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A INTERVENÇÃO PSICOPEDAGÓGICA FRENTE ÀS DIFICULDADES DE APRENDIZAGEM EM CRIANÇAS VÍTIMAS DE ABUSO SEXUAL

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21
Sistema de Ensino Presencial Conectado
Especialização em psicopedagogia institucional
a intervenção psicopedagÓgica frente às dificuldades de aprendizagem em crianças vítimas de abuso sexual
a intervenção psicopedagÓgica frente às dificuldades de aprendizagem em crianças vítimas de abuso sexual
Monografia apresentada à Universidade Norte do Paraná - UNOPAR, como requisito parcial para a obtenção do título de Especialista em Psicopedagogia Institucional.
Orientador: Profª Msc. Edilaine Vagula
Londrina, _____de ___________de 20___.
agradecimentos
“O abuso sexual deixa a maioria das pessoas incomodadas. É triste pensar que adultos causem dor física e psicológica nas crianças para satisfazer seus próprios desejos, especialmente quando esses adultos são amigos ou confiáveis membros da família.” (Watson, 1994, p.12).
RESUMO
Até pouco tempo atrás, o abuso sexual era tratado como um assunto proibido na sociedade. Porém de alguns anos para cá esse tabu vem sendo quebrado e o abuso sexual de crianças passou a ser visto como um dos tipos de violência e de maus tratos mais frequentes, apresentando algumas implicações médicas, sociais e psicossociais. O abuso sexual em crianças causa muitos efeitos prejudiciais. Tais efeitos prejudiciais fazem com que as crianças vitimizadas, encontrem-se em situação de risco. O objetivo desta revisão bibliográfica é entender as conseqüências e o impacto do abuso sexual no desenvolvimento da criança e como a psicopedagogia poderá atuar principalmente no que diz respeito às dificuldades na aprendizagem. Portanto, é de extrema importância que os profissionais que trabalham com essas crianças e com suas famílias, estejam capacitados a função que desenvolvem, de maneira que se possa obter a versão real dos casos, bem como conduzir uma intervenção adequada.
Palavras-chave: Abuso Sexual. Psicopedagogia. Desenvolvimento. Aprendizagem. Criança.
ABSTRACT
Until recently, sexual abuse was treated as a taboo subject in society. But a few years back that taboo has been broken and the sexual abuse of children was seen as a type of violence and abuse frequently, with some medical implications, social and psychosocial. Sexual abuse in children causes many harmful effects. Such harmful effects cause the victimized children, find themselves at risk. The purpose of this literature review is to understand the consequences and impact of sexual abuse in child development and how it may act primarily in educational psychology with regard to learning difficulties. Therefore, it is extremely important that professionals working with these children and their families are able to develop that function so that you can get the real version of the cases, as well as conduct an appropriate intervention
Key-words: Sexual Abuse. Psychology. Development. Learning. Child. 
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO	9
2 DESENVOLVIMENTO	11
2.1 A Dinâmica do Abuso Sexual	11
2.1.1 A Diferença entre o Abuso Intrafamiliar e Extrafamiliar	13
2.2 Conceituando Dificuldades de Aprendizagem	17
2.2.1 As Principais Dificuldades de Aprendizagem nas Crianças Vítimas do Abuso Sexual Intrafamiliar e Extrafamiliar	20
2.3 A Intervenção do Psicopedagogo Frente às Dificuldades de Aprendizagem apresentadas pelas Crianças Vítimas do Abuso Sexual	25
CONCLUSÃO	28
REFERÊNCIAS	29
INTRODUÇÃO
A violência é um fenômeno social global, considerado como um problema de saúde pública que perpassa as diferentes classes sociais, culturas, relações de gênero, raça e etnia, conforme Márcia Bezerra em seu artigo escrito em 2006. Tendo em vista que o abuso sexual é um dos tipos de maus tratos mais frequentes e que gera inúmeros danos à vítima, assim percebe-se a importância de pesquisar sobre o impacto destes danos no desenvolvimento da criança vítima de abusos sexuais. Segundo Márcia Bezerra (2006), o abuso sexual trata-se de uma situação muito mais frequente do que a sociedade imagina. E é considerado violência mesmo quando o abusador não usa força física, já que a criança é dependente e o adulto tem domínio sobre ela.
O abuso sexual à criança é um tema que merece muita atenção, não apenas no meio acadêmico, mas na mídia e na sociedade, por ser um tipo de violência que, segundo Freud (1995), mais danifica o desenvolvimento infantil, ultrapassando os danos gerados pela violência física, negligência, abandono, entre outros. O que vai de encontro com o pensamento de Amazarray e Koller (1998 apud MORAIS, 2006), que salientam a importância de mostrar que o abuso sexual ocasiona danos para criança e o quanto estes danos são complexos. Pois de acordo com as autoras o ato abusivo propicia interações e situações que causam efeitos prejudiciais para a vítima, não só físicos (trauma físico, transmissão de doenças sexualmente transmissíveis, gravidez indesejada), como psicológicos (medo, ansiedade, depressão etc.) e comportamentais (comportamento sexual inapropriado, retraimento, etc.). 
Dessa forma, este trabalho pretende mostrar, que para enfrentar a violência sexual é imprescindível compreender o fenômeno, reconhecer que o problema existe e intervir, promovendo condições necessárias para que as crianças possam exercer sua sexualidade de forma segura e saudável, pois conforme Azevedo (1988) as crianças as quais foram violentadas sexualmente apresentam grandes chances de tornarem-se futuros abusadores e de participarem de atividades incestuosas, o que revela um ciclo gerador de vítimas e perpetradores de abuso ao mesmo tempo. 
