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eBook_Aspectos Filosóficos Socioantropológicos_v3 (Versão Digital)

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Prévia do material em texto

ASPECTOS FILOSÓFICOS 
E SÓCIO-ANTROPOLÓGICOS 
DA EDUCAÇÃO
Carmem Silvia da Fonseca Kummer Liblik;
Mauricio Tinori Piqueira;
Lísia M. Macedo Soares.
Aspectos Filosóficos 
Socioantropológicos da Educação
© by Editora Telesapiens
Todos os direitos reservados. Nenhuma parte desta publicação 
poderá ser reproduzida ou transmitida de qualquer modo ou por 
qualquer outro meio, eletrônico ou mecânico, incluindo fotocópia, 
gravação ou qualquer outro tipo de sistema de armazenamento e 
transmissão de informação, sem prévia autorização, por escrito, 
da Editora Telesapiens.
LIBLIK, Carmen Silvia da Fonseca Kummer / PIQUEIRA, 
Mauricio Tintori / SOARES, Lísia M. Macedo
Aspectos Filosóficos Socioantropológicos da Educação.
ISBN: 978-65-81507-18-3
I.Filosofia. II.Socioantropologia. III. Educação.
Fundador e Presidente do Conselho de Administração: 
Janguê Diniz 
Diretor-Presidente: 
Jânyo Diniz 
Diretor de Inovação e Serviços:
Joaldo Diniz 
Diretoria Executiva de Ensino:
Adriano Azevedo
Diretoria de Ensino a Distância:
Enzo Moreira
Créditos Institucionais
Todos os direitos reservados
©2022 by Telesapiens
Aspectos Filosóficos 
Socioantropológicos 
da Educação
OS AUTORES
CARMEM SILVIA DA FONSECA 
KUMMER LIBLIK
Olá. Meu nome é Carmem Silvia da Fonseca Kummer 
Liblik. Sou formada em Bacharelado e Licenciatura em 
História, com Mestrado e Doutorado em História pela UFPR. 
Também sou formada em Química Ambiental pela UTFPR, 
com especialização em Tutoria em EAD pela UNINTER. 
Tenho experiência profissional na área de ensino e produção 
de material didático há 14 anos. Passei por empresas como a 
UNINTER, PUC-PR e UFPR. Sou apaixonada pelo que faço e 
adoro transmitir minha experiência de vida àqueles que estão 
iniciando em suas profissões. Por isso fui convidada pela Editora 
Telesapiens a integrar seu elenco de autores independentes. Estou 
muito feliz em poder ajudar você nesta fase de muito estudo 
e trabalho. Conte comigo!
 
MAURICIO TINTORI PIQUEIRA
Olá. Meu nome é Mauricio Tintori Piqueira. Sou doutor 
em Ciências Sociais e mestre em História pela Pontifícia 
Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP), com uma 
experiência de docência na área de Ciências Humanas de mais 
de 14 anos. Sou professor universitário e do Ensino Médio, 
com experiência como professor e coordenador do curso de 
História da Faculdade de Ribeirão Pires e, docente na Rede 
Pública do estado de São Paulo. Sou apaixonado pelo que faço 
e adoro transmitir minha experiência de vida àqueles que estão 
iniciando em suas profissões. Por isso fui convidado pela Editora 
Telesapiens a integrar seu elenco de autores independentes. Estou 
muito feliz em poder ajudar você nesta fase de muito estudo 
e trabalho. Conte comigo!
LÍSIA M. MACEDO SOARES
Olá. Meu nome é Lísia M. Macedo Soares. Sou formada 
em Psicologia, especialista em Gestão Saúde Mental e Mestra 
em Administração. Tenho experiência técnico-profissional 
como Docente nos cursos de Enfermagem, Ciências Contábeis, 
Engenharias e Administração. Nestes cursos de graduação, tive 
o prazer de lecionar a disciplina Estudos Socioantropológicos. 
Na minha última experiência, fundei um núcleo de Atendimento 
Educacional ao discente – NAED, onde atuei como Psicóloga 
oferecendo aos alunos apoio psicopedagógico. Sou apaixonada 
pelo que faço e adoro compartilhar minha experiência de vida 
àqueles que estão iniciando em suas profissões. Por isso fui 
convidada pela Editora Telesapiens a integrar seu elenco de 
autores independentes. Estou muito feliz em poder ajudar você 
nesta fase de muito estudo e trabalho. Conte comigo!
ICONOGRÁFICOS
Esses ícones que irão aparecer em sua trilha de aprendizagem 
significam:
OBJETIVO
Breve descrição do objetivo 
de aprendizagem;
OBSERVAÇÃO
Uma nota explicativa 
sobre o que acaba de 
ser dito;
CITAÇÃO
Parte retirada de um texto;
RESUMINDO
Uma síntese das 
últimas abordagens;
TESTANDO
Sugestão de práticas ou 
exercícios para fixação do 
conteúdo;
DEFINIÇÃO
Definição de um 
conceito;
IMPORTANTE
O conteúdo em destaque 
precisa ser priorizado;
ACESSE
Links úteis para 
fixação do conteúdo;
DICA
Um atalho para resolver 
algo que foi introduzido no 
conteúdo;
SAIBA MAIS
Informações adicionais 
sobre o conteúdo e 
temas afins;
EXPLICANDO 
DIFERENTE
Um jeito diferente e mais 
simples de explicar o que 
acaba de ser explicado;
SOLUÇÃO
Resolução passo a 
passo de um problema 
ou exercício;
EXEMPLO
Explicação do conteúdo ou 
conceito partindo de um 
caso prático;
CURIOSIDADE
Indicação de curiosidades 
e fatos para reflexão sobre 
o tema em estudo;
PALAVRA DO AUTOR
Uma opinião pessoal e 
particular do autor da obra;
REFLITA
O texto destacado deve 
ser alvo de reflexão.
SUMÁRIO
UNIDADE 1
Origens e Conceito da Filosofia..........................................14
Origens da Filosofia........................................................... 14
Crítica aos Sofistas............................................................. 18
Conceito de Filosofia......................................................... 19
Sócrates, Platão, Aristóteles e seus Lugares na História da
Filosofia................................................................................23
Sócrates............................................................................. 23
Platão................................................................................. 28
Aristóteles......................................................................... 34
Conhecimento Mítico e Conhecimento Filosófico..............41
A Questão do Saber: o Conhecimento e sua Tipologia......45
Os Tipos de Conhecimento................................................ 47
Conhecimento Popular ou Senso Comum................ 47
Conhecimento Filosófico......................................... 48
Conhecimento Científico......................................... 49
Conhecimento Teológico ou Religioso.................... 51
UNIDADE 2
Filosofia e Pensamento Educacional na Modernidade .....56
Leitura e Recortes Acerca de Educação e Filósofos da 
Modernidade .......................................................................60
René Descartes .................................................................. 60
Jean Jacques Rousseau ...................................................... 64
Immanuel Kant ................................................................. 67
Georg Hegel ...................................................................... 70
Tendências e Correntes Filosóficas: Contexto Histórico e 
Pressupostos ........................................................................75
Correntes Filosóficas: Abordagens e Suposições ..............79
Positivismo ....................................................................... 79
Utilitarismo ....................................................................... 82
Pragmatismo ..................................................................... 88
Materialismo ..................................................................... 92
Fenomenologia.................................................................. 96
Existencialismo ............................................................... 100
UNIDADE 3
Compreendendo as diferenças entre o senso comum e o 
conhecimento científico.....................................................108
O senso comum e o conhecimento científico ....................108 
O conhecimento como um atributo do ser humano...........109 
O senso comum...............................................................112 
O conhecimento científico...............................................114 
É possível a convivência entre ciência e senso comum?....117
As ciências sociais..............................................................120
As áreas das ciências sociais............................................121 
Os objetos de estudo das ciências sociais e suas metodologias 
de pesquisa......................................................................128A História da Sociologia..................................................134
Os antecedentes intelectuais da Sociologia.....................135 
As transformações sociais decorrentes da Revolução 
Industrial .......................................................................138
Os primórdios da Sociologia...........................................142
O Surgimento da Sociologia Educacional......................148
Émile Durkheim: o ideólogo da Educação.......................149
Karl Marx: a educação como meio de conformação e 
transformação social........................................................152
Max Weber e a educação como instrumento de “status 
social”.. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .155
Antropologia e seu campo de estudo...................................157
O nascimento da Antropologia.........................................157
O que é Antropologia ............................................161 
 Campo de atuação da Antropologia.......................161 
Antropologia e ciências afins................................163
Etnocentrismo.....................................................166
O que é etnocentrismo ?...................................................167
Relativismo cultural.........................................................170
Relativismo cultural: conceito e aplicabilidade.................170
Antropologia educacional.................................................174
Conexão entre Antropologia e Educação........................175
Antropologia educacional: suas origens...........................177
UNIDADE 4
Concepções e Contribuições da Filosofia da Educação...182
Filosofia da Educação e Formação Docente..................187
Filosofia da Educação e Educação Brasileira..................192
Filosofia da Educação, Contemporaneidade e 
Subjetividade.....................................................................202
Produção de Subjetividades.............................................210
Filosofia da Educação e Pós-Modernidade.....................217
REFERÊNCIAS...............................................................225
UNIDADE
01
Aspectos Filosóficos Socioantropológicos da Educação14
OBJETIVO
Origens e Conceito da Filosofia
Ao final do estudo deste capítulo, você será capaz de explicar o 
conceito da Filosofia e estabelecer relação com as suas origens.
Origens da Filosofia
Toda civilização que atinge certo grau de desenvolvimento 
sente-se naturalmente inclinada à prática da educação, da 
Filosofia, da ciência e das artes. No mundo ocidental, as bases 
que contribuíram para a origem e o desenvolvimento dessas 
grandes áreas de produção de conhecimento vieram da Grécia 
Antiga, especialmente a partir do século VI a.C. A Filosofia, a 
ciência e as artes, como as conhecemos, são invenções gregas.
Para o filósofo Bertrand Russel:
[...] o advento da civilização grega que produziu 
tal explosão de atividade intelectual é um dos 
acontecimentos mais importantes da história do 
mundo ocidental. No curto espaço de dois séculos 
os gregos produziram na arte, na literatura, na 
ciência e na Filosofia uma assombrosa torrente de 
obras-primas, que estabeleceram os padrões gerais 
da civilização ocidental. (2013, p. 14)
O início da Filosofia se caracteriza pela compreensão de 
explicações racionais para a realidade humana. Os primeiros 
filósofos, chamados então de pré-socráticos, buscavam 
Aspectos Filosóficos Socioantropológicos da Educação 15
explicações relacionadas ao mundo físico ou da natureza. 
Esses filósofos tinham pensado no dinamismo universal, 
como o nascer, crescer, morrer, como característica essencial 
do princípio (arché), que gera, sustenta e absorve todas as 
coisas. A Filosofia da natureza (physis) se caracteriza pela 
busca pela unidade e harmonia, inserindo na cultura grega a 
ideia do uno, do qual todas as coisas derivam.
A civilização ocidental, que brotou das fontes gregas, se 
baseia numa tradição filosófica científica que começou com 
Tales de Mileto há 2.500 anos e nisso difere de outras grandes 
civilizações ocidentais. Conforme Russel, a noção predominante 
que percorre toda a Filosofia grega é o logos, termo que tem a 
conotação, entre outras, de “palavra” e “medida”. Portanto, o 
discurso filosófico e a investigação científica estão intimamente 
vinculados. “A doutrina ética surgida desse vínculo vê o bem 
no conhecimento, objeto de investigação desinteressada” 
(RUSSEL, 2013, p. 19).
Tales de Mileto (624-546), considerado o primeiro filósofo 
pré-socrático, afirma que o princípio originário único de todas as 
coisas é a água. Esse filósofo estabeleceu um princípio a partir 
do qual trabalharia, formulando, para tanto, a seguinte pergunta: 
“Qual é a matéria-prima básica do cosmos”? A noção de que 
tudo no universo pode ser reduzido a uma única substância 
é a teoria do monismo, e Tales e seus seguidores foram os 
primeiros a propor isso dentro da Filosofia ocidental. Tales 
concluiu, portanto, que toda matéria, independentemente de 
suas aparentes propriedades, deve ser água em algum estágio de 
transformação. Essa intenção pode ser considerada a primeira 
tentativa de explicação para a origem da vida.
Para Anaximandro (611-546), discípulo de Tales 
de Mileto e o primeiro cartógrafo grego, o infinito e o 
indeterminado seriam a origem de todas as coisas. Em outras 
Aspectos Filosóficos Socioantropológicos da Educação16
palavras, o ilimitado seria uma reserva infinita de material, 
que se estende em todas as direções. Dele surge o mundo e a 
ele retornará no final.
Anaxímenes (586-525) admite que o ar, em função de 
sua grande mobilidade na natureza, seria o princípio de todas 
as coisas. As diferentes formas de matéria que encontramos 
à nossa volta surgem do ar, por meio de processos de 
condensação e rarefação. Para ele, o ar é a substância de que 
é feita a alma e, assim, mantém os seres vivos e o mundo.
Contudo, Heráclito (535-470) problematiza essa questão 
ao afirmar que “tudo se move, nada permanece imóvel e fixo, 
tudo muda”. Esse elemento expressa de modo exemplar as 
características de mudança contínua, que ocorre no mundo 
físico. Enquanto outros filósofos procuravam explicações 
científicas para a natureza física do cosmos, Heráclito o 
entendia como governado por um logos divino, às vezes 
interpretado como “razão” ou “argumento”. O filósofo em 
questão considerava o logos uma lei universal, cósmica, que 
de acordo com a qual todas as coisas começam a existir e 
todos os elementos materiais do universo são mantidos em 
equilíbrio. Heráclito ainda sugeriu que o equilíbrio dos opostos 
– dia e noite, quente e frio, por exemplo – levava à unidade 
do universo. Tudo seria parte de um único e fundamental 
processo ou substância – o princípio central do monismo. 
Por outro lado, ele afirmou que uma tensão é constantemente 
gerada entre esses pares de opostos, de forma que tudo está 
em permanente estado de fluxo e mudança.
E finalmente temos Demócrito (460-370) e Leucipo 
(início do século V a.C.), que desenvolveram a teoria dos 
átomos para explicar a composição de todas as coisas, ou seja, 
que tudo era composto de partículas minúsculas, indivisíveis 
e imutáveis. Eles afirmaram que um espaço vazio separa os 
Aspectos Filosóficos Socioantropológicos da Educação 17
átomos, permitindolhes que se movam livremente. Ao se 
movimentarem, os átomos podem colidir uns com os outros, 
formando assim novas composições de átomos. Conhecida 
como atomismo, a teoria concebida por Demócrito e Leucipo 
ofereceu a primeira visão mecanicista completa do universo, 
sem qualquer recurso à noção de um ou mais deuses. Ela 
também identificou propriedades fundamentais da matéria, 
que se provaram importantes para o desenvolvimento das 
ciências físicas – particularmente a partir do século XVIII 
– até as teorias atômicas que revolucionaram a ciência no 
século XX.
A vitória de Atenas sobre os persas, em 479 a.C.,marca 
também a consolidação da democracia na cidade. Dentre os 
novos valores que surgem está o da educação. Trata-se de 
formar cidadãos aptos à vida pública. Para tanto, exige-se 
deles que sejam excelentes oradores e que saibam argumentar 
em público. Dessa educação encarregam-se os sofistas (sábios), 
cuja característica era a reflexão sobre o homem e sua vida 
em sociedade. Os principais temas que emergiram dessa 
relação foram: a ética, a política, a arte, a religião, a retórica, 
a educação, ou seja, tudo aquilo que compõe o que chamamos 
de cultura.
Por outro lado, os sofistas não se preocupavam com o 
que uma argumentação, pode ter de justo ou injusto, moral 
ou imoral. Basta-lhes que seus discípulos aprendam a falar – 
não importa o quê, mas bem, de modo convincente – e que os 
remunerem pelo ensino. Se os sofistas não se preocupam com 
o conteúdo de um argumento, é porque compartilham com 
os atenienses a experiência da democracia, em que o mundo 
humano aparece como uma criação do próprio homem. Nesse 
mundo não há um único princípio que a tudo comande, mas 
apenas convenções em que os homens estabelecem para depois 
abandonar. Os valores e as verdades são instáveis e relativos. 
Aspectos Filosóficos Socioantropológicos da Educação18
 A própria linguagem, essa capacidade essencialmente humana, 
também não passa de convenção, sem poderes para expressar 
a verdade, a não ser verdades relativas de cada um.
O estabelecimento da democracia grega coincide com 
o aparecimento dos sofistas, que ensinavam tudo a qualquer 
um que desejasse, especialmente no que se refere ao homem 
que quisesse obter ensinamentos a fim de obter êxito nas 
assembleias. A demanda intelectual desse contexto histórico 
não admitia mais a superioridade intelectual restrita aos 
aristocratas. A concepção de virtude (areté) não poderia ser 
mais considerada algo transmitido de pai para filho.
“A construção de uma concepção de virtude como 
aprendizado se fortalecia e necessitava de professores que 
acreditassem nessa possibilidade. os sofistas eram esses 
homens” (FRANKLIN & PINHEIRO, 2014, p. 22). Porém, 
os sofistas foram muito criticados, é o que veremos a seguir.
Crítica aos Sofistas
De acordo com Franklin e Pinheiro (2014), há 4 questões 
principais que resumem as críticas aos sofistas.
A primeira questão referia-se à concepção do saber como 
tal. Tornou-se consenso, para os sofistas, que tudo poderia ser 
ensinado, desde a virtude até a arte da política. Devido a isso, 
suas maiores preocupações debruçavam-se na arte pedagógica, 
ou seja, como levar o outro ao saber. São claros seus impactos 
pedagógicos, pois todo professor necessita de alunos e para 
a satisfação de seus alunos era necessário delegar-lhes o que 
mais desejavam, ou seja, a sabedoria prática.
A segunda questão choca-se com os princípios morais 
aristocráticos. Os sofistas geralmente eram estrangeiros 
Aspectos Filosóficos Socioantropológicos da Educação 19
 e exigiam remuneração por seus ensinamentos. Eles preenchiam 
uma lacuna deixada pela forma aristocrática de ver o ensino. 
Os sofistas não tinham posses e, por isso, cobravam pelos 
ensinamentos, tornando a venda do saber uma profissão: 
a profissão do mestre e do professor.
A terceira questão se relacionava ao apego à sociedade. 
Sendo os sofistas professores itinerantes, nômades, não 
poderiam respeitar os limites da cidade-estado (polis), 
o paradigma do Estado-Ideal, segundo Platão e Aristóteles. 
Aos olhos modernos, os sofistas superaram seus opositores, 
pois alargaram as dimensões das cidades, transportando 
ideias e costumes para além de seus limites, tornando-se 
assim homens do mundo (panhelênicos).
A quarta questão para discussão dizia respeito à liberdade 
de espírito em relação à tradição e às normas estabelecidas 
pela cidade. Os sofistas tinham uma inabalável confiança na 
capacidade e habilidade do homem em compreender todos os 
tipos de inovações e situações.
Conceito de Filosofia
“Amigo da sabedoria”: eis a definição da palavra 
Filosofia, constituída do termo filon, que equivale a amigo, 
e do termo sofia, que equivale à sabedoria. A Filosofia não é 
apenas atividade de pensadores brilhantes e excêntricos como 
popularmente se pensa. Filosofia é o que todos fazemos, quando 
estamos livres de nossas atividades cotidianas e temos uma 
chance de nos perguntar o que é a vida, o universo, a morte, 
o amor, a tristeza e todos os infindáveis temas que intrigam 
a humanidade. Nós, humanos, somos criaturas naturalmente 
curiosas e não conseguimos deixar de fazer perguntas sobre 
o mundo à nossa volta e o nosso lugar nele. Também somos 
dotados de uma capacidade intelectual, que nos permite tanto 
Aspectos Filosóficos Socioantropológicos da Educação20
raciocinar quanto divagar, atributos importantes para a prática 
do pensamento filosófico.
Chegar às respostas para as questões fundamentais 
é menos determinante para a Filosofia do que o próprio 
processo de busca dessas respostas pelo uso da razão, em vez 
de aceitar sem questionamentos as visões convencionais ou a 
autoridade tradicional.
A Filosofia, como aponta Thomas Nagel, é diferente 
da ciência e da matemática. Ao contrário da ciência, ela não 
se apoia em experimentos ou na observação, mas apenas 
na reflexão. E, ao contrário da matemática, não dispõe de 
nenhum método formal de verificação. “Ela se faz pela simples 
indagação e arguição, ensaiando ideias e imaginando possíveis 
argumentos contra elas, perguntando-nos até que ponto nossos 
conceitos de fato funcionam” (NAGEL, 2001, p. 2).
