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MARTINS, Jorge S. Redação publicitária: teoria e prática. São Paulo: Atlas, 1997. ANÁLISE CRÍTICA Mateus Pacheco Braga Evangelista A presente obra, de autoria de Jorge Martins, traz ao público leitor, uma perspectiva em torno da redação publicitária, buscando entender a consonância da teoria com a prática, analisando, profundamente, o papel da comunicação escrita nas propagandas que são exibidas pelos meios. Tal obra advém desde a apresentação da dissertação de mestrado do autor, que se sentiu incentivado a redigir sua tese de doutorado, ainda não concretizada na época, ligado às áreas de Linguística e Semiótica. Na época de publicação deste livro, havia pouca exploração da temática que abrangia os estudos da Redação Publicitária, dando oportunidade de o autor apresentar os resultados alcançados com suas pesquisas. Logo na introdução da obra, Martins apresenta uma citação de Umberto Eco1, que diz que sempre há um conjunto de códigos a cada ato comunicacional do indivíduo. É partindo desse preceito que o autor aborda as questões de signos e ciclo de comunicação. Para ele, é necessário que essas duas vertentes sejam uma relação clara para aquele que estuda a sistemática comunicacional, principalmente voltada para a publicidade. O autor ainda afirma que a publicidade como um todo é um reflexo ideológico do remetente frente a transmissão para seus devidos receptores e que isso só acontece, da forma mais coesa, quando os conhecimentos informacionais da área da Linguística e da Semiologia são seguidos como modelos. Martins atenta ao fato da força que uma mensagem publicitária pode exercer em cima dos públicos que tem acesso a mesma, trazendo diversas leituras e interpretações que beneficiem os interesses individuais. Isso se dá pelo concreto fato de que as pessoas não detêm do mesmo poder de exame que outras. É com isso, que os responsáveis pelo planejamento, desenvolvimento e execução de campanhas se valem para que o seu projeto/produto seja aclamado com uma necessidade social, a fim de atingir o número máximo de pessoas. Todo esse processo é baseado em técnicas de comunicação, muitas aprendidas em alguma formação acadêmica que contemplem tal, como o bacharelado ou tecnologia em Publicidade e Propaganda, bem como o domínio destas técnicas que resultam na eficiência da Propaganda, vista como uma das melhores formas de comunicação massiva. 1 A estranha ausente Ao longo da obra, o autor aborda as questões da redação publicitária desde sua cronologia, a evolução, a força, o processo de criação (dos princípios até a montagem), bem como as táticas que podem ser usadas em anúncios publicitários. Para que tudo isso fosse explanado o autor dividiu tais temáticas em sete capítulos e, de uma forma simplificada, auxilia nesse processo de aprendizagem, expondo aspectos que colaboram nos quesitos metodológicos e funcionais de tal modo que as práticas publicitárias apresentadas se evidenciem como as melhores técnicas a serem utilizadas pelos leitores que usufruem da obra, seja na academia (teoria) ou no mercado profissional (prática). Logo no primeiro capítulo, o autor faz um resgate da publicidade no Brasil, baseando-se na linguagem. Ele apresenta os antecedentes desse a chegada do jornalismo no nosso país juntamente com a instalação da Família Real portuguesa e quais eram as intenções propagandísticas daquele contexto social, que eram publicadas nos impressos. Martins destaca, também, a fundação da primeira agência brasileira, a Empresa de Publicidade e Comércio, que servia como corretora para os anúncios que pretendiam ser publicados nos periódicos, como se era feito nos demais países do mundo. Destaca-se, também, as fases que a publicidade brasileira teve de evolução desde os seus primórdios, nos anos de 1800. São elas: os reclames, que seriam anúncios de venda ou compras, os intelectuais, que foi uma contribuição criativa dada aos anúncios que vinham dos mais diversos ofícios como poetas, escritores, jornalistas etc., e os profissionais, que já são aqueles que se dedicam exclusivamente às atividades das agências, geralmente com algum conhecimento específico advindo de uma escola de comunicação ou mesmo autodidata. Essa apresentação mostra como a linguagem publicitária se modificou ao longo dos tempos, visto a habilidade e técnicas linguísticas que cada grupo utilizava nas produções, gerando uma evolução para o ramo publicitário. É possível notar essa mudança com as imagens que o autor disponibiliza ao longo da obra. Partindo para o segundo capítulo, o autor já traz mais à prática, ao realizar uma análise da mensagem publicitária, identificando os elementos que possibilitam a eficácia do produto/projeto apresentado pelo profissional. São eles: o mercado receptor, os veículos de comunicação e o produto. Esses elementos são os fatores