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A SÍNDROME DE ESTOCOLMO ANTE A VIOLAÇÃO SEXUAL INFANTIL 
CONTINUADA POR INCESTO OU INDIFERENÇA COM FAMILIARES DE 
PRIMEIRO E SEGUNDO GRAU1 
 
STOCKHOLM SYNDROME BEFORE CONTINUING CHILD SEXUAL 
VIOLATION BY INCEST OR INDIFFERENCE WITH FIRST AND SECOND 
DEGREE FAMILY 
 
Rafael Alexandre Martins2 
Mônica Welchen Siqueira3 
 
RESUMO 
Diante do atual prisma de violação sexual infantil diária, o presente artigo discute o aumento 
dos casos de violação sexual infantil, perpetrado por familiares de 1° e 2° grau, bem como, 
analisa a possibilidade de existência do estado de síndrome que a vítima de tais abusos pode vir 
a desenvolver, em razão do constante estado de abuso sofrido e indiferença apresentado por sua 
genitora ou responsável. É notória a relevância social do assunto e o ingresso da necessidade 
de políticas públicas, no sentido de conscientizar e prevenir a violência sexual infantil. 
Outrossim, preliminarmente, já é possível levantar que a síndrome de Estocolmo pode sim, ser 
diagnosticada nas vítimas que sofrem de violação sexual, em especial a violação sexual infantil, 
tendo em vista, a suscetibilidade do infante, a indução e a coerção psicológica do qual esse, se 
torna suscetível quando colocado em situações de extrema vulnerabilidade. Por fim, é sabida 
que, o assunto violência sexual infantil, no âmbito do seio familiar, ainda se encontra sendo 
amplamente negligenciado, pois, é costumeiramente ignorado ou refutado pelas famílias 
brasileiras, tendo até mesmo se tornado um tabu, conforme é possível verificar atualmente, 
normalmente quando a criança passa por esta violação, ela é refutada e se sente desamparada 
perante a própria família, motivo pelo qual, o debate e o estudo acerca de tal assunto é tão 
relevante. 
Palavras-chave: Criança e adolescente. Incesto Familiar. Síndrome de Estocolmo. Violência 
sexual infantil. 
 
ABSTRACT 
In view of the current prism of daily child sexual violation, this article discusses the increase in 
cases of child sexual violation, perpetrated by family members of the 1st and 2nd degree, as 
well as analyzing the possibility of the existence of the syndrome state that the victim of such 
abuses may develop, due to the constant state of abuse suffered and indifference shown by their 
mother or guardian. The social relevance of the subject and the need for public policies to raise 
awareness and prevent child sexual violence are well known. Furthermore, preliminarily, it is 
already possible to say that Stockholm syndrome can indeed be diagnosed in victims who suffer 
from rape, in particular child sexual rape, in view of the infant's susceptibility, the induction 
 
1 Trabalho orientado pela Professora Me. Aline Pires de Souza Machado de Castilhos. 
2 Acadêmico de direito da UNIFTEC. E-mail: rafaelnovomartins@gmail.com. 
3 Acadêmica de direito da UNIFTEC. E-mail: monicawelchens@gmail.com. 
and psychological coercion of which this one becomes susceptible when placed in situations of 
extreme vulnerability. Finally, it is known that the subject sexual violence against children, 
within the family environment, is still being largely neglected, as it is usually ignored or refuted 
by Brazilian families, having even become a taboo, as it is possible to verify today. Normally 
when the child goes through this violation, he is refuted and feels helpless before his own 
family, which is why the debate and study on this subject is so relevant. 
Keywords: Child and adolescent. Family Incest. Stockholm syndrome. Child sexual violence. 
 
INTRODUÇÃO 
Ao longo dos últimos dois séculos, tivemos uma série de descobertas, mudanças e 
alterações que nos trouxeram e ainda nos trazem uma série de incógnitas. Um exemplo é a 
constante discussão que se formula acerca da evolução tecnológica e seus reflexos sociais, 
porém todas estas mudanças, nos “obrigam” a rediscutir a organização social e costumeira de 
nossa sociedade. Diante deste prisma a presente obra visa discutir as alterações 
psicossociologias e familiares que ocorrem em razão do abuso familiar infantil. 
Deste modo, o problema de pesquisa consiste em encontrar uma resposta e/ou ligação 
da síndrome de Estocolmo com os casos de violação sexual infantil continuada por familiares 
em famílias com tendências incestuosas e indiferentes, bem como, compreender os principais 
reflexos cognitivos na mente da vítima. 
O objeto a ser estudado busca compreender a violação e a indiferença psicológica e 
fática expressa através de atos incestuosos no âmbito familiar de 1° e 2° grau. 
A partir disso, trazemos como objeto geral, a compreensão dos motivadores condicionantes e 
estressores específicos que proporcionam a indiferença e a tendência ao abuso sexual infantil, 
normalmente cometido no seio familiar, buscamos ainda, desvelar a repercussão social de tais 
atos libidinosos quando repercutidos, bem como, a exploração do total ou parcial consentimento 
do ato por parte da vítima. 
Optou-se neste projeto pela análise de caráter qualitativo, consistente em pesquisa 
bibliográfica e coleta de dados a partir de artigos, livros e revistas científicas para ser utilizado 
como citações, realizando pesquisas na rede mundial de computadores e a pesquisa descritiva, 
permeada de uma análise minuciosa do presente estudo, o mesmo baseou-se na análise da 
bibliografia proposta no sentido de selecionar conceitos que trouxessem ao texto um melhor 
argumento no que se refere a crescente violação sexual incestuosa nos seios familiares 
brasileiros. 
Importa ressaltar que, ao decorrer do desenvolvimento histórico social, ocorreram 
mudanças drásticas quanto a caracterização do indivíduo infanto juvenil, tendo como divisor 
de fases, majoritariamente, o desenvolvimento do ensino pedagógico. 
Diante disso, torna-se notória a alusão a tal concepção histórica pois, conforme é 
cediço, a sociedade atual, ainda expressa muitos reflexos de seus antecessores. Assim, 
permanecendo, claros resquícios de seus costumes familiares, óbvio que não há de falar em 
igualdade social entre séculos diferentes, porém, existem condutas sociais que se mantém, a 
exemplo, o patriarcado4. 
 
1 A CONSTRUÇÃO FAMILIAR E O INCESTO INTRAFAMILIAR 
No decorrer da evolução histórica cultural da família, é possível verificar que seus 
conceitos e práticas sociais eram divergentes em determinadas épocas e diferentes entre si, com 
fator determinante a partir da linhagem sanguínea e da classe social a qual pertenciam. 
No tocante especialmente as famílias reais, havia comumente, a prática do incesto 
como forma de continuar sua linhagem real, através da consanguinidade. Estudos recentes 
comprovam que tal costume proporcionou diversas deformidades faciais nas gerações reais nos 
séculos passados. (ANSEDE, MANUEL; 2019). 
Diante de tais informações, se aclara o panorama de abominação ao ato de incesto, 
entendimento que por si só, não inibe que tal ato ocorra dentro do seio familiar atualmente, 
principalmente diante das mudanças familiares e tecnológicas ocorridas, tendo sido a família, 
objeto de diversas discussões não somente legislativas, mas também religiosas pois, em tese, a 
sociedade entende a família como um ambiente de segurança, costumes e regras, porém, no que 
tange a essa instituição, ela não resta inviolável, tendo em vista, a atual situação criminal 
brasileira e as constantes mudanças tecnológicas, as quais, os pais ainda possuem dificuldades 
em se readequar, conforme a velocidade a qual ocorrem. 
Por derradeiro, se faz necessário diferenciar a violação sexual infantil do incesto 
familiar, conforme cita LIBÓRIO, COIMBRA, MARIA, Renata; CASTRO, DE MONTEIRO, 
Bernardo; 20105: 
Mesmo considerando que para a justiça não exista a categoria incesto como tipificada 
na lei, torna-se fundamental que profissionais que atuam na área social e da saúde, 
 
4 Patriarcado é um sistema social em que homens mantêm o poder primário e predominamem funções de liderança 
política, autoridade moral, privilégio social e controle das propriedades. No domínio da família, o pai mantém a 
autoridade sobre as mulheres e as crianças. 
5 LIBÓRIO, COIMBRA, MARIA, Renata; CASTRO, DE MONTEIRO, Bernardo; ABUSO, EXPLORAÇÃO 
SEXUAL E PEDOFILIA: AS INTRINCADAS RELAÇÕES ENTRE OS CONCEITOS E O 
ENFRENTAMENTO DA VIOLÊNCIA SEXUAL CONTRA CRIANÇAS E ADOLESCENTES. 2010. 
Acesso em: 26/06/2022. 
compreendam as suas diferenças, pois suas formas de intervenção podem ser distintas, 
levando-se em consideração o perpetrador do abuso sexual e/ou incesto e algumas 
características específicas na qualidade das relações entre agressor e sujeito vitimizado. 
Segundo Vasconcelos (2009, p. 46) a palavra incesto deriva de incestum, cujo significado 
nos remete a algo impuro, sujo, não casto, cujas transformações na língua confundiram 
termo castus com cassus, associado com “vazio”, contribuindo para a consolidação do 
termo incesto com “a quem nada falta”. Eva Faleiros (2000): “Repensando os conceitos 
de violência, abuso e exploração sexual de crianças e adolescentes”, Brasília, Thesaurus. A 
palavra abuso deriva de abusus, cujo prefixo “ab” indica tanto privação como excesso, 
e “usu” associa-se ao “aproveitamento de algo, conforme seu destino” (Vasconcelos, 
2009, p. 46). Em decorrência desse significado a palavra abuso, do ponto de vista 
jurídico, relaciona-se com aproveitar-se de alguém temporariamente ou de coisas 
alheias. (grifei) 
 
Ainda neste liame, é necessário frisar que, o incesto caracteriza violência sexual ou ato 
sexual, cometido por consanguíneo ou por pessoa socioafetiva, (Ex: padrasto/madrasta), porém, 
nem toda violência sexual é perpetuada sobre o prisma de incesto, pois nem sempre o abusador 
é parente da vítima. 
 
2 DO PROBLEMA E DO PANORAMA ATUAL 
No contexto explanado anteriormente, surge, contemporaneamente, o panorama social 
atual, do qual, traz o abuso sexual infantil intrafamiliar, como um dos principais atos tipificados 
criminalmente a ser debatido na atualidade. Conforme o último censo apresentado pelo Anuário 
Brasileiro de Segurança Pública, no ano de 2022, cita que6: 
No ano de 2019, 53,8% desta violência era contra meninas com menos de 13 anos. Esse 
número sobe para 57,9% em 2020 e 58,8% em 2021. [...] Quanto à característica do 
criminoso, esta continua a mesma: homem (95,4%) e conhecido da vítima (82,5%), sendo 
que 40,8% eram pais ou padrastos; 37,2% irmãos, primos ou outro parente e 8,7% avós. 
(grifei) 
 
O que demonstra que no decorrer dos últimos anos tivemos e ainda temos, um 
gravíssimo panorama nacional de violações sexuais infantis, cometidas por entes familiares ou 
por indivíduos com grande laço afetivo com o infante. Precisamos ainda aclarar, o que pode ser 
conceituado como violência sexual infantil, conforme cita Baptista PE, Santos JL, Leal ML, 
Gonçalves PB, Monteiro AC, Refrande SM; 20217: 
A Violência Sexual Infantil é toda ação que se utiliza a criança e adolescente para fins 
sexuais do perpetrador ou de terceiros, ou seja, essa estimulação pode ser sem toque 
através de fotos, pornografia, exibicionismo, assédio sexual, assim como ser realizada 
através de carícias, toques, sadismo, penetração ou sexo oral. Também inclui a corrupção 
 
6 TEMER, Luciana; VIOLÊNCIA SEXUAL INFANTIL, OS DADOS ESTÃO AQUI, PARA QUEM 
QUISER VER. 2022. Disponível em: 14-anuario-2022-violencia-sexual-infantil-os-dados-estao-aqui-para-quem-
quiser-ver.pdf (forumseguranca.org.br). Acesso em: 14/09/2022. 
7 BAPTISTA ELLEN, Princy; SANTOS LIMA DE, Juciara; LEAL LIMA, LUCAS Melina; GONÇALVES, 
PACHECO, SOBRINHO, BRAGA, Pâmela; MONTEIRO, MOREIRA, CLÁUDIA, Ana; REFRANDE, MARIA 
Sueli; ASSISTÊNCIA DE ENFERMAGEM À CRIANÇA E ADOLESCENTE EM SITUAÇÃO DE 
VIOLÊNCIA SEXUAL. Rev Soc Bras Enferm Ped. 2021. pág. 7-8. Acesso em: 26/06/2022. 
https://forumseguranca.org.br/wp-content/uploads/2022/07/14-anuario-2022-violencia-sexual-infantil-os-dados-estao-aqui-para-quem-quiser-ver.pdf
https://forumseguranca.org.br/wp-content/uploads/2022/07/14-anuario-2022-violencia-sexual-infantil-os-dados-estao-aqui-para-quem-quiser-ver.pdf
de menores, exploração sexual, o atentado violento ao pudor e o estupro. É uma experiência 
que é capaz de ocasionar sequelas físicas e, principalmente, psicológicas. (grifei) 
 
Deste modo, o abuso sexual contra crianças e adolescentes tem sido considerado um 
grave problema de saúde pública, devido aos altos índices de incidência e às sérias 
consequências para o desenvolvimento cognitivo, afetivo e social da vítima e de sua família 
(Gonçalves & Ferreira, 2002; Habigzang & Caminha, 2004; Osofsky, 1995). 
Sendo perceptível que, a violação sexual à criança e ao adolescente, majoritariamente ocorrem 
no seio familiar ou, também, por pessoas próximas afetivamente do infante. 
 
3 A SÍNDROME DE ESTOCOLMO E A VIOLAÇÃO SEXUAL INFANTIL: A PARTIR 
DE QUAL MOMENTO, A VIOLAÇÃO SE TORNA “NECESSIDADE”? 
Para que possamos compreender os motivos dos quais o silêncio comumente reverbera 
nestes crimes, se faz imprescindível compreender o conceito da Síndrome de Estocolmo pois, 
conforme veremos ao decorrer do presente estudo, existe uma série de questões cognitivas que 
precisam ser minuciosamente analisadas quando falamos de abuso sexual infantil, 
principalmente, no que tange ao abuso sexual infantil intrafamiliar. 
Desta forma, conforme cita RIBEIRO, RODRIGUES, LETICIA, Lilian; 2017: “A 
Síndrome de Estocolmo é um estado psicológico no qual vítimas de sequestro ou pessoas 
detidas contra sua vontade desenvolvem um relacionamento afetivo com seu(s) raptor(es), 
não necessariamente envolvendo intercurso sexual.” (grifei). 
Tal compreensão, passou a ser estudada a partir do assalto ao Banco em Estocolmo, 
neste sentido, tal fenômeno é descrito como paradoxal, pela autora MARTINES, RIZO, 
ESTER, Lucía8: 
El síndrome de Estocolmo es un término utilizado por primera vez en Suecia en 1973 por 
Nils Bejerot para describir un fenómeno paradójico de vinculación afectiva entre los rehenes 
y sus captores en el transcurso de un asalto a un banco en Estocolmo (Gordon, 2005; Wong, 
2005). A partir de este hecho, ha habido muchos intentos de interpretar, caracterizar y 
describir este término. Las aportaciones internacionales son variadas, existiendo por un lado 
autores que lo cuestionan, considerándolo como una conducta no generalizada ni 
generalizable (Ballús, 2002) o quizá un mito (Namnyak et al., 2007), hasta autores que lo 
consideran como una valiosa aportación para la explicación de conductas y actitudes de 
víctimas hacia sus agresores (Jülich, 2005) o incluso como un término que, como teoría, 
ayuda a dar sentido a hechos, alentar la investigación y predecir de alguna manera el 
comportamiento futuro, lo cual impactará también en el descubrimiento de formas de mejorar 
ciertas situaciones (Graham, Rawlings y Rigsby, 1994). 
 
8 MARTINEZ, RIZO, ESTER, Lucía. EL SÍNDROME DE ESTOCOLMO: UNA REVISIÓN 
SISTEMÁTICA. Clínica y Salud, Madrid, v. 29, n. 2, p. 81-88. 2018. Disponível em: 
http://scielo.isciii.es/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1130-52742018000200081&lng=es&nrm=iso. Acesso 
em: 25/09/2022. 
 
Mesmo sendo a Síndrome de Estocolmo, conhecida no meio acadêmico e já 
relacionada a situações de extremo “estresse” flexionada por pequenos atos de “benevolência” 
por parte do agressor, tais concepções constantemente estão ligados a ações especificas, como 
assaltos, sequestros e cárcere privado. 
Porém conforme estudos, se faz, cada vez mais nítido que a síndrome de Estocolmo, 
pode ocorrer, em toda situação de agressão e violência que vier a cultivar, durante determinado 
período ou situação a flexibilidade entre violência e “compaixão, tal concepção é tão 
contemporânea e pouco explorada que inclusive o Supremo tribunal de federal brasileiro, citou 
os estudos neurológicos na ADIn 4.424, que votava sobre a natureza incondicionada ou nãoda 
ação penal de lesão corporal em casos de violência contra a mulher. No julgamento a ministra 
Carmen Lucia9 citou: 
O que Vossa Excelência acaba de dizer, que está na linha do que o Ministro Marco Aurélio 
enfatizou no seu brilhante voto, diz respeito exatamente à condição que foi estudada como 
“Síndrome de Estocolmo”. É o que ocorre nos sequestros nos quais o refém, num dado 
momento, acredita que a vida dele depende tanto do sequestrador que chega a imaginar que 
gosta do sequestrador... E, essa síndrome - que é estudada só para os casos de sequestro 
-, hoje, eu leio na neurociência, também se aplica às mulheres que sofrem, durante 
muito tempo. É que as pessoas que, todos os dias, foram aquebrantadas, mutiladas, 
enfraquecidas e que têm medo, começam a achar que a vida delas depende daqueles 
que, pelo menos, as deixam sobreviver! (grifei) 
 
Tal citação da ministra é importante pois, o ato que viola sexualmente a criança, 
principalmente quando manejada por pais e padrastos, comumente é perpetrado por vasto 
período, e acobertado por um implícito silêncio, adquirido através de pressões psicológicas, 
agressões e ameaças ou ainda perpetrado sob um prisma de constante representação da 
necessidade dos entes familiares acerca do sustento que o abusador traz a entidade familiar do 
qual a criança abusada convive. 
Tal situação corrobora para a concretização das características mais comuns, para a 
ocorrência do estado sindrômico, conforme bem cita MARTINEZ, RIZO, ESTER, Lucía:10 
encontraron 4 características comunes en diferentes casos de personas que desarrollaron el 
síndrome: 1) cada víctima experimentó amenazas directas, 2) la víctima se mantuvo aislada, 
3) tuvo la oportunidad de escapar durante el cautiverio pero no lo hizo y 4) mostró simpatía 
hacia sus captores posterior a la captura. 
 
 
9 BRASIL, STF - ADIn 4.424 - Tribunal Pleno - j. 9/2/2012 - julgado por Marco Aurélio Mendes de Farias Mello 
- DJe 1/8/2014 - Área do Direito: Penal. AÇÃO PENAL – VIOLÊNCIA DOMÉSTICA CONTRA A 
MULHER – LESÃO CORPORAL – NATUREZA. A ação penal relativa a lesão corporal resultante de violência 
doméstica contra a mulher é pública incondicionada – considerações. Acesso em: 14/09/2022. 
10 MARTINEZ, RIZO, ESTER, Lucía. EL SÍNDROME DE ESTOCOLMO: UNA REVISIÓN 
SISTEMÁTICA. Clínica y Salud, Madrid, v. 29, n. 2, p. 81-88. 2018. Disponível em: 
http://scielo.isciii.es/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1130-52742018000200081&lng=es&nrm=iso. Acesso 
em: 25/09/2022. 
Ademais, as violações sexuais infantis, ocorrem corriqueiramente no período de 
desenvolvimento socioafetivo da criança, muitas vezes, ocorrendo antes do desenvolvimento 
sexual, que ocorre por volta, da idade pré-pubertária11. Conforme bem explanado por 
HABIGZANG, F. Luísa; KOLLER, H. Sílvia; AZEVEDO, AZEN, Gabriela; MACHADO, 
XAVIER, Paula12: 
As crianças e adolescentes vítimas de abuso sexual eram, na maioria dos casos, do sexo 
feminino (80,9%), enquanto apenas 19,1% das vítimas eram do sexo masculino. A idade de 
início dos abusos concentrou-se em três faixas etárias, sendo que 10,6% das crianças 
apresentavam idade entre 2 e 5 anos, 36,2% destas tinham entre 5 e 10 anos e 19,1% 
tinham entre 10 e 12 anos. A maioria das crianças (26,6%) frequentava o ensino 
fundamental no início das agressões. A idade da denúncia concentrou-se na adolescência, 
uma vez que 42,6% apresentavam idade entre 12 e 18 anos quando a situação abusiva 
foi delatada. Os demais casos foram denunciados quando a vítima tinha entre 1 e 5 anos 
(14,9%), 5 a 10 anos (20,2%) e 10 a 12 (22,3%). (grifo nosso) 
 
Neste prisma, levando em consideração a fase da qual a criança/adolescente se 
encontra, essa estará mais apta ou menos apta a desenvolver direta ou indiretamente uma 
espécie de Síndrome de Estocolmo para com seu abusador, que por muitas vezes será, seu pai, 
irmão, padrasto, ou outra pessoa consanguínea ou com forte laço afetivo com a vítima. 
Tal aproximação entre o abusado e sua vítima, quando ocorre na forma supracitada, 
tem certa facilidade para desenvolver a síndrome pois, o abusador, por muito se utiliza de 
“barganhas” e/ou chantagens para obter a sua vantagem sexual, tal ação, se mantida a longo 
prazo, pode trazer danos irreparáveis ou dificilmente reparáveis a vítima, dentre estes reflexos, 
se destaca a prevalência de introdução do violado a prostituição, quando este for adulto, ou o 
ingresso prematuro do menor no que tange o consumo de álcool e drogas. Como bem cita 
HABIGZANG, F. Luísa; KOLLER, H. Sílvia; AZEVEDO, AZEN, Gabriela; MACHADO, 
XAVIER, Paula, in verbis13: 
O uso de álcool e de outras drogas pelas vítimas foi outro fator mapeado. Quanto ao uso 
de álcool foi constatado que em 3,2% dos casos apresentavam este comportamento, enquanto 
em relação ao uso de outras drogas foi verificado que em 11,7% dos casos já haviam utilizado 
algum tipo de droga. Entre as drogas utilizadas, as mais frequentes foram loló (27,3%), 
maconha (27,3%) e cola (18,2%). Os problemas identificados nestes casos foram, 
principalmente, mentais e psicológicos (33,3%), problemas respiratórios (27,8%), 
problemas decorrentes de negligência com a higiene (16,7%), problemas viróticos ou 
bacteriológicos (11,1%), HIV (11,1%) e congênitos (11,1%). Estes resultados corroboram 
os estudos sobre o impacto negativo do abuso sexual para o desenvolvimento cognitivo, 
 
11 A sexualidade pré-pubertária: Entre os 0 e os 10-12 anos. Os modelos de identificação ou imitação também 
surgem nesta fase, os problemas relativos ao ciúme (em que a criança não compreende nem aceita uma possível 
partilha das figuras de apego – a aparecimento do Complexo de Caim e Complexo de Édipo). 
12 HABIGZANG, F. Luísa; KOLLER, H. Sílvia; AZEVEDO, AZEN, Gabriela; MACHADO, XAVIER, Paula. 
ABUSO SEXUAL INFANTIL E DINÂMICA FAMILIAR: ASPECTOS OBSERVADOS EM PROCESSOS 
JURÍDICOS. 2005. Acesso em: 06/08/2022. 
13 HABIGZANG, F. Luísa; KOLLER, H. Sílvia; AZEVEDO, AZEN, Gabriela; MACHADO, XAVIER, Paula. 
ABUSO SEXUAL INFANTIL E DINÂMICA FAMILIAR: ASPECTOS OBSERVADOS EM PROCESSOS 
JURÍDICOS. 2005. Acesso em: 06/08/2022. 
afetivo e social de crianças e de adolescentes. As vítimas frequentemente desenvolvem 
sintomas psiquiátricos, bem como apresentam alterações comportamentais que incluem 
delinquência e drogadição (Cohen & cols., 2001; Edwards, Anda, Nordenberg, Felitti, 
Williamson & Wright, 2001; Rouyer, 1997). (grifo nosso) 
 
Neste sentido, ainda bem pontua a psicanalista SAMPAIO, Cláudia; 2019:14 
A criança abusada pode ser facilmente levada à prostituição, pois, seu psiquismo atrela 
seu valor como sujeito unicamente ao ato sexual. Esse sujeito tem sua integridade 
psíquica lesada, a formação da personalidade é incompleta e possui uma autoestima 
rebaixada. Todos esses fatores levam à suscetibilidade para qualquer tipo de 
exploração. A experiência de cumplicidade e obediência ao abusador é outro elemento que 
a torna vulnerável à prostituição. Na maioria dos casos, na vida adulta, a mulher não consegue 
identificar que está sendo abusada. (grifei) 
 
Tal violação, não somente traz malefícios psicológicos, porém também sociais à 
vítima, tendo em vista que, em determinadas circunstâncias, caso o abuso ocorra de forma 
incestuosa e por um período longo, em uma comunidade de população pequena, ou caso ocorra 
a repercussão jornalística do abuso, a criança/adolescente não somente será violada pelo 
abusador, que normalmente é pessoa próxima, mas também, muitas vezes, será julgada perante 
a sociedade. Sendo assim, duplamente vitimizada. 
Os autores ainda afirmam o que é o abuso sexual e como se manifesta o ato incestuoso: 
Abuso sexual é qualquer relacionamento interpessoal no qual a sexualidade é veiculada 
sem o consentimento válido de uma das pessoas envolvidas, implicando em violência 
psicológica, social e/ou física. [...] Com relação ao incesto, Cohen e Gobbetti AZX (1998, 
p. 235-243) explicam queeste se manifesta por meio do relacionamento sexual entre 
indivíduos que são membros de uma mesma família (com exceção dos cônjuges). A 
concepção dos autores em relação à família não se caracteriza apenas pela consanguinidade 
ou afinidade, mas especialmente pela função social de parentesco, exercida pelas pessoas no 
interior do grupo familiar. (grifei) 
 
Ainda tratando a complexidade do tema, precisamos absorver o conceito da síndrome 
de Estocolmo e estudar a forma como a criança e o adolescente desenvolvem sua parte moral e 
ética, pois, caso a criança e/ou o adolescente venha a ser submetida ao abuso sexual, a resposta 
psicológica social desta, poderá e provavelmente irá mudar. 
Por este motivo, se faz tão importante a discussão acerca do tema, e a compreensão da 
ligação entre a síndrome de Estocolmo e a violação sexual infantil, no seio familiar. Pois, como 
é cediço, durante o período infanto juvenil, ocorre uma série de mudanças psicológicas, éticas, 
sociais e sexuais, deste modo, este período é extremamente importante para a construção e 
desenvolvimento da personalidade ético e moral do infante. 
Neste contexto, se faz imprescindível cruzarmos a conjuntura da síndrome de 
Estocolmo para explicar e/ou entender o motivo do porquê é tão difícil diagnosticar ou, perceber 
 
14 SAMPAIO, Cláudia; RELAÇÃO ENTRE ABUSO SEXUAL E PROSTITUIÇÃO SOB UM OLHAR 
PSICANALÍTICO. 2019. Disponível em: https://www.sinpesp.com.br/post/relação-entre-abuso-sexual-e-
prostituição-sob-um-olhar-psicanalítico. Acesso em: 26/06/2022. 
https://www.sinpesp.com.br/post/rela%C3%A7%C3%A3o-entre-abuso-sexual-e-prostitui%C3%A7%C3%A3o-sob-um-olhar-psicanal%C3%ADtico
https://www.sinpesp.com.br/post/rela%C3%A7%C3%A3o-entre-abuso-sexual-e-prostitui%C3%A7%C3%A3o-sob-um-olhar-psicanal%C3%ADtico
a violação sexual infantil em casos incestuosos, ou onde existe a indiferença15 familiar, 
referente ao abuso sofrido para com o menor. 
Conforme já amplamente destacado, na maioria dos casos, o abuso sexual se permeia 
dentro do seio familiar, tal informação, demonstra que a confidencialidade se mantém, pois, o 
abusador utiliza-se de mecanismos muitas vezes paternais e psicossociais, para manter a vítima 
sob o seu controle físico e psicológico. Tal controle, pode pôr muito a ser obtido, do indireto 
aproveitamento do crescimento psicossocial da criança ou adolescente violado. 
O problema que se encontra nesta conjuntura, é que ao cometer o ato libidinoso, seja ele carnal 
ou não, a criança/adolescente torna-se suscetível a uma forma de submissão, semelhante a 
encontrada nos indivíduos vítimas da síndrome de Estocolmo, pois, pode o infante vítima de 
violência sexual paternal ou familiar, substituir a sua compreensão de afeto e carinho familiar, 
por uma sensação de obrigação de realizar fisicamente o abusador, tendo em vista que este, 
pode muitas vezes “justificar” a violação como sendo a forma do infante demonstrar seu 
“carinho ou afeto”. 
Após sucessivos abusos, o infante pode, devido a sua inocência e seu estado de abalo 
emocional, deixar de compreender estas situações como um abuso e passar a compreender como 
algo costumeiro, passando assim, a ver os atos de abuso como algo necessário, tal situação pode 
vir a se tornar algo ainda pior, caso o abusador, Pai, Padrasto, Irmão, Tio e afins, passam a 
aliciar a criança ou adolescente, em troca de “benéficos, favores, e/ou mimos”, pois retiram o 
valor da criança e assim substituem a compreensão de abuso e a tornam acreditar ser algo 
GENTIL. Neste sentido, cita o autor RIBEIRO, RODRIGUES, LETICIA, Lilian; sobre o estado 
psicológico de síndrome16: 
A vítima não tem consciência da Síndrome e seu objetivo inicial é proteger a sua própria 
integridade. Após “se envolver” com o sequestrador/assaltante/agressor, o estado 
emocional e de estresse são intensos, fazendo com que a vítima acredite que qualquer 
gesto gentil do agressor tenha o intuito de protegê-la, o que gera facilmente o sentimento 
de empatia, já que, naquele momento, existe apenas a vítima e o agressor. (grifei) 
 
Neste sentido, muito bem explana HABIGZANG, F. Luísa; KOLLER, H. Sílvia; 
AZEVEDO, AZEN, Gabriela; MACHADO, XAVIER, Paula, in verbis 17: 
o abuso sexual intrafamiliar é desencadeado e mantido por uma dinâmica complexa. Tal 
dinâmica envolve dois aspectos que se apresentam interligados: a "Síndrome de Segredo", 
que está diretamente relacionada com a psicopatologia do agressor (pedofilia) que, por 
gerar intenso repúdio social, tende a se proteger em uma teia de segredo, mantido às 
custas de ameaças e barganhas à criança abusada; e a "Síndrome de Adição" 
 
15 Ato de omissão, de desinteresse, de insensibilidade ou negligência. 
16 RIBEIRO, RODRIGUES, LETICIA, Lilian; A SÍNDROME DE ESTOCOLMO E A DINÂMICA 
PERVERSA EM CATIVEIRO REAL E CATIVEIRO IMAGINÁRIO. 2017. Acesso em: 27/06/2022. 
17 HABIGZANG, F. Luísa; KOLLER, H. Sílvia; AZEVEDO, AZEN, Gabriela; MACHADO, XAVIER, Paula. 
ABUSO SEXUAL INFANTIL E DINÂMICA FAMILIAR: ASPECTOS OBSERVADOS EM PROCESSOS 
JURÍDICOS. 2005. Acesso em: 12/08/2022. 
caracterizada pelo comportamento compulsivo do descontrole de impulso frente ao estímulo 
gerado pela criança, ou seja, o abusador, por não se controlar, usa a criança para obter 
excitação sexual e alívio de tensão, gerando dependência psicológica e negação da 
dependência (Furniss, 1993). (grifo nosso) 
 
Dentro disso, torna-se importante analisarmos que, o infante não consegue encontrar 
saída para proteger-se do abuso, ele conscientiza-se estar sendo visto como um objeto por 
alguém. 
“Principalmente ser esse alguém o pai, ficando o poder e a responsabilidade de manter 
a família unida, assumindo as funções maternas, não resistindo às exigências sexuais do 
abusador, buscando mecanismos para garantir a própria sobrevivência psíquica.” (RISMAN, 
Arnaldo; FIGUEIRA, LUCIA, Rosania; VIEIRA, MEDEIROS, Gabriela; AZEVEDO DE, 
TEIXEIRA, Lívia;). Os autores seguem18: 
Uma experiência sexual precoce causa efeitos devastadores no psiquismo infantil, 
impedindo o desenvolvimento tanto sexual quanto social e moral, além da imagem 
corporal destruída. O convívio da criança e do adolescente no seio familiar em que 
acontece o abuso sexual tende a resultar num comportamento de violência, o qual causou 
angústia, medo, ódio, ansiedade, terror e hostilidade, dificultando suas relações. O impacto 
do abuso sexual está relacionado com o temperamento, resposta ao nível de desenvolvimento 
neuropsicológico da criança e do adolescente. Os efeitos das relações familiares 
incestuosas são devastadores e persistentes, pois as vítimas chegam à vida adulta sem 
os benefícios da infância. As vítimas se culpam pela ocorrência/perpetuação do incesto 
e desempenham esse sentimento de culpa como um papel essencial no cotidiano, na 
autoidentidade e na estimativa daquilo que nos é devido nos relacionamentos. As crianças 
que foram vítimas de abuso sexual apresentam critérios para transtornos do estresse pós-
traumático, podendo desenvolver quadros de depressão, transtorno de ansiedade, transtornos 
alimentares, transtornos dissociativos, personalidade borderline. A vítima perde os 
referenciais familiares, como instituição básica. Equipes multidisciplinares que atenderam 
vítimas deste tipo de violência relataram que podem reagir com intenso estado de estresse à 
ação, choque recuo, isolamento afetivo, mutismo, manifestações psicossomáticas, perdas de 
progresso escolar, irritabilidade, ideações suicidas, condutas hipersexualizadas, fugas do lar, 
sendo possível aparecer consequências psicológicas a curto, médio e longo prazo [...]. Pode-
se observar que a consequência vinculada ao abuso sexual, compromete seriamente a saúde 
das crianças e adolescentes vítimas de tal abuso, tanto física como psicológica, necessitando 
de profissionais especializados e um tratamento adequado e de longa duração para se detectar 
o problema, pois quanto mais cedofor tratado, menor será a perda física ou psicológica. 
 
Diante de tal mazela, é sabido a importância da presença familiar no crescimento 
psíquico-social do infante. Porém, tal instituição, traz consigo, implicitamente, uma 
dependência pessoal19 do menor, situação que indiretamente auxilia para a formação do estado 
de silêncio e a indiferença e/ou ceticismo no seio familiar. Situação essa, que corrobora para a 
insegura e a incompreensão do menor, pois este, não tem a possibilidade de consentir com a 
 
18 RISMAN, Arnaldo; FIGUEIRA, LUCIA, Rosania; VIEIRA, MEDEIROS, Gabriela; AZEVEDO DE, 
TEIXEIRA, Lívia; ABUSO SEXUAL INTRAFAMILIAR: UM OLHAR MULTIFACETADO PARA O 
INCESTO. 2014. Disponível em: http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1870-
350X2014000100006. Acesso em: 13/08/2022. 
19 Carinho, afeto, atenção, educação, respeito etc. 
http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1870-350X2014000100006
http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1870-350X2014000100006
situação e se vê violado pela pessoa que deveria estar a protegê-la, assim a levando-a, a um 
entendimento deturpado de normalidade ou conformismo. 
Tal condição de normalidade e/ou conformismo, conduz o incapaz a desenvolver uma 
espécie de autopreservação inconsciente, que o torna suscetível a ver sua violação como algo 
necessário/prazeroso. Deturpando a compreensão de violação e tornando tal ato, uma 
manifestação de afeto ou carinho. Estes acontecimentos, naturalmente são mais comuns, na 
violação incestuosa quando ocorre no período em que o menor é mais dependente dos pais e 
ainda não desenvolveu o seu senso sexual, bem como, em situações onde a mãe e/ou outro 
familiar responsável pelo menor, conhece ou sabe da violação e nada faz para cessar a violência, 
seja direta ou indiretamente. Tal situação, pode ser ainda pior, quando a mãe ou outro familiar 
participa ativamente de tais atos, pois assim, corrobora para o incorreto senso de normalidade 
e constante violação da qual a criança está submetida. 
Não se está aqui a discutir o senso ético ou moral de cada indivíduo e formação 
familiar, mas sim, está aqui a se desenvolver uma análise acerca da situação de violação das 
quais muitas crianças e adolescentes são submetidas todos os dias, motivo do qual, torna tão 
relevante a discussão do assunto. 
Ademais, ainda há de se citar que por muitas vezes, a mãe do infante violado pode vir 
a efetivamente a se mostrar indiferente em razão da situação de violência doméstica e 
psicológica vivida, o que é por vezes agravado em razão das ameaças sofridas e o medo da 
repercussão social promovida, caso a situação fuja do secretismo gerado pelo violador sexual, 
comumente pai, irmão ou padrasto, conforme é cediço, exposto a situação de medo, o ser 
humano pode reagir de forma diversa, dependendo a reação do temperamento e da resistência 
de cada indivíduo. 
Por fim, é necessário ainda, utilizar-se da analogia do mito da caverna de Platão20 pois, 
a violação sexual infantil quando perpetrada por pai ou outro familiar de 1° ou 2° Grau, impõe 
à criança um estado sigiloso de silêncio, que pode ser agravado pela indiferença da mãe ou da 
família, em ambas as situações, mesmo que a criança tenha contato com agentes exteriores, 
(colegas, professores, amigos), este ainda segue segregado diante do medo de perder a 
concepção de seio familiar, sequestrado a manter o ato, pois entende ser aquela a normalidade 
 
20 SILVEIRA, FLÁVIA, Ana; A CAVERNA DE PLATÃO – PARA UM PENSAMENTO MAIS 
HUMANISTA. 2022. “Com o mito da caverna, Platão quis dizer que os seres humanos, enquanto “presos” naquilo 
que estão vendo, estão diante de uma realidade distorcida, criada e imposta para crer como verdade, como, por 
exemplo, a cultura, notícias, crenças, preconceitos, etc. Se o homem apenas se limitar – diga-se, sem se 
desacorrentar –, passará a vida inteira sem notar a realidade. Somente é possível enxergar o mundo pela liberdade 
do pensamento para se desprender das influências e, assim, abandonar a caverna”. Disponível em: 
https://canalcienciascriminais.com.br/caverna-de-platao/. Acesso em: 13/08/2022. 
https://canalcienciascriminais.com.br/caverna-de-platao/
familiar, em razão da indiferença que reverbera e por muitas vezes, ainda, em razão do errôneo 
desenvolvimento precoce da sexualidade, se vê internamente impossibilitada de fugir desta 
situação a qual se encontra. 
Deste modo, os pais se tornam “a caverna da alegoria” e a criança é a crença de que 
aquilo é verdade ou, pode vir a se tornar o indivíduo que descobre que aquela verdade é uma 
mentira, ambas as situações, são muito desfavoráveis, tendo em vista que, se conta a violação 
sexual familiar da qual vive, perderá a família e corre o risco de ninguém não “revele o segredo” 
ali mantido em sigilo, seguirá a ser violada e possivelmente possibilitando a violação de seus 
filhos, caso tenha no futuro. 
 
4 A REVITIMIZAÇÃO E A INDIGESTA REALIDADE POPULAR 
A violação sexual infantil, bem como o abuso sexual, são temas amplamente já 
debatidos e muito grotescos para a população em geral. Sobre este prisma a legislação vigente 
através do código penal, ECA e outros dispositivos legislativos, dispõe de uma ampla gama de 
elementos de proteção à criança e ao adolescente. Porém, mesmo diante dessa realidade, os 
abusos sexuais infantis seguem aumentando ano após ano, conforme pesquisas aqui já 
supracitadas. 
Nesse sentido, sendo a violação intrafamiliar, considerada algo incomum e pouco 
perceptível no meio populacional, “popularmente” tem-se a concepção majoritária de abusador 
“estrangeiro”, ou seja, concepção de abusador desconhecido do meio ao qual vive a vítima. 
Diante disso, quando ocorre a descoberta ou a revelação do abuso intrafamiliar sofrido pela 
criança ou adolescente, reverbera, majoritariamente, a revitimização da criança, vítima dos 
abusos, bem como a impunidade de parte dos envolvidos. Nesse viés, quando se trata de 
violação sexual intrafamiliar, e sob indiferença da família, reverbera uma indigesta ideia de 
permissão da vítima, para ser violada, o que, obviamente, deveria inexistir por parte da 
sociedade. 
Os principais reflexos deste pensamento retrógrado e abominável é a constante 
situação desfavorável ao qual a vítima constantemente se encontra, tendo em vista que se coloca 
a vítima diante do dilema do prisioneiro e por se tratar da vítima uma criança, essa por muito 
não tem capacidade psíquica e intelectual de superar aquele abuso, o que coaduna com a 
situação de silêncio e secretismo. 
Quando em decorrência da idade, da intervenção estatal ou outra condição que viola o 
segredo e força a exposição da verdade vivida pela criança ou adolescente, comumente resta a 
vítima julgada pela população próxima da família. Tal situação é semelhante a situação vivida 
por adultos que são vítimas de abuso sexual, porém, por tratar-se de criança ou adolescente, 
expõem-se a real cultura do estupro vivida em território nacional, tornando muito mais difícil a 
fuga da criança da situação vivida. 
Ainda nesse liame, comumente a criança se encontra constantemente julgada por ser 
supostamente “condizente” à situação de abuso vivida, mesmo que essa esteja sob forte indução 
sindrômica ou sobre forte ameaça, pois conforme supracitado, o indivíduo ao ser submetido a 
forte coerção, acompanhado por pequenas situações de “afeto e cuidado” pode desenvolver 
certo apego ao ser violador após certo “acondicionamento continuado” gerado pelo abusador 
ou abusadores, o que é majorado pelo fato de seu abusador ser seu pai, irmão tio ou padrasto e 
muitas vezes, usar de meios ardis para negociar a violação com a criança o que é ainda pior. 
Quanto aos meios de coerção eles por muito podem ser extremamente perversos, 
podendo ser usados com fim de “comprar” o silêncio da vítima ou ainda forçando o silêncio 
desta. Ambas as formas de coerção são extremamenteprejudiciais à criança, pois neste âmbito 
a criança será obrigada a substituir seu valor por um preço ou substituir sua voz pelo medo, o 
que indiferente da forma, pode ser irreversivelmente prejudicial a essa. 
 
CONCLUSÃO 
Diante de tais concepções, a mazela estudada no presente estudo, traz consigo, não 
somente a insegurança do tão superestimado seio familiar, mas também, a necessidade do 
aprimoramento político social educacional, uma vez que a escola é o ambiente que deve, ou 
deveria ser terreno neutro e terra fértil para a criança poder desenvolver suas habilidades e poder 
superar seus medos e fraquezas. 
Na realidade atual, temos visto cada vez mais um efeito reverso, onde a criança, 
costumeiramente, tem se desenvolvido em um meio majoritariamente tecnológico, sendo assim 
iniciada precocemente em meio as mídias sociais e outros aplicativos desenvolvidos 
especificamente para concentrar a atenção da criança e adolescente. 
Sobre este prisma, podemos dizer que a escola tem perdido importância, tornando-se quase que 
secundária, o que é prejudicial para a criança que vive em constante abuso, já que a situação na 
qual está, requer uma comunicação e compreensão humana, algo que por muito não pode ser 
relatado na internet ou muitas vezes, citado a um vizinho ou amigo próximo, pois isto, 
possivelmente geraria uma repercussão e uma revitimização indesejada a vítima. 
Outrossim, os professores são, ou deveriam ser, parte importante no desenvolvimento 
social e sexual do infante, visto que, em muitas famílias não há, o conhecimento ou “a coragem 
adequada” para tratar de forma adequada o assunto. 
Ainda sobre esse diapasão, a presença educacional sobre o desenvolvimento sexual é de suma 
importância pois, poderia ser essa utilizada como uma fonte indireta de denúncia para a criança 
em face de seu abusador, que por muitas vezes, é seu responsável. No que tange especificamente 
às mídias sociais e a rede mundial de computadores (internet), esta possui um importante papel 
na prevenção e conscientização e denunciação do público infanto juvenil, porém comumente é 
utilizada com o viés oposto, sendo tal área, constantemente utilizada para disseminação de 
conteúdos impróprios e criminosos, servindo como constante ferramenta de barganha entre o 
violado e o violador, se tornando assim uma verdadeira faca de dois gumes. 
A violação sexual infantil intrafamiliar por si só não é um assunto inédito, diante da 
imensa quantidade de notícia criminis anual. Porém tal mazela, não pode e não deve ser vista 
como isolada, pois além de ser algo comum, é algo constantemente desacreditado, pois 
popularmente e infelizmente, ainda temos arraigado em nosso meio social, uma visão patriarcal 
do qual constantemente julgasse a vítima, como se essa pudesse escolher a situação da qual está 
a ser obrigada a se sujeitar. Tal realidade é triste, pois além da vítima ser constantemente 
violada, ainda resta por muitas vezes usada como ferramenta da perversidade de seu abusador 
em razão de seu desconhecimento ou impotência diante de tal situação. 
Em conclusão ao presente estudo, é notória a relevância social do assunto e a 
necessidade de políticas públicas eficientes, no sentido de conscientizar e prevenir a violência 
sexual infantil intrafamiliar, bem como mostrasse necessário o desenvolvimento de ferramentas 
educacionais para fomentar a conscientização e o fim da revitimização do infante, seja criança 
ou adolescente. Outrossim, é possível levantar que a síndrome de Estocolmo pode sim, ser 
diagnosticada nas vítimas que sofrem de violação sexual, em especial em situações em que a 
vítima sofre a violação sexual infantil de forma intrafamiliar, tendo em vista, a suscetibilidade 
do infante, a indução e a coerção psicológica do qual esse é submetido, tal situação, o torna 
suscetível pois o deixa em uma posição de extrema vulnerabilidade, pois como é cediço, se 
encontra o infante violado diante da figura paternal ou familiar do qual esperava afeto ou 
respeito, o que acaba por corromper sua noção de realidade, assim o expondo a uma situação 
de perdição e vulnerabilidade, bem como lhe deslindando um futuro muitas vezes indesejado o 
empurrando a prostituição, drogadição a criminalidade ou ao suicídio, motivos do qual torna a 
discussão do assunto indispensável. 
 
 
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