A principal ocupação da Filosofia da Filosofia 
é questionar e entender ideias muito comuns, que todos 
nós usamos no dia a dia sem nem sequer refletir sobre elas. 
O historiador perguntará o que aconteceu em determinado 
tempo do passado, enquanto o filósofo indagará: “o que é 
o tempo”? O matemático investigará as relações entre os 
números, ao passo que o filósofo perguntará: “o que é um 
número”? O psicólogo talvez pesquise como a criança aprende 
a linguagem, mas a indagação do filósofo será: “o que dá 
sentido a uma palavra?” (NAGEL, 2001, p. 3). Compreender 
filosoficamente a realidade é compreender, como as pessoas 
se constituem em grupos, em comunidades, em sociedades e 
como organizam suas ideias.
Na história do pensamento que a humanidade 
vem construindo ao longo do tempo, muitos foram os 
pensadores e pesquisadores que deram uma definição ou um 
Aspectos Filosóficos Socioantropológicos da Educação 21
conceito para a Filosofia. Por vezes, esses conceitos foram 
complexos, por vezes simples; por vezes rebuscados e quase 
incompreensíveis. Mas de maneira geral, como argumenta 
Cipriano Luckesi, “a Filosofia é um corpo de conhecimento, 
constituído a partir de um esforço, que o ser humano vem 
fazendo de compreender o seu mundo e dar-lhe um sentido, 
um significado compreensível” (1993, p.22). Corpo de 
conhecimentos, em Filosofia, significa um conjunto coerente 
e organizado de entendimentos sobre a realidade.
A leitura de um texto de Filosofia nos proporciona 
o entendimento dos valores e sentidos, que seu autor desenvolve 
a partir do contexto que o cerca. O ato de filosofar permite, 
assim, a sistematização dos desejos e aspirações dos seres 
humanos, bem como o sentido para a relação com as pessoas, 
o amor, a amizade, o mundo do trabalho, a ciência, a educação, 
a política, a cultura, entre outros. Dito de outro modo, 
a Filosofia pode ser compreendida como um campo de 
construção de ideias/concepções, que permite a reflexão de 
assuntos do cotidiano (como as relações entre as pessoas) até 
as questões políticas de uma nação.
Para além de uma mera atividade abstracionista ou 
idealista, a Filosofia oferece um direcionamento para as ações 
dos sujeitos, ou seja, um rumo para ser seguido. Ela estabelece, 
como afirma Luckesi, um quadro organizado e coerente de “visão 
de mundo” sustentando, consequentemente, uma proposição 
organizada para o agir (LUCKESI, 1993, p. 23). As finalidades 
das açõestomadas por todos nós são aquelas que configuram 
um sentido para a existência, em suas mais variadas dimensões.
É interessante notar que a Filosofia dos gregos revela, 
como aponta Russel, a influência de certo número de dualismos 
para compreender o mundo (verdade x falsidade, certo x errado, 
justo x injusto, bem x mal, bom x ruim, harmonia x discórdia 
Aspectos Filosóficos Socioantropológicos da Educação22
RESUMINDO
etc.). O pensamento ocidental, portanto, tem em sua base o 
dualismo como maneira de perceber e interpretar o mundo e 
seus fenômenos. Sob uma ou outra forma, esses continuaram 
sendo tópicos sobre os quais os filósofos escrevem e discutem. 
“Por conseguinte, vem o dualismo da aparência e da realidade, 
muito vivo nos dias de hoje” (RUSSEL, 2013, p. 21). Junto com 
eles temos as questões da mente e da matéria, da liberdade e da 
necessidade, além de existirem as questões cosmológicas, que 
se referem a perguntas como: se as coisas são uma ou muitas; 
simples ou complexas e, finalmente, os dualismos do caos e da 
ordem, do ilimitado e do limite.
Neste capítulo, abordamos o conceito da Filosofia e estabelecemos 
relação com as suas origens, além de estudarmos as principais 
críticas aos sofistas.
Aspectos Filosóficos Socioantropológicos da Educação 23
Sócrates, Platão, Aristóteles e seus 
Lugares na História da Filosofia
Ao final do estudo deste capítulo, você será capaz de reconhecer 
as bases teóricas que fundamentam a história da Filosofia da 
Educação a partir dos estudos de Sócrates, Platão e Aristóteles.
Sócrates
As três maiores figuras da Filosofia grega estão ligadas 
a Atenas. Sócrates e Platão eram atenienses de nascimento 
e Aristóteles ali estudou e mais tarde ensinou. Sócrates (469- 
399 a.C.) nasceu em Atenas e foi condenado por “impiedade”, 
ou seja, sua condenação foi baseada em acusações de não crer 
nos deuses da polis e corromper os jovens. Esse filósofo viveu 
o apogeu e a crise da democracia ateniense. Atenas, após a 
vitória sobre os persas, havia se tornado uma grande potência, 
estendendo sua influência por quase toda a Grécia (ABRÃO, 
1999, p. 41). A vida cultural é intensa, com grandes escultores 
e artistas, dramaturgos como Ésquilo, historiadores (Heródoto 
e Tucídides), o médico Hipócrates e os homens públicos como 
Péricles.
Contudo, a hegemonia de Atenas fez crescer rivalidades 
com Esparta, as quais culminariam na Guerra do Peloponeso 
em 431 a.C. O conflito durou décadas, findando em 404 a.C. 
com a derrota de Atenas. O regime democrático ateniense se 
enfraqueceu em função de intrigas, conspiração e corrupção. 
OBJETIVO
Aspectos Filosóficos Socioantropológicos da Educação24
DEFINIÇÃO
 A crise de valores políticos e morais é muito significativa nesse 
contexto histórico de forma que a condenação de Sócrates, em 
399 a.C., é uma “triste metáfora da decadência da democracia 
e da própria Atenas” (ABRÃO, 1999, p. 42).
Encontramos em Sócrates um precursor das escolas 
estoica e cínica do período posterior da Filosofia grega. Com 
os cínicos, compartilha a sua própria despreocupação para com 
os bens terrenos e com os estoicos, o seu interesse pela virtude 
como o maior dos bens. Sabe-se que realizou seu ensino em 
locais públicos e era considerado um orador leigo. Como 
ele não deixou nada escrito, precisamos confiar nos escritos 
de dois de seus discípulos: o general Xenofonte e o Platão. 
O principal interesse de Sócrates, como mostra os diálogos 
de Platão, incide na busca e definição de termos éticos, como 
sabedoria, beleza, moderação, amizade, justiça e coragem. 
É interessante perceber que não nos são dadas respostas 
definitivas a tais questões, mas nos é mostrada a importância 
de fazê-las (RUSSEL, 2013, p. 77).
Terminologia ou expressões comumente ligadas ao 
filósofo: daimon (voz divina particular), maiêutica socrática, 
“conhece-te a ti mesmo”, alma (psyché), felicidade (eudaimonia).
O método de ensino socrático ficou conhecido como maiêutica, 
que significa “parto do conhecimento”, em que o aprendiz 
desenvolvia raciocínios dedutivos até gerar o conhecimento. A 
ação de Sócrates era induzir ao desvelar o que o aluno já tinha 
em sua alma (psyché), por meio de um rigoroso questionamento.
Aspectos Filosóficos Socioantropológicos da Educação 25
Isto ressalta a linha fundamental do pensamento 
socrático. Embora ele sempre diga que nada sabe (“só sei 
que nada sei”), não considera que o conhecimento esteja 
além do nosso alcance. O importante é o dever de tentar a 
busca do saber. Sócrates sustenta que o que faz o homem 
errar é a falta de conhecimento pois, se soubesse, não erraria. 
A causa dominante do mal seria a ignorância de modo que, 
para se alcançar o Bem e o conhecimento, precisamos possuir 
conhecimento. O vínculo entre o Bem e o conhecimento é 
um marco presente em todo pensamento grego. É interessante 
notar que a ética cristã se opõe a esse pensamento. Para ela, 
o importante é o sujeito possuir um coração puro, e isto 
provavelmente se encontra com mais facilidade entre os 
ignorantes (RUSSEL, 2013, p. 77).
Sócrates tentou esclarecer os problemas éticos por meio da 
discussão. Esse modo de descobrir as coisas mediante perguntas 
e respostas é chamado de dialética, da qual Sócrates foi um 
mestre.
Para Sócrates, conhecer a virtude tornou-se o principal 
objetivo do verdadeiro conhecimento, de tal forma que 
virtude e conhecimento tornam-se sinônimos. Com Sócrates, 
as questões morais deixam de ser tratadas como convenções 
baseadas nos costumes, as quais se modificam conforme 
as circunstâncias e os interesses, para se tornar problemas 
que exigem do pensamento uma elucidação racional. Nesse 
sentido, ele é fundador da Ética. Pensar racionalmente as 
questões morais implica denunciar tudo aquilo que aparece 
como virtude, desmascarando-o na sua falsidade. Com isso, 
SAIBA MAIS
Aspectos Filosóficos Socioantropológicos da Educação26
SAIBA MAIS
Ética
Definição
Origem
Por que
seguimos
Flexibilidade
Exceções
Significado
Exemplo
Moral
A ética é o estudo e a reflexão 
sobre a moral, das regras de 
conduta aplicadas a alguma 
organização ou sociedade.
Individual
Porque acreditamos que algo 
é certo ou errado.
A ética é normalmente 
consistente, embora possa mudar 
caso as crenças de um indivíduo 
mudem ou dependendo de 
determinada situação.
Uma pessoa poderá ir contra 
sua ética para se ajustar a um 
determinado princípio moral, 
como o código de conduta de 
sua profissão.
Ética vem da palavra grega 
«ethos” que significa conduta, 
modo de ser.
João teve uma atitude antiética 
ao furar a fila do banco.
A moral se refere às regras de 
conduta que são aplicadas a 
determinado grupo e cultura.
Sociedade
Porque a sociedade nos diz o que 
é certo ou errado.
A moral tende a ser consistente 
dentro de um determinado contexto, 
sendo aplicado da mesma forma a 
todos. Porém, pode variar de acordo 
com cada cultura ou grupo.
Uma pessoa que segue 
rigorosamente os princípios 
morais de uma sociedade pode 
não ter nenhuma ética. Da mesma 
forma, para manter sua integridade 
ética, pode violar os princípios 
morais dentro de um determinado 
sistema de regras.