O trabalho será dividido em três capítulos. No capítulo I, será abordada a Dinâmica do Abuso Sexual, a diferença entre o abuso intrafamiliar e extrafamiliar. No capítulo II, será abordado o conceito de Dificuldades de Aprendizagem e quais são as principais dificuldades apresentadas pelas crianças vítimas de abuso intra e extrafamiliar. E por fim, o capítulo III mostrará a atuação do psicopedagogo frente às dificuldades de aprendizagem em crianças vítimas, através de diagnóstico do problema.
DESENVOLVIMENTO
A Dinâmica do Abuso Sexual 
O abuso sexual contra crianças e adolescentes não é um fenômeno atual. No entanto, só recentemente o abuso sexual infantil passou a ser foco de pesquisas que tem documentado o seu impacto psicossocial no desenvolvimento de crianças e adolescentes, assim como vem recebendo atenção dos meios de comunicação (Amazarray & Koller,1998).
A criança na época medieval não era vista de forma singular e sim como um adulto em miniatura. Com isso, não existia nenhum tratamento específico reservado a elas, suas particularidades e necessidades especiais eram desconhecidas pelos adultos. Nesta mesma época, as crianças participavam naturalmente de atividades e jogos sexuais quando solicitadas pelos adultos. Este fato passou a ser compreendido como espantador e criminoso, mas na época era normal e livre de recriminações, uma vez que as crianças eram nada mais que um adulto “baixinho” (ARIÈS, 1978, p 158).
Quanto mais retrocedermos na história da criança, maiores serão as chances de elas terem sido violentadas física e sexualmente, devido à falta de leis que lhes protegessem. Pois de acordo com Day, Telles, Zoratto et al. (2003), acredita-se que, na verdade, este não era o maior fator contribuinte para que as crianças fossem negligenciadas no que se refere à forma de cuidá-las, afinal, se as crianças não eram vistas de forma diferente dos adultos, não faria sentido se houvessem leis específicas para elas. Foi na década de 40, nos Estados Unidos, que o radiologista Caffey foi considerado “inadequado” pelos colegas de medicina por falar na “Síndrome da Criança Espancada”, e, somente nos anos 60, o pediatra Henry Kempe criou o termo “Síndrome da Criança Maltratada”, abrindo espaço para estudos dos abusos cometidos por adultos (Pires, 1999).
Nos dias de hoje, teresse pensamento em relação às crianças é algo inconcebível. A nossa legislação, desde 1988 passou a reconhecer a criança como sendo um ser em desenvolvimento, tanto físico quanto emocional, bem como um cidadão de direitos, e que devido a isso, não pode ser incluída em atividades de ordem sexual. 
Nos últimos 20 anos, o abuso sexual infantil tem se tornado um dos mais emergentes campos de pesquisa no que se refere à infância e à adolescência, em vários países existem programas em desenvolvimento para estudo, prevenção e tratamento. No Brasil, verifica-se uma intensificação de pesquisas na área desde a publicação do Estatuto da Criança e do adolescente em 1990 (Amazarray & Koller,1998; Zavaschi et al.,1991). 
Conforme o Estatuto da Criança e do Adolescente (Lei nº. 8.069/90) art.° 5,18, 130, 245 e 250, como o caput de extraordinário e seminal artigo 227 da Constituição Federal: “È dever da família, da sociedade e do Estado assegurar à criança e ao adolescente, com absoluta prioridade, o direito à vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao lazer, à profissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade e à convivência familiar e comunitária, além de colocá-los a salvo de toda forma de negligência, discriminação, exploração, violência, crueldade e opressão”.
Todo o esforço deve envolver Estado e Sociedade nesta verdadeira reconstrução social, deve resgatar valores, propiciar o desenvolvimento do cidadão como ser crítico e potencializador de ações sociais positivas. Que tenha compaixão, respeito e solidariedade. O abuso sexual contra crianças e adolescentes, portanto é, um fenômeno que envolve variáveis complexas na caracterização de sua dinâmica. Por este motivo, é considerado um problema multidisciplinar, requerendo uma constante cooperação de diferentes profissionais e de acordo com Day, Telles, Zoratto et al. (2003), inclui uma gama de atos realizados com ou para a criança, desde carícias e olhares insinuantes até delitos de extrema violência e morte. Azevedo e Guerra (1988) colocam que o abuso sexual pode ocorrer através de relações homossexuais ou heterossexuais, com ou sem contato físico (voyeurismo e exibicionismo) e com ou sem uso da força física. 
O incesto e a exploração sexual também são considerados abuso sexual. O incesto é considerado por elas, toda atividade de caráter sexual que envolva uma criança de zero a 18 (dezoito) anos e um adulto que tenha com essa criança uma relação de consangüinidade, afinidade ou responsabilidade. Flores e Caminha (apud AMAZARRAY e KOLLER, 1998), consideram incesto, qualquer contato sexual entre pessoas que tenham um grau de parentesco, incluindo qualquer pessoa que assuma o papel dos pais. A exploração sexual, citada acima como outra categoria de abuso sexual, é a comercialização sexual de crianças de zero a 18 (dezoito) anos, através da pornografia infantil e da inserção da criança em atividades de prostituição. 
O abuso sexual tem por finalidade estimula-la sexualmente ou utiliza-la para obter estimulação sexual. Essas práticas eróticas e sexuais são impostas às crianças ou aos adolescentes por violência física, ameaça ou indução de sua vontade. Azevedo e Guerra (1988, p.42), afirmam que a definição de abuso sexual está longe de ser precisa, mas a consideram: 
Todo ato ou jogo sexual, relação heterossexual ou homossexual, entre um ou mais adultos e uma criança menor de 18 anos, tendo por finalidade estimular sexualmente a criança ou utilizá-la para obter uma estimulação sexual sobre sua pessoa ou de outro. 