primordiais que conjuntaram a “regra” de uma mensagem: visualizada, lida, interpretada e aceita (ou não). A mensagem tem um canal que conduz a ideia, no caso, a palavra. Os tipos de mensagem apresentados pelo autor são três: a linguística, icônica e codificada. Cada tipologia apresentada, mostra suas particularidades, bem como a influência que a mesma exerce no ideológico que o remetente deseja apresentar. Um ponto interessante, enfatizado pelo autor, é a questão da criatividade e originalidade, diferenciando-as. Martins critica muitos indivíduos que levam ambas as palavras como sinônimo, e acaba por enfraquecer a sua mensagem, já que mesmo o conteúdo sendo original pode não trazer a comunicação eficiente que a criatividade pode oferecer. Para isso, é necessário que a pessoa entenda e separe bem esses dois conceitos, pois precisa trazer ao seu cliente uma ideia inovadora e que tenha o poder acentuado de transmissão correta da informação. A partir do terceiro capítulo, o autor passa a mostrar o processo de uma campanha publicitária, iniciando pela criação. Esse primeiro pilar constituinte é abordado desde a presença de criatividade do indivíduo, ainda na infância, que se torna essencial para que o “espírito criador” se mantenha aceso no decorrer da vida e, caso trabalhe com processos que exijam essa capacidade. O autor chega a apresentar técnicas de estímulos e treinamento para capacidade, além de mostrar fatores que vedam os aspectos criativos do indivíduo. O quarto capítulo dá uma continuidade ao anterior, mostrando ópticas que aprofundam a roteirização prática do trabalho de criação. Essa roteirização se dá pela técnica, que fusa a teoria e prática e, dependendo da situação, pode ser conseguida, segundo o autor, com esforço, treino e tempo. A partir disso, ela apresenta os passos do processo criativo, mostrando o que pode ser criado em uma agência publicitária, o trabalho que se envolve com o objeto de interesse, o brainstorm, necessário para que as ideias cheguem a um denominador comum e conversem com os interesses definidos pelo cliente e, por fim, a elaboração do projeto resultante do que se teve de ideias. O quinto capítulo mostra o segundo pilar essencial para o processo de uma campanha, a redação do texto publicitário. Martins se utiliza em todo conhecimento que se tem da língua portuguesa para constituir este capítulo. Segundo ele, a redação criativa se constitui tanto pelo conhecimento gramatical/semântico, quanto pelo conhecimento de mundo do redator possui. É a partir desses dois pressupostos que uma redação inventiva e original surge e consegue a famigerada eficiência. Para que fique mais claro, o autor busca mostrar como isso pode ser possível a partir de técnicas. Discorre sobre os elementos básicos do texto, sendo esses o tema e o assunto. Podem parecer sinônimos, à primeira vista, mas o autor delimita bem cada um deles. O processo se finda no sexto capítulo, quando o autor discorre sobre a montagem do anúncio publicitário. Nesse capítulo, Martins inicia diferenciado o texto literário e não literário, mostrando como a publicidade já se utilizou (e ainda utiliza) de ambosas produções, como forma de transmitir o significado. O autor faz um alerta quanto a redação de certos textos publicitários, onde ele diz que esse texto tem que fazer o público ter uma crença no que está sendo dito, aceitar o que está se apresentado e agir como propõe tal. Assim, a assimilação de algumas funções básicas da publicidade se tornam mais concretas. O último capítulo busca diversas táticas que devem ser utilizadas na produção de anúncios publicitários, com base no que foi apresentado nos capítulos anteriores. Atentando-se a esse capítulo, nota-se que a fusão entre a teoria e a prática é eminente ao trazer exemplos claros do que é explicado a cada tópico desse capítulo. Em cada modelo de anúncio, com caráter inovador, positivista, narcisista, hedonista, entre outros, vão se manifestar maneiras distintas de técnicas já apresentadas e que, segundo conclusão do próprio autor, chama a atenção pela surpresa, originalidade e concisão. Após a leitura da obra, notamos a sua importância no processo de aprendizagem das redações. Se torna uma leitura agradável, apesar de repetitiva em alguns momentos, por se basear em técnicas, facilitando o processo prático da atividade apresentada (a redação publicitária). Claramente, o autor soube ser bastante sucinto na teoria, buscando fazer uma ligação rápida e direta com a prática, se preocupando com o uso correto da língua vernácula, das funções básicas aplicadas à publicidade e abrindo espaço para o conhecimento de mundo que o leitor já havia adquirido. O objetivo inicial do autor se concretiza pela riqueza apresentada em sua pesquisa, onde estimula a reflexão e compreensão dos inúmeros termos e processos.
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