Tem origem na palavra latina 
“moralis”, que significa 
“costume”.
No Brasil é imoral ter mais 
de uma esposa, enquanto em 
alguns países, como a Nigéria, é 
moralmente aceito.
Fonte: https://www.diferenca.com/etica-e-moral/
Sócrates põe o dedo na ferida da própria Atenas, que havia 
mergulhado em corrupções e fingia ser justa.
Principal diferença entre moral e ética.
Aspectos Filosóficos Socioantropológicos da Educação 27
Sócrates simplesmente questiona, não ensina nem quer 
aprender. Seu pensamento parece desprovido de conteúdo direto. 
Mesmo assim, ele propõe algo ao desestruturar as respostas 
fáceis de seus interlocutores, mostrando que o pensamento 
deve ser prudente. Se as respostas são formuladas de modo 
fácil é porque a pergunta não foi bem elaborada. Portanto, o 
que Sócrates propõe é formular perguntas adequadas, isto é, 
ummétodo de investigação que encaminhe o pensamento em 
direção à essência das coisas, sem desvios.
Quando se indaga se o exercício militar torna um homem corajoso, 
as possíveis respostas sempre giram em torno das vantagens 
e das desvantagens que esse treinamento oferece, sem alcançar 
o verdadeiro problema: o que é a coragem. Discutem-se os meios 
(o exercício militar) para atingir os próprios fins (a coragem), 
em vez de examinar os próprios fins.
Sócrates, porém, não apresenta diretamente à questão 
“o que é...” ao seu interlocutor. Primeiro ouve a resposta 
e apresenta objeções aos argumentos dos outros. É como se os 
pensamentos tivessem de experimentar outras possibilidades 
antes de adentrar ao campo certo do conhecimento. O diálogo, 
ou a dialética, cumpre essa função de “experimentação”. 
O pensamento sempre necessita de um interlocutor, com quem 
possa discutir e o verdadeiro conhecimento nasce desse diálogo; 
“não é transmissível do mestre ao aluno, mas arrancado do 
interior de uma discussão – um verdadeiro trabalho de parto 
(a maiêutica)” (ABRÃO, 1999, p. 44).
EXEMPLO
Aspectos Filosóficos Socioantropológicos da Educação28
Platão
Figura 1: Busto de Platão
Fonte: @pixabay
Mais de dois mil anos já se passaram desde o dia em 
que Platão (428-347 a.C.) ocupava o centro do pensamento 
filosófico da Grécia e em que todos os olhares convergiam 
para a fundação de sua escola, conhecida como Academia. 
Nascido numa família nobre em Atenas, foi batizado como 
Arístocles, mas ganhou o codinome de Platão, que significa 
“amplo”. Quando jovem, Platão começou a estudar com 
Crátilo, Heráclito e, por fim, Sócrates, sendo que seu objetivo 
era se preparar para a vida política por meio da Filosofia.
Aspectos Filosóficos Socioantropológicos da Educação 29
SAIBA MAIS
A organização da Academia seguia o modelo das escolas 
pitagóricas do sul da Itália, com as quais Platão mantivera 
contato durante as suas viagens. A Academia é precursora das 
universidades que se desenvolveram a partir da Idade Média. 
Como escola, sobreviveu por mais de novecentos anos, período 
mais longo do que o de qualquer outra instituição antes ou 
depois. Em 529 d.C., foi definitivamente fechada pelo imperador 
Justiniano, cujos princípios cristãos se sentiam ofendidos por 
esta sobrevivência das tradições clássicas. Os estudos acadêmicos 
eram ministrados mais paralelamente às matérias tradicionais 
das escolas pitagóricas: aritmética, geometria plana e espacial, 
astronomia e som ou harmonia constituíam a base do currículo. 
Todas as matérias seguiam o método dialético. Num sentido 
bastante real, este continua sendo o objetivo genuíno da educação, 
até mesmo nos dias de hoje. Não é função de uma universidade 
mostrar aos estudantes o maior número possível de fatos. Sua 
verdadeira tarefa é ensinar hábitos de exame crítico, bem como a 
compreensão de cânones e critérios referentes às matérias. Com 
o ensino propiciado na Academia platônica, o movimento sofista 
declinou rapidamente (RUSSEL, 22013, p. 81-82).
Ainda hoje, definem-se as propriedades e características 
de uma corrente filosófica, seja ela qual for, pela sua relação 
com o platonismo. Todos os séculos da Antiguidade que se 
seguiram a este filósofo, ostentam na sua epistemologia traços 
da Filosofia platônica, especialmente o mundo greco-romano 
que se unificou sob a universal Filosofia do neoplatonismo.
Platão, o mais importante propagador e continuador 
da obra de Sócrates, é quem dá à Filosofia a sua primeira 
Aspectos Filosóficos Socioantropológicos da Educação30
sistematização. Todavia, Platão nunca escreveu um livro-
texto (seus escritos estão na forma de diálogos) e sempre se 
recusou a estabelecer a sua Filosofia como sistema. Parece ter 
percebido que o mundo, no todo, é complexo demais para ser 
comprimido num molde literário ou filosófico preconcebido. 
Seus principais diálogos são:
 ■ 399-387 a.C. Apologia, Críton, Górgias, Hípias maior, 
Mênon, Protágoras (primeiros diálogos);
 ■ 380-360 a.C. Fédon, Fedro, A República, O banquete 
(diálogos intermediários);
 ■ 360-355 a.C. Parmênides, Sofista, Teeteto (diálogos 
finais).
Desde as investigações dos filósofos pioneiros, sobre o 
princípio do mundo, ou as exigências lógicas de Parmênidas 
e Zenão, e os impasses a respeito da pluralidade das coisas, 
até as questões sobre os valores humanos (formuladas, por um 
lado, pelos sofistas e, de outro, por Sócrates), passando pelos 
rigorosos estudos matemáticos dos pitagóricos, todos esses 
aspectos, que constituíram os temas do pensamento ocidental, 
encontramse não apenas sintetizados, mas também colocados 
em novos termos por Platão. (ABRÃO, 1999, p. 46).
A cultura antiga, que posteriormente a religião cristã 
assimilou na Idade Média, era uma cultura inteiramente baseada no 
pensamento platônico. É só a partir dela que se pode compreender 
uma figura como Santo Agostinho, que traçou a fronteira histórico-
filosófica da concepção medieval do mundo, por meio da sua 
Cidade de Deus, tradução cristã da República de Platão.
Em 399 a.C., o mentor de Platão, Sócrates, foi condenado 
à morte. Como Sócrates não havia deixado nada escrito, Platão 
assumiu a responsabilidade de preservar para a posterioridade o 
que tinha aprendido com o mestre. Primeiro na Apologia, relato 
Aspectos Filosóficos Socioantropológicos da Educação 31
sobre a defesa de Sócrates em seu julgamento, e depois ao usá-
lo como personagem de uma série de diálogos. Nesses diálogos, 
às vezes é difícil distinguir quais pensamentos são de Sócrates 
e quais ideias partiram do discípulo. No entanto, evidencia-se um 
retrato de Platão usando os métodos do mestre, especialmente 
a dialética, para explorar e explicar suas próprias concepções.
A República é provavelmente o mais famoso dos diálogos 
de Platão. A construção de um Estado ideal deu nome ao diálogo. 
Num primeiro momento, Platão tinha como preocupação 
buscar definições de valores morais como “justiça” e “virtude”. 
A Filosofia platônica recusa a solução dos sofistas para os quais 
a justiça e a injustiça não passam de convenções. Sócrates já 
havia apontado um caminho diferente: uma e outra confundem-se 
porque os homens não sabem verdadeiramente o que é a justiça, 
isto é, não conhecem a sua essência. Ao contrário, permanecem 
no nível das aparências, constituindo o mundo dos sentidos, o 
mundo sensível, em que tudo é instável e variável, de acordo 
com as circunstâncias e os pontos de vista. Vejamos a seguir 
como Platão desenvolve a noção de justiça:
Principiemos com o primeiro tópico indicado por 
mim, a saber, o que é a justiça e qual é a sua origem. 
Dizem que cometer injustiça é naturalmente bom 
e sofrê-la é naturalmente mau, mas que o mal 
de sofrer injustiça excede a tal ponto o bem de 
cometê-la que aqueles a cometeram e sofreram, 
tendo experimentado as duas posições, quando 
[afinal] lhes falta a capacidade de cometê-la e de 
se esquivarem de sofrê-la, decidem ser vantajoso 
estabelecer um acordo mútuo e comum de não a 
cometer nem a sofrer. O resultado é passarem a 
produzir leis e contratos e o que a lei determina 
classificam como justo e lícito. Isso, de acordo 
com eles, constitui a origem e a essência da justiça. 
É o meio-termo entre o melhor e o pior: o melhor 
Aspectos Filosóficos Socioantropológicos da Educação32
é perpetrar injustiça sem ser punido por isso, o pior 
é sofrê-la sem ser capaz de vingar-se. A justiça 
é um ponto mediano desses dois extremos. As 
pessoas a estimam não como um bem, mas porque 
são demasiado fracas para cometer injustiça com 
impunidade. Aquele, todavia, que possui o poder 
de cometê-la e é um homem autêntico, não faria 
acordo algum com ninguém para não fazer injustiça 
a fim de não a sofrer. Para ele isto seria loucura. 
Conforme tal teoria, Sócrates, eis aí a natureza da 
justiça e sua origem. (PLATÃO, 2006, p. 89)
Para Platão, a justiça reina quando cada um cuida da 
própria vida. Cada indivíduo realiza o trabalho que lhe compete, 
sem se imiscuir nosassuntos alheios. Nesse sentido, o sistema 
político funciona tranquila e eficientemente. A justiça, nesse 
sentido grego, está vinculada à noção de harmonia, o sereno 
funcionamento do todo por meio da adequada função de cada 
parte (RUSSEL, 2013, p. 94).
O raciocínio levou Platão a uma única conclusão: deve 
haver um mundo de ideias, ou formas, totalmente separado do 
mundo material. Ele concluiu que os sentidos humanos não 
conseguem perceber tal lugar, pois só nos é perceptível pela 
razão. Platão foi mais além ao afirmar, que o reino de ideias é 
de fato a “realidade”, e o mundo que nos cerca é moldado por 
essa outra realidade. Para ilustrar esse pensamento, que num 
primeiro momento pode ser confuso, Platão apresentou o que 
se tornaria conhecido como a “teoria da caverna”.
Ele nos convidou a imaginar uma caverna escura, na qual 
as pessoas estão aprisionadas desde o nascimento, amarradas e 
observando fixamente a parede ao fundo. Elas só podem olhar para 
frente, nunca para os lados. Atrás dos prisioneiros há uma chama 
brilhante que lança sombras na parede para a qual eles olham. 
Aspectos Filosóficos Socioantropológicos da Educação 33
Há também uma plataforma entre o fogo e os prisioneiros, 
na qual pessoas andam e exibem vários objetos de tempos em 
tempos, de modo que as sombras desses objetos são lançadas na 
parede. Tais sombras são tudo o que os prisioneiros conhecem 
do mundo, e eles não têm noção alguma sobre os objetos reais. 
Se um prisioneiro conseguir se desamarrar e se virar, verá ele 
mesmo os objetos. Mas, depois de uma vida de confinamento, 
ele provavelmente ficará muito confuso e talvez fascinado pelo 
fogo, e muito provavelmente se voltará de novo para a parede, 
a única realidade apresentada a ele desde o nascimento.
Platão discorre que tudo que nossos sentidos apreendem 
no mundo material não passa de imagens na parede da caverna, 
ou seja, são simples sombras da realidade. Essa crença é a base 
de sua teoria das formas: para cada coisa na terra que temos o 
poder de apreender com nossos sentidos, há uma correspondente 
“forma”(ou “ideia”) – uma eterna e perfeita realidade daquele 
objeto – no mundo das ideias. Como o que apreendemos pelos 
sentidos é baseado em uma experiência de “sombras” imperfeitas 
ou incompletas da realidade, não podemos ter um conhecimento 
real das coisas. No máximo, podemos ter opiniões, mas 
conhecimento genuíno só pode vir do estudo das ideias, e isso 
só pode ser alcançado pela razão.
Essa separação em dois mundos distintos – um, da 
aparência, e outro, do que Platão considerou como realidade de 
fato – solucionou o problema da busca de constantes num mundo 
aparentemente em transformação. O mundo material pode estar 
sujeito à mudança, mas o mundo das ideias de Platão é eterno e 
imutável.
Aspectos Filosóficos Socioantropológicos da Educação34
Aristóteles
Figura 2: Stanza della Segnatura, de Rafael Sanzio. Em relação às figuras centrais, Platão está à esquerda e 
Aristóteles à direita.
Fonte: @pixabay
Aristóteles nasceu em 384 a.C. na cidade de Estagira, na 
Calcídica, que se encontrava sob a dependência da Macedônia. 
Mas sua relação com este reino – que logo mais seria um grande 
império, subjugando a Grécia e, depois, a Pérsia – não se limita 
ao local de nascimento. Nicômaco, seu pai, era médico da corte 
de Filipe, rei da Macedônia. O filho deste, o célebre Alexandre 
Magno, teve o próprio Aristóteles como preceptor, entre 343 
e 340 a.C. (ABRÃO, 1999, p. 53).
Aspectos Filosóficos Socioantropológicos da Educação 35
SAIBA MAIS
Aristóteles tem na história da Filosofia uma influência decisiva. 
No período final da Idade Média, a versão cristã de seu pensamento 
torna-se praticamente a doutrina oficial da Igreja. A ciência 
moderna que nasce no Renascimento desenvolvese em meio ao 
acirrado combate contra o aristotelismo (ou às imagens que se 
criaram a seu respeito). Pensadores como Kant, Hegel, Marx fazem 
de Aristóteles uma fonte de inspiração, e até hoje se discutem as 
questões lógicas por ele propostas. Tamanha influência presta-se 
a equívocos: muitos, simplificadamente, opõem Aristóteles a seu 
mestre Platão, e outros ainda continuam a considerá-lo grande 
inimigo do desenvolvimento científico, ignorando as marcas que 
ele deixou na ciência.
Aristóteles tinha apenas dezessete anos quando chegou a 
Atenas para estudar na Academia de Platão, que na época, com 
sessenta anos, já tinha desenvolvido suas teorias. Estudioso e 
comprometido com os ensinamentos da Academia, Aristóteles 
tinha um temperamento muito diferente se comparado com 
Platão. Se Platão era brilhante e intuitivo, Aristóteles era erudito 
e metódico. Contudo, havia um respeito mútuo e Aristóteles 
permaneceu na Academia, como aluno e posteriormente 
professor, até a morte de Platão, vinte anos depois.
Aristóteles escreveu uma série de trabalhos definitivos, 
com grande preocupação literária e em forma de diálogos, 
da mesma forma que Platão. Essa informação só foi possível 
pelas citações feitas por autores posteriores, como Cícero, 
Plutarco, Diógenes, Laércio, entre outros. O que temos da 
vasta obra aristotélica limita-se praticamente a notas, que o 
Aspectos Filosóficos Socioantropológicos da Educação36
filósofo preparava para seus ensinamentos no Liceu. Como tais, 
tinham caráter resumido, apenas indicativo e muitas vezes só 
compreensíveis para o próprio autor. As principais obras de 
Aristóteles são:
 ■ Ética a Nicômano;
 ■ Política;
 ■ Órganon;
 ■ Retórica das paixões;
 ■ A poética clássica;
 ■ Metafísica;
 ■ De anima (da alma);
 ■ O homem de gênio e a melancolia;
 ■ Magna moralia (Grande Moral);
 ■ Ética a Eudemo;
 ■ Física;
 ■ Sobre o céu.
Por se dedicar ao estudo dos seres vivos e de tudo o que 
a natureza contém, Aristóteles não desprezou a observação das 
coisas que se apresentam aos sentidos. Logo, procura integrar 
a percepção do mundo sensível ao conhecimento científico e 
filosófico. Mas isso não significa que ele tenha se submetido 
ao mundo sensível e às suas variações e incertezas. Os sentidos 
que captam as coisas individuais consistem o ponto de partida: 
a percepção dessas coisas produz, no intelecto, imagens a elas 
correspondentes. A atividade do intelecto consiste em separar 
dessas imagens os aspectos acidentais, como o tamanho e a cor, 
para ficar com o que lhes é comum e essencial.
A percepção do mundo sensível mostra que tudo se 
transforma continuamente. Para dar conta disso, Aristóteles 
Aspectos Filosóficos Socioantropológicos da Educação 37
elabora noções de ato (energeia) e de potência (dynamis). 
O ato refere-se ao estado atual do ser, como existe aqui e agora. 
A potência, por outro lado, indica aquilo em que este ser se 
transforma, sem, no entanto, deixar de sê-lo. Por exemplo: a 
semente de uma árvore, enquanto ato, é semente, mas como 
potência é a árvore que dela vai germinar. As mudanças e o 
movimento são o modo como as potencialidades do ser vão se 
atualizando, passando da potência ao ato (ABRÃO, 1999, p. 56).
Como Platão, Aristóteles preocupou-se em encontrar 
algum fundamento imutável e eterno num mundo caracterizado 
pela mudança. Mas concluiu que não há necessidade de procurar 
por esse lastro num mundo de formas perceptíveis apenas 
à alma. A evidência principal estaria aqui, no mundo à nossa 
volta, perceptível pelos sentidos. Aristóteles acreditava que as 
coisas no mundo material não são cópias imperfeitas de alguma 
forma ideal de si mesmas, mas que a forma essencial de uma 
coisa é, na verdade, inerente a cada exemplo dessa coisa. Por 
exemplo, “o aspecto canino” não é apenas uma característica 
compartilhada pelos cães – é algo inerente a todo e qualquer 
cão. Ao estudar coisas particulares, portanto, conseguimos 
alcançar um pensamento sobre sua natureza universal e imutável 
(ATKINSON, 2012, p. 59-60).
Da mesma forma que Platão, Aristóteles tem um 
pensamento sistematizado em relação à cidade (a polis grega), 
mas analisa a articulação do homem com a cidade de maneira 
diferente.O centro do seu parecer está na felicidade (eudaimonia) 
como eixo central das relações virtuosas, permeando todo o agir 
humano. Isto significa dizer que Aristóteles considera que todas 
as ações humanas são motivadas pelo desejo de felicidade.
Do corpus aristotelicum, a Ética a Nicômaco é o mais 
importante dos textos sobre o problema ético na produção de 
Aristóteles, conjuntamente com a Ética a Eudemo, os Magna 
moralia e um pequeno tratado chamado Sobre as virtudes e vícios. 
Aspectos Filosóficos Socioantropológicos da Educação38
IMPORTANTE
A análise do problema ético em Aristóteles depende de uma 
caracterização nos traços essenciais do seu horizonte específico: 
o horizonte prático. Se a Filosofia na sua dimensão teórica visa à 
constituição de uma situação que permita contemplar a verdade, 
na sua dimensão prática, contudo, a Filosofia tende a expressarse 
no agir.
A virtude é um conceito fundamental na Ética de 
Aristóteles. A virtude é entendida pelo filósofo como meiotermo, 
ou ponto intermediário entre dois extremos ou dois vícios. 
Cultivar ações justas e controlar os apetites e impulsos é, ao 
mesmo tempo, treinar nosso modo da melhor forma possível. 
A razão vai impor o justo-meio entre qualquer dos dois extremos 
(excesso ou seu contrário).
O justo-meio não aparece em Aristóteles como uma ação 
medíocre (média), mas sim como o ponto alto de uma ação 
deliberada e comandada apenas pela razão. A vitória da razão 
sobre os instintos é inevitável no mesmo modo deliberativo de 
viver.
É ainda neste diálogo que Aristóteles disserta sobre a 
conduta humana e sua busca pela felicidade. Isto é, a conduta do 
homem está baseada nisso que entendemos por felicidade, mas a 
natureza da felicidade é o caminho para tentarmos compreender 
como Aristóteles poderia sugerir as regras do bem agir. Em se 
tratando da felicidade, a seguir apresentamos o trecho IV do 
Livro I do tratado Ética a Nicômaco:
Retomando, procuremos compreender, agora – uma 
vez que todo o saber toda a intenção tem um bem 
Aspectos Filosóficos Socioantropológicos da Educação 39
por que anseiam – o que dissemos sobre a perícia 
política e o que ela visa atingir sobre qual será 
o mais extremo dos bens susceptível de ser obtido 
pela ação humana. Quanto ao nome desse bem, 
parece haver acordo entre a maioria dos homens. 
Tanto a maioria quanto os mais sofisticados dizem 
ser a felicidade, porque supõem que ser feliz 
é o mesmo que viver bem e passar bem. Contudo, 
acerca do que possa ser a felicidade estão em 
desacordo e a maioria não compreende o seu sentido do 
mesmo modo que o compreendem os sábios. Para uns 
é alguma daquelas coisas óbvias e manifestamente 
boas, como o prazer, a riqueza ou a honra; para uns é 
uma coisa, para outros, outra - muitas vezes até para 
o mesmo podem ser coisas diferentes. Para quem 
está doente é a saúde, para quem é pobre, a riqueza. 
(ARISTÓTELES, 2009, p. 20)
Por conseguinte, para Aristóteles, é possível viver feliz na 
medida em que a pessoa cultive a honra, o prazer e o intelecto. 
O filósofo entende que a razão é um dos elementos que constitui 
as capacidades do homem, mas ela não é a única. A alma humana 
pode sofrer alguma interferência da faculdade do desejo ou 
do apetite, por isso não podemos considerá-la absolutamente 
racional. Diante da possibilidade dessa interferência, a virtude 
ética surge como domínio dessa parte da alma que não é racional. 
Sua redução aos limites da razão, segundo as explicações de 
Karen Franklin e Celso Pinheiro, passa a ser o grande trabalho 
da formação do indivíduo. “Essa virtude ética se adquire com a 
repetição de certas ações até que se estabeleçam como hábito” 
(FRANKLIN & PINHEIRO, 2014, p. 39).
Aspectos Filosóficos Socioantropológicos da Educação40
IMPORTANTE
A dialética segundo Platão e Aristóteles
No platonismo, a dialética é um processo de diálogo 
que se baseia no debate entre interlocutores comprometidos 
com a busca da verdade. Nesse debate, a alma (psyché) se 
eleva, gradativamente, das aparências sensíveis às realidades 
inteligíveis ou ideias.
No aristotelismo, a dialética se constitui pelo raciocínio 
lógico que, apesar de coerente em seu encadeamento interno, 
está ancorado em ideias apenas prováveis, e por esta razão 
traz em seu cerne a possibilidade de ser refutado.
RESUMINDO
Apesar das grandes diferenças, Aristóteles e Platão se aproximam 
pela similaridade de suas preocupações com o ser e com o proceder 
do homem. É relevante assinalar como o pensamento de todos 
os filósofos gregos influencia o pensamento posterior. Sócrates, 
Platão e Aristóteles vivem em um período histórico de decadência 
do Estado Grego, apesar de serem os principais pensadores da 
polis como cidade-estado. “Suas considerações sobre educação, 
cidadania, virtude e conhecimento foram fundamentais para 
a construção da relação entre Filosofia e Educação desde sua 
origem” (FRANKLIN & PINHEIRO, 2014, p. 41).
Aspectos Filosóficos Socioantropológicos da Educação 41
Conhecimento Mítico e Conhecimento 
Filosófico
OBJETIVO
Ao final do estudo deste capítulo, você será capaz de identificar a 
diferença entre conhecimento mítico e conhecimento filosófico, 
destacando suas principais características.
O que é o mito? “Sei bem o que é, desde que ninguém 
me pergunte; mas quando me pedem uma definição, fico 
perplexo”. Assim escreveu Santo Agostinho em suas Confissões, 
abraçando a difícil causa de apreender essa categoria esquiva 
chamada tempo e descrevendo a aflição a dar uma definição 
do mito (apud RUTHVEN, 1997, p. 13). Os mitos têm uma 
qualidade que Wallace Stevens atribui à poesia: conseguem 
resistir à inteligência. Por isso eles atraem os sistematizadores. 
Estes nos “tranquilizam, afirmando que o mito nada mais é que 
ciência primitiva, ou história, ou personificação de fantasias do 
inconsciente” (apud RUTHVEN, 1997, p. 13-14).
Os mitos são, evidentemente, uma série de histórias criadas 
pelos seres humanos. Mas essas histórias foram, durante longos 
séculos, motivo de crença e fé. Elas tiveram, no espírito dos 
gregos e dos latinos, o valor de dogma, condicionadas ao status de 
realidade. Como tal, inspiraram os homens e as mulheres, deram 
esteio a instituições por vezes respeitabilíssimas, sugeriram aos 
artistas, aos poetas, aos literatos a ideia de criações de admiráveis 
obras-primas.
Aspectos Filosóficos Socioantropológicos da Educação42
A Antiguidade, cujos conhecimentos científicos e 
filosóficos eram praticamente inexistentes, elegeu as divindades 
para suprir a necessidade de compreender os mistérios do 
mundo. No caso da Grécia e Roma, bem como muitos países 
escandinavos, é isso que explica a existência do grande número 
de deuses. Para Pierre Commelin, estudioso da mitologia grega, 
tudo o que provocou a admiração, o espanto, o temor ou o horror 
nos primeiros homens e nas primeiras mulheres adquiriu, aos 
seus olhos, um caráter divino. As virtudes e as paixões mais 
abstratas dos seres humanos, também têm esse status de serem 
marcadas por um cunho sobrenatural, de trazerem a chancela 
divina e revestirem, com uma fisionomia particular, as insígnias 
e os atributos da divindade (COMMELIN, 2011, p. 9).
Estudar a mitologia é iniciar-se na concepção de um mundo 
primitivo, percebido numa penumbra misteriosa. Não ver nela 
mais que a aberração de espíritos rústicos e supersticiosos é, sem 
dúvida, julgá-la apenas de acordo com as aparências; mas, por 
outro lado, ver nela apenas alegorias, procurar a explicação de 
todos esses mitos, de todas essas fábulas, de todas essas lendas 
na observação do mundo físico, é superar os limites da realidade. 
Seguimos na mesma linha de pensamento de Pierre Commelin 
(2011): a imaginação e a fantasia têm um importante papel nessa 
longa enumeração de crenças mitológicas aceitas pelos povos 
antigos. Cada século, cada geração compraz-se em aumentar o 
número de seus deuses, de seus heróis, de suas maravilhas e de 
seus milagres.
Os mitos antigos, em especial a Teogonia de Hesíodo,narravam o modo pelo qual o mundo havia emergido do caos, 
como se diferenciaram as suas diversas partes, como se 
constituiu e estabeleceu o conjunto da sua arquitetura. Mas o 
processo de gênese, nessas narrativas, reveste-se da forma de um 
quadro genealógico. Ou seja, como bem argumenta o historiador 
e antropólogo Jean Pierre Vernant, “ele se desenrola seguindo 
Aspectos Filosóficos Socioantropológicos da Educação 43
a ordem de filiação entre os deuses, no ritmo dos sucessivos 
nascimentos, dos casamentos, das intrigas, misturando e opondo os 
seres divinos de gerações diferentes” (VERNANT, 1990, p. 478).
A deusa Gaia (Terra) engendra sozinha Ouranós 
(Céu) e Póntos (Onda salgada); acasalada a 
Ouranós, que ela acaba de criar, dá à luz os Titãs, 
primeiros mestres do céu, revoltados contra o seu 
pai e cujos filhos, os Olímpicos, vão, por sua vez, 
combater e derrubar, a fim de confiar ao mais jovem 
deles, Zeus, a incumbência de se impor no cosmo, 
como soberano novo, uma ordem enfim definitiva. 
(VERNANT, 1990, p. 478-479)
No mundo grego, o pensamento racional surge no século 
VI a.C., especificamente nas cidades gregas da Ásia menor. 
O nascimento da Filosofia marcaria, assim, o começo do 
pensamento científico – poder-se-ia dizer simplesmente: do 
pensamento. Vernant sugere que na “escola de Mileto, o logos 
teria pela primeira vez libertado do mito, como as escaras caem 
dos olhos do cego” (VERNANT, 1990, p. 411). Mais que uma 
mudança de atitude intelectual, do que uma mutação mental, 
trata-se de uma revelação decisiva e definitiva relacionada ao 
pensamento. O aparecimento do logos, portanto, introduziria na 
história uma descontinuidade radical: “viajante sem bagagem, 
a Filosofia viria ao mundo sem passado, sem pais, sem família; 
seria um começo absoluto” (VERNANT, 1990, p. 442).
Essa nova maneira de pensar, racional e filosófica, 
é considerada oposta ao pensamento mítico. É como se na Grécia 
do século VI a.C., o homem tivesse se libertado das fantasias 
da mitologia e da religião, para se afirmar e se desenvolver 
racionalmente.
Aspectos Filosóficos Socioantropológicos da Educação44
IMPORTANTE
RESUMINDO
As principais diferenças entre Mito e Filosofia
Mito: narra os acontecimentos passados, buscando um entendimento 
sobre a origem, as causas sobretudo até o momento presente;
Filosofia: ocupa-se em explicar não somente os acontecimentos 
passados, mas tudo como é no presente e como será no futuro;
Mito: narra a origem do mundo baseando-se em genealogias e 
ação de forças sobrenaturais;
Filosofia: explica a origem do mundo pela combinação de 
elementos naturais;
Mito: não se preocupa com as contradições nem com as coisas 
incompreensíveis;
Filosofia: exige um pensamento coerente, racional, lógico. 
A autoridade sobre o conhecimento não está no filósofo, mas 
fundada na razão que todas as pessoas possuem.
Neste capítulo, estudamos a diferença entre conhecimento 
mítico e conhecimento filosófico, destacando suas principais 
características.
Aspectos Filosóficos Socioantropológicos da Educação 45
A Questão do Saber: o Conhecimento 
e sua Tipologia
OBJETIVO
Ao final do estudo deste capítulo, você será capaz de classificar a 
tipologia do conhecimento e descrever cada um dos tipos.
Na prática docente, muitas vezes se exercita o ensino sem se 
perguntar o que é o conhecimento, seu sentido e seu significado. 
Para um exercício satisfatório do ensino, entre outros elementos 
fundamentais (como Psicologia e Sociologia da Educação), 
é importante, como aponta Luckesi, possuir uma teoria do 
conhecimento. Teoria do conhecimento nada mais é do que “um 
entendimento do que vem a ser o conhecimento, seu processo, 
seu modo de ser” (LUCKESI, 1993, p. 121).
O que significa “conhecer”? De modo geral, pode-se dizer 
que “conhecer é elaborar um modelo de realidade” e “projetar 
ordem onde havia caos” (CYRINO & PENHA, 1992, p. 13). 
Nesse sentido, três elementos são necessários para que haja 
conhecimento:
 ■ O sujeito, que é o ser que conhece;
 ■ O objeto, aquilo que o sujeito investiga para conhecer;
 ■ A imagem mental em forma de opinião, ideia ou conceito 
que resultam da relação sujeito-objeto e que passa a habitar a 
subjetividade daquele que conhece.
Visto que o ser humano é um sujeito pensante, senciente 
(que percebe o mundo por meio dos sentidos e das impressões) 
Aspectos Filosóficos Socioantropológicos da Educação46
REFLITA
O conhecimento pode ser entendido como aquilo que adquirimos 
nos livros, nas aulas e nas conversas, com o objetivo de alcançar 
o entendimento da realidade. O que está em primeiro lugar, o que 
está na raiz do conhecimento, é a elucidação da realidade e não a 
retenção de informações contidas nos livros. Essas informações 
deverão ser auxiliares no entendimento da realidade; contudo, 
elas por si mesmas não são o conhecimento que cada sujeito tem 
da realidade. É preciso utilizar-se das informações de maneira 
intelectualmente ativa para que se transformem em efetivo 
entendimento do mundo exterior. Muitas vezes o conhecimento 
e comunicante, o resultado é a transmissão dessa articulação 
mediante linguagem simbólica, a qual o diferencia dos demais 
seres existentes. Essa linguagem pode ser oral ou escrita, 
verbal ou não verbal. O saber é um conjunto de informações e 
conhecimentos que todo sujeito mobiliza para relacionar-se com 
o mundo, interagir com os semelhantes, com a sociedade, com o 
universo e com a vida (CHARLOT, 2000).
Em função da relação sujeito-objeto, da qual resultam 
informações, conhecimentos e saberes, o sujeito busca compreender, 
representar e explicar os objetos com os quais convive em sua vida 
prática e até aqueles que ele imagina que possam existir como 
ideia formal apenas. A isso chamamos conhecimento, produto da 
inteligência simbólica humana por meio da qual o múltiplo ganha 
uma unicidade, a diversidade recebe certa harmonia e o vazio 
é preenchido por um sentido, sendo o principal deles o sentido 
existencial, a razão de ser da vida, o motivo pelo qual o homem e 
a mulher são, pensam, sentem, julgam, valoram, decidem e agem 
no aqui-agora de seu ser estar no mundo.
Aspectos Filosóficos Socioantropológicos da Educação 47
Os Tipos de Conhecimento
Ao tratar sobre a construção do conhecimento e o ensino 
das ciências, Ana Maria Carvalho (1997) define quatro tipos de 
conhecimento, quais sejam: (1) conhecimento popular ou senso 
comum, (2) conhecimento filosófico, (3) conhecimento teológico, 
(4) conhecimento científico.
Conhecimento Popular ou Senso Comum
O conhecimento popular é valorativo por excelência, pois 
se fundamenta numa seleção operada com base em estados 
de ânimo, conhecimentos prévios, experiência, impressões e 
emoções do sujeito. A característica de assistemático baseia-se na 
“organização” particular das próprias experiências do indivíduo 
cognoscente, e não em uma sistematização das ideias, isto é, 
na busca de uma formulação geral que explane os fenômenos 
observados. Além disso, é um tipo de conhecimento verificável, 
uma vez que está circunscrito à vida do cotidiano e se relaciona 
ao que se pode perceber na vida diária. Por fim, pode ser falível e 
inexato, pois se conforma com a aparência e com o que se ouviu 
dizer a respeito do objeto.
O conhecimento do senso comum ou popular nada mais 
seria, também, que o resultado das necessidades de resolver os 
problemas do cotidiano. Nele, há uma tendência de manter o 
sujeito que o elabora como um espectador passivo da realidade, 
subjugado pelos fatos e acontecimentos do seu ambiente. 
é confundido com o processo de decorar informações dos 
livros, para a seguir, repeti-las em provas escolares. Isso não é 
conhecimento, pois essa atitude é memorização de informação, 
sem saber o que, de fato, essa informação significa.
Aspectos Filosóficos Socioantropológicos da Educação48
 Por isso o conhecimento do senso comum caracteriza-se por ser 
elaborado de forma espontânea e, muitas vezes, intuitiva.
Conhecimento Filosófico
Corpode conhecimento, em Filosofia, significa um conjunto 
coerente e organizado de entendimentos sobre a realidade. 
Conhecimentos estes que expressam a compreensão, que se tem 
do mundo, a partir de desejos, anseios e aspirações. Quando 
lemos um texto de Filosofia, nos apropriamos do entendimento, 
que o seu autor teve do mundo que o cerca, especialmente dos 
valores que dão sentido a esse mundo. Valores esses que, por 
vezes, são aspirações que deverão ser buscadas e realizadas, se 
possível. O filósofo, conforme assinala Luckesi, sistematiza as 
aspirações dos seres humanos, aspirações essas que dão sentido 
ao dia a dia, à luta, ao trabalho, à ação. (LUCKESI, 1993, p. 22). 
Ninguém vive o cotidiano sem um sentido direcionado ao seu 
trabalho, à sua relação com as pessoas, ao amor, à amizade, à 
ciência, à educação, à política etc.
Segundo Trujillo Ferrari (1982), o conhecimento filosófico 
é valorativo, pois seu ponto de partida consiste em hipóteses, as 
quais não poderão ser submetidas à observação. “As hipóteses 
filosóficas baseiam-se na experi6encia e não da experimentação” 
(TRUJILLO, 1974, p. 12). Por conseguinte, o conhecimento 
filosófico não é verificável, visto que os enunciados das hipóteses 
filosóficas, ao contrário do que ocorre no âmbito da ciência, 
não podem ser confirmados nem refutados. É ainda um tipo de 
conhecimento racional, em virtude de abarcar um conjunto de 
enunciados logicamente correlacionados. Caracteriza-se por ser 
sistemático, pois seus enunciados visam a uma representação 
coerente da realidade estudada, numa tentativa de apreendê-la 
em sua totalidade. Por último, pode ser infalível, já que seus 
postulados não são submetidos ao teste de experimentos.
Aspectos Filosóficos Socioantropológicos da Educação 49
Conhecimento Científico
O conhecimento científico é factual (real), porque se 
relaciona com ocorrências e fatos, isto é, com toda “forma de 
existência que se manifesta de algum modo” (TRUJILLO, 1982, 
p. 14). Constitui um tipo de conhecimento dito contingente, 
uma vez que suas proposições têm sua veracidade ou falsidade 
conhecida por meio da experimentação e não apenas da razão, 
como ocorre do pensamento filosófico. É sistemático, pois se trata 
da elaboração de um conjunto de saber ordenado logicamente, 
constituindo um sistema de ideias (teoria) e refutando todo e 
qualquer tipo de conhecimento disperso, desconexo e que não 
passou por experimentos verificáveis. É nesse sentido que possui 
a característica de verificabilidade; caso as hipóteses não possam 
ser comprovadas, não pertencem ao campo da ciência.
Constitui um conhecimento falível, em virtude de não ser 
definitivo, absoluto ou final. Por isso, novas proposições são aceitas 
e o desenvolvimento de técnicas, procedimentos e metodologias 
podem reformular o corpo teórico existente.
Um dos filósofos que se dedicou à Filosofia da ciência, entre 
outros assuntos, foi o francês Gaston Bachelard (1884- 1962). A 
intenção substancial de toda a estrutura dos escritos de Bachelard 
e seu método de reflexão é a análise da produção do conhecimento 
humano sob uma perspectiva histórica. Conforme o estudo dos 
procedimentos e das ideias desenvolvidas em períodos de tempo 
demarcados por ele mesmo, o autor afirma que o estudo crítico 
dessas produções pode ajudar a entender os caminhos trilhados 
para a construção dos conhecimentos. Durante a história de 
construção da ciência ocidental é possível identificar, mesmo 
que de forma geral, três momentos específicos.
 ■ O primeiro é chamado de Pré-Científico e corresponde 
à Antiguidade Clássica e ao Renascimento;
Aspectos Filosóficos Socioantropológicos da Educação50
 ■ O segundo é o Estado Científico propriamente dito, 
que seria o fim do século XVIII e início do XIX;
 ■ O terceiro corresponderia ao período do Novo Espírito 
Científico (depois do início do século XIX até os dias de hoje 
(BACHELARD, 2005, p. 9).
As mudanças de objetivos e métodos que ocorreram nessas 
etapas históricas do pensamento científico são resultado de um 
movimento de estudo crítico do passado, da não repetição de 
‘caminhos errados’ nos processos dessa construção. É necessário 
que se considere a cultura científica em termos de descontinuidade 
com o real, com a experiência imediata e, também, com o seu 
passado. Não seria possível a criação do novo, se essa produção 
fosse linear e previsível, dedutível por uma lógica interna de 
funcionamento, como se um fato novo fosse simplesmente o 
resultado/a soma de fatos anteriores. É contra esse modo de 
interpretação continuísta da cultura científica que Bachelard vai 
sustentar seus argumentos na proposta de uma epistemologia 
histórica do conhecimento que reconhece, no não continuísmo, 
seu funcionamento primordial.
A história humana bem pode, em suas paixões, 
em seus preconceitos, em tudo que releva dos 
impulsos imediatos, ser um eterno recomeço; 
mas há pensamentos que não recomeçam; são os 
pensamentos que foram retificados, alargados, 
completados. Eles não voltam a sua área restrita 
ou cambaleante. Ora, o espírito científico é 
essencialmente uma retificação do saber, um 
alargamento dos quadros do conhecimento. 
Julga seu passado histórico, condenando-o. Sua 
estrutura é a consciência de suas faltas históricas. 
Cientificamente, pensa-se o verdadeiro como 
retificação histórica de um longo erro, pensa-se a 
experiência como retificação da ilusão comum e 
primeira. (BACHELARD, 1995, p. 147)
Aspectos Filosóficos Socioantropológicos da Educação 51
Conhecimento Teológico ou Religioso
O conhecimento religioso baseia-se em um conjunto 
de doutrinas que contém asserções sagradas (valorativas), 
justamente por terem sido reveladas pelo sobrenatural 
(inspiracional) e, assim sendo, tais verdades são consideradas 
infalíveis e indiscutíveis (exatas).
É um conhecimento sistemático do mundo, pois contempla 
temas como origem, significado, finalidade e destino do 
humano. Suas evidências não são verificadas em função de que 
a atitude de fé perante um conhecimento revelado é a base mais 
importante. Nesse sentido, os questionamentos não são trazidos 
para o campo do conhecimento religioso. Parte-se do princípio 
de que as “verdades” tratadas são infalíveis e indiscutíveis, por 
consistirem em revelações da divindade.
Nota-se que a adesão das pessoas passa a ser um ato de fé, 
pois a visão sistemática do mundo é interpretada como decorrente 
dos atos de um criador divino, cujas evidências não são postas em 
dúvidas nem sequer verificáveis.
REFLITA
A postura do teólogos e cientistas diante da Teoria da Evolução 
das Espécies, de Charles Darwin, particularmente do homem, 
indica as abordagens diversas. De um lado, as posições dos 
teólogos fundamentam-se nos ensinamentos de textos sagrados. 
De outro, os cientistas buscam, em suas pesquisas, fatos 
concretos capazes de comprovar (ou refutar) suas hipóteses. 
Se o fundamento do conhecimento científico consiste na evidência 
Aspectos Filosóficos Socioantropológicos da Educação52
dos fatos observados e experimentalmente controlados, no caso 
do conhecimento teológico o fiel não se detém nelas à procura de 
evidência, mas da causa primeira, ou seja, da revelação divina.
Apesar da separação metodológica entre os tipos 
de conhecimento popular, filosófico, religioso e científico, no 
processo de compreensão da realidade, o sujeito pode transitar 
nas diversas áreas. Ao investigar sobre o “homem”, por exemplo, 
pode-se realizar uma série de conclusões sobre sua atuação na 
sociedade, baseada no senso comum ou na experiência cotidiana. 
Pode-se analisá-lo como um ser biológico, com base na 
investigação experimental, as relações existentes entre os órgãos 
e suas funções. Pode-se questionar a sua origem e o seu destino, 
assim como sua liberdade. Finalmente, pode-se observá-lo como 
ser criado pela divindade, a sua imagem e semelhança, e meditar 
sobre o que dizem os textos sagrados.
Aspectos Filosóficos Socioantropológicos da Educação 53
Popular
Valorativo
ReflexivoAssistemático
Verificável
Falível
Inexato
Filosófico
Valorativo
Racional
Sistemático
Não
verificável
Infalível (se
coloca como)
Exato (se
coloca como)
Científico
Real (factual)
Contingente
Sistemático
Verificável
Falível
Aproximadamente
exato
Religioso
Valorativo
Inspiracional
Sistemático
Não
verificável
Infalível (se
coloca como)
Exato (se
coloca como)
RESUMINDO
Veja no quadro a seguir um resumo deste nosso estudo acerca do 
conhecimento, seus tipos e suas características principais.
Aspectos Filosóficos Socioantropológicos da Educação54
UNIDADE
02
Aspectos Filosóficos Socioantropológicos da Educação56
Filosofia e Pensamento Educacional na 
Modernidade
OBJETIVO
Ao final do estudo deste capítulo, você será capaz de interpretar 
as características e o contexto histórico, em que foi gestada a 
filosofia e o pensamento educacional na modernidade...
No curso do século XVI a concepção medieval começou 
a declinar, e aos poucos surgiram forças que forjaram o atual 
mundo moderno. Grandes movimentos marcam o período de 
transição, que se estende do declínio da Idade Média até o grande 
surto de progresso do século XVII, a saber: 1) o Renascimento 
italiano; 2) a Reforma Luterana; 3) o avanço da investigação 
científica; 4) o projeto filosófico humanista; 5) o Absolutismo 
francês; 6) posteriormente o Iluminismo.
É em meio a esse quadro que nasce e se desenvolve o 
pensamento moderno, marcado pela confiança na razão. Trata-
se de conferir à razão a tarefa de significar o mundo, reproduzi-
lo e representá-lo, afastando do pensamento o que é disperso, 
desconexo, mítico e sobrenatural.
O período conhecido como Filosofia Moderna, portanto, 
estende-se por pouco mais de dois séculos e meio de história. 
Como todo período histórico da Filosofia, é bastante difícil 
fixarmos uma data para seu início. Embora alguns autores 
considerem a Filosofia do Renascimento, nos séculos XV e 
XVI, como parte da Filosofia Moderna, em geral, aceita-se 
que o filósofo que iniciou a Filosofia Moderna tenha sido René 
Descartes (1596-1650) no século XVII, uma vez que seus 
trabalhos definiram e deram corpo aos métodos filosóficos de 
Aspectos Filosóficos Socioantropológicos da Educação 57
tal período. Entretanto, como afirma Franklin e Pinheiro (2014), 
alguns outros filósofos, anteriores a Descartes, como Montaigne 
(1533-1592) e Francis Bacon (1561-1626), aparecem também 
como membros da Filosofia Moderna. 
Da mesma forma, o trabalho de Ludwing Wittgenstein 
é considerado o término de tal período, iniciando o que é 
normalmente chamado de período pós-moderno. O período 
da Filosofia Moderna não é caracterizado por uma escola ou 
doutrina específica, mas por um estilo de trabalhar as questões 
filosóficas e por certas premissas ou hipóteses comuns.
As áreas exploradas nessa época incluíam a filosofia da 
mente, especialmente o problema mente-corpo identificado por 
Descartes, epistemologia e metafísica. Por não possuir uma 
escola única, a Filosofia Moderna é normalmente dividida pelas 
correntes filosóficas, que exploraram os principais temas dessa 
época. Os principais nomes foram organizados posteriormente 
em dois grupos: os racionalistas e os empiristas. Os próprios 
autores não se identificavam dessa forma, mas posteriormente 
foram assim organizados em termos de história da Filosofia.
Entre os racionalistas encontramos filósofos franceses e 
alemães, que defendiam que todo conhecimento deve originar-
se de algum tipo de ideias inatas na mente (aquelas ideias 
que são nativas, já nascem com a pessoa). Contudo, alguns 
racionalistas afirmaram ainda que todo o conhecimento é inato 
ou provido por meio do raciocínio dedutivo, enquanto outros 
racionalistas aceitavam um maior papel da experiência. Entre os 
principais racionalistas encontramos René Descartes, o logicista 
e matemático Gottlob Frege e Baruch Spinoza. 
Tendo como principais figuras os filósofos britânicos John 
Locke, George Berkely e David Hume, o empirismo era o opositor 
natural do racionalismo. Essa posição defendia que a mente era 
uma tábula rasa, termo introduzido por Locke, significando que 
não possuímos ideias inatas e que o conhecimento é impresso 
em nossa mente, por meio dos dados dos sentidos. Com isso, 
Aspectos Filosóficos Socioantropológicos da Educação58
defendeu ainda que existiam duas formas para o surgimento das 
ideias, pela sensação e pela reflexão, com ideias podendo ser 
simples ou complexas.
Tabela 1: Pontos em Comum e Discordâncias
Pontos em comum Pontos de discordância
Racionalismo
Tentam resolver 
o problema da 
capacidade de nosso 
pensamento para 
captar a realidade 
externa; partem de 
convicções teóricas 
fundamentais 
que permitem 
a constituição 
do problema: a 
indubitabilidade das 
nossas representações 
e a existência da 
realidade exterior a 
elas.
Caracteriza-se pela 
pressuposição de 
princípios inatos 
e conhecimentos 
a priori. O visível 
esconde aquilo que 
está para além dele.
Empirismo
Nega os princípios 
inatos e a 
possibilidade de 
conhecer a priori. O 
visível, nesse caso, 
é revelador por si 
só. A sensibilidade 
é tomada como a 
relação primeira 
com o real.
Fonte: (FRANKLIN & PINHEIRO, 2014, p. 72.)
Nessa direção, devemos entender que o Iluminismo 
europeu pretende debater a educação a partir de uma abordagem 
epistemológica empirista que ressalta o papel das experiências 
vividas pelos homens. No entanto, o mesmo empirismo, em 
Locke, por exemplo, aponta para a importância da educação 
em elucidar o vivido e/ou preparar para compreendê-lo mais 
Aspectos Filosóficos Socioantropológicos da Educação 59
plenamente. Portanto, como aponta Novelli (2001) a educação 
adquire aqui um papel de superação em relação ao antigo regime 
caracterizado pela centralização do ensino e pela concentração 
de conhecimentos entre poucos escolhidos.
Kant apresentou ainda um sistema filosófico sofisticado 
que causou uma verdadeira transformação na filosofia alemã. 
Embora seu objetivo de encerrar a disputa entre racionalistas e 
empiristas, pela unificação de ambas as posições, não tenha sido 
atingido, Kant promoveu grandes mudanças e novas correntes 
na filosofia de sua época, sendo particularmente responsável 
pelo surgimento da corrente filosófica conhecida como 
Idealismo Alemão. O idealismo veio a afirmar que o mundo e 
a mente devem ser entendidos segundo as mesmas categorias, 
estabelecendo quais categorias seriam estas, o principal trabalho 
neste sentido foi a Crítica da Razão Pura, de Kant, publicada em 
1781. Este desenvolvido levou também ao trabalho do filósofo 
Georg Wilhelm Friedrich Hegel.
RESUMINDO
Neste capítulo, abordamos o nascimento e o desenvolvimento 
do pensamento moderno da filosofia e a importância deles para 
a educação na modernidade.
Aspectos Filosóficos Socioantropológicos da Educação60
Leitura e Recortes Acerca de Educação e 
Filósofos da Modernidade
OBJETIVO
A seguir, aprofundaremos as ideias filosóficas de Kant, Hegel 
e Jean Jacques Rousseau, bem com suas contribuições para 
a Filosofia da Educação. Além disso, também será melhor 
definida a diferença entre os filósofos racionalistas e empiristas 
no contexto da Filosofia Moderna..
René Descartes
René Descartes (1596-1650) foi um filósofo, físico e 
matemático francês, uma das figuras mais importantes da Filosofia 
Moderna e da Revolução Científica. O filósofo defende a ideia 
de que a razão serve como guia para o conhecimento. Encontra-
se aqui justificado o título de racionalismo ao pensamento de 
Descartes. Suas principais obras são:
 �Discurso (1637).
 �Meditações (1641).
 �Os princípios da Filosofia (1644).
Aspectos Filosóficos Socioantropológicos da Educação 61
Figura 1: René Descartes
Fonte: @commons. 
Muitos especialistas afirmam que, a partir de Descartes, 
inaugurou-se o racionalismo da Idade Moderna. Décadas mais 
tarde, surgiria nas ilhas Britânicas um movimento filosófico 
que, de certa forma, seria o seu oposto – o empirismo, com John 
Locke e David

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