O abuso sexual pode variar desde atos em que não existam contatos físicos, mas que envolvem o corpo (assédio, voyeurismo, exibicionismo), a diferentes tipos de atos com contato físico, sem penetração (sexo oral, intercurso interfemural) ou com penetração (digital, com objetos, intercurso genital ou anal) (Azevedo & Guerra, 1989; Gomes, Junqueira, Silva & Junger, 2002; Kaplan & Sadock, 1994/1997). Atualmente, a sensação de segurança não tem o mesmo significado, tendo em vista fatos de violências sofridos, presenciados e até noticiados nos meios de comunicação, causando uma desconstrução das relações sociais. Infelizmente o prognóstico dessa situação, não é nada agradável, apesar dos esforços das forças publicas em minimizar esses atos e suas conseqüências. (CIUFFO, 2008). 
A Diferença entre o Abuso Intrafamiliar e Extrafamiliar
Como foi definido anteriormente, o abuso sexual é compreendido como qualquer atividade ou interação, na qual a intenção é estimular e/ou controlar a sexualidade da criança (Watson, 1994). O abuso sexual constitui uma das categorias de maus-tratos contra crianças e adolescentes, as quais incluem ainda o abuso físico, o abuso psicológico, o abandono e a negligência. Ele pode ser definido como uma forma de violência que envolve poder, coação e/ou sedução (Araújo, 2002). Tais características são observadas através da presença de um agressor, que está em estágio de desenvolvimento psicossocial mais adiantado que a criança ou adolescente e utiliza seu poder para obter a gratificação de seus desejos sexuais (Amazarray & Koller, 1998). 
O abuso sexual também pode ser definido, de acordo com o contexto de ocorrência, em diferentes categorias. Fora do ambiente familiar, pode ocorrer em situações nas quais as crianças são envolvidas em pornografia e exploração sexual (Amazarray & Koller, 1998). No entanto, os estudos mostram que a grande maioria dos abusos sexuais cometidos contra crianças e adolescentes ocorrem dentro de casa e por pessoas próximas, que desempenham papel de cuidador da vítima (Braun, 2002; Caminha, 2000; Kaplan & Sadock,1997).
As relações sexuais, mesmo sem laços de consangüinidade, envolvendo uma criança e um adulto responsável (tutor, cuidador, membro da família ou conhecido da criança) são relações que se enquadram no atual conceito de incesto (Azevedo, Guerra, Vaiciunas, 1997; Cohen, 1997; Kaplan & Sadock, 1997). Dessa forma, qualquer contato abertamente sexual entre pessoas que tenham grau de parentesco, ou acreditam tê-lo, è considerado incesto.
No entanto, os estudos mostram que a familiaridade entre a criança e o abusador aponta para tendências de fortes laços afetivos entre ambos, tanto positivos quanto negativos, o que colabora para que os abusos sexuais incestuosos possuam maior impacto na criança. O incesto é, então, considerado um fator agravante para as conseqüências decorrentes de experiências sexualmente abusivas conforme afirmam Foward e Buck:
O incesto é poderoso. Sua devastação é maior do que a das violências sexuais não incestuosas contra a criança, porque o incesto se insere nas constelações das emoções e dos conflitos familiares. Não há um estranho de que se possa fugir, não há uma casa para onde se possa escapar. A criança não se sente mais segura nem mesmo em sua própria cama. A vítima é obrigada a aprender a conviver com o incesto; ele abala a totalidade do mundo da criança. O agressor está sempre presente e o incesto é quase sempre um horror contínuo para a vítima (1989, p.13).
Percebe-se que em uma família na qual ocorre abuso, existem muitos indicadores da ocorrência do mesmo em relação à dinâmica familiar. Contudo, não devemos estabelecer uma relação de causalidade entre esses fatores e o abuso sexual intrafamiliar. As relações familiares em que ocorre o incesto são caóticas, a divisão de fronteiras é nebulosa e há inversão de papéis (Flores & Caminha, 1994; Kaplan & Sadock, 1990; Watson, 1994; Wright & Scalora, 1996). Da mesma forma, Furniss (1993) aponta para esses mesmos fatores, acrescentando que esse sistema dificulta a revelação do abuso e criam-se situações de confusão extrema para a criança. De acordo com Kaplan et al (1997, p.738):
Na maioria de casos de incesto persistente, as crianças vítimas de abuso são ameaçadas com maus tratos ou abandono, se revelarem os segredos familiares, o que as deixa na posição impossível de suportar em silêncio o abuso contínuo ou arriscarem a perda total de suas famílias.
No caso de incesto, tipo mais frequente de abuso sexualinfantil, na maioria dos casos (80%), o pai biológico, padrasto, irmãos, tios e avós são descritos como os principais abusadores (Araújo, 2002). Nestes casos instaura-se uma confusão de papéis e funções, pois, o incesto envolve cenas de sedução, carinho e violência com uma pessoa afetivamente próxima à criança, envolvendo assim a quebra de confiança com as figuras parentais e/ou de cuidado, que a princípio, deveriam promover segurança, conforto e bem estar psicológico (Antoni & Koller, 2002).
A criança é, portanto, duplamente vítima dos abusos sexuais e da incredulidade dos adultos. Em muitos casos, o pai quer ser visto como vítima dos avanços sexuais da criança, apresentando-a como sedutora e precocemente sexualizada (ZAVASCH; COLS, 1991). 
O abuso sexual extrafamiliar, apesar de apresentar menor frequência do que o abuso intrafamiliar, acontece em níveis bastante elevados. O abuso sexual tem sido relatado em escolas, creches e lares grupais, onde os adultos que cuidam das crianças são os principais perpetradores (Kaplan & Sadock, 1990). 
Furniss (1993) salienta que um dos grandes fatores quanto à detecção de abuso intrafamiliar ou extrafamiliar diz respeito à reação dos pais. Conforme esse autor, nos casos de abuso fora da família, ambos os pais normalmente manifestam profunda preocupação em relação à criança, enquanto que os pais e prováveis abusadores, nos casos de abuso dentro da família, estão mais preocupados com as alegações e com a sua própria maneira de formular sua negação. 
Em casos de abuso sexual extrafamiliar breve, é importante que a criança fale sobre o que aconteceu com detalhes na presença dos pais, de modo a estabelecer os fatos do abuso e ajudar os pais e a criança a poderem falar abertamente sobre isso sempre que for necessário. Por outro lado, as crianças devem poder esquecer o abuso e continuar com a sua vida (Furniss, 1993). Ainda segundo o autor, nesses casos, essas famílias tendem a proteger a criança vítima de abuso e seus outros filhos de novos episódios abusivos, bem como se a criança precisa de aconselhamento ou terapia.
Porém, no abuso sexual extrafamiliar prolongado na criança, faz-se necessário identificar os fatores predisponentes (distância emocional, rejeição e negligência dos pais) que tornam a criança vulnerável a esse tipo de abuso, além de tratar os efeitos sobre a criança e também sobre a família. As reações parentais comuns são de desamparo, sentimento de completa perda de controle, auto-censura e sentimentos de culpa. Deve haver um tratamento direcionado à família, com grande valor preventivo (Furniss, 1993). 
O silêncio perante a sociedade pode ocorrer por vários motivos: temor pela reação da própria família; manutenção da aparência de “sagrada família”; conivência entre as pessoas que sabem do fato e não o denunciam; a idéia de que nada pode ser feito para resolver o problema; por ser um assunto tabu; por não saber o que fazer (COHEN, 1997). Portanto, o abuso sexual envolve atividades que objetivam a gratificação das demandas e desejos sexuais do abusador, de modo a incluir o elemento intencional e repetitivo (FURNISS, 1993).
Conceituando Dificuldades de Aprendizagem
Segundo a conceitualização internacional, as dificuldades de aprendizagem se caracterizam por um funcionamento substancialmente abaixo do esperado, considerando a idade cronológica do sujeito e seu quociente intelectual, além de interferirem significativamente no rendimento acadêmico ou na vida cotidiana, exigindo um diagnóstico alternativo nos casos de déficits sensoriais (Jesús, 2004). As dificuldades de aprendizagem podem ocorrer em alunos com verdadeiro talento na arte, na dança, na mecânica, na música e/ou no esporte. (Siegel, 1999).
De acordo com a definição estabelecida em 1981 pelo National Joint Comittee for Learning Disabilities (Comitê Nacional de Dificuldades de Aprendizagem), nos Estados Unidos da América:
Distúrbios de aprendizagem é um termo genérico que se refere a um grupo heterogêneo de alterações manifestas por dificuldades significativas na aquisição e uso da audição, fala, leitura, escrita, raciocínio ou habilidades matemáticas. Estas alterações são intrínsecas ao indivíduo e presumivelmente devidas à disfunção do sistema nervoso central. Apesar de um distúrbio de aprendizagem poder ocorrer concomitantemente com outras condições desfavoráveis (por exemplo, alteração sensorial, retardo mental, distúrbio social ou emocional) ou influências ambientais (por exemplo, diferenças culturais, instrução insuficiente/inadequada, fatores psicogênicos), não é resultado direto dessas condições ou influências. (Collares e Moysés, 1992: 32)
Desde uma perspectiva próxima Jiménez (1999, cap.6) conceitualiza cinco áreas de estudo associadas às dificuldades de aprendizagem: a inteligência, a atenção, a memória, a metacognição e a competência social. Em geral, no modelo inglês se identificam as dificuldades de aprendizagem gerais com o retardo mental e se fala de dificuldades de aprendizagem leves, moderadas, graves e profundas. O termo dificuldades de aprendizagem específicas seria reservado para as dislexias, as disgrafias, as disortografias ou as discalculias. No modelo espanhol (Jiménez e Hernández, 1999), as dificuldades de aprendizagem não têm entidades específicas nem predomina nas universidades espanholas, nas quais se assume o modelo internacional e consensual.
As contribuições do pai das dificuldades de aprendizagem são muito bem sintetizadas por Nancy Mather, que descreve Samuel A. Kirk como uma pessoa muito exigente com seus alunos (esperava muito deles), mas o qual dava muito de si e de seus conhecimentos. A orientação que Samuel Kirk seguiu foi a de verificação científica, exigindo não só a validade de seus métodos, como também a documentação e a verificação de que funcionavam. A investigação e a experiência foram seus guias. Durante um trabalho com crianças com retardo mental, observou que haviam crianças que não apresentavam uma inteligência baixa, mas sim problemas específicos de aprendizagem. Essa constatação o levou a formular o termo que deu nome a área, “dificuldades de aprendizagem”, em 06 de abril de 1963. Porém, Samuel Kirk já havia usado o termo, em 1962, para se referir a um grupo heterogêneo de problemas específicos - de linguagem e/ou de fala, de leitura, de escrita, de matemática ou de outras áreas escolares – e que era diferente do retardo mental.
O retardo mental, segundo o DSM-IV, caracteriza-se por uma capacidade intelectual geral significativamente abaixo da norma, isto é, abaixo de dois desvios padrão nos testes de inteligência, apresentando-se junto dificuldades significativas na capacidade adaptativa e aparecendo antes dos dezoito anos. Podem ou não se dar transtornos orgânicos ou outros transtornos mentais. Parte-se da idéia de que as dificuldades de aprendizagem se devem a uma interação entre as influências genéticas e as influências ambientais, que se concretizam nas oportunidades apropriadas para aprender.
Uma das questões que neste momento, parece bem aceita de forma geral, é a de que as dificuldades de aprendizagem devem ser diagnosticadas de forma diferencial em relação a outros transtornos próximos, embora, na presença de uma dificuldade de aprendizagem e de outro transtorno em uma mesma pessoa, seja necessário classificar ambos os transtornos, sabendo que se trata de dois transtornos superpostos (JESUS, 2004). O TDAH não faz parte das dificuldades de aprendizagem. Mas, como em geral essas pessoas apresentam algum tipo de problema escolar e acadêmico, esses aspectos poderiam encaixar-se dentro das dificuldades de aprendizagem (apud. Anastopoulos; Barkley, 1992).
Durante muito tempo, a criança com dificuldades de aprendizagem, era encaminhada a um especialista para confirmar sua “anormalidade”. Conforme fosse o resultado desse diagnóstico, a criança era encaminhada para classes ou escolas especiais que ofereciam um ensino diferenciado, contudo, todo esse processo de deslocamento, consequentemente, também vinha de encontro com um processode desmotivação por parte da criança, sendo necessário um novo processo de adaptação a uma nova estrutura educacional, a novas relações humanas com os colegas, enfim, a todo um retrocesso do intuito de sanar as dificuldades apresentadas pelo aluno.
Nesse sentido, Scoz (1994: 22) coloca que:
[...] os problemas de aprendizagem não são restringíveis nem a causas físicas ou psicológicas, nem a análises das conjunturas sociais. É preciso compreendê-los a partir de um enfoque multidimensal, que amalgame fatores orgânicos, cognitivos, afetivos, sociais e pedagógicos, percebidos dentro das articulações sociais. Tanto quanto a análise, as ações sobre os problemas de aprendizagem devem inserir-se num movimento mais amplo de luta pela transformação da sociedade. 
Uma criança que possui uma dificuldade de aprendizagem não é uma criança deficiente. Se há essa dificuldade, é porque houve alguma falha no seu processo de desenvolvimento, ou ainda está ocorrendo. 
Strick e Smith(2001) ressaltam que o ambiente doméstico exerce um importante papel para determinar se qualquer criança aprende bem ou mal. As crianças que recebem um incentivo carinhoso durante toda a vida tendem a ter atitudes positivas, tanto sobre a aprendizagem quanto sobre si mesmas. Essas crianças buscam e encontram modos de contornar as dificuldades, mesmo quando são bastante graves. Se o clima dominante no lar é de tensões e preocupações constantes, provavelmente a criança se tornará uma criança tensa, com tendência a aumentar a proporção dos pequenos fracassos e preceitos próprios da contingência da vida humana. Se o clima é autoritário, onde os pais estão sempre certos e as crianças sempre erradas, a criança pode se tornar acovardada e submissa com professores, e dominadora, hostil com crianças mais jovens que ela, ou pode ainda, revoltar-se contra qualquer tipo de autoridade. Se o clima emocional do lar é acolhedor e permite a livre expressão emocional da criança, ela tenderá a reagir com seus sentimentos, positivo ou negativo, livremente.
As mesmas autoras ainda colocam que o estresse emocional também compromete a capacidade das crianças para aprender. A ansiedade em relação a dinheiro ou mudanças de residência, a discórdia familiar ou doença pode não apenas ser prejudicial em si mesma, mas com o tempo pode corroer a disposição de uma criança para confiar, assumir riscos e ser receptiva a novas situações que são importantes para o sucesso na escola. 
Vygotsky (1984) nos diz que quando a criança começa a se desenvolver, internaliza tudo aquilo que está a sua volta, podendo ser operações físicas ou verbais. Com isso, passa a dirigir seus próprios pensamentos. Segundo o autor é desta maneira que a criança inicia o desenvolvimento e a capacidade de aprendizado que se define em dois níveis: o nível real, que faz parte do desenvolvimento mental da criança ligado a aquilo que ela consegue fazer sozinha, e o nível potencial, determinado pela solução de problemas sob orientação de alguém mais velho. A distância entre estes dois níveis é chamada de zona de desenvolvimento proximal. O desenvolvimento proximal renova o papel da aprendizagem. Segundo Scoz (2000, p. 27):
Ela passa a ser um momento privilegiado no processo de desenvolvimento da criança, quando lhe dá a possibilidade de lhe ativar um grupo de processos internos no âmbito das inter-relações com as outras pessoas, posteriormente absorvidos pelo próprio curso de seu desenvolvimento interior, convertendo-se, por fim, em aquisições internas.
Ainda de acordo com Vygotsky (1984), descobrir como o indivíduo aprende é tornar claro como o ser se desenvolve. È pela aprendizagem que o homem se torna um ser racional, cria seu caráter, personalidade e se firma no meio social. 
As Principais Dificuldades de Aprendizagem nas Crianças Vítimas do Abuso Sexual Intrafamiliar e Extrafamiliar
Fernández (1991) considera as dificuldades de aprendizagem como sintomas ou “fraturas” no processo de aprendizagem, onde necessariamente estão em jogo quatro níveis: o organismo, o corpo, a inteligência e o desejo. A dificuldade para aprender, segundo a autora, seria o resultado da anulação das capacidades e do bloqueamento das possibilidades de aprendizagem de um indivíduo. Para a autora, a origem das dificuldades ou problemas de aprendizagem não se relaciona apenas à estrutura individual da criança, mas também à estrutura familiar a que a criança está vinculada. 
Os conflitos emocionais interferem muito no rendimento da criança. A família torna-se então o alicerce para o bom desenvolvimento do indivíduo, porém todos nós sabemos que isso nem sempre acontece, principalmente quando a criança tem seus direitos violados através de violência causada por um dos seus familiares. Essas violências causam prejuízos no desenvolvimento da criança, principalmente no que diz respeito à aprendizagem, pois uma criança que passa pela terrível experiência de sofrer um abuso intrafamiliar, acaba passando por uma sequência de problemas cognitivos, comportamentais e sociais, o que colabora para que essa criança venha a desenvolver dificuldades na aprendizagem.
Isso não quer dizer que o abuso sexual extrafamiliar não traga conseqüências às crianças vitimizadas, porém, as consequências do incesto são sempre sérias, mesmo que a vítima não tenha consciência delas, pois muitas vezes os sentimentos inerentes ao ato incestuoso são negados ou reprimidos. Mesmo que a vivência do abuso não tenha ocorrido em clima de violência, è uma experiência bastante dolorosa e desorganizante, devido á quebra na confiança básica na relação da criança com seus pais (Cohen, 1997). 
Sentimentos de culpa são comuns entre crianças sexualmente abusadas, sendo um dos mais graves efeitos emocionais resultantes da interação abusiva, especialmente se essa foi incestuosa e durou por muito tempo. Ao sentimento de culpa, soma-se o dano secundário de estigmatização, devido à acusação por parte dos pais e da família (Furniss, 1993).
 As possíveis conseqüências físicas do abuso sexual também são de extrema preocupação, visto que sua gravidade acarreta ainda mais danos psicológicos. Os efeitos físicos do abuso podem ser: gravidez, doenças sexualmente transmissíveis e trauma físico (Wright & Scalora, 1996). 
O abuso sexual na infância tem sido relacionado a severas consequências para o desenvolvimento infantil, incluindo prejuízos cognitivos, emocionais, comportamentais (Briere & Elliot, 2003; Paolucci, Genuis & Violato, 2001; Tyler, 2002), Segundo Papalia e Olds (200) alguns efeitos do abuso sexual sofrido por crianças são os atrasos de linguagem, défict cognitivo, agressividade, rejeição por parte de outros grupos, abuso de álcool e drogas, e, até mesmo, tendência a tornarem-se delinquentes quando adultos.
Azevedo, Guerra e Vaiciunas (2000) listam como conseqüências psicológicas da violência sexual em curto prazo as dificuldades de adaptação sexual, interpessoal e afetiva. Em contra partida, de acordo com Williams (2002), os sintomas apresentados á curto prazo são o comportamento sexualizado, ansiedade, medos, pesadelos, depressão, isolamento social, queixas somáticas, fugas de casa, Transtorno de Estresse Pós-Traumático, comportamentos autodestrutivos, problemas escolares, pensamentos suicidas e comportamentos regressivos como enurese, choros e birra.
Em longo prazo, as vítimas geralmente apresentam dificuldades de relacionamento com figuras masculinas, pelo fato de os agressores serem, em sua grande maioria, homens. A intimidade representa uma ameaça, pois é difícil para a vítima estabelecer vínculos de confiança. As idéias de morte e os suicídios também são conseqüências marcantes segundo as autoras. Porém Kendall-Tackett et al (1993 apud WILLIAMS, 2002), mencionam que a longo prazo, existe uma tendência ao desaparecimento destes sintomas de 12 a 18 meses após o abuso sexual. Um número considerável de casos, contudo, apresenta agravamento dos sintomas, que podem convergir para depressão, revitimização, perturbações no sono, ansiedade, problemas com relacionamento sexual,uso abusivo de substâncias, ideação suicida, promiscuidade e prostituição. 
O fator físico é apenas um entre outros envolvidos pelas conseqüências da violência sexual. Além da agressão física, os crimes sexuais constituem uma agressão psicológica para a vítima. Quando ela é uma criança, os prejuízos podem ser duplicados. Isto porque o desenvolvimento infantil é mais acelerado que em outras fases, por isso, muitas mudanças acontecem em pouco tempo. Os efeitos do choque que representa a violência sexual podem repercutir em diversos aspectos do desenvolvimento da criança até a fase adulta. Estas crianças podem apresentar baixa auto-estima, hostilidade, agressividade, empobrecimento das habilidades sociais e depressão segundo Padilha (2002).
De acordo com Padilha (2002), são frequentes pensamentos e recordações recorrentes sobre o abuso, medo, ansiedade e uma tendência, que ela diz ser a pior consequência, a não acreditar em sua capacidade de controlar as situações, tornando-se uma pessoa passiva, incapaz de se proteger e permitindo que os outros façam consigo o que quiserem, explorando-a muitas vezes.
Adicionalmente, um estudo de metaanálise dos efeitos do abuso sexual infantil revelou que as crianças abusadas sexualmente têm um risco aumentado em 20% para o desenvolvimento de TEPT, de 21% para depressão e suicídio, de 14% para comportamento sexual promíscuo, de 8% para a manutenção do ciclo de violência e de 10% para déficits no rendimento escolar (Paolucci et al., 2001).
Algumas consequências do abuso sexual, citadas por Blanchard (1996), são de especial importância para compreendermos a real dimensão dos impactos físicos, emocionais e psicossociais causados pelo abuso sexual: 
[...] Ter vivido um trauma físico e psicológico faz com que a vítima questione sua capacidade de defender-se... Ela aprende a odiar seu corpo porque ele a faz lembrar de más experiências. Ela tem respostas dissociadas, apresenta dificuldade de intimidade e é emocionalmente distante. Ela aprende que não pode controlar seu corpo e que outra pessoa pode tocá-la sem o seu consentimento... Ela não confia na sua memória, nos seus pensamentos e no seu senso de realidade. Essas conseqüências afetam não só a vítima, mas também a sociedade em geral porque uma criança traumatizada torna-se eventualmente um adulto que pode adotar comportamentos agressivos ou passivos para resolver as situações e o estresse. (Blanchard, 1996, p.7) 
O fato do abuso sexual resulta na desilusão e na incapacidade de confiar nas pessoas e, como decorrência, em si mesma e em seu valor, fazendo-a se sentir só e vulnerável perante a vida (Grinblatt, Martins, Sattler, Caminha & Flores, 1994).
O desenvolvimento da aprendizagem se dá através da relação da família, ou do indivíduo com o qual a criança possua mais convívio, é a família que fornece à criança a interação com o meio. Percebe-se então que todo o processo de desenvolvimento do ser está ligado a sua formação inicial, relaciona-se ao modo que foi educado e estimulado nos seus primeiros anos de vida. (Fonseca, 1995).
Não poderíamos dizer que o aprender está atrapado em sua totalidade, mas nesta dialética que a aprendizagem normal implica entre o mostrar e o guardar, se somente se entender o guardar, sem sentir-se com direito a mostrar, pode culpabilizar-se extensivamente todo o guardar como se fosse um esconder, e então ir se perdendo paulatinamente também a possibilidade de guardar. (Fernández, 2002)
Enfim, várias são as conseqüências causadas pelo abuso sexual nas crianças. Entre elas, o abuso sexual intrafamiliar se destaca como sendo o mais prejudicial e causador dos maiores danos às crianças vitimizadas. Portanto, as crianças vítimas de tal violência quase sempre apresentam dificuldades na aprendizagem decorrentes de transtornos causados pela violência sofrida como o Transtorno de Défict de Atenção e Hiperatividade (TDAH), Transtornos da Comunicação, Transtornos Profundos do Desenvolvimento, entre outros.
A criança ou o adolescente abusado sexualmente pode perder o desejo pela aprendizagem, apresentando condutas diferentes daquelas que até então mostrava. Muitas vezes, a dificuldade de atenção, de socialização e de aquisição de conhecimentos são alguns sinais que o abusado apresenta após o fato ocorrido. 
Geralmente é por meio dos problemas de aprendizagem que as crianças e os adolescentes mostram seu embotamento emocional e ou cognitivo, fruto desta violência sofrida. A experiência traumática de ter sofrido abuso sexual influencia os processos de aprendizagem e a formação da personalidade do sujeito, sendo necessário o atendimento profissional adequado:
Se a criança apresenta problemas de aprendizagem é porque não distingue todas as ordens, porque confunde o que quer com o que é; o processo de identificação (da dimensão dramática) e o de assimilação (da dimensão cognitiva) não podem ser confundidos. A possibilidade de fazer estas distinções é a base da saúde. Qualquer tipo de perturbação entre o que é objetivo e o que é o universo interno, o que é a lei de fora e o que é a lei própria, qualquer confusão entre estas ordens produz transtornos porque não permite ao sujeito uma boa leitura da realidade, e nem uma boa leitura das possibilidades dele mesmo. Não sendo capaz de conhecer suas próprias leis, o indivíduo as projeta sobre o outro e sobre as coisas que vê de si mesmo. (Paín apud Parente, 2000)
Conforme Cordié (1996), quando a pulsão do saber é interditada, o desejo fica abandonado. Assim, teremos um sujeito que simplesmente não aprende, pois aprender implica um desejo, um projeto, uma perspectiva.
Esse sujeito que no momento não apresenta seu desejo canalizado para a aprendizagem e, inconscientemente, desloca-o para a sedução, a culpa e o medo, tem uma imagem distorcida de si mesmo. Ele pode encontrar em seu abusador e agressor esse mesmo registro e encontra muitas vezes no aprender uma possibilidade de ressignificação da sua auto-imagem e, conseqüentemente, de sua construção de conhecimento.
A Intervenção do Psicopedagogo Frente às Dificuldades de Aprendizagem apresentadas pelas Crianças Vítimas do Abuso Sexual
Crianças vítimas de violência sexual podem sofrer por toda a vida os efeitos desagradáveis da agressão se não passarem por um tratamento adequado. E é para que seja possível atuar de maneira mais eficaz que este estudo, objetiva conhecer as principais dificuldades de aprendizagem apresentadas pelas crianças vítimas de violência sexual e de que maneira o psicopedagogo poderá contribuir para saná-las. 
O campo da intervenção psicopedagógica (Beltrán et al., 1993) é muito mais amplo do que o das dificuldades de aprendizagem, já que a intervenção psicopedagógica também se refere aos problemas do desenvolvimento, a orientação em geral, a educação e a outros muitos campos que são objetos de estudo de outras disciplinas próximas. 
Falar de intervenção é falar de intervenção mais ou menos especializada, mas sempre fundamentada cientificamente em modelos teóricos e que supõe, em geral, uma implementação tecnológica. Partindo de modelos teóricos mais ou menos amplos, chega-se a desenvolvimentos tecnológicos ou aplicados de forma rigorosa e controlada. A intervenção, portanto, é de caráter intencional e planejado, exigindo um certo nível de estruturação e formalização conforme Jésus (2004).
Deve-se dar primazia as alternativas que enfatizam a conexão entre a avaliação e intervenção em um processo contínuo e mutuamente apoiado:
[...] estes enfoques de avaliação e intervenção permitem criar laços mais estreitos entre ciências, política e práticas educativas cotidianas que estiveram praticamente ausentes para as crianças com dificuldades de aprendizagem (Fletcher et al., 1998, p. 201).
A intervenção se situaria ao longo de um contínuo de graduação em algumas dessas características: poderá ser direta ou indireta, especializada ou não, formal ou informal, intencional ou incidental, planejada ou espontânea, global ou específica, sistêmica ou parcial. Embora elas possam apresentar certas superposiçõesquando realizamos as intervenções concretas, e nem sempre seja fácil sua diferenciação, essas características dão uma idéia da complexidade diante da qual nos situamos segundo Jésus (2004).
Segundo Alícia Fernandes (1990 p. 117), a [...] intervenção psicopedagógica não se dirige ao sintoma, mas o poder para mobilizar a modalidade de aprendizagem, o sintoma cristaliza a modalidade de aprendizagem em um determinado momento, e é a partir daí que vai transformando o processo ensino aprendizagem. Portanto a psicopedagogia não lida diretamente com o problema, lida com as pessoas envolvidas, com as crianças, com os familiares e com os professores, levando em conta aspectos sociais, culturais, econômicos e psicológicos.
A psicopedagogia, como técnica da condução do processo psicológico da aprendizagem, traz, com seu exercício, o cumprimento de ambos os fins educativos. A psicopedagogia adaptativa, preocupada em fortalecer os processos sintéticos do ego (yo) e em facilitar do desenvolvimento das funções cognitivas, pretende colocar o sujeito no lugar que o sistema lhe designou (Paín, 1985).
No caso de uma criança vítima de abuso sexual que apresenta dificuldades na aprendizagem e necessita de um atendimento especializado, para possibilitar uma melhora dos sintomas, percebe-se a importância da intervenção psicopedagógica, pois será através desta intervenção que possibilitará condições para que a criança possa desenvolver-se e a partir daí construir conhecimentos. 
A psicopedagogia, como técnica da condução do processo psicológico da aprendizagem, traz, com seu exercício, o cumprimento de ambos os fins educativos. A psicopedagogia adaptativa, preocupada em fortalecer os processos sintéticos do ego (yo) e em facilitar do desenvolvimento das funções cognitivas, pretende colocar o sujeito no lugar que o sistema lhe designou (Paín, 1985).
Existem dois tipos de condições para a aprendizagem: as externas, que definem o campo do estímulo, e as internas que definem o sujeito. Umas e outras podem ser estudadas em seu aspecto dinâmico, como processos, e em seu aspecto estrutural como sistemas. A combinatória de tais condições nos leva a uma definição operacional da aprendizagem, pois, determina as variáveis de sua ocorrência.
A intervenção psicopedagógica nas crianças vitimizadas, se dá a partir da entrevista diagnóstica que segundo Paín (1985), é o enfrentamento do paciente com sua própria realidade, realidade esta que provavelmente nunca precisou se organizar em forma de discurso, obrigando-o a uma série de aproximações, de avanços e de retrocessos mobilizadores de um conjunto de sentimentos contraditórios. Bossa (1994, p.74), sobre o diagnóstico:
 O diagnóstico é um processo contínuo sempre revisável, onde a intervenção do psicopedagogo inicia, segundo vimos afirmando, numa atitude investigadora, até a intervenção. É preciso observar que esta atitude investigadora, de fato, prossegue durante todo o trabalho, na própria intervenção, com o objetivo de observação ou acompanhamento da evolução do sujeito. 
Conforme Paín (1985), no transcurso das provas psicométricas e projetivas, o sujeito vê a si mesmo em seu cenário, em seus gestos, em sua virtude e defeitos, em sua carência e sua potência, com o relevo que a perspectiva confere à imagem. Dessa forma, a tarefa psicopedagógica começa justamente na medida em que se trata de ensinar o diagnóstico, no sentido de tomar consciência da situação e de providenciar sua transformação.
Uma vez concluído o diagnóstico e vista a capacidade de mobilização do paciente e do grupo familiar, é necessário determinar que tratamento será o mais conveniente para o problema colocado (Paín, 1985). E complementa dizendo que os objetivos básicos do tratamento psicopedagógico são, obviamente, a desaparição dos sintomas e a possibilidade para o sujeito aprender normalmente ou, ao menos, no nível mais alto que suas condições orgânicas, constitucionais e pessoais lhe permitam. Entretanto, a aprendizagem não é uma função saudável em si, com isto a autora quer dizer que não basta aprender para aprender bem: é necessário pôr ênfase em como se aprende a definir a aprendizagem pelos seus objetivos ideológicos.
Após o psicopedagogo ter o diagnóstico do problema de aprendizagem apresentado pela criança vítima de abuso sexual, este profissional deverá dar início a um tratamento que possibilite a esta criança vitimizada, sentir prazer pela aprendizagem, através de técnicas e atividades lúdicas, orientando pais e professores, estabelecendo contato com outros profissionais de outras áreas como psicólogos, fonoaudiólogos, entre outros. Dessa forma, o psicopedagogo poderá fazer com que a criança acabe por deixar de lado essa experiência terrível, minimizando os sintomas decorrentes de tal violência, que tanto prejudicaram sua vida social, afetiva, emocional.
CONSIDERACOES FINAIS
Através desta pesquisa bibliográfica foi possível compreender que o abuso sexual não é algo recente, muito pelo contrário, há evidências de que acontecem desde a antiguidade, porém somente de algum tempo para cá foram elaboradas leis que protegem os direitos das crianças e dos adolescentes. E mesmo após a implantação dessas leis, o número de crianças abusadas continua crescendo. 
Após uma aprofundada pesquisa sobre os efeitos que tal violência provoca nas crianças vitimizadas, observou-se que a grande maioria apresentava dificuldades de aprendizagem, entre outros problemas. As conseqüências de um abuso sexual podem ser arrasadoras, principalmente se o abusador for pai, parente ou pessoa próxima à família (abuso intrafamiliar), pois a para a criança a pessoa a qual deveria protege-la acaba se tornando a pessoa que lhe causa sofrimento.
Com relação à psicopedagogia, conclui-se que esta tem um papel muito importante na reconstrução da identidade da criança vitimizada, pois ela ajudará a criança através de técnicas e métodos especializados, os quais colaborarão para que essa criança consiga ter novamente vontade de aprender e desta forma elevar a sua auto-estima.
È certo que uma violência deste tipo não será facilmente apagada das lembranças da criança vitimizada, porém através de um trabalho multidisciplinar incluindo profissionais capacitados e comprometidos, com certeza será possível a recuperação desta criança. 
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