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AULA 4 MOBILIDADE E FERRAMENTAS TECNOLÓGICAS Prof. André Ricardo Antunes Ribeiro 2 INTRODUÇÃO As redes sociais, enquanto plataformas digitais, se tornaram ativos permanentes nos dias de hoje. A sua consolidação se efetivou na década de 2000, conforme abordamos no decorrer de nossos estudos. Hoje, as suas ferramentas vão além da simples comunicação via chat on-line, ou da postagem de textos e fotos e das trocas de scraps (as chamadas “mensagens privadas”), como acontecia no popular e hoje descontinuado Orkut. Hoje, além de interfaces mais avançadas, as redes permitem o compartilhamento de outros arquivos hipertextuais, como vídeos, transmissão em tempo real (as chamadas lives), animações, pagamentos e novos recursos de inteligência artificial, capazes de filtrar conteúdos maliciosos, como spams e malwares. Além disso, as redes são capazes de identificar o compartilhamento de fake news e se integram com os chamadas marketplaces, de modo que se tornaram fonte de renda para muitas pessoas e empresas, especialmente para os conhecidos influenciadores digitais. Isso sem esquecer, obviamente, que os avanços dos chamados sites e apps responsivos tornou a acessibilidade a tais plataformas muito mais dinâmica, em especial quando elas se integram aos sistemas operacionais Android e IOS, processo que facilita o seu alcance, por meio do uso de smartphones. Facebook, Instagram, WhatsApp, TikTok, Linkedin, Twitter, Snapchat, Pinterest, YouTube etc. São muitas plataformas, com funcionalidades diversificadas para usuários e empresas e propósitos distintos, seja para a simples comunicação direta, seja na busca de visibilidade ou fama, ou ainda na captação de leads, visando ao desenvolvimento de ações direcionadas de marketing, que consequentemente levem à expansão das receitas. Seria maravilhoso se fosse perfeito, mas tais inovações, que possibilitaram novas formas de interação, facilitando as vidas de bilhões de pessoas, trouxeram também novas formas de crimes cibernéticos, como golpes financeiros, falsos sequestros, ameaças, atividades de stalking, vazamento de dados com processos bilionários, propagação de conteúdos falsos, que são capazes de acabar com a reputação de pessoas, entre outras atividades ilícitas que surgem a cada dia, e que levam as chamadas big techs a repensar o modelo de negócio que disponibilizam na grande rede mundial. 3 A partir de agora, vamos abordar esses assuntos, inerentes às redes sociais, analisando a sua relação com a mobilidade. TEMA 1 – MÍDIA, MÍDIA SOCIAL E REDE SOCIAL Existe uma certa confusão entre os termos mídia, mídia social e rede social, muito comuns para os usuários das tecnologias digitais. Na literatura recente, é possível encontrar definições para tais conceitos, que assim podem ser esclarecidos de forma mais assertiva, conforme o quadro a seguir. Quadro 1 – Conceitos Mídia Mídia social Rede social Inclui os meios de comunicação a que temos acesso, como jornais, revistas, televisão, rádio e cinema. Ou seja, meios que prestam “suporte à difusão da informação”. Tecnologias que favorecem o aprendizado pela interatividade. Apesar de estar no mesmo universo das mídias, a mídia social é uma coisa distinta. Trata-se do meio que determinada rede social utiliza para se comunicar. Exemplos: Facebook e Instagram. Existem em todos os lugares e podem ser formadas por pessoas ou organizações que partilham valores e objetivos comuns. Não se limitam a uma estrutura hierárquica ou meio. Podem estar na escola, no trabalho, na música, na política e até mesmo na família. Fonte: Elaborado com base em Ciribeli; Paiva, 2011, p. 59. Com a era da globalização e da Internet, surge o fenômeno das redes sociais, que utilizam as tecnologias da informação e da comunicação para se articularem e se auto-organizarem, realidade que tomou dimensões globais (Souza; Giglio, 2015, p. 23). O termo redes sociais é um conceito antigo. Voltando no tempo, podemos verificar que ele já era praticado desde os tempos primitivos. Isso porque as relações entre os seres humanos sempre tiveram algum objetivo, nesse caso a formação de grupos, com o propósito de buscar alimento (caça e pesca), ou ainda de se fortalecer para lutar com grupos rivais, visando a conquista de novos territórios. Nesse caso, há um aspecto psicossocial relevante, pois muitas ações, dentro de determinados grupos, acabam se aproximando de certa padronização. 4 “A rede dentro da qual qualquer indivíduo está inserido (ou seu grupo social) é também a responsável por uma grande parcela de influência sobre esse indivíduo” (Recuero, 2017, p. 10). As pesquisas de Recuero (2017) descrevem indivíduos contemporâneos como “atores”. A sua interação e o seu posicionamento nas respectivas redes sociais agregam valores subjetivos, importantes para a sobrevivência em rede. Essas relações são estabelecidas por interações e associações e vão conferir aos atores determinadas posições nas suas redes sociais, que vão sendo modificadas por essas mesmas ações. A posição desses atores é, ao mesmo tempo, produto e produtora de interações, ou seja, a rede influencia e é influenciada pela posição de seus usuários. (Recuero, 2017, p. 9) Existe uma ampla diversidade de mídias sociais ou sites de redes sociais (Figura 1), que podem ser utilizados pelos usuários cadastrados com objetivos distintos. Certamente, um fator é comum a todos: o número de interações. Hoje, observamos que tais sites ou apps possibilitam a busca por um emprego, a expansão de contatos, ou ainda a busca por um relacionamento afetivo. Isso pode ser descrito como princípio da diversidade, assim definido: “se conectar a muitos tipos diferentes de pessoas ou organizações proporciona um acesso mais amplo e rico à informação do que se conectar aos mesmos tipos de pessoas ou organizações” (Monge, 2019, p. 32). Figura 1 – Mídias sociais da atualidade Crédito: Redpixel.Pl / Shutterstock. 5 As mídias sociais, amplamente aceitas pela população global, podem ser analisadas de diferentes formas do ponto de vista comportamental, em especial considerando o engajamento do usuário. Além disso, já no início do período da chamada Web 2.0 (anos 2000), teóricos como Pierre Lévy vislumbravam outras potencialidades, com a criação das chamadas comunidades virtuais, que antecederam as mídias sociais como as conhecemos. Segundo o autor, os sites de redes sociais permitem a expansão do processo de mobilização dos usuários, o que favorece o desenvolvimento de uma inteligência coletiva. “Em resumo, em algumas dezenas de anos, o ciberespaço, suas comunidades virtuais, suas reservas de imagens, suas simulações interativas, sua irresistível proliferação de textos e de signos, será o mediador essencial da inteligência coletiva da humanidade” (Lévy, 1999, p. 167). É importante reiterar que as mídias sociais transcenderam os meios de comunicação tradicionais, tornando-se ferramentas poderosas para a criação de engajamento. Isso serve para o mundo corporativo, como o marketing de uma empresa, em especial considerando o direcionamento de conteúdo específico para um determinado público. Serve também para causas sociais, sem objetivos financeiros, movimentando milhares de pessoas a se unirem em prol de formas variadas de ativismo. Segundo Souza e Giglio (2015, p. 23), com o avanço das mídias digitais, passa a existir um movimento civil internacional que troca informações e se comunica, pressionando governos via comunicação eletrônica, e que é muito difícil de controlar e censurar. No próximo tema, vamos abordar conceitos relevantes ligados às mídias sociais. TEMA 2 – REDES, TEORIA DOS GRAFOS E TEORIA DOS LAÇOS FRACOS “A rede social é constituída de nós (ou nodos) que representam os atores sociais na estrutura. O nó pode representartanto um indivíduo quanto uma categoria ou grupo” (Recuero, 2017, p. 23). Tais nós podem ser categorizados da mesma forma, como um grupo de indivíduos, uma organização, ou ainda vários perfis. Com base em uma análise estrutural das redes, Recuero (2017) afirma que a teoria das redes passa pelas ideias pré-concebidas do matemático Euler, que propôs o desenvolvimento do primeiro teorema da chamada teoria dos grafos. A 6 autora descreve que “um grafo é uma representação de um conjunto de nós conectados por arestas que, em conjunto, formam uma rede” (Recuero, 2017, p. 1). De acordo com o aspecto sociológico, a autora afirma que “a teoria dos grafos é uma das bases do estudo das redes sociais, ancorado na chamada Análise Estrutural proveniente das décadas de 60 e 70, que dedica especial atenção à análise das estruturas sociais” (Recuero, 2017, p. 2). Recuero (2017, p. 23) ainda analisa outros aspectos. Afinal, “as redes sociais também são compostas de conexões. Essas conexões, ou arcos, indicam normalmente algum tipo de relação social (interação, conversação, relação de amizade ou pertencimento etc.) entre diferentes nós”. Ainda segundo a autora, a conexão que envolve indivíduos nessa estrutura social deu origem a diversos referenciais teóricos, com destaque para a teoria dos laços fracos, proposta por Mark Granovetter, professor e sociólogo da Universidade de Stanford, com a publicação em 1973 do artigo “The Strength of Weak Ties”, no American Journal of Sociology. Segundo Granovetter, tais laços podem ser categorizados como fortes, fracos e ausentes. Pinna (2018), com base nessa teoria, considera que um “laço” é apenas um ponto de ligação (nó) entre pessoas ou indivíduos (descritos como atores), atuando em um ambiente de rede. Segundo Recuero (2017, p. 24), “um laço forte seria associado a relações sociais que indicam maior proximidade entre dois nós, denotando algum tipo de intimidade (como por exemplo, amizade)”. Em outras palavras, é possível afirmar que, “quanto maior a força do laço entre duas pessoas, maior a chance de que o círculo de amigos seja comum e que a mensagem fique apenas naquele círculo, não atingindo outros círculos de relacionamentos” (Pinna, 2018). Vejamos um exemplo prático: acesse o seu perfil do Facebook e identifique com quantos usuários você conversa, a ponto de compartilhar detalhes sensíveis de sua vida. Podemos considerar que esse número seja em torno de 5% dos contatos, mesmo que você seja uma celebridade. Estes são os seus laços fortes! “Nas redes de ‘Laços Fortes’ há uma identidade comum, as dinâmicas geradas nessas interações não se estendem além dos clusters, por isso mesmo, nas referidas redes procuramos referências para a tomada de decisão; são relações com alto nível de credibilidade e influência” (Kaufman, 2012, p. 208). 7 Em contrapartida, “os laços fracos representariam associações mais fluidas e pontuais entre os atores (por exemplo, relações com “conhecidos”)” (Recuero, 2017, p. 24). Sendo assim, “são capazes de levar a sua mensagem ‘compartilhada’ a outras pessoas, de outros círculos: seja os seus próprios círculos com laços mais fortes ou a outras pessoas com laços mais fracos” (Pinna, 2018). Granovetter constata que os indivíduos com poucos “Laços Fracos” serão privados de informações de partes mais distantes de seu próprio sistema social, consequentemente, estarão limitados ao conhecimento ou às informações originadas pelos seus amigos íntimos. Sem as conexões de “Laços Fracos”, a tendência é a maioria da população permanecer isolada, confinada em seus clusters. Nesse sentido, os “Laços Fracos” são vitais para a integração dos indivíduos à sociedade, os sistemas sociais carentes de “Laços Fracos “serão fragmentados e incoerentes, novas ideias vão se espalhar lentamente, esforços científicos ficarão em desvantagem, e subgrupos separados por raça, etnia, geografia ou outras características terão dificuldade em chegar a um modus vivendi. (Kaufman, 2012, p. 208) Em termos práticos, os outros 95% dos seus contatos são os seus laços fracos – em algum momento, foram adicionados ou aceitos em sua rede, compartilharam algum conteúdo ou curtiram alguma postagem, sem qualquer tipo de proximidade física ou virtual. Segundo Recuero (2017, p. 24), os laços ausentes seriam insignificantes em termos de importância estrutural ou completamente ausentes entre dois determinados nós. O diagrama de Granovetter (1973, citado por Kaufman, 2012) exemplifica como as mensagens são emitidas, através das chamadas weakties bridges (Figura 2). Figura 2 – Diagrama de Granovetter Fonte: Kaufman, 2018. 8 De modo geral, autores como Recuero (2017) consideram que o modelo teórico proposto por Granovetter representa “uma combinação (provavelmente linear) da quantidade de tempo, da intensidade emocional, da intimidade (confiança mútua) e da reciprocidade que caracterizam o laço”. Ainda segundo a autora, é possível afirmar que a força de uma conexão está diretamente associada à quantidade de interações entre dois atores, pois “conexões fortes requerem maior investimento do que conexões fracas” (Recuero, 2017, p. 24). A partir de agora, vamos estudar o conceito de capital social, um ativo resultante da força das conexões em rede. TEMA 3 – CAPITAL SOCIAL A noção de laço social de Granovetter (1973, citado por Recuero, 2017) implica que um laço pode constituir determinadas vantagens estruturais aos atores (informação, intimidade, reciprocidade etc.). As “vantagens” ou benefícios descritos são formas de capital. Sendo assim, a informação pode ser considerada de valor social. Ou seja, em um grupo de alunos, somente os participantes receberão informação específica sobre o professor, uma determinada aula ou prova. Assim como o acesso ao grupo é determinado pelas interações, pertencer a ele implica um benefício social (Recuero, 2017, p. 26). Conquistar popularidade também é considerado capital social. Alguém só consegue ser popular diante de outras pessoas. A popularidade é uma concessão, no sentido de que o ator popular concentra mais capital social, em termos de atenção e visibilidade de seus pares, do que outras pessoas não populares. Para que alguém seja popular, portanto, é preciso que outros não sejam. (Recuero, 2017, p. 28) Seguindo essa premissa, teóricos como Barabási (2003, citado por Recuero, 2017, p. 28) fazem uma abordagem interessante sobre usuários com alta popularidade nas redes, identificando-os como conectores (Figura 3), que constituem “um grupo pequeno de nós que teriam muito mais conexões que os demais na mesma rede, de modo análogo à popularidade”. 9 Figura 3 – Hub ou conector na rede Crédito: Viktoriia Debopre / Shutterstock. A autora descreve o funcionamento de um conector da seguinte maneira: o nó vermelho, de maiores dimensões, tem esse tamanho por agregar 387 conexões, enquanto os demais nós apresentam apenas 200. A rede em geral é a representação de uma conversação, cujo nó vermelho foi citado 387 vezes. Em contrapartida, os demais nós obtiveram um número inferior de citações. Isso configura popularidade no modelo apresentado (Recuero, 2017). As redes também apresentam características de apropriação, exercidas pelos usuários das plataformas. Tais considerações já foram descritas por Recuero (2012, p. 598), quando afirma que “passaram, assim, a não ser apenas ‘representadas’, mas, igualmente, mantidas e geradas pela e na ferramenta através de práticas de adição de atores e nas apropriações construídas”. Essas apropriações resultantes nas redes sociais estão condicionadas a um “jogo de interesses” dos usuários em busca de popularidade, conforme já mencionamos. No entanto, essa constatação não é recente, pois já foi percebida com usuários do Orkut, que foi uma das redes sociais mais populares no Brasile em alguns outros lugares do mundo, durante o período da chamada Web 2.0. Fragoso (2006), em um dos primeiros trabalhos focando essas questões, explica essas práticas de adição no Orkut, geradas na apropriação brasileira, afirmando que os usuários adicionavam-se uns aos outros buscando maximizar “o prestígio social” gerado pela percepção dos demais. Ou seja, a ferramenta passa a ser usada como uma forma de maximizar o acesso aos valores sociais, influenciando percepção e construção de capital social. (Recuero, 2012, p. 598) 10 Hoje, essas possibilidades fazem parte do nosso cotidiano, estando ao alcance das nossas mãos. Com a popularização da mobilidade, as redes sociais se tornaram uma companhia sempre presente nos dispositivos móveis dos usuários das plataformas vigentes. A partir de agora, vamos conhecer um pouco mais sobre esses recursos. TEMA 4 – NETIQUETA E FAKE NEWS 4.1 Netiqueta O sucesso e a consequente popularização das mídias sociais como as conhecemos está ligado a fatores emocionais, sensoriais, psicológicos e sociais, ou seja, puramente humanos. Desde os tempos primitivos, desenvolvemos a necessidade de nos relacionarmos com outros indivíduos, aprimorando novos hábitos, compartilhando conhecimentos e adquirindo valores essenciais para a construção da sociedade. O ciberespaço pode ser considerado um mundo paralelo, com normas e valores similares. Um bom exemplo disso é a adoção da netiqueta, um conjunto de regras de etiqueta na web. Como sabemos, um movimento muito forte no ciberespaço trabalha com o compartilhamento de informações. Cada usuário ajuda a alimentar esse processo, contribuindo para impulsionar as redes. Como resultado disso, são estabelecidas normas próprias, que devem ser seguidas e respeitadas coletivamente, mesmo que estejam ausentes da legislação comum. Segundo Lévy (1999), essas regras são chamadas de netiqueta, uma espécie de etiqueta relacionada à pertinência das informações compartilhadas. O conceito surgiu em 1994, com a publicação do livro Netiquette, o primeiro trabalho aprofundado sobre a etiqueta digital, pela autora Virginia Shea, “considerada (primeiro em SiliconV alley, onde trabalhava, e depois em toda internet) como uma espécie de ‘guru das boas maneiras na rede’” (Madalena, 2013, p. 28). O conceito se tornou referência por conta da necessidade de práticas de educação e respeito, fundamentais para muitos usuários, que encaravam a internet como um “território sem lei”. Por incrível que pareça, isso ainda é comum nos dias de hoje. Usuário Destacar Usuário Destacar Usuário Destacar 11 "Netiqueta é para quem deseja que a internet continue sendo um lugar legal para encontrar pessoas, trocar ideias, músicas e vídeos com o mínimo de violência e perigo” (IFRS, 2020). Algumas ações dentro da netiqueta são simples, porém fundamentais, seguindo os padrões a que estamos acostumados em nossa convivência diária. Um tutorial disponibilizado pelo IFRS (2020) sugere a adoção de boas práticas na web quanto ao uso de emoticons e ao disparo de e-mails em massa, apesar das recentes inovações, como a viralização dos memes e a popularização de aplicativos de comunicação direta, como WhatsApp, Telegram e Signal, em relação ao uso frequente das contas de e-mail. Mesmo assim, as recomendações continuam válidas, podendo ser repensadas dentro do contexto atual. Vamos algumas delas. • Utilize poucos emoticons, tanto em salas de bate-papo quanto nos e-mails. Eles são úteis para expressar emoções e dar uma ideia de expressão facial e tom de voz; entretanto, podem poluir e dificultar a comunicação. • Evite encaminhar e-mails para todos os contatos. Nunca pratique spam. • Não deixe ninguém esperando por respostas em chats. É sempre legal ser educado e atencioso. • Não envie aquilo que você não gostaria de receber. • Não passe adiante correntes, simpatias e boatos. Use do senso crítico, não acredite em tudo que você recebe via e-mail. Delete. 4.2 Fake news O termo fake news ganhou relevância mundial por seu impacto direto em nossas vidas. Ele nada mais é do que um conteúdo que desinforma, uma notícia falsa propagada no ambiente do ciberespaço, seja em mídias sociais, e-mails ou mesmo em apps de trocas de mensagens, com referência a um determinado assunto, sério ou não. Alguns autores identificam essa prática como um “fenômeno”. A divulgação de notícias falsas ou mentirosas é fenômeno conhecido internacionalmente como “fake news” e pode ser conceituado como a disseminação, por qualquer meio de comunicação, de notícias sabidamente falsas com o intuito de atrair a atenção para desinformar ou obter vantagem política ou econômica. (Braga, 2018, p. 205) Usuário Destacar Usuário Destacar 12 Em tempos de pandemia global, recebemos em nossos dispositivos móveis informações falsas sobre remédios e terapias, além de mitos sobre vacinas, mortes mentirosas de celebridades e informações inverídicas sobre o político A ou B, ligadas a um suposto comportamento duvidoso. São apenas alguns exemplos, porém muito sérios, pois podem acarretar consequências catastróficas, principalmente entre pessoas que não têm acesso irrestrito à informação. Por que as pessoas tendem a acreditar em fake news? Segundo Braga (2018, p. 206), a essência disruptiva da internet ofereceu “uma verdadeira “revolução comunicacional”, com o advento dos processos de multimedialidade interativa, que representam uma reviravolta na forma como o conhecimento é organizado”. Segundo o autor, a multimedialidade é a capacidade de disponibilizar em um só terminal diversos recursos simultâneos de multimídia, como imagens, sons, vídeos e textos, além de conexão com outros arquivos ou sites (hipertextos e links) (Braga, 2018, p. 206). Sendo assim, os processos de comunicação que se utilizam da multimedialidade interativa são modificados. Consequentemente, produzem reflexos na organização do conhecimento, o que pode induzir a uma interpretação equivocada dos fatos. Também analisando esse contexto, o jurista António Manuel Hespanha aponta que o público ocidental se habitua, cada vez mais, a um processo de estímulos visuais rápidos. Assim, o pensamento “raciocinante” (raciocínios dedutivos e a classificação de dados) vai sendo substituído por um pensamento associativo. Florescem as narrativas que se utilizam de estereótipos sociais. Em todas as manifestações culturais como novelas, filmes, programas humorísticos, músicas e até mesmo no jornalismo, cresce o uso de profiles como a “loira burra” ou o “imigrante perigoso”. (Braga, 2018, p. 207) As fake news alimentam discursos de ódio, seja contra imigrantes ou demais minorias e opositores políticos. São mentiras em troca do benefício da vitória ou do controle de determinados grupos ou países. Atualmente, existe um grande dilema global sobre como combater essa desinformação da maneira mais assertiva possível, considerando os limites das mídias sociais e as demais plataformas digitais da internet. Segundo Battaglia (2020), uma inovação digital das fake news está ligada às chamadas deepfakes, um conceito criado a partir da junção das expressões deeplearning, que significa aprendizado profundo, e fake (falso). Elas se constituem como artefatos digitais, entre os quais vídeos e animações criados Usuário Destacar Usuário Destacar 13 com recursos de inteligência artificial, capazes de simular a aparência, além de expressões faciais, corporais e vozes. Ainda segundo Battaglia (2020), o desenvolvimento de um artefato digital com essas características ocorre em duas fases. • Captação de imagens de referência: um software capta imagens de referência da pessoa que será usada no vídeo (uma celebridade ou um político, por exemplo). Quanto mais imagens, maior será a precisão. O ideal é criar um banco de dados com várias formas e ângulos do rosto.• Captação dos movimentos: são gravados os movimentos de uma segunda pessoa, que será a base (ou o molde) para o deepfake. Neste caso, pode ser você mesmo ou qualquer outro atuante. Por fim, a inteligência artificial tem a missão de unir as duas coisas para criar o vídeo falso. Saiba mais Acesse o link a seguir e conheça um pouco mais sobre os recursos de deepfake. Não esqueça de acionar a tradução nas legendas: YOU WON’T Believe What Obama Says In This Video! BuzzFeedVideo, 17 abr. 2018. Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=cQ54GDm1eL0>. Acesos em: 20 jan. 2022. TEMA 5 – SITES DE REDES SOCIAIS OU MÍDIAS SOCIAIS É sempre importante reafirmar que a necessidade de socialização dos indivíduos contribuiu indiretamente com a viabilização de experiências de sucesso com as redes sociais, seja no cunho das relações pessoais diretas, ou ainda a distância no mundo virtual. A primeira década dos anos 2000 ficou marcada pela popularização dos sites de redes sociais, como uma nova forma de comunicação, entretenimento e propagação do conhecimento. Ainda, a consolidação das redes sociais ficou marcada por experimentos na troca de mensagens instantâneas. Os primeiros relatos de serviços que caracterizaram a sociabilização de dados surgiram “no ano de 1969, com o desenvolvimento da tecnologia dial-up e o lançamento do CompuServe” (D’Aquino, 2012). O autor aponta que aquele era um serviço comercial que operava com um modelo de conexão com a internet, Usuário Destacar Usuário Destacar Usuário Destacar Usuário Destacar 14 com abrangência internacional, tendo sido foi muito popular entre os estadunidenses. Outro passo importante nessa evolução foi o envio do primeiro email em 1971, sendo seguido sete anos mais tarde pela criação do Bulletin Board System (BBS), um sistema criado por dois entusiastas de Chicago para convidar seus amigos para eventos e realizar anúncios pessoais. Essa tecnologia usava linhas telefônicas e um modem para transmitir os dados. (D’Aquino, 2012) Tais passos antecederam o surgimento das mídias sociais conforme as conhecemos atualmente. É importante relembrar o que se passou nos primeiros anos da internet comercial: provedores de internet comercial ofereciam sistemas de conexão precários, até meados da década de 1990, quando inovações como a ADSL passaram a revolucionar as interconexões. Com os avanços dos modelos de conexão, dos microcomponentes e dispositivos, as plataformas foram se adequando, conforme mostra na Figura 4: Figura 4 – História das mídias sociais Entre “altos e baixos”, muitas mídias sociais foram descontinuadas, ou ainda perderam popularidade por conta de outras plataformas que surgiram no 15 decorrer dos anos. Vejamos algumas dentre as mais populares, a partir dos anos 2000. • Orkut: idealizada pelo engenheiro turco Orkut Büyükkokten, que “após ter trabalhado para a Google, surgiu com uma proposta de rede social que possibilitaria aos usuários fazer novas amizades” (Ferreira Junior; Azevedo, 2015, p. 132). O foco mercadológico era os EUA, porém ela teve grande aceitação no Brasil e na Índia, até finalizar as suas atividades no ano de 2014. • Facebook: desenvolvida por Mark Zuckerberg, Dustin Moskovitz, Eduardo Saverin e Chris Hughes, então estudantes da Universidade de Harvard (Ferreira Junior; Azevedo, 2015, p. 132). No início, era uma rede voltada para o círculo acadêmico, vindo a se tornar posteriormente uma das plataformas mais populares do mundo. “Cerca de 3 bilhões de pessoas usaram pelo menos uma vez por mês uma das plataformas do grupo: Facebook, Instagram, Whatsapp e Messenger” (Aplicativos..., 2020). Atualmente, a empresa mudou de nome para Meta, e se autodenomina uma empresa de tecnologia social. • Instagram: em 2010, foi criado o app Burbn, que originou o atual aplicativo. Segundo Ferreira Junior e Azevedo (2015, p. 133), “o Instagram tem por objetivo possibilitar que o usuário aplique diversos filtros e efeitos sobre suas fotografias e as compartilhe com uma infinidade de redes sociais, inclusive no próprio Instagram”. • Linkedin: apesar de ser muito popular atualmente, a plataforma já tem um bom tempo de vida. “Criada em 2002 pelo americano Reid Hoffman, com uma média de um milhão de novos usuários por semana. Conecta profissionais ao redor do mundo, com mais de 100 milhões de usuários no mundo, incluindo executivos” (Nascimento; Araújo, 2013, p. 44). Seu foco é voltado para o mundo corporativo. Seu objetivo principal é disponibilizar “informações completas sobre experiências profissionais, formação acadêmica, além de criar e expandir uma lista de contatos profissionais que fazem à diferença no mercado de trabalho” (Nascimento; Araújo, 2013, p. 44). • Twitter: tanto o site quanto o app funcionam no formato de um microblog, permitindo a inclusão de postagens com mensagens curtas e encurtadores de URL para compartilhamento de conteúdo. Iniciou as suas atividades em Usuário Destacar Usuário Destacar Usuário Destacar Usuário Destacar Usuário Destacar Usuário Destacar 16 2006, tendo sido fundada pelos americanos Jack Dorsey, Evan Williams e Biz Stone. • Youtube: apesar de ser um site de compartilhamento de vídeos por streaming, também permite integração com diversas outras plataformas e redes sociais distintas. Considerada a maior rede do mundo nesse aspecto, muito popular atualmente, foi desenvolvida em 2005 por Chad Hurley, Steve Chen e Jawed Karim, ex-funcionários da empresa Pay-Pal. Existem ou existiram diversas outras mídias digitais, como Fotolog e Friendster (2002), Flickr (2004) e o Pinterest (2010), voltadas a serviços de compartilhamento e tratamento de imagens, incluindo recursos de postagens com comentários. Outro site popular foi o MySpace (2003), uma rede social que incluía a divulgação de artistas e bandas em uma plataforma de streaming. Ele perdeu popularidade e novas adesões com o sucesso do aplicativo Spotify (2006). Enquanto isso, o Whatsapp (2009), “criado por Brian Acton e Jan Koum, dois ex-funcionários do Yahoo, que venderam sua criação ao Facebook em 2014 por US$ 19 bilhões (valor da época)” (Nuvens, 2018), só cresceu em popularidade. O seu potencial de compartilhamento de conteúdo e criação de grupos a caracteriza como uma mídia social síncrona. Porém, hoje adquiriu novos concorrentes, como o Telegram e o Signal, considerados mais seguros conta o vazamento de dados confidenciais. A figura a seguir apresenta os sites de redes sociais mais utilizados no país. Usuário Destacar Usuário Destacar Usuário Destacar Usuário Destacar 17 Figura 5 – Redes sociais preferidas no Brasil (dados de 2020) Source: globalwebindex (Q3 2019), figures represent the finding of a broad survey of internet users aged 16 to 64. See globalwebindex.com for more details. Note: figures are based on internet users’ self-reported behaviour, and may not match the monthy active user figures or addressable advertising audience reach figures for each platform that we publish elsewhere in this report. Fonte: www.hootsuite.com. Acesso em 24 nov. 2021. Fato é que o Brasil é um grande mercado consumidor de redes sociais, tendo atraído a curiosidade das principais big techs do mundo. Isso é visível quando consideramos a popularização do acesso a dispositivos móveis em relação ao número de habitantes. Essa tendência deve continuar, tendo em vista as métricas atuais de audiência e de engajamento nas redes, que permitem, aos profissionais que trabalham na área, explorar novas possibilidades. 0% 10% 20% 30% 40% 50% 60% 70% 80% 90% 100% Youtube Facebook Whatsapp Instagram Fb Messenger Twitter Pinterest Linkedin Skype Snapchat Tumblr Twitch Reddit Wechat Tiktok Viber Most-used social media platforms Percentage of internet users aged 16 to 64 who report using each platform in the pastmonth 18 REFERÊNCIAS APLICATIVOS do Facebook têm 3 bilhões de usuários no 1º tri, mas empresa espera queda ao fim do isolamento. G1, 30 abr. 2020. Disponível em: <https://g1.globo.com/economia/tecnologia/noticia/2020/04/30/aplicativos-do- facebook-tem-3-bilhoes-de-usuarios-no-1o-tri-mas-empresa-espera-queda-ao- fim-do-isolamento.ghtml>. Acesso em: 20 jan. 2022. BATTAGLIA, R. Afinal, o que são deepfakes? Super Interessante, 29 out. 2020. Disponível em: <https://super.abril.com.br/tecnologia/afinal-o-que-sao- deepfakes/>. Acesso em: 20 jan. 2022. BRAGA, R. M. C. A indústria das fake news e o discurso de ódio. In: PEREIRA, R. V. (Org.). Direitos políticos, liberdade de expressão e discurso de ódio, Belo Horizonte: IDDE, 2018. Disponível em: <http://bibliotecadigital.tse.jus.br/xmlui/bitstream/handle/bdtse/4813/2018_braga_ industria_fake_news.pdf?sequence=1&isAllowed=y>. Acesso em: 20 jan. 2022. CIRIBELI, J. P.; PAIVA, V. H. P. Redes e mídias sociais na internet: realidades e perspectivas de um mundo conectado. Mediação, Belo Horizonte, v. 13, n. 12, 2011. D’AQUINO, F. A história das redes sociais: como tudo começou. Tecmundo, nov. 2012. Disponível em: <https://www.tecmundo.com.br/redes-sociais/33036-a- historia-das-redes-sociais-como-tudo-comecou.htm>. Acesso em: 20 jan. 2022. FERREIRA JUNIOR, A. B.; AZEVEDO, N. Q. 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