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Biossegurança e Bioética Dr. Gustavo Affonso Pisano Mateus Dra. Michele Putti Paludo Esp. Mylene Manfrinato dos Reis Amaro Coordenador de Conteúdo Gustavo Affonso Pisano Mateus. Designer Educacional Aguinaldo Jose Lorca Ventura Junior e Janaína de Souza Pontes. Revisão Textual Cintia Prezoto Ferreira. Editoração Bruna Stefane Martins Marconato e Victor Augusto Thomazini. Ilustração Marcelo Yukio Goto e Mateus Calmon. Realidade Aumentada Kleber Ribeiro, Leandro Naldei e Thiago Surmani. C397 CENTRO UNIVERSITÁRIO DE MARINGÁ. Núcleo de Educação a Distância; MATEUS, Gustavo Affonso; PALUDO, Michele Putti; AMARO, Mylene Manfrinato dos Reis. Biossegurança e Bioética. Gustavo Affonso P isano; Michele Putti Paludo; Mylene Manfrinato dos Reis Amaro. Maringá-PR.: Unicesumar, 2019. Reimpresso em 2022. 208 p. “Graduação - EAD”. 1. Biossegurança. 2. Normas. 3. Cuidados. 4. EaD. I. Título. ISBN 978-65-5615-295-0 CDD - 22 ed. 631.52 CIP - NBR 12899 - AACR/2 NEAD - Núcleo de Educação a Distância Av. Guedner, 1610, Bloco 4 - Jardim Aclimação CEP 87050-900 - Maringá - Paraná unicesumar.edu.br | 0800 600 6360 Impresso por: DIREÇÃO UNICESUMAR Reitor Wilson de Matos Silva, Vice-Reitor e Pró-Reitor de Administração Wilson de Matos Silva Filho, Pró-Reitor Executivo de EAD William Victor Kendrick de Matos Silva, Pró-Reitor de Ensino de EAD Janes Fidélis Tomelin, Presidente da Mantenedora Cláudio Ferdinandi. NEAD - NÚCLEO DE EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA Diretoria Executiva Chrystiano Mincoff, James Prestes e Tiago Stachon; Diretoria de Graduação e Pós-gra- duação Kátia Coelho; Diretoria de Permanência Leonardo Spaine; Diretoria de Design Educacional Débora Leite; Head de Metodologias Ativas Thuinie Daros; Head de Curadoria e Inovação Tania Cristia- ne Yoshie Fukushima; Gerência de Projetos Especiais Daniel F. Hey; Gerência de Produção de Conteúdos Diogo Ribeiro Garcia; Gerência de Curadoria Carolina Abdalla Normann de Freitas; Supervisão de Projetos Especiais Yasminn Talyta Tavares Zagonel; Projeto Gráfico José Jhonny Coelho e Thayla Guimarães Cripaldi; Fotos Shutterstock PALAVRA DO REITOR Em um mundo global e dinâmico, nós trabalha- mos com princípios éticos e profissionalismo, não somente para oferecer uma educação de qualida- de, mas, acima de tudo, para gerar uma conversão integral das pessoas ao conhecimento. Baseamo- -nos em 4 pilares: intelectual, profissional, emo- cional e espiritual. Iniciamos a Unicesumar em 1990, com dois cursos de graduação e 180 alunos. Hoje, temos mais de 100 mil estudantes espalhados em todo o Brasil: nos quatro campi presenciais (Maringá, Curitiba, Ponta Grossa e Londrina) e em mais de 300 polos EAD no país, com dezenas de cursos de graduação e pós-graduação. Produzimos e revi- samos 500 livros e distribuímos mais de 500 mil exemplares por ano. Somos reconhecidos pelo MEC como uma instituição de excelência, com IGC 4 em 7 anos consecutivos. Estamos entre os 10 maiores grupos educacionais do Brasil. A rapidez do mundo moderno exige dos educadores soluções inteligentes para as ne- cessidades de todos. Para continuar relevante, a instituição de educação precisa ter pelo menos três virtudes: inovação, coragem e compromisso com a qualidade. Por isso, desenvolvemos, para os cursos de Engenharia, metodologias ativas, as quais visam reunir o melhor do ensino presencial e a distância. Tudo isso para honrarmos a nossa missão que é promover a educação de qualidade nas diferentes áreas do conhecimento, formando profissionais cidadãos que contribuam para o desenvolvimento de uma sociedade justa e solidária. Vamos juntos! BOAS-VINDAS Prezado(a) Acadêmico(a), bem-vindo(a) à Co- munidade do Conhecimento. Essa é a característica principal pela qual a Unicesumar tem sido conhecida pelos nossos alu- nos, professores e pela nossa sociedade. Porém, é importante destacar aqui que não estamos falando mais daquele conhecimento estático, repetitivo, local e elitizado, mas de um conhecimento dinâ- mico, renovável em minutos, atemporal, global, democratizado, transformado pelas tecnologias digitais e virtuais. De fato, as tecnologias de informação e comu- nicação têm nos aproximado cada vez mais de pessoas, lugares, informações, da educação por meio da conectividade via internet, do acesso wireless em diferentes lugares e da mobilidade dos celulares. As redes sociais, os sites, blogs e os tablets ace- leraram a informação e a produção do conheci- mento, que não reconhece mais fuso horário e atravessa oceanos em segundos. A apropriação dessa nova forma de conhecer transformou-se hoje em um dos principais fatores de agregação de valor, de superação das desigualdades, propagação de trabalho qualificado e de bem-estar. Logo, como agente social, convido você a saber cada vez mais, a conhecer, entender, selecionar e usar a tecnologia que temos e que está disponível. Da mesma forma que a imprensa de Gutenberg modificou toda uma cultura e forma de conhecer, as tecnologias atuais e suas novas ferramentas, equipamentos e aplicações estão mudando a nossa cultura e transformando a todos nós. Então, prio- rizar o conhecimento hoje, por meio da Educação a Distância (EAD), significa possibilitar o contato com ambientes cativantes, ricos em informações e interatividade. É um processo desafiador, que ao mesmo tempo abrirá as portas para melhores oportunidades. Como já disse Sócrates, “a vida sem desafios não vale a pena ser vivida”. É isso que a EAD da Unicesumar se propõe a fazer. Seja bem-vindo(a), caro(a) acadêmico(a)! Você está iniciando um processo de transformação, pois quando investimos em nossa formação, seja ela pessoal ou profissional, nos transformamos e, consequentemente, transformamos também a so- ciedade na qual estamos inseridos. De que forma o fazemos? Criando oportunidades e/ou estabe- lecendo mudanças capazes de alcançar um nível de desenvolvimento compatível com os desafios que surgem no mundo contemporâneo. O Centro Universitário Cesumar mediante o Núcleo de Educação a Distância, o(a) acompa- nhará durante todo este processo, pois conforme Freire (1996): “Os homens se educam juntos, na transformação do mundo”. Os materiais produzidos oferecem linguagem dialógica e encontram-se integrados à proposta pedagógica, contribuindo no processo educa- cional, complementando sua formação profis- sional, desenvolvendo competências e habilida- des, e aplicando conceitos teóricos em situação de realidade, de maneira a inseri-lo no mercado de trabalho. Ou seja, estes materiais têm como principal objetivo “provocar uma aproximação entre você e o conteúdo”, desta forma possibilita o desenvolvimento da autonomia em busca dos conhecimentos necessários para a sua formação pessoal e profissional. Portanto, nossa distância nesse processo de crescimento e construção do conhecimento deve ser apenas geográfica. Utilize os diversos recursos pedagógicos que o Centro Universitário Cesumar lhe possibilita. Ou seja, acesse regularmente o Stu- deo, que é o seu Ambiente Virtual de Aprendiza- gem, interaja nos fóruns e enquetes, assista às aulas ao vivo e participe das discussões. Além disso, lembre-se que existe uma equipe de professores e tutores que se encontra disponível para sanar suas dúvidas e auxiliá-lo(a) em seu processo de apren- dizagem, possibilitando-lhe trilhar com tranquili- dade e segurança sua trajetória acadêmica. APRESENTAÇÃO Prezado(a) aluno(a), seja bem-vindo(a) ao nosso material didático intitu- lado “Biossegurança e Bioética”. A princípio, o título desta obra nos remete a uma série de normas e cuidados especiais no manejo de seres vivos ou, ainda, aos cuidados necessários para uma rotina laboral adequada. Entre- tanto, a partir de uma análise aprofundada, será possível compreender o quanto a biossegurança e a bioética influenciam nas mais varias áreas que se articulam, se associam e regem a atuação dos profissionais de saúde. Para elucidar tal afirmação, estaobra foi dividida em 5 Unidades elaboradas almejando contribuir para a construção do conhecimento acerca desta temática de forma ampla e generalista. A Unidade 1 tem por objetivo apresentar informações e conceitos acerca da biossegurança com ênfase nas aplicações dos serviços de saúde. Serão apresentadas as recomendações usuais para a realização de atividades se- guras em ambientes laborais, também conhecidas como boas práticas em biossegurança. Além disso, serão apresentados os equipamentos de proteção individuais e coletivos comuns aos ambientes de trabalho dos profissionais da saúde, bem como informações acerca da percepção e avaliação de riscos presentes nestes ambientes. A Unidade 2 é destinada a percepção dos riscos presentes nos ambientes em que ocorrem práticas comuns aos serviços de saúde, sendo eles os ris- cos físicos, químicos, biológicos, ergonômicos e psicossociais. De forma complementar, a Unidade 3 apresenta informações específicas da rotina laboratorial fundamentais para a prática laboral segura e consciente, por exemplo, as diferentes simbologias aplicadas e o mapa de risco. E, por fim, as Unidades 4 e 5 apresentam aconteúdos voltados a transmissão de doenças, medidas de higiene e reflexões sobre a bioética e sua relação com os profissionais de saúde, bem como suas respectivas medidas de prevenção e controle e as medidas de gerenciamento e descarte de resíduos laboratoriais, clínicos e hospitalares, respectivamente. Assim, gostaríamos de reforçar o convite para, juntos, percorrermos este material e para que seja possível multiplicar os conhecimentos acerca de tantos assuntos abordados ao longo deste livro. Muito obrigado e bons estudos! CURRÍCULO DO PROFESSOR Dra. Michele Putti Paludo Doutorado pelo Programa de Pós-Graduação em Engenharia e Ciência de Alimentos da Universidade Federal do Rio Grande (2016), Mestrado pelo mesmo programa (2012) e Gra- duação em Bacharel em Química de Alimentos pela Universidade Federal de Pelotas (2008). Tem experiência na área de alimentos funcionais, principalmente em produtos a base de okara e arroz, e Engenharia de Bioprocessos, com ênfase no cultivo de microalgas utilizan- do coprodutos industriais, isolamento de microrganismos potencialmente produtores de lipase, enzimas imobilizadas e síntese de ésteres de aroma frutal. Pós-doutorado na área de tratamento de águas contaminadas com pesticidas a partir do desenvolvimento de novos adsorventes derivados de grafeno (2017). Currículo disponível em: <http://lattes.cnpq.br/7239624982564924>. Dr. Gustavo Affonso Pisano Mateus Mestre e Doutor em Biotecnologia Ambiental pela Universidade Estadual de Maringá (UEM), Especialização em Docência no Ensino Superior e Análise Ambiental pela mesma instituição e Graduação em Ciências Biológicas pelo Centro Universitário Cesumar (Unicesumar). Expe- riência nas áreas de Fitossanidade, com ênfase em fungos fitopatogênicos e Tratamentos Alternativos de Água e Efluentes, em especial com os temas: processos de separação por membranas e coagulantes naturais. Atualmente, é coordenador de cursos de graduação na modalidade à distância no EAD da Unicesumar. Currículo disponível em: <http://lattes.cnpq.br/1379816809384173>. Me. Mylene Manfrinato dos Reis Amaro Mestranda em Ciências Jurídicas pelo Centro Universitário de Maringá - UniCesumar. Bolsista Taxa do Programa de Suporte à Pós-Graduação de Instituições de Ensino Particulares (PROSUP/ CAPES). Especialista em Direito Civil pela Uniasselvi. Pós-Graduanda em Docência no Ensino Superior – Unicesumar, Pós-Graduanda em Gestão e Tecnologias Ead – Uniasselvi. Membra do grupo de Pesquisa “Proteção Integral da Pessoa: Interações dos Direitos Humanos, dos Direitos Fundamentais e dos Direitos da Personalidade e Grupo de Pesquisa: Reconhecimento e Garantia dos Direitos da Personalidade. Advogada no Paraná. Graduada no Curso de Direi- to da Instituição de Ensino Superior UNICESUMAR, da cidade de Maringá-PR. Foi estagiária no PROCON - SARANDI (2014 - 2015), PROCURADORIA DO MUNICÍPIO DE SARANDI (2015), NÚCLEO DE PRÁTICA JURÍDICA - UNICESUMAR (2017) e CENTRO JUDIÁRIO DE SOLUÇÃO DE CONFLITOS - CEJUSC UNICESUMAR (2017 e 2019). Pesquisadora no Programa Institucional de Iniciação Cientifica PIC - UNICESUMAR (2016 - 2017 e 2019). Tem experiência na área de Direito, com ênfase em Direitos da Personalidade, Direito de Família e Sucessões e Direito Penal. Advogada. Biossegurança Aplicada aos Serviços de Saúde 13 Riscos Ambientais 49 Especificidades em Rotina Laboratorial 89 Transmissão de Doenças, Medidas de Higiene e Bioética 125 Gerenciamento e Descarte de Resíduos Laboratoriais e dos Serviços de Saúde 175 65 Riscos Biológicos Utilize o aplicativo Unicesumar Experience para visualizar a Realidade Aumentada. 152 Pirâmide Principiológica da Bioética PLANO DE ESTUDOS OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM Dra. Michele Putti Paludo Dr. Gustavo Affonso Pisano Mateus • Conceituar Biossegurança e conhecer seus campos de atuação. • Compreender as boas práticas laboratoriais voltadas aos serviços em saúde. • Conhecer os diferentes equipamentos de proteção indi- vidual e coletivo. • Entender os principais programas relacionados à percep- ção e avaliação de riscos em serviços de saúde. Introdução à Biossegurança Boas Práticas em Biossegurança Percepção e Avaliação de Riscos em Serviços de Saúde Equipamentos de Proteção Individual (EPI) e Coletiva (EPC) Biossegurança Aplicada aos Serviços de Saúde Introdução à Biossegurança Olá, caro(a) aluno(a), seja bem-vindo(a)! Nesta primeira unidade de nosso material didático da disciplina de Biossegurança e Bioética, iremos conhecer um pouco sobre as diferentes áreas de atuação e as competências da Biossegurança, sendo uma delas voltada ao desenvolvimento de técnicas e procedimentos inovadores, e a outra voltada à segurança ambiental. Mediante ao conteúdo apresentado, será pos- sível inferir acerca da relevância desta disciplina em cursos da área da saúde, especialmente no que tange aos serviços de atendimento populacional em saúde. As práticas associadas à Biossegurança per- meiam boas condutas em ambientes laboratoriais voltadas à saúde, mediante às orientações e ins- truções sobre uso e aplicação dos instrumentos de proteção individual e coletiva, indispensáveis para a realização das atividades relacionadas aos serviços de saúde e que são fundamentais para a garantia da saúde dos profissionais e do meio ambiente laboral e natural. 15UNIDADE 1 Apresentaremos, também nesta unidade, in- formações sobre a avaliação dos possíveis riscos associados às atividades dos serviços de saúde, voltados ao bem estar laboral e ao controle de possíveis complicações atreladas a estas ativida- des, como é o caso das infecções hospitalares, que demandam atenção e cuidados especiais em seu controle e prevenção. Avaliar os riscos inerentes às atividades se faz necessário para orientar os padrões de segurida- de a serem adotados, além de estarem relacio- nados a classificações e aos níveis de segurança laboratoriais. Por fim, nesta unidade de estudo, esperamos apresentar informações básicas e essenciais para fomentar sua atuação como futuro profissional da saúde, de forma crítica e ampla, possibilitando o desenvolvimento de procedimentos operacionais adequados necessários para uma atuação/gestão eficaz. Antes de nos aventurarmos pelas áreas de ação da Biossegurança, é necessário definirmos esse campo do conhecimento em função dos inúmeros conceitos apresentados na literatura, para tanto, a fim de melhor compreendermos, iremos conhecer algumas definições de forma simples e objetiva, vamos lá? Inicialmente, biossegurança pode ser definida como o conjunto de procedimentos, ações, técni- cas, metodologias, equipamentos e dispositivos capazes de eliminar ou minimizar riscos inerentes às atividades de pesquisa, produção, ensino, de- senvolvimento tecnológico e prestaçãode serviços que podem comprometer a saúde do homem, ani- mais, meio ambiente ou a qualidade dos trabalhos desenvolvidos (TEIXEIRA; VALLE, 2010). Uma outra definição, apresentada pela Comis- são Técnica Nacional de Biossegurança (CTN- Bio, 2009, on-line)1, está associada à garantia no avanço dos processos tecnológicos, bem como na proteção da saúde humana, animal e do meio ambiente. Além destes, segundo Alves e Pacheco (2015), existem outros conceitos para a biossegurança relacionados à prevenção de acidentes em am- bientes ocupacionais, o que inclui o conjunto de medidas técnicas, administrativas, educacionais, médicas e psicológicas. Com esta aproximação de algumas definições, verifica-se que o objetivo principal da biossegu- rança é orientar um ambiente de trabalho no qual se promova a contenção dos riscos de exposição a agentes potencialmente nocivos ao trabalha- dor, ao paciente e ao meio ambiente. Os méto- dos utilizados para obtenção dessa contenção representam as bases da biossegurança e são ditos primários ou secundários. A contenção, ou barreira primária, visa a pro- teção do trabalhador e do ambiente de trabalho contra a exposição a agentes infecciosos, podendo ser obtida por meio de práticas microbiológicas seguras e pelo uso adequado dos equipamentos de segurança. Estes evitam casos de contaminação nos mais variados ambientes de trabalho, como em laboratórios em situações de vacinas (hepatite B por exemplo), hospitais, clínicas de podologia, clínicas odontológicas, salões de beleza, terapeutas capilares, clínicas de estética, clínicas médicas e outras, contribuindo na proteção pessoal. As barreiras secundárias dizem respeito à construção ou reforma de laboratórios, clínicas, hospitais e outros, quanto a sua localização e instalações físicas, as quais são importantes para proporcionar uma barreira de proteção para pes- soas dentro e, principalmente, fora do ambiente de trabalho, bem como para o meio ambiente. Os tipos de barreiras secundárias dependerão do risco de transmissão dos agentes específicos manipulados no local. 16 Biossegurança Aplicada aos Serviços de Saúde São alguns exemplos de barreiras secundárias: a localização distante do acesso público, a presen- ça de sistemas de ventilação especializados em assegurar o fluxo de ar unidirecionado, sistemas de tratamento de ar para a descontaminação ou remoção do ar liberado e câmaras pressurizadas como entradas de laboratório (BRASIL, 2006a). Nas próximas unidades, veremos quais são e que riscos essas barreiras previnem. Histórico em Biossegurança O conceito de biossegurança começou a ser mais fortemente construído no início de 1970, na Cali- fórnia, após o surgimento da engenharia genética, por meio da transferência e expressão do gene da insulina para Escherichia coli. Essa primeira experiência, em 1973, provocou forte reação da comunidade científica mundial, fato que culmi- nou na realização da Conferência de Asilomar, em 1974. Nessa conferência, foram tratadas questões acerca dos riscos das técnicas de engenharia gené- tica e sobre a segurança dos espaços laboratoriais (ALBUQUERQUE, 2001). A partir da Conferência de Asilomar, origina- ram-se as normas de biossegurança do National Institute of Health (NIH), dos EUA. Seu mérito, portanto, foi o de alertar a comunidade científica, principalmente quanto às questões de biossegu- rança inerentes à tecnologia de DNA recombinan- te. Desde então, a maioria dos países centrais viu-se diante da necessidade de estabelecer legislações e regulamentações para as atividades que envolves- sem a engenharia genética (ALMEIDA; VALLE, 1999; ALMEIDA; ALBUQUERQUE, 2000). Em 1980, a Organização Mundial de Saúde conceituou a biossegurança como práticas de pre- venção para o trabalho em laboratório com agen- tes patogênicos e, além disso, classificou os riscos como biológicos, químicos, físicos, radioativos e ergonômicos. Na década seguinte, observou-se a inclusão de temas, tais como ética em pesquisa, meio ambiente, animais e processos envolvendo tecnologia de DNA recombinante em programas de biossegurança (COSTA, M. A.; COSTA, M. F., 2002). No Brasil, de acordo com Shatzmayr (2001), a biossegurança só se consolidou como área es- pecífica nas décadas de 70 e 80, em decorrência do grande número de relatos de graves infecções ocorridas em laboratórios e também de uma maior preocupação em relação às consequências que a manipulação experimental de animais, plan- tas e microrganismos poderia trazer ao homem e ao meio ambiente. Em 1995, foi implementada a Comissão Téc- nica Nacional de Biossegurança (CTNBio), a fim de estabelecer normas às atividades que envolvam construção, cultivo, manipulação, uso, transpor- te, armazenamento, comercialização, consumo, liberação e descarte relacionados a organismos geneticamente modificados (OGMs) em todo o território brasileiro (SCHOLZE, 1999). Tais normas, além de tratarem da minimiza- ção dos riscos em relação aos OGMs, envolvem os organismos não geneticamente modificados e suas relações com a promoção de saúde no am- biente de trabalho, no meio ambiente e na comu- nidade (GARCIA; ZANETTI-RAMOS, 2004). A CTNBio é composta por membros titulares e suplentes, que representam o conhecimento das áreas humana, animal, vegetal e ambiental, e está vinculada ao Ministério da Ciência e Tecnologia (SCHOLZE, 1999). Em 19 de fevereiro de 2002, foi criada a Comis- são de Biossegurança em Saúde (CBS) no âmbito 17UNIDADE 1 do Ministério da Saúde. A CBS trabalha com o objetivo de definir estratégias de atuação, avaliação e acompanhamento das ações de biossegurança, procurando sempre o melhor entendimento en- tre o Ministério da Saúde e as instituições que lidam com o tema (BRASIL, 2006a). Anos depois, em 2005, o governo brasileiro sancionou a Lei de Biossegurança (Lei n° 11.105/2005), a qual trata dos estudos científicos envolvendo células-tronco embrionárias e o plantio de sementes transgênicas no país (BRASIL, 11.105/2005). Entretanto, no Brasil, existem duas vertentes acerca da biossegu- rança, sendo uma relacionada à legislação e a outra voltada à prática propriamente dita. A legal está voltada à manipulação de OGMs e de células tronco, regulamentada pela Lei n° 11.105/2005. Já a pra- ticada relaciona-se aos riscos químicos, físicos, biológicos, ergonô- micos e de acidentes encontrados nos ambientes laborais, amparada, principalmente, pelas normas regulamentadoras do Ministério do Trabalho e Emprego (MTE), Resoluções da Agência Nacional de Vigilância em Saúde (ANVISA) e do Conselho Nacional do Meio Ambiente (CONAMA), entre outras (COSTA, 2005). Por fim, está pequena perspectiva histórica na variação das abor- dagens em Biossegurança nos dá uma singela noção da amplitude dessa área do conhecimento tão essencial a diversas outras áreas relacionadas à saúde ambiental e da população. Classificação dos Riscos Associados à Biossegurança Torna-se impossível discutir biossegurança sem a associarmos aos riscos laborais, sobretudo, quando existem legislações que regula- mentam práticas laborais específicas aos trabalhadores da área da saúde. Devido a relevância do assunto, os riscos serão esgotados em outra unidade; entretanto, uma discussão não exaustiva se faz necessária devido à influência dos riscos nas classificações de ati- vidades e também nas esferas de trabalho. O risco denota incerteza em relação a um evento futuro, sendo definido como a probabilidade de ocorrer um acidente causando algum tipo de dano, lesão ou enfermidade. Hirata e Filho (2002) 18 Biossegurança Aplicada aos Serviços de Saúde classificam os riscos em: riscos de acidentes, ergonômicos, físicos, químicos e biológicos. A seguir, você conhecerá brevemente cada um dos riscos apresentados: Os riscos de acidentes são aqueles relacionados a situações de perigo que possam afetar a in- tegridade, o bem-estar físico e moral dos indivíduos nos laboratórios. São exemplos de riscos de acidentes:uso de equipamentos sem proteção, armazenamento ou descartes impróprios de substâncias químicas, instalações elétricas com fios expostos ou com sobrecarga, dentre outros (SANGIONI et al., 2013). Riscos de acidentes Correspondem a qualquer ocorrência que venha a interferir nas características psicofisiológicas do indivíduo, podendo gerar desconforto ou afetando sua saúde. É o caso das lesões causadas pelo esforço repetitivo (LER) e as doenças ortomusculares relacionadas com o trabalho (DORT) (SANGIONI et al., 2013). Para evitá-los, é necessário um ajuste entre as condições de trabalho, sob os aspectos de praticidade, conforto físico e psíquico, modernização de máquinas e equipamen- tos, entre outras (PEREIRA et al., 2014). Riscos ergonômicos Os riscos físicos correspondem às diversas formas de energia que os indivíduos estão expostos, podendo ser originadas de equipamentos ou de outras fontes. São os ruídos, vibrações, tempe- raturas extremas, radiações ionizantes e não ionizantes, ultrassom (SANGIONI et al., 2013). Riscos físicos São os riscos associados a todas substâncias, compostos ou produtos nas formas de gases, va- pores, poeiras, fumaças, fumos, névoas ou neblinas, que possam penetrar no organismo pela via respiratória ou pelo contato por meio da pele ou ingestão (SANGIONI et al., 2013). Riscos químicos Esse risco abrange a manipulação dos agentes e materiais biológicos. São considerados agentes biológicos: vírus, bactérias, fungos, parasitas, príons, OGMs, além das amostras biológicas prove- nientes das plantas, dos animais e dos seres humanos (sangue, urina, fezes, tecidos, entre outras) (SANGIONI et al., 2013). Riscos biológicos 19UNIDADE 1 Apesar de todos os riscos expostos se apresentarem relevantes, os biológicos ganham destaque. Nesse sentido, os agentes biológicos são divididos em classes de 1 a 4 e a classe de risco especial (BRASIL, 2006b). a ) Classe de risco 1 Agentes biológicos que oferecem baixo risco individual e para a coletividade, conhecidos por não causarem doenças em pessoas ou animais adultos sadios. Exemplos: Lactoba- cillus sp., Bacillus. b ) Classe de risco 2 Agentes biológicos de moderado risco individual e limita- do risco para a comunidade, que provocam infecções no homem ou nos animais, cujo potencial de propagação na comunidade e de disseminação no meio ambiente é limitado, e para os quais existem medidas terapêuticas e profiláticas eficazes. Exemplo: Schistosoma mansoni (agente da esquis- tossomose). c ) Classe de risco 3 Agentes biológicos que oferecem alto risco individual e moderado risco para a comunidade, transmitidos por via respiratória e que causam patologias humanas ou animais, potencialmente letais, para as quais existem, usualmente, medidas de tratamento e/ou de prevenção. Representam risco se disseminados na comunidade e no meio ambiente, podendo se propagar de pessoa a pessoa. Exemplo: Bacillus anthracis (agente do Anthrax). d ) Classe de risco 4 Agentes biológicos que oferecem alto risco individual e para a comunidade, com alto poder de transmissibilidade por via respiratória ou de transmissão desconhecida. Podem causar doenças graves ao ser humano, ainda não existem meios efi- cazes para a sua profilaxia ou tratamento. Esta classe inclui, principalmente, os vírus. Exemplo: Vírus Ebola. e) Classe de risco especial Agentes biológicos que oferecem alto risco de causar doença animal grave e de disseminação no meio ambiente. Inclui agentes biológicos de doença animal não existente no país e que, embora não sejam obrigatoriamente patógenos de importância para o homem, podem gerar graves perdas eco- nômicas e/ou na produção de alimentos. Exemplo: Vírus da influenza A aviária. 20 Biossegurança Aplicada aos Serviços de Saúde Assim, com base na avaliação dos riscos, há a determinação do caminho a ser seguido, rela- cionados ao desenvolvimento de atividades laborais como forma de alcançar a prevenção, a minimização ou a eliminação, evitando-se não somente os acidentes que possam ocorrer, mas também a exposição dos profissionais de saúde aos agentes presentes no ambiente de trabalho, além da disseminação de microrganismos patogênicos ou de agentes de risco que possam impactar na saúde pública. A Figura 1 representa a complexidade das ações de biossegurança, segundo Cardoso (2016): Serviço de saúde Usuário Serviço Ambiente Risco de acidente Risco ergonômico Risco físico Risco químico Risco biológico Vigilância médica Descontaminação Equipamentos de proteção Projeto e construção de instalações Boas práticas Qualidade de serviços Monitoramento Segurança predial Figura 1 - Complexidade das ações em Biossegurança Fonte: adaptada de Cardoso (2016). Níveis de Biossegurança Os níveis de biossegurança ou de biocontenção são designados em ordem crescente (NB-1 a NB- 4), de acordo com o grau de proteção proporcio- nado ao pessoal do laboratório, ao meio ambiente e à comunidade. Práticas mais ou menos rígidas poderão ser adotadas quando temos uma infor- mação específica que possa sugerir a virulência, patogenicidade, os padrões de resistência aos antibióticos e às vacinas e a disponibilidade de tratamento ou outros fatores significativamente alterados (BRASIL, 2006a). Desta forma, para Penna et al. (2010), os la- boratórios são divididos respeitando os níveis de biossegurança: Nível de biossegurança 1 (NB-1): é o nível necessário ao trabalho que envolva agentes biológi- cos da classe de risco 1. Representa um nível básico de contenção, que se fundamenta na aplicação das boas práticas laboratoriais (BPLs), na utilização de equipamentos de proteção e na adequação das ins- talações. O Bacillus subtilis e Naegleria gruberi são exemplos de micro-organismos que se enquadram nesse nível (BRASIL, 2006a). Nível de biossegurança 2 (NB-2): é o nível exigido para o trabalho com agentes biológicos da classe de risco 2. O acesso ao laboratório deve ser restrito a profissionais da área (professores e técnicos) e aos acadêmicos que estejam desenvol- 21UNIDADE 1 vendo atividades de ensino, pesquisa e extensão, mediante a autorização do profissional respon- sável. O vírus da hepatite B, o HIV, a salmonela e o Toxoplasma spp. são exemplos de microrga- nismos designados para esse nível de contenção (BRASIL, 2006a). É importante destacar que os laboratórios de ensino de microbiologia vinculados às insti- tuições de ensino superior equivalem aos níveis NB-1 e NB-2. Nas atividades realizadas nestes laboratórios, há a manipulação de microrganis- mos e parasitas de baixo risco biológico, estando associadas, principalmente, ao desenvolvimento das aulas práticas, das ações de extensão e de pes- quisa (SANGIONI et al., 2013). Nível de biossegurança 3 (NB-3): esse nível é aplicável aos locais onde forem desenvolvidos trabalhos com agentes biológicos da classe de ris- co 3. O Mycobacterium tuberculosis, o vírus da encefalite de St. Louis e a Coxiella burnetii são exemplos de microrganismos determinados para esse nível (BRASIL, 2006a). Nível de biossegurança 4 (NB-4): esse nível é exigido às atividades que manipulem os agentes biológicos da classe de risco 4 e agentes especiais. Nesse tipo de laboratório, o acesso dos profissionais deve ser controlado por um sistema de segurança rigoroso. Os vírus, como os de Marburg ou da febre hemorrágica Criméia-Congo, são manipulados no nível de biossegurança 4 (BRASIL, 2006a). Norma Regulamentadora (NR) 32 Para finalizarmos este tópico, é importante des- tacar uma importante norma de biossegurança que trata da Segurança e Saúde no Trabalho em Serviços de Saúde, a NR 32, criada pelo Ministé- rio do Trabalho e Emprego. O objetivo dessa NR é agrupar o que já existe no país em termos de legislação e favorecer os trabalhadores da saúde, estabelecendo diretrizes para implementação de medidas de proteção à saúde e segurança destes. Essa norma trata, ainda, dos riscos biológicos, químicos, das radiações ionizantes, dos resíduos,das condições de limpeza e conservação e da manutenção de máquinas e equipamentos em serviços que prestam assistência à saúde (BRA- SIL, 2005). A Norma Regulamentadora (NR) 32 tem por finalidade estabelecer as diretrizes básicas para a implementação de medidas de proteção à segurança e à saúde dos trabalhadores dos serviços de saúde, bem como daqueles que exercem atividades de promoção e assistência à saúde em geral. Conheça a NR 32 na íntegra no site: <http://www.guiatrabalhista.com.br/legislacao/nr/nr32.htm>. 22 Biossegurança Aplicada aos Serviços de Saúde A biossegurança envolve a análise dos riscos a que os profissionais de saúde estão constantemente expostos em suas atividades e ambientes de tra- balho. A avaliação de tais riscos engloba vários aspectos, sejam relacionados aos procedimentos adotados, às chamadas boas práticas em labora- tório, aos agentes biológicos manipulados, à in- fraestrutura dos laboratórios ou informacionais, como à qualificação das equipes (BRASIL, 2006c). As boas práticas em biossegurança seguem as mesmas premissas das boas práticas laboratoriais (BPLs), que compreendem um conjunto de nor- mas, procedimentos e atitudes de segurança, que visam minimizar os acidentes que envolvam as atividades desempenhadas pelos laboratoristas, bem como incrementar a produtividade, assegu- rar a melhoria da qualidade dos serviços desen- volvidos e, ainda, auxiliar na manutenção de um ambiente seguro. Sendo assim, os cuidados com a biossegurança dos espaços de atendimento à população, abrange as mesmas prudências utili- zadas nos laboratórios. Ressalta-se que a utilização das BPLs requer a aplicação do bom senso e prudência dos pro- fissionais ao desenvolver cada atividade (MAS- TROENI, 2005; ARAÚJO et al. 2009; SANGIONI Boas Práticas em Biossegurança 23UNIDADE 1 et al., 2013). Portanto, a não utilização de forma adequada das BPLs pode ocasionar riscos imi- nentes no âmbito laboratorial. As BPLs padrões nos laboratórios devem ser conhecidas e aplicadas por todos os usuários (SANGIONI et al., 2013). Essas medidas, ainda, são constituídas por atividades organizacionais do ambiente de trabalho e por procedimentos básicos, como a utilização de Equipamentos de Proteção Individual (EPIs) e Equipamentos de Proteção Coletivos (EPCs), limpeza e higieniza- ção do ambiente laboratorial, dentre outras. A seguir, vamos apresentar a importância de Procedimentos Operacionais Padrão (POP) e tam- bém algumas práticas laboratoriais adotadas para equipamentos, profissionais, materiais e ambiente (MOLINARO; CAPUTO; AMENDOEIRA, 2009; PENNA et al., 2010; SANGIONI et al., 2013). Procedimentos Operacionais Padrão (POP) Com o intuito de garantir a aplicação dos prin- cípios das BPLs, um dos instrumentos utilizados nos laboratórios são os Procedimentos Operacio- nais Padrão (POP). Segundo Molinaro, Caputo e Amendoeira (2009), o POP pode ser definido como um documento que expressa o planejamen- to do trabalho, a fim de padronizar e minimizar a ocorrência de desvios na execução das atividades e, assim, garantir aos usuários serviços ou produ- tos livres de variáveis indesejáveis, independen- temente de quem as realize. Um Procedimento Operacional Padrão tem como meta garantir que a qualidade seja a mesma em todas as etapas do processo em qualquer momento. O POP descreve cada passo crítico e sequencial que deverá ser dado pelo operador para garantir o resultado esperado da tarefa. Na área da saúde, os POPs ficam contidos em manuais com a finalida- de de esclarecer dúvidas e orientar a execução das ações e devem estar de acordo com as diretrizes e normas da instituição, ser atualizados sempre que necessário e deverão ser seguidos por todos (médi- cos, enfermeiros e auxiliares) de forma padronizada (GUERRERO; BECCARIA; TREVIZAN, 2011). Mas como elaboramos um POP? A figura a seguir informa, de maneira geral, alguns passos importantes para a elaboração de um Procedimento Operacional Padrão. Descrição das etapas da tarefa e de seus executadores e responsáveis Nome do POP Objetivo do POP Documentos de referência (manuais) Local de aplicação Sigla (se houver) Fluxograma Local onde poderá ser encontrado e o nome do responsável pela guarda e atualização Frequência de atualização Forma que será gerado ( papel, eletrônico) Gestor (quem colaborou) Responsável Figura 2 - Fluxograma para elaboração de um POP Fonte: Gourevitch e Morris (2008). 24 Biossegurança Aplicada aos Serviços de Saúde Com base no fluxograma, nota-se que o POP deve conter informações suficientes para que todos os colaboradores possam utilizá-lo como um guia, assim como, em caso de dúvida, saibam onde bus- car mais informações ou a quem recorrer (GOU- REVITCH; MORRIS, 2008). Para Gourevitch e Morris (2008), o POP é um instrumento destinado a quem executa a tarefa; este deve ser simples, completo e objetivo para que possa ser interpretado por todos os colaboradores. Quanto a sua aplicação, representa a base para garantir a padronização de tarefas e assegurar aos usuários um serviço ou produto livre de variações (não confor- midades) que poderão interferir na qualidade final. Assim, os POPs são recursos tecnológicos im- portantes na prática de saúde e, como tal, devem ser validados, uma vez que, dessa forma, adqui- rem credibilidade científica, a ponto de serem eficazes no processo de mudança da prática as- sistencial, bem como na melhoria do resultado do desempenho dos profissionais. Os POPs ajudam a sintetizar a informação mediante uma estrutura concisa e promovem a tradução do conhecimento para melhorar a prática (GERAIX; CAMPOS, G. CAMPOS, R. 2007; CUNHA; LEITE, 2008). Boas Práticas Laboratoriais e Clínicas Aplicadas a Equipamentos Os equipamentos de laboratório requerem condi- ções apropriadas para cumprirem sua funcionali- dade, além de contarem com a conduta ética dos profissionais que irão utilizá-los. Os itens a seguir descrevem boas práticas laboratoriais e orienta- ções de utilização destinadas aos manuseio dos equipamentos. Portanto, os equipamentos devem: a. Ser configurados regularmente e estar em locais apropriados, livre de interferências (corrente de ar, vibrações, umidade, inci- dência de luz solar e calor). b. Ser operados apenas por profissionais trei- nados e capacitados. c. Estar em condições de utilização e seguir um plano rigoroso de validação, qualifica- ção, calibração, esterilização e manutenção. d. Possuir orientações em relação a sua utili- zação presentes nos procedimentos opera- cionais padrões (POP). e. Ser inspecionados regularmente e man- tidos em condições adequadas para ope- ração por pessoas qualificadas para esse trabalho, como profissionais treinados, vinculados a empresas do segmento. Boas Práticas Laboratoriais e Clínicas Aplicadas a Profissionais e Usuários As Boas Práticas são de grande importância para os colaboradores e usuários do local, uma vez que elas prezam pela segurança e proteção de todos. A seguir, estão descritas algumas me- didas: a. É proibido a ingestão e/ou o preparo de ali- mentos e bebidas, fumar, mascar chicletes e manipular lentes de contato. b. Evitar o uso de qualquer tipo de acessórios/ adornos durante as atividades laborato- riais. c. Pipetar com a boca é expressamente proi- bido e jamais se deve colocar na boca ob- jetos de uso no laboratório (canetas, lápis, borrachas, entre outros). 25UNIDADE 1 d. Observar os princípios básicos de higiene, como manter as mãos limpas e unhas apa- radas; sempre lavar as mãos antes e após vários procedimentos. Se não existirem pias no local, líquidos antissépticos devem estar à disposição para limpeza das mãos. e. Trajar roupas de proteção durante as ativi- dades laboratoriais, como: jalecos, aventais, macacões, entre outros. Essas vestimentas não devem ser usadas em outros ambientes fora do laboratório ou clínica como: escri- tório, biblioteca, salas de estar e refeitórios. f. Usar luvas de procedimentossomente nas atividades laborais e evitar tocar em obje- tos de uso comum. g. Usar os equipamentos de proteção ade- quados durante o manuseio de produtos químicos. h. Utilizar calçados fechados, confortáveis e antiderrapante. i. Manter os artigos de uso pessoal fora das áreas destinadas às atividades laboratoriais. j. Manusear, transportar e armazenar mate- riais (biológicos, químicos e vidrarias) de forma segura para evitar qualquer tipo de acidente. O manuseio de produtos quími- cos voláteis, metais, ácidos e bases fortes, entre outros, necessita ser realizado em ca- pela de segurança química. As substâncias inflamáveis precisam ser manipuladas com extremo cuidado, evitando-se proximida- de de equipamentos e fontes geradoras de calor. k. Acidentes ocorridos devem ser documen- tados e avaliados para correções e preven- ções. l. Os trabalhadores devem ser devidamente treinados e informados. m. Dependendo do local, evitar trabalhar so- zinho, como no caso dos laboratórios, e jornadas de trabalho prolongadas, como em atendimentos em clínicas, em que o excesso de atividade diária possa levar a lesões por esforços repetitivos ou dores osteoarticulares do trabalho. Boas Práticas Laboratoriais e Clínicas Aplicadas a Materiais e Reagentes A seguir, estão apresentadas medidas de Boas Prá- ticas adotadas para materiais e reagentes: a. Identificar todos os produtos químicos e frascos com soluções, medicamentos, princípios ativos, ácidos, cosméticos, cos- mecêuticos e reagentes, os quais devem conter a indicação do produto, condições de armazenamento, prazo de validade e toxidade do produto. b. Acondicionar os resíduos biológicos e químicos em recipientes adequados, e que apresentem condições seguras para enca- minhá-los ao serviço de descarte. c. Armazenar adequadamente matérias-pri- mas, padrões, reagentes e demais insumos, avaliando-se o grau de risco, compatibili- dades, incompatibilidades, bem como as condições ideais de luz, umidade e tem- peratura de armazenamento. d. O descarte dos materiais cortantes deve ser realizado em recipientes de paredes rígidas, com tampa e devidamente identificado. e. No descarte, as agulhas usadas não devem ser dobradas, quebradas, reutilizadas, reca- peadas, removidas das seringas ou mani- 26 Biossegurança Aplicada aos Serviços de Saúde puladas antes de desprezadas. Seu descarte deve ser feito em recipiente adequado a material perfurocortante (como caixas de papelão específicas para coletar material perfurocortante descartável provenientes das ações de atenção à saúde - descarpark). f. Assegurar que os resíduos biológicos sejam descontaminados antes de serem descar- tados. Vale destacar que, além de todas essas medidas, a Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT) parametrizou símbolos de segurança nos rótulos, a fim de lembrar aos usuários o risco do manuseio inadequado ou a exposição a um pro- duto, representando nos pictogramas os primeiros sintomas com o contato da substância (MOLINA- RO; CAPUTO; AMENDOEIRA, 2009). Boas Práticas Laboratoriais Aplicadas ao Ambiente Laboratorial Algumas BPLs aplicadas ao ambiente laboratorial estão descritas a seguir: a. Restringir o acesso de pessoas ao laborató- rio, isto é, somente os indivíduos autoriza- dos pelos coordenadores e professores po- dem ingressar nos ambientes laboratoriais. b. Visitas de crianças no laboratório é desa- conselhável. c. Não é recomendado que haja plantas no interior do laboratório. d. Garantir que a limpeza dos laboratórios (bancadas, pisos, equipamentos, instru- mentos e demais superfícies) sejam reali- zadas regularmente antes e imediatamente após o término das atividades laboratoriais. Em caso de derramamentos, dependendo do tipo e quantidade de material biológi- co disseminado, pode-se empregar para a descontaminação do local álcool 70% ou solução de hipoclorito de sódio a 10%. e. O descarte de resíduos deve ser feito de maneira que não comprometa a saúde dos profissionais e do meio ambiente. f. Todo laboratório deve ser sinalizado de forma a facilitar a orientação dos usuários e advertir quanto aos potenciais riscos presentes no local. A utilização correta e o respeito à sinalização de segurança são entendidos como barreiras primárias das medidas de contenção. g. Instituir um programa de controle de roe- dores e vetores nos laboratórios. h. Disponibilizar kits de primeiros socorros e promover a capacitação dos usuários em segurança e emergência nos laboratórios. Segundo Molinaro, Caputo e Amendoeira (2009), o Ministério da Saúde recomenda que o símbolo de risco biológico seja disposto na entrada do la- boratório, informando também o microrganismo manipulado, a classe de risco, o nome do pesqui- sador responsável e o telefone de contato. Além disso, deve conter a frase: “Proibida a entrada de pessoas não autorizadas”. Diante do que foi exposto, observa-se que a adoção das Boas Práticas Laboratoriais assume uma importância primordial para a melhoria da qualidade do ambiente de trabalho, asseguran- do a proteção tanto dos profissionais quanto dos usuários do serviço. 27UNIDADE 1 Como vimos no item anterior, alguns equipamen- tos são necessários para a realização das BPL, sen- do eles os equipamentos de proteção individual e coletiva. Os equipamentos de proteção são barrei- ras primárias que visam a proteger o profissional (individual) e o ambiente (coletivo). A Norma Regulamentadora n° 6, do Ministério do Trabalho e Emprego, estabelece que o emprega- dor é obrigado a fornecer ao trabalhador equipa- mentos de proteção individual (EPI), orientando e treinando sobre o uso adequado, guarda e conser- vação, realizando periodicamente a higienização e a manutenção, substituindo imediatamente sem- pre que danificado e extraviado (MOLINARO; CAPUTO; AMENDOEIRA, 2009). Os trabalhadores da área da saúde que atuam em hospitais, clínicas e laboratórios são considera- dos como categoria profissional de alto risco, pois estão frequentemente expostos aos riscos bioló- gicos, em especial, quando manuseiam fluídos corpóreos e sangue (NISHIDE; BENATTI, 2004). Equipamentos de Proteção Individual (EPI) e Coletiva (EPC) 28 Biossegurança Aplicada aos Serviços de Saúde Assim, é fundamental que o profissional da saúde utilize os equipamentos de forma correta, pois, descartáveis ou não, deverão estar à dispo- sição e em número suficiente nos postos de tra- balho, de forma que seja garantido seu imediato fornecimento ou reposição (SKRABA; NICKEL; WOTKOSKI, 2006). Destaca-se, ainda, que tais medidas de prote- ção tornaram-se alvo de preocupações a partir da epidemia da Síndrome da Imunodeficiência Humana (AIDS), com a ocorrência do primeiro caso comprovado de contaminação em um hospi- tal na Inglaterra (TEIXEIRA; VALLE, 2010). Fatos como este nos permitem ressaltar a importância da biossegurança aplicada à área da saúde. Os equipamentos de proteção não devem ser inseridos de forma autoritária na rotina de trabalho. É fundamental que os colaboradores e profissionais da saúde receba capacitação para utilizá-los e tenha um prazo para se adaptar; caso contrário, ao invés de proteger, esses equipamentos poderão tornar-se elementos geradores de acidentes. Devemos, também, levar em consideração o conforto proporcionado pelos equipamentos e a qualidade do produto e, ainda, exigir, junto ao Ministério do Trabalho, o Certificado de Aprovação (CA) (TEIXEIRA; VALLE, 2010). Portanto, caro(a) aluno(a), a utilização desses equipamentos é de extrema importância, sobre- tudo em serviços de saúde. E, muitas vezes, eles se fazem presentes em nosso cotidiano, mesmo sem percebermos. Você sabe quais são os EPIs e EPCs utilizados na área da saúde? Equipamentos de Proteção Individual (EPIs) Os EPIs são todos os dispositivos de uso indivi- dual destinados a proteger a saúde e a integridade física do trabalhador (MOLINARO; CAPUTO; AMENDOEIRA, 2009). Segundo Alves e Pache- co (2015),os EPIs que devem estar disponíveis, obrigatoriamente, para todos os profissionais que trabalham em ambientes de saúde são: jalecos, luvas, máscaras, óculos, protetores faciais e cal- çados fechados. Desta forma, todos esses EPIs são utilizados para prevenir o usuário de adquirir doenças em virtude do contato profissional-paciente e contra riscos de acidentes de trabalho, visando à conser- vação da sua própria saúde. Sendo assim, o uso dos EPIs de forma combi- nada, ou não, objetiva minimizar a disseminação de microrganismos e proteger áreas do corpo expostas à material infectante, especialmente sangue, líquidos corporais, secreções e excretas. A seguir, vamos conhecer mais detalhadamente cada um desses equipamentos: a. Jalecos: são de uso obrigatório para todos que trabalham nos ambientes laboratoriais em que ocorra a manipulação de micror- ganismos patogênicos, manejo de animais, lavagem de material, esterilização e ma- nipulação de produtos químicos. O uso deve ser restrito aos laboratórios, evitando a contaminação do ambiente exterior. O tecido do jaleco deve, de preferência, ser de fibras naturais (100% algodão), uma vez que as fibras sintéticas se inflamam com facilidade. Mangas compridas, cobrindo os braços, o dorso, as costas e a parte su- perior das pernas são ideais (MOLINARO; CAPUTO; AMENDOEIRA, 2009; TEI- XEIRA; VALLE, 2010). 29UNIDADE 1 b. Luvas: devem ser utilizadas em todos os procedimentos, desde a coleta, transporte, manipulação até o descarte das amostras, uma vez que previnem a contaminação das mãos do trabalhador ao manipular, por exemplo, material biológico potencialmen- te patogênico e produtos químicos (MOLI- NARO; CAPUTO; AMENDOEIRA, 2009). Além disso, as luvas são indicadas sempre que houver possibilidade de contato com sangue, secreções e excreções, com mucosa ou pele não íntegra (GOMES, 2003). O Quadro 1 indica os principais materiais de composição das luvas utilizadas na área labora- torial e da saúde. Além destes, outros materiais também podem ser utilizados, como as luvas sintéticas produzidas em nitrilo e neoprene, cuja matéria-prima não é látex (CANUTO; COSTA; SILVA, 2007). Lembre-se que o uso de luvas não substitui a necessidade da lavagem das mãos, uma vez que elas podem conter pequenos orifícios inaparentes ou danificar-se durante o uso, podendo contami- nar as mãos quando removidas. Quadro 1 - Tipos de luvas usadas na área laboratorial e da saúde Tipo Indicação de uso Luva de látex São luvas de borracha natural, usualmente disponíveis em laboratórios e áreas da saúde. Luva de vinil São luvas feitas de material sintético e são mais resistentes a materiais perfurocortantes. Luva de borracha grossa São luvas antiderrapantes usadas para a manipulação de resíduos ou lava- gem de materiais ou procedimentos de limpeza em geral. Luvas resistentes à temperatura (altas e baixas) Feitas de materiais apropriados para proteção, servem para manipulação de materiais submetidos a aquecimento ou congelamento, como proce- dimentos que utilizam estufas para secagem de materiais, banho-maria, câmaras frias, freezer para conservação de amostras, além de outros. Fonte: Brasil (1999). c. Máscaras: protegem os trabalhadores do contato com material contaminado, como aerossóis ou produtos químicos. Pode apresentar filtros mecânicos, que protegem contra partículas suspensas no ar, ou filtros químicos, que se destinam à proteção contra gases e vapores orgânicos (MOLINARO; CAPUTO; AMENDOEIRA, 2009). d. Óculos: têm a função de proteger os olhos contra impactos, respingos e aerossóis. É importante que sejam de qualidade comprovada, a fim de proporcionar ao usuário visão transparente, sem distorções e opacidade (MOLINARO; CAPUTO; AMENDOEIRA, 2009). e. Protetores faciais: oferecem uma proteção à face do trabalhador contra risco de impactos (par- tículas sólidas, quentes ou frias), de substâncias nocivas (poeiras, líquidos e vapores), como também das radiações (raios infravermelho e, ultravioleta etc.) (MOLINARO; CAPUTO; AMENDOEIRA, 2009). De modo geral, são feitos do mesmo material dos óculos, devendo ser ajustáveis à cabeça e cobrir todo o rosto (SKRABA; NICKEL; WOTKOSKI, 2006). Tanto os protetores faciais como os óculos são equipamentos reutilizáveis e devem ser desinfetados. 30 Biossegurança Aplicada aos Serviços de Saúde f. Calçados fechados: são destinados à pro- teção dos pés contra umidade, respingos, derramamentos de materiais infectantes e impactos de objetos diversos. Não é permitido o uso de tamancos, sandálias e chinelos em laboratórios (MOLINARO; CAPUTO; AMENDOEIRA, 2009). Além dos EPIs descritos, há também os protetores auditivos, para trabalhos muito demorados com equipamentos considerados prejudiciais ou noci- vos em longa exposição (MOLINARO; CAPUTO; AMENDOEIRA, 2009). Desta forma, para auxiliar na fixação dos prin- cipais EPIs, o Quadro 2 descreve sobre os riscos evitados e as características de proteção ofereci- das por cada um deles. Quadro 2 - Equipamentos de proteção individual, risco evitado e características de proteção EPI Risco evitado Características de proteção Jalecos e aventais de plástico Contaminação do vestuário Cobrem o vestuário, no caso dos jalecos e, depen- dendo do material, podem ser impermeáveis Calçados Impactos e salpicos Fechados Óculos de segurança Impactos Lentes resistentes a impactos; e proteções laterais Viseira de proteção facial Impactos e salpicos Proteção total da face e fácil de tirar em caso de acidente Aparelhos e máscaras de respiração Inalação de aerossóis Existência de diferentes modelos: descartáveis, completa ou meia máscara purificadora de ar, de capuz com ar filtrado à pressão e com abasteci- mento de ar Luvas Contato direto com mi-crorganismos e cortes Em látex, vinilo ou nitrilo microbiologicamente apro- vados e descartáveis Fonte: adaptado de Penna et al. (2010). Equipamentos de Proteção Coletiva (EPC) Os Equipamentos de Proteção Coletiva (EPC) são utilizados para minimizar a exposição dos trabalhadores aos riscos e, em caso de acidentes, reduzir suas consequências (TEIXEIRA; VALLE, 2010). Podem ser de uso rotineiro, como as cabi- nes de segurança biológica e capelas de exaustão química, ou para situações emergenciais, como os extintores de incêndio, chuveiro e lava-olhos, que devem estar instalados em locais de fácil aces- so e bem sinalizados (MOLINARO; CAPUTO; AMENDOEIRA, 2009). A seguir, vamos conhecer alguns EPC usados na área laboratorial e da saúde: 31UNIDADE 1 irritantes, porém muito usado em laboratórios clínicos para descontaminação (BRASIL, 2004). Extintores de incêndio: usados para eliminar ou controlar o fogo de um local ou objeto, devem apresentar-se em número, tipo e distribuição ade- quados; sua manutenção e/ou reposição devem ser periódicas, bem como o pessoal do laboratório deve ser treinado para a sua utilização (SANGIO- NI et al., 2013). Chuveiro de emergência e lava-olhos: são equipamento utilizados em casos de acidentes em que haja projeção de sangue, substâncias químicas ou outro material biológico sobre o profissional (BRASIL, 2004). Chuveiro e lava-olhos devem es- tar presentes em todos os laboratórios em perfeito estado de funcionamento e higienizados. A água para os lava-olhos deve ser preferencialmente fil- trada (SANGIONI et al., 2013). Kit de primeiros socorros: nos laborató- rios deve constar também kit de primeiros socorros, tendo os materiais comumente preconizados no socorro imediato de pequenos ferimentos e de- sinfecção, no caso de aciden- tes com material biológico (GARCIA; ZANETTI-RA- MOS, 2004; SANGIONI et al., 2013). Além disso, o número dos telefones do corpo de bom- beiros e dos responsáveis pela segurança das chefias dos labo- ratórios deve estar em local de fácil acesso e à vista de todos (ALVES; PACHECO, 2015). Cabines de Segurança Biológica (CSB): a Cabine de Segurança Biológica (CSB) ou Capela de Fluxo Laminar é um equipamentoutilizado para proteger o profissional e o ambiente labora- torial de partículas ou contaminantes que podem se espalhar durante a manipulação (GARCIA; ZANETTI-RAMOS, 2004). É importante que as cabines sejam submetidas periodicamente à manutenção e a trocas dos filtros e, ainda, o la- boratório deve possuir relatório da manutenção, mantido à disposição da fiscalização do traba- lho (MOLINARO; CAPUTO; AMENDOEIRA, 2009). Existem três tipos de CBSs (BRASIL, 2004): a. Classe I - esse tipo de cabine protege o ma- nipulador e o ambiente, porém não evita a contaminação do material que está sendo manipulado. b. Classe II - a CSB classe II protege o ma- nipulador, o ambiente e o material. Esse equipamento é utilizado nos laboratórios clínicos, em especial, para procedimentos microbiológicos e laboratórios de saúde pública. c. Classe III - essa cabine é completamente fechada, o que impede a troca de ar com o ambiente e funciona com pressão negativa, oferecendo total segurança ao manipula- dor, ambiente e material; os recipientes e o material a serem manipulados entram e saem por meio de câmaras de desinfecção. Cabine de Exaustão Química: as capelas de exaustão química são equipamentos que prote- gem os profissionais na manipulação de subs- tâncias químicas que liberam vapores tóxicos e 32 Biossegurança Aplicada aos Serviços de Saúde Já aprendemos sobre os principais conceitos e termos utilizados em biossegurança, as Boas Práticas Laboratoriais (BPLs) e os Equipamentos de Proteção Individual (EPIs) e Coletiva (EPCs). Agora, vamos conhecer alguns programas res- ponsáveis por proteger e prevenir os profissionais da incidência de acidentes e problemas de saúde provenientes do trabalho? Comissão de Controle de Infecção Hospitalar (CCIH) A Comissão de controle de infecção hospitalar (CCIH) apresenta grande relevância em ambiente hospitalar, sendo de extrema importância não só para os colaboradores relacionados a esse seg- mento, mas também a todos profissionais da saú- de, uma vez que é necessário um conhecimento básico sobre suas funções desempenhadas por esta comissão para uma boa formação. Para tanto, iremos apresentar breve histórico sobre a CCIH, informações relacionadas a sua composição e so- bre seus membros. Percepção e Avaliação de Riscos em Serviços de Saúde 33UNIDADE 1 Um Breve Histórico Sobre as CCIH Infecções Hospitalares, adaptadas e voltadas para a realidade nacional. Outra iniciativa que merece ser destacada foi a realização do primeiro Curso de Introdução de Controle de Infecção Hospitalar para treinamento de profissionais de nível supe- rior (ANVISA, 2004). Em 1987, foi constituída, em nível nacional, uma comissão de controle de infecções hospita- lares (IH), com representações de vários estados. Em 6 de abril de 1988, a Portaria n° 232 criou o Programa Nacional de Controle de IH (PNCIH) que, em 1990, transformou-se em Divisão Nacio- nal de Controle de Infecção Hospitalar por meio da Portaria n° 666, de 17 de maio de 1990. Em 1989, em São Paulo, ocorreu o 1º Congresso Bra- sileiro sobre Infecção Hospitalar, realizado pela Associação Paulista de Estudos e Controle de In- fecção Hospitalar, com cerca de mil participantes e vários convidados estrangeiros (ANVISA, 2004). Em 1992, a Portaria n° 930 foi substituída pela de n° 196, do Ministério da Saúde, recomendan- do que os programas específicos de controle e prevenção de Infecção Relacionada à Assistência à Saúde (PCIRAS) realizassem vigilância ativa dessas infecções (ANVISA, 2004). Contudo, foi apenas em 1997 que o MS tornou obrigatória a existência de um programa de controle e pre- venção dessas infecções nos hospitais, pela Lei n° 9.431 (BRASIL, 9.431/1997). A última portaria publicada pelo Ministério da Saúde foi a de n° 2.616, de 12 de maio de 1998, que rege o controle de infecção hospitalar e mantém a obrigatoriedade de um Programa de Controle de Infecções Hospitalares (PCIH) em todos os hospitais do país, demandando, em sua estrutura, a organização de uma Comissão de Controle de Infecção Hospitalar (CCIH) e um Serviço de Con- trole de Infecção Hospitalar (SCIH) (ANVISA, 2004; SILVA; LACERDA, 2011). No Brasil, a demanda pelo controle e prevenção das Infecções Relacionadas à Assistência Social (IRAS), inicialmente denominada Infecção Hos- pitalar (IH), deu-se em meados dos anos 70 do século XX, por recomendação do Ministério da Previdência e Assistência Social (MPAS), a partir de profissionais que já estudavam e lidavam com esse tipo de ocorrência no país, e que haviam cria- do as primeiras Comissões de Controle e Preven- ção de Infecções Hospitalares (CCIH) nos locais em que trabalhavam (BRASIL, 1998). Essa demanda era, em grande medida, decor- rente da mudança da política de saúde no período da ditadura militar, em que a assistência curativa passou a ser dominante, com a proliferação de hospitais (LACERDA; JOUCLAS; EGRY, 1996). A década de 80 foi o marco no controle das infecções hospitalares no Brasil, quando o Minis- tério da Saúde criou um grupo de trabalho inte- grado tanto por seus representantes quanto pelos Ministérios da Educação e da Previdência Social. Esse grupo elaborou um documento normativo, que gerou a Portaria n° 196, de 24 de junho de 1983, determinando a todos hospitais brasileiros a constituição de uma Comissão de Controle de Infecção Hospitalar (ANVISA, 2004; OLIVEIRA; SILVA; LACERDA, 2016). Contudo, somente a partir de 1985, com a re- percussão da morte do ex-presidente Tancredo Neves, em consequência de infecção hospitalar, essa questão assumiu uma dimensão maior, sen- sibilizando a população e, principalmente, os pro- fissionais da área de saúde. Resultou dessa preo- cupação a realização do “Curso de Introdução ao Controle de Infecção Hospitalar”, ministrado em todo o País. No mesmo ano, foi publicado o “Manual de Controle de Infecção Hospitalar”, objetivando preconizar medidas de prevenção e controle das 34 Biossegurança Aplicada aos Serviços de Saúde Vale ressaltar que a referida Portaria também define as características desejáveis de formação dos profissionais e parâmetros para determinação do número dos membros executores da CCIH, com base no número de leitos e tipos de unidade que se compõe o hospital, além de outros aspectos (ANVISA, 2004). Atualmente, as diretrizes gerais para o Con- trole das Infecções em Serviços de Saúde são delineadas pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária, que foi criada em 26 de janeiro de 1999 (ANVISA, 2004). Em 2004, a ANVISA instituiu o Sistema de In- formações para Controle de Infecção em Serviços de Saúde (SINAIS). E, em 2012, criou a Comissão Nacional de Prevenção e Controle de Infecção Re- lacionada à Assistência à Saúde (CNIRAS), com a finalidade de assessorar a Diretoria Colegiada da ANVISA na elaboração de diretrizes, normas e medidas para prevenção e controle de Infec- ções Relacionadas à Assistência à Saúde (IRAS) (BRASIL, 2012). Neste sentido, a CCIH é responsável pela normatização das diretrizes para a prevenção e controle de exposição a doenças infectoconta- giosas e a materiais orgânicos, a implementação do programa de imunização e planejamento e controle de epidemias entre os trabalhadores da saúde (SCHEIDT; ROSA; LIMA, 2006). Membros da CCIH Como já descrito anteriormente, a CCIH é o órgão que presta assessoria ao Programa de Controle de Infecções Hospitalares (PCIH), e é composta por profissionais da área da saúde com nível supe- rior e formalmente designados, (BRASIL, 1998). A CCIH tem o objetivo não somente de prevenir e combater à infecção hospitalar, beneficiando toda a comunidade assistida, como também de prote- ger o hospital e o corpo clínico. Ainda, em uma Unidade de Saúde, a CCIH é um apoio a todos os profissionais que atuam diretamente com os pacientes, a fim de prevenir e controlar as infec- ções hospitalares e suas prováveis consequências (ROCHA; ALVES; BRASILEIRO, 2010). Conforme a legislaçãovigente, a CCIH deve ser constituída de membros executores e con- sultores, que possuem atividades diferenciadas, porém, complementares nas ações da Comissão. Vejamos a seguir: • Membros consultores: são representados pelos serviços médicos, enfermagem, far- mácia e de microbiologia. • Membros executores: estão relacionados ao Serviço de Controle de Infecção Hospi- talar (SCIH) e formados por, no mínimo, 2 técnicos da área da saúde ou de nível su- perior para cada 200 leitos ou fração deste número, com carga horária diária mínima de 6 horas para o enfermeiro e 4 horas para os demais profissionais (BRASIL, 1998). Portanto, segundo Horr et al. (1978), serão fun- ções da CCIH: • Controle do ambiente: elaborar, con- trolar e atualizar normas e procedimen- tos referentes à limpeza e desinfecção dos ambientes, estabelecendo a frequência e tipo de desinfetante empregado, dando ênfase especial às áreas críticas: centros cirúrgico, obstétrico, berçário, sala de recu- peração pós anestésica, unidade de terapia intensiva, pediatria, isolamento, serviço de Nutrição e Dietética, bem como elaborar programas de treinamento e atualização sobre limpeza e desinfecção de ambiente. 35UNIDADE 1 • Controle do pessoal: supervisionar o preparo do campo operatório em pacien- tes cirúrgicos, elaborar, supervisionar e atualizar rotinas referentes às técnicas de assepsia: degermação, desinfecção, sani- ficação, desinfestação, higiene, limpeza, esterilização, escovação das mãos, uso de aventais, máscaras, pró-pés, manipulação de medicamentos, eliminação do material de curativos, de dejetos hospitalares em geral, bem como supervisionar a limpe- za, desinfecção e esterilização de todo o equipamento e material hospitalar, como: máscaras, nebulizadores, bolsas de água quente e gelo, aspiradores, frascos de dre- nagem, respiradores artificiais, seringas, agulhas, material cirúrgico, aparelhos de anestesia, cateteres e sondas. • Controle de produtos químicos: sele- cionar os produtos químicos e agentes de limpeza, controle da sua aquisição e em- prego de testes periódicos. • Elaboração de normas e rotinas: desen- volver normas da organização da C.C.I.H, normas referentes ao Pessoal, normas re- ferentes ao orçamento, normas referentes ao relacionamento interno e externo de comissão e normas técnicas relacionadas às características e classificação das in- fecções. • Investigação epidemiológica: realizar levantamento e análise de um conjunto de indicadores: taxa de incidência e de pre- valência de infecções hospitalares, taxa de infecção em cirurgias não contaminadas, taxa de infecção em cirurgias potencial- mente contaminadas, taxa de letalidade por infecções hospitalares, taxa de infecção por microrganismo específico, coeficien- tes de sensibilidade aos antimicrobianos, indice de consumo de antimicrobianos. • Reuniões periódicas: para que os objeti- vos da C.C.I.H. sejam atingidos, é impres- cindível a participação de representantes médicos, enfermeiros, chefes de serviço nas reuniões, principalmente quando novas medidas deverão ser implantadas. O Sistema Nacional de Informação para Controle de Infecções em Serviços de Saúde (Sinais) O Sistema Nacional de Informação para Controle de Infecções em Serviços de Saúde (SINAIS) é uma iniciativa da Agência Nacional de Vigilân- cia Sanitária (ANVISA), que tem o objetivo de oferecer, aos profissionais da saúde e hospitais brasileiros, um instrumento para aprimoramento das ações de prevenção e controle das infecções relacionadas à assistência à saúde, complemen- tando e favorecendo o cumprimento estabelecido pelas CCHI (ANVISA, 2017, on-line)2. Essa ferramenta pretende consolidar o sistema de monitoramento da qualidade da assistência dos serviços em todos os segmentos da área da saúde no Brasil. O Sistema permite a entrada de dados e emissão de relatórios em uma rotina de trabalho que acompanha as atividades já desen- volvidas pelas CCIH do país. A responsabilidade pelos dados inseridos no SINAIS, assim como pelo envio mensal, é do diretor do hospital, que pode delegar essas funções à equipe da CCIH ou a qualquer outro membro da instituição de saúde. Ao se cadastrar no Sistema, a instituição estará automaticamente concordando com essas condi- ções. Além de indicadores de infecções relacio- nadas à assistência, o SINAIS também permite acompanhamento da tendência de resistência de microrganismos aos antimicrobianos e identifica- ção de surtos (ANVISA, 2017, on-line)2. 36 Biossegurança Aplicada aos Serviços de Saúde Dessa forma, o uso do programa é gratuito e a sua implantação pelos hospitais do país é uma ação de grande importância para o efetivo con- trole de infecções hospitalares, possibilitando a consolidação do sistema de vigilância da quali- dade dos Serviços de Saúde no Brasil. Comissão de Gerenciamento de Risco Hospitalar O gerenciamento de risco hospitalar é um pro- cesso complexo que associa várias áreas do co- nhecimento e consiste na aplicação sistêmica e contínua de políticas, procedimentos, condutas e recursos na avaliação de riscos e eventos adversos que afetam a segurança do paciente, do profissio- nal e do meio ambiente. Também, é no sentido de minimizar os ris- cos que se faz necessário conhecer e controlá-los. Além das consequências sociais, econômicas e materiais a ele relacionadas, a perda da vida hu- mana é a mais grave que pode ocorrer (CAPU- CHO; BRANQUINHO; REIS, 2010, on-line)3. As ações da gerência de risco, segundo a AN- VISA (2010), incluem: • A farmacovigilância, com atividades para detecção, avaliação, prevenção e notifica- ção dos efeitos adversos ou qualquer pro- blema relacionado a medicamentos (in- cluindo os setores de farmácia hospitalar e comissão farmacotécnica). • A hemovigilância, para identificação, aná- lise, prevenção e notificação dos efeitos indesejáveis imediatos e tardios advindos do uso de sangue e seus componentes (en- volvendo os setores de banco de sangue, laboratórios, médicos e enfermagem que os administram). • A tecnovigilância, para identificação, aná- lise, prevenção e notificação de eventos adversos relacionados ao uso de equipa- mentos, artigos médicos e kits laborato- riais durante a prática clínica (incluindo os setores de inventário, compras e gestão de insumos hospitalares, central de materiais e esterilização, enfermagem, engenharia clínica e de manutenção). • Os saneantes, com ações voltadas à aná- lise e prevenção dos efeitos indesejáveis advindos do uso de saneantes no âmbito hospitalar (desde compras até dispensado- res, mesmo se terceirizados). • A comissão de Controle de Infecção Hos- pitalar (CCIH) para identificação, análise e prevenção de surtos e infecções hospi- talares, controle e uso racional de antimi- crobianos em serviços de saúde (além da CCIH, envolvendo também a comissão de ensino, saúde e segurança no trabalho, prevenção de acidentes e todos os profis- sionais assistenciais). • E, por fim, parcerias com as áreas de Mo- nitoração de Propaganda e Inspeção de Medicamentos e Produtos para a Saúde. Como o risco está presente em muitas ações e procedimentos que envolvem os pacientes den- tro do hospital, as instituições de saúde criaram estruturas organizacionais, obrigatórias, ou não, por lei, para lidar com ele. Entre essas estruturas, pode-se citar: a Comissão de Controle de Infec- ção Hospitalar, a Comissão de Óbito Hospitalar, a Comissão de Prontuários Médicos e a Comissão de Farmácia e Terapêutica (SILVA, 2009). O Quadro 3 apresenta os objetivos de cada comissão citada. 37UNIDADE 1 Quadro 3 - Comissão associadas ao gerenciamento de riscos hospitalares COMISSÃO OBJETIVOS Comissão de Controle de Infecção Hospitalar Prevenir e combater à infecção hospitalar, beneficiando toda a comuni- dade assistida, como também de proteger o hospital e o corpo clínico (ROCHA; ALVES; BRASILEIRO, 2010). Comissão de Óbito Hospitalar Investigar as mortes no hospital, contribuindono monitoramento da qualidade da assistência (GUIMARÃES et al., 2011). Comissão de Prontuários Médicos Observar os itens que deverão constar obrigatoriamente do prontuário confeccionado em qualquer suporte, eletrônico ou papel, e assegurar a responsabilidade do preenchimento, guarda e manuseio dos prontuá- rios, que cabem ao médico assistente, à chefia da equipe, à chefia da Clínica e à Direção técnica da unidade (OSELKA, 2002). Comissão de Farmácia e Terapêutica Possibilitar que os pacientes recebam o melhor e mais custo-efetivo tratamento, por meio do acesso ao medicamento e do seu uso ade- quado; oferecer avaliação, educação e consultoria aos profissionais da instituição sobre todas as questões relacionadas ao uso de medi- camentos; selecionar os fármacos; desenvolver e manter atualizado o formulário terapêutico; definir estudos de utilização de medicamentos para elaborar recomendações sobre o uso racional dos fármacos; e assessorar o serviço de farmácia na implementação do serviço de dis- tribuição de medicamentos (MARQUES; ZUCCHI, 2006). Fonte: adaptado de Guimarães et al. (2011); Marques e Zucchi (2006); Oselka (2002) e Rocha, Alves e Brasileiro (2010). Dentro do processo de gerenciamento de riscos, ainda há a avaliação de riscos, etapa que determi- na o valor quantitativo ou qualitativo dos riscos, associados a uma situação concreta e a uma amea- ça reconhecida. Nas instituições de saúde, deve ser realizada, por exemplo, a avaliação dos riscos de infecção, sua probabilidade de ocorrência e a aplicação de medidas de controle adequadas. Avaliar as situações de risco e produzir uma lógica para a realização do procedimento correto pode ajudar a justificar o tempo e o custo para a implementação de uma ação específica, minimi- zando todos os erros que podem levar a infec- ções hospitalares. Para Silva (2009), a avaliação dos riscos nas instituições de saúde começa com um olhar para os processos e os dados relatados, com a finalidade de encontrar os problemas que podem causar erros. Por fim, caro(a) aluno(a), as informações pre- sentes nesta unidade representam uma aborda- gem inicial sobre Biossegurança e suas aplica- ções em saúde; entretanto, é válido ressaltar que com o advento da ciência e das normatizações trabalhistas específicas, alterações constantes nos conceitos podem ser observadas. Portanto, cabe a você, futuro profissional deste segmento, manter- -se atualizado e atento às alterações futuras. Assim sendo, vamos adiante? 38 Biossegurança Aplicada aos Serviços de Saúde Nesta unidade, aprendemos acerca da Bios- segurança por meio de uma breve perspectiva histórica sobre o desenvolvimento de legislações específicas que regulamentam e explicitam a ne- cessidade de disseminação de práticas relacio- nadas à biossegurança em seus dois âmbitos: o relacionado à proteção laboral e ambiental dos prestadores de serviço relacionados a saúde, e no tocante ao desenvolvimento tecnológico favorável ao atendimento das necessidades antrópicas. Foi possível compreender como a complexi- dade das operações realizadas em laboratórios de serviços de saúde influenciam nos procedimentos que neles devem ser realizados e adotados; como exemplo, podemos citar as classes de risco bioló- gico e os níveis de biossegurança. Conhecemos os diferentes equipamentos de proteção individual e coletiva, bem como algumas informações padrão acerca deles, como composição e indicações de uso. O conhecimento e utilização desses equi- pamentos, bem como das boas práticas labo- ratoriais e clínicas, faz-se indispensável para os profissionais de áreas relacionadas à presta- ção de serviços em saúde. Foi possível obser- var, também, que as boas práticas laboratoriais permeiam condutas profissionais e éticas em ambiente de trabalho variados, como clínicas de várias especialidades, direcionando-os ao cumprimento dos procedimentos operacionais padrão, que objetiva minimizar erros relaciona- dos aos procedimentos realizados e disseminar entre os colaboradores envolvidos informações laborais pertinentes. Por fim, apresentamos alguns programas res- ponsáveis pela avaliação e prevenção dos riscos associados aos serviços de saúde, como a comis- são de controle de infecção hospitalar (CCIH) extremamente relevante no controle estratégico e na contenção de infecções hospitalares, den- tre outras inúmeras funções exercida por esta e outros programas. Esperamos, dessa forma, ter auxiliado em sua compreensão acerca dos temas apresentados, que serão extremamente relevantes em sua vida acadêmica e profissional. 39 Você pode utilizar seu diário de bordo para a resolução. 1. A padronização e a disposição de informações pertinentes para os colaboradores em ambiente de trabalho se faz fundamental, sobretudo, quando diferentes colaboradores executam suas funções em um mesmo local de trabalho. Em ambiente hospitalar, tal fato não poderia ser diferente, especialmente quando diferentes procedimentos ali realizados ocorrem em diferentes turnos e são realizados por inúmeros colaboradores. Neste sentido, faz-se viável e impres- cindível o desenvolvimento de procedimentos operacionais padrão (POP). Ba- seados no conteúdo exposto ao longo desta unidade, conceitue procedimento operacional padrão (POP). 2. Conforme exposto ao longo desta unidade, a Comissão de Controle de Infecção Hospitalar (CCIH) desempenha papel fundamental e de extrema relevância em ambiente hospitalar. Em relação à importância dessa comissão, faz-se neces- sário que todos os colaboradores possuam um conhecimento básicos sobre as atividades desempenhadas pela CCIH. Nesse sentido, discorra sobre a CCIH, apresentando informações relacionadas as suas atribuições e a sua composição. 3. A proteção laboral dos trabalhadores que prestam serviços voltados à saúde é uma das preocupações no que tange a biossegurança. A efetivação dessa se- guridade pode ser efetiva mediante à utilização de equipamentos específicos, denominados equipamentos de proteção individual. Nesse sentido, leia aten- tamente as assertivas a seguir: I) Chuveiro de emergência e lava-olhos. II) Jalecos. III) Cabine de proteção biológica. IV) Luvas. 40 Assinale a alternativa que contempla exemplos de equipamentos de proteção individual. a) Apenas I e II. b) Apenas II e IV. c) Apenas I. d) Apenas II, III e IV. e) Apenas I, II e III. 4. Os riscos em um ambiente de trabalho podem ser considerados quaisquer alte- rações nas condições de homeostasia previamente estabelecidos para a prática laboral e podem estar associados a consequências da realização de atividades específicas presentes em ambientes hospitalares. Em relação à classificação dos riscos em biossegurança, analise as assertivas e assinale com Verdadeiro (V) ou Falso (F): ) ( Riscos físicos estão associados às substâncias, compostos ou produtos nas formas de gases, vapores, poeiras e fumaças. ) ( Riscos biológicos abrangem a manipulação dos agentes e materiais biológicos, como vírus, bactérias, fungos e parasitas. ) ( Riscos ergonômicos são relacionados a ruídos, vibrações, temperaturas ex- tremas, radiações ionizantes e não ionizantes, ultrassom, materiais cortantes e pontiagudos. ) ( Riscos químicos são atrelados aos riscos de acidentes ou sinistros envolvendo o manuseio de substâncias químicas, gases e vapores. ) ( Riscos ergonômicos são aqueles associados ao manuseio de microrganismos ou outros seres vivos de interesse biológico. 5. O termo biossegurança apresenta uma amplitude de significados e aplicações muito diversa. Vimos, ao longo desta unidade, que a Biossegurança não rela- ciona-se com a seguridade de seres vivos, e sim está diretamente relacionada a vertentes laborais e de melhoria da qualidade de vida da população. Nesse entendimento, conceitue com suas palavras Biossegurança, explicitando acerca de suas aplicações e diferentes áreas de atuação. 41 Biossegurança e qualidade dos serviços de saúde Autor: TelmaAbdalla de Oliveira Cardoso Editora: Intersaberes Sinopse: conhecer e compreender o complexo ramo da biossegurança é um grande desafio que deve ser encarado com seriedade, especialmente se você é um profissional da saúde atuante em situações que, direta ou indiretamen- te, em maior ou menor grau, oferecem riscos à saúde. Assim, nesta obra, são abordados os principais aspectos relacionados à proteção do trabalhador e à qualidade na gestão dos serviços de saúde. LIVRO Contágio Ano: 2011 Sinopse: contágio segue o rápido progresso de um vírus letal, transmissível pelo ar, que mata em poucos dias. Como a epidemia se espalha rapidamente, a comunidade médica mundial inicia uma corrida para encontrar a cura e con- trolar o pânico que se espalha mais rápido do que o próprio vírus. Ao mesmo tempo, pessoas comuns lutam para sobreviver em uma sociedade que está desmoronando. FILME Conforme indicado no tópico acerca da CCIH, o sistema Nacional de Informação para o Controle de Infecções em Serviços de Saúde (SINAIS) é uma ferramenta primordial para rotina de trabalho em ambiente hospitalar. Para facilitar sua utilização, a ANVISA disponibilizou um manual no endereço eletrônico, confira! Para acessar, use seu leitor de QR Code. WEB 42 ALBUQUERQUE, M. B. M. Biossegurança, uma visão da história da ciência. Biotecnologia, Ciência & De- senvolvimento, v. 3, n. 18, p. 42-45, 2001. ALMEIDA, A. B. S.; ALBUQUERQUE, M. B. M. Biossegurança: um enfoque histórico através da história oral. História, Ciências, Saúde-Manguinhos, v. 7, n. 1, p. 171-183, 2000. ALMEIDA, J. L. T.; VALLE, S. Biossegurança no ano 2010: o futuro em nossas mãos? Bioética, v. 7, n. 2, p. 199- 203, 1999. ALVES, L. S.; PACHECO, J. S. Biossegurança - Fator determinante nas unidades de atendimento à saúde. Revista Fluminense de Extensão Universitária, v. 3, n. 2, p. 33-40, 2015. ANVISA. Agência Nacional de Vigilância Sanitária. ANVISA intensifica controle de infecção em serviços de saúde. Revista Saúde Pública, v. 38, n. 3, p. 475-78, 2004. ______. Manual de Tecnovigilância: abordagens de vigilância sanitária de produtos para a saúde comercia- lizados no Brasil. Brasília: Ministério da Saúde, 2010. 629p. ARAÚJO, A. S.; MELO, M. D.; ARRUDA, M. L. S.; MENESES, M. D. Boas práticas nos laboratórios de aulas práticas da área básica das Ciências Biológicas e da Saúde. 100 f. 2009. 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Um POP descreve todos os passos necessários para a realização das atividades de um técnico/analista/profissional da saúde e visa, ainda, orientar os colaboradores acerca das diretrizes institucionais. 2. A Comissão de Controle de Infecção Hospitalar tem por função a elaboração de normas para controle e prevenção de infecções em ambiente hospitalar, bem como uma série de atribuições relacionadas ao con- trole do ambiente, controle e capacitação de profissionais, controle de produtos químicos, levantamento e monitoramento de infecções institucionais, dentre outras. 3. B. 4. F, V, F, V e F. 5. Biossegurança pode ser definida como o conjunto de procedimentos, técnicas e condutas capazes de eliminar ou minimizar riscos inerentes relacionados às atividades de pesquisa, ensino, desenvolvimento tecnológico e prestação de serviços, possivelmente prejudiciais à saúde do homem e do meio ambiente. 47 48 PLANO DE ESTUDOS OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM • Conhecer os principais riscos físicos envolvidos nas ativi- dades laborais dos trabalhadores em saúde. • Apresentar os principais riscos químicos envolvidos nas atividades laborais dos trabalhadores em saúde. • Compreender os principais riscos biológicos envolvidos nas atividades laborais dos trabalhadores em saúde. • Informar sobre os principais riscos ergonômicos envolvi- dos nas atividades laborais dos trabalhadores em saúde. • Entender os principais riscos psicossociais envolvidos nas atividades laborais dos trabalhadores em saúde. Riscos Físicos Riscos Químicos Riscos Ergonômicos Riscos PsicossociaisRiscos Biológicos Dr. Gustavo Affonso Pisano Mateus Dra. Michele Putti Paludo Riscos Ambientais Riscos Físicos Olá, caro(a) aluno(a), seja bem-vindo(a) a nossa segunda unidade do material didático da disci- plina de Biossegurança! Esta unidade tem por finalidade explorar a fundo os principais riscos, sejam eles: físicos, químicos, biológicos, ergonô- micos e psicossociais, aos quais estão expostos os colaboradores da área da saúde. Além das con- sequências para a saúde dos colaboradores de atendimento direto e indireto, exercidas por cada um dos riscos apresentados. Discutir riscos, sejam eles de qualquer natu- reza, faz-se necessário no contexto hospitalar, em função do atendimento prestado e também pela complexidade de relações laborais que acontecem nesse ambiente. A demanda específica e emergen- cial que ocorre nesse ambiente expõem os cola- boradores a diversos riscos durante a realização de suas atividades, o que ressalta a necessidade de conscientizá-los e orientá-los, buscando mi- nimizar a incidência de sinistros e da exposição aos riscos inerentes à atividade. Vale destacar que a saúde do profissional em saúde também deve receber atenção e deve ser monitorada, especialmente no que tange à saúde psicossocial. Para tanto, os hospitais enquanto or- 51UNIDADE 2 ganizações devem possuir um olhar diferenciado para seus colaboradores, utilizando de inúmeras ferramentas voltadas ao acompanhamento da saúde do seu quadro de colaboradores. Além disso, iremos abordar as legislações e diretrizes específicas que permeiam e orientam na realização das práticas laborais em saúde. Tal especificidade se faz necessária em função das peculiaridades do ambiente hospitalar. Logo, aten- der as especificidades previstas pela NR 32, por exemplo, fazem-se de suma importância para a prática laboral. Nesse sentido, ao fim desta unidade de estudo, esperamos contribuir com informações acerca dos riscos existentes em um ambiente hospitalar, tornando você, futuro profissional da saúde, ciente e apto para a realização de suas atividades. Os ambientes hospitalares concentram inú- meros agentes e/ou fatores de risco, alguns deles ocultos ou desconhecidos, mas que podem cau- sar danos à saúde do trabalhador. Observam-se deficientes medidas acerca da gestão de riscos ocupacionais e, diante da magnitude dos proble- mas consequentes da falta de biossegurança, a exposição aos agentes de risco é uma realidade. Assim, dando continuidade a nossa discussão, vamos conhecer mais detalhadamente cada um dos riscos já citados na Unidade 1. Antes de iniciarmos nosso estudo, vale ressaltar que, além da NR 32, já vista anteriormente, tam- bém existem outras importantes normativas que preconizam a segurança do trabalhador, como: • NR 5: estabelece a necessidade de as em- presas possuírem uma Comissão Interna de Prevenção de Acidentes (CIPA). • NR 6: regulamenta o uso de equipamentos de proteção individual (EPI’s). • NR 7: prevê a implantação do Programa de Controle Médico de Saúde Ocupacional (PCMSO) para determinadas empresas, de acordo com grau de risco. Em relação à CIPA em ambientes hospitalares, conforme informações disponíveis no endereço disponibilizadas pelo hospital Nardini ([2017],on-line)1, ela deverá estabelecer medidas como: • Sugerir medidas de prevenção de acidentes julgadas necessárias, por iniciativa própria ou sugestões de outros empregados, enca- minhando-os ao empregador. • Promover a divulgação e zelar pela ob- servância das normas de segurança e me- dicina do trabalho ou de regulamentos e instrumentos de serviço emitidos pelo empregador. • Promover, anualmente, a Semana Interna de Prevenção de Acidentes de Trabalho - SIPAT. • Registrar, em livro próprio (previamente autenticado pelo órgão regional do MTb), as atas das reuniões da CIPA e enviar, men- salmente ao empregador, cópias destas. • Preencher um documento obrigatório de- nominado Anexo I (Controle de Acidentes de Trabalho Trimestral), mantê-lo arquiva- do, de maneira a permitir acesso a qualquer momento, sendo de livre escolha o método de arquivamento. • Enviar trimestralmente cópia do Anexo I ao empregador. Especificidades: • Desde 11/08/88, compete ainda à CIPA, no âmbito de empresas onde se acha or- ganizada, a promoção de campanhas de prevenção contra Síndrome de Imuno- deficiência Adquirida - AIDS/SIDA, na forma estabelecida pela Portaria MTb nº 3.195/88. A Campanha Interna de Preven- ção da AIDS (CIPAS) tem por finalidade divulgar conhecimentos e estimular, no interior das empresas e em todos os locais de trabalho, a adoção de medidas preven- 52 Riscos Ambientais tivas contra a AIDS, passando a integrar a Campanha Nacional de Prevenção de Acidentes (CANPAT). • Caberá, ainda, à CIPA, no âmbito de em- presa em que se acha organizada, promo- ver campanhas educativas, demonstrando os efeitos nocivos do FUMO, caso tenha a empresa aderido às medidas recomenda- das na Portaria Interministerial (MTb/MS) nº 3257 de 22/05/88. Agora, já contextualizado em relação às norma- tivas que atuam sobre todos os riscos que serão expostos nesta unidade, vamos prosseguir com o nosso estudo sobre os riscos ambientais a que es- tão expostos os profissionais da saúde, abordando, inicialmente, os riscos físicos. Os riscos físicos correspondem às diversas for- mas de energia, as quais os indivíduos estão ex- postos, podendo ser originadas de equipamentos ou de outras fontes (SANGIONI et al., 2013). O trabalhador da área da saúde convive com muitos agentes de desconforto, como a exposição à tem- peratura extrema, ruídos tecnológicos presentes no cotidiano, vibrações, radiações ionizantes e não ionizantes, ultrassom, materiais cortantes e pontiagudos, os quais geram incômodo e estres- se ao trabalhador (OLIVEIRA; LISBOA, 2009; SANGIONI et al., 2013). Acredita-se que os agentes físicos capazes de prejudicar a saúde do trabalhador passem des- percebidos pela equipe, fazendo com que ela se habitue a conviver com eles na sua rotina de tra- balho, desconsiderando danos e subnotificando acidentes com esses agentes (SULZBACHER; FONTANA, 2013). Vamos conhecer, agora, os principais riscos físicos associados à área da saúde. Radiações Radiação é a energia que se propaga a partir de uma fonte emissora por meio de qualquer meio, podendo ser classificada como energia em trânsi- to. Todos nós estamos expostos à radiação natural e à radiação artificial, principalmente em exames radiológicos médicos, odontológicos e equipa- mentos eletrofototerapêuticos usados na estética, fisioterapia e podologia. Assim, qualquer tipo de radiação interage com corpos, inclusive o huma- no, depositando neles energia (OKUNO, 2013). Os efeitos da radiação dependem de vários fatores, como: dose total, tipo de radiação, ida- de do indivíduo, estágio de divisão celular, parte do corpo exposto, estado geral da saúde, volume de tecido exposto e intervalo de tempo em que a dose é recebida (BOSCHI et al., 2004). Desse modo, o efeito que a radiação produz na matéria com a qual interage permite classificá-la em não ionizante e ionizante (OKUNO, 2013). Radiação não Ionizante A radiação não ionizante (RNI) refere-se a qualquer tipo de radiação eletromagnética que não possui energia suficiente para ionizar átomos ou moléculas diretamente (Figura 1) (FLORES-MCLAUGHLIN; RUNNELLS; GAZA, 2017). Os exemplos mais co- nhecidos são: luz visível, infravermelho, laser, mi- cro-ondas, radiofrequência e ultravioleta. Segundo Havas (2017), as RNI, ou radiações não ionizantes, são prejudiciais à saúde humana, devido ao aumen- to dos radicais livres, provocando danos oxidativos às células, o que pode estar associado à ocorrência de doenças como o câncer. 53UNIDADE 2 Radiações Ionizantes A radiação ionizante (RI) é aquela que tem ener- gia suficiente para ionizar átomos, isto é, os fó- tons perdem toda ou quase toda energia numa única interação com átomos, ejetando elétron deles que, por sua vez, saem ionizando átomos até pararem. São exemplos de RI os raios X e gama (OKUNO, 2013). Os profissionais que tra- balham com diagnósticos de raios-x, medicina nuclear, radioterapia e odontologia são os mais afetados pelas RI (Figura 2) (SEARES; FERREI- RA, 2011, on-line)2. A exposição da radiação ionizante pode indu- zir a efeitos biológicos em órgãos ou tecidos pela produção de íons e disposição da energia, que podem danificar moléculas importantes, como o DNA. Nessas situações ocorre a produção de radicais livres, que são moléculas quimicamente reativas com elétrons desemparelhados, produ- zidos pela interação da radiação ionizante com os tecidos, acarretando diversos danos à saúde (DIMENSTEIN; HORNOS, 2013). E você sabe como podemos controlar as ra- diações ionizantes em ambientes hospitalares? Teoricamente, não há material nem forma de blindar todas as radiações, e esse fato eviden- cia a necessidade de proteção radiológica. A proteção se fundamenta em três princípios co- nhecidos: • A justificativa: onde houver atividade com exposição à radiação ionizante, deve-se justificá-la, levando-se em conta os bene- fícios advindos. • A otimização da proteção está ligada à filosofia ALARA (as low as reasonably achievable), que em uma tradução livre significa “tão baixo quanto razoavelmente exequível”, o que implica sempre em dimi- nuir a dose de exposição à radiação, tanto do paciente quanto do indivíduo ocupa- cionalmente exposto. • A limitação da dose, as quais não devem ser superiores aos limites estabelecidos pelas normas de radioproteção de cada país (SEARES, FERREIRA, 2011, on-line2; SOARES; PEREIRA; FLÔR, 2011; OKU- NO, 2013). Figura 1 - Símbolo para a radiação não ionizante Figura 2 - Trifólio - símbolo para a radiação ionizante 54 Riscos Ambientais Cada país tem um órgão que faz adequações nas normas internacionais e as adota para regulamen- tar o uso das radiações. No Brasil, as diretrizes básicas referentes à proteção radiológica estão apoiadas na Comissão Nacional de Energia Nu- clear (CNEN) e os procedimentos, critérios cien- tíficos e metodológicos detalhados na Posição Regulatória 3.01/008:2011 (SEARES, FERREIRA, 2011, on-line2; OKUNO, 2013). Conforme dados da CNEN (2014, p. 13), em sua norma CNEN-NN-3.01: “ [...] os limites de dose ocupacional são valores de dose efetiva ou equivalente, estabelecidos pela exposição ocupacional, cujas magnitu- des não devem ser excedidas, nem conside- radas como fronteiras entre o “seguro” e o “perigoso”. A finalidade dos Limites de Doses Ocupacionais é garantir um nível adequado de proteção individual para cada IOE (Indi- víduo Ocupacionalmente Exposto), que deve ser estabelecido como condição limitante do processo de otimização da proteção radio- lógica, um valor de restrição de dose efetiva, levando em consideração as incertezas a ela associadas, relativo a qualquer fonte ou insta- lação sob o controle regulatório. A recomen- dação para a exposição ocupacional é um limite de dose efetiva de 20 mSv (milisieverts) por ano, medidos sobre cinco anos (100 mSv em cinco anos), não podendo exceder a 50 mSv em um único ano qualquer. Figura 3 - Dosímetro, equipamento indispensável aos profissionais da saúde ocupacionalmenteexpostos 55UNIDADE 2 Como medida preventiva, utiliza-se da blinda- gem, que está associada à proteção individual dos colaboradores, dos pacientes e da área de traba- lho. Na blindagem individual, os profissionais são obrigados a usar os EPIs, como: protetor de tireói- de, dosímetro (Figura 3), luvas, óculos e avental de chumbo (Figura 4). Os aventais são constituídos de lâminas de chumbo, com espessura de 0,25 mm a 0,5 mm e podem pesar até 7,0 kg (SEARES; FERREIRA, 2011, on-line2; SOARES; PEREIRA; FLÔR, 2011). A proteção dos pacientes compreende aven- tal, protetor de gônadas, blindagem de escroto e ovário. Nas gônadas encontram-se células ger- minativas com alta divisão celular e alta radio sensibilidade, por isso há grande preocupação de proteger esta glândula contra a radiação ionizante (SOARES; PEREIRA; FLÔR, 2011). Por fim, as sa- las de radiação devem ser blindadas com chumbo ou equivalente em barita. Pisos e tetos em concreto podem ser conside- rados como blindagens, dependendo da espes- sura da laje, tipo de concreto utilizado (vazado ou não), distância da fonte, geometria do feixe e fator de ocupação das áreas acima e abaixo da sala de raios-x (SEARES; FERREIRA, 2011, on-line)2. Para elucidar a importância da proteção radioló- gica, alguns exemplos de acidentes ocorridos no Brasil e no mundo estão descritos no Quadro 1. Quadro 1 - Acidentes radiológicos hospitalares ocorridos no Brasil e no mundo ANO LOCAL CAUSA CONSEQUÊNCIA 1985 Canadá e Estados Unidos Máquina de radiografia Therac-25 provocou envenenamento por ex- cesso de radiação, devido a falha operacional. Morte de três pessoas en- tre 1985 e 1987. 1987 Brasil (Goiânia) Contaminação por uma fonte de Césio-137 de um equipamento de radioterapia do Instituto Goiano de Radioterapia. 60 mortes e 6000 pessoas atingidas pela radiação. 2011 Brasil (Rio de Janeiro) Menina de 7 anos sofre queimadu- ras graves durante sessões de ra- dioterapia, provavelmente causadas por erro na dosagem. Morte da vítima Fonte: adaptado de Koscianski e Soares (2007); Okuna (2013); Harada (2016, on-line)3. Figura 4 - Avental de chumbo utilizado pelos profissionais da saúde 56 Riscos Ambientais Calor Calor é um risco físico frequentemente presente em ambientes como hospitais, sendo, em especial, utilizado em operações de limpeza, desinfecção e esterilização. Os trabalhadores do serviço de cozinha e copa também estão expostos a esse risco por meio de fornos, fogões, equipamentos para frituras, banho-maria e caldeirões (ANVISA, 2003; OLIVEIRA; MUROFUSE, 2001). O calor é uma forma de energia que pode ser transmitida de um corpo para outro, por radia- ção, condução ou convecção. A quantidade dessa energia (recebida ou entregue) é determinada pela variação de temperatura do corpo que cedeu ou recebeu calor (ANVISA, 2003). Dentro de uni- dades de saúde, as principais doenças que podem acometer os profissionais são: choque térmico, desidratação, cãibras e espasmos pelo calor (AL- MEIDA et al., 2008). À medida em que ocorre a sobrecarga térmica, o organismo dispara certos mecanismos para manter a temperatura interna constante, sendo os principais a vasodilatação pe- riférica e a sudorese (SESI, 2007, on-line)4. Vinculado à questão da temperatura, os traba- lhadores da área da saúde ainda podem conviver com a exposição a extremos, o que desperta preo- cupação, tendo em vista o desarranjo climático e ambiental que assola o país, favorecendo ondas de calor que desidratam e provocam mal-estar ou a inexistência de climatização artificial (SULZBA- CHER; FONTANA, 2013). A NR-15 determina que a exposição ao calor deve ser avaliada por meio do Índice de Bulbo Úmido Termômetro de Globo (IBUTG), usando termômetro de bulbo úmido natural, termômetro de globo e termômetro de mercúrio comum como aparelhos. As medições devem ser efetuadas no local em que o trabalhador permanece e à altura da região do corpo mais exposta (BRASIL, NR 15, 2014). Ruídos Dentre os inúmeros riscos ambientais que os pro- fissionais da saúde estão submetidos, o agente físico ruído, produzido no próprio ambiente hospitalar ou externamente, é responsável pelo comprome- timento da saúde desses trabalhadores (PEREIRA et al., 2003; MIRANDA; STANCATO, 2008). Os níveis de ruído hospitalares encontram-se exces- sivamente elevados em decorrência dos inúmeros alarmes e equipamentos, além da conversação da própria equipe hospitalar (PEREIRA et al., 2003). Clínicas estéticas que trabalham com terapia capilar é um outro local que a acústica excede por causa de secadores de cabelo, atrapalhando e incomodando outros atendimentos simultâneos. Diante disso, esse ambiente, que deveria ser silencioso e tranquilo, torna-se ruidoso, transfor- mando-se em um grande fator de estresse e poden- do gerar distúrbios fisiológicos e psicológicos tanto nos pacientes como nos funcioná- rios de uma unidade de saúde (PEREIRA et al., 2003). E afinal, caro(a) aluno(a), quem não guarda na me- mória a clássica imagem de um ambiente hospitalar, de uma enfermeira in- dicando para se fazer silêncio? (Figura 5). O silêncio deve- ria ser prioridade nos ambientes ligados à saúde, porém o que se observa é exata- mente o contrário (COSTA; LACERDA; MARQUES, 2013). Os hospitais, por Figura 5 - Enfermeira solicitando silêncio 57UNIDADE 2 exemplo, têm se transformado em locais rui- dosos, devido a diferentes fatores, dentre eles, a grande incorporação de tecnologias (OTENIO; CREMER; CLARO, 2007). Nas unidades de te- rapia intensiva (UTIs), são numerosas as fontes geradoras de ruído, como aspiradores, monitores, ventiladores mecânicos, computadores, impres- soras, saídas de ar comprimido, além dos ruídos provenientes do ar condicionado, sons de instru- mentos de trabalho, concentração e trânsito de pessoas, transporte de pacientes e reformas de estruturas físicas (FILUS et al., 2014). Segundo Gabas (2011), a perda auditiva ou diminuição da acuidade auditiva é a consequência à saúde mais imediata causada pela exposição excessiva ao ruído. A exposição em excesso pode acarretar ou piorar outros problemas de saúde, tais como: aumento da pressão sanguínea, pro- vocar ansiedade, perturbar a comunicação, pro- vocar irritação, fadiga, diminuir o rendimento do trabalho, acarretando, assim, impactos diretos na qualidade de vida do trabalhador. Com relação aos níveis de ruído, a Organização Mundial da Saúde recomenda de 35 a 40 dB (OMS, 1999, on-line)5; enquanto que a Associação Brasi- leira de Normas Técnicas (ABNT, 1987) normatiza níveis aceitáveis entre 35 e 55 dB para diferentes ambientes hospitalares. Também existe a NR 15 que considera o ruído em impacto aquele que apre- senta picos de energia acústica de duração inferior a 1 segundo, a intervalos superiores a 1 segundo; e contínuo ou intermitente todo o ruído que não seja ruído de impacto (BRASIL, NR 15, 2014). A prevenção dos riscos associados aos ruídos para os trabalhadores pode ser feita a partir da adoção de medidas, como: a utilização de EPI’s, nos casos em que os ruídos não podem ser con- trolados, e redução do tempo de exposição dos funcionários, em conformidade com a legislação vigente. Segundo a NR 32, consideram-se riscos químicos substâncias, compostos ou produtos que possam penetrar no organismo pelas vias respiratórias, nas formas de poeira, fumo, névoa, neblina, gás ou vapor, ou que, pela natureza da atividade de exposição, possam ter contato ou ser absorvidos pelo organismo por meio da pele ou ingestão. Tal norma estabelece (BRASIL, NR 32, 2005) as se- guintes diretrizes: • Manutenção da rotulagem do fabricante na embalagem original dos produtos quími- cos utilizados em serviços de saúde. • Identificação legível contendo o nome do produto, composição química, concentra- ção, data de envase e de validade e nome do responsável, de todo produto químico manipulado ou fracionado. • A proibição da reutilização das embalagens de produtos químicos.• O Programa de Prevenção de Riscos Am- bientais deve apresentar o inventário de todos os produtos químicos, inclusive in- termediários e resíduos, com indicação daqueles que impliquem em riscos à se- gurança e saúde do trabalhador. Riscos Químicos 59UNIDADE 2 Além da NR 32, há outras medidas que visam a prevenção e controle dos riscos químicos, como: NR 07 - Programa de Controle Médico de Saúde Ocupacional; NR 09 - Programa de Prevenção de Riscos Ambientais; NR 15 - Atividades e Opera- ções Insalubres; NR 26 - Sinalização de Segurança; e Portaria Interministerial MS/MTE n° 482 de 16/04/1999 (CARVALHO; MAGALHÃES, 2013). Trabalhadores da área da saúde, como en- fermeiros, médicos, técnicos e auxiliares, estão expostos aos diversos agentes/fatores de riscos ambientais, como os riscos químicos gerados pelo manuseio de uma variedade de substâncias químicas e também pela administração de me- dicamentos que podem provocar desde simples alergias até graves neoplasias (XELEGATI; RO- BAZZI, 2003). Circunstâncias favorecedoras desse tipo de ex- posição são o uso prolongado de luvas de látex, o manuseio de detergentes e solventes, a manipula- ção de drogas antineoplásicas e antibióticos, a ina- lação de gases anestésicos, a exposição aos vapores de formaldeído e glutaraldeído e aos vapores dos gases esterilizantes, entre outros (XELEGATI et al., 2006). Nem sempre a exposição resulta em efeitos prejudiciais à saúde, os quais irão depender de fatores, tais como: tipo e concentração do agen- te químico, frequência e duração da exposição, práticas e hábitos laborais e suscetibilidade indi- vidual. Prevenir é uma das formas de se evitar os problemas de saúde ocupacional que podem ser desencadeados por essa exposição; porém, para a efetividade dessa prevenção, é necessário que os trabalhadores tenham conhecimento sobre os riscos propiciados pelas substâncias químicas (XELEGATI et al., 2006). Apesar disso, estudo recente demonstra que os riscos físicos e químicos ainda são negligenciados pelos profissionais, reforçando a necessidade da atenção à educação permanente em saúde, fo- cada na atualização de saberes acerca dos riscos ocupacionais dessa natureza (SULZBACHER; FONTANA, 2013). Sulzbacher e Fontana (2013) destacam que os agentes químicos estão presentes no trabalho da enfermagem e são manuseados cotidianamente durante a assistência ao paciente, na organização da área de trabalho ou na desinfecção e esterili- zação de materiais. A seguir, são descritos alguns dos riscos químicos que os trabalhadores da saúde podem encontrar no ambiente de trabalho. Substâncias Quimioterápicas Antineoplásicos (QA’s) Estas substâncias são compostos químicos, tam- bém chamadas de drogas, utilizadas no tratamen- to de câncer, as quais podem promover o aumento da sobrevida dos portadores da doença, mesmo no caso de tumores muito avançados (SIEGEL et al., 2012). No entanto, tais substâncias oferecem potenciais efeitos indesejáveis. No caso dos traba- lhadores que manipulam esses fármacos, durante o preparo, administração e descarte (da droga ou material contaminado, inclusive perfurocortan- tes), são significativos os riscos aos quais estão expostos (MAIA; BRITO, 2011). Os profissionais que manipulam QA’s desta- cam-se por casos de aparecimento de tumores se- cundários e de maiores chances de ocorrência de câncer, mutagenicidade, alterações genéticas e no ciclo menstrual, aborto e malformações congênitas. Além disso, esses trabalhadores podem apresentar alguns tipos de efeitos colaterais que são: vertigens, infertilidade, cefaléia, hiperpigmentação cutânea, tonturas e vômitos que vão depender do grau e do tempo de exposição a esses medicamentos. Muitas vezes, esses efeitos podem ser compa- rados a aqueles apresentados pelos próprios pa- cientes em tratamento com essas substâncias. Isso 60 Riscos Ambientais se dá devido ao risco a que estão expostos durante o preparo, administração e descarte de agentes antineoplásicos, que podem ser absorvidos pelo organismo por meio das vias cutânea, respiratória, mucosas e digestiva (SILVA; REIS, 2010; MAIA; BRITO, 2011). E se esses profissionais estão tão susceptíveis à contaminação e seus efeitos, como podemos preveni-los? Para proteger o trabalhador durante os procedimentos envolvidos na atenção aos pa- cientes que utilizem QA’s, é considerada essencial a adoção de certas medidas. Algumas recomenda- ções são descritas a seguir (BRASIL, NR 32, 2005; BOLZAN et al., 2011): • O preparo dos QA’s deve ser realizado em ambiente restrito e de acesso exclusivo aos profissionais envolvidos. • A sala de preparo deve ser dotada de Ca- bine de Segurança Biológica Classe II B2. • Na área de preparo, todos os trabalhadores devem usar dois pares de luvas estéreis, de punho longo e sem talco. • As mãos devem ser lavadas rigorosamente antes e após o uso da luva. • Avental ou macacão utilizado deve ser lon- go e de uso restrito, preferencialmente des- cartável, com baixa liberação de partículas, baixa permeabilidade, frente fechada, com manga longa e punho elástico. Se for reuti- lizável, deve ser guardado separadamente, com lavagem exclusiva e troca a cada ma- nipulação. • Deve-se utilizar protetor respiratório tipo máscara facial, com filtro de carvão ativa- do, o qual age como filtro químico para partículas de até 0,2 micra (μ) e óculos de proteção com laterais fechadas. • Tanto a área de preparo quanto a área de administração deve conter lava-olhos e chuveiro, para o caso de exposição severa às substâncias de risco. Além dessas recomendações, os trabalhadores de- vem receber capacitação inicial e continuada, resul- tando em profissionais mais habilitados e capazes de reconhecer os riscos inerentes aos quimiote- rápicos antineoplásicos (BRASIL, NR 32, 2005). Vale mencionar que, além da contaminação dos trabalhadores, também pode ocorrer a con- taminação ambiental pelas substâncias QA’s. Es- tudos constataram a presença de partículas dos quimioterápicos fluoracil e ciclofosfamida no ar, teto e chão, além de depósitos encontrados nos filtros das máscaras utilizadas pelos profissionais que preparavam as drogas e nos filtros das câma- ras de fluxo laminar (CORREIA; ALBACH, L.; ALBACH, C., 2011). Gases ou Vapores Anestésicos Os gases anestésicos são substâncias frequente- mente utilizadas nos centros cirúrgicos que podem acarretar riscos para a saúde humana quando não manipulados corretamente. O sevoflurano, haloe- tano, isoflurano, metoxiflurano e o óxido nitroso são conhecidos gases anestésicos. Os efeitos agudos da exposição a esses gases caracterizam-se por ton- turas, alterações do humor, náuseas, fadiga e falta de coordenação dos movimentos (VIEIRA, 2009). No bloco operatório existem múltiplas fontes potenciais de fuga de gás anestésico para a atmos- fera, incluindo as válvulas de escape, conexões no circuito ventilatório, defeitos nas traqueias de plástico, nos balões de insuflação e nos foles do ventilador ou conector em Y. A técnica anestésica selecionada, o tipo de material utilizado e práticas inadequadas (tais como válvulas de controle de fluxo de saída de gás dos vaporizadores abertas após a sua utilização ou derrame de líquidos anes- tésicos inalatórios) podem, também, contribuir para a fuga de gases anestésicos para o ar ambiente (NORTON et al., 2015). 61UNIDADE 2 Segundo Guedes (2011), os riscos ocupacio- nais para mulheres expostas a esse tipo de gás são o aborto espontâneo e de anormalidades congêni- tas no feto, câncer (cervical) e doenças hepáticas e renais; enquanto que nos homens, está associado ao risco aumentado de hepatopatias e risco de anomalias congênitas na prole. A monitorização ambiental é fundamental, não só para avaliar as concentrações dos gases anestésicos, mas também para aferir a eficácia das medidas de controle, identificar potenciais fontes de fuga e adaptar a periodicidade da vigilância médica dos trabalhadores expostos de acordocom os resultados obtidos (OSHA, 2000). Dessa forma, todos os equipamentos utilizados para a administração dos gases ou vapores anesté- sicos devem ser submetidos à manutenção corre- tiva e preventiva, e os locais em que são utilizados devem ter sistema de ventilação e exaustão, com o objetivo de manter a concentração ambiental sob controle, conforme previsto na legislação vigente (BRASIL, NR 32, 2005). Gases Medicinais Os gases medicinais são medicamentos na for- ma de gás, gás liquefeito ou líquido criogênico isolados ou associados entre si e administrados para fins de diagnóstico médico, tratamento ou prevenção de doenças e para restauração, corre- ção ou modificação de funções fisiológicas. São amplamente utilizados em hospitais, clínicas ou outros locais de interesse à saúde, bem como em tratamentos domiciliares de pacientes. Oxigênio, óxido nitroso e dióxido de carbono medicinal são exemplos (ANVISA, 2008). Somente trabalhadores capacitados ou autori- zados devem manusear os cilindros de gás, pois o contato com óleos, graxas e substâncias combustíveis podem trazer sérios riscos à saúde, principalmente no caso dos gases oxidantes (BRASIL, NR 32, 2005). Os riscos associados a esses gases são a ocorrência de incêndio e explosão quando administrados de forma incorreta. Alergia ao Látex O látex não se trata propriamente de um agente químico, contudo, levando em consideração os compostos químicos utilizados na sua produção, acaba por tornar-se um agente associado ao desen- volvimento de hipersensibilidades dos profissio- nais da saúde. Os casos de alergia ao látex têm sido cada vez mais relatados e as manifestações clínicas variam de dermatite de contato (a mais comum e que não é imunologicamente mediada) à reação anafilática clássica (MOTA; TURRINI, 2012). 62 Riscos Ambientais Consideram-se riscos biológicos as condições de exposição ocupacional de trabalhadores a agentes biológicos, onde estes entram em contato com microrganismos modificados ou não, culturas de células e parasitas. O contato pode ocorrer por meio do ar, por contato, veículo comum e vetor. Esses agentes são capazes de provocar danos à saúde humana, podendo causar infecções, efeitos tóxicos, alergênicos, doenças autoimunes e a for- mação de neoplasias e malformações (BRASIL, NR 32, 2005; BRASIL, 2008). As maiores exposições a esse risco estão as- sociadas a lesões provocadas por instrumentos perfurantes e/ou cortantes, como agulhas, bisturi e vidrarias (exposições percutâneas); respingos de material contaminado nos olhos, nariz, boca e genitália (exposições em mucosas); e pelo contato direto com feridas abertas e pele com dermatite (exposição em pele não íntegra) (BRASIL, 2006a; OLIVEIRA; LAGE; AVELAR, 2011). Os hospitais são considerados insalubres por receber pacientes com diversas doenças infecto- contagiosas e agrupá-los em um mesmo local, Riscos Biológicos 63UNIDADE 2 Quadro 2 - Características das 4 classes de riscos Classe de risco Risco individual Risco de propagação à coletividade Profilaxia ou tratamento eficaz 1 Baixo Baixo - 2 Moderado Baixo Existem 3 Elevado Moderado Nem sempre existem 4 Elevado Elevado Atualmente não existem Fonte: Brasil (2008). o que causa um elevado grau de riscos para os profissionais (NISHIDE; BENATTI, 2004). Diante do risco biológico, as in- fecções mais preocupantes são aquelas causadas pelos vírus da AIDS e das hepatites B e C (NEVES et al., 2011). A exposição ocupacional a esses agentes pode-se distinguir em duas categorias (BRASIL, 2008): • Exposição com intenção deliberada: a atividade laboral im- plica na utilização ou manipulação do agente biológico, que constitui o objeto principal do trabalho. Ex.: atividades de pesquisa realizadas em laboratórios de diagnóstico micro- biológico, podólogos, terapeutas, médicos e atividades rela- cionadas à biotecnologia (produção de enzimas, antibióticos e vacinas). • Exposição não deliberada: decorre da atividade laboral sem que esta implique na manipulação direta deliberada do agen- te biológico como objeto principal do trabalho. Ex.: serviços de saúde. Cabe relembrar que os riscos biológicos são divididos em 4 classes, como já visto na Unidade 1. Estas consideram o risco que repre- sentam para a saúde do trabalhador, sua capacidade de propagação para a coletividade e a existência ou não de profilaxia e tratamento, conforme expresso no Quadro 2. Em função desses e outros fatores específicos, as classificações existentes nos vários países apresentam algumas variações, embora coincidam em relação à grande maioria dos agentes (BRASIL, 2006b; BRASIL, 2008). 64 Riscos Ambientais Condutas após Exposição aos Agentes Biológicos Ciente de todos os riscos, caro(a) aluno(a), em caso de um acidente no ambiente de trabalho, quais pre- cauções devemos tomar? O Quadro 3 apresenta algumas medidas apropriadas após a exposição biológica. As Precauções Padrão são um conjunto de medidas utilizadas para diminuir os riscos de transmissão de microrganismos nos hospitais e constituem-se basicamente em lavagem das mãos; uso de Equipamento de Proteção Individual (EPI), como luvas, máscara, protetor de olhos, protetor de face e avental; manejo e descarte corretos de materiais perfurocortantes e resíduos e imunização dos profissionais. Fonte: Brasil (2.616/1998) e Lacerda et al. (2014). Quadro 3 - Condutas adotadas após o contágio com material biológico Conduta Cuidados locais Em caso de lesões com objetos perfurocortantes, deve-se lavar logo após o acidente com água e sabão ou produto antisséptico. A utilização de soluções irritantes (éter, glutaraldeído e hipoclorito de sódio) é contraindicada. Atendimento clínico Atendimento do profissional em serviço especializado, para que seja determinado o risco de infecção e, consequentemente, definida a conduta profilática a ser seguida. Notificação No ato do acidente, realizar a notificação junto ao responsável do setor ou órgão, que informará o SCIH (Serviço de Controle de Infecção Hospitalar) para avaliar o acidente e seguir os procedimentos de conduta imediatamente, estendendo-se no prazo máximo de 72 horas. O departamento pessoal deve enviar a notificação a CAT (Comunicação de Acidente de Trabalho), preenchida pelo médico do trabalho que atendeu o acidentado, com a finalidade de documentar o fato para fins legais. Avaliação do acidente O acidente será avaliado pelo setor responsável, levando em conta o material biológico envolvido, tipo de acidente e situação sorológica do paciente. Fonte: adaptado de Machado, Moura e Conti (2013). Ressalta-se que, para os profissionais da saúde que sofreram algum acidente com material contami- nado pelos vírus HIV, HBV (hepatite B) e HCV (hepatite C), existem recomendações e procedi- mentos específicos do Ministério da Saúde relacio- nados à profilaxia pós-exposição (BRASIL, 2008). Diante de tal situação, faz-se necessário adotar medidas preventivas, a fim de reduzir o risco de infecções provocadas pelo contato e exposição dos profissionais a materiais biológicos. A adoção de tais medidas incluem as Precauções Padrão (PP) e as Precauções Baseadas na Transmissão (PBT), as quais contribuem para a minimização da incidên- cia de infecções, reduzindo gastos com possíveis complicações decorrentes das infecções adquiridas no âmbito hospitalar (LACERDA et al., 2014). 65UNIDADE 2 Já as Precauções Baseadas na Transmissão são elaboradas de acordo com o mecanismo de trans- missão das patologias e designadas para pacientes suspeitos, infectados ou colonizados por patóge- nos transmissíveis e de importância epidemioló- gica baseada em três vias principais de transmis- são: por contato, aérea por gotículas e aérea por aerossóis (LACERDA et al., 2014). Prevenção dos Riscos Biológicos Para prevenir a transmissão de patógenos no am- biente de trabalho, o uso de EPI’s é a ferramenta fundamental para a prevenção de acidentes, con- tudo, a resistênciade profissionais em utilizá-los e o seu uso incorreto são as principais barreiras enfrentadas (NEVES et al., 2011). Vamos conhecer algumas medidas eficazes para prevenir a contaminação por agentes bioló- gicos e proteger os trabalhadores da área da saúde. Higienização das Mãos A higienização das mãos é considerada uma das principais medidas na redução do risco de trans- missão de agentes biológicos, uma vez que repre- sentam a mais importante fonte de transmissão de agentes microbianos na assistência ao paciente (BRASIL, 2008). O procedimento é recomendado antes e depois de ministrar medicamentos por via oral e preparar a nebulização, realizar trabalhos hospitalares, atos e funções fisiológicas ou pessoais, coletar espéci- mes, aplicar medicamentos injetáveis e na troca de roupa dos pacientes (MARTINEZ; CAMPOS; NOGUEIRA, 2009). A lavagem das mãos é a fricção manual vigorosa de toda a superfície das mãos e punhos, utilizando- -se sabão/detergente, seguida de enxágue abundante em água corrente. O uso de luvas não dispensa a lavagem das mãos antes e após contatos que envol- vam mucosas, sangue ou outros fluídos corpóreos. A decisão para a lavagem das mãos com uso de antisséptico deve considerar o tipo de contato, grau de contaminação, condições do paciente e o procedimento a ser realizado. O uso de antissépti- co é recomendado em realização de procedimen- tos invasivos, prestação de cuidados a pacientes críticos, contato direto com feridas ou dispositivos invasivos. Com base nisso, devem ser empregadas medidas e recursos, a fim de incorporar a prática da lavagem das mãos em todos os níveis da assis- tência hospitalar (BRASIL, 2.616/1998). A higienização das mãos geralmente é feita com antissépticos, produtos que têm a função de diminuir a quantidade de microrganismos transitórios e residentes da pele (PAZ; KAISER, 2011). Recomenda-se que sejam agradáveis de utilizar, suaves e, ainda, custo efetivos. Não devem ser tóxicos, alergênicos ou irritantes (KAWAGOE, 2009). O Quadro 4 descreve alguns antissépticos comumente usados no procedimento. Riscos Biológicos 66 Riscos Ambientais Quadro 4 - Antissépticos utilizados na higienização das mãos Antisséptico Ação antimicrobiana Álcool O modo de ação predominante dos álcoois consiste na desnaturação e coagulação das proteínas. Clorexidina A atividade antimicrobiana da clorexidina provavelmente é atribuída à ligação e subsequente ruptura da membrana citoplasmática, resultando em precipitação ou coagulação de proteínas e ácidos nucléicos. A ativi- dade antimicrobiana imediata ocorre mais lentamente que a dos álcoois, sendo considerada de nível intermediário; seu efeito residual, porém, pela forte afinidade com os tecidos, torna-o o melhor entre os antissépticos disponíveis. Iodóforos PVPI (Polivinilpirrolidona iodo) A atividade antimicrobiana ocorre devido à penetração do iodo na parede celular, ocorrendo a inativação das células pela formação de complexos com aminoácidos e ácidos graxos insaturados, prejudicando a síntese pro- téica e alterando as membranas celulares. O iodóforo tem atividade ampla contra bactérias Gram-positivas e Gram-negativas, bacilo da tuberculose, fungos e vírus (exceto enterovírus), possuindo também alguma atividade contra esporos. Triclosan A ação antimicrobiana do triclosan ocorre por sua difusão na parede bac- teriana, inibindo a síntese da membrana citoplasmática, ácido ribonucléico, lipídios e proteínas, resultando na inibição ou morte bacteriana. Fonte: Kawagoe ( 2009). Além dos antissépticos, também são utilizados nos hospitais sabonetes comuns sem ação antimi- crobiana, permitindo a remoção da sujeira, de substâncias orgânicas e da microbiota transitória das mãos pela ação mecânica (KAWAGOE, 2009). Utilização de Luvas O uso de luvas é recomendado quando houver risco de contato com sangue, secreções ou mem- branas mucosas e tem por finalidade proteger o paciente e o profissional. As luvas devem ser calçadas antes do contato com o paciente, retira- das logo após o uso e higienizando as mãos em seguida (LACERDA et al., 2014). Muitas vezes, tem sido constatado que o uso de luvas é um dos fatores que faz com que o profissio- nal de saúde não realize a higienização das mãos. No entanto, a perda de integridade, a existência de micro furos não perceptíveis ou a utilização de técnica incorreta na remoção das luvas possibili- tam a contaminação das mãos dos profissionais (BRASIL, 2008). 67UNIDADE 2 Utilização de Avental ou Jaleco O uso do jaleco, apresentado na Unidade 1, como EPI para o profissional da saúde, é considerado um importante fator para diminuir a chance de aciden- te ocupacional, assim como a adoção de medidas assépticas e a criação de normas, condutas e proce- dimentos (MACHADO; MOURA; CONTI, 2013). Os aventais são divididos em dois tipos: os de uso diário ou jalecos e aventais para uso em pro- cedimentos invasivos ou capote. Ambos devem ser de mangas compridas e sempre mantidos fe- chados. O jaleco é de uso rotineiro, enquanto o capote deve ser utilizado em situações com grande exposição a sangue e microrganismos multirre- sistentes (LACERDA et al., 2014). O trabalhador do serviço de saúde, bem como daqueles que exercem atividades de promoção e assistência à saúde, deverá retirar as vestimen- tas de trabalho ao final da jornada de trabalho ou quando for usufruir de intervalo para des- canso ou alimentação fora das instalações ou, ainda, para realizar outra atividade fora dessas instalações, não relacionada à atividade laboral (BRASIL, 2008). Utilização de Máscaras A máscara visa proteger a saúde do trabalhador da inalação de gotículas transmitidas à curta distância e pela projeção de sangue ou outros fluidos corpóreos que possam atingir suas vias respiratórias. Estas devem cobrir a boca e o na- riz dos usuários. A máscara do tipo respirador N95 é utilizada em casos de precauções por ae- rossóis e deve ser colocada antes de entrar no quarto de pacientes acometidos por tuberculose pulmonar, sarampo e varicela, por exemplo, e retirada após a saída do local. A máscara N95 pode ser reutilizada pelo mesmo profissional desde que se mantenha íntegra, seca e limpa (LACERDA et al., 2014). Óculos de Proteção e Protetor Facial O uso de protetor ocular e do protetor facial são imprescindíveis em todo atendimento que possa produzir respingo de sangue em maior quanti- dade em momentos previsíveis (LACERDA et al., 2014). Figura 6 - Modelo de capote utilizado pelos profissionais da área da saúde 68 Riscos Ambientais Imunização Efetiva dos Trabalhadores Conforme apresentado nesta unidade, os serviços de saúde contam com uma norma específica que regulamenta a segurança e a saúde do trabalhador deste segmento, a NR 32. Nesse sentido, consultar regularmente a norma se faz de extrema relevância, pois ela elucida aplicações e especificidades laborais com as quais os profissionais da saúde irão se deparar. Consulte a obra na íntegra, disponível em: <https://www20.anvisa.gov.br/ segurancadopaciente/index.php/legislacao/item/ portaria-n-485-de-11-de-novembro-de-2005>. A NR 32 fixa claramente a obrigatoriedade de o empregador disponibilizar todas as vacinas regis- tradas no país que possam, segundo critérios de exposição a riscos, estar indicadas para o traba- lhador e estabelecidas no Programa de Controle Médico de Saúde Ocupacional (PCMSO). Essa norma também estabelece que a vacinação desses profissionais deverá ser gratuita. As vacinas recomendadas a todos os profis- sionais que trabalham em instituições geradoras de saúde, sejam em caráter assistencial ou admi- nistrativo são: vacina contra a hepatite B, vacina contra tétano/difteria, tríplice viral (sarampo, caxumba e rubéola) e influenza (BRASIL, NR 32, 2005). 69UNIDADE 2 A ergonomia, em termos genéricos, trata jus- tamente da relação entre o homem e seus am- bientes de trabalho, tendo três objetivos básicos: possibilitar o conforto ao indivíduo,prevenção de acidentes, bem como ajudar a evitar o apare- cimento de patologias específicas para determi- nado tipo de trabalho (MARINHO; ALMEIDA; ANDRADE, 2015). Esforços físicos intensos, levantamento de peso, trabalho em turnos, posturas inadequadas, repetitividade, monotonia, controle rígido de produtividade, imposição de ritmos excessivos e jornada de trabalho prolongada são considerados riscos ergonômicos (SOUZA et al., 2012). A permanência de tais riscos acaba gerando diversos prejuízos para as organizações envolvi- das, como: absenteísmo e perda de produtividade, gastos com afastamentos, indenização pelo dano físico, contingente de trabalhadores com restrição, deterioração nas relações humanas e a pressão do fenômeno LER/DORT sobre a empresa (KASSA- DA, LOPES; KASSADA, 2011). Riscos Ergonômicos 70 Riscos Ambientais No Brasil, a Norma Regulamentadora n° 17 é o dispositivo que regulamenta as questões pertinen- tes à ergonomia, além de estabelecer parâmetros para a adaptação das condições de trabalho às ca- racterísticas psicofisiológicas dos trabalhadores, propiciando o máximo de conforto e segurança, visando um desempenho eficiente (BRASIL, NR 17, 1990). A ausência de adaptação no trabalho tem como consequência a sobrecarga nas estrutu- ras físicas do corpo, afetando a integridade física ou mental do trabalhador, causando-lhe descon- forto e/ou doença (SOUZA et al., 2012). Nesse contexto, ações simples podem ajudar a reduzir o estresse físico do trabalhador e eliminar futuros problemas de distúrbios musculoesque- léticos, (OSHA, 2000). A seguir, vamos conhecer alguns riscos ergonômicos comumente presentes na área hospitalar. Postura Inadequada no Transporte de Pacientes Dentre os diversos riscos ergonômicos a que os trabalhadores da área da saúde estão expostos, as queixas relacionadas ao aparelho osteomuscular representam uma das maiores causas de sofrimen- to dessa classe trabalhadora, devido ao esforço fí- sico exigido desses profissionais durante a movi- mentação dos pacientes, o que ocasiona lombalgias que interferem na eficiência da força e capacidade do trabalho (MONTEIRO; ALEXANDRE, 2009). Também deve-se atentar para os fatores de risco que interferem na saúde em relação às con- dições ergonômicas inadequadas de mobiliários, posto de trabalho e equipamentos utilizados para essas atividades. Além disso, muitas vezes o trans- porte de pacientes é realizado por um quantita- tivo de profissionais inferior ao desejável e com equipamentos inadequados, o que aumenta o ris- co de desenvolver problemas osteomusculares e agressões à coluna vertebral (PASA et al., 2015). Sobrecarga de Trabalho A sobrecarga no ambiente de trabalho prejudi- ca as estruturas músculo esqueléticas, origina problemas, tais como fadiga, lombalgia, doenças osteomusculares, como LER (Lesão por Esforço Repetitivo) e DORT (Distúrbios Osteomuscular Relacionado ao Trabalho) (SOUZA et al., 2012). As LER/DORT também são conhecidas como doenças da modernidade, estão associadas com adoecimentos no trabalho. Correspondem às atividades que exigem movimentos repetitivos, posturas prolongadas, trabalho muscular estático, monotonia, sobrecarga mental, dentre outros fa- tores (SOUZA et al., 2012). No Brasil, começou a adquirir expressão em número e relevância social a partir da década de 80, tornando-se um grave pro- blema de saúde pública e social em função da sua magnitude e abrangência (ALENCAR; OTA, 2011). Os fatores que favorecem a ocorrência de LER/ DORT são múltiplos, constituindo um conjunto complexo, isolados ou agrupados, mas interliga- dos, que exercem seu efeito simultaneamente na origem da doença, tendo como sintomas a dor localizada, irradiada ou generalizada, desconforto, fadiga e sensação de peso, formigamento, sensação de diminuição de força, edema e enrijecimento articular. E, apesar de inicialmente se apresenta- rem de forma discreta, com o decorrer do tempo, podem tornar-se frequentes durante o trabalho, inclusive incidindo nas atividades extra laborati- vas do trabalhador (BRASIL, 2012). 71UNIDADE 2 Ainda, a sobrecarga de trabalho dos profis- sionais da área da saúde está associada a fatores, como: número insuficiente de funcionários e pos- tura inadequada durante a realização de algum procedimento, gerando acúmulo de funções; ina- dequação dos recursos humanos e materiais, que exige do trabalhador uma energia muito maior para desenvolver as suas atividades; e, por fim, o crescente número de pacientes nas instituições, em especial, as públicas. Vale ressaltar que os pro- fissionais também adotam um ritmo excessivo de trabalho em função da insatisfação salarial e da necessidade de contribuir com a renda familiar (OLIVEIRA et al., 2014). Ambiente de Trabalho O ambiente de trabalho constitui o local onde to- dos devem se relacionar, em prol dos cuidados dos pacientes. Para que isto se torne seguro e compatí- vel à assistência prestada, é de suma importância que os componentes do setor de trabalho estejam de acordo com o processo de trabalho realizado (OLIVEIRA et al., 2014). As condições de risco de natureza ergonô- mica envolvem mobiliário, postura, adequação dos aparelhos, dimensões, equipamentos, balcão, conforto ambiental, posto, organização e processo de trabalho, desgaste humano, trabalho estático e dinâmico, cargas suportáveis, fadiga, entre outros. Tudo isso esta inserido no ambiente profissional (SOUZA et al., 2012). Assim, em um ambiente de trabalho onde al- guns dos fatores apresentados não estão em con- cordância, este se torna desgastante, metódico e exaustivo, contribuindo para o surgimento de riscos ocupacionais (OLIVEIRA et al., 2014). Prevenção dos Riscos Ergonômicos E como nos demais riscos já estudados, os ris- cos ergonômicos têm como serem prevenidos? A resposta é sim! Mediante à prática da ginástica laboral (GL), conhecida popularmente como gi- nástica na empresa, ela pode diminuir os danos na saúde do trabalhador causados pelos riscos ergonômicos. A ginástica laboral é uma atividade física rea- lizada durante a jornada de trabalho de forma coletiva e voluntária pelos funcionários, com exercícios de compensação aos movimentos re- petitivos à ausência de movimentos, ou a posturas desconfortáveis assumidas durante o período de trabalho. Os objetivos da GL são: a redução dos efeitos negativos do LER/DORT, fadiga, estresse e alívio das tensões diárias que podem acarretar aci- dentes de trabalho e baixa produtividade (GON- DIM et al., 2009; FREITAS-SWERTS; ROBAZZI, 2011; ANDRADE et al., 2015). Segundo a OSHA (2000), outras medidas tam- bém podem ser adotadas para prevenir os traba- lhadores dos riscos ergonômicos, como: • Realizar treinamentos com pessoal espe- cializado, permitindo que os trabalhado- res entendam melhor sobre a ergonomia e seus elementos, além de auxiliar na iden- tificação dos riscos provenientes da má ergonomia. • Identificar os riscos ergonômicos antes que eles desenvolvam doenças ocupa- cionais. • Procurar fornecer equipamentos de traba- lho que ofereçam condições ergonômicas, com materiais mais leves e com as condi- ções mínimas de ergonomia (design). 72 Riscos Ambientais Os riscos psicossociais apresentam diversas de- finições, contudo, um conceito de fácil entendi- mento e aceito internacionalmente é: “ [...] os riscos psicossociais consistem, por um lado, na interação entre o trabalho, seu ambiente, a satisfação no trabalho e as con- dições de sua organização; e por outro, nas capacidades do trabalhador, suas necessida- des, sua cultura e sua situação pessoal fora do trabalho, o que, afinal, através de percep- ções e experiências, pode influir na saúde e no rendimento do trabalhador (OIT, 1984). Os trabalhadores da área da saúde encontram- -se expostos diariamente aos riscos psicosso- ciais, consumindo sua força de trabalho e de- sencadeando estresse ocupacional. Tal fato é evidenciado devido aos processos de trabalho inadequados e condiçõesde trabalho precárias, principalmente no ambiente hospitalar, que in- terferem diretamente nas capacidades vitais do trabalhador, causam tensão, fadiga, desmotiva- ção e comprometem a saúde do grupo, e ainda, Riscos Psicossociais 73UNIDADE 2 podem aumentar a probabilidade de o indivíduo desenvolver problemas de comportamento (AN- DRADE; CARDOSO, 2012; OLIVEIRA, COSTA; GUIMARÃES, 2012). Na inter-relação saúde mental e trabalho há de se considerar a vertente estresse e trabalho, que apresenta um alto grau de complexidade. No âmbito dessa vertente, observa-se a preocupação com a determinação dos fatores potencialmente estressantes em uma situação de trabalho. A si- tuação saudável seria a que permitisse o desen- volvimento do indivíduo, alternando exigências e períodos de repouso com o controle do traba- lhador sobre o processo de trabalho (OLIVEIRA; COSTA; GUIMARÃES, 2012). A seguir, vamos conhecer os riscos psicossociais que frequente- mente atingem os trabalhadores da saúde, o es- tresse e a síndrome de Burnout. Estresse O estresse tem recebido grande atenção, não somente de pesquisadores, como também de instituições, devido ao crescente contingente de trabalhadores expostos a ele. Estudar o estresse dos profissionais da saúde no ambiente hospitalar permite uma melhor compreensão de suas causas, o que contribui para elucidar questões cotidianas relacionadas à saúde mental desses profissionais (GUIDO et al., 2011). O estresse é um processo caracterizado por um conjunto de reações fisiológicas, psíquicas e, até mesmo, comportamentais de adaptação que o organismo emite quando é exposto a qualquer estímulo, ou seja, uma forma de restabelecer o equilíbrio. É uma reação de defesa e adaptação frente a um agente estressor (LIPP; ROCHA, 2008). Apresenta quatro fases, conforme indica- das no Quadro 5. Quadro 5 - Fases e comportamento dos profissionais aco- metidos pelo estresse Fases Comportamento Alerta Fase positiva, na qual o indivíduo está mais atento, produtivo e motivado; fase de orientação e identificação do perigo. Resistência Período de adaptação do indi- víduo à nova situação; fase de alerta prolongado, em que existe maior vulnerabilidade aos agen- tes de risco; oscila entre equilí- brio e desequilíbrio emocional com predisposição a desenvol- ver doenças físicas, como gastri- te, hipertensão arterial, diabetes, dentre outras. Quase exaustão O organismo não consegue resistir às tensões e algumas doenças começam a aparecer, já que a resistência não está tão eficaz. Exaustão Há uma quebra total da resis- tência e o indivíduo apresenta sintomas semelhantes à fase de alerta, mas com maior magni- tude, o que proporciona uma grande exaustão psicológica em forma de depressão e exaustão física. Fonte: adaptado de Andrade e Cardoso (2012) e Borine et al. (2012). A conscientização sobre os riscos aos quais estão expostos os diversos “atores” de um ambiente hospitalar é dever de todo estudioso e profissional ligado à saúde, portanto, conscientize-se e conscientize! 74 Riscos Ambientais Frente a situações consideradas estressantes, o indivíduo irá utilizar mecanismos psicoló- gicos para reduzir o impacto dos estressores e, assim, retornar ao equilíbrio. Tais mecanismos ou estratégias são, na realidade, ações cognitivas elaboradas por ele por meio da avaliação da si- tuação, do ambiente, de experiências anteriores bem-sucedidas e da maturidade de seu apare- lho psíquico e são denominadas estratégias de coping ou estratégias de enfrentamento. Neste sentido, quando o estresse relacionado ao tra- balho ultrapassa os níveis adaptativos e torna-se crônico, pode-se desencadear a Síndrome de Burnout (ANDRADE; CARDOSO, 2012; ZA- NATTA; LUCCA, 2015). Síndrome de Burnout (SB) A SB tem sido reconhecida como uma condição experimentada por profissionais que desempe- nham atividades nas quais está envolvido alto grau de contato com outras pessoas, entre os quais os profissionais da saúde, cuja tarefa envolve uma atenção intensa e prolongada a pessoas que estão em situação de necessidade ou dependência. O quadro clínico é variado e pode incluir sintomas psicossomáticos, psicológicos e comportamentais, e produzir consequências negativas nos níveis in- dividual, profissional, familiar e social (ZANAT- TA; LUCCA, 2015). O Quadro 6 apresenta alguns dos principais sintomas relatados. Quadro 6 - Sintomas e características da síndrome de Burnout Sintomas Características Físicos Fadiga constante e progressiva, distúrbios do sono, dores muscu- lares e osteomusculares, cefa- leias e enxaquecas, perturbações gastrointestinais, transtornos cardiovasculares, distúrbios do sistema respiratório, distúrbios sexuais e alterações menstruais. Compor- tamentais Negligência ou excesso de escrúpulos, irritabilidade, agressi- vidade, incapacidade de relaxar, dificuldade na aceitação de mudanças, perda de iniciativa e suicídio. Psíquicos Falta de atenção e concentração, alteração de memória, sentimen- tos de alienação, impaciência, sentimento de insuficiência e baixa autoestima. Defensivos Tendências ao isolamento, senti- mento de impotência, perda de interesse pelo trabalho, ironia e cinismo. Fonte: adaptado de Duarte (2012). A SB compromete a qualidade do trabalho exe- cutado e pode contribuir para o aumento de acidentes ocupacionais e erros, conflitos, falta de humanização no atendimento e insatisfação dos pacientes. Além disso, os profissionais com a síndrome evitam o contato direto com as pessoas- -alvo de sua assistência, podendo desenvolver des- personalização (GRAZZIANO; BIANCHI, 2010). 75UNIDADE 2 Prevenção dos Riscos Psicossociais tencialmente perigoso em função dos riscos apre- sentados, logo, a conscientização e a orientação dos colaboradores pelas diferentes ferramentas disponíveis em um ambiente hospitalar se fazem fundamentais. Em função da necessidade de atenção especial aos colaboradores de saúde, algumas normas regu- lamentadoras foram desenvolvidas, visando orien- tar as organizações acerca dos riscos inerentes às atividades, bem como alertar sobre as obrigações para com os profissionais desse segmento. Dentre elas, destacam-se as NR 5, 6, 7, 17 e, especialmente, a 32, que versa sobre os cuidados, a atenção e a im- plementação das medidas de proteção em relação aos profissionais em saúde. A atuação de comissões internas, como no caso da CIPA, faz-se relevante, sobretudo, pela orienta- ção referentes aos riscos das atividades e, em es- pecial, pelas orientações referentes a medidas de prevenção. Como exposto, os riscos não são exclusivida- de dos colaboradores de atendimento direto, mas sim de todo o quadro de colaboradores presentes em um ambiente hospitalar. Riscos ergonômicos também irão existir neste ambiente, assim como em qualquer outro ambiente organizacional, entre- tanto, é no ambiente hospitalar que os riscos físicos, químicos, biológicos e psicossociais se intensificam; logo, a compreensão deles se faz imprescindível para a atuação dos profissionais desse segmento. Caro(a) aluno(a), esperamos que as informa- ções abordadas nesta unidade possam ser perti- nentes e relevantes para sua jornada acadêmica e futura jornada profissional. De maneira geral, algumas medidas simples po- dem contribuir na prevenção dos riscos psicos- sociais, como (SILVA, 2000): • Evitar monotonia no ambiente de trabalho. • Oferecer suporte social às pessoas. • Melhorar as condições sociais e físicas de trabalho. • Investir no aperfeiçoamento pessoal e pro- fissional dos trabalhadores. • Buscar soluções para os problemas em vez de focar nas emoções negativas. • Utilizar técnicas de relaxamento, ter uma boa alimentação e praticar atividade física. Por fim, caro(a) aluno(a), como vimos, as conse- quências associadas aos riscos ambientais, aos quais estão expostos os colaboradores da área de saúde, são diversas. A legislação laboral extremamente exigente faz com que o conhecimento acercados riscos e suas consequências sejam necessários, vi- sando, sobretudo, a sua minimização. Esperamos, com esta unidade, contribuir um pouco em sua trajetória acadêmica com informações relevantes e que possam ser aplicadas em sua futura rotina! Como vimos ao longo desta unidade, cada ativi- dade, quando realizada de forma isolada, apresenta riscos inerentes à atividade, ao passo que a asso- ciação de atividades realizadas pelos profissionais em saúde aumenta consideravelmente a chance do colaborador ser acometido por alguma consequên- cia oriunda dos riscos laborais. A amplitude de atividades realizadas em am- biente hospitalar e a complexidade das relações atividade-colaborador tornam esse ambiente po- 76 Você pode utilizar seu diário de bordo para a resolução. 1. A higienização no que tange aos atendimentos em saúde caracteriza-se como uma ação de suma importância em função da capacidade de evitar proliferações ou veiculações de agentes indesejáveis. Neste sentido e em relação a higienização das mãos, assinale a alternativa correta. a) A higienização das mãos não são necessárias em todas as áreas da assistência hospitalar. b) A higienização das mãos tem por finalidade apenas tornar o atendimento ao paciente mais agradável. c) A lavagem deve ser realizada somente com o enxágue em água corrente. d) O uso das luvas dispensa a higienização das mãos. e) A higienização das mãos geralmente é feita com antissépticos, produtos que têm a função de diminuir a quantidade de microrganismos transitórios e resi- dentes da pele. 2. A ergonomia versa sobre a relação entre o homem e seus ambientes de trabalho, tendo três objetivos básicos: possibilitar o conforto ao indivíduo, prevenção de aci- dentes, bem como ajudar a evitar o aparecimento de patologias específicas para determinado tipo de trabalho. Tal área do conhecimento aplica-se, também, em ambientes hospitalares. Em relação aos riscos ergonômicos, analise as assertivas e assinale as alternativa que contêm fatores de riscos associados à ergonomia. I) Sobrecarga de trabalho. II) Esforços repetitivos. III) Exposição e manuseio de microrganismos. IV) Postura inadequada em relação ao transporte de pacientes. V) Manuseio de reagentes químicos. 77 Atendem os critérios somente o expresso em: a) II e III. b) II e V. c) III e V. d) I, II e IV. e) Em nenhuma das assertiva, pois nenhuma delas apresenta fatores associados aos riscos ergonômicos. 3. Acredita-se que os agentes físicos capazes de prejudicar a saúde do trabalhador não sejam percebidos pelos colaboradores, fazendo com que se habituem a conviver com eles em sua rotina laboral, desconsiderando danos relacionados a esses agentes. Neste contexto, analise as assertivas e assinale a alternativa que contém informações corretas em relação aos riscos físicos. I) O calor é uma forma de energia que pode ser transmitida de um corpo para outro, por radiação, condução ou convecção. II) No Brasil, as diretrizes básicas referentes à proteção radiológica estão apoia- das na Comissão Nacional de Energia Nuclear (CNEN). III) O agente físico ruído, produzido interna ou externamente, é responsável pelo comprometimento da saúde desses trabalhadores. IV) Apesar dos ruídos estarem presentes no ambientes hospitalares, eles não são observados em unidades de terapia intensivas. V) Calor é um risco físico frequentemente presente nos ambientes hospitala- res, sendo, em especial, utilizado em operações de limpeza, desinfecção e esterilização. Atendem os critérios somente o expresso em: a) I e IV. b) II e IV. c) III e IV. d) I, II, III e V. e) Todas as assertivas estão corretas. 78 4. Os riscos biológicos para os profissionais da saúde se fazem relevantes, pois os ambientes hospitalares representam alto grau de risco para os indivíduos ali presentes. Neste entendimento e em relação aos riscos biológicos, avalie as assertivas classificando-as em Verdadeira (V) ou Falsa (F): ) ( Atividade com intenção deliberadas referem-se a atividades laborais voltadas à utilização ou manipulação do agente biológico, que constitui o objeto principal do trabalho, como exemplo os laboratórios de pesquisa microbiológicas. ) ( Para prevenir a transmissão de patógenos no ambiente de trabalho, o uso de EPI’s torna-se uma ferramenta fundamental. ) ( Os hospitais são considerados insalubres por receber pacientes com diversas doenças infectocontagiosas e agrupá-los em um mesmo local. ) ( As exposições aos riscos biológicos não estão associadas a lesões provocadas por instrumentos perfurantes e/ou cortantes, como agulhas, bisturi e vidrarias. ) ( Consideram-se riscos biológicos as condições de exposição ocupacional de trabalhadores a agentes biológicos, em que estes entram em contato com microrganismos modificados ou não, culturas de células e parasitas. A sequência correta é: a) V, F, F, F e V. b) V, F, V, F e F. c) V, F, V, V e V. d) F, F, F, F e F. e) V, V, V, F e V. 5. Dentre os riscos presentes em um ambiente hospitalar, os riscos psicossociais, especialmente para os colaboradores, merecem atenção especial, devido às potencialidades acerca desse risco envolvendo os profissionais de saúde. Con- siderando a relevância desse risco em ambiente hospitalar, discorra sobre os fatores atrelados a esse risco em ambiente hospitalar. 79 Segurança em Laboratórios Químicos e Biotecnológicos Autor: Mara Zeni Andrade Editora: Educs Sinopse: o risco de acidentes é maior quando nos acostumamos a conviver com o perigo e passamos a ignorá-lo. A segurança em qualquer local está apoiada em cada um: você é responsável por si e por todos. LIVRO 80 ABNT. Associação Brasileira de Normas Técnicas. Níveis de ruído para conforto acústico: NBR-10152. Rio de Janeiro, 1987. ALENCAR, M. C. B.; OTA, N. H. 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Michele Putti Paludo Níveis de biossegurança Simbologia aplicada Biossegurança e os organismos geneticamente modificados (OGMs) Mapa de Risco Especificidades em Rotina Laboratorial Níveis de Biossegurança Olá, caro(a) aluno(a), seja bem-vindo(a) a tercei- ra Unidade do material didático da disciplina de Biossegurança e Bioética! Esta unidade irá guiá-lo a uma discussão aprofundada acerca dos níveis de biossegurança existentes nos laboratórios de serviços de saúde e espaços de trabalho ligados à área, agora que os conceitos básicos já foram apresentados em unidades anteriores. Além disso, iremos discorrer sobre a simbolo- gia específica aplicada em ambientes hospitalares e também em ambientes voltados à prestação de serviços em saúde como um todo, possibilitando uma futura atuação profissional de forma efe- tiva e, sobretudo, consciente acerca dos riscos presentes nas rotinas laborais destes ambientes. Iremos, ainda, conhecer as diferentes formas de sinalizar os riscos inerentes ao ambiente hospi- talar, bem como sua aplicação em ferramentas de informação e conscientização, por exemplo os mapas de risco, que desempenham uma função essencial em qualquer ambiente laboratorial que apresente riscos. A simbologia pode, ainda, ser classificada de acordo com os tipos de sinais aplicados, sendo 91UNIDADE 3 estes necessários para o desempenho e realiza- ção das rotinas laborais. Tais sinalizações deverão, também, estar corretamente representadas nos mapas de risco. Ainda nesta unidade, serão apresentados os organismos geneticamente modificados (OGMs), bem como suas aplicações na área da saúde. Veremos que, apesar dos OGMs re- presentarem um avanço significativo para a humanidade em termos de avanços científicos e de engenharia genética, sua utilização deve sempre ser devidamente planejada e executada, visando reduzir ou eliminar possíveis dispersões ambientais. Portanto, ao fim desta unidade de estudo, es- peramos que você obtenha uma breve perspectiva sobre as temáticas supracitadas e que possa, de fato, reconhecer e identificar as peculiaridades da rotina laboratorial. Os níveis de biossegurança já foram apresen- tados na Unidade 1, e existindo qualquer dúvida você pode recorrer a ela. Neste momento, iremos estudar mais detalhadamente cada nível. Os laboratórios apresentam basicamente qua- tro níveis de biossegurança, classificados de acor- do com os agentes de risco. Os laboratórios que trabalham com agentes de risco 1 a 4 precisam aplicar normas para o trabalho em contenção, cujo o nível é determinado pela maior classe de risco presente. Por exemplo, para um laboratório emque são manipulados agentes das classes de risco 1 e 2, deverá ser adotado o nível de conten- ção 2, (BRASIL, 2006a; BRUNO, 2014). Deste modo, uma estrutura laboratorial ade- quada é aquela que está de acordo com o funcio- namento do laboratório ou clínica e com nível de biossegurança recomendado para os agentes ma- nipulados no local, atuando também como uma barreira de contenção secundária. Práticas mais (ou menos) rígidas poderão ser adotadas quando temos uma informação específica disponível que possa sugerir a virulência, patogenicidade, os pa- drões de resistência aos antibióticos e às vacinas e a disponibilidade de tratamento ou outros fato- res significativamente alterados (BRASIL, 2006a; BRUNO, 2014). A seguir, vamos aprender especificamente sobre os quatro níveis de biossegurança labora- toriais. Nível de Biossegurança 1 (NB-1) O nível de biossegurança 1 representa nível básico de contenção que se baseia nas práticas padrão de microbiologia, sem uma indicação de barrei- ras primárias ou secundárias, com exceção de uma pia para a higienização das mãos (BRASIL, 2006a). Apresenta baixo risco individual e coletivo e envolve os agentes biológicos da classe de risco 1 (BRASIL, 2006b; TEIXEIRA, VALLE, 2010). Res- salta-se que os agentes desse nível são os micror- ganismos conhecidos por não causarem doenças em pessoas ou animais, como Lactobacillus sp. e Bacillus (BRASIL, 2006b). Em termos de infraestrutura, os laboratórios NB-1 não necessitam estar separados das demais dependências do edifício e os trabalhos são con- duzidos, normalmente, em bancadas (BRUNO, 2014). Na sequência, com base nas recomenda- ções do Ministério da Saúde (BRASIL, 2006c), se- rão apresentadas algumas medidas de contenção adotadas nesses laboratórios: • Os equipamentos especiais de contenção, tais como as Cabines de Segurança Bioló- gica (CSB’s), não são exigidos para mani- pulações de agentes biológicos da classe de risco 1. • Os EPIs, tais como luvas e vestuário de proteção (avental, uniforme ou jaleco) são requeridos durante o trabalho. 92 Especificidades em Rotina Laboratorial • O vestuário de proteção deverá apresentar mangas compridas ajustadas nos punhos e não deve ser usado fora da área laborato- rial, visando evitar contaminações externas à área laboratorial. • É obrigatório o uso de calçados fechados que possam proteger os pés contra aciden- tes envolvendo substâncias que apresentem riscos à integridade física dos profissionais que as manuseiem. • Óculos de segurança e protetores faciais devem ser usados sempre que os procedi- mentos operacionais padrão os exigirem/ recomendarem. • O laboratório deverá possuir dispositivo de emergência para lavagem dos olhos, além de chuveiros de emergência localizados no laboratório ou em local de fácil acesso. E não esqueça, para os laboratórios NB-1 e todos os demais níveis, os Procedimentos Operacio- nais Padrão (POP’s) devem sempre ser adota- dos. Se você não lembra quais são esses proce- dimentos, confira as informações disponíveis na Unidade 1. Observa-se então, caro(a) aluno(a), que os laboratórios NB-1 não exigem proteção tão “rigorosa”, uma vez que os agentes biológicos não oferecem grandes riscos à saúde dos ma- nipuladores. Contudo, a preocupação com a segurança é fundamental em todos os níveis de biossegurança, bem como nas práticas la- borais cotidianas dos profissionais em saúde. Desta forma, a fim de auxiliar na compreensão deste conteúdo, o Quadro 1 apresenta algumas barreiras primárias e secundárias adotadas nos laboratórios NB-1. Quadro 1 - Barreiras primárias (equipamentos de segurança) e barreiras secundárias (instalações laboratoriais) dos la- boratórios NB-1 Barreiras primárias Barreiras secundárias Uso de jalecos, aventais ou uniformes pró- prios, para evitar contaminação ou sujeira de suas roupas normais. Cada laboratório deverá conter uma pia para lavagem das mãos. O laboratório deve ser projetado de modo a permitir fácil limpeza. Uso de luvas para os casos de rachaduras ou ferimentos na pele das mãos. É recomendável que a superfície das banca- das seja impermeável à água e resistente ao calor moderado e aos solventes orgânicos, ácidos, álcalis e químicos usados para a des- contaminação da superfície de trabalho e do equipamento. Uso de óculos de proteção em procedimentos que produzam borrifos de microrganismos ou de materiais perigosos. Os móveis do laboratório deverão ser capazes de suportar cargas e usos previstos. Se o laboratório possuir janelas que se abram para o exterior, estas deverão conter telas de proteção contra insetos. Fonte: Brasil (2006a). 93UNIDADE 3 Nível de Biossegurança 2 (NB-2) relacionados com acidentes percutâneos, ou que possuam capacidade de atravessar a pele, as ex- posições da membrana ou com a ingestão de ma- teriais infecciosos. Portanto, deve-se tomar um extremo cuidado com agulhas contaminadas ou com instrumentos cortantes ou perfurocortan- tes. Embora os organismos rotineiramente ma- nipulados em um laboratório NB-2 não sejam transmitidos por aerossóis, os procedimentos envolvendo um alto potencial para a produção de salpicos ou aerossóis que possam aumentar o risco de exposição desses funcionários devem ser conduzidos com um equipamento de contenção primária (BRASIL, 2006a). Diferentemente dos laboratórios NB-1, os la- boratórios NB-2 apresentam equipamentos de contenção específicos, como a cabine de seguran- ça biológica (CSB) e autoclave (BRASIL, 2006c). A CSB é utilizada em todos os procedimentos que envolvam culturas de tecidos infectados ou de ovos embrionados (de parasitas), bem como em processos em que ocorra a formação de aerossóis. As classes de CSB’s usadas são a I e II (Figura 1). É o nível exigido para o trabalho com agentes bio- lógicos da classe de risco 2, isto é, agentes capazes de provocarem infecções no homem ou nos ani- mais, e o potencial de propagação na comunidade e de disseminação no meio ambiente é limitado, existindo medidas terapêuticas e profiláticas efi- cazes (BRASIL, 2006b). O NB-2 é aplicado, por exemplo, a laboratórios de análises clínicas, de diagnóstico e laboratórios- -escola, no qual as práticas de ensino ou práticas laborais envolvem sangue humano, líquidos corpo- rais, tecidos ou células humanas primárias, em que a presença do agente infeccioso pode ser desconhe- cida. Com boas técnicas de microbiologia, esses agentes podem ser usados de maneira segura em atividades conduzidas sobre uma bancada aberta, uma vez que o potencial para a produção de borri- fos e aerossóis é baixo. O vírus da hepatite B, o HIV, a salmonela e o Toxoplasma spp. são exemplos de microrganismos designados para esse nível de contenção (BRASIL, 2006a; BRUNO, 2014). Os perigos primários em relação aos colabo- radores que trabalham com esses agentes estão CSB classe ICSB classe I CSB classe IICSB classe II Figura 1 - Cabine de segurança biológica classe I e II usadas nos laboratórios NB-2 94 Especificidades em Rotina Laboratorial A CSB classe I oferece proteção ao manipulador e ao meio ambiente, mas não protege o produ- to a ser manipulado. É semelhante à exaustão de uma capela química, porém possui um filtro High Efficiency Particulated Air (HEPA) para a proteção do meio ambiente e um fluxo de ar interior com velocidade mínima de 75 pés li- neares/minuto. Já a CSB classe II é projetada com um fluxo de ar interior com velocidade de 75 a 100 pés lineares/minuto para proteger os profissionais que operam esses equipamentos; um fluxo de ar laminar vertical para proteger o produto; e um fluxo de saída de ar de exaustão com um siste- ma de filtração, para proteger o meio ambiente (UEKI et al., 2008). Já a autoclave (Figura 2) deve estar disponível no interior ou em local próximo ao laboratório, dentro da edificação, de modo a permitir a des- contaminação de todos os materiais e resíduos gerados nas operações e processos laboratoriais, evitando, consequentemente, a contaminaçãodo meio ambiente (BRASIL, 2006c). Ainda, os profissionais que atuam nos laborató- rios NB-2 devem ter um treinamento específico no manejo de agentes patogênicos, sendo super- visionados por analistas competentes. O acesso ao laboratório deverá ser limitado durante os pro- cedimentos operacionais e o espaço destinado ao laboratório deve ser separado da área pública (BRASIL, 2006a). O Quadro 2 contém as princi- pais barreiras primárias e secundárias adotadas nos laboratórios NB-2. Quadro 2 - Barreiras primárias (equipamentos de segurança) e barreiras secundárias (instalações laboratoriais) dos laboratórios NB-2 Barreiras primárias Barreiras secundárias Uso de máscaras de proteção, protetor facial, óculos de proteção ou outra proteção para respingos. É exigido um sistema de portas com tranca. Uso de jalecos, gorros ou uniformes de prote- ção. Ao sair do laboratório, a roupa protetora deve ser retirada e encaminhada para a lavan- deria da instituição. Lavatórios com torneiras de acionamento sem uso das mãos. Uso de luvas quando houver um contato direto com materiais e superfícies ou equipa- mentos contaminados. As mãos deverão ser lavadas após a remoção das luvas. Sistema central de ventilação e com janelas vedadas. Antecâmara. Uso de CBS’s classe I ou II. Sistema de geração de emergência elétrica. Fonte: adaptado de Brasil (2006a); Molinaro, Caputo e Amendoeira (2009). Figura 2 - Modelo de autoclave usada nos laboratórios NB-2 95UNIDADE 3 Nível de Biossegurança 3 (NB-3) O NB-3 é aplicável para laboratórios clínicos, de diagnóstico, ensino e pesquisa ou de produção, onde o trabalho com agentes biológicos possa causar doenças sérias ou potencialmente fatais, como resultado de exposição por inalação. A equipe laboratorial deverá possuir treinamento específico no manejo de agentes patogênicos e po- tencialmente letais, devendo ser supervisionados por analistas que possuam experiência com esses agentes (BRASIL, 2006a). As barreiras primárias e secundárias adotadas nesses laboratórios estão descritas no Quadro 3. O NB-3 é aplicado aos laboratórios que desenvol- vem atividades com agentes biológicos da classe de risco 3 (BRASIL, 2006c). Esses agentes corres- pondem a microrganismos, como o Clostridium botulinum (causador do botulismo) e o Bacillus anthracis (causa da doença carbúnculo), que oferecem alto risco individual, risco moderado à comunidade e que possuem capacidade de trans- missão por via respiratória, causando patologias humanas, potencialmente letais, para as quais exis- tem usualmente medidas de tratamento e/ou de prevenção (BRASIL, 2006b). Quadro 3 - Barreiras primárias (equipamentos de segurança) e barreiras secundárias (instalações laboratoriais) dos la- boratórios NB-3 Barreiras primárias Barreiras secundárias Uso de jalecos com uma frente inteira, maca- cão ou uniforme de limpeza. O laboratório deve ter acesso restrito e estar separado das áreas de trânsito do prédio. Uma sala para a troca de roupas deverá ser incluída no laboratório. Uso luvas ao manusear materiais e equipa- mentos contaminados. Lavatórios com torneiras de acionamento sem uso das mãos. Todas as manipulações de materiais infec- ciosos devem ser conduzidas em uma CBS’s classe II ou III. Sistema central de ventilação contendo filtros HEPA. As janelas devem ser lacradas. Os laboratórios devem apresentar equipamen- tos para a descontaminação do material (auto- clave, desinfecção química ou incineração). Uso de protetor facial e respirador, quando necessário. Um lava-olhos deve estar disponível no labo- ratório. Fonte: Brasil (2006a). Todos os procedimentos, técnicos ou administrativos, devem estar descritos, ser de fácil acesso e devem ser de conhecimento dos técnicos envolvidos em sua execução. Estes devem previamente demonstrar ter o domínio dos procedimentos técnicos para a execução das atividades laboratoriais. 96 Especificidades em Rotina Laboratorial Em relação as CSBs utilizadas nos laboratórios de nível de biossegurança 3, estas devem pertencer à classe II (descrita anteriormente no NB-2) ou III, apresentada na Figura 3. A CSB classe III é total- mente fechada e ventilada, adequada para o trabalho com agentes perigosos que requerem a contenção de um nível de biossegurança 4. Essa CBS é opera- da com pressão negativa, e o trabalho é realizado por meio de braços com luvas de borracha. Todo o sistema é controlado por filtros HEPA e o material utilizado é seguido de esterilização antes de ser des- cartado para o ambiente (UEKI et al., 2008). Acidentes ou incidentes que resultem em expo- sições a agentes biológicos patogênicos nos labora- tórios NB-3 deverão ser imediatamente relatados ao profissional responsável. Nesses casos, devem ser tomadas todas as medidas necessárias para mitigar e/ou remediar a situação, como procedimentos de avaliação médica, vigilância e tratamento, devendo ser mantidos os registros por escrito desses episó- dios e das providências adotadas (BRASIL, 2006c). Figura 3 - Cabine de segurança biológica classe III usada nos laboratórios NB-3 97UNIDADE 3 Nível de Biossegurança 4 (NB-4) • Os laboratórios somente devem funcionar com autorização e fiscalização das respec- tivas autoridades sanitárias, devido à mani- pulação de agentes patogênicos perigosos. • Sistema de autoclave de dupla porta, câma- ra de fumigação ou sistema de ventilação com antecâmara pressurizada para o fluxo de materiais para o interior do laboratório. • Nenhum material pode ser removido do laboratório a menos que tenha sido este- rilizado, exceto os agentes biológicos que necessariamente tenham de ser retirados na forma viável. • As pessoas autorizadas devem cumprir com rigor as instruções e os procedimentos para a entrada e a saída do laboratório, de- vendo existir um registro de entrada e saída de pessoