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1 O Programa Criança Feliz e as Diversidades das Infâncias brasileiras Ficha catalográfica elaborada pela Seção de Catalogação e Classificação da Biblioteca Central da Universidade Federal de Viçosa - Campus Viçosa O Programa Criança Feliz e as diversidades das infâncias P964 brasileiras [recurso eletrônico] / organizador Marcelo 2022 José Braga ; elaboração de conteúdo Naise Valéria Guimarães Neves ... [et ai.]. - Viçosa, MG, c2022. 1 livro eletrônico (128 p.) : il. color. Disponível em: https://moodle.cidadania .gov .br/ead Inclui bibliografia. ISBN 978-85-66148-31-2 1. Crianças - Política governamental. 2. Crianças - Formação. 3. Crianças - Educação. 4. Direitos das crianças. 1. Braga, Marcelo José, 1969-. li. Neves, Naise Valéria Guimarães, 1968-. Ili. Monteiro, Ana Louricélia Chagas, 1966-. IV. Ladeira, Priscila Daniele, 1988-. V. Gusmão, Camila Botelho, 1999-. VI. Cordeiro, Ester Augusto, 2000-. VII. Alves, Juliana Monteiro, 1999-. VIII. Brasil. Ministério da Cidadania. Programa Criança Feliz. IX. Universidade Federal de Viçosa. Instituto de Políticas Públicas e Desenvolvimento Sustentável. X. Universidade Federal de Viçosa. Coordenadoria de Educação Aberta e a Distância. CDD 22. ed. 353.536 Bibliotecário responsável: Euzébio Luiz Pinto - CRB6/3317 3 Sumário Apresentação da Unidade I ....................................................... 8 Unidade I: Conhecendo os Marcos Legais da Primeira Infância ......................................................................................... 10 Aula Narrada 1 1.1. A Lei N. 13.257/2016 1.2. A Portaria Interministerial N. 1/2018 1.3. Como Surge o Programa Criança Feliz 1.4. Objetivos e Ações do PCF 1.5. Decreto N. 9.855/2019 1.6. A Portaria N. 664/2021 Apresentação da Unidade II e III ........................................... 27 Unidade II - Educação Permanente ....................................... 29 Aula Narrada 2: 1.1. O que é Educação Permanente e sua importância para os profissionais do PCF e demais gestores que trabalham com temática da Primeira Infância. 1.2. Educação Permanente x Continuada na Primeira Infância. 1.3. Relação da Educação Permanente e a prática cotidiana para a promoção do desenvolvimento infantil. 4 Unidade III - Políticas Públicas e Políticas Sociais ...... 37 Aula Narrada 3: 2.1. O que são Políticas Públicas e qual a importância das Políticas Públicas e Políticas Sociais para a garantia de direitos. 2.2. Direito das crianças em diálogo com o Programa Criança Feliz. 2.3. Políticas Públicas Intersetoriais e o Programa Criança Feliz. 2.4. O Programa Criança Feliz e sua inserção como Política Social, considerando as especificidades da proteção social no Brasil. Apresentação da Unidade IV, V e VI ................................ 47 Unidade IV - As diversidades brasileiras ....................... 49 Aula Narrada 4: 4.1. Diversidades da formação social e econômica brasileira 4.2. Variedades regionais e culturais do Brasil 4.3. A política social e a apreensão das territorialidades e regionalidades 4.4. O Programa Criança Feliz e sua inserção nos territórios diversos Unidade V - As diversidades das famílias brasileiras..57 Aula Narrada 5: 5.1. Famílias extensas e famílias monoparentais 5.2. A composição das famílias brasileiras atualmente 5.3. Quem são os cuidadores e as cuidadoras das crianças nas famílias brasileiras 5 Unidade VI - O desenvolvimento infantil e as diversidades das infâncias brasileiras .............................. 63 Aula Narrada 5: 6.1. Importância do desenvolvimento infantil para a quebra intergeracional da pobreza 6.2. Os aspectos diversos das infâncias brasileiras 6.3. O papel das cuidadoras e dos cuidadores na promoção do desenvolvimento infantil Apresentação da Unidade VII ............................................. 73 Unidade VII - Ações de Articulação para a Efetividade do PCF e do Desenvolvimento Infantil ............................ 74 Aula Narrada 7 7.1. O papel das políticas sociais para garantir a intersetorialidade na promoção do desenvolvimento infantil 7.2. As ações intersetoriais para a Primeira Infância 7.3. Envolvimento dos diversos atores para garantir a intersetorialidade das políticas sociais voltadas à Primeira Infância e a intersetorialidade dentro do Programa Criança Feliz 7.4. Contribuição do PCF para o fortalecimento da Primeira Infância 6 Apresentação da Unidade VIII e IX ................................ 92 Unidade VIII - O brincar como estratégia para o desenvolvimento infantil e o fortalecimento de vínculos familiares ........................................................ 94 Aula Narrada 8 8.1. O brincar na primeira infância 8.2. A importância do brincar para o resgate cultural 8.3. O adulto brincante e sua importância para o fortalecimento de vínculos com as crianças 8.4. Integração de novas formas de brincar como processo de aprendizagem Unidade IX - Propostas de atividades lúdicas como estratégia para o desenvolvimento infantil e o fortalecimento de vínculos familiares ....................... 109 Aula Narrada 9 9.1. A metodologia do PCF como ferramenta para o uso do lúdico no fortalecimento de vínculos e no exercício da parentalidade. Falar das visitas familiares como proposta do lúdico e fortalecimento dos vínculos. 7 Significado dos ícones da apostila Como forma de facilitar a compreensão dos conteúdos apresentados assim como seu estudo, no decorrer das apostilas você irá encontrar alguns ícones como os inseridos abaixo. Esses ícones tem por objetivo destacar algumas partes do conteúdo, para chamar sua atenção. Cada figura tem uma função, confira: Perguntas em destaque: questionamentos que conduzem à reflexão ou explicação de alguns termos importantes. Links de vídeos para complementar e aprodundar os estudos. Links na internet, onde é possível acessar sites ou artigos relacionados ao tema. Sínteses e afirmações importantes sobre o conteúdo para se atentar. 8 Apresentação e Guia de Estudos da Unidade I Caro cursista, bem-vindo ao nosso Módulo I! Neste primeiro módulo vamos conhecer um pouco mais sobre os marcos legais que foram determinantes para a efetivação de políticas para a primeira infância voltadas para a garantia de direitos das crianças e seu desenvolvimento integral. É importante considerar que as políticas públicas podem ser exercidas através de vários instrumentos considerando as intenções e ações do poder público na primeira infância. Para que sejam formalizadas essas ações devem estar previstas na forma de leis que são reconhecidamente marcos teóricos na conjuntura sociopolítica do país. Não basta termos, enquanto cidadãos, o entendimento de que a criança é sujeito de direitos, faz-se necessário também que o poder público institua políticas públicas para tornar real a possibilidade de efetivação desses direitos da criança por meio de legislações que irão resguardar e indicar a necessidade de políticas públicas e sociais para a primeira infância formalizadas em diferentes ações. Nesta Unidade I, conheceremos alguns marcos legais que são fundamentais para compreender o Programa Criança Feliz no que se refere ao fortalecimento da Proteção à Primeira Infância - PCF. Por isso, o entendimento acerca destes marcos legais nos possibilita conhecer e considerar o contexto em que o Programa Criança Feliz - PCF se consolida. O principal objetivo nesta unidade é entender que as leis e decretos são de extrema importância para construção e execução de políticas e programas sociais em prol da Primeira Infância com o propósito de contribuir para o desenvolvimento integral da criança de 0 a 6 anos de idade. 9 Serão considerados como marcos legais da primeira infância no país: A Lei 13.257 de 08 de março de 2016 que dispõe sobre as políticas públicas voltadas para a primeira infância; A Portaria Interministerial N. 01 de 04 de abril de 2018 que define asações intersetoriais voltadas à promoção da primeira infância; O Decreto N. 9.579 de 22 de novembro de 2018 que dispõe sobre a temática do lactente, da criança e do adolescente e do aprendiz, e sobre o Conselho Nacional dos Direitos da Criança e do Adolescente, o Fundo Nacional para a Criança e o Adolescente e os programas federais da criança e do adolescente, alterando o Decreto N. 8.869 de 05 de outubro de 2016; O Decreto N. 9.855 de 25 de junho de 2019 que institui o Comitê Gestor do Programa Criança Feliz; E a Portaria 664 de 02 de setembro de 2021 que consolida os atos normativos que regulamentam o Programa Criança Feliz/Primeira Infância no Sistema Único de Assistência Social - SUAS. Para subsidiar o aprofundamento sobre os conhecimentos dos marcos legais, siga a seguinte ordem de estudos: Leia, na apostila, a Aula 1 com a Unidade 1. 1. Leia a apostila, que corresponde ao módulo I. 2. Assista a aula narrada 1. 3. Faça os exercícios de fixação da Aula 1. 4. Desafie -se no jogo de palavras cruzadas. Bons estudos! 10 Aula Narrada 1: Conhecendo os Marcos Legais da Primeira Infância Estudar sobre legislação para muitas pessoas talvez não seja algo muito motivacional. Sabemos o quanto pode ser monótono o estudo sobre leis, decretos, portarias, dentre outros documentos legais. Entretanto, só é possível conhecermos como se constroem as políticas públicas e as ações em prol dos direitos humanos, aqui especificamente, dos direitos da criança de 0 a 6 anos, se nos dispusermos a mergulhar nesse ambiente dos documentos legais. Por isso, convidamos você a desafiar-se buscando compreender essas normativas. A junção entre política e legislação é um meio de legitimar os processos de implementação de mudanças consideradas decisivas para colocar em execução as políticas para a primeira infância. As leis instituem os princípios, diretrizes e objetivos a serem seguidos para direcionar as ações e validá-las legalmente. Assim, desde março de 2016, nosso País estabeleceu uma lei específica que propõe as diretrizes para as políticas públicas para as crianças de 0 a 6 anos, reconhecida como a Lei que estabelece o Marco Legal para a Primeira Infância. Esta Lei foi construída à muitas mãos durante 2 anos até ser sancionada como Lei nº 13.257/2016 em 08 de março de 2016. 1.1. A Lei N. 13.257/2016: O Marco Legal para a Primeira Infância é uma das grandes vitórias em atenção à especificidade e à relevância dos 6 primeiros anos de vida no desenvolvimento infantil. Nela é resguardada a relevância do direito de brincar da criança de 0 a 6 anos, de serem cuidadas por profissionais qualificados e terem prioridade nas políticas públicas federais, estaduais e municipais, dentre outras conquistas que conheceremos nesta Unidade. 11 Esta Lei também abre possibilidades de iniciativas por meio de programas e serviços que atenderão às necessidades para o desenvolvimento integral das crianças desde seu nascimento até os 6 anos de idade. É interessante atentar-se para o fato de que esta lei institui princípios, diretrizes e objetivos para a Primeira Infância no Brasil e dispõe sobre políticas públicas voltadas para esta área. Assim, já no seu artigo 1º a lei estabelece princípios e diretrizes para formulação de políticas públicas à primeira infância e que tenha como prioridade os primeiros anos de vida das crianças, onde se inicia o desenvolvimento infantil. Reafirmando essas diretrizes, o 3º artigo da lei diz que a prioridade absoluta em garantir os direitos das crianças e dos adolescentes se fará por meio do Estado1 ao estabelecer políticas, planos e programas e serviços voltados à primeira infância. Observem que a Lei demarca o Estado como responsável por construir e executar essas políticas. Mas isso não significa que seja apenas uma atribuição doEstado promover o desenvolvimento infantil. Objetivando não reproduzir os artigos que constam nesta lei, fizemos a opção por apresentar a você o destaque das principais ações previstas na mesma: Sugerimos para maior compreensão e correlação com os destaques aqui apresentados, a leitura da Lei nº 13.257/2016 em 08 de março de 2016 no seguinte link: http://www.planalto.gov.br/ ccivil_03/_ato2015-2018/2016/lei/l13257.htm . 1 Leia-se o Governo Federal. http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2015-2018/2016/lei/l13257.htm http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2015-2018/2016/lei/l13257.htm 12 Apresentamos os seguintes destaques sobre a Lei para nortear as ações posteriores junto às crianças e suas respectivas famílias: Prioridade absoluta em assegurar os direitos da criança, estabelecendo políticas, planos, programas e serviços para a primeira infância que atendam as especificidades da faixa etária e garanta o desenvolvimento integral da criança considerando sua condição de sujeito de direitos e de cidadã respeitando a individualidade, ritmos de desenvolvimento e valorizando a diversidade da infância brasileira assim como, reduzir as desigualdades no acesso aos bens e serviços. As áreas prioritárias para definição de políticas para a primeira infância são: saúde, alimentação, educação, convivência familiar e comunitária, assistência social, cultura, o brincar e o lazer e a proteção contra toda forma de violência, a prevenção de acidentes e medidas que evitem a pressão consumista e exposição precoce à comunicação mercadológica. Faz-se necessário que a União busque a adesão dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios para o atendimento dos direitos da criança na primeira infância, oferecendo assistência técnica na elaboração de planos estaduais, distrital e municipais para a primeira infância articulando os diferentes setores. As políticas para a primeira infância serão implementadas junto às instituições visando cursos para a formação de profissionais qualificados, para possibilitar a expansão com qualidade dos diversos serviços. A União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios apoiarão a participação das famílias em redes de proteção e cuidado da criança, fortalecendo vínculos com prioridade aos contextos que apresentem riscos ao desenvolvimento da criança. A expansão da educação infantil deverá assegurar a qualidade da oferta, com instalações e equipamentos de acordo com o que estabelece o Ministério da Educação, com profissionais qualificados e com currículo e materiais pedagógicos adequados à proposta pedagógica. A União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios deverão organizar e estimular a criação de espaços lúdicos que propiciem o bem-estar, o brincar e o exercício da criatividade em locais públicos e privados onde haja circulação de crianças, bem como a fruição de ambientes livres e seguros em suas comunidades. Os direitos enunciados nesta Lei aplicam-se a todas as crianças e adolescentes, sem discriminação de nascimento, situação familiar, idade, sexo, raça, etnia ou cor, religião ou crença, deficiência, condição pessoal de desenvolvimento e aprendizagem, condição econômica, ambiente social, região e local de moradia ou outra condição que diferencie as pessoas, as famílias ou a comunidade em que vivem. 13 É importante compreender que a necessidade de cada grupo que luta por melhorias e pelos mesmos valores se transforma em demandas sociais que posteriormente são reivindicadas como planos de governo. O desafio é fortalecer os espaços de diálogo e discussão com o Estado para resolver ou minimizar os problemas sociais existentes. Assim, em um cenário social abrangente, a primeira infância tem importância ímpar na consolidação de uma sociedade justa, democrática e cidadã e que, portanto, precisa de articulações com setores como assistência social, saúde, educação, cultura, direitos humanos e direitos das crianças e adolescentes, entre outras. Para isso, a promoção da intersetorialidade é fundamental para a execução de políticas assertivas que atendam às crianças. Ações Intersetoriais Assistência SocialEducação Direitos Humanos Cultura Saúde Cultura Direitos da Criança e do Adolescente 14 O marco legal da Primeira Infância ainda traz outros pontos, porém, como não é nosso objetivo decorar a lei, mas sim usá-la como instrumento de qualificação de nosso trabalho, esses pontos são suficientes para compreendermos a importância de um marco legal para institucionalização e efetivação de políticas públicas e políticas sociais. Especificamente, no que diz respeito ao Programa Criança Feliz, o Marco Legal da Primeira Infância tem sido essencial para articulação de ações que vão desde a garantia de direitos básicos, à formação dos profissionais que atuam com desenvolvimento infantil, à valorização de diferenças culturais e do brincar como estímulo de melhor infância. É importante ter em mente que quanto mais políticas e programas sociais promovendo o desenvolvimento infantil, maior será a efetivação dos objetivos do PCF, já que as políticas sociais atuam de maneira articulada. Vale lembrar que a Secretaria Nacional de Atenção à Primeira Infância - SNAPI é quem coordena as ações para a primeira infância no ministério da cidadania e também do Programa Criança Feliz - PCF. 1.2. A Portaria Interministerial N. 1/20182 Considerando a conjugação de esforços entre União, Estados, Distrito Federal e Municípios visando a execução descentralizada e integrada de políticas públicas para a primeira infância surge a implementação do Programa Criança Feliz - PCF, através da Portaria Interministerial N. 1 de 04 de abril de 2018, como instrumento de integração e articulação de diretrizes, competências e ações para o atendimento integral da criança com redução das desigualdades priorizando o investimento público na promoção da justiça social, da equidade e da inclusão sem discriminação da criança e da família. Esta Portaria3 estabelece diretrizes, objetivos e competências para a promoção da intersetorialidade, no âmbito do Programa Criança Feliz, e dá outras providências. 2 https://www.in.gov.br/materia/-/asset_publisher/Kujrw0TZC2Mb/content/id/9380492/do1-2018-04-06- portaria-interministerial-n-1-de-4-de-abril-de-2018-9380488 3 https://www.in.gov.br/materia/-/asset_publisher/Kujrw0TZC2Mb/content/id/9380492/do1-2018-04-06- portaria-interministerial-n-1-de-4-de-abril-de-2018-9380488 https://www.in.gov.br/materia/-/asset_publisher/Kujrw0TZC2Mb/content/id/9380492/do1-2018-04-06-porta https://www.in.gov.br/materia/-/asset_publisher/Kujrw0TZC2Mb/content/id/9380492/do1-2018-04-06-porta https://www.in.gov.br/materia/-/asset_publisher/Kujrw0TZC2Mb/content/id/9380492/do1-2018-04-06-porta https://www.in.gov.br/materia/-/asset_publisher/Kujrw0TZC2Mb/content/id/9380492/do1-2018-04-06-porta 15 É importante ressaltar que um dos eixos do PCF diz respeito à intersetorialidade. Além das visitas domiciliares o PCF tem como objetivo promover ações intersetoriais que contribuem para minimizar a situação de vulnerabilidade, em que muitas vezes as famílias se encontram, mas principalmente, para promoção do desenvolvimento humano desde os primeiros anos de vida, acreditando no cuidado e na proteção para uma melhor integração da criança na sociedade. Sendo assim, compreender melhor o que traz a Portaria Interministerial N. 01 nos ajuda a identificar estratégias e ações para encaminhamento e resolução de problemas cotidianos. 16 Antes de passarmos para alguns dos pontos definidos na portaria, façamos as seguintes reflexões: O que são e como podem acontecer essas visitas domiciliares? Nas visitas domiciliares, além das atividades de fortalecimento de vínculos entre cuidadores, gestantes e crianças, quais outras ações são necessárias para realização do PCF no seu município? Quem são os atores que pensam essas ações? Quem e quais são os encaminhamentos tomados? Essas ações dizem respeito a intersetorialidade do programa. Muito antes do PCF iniciar as visitas domiciliares, diversas atividades são realizadas para garantir seu funcionamento, como por exemplo: Adesão do município ao programa Contratação e capacitação das equipes do PCF Local onde a equipe ficará instalada Articulação com o CRAS e com o Conselho Municipal de Assistência Social É necessário dialogar com outras áreas como saúde, educação, cultura e direitos humanos para criação do Comitê Gestor que acompanha os trabalhos do PCF na localidade. Todas essas ações são intersetoriais. Essas ações intersetoriais exigem: articulação da rede, reuniões, discussões acerca da melhor maneira de executar o Programa Criança Feliz, mas acima de tudo, de como essas ações podem contribuir para o desenvolvimento infantil e promover a primeira infância como área prioritária na região. Ao pensar e responder essas perguntas, já entendemos um pouco do que prevê a Portaria Interministerial N. 1, uma vez que seu principal objetivo é delimitar diretrizes que garantam a intersetorialidade do Programa Criança Feliz. Mas outro ponto importante de ser guardado sobre a Portaria é que ela também define ações ministeriais para promoção da intersetorialidade. Isto quer dizer que para cada Ministério são dirigidas certas competências para as ações intersetoriais. Como trata-se de uma Portaria, foram delimitadas ações para os cinco ministérios que compõem o Comitê Gestor do PCF, além das competências comuns a todos eles. 17 É importante compreender que a criação de comitê, assim como de colegiados e conselhos, são formas de garantir a intersetorialidade, uma vez que articulam diferentes áreas para pensar estratégias e objetivos na execução de uma política pública, ou social, ou mesmo de um programa social. Para compreender melhor sobre a importância e a necessidade da intersetorialidade como eixo fundamental das ações do PCF sugerimos assistir ao vídeo: https://www.youtube.com/watch?v=GrKAGj_ Pzyc#action=share 1.3. Como Surge o Programa Criança Feliz: Criado pela Portaria Ministerial N. 1 de 04 de abril de 2018, o Programa Criança Feliz surge como um importante instrumento para que as famílias com crianças entre 0 e 6 anos tenham a possibilidade de promover desenvolvimento integral das crianças em todos os seus aspectos: físico-motor, social, afetivo, cognitivo e moral. https://www.youtube.com/watch?v=GrKAGj_Pzyc#action=share https://www.youtube.com/watch?v=GrKAGj_Pzyc#action=share 18 Como parte do Marco legal da Primeira Infância propõe diretrizes para a formulação e a implementação de políticas públicas para a primeira infância em atenção à especificidade e à relevância dos primeiros anos de vida no desenvolvimento infantil e no desenvolvimento do ser humano4. O Programa Criança Feliz, coordenado pela SNAPI, é uma iniciativa do Ministério da Cidadania através da Secretaria Nacional de Promoção do Desenvolvimento Humano, mas tem abrangência intersetorial envolvendo outras secretarias, dentre elas, a Secretaria Nacional de Assistência Social, responsável pelas políticas de Proteção Social Básica, fundamental para o atendimento às famílias e garantia de direitos. Nesse sentido, a articulação entre diversas Secretarias para a implementação do Programa Criança Feliz é de extrema importância quando se pensa na primeira infância. Inicialmente o PCF foi instituído pelo Decreto N. 8.869 de 05 de outubro de 2016. Mas recentemente, o governo federal instituiu outro Decreto que, além de reinstituir o Programa Criança Feliz, consolida atos normativos, apresentam outras diretrizes, objetivos e competência no que se refere à proteção de lactente, crianças e adolescente e aprendiz, dispõe sobre fundos nacionais dessas mesmas áreas e dá outras providências. Portanto, o PCF é, agora, instituído pelo Decreto N. 9.579 de 22 de novembro de 2018 e pela Portaria MC Nº 664, de 2 de setembro de 2021. 1.4. Objetivos e Ações do PCF : O trabalho conjunto para a efetivação das ações previstas dentro do PCF tem os seguintes objetivos:I - promover de forma articulada o desenvolvimento humano, a partir do apoio e acompanhamento do desenvolvimento integral na primeira infância, por meio da integração de ações, apoiando gestantes e demais membros da família na preparação para o nascimento e nos cuidados perinatais, e colaborando no exercício da parentalidade, através do fortalecimento dos vínculos e do papel das famílias em sua função de cuidado, proteção, promoção do desenvolvimento e educação de crianças na faixa etária de até seis anos de idade, mediando o acesso da gestante, das crianças na primeira infância e das suas famílias a políticas e serviços públicos de que necessitem; II - Favorecer a qualidade e eficiência das políticas públicas, otimizando recursos e evitando sobreposição de ações. As articulações intersetoriais dos ministérios cidadania, por meio da Secretaria Nacional de Assistência Social, ministério da saúde, ministério da educação, ministério da mulher, família e direitos humanos - MMFDH, visam, entre outras ações: 4 https://www.gov.br/cidadania/pt-br/acoes-e-programas/crianca-feliz/copy_of_o-programa https://www.gov.br/cidadania/pt-br/acoes-e-programas/crianca-feliz/copy_of_o-programa 19 Apoiar a oferta de visitas domiciliares sistemáticas orientadas à promoção do desenvolvimento integral das crianças na primeira infância em situação de vulnerabilidade e risco social, fortalecendo vínculos familiares e comunitários, consideradas sua família e seu contexto de vida; Qualificar a oferta dos serviços e fortalecer a articulação da rede socioassistencial; Promover, em conjunto com o sistema de garantia de direitos, ações de fortalecimento da convivência familiar e comunitária, incluída a adoção de medidas protetivas que priorizem a manutenção da criança de até 6 anos na família de origem, extensa ou ampliada, ou em famílias guardiãs; Priorizar o acolhimento em famílias acolhedoras das crianças na primeira infância afastadas do convívio familiar; Qualificar a oferta dos serviços de acolhimento, promovendo de forma articulada a formação dos profissionais em metodologias de cuidado integral e construção de vínculos afetivos; Promover mobilização, capacitação, apoio técnico e educação permanente, abordando especificidades, cuidados e atenções a gestantes, crianças na primeira infância e suas famílias, respeitadas todas as formas de organização familiar, com foco nas ações de promoção da parentalidade participativa; Apoiar as secretarias estaduais e municipais de saúde na ampliação e na qualificação das ações da atenção básica na assistência ao pré-natal e ao puerpério e no acompanhamento do crescimento e desenvolvimento infantil, especialmente junto a gestantes, gestantes adolescentes e famílias beneficiárias do Cadastro Único, do PBF e do Benefício de Prestação Continuada; Incentivar a expansão do Pré-Natal do Parceiro nos municípios participantes do Programa Criança Feliz, envolvendo o pai/parceiro em todo o processo de planejamento reprodutivo, gestação, parto, puerpério e cuidado parental; Distribuir a Caderneta da Criança como instrumento de promoção e vigilância do crescimento e desenvolvimento integral da criança, fomentando o registro qualificado nos sistemas de informações de todas as etapas do crescimento e desenvolvimento das crianças menores de três anos, de acordo com o protocolo do Ministério da Saúde; Fortalecer a Estratégia Amamenta e Alimenta Brasil nos municípios participantes do Programa Criança Feliz, desenvolvendo ações de prevenção e controle da má-nutrição infantil, incluídas as relacionadas à obesidade infantil; Ampliar e fortalecer a Rede de Atenção Psicossocial e o cuidado realizado nos Centros de Atenção Psicossocial (CAPS e CAPS infanto Juvenil) ou na Atenção Básica quando não houver CAPS; 20 Apoiar o desenvolvimento de ações de capacitação e educação permanente aos gestores e profissionais das equipes de Atenção Básica sobre ações a serem desenvolvidas em prol do desenvolvimento integral na primeira infância; Potencializar e valorizar o território e a cultura local no âmbito das visitas domiciliares; Fortalecer o papel dos jogos e das brincadeiras nos territórios e sua importância no desenvolvimento da criança; Fortalecer o empoderamento cultural da criança, promovendo estimulação criativa no contato com a diversidade cultural de seu território e dos vínculos afetivos e interpessoais; Apoiar os municípios e o Distrito Federal na ampliação da oferta da educação infantil gratuita às crianças de até cinco anos de idade, considerando, quando necessário, as especificidades das populações do campo, indígenas e quilombolas, de acordo com o Plano Nacional de Educação; Fortalecer o atendimento ao educando em todas as etapas da educação básica, por meio de programas suplementares de material didático- escolar, transporte, alimentação e assistência à saúde; Apoiar os municípios na construção de propostas pedagógicas que garantam o desenvolvimento integral da criança de até cinco anos em seus aspectos físico, psicológico, intelectual e social, complementando a ação da família e da comunidade; Sensibilizar os gestores sobre a importância da parceria entre escola e comunidade, de forma a ocupar criativamente o espaço escolar, inclusive nos finais de semana, com atividades educativas, culturais e de fortalecimento de vínculos entre família e comunidade escolar; Desenvolver proposta de conteúdos teóricos e metodológicos para facilitadores/mediadores de grupo, de modo a subsidiar o processo de implementação de atividades complementares das escolas de educação infantil, com foco na promoção do desenvolvimento integral na primeira infância; Integrar o Programa Criança Feliz com o Sistema de Garantias de Direitos; Fortalecer e qualificar a atuação dos Conselhos de Direitos Humanos, Conselhos de Direitos da Criança e do Adolescente e Conselhos Tutelares; Sensibilizar os profissionais envolvidos no Programa Criança Feliz para a educação não violenta e implementar a Lei nº 13.010, de 26 de junho de 2014, em especial o direito da criança e do adolescente de serem educados e cuidados sem o uso de castigos físicos ou de tratamento cruel ou degradante; 21 A lei 13.257 de 08 de março de 2016 e a Portaria Interministerial N.1 de 04 de abril de 2018, representaram um salto no que se refere à regulamentação das políticas para a primeira infância no país. Logo depois, uma série de Decretos tratam da temática da criança e do adolescente, dentre eles o Decreto N. 9.579 de 22 de novembro de 2018 que versa sobre os direitos fundamentais referente a alimentação, comércio e publicidade, rotulagem, divulgação; do direito à segurança da criança e do adolescente visando a redução da violência; dos direitos e garantias do aprendiz; da organização e funcionamento dos Conselhos dos Direitos da Criança e do Adolescente. 1.5. Decreto N. 9.855/2019: O Decreto N. 9.855 de 25 de junho de 2019 dispõe sobre o Comitê gestor do Programa Criança Feliz como órgão de assessoramento destinado a planejar, articular e executar as ações setoriais com vistas ao atendimento do público-alvo do programa através dos seguintes ministérios: • Cidadania; • Educação; • Justiça e Segurança Pública; • Saúde; • Mulher, da Família e dos Direitos Humanos; • Turismo. Convidamos você a conhecer este Decreto na íntegra por meio do link: https://www.planalto. gov.br/ccivil_03/_ato2019-2022/2019/decreto/ d9855.htm. Ações Conjuntas Programa Criança Feliz CriançasFamílias Comitê GestorMinistérioda Cidadania Ministério da Educação Ministério da Justiça Ministério da Saúde Ministério da Mulher, Família e Direitos Humanos Ministério do Turismo https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2019-2022/2019/decreto/d9855.htm https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2019-2022/2019/decreto/d9855.htm https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2019-2022/2019/decreto/d9855.htm 22 Esta normativa trata das responsabilidades deste comitêgestor; como ele deve se organizar para desenvolver as ações que lhes cabem e quem deverá assumir a Secretaria Executiva desse comitê. Boa leitura! 1.6. A Portaria N. 664/2021: Além dos marcos normativos e legais da primeira infância que elencam as políticas descentralizadoras e integradas que responsabiliza não somente a União, mas o Distrito Federal, estados e municípios através de seus agentes institucionais e sociedade civil com ampla discussão sobre a promoção do desenvolvimento infantil, o Programa Criança Feliz está regulamentado pela Portaria 664 do Ministério da Cidadania trazendo como principais atos normativos: Atendimento prioritário a gestantes e crianças de até setenta e dois meses (6 anos) e suas famílias incluindo: as inseridas no CadÚnico, no Benefício de Prestação Continuada, crianças afastadas do convívio familiar em função de medidas protetivas e crianças inseridas no CadÚnico que perderam pelo menos um de seus responsáveis familiares no período da pandemia de covid 19; Promover o desenvolvimento humano a partir do apoio e do acompanhamento do desenvolvimento infantil integral na primeira infância; Apoiar a gestante e a família na preparação para o nascimento e nos cuidados perinatais; Colaborar no exercício da parentalidade, fortalecendo os vínculos e o papel das famílias para o desempenho da função de cuidado, proteção e educação de crianças na primeira infância; Mediar o acesso da gestante, das crianças na primeira infância e das suas famílias a políticas e serviços públicos de que necessitem; e Integrar, ampliar e fortalecer ações de políticas públicas voltadas para as gestantes, crianças na primeira infância e suas famílias. Para conhecer melhor sobre a portaria 664 que rege o Programa Criança Feliz sugerimos assistir ao vídeo disponível no youtube no seguinte link: Portaria Nº664 - Programa Criança Feliz . https://www.youtube.com/watch?v=vA8GULfVT84 23 Para cumprir com os objetivos do Programa Criança Feliz são previstas na Portaria 664 ações em conjunto com profissionais capacitados que serão os mediadores diretos junto às famílias. As principais ações a serem desenvolvidas pela equipe técnica são: I - Realização de visitas domiciliares periódicas, por profissional capacitado, e de ações intersetoriais que apoiem gestantes e famílias e favoreçam o desenvolvimento da criança na primeira infância; II - A capacitação e a educação permanente de profissionais que atuam no Programa, com vistas à qualificação do atendimento e ao fortalecimento da intersetorialidade; III - O desenvolvimento de conteúdo e material de apoio para o atendimento intersetorial e à promoção da parentalidade, com vistas ao desenvolvimento na primeira infância; IV - O apoio aos estados, Distrito Federal e Municípios, visando à mobilização, à articulação intersetorial e à implementação do Programa; V - A promoção de estudos e pesquisas acerca do desenvolvimento infantil integral; VI - A qualificação dos cuidados nos serviços de acolhimento para crianças na primeira infância afastadas do convívio familiar em razão da aplicação de medida de proteção prevista no art. 101, caput, incisos VII e VIII, da Lei nº 8.069, de 1990. O Programa Criança Feliz é coordenado pela Secretaria Nacional de Atenção à Primeira Infância - SNAPI, do Ministério da Cidadania e dentro do modelo de governança do programa, as ações serão desenvolvidas pelos Estados, Distrito Federal e Municípios que aderirem ao PCF, sendo responsáveis pela elaboração e implementação de seus planos, monitoramento das ações em cada esfera, articulação com os respectivos comitês gestores e órgãos de controle social e, no caso dos estados, mobilização e monitoramento dos Municípios. A equipe técnica referência do PCF é composta em cada esfera da seguinte maneira: I - No Município: a) supervisor: profissional de nível superior, que atuará na implementação e supervisão técnica do Programa, nas atividades de capacitação e educação permanente dos visitadores locais, no apoio ao planejamento e registro de informações no sistema eletrônico do Programa, bem como na articulação dos serviços e das políticas setoriais no território com a política setorial da assistência social; 24 b) visitador: profissional de nível médio ou superior, responsável pelo planejamento, realização, registro e acompanhamento das visitas domiciliares, inclusive no sistema eletrônico do Programa; II - No Estado: a) coordenador: profissional de nível superior, com experiência em gestão de programas e/ou projetos, que atuará na coordenação e gestão do PCF, bem como na articulação dos serviços socioassistenciais e das políticas setoriais no território. b) multiplicador: profissional de nível superior, com experiência na área de desenvolvimento infantil, saúde, educação ou assistência social, devidamente certificado pela SNAPI, responsável pelas atividades de capacitação e educação permanente dos supervisores, pelo monitoramento in loco e remoto, além das atividades de apoio à implementação e supervisão do Programa no estado; A implementação do Programa Criança Feliz promove ações intersetoriais que tem como principal objetivo o desenvolvimento integral da criança no contexto familiar e na sociedade através da articulação de agentes da assistência social, saúde, educação, cultura e direitos humanos considerando a corresponsabilidade entre os entes federados na implementação das políticas públicas em defesa da infância colocando como protagonista a criança e seus direitos fundamentais, a família e a diversidade de contextos, culturas e crenças com a participação da sociedade civil e movimentos sociais. Saiba mais: https://www.youtube.com/ watch?v=CeCu3SEmClg Para finalizar o estudo sobre essa Unidade sobre Marcos legais que dão base à promoção do desenvolvimento infantil no Brasil convidamos você a buscar inspiração nesta música que retrata o motivo pelo qual devemos ter esperança e lutar para que nossas crianças sejam cuidadas com muito carinho, responsabilidade e respeito. Elas não são somente a “semente do amanhã”, elas são sujeitos de direitos que merecem toda nossa atenção hoje e por isso, como adultos, nunca devemos perder a esperança de lutar para que o Marco Legal para a Primeira Infância seja efetivado em todos os lugares do nosso País. Finalizamos assim: https://www.youtube.com/watch?v=CeCu3SEmClg https://www.youtube.com/watch?v=CeCu3SEmClg 25 Ontem um menino que brincava me falou que hoje é semente do amanhã... Para não ter medo que este tempo vai passar... Não se desespere não, nem pare de sonhar Nunca se entregue, nasça sempre com as manhãs... Deixe a luz do sol brilhar no céu do seu olhar! Fé na vida, Fé no homem, Fé no que virá! Nós podemos tudo, Nós podemos mais Vamos lá fazer o que será (Semente do Amanhã - Gonzaguinha) Diante de tudo isso, não podemos esquecer de que: Juntos “nós podemos tudo, nós podemos mais”. Vamos fazer a nossa parte implementando com responsabilidade as ações do Programa Criança Feliz! 26 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS BRASIL. Portaria MC nº 664, de 2 de setembro de 2021. Consolida os atos normativos que regulamentam o Programa Criança Feliz/Primeira Infância no Sistema Único de Assistência Social - SUAS. DOU. Brasília, DF, Edição: 169, Seção: 1, P. 2. Publicado em: 06/09/2021, Disponível em: https://www.in.gov.br/en/web/dou/-/portaria-mc-n-664-de-2-de-setembro-de-2021-343007090 BRASIL. Portaria Interministerial N. 01 de 04 de abril de 2018. Estabelece diretrizes, objetivos e competências para a promoção da intersetorialidade, no âmbito do Programa Criança Feliz, e dá outras providências. DOU. Brasília, DF, Edição: 66, Seção: 1, P. 66. Publicado em: 06/04/2018, Disponível em: https://www.in.gov.br/materia/-/asset_publisher/Kujrw0TZC2Mb/content/ id/9380492/do1-2018-04-06-portaria-interministerial-n-1-de-4-de-abril-de-2018-9380488 BRASIL. Decreto nº 8.869 de 5 de outubro de 2016. Institui o Programa Criança Feliz.DOU. Brasília, DF, Edição: 193, Seção: 1, P. 2. Publicado em: 05/10/2016. Disponível em: https://aplicacoes.mds. gov.br/snas/termoaceite/crianca_feliz_2016/documentos/D8869.pdf BRASIL. Lei nº 13.257 de 8 de março de 2016. Dispõe sobre a política de primeira infância. DOU. Brasília, DF, Edição: 46, Seção: 1, P. 1. Publicado em 09/03/2016. Disponível em: http://www. planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2015-2018/2016/lei/l13257.htm BRASIL. Decreto Nº 9.855, de 25 de junho de 2019. Dispõe sobre o Comitê Gestor do Programa Criança Feliz. DOU. Brasília, DF, Edição: 121, Seção: 1, P. 11. Publicado em: 26/06/2019. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2019-2022/2019/decreto/D9855.htm BRASIL. Decreto nº 9.579, de 22 de novembro de 2018. Dispõem sobre a temática do lactente, da criança e do adolescente e do aprendiz, e sobre o Conselho Nacional dos Direitos da Criança e do Adolescente, o Fundo Nacional para a Criança e o Adolescente e os programas federais da criança e do adolescente, e dá outras providências. DOU. Brasília, DF, Edição: 225, Seção 1, P. 49. Publicado em: 23/11/2018. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2015-2018/2018/ decreto/D9579.htm CAVALCANTI, Camila Dias. Roteiro do curso: As diversidades das infâncias e famílias brasileiras e o PCF. Ministério da Cidadania. Secretaria Especial do Desenvolvimento Social. s/d. p. 80. Disponível em: https://drive.google.com/drive/ folders/1U5GK22yjvw1iwd4Kq2Eq5K4k3253H4zw MARCO LEGAL DA PRIMEIRA INF NCIA. Fundação Maria Cecilia Souto Vidigal. 2020. Disponível em: https://www.fmcsv.org.br/pt-BR/impacto/marco-legal. Acesso em 05 de janeiro de 2022. MARCO LEGAL DA PRIMEIRA INF NCIA: AVANÇOS E DESAFIOS. Prioridade Absoluta. 2021. Disponível em: https://prioridadeabsoluta.org.br/noticias/marco-legal-da-primeira-infancia- avancos-e-desafios. Acesso em 05 de janeiro de 2022. O PROGRAMA. Governo Federal/Ministério da Cidadania. 2021. Disponível em: https://www.gov. br/cidadania/pt-br/acoes-e-programas/crianca-feliz/copy_of_o-programa. 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Neste segundo módulo, vamos conhecer um pouco mais sobre a Educação Permanente, tema da unidade II deste curso. Na sequência, como parte da unidade III, vamos estudar um pouco sobre o que são Políticas Públicas e Políticas Sociais, bem como sua importância para a garantia de direitos da criança. Além disso, será possível compreender sobre a contribuição das Políticas Públicas Intersetoriais para efetivação das ações junto ao Programa Criança Feliz. Ao mergulharmos nos estudos da unidade II, vamos compreender sobre o conceito de Educação Permanente e sua importância para as nossas práticas cotidianas. Para os cidadãos e profissionais que trabalham com a temática da Primeira Infância, a Educação Permanente é uma parte determinante do nosso cotidiano, contribuindo para nossas ações em prol da promoção do desenvolvimento infantil. Para aprofundar esses conhecimentos, siga a seguinte ordem de estudos: 1. Leia, na apostila, a Aula 2; 2. Assista a aula narrada 2; 3. Faça os exercícios de fixação da Aula 2; 4. Desafie -se resolvendo o jogo de palavras cruzadas. 28 Na unidade III, vamos conhecer sobre o que são e qual a importância das Políticas Públicas e Sociais na garantia de direitos fundamentais da criança para a promoção do desenvolvimento infantil; compreender as especificidades dessas políticas, principalmente as Políticas Intersetoriais para a concretização das ações do Programa Criança Feliz. Para isso, um ponto importante é nos colocarmos dispostos a refletir sobre o quanto as Políticas Públicas e Sociais são fundamentais para a garantia de direitos, como saúde, educação, assistência social, habitação, dentre outros; e como as Políticas Públicas e Sociais são elaboradas e consolidadas, principalmente, considerando a proteção social da primeira infância no País. Para aprofundar esses conhecimentos, siga também a seguinte ordem: 1. Leia, na apostila, a Aula 3; 2. Assista a aula narrada 3; 3. Faça os exercícios de fixação; 4. Desafie -se resolvendo o jogo de palavras cruzadas. Bons estudos! 29 Aula Narrada 2: Educação Permanente 1.1. O que é Educação Permanente O objetivo desta aula é proporcionar a compreensão de como a Educação Permanente é importante para nossas práticas cotidianas e que, ao contrário do que pensamos, o processo de Educação Permanente não precisa ser algo complexo, distante de nossa realidade. Ao contrário, neste módulo, vamos ver que é a partir de nossos conhecimentos que a Educação Permanente pode ser pensada. Começamos essa reflexão com a seguinte pergunta: Você já escutou em algum momento de sua vida estas frases? “Educação é o caminho para o futuro”! “O estudo é importante para a vida”! Acreditamos que, em algum momento, sim. Provavelmente também já ouviu afirmações sobre a importância de continuar estudando, seja para construir um futuro melhor para você mesmo, seja para tornar o mundo um lugar melhor. Pois bem, a Educação Permanente está diretamente relacionada à ideia de que a aprendizagem é um processo que pode acontecer por meio de ações formais e/ou informais, com a intenção de proporcionar reflexões sobre questões práticas, objetivando buscar soluções para elas. Considerando que toda ação educativa é uma ação humana e que leva à construção do conhecimento, é possível compreendermos como se configura a Educação Permanente. Assim, podemos afirmar que a Educação Permanente está diretamente relacionada à educação para o século XXI, “na qual a síntese do pensamento pedagógico é o educar-se de forma permanente, tendo o trabalho como princípio educativo” (VIEIRA, 2013, p. 179). Então, como podemos conceituar a Educação Permanente? “A educação permanente é apresentada como aprendizagem no trabalho, em que o aprender e o ensinar são incorporados ao cotidiano das organizações e ao processo de trabalho. Uma política de educação permanente necessita enfrentar, em sua concepção e desenvolvimento, o desafio de constituir-se em um eixo transformador, em uma estratégia mobilizadora de recursos e poderes e em recurso estruturante do fortalecimento” (SILVA; BARLEM; LUNARDI; SANTOS, 2008, p.257). 30 Mas qual a relação da Educação Permanente com a formação profissional? A Educação Permanente é uma ação educativafundamental para a qualificação do exercício profissional, principalmente, considerando a execução de uma política ou programa social que busca intervir na realidade dos indivíduos e de seus territórios. Afinal, a nossa intervenção na sociedade, por meio da soma de diferentes saberes, possibilita que sejamos mais conscientes de nossas ações, visando, dessa forma, transformar a realidade. Assim, podemos nos perguntar: Como se dá o processo de aprendizagem quando tratamos da Educação Permanente? O processo de aprendizagem se dá a todo momento. A experiência diária, por exemplo, é um grande aprendizado e pode ser inserida no processo de Educação Permanente, mesmo que informalmente. O que importa é considerarmos as vivências de práticas colaborativas de aprendizagem, que se desenvolvem no dia a dia, no trabalho e nas práticas profissionais. Podemos dizer então que a Educação Permanente ocorre por meio dos saberes que cada sujeito construiu ao longo de sua vida, somando-se àqueles saberes que foram construídos na educação formal, mais os saberes construídos por meio das leituras de textos, por exemplo. Todos esses saberes, juntamente com os conhecimentos apreendidos na prática profissional, levam a ações mais conscientes denominadas de Educação Permanente. Essas ações mais conscientes nos possibilitam proporcionar a transformação de uma realidade. Esse é um dos pressupostos do Programa Criança Feliz. Diante disso: como devemos pensar uma proposta pedagógica para uma formação diária que preze pela Educação Permanente? A proposta pedagógica a ser utilizada na capacitação permanente necessitará considerar os trabalhadores como sujeitos de um processo de construção social de saberes e práticas, preparando-os para serem sujeitos dos seus próprios processos de formação ao longo de toda a sua vida. A capacitação precisará incidir sobre o processo de trabalho, sendo realizada de preferência no próprio trabalho, avaliada e monitorada pelos participantes” (SILVA; BARLEM; LUNARDI; SANTOS, 2008, p.257). E agora, após essa leitura, você consegue compreender o que é Educação Permanente e por que ela é importante na sua atividade profissional? 31 Em síntese: A Educação Permanente integra os saberes construídos por você a partir dos conhecimentos advindos da formação profissional, da qualificação, do aperfeiçoamento, da atualização e, o mais importante, pela interação com seus pares e as pessoas com as quais convive. Essa troca de saberes com sua equipe é o que mantém viva a ideia da educação permanente. Isso envolve escuta e fala. 1.1.1. Importância da Educação Permanente para os profissionais do PCF e demais gestores que trabalham com a temática da primeira infância Para iniciarmos nossas reflexões sobre a importância da Educação Permanente para os profissionais do PCF e os demais gestores que atuam com a primeira infância, lançaremos a seguinte questão: Uma das crianças da família atendida precisa de um laudo médico para constatação de alguma situação de deficiência. Contudo, a família alega que não conseguiu acessar a rede de saúde do município e solicita auxílio aos visitadores do PCF. Qual seria o primeiro passo da equipe para encaminhar a demanda? 32 Continuemos o questionamento: Será que a equipe deve assumir a responsabilidade da demanda? Os visitadores falam para família que isso não está nas suas atribuições? É necessário que os visitadores identifiquem o problema? Pois bem, meus caros! Um dos primeiros passos é a identificação do problema! Identificar o que está acontecendo e pensar em conjunto com os demais profissionais é fundamental na execução de qualquer política ou programa social. Identificado o que está ocorrendo, fica mais fácil vislumbrar possíveis encaminhamentos e soluções. Tais situações influenciam no trabalho do PCF e dos gestores que estão realizando os contatos com as famílias. Portanto, as visitas domiciliares são estratégias fundamentais de construção de vínculos com as famílias e crianças que fazem parte do PCF. Nas visitas domiciliares, é comum que as equipes do PCF encontrem situações que vão além do fortalecimento do vínculo entre cuidadores e crianças, como por exemplo, questões que envolvam acesso à saúde, à educação, à moradia digna, ao trabalho e outras demandas que são parte da realidade das famílias. Em relação à saúde, por exemplo, algumas dificuldades presentes são: Não ter posto de saúde próximo à residência nem médico atendendo; Dificuldade de locomoção da família; Falta de especialidade médica. Embora não caiba ao visitador resolver essas questões, esses problemas influenciam no trabalho que o PCF realiza com as famílias. Portanto, a Educação Permanente deve possibilitar aos profissionais espaço e tempo para refletirem sobre seus desafios. Considerando as ações que integram as atividades do PCF, os passos a serem seguidos na busca da solução dos problemas identificados, devem ser compartilhados com toda a equipe do PCF e com as equipes do CRAS e membros do Comitê Gestor. Pode ser que a resolução de um problema não exija o envolvimento de todos os atores em um primeiro momento, mas faz parte da Educação Permanente conhecer o fluxo do programa em que os profissionais estão inseridos. 33 1.2. Educação Permanente x Continuada na Primeira Infância Educação Permanente Multiprofissional Prática Institucionalizada Uniprofissional Esporádica Atualização técnica Centrada na transmissão de conhecimentos Centrada na resolução de problemas Educação Continuada Ressaltamos que a Educação Permanente e a Educação Continuada são diferentes, mas não são excludentes. A junção de saberes, aprendidos em sala de aula ou na leitura de textos, com os conhecimentos apreendidos na prática e na vivência profissional possibilitam que os atores sejam mais conscientes de suas ações. Afinal, a nossa intervenção na sociedade visa transformar uma realidade, não é mesmo? Se assim é, quem melhor conhece nossos desafios e possibilidades do que nós mesmos? Portanto, tanto a Educação Permanente quanto a Educação Continuada são indispensáveis na contribuição para nossa atuação profissional. É como aquela famosa frase que tanto escutamos: “Juntos somos mais fortes”! Isso significa que, quando compartilhamos nossos saberes, nos colocando à disposição para ouvir o outro, em equipe, estaremos construindo um trabalho que se fundamenta na filosofia da educação permanente. Importante: Assista ao vídeo e converse com sua equipe sobre o assunto: Acesse: https://www.youtube.com/watch?v=q- yL3nBTbuM#action=share. https://www.youtube.com/watch?v=q-yL3nBTbuM#action=share https://www.youtube.com/watch?v=q-yL3nBTbuM#action=share 34 1.3. Relação da Educação Permanente e a prática cotidiana na promoção do desenvolvimento infantil. Para início de conversa, precisamos nos perguntar: Como a Educação Permanente se entrelaça com nossas práticas cotidianas no que se refere ao Programa Criança Feliz e à promoção do desenvolvimento infantil? Que assunto ou tema pensa ser necessário para discutir com sua equipe para qualificar a intervenção do Programa Criança Feliz no desenvolvimento infantil? Pensemos em como esse tema pode ser trabalhado nas reuniões de equipe e, se possível, ele poderá se transformar em uma proposta de curso temático ou capacitação envolvendo os demais profissionais que atuam direta ou indiretamente no PCF. Um bom exemplo pode ser sobre a política habitacional do município em que cada equipe atua. Não é raro as famílias terem suas residências em condições precárias, como aquelas que vivem em áreas de risco. Se a família atendida expressar o desejo de sair do local, não será o PCF que realizará essa atividade. Mas é necessário promover algum encaminhamento. Então, para isso, é preciso encaminhar as demandas para o Supervisor do PCF para que o mesmo, junto à equipe e aos demais órgãos responsáveis, possabuscar solucionar o problema apresentado. Esse pode ser um tema, assim como outros que fazem parte da realidade de seu município. Será necessário também contar com o CRAS, o Comitê Gestor Municipal para pensar nos encaminhamentos possíveis. Conselho Tutelar Secretaria Municipal de Obras Comitê Gestor Municipal Secretaria Municipal de Saúde Secretaria Municipal de Assistência Social Secretaria Municipal de Educação Conselho Municipal da Criança e do Adolescente Supervisor PCF Visitador PCF Famílias 35 A articulação de outras políticas públicas para a resolução é fundamental para uma atuação assertiva do PCF. Não há respostas rápidas e certas. Por isso, refletir sobre os problemas é tão importante na construção de possíveis soluções. Considerando a importância da Educação Permanente para a primeira infância e, consequentemente, para o desenvolvimento infantil, torna- se necessária a promoção de Políticas Sociais com relação à promoção do desenvolvimento na Primeira Infância, que ocorrerá por meio das ações do PCF. Faz-se necessário lembrar que o Programa Criança Feliz1 tem apostado na abordagem da ludicidade como forma de proporcionar melhores condições para o desenvolvimento infantil. Na busca por melhorias dos vínculos familiares e das ações Intersetoriais que promovam uma vida mais digna, o PCF tem como estratégia de ação o investimento nas atividades lúdicas, valorizando as brincadeiras junto às crianças e às famílias. Por isso, uma proposta de Educação Permanente e Continuada para os profissionais que atuam na primeira infância traz o lúdico como importante elemento para conhecer o mundo, a si mesmo, valores e costumes (KISHIMOTO, 2010). “A criança, mesmo pequena, sabe muitas coisas: toma decisões, escolhe o que quer fazer, interage com pessoas, expressa o que sabe fazer e mostra, em seus gestos, em um olhar, uma palavra, como é capaz de compreender o mundo. Entre as coisas de que a criança gosta está o brincar, que é um dos seus direitos. O brincar é uma ação livre, que surge a qualquer hora, iniciada e conduzida pela criança; dá prazer, não exige como condição um produto final; relaxa, envolve, ensina regras, linguagens, desenvolve habilidades e introduz a criança no mundo imaginário.” Brincar é indispensável para o desenvolvimento da criança. Para finalizarmos esta aula, busquem responder a seguinte questão: 1 Objetivo: “apoiar e acompanhar o desenvolvimento infantil integral na primeira infância (crianças de 0 a 6 anos de idade) e facilitar o acesso da gestante, das crianças na primeira infância e de suas famílias às políticas e aos serviços públicos que necessitam. (Ministério da Cidadania)”. Vocês sabiam que conhecer o espaço em que aquela criança se insere faz parte das análises das equipes do PCF? Sabiam que é crucial também para a busca e desenvolvimento de estratégias que melhorem as condições de vida, sem interferir no aprendizado cultural daquela família? 36 Diante disso, o que queremos deixar claro para você é que todo o conhecimento, o mínimo que seja, faz uma grande diferença na garantia dos direitos das crianças e adolescentes, tendo a promoção do desenvolvimento infantil como o objetivo principal para que as crianças tenham uma vida melhor e mais digna em nosso País. Vamos acreditar que é possível proporcionar uma melhor qualidade de vida para as crianças quando compreendemos que elas são sujeitos de direitos e dentre os demais direitos sempre privilegiamos a ludicidade2 e o brincar3 como a melhor estratégia para valorizarmos a criança em desenvolvimento. Em síntese: O que é necessário compreendermos sobre esse tema? A Educação Permanente é uma forma de ensino baseado no aprendizado constante da equipe: profissionais do PCF e demais colaboradores que trabalham nessa área. A Educação Permanente é processual, o que implica a continuidade e permanência da aprendizagem. A Educação Permanente agrega práticas cotidianas, cenários experienciados, saberes compartilhados, que ajudam a refletir sobre a execução de uma Política Pública e Social. As vivências e as experiências lúdicas são cruciais tanto no processo de Educação Permanente das equipes do PCF e dos gestores envolvidos no programa quanto como uma estratégia de abordagem e atuação com as famílias e as crianças que são parte desse Programa. 2 trataremos dessa temática nos módulos 4 e 5. 3 KISHIMOTO, 2010, p. 1. texto retirado na íntegra do artigo 3º da Portaria 664. 37 Aula Narrada 3: Políticas Públicas e Sociais 2.1. O que são Políticas Públicas e qual a importância das Políticas Públicas e Políticas Sociais para a garantia de direitos Caro cursista, o objetivo desta aula é proporcionar a compreensão de como se consolidam as Políticas Públicas no Brasil para a Primeira Infância e quais as especificidades das Políticas Sociais também para Primeira Infância, principalmente, as Políticas Intersetoriais que trabalham com o PCF. Após finalizar a leitura desta apostila, acreditamos que você conseguirá compreender como se constroem as Políticas Públicas, de quem é a responsabilidade de propor, aprovar e executar as Políticas Públicas. Além disso, conseguirá compreender como surgem e por que surgem as Políticas Sociais, bem como de quem é a responsabilidade de propor, aprovar e executar essas políticas. Por fim, entenderá quais são as Políticas Sociais do nosso País para a Primeira Infância e como elas reverberam na garantia dos direitos da criança. Por falarmos em direitos da criança, apresentamos a você uma poesia da escritora infantil Ruth Rocha, onde ela descreve de maneira clara e objetiva quais são os direitos da criança, sem discriminação de raça, cor, gênero, localização geográfica, classe social, dentre outras. Delicie-se com cada palavra, verso e estrofe! Pense na criança que você foi e na infância que você gostaria de ter vivido! Reflita sobre cada palavra! Boa leitura! Os Direitos das Crianças (Ruth Rocha) Toda criança no mundo Deve ser bem protegida Contra os rigores do tempo Contra os rigores da vida. Criança tem que ter nome Criança tem que ter lar Ter saúde e não ter fome Ter segurança e estudar. Não é questão de querer Nem questão de concordar Os diretos das crianças Todos tem de respeitar. Tem direito à atenção Direito de não ter medos Direito a livros e a pão Direito de ter brinquedos. Mas criança também tem O direito de sorrir. Correr na beira do mar, Ter lápis de colorir... Ver uma estrela cadente, Filme que tenha robô, Ganhar um lindo presente, Ouvir histórias do avô Descer do escorregador, Fazer bolha de sabão, Sorvete, se faz calor, Brincar de adivinhação. Morango com chantilly, Ver mágico de cartola, O canto do bem-te-vi, Bola, bola, bola, bola! Lamber fundo da panela Ser tratada com afeição Ser alegre e tagarela Poder também dizer não! Carrinho, jogos, bonecas, Montar um jogo de armar, Amarelinha, petecas, E uma corda de pular. Um passeio de canoa, Pão lambuzado de mel, Ficar um pouquinho à toa... Contar estrelas no céu... Ficar lendo revistinha, Um amigo inteligente, Pipa na ponta da linha, Um bom dum cachorro quente. Festejar o aniversário, Com bala, bolo e balão! Brincar com muitos amigos, Dar pulos no colchão. Livros com muita figura, Fazer viagem de trem, Um pouquinho de aventura... Alguém para querer bem... Festinha de São João, Com fogueira e com bombinha, Pé-de-moleque e rojão, Com quadrilha e bandeirinha. Andar debaixo da chuva, Ouvir música e dançar. Ver carreira de saúva, Sentir o cheiro do mar. Pisar descalça no barro, Comer frutas no pomar, Ver casa de joão-de-barro, Noite de muito luar. Ter tempo pra fazer nada, Ter quem penteie os cabelos, Ficar um tempo calada... Falar pelos cotovelos. E quando a noite chegar, Um bom banho, bem quentinha, Sensação de bem-estar... De preferência um celinho. Uma caminha macia, Uma canção de ninar, Uma história bem bonita, Então, dormir e sonhar... Embora eu não seja rei, Decreto,neste país, Que toda, toda criança Tem direito a ser feliz!!! 39 Para que esses direitos sejam cumpridos em nosso País, torna-se necessário o investimento em Políticas Públicas que propiciem a criação de Políticas Sociais para a Primeira Infância, como é o caso do PCF. Podemos nos perguntar neste momento: O que é Política Pública? Quem é responsável por propor, aprovar e executar políticas públicas para a primeira infância? Política Pública é o modo como o Estado intervém para garantir direitos de determinada população e para gestão, administração e controle do País. Algumas Políticas Públicas partem da necessidade de intervenção do Estado e de seu aparato institucional para consolidar direitos como educação, habitação, transporte, trabalho e renda. Mas é também como determinados governos organizam suas agendas de intervenção e regulação da população e do território. É importante saber que uma Política Pública pode ser uma Política de Estado, sendo essas aquelas garantidas em lei e que não são tão simples de serem mudadas, ou Políticas Públicas de governo, que geralmente são instituídas por decretos presidenciais ou ministeriais e se materializam em programas de governo. As Políticas Públicas são amplas e devem contemplar todos os setores nos quais o Estado tem o dever de mediar as necessidades e alocar recursos para atender à população. As Políticas Públicas se desdobram em: políticas sociais, políticas econômicas, políticas de infraestrutura e políticas de Estado. A Política Pública é a maneira como cada estado e Governo intervém na sociedade. Sendo também a forma como o estado direciona suas ações, isto é, se a Política Pública será para garantir algum direito, como educação, ou para regular alguma ação do mercado, como as políticas de cunho fiscais. Logo, percebemos a importância da criação de Políticas Públicas para a Primeira Infância, que resguardem direitos e promovam o desenvolvimento pleno desde os primeiros anos de vida. Reafirmando essa ideia, referenciamos esses direitos com base no Plano de Ação da UNESCO - Dacar, 2000, apresentado no Plano Nacional pela Primeira Infância – PNPI em 2020, destacando: Todas as crianças pequenas devem ser cuidadas e educadas em ambientes para que cresçam saudáveis, vivazes, com amplas possibilidades de aprender. A boa qualidade dos programas de cuidados e educação na Primeira Infância, na família têm demonstrado “impacto positivo sobre a sobrevivência, o crescimento, o desenvolvimento e o potencial de aprendizagem da criança” (UNESCO, Plano de Ação – Dacar, 2000, apud REDE NACIONAL PRIMEIRA INF NCIA, 2020 p. 6). 40 “Esses programas devem ser abrangentes e enfocar todas as necessidades da criança, inclusive saúde, nutrição e higiene, assim como seu desenvolvimento cognitivo e psicossocial. Devem ser oferecidos na língua materna da criança e identificar e aprimorar os cuidados e a educação das crianças com deficiências. Parcerias entre governos, ONGs, comunidades e famílias podem ajudar a garantir o provimento de programas de cuidado e educação de boa qualidade às crianças, principalmente àquelas em situações mais desfavoráveis, por meio de atividades centradas na criança, focadas na família, baseadas na comunidade e apoiadas por políticas nacionais, multissetoriais e com recursos adequados” (UNESCO, Plano de Ação – Dacar, 2000, apud REDE NACIONAL PRIMEIRA INF NCIA, 2020, p. 7). “Os Governos (...) têm a responsabilidade primária de formular políticas de cuidado e educação para a primeira infância no contexto dos planos nacionais de Educação para Todos - EPT, mobilizando apoio político e popular e promovendo programas flexíveis e adaptáveis para crianças pequenas, que sejam adequados para a sua idade e que não sejam simplesmente uma antecipação dos sistemas escolares formais.” (UNESCO, Plano de Ação – Dacar, 2000, apud REDE NACIONAL PRIMEIRA INF NCIA, 2020, p. 7). Se as Políticas Públicas são de responsabilidade do Governo e dentre elas estão as Políticas Sociais, como podemos conceituar Políticas Sociais? As Políticas Sociais são conjuntos de ações com intuito de promover a efetivação dos direitos sociais básicos, sendo os principais: educação; seguridade social (saúde, previdência e assistência social); e habitação. Essas políticas são de extrema importância para o funcionamento e desenvolvimento de um país, buscando garantir o mínimo digno a todo ser humano. Importante saber: A elaboração e efetivação das Políticas Sociais de um país vão depender diretamente do sistema político vigente, que utilizará a implementação das políticas como meio de intervenção na esfera civil. É por meio das Políticas Sociais e Públicas que haverá maior efetivação da garantia dos direitos, colocando em pauta as necessidades urgentes e fazendo as modificações e implementações necessárias ao funcionamento da sociedade e à proteção da população. 41 Mas então por que falamos em Políticas Públicas e Políticas Sociais? As Políticas Sociais também são Políticas Públicas, já que fazem parte das ações implementadas pelo Estado em determinada área. Contudo, as Políticas Sociais se destinam a cobrir o que chamamos de proteção social. Infelizmente, numa sociedade de classes, existem desigualdades que impedem que todos os indivíduos tenham acesso às mesmas oportunidades. Não raro, essas desigualdades sociais e econômicas excluem determinados grupos de direitos básicos, como educação, saúde, trabalho, moradia, terra e outros. Há grupos vulneráveis que não conseguem suprir suas necessidades básicas e, por isso, existe a necessidade de o Estado intervir para a garantia desses direitos. 2.2. Direito das crianças e diálogo com Programa Criança Feliz De acordo com a declaração universal dos direitos das crianças emitida pela Unicef, em 20 de novembro de 1959, a criança tem direito a: Direito à igualdade, sem distinção de raça, religião ou nacionalidade. Direito a especial proteção para o seu desenvolvimento físico, mental e social. Direito a um nome e a uma nacionalidade. Direito à alimentação, moradia e assistência médica adequada para a criança e a mãe. Direito à educação e a cuidados especiais para a criança, física ou mentalmente deficiente. Direito ao amor e à compreensão por parte dos pais e da sociedade. Direito à educação gratuita e ao lazer infantil. Direito a ser socorrida em primeiro lugar, em caso de catástrofes. Direito a ser protegida contra o abandono e a exploração no trabalho. Direito a crescer dentro de um espírito de solidariedade, compreensão, amizade e justiça entre os povos. Para conhecer mais um pouquinho sobre os direitos da criança, assista ao vídeo: https://www.youtube.com/watch?v=t5f1znRGuro https://www.youtube.com/watch?v=t5f1znRGuro 42 As crianças fazem parte de um grupo societário que precisa da mobilização da sociedade civil, que se organiza, então, em diferentes Conselhos, visando a defesa dos direitos da criança e do adolescente. Destaca-se que as nuances do desenvolvimento de uma criança são fortemente desconsideradas, fazendo com que os adultos minimizem suas necessidades básicas, descumprindo o que está previsto nos documentos legais em defesa da criança. A falta de preparo da sociedade para lidar de forma adequada com as crianças mostra a urgência em se pensar, cada vez mais, políticas de garantia dos direitos infantis, assim como Políticas de proteção e acolhimento para as crianças e medidas que visem orientar pais e cuidadores. O Programa Criança Feliz, lançado em 2016, surge com essa importante missão: Acompanhar as crianças na primeira infância (0 a 6 anos), buscando facilitar o acesso dessas e da família às políticas e serviços públicos necessários. Além disso, o programa visa também o fortalecimento do vínculo entre cuidador e criança, além de orientar os cuidadores quanto à proteção, cuidado e educação das crianças. Diante dessa missão4, o PCF, por meioda Portaria 664, define, em seu artigo 3º, os objetivos do Programa. São eles: I - promover o desenvolvimento humano a partir do apoio e do acompanhamento do desenvolvimento infantil integral na primeira infância. II - apoiar a gestante e a família na preparação para o nascimento e nos cuidados perinatais. III - colaborar no exercício da parentalidade, fortalecendo os vínculos e o papel das famílias para o desempenho da função de cuidado, proteção e educação de crianças na primeira infância. IV - mediar o acesso da gestante, das crianças na primeira infância e das suas famílias a políticas e serviços públicos de que necessitem, e V - integrar, ampliar e fortalecer ações de políticas públicas voltadas para as gestantes, crianças na primeira infância e suas famílias. 4 trataremos dessa temática nos módulos 4 e 5. 43 2.3. Políticas Públicas Intersetoriais e o Programa Criança Feliz Ações Intersetoriais Assistência Social Educação Direitos Humanos Cultura Saúde Cultura Direitos da Criança e do Adolescente Visitas domiciliares e Intersetorialidade são os pilares do PCF. Portanto, é imprescindível que você compreenda o que significa a intersetorialidade. A Intersetorialidade surge da integração de setores que buscam, conjuntamente, articular maneiras mais eficazes de intervir e efetivar as Políticas Públicas, atendendo melhor às necessidades da população. Essa integração é essencial para um trabalho mais articulado, como no caso do Auxílio Brasil e o Programa Criança Feliz, onde Assistência Social, Saúde e Educação estão ligados para atender e incentivar mais áreas de necessidade do atendido. No caso do PCF, órgão de estudo do curso, busca-se uma: Implementação das ações de forma descentralizada, com integração das políticas públicas nos territórios, por meio da coordenação e integração dos serviços de saúde, educação, assistência social, meio ambiente, cultura, lazer e instâncias de defesa dos direitos. (PCF/ MINISTÉRIO DA CIDADANIA,) Para que a Intersetorialidade funcione, é fundamental pensar as especificidades do território para que as ações aconteçam de forma integrada, assim, faz-se necessária uma elaboração conjunta dessas ações para que as mesmas possam ser aplicadas atendendo à população da melhor maneira. As ações direcionadas à Primeira Infância se configuram como ações intersetoriais, isto é, articulam diversas Políticas Públicas para sua efetivação, mas é também um exemplo de Política Social, já que visa a transformação e o desenvolvimento de crianças e suas famílias que estão em situação de vulnerabilidade. 44 A necessidade da Lei da Primeira Infância foi resultado da identificação de que o desenvolvimento infantil de crianças de 0 a 06 anos era um problema a ser enfrentado, no País, com ações que possibilitem um futuro melhor para essas crianças. Geralmente, são assim que as Políticas Sociais vão surgindo, como já vimos ao longo do texto: das necessidades apontadas por grupos sociais mais vulneráveis que precisam da intervenção do Estado, mas também da sociedade de maneira geral, para garantir o acesso a direitos sociais. 2.4. O Programa Criança Feliz e sua inserção como Política Social, considerando as especificidades da proteção social no Brasil As políticas de proteção social no Brasil têm origem em ações de caridade e filantropia da Igreja Católica e passam a ter caráter estatal com a implementação da Lei Eloy Chaves, em 1923, com o início da modernização e industrialização no País. No entanto, em sua história, em muitos momentos, a proteção social não conseguiu se desvincular de sua origem caritativa e assistencialista. Muitas dessas políticas, inclusive, foram adotadas em momentos em que a sociedade brasileira passava por restrições de direitos políticos, como nos períodos de 1937 a 1945 e, mais tarde, de 1964 a 1985. Sabendo-se desse contexto, é evidente a importância de um programa como o PCF ser elaborado e implementado como uma política social de caráter amplo, tendo como fundamento afastar-se do caráter assistencialista. O Programa Criança Feliz ainda não é uma Política da Assistência Social, pois sua constituição se deu por meio de Decreto (que veremos detalhadamente em outro módulo), ou seja, ele ainda não é instituído por lei. A gestão do PCF está na Secretaria Nacional de Atenção à Primeira Infância, contudo isso não significa que o PCF não esteja inserido em um rol de políticas e programas sociais que visem a mudança social daqueles que mais necessitam. Por isso é tão importante conhecer as Políticas Sociais e entender que todas elas estão articuladas para garantia de direitos sociais, seja assistência social, saúde, educação, meio ambiente etc. O melhor conhecimento das Políticas Sociais existentes no País facilita o processo de articulação da rede, bem como a mobilização para que os programas sociais se transformem em Políticas Sociais estabelecidas por lei. Outro ponto importante é que, mesmo que o PCF se configure como um programa social, instituído por Decreto, ele, ainda assim, representa a maneira que o Estado e o Governo interferem na área para promover o desenvolvimento 45 infantil. Lembre-se que as políticas e programas sociais demonstram certas prioridades que o Governo adota, em determinados momentos, para suprir necessidades econômicas e vulnerabilidades sociais. Em síntese: O que é necessário compreendermos sobre esse tema? As Políticas Públicas são instrumentos legais e amplos para a garantia de direitos da criança, minimizando desigualdades profundas e históricas como a falta de infraestrutura, de investimentos, de habitação, de saúde, de assistência social e de educação. Esses desafios só mostram a importância crescente de integrar os setores primários da administração pública em uma ação conjunta de Políticas Intersetoriais que garantam proteção social para toda família e, especialmente, para a criança, colocando-a no centro das prioridades. Apesar dos muitos obstáculos que ainda enfrentamos, temos que valorizar os avanços obtidos com políticas bem-sucedidas, destacando os marcos legais que representam conquistas da sociedade para continuarmos buscando o aprimoramento. Finalizamos esta aula com a seguinte questão para reflexão: Pensando a prática cotidiana das equipes do PCF e o que estudamos sobre Políticas Públicas e Sociais, como você e sua equipe irão articular ações que garantam o atendimento aos direitos da criança? É possível pensar em ações que valorizem o fortalecimento de vínculos da criança com suas famílias? 46 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS CAVALCANTI, Camila Dias. Roteiro do curso: As diversidades das infâncias e famílias brasileiras e o PCF. Ministério da Cidadania. Secretaria Especial do Desenvolvimento Social. s/d. p. 80. Disponível em: https://drive.google.com/drive/ folders/1U5GK22yjvw1iwd4Kq2Eq5K4k3253H4zw COSTA, Neila Karla. Os Sistemas de Proteção Social no Brasil no Contexto Do Capitalismo Contemporâneo: tendências e desafios. IV Jornada Internacional de Políticas Públicas. Disponível em: http://www.joinpp.ufma.br/jornadas/joinppIV/eixos/9_estados-e-lutas-sociais/os-sistemas-de- protecao-social-no-brasil-no-contexto-do-capitalismo-contemporaneo-tendencias-e.pdf DECLARAÇÃO UNIVERSAL DOS DIREITOS DAS CRIANÇAS - UNICEF. Disponível em: https://bvsms. saude.gov.br/bvs/publicacoes/declaracao_universal_direitos_crianca.pdf. Acesso em: 15/01/2022. KISHIMOTO, Tizuko Morchida. Brinquedos e Brincadeiras na Educação Infantil. ANAIS DO I SEMINÁRIO NACIONAL: CURRÍCULO EM MOVIMENTO – Perspectivas Atuais, Belo Horizonte, 2010. LOURO SODRÉ, J. I. 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Disponível em: https://www.gov.br/ cidadania/pt-br/acesso-a-informacao/carta-de-servicos/desenvolvimento-social/promocao-do- desenvolvimento-humano/programa-crianca-feliz-1. Acesso em: 14/01/2022 REDE NACIONAL PRIMEIRA INF NCIA (RNPI). Plano Nacional Primeira Infância: 2010 - 2022 | 2020 - 2030; ANDI Comunicação e Direitos. - 2ª ed. (revista e atualizada). - Brasília, DF: RNPI/ANDI, 2020. Disponíel em: http://primeirainfancia.org.br/wp-content/uploads/2020/10/PNPI.pdf SILVA, B. T; BARLEM, E. L. D; LUNARDI, V. L; & SANTOS, S. S. C. Educação permanente: instrumento de trabalho do enfermeiro na instituição de longa permanência</b > gt; - DOI: 10.4025/ cienccuidsaude.v7i2.5015. Ciência, Cuidado E Saúde, 7(2), 256-261, 2008. Disponível em: https:// periodicos.uem.br/ojs/index.php/CiencCuidSaude/article/view/5015/3249 VIEIRA, Alcione G. Ribeiro. Educação Permanente: (Re)vendo conceitos. ECS, Sinop/MT, v.3, n.2, p. 179-193, jul./dez. 2013. 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Este módulo III é dividido em três unidades. Dando continuidade às unidades do módulo 2, apresentaremos neste módulo as unidades IV, V e VI. Desejamos que você mantenha o prazer de estudar e conhecer um pouco mais sobre os temas deste módulo. Como parte do módulo III, iremos, primeiramente, conhecer sobre as diversidades brasileiras, compreendendo como se deu a formação territorial e social do Brasil, com suas diversas realidades regionais e suas implicações para diferentes formas de organização social e assim contribuir para nossa atuação na promoção da Primeira Infância, na execução de uma política ou programa social com foco na efetivação do Programa Criança Feliz nesse cenário atual, respeitando as diversidades. Para aprofundar esses conhecimentos, siga a seguinte ordem de estudos: 1. Leia, na apostila, a Aula 4; 2. Assista a aula narrada 4; 3. Faça o jogo de palavras-cruzadas e os exercícios de fixação da Aula 4; 48 Depois, seguimos para a aula 5 que vai possibilitar reflexões sobre as diversidades das famílias brasileiras, entendendo a existência das várias configurações de família, tipos diferenciados de formação familiar, diferentes formas de exercer a parentalidade para o cuidado com as crianças, relacionando todo o aprendizado com a prática diária do PCF. Sugerimos, para conhecimento sobre esse assunto, a seguinte ordem de estudo: 1. Ler, na apostila, a Aula 5; 2. Assistir à aula narrada 5; 3. Faça os exercícios de fixação; Por último, para fechar com chave de ouro este importantíssimo módulo, apresentamos a aula 6 que é de extrema importância para quem trabalha com a Primeira Infância! Nela, iremos compreender qual a importância do desenvolvimento infantil para a quebra intergeracional da pobreza, entendendo os aspectos diversos das infâncias brasileiras, o papel das cuidadoras e dos cuidadores na promoção do desenvolvimento infantil e como as visitas domiciliares do PCF contribuem para o fortalecimento da primeira infância e de um futuro melhor paras as crianças. Como nas outras aulas, nessa, recomendamos que siga a seguinte ordem de estudos: 1. Ler, na apostila, a Aula 6; 2. Assistir à aula narrada 6; 3. Brinque com o jogo de palavras cruzadas e faça os exercícios de fixação. Bons estudos! 49 Aula Narrada 4: As diversidades brasileiras 4.1. Diversidades da formação social e econômica brasileira. Sabemos que a história do Brasil, ao longo dos anos, foi marcada pela migração de outros povos, o que contribuiu para que a ocupação do território brasileiro fosse diverso, trazendo consigo diferentes costumes e culturas. Durante um período, a concentração populacional do território brasileiro aconteceu nas região Nordeste e Sudeste e em parte da região Sul. Alguns motivos levaram a isso, como por exemplo, a chegada dos colonizadores no litoral nordestino, estabelecendo pequenos comércios e pequenas cidades, o comércio da cana-de- açúcar. Já alguns anos depois, a região Sudeste passou a concentrar grandes fluxos populacionais, graças ao ciclo do café, o desenvolvimento da indústria e comércio, levando o estado de São Paulo a receber grandes contingentes de migrantes brasileiros e europeus. 50 Esses fluxos são marcados pelo desenvolvimento urbano e rural, que não se desenvolveram igualmente no território brasileiro. Além disso, é preciso levar em consideração que o processo de urbanização e de influência econômica e política de uma localidade depende de fatores como desenvolvimento comercial e industrial, elementos que propiciam maior fluxo de pessoas, que levam à maior concentração de bens e serviços. Contudo, maior urbanização, área comercial e industrial, nem sempre significa maior e melhor desenvolvimento. A gestão de um território depende também da consolidação e efetivação de políticas públicas, vinculadas à preservação ambiental e cultural. Considerando a forma desigual como o território brasileiro foi ocupado, podemos identificar diversidadesterritoriais, culturais, étnicas, econômicas e sociais bem definidas nas cinco regiões. Diante das especificidades que circundam nosso território brasileiro, convidamos você a refletir sobre as seguintes questões: Você já pensou sobre a diversidade regional do Brasil? Quantas paisagens diferentes podemos apreciar se conhecermos o território brasileiro? Pense nos diferentes cenários que vivenciamos quando trabalhamos com políticas sociais, nas diversas realidades das cidades e territórios e em diferentes modos de viver. Ainda é possível presenciarmos áreas de floresta, cerrado, caatinga. Temos praias, serras, cachoeiras e rios, bem como metrópoles e cidades grandes. A diversidade regional tem que ser pensada quando se pretende executar uma política pública e social, já que a forma de acesso das pessoas será diferente de acordo com a região em que está inserida. Com certeza, no trabalho cotidiano, você já se deparou com alguma dificuldade de acesso ao território e isso influencia no trabalho que o Programa Criança Feliz realiza com as crianças e famílias atendidas. 4.2. Variedades regionais e culturais do Brasil Cultura é um complexo conjunto de elementos que envolve arte (todas as linguagens artísticas possíveis, como a pintura, a escultura e outras artes visuais, o artesanato, a literatura, o teatro etc.), educação, religião e religiosidade, culinária, idioma, festividades, histórias populares etc.1 1 https://brasilescola.uol.com.br/brasil/a-diversidade-cultural-no-brasil.htm#:~:text=Cul- tura%20%C3%A9%20um%20complexo%20conjunto,%2C%20festividades%2C%20hist%- https://brasilescola.uol.com.br/brasil/a-diversidade-cultural-no-brasil.htm#:~:text=Cultura%20%C3%A9%20um%20complexo%20conjunto,%2C%20festividades%2C%20hist%C3%B3rias%20populares%20etc https://brasilescola.uol.com.br/brasil/a-diversidade-cultural-no-brasil.htm#:~:text=Cultura%20%C3%A9%20um%20complexo%20conjunto,%2C%20festividades%2C%20hist%C3%B3rias%20populares%20etc 51 Cultura, é um complexo conjunto de elementos que envolve arte (todas as linguagens artísticas possíveis, como a pintura, a escultura e outras artes visuais, o artesa nato, a literatura, o teatro etc.), educação, religião e religio sidade, culinária, idioma, festividades, histórias populares, etc. Cultura Arte Educação Religião e religiosidade Culinária Idioma Festividades Histórias populares Falar em diversidade cultural também vai além do simples fato de constatar o convívio de culturas diferentes em um mesmo local. Ao falarmos de diversidade cultural, nós estamos falando também de respeito à diversidade e à pluralidade, pois uma sociedade com diversidade, que se pretende justa e democrática, precisa do respeito ao diferente para funcionar2. Por que o Brasil é um país com diversidade cultural?3 Alguns sociólogos e antropólogos se dedicam a estudar esta diversidade cultural do nosso país. Em suas pesquisas é possível reconhecer, pelo menos, cinco C3%B3rias%20populares%20etc. 2 https://brasilescola.uol.com.br/brasil/a-diversidade-cultural-no-brasil.htm#:~:text=Cultura%20 %C3%A9%20um%20complexo%20conjunto,%2C%20festividades%2C%20hist%C3%B3rias%20 populares%20etc. 3 o § 1 e 2 deste texto foi retirado na íntegra da publicação disponível em: https://brasilescola. uol.com.br/brasil/a-diversidade-cultural-no-brasil.htm#:~:text=O%20Brasil%20crioulo%2C%20 da%20%C3%A1rea,forte%20presen%C3%A7a%20de%20culturas%20ind%C3%ADgenas. https://brasilescola.uol.com.br/brasil/a-diversidade-cultural-no-brasil.htm#:~:text=Cultura%20%C3%A9%20um%20complexo%20conjunto,%2C%20festividades%2C%20hist%C3%B3rias%20populares%20etc https://brasilescola.uol.com.br/brasil/a-diversidade-cultural-no-brasil.htm#:~:text=Cultura é um complexo conjunto,%2C festividades%2C histórias populares etc https://brasilescola.uol.com.br/brasil/a-diversidade-cultural-no-brasil.htm#:~:text=Cultura é um complexo conjunto,%2C festividades%2C histórias populares etc https://brasilescola.uol.com.br/brasil/a-diversidade-cultural-no-brasil.htm#:~:text=Cultura é um complexo conjunto,%2C festividades%2C histórias populares etc https://brasilescola.uol.com.br/brasil/a-diversidade-cultural-no-brasil.htm#:~:text=O%20Brasil%20crioulo%2C%20da%20%C3%A1rea,forte%20presen%C3%A7a%20de%20culturas%20ind%C3%ADgenas https://brasilescola.uol.com.br/brasil/a-diversidade-cultural-no-brasil.htm#:~:text=O%20Brasil%20crioulo%2C%20da%20%C3%A1rea,forte%20presen%C3%A7a%20de%20culturas%20ind%C3%ADgenas https://brasilescola.uol.com.br/brasil/a-diversidade-cultural-no-brasil.htm#:~:text=O%20Brasil%20crioulo%2C%20da%20%C3%A1rea,forte%20presen%C3%A7a%20de%20culturas%20ind%C3%ADgenas 52 grandes eixos culturais, que se formaram durante o período colonial. São eles: O Brasil crioulo, da área litorânea do extremo norte da região Nordeste ao Rio de Janeiro, com bastante influência da cultura africana (que também é diversa). O Brasil sertanejo no interior do Nordeste, onde predomina a Caatinga. O Brasil caboclo, predominante na região Norte, com forte presença de culturas indígenas. O Brasil caipira, com predominância nas regiões Sudeste e Centro- Oeste. O Brasil sulino, com predominância de miscigenação mameluca e grande influência europeia e indígena. Apesar da formação destes eixos estarem diretamente relacionadas ao período colonial, até os dias atuais experimentamos os traços culturais de cada um deles. No entanto, é importante compreender que a nossa riqueza cultural está em cada um deles, e nenhum é melhor ou mais importante do que o outro. Brasil Crioulo Brasil Sertanejo Brasil Caipira Brasil Sulino Brasil Caboclo 53 Qual a importância da diversidade cultural no Brasil? 4 O primeiro e mais importante argumento a favor da diversidade cultural brasileira diz respeito à nossa própria cultura, pois ela só é o que é hoje devido ao curso da história que proporcionou todos os acontecimentos citados nos tópicos anteriores. Se não fosse diversa, não seria a cultura brasileira que temos hoje. O segundo e mais forte argumento é o do respeito e da tolerância cultural. Por termos uma cultura tão vasta, aprendemos (às vezes nem tanto) a lidar com o diferente. Com isso, pudemos desenvolver a tolerância por aquele que vive de maneira diferente da nossa, enxergando-o como alguém que merece respeito, que merece viver e expressar-se tanto quanto os que vivem e se expressam como nós. 4.3. A política social e a apreensão das territorialidades e regionalidades O conhecimento das diversidades culturais que organizam a sociedade brasileira nos ajuda a: pensar melhor em como devemos atuar em cada território; respeitar as tradições locais e a ter cuidado para não estigmatizar práticas que são culturais de cada região. Quando atuamos no cotidiano, no dia-a-dia com as famílias em seus territórios, é preciso buscar entender os hábitos culturais de cada local e região. Nunca devemos julgar que uma família administra mal sua casa ou que não cuida de suas crianças, antes de conhecermos sua realidade social, econômica e cultural. Em termos de estrita interpretação, diversidade cultural e desigualdade social são completamente diferentes. Desigualdade social faz referência à diferença entre as classes sociais e aos rendimentos de cada classe. Diversidade cultural faz referência à vasta quantidade de culturas diferentes existentes em um território. A desigualdade social é a diferença existente entre as diferentes classes sociais, levando-se em conta fatores econômicos, educacionais e culturais. Assim, somos um país de grande extensão territorial, de diversidades culturais e regionais e, infelizmente, na mesma proporção, temos grandes desigualdades sociais. Fruto de uma divisão desigual da riqueza que temos e 4 Texto retirado na íntegra da publicação disponível em: https://brasilescola.uol.com.br/ brasil/a-diversidade-cultural-no-brasil.htm#:~:text=O%20Brasil%20crioulo%2C%20da%20 %C3%A1rea,forte%20presen%C3%A7a%20de%20culturas%20ind%C3%ADgenas.https://brasilescola.uol.com.br/brasil/a-diversidade-cultural-no-brasil.htm#:~:text=O%20Brasil%20cri https://brasilescola.uol.com.br/brasil/a-diversidade-cultural-no-brasil.htm#:~:text=O%20Brasil%20cri https://brasilescola.uol.com.br/brasil/a-diversidade-cultural-no-brasil.htm#:~:text=O%20Brasil%20cri 54 produzimos no país, existem pessoas que vivem muito aquém do que é considerado o mínimo para uma vida digna. Conhecer essa realidade é fundamental para quem trabalha com políticas públicas e sociais, uma vez que, como vimos no módulo II, é geralmente para essas pessoas que são direcionadas às políticas de assistência social do Estado. A desigualdade social não pode ser vista como algo comum e intransponível, diferentemente das diversidades regionais e culturais. Reconhecer as desigualdades sociais do Brasil, que interferem no acesso a direitos como educação, saúde, moradia, cultura, entre outros, de milhões de brasileiros, é criar possibilidades de intervir para transformação dessa realidade. As medidas de elevação do bem-estar social incluem: acesso à saúde e educação de qualidade para todos; emprego e assistência momentânea para aqueles que estão fora do mercado de trabalho; garantia da previdência social e dos direitos trabalhistas. Para você refletir melhor sobre as diversidades culturais e a desigualdade social, responda ao seguinte questionamento: Quando pensamos nas diversidades culturais, como você acha que é possível preservá-las? Como podemos melhorar nossas ações diárias para a preservação do meio ambiente? O que as diversidades regionais nos ensinam sobre as riquezas e dificuldades do povo brasileiro? Essas questões nos ajudam a compreender melhor nossa atuação como profissionais de um programa social ou mesmo como cidadãos, ampliando nossos conhecimentos e nos capacitando para a elaboração de projetos, planos e intervenções na construção de um país que respeite as diversidades e diferenças e que busca a igualdade. Sugerimos que assista a esse vídeo: https://criancaenatureza.org.br/nossas-acoes/nossos- videos/ https://criancaenatureza.org.br/nossas-acoes/nossos-videos/ https://criancaenatureza.org.br/nossas-acoes/nossos-videos/ 55 4.4. O Programa Criança Feliz e sua inserção nos territórios diversos5 O Programa Criança Feliz (PCF) foi instituído pelo Decreto nº 8.869, de 05 de outubro de 2016, consolidado pelo Decreto nº 9.579, de 22 de novembro de 2018, como parte da implementação do Marco Legal da Primeira Infância. Tem como uma de suas características principais a intersetorialidade, a partir da articulação de ações das políticas de Assistência Social, Saúde, Educação, Cultura, Direitos Humanos e Direitos das Crianças e dos Adolescentes, entre outras, com o fim de promover o desenvolvimento integral das crianças na primeira infância. O eixo central de atuação do Programa são as visitas domiciliares, que tem a finalidade de apoiar e acompanhar o desenvolvimento integral de crianças na primeira infância e apoiar a gestante e a família na preparação para o nascimento e nos cuidados perinatais. Além disso, visa colaborar no exercício da parentalidade, fortalecendo os vínculos e o papel das famílias para o desempenho da função de cuidado, proteção e educação das crianças atendidas. Tais elementos encontram retaguarda, igualmente, na oferta de serviços socioassistenciais, que ao contribuir para o fortalecimento da capacidade protetiva das famílias, permitem alçar o público do Programa à condição de prioridade absoluta determinada pelo marco legal vigente no País. (SUAS E PROGRAMA CRIANÇA FELIZ - ATUAÇÃO INTEGRADA, S/D, p. 7.6 ) O planejamento das ações no território, no âmbito da integração de programas, serviços e benefícios e da intersetorialidade revela-se ainda mais estratégico porque muitas das demandas surgidas durante as visitas domiciliares que estão além do escopo do PCF, podem estar relacionadas a políticas de infraestrutura. No território, sobressai o papel mobilizador e articulador do CRAS (Centro de Referência de Assistência Social), sobretudo a partir do PAIF, mas se estendendo para toda a rede de ofertas do SUAS (Sistema Único de Assistência Social) na organização do trabalho articulado Assim, no campo da primeira infância, o SUAS tem a responsabilidade de atuar no enfrentamento tanto das vulnerabilidades sociais que dizem 5 Grande parte desse texto foi extraído do documento do Ministério da Cidadania com o título de Suas e Programa Criança Feliz - Atuação Integradora. Disponível em: https://www. mds.gov.br/webarquivos/publicacao/assistencia_social/Cadernos/Interacao_Suas_CF.pdf 6 texto extraído do documento do Ministério do Desenvolvimento Social com o título de Suas e Programa Criança Feliz - Atuação Integradora. Disponível em: https://www.mds.gov. br/webarquivos/publicacao/assistencia_social/Cadernos/Interacao_Suas_CF.pdf SUAS CRAS EDUCAÇÃO DIREITOS HUMANOSCMDCA SAÚDE CULTURA https://www.mds.gov.br/webarquivos/publicacao/assistencia_social/Cadernos/Interacao_Suas_CF.pdf https://www.mds.gov.br/webarquivos/publicacao/assistencia_social/Cadernos/Interacao_Suas_CF.pdf https://www.mds.gov.br/webarquivos/publicacao/assistencia_social/Cadernos/Interacao_Suas_CF.pdf https://www.mds.gov.br/webarquivos/publicacao/assistencia_social/Cadernos/Interacao_Suas_CF.pdf 56 respeito à pobreza, a fome, ao não acesso a bens e serviços públicos, como das vulnerabilidades relacionais, sobretudo as relativas ao ciclo de vida, considerando a primeira infância como a etapa mais vulnerável. As famílias devem ser empoderadas para, diante das incertezas, das inseguranças e rupturas decorrentes da complexidade da vida social da modernidade avançada, serem capazes de evitar situações de desproteção, fragilização ou rompimento de vínculos familiares, gerando para suas crianças um ambiente físico e emocional protetivo, que contribua com o desenvolvimento de suas potencialidades enquanto indivíduos plenos e saudáveis. É importante ter em mente que, em muitos casos, as demandas levadas pelas famílias atendidas pelo PCF estarão relacionadas a problemas estruturais do território, atingindo toda a comunidade que nele habita. Assim, a ação do SUAS volta-se para seu caráter proativo, no sentido de estimular, por meio do Trabalho Social com as Famílias, a autonomia e o empoderamento das comunidades para a solução de problemas comuns. Vale lembrar que o Comitê Gestor do Programa Criança Feliz é um espaço de articulação institucional onde essas questões podem e devem ser tratadas, envolvendo, no nível da gestão, as áreas competentes que devem ser mobilizadas. O Comitê Gestor tem a possibilidade de atuar nos casos que não puderam ser resolvidos a partir do trabalho técnico em rede, articulando com as demais políticas setoriais, além de buscar soluções para casos de demandas crônicas ou urgentes. 57 Aula Narrada 5: As Diversidades das Famílias Brasileiras Nesta aula, temos o objetivo de instigar suas reflexões sobre as várias formas de organização das famílias brasileiras e suas mudanças ao longo do tempo. Além disso, visamos possibilitar reflexões sobre a existência de diferentes tipos de formação de famílias, diferentes formas de exercício da parentalidade em relação ao cuidado com as crianças, relacionando-os com a prática diária do PCF. 5.1. A composição das famílias brasileiras atualmente Até agora, vimos a importância de entender as diversidades brasileiras(regionais, culturais e sociais) para a atuação na promoção do desenvolvimento infantil por meio das ações do PCF. Junto a isso, passamos pela discussão de como se constituem as políticas públicas e sociais, a necessidade de pensá-las dentro do processo de formação econômica e social do Brasil e de como isso interfere na nossa atuação, seja junto ao Programa Criança Feliz, seja na promoção e defesa de outros direitos sociais. Nesse processo, a formação permanente dos profissionaisque atuam na área é fundamental para qualificar a intervenção no território e junto às famílias, às crianças e às gestantes. Tudo o que foi dito até esse momento do curso, vem se somando, com o intuito de possibilitar melhor compreensão sobre a realidade em que atua. Estudar sobre as diversidades das famílias brasileiras, buscando compreender melhor o cenário de mudanças dessas famílias, bem como de suas diferentes composições, é indispensável para que você consiga estabelecer uma melhor interação com as famílias e as crianças pertencentes a este Programa. Compreender essas diferenças que existem em nossa sociedade, no que se refere às mais diversas organizações familiares, é um passo fundamental para que consiga promover os vínculos afetivos junto aos membros dessas famílias. Dentre as diferentes formas de organizações, arranjos e tipos de famílias, vamos apresentar, conceitualmente, neste curso, somente alguns arranjos familiares: famílias extensas, famílias monoparentais e famílias nucleares. Ao apresentarmos esses tipos de arranjos familiares, queremos deixar claro que existem muitos outros que fazem parte da nossa sociedade brasileira. 58 O mais importante aqui é a compreensão de que você, enquanto visitador, tem a responsabilidade de conhecer como a família em que está visitando se organiza, respeitando a organização apresentada, sem tentar “impor” outra forma de arranjo ou realizar “julgamento” sobre como essa família se estrutura ou se organiza. Portanto, precisamos nos desnudarmos de pré-conceitos sobre os diferentes tipos e arranjos familiares para que possamos estabelecer os vínculos necessários com as famílias que fazem parte do PCF e, a partir disso, conseguirmos atingir nosso objetivo principal que é a melhoria da condição de vida da criança, para que ela tenha um desenvolvimento integral e saudável, tendo seus direitos atendidos e preservados. Para dar sequência a essa discussão, gostaria que você, cursista, respondesse à seguinte pergunta: Ao longo da sua trajetória profissional e de vida, você já teve a curiosidade de refletir sobre os diferentes arranjos familiares presentes no Brasil? Ou seja, já pensou nas diversidades das famílias? Se já, isso é um bom começo. Temos uma proposta para você: Faça algumas anotações no seu material de estudo, descrevendo quais os tipos de arranjos familiares que você teve oportunidade de conhecer. Sugerimos Depois de finalizado este curso, durante as visitas domiciliares que você irá realizar, vá adicionando às suas anotações outros arranjos familiares com os quais for se deparando. Fazendo esse exercício, você vai perceber inúmeros arranjos familiares que extrapolam a esses que estamos apresentando aqui neste módulo. Independente das diversas configurações familiares, o importante é compreendermos que é na família que ocorre a primeira vivência de socialização da criança. Essa afirmativa é confirmada por Lasch (1991) e Amazonas et al (2003) quando dizem: A família é o principal agente da socialização e reproduz padrões culturais no indivíduo. Ela “inculca modos de pensar e atuar que se transformam em hábitos” (LASCH, 1991, p.25). É na família que se concentram as possibilidades de constituição de pessoas enquanto sujeitos e cidadãos. É no seio dela que vão acontecer as primeiras identificações, espelho para identificações futuras (AMAZONAS, et al, 2003, p. 11). 59 Ao compreendermos a família como uma categoria responsável pelo início do processo de socialização das crianças, possibilitando-as a construção de hábitos, valores, crenças, acreditamos que a família, do ponto de vista antropológico, é uma instituição universal (ROMANELLI, 2002, apud NEVES, 2004). Além da família nuclear (pai, mãe e filhos), encontramos também as famílias extensas, monoparentais, mosaico e outros arranjos. Assim, constata-se que essas famílias representam as mudanças ocorridas na sociedade brasileira. Vale ressaltar que as diferentes formas familiares se concretizam no expressivo número de uniões estáveis fora do rito do casamento civil e religioso. Dentre muitos conceitos de família, apresentamos a seguinte definição: Família são as funções desempenhadas por seus membros e suas inter-relações, podendo assim apresentar-se como família um sem número de arranjos entre membros com tais características de lealdade, afeição e durabilidade de pertinência, como por exemplo: casal sem filhos, casal com vários filhos, avós, filhos e netos, um pai ou uma mãe singular e filhos, casais recasados com filhos de outras relações (MACEDO, 1994, p. 185 apud NEVES 2004, p. 19). Dentre os diferentes disparadores para o surgimento de novas configurações e tipologias familiares, podemos citar as situações de “divórcio” e “separação”. Essas situações são muito comuns e abrem portas para a criação de novas possibilidades de arranjos familiares, tornando a composição familiar muito mais diversa. Vale destacar, por exemplo, a família mosaico, isto é, famílias compostas por pais, mães e filhos de diferentes casamentos ou relações conjugais7. A família é uma instituição de importante referência para as crianças e indivíduos de maneira geral. É nela que aprendemos os primeiros aspectos do que é o mundo, de carinho, de cuidado, de proteção. É ela também que nos ensina as primeiras noções acerca de crenças, tradições e cultura do local onde vivemos. Em acordo com esse conceito de família, Bruschini (1994), citada por Neves (2004), afirma: Famílias são espaços de convívio, de troca de informações entre os membros e onde existe a possibilidade de as decisões serem tomadas coletivamente. São vínculos nos quais os sujeitos têm a oportunidade de se re-socializarem, revendo seus valores e posturas na dinâmica do cotidiano e em função das necessidades do grupo, que se modificam a cada etapa da vida familiar. (NEVES, 2004, p. 20) As transformações que têm passado as famílias não representam a perda de noção de mundo, e sim as transformações que vêm ocorrendo na sociedade contemporânea. 7 Quando um homem já com filhos se casa novamente, ou uma mãe também já foi casada e têm filhos, formam uma outra família. 60 Essas transformações vêm contribuindo para o reconhecimento da igualdade de direitos construídos no espaço doméstico/familiar. Dentre os avanços registrados, foi dada tutela à união estável e à família monoparental. Assim, tanto os filhos concebidos durante a união, como os filhos concebidos de maneira externa ao casamento/união, bem como os adotivos, passaram a ter seus direitos legitimados. Portanto, as configurações familiares sofreram modificações para dar conta das demandas emergentes da sociedade (BANACO et al, 2020). Na sequência, vamos fazer um destaque relativo às famílias extensas e monoparentais como um exemplo de configuração familiar a ser apresentado para reflexão. Entretanto, reafirmamos que essas configurações não são exclusivas. Conforme já apresentamos, muitos outros arranjos surgiram e vêm surgindo na sociedade contemporânea Em resumo: De acordo com Macedo (1994), sendo a família considerada parte de um contexto mais amplo dentro do sistema social, no qual faz parte sua função de transmissão de valores, de suporte físico, afetivo e social, fica implícita a contribuição de seus membros no que se refere ao suporte para o desenvolvimento da criança, favorecendo a construção de sua identidade. Porém, não existe nenhuma configuração familiar melhor que outra, uma vez que a família tem sido o que é possível ser em função do seu contexto, de sua herança, da fase de vida em que está e da capacidade de mudança que têm (NEVES, 2004, p. 23). 5.2. Famílias extensas e famílias monoparentais Famílias Monoparentais Família extensa São formadas quando a mãe cuida dos filhos sozinha ou o pai cuida sozinho dos filhos, mesmo que contando com uma ajudinha de algum parente. São os cuidados com as crianças que sãocompartilhados com outros parentes e/ou amigos - avós e avôs, tios e tias, primo e prima, amigos/amigas, que residem na mesma casa ou próximo à residência. Famílias Monoparentais São formadas quando a mãe cuida dos filhos sozinha ou o pai cuida sozinho dos filhos, mesmo que contando com uma ajudinha de algum parente. Famílias Monoparentais Família extensa São formadas quando a mãe cuida dos filhos sozinha ou o pai cuida sozinho dos filhos, mesmo que contando com uma ajudinha de algum parente. São os cuidados com as crianças que são compartilhados com outros parentes e/ou amigos - avós e avôs, tios e tias, primo e prima, amigos/amigas, que residem na mesma casa ou próximo à residência. São os cuidados com as crianças que são compartilhados com outros parentes e/ou amigos - avós e avôs, tios e tias, primo e prima, amigos/amigas, que residem na mesma casa ou próximo à residência. Famílias Extensas 61 As famílias monoparentais são formadas quando a mãe cuida dos filhos sozinha ou o pai cuida sozinho dos filhos, mesmo que contando com uma ajudinha de algum parente. Apesar das famílias monoparentais serem, em sua maioria, chefiadas por mulheres, têm aparecido arranjos familiares com apenas genitores e filhos. Os motivos que caracterizam as famílias com pais e filhos são diferentes daqueles em que as mulheres criam sozinhas seus filhos. Sem a pretensão de generalizar, muitas vezes, é o falecimento da genitora que leva os pais a criarem seus filhos sozinhos, quando eles não se casam ou se unem novamente. Mas, independentemente dos fatores que contribuem para essa situação, a paternidade responsiva deve ser encarada como uma mudança nos paradigmas sociais que levam aos novos arranjos familiares. O cuidado com os filhos deve ser compartilhado pelos genitores e os pais precisam ser responsabilizados por esse cuidado ou falta dele. A família extensa, como o próprio nome diz, é algo extenso, colocando- se além do modelo tradicional, configurado por mãe, pai e filho, mãe e filho ou pai e filho. Assim, a família extensa define-se pelos cuidados com as crianças que são compartilhados com outros parentes e/ou amigos - avós e avôs, tios e tias, primo e prima, amigos/amigas - que residem na mesma casa ou próximos à residência. Há comunidades que compartilham os cuidados de maneira mais coletiva e todos acabam ficando responsáveis por determinados cuidados. Embora possa haver um cuidador ou cuidadora principal, no compartilhamento dos cuidados das crianças, existem diferentes abordagens para o fortalecimento de vínculos. Outras pessoas, que não somente os genitores e genitores, tornam-se referência no desenvolvimento infantil dessas crianças e contribuem para seu processo de socialização e apreensão do mundo. Devemos levar isso em consideração na elaboração do nosso plano de atuação com as famílias, ainda que seja para pensar diferentes atividades para promoção da Primeira Infância. 5.3. Quem são os cuidadores das crianças nas famílias brasileiras Como vimos anteriormente, as famílias são as cuidadoras principais das crianças e, embora possa haver um cuidador ou cuidadora principal, existem diferentes abordagens para o fortalecimento de vínculos. Outras pessoas, que não somente os genitores, tornam-se referência no desenvolvimento infantil dessas crianças e contribuem para seu processo de socialização e conhecimento de mundo. Nas visitas domiciliares do Programa Criança Feliz, percebemos diferentes maneiras de exercer o cuidado com as crianças, dependendo do arranjo familiar, cultura e do território/região onde residem as famílias e sua organização social. Por isso, devemos ter cuidado para não julgarmos essas famílias e seu modo 62 de viver. Devemos, entretanto, aprender mais sobre essas famílias para organizar melhor as atividades/estratégias de intervenção. Quando existem várias pessoas compartilhando os cuidados com as crianças, precisamos referenciar o cuidador principal, sem deixar de entender a importância que essas outras pessoas exercem no processo de aprendizado delas. O que importa, muitas vezes, é buscar um ambiente seguro e acolhedor para realizar as atividades do programa e orientar as famílias a propiciar o desenvolvimento infantil. As equipes que atuam no PCF, bem como outros atores que trabalham com a garantia de direitos, devem ter atenção para não desrespeitar os cuidadores e cuidadoras nem tomar nenhuma atitude que possa afastar essas famílias do programa e agravar sua situação. Reiteramos que as situações de vulnerabilidades sociais devem ser trabalhadas em rede, buscando a melhor intervenção para a garantia dos direitos dessas famílias e das crianças. Um fator importante nas visitas domiciliares, além de trabalhar junto aos cuidadores das crianças, é compreender que tanto você (visitador ou visitadora) quanto os cuidadores devem dar à criança o direito de falar e de ser ouvida em sua essência em todos os momentos da convivência familiar e na sociedade em geral. Aprofundaremos nesta temática no módulo 4. A família representa uma forma de integração ao mundo e o fortalecimento desse vínculo é fundamental para a Primeira Infância. Devemos levar isso em consideração quando estamos elaborando nosso plano de atuação com as famílias, respeitando-as e conhecendo-as, se quisermos intervir nas realidades delas, ainda que seja para pensar diferentes atividades para promoção da Primeira Infância, estimulando o cuidado entre os cuidadores, gestantes e crianças. As diversidades das famílias e do território brasileiro produzem diferentes influências, pois tem um jeito próprio de entender a infância, de exercer o desenvolvimento infantil e o fortalecimento de vínculos familiares independentemente da sua configuração. Não impede de utilizarmos conhecimentos científicos comprovados que ajudam na promoção do desenvolvimento infantil. É preciso aliar esse conhecimento científico às diversidades das infâncias brasileiras em prol da Primeira Infância. 63 Aula Narrada 6: O Desenvolvimento Infantil e as Diversidades das Infâncias Brasileiras Nesta aula 6, o nosso desafio para você é que consiga compreender a importância do desenvolvimento infantil e como um desenvolvimento integral e harmônico pode contribuir para a quebra intergeracional da pobreza, entendendo os aspectos diversos das infâncias brasileiras. Importante também entender o papel das cuidadoras e dos cuidadores na promoção do desenvolvimento infantil e como as visitas domiciliares do PCF contribuem para o fortalecimento da Primeira Infância, oportunizando um futuro melhor para as crianças. 6.1. Importância do desenvolvimento infantil para a quebra intergeracional da pobreza Iniciando nossa conversa, convidamos você a refletir sobre o que é a pobreza em nosso país. Você acredita que seja possível promover esse percurso na vida da criança que está inserida nesse contexto social? Faça um exercício mental para pensar em estratégias de abordagens das famílias que fazem parte do PCF, buscando verificar como isso pode acontecer ao longo de sua abordagem nas visitas domiciliares. Você é criativo/a e temos certeza de que conseguirá pensar em várias estratégias. Para contribuir com sua reflexão e processo criativo, apresentaremos aqui um conceito de pobreza. Entretanto, é preciso ficar claro que esse é apenas um de muitos outros conceitos de pobreza construídos pela comunidade científica. “A pobreza é um processo complexo e está relacionado a algum tipo de privação constituída por elementos de ordem material, não material, cultural e social na vida de uma pessoa ou família.” (MOTTA; PARENTE, 2018) Outro questionamento que precisa vir seguido de uma reflexão: você acredita que a Primeira Infância constitui uma etapa fundamental para o desenvolvimento do ser humano? Bom, acreditamos que sim, pois se você não acreditasse, não faria este curso. 64 APrimeira Infância constitui uma etapa fundamental para o desenvolvimento das pessoas em todos os aspectos. Importante dizer que já é consenso entre os cientistas da área educacional, psicológica, antropológica, sociológica e da medicina que o desenvolvimento da criança precisa se dar de forma harmônica em todos os seus aspectos: físico, motor, social, cognitivo, afetivo e moral. Portanto, afirmam que o desenvolvimento se dá tanto em termos cognitivos como socioemocionais e físicos. Por isso, é indispensável e indiscutível a ideia de que precisamos investir no desenvolvimento infantil desde o início da vida e em políticas para a Primeira Infância. É possível encontrar uma multiplicidade de argumentos que apoiam essa afirmação. O principal é o direito de todas as crianças ao desenvolvimento pleno de seus potenciais, estabelecido pela Convenção dos Direitos da Criança e outros instrumentos internacionais. Por outro lado, as neurociências demonstraram que, nos primeiros anos de vida, o cérebro se desenvolve muito rapidamente e é particularmente sensível às manifestações de uma criação rica e estimulante (KAGAN, 2013). A capacidade de aprendizado dos seres humanos durante esses anos é maior e o conjunto de suas habilidades básicas apresenta uma grande plasticidade (BERNAL, 2013). O investimento em programas de qualidade para a primeira infância tem, dessa forma, uma alta taxa de retorno para toda a sociedade. Um terceiro argumento está relacionado à existência, na região, de um desequilíbrio etário do bem-estar ou situação de infantilização da pobreza (ROSSEL, 2013). Isso significa que as crianças estão sobrerrepresentadas na pobreza em comparação com outras faixas etárias. É necessário investir na Primeira Infância para superar essa situação de violação dos direitos das crianças e contribuir para quebrar o ciclo intergeracional da pobreza e garantir um desenvolvimento mais equitativo e sustentável. Em quarto lugar, o argumento demográfico em relação à importância de investir na Primeira Infância é particularmente importante. A América Latina está atravessando um processo de transição demográfica, com os países em diferentes fases: a porcentagem de pessoas com 60 anos ou mais triplicará até 2050 e aumentará o número de doentes crônicos, conforme dados do Centro Latino-Americano e Caribenho de Demografia (CELADE) da Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe (CEPAL). Por isso, é importante aproveitar a fase denominada “bônus demográfico” (quando as taxas de natalidade ainda estão altas e existe uma proporção baixa de adultos idosos) para fazer fortes investimentos na Primeira Infância. São eles que permitirão contar, no futuro, com uma população com maiores níveis de capital humano. Como argumento final, relacionado com o anterior, o investimento na Primeira Infância gera efeitos positivos em matéria de gênero, promovendo, também, a (re)inserção laboral das mulheres, que continuam a ser as principais 65 provedoras de cuidado. Os países que conseguiram solucionar de forma virtuosa o desafio da integração da mulher no mercado de trabalho o fizeram ao combinar a modificação da distribuição de tarefas do lar entre homens e mulheres, junto com uma forte coletivização do cuidado por meio dos serviços públicos do Estado e, em menor medida, do mercado (FILGUEIRA; AULICINO, 2015). No entanto, ainda restam desafios importantes pela frente para que essas iniciativas se transformem em melhorias concretas na situação dos bebês e das crianças, permitindo, assim, que todos usufruam do seu direito de desenvolvimento pleno de seus potenciais. Mais especificamente, merecem destaque aqueles desafios relacionados ao desenvolvimento relativo dos programas e serviços, à utilização de ferramentas de gestão, ao financiamento e à sustentabilidade e institucionalidade. Desse modo, a quebra intergeracional da pobreza busca oferecer condições, já na infância, para que as pessoas tenham a oportunidade de quebrar o ciclo de pobreza experienciado por suas famílias. No entanto, é preciso analisar e estudar os adultos para que se possa chegar a medidas que sejam eficazes no desenvolvimento infantil, fazendo com que essa quebra aconteça de fato. O acesso a condições básicas de saúde e saneamento, direito ao lazer e, principalmente, à educação são fatores de extrema importância para o desenvolvimento infantil que, por sua vez, será crucial para o desenvolvimento dessa criança, tornando-a um adulto com melhores condições para romper o ciclo de pobreza vivenciado. Sabemos também que romper com as condições de extrema pobreza é difícil e as políticas públicas e sociais precisam ter papel ativo para garantir o acesso das crianças a um desenvolvimento digno. Diante desse cenário, o Programa Criança Feliz, que busca garantir o desenvolvimento da criança, faz o acompanhamento da Primeira Infância desde a gestação até os seis anos, auxiliando os cuidadores em sua parentalidade. Sugerimos, para aprofundar seu conhecimento sobre a importância do desenvolvimento da criança para a vida, que você assista ao documentário “O começo da vida”. Pode acessá-lo pelo link: https://www.videocamp.com/pt/movies/o-comeco-da-vida ou https://ocomecodavida.com.br/filme-completo/ https://www.videocamp.com/pt/movies/o-comeco-da-vida https://ocomecodavida.com.br/filme-completo/ 66 6.2. Os aspectos diversos das infâncias brasileiras As sociedades ocidentais se estruturaram seguindo os moldes das sociedades gregas. Se hoje vivenciamos ideias e práticas de democracia, isso se deve ao imenso legado deixado pelos gregos. No entanto, é preciso compreender que a democracia experimentada na Grécia difere-se da democracia vivenciada nos tempos atuais. Também será diferente de país para país, embora se mantenha uma base filosófica e ideológica comum. Na Grécia, ao contrário do que vivemos hoje, nem todas as pessoas eram consideradas cidadãs e, por isso, havia grupos não autorizados a participarem das discussões e decisões acerca da vida pública. Nos debates sobre a pólis, ou seja, sobre a cidade e as dinâmicas impostas a ela, mulheres e crianças não podiam participar, visto que, para aquela sociedade, não eram consideradas como cidadãs. Portanto, desde a antiguidade, mulheres e crianças eram consideradas seres inferiores, que mereciam tratamento diferenciado. A ideia de cidadania é importante para pensarmos os aspectos diversos das infâncias brasileiras, pois é a partir dela que os sujeitos passam a existir e serem dotados de direitos que lhes serão garantidos pelo Estado, por meio de políticas que vão ao encontro de suas necessidades específicas. Se considerarmos a história do Brasil, apenas recentemente que muitos sujeitos foram considerados de fato como cidadãos, incluindo-se, nesse grupo, as crianças. Somente com a promulgação da Constituição de 1988 que as crianças passam a ter uma série de direitos garantidos por Lei, como, por exemplo, o direito à educação, à saúde, ao lazer e à segurança. A razão para não serem identificados como cidadãos e, por isso, não serem sujeitos de direitos, deve-se ao fato de que, historicamente, a criança era vista como uma espécie de instrumento de manipulação ideológica dos adultos. O sentimento de infância, a concepção de uma faixa etária diferenciada com interesses próprios, a preocupação com a educação, o comportamento com o meio social são questões vislumbradas somente na Idade Moderna. Apesar de reconhecermos esse grande avanço na Legislação Brasileira, é preciso considerarmos que, num país de proporções continentais, as crianças são diversas e as infâncias experimentadas por elas serão múltiplas. Como bem lembra Ariés (1978), a particularidade da infância não será reconhecida nem praticada para todas as crianças, pois algumas não vivem a infância devido às suas condições econômicas, sociais e culturais. Ou seja, as condições socioeconômicasdas crianças é um fator de grande influência sobre suas experiências durante a infância. Nessa disparidade de vivências da infância, encontramos crianças diante de sofisticados computadores e garotos descalços que puxam carrinhos de papel com a força de homens nas ruas sem calçamento, com os pés na lama, sob as marquises nos centros da cidade, nos faróis... São muitos, são diferentes, são crianças. São sujeitos de infâncias múltiplas, contextos que diferem práticas discursivas que se contrapõem. As marcas dos contextos sociais gritam suas 67 diferenças e imprimem novos contornos às infâncias na sociedade atual. Por isso, não podemos falar apenas em criança ou infância brasileira, e sim crianças e infâncias brasileiras, sempre no plural. Nesse sentido, uma diversidade de sujeitos crianças se apresentam para nós. Temos crianças em contextos urbanos, rurais, ribeirinhas, quilombolas, em situação de privação de liberdade, pois suas mães estão encarceradas, refugiadas, entre outras. Todas essas crianças possuem uma série de direitos já garantidos nas leis que conhecemos ao longo deste curso, mas esses direitos irão se efetivar na vida de cada uma delas de maneira diferenciada. Por exemplo, as crianças ribeirinhas têm direito à educação, mas, em alguns casos, será necessária uma política de acesso à escola diferenciada das relativas às crianças que estão em contextos urbanos Para as crianças negras, por exemplo, sabemos que, após a abolição da escravidão, as crianças das antigas senzalas continuaram a trabalhar nas fazendas de cana. E como herança desse período escravocrata, ainda hoje, temos crianças trabalhando no corte de cana e em outras atividades não condizentes com sua faixa etária, desprovidas das condições básicas de alimentação, moradia, saúde e educação. Para muitas crianças, forçadas a trabalhar desde muito cedo, sobra pouco tempo para as brincadeiras, um dos direitos garantidos a elas por Lei. Por isso, é fundamental pensar em políticas diferenciadas, que vão ao encontro dos direitos dessas crianças, garantindo que esses lhes sejam assegurados. [...] que todas as crianças possam ouvir histórias, andar na chuva e brincar de adivinhação. Porque simplesmente a infância é o tempo em que começamos a perceber o tamanho do mundo e descobrir quem somos. [...], “embora eu não seja rei, decreto, neste país, que toda, toda criança, tem direito a ser feliz!” (ROCHA, 2002, p. 55, apud DALMAGRO e MARQUES, 2013). 68 Portanto, para que as políticas intersetoriais da Primeira Infância possam se efetivar com êxito em um país tão grande como nosso, é preciso reconhecer e conhecer nossas diferentes infâncias, só assim saberemos como atender as especificidades de cada uma delas, garantindo-lhes, sobretudo, o direito à felicidade. Para complementar o estudo sobre as diversidades das infâncias, assista à live disponível no link abaixo: https://www.youtube.com/watch?v=0MKJjCjgqAg 6.3. O papel das cuidadoras e dos cuidadores na promoção do desenvolvimento infantil “A família é a principal fonte de estímulos ao desenvolvimento infantil, e ela deve compreender a importância dos cuidados biológicos e afetivos que são requeridos pela criança a fim de garantir o desenvolvimento de suas potencialidades de modo integral. Dessa forma, ressalta-se a importância de se conhecer o significado de cuidado atribuído por quem cuida da criança e com ela interage.” (OLIVEIRA, NASCIMENTO; MARCOLINO, 2012) A interação entre cuidador e criança é necessária para que haja os estímulos neurológicos e psicossociais fundamentais ao desenvolvimento integral. Entre as interações necessárias estão: Toque Conversa Escuta Olhar Brincadeira https://www.youtube.com/watch?v=0MKJjCjgqAg 69 Essas ações devem ser constantes para estreitar o vínculo entre cuidador e criança, promovendo não somente o desenvolvimento da criança como também o desenvolvimento do próprio cuidador, que poderá compreender melhor a criança e, assim, garantir um desenvolvimento saudável para além da primeira infância. É com o cuidador que a criança vai estabelecer seus primeiros vínculos de confiança que serão necessários para o sucesso das próximas etapas de sua vida. É importante que o cuidador desenvolva a capacidade de escutar as crianças e considerar que suas manifestações orais e/ou comportamentais são de extrema importância para a promoção do desenvolvimento nos primeiros anos de vida, bem como entender que a criança se comunica com os adultos e seus pares por meio dessas manifestações. Assim, o propósito de aprofundar vínculos se torna muito mais possível. “Um olhar de aprovação torna-se então fundamental para dar sustentação e demonstrar a confiança do adulto na criança” (BARBOSA, 2009, p. 100). Portanto, é ficando atento ao olhar, ao comportamento, ao movimento corporal e à voz das crianças que o adulto ou cuidador demonstra seu interesse pela singularidade de cada criança (BARBOSA, 2009). Ao defender que o adulto/cuidador precisa sempre estar atento, observando e exercitando a escuta da criança, Barbosa (2009) afirma: Exercitar e praticar a escuta das crianças é perseguir a compreensão de seus modos de sentir, pensar, fazer, perguntar, desejar, planejar. É também um modo de aproximar-se das tensões, das situações conflitantes, das cooperações, das interferências e das alegrias [...] (BARBOSA, 2093, p. 102). [...] Ao valorizar a observação e a escuta das crianças, estamos afirmando o reconhecimento delas como capazes de propor e criar. É a presença sutil do adulto implicado, comprometido com a escuta da criança e do grupo, e sensível aos momentos tensos de descobertas do outro (BARBOSA, 2009, p. 102). Diante de todas as perspectivas apresentadas nesta aula, fica evidente a importância de você, cursista, investir na formação permanente e continuada para que, em sua atuação no PCF, consiga promover o estabelecimento de vínculos afetivos dos membros da família com os bebês e as crianças para a promoção do desenvolvimento integral delas. Além disso, os conhecimentos construídos ao longo desses módulos cursados até o momento lhes possibilitarão uma intervenção mais consciente, conscienciosa e sensível durante as visitas e atendimentos às crianças participantes deste Programa. 70 Para complementar a formação deste módulo, sugerimos as seguintes leituras: Infância, Cultura Contemporânea e Educação Contra e Barbárie, de Sonia Kramer. Disponível em: https:// www.e-publicacoes.uerj.br/index.php/revistateias/article/ view/23857/16830 Poética da Infância, de Severino Antônio e Katia Tavares. Páginas 25 a 33. Disponível em: https://www.nepsid.com.br/_ files/ugd/27072f_6c92d7e7261f4d15afe44946143d05b8.pdf Dar voz às crianças: desafio e prioridade, de Adriana Friedmann. Disponível em: https://132914ad- cd03-9ef2-c1bf-9fb1457f44dd.filesusr.com/ ugd/27072f_9334f07fbcb6424590100e93b720d94e.pdf EM RESUMO Nesta unidade, aprendemos que a diversidade cultural é a convivência simultânea de várias etnias e culturas em um recorte territorial e social e que o Brasil é um país com vasta diversidade cultural em virtude da multiplicidade de povos que habitam o nosso território. Somos essencialmente diversos. Também foi possível conhecer diversos arranjos familiares e diferentes maneiras de exercer o cuidado com as crianças. Já vimos que os arranjos familiares e formas de cuidar da casa e dos filhos também são influenciados pela cultura e suas diversidades, assim como pela região onde residem as famílias e sua organização social. Embora, na construção e execução de políticas e programas sociais, especificamente em um programa que propõe influir no desenvolvimento infantil, temos que considerar a garantia de certos direitos sociais básicos, é necessário ter o cuidado para não julgarmos essas famílias e seu modo de viver. Podemos, inclusive, aprender com essas famílias para organizarmelhor as atividades que faremos com elas e usar seus costumes e tradições culturais para elaborar estratégias de atuação. Destacamos ainda a importância da criança vivenciar experiências boas e ter seus direitos garantidos para que seu desenvolvimento aconteça por completo e suas habilidades sejam potencializadas. Por isso, o papel dos cuidadores(as) e as políticas públicas para a Primeira Infância são primordiais para os próximos anos do desenvolvimento infantil, confirmando que a Primeira Infância constitui uma etapa fundamental na vida de cada criança, em todos os aspectos, contribuindo significativamente para a quebra intergeracional da pobreza, com a garantia de https://www.e-publicacoes.uerj.br/index.php/revistateias/article/view/23857/16830 https://www.e-publicacoes.uerj.br/index.php/revistateias/article/view/23857/16830 https://www.e-publicacoes.uerj.br/index.php/revistateias/article/view/23857/16830 https://www.nepsid.com.br/_files/ugd/27072f_6c92d7e7261f4d15afe44946143d05b8.pdf https://www.nepsid.com.br/_files/ugd/27072f_6c92d7e7261f4d15afe44946143d05b8.pdf https://132914ad-cd03-9ef2-c1bf-9fb1457f44dd.filesusr.com/ugd/27072f_9334f07fbcb6424590100e93b720d94e.pdf https://132914ad-cd03-9ef2-c1bf-9fb1457f44dd.filesusr.com/ugd/27072f_9334f07fbcb6424590100e93b720d94e.pdf https://132914ad-cd03-9ef2-c1bf-9fb1457f44dd.filesusr.com/ugd/27072f_9334f07fbcb6424590100e93b720d94e.pdf 71 oportunidades iguais e investimentos em programas como o PCF para que a criança de hoje torne-se um adulto com melhores condições de romper com a pobreza. Entender a importância da criança, suas necessidades, seu comportamento, seu meio social, sua cultura e outras especificidades, é reconhecer as múltiplas infâncias existentes tanto na área urbana quanto na área rural, atendendo, dessa maneira, as particularidades de cada uma. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS Referência Básica: CAVALCANTI, Camila Dias. Roteiro do curso: As diversidades das infâncias e famílias brasileiras e o PCF. Ministério da Cidadania. Secretaria Especial do Desenvolvimento Social. s/d. p. 80. Disponível em: https://drive.google.com/ drive/folders/1U5GK22yjvw1iwd4Kq2Eq5K4k3253H4zw Referências Complementares: WAGNER, Adriana.; LEVANDWSKI, Daniela Centenaro. Sentir-se bem em família: um desafio frente à diversidade. Revista Textos e Contextos, Porto Alegre, V. 7, N.1, Jan/jun, p. 88-97, 2008. Disponível em: https://revistaseletronicas.pucrs. br/ojs/index.php/fass/article/view/3940 TEODORO, Luiz Claudio. A importância da educação na construção da cidadania: uma análise do Programa Bolsa Família. Revista Acervo Educacional (online), v. 2, p. e4086, 8 out. 2020. Disponível em: https://acervomais.com.br/index.php/ educacional/article/view/4086/2930 MOTTA, Astrid. PARENTE, Cristina. Reprodução intergeracional da pobreza: o caso do complexo de favelas do São João - Rio de Janeiro – Brasil. Investigação Qualitativa em Ciências Sociais//Investigación Cualitativa en Ciencias Sociales//Volume 3, 2018. Disponível em: https://proceedings.ciaiq.org/index. php/ciaiq2018/article/view/1751/1705 SANTOS, Rosangela. SILVA, Simone Maria. UMA PROPOSTA: quebrar o ciclo de pobreza através da condicionalidade da educação do Programa Bolsa Família. IV Jornada Internacional de Políticas Públicas. Universidade Federal do Maranhão, 25 a 28 de 2015. São Luiz - Maranhão. Disponível em: http://www. joinpp.ufma.br/jornadas/joinpp2015/pdfs/eixo13/uma-proposta-quebrar-o- ciclo-de-pobreza-atraves-da-condicionalidade-da-educacao-do-programa-bolsa- familia.pdf https://drive.google.com/drive/folders/1U5GK22yjvw1iwd4Kq2Eq5K4k3253H4zw https://drive.google.com/drive/folders/1U5GK22yjvw1iwd4Kq2Eq5K4k3253H4zw https://revistaseletronicas.pucrs.br/ojs/index.php/fass/article/view/3940 https://revistaseletronicas.pucrs.br/ojs/index.php/fass/article/view/3940 https://acervomais.com.br/index.php/educacional/article/view/4086/2930 https://acervomais.com.br/index.php/educacional/article/view/4086/2930 https://proceedings.ciaiq.org/index.php/ciaiq2018/article/view/1751/1705 https://proceedings.ciaiq.org/index.php/ciaiq2018/article/view/1751/1705 http://www.joinpp.ufma.br/jornadas/joinpp2015/pdfs/eixo13/uma-proposta-quebrar-o-ciclo-de-pobreza-atraves-da-condicionalidade-da-educacao-do-programa-bolsa-familia.pdf http://www.joinpp.ufma.br/jornadas/joinpp2015/pdfs/eixo13/uma-proposta-quebrar-o-ciclo-de-pobreza-atraves-da-condicionalidade-da-educacao-do-programa-bolsa-familia.pdf http://www.joinpp.ufma.br/jornadas/joinpp2015/pdfs/eixo13/uma-proposta-quebrar-o-ciclo-de-pobreza-atraves-da-condicionalidade-da-educacao-do-programa-bolsa-familia.pdf http://www.joinpp.ufma.br/jornadas/joinpp2015/pdfs/eixo13/uma-proposta-quebrar-o-ciclo-de-pobreza-atraves-da-condicionalidade-da-educacao-do-programa-bolsa-familia.pdf 72 OLIVEIRA, Dayana. NASCIMENTO, Débora. MARCOLINO, Fernanda. Percepção de cuidadores familiares e profissionais da estratégia saúde da família em relação ao cuidado e desenvolvimento neuropsicomotor da criança. Rev. bras. crescimento desenvolv. hum. vol.22 no.2 São Paulo, 2012. AMAZONAS, Maria Cristina Lopes de Almeida et al. Arranjos familiares de crianças das camadas populares. Psicologia em estudo, v. 8, p. 11-20, 2003.Disponível em: https://www.scielo.br/j/pe/a/ Hbwz3Q5XJLVQrwRhs4H3hnk/?format=pdf&lang=pt FACO, Vanessa Marques Gibran; MELCHIORI, Lídia Ebner. Conceito de família: adolescentes de zonas rural e urbana. 2005. Editora Unesp, 2018. Disponível em: https://books.scielo.org/id/krj5p/pdf/valle-9788598605999-07.pdf BANACO, Roberto Alves et al. O que é família para você? Opinião de crianças sobre o conceito de família. Avances en Psicología Latinoamericana, v. 38, n. 2, p. 38-52, 2020. Disponível em: http://www.scielo.org.co/pdf/apl/v38n2/2145- 4515-apl-38-02-38.pdf DALMAGRO, Neli Burtet; MARQUES, Sonia Maria dos Santos. As Diferentes Infâncias no Brasil numa Perspectiva Histórica: suas trajetórias, culturas e identidades. In: PARANÁ. Secretaria de Estado da Educação. Cadernos PDE. Os Desafios da Escola Pública Paranaense na Perspectiva do Professor PDE. Volume 1, 2013, Versao online, ISBN 978-85-8015-076-6. Disponível em: http:// www.diaadiaeducacao.pr.gov.br/portals/cadernospde/pdebusca/producoes_ pde/2013/2013_unioeste_ped_artigo_neli_burtet_dalmagro.pdf BARBOSA, Maria Carmen Silveira et al. Projeto de cooperação técnica MEC e UFRGS para construção de orientações curriculares para a Educação Infantil. Práticas cotidianas na educação infantil–bases para a reflexão sobre as orientações curriculares. In: MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO, Secretaria de Educação Básica. Brasília, 2009. Disponível em: http://portal.mec.gov.br/ dmdocuments/relat_seb_praticas_cotidianas.pdf NEVES, Naise Valéria Guimarães. Instituição de educação infantil e família: limites e possibilidades de um projeto participativo. Dissertação (Mestrado em Economia Doméstica) – Universidade Federal de Viçosa, Viçosa. 2004. https://www.scielo.br/j/pe/a/Hbwz3Q5XJLVQrwRhs4H3hnk/?format=pdf&lang=pt https://www.scielo.br/j/pe/a/Hbwz3Q5XJLVQrwRhs4H3hnk/?format=pdf&lang=pt https://books.scielo.org/id/krj5p/pdf/valle-9788598605999-07.pdf http://www.scielo.org.co/pdf/apl/v38n2/2145-4515-apl-38-02-38.pdf http://www.scielo.org.co/pdf/apl/v38n2/2145-4515-apl-38-02-38.pdf http://www.diaadiaeducacao.pr.gov.br/portals/cadernospde/pdebusca/producoes_pde/2013/2013_unioeste_ped_artigo_neli_burtet_dalmagro.pdf http://www.diaadiaeducacao.pr.gov.br/portals/cadernospde/pdebusca/producoes_pde/2013/2013_unioeste_ped_artigo_neli_burtet_dalmagro.pdf http://www.diaadiaeducacao.pr.gov.br/portals/cadernospde/pdebusca/producoes_pde/2013/2013_unioeste_ped_artigo_neli_burtet_dalmagro.pdf http://portal.mec.gov.br/dmdocuments/relat_seb_praticas_cotidianas.pdf http://portal.mec.gov.br/dmdocuments/relat_seb_praticas_cotidianas.pdf 73 Apresentação e Guia de Estudos da Unidade VII Olá cursista, bem-vindo ao nosso Módulo IV! Neste quarto módulo, vamos refletir sobre a importânciade ações intersetoriais para a Primeira Infância. Durante o módulo, iremos conhecer o que são ações intersetoriais; as ações intersetoriais para a Primeira Infância; o papel das políticas sociais para garantir a intersetorialidade na promoção do desenvolvimento infantil; como envolver diversos atores para garantir a intersetorialidade das políticas sociais voltadas à primeira infância; e a intersetorialidade dentro do Programa Criança Feliz. O principal objetivo, nesta unidade, é conhecer quais as ações de articulação são necessárias para a efetividade do PCF e do desenvolvimento infantil e como o programa pode integrar as ações intersetoriais para garantir a efetividade dos direitos das crianças atendidas e suas famílias. Para subsidiar o aprofundamento sobre os conhecimentos da intersetorialidade na primeira infância, siga a seguinte ordem de estudos: 1. Leia, na apostila, a Aula 7; 2. Assista à aula narrada 7; 3. Faça os exercícios de fixação da Aula 7; 4. Ouça o podcast sobre ações conjuntas e intersetoriais para a promoção do desenvolvimento infantil; 5. Assista aos vídeos sugeridos; 6. Crie o plano de ação sugerido no final da apostila; Bons estudos! 74 Aula Narrada 7: Ações de Articulação para a Efetividade do PCF e do Desenvolvimento Infantil1 7.1. O papel das políticas sociais para garantir a intersetorialidade na promoção do desenvolvimento infantil “É preciso uma aldeia inteira para educar uma criança.” Provérbio Africano Esse provérbio africano é uma boa maneira de começarmos nossas reflexões acerca da intersetorialidade na primeira infância. É comum observarmos em comunidades tradicionais, sobretudo as comunidades africanas e indígenas, um cuidado diferenciado com as crianças. A forma particular de perceber o mundo dessas comunidades, diferentemente de nossa sociedade, prima por entender que as crianças já fazem parte daquele grupo de pessoas e seu valor não está dado no que virão a ser, mas no que já são. E o que elas são? CRIANÇAS! São sujeitos carregados de saberes, com inúmeras potencialidades, mas que, nesta etapa da vida, precisam de cuidados especiais, para que, ao longo do seu desenvolvimento, todas as suas potências possam ser descobertas, desenvolvidas e experimentadas, não apenas em proveito individual, mas sobretudo em prol de toda a comunidade. Tais grupos entendem que sua dedicação aos cuidados com as crianças cumpriu, com excelência, a sua missão quando esses sujeitos, agora inseridos em outras dinâmicas daquela sociedade, utilizam seus saberes e todos os aprendizados construídos ao longo do seu desenvolvimento para beneficiar a coletividade. Nesse cuidado especial dispensado às crianças, compreende-se, nessas sociedades, que apenas o núcleo familiar mais próximo daquele sujeito não é suficiente para prover tudo o que aquela criança necessita, por isso “é preciso uma aldeia inteira”. 1 Esta apostila foi baseada no produto produzido por CAVALCANTI, Camila Dias. Roteiro do cur- so: As diversidades das infâncias e famílias brasileiras e o PCF. Ministério da Cidadania. Secretaria Especial do Desenvolvimento Social. s/d. p. 80. Disponível em: https://drive.google.com/drive/ folders/1U5GK22yjvw1iwd4Kq2Eq5K4k3253H4zw https://drive.google.com/drive/folders/1U5GK22yjvw1iwd4Kq2Eq5K4k3253H4zw https://drive.google.com/drive/folders/1U5GK22yjvw1iwd4Kq2Eq5K4k3253H4zw 75 Essa rede de proteção e cuidado com as crianças não está dada apenas em comunidades tradicionais, como as já citadas aqui. Se observarmos mais atentamente a nossa sociedade, reconheceremos uma grande aldeia cuidando de nossas crianças. A essa “grande aldeia”, manifestada em diversos órgãos governamentais e percebida nos cuidados expressados por eles em nossos cotidianos, podemos chamar de intersetorialidade. Em sociedades capitalistas e democráticas como a que vivemos, nossa vida social se organiza em torno do Estado. É ele quem garantirá as estruturas básicas para sobrevivência e reprodução dos indivíduos. Sabemos que, a partir das diferentes correntes econômicas, políticas e sociais, a presença deste Estado na vida dos sujeitos pode ser mais forte ou mais fraca. Em países tão desiguais como o Brasil, faz-se necessária a presença de um Estado mais forte, para que direitos básicos como alimentação, moradia, saúde e educação sejam, minimamente, garantidos à toda a população. Assim, o Estado se configura nessa grande aldeia, para além dos cuidadores mais próximos às crianças, que, junto a estes, irá educá-las, ou seja, garantirá que elas se desenvolvam integralmente. Essa rede de apoio e proteção de nossas crianças se materializa no nosso dia-a-dia por meio da intersetorialidade. A articulação de políticas públicas e sociais não é algo novo, porém garantir a intersetorialidade das políticas e programas ainda se constitui em um dos principais desafios da gestão pública. Diante desse fato, faz-se necessário compreender a importância do Comitê Gestor nas esferas federal, distrital, estadual e municipal, considerando as ações que fazem parte das atribuições desse comitê, como já descrito no módulo 1. Esse comitê tem a responsabilidade de efetivar a intersetorialidade, assessorando no planejamento, na articulação e na execução das ações setoriais, visando ao atendimento do público-alvo do programa por meio da participação dos ministérios da Cidadania, da Educação, da Justiça e Segurança Pública, da Saúde, da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos e do Turismo. · Segundo Nascimento, 2010, a intersetorialidade das políticas públicas passou a ser uma dimensão valorizada à medida que não se observava a eficiência, a efetividade e a eficácia esperadas na implementação das políticas setoriais, primordialmente no que se refere ao atendimento das demandas da população e aos recursos disponibilizados para a execução das mesmas (NASCIMENTO, 2010, P. 95). 76 7.2. As ações intersetoriais para a Primeira Infância Reunir diferentes saberes e práticas, definir ações orçamentárias, recursos físicos, humanos, interesses e responsabilidades faz da intersetorialidade algo complexo, mas, também, bastante importante e agregador, uma vez que articula saberes técnicos diferenciados em torno de objetivos comuns. Portanto, no Brasil, a intersetorialidade é estruturante na gestão das políticas sociais, sendo que o termo ganhou destaque na resolução de problemas ligados à pobreza, à proteção social e ao acesso a direitos sociais. Isso reforçou a importância das ações intersetoriais na pauta daqueles que atuam nos programas sociais e vem exigindo esforços conjuntos em diversas áreas. No entanto, é preciso destacar que a intersetorialidade se refere não apenas ao diálogo entre as diversas áreas do conhecimento, mas, sobretudo, à operacionalização das ações de maneira conjunta e integrada. É essa intersetorialidade que observamos no PCF. A intersetorialidade vem como contraponto à setorialidade, que pode caracterizar as políticas públicas e sociais. Nesse cenário, a gestão das políticas passa também pelo controle social, onde atores da sociedade civil participam do processo de tomada de decisão, do monitoramento e avaliação das políticas. Tal dinâmica torna-se fundamental também para a criação de uma cultura de participação política em nossa sociedade, uma vez que, para a maior parte dos brasileiros, a política se restringe apenas aos períodos eleitorais. Assim, quando a prática intersetorial para execução de políticas públicas e sociais envolve atores da sociedade civil, não apenas a garantia dessa política está assegurada, mas também a cultura de participação política de diferentes sujeitos vai se consolidando. Para além disso, a intersetorialidade tem conferido maior transparência e legitimidade para as ações estatais. Ela também possibilita a convergência das estratégias e planos de governo para o atendimento das necessidades sociais. Embora contenha certa complexidade,a intersetorialidade está mais perto de nossa realidade do que, às vezes, imaginamos. 77 Vejamos um exemplo bem atual: Com a pandemia da COVID-19 que assola o mundo, fez- se necessário o desenvolvimento de tecnologias que acelerassem o processo de identificação da contaminação, bem como formas de proteção. O desenvolvimento da vacina para a COVID-19 possibilitou uma mudança no cenário epidemiológico mundial, o que pode ser comprovado a partir das inúmeras pesquisas realizadas e divulgadas cotidianamente. No entanto, para que a vacinação chegue à população, uma série de ações envolvendo diferentes setores governamentais é necessária. Não apenas o campo da saúde é acionado, mas são necessárias diversas articulações entre diferentes setores, tais como setores logísticos e de distribuição, tecnológicos para registro da vacinação na população, educacionais para conscientização da população etc. Esse é apenas um exemplo de como observamos na prática a ação da intersetorialidade no nosso dia-a-dia. Um outro exemplo da ação da intersetorialidade no nosso cotidiano, pensando nas políticas voltadas para as crianças, é o Programa Nacional de Alimentação Escolar. Com a Lei Nº 11.947, de 16 de junho de 2009, vemos uma política pública que articula agricultura familiar e educação, visto que a referida lei determina que, no mínimo, 30% do valor repassado a estados, municípios e Distrito Federal pelo Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE) para o Programa Nacional de Alimentação Escolar (PNAE) deve ser utilizado na compra de gêneros alimentícios diretamente da agricultura familiar e do empreendedor familiar rural ou de suas organizações, priorizando-se os assentamentos da reforma agrária, as comunidades tradicionais indígenas e as comunidades quilombolas. Assim, o PNAE é um programa que operacionaliza uma Lei de maneira intersetorial, ou seja, envolve vários setores governamentais no âmbito local, estadual e nacional, assegurando o direito das crianças a uma alimentação saudável no ambiente escolar, bem como gera renda para agricultoras e agricultores familiares da região. Para que a intersetorialidade não se transforme em um dilema e algo de difícil resolução, os gestores públicos precisam planejar as ações, dialogar com parceiros públicos e privados, com a sociedade civil e com a população em geral. Também é necessário que as políticas sejam pensadas de maneira horizontal e não verticalmente, ou seja, que as políticas estejam em consonância com o contexto social e os sujeitos para a qual elas se destinam. 78 Nessa perspectiva, os profissionais que atuam na execução de políticas e programas sociais têm muito a contribuir, pois são eles que conhecem a realidade das famílias e de seus territórios. É na prática protagonizada por esses profissionais que os saberes e planos elaborados são testados, avaliados e modificados. As articulações realizadas também dependem do compromisso que cada ente incorpora na execução das políticas e programas, consolidando o trabalho em rede. 7.3. Envolvimento dos diversos atores para garantir a intersetorialidade das políticas sociais voltadas à Primeira Infância e a intersetorialidade dentro do Programa Criança Feliz O Programa Criança Feliz deve ser entendido como uma política pública de caráter social voltada para a promoção do desenvolvimento infantil, mas que não atua isoladamente e necessita de outras políticas públicas e sociais para efetivação desses direitos. Portanto, o PCF tem em sua gênese a intersetorialidade, ou seja, ele já nasce intersetorial. O Comitê Gestor do PCF é uma expressão dessa intersetorialidade na prática. Ele é composto por representantes dos seguintes Ministérios: Ministério da Cidadania (coordenador do PCF e do Comitê Gestor); Ministério da Justiça e Segurança Pública; Ministério da Educação; Ministério da Saúde; Ministério do Turismo; Ministério da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos . Em âmbito local, a intersetorialidade do PCF irá se materializar na ação dos visitadores e supervisores do Programa em articulação com os setores da Educação, Saúde, Assistência Social, Justiça e Segurança Pública e Cultura, objetivando garantir e promover o atendimento às crianças, gestantes e suas famílias no que se refere às necessidades de cada uma delas. Por exemplo, se nas visitas domiciliares for identificada uma necessidade relacionada à saúde da criança ou gestante, cabe ao visitador reportar a situação ao supervisor, para que possam articular ações junto ao setor de saúde, a fim de sanar tais necessidades. Se há uma demanda relacionada à educação, a articulação intersetorial será feita com a Educação. Portanto, a proximidade entre os profissionais do PCF e o público atendido garante a prática intersetorial não apenas em relação aos debates, mas, especialmente, na execução de ações. Sendo assim, os profissionais que atuam no PCF, em especial o visitador e o supervisor, são fundamentais para efetivar a articulação com os setores da educação, da saúde, da assistência, da justiça e da cultura para promover o atendimento às demandas das crianças, das gestantes e suas respectivas famílias. 79 Como podemos ver, a intersetorialidade é o modus operandi do PCF. Só há uma maneira de cumprir o que o Programa se propõe, que é por meio de ações coordenadas que envolvam vários profissionais, de campos de saberes distintos, alocados em diferentes setores. CRIANÇAS INTERSETORIALIDADE EDUCAÇÃO SAÚDE CULTURA ASSISTÊNCIA SOCIAL DIREITOS HUMANOS DIREITOS DAS CRIANÇAS E DOS ADOLESCENTES TERRITÓRIO COMUNIDADE PARCEIROS DA COMUNIDADE É importante lembrarmos que, além das visitas domiciliares, o PCF tem como objetivo promover ações intersetoriais que contribuam para minimizar a situação de vulnerabilidade em que muitas vezes as famílias se encontram. Objetiva também, principalmente, a promoção do desenvolvimento das crianças atendidas, acreditando no cuidado e na proteção para uma melhor integração delas na sociedade. O Programa Criança Feliz também busca fortalecer vínculos entre cuidadores e crianças, pensando em ações que possam propiciar melhores condições de vida para essas crianças e suas famílias. Visitas domiciliares vulnerabilidade das famílias fortalecimentos de vínculos Promoção do desenvolvimento integral das crianças 80 Por isso é tão importante conhecer as políticas sociais e entender que todas elas estão articuladas para garantia de direitos sociais, seja assistência social, saúde, educação, meio ambiente etc. Ou seja, é preciso promover um trabalho em rede entre os atores e setores que estão diretamente ligados a essas áreas. Para saber mais e aprofundar seus estudos sobre as visitas domiciliares, sugerimos a leitura da Portaria 664/2021 (link disponível no módulo 1) e do “Manual Guia para Visita Domiciliar”, disponível no link abaixo: http://www.mds.gov.br/webarquivos/publicacao/ crianca_feliz/02_Guia_Visita_Domiciliar_Manual.pdf Trabalho em rede é outro tema recorrente no cotidiano de quem atua em programas sociais. Com certeza, na execução do Programa Criança Feliz esse tema já foi utilizado e usado para articulação de alguma política. Trabalhar em rede nada mais é que colocar a intersetorialidade em prática. A atuação em rede pode demandar articulação com outros entes da sociedade civil, como movimentos sociais, ONG’S, associações comunitárias e conselhos de direitos. Também é possível compartilhar algumas soluções para garantias de direitos com entes da sociedade civil. Via de regra, essa parceria é imprescindível para a garantia de direitos básicos e sociais. Movimentos sociais Associações comunitárias Conselhos de direitos ONGs Trabalho em rede Contudo, não podemos confundir a responsabilização do Estado em prover algumas necessidades básicas, principalmente para grupos considerados vulneráveis. É importante ter isso em mente, considerando que a promoçãoda Primeira Infância, embora seja responsabilidade de toda sociedade, tem na intervenção estatal prioridades básicas. http://www.mds.gov.br/webarquivos/publicacao/crianca_feliz/02_Guia_Visita_Domiciliar_Manual.pdf http://www.mds.gov.br/webarquivos/publicacao/crianca_feliz/02_Guia_Visita_Domiciliar_Manual.pdf 81 Para entender um pouco mais sobre as Políticas Sociais em Rede, assistam ao seguinte vídeo: https://www.youtube.com/watch?v=Wu92UGd8AJo Podemos dizer que a intersetorialidade se manifesta em nosso cotidiano quando colocamos em prática o trabalho em rede, ou seja, quando acionamos todas as organizações e órgãos que poderão colaborar com a efetivação de nossas ações. Em se tratando do PCF, esses órgãos já foram indicados na própria normativa que estabelece o programa, contudo outros parceiros poderão ser acionados e tal necessidade será identificada e atendida, considerando as diferentes necessidades locais e regionais. A própria comunidade que recebe o PCF pode, e deve, tornar-se um parceiro dessa nossa rede. Envolvê-los desde o início em nosso plano de ação, possibilita maior empoderamento comunitário e engajamento com as ações do programa. As equipes técnicas deverão ter capacidade de analisar o plano de ação construído de maneira coletiva, democrática e intersetorial, traçando, dessa maneira, as estratégias para cumpri-lo. Por isso, a educação permanente desses sujeitos se faz tão necessária. Uma das atividades da gestão do Programa Criança Feliz, antes mesmo de sua execução, é a elaboração de um plano de ação. Esse projeto deve contemplar ações intersetoriais da Primeira infância, bem como envolver diferentes áreas das políticas sociais, como já pontuamos no decorrer do curso. Ao longo da execução do programa, as equipes técnicas podem contribuir para aperfeiçoar o plano de ação, sugerindo novas atividades, inserindo novos fatores para melhoria das condições de vida das famílias atendidas. Por isso, sempre ressaltamos que os profissionais envolvidos no PCF são capazes e responsáveis pela elaboração dos planos, ações e atividades que irão executar junto às famílias. Agora, vamos começar a colocar nossos conhecimentos sobre intersetorialidade e sua importância no PCF em prática. https://www.youtube.com/watch?v=Wu92UGd8AJo 82 Nessa atividade, a proposta é pensar e esboçar um plano de ação para execução do PCF no seu município. Mesmo que você não atue diretamente no programa, acreditamos que, com o que foi apreendido até o momento no curso, você é capaz de refletir sobre ações que fazem parte da promoção do desenvolvimento infantil, que atuam no fortalecimento de vínculos e na articulação de políticas públicas e sociais. A ideia aqui é elaborar um plano de ação que contempla a participação de diferentes órgãos e atores sociais em sua execução. Para elaborar o plano, um breve diagnóstico social será fundamental. Você sabe o que é um Plano de Ação? Plano de Ação é uma ferramenta que nos auxilia no planejamento e acompanhamento de nossas ações. Ele serve para monitorar se os objetivos e resultados esperados estão sendo alcançados e, em caso negativo, ajuda-nos a replanejar nossas estratégias e atividades. Para fazer um plano de ação, podemos seguir alguns passos: 1. Diagnóstico do contexto; 2. Planejamento das ações; 3. Desenvolvimento e monitoramento das atividades; 4. Avaliação dos resultados alcançados. Não há uma maneira única de fazer um Plano de Ação, ou seja, você pode fazer em uma planilha de excel, tabela do word, aplicativos ou até mesmo no seu caderno de campo. Independentemente da forma, alguns itens devem ser contemplados em seu Plano de Ação: Objetivo das ações; Atividades a serem executadas; Datas de início e término para cada atividade; Recursos necessários; Responsável pela execução da atividade. Ao final desta apostila, você encontrará algumas sugestões de Plano de Ação. Use a que mais se adequar a sua realidade! Mas, também, seja criativo! Construa seu próprio Plano de Ação! 83 Para isso: pense nas especificidades do território que habita; nos principais problemas e dificuldades que as famílias atendidas vivenciam. Como vimos, as questões que contribuem para a vulnerabilidade social, que os sujeitos, em especial as crianças, encontram-se, são diversas. Por isso, nessa etapa de diagnóstico, é preciso ter cuidado para não levantar situações que estão para além da gerência do PCF. Ou seja, é necessário sermos bem objetivos. As perguntas a seguir poderão orientá-los na focalização das questões a serem contempladas em seu plano de ação: Quais os problemas relativos à promoção da Primeira Infância você identifica em seu campo de atuação? Tente listar no mínimo 3 e, no máximo, 5. É possível que outros problemas façam parte do seu contexto, mas começar pelos mais estratégicos poderá auxiliar na execução do seu plano de ação de maneira integral. Pense que alguns problemas já são solucionados quando outro é resolvido primeiro. Por exemplo, a precariedade da alimentação das crianças pode ser um problema em seu território, mas ela pode ser resolvida não apenas distribuindo alimentos de qualidade para as crianças e suas famílias, mas também estimulando o aumento ou a geração de renda de suas cuidadoras(es) e/ou incentivando a produção de alimentos nos quintais, quando possível, ou a construção de uma horta comunitária. Quais poderiam ser as ações para seu enfrentamento? Tente identificar também: as possibilidades que o território possui; redes de proteção existentes; movimentos sociais que atuam no local; políticas e programas sociais que já estejam no território. 84 Respondida a essas duas questões, o próximo passo é: delimitar as ações para os órgãos que identificamos como necessários à promoção do desenvolvimento infantil. Retomemos o exemplo anterior que se refere à qualidade da alimentação das crianças: As casas das famílias atendidas possuem quintais que permitem o plantio de alguns alimentos? Se não, há algum terreno na comunidade que pode ser cedido para a implementação de uma horta comunitária? Das organizações existentes na comunidade, há alguma com maior potencial em aderir à proposta, como, por exemplo, entidades religiosas etc? Em meu município, há alguma universidade que possui algum projeto de extensão sobre hortas comunitárias? Se sim, é possível envolvê-la no nosso plano de ação? Há pessoas aposentadas na comunidade que dominam saberes agrícolas que poderiam se interessar pela proposta? Como envolver as crianças no cuidado com esses alimentos, desde o plantio até a colheita? Tais reflexões ao longo da construção do nosso plano de ação implicarão em colocar a intersetorialidade em prática, ou seja, designar como será a gestão, o monitoramento, o controle e a avaliação dessas ações! 7.4. Contribuição do PCF para o fortalecimento da Primeira Infância Como vimos, o PCF, ao acionar uma série de órgãos governamentais em prol da Primeira Infância, movimenta diferentes atores sociais, levando-os a refletirem sobre as questões que atravessam o desenvolvimento infantil das nossas crianças. Representa, dessa maneira, o esforço do Programa Criança Feliz e do Ministério da Cidadania para consolidar a Primeira Infância como prioridade absoluta. Contudo, a contribuição do PCF pode ir além da operacionalização de políticas públicas e sociais, implementando ações qualificadas e coerentes referentes a aspectos do desenvolvimento da criança, bem como às linguagens que elas utilizam para apreender o mundo. 85 Desenvolver políticas e ações intersetoriais para a Primeira Infância parte do princípio de que a criança é um ser integral e integrado. A intersetorialidade é necessária porque parte do entendimento de que a criança que acessa o serviço de saúde é a mesma que acessa a creche ou pré-escola da comunidade, o campo de esportes, o serviço social e os demais equipamentos disponíveisno território. Portanto, compreender essa criança como um ser integral e integrado favorece a garantia dos direitos fundamentais, sendo essencial que a abordagem da primeira infância envolva políticas sociais que dialoguem entre si, com ações coordenadas e integradas entre diferentes profissionais e setores convivendo com a visão do todo. Assim, o atendimento nas diversas áreas de políticas setoriais deve trabalhar alinhadas e de forma complementar (GUIA PARA ORIENTAR AÇÕES INTERSETORIAIS NA PRIMEIRA INFÂNCIA, p. 28). Muitas vezes, por desconhecimento, inclinamo-nos a considerar apenas o aspecto cognitivo e motor quando se trata de desenvolvimento infantil. Todavia, documentos legais reconhecem que as crianças precisam desenvolver-se integralmente “em seus aspectos físico, afetivo, intelectual, linguístico e social”. Sendo assim, é preciso compreender que aspectos afetivos, sociais, morais e a linguagem, assim como os aspectos cognitivo, físico e motor são importantes fatores que influenciam e desencadeiam o desenvolvimento e a aprendizagem das crianças, por isso é necessário conhecê-los e estar atento à implicação de cada um na Primeira Infância. Entender como os sujeitos se desenvolvem, sobretudo as crianças, é um importante conhecimento para os profissionais que atuam diretamente com elas. Também se faz necessário respeitar as formas de comunicação e interação das crianças com o mundo. Diferente dos adultos, que muitas vezes usam apenas a linguagem verbal como forma de se expressarem e interagirem com o mundo ao redor, as crianças se expressam de diferentes maneiras. 86 Linguagens é o nome que damos a essas diferentes manifestações interativas e comunicativas das crianças: corporal, gestual, verbal, cênica, plástica, dramática, circense, musical, audiovisual, entre outras. E é por meio da ludicidade e da brincadeira que poderemos possibilitar a manifestação dessas diferentes linguagens de maneira integral nas crianças. OBS: Iremos aprofundar nessa temática da ludicidade e brincadeira em nosso último módulo. As linguagens das crianças merecem ser valorizadas em sua diversidade, estimulando- se a criatividade, a expressão, a opinião, as interações, as brincadeiras e a imersão em diferentes manifestações artísticas, favorecendo o progressivo domínio de várias formas de expressão: corporal, gestual, verbal, cênica, plástica, dramática, circense, musical, audiovisual, entre outras. (GUIA PARA ORIENTAR AÇÕES INTERSETORIAIS NA PRIMEIRA INFANCIA, p. 14) 87 O PCF irá se apoiar no lúdico e na brincadeira cotidiana da criança, compreendendo o lugar desses elementos no desenvolvimento e na aprendizagem da criança para atingir seus objetivos propostos. Optar pela ludicidade e brincadeira demonstra o diferencial dessa política, coerente e coesa com o desenvolvimento infantil e que de fato preocupa-se com o bem- estar das crianças e suas famílias. O interesse da criança por formas, sons, gestos, afazeres, cores, sabores, texturas, assim como suas perguntas sem fim, sua vontade de tudo agarrar e examinar, e seu amor às miniaturas que comportam o grande em menor tamanho, pode ser traduzido por um desejo de se intimar com a vida. Esse desejo embrenha a criança nas coisas existentes. É um intimar para a conhecer, pertencer, fazer parte, estar junto daquilo que a constitui como pessoa (PIORSKI, 2016, p. 63) Buscando inspiração nessa citação, convidamos você a se aprofundar numa reflexão sobre quais as possibilidades e estratégias que o PCF, por meio das visitas domiciliares, pode criar e desenvolver para fortalecer na criança esse desejo de se intimar, conhecer o mundo e viver nesse mundo enquanto uma pessoa que tem direito de se expressar por meio de várias linguagens e de ser ouvida e respeitada em sua essência e em suas potencialidades. Para contribuir com esse processo reflexivo, no próximo módulo, conheceremos algumas características do desenvolvimento das crianças de 0 a 6 anos e veremos de maneira mais aprofundada como esses elementos devem se fazer presentes na execução dessa política, reiterando a valorização do brincar na constituição do ser criança e, consequentemente, do ser humano. Vemo-nos lá, até breve! EM RESUMO Para finalizar nossos estudos sobre intersetorialidade, voltemos ao início. Retomemos o provérbio que abre nosso módulo e acolhe nossas reflexões: “É PRECISO UMA ALDEIA PARA EDUCAR UMA CRIANÇA!” Traga à memória as redes de apoio e cuidado que fizeram parte de sua infância e adolescência. Essas redes de apoio existem até hoje e se fazem presentes na trajetória de outras crianças? Se sim, quais são elas? Há atores governamentais nessa rede? Se sim, quais são eles? Há atores não governamentais nessa rede? Se sim, quais são eles? Identifique a importância de tais atores no desenvolvimento das crianças com as quais você atua e suas respectivas famílias. Compartilhe essas reflexões com o seu grupo. É muito provável que vocês reconhecerão a intersetorialidade de políticas públicas e sociais em diferentes momentos da sua vida e que até hoje fazem diferença para as pessoas ao nosso redor. 88 1. ANEXO MODELO DE PLANO DE AÇÃO DO PFC PARA TRABALHAR A INTERSETORIALIDADE O Plano de Ação para a atividade proposta pode ser feito em documento Word ou em uma planilha de Excel, apresentando os principais pontos abordados para a efetividade das ações intersetoriais necessárias. Não há um único modelo a ser seguido e cada equipe pode adaptar documentos de outros planos de ação, execução e planejamento que já elaboraram. Algumas questões abaixo podem nortear a elaboração do plano: 1) Quais os problemas identificados? 2) Quem são os atores envolvidos? 3) Quais os encaminhamentos a serem tomados? 4) Qual o prazo de execução das ações? 5) Quem será responsável pelo quê? (Detalhar por ação) 6) Quais os recursos necessários? 7) Como será realizado o monitoramento das ações? 8) Quais os objetivos a serem alcançados? 9) Quais os resultados/metas atingidos? 89 LOGO PLANO DE AÇÃO Assunto: Objetivo: Nº Responsável: Item O que será feito? “What” Porque será feito? “Why” Onde será feito? “Where” Por quem será feito? “How” Quanto vai custar? “How Much” Projeto Nome do seu projeto aqui Status Em definição Nível de importância Alto Nível de urgência Alto WHAT (o que será feito?) O que será feito no projeto? WHY (porquê?) Porquê será feito? WHO (Por quem) Nome do envolvido 1 Nome do envolvido 2 Nome do envolvido 3 Nome do envolvido 4 WHEN (quando será feito) Data de início: Data final: WHERE (onde será feito) Aonde este projeto será feito? HOW (as etapas do processo) Ação #01 A iniciar Ação #02 Executando Ação #03 Concluído HOW MUCH (quanto custa) Valor financeiro ou tempo 90 LOGO PLANO DE AÇÃO Assunto: Objetivo: Nº Responsável: Item Atividade Recurso Necessário Responsável Ativididade Data Início Data Término Observações Objetivo: Meta: Plano Gestor: PLANO DE AÇÃO O QUE DEVE SER FEITO QUEM FARÁ ATÉ QUANDO DEVE SER FEITO STATUS 91 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS BRASIL, MINISTÉRIO DO DESENVOLVIMENTO SOCIAL. Secretaria Nacional de Promoção do Desenvolvimento Humano. Criança Feliz: cuidados para o desenvolvimento da criança: manual de orientações às famílias. 1. Edição Revisada e Atualizada, 2019. Disponível em: http://www.mds.gov.br/ webarquivos/publicacao/crianca_feliz/02_Guia_Visita_Domiciliar_Manual.pdf BRASIL, MINISTÉRIO DO DESENVOLVIMENTO SOCIAL. Secretaria Nacional de Promoção do Desenvolvimento Humano. Criança Feliz: guia para visita domiciliar. 2 versões. 2017. Disponível em: http://www.mds.gov.br/ webarquivos/arquivo/crianca_feliz/Guia%20para%20Visita%2 BRASIL. Ministério do Desenvolvimento Social. Portaria Interministerial N. 01 de 04 de Abril de 2018. Disponível em: http://portal.imprensanacional.gov.br/ materia/- /asset_publisher/Kujrw0TZC2Mb/content/id/9380492/do1-2018-04- 06-portaria interministerial-n-1-de-4-de-abril-de-2018-9380488.BRASIL. Ministério do Desenvolvimento Social. Portaria Ministerial N. 17 de 22 de agosto de 2018. Disponível em: https://aplicacoes. mds.gov.br/snas/termoaceite/crianca_feliz_2018/documentos/PORT ARIAN%C2%BA17DE22DEAGOSTODE2018-DOU.pdf. BRASIL. Ministério do Desenvolvimento Social. Portaria Ministerial N. 2.496 de 17 de setembro de 2018. Disponível em: http://portal.imprensanacional.gov.br/ materia/- /asset_publisher/Kujrw0TZC2Mb/content/id/41227841/do1-2018-09- 18-portaria-n-2- 496-de-17-de-setembro-de-2018-41227780. CAVALCANTI, Camila Dias. Roteiro do curso: As diversidades das infâncias e famílias brasileiras e o PCF. Ministério da Cidadania. Secretaria Especial do Desenvolvimento Social. s/d. p. 80. Disponível em: https://drive.google.com/ drive/folders/1U5GK22yjvw1iwd4Kq2Eq5K4k3253H4zw NASCIMENTO, Sueli. Reflexões sobre a Intersetorialidade entre as Políticas Públicas. Revista Serviço Social, São Paulo, n.101, p. 95-120, 2010. PEREIRA, Karine Yanne de Lima., TEIXEIRA, Solange Maria. Redes e Intersetorialidades nas políticas sociais: reflexões sobre sua concepção na política de assistência social. Textos e Contextos, Porto Alegre, V. 12, N. 1, Jan-Jun, p. 114-127, 2013. PIORSKI, Gandhy. Brinquedos de Chão: a natureza, o imaginário e o brincar. São Paulo: Peirópolis, 2016. http://www.mds.gov.br/webarquivos/publicacao/crianca_feliz/02_Guia_Visita_Domiciliar_Manual.pdf http://www.mds.gov.br/webarquivos/publicacao/crianca_feliz/02_Guia_Visita_Domiciliar_Manual.pdf http://www.mds.gov.br/webarquivos/arquivo/crianca_feliz/Guia%20para%20Visita%2 http://www.mds.gov.br/webarquivos/arquivo/crianca_feliz/Guia%20para%20Visita%2 http://portal.imprensanacional.gov.br/materia/- /asset_publisher/Kujrw0TZC2Mb/content/id/9380492/do1-2018-04-06-portaria interministerial-n-1-de-4-de-abril-de-2018-9380488 http://portal.imprensanacional.gov.br/materia/- /asset_publisher/Kujrw0TZC2Mb/content/id/9380492/do1-2018-04-06-portaria interministerial-n-1-de-4-de-abril-de-2018-9380488 http://portal.imprensanacional.gov.br/materia/- /asset_publisher/Kujrw0TZC2Mb/content/id/9380492/do1-2018-04-06-portaria interministerial-n-1-de-4-de-abril-de-2018-9380488 https://aplicacoes.mds.gov.br/snas/termoaceite/crianca_feliz_2018/documentos/PORT ARIAN%C2%BA17DE22DEAGOSTODE2018-DOU.pdf https://aplicacoes.mds.gov.br/snas/termoaceite/crianca_feliz_2018/documentos/PORT ARIAN%C2%BA17DE22DEAGOSTODE2018-DOU.pdf https://aplicacoes.mds.gov.br/snas/termoaceite/crianca_feliz_2018/documentos/PORT ARIAN%C2%BA17DE22DEAGOSTODE2018-DOU.pdf http://portal.imprensanacional.gov.br/materia/- /asset_publisher/Kujrw0TZC2Mb/content/id/41227841/do1-2018-09-18-portaria-n-2- 496-de-17-de-setembro-de-2018-41227780 http://portal.imprensanacional.gov.br/materia/- /asset_publisher/Kujrw0TZC2Mb/content/id/41227841/do1-2018-09-18-portaria-n-2- 496-de-17-de-setembro-de-2018-41227780 http://portal.imprensanacional.gov.br/materia/- /asset_publisher/Kujrw0TZC2Mb/content/id/41227841/do1-2018-09-18-portaria-n-2- 496-de-17-de-setembro-de-2018-41227780 https://drive.google.com/drive/folders/1U5GK22yjvw1iwd4Kq2Eq5K4k3253H4zw https://drive.google.com/drive/folders/1U5GK22yjvw1iwd4Kq2Eq5K4k3253H4zw 92 Apresentação e Guia de Estudos da Unidade VIII e IX Olá cursista, bem-vindo ao nosso Módulo V! Estamos no último módulo e prontos para aprendermos sobre o lúdico na promoção do desenvolvimento infantil, analisando, ao mesmo tempo, os diversos fatores importantes para a Primeira Infância que estudamos ao longo do curso. Neste módulo, vamos usar os conhecimentos que construímos até aqui para qualificar nosso aprendizado sobre o lúdico e suas contribuições para a promoção do desenvolvimento infantil, lembrando das diversas possibilidades que as próprias famílias e o meio onde vivem possuem para tornar o brincar uma maneira de construção e fortalecimento de vínculos. O principal objetivo, nesta unidade, é entender o que é a ludicidade e o brincar; como o desenvolvimento do brincar pode fortalecer os vínculos entre cuidadores e crianças, resgatando as brincadeiras já utilizadas pelas famílias e nas localidades e possibilitando a integração de novas formas de brincar como processo de aprendizagem. Para subsidiar o aprofundamento sobre os conhecimentos unidade VIII, siga a seguinte ordem de estudos: 1. Leia, na apostila, a Aula 8; 2. Assista a aula narrada 8; 3. Faça os exercícios de fixação da Aula 8; 4. Resolva o jogo de palavra cruzada; 5. Ouça o podcast; 6. Assista aos vídeos sugeridos. 93 Para subsidiar o aprofundamento sobre os conhecimentos unidade IX, siga a seguinte ordem de estudos: 1. Leia, na apostila, a Aula 9; 2. Assista a aula narrada 9; 3. Faça os exercícios de fixação da Aula 9; 4. Ouça o podcast; 5. Assista aos vídeos sugeridos. Bons estudos! 94 Aula Narrada 8: O brincar como estratégia para o desenvolvimento infantil e o fortalecimento de vínculos familiares 8.1. O brincar na primeira infância “O brincar, de certo modo, é um enigma.” Janet R. Moyles Para as crianças, o brincar representa mais do que um passatempo. São formas de apreensão e externalização do mundo em que vivem. O ato de brincar é também uma maneira de socialização das crianças, entre elas mesmas, com as pessoas que as cercam e com o mundo em que vivem. Por meio das brincadeiras, as crianças expressam o mundo das coisas, bem como reinterpretam o que observam ao seu redor. Geralmente, é por meio dos seus cuidadores que o bebê e as crianças pequenas apreendem as primeiras formas de interpretar o mundo e expressam o que veem, sempre de modo muito particular. Cada criança, em uma fase diferente do seu desenvolvimento, irá brincar de maneiras distintas. Assim, as brincadeiras podem ser imitativas, como podem ser inventadas e reinventadas a partir dos elementos que estão dispostos no meio em que vivem e do período de desenvolvimento em que elas se encontram. Atualmente, as brincadeiras passaram a ser objeto de estudo e pesquisa para compreensão das infâncias, assim como elementos importantes do processo de socialização. Autores como Piaget, Vigotski e Wallon se debruçaram sobre o desenvolvimento humano e identificaram que na infância há uma maneira distinta de interagir e conhecer o mundo. Essa maneira é o brincar. Brincar não como um verbo, mas como um imperativo, como a forma de existência das crianças no mundo. 95 Não permitir que elas brinquem ou não destinar momentos e espaços para o desenvolvimento do brincar é aniquilar suas existências no mundo. O brincar abre para a criança múltiplas janelas de interpretação, compreensão e ação sobre a realidade. Nele, as coisas podem ser outras, o mundo vira do avesso, de ponta-cabeça, permitindo à criança se descolar da realidade imediata e transitar por outros tempos e lugares, inventar e realizar ações/interações com a ajuda de gestos, expressões e palavras, ser autora de suas histórias e ser outros, muitos outros: pai, mãe, cavaleiro, bruxo, fada, príncipe, sapo, cachorro, trem, condutor, guerreiro, super-herói... São tantas as possibilidades quanto é permitido que as crianças imaginem e ajam guiadas pela imaginação, pelos significados criados, combinados e partilhados com os parceiros de brincadeira. Sendo esses outros, definindo outros tempos, lugares e relações, as crianças aprendem a olhar e compreender o mundo e a si mesmas de outras perspectivas (VASCONCELLOS, 2008, p. 82). Desde muito cedo, a criança passa a conhecer o mundo por meio de sua capacidade sensorial e motora. O toque, o olhar, a textura, a temperatura, as cores e as formas são sensações e expressões que fazem parte do desenvolvimento das crianças, em que elas passam a conhecer os objetos e pessoas ao seu redor. E esse conhecimento será apreendido e construído por meio do brincar. Os bebês brincam? Como você percebe esse brincar nos bebês? É importante compreendermos que o brincar precisa ser sempre estimulado pelo adulto e, portanto, faz-se necessáriosaber que o bebê, inicialmente, brinca com o seu corpo e cria possibilidades de conhecê- lo e dominá-lo. Em seguida, ele brinca com os objetos ao seu redor, assim passa a reconhecê-los e a interagir, ou não, com eles. Também brinca com as pessoas e aprende a reconhecê-las e a interagir de maneiras diferenciadas. Brinca usando os sentidos e assim conhece o mundo ao seu redor. É natural dos bebês levar os objetos e tudo que está ao seu redor à boca, lançar objetos ao chão e muitas outras ações. Explorando os objetos dessa forma, conhecem sobre os sons; os sabores; os cheiros; se os objetos são duros, moles, pesados, frios, quentes etc. Em todas essas ações, o brincar é esse fio da vida que tece suas existências neste mundo. 96 Estudiosos como Piaget e Vigotski, por exemplo, desenvolveram suas teorias defendendo que os bebês e as crianças pequenas se desenvolvem e aprendem interagindo de forma ativa com o ambiente físico, social e humano à sua volta. E para isso, a brincadeira é primordial para o pleno desenvolvimento delas. Por volta dos dois anos, a criança irá interagir de uma maneira diferente de quando ela era bebê. A representação, principal característica que se inicia nessa etapa da vida (Piaget, 1971), irá conduzir suas maneiras de brincar. Agora ela conta com o desenvolvimento da oralidade para interagir com o mundo e os sujeitos e essa interação se dará por meio dos jogos simbólicos. É nessa fase que um solo fértil está à disposição para que a imaginação e a criatividade floresçam. Por isso, as crianças gostam tanto das brincadeiras de faz de conta, encontram seu amigo imaginário, transformam objetos para representarem situações que desejam, como por exemplo: um pedaço de madeira vira um carrinho, um bebê, um microfone etc. Dessa maneira, é importante oferecer às crianças nessa faixa etária experiências que permitam a dramatização. Esse período em que o faz de conta fica muito evidente em todos os momentos de interação das crianças com o outro e/ou com os objetos se estende até os 5 anos de idade aproximadamente. Essas capacidades que cada criança desenvolve ao longo de seu crescimento precisam ser estimuladas por meio do lúdico, de brincadeiras e atividades entre cuidadores e crianças. Importante compreendermos que não podemos reduzir as experiências das crianças com o brincar à meras atividades lúdicas às quais, em grande parte, são classificadas como lúdicas pelos adultos e não pelas crianças. 97 Esse é o trabalho que as equipes técnicas do Programa Criança Feliz buscam desenvolver com as famílias atendidas, ou seja, permitir que as crianças existam como cidadãs e como sujeitos de direitos. E essa existência só pode ser experimentada em plenitude quando as crianças brincam. Para conhecer e refletir um pouco mais sobre o brincar no desenvolvimento das crianças, sugerimos os seguintes vídeos e site: Documentário “O Começo da Vida”. Acesse ao site: https://ocomecodavida.com.br/filme-completo/ Vídeo Importância do brincar no desenvolvimento infantil. Acesso ao site: https://www.youtube.com/watch?v=C0XY2O1lbE8 Marcos do desenvolvimento infantil de 0 a 3 anos: h t t p s : / / l e i t u r i n h a . c o m . b r / b l o g / m a r c o s - d o - desenvolvimento-infantil-de-0-a-3-anos/ 8.2 A importância do brincar para o resgate cultural Por meio das formas de brincar, podemos conhecer a organização social de um povo. Assim, o brincar é também um elemento da cultura. É possível observar que diferentes comunidades, bairros, cidades e, até mesmo, países possuem brincadeiras semelhantes, mas com nomes e algumas variações que decorrem de características peculiares dos locais. Por exemplo: A brincadeira “Amarelinha”, na região norte, também é conhecida como “Macaca”. Outro brinquedo muito conhecido pelas crianças é o “carrinho de rolimã”, mas, na região sul, ele se chama “carrinho de lomba”. Há ainda a brincadeira “5 Marias” que também é conhecida como “Belisca”. https://ocomecodavida.com.br/filme-completo/ https://www.youtube.com/watch?v=C0XY2O1lbE8 https://leiturinha.com.br/blog/marcos-do-desenvolvimento-infantil-de-0-a-3-anos/ https://leiturinha.com.br/blog/marcos-do-desenvolvimento-infantil-de-0-a-3-anos/ 98 Esses breves exemplos reforçam a ideia de que o brincar é um elemento da cultura de um povo. Sua importância também é dada no resgate cultural que ele pode proporcionar, em especial entre as gerações de uma mesma família, pois as crianças e seus cuidadores expressam nas brincadeiras modos culturais, crenças e valores. Você conhece o Mapa do Brincar? Nele, é possível conhecer as diversas brincadeiras do nosso país. Ele está disponível no site https://mapadobrincar.folha.com.br/. Lá encontramos mais de 750 brincadeiras de todo o Brasil. As brincadeiras também são as riquezas de nosso país! Vamos brincar?! Esses fatores podem ser aproveitados pelas equipes do PCF para incentivar o fortalecimento de vínculos entre cuidadores e crianças. Não é necessário inventar a roda, pois toda família possui maneiras de se relacionar com seus filhos, expressando comportamentos, costumes e hábitos que fazem parte da cultura brasileira. Portanto, sugerimos que você busque conhecer quais são os hábitos e costumes das famílias que estão atendendo e identifique essas diferentes formas de se relacionar com as crianças. O Ministério da Cidadania elaborou em 2019 uma cartilha contendo brincadeiras e formas de estimular o brincar. Nela, há contribuições de pessoas que trabalham com o lúdico no desenvolvimento infantil em todo o território nacional. https://mapadobrincar.folha.com.br/ 99 A cartilha “Jogos e brincadeiras das culturas populares na Primeira Infância” pode ser acessada no seguinte endereço: http://www. mds.gov.br/webarquivos/arquivo/crianca_feliz/ CartilhaCriancaFeliz_web.pdf. A cartilha reúne diferentes brincadeiras populares no Brasil no que se refere à Primeira Infância e é um instrumento de grande valor para as equipes do PCF. Por ser o brincar um elemento que possibilita o resgate cultural, é perfeitamente possível que as equipes elaborem suas ações com base nas brincadeiras que as famílias já realizam ou que proponham novas atividades, de acordo com o estabelecimento de vínculos de confiança que vão criando nos territórios em que atuam. Que tal construirmos o nosso próprio Mapa do Brincar? Ao longo das visitas domiciliares, faça um levantamento das brincadeiras presentes naquele núcleo familiar. Esse momento pode ser uma rica experiência se a equipe de profissionais se permitir, a partir dos diálogos, conhecer as brincadeiras que fizeram e fazem parte das diferentes gerações daquela família. Procure descobrir como, quando e com quem essas brincadeiras eram ou ainda são realizadas. Pode-se dar destaque aos sentimentos que atravessam as brincadeiras e as memórias que elas evocam. Sugerimos que tais brincadeiras sejam registradas em algum portador, pode ser um caderno, uma folha avulsa ou um cartaz. Esse registro pode contar com a participação das crianças e outros familiares e pode ser feito por meio da escrita ou de desenhos. Nas próximas visitas, esses registros poderão guiar as vivências brincantes entre os adultos e as crianças. Para conhecer um pouco mais sobre o brincar que atravessa as gerações e perpetua formas de existir de adultos e crianças, assistam ao documentário TARJA BRANCA. https://www.facebook.com/watch/?v=1173996419456545. Esse documentário também nos ajudará a redescobrir o adulto brincante que vive em nós. http://www.mds.gov.br/webarquivos/arquivo/crianca_feliz/CartilhaCriancaFeliz_web.pdf http://www.mds.gov.br/webarquivos/arquivo/crianca_feliz/CartilhaCriancaFeliz_web.pdf http://www.mds.gov.br/webarquivos/arquivo/crianca_feliz/CartilhaCriancaFeliz_web.pdf https://www.facebook.com/watch/?v=1173996419456545 100 8.3 O adulto brincante e sua importância para o fortalecimento de vínculos com as criançasPriorizar o brincar nas práticas cotidianas do PCF, sobretudo durante as visitas domiciliares, é, antes de mais nada, compreender que somos seres brincantes. O historiador e pensador Johan Huizinga, ao investigar a presença do jogo no desenvolvimento dos seres humanos, afirma que o elemento lúdico, expressado no brincar, não só se faz presente em nosso dia a dia, mas é um elemento constitutivo do humano. Nesse sentido, ele “cria” a espécie homo ludens para demarcar a dimensão lúdica e brincante na nossa constituição como seres humanos. Sabemos que o brincar é uma marca da infância, mas o que Huizinga nos traz é que o elemento brincante está presente em todas as fases da vida humana. Muitas vezes, os adultos vivenciam essa dimensão em decorrência das manifestações culturais. Um bom exemplo disso é o envolvimento dos adultos, que recebem o nome de brincantes, na manifestação cultural do Bumba Meu Boi no Maranhão. Para conhecer mais sobre os brincantes do Bumba Meu Boi, assista ao vídeo produzido pelo Território do Brincar. Acesse o site: https://www.youtube.com/ watch?v=ZA2UYvqtlbE Mas os adultos não são brincantes apenas quando estão envolvidos em manifestações artísticas da cultura popular. Isso porque o brincar transcende e transgride o tempo e o espaço. Para que as brincadeiras e o lúdico atravessem as vivências do PCF, é necessário que os sujeitos que estão diretamente envolvidos nas ações com as crianças e famílias se (re)descubram como adultos brincantes. Rememorar as brincadeiras de infância é uma ótima maneira de encontrar o ser brincante que ainda vive em cada um de nós. Muitas vezes, as crianças e famílias atendidas pelo PCF estarão em condições socioeconômicas extremamente vulneráveis. Permitir que elas brinquem não significa uma alienação de seus contextos, nem um anestésico para as suas dores, https://www.youtube.com/watch?v=ZA2UYvqtlbE https://www.youtube.com/watch?v=ZA2UYvqtlbE 101 mas é, antes de tudo, uma forma de existência plena, uma vez que, pelo brincar, ressignificamos nossas experiências, sejam elas boas ou não. O brincar pode descortinar as situações que estamos vivenciando, permitindo-nos encará-las de maneira diferente. E as gestantes? Você acredita que elas possam brincar com seu bebê ainda no ventre materno? Desde a gestação, é importante estimular cuidados para o desenvolvimento infantil, pois é possível conversar com os bebês, cantar músicas infantis e, ao contrário do que se pensava, essa fase é de extrema importância, não apenas em questões que se referem ao peso ou à nutrição, mas também em relação ao conhecimento do mundo exterior por intermédio de seus pais. Evidentemente, o PCF também orienta as gestantes no que se refere à alimentação saudável, peso, acompanhamento pré-natal e isso é de extrema importância para a saúde dos bebês. Mas outro ponto em que o programa vem atuando é no estímulo à criação de vínculos desde a gestação. Muitas vezes, como já foi dito, por meio de conversação e cantigas dos genitores com os seus bebês, ou seja, por diversas maneiras de brincar com o neném. Como podemos estimular o lúdico por meio da atuação do Programa Criança Feliz? Que atividades resgatam brincadeiras antigas e estimulam novas formas de brincar? Uma boa estratégia para colocar em prática esse brincar existencial dos sujeitos e assim fortalecer os vínculos com as crianças e suas famílias é a proposição de experiências brincantes a serem realizadas com elas, pensadas a partir de objetos e atividades que são de fácil acesso. O uso de objetos presentes nas próprias casas, bem como o próprio corpo podem ser estratégias que possibilitem essas experiências brincantes. O Mapa do Brincar daquela família ou comunidade, o qual foi sugerido na sessão anterior, também pode ser um ótimo ponto de partida para essas vivências. A partir do mapa, combine com as famílias que as próximas visitas terão alguns momentos em que estarão brincando, promovendo brincadeiras que já fazem parte do cotidiano daquelas pessoas. Nas visitas, também poderão ocorrer trocas e novos aprendizados, uma vez que a equipe do PCF poderá inserir novas brincadeiras, bem como variações daquelas que foram mapeadas, evidenciando, assim, essa riqueza cultural manifestada em nossas diferentes maneiras de brincar. 102 Após brincarem, pode-se promover uma roda de conversa com a família, deixando espaço para que eles compartilhem seus sentimentos a respeito do momento que passaram juntos. Este é um importante espaço de escuta das crianças e de seus sentimentos. Valorize-os! Os diálogos com outros profissionais de seu município, com os supervisores, caso seja visitador do PCF, e trocas com equipes do PCF de outras localidades podem enriquecer as vivências brincantes das crianças e suas famílias, fortalecendo, assim, os vínculos entre elas. 8.4 Integração de novas formas de brincar como processo de aprendizagem O brincar é uma ação milenar dos seres humanos. Como vimos, faz parte da nossa cultura e é um elemento constitutivo da nossa humanidade. Ele atua diretamente no nosso desenvolvimento integral, especialmente na primeira infância, pois é a forma desses sujeitos interagirem e apreenderem o mundo. As descobertas e conquistas alcançadas pela criança provêm de seu corpo e de sua corporeidade, interagindo-se com o mundo ao seu redor intensamente, sendo estas o alicerce para seu desenvolvimento e suas inter-relações neste contexto de mundo. Na fase inicial da infância, caracterizada pelo Infante e pelo Pré- escolar, segundo evidencia o momento das descobertas intensas e um acentuado desenvolvimento motor, de personalidade, de linguagem e relacionamentos sociais. Encontramos nitidamente nessa fase, o brincar, como uma necessidade básica e inerente para o desenvolvimento normal da criança (RAVELLI e DA MOTTA, 2005, p. 612). Quando falamos da integração de novas formas de brincar, estamos reconhecendo que este elemento é vivo e dinâmico. Ele traz em si uma memória cultural que está aberta a novas incorporações. Na proposição de novas brincadeiras, o mais importante é reunir elementos já disponíveis nas famílias, pois é preciso que os cuidadores possam elaborar sozinhos essas vivências brincantes e que deem continuidade, independentemente das visitas domiciliares do Programa. Ao incorporar a brincadeira em seus fazeres, o PCF demonstra compreender que essa dimensão de nossa vida é um elemento que não só faz parte do nosso cotidiano, mas contribui, por excelência, para o nosso desenvolvimento humano. Brincar é a forma de aprender das crianças. Enquanto brincam, elas estão em pleno aprendizado, mesmo que esse seja diferente do que planejamos inicialmente. - Por isso, o elemento lúdico integrado ao PCF dispensa “pedagogizar” o brincar. Se fizermos isso, corremos o risco de deixá-lo vazio de significado. 103 É comum adotarmos o lúdico para determinados fins, sobretudo fins educacionais e pedagógicos. Tais práticas são frequentemente observadas. No entanto, é preciso compreender que, quando trabalhamos para extrair de uma brincadeira um aprendizado, nós a empobrecemos e podemos não perceber suas infinitas potencialidades para o desenvolvimento infantil e humano, pois elas já são ensinantes por natureza. Mas atenção! É importante reconhecer que a ludicidade e o lúdico não estão restritos à realização de atividades, ou seja, podemos planejar e desenvolver atividades que envolvam jogos e brincadeiras e não necessariamente elas serão lúdicas para as crianças. Por isso, é preciso considerar o sentido e significado que aquelas atividades têm para a criança e seus familiares no contexto em que se encontram. Outro fator que pode nos indicar se essas experiências proporcionadas para as crianças e suas famílias têm sido lúdicas refere-se ao prazer que os sujeitos demonstram ao realizá-las. Podemos observar esse prazer a partir da reação das pessoas durante o desenvolvimentodesses jogos e brincadeiras. É no e com o corpo que o brincar se realiza. Portanto, é fundamental possibilitar que as crianças, a partir das brincadeiras, expressem-se de diferentes maneiras. O brincar é também a expressão das crianças e dos seus sentimentos. Isso, envolve correr, pular, cantar, falar alto ou até mesmo gritar, contar histórias e casos, explorar os objetos por meio de manipulação etc. Durante as brincadeiras as crianças se desenvolvem em todos os aspectos, tais como o físico, motor, social, afetivo, cognitivo e moral. Por exemplo: Pular corda é uma ótima maneira de estimular o aspecto físico-motor, auxiliando também o aspecto cognitivo, uma vez que as crianças precisam elaborar cognitivamente a sequência de seus movimentos, articulando-os com os movimentos da corda e de quem a está “batendo”. O aspecto afetivo também está presente na brincadeira de pular corda. A criança precisa estar confiante em si mesma para superar os erros e continuar tentando até conseguir pular a corda com êxito. Se outras pessoas, sejam crianças ou adultos, estão fazendo parte da brincadeira, podemos perceber ainda o desenvolvimento do aspecto social e moral, uma vez que as crianças precisam aguardar a sua vez para pular e, muitas vezes, ficam torcendo e estimulando os amigos. Ao conseguirem executar os movimentos, geralmente após diversas tentativas, tivemos a oportunidade de acompanhar o desenvolvimento integral das crianças a partir de uma brincadeira divertida que, para os leigos, pode ser apenas pular corda. Esse é apenas um exemplo de como o brincar está para além das ações envolvidas nas brincadeiras. Ele vai ao encontro do desenvolvimento integral das crianças, pois o constitui. 104 Outro importante elemento no desenvolvimento das crianças, que é potencializado pelo brincar, refere-se à autonomia das mesmas. Quando as crianças têm a oportunidade de escolherem onde, como, quando e com quem brincar, elas estão colocando em movimento uma série de construções cognitivas, afetivas e sociais. Ao permitirmos que elas construam as regras das brincadeiras, damos a elas a oportunidade de considerar os diferentes pontos de vista sobre os modos de brincar. Nesse fluxo construtivo, possibilitamos, a partir do brincar, que elas desenvolvam sua autonomia intelectual, ou seja, permitimos que elas pensem sobre as suas ações, o impacto delas para as outras crianças e também para si mesmas. Uma boa maneira de estimular o desenvolvimento das crianças por meio das brincadeiras é adotar em nossas práticas cotidianas o brincar livre. Muitas vezes, queremos controlar os tipos de brincadeiras que as crianças realizarão. Permitir que elas brinquem livremente nos dá a oportunidade de observar as suas interações e construções cognitivas, afetivas, morais, sociais. O brincar livre não significa apenas deixar que elas brinquem durante um determinado período de tempo sem oferecer nada a elas. O brincar livre exige planejamento e, muitas vezes, organização do espaço, que pode ser nos arredores de casa ou em locais da própria comunidade. Por exemplo, durante as visitas domiciliares, poderemos preparar um ambiente com diversas possibilidades de brincadeiras, tais como bola, peteca, elástico, bolinha de gude, e permitir que as crianças conduzam as maneiras de brincar como elas desejarem. Cabe ao adulto, se necessário, mediar, e não controlar, as brincadeiras. O mais importante não é planejar essas vivências brincantes para as crianças, e sim planejá-las para serem experimentadas COM as crianças! 105 EM RESUMO Como vimos, brincar é a forma de existência das crianças no mundo. É no e com o corpo que o brincar se realiza, ou seja, o corpo é o primeiro território do brincar e isso se evidencia nas vivências brincantes desde bebês. O bebê brinca! Primeiro com o seu corpo, depois com os elementos e pessoas ao redor. É por meio do brincar que os bebês e as crianças irão se desenvolver. Brincando as crianças aprendem e constroem sua autonomia intelectual e moral. A partir das brincadeiras também podemos conhecer e valorizar a cultura das famílias e das comunidades atendidas, uma vez que o brincar também se constitui como um elemento da cultura de um povo. Conhecer as brincadeiras locais não é apenas fazer um levantamento das mesmas, é sobretudo experimentá-las, revivê-las e recriá-las. E isso só é possível quando nos reconhecemos como adultos brincantes. Portanto, adotar o elemento lúdico nas práticas do PCF parte da compreensão mais aprofundada do que se trata o brincar para as crianças para que possamos, dessa maneira, entregar-nos a esses elementos com inteireza. Somente assim permitiremos que as crianças também o façam, existam e resistam em toda a sua plenitude, mesmo em contextos muitas vezes tão vulneráveis. Para finalizar esta aula, vamos nos deliciar com o poema de Manoel de Barros, que nos traz a representação dessa inteireza da criança em seus modos de pensar, criar, agir, conviver e descobrir o mundo. O menino que carregava água na peneira Manoel de Barros Tenho um livro sobre águas e meninos. Gostei mais de um menino que carregava água na peneira. A mãe disse que carregar água na peneira era o mesmo que roubar um vento e sair correndo com ele para mostrar aos irmãos. A mãe disse que era o mesmo que catar espinhos na água. O mesmo que criar peixes no bolso. O menino era ligado em despropósitos. Quis montar os alicerces de uma casa sobre orvalhos. A mãe reparou que o menino gostava mais do vazio, do que do cheio. Falava que vazios são maiores e até infinitos. Com o tempo aquele menino que era cismado e esquisito, porque gostava de carregar água na peneira, com o tempo descobriu que escrever seria o mesmo que carregar água na peneira. No escrever o menino viu que era capaz de ser noviça, monge ou mendigo ao mesmo tempo. O menino aprendeu a usar as palavras. Viu que podia fazer peraltagens com as palavras. E começou a fazer peraltagens. Foi capaz de modificar a tarde botando uma chuva nela. O menino fazia prodígios. 106 Até fez uma pedra dar flor. A mãe reparava o menino com ternura. A mãe falou: Meu filho você vai ser poeta! Você vai carregar água na peneira a vida toda. Você vai encher os vazios com as suas peraltagens, e algumas pessoas vão te amar por seus despropósitos! 107 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS BRASIL, MINISTÉRIO DO DESENVOLVIMENTO SOCIAL. Secretaria Nacional de Promoção do Desenvolvimento Humano. Criança Feliz: cuidados para o desenvolvimento da criança: manual de orientações às famílias. 1. Edição Revisada e Atualizada, 2019. BRASIL, MINISTÉRIO DO DESENVOLVIMENTO SOCIAL. Secretaria Nacional de Promoção do Desenvolvimento Humano. Criança Feliz: guia para visita domiciliar. 2ª versão. 2017. Disponível em: http://www.mds.gov.br/ webarquivos/arquivo/crianca_feliz/Guia%20para%20Visita%2 0Domiciliar%20-%20Programa%20Crian%C3%A7a%20Feliz%20-%2021-06- 2017.pdf BRASIL. Ministério da Cidadania. Jogos e brincadeiras das culturas populares na Primeira Infância / Ministério da Cidadania. 1. ed. atual. – Brasília: Ministério da Cidadania, 2019. 66p. Disponível em: http://www.mds.gov.br/webarquivos/ arquivo/crianca_feliz/CartilhaCriancaFeliz_web.pdf. Acesso em 05 de fev. 2022. CAVALCANTI, Camila Dias. Roteiro do curso: As diversidades das infâncias e famílias brasileiras e o PCF. Ministério da Cidadania. Secretaria Especial do Desenvolvimento Social. s/d. p. 80. Disponível em: https://drive.google.com/ drive/folders/1U5GK22yjvw1iwd4Kq2Eq5K4k3253H4zw FOLHA DE SÃO PAULO. Mapa do Brincar, 2022. Disponível em: <https:// mapadobrincar.folha.com.br/>. Acesso em: 07 de fev. de 2022. HUIZINGA, Johan. Homo ludens: o jogo como elemento da cultura. Editora da Universidade de S. Paulo, Editora Perspectiva, 1971. IMPORT NCIA DO BRINCAR NO DESENVOLVIMENTO INFANTIL. Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=C0XY2O1lbE8. Acesso em 07 de fev. 2022. MOYLES. JanetR. [et al]. A excelência do brincar. Porto Alegre: Artmed, 2006. p 248. O COMEÇO DA VIDA. Direção: Estela Renner. Produção: Maria Farinha Filmes. Brasil. 2016, 1 DVD. (97 min.) https://ocomecodavida.com.br/. Acesso em 07 de fev. 2022. PIAGET, Jean. A Epistemologia Genética. Trad. Nathanael C. Caixeira. Petrópolis: Vozes, 1971. 110p. PONTES, Natália. Marcos do desenvolvimento: o que esperar dos 3 aos 6 anos de idade? Disponível em: https://leiturinha.com.br/blog/marcos-do- desenvolvimento-infantil-de-0-a-3-anos/. Acesso em 07 de fev. 2022. http://www.mds.gov.br/webarquivos/arquivo/crianca_feliz/Guia%20para%20Visita%2 0Domiciliar%20-%20Programa%20Crian%C3%A7a%20Feliz%20-%2021-06- 2017.pdf http://www.mds.gov.br/webarquivos/arquivo/crianca_feliz/Guia%20para%20Visita%2 0Domiciliar%20-%20Programa%20Crian%C3%A7a%20Feliz%20-%2021-06- 2017.pdf http://www.mds.gov.br/webarquivos/arquivo/crianca_feliz/Guia%20para%20Visita%2 0Domiciliar%20-%20Programa%20Crian%C3%A7a%20Feliz%20-%2021-06- 2017.pdf http://www.mds.gov.br/webarquivos/arquivo/crianca_feliz/Guia%20para%20Visita%2 0Domiciliar%20-%20Programa%20Crian%C3%A7a%20Feliz%20-%2021-06- 2017.pdf http://www.mds.gov.br/webarquivos/arquivo/crianca_feliz/CartilhaCriancaFeliz_web.pdf. http://www.mds.gov.br/webarquivos/arquivo/crianca_feliz/CartilhaCriancaFeliz_web.pdf. https://drive.google.com/drive/folders/1U5GK22yjvw1iwd4Kq2Eq5K4k3253H4zw https://drive.google.com/drive/folders/1U5GK22yjvw1iwd4Kq2Eq5K4k3253H4zw https://mapadobrincar.folha.com.br https://mapadobrincar.folha.com.br https://www.youtube.com/watch?v=C0XY2O1lbE8 https://ocomecodavida.com.br/ https://leiturinha.com.br/blog/marcos-do-desenvolvimento-infantil-de-0-a-3-anos/ https://leiturinha.com.br/blog/marcos-do-desenvolvimento-infantil-de-0-a-3-anos/ 108 RAVELLI, Ana Paula Xavier., MOTTA, Maria da Graça Corso da. O lúdico e o desenvolvimento infantil: um enfoque na música e no cuidado de enfermagem. Revista Brasileira de Enfermagem, set/out, p. 611-613, 2005. TARJA BRANCA. Direção: Estela Renner, Luana Lobo, Marcos Nisti. Direção: Juliana Borges. Produção: Maria Farinha Filmes. Brasil. 2014, 1 DVD. (80 min.) https://mff.com.br/films/tarja-branca/. Acesso em 04 de fev. 2022. TERRITÓRIO DO BRINCAR. A importância de brincar sem brinquedo. Disponível em: https://territoriodobrincar.com.br/territorio-do-brincar-na-midia/ a-importancia-de-brincar-sem-brinquedo/. Acesso em 07 de fev. de 2022. TERRITÓRIO DO BRINCAR. Brincantes e brincadeiras com o bumba-meu-boi do Maranhão. Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=ZA2UYvqtlbE. Acessp Acesso em 03 de fev. de 2022. VASCONCELLOS, Tânia de (organizadora). Reflexões sobre infância e cultura. Niterói: EdUFF, 2008. https://mff.com.br/films/tarja-branca/ https://territoriodobrincar.com.br/territorio-do-brincar-na-midia/a-importancia-de-brincar-sem-brinquedo/ https://territoriodobrincar.com.br/territorio-do-brincar-na-midia/a-importancia-de-brincar-sem-brinquedo/ https://www.youtube.com/watch?v=ZA2UYvqtlbE 109 Aula Narrada 9: Propostas de atividades lúdicas como estratégia para o desenvolvimento infantil e o fortalecimento de vínculos familiares 9.1 A metodologia do PCF como ferramenta para o uso do lúdico no fortalecimento de vínculos e no exercício da parentalidade “Quando as crianças brincam E eu as ouço brincar, Qualquer coisa em minha alma Começa a se alegrar. E toda aquela infância Que não tive me vem, Numa onda de alegria Que não foi de ninguém. Se quem fui é enigma, E quem serei visão, Quem sou ao menos sinta Isto no coração.” (Fernando Pessoa) Atividade lúdica é toda e qualquer forma de recreação que tem como intenção causar prazer e entretenimento a quem pratica. São lúdicas as atividades que propiciam a experiência completa do momento, associando ao ato, o pensamento e o sentimento. A criança se expressa, assimila conhecimentos e constrói a sua realidade quando está praticando alguma atividade lúdica, isto é, brincando. Ela também espelha a sua experiência, modificando a realidade de acordo com seus gostos e interesses. 110 Toda criança tem o direito de brincar como forma de lazer, cultura e aprendizado. Esse brincar necessita ser instigante, rico em oportunidades e cheio de diferentes experiências e vivências. Pisar na poça de lama depois da chuva, rolar na terra, correr ao ar livre, dançar, cantar, ouvir música, brincar de fazer “comidinha com barro”, pular corda, dentre muitas outras brincadeiras despertam as possibilidades de diferentes experiências e vivências. Tudo isso é brincadeira! Todas essas brincadeiras são importantes para a criança! Quem é essa criança que está no mundo? As Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação Infantil (2010) nos apresentam um conceito de criança de grande potência para nossa compreensão. Ela nos diz que: Criança é um “sujeito histórico e de direitos que, nas interações, relações e práticas cotidianas que vivencia, constrói sua identidade pessoal e coletiva, brinca, imagina, fantasia, deseja, aprende, observa, experimenta, narra, questiona e constrói sentidos sobre a natureza e a sociedade, produzindo cultura”1. Partindo desse pressuposto, durante as interações com as crianças, é importante que você lhes dê todas as oportunidades de falar e se expressar de diferentes maneiras. Às vezes, a criança vai lhe contar uma história e quando começa a falar, fica se balançando, pulando ou se mexendo muito. O que fazer? Nada! Continue ouvindo-a atentamente! Você precisa respeitar essas diferentes expressões e se colocar na posição de ouvir a criança. Sempre escute o que ela tem a dizer, olhando nos olhos dela para que ela perceba que você está atenta(o) e dando importância ao que está lhe dizendo. Fazendo isso, você está dando oportunidade para que ela fique mais segura para falar sobre seus sentimentos, suas ideias e seus desejos. 1 DCNEI - http://portal.mec.gov.br/dmdocuments/diretrizescurriculares_2012.pdf http://portal.mec.gov.br/dmdocuments/diretrizescurriculares_2012.pdf 111 Portanto, sempre se coloque disposto a ouvir as crianças. O que elas falam, independente do que seja, é de grande importância e precisa ser respeitado pelo adulto. Por falar nos direitos da criança, é importante reiterarmos aqui que, embora a Base Nacional Comum Curricular (BNCC) define 6 direitos de aprendizagem e desenvolvimento das crianças de 0 a 6 anos, esses direitos não se restringem apenas ao ambiente escolar. Eles devem ser considerados e promovidos pelas famílias e mediados pelos visitadores do PCF. Vocês sabem quais são esses direitos? Vamos lá! Todas as crianças, independente de classe social, etnia, gênero, raça, localidade geográfica, cultura e classe econômica, têm o direito de: Conviver Brincar Participar Explorar Expressar Conhecer-se Portanto, é importante que, no cotidiano da criança em família, esses direitos sejam proporcionados a partir do direito de brincar. Assim: 112 Brincando, a criança tem oportunidades de conviver com os outros, de participar ativamente nessa brincadeira, explorar todas as possibilidades de experiências que a brincadeira lhe proporciona e, consequentemente, conhecer-se diante das expressões dos mais diversos sentimentos que vivenciam diante de qualquer situação de brincadeira. Mas, como as famílias e você, visitador do PCF, podem promover isso? Pense em situações do dia-a-dia de uma casa onde a criança possa vivenciar essas experiências. Para isto, é indispensável que você, enquanto visitador do PCF, planeje a visita a ser realizada, junto ao supervisor do Programa, elencando quais as possibilidades de vivências e experiências lúdicas são possíveis naquele contexto familiar, buscando, dessa maneira, a interação entre cuidador e criança. Planejar pressupõe conhecer os territórios da família e quais são as possibilidades lúdicas que fazem parte da história de vida dela. Ainda que algumas famílias possam não ter ohábito de brincar com seus filhos, o trabalho do PCF é incentivar o fortalecimento de vínculos por meio do lúdico. Por isso, até aqui vimos como é fundamental que os profissionais que atuam na área conheçam a importância da ludicidade para o desenvolvimento infantil e não ignorem os saberes tradicionais e culturais que as famílias apreenderam ao longo da história. Esta unidade é dedicada a pensar a metodologia do PCF como ferramenta para o uso do lúdico no fortalecimento de vínculos e no exercício da parentalidade. As visitas domiciliares são um pilar fundante do Programa, da mesma forma que a intersetorialidade. Elas são momentos preciosos para acompanhar o desenvolvimento das crianças e fortalecer os vínculos entre elas e seus cuidadores. Mais do que sugerir propostas lúdicas, a ideia desta unidade é consolidar os saberes construídos até aqui, que serão expressos no planejamento de vivências brincantes que as equipes do PCF poderão propor durante as visitas. Para isso, vale reforçar a ideia de que o lúdico pode, e deve, ser usado durante todo o tempo em que esteja em contato direto com as crianças. Mas para fortalecer os vínculos familiares entre crianças e cuidadores, as vivências brincantes não terão apenas a participação das crianças, elas precisam ser pensadas de maneira que integrem, na medida do possível, os diferentes sujeitos da família, bem como as diferentes gerações. Por isso, os conhecimentos sobre o desenvolvimento infantil e o brincar foram tão importantes na nossa formação até aqui. 113 A seguir, vocês encontrarão possibilidades brincantes a partir de diferentes maneiras de brincar: brincadeiras tradicionais; brincar livre; brincar heurístico; cirandas e cantigas de roda; contação de história. Antes de entrarmos nas especificidades dos tipos de brincadeiras, precisamos deixar claro, já de antemão, que as diferentes possibilidades de brincadeiras devem partir do ouvir as famílias e, portanto, iniciar com as brincadeiras que elas já conhecem e/ou já vivenciaram. Isto é, partir da cultura de brincadeiras que fazem parte do contexto e da realidade dessas famílias. Junto a essas vivências, você pode propor e inserir novos repertórios de brincadeiras, somando-se, assim, às que já são conhecidas pelas crianças e cuidadores desse núcleo familiar. BRINCADEIRAS TRADICIONAIS Certamente, as brincadeiras tradicionais fazem parte da história de vida de todas as pessoas. De acordo com Cascudo (1984) e Kishimoto (1999 e 2003), essas brincadeiras fazem parte da cultura popular. Elas evidenciam a produção simbólica de determinado grupo, podendo sofrer mudanças ao longo do tempo. As brincadeiras tradicionais têm uma maneira peculiar de serem transmitidas às outras gerações. Elas são passadas por meio da oralidade e, por isso, sujeitas às transformações que cada pessoa pode incorporar. 114 São maneiras de brincar que não há um inventor conhecido. Ao se referirem a elas, é comum ouvirmos: “essa brincadeira foi meu pai quem me ensinou” ou “aprendi essa brincadeira com a minha mãe”. Ao se propor brincadeiras tradicionais durante as visitas familiares, podemos acionar um baú de memórias daquela família, fortalecendo assim os vínculos, “perpetuando a cultura infantil e desenvolvendo a convivência social” (BERNARDES, 2006, p. 543). Amarelinha, jogo de pedrinhas ou 5 Marias, bolinha de gude, peão, pipa, carrinho de rolimã, elástico, parlendas e adivinhações são alguns exemplos de brincadeiras tradicionais. Na música “Brincando na Chuva”, do artista popular Rubinho do Vale, conseguimos perceber a riqueza das brincadeiras tradicionais no desenvolvimento humano e na construção de memórias afetivas em torno do brincar. Nesta canção, podemos lembrar da brincadeira de “barquinho de papel”, muito comum de serem observadas em dias de chuva. 115 Brincando Na Chuva Rubinho do Valle Olha a chuva caindo, caindo É São Pedro lavando o céu Molhando a poeira da terra E o menino remando um barquinho de papel Quando eu era ainda um menino Crescendo lá no interior Vivendo as belezas da vida Sem medo, tristeza, sem dor Brincava naquela enxurrada menina São Pedro era o meu remador É chuva que vem e que passa É tempo que vem e que vai E hoje eu não sou mais menino Não brinco na chuva que cai Mas vejo uma menina bonita brincando Do jeito que brincou seu pai E ela brincando na chuva Vendo um barquinho navegar E o tempo passando anuncia: -Um dia você vai parar Mas há de ver outro barquinho na chuva Com outra criança a remar Nas brincadeiras tradicionais, ainda que os sujeitos quando “adultecem” deixem de brincar, tais brincadeiras não se perdem, pois o barquinho estará na chuva “com outra criança a remar”. Vamos conhecer a música Brincando na Chuva do Rubinho do Vale? Para ouvi-la, você poderá acessá-la pelo link a seguir: https://www.youtube.com/watch?v=ZzOZWAxwlZE&lis- t=PLYs55juPrjZw9u3VNskPywJs92JrwdEtp&index=2 https://www.youtube.com/watch?v=ZzOZWAxwlZE&list=PLYs55juPrjZw9u3VNskPywJs92JrwdEtp&index=2 https://www.youtube.com/watch?v=ZzOZWAxwlZE&list=PLYs55juPrjZw9u3VNskPywJs92JrwdEtp&index=2 116 Durante as visitas, proponha vivências lúdicas a partir das brincadeiras tradicionais. Provavelmente, elas apareceram no Mapa do Brincar sugerido na unidade anterior. BRINCAR LIVRE O brincar livre envolve a iniciativa da criança para definir o que brincar, como, quando e com quem. É importante deixar à disposição das crianças diferentes tipos de materiais, sejam eles classificados como brinquedos ou não, isso porque “os objetos ou brinquedos não possuem apenas uma ação ou objetivo, pelo que devem ser descobertos e explorados individualmente, consoante o nível de desenvolvimento, imaginação e criatividade de cada criança” (Post e Hohmann, apud HENRIQUES, 2019, p. 37). O brincar livre envolve planejamento e organização. É importante pensar no espaço que as crianças terão para vivenciá-lo. Pode ser o quintal da casa, alguma praça ou terreno da comunidade e, em alguns lugares, as próprias ruas dos bairros, cuidando, é claro, da segurança e integridade física das crianças. Também deve-se pensar em objetos e materiais que podem ser oferecidos para as crianças para que elas os explorem e soltem a criatividade ao interagir com eles. Ao se propor o brincar livre durante as visitas familiares, é fundamental escutar as crianças e permitir que elas criem as regras da brincadeira. Quanto à participação dos adultos no brincar livre, “é preciso que [...] sintam-se convidados a participarem dos enredos infantis, mesmo à distância, com olhar sempre atento e de 117 contemplação, mediando necessariamente e não intrusivamente os jogos lúdicos” (KIRCHHEIM, 2020). Brincar livremente também colabora com o desenvolvimento físico-motor das crianças, ao passo que aumenta a mobilidade, permitindo a ampliação dos movimentos, o que segundo a American Academy of Pediatrics, 2006, reduz o risco de diversas patologias nas crianças Para saber mais sobre o brincar livre e sua importância no desenvolvimento das crianças e no fortalecimento dos vínculos familiares, assista aos vídeos abaixo: Brincar livre e sua importância no desenvolvimento infantil - Criar e Crescer: https://www. youtube.com/watch?v=hjxjYYwvl-k A importância do brincar livre | Encontro Criança e Natureza - Goiânia: https://www.youtube.com/watch?v=TfSNaNpFXZk BRINCAR HEURÍSTICO A palavra heurística relaciona-se à investigação, descoberta. É isso que o brincar heurístico propõe, que as crianças investiguem e descubram as infinitas possibilidades que o mundo ao redor pode oferecê-las a partir de uma exploração livre. Durante o brincar heurístico, o foco da criança estará na descoberta ao manipular os objetos, “os encher, os esvaziar, colocar coisas dentro para depois tirar”. Por ser uma brincadeira conduzida totalmente pela criança, a partir da sua interação singular com os objetos, não há “nenhuma resposta errada paraser medida” (BROCK, DODDS, JARVIS E OLUSOGA, 2011, p. 132). https://www.youtube.com/watch?v=hjxjYYwvl-k https://www.youtube.com/watch?v=hjxjYYwvl-k https://www.youtube.com/watch?v=TfSNaNpFXZk 118 Entretanto, pensando nas ações do PCF, é importante a mediação do adulto para instigar a curiosidade da criança. Essa mediação pode ser por meio de algumas perguntas e/ou observações, caso o visitador ou o cuidador sinta que é necessário. De acordo com Goldschmied e Jackson, o brincar heurístico [...] envolve oferecer a um grupo de crianças, por um determinado período e em um ambiente controlado, uma grande quantidade de tipos diferentes de objetos e receptáculos, com os quais elas brincam livremente e sem intervenção de adultos (GOLDSCHMIED; JACKSON, 2006, p. 147-148) Pensando nas ações do PCF e em concordância com a citação acima, podemos inferir que o visitador, na proposição do brincar heurístico, possa auxiliar a família na seleção e escolha desses diferentes objetos, orientando sobre quais materiais que fazem parte dos recursos dessa família e também da natureza ao seu redor. Os cuidadores, então, podem usá-los para oferecer essas diferentes experiências às crianças. Portanto, o brincar heurístico também tem a presença do brincar livre, mas diferente desse, envolve um planejamento ainda mais intencional, pois envolve seleção e preparação de materiais não estruturados, que muitas vezes não são utilizados comumente em brincadeiras, tais como acessórios de cozinha, tecidos, elementos diversos da natureza etc. Segundo Meirelles, (2016, p. 19) “nesse tipo de brinquedo, as crianças desfrutam de uma atmosfera que foi especialmente preparada para que elas brinquem, explorem de maneira autônoma os objetos”. O brincar heurístico também pode ser desenvolvido com os bebês e crianças bem pequenas. Pode-se oferecer a elas cestos de tesouros com diversos objetos que as permitam manipular e aprender sobre o mundo. No brincar heurístico, as crianças também têm a oportunidade de empilhar, encaixar, encher e esvaziar, balançar, apertar. Conheça mais sobre o Brincar Heurístico com o texto e o vídeo a seguir: Brinquedos heurísticos: incentivo acessível para o brincar natural: https://napracinha.com.br/2016/12/ brinquedos-heuristicos-incentivo-acessivel-para-o-brincar- natural/ Brincar Heuristico, o que é isso? - CEI Encantada https://www.youtube.com/watch?v=o-88SjIwqwA https://napracinha.com.br/2016/12/brinquedos-heuristicos-incentivo-acessivel-para-o-brincar-natural/ https://napracinha.com.br/2016/12/brinquedos-heuristicos-incentivo-acessivel-para-o-brincar-natural/ https://napracinha.com.br/2016/12/brinquedos-heuristicos-incentivo-acessivel-para-o-brincar-natural/ https://www.youtube.com/watch?v=o-88SjIwqwA 119 O brincar heurístico permite explorar bastante os objetos disponíveis na casa das crianças e na comunidade ao redor, por isso, torna-se uma rica possibilidade a ser experimentada pelas equipes do PCF. CIRANDAS E CANTIGAS DE RODA Outra possibilidade para o PCF fortalecer os vínculos familiares a partir do lúdico e das brincadeiras está nas vivências que envolvam cirandas e cantigas de roda. Essas duas brincadeiras também são exemplos de brincadeiras tradicionais, sendo ensinadas de forma oral e tendo, como característica, atravessar as gerações. As cirandas envolvem a música e o movimento. Ao falar em ciranda também estamos falando de danças, danças circulares que muitas vezes celebram alguma conquista coletiva de uma determinada comunidade, como, por exemplo, as quadrilhas, que festejavam as colheitas agrícolas férteis. Para Dias (1998), de mãos dadas no círculo, ou dentro dele, as crianças têm a oportunidade de exercitar sua desenvoltura, de compartilhar alegria, afeto e aprovação dos amigos. Também têm a chance de se projetar no grupo. Brincando, elas desenvolvem sua capacidade de socialização, de pensar junto, descentrar, cooperar. Ao longo da vida, a “roda” terá cenários bem mais amplos: a escola, o trabalho, a cidade, o país e a família que o adulto vier a formar (DIAS, 1998, p. 80). As cirandas infantis são brincadeiras que permitem às crianças desenvolverem noções rítmicas, linguagem verbal e corporal. Por ser uma brincadeira coletiva, as cirandas possibilitam a inclusão das diferentes crianças e adultos que convivem na mesma casa. O canto coletivo também permite experimentar a sincronia entre os pares. 120 Durante as cirandas e brincadeiras de roda, pode-se envolver familiares e crianças que toquem algum instrumento musical, se houver. Dessa maneira, a equipe do PCF poderá conhecer um pouco mais sobre as vivências e habilidades daquelas famílias e aproveitá-las no fortalecimento dos vínculos. Muitos artistas conhecidos têm se dedicado a um trabalho musical de resgate das cirandas e cantigas de roda. Um deles é o músico, cantor e compositor Hélio Zinskind. Ouça as cantigas de roda reunidas pelo artista. Você também pode levá-las para as crianças e famílias durante as visitas domiciliares. https://www.youtube.com/results?search_ query=helio+ziskind+trem +maluco+e+outras+cantigas+de+roda CONTAÇÃO DE HISTÓRIAS O mundo das histórias, sejam elas infantis ou não, traz em si uma magia que envolve leitores e ouvintes. Assim como o brincar, as histórias também possibilitam vivências imaginárias e lúdicas. Através de histórias, as crianças podem construir e reconstruir enredos a partir dos seus próprios contextos de vida. As narrativas literárias infantis envolvem os dramas e dilemas que circundam as crianças. Por meio de histórias, é possível trabalhar sentimentos como medo, raiva, angústia, saudade, alegria etc. Mas não podemos esquecer que “literatura infantil é, antes de tudo, literatura; ou melhor, é arte: fenômeno de criatividade que representa o mundo, o homem, a vida, por meio da palavra”. Nela, “fundem-se os sonhos e a vida prática, o imaginário e o real, os ideais e sua possível/impossível realização…2”. Embora esses elementos estejam presentes nas histórias, assim como o brincar e o brinquedo, elas transcendem os valores atribuídos a elas. Antes mesmo da invenção dos livros, os seres humanos já contavam histórias. A oralidade teve, e ainda tem, um papel fundamental na transmissão e difusão de histórias ao redor do mundo. Em algumas comunidades tradicionais, sobretudo comunidades indígenas e africanas, os indivíduos contadores de história detêm um poder social. Esses não são apenas transmissores de histórias, são portadores de uma sabedoria especial. Para conhecer sobre os contadores de histórias africanos e sua influência em suas comunidades, assista ao vídeo a seguir: GRIÔS: CONTADORES DE HISTÓRIAS AFRICANOS https://www.youtube.com/watch?v=ULkgjOhwI_Q 2 COELHO, 2000, p. 27 https://www.youtube.com/results?search_query=helio+ziskind+trem+maluco+e+outras+cantigas+de+roda https://www.youtube.com/results?search_query=helio+ziskind+trem+maluco+e+outras+cantigas+de+roda https://www.youtube.com/results?search_query=helio+ziskind+trem+maluco+e+outras+cantigas+de+roda https://www.youtube.com/watch?v=ULkgjOhwI_Q 121 No universo infantil, a pessoa que conta a história, seja por meio de uma simples narrativa ou usando algum recurso, tal como livros, fichas, fantoches etc, desperta nas crianças um grande fascínio. Esse mundo mágico também se configura como uma possibilidade na metodologia do PCF, sendo uma ferramenta para o uso do lúdico no fortalecimento de vínculos e no exercício da parentalidade. Em uma era na qual a tecnologia tem mediado as relações sociais e perpassado pela constituição das infâncias, propor ações que retomem o simples, profundo e real torna-se urgente. Mesmo sabendo que as histórias podem ser fictícias, o impacto que elas exercem sobre os sujeitos é real e contribuem para o seu desenvolvimento socioemocional. Com um livro e a voz, podemos nos transportar junto com as crianças para um mundo imaginário e de fantasias “onde animaisfalam, existem fadas e bruxas, gnomos e gigantes, príncipes e princesas, prontos para encenarem as mais belas, enigmáticas, surpreendentes, engraçadas, tristes, inesperadas histórias”. E as mães gestantes, podem contar histórias para seus bebês ainda na vida intrauterina? Durante as visitas domiciliares, pode-se estimular as mães gestantes a contarem histórias para os bebês antes mesmo de nascerem, pois sabemos que eles já reagem a estímulos externos, sobretudo ao som da voz materna ou familiares próximos, construindo e fortalecendo os vínculos ainda na barriga da mãe. Veja que curiosidade! A musicalidade da mãe ao conversar com o bebê é um sinal de prazer, do encantamento e da surpresa que ela sente ao falar com o filho. Ao falar com ele, explicar, contar histórias, a mãe convence o filho de que ele é um ser da comunicação, um interlocutor. A criança vai se apropriando dessa condição e se coloca nesse lugar com prazer em atuar (PAIVA, 2013). Nessa busca de fortalecimento dos vínculos, é sempre bom lembrar que, ao contar histórias para o bebê, a mãe e os familiares estão também criando “um momento de intimidade, proximidade e carinho”3. 3 DINIZ, 2013, p. 15 122 Para conhecer mais sobre a importância de contar histórias para os bebês durante a gestação, assista ao vídeo: A importância de ler para o bebê desde o útero! https://www.youtube.com/watch?v=eGE2zXB-Qz A contação de histórias pode ser feita de diversas maneiras e com diversos recursos. A seguir, apresentaremos algumas possibilidades que podem ser utilizadas pelo PCF durante suas ações. Contação de histórias apenas com a voz Quando usamos apenas a voz para contarmos histórias para as crianças, falamos que essa é uma simples narrativa. Mas não podemos confundir a simplicidade presente na oralidade com o empobrecimento das narrativas. Talvez essa “técnica” seja a mais desafiadora, pois conta apenas com a voz, suas diferentes entonações e as expressões do narrador para envolver as crianças no enredo. Durante a contação, podemos incorporar alguns elementos que irão compor a narrativa e trazer a ela mais suspense, como, por exemplo, sonorizações usando diferentes materiais, tais como tambores, chocalhos, apitos etc. Contação de histórias com livros O livro de literatura infantil, geralmente, é o objeto mais usado na contação de histórias para as crianças. Infelizmente, o mercado editorial tem publicado muitos livros inadequados para as crianças, que, na maioria das vezes, subestimam suas capacidades de interpretação e envolvimento, oferecendo https://www.youtube.com/watch?v=eGE2zXB-Qzw 123 a elas um enredo empobrecido e alienante. Tais tipos de livros tem como objetivo principal o comércio, por isso pouco se preocupam com a linguagem, a riqueza de detalhes, a construção de uma trama que envolvam as crianças e potencializam o seu imaginário. Não esperamos que, por meio dessa formação, as equipes do PCF se tornem especialistas em literatura infantil, mas que construam um olhar crítico e reflexivo sobre os livros que são oferecidos para as crianças. Contudo, neste módulo, temos a intenção de instigar os profissionais para que busquem outras possibilidades na contação de histórias para as crianças como parte da metodologia do Programa, tendo, assim, o lúdico como fio condutor. Por isso, sugerimos materiais que dão a largada nessa busca ativa. Livros que rompem com estereótipos e trazem para a cena novas formas de estar no mundo podem ser ótimas opções a serem oferecidas para as crianças. Outra orientação importante a ser considerada na escolha e na contação das histórias com livros é a qualidade e o tamanho das imagens. É importante que sejam imagens com boa resolução, que não reproduzam estereótipos sociais e que sejam vistas por todas as crianças que estão participando daquele momento. Por isso, o local em que o/ a contador/a de histórias está, bem como sua postura são aspectos fundamentais. Assim como na simples narrativa, a entonação da voz e as onomatopeias podem enriquecer ainda mais a contação de histórias, por isso, os profissionais que não possuem muita prática nessa ação podem treinar antes de contar a história para as crianças. Isso poderá contribuir para o envolvimento das crianças com a narrativa que está sendo contada. Ao contar histórias de livros, sempre faça com o livro voltado para a criança. Dê tempo de ela apreciar as imagens e use diferentes entonações de voz diante dos diálogos existentes na história. Faça os sons sugeridos no enredo, por exemplo, som de chuva, de uma pedra caindo na água, de algum animal etc. Busque contar a história interagindo com a criança. Se na casa que você estiver visitando tiver mais crianças de diferentes idades, convidem-nas para um momento de contação de histórias, convidando os familiares também. Assim, os adultos que estiverem participando serão motivados a contar histórias para as crianças em diferentes momentos do dia. Essa é uma grande possibilidade de fortalecer vínculos por meio do exercício da parentalidade. 124 Permitir que as crianças manuseiem os livros após a contação ou, até mesmo, faça o reconto são outras estratégias a serem adotadas pelos profissionais do PCF. Além de promover o contato das crianças com o livro, fato que muitas vezes é pouco experimentado por famílias em contextos de vulnerabilidade, também estimula o gosto das crianças pela leitura. Contação de histórias com diversos recursos O ato de contar histórias pode ser realizado com a utilização de diversos recursos, tais como fantoches, fichas, varetas, TV gravura, história de sombras, dentre outros. Muitas vezes, para a promoção desse tipo de contação de histórias, será necessário investir tempo na confecção desses recursos. Essa confecção deve priorizar materiais reciclados, tais como potes, garrafas, papéis etc. Também pode-se usar materiais já disponíveis em casa, como, por exemplo, copos, bonecos, lençóis etc. Além disso, esses materiais podem ser retirados da natureza e dos arredores da casa e do bairro. Nossa proposição, quanto à confecção, é que esses materiais possam ser coletados e selecionados pela equipe do PCF e também junto aos cuidadores e crianças que estão sendo visitadas. Após esse movimento, o visitador leva os materiais recolhidos para sua equipe de trabalho no Programa e, com a participação desses, confecciona os recursos para contar histórias. Ao término da produção, o visitador retorna a essa família com a história confeccionada, conta a história e, por fim, orienta o cuidador, apresentando como ele pode fazer isso, incluindo também a participação da criança na confecção. 125 História de Vareta História de Fantoche História de sombras História de Avental História de TV gravura Independentemente do recurso a ser usado, as crianças precisam ser incentivadas e estimuladas a manipular os materiais. Por isso, a confecção deve ser de qualidade e com bons acabamentos, evitando que peças se soltem enquanto as crianças estão manuseando os materiais, preservando, assim, a integridade física das mesmas. Para finalizarmos este último módulo, estamos propondo um desafio para você e sua equipe: A tarefa é escolher uma das sugestões de brincadeiras que trouxemos aqui e transformá-la em uma proposta de atividade lúdica a ser experimentada com as crianças e famílias durante as visitas domiciliares. Após essa vivência lúdica e brincante, registre como foi o momento e quais vínculos foram fortalecidos a partir dessa atividade conjunta. Elementos como a reação das pessoas ao ser proposta a brincadeira, a participação e envolvimento nas mesmas, expressões corporais realizadas durante a brincadeira, palavras ou frases ditas pelas crianças ou famílias, podem compor esse registro, que será importante para o planejamento das próximas visitas. 126 EM RESUMO Como vimos, o PCF é uma ferramenta paraque o lúdico esteja presente no cotidiano de famílias em vulnerabilidade social e seja uma importante maneira de fortalecer o vínculo entre as crianças e seus cuidadores. As brincadeiras tradicionais, o brincar livre, brincar heurístico, as cirandas e cantigas de roda e as contações de história são práticas que demandam preparo e organização por parte dos adultos que as estão propondo, porque BRINCAR É COISA SÉRIA! Nesta unidade, trouxemos para vocês importantes orientações sobre cada uma dessas práticas para que sejam experimentadas no contexto das visitas domiciliares de forma lúdica e prazerosa para as crianças e adultos. Desejamos que, a partir dos conhecimentos construídos no módulo V, o brincar e o lúdico sejam, de fato, experimentados por crianças e famílias em seus contextos. Mais do que conhecimento técnico e acadêmico, o curso voltado à formação da equipe do Programa Criança Feliz busca promover vivências brincantes que contribuam para o desenvolvimento integral e digno das crianças, além do fortalecimento dos vínculos com os seus cuidadores. Não tenha dúvida de que você se apropriando dessas estratégias e compreendendo o significado e a importância da ludicidade na vida das crianças e dos membros da família em que você está convivendo como visitador, você promoverá uma melhor qualidade de vida dessas pessoas e cumprirá com o propósito de fortalecer os vínculos familiares. 127 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS BERNARDES, Elizabeth Lannes. Jogos e brincadeiras tradicionais: um passeio pela história. In: CONGRESSO LUSO-BRASILEIRO DE HISTÓRIA DA EDUCAÇÃO. 2006. p. 542-549. BROCK, Avril; DODDS, Sylvia; JARVIS, Pam; OLUSOGA, Yinka. Brincar aprendizagem para a vida, Porto Alegre: Penso, 2011. CASCUDO, Câmara. Dicionário do folclore brasileiro. 11ª ed. São Paulo: Global, 2001. CASCUDO, Câmara. Literatura oral no Brasil. 3ª ed. São Paulo: Itatiaia, 1984. COELHO, Nelly Novaes. Literatura infantil: teoria, análise, didática. São Paulo: Editora Moderna, 2000. CRIAR E CRESCER. Brincar livre e sua importância no desenvolvimento infantil. 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Disponível em: https://www.uol.com. br/universa/noticias/redacao/2013/09/20/para-estimular-a-fala-converse-com- o-bebe-antes-mesmo-de-ele-nascer.htm. Acesso em: 10 de fev. de 2022. MEIRELLES, Darciana da Silva. Brincar Heurístico: A brincadeira livre e espontânea das crianças de 0 a 3 anos de idade. Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, 2016. https://www.youtube.com/watch?v=hjxjYYwvl-k https://www.uol.com.br/universa/noticias/redacao/2013/09/20/para-estimular-a-fala-converse-com-o-bebe-antes-mesmo-de-ele-nascer.htm https://www.uol.com.br/universa/noticias/redacao/2013/09/20/para-estimular-a-fala-converse-com-o-bebe-antes-mesmo-de-ele-nascer.htm https://www.uol.com.br/universa/noticias/redacao/2013/09/20/para-estimular-a-fala-converse-com-o-bebe-antes-mesmo-de-ele-nascer.htm 128 RODRIGUES, Adriana Aparecida et al. ESTUDOS INTERDISCIPLINARES SOBRE INFÂNCIA. Editora BAGAI, 2020. LINKS Brincando na Chuva do Rubinho do Vale? https://www.youtube.com/ watch?v=ZzOZWAxwlZE&list=PLYs55juPrjZw9u3VNskPywJs92JrwdEtp&index=2 A importância do brincar livre | Encontro Criança e Natureza - Goiânia https://www.youtube.com/watch?v=TfSNaNpFXZk Brinquedos heurísticos: incentivo acessível para o brincar natural https://napracinha.com.br/2016/12/brinquedos-heuristicos-incentivo-acessivel- para-o-brincar-natural/ Brincar Heuristico, o que é isso? - CEI Encantada https://www.youtube.com/watch?v=o-88SjIwqwA https://www.todamateria.com.br/cantigas-de-roda/ Helio Ziskind https://www.youtube.com/results?search_ query=helio+ziskind+trem+maluco+e+outras+cantigas+de+roda GRIÔS: CONTADORES DE HISTÓRIAS AFRICANOS https://www.youtube.com/watch?v=ULkgjOhwI_Q A importância de ler para o bebê desde o útero! https://www.youtube.com/watch?v=eGE2zXB-Qzw https://www.youtube.com/watch?v=ZzOZWAxwlZE&list=PLYs55juPrjZw9u3VNskPywJs92JrwdEtp&index=2 https://www.youtube.com/watch?v=ZzOZWAxwlZE&list=PLYs55juPrjZw9u3VNskPywJs92JrwdEtp&index=2 https://www.youtube.com/watch?v=TfSNaNpFXZk https://napracinha.com.br/2016/12/brinquedos-heuristicos-incentivo-acessivel-para-o-brincar-natural/ https://napracinha.com.br/2016/12/brinquedos-heuristicos-incentivo-acessivel-para-o-brincar-natural/ https://www.youtube.com/watch?v=o-88SjIwqwA https://www.todamateria.com.br/cantigas-de-roda/ https://www.youtube.com/results?search_query=helio+ziskind+trem+maluco+e+outras+cantigas+de+roda https://www.youtube.com/results?search_query=helio+ziskind+trem+maluco+e+outras+cantigas+de+roda https://www.youtube.com/watch?v=ULkgjOhwI_Q https://www.youtube.com/watch?v=eGE2zXB-Qzw MINISTÉRIO DA CIDADANIA Ministro da Cidadania Ronaldo Vieira Bento Secretaria Executiva Luiz Galvão Secretaria de Avaliação e Gestão da Informação Marcelo Narvaes Fiadeiro Departamento de Formação e Disseminação Bruno Baranda Cardoso Coordenação-Geral de Disseminação: Cícero Araújo de Sousa Júnior Equipe técnica: Helbert de Sousa Arruda Graciele França Suemori Gustavo Vellozo Barreira Milena Fernanda de Souza Tarcísio da Silva Pinto Secretaria Especial de Desenvolvimento Social Robson Tuma Secretaria Nacional de Atenção à Primeira Infância Luciana Siqueira Lira de Miranda Departamento de Atenção à Primeira Infância – DAPI Leonardo Milhomem Rezende Coordenação-Geral de Formação e Disseminação – CGFD Cleidionice Gonçalves Ferreira Vanessa Alessandra Cavalcanti Peixoto Queiroz Equipe técnica: Luciana Maria Dias Mota UNIVERSIDADE FEDERAL DE VIÇOSA Coordenação: Marcelo José Braga – Instituto de Políticas Públicas e Desenvolvimento Sustentável (IPPDS/UFV) Suporte técnico: Lívia Aladim Matosinhos – Departamento de Administração e Contabilidade (DAD/UFV) Samuel Brauer Nascimento – Instituto de Políticas Públicas e Desenvolvimento Sustentável (IPPDS/UFV) Elaboração de conteúdo: Naise Valéria Guimarães Neves – Departamento de Economia Doméstica/ Curso de Educação Infantil (DED/EIN/UFV) Ana Louricélia Chagas Monteiro – Laboratório de Desenvolvimento Humano (LDH/EIN/DED/UFV) Priscila Daniele Ladeira – Departamento de Economia Doméstica/Curso de Educação Infantil (DED/EIN/UFV) Camila Botelho Gusmão – Departamento de Economia Doméstica/Curso de Serviço Social (DED/SES/UFV) Ester Augusto Cordeiro – Departamento de Economia Doméstica/Curso de Serviço Social (DED/SES/UFV) Juliana Monteiro Alves – Departamento de Economia Doméstica/Curso de Educação Infantil (DED/EIN/UFV) Revisão de vernáculo: Juliano Pires Projeto Gráfico e Diagramação: Déborah Médice Silva – Instituto de Políticas Públicas e Desenvolvimento Sustentável (IPPDS/UFV) Ilustração: Elisa Vieira Martins – Coordenadoria de Educação Aberta e a Distância (CEAD/UFV) © 2022 Ministério da Cidadania. Todos os direitos reservados. É permitida a reprodução parcial ou total desta obra, desde que citada a fonte e que não seja para venda ou qualquer fim comercial. A responsabilidade pelos direitos autorais de textos e imagens desta obra é da área técnica. Esplanada dos Ministérios MINISTÉRIO DA CIDADANIA GOVERNO FEDERAL Apostila Programa CriançaFeliz Significado dosícones da apostila Sumário Apresentação e Guia de Estudos da Unidade I Aula Narrada 1:Conhecendo os MarcosLegais da Primeira Infância 1.1. A Lei N. 13.257/2016: 1.2. A Portaria Interministerial N. 1/20182 1.3. Como Surge o Programa Criança Feliz: 1.4. Objetivos e Ações do PCF : 1.5. Decreto N. 9.855/2019: 1.6. A Portaria N. 664/2021: REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS Apresentação e Guia de Estudos da Unidade II e III Aula Narrada 2:Educação Permanente 1.1. O que é Educação Permanente 1.1.1. Importância da Educação Permanente para os profissionais do PCF e demais gestores que trabalham com a temática da primeira infância 1.2. Educação Permanente x Continuada naPrimeira Infância 1.3. Relação da Educação Permanente e aprática cotidiana na promoção dodesenvolvimento infantil. Aula Narrada 3:Políticas Públicas e Sociais 2.1. O que são Políticas Públicas e qual aimportância das Políticas Públicas e PolíticasSociais para a garantia de direitos 2.2. Direito das crianças e diálogocom Programa Criança Feliz 2.3. Políticas Públicas Intersetoriais eo Programa Criança Feliz 2.4. O Programa Criança Feliz e sua inserção como Política Social, considerando as especificidadesda proteção social no Brasil REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS Apresentação e Guia de Estudos da Unidade IV, V e VI Aula Narrada 4:As diversidades brasileiras 4.1. Diversidades da formação social e econômica brasileira. 4.2. Variedades regionais e culturais do Brasil 4.3. A política social e a apreensão das territorialidades e regionalidades 4.4. O Programa Criança Feliz e sua inserção nos territórios diversos5 Aula Narrada 5:As Diversidades das Famílias Brasileiras 5.1. A composição das famílias brasileiras atualmente 5.2. Famílias extensas e famílias monoparentais 5.3. Quem são os cuidadores das crianças nas famílias brasileiras Aula Narrada 6:O Desenvolvimento Infantil e as Diversidades das Infâncias Brasileiras 6.1. Importância do desenvolvimento infantil para a quebra intergeracional da pobreza 6.2. Os aspectos diversos das infâncias brasileiras 6.3. O papel das cuidadoras e dos cuidadores na promoção do desenvolvimento infantil REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS Apresentação e Guia de Estudos da Unidade VII Aula Narrada 7:Ações de Articulação para a Efetividade do PCF e do Desenvolvimento Infantil1 7.1. O papel das políticas sociais para garantir a intersetorialidade na promoção do desenvolvimento infantil 7.2. As ações intersetoriais para a Primeira Infância 7.3. Envolvimento dos diversos atores para garantir a intersetorialidade das políticas sociais voltadas à Primeira Infância e a intersetorialidade dentro do Programa Criança Feliz 7.4. Contribuição do PCF para o fortalecimento da Primeira Infância REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS Apresentação e Guia de Estudos da Unidade VIII e IX Aula Narrada 8:O brincar como estratégia para o desenvolvimento infantil e o fortalecimento de vínculos familiares 8.1. O brincar na primeira infância 8.2 A importância do brincar para o resgate cultural 8.3 O adulto brincante e sua importância para o fortalecimento de vínculos com as crianças 8.4 Integração de novas formas de brincar como processo de aprendizagem REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS Aula Narrada 9:Propostas de atividades lúdicas comoestratégia para o desenvolvimento infantil eo fortalecimento de vínculos familiares 9.1 A metodologia do PCF como ferramenta para o uso do lúdico no fortalecimento de vínculos e no exercício da parentalidade REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS