senso comum ou popular nada mais seria, também, que o resultado das necessidades de resolver os problemas do cotidiano. Nele, há uma tendência de manter o sujeito que o elabora como um espectador passivo da realidade, subjugado pelos fatos e acontecimentos do seu ambiente. é confundido com o processo de decorar informações dos livros, para a seguir, repeti-las em provas escolares. Isso não é conhecimento, pois essa atitude é memorização de informação, sem saber o que, de fato, essa informação significa. Aspectos Filosóficos Socioantropológicos da Educação48 Por isso o conhecimento do senso comum caracteriza-se por ser elaborado de forma espontânea e, muitas vezes, intuitiva. Conhecimento Filosófico Corpode conhecimento, em Filosofia, significa um conjunto coerente e organizado de entendimentos sobre a realidade. Conhecimentos estes que expressam a compreensão, que se tem do mundo, a partir de desejos, anseios e aspirações. Quando lemos um texto de Filosofia, nos apropriamos do entendimento, que o seu autor teve do mundo que o cerca, especialmente dos valores que dão sentido a esse mundo. Valores esses que, por vezes, são aspirações que deverão ser buscadas e realizadas, se possível. O filósofo, conforme assinala Luckesi, sistematiza as aspirações dos seres humanos, aspirações essas que dão sentido ao dia a dia, à luta, ao trabalho, à ação. (LUCKESI, 1993, p. 22). Ninguém vive o cotidiano sem um sentido direcionado ao seu trabalho, à sua relação com as pessoas, ao amor, à amizade, à ciência, à educação, à política etc. Segundo Trujillo Ferrari (1982), o conhecimento filosófico é valorativo, pois seu ponto de partida consiste em hipóteses, as quais não poderão ser submetidas à observação. “As hipóteses filosóficas baseiam-se na experi6encia e não da experimentação” (TRUJILLO, 1974, p. 12). Por conseguinte, o conhecimento filosófico não é verificável, visto que os enunciados das hipóteses filosóficas, ao contrário do que ocorre no âmbito da ciência, não podem ser confirmados nem refutados. É ainda um tipo de conhecimento racional, em virtude de abarcar um conjunto de enunciados logicamente correlacionados. Caracteriza-se por ser sistemático, pois seus enunciados visam a uma representação coerente da realidade estudada, numa tentativa de apreendê-la em sua totalidade. Por último, pode ser infalível, já que seus postulados não são submetidos ao teste de experimentos. Aspectos Filosóficos Socioantropológicos da Educação 49 Conhecimento Científico O conhecimento científico é factual (real), porque se relaciona com ocorrências e fatos, isto é, com toda “forma de existência que se manifesta de algum modo” (TRUJILLO, 1982, p. 14). Constitui um tipo de conhecimento dito contingente, uma vez que suas proposições têm sua veracidade ou falsidade conhecida por meio da experimentação e não apenas da razão, como ocorre do pensamento filosófico. É sistemático, pois se trata da elaboração de um conjunto de saber ordenado logicamente, constituindo um sistema de ideias (teoria) e refutando todo e qualquer tipo de conhecimento disperso, desconexo e que não passou por experimentos verificáveis. É nesse sentido que possui a característica de verificabilidade; caso as hipóteses não possam ser comprovadas, não pertencem ao campo da ciência. Constitui um conhecimento falível, em virtude de não ser definitivo, absoluto ou final. Por isso, novas proposições são aceitas e o desenvolvimento de técnicas, procedimentos e metodologias podem reformular o corpo teórico existente. Um dos filósofos que se dedicou à Filosofia da ciência, entre outros assuntos, foi o francês Gaston Bachelard (1884- 1962). A intenção substancial de toda a estrutura dos escritos de Bachelard e seu método de reflexão é a análise da produção do conhecimento humano sob uma perspectiva histórica. Conforme o estudo dos procedimentos e das ideias desenvolvidas em períodos de tempo demarcados por ele mesmo, o autor afirma que o estudo crítico dessas produções pode ajudar a entender os caminhos trilhados para a construção dos conhecimentos. Durante a história de construção da ciência ocidental é possível identificar, mesmo que de forma geral, três momentos específicos. ■ O primeiro é chamado de Pré-Científico e corresponde à Antiguidade Clássica e ao Renascimento; Aspectos Filosóficos Socioantropológicos da Educação50 ■ O segundo é o Estado Científico propriamente dito, que seria o fim do século XVIII e início do XIX; ■ O terceiro corresponderia ao período do Novo Espírito Científico (depois do início do século XIX até os dias de hoje (BACHELARD, 2005, p. 9). As mudanças de objetivos e métodos que ocorreram nessas etapas históricas do pensamento científico são resultado de um movimento de estudo crítico do passado, da não repetição de ‘caminhos errados’ nos processos dessa construção. É necessário que se considere a cultura científica em termos de descontinuidade com o real, com a experiência imediata e, também, com o seu passado. Não seria possível a criação do novo, se essa produção fosse linear e previsível, dedutível por uma lógica interna de funcionamento, como se um fato novo fosse simplesmente o resultado/a soma de fatos anteriores. É contra esse modo de interpretação continuísta da cultura científica que Bachelard vai sustentar seus argumentos na proposta de uma epistemologia histórica do conhecimento que reconhece, no não continuísmo, seu funcionamento primordial. A história humana bem pode, em suas paixões, em seus preconceitos, em tudo que releva dos impulsos imediatos, ser um eterno recomeço; mas há pensamentos que não recomeçam; são os pensamentos que foram retificados, alargados, completados. Eles não voltam a sua área restrita ou cambaleante. Ora, o espírito científico é essencialmente uma retificação do saber, um alargamento dos quadros do conhecimento. Julga seu passado histórico, condenando-o. Sua estrutura é a consciência de suas faltas históricas. Cientificamente, pensa-se o verdadeiro como retificação histórica de um longo erro, pensa-se a experiência como retificação da ilusão comum e primeira. (BACHELARD, 1995, p. 147) Aspectos Filosóficos Socioantropológicos da Educação 51 Conhecimento Teológico ou Religioso O conhecimento religioso baseia-se em um conjunto de doutrinas que contém asserções sagradas (valorativas), justamente por terem sido reveladas pelo sobrenatural (inspiracional) e, assim sendo, tais verdades são consideradas infalíveis e indiscutíveis (exatas). É um conhecimento sistemático do mundo, pois contempla temas como origem, significado, finalidade e destino do humano. Suas evidências não são verificadas em função de que a atitude de fé perante um conhecimento revelado é a base mais importante. Nesse sentido, os questionamentos não são trazidos para o campo do conhecimento religioso. Parte-se do princípio de que as “verdades” tratadas são infalíveis e indiscutíveis, por consistirem em revelações da divindade. Nota-se que a adesão das pessoas passa a ser um ato de fé, pois a visão sistemática do mundo é interpretada como decorrente dos atos de um criador divino, cujas evidências não são postas em dúvidas nem sequer verificáveis. REFLITA A postura do teólogos e cientistas diante da Teoria da Evolução das Espécies, de Charles Darwin, particularmente do homem, indica as abordagens diversas. De um lado, as posições dos teólogos fundamentam-se nos ensinamentos de textos sagrados. De outro, os cientistas buscam, em suas pesquisas, fatos concretos capazes de comprovar (ou refutar) suas hipóteses. Se o fundamento do conhecimento científico consiste na evidência Aspectos Filosóficos Socioantropológicos da Educação52 dos fatos observados e experimentalmente controlados, no caso do conhecimento teológico o fiel não se detém nelas à procura de evidência, mas da causa primeira, ou seja, da revelação divina. Apesar da separação metodológica entre os tipos de conhecimento popular, filosófico, religioso e científico, no processo de compreensão da realidade, o sujeito pode transitar nas diversas áreas. Ao investigar sobre o “homem”, por exemplo, pode-se realizar uma série de conclusões sobre sua atuação na sociedade, baseada no senso comum ou na experiência cotidiana. Pode-se analisá-lo como um ser biológico, com base na investigação experimental, as relações existentes entre os órgãos e suas funções. Pode-se questionar a sua origem e o seu destino, assim como sua liberdade. Finalmente, pode-se observá-lo como ser criado pela divindade, a sua imagem e semelhança, e meditar sobre o que dizem os textos sagrados. Aspectos Filosóficos Socioantropológicos da Educação 53 Popular Valorativo ReflexivoAssistemático Verificável Falível Inexato Filosófico Valorativo Racional Sistemático Não verificável Infalível (se coloca como) Exato (se coloca como) Científico Real (factual) Contingente Sistemático Verificável Falível Aproximadamente exato Religioso Valorativo Inspiracional Sistemático Não verificável Infalível (se coloca como) Exato (se coloca como) RESUMINDO Veja no quadro a seguir um resumo deste nosso estudo acerca do conhecimento, seus tipos e suas características principais. Aspectos Filosóficos Socioantropológicos da Educação54 UNIDADE 02 Aspectos Filosóficos Socioantropológicos da Educação56 Filosofia e Pensamento Educacional na Modernidade OBJETIVO Ao final do estudo deste capítulo, você será capaz de interpretar as características e o contexto histórico, em que foi gestada a filosofia e o pensamento educacional na modernidade... No curso do século XVI a concepção medieval começou a declinar, e aos poucos surgiram forças que forjaram o atual mundo moderno. Grandes movimentos marcam o período de transição, que se estende do declínio da Idade Média até o grande surto de progresso do século XVII, a saber: 1) o Renascimento italiano; 2) a Reforma Luterana; 3) o avanço da investigação científica; 4) o projeto filosófico humanista; 5) o Absolutismo francês; 6) posteriormente o Iluminismo. É em meio a esse quadro que nasce e se desenvolve o pensamento moderno, marcado pela confiança na razão. Trata- se de conferir à razão a tarefa de significar o mundo, reproduzi- lo e representá-lo, afastando do pensamento o que é disperso, desconexo, mítico e sobrenatural. O período conhecido como Filosofia Moderna, portanto, estende-se por pouco mais de dois séculos e meio de história. Como todo período histórico da Filosofia, é bastante difícil fixarmos uma data para seu início. Embora alguns autores considerem a Filosofia do Renascimento, nos séculos XV e XVI, como parte da Filosofia Moderna, em geral, aceita-se que o filósofo que iniciou a Filosofia Moderna tenha sido René Descartes (1596-1650) no século XVII, uma vez que seus trabalhos definiram e deram corpo aos métodos filosóficos de Aspectos Filosóficos Socioantropológicos da Educação 57 tal período. Entretanto, como afirma Franklin e Pinheiro (2014), alguns outros filósofos, anteriores a Descartes, como Montaigne (1533-1592) e Francis Bacon (1561-1626), aparecem também como membros da Filosofia Moderna. Da mesma forma, o trabalho de Ludwing Wittgenstein é considerado o término de tal período, iniciando o que é normalmente chamado de período pós-moderno. O período da Filosofia Moderna não é caracterizado por uma escola ou doutrina específica, mas por um estilo de trabalhar as questões filosóficas e por certas premissas ou hipóteses comuns. As áreas exploradas nessa época incluíam a filosofia da mente, especialmente o problema mente-corpo identificado por Descartes, epistemologia e metafísica. Por não possuir uma escola única, a Filosofia Moderna é normalmente dividida pelas correntes filosóficas, que exploraram os principais temas dessa época. Os principais nomes foram organizados posteriormente em dois grupos: os racionalistas e os empiristas. Os próprios autores não se identificavam dessa forma, mas posteriormente foram assim organizados em termos de história da Filosofia. Entre os racionalistas encontramos filósofos franceses e alemães, que defendiam que todo conhecimento deve originar- se de algum tipo de ideias inatas na mente (aquelas ideias que são nativas, já nascem com a pessoa). Contudo, alguns racionalistas afirmaram ainda que todo o conhecimento é inato ou provido por meio do raciocínio dedutivo, enquanto outros racionalistas aceitavam um maior papel da experiência. Entre os principais racionalistas encontramos René Descartes, o logicista e matemático Gottlob Frege e Baruch Spinoza. Tendo como principais figuras os filósofos britânicos John Locke, George Berkely e David Hume, o empirismo era o opositor natural do racionalismo. Essa posição defendia que a mente era uma tábula rasa, termo introduzido por Locke, significando que não possuímos ideias inatas e que o conhecimento é impresso em nossa mente, por meio dos dados dos sentidos. Com isso, Aspectos Filosóficos Socioantropológicos da Educação58 defendeu ainda que existiam duas formas para o surgimento das ideias, pela sensação e pela reflexão, com ideias podendo ser simples ou complexas. Tabela 1: Pontos em Comum e Discordâncias Pontos em comum Pontos de discordância Racionalismo Tentam resolver o problema da capacidade de nosso pensamento para captar a realidade externa; partem de convicções teóricas fundamentais que permitem a constituição do problema: a indubitabilidade das nossas representações e a existência da realidade exterior a elas. Caracteriza-se pela pressuposição de princípios inatos e conhecimentos a priori. O visível esconde aquilo que está para além dele. Empirismo Nega os princípios inatos e a possibilidade de conhecer a priori. O visível, nesse caso, é revelador por si só. A sensibilidade é tomada como a relação primeira com o real. Fonte: (FRANKLIN & PINHEIRO, 2014, p. 72.) Nessa direção, devemos entender que o Iluminismo europeu pretende debater a educação a partir de uma abordagem epistemológica empirista que ressalta o papel das experiências vividas pelos homens. No entanto, o mesmo empirismo, em Locke, por exemplo, aponta para a importância da educação em elucidar o vivido e/ou preparar para compreendê-lo mais Aspectos Filosóficos Socioantropológicos da Educação 59 plenamente. Portanto, como aponta Novelli (2001) a educação adquire aqui um papel de superação em relação ao antigo regime caracterizado pela centralização do ensino e pela concentração de conhecimentos entre poucos escolhidos. Kant apresentou ainda um sistema filosófico sofisticado que causou uma verdadeira transformação na filosofia alemã. Embora seu objetivo de encerrar a disputa entre racionalistas e empiristas, pela unificação de ambas as posições, não tenha sido atingido, Kant promoveu grandes mudanças e novas correntes na filosofia de sua época, sendo particularmente responsável pelo surgimento da corrente filosófica conhecida como Idealismo Alemão. O idealismo veio a afirmar que o mundo e a mente devem ser entendidos segundo as mesmas categorias, estabelecendo quais categorias seriam estas, o principal trabalho neste sentido foi a Crítica da Razão Pura, de Kant, publicada em 1781. Este desenvolvido levou também ao trabalho do filósofo Georg Wilhelm Friedrich Hegel. RESUMINDO Neste capítulo, abordamos o nascimento e o desenvolvimento do pensamento moderno da filosofia e a importância deles para a educação na modernidade. Aspectos Filosóficos Socioantropológicos da Educação60 Leitura e Recortes Acerca de Educação e Filósofos da Modernidade OBJETIVO A seguir, aprofundaremos as ideias filosóficas de Kant, Hegel e Jean Jacques Rousseau, bem com suas contribuições para a Filosofia da Educação. Além disso, também será melhor definida a diferença entre os filósofos racionalistas e empiristas no contexto da Filosofia Moderna.. René Descartes René Descartes (1596-1650) foi um filósofo, físico e matemático francês, uma das figuras mais importantes da Filosofia Moderna e da Revolução Científica. O filósofo defende a ideia de que a razão serve como guia para o conhecimento. Encontra- se aqui justificado o título de racionalismo ao pensamento de Descartes. Suas principais obras são: �Discurso (1637). �Meditações (1641). �Os princípios da Filosofia (1644). Aspectos Filosóficos Socioantropológicos da Educação 61 Figura 1: René Descartes Fonte: @commons. Muitos especialistas afirmam que, a partir de Descartes, inaugurou-se o racionalismo da Idade Moderna. Décadas mais tarde, surgiria nas ilhas Britânicas um movimento filosófico que, de certa forma, seria o seu oposto – o empirismo, com John Locke e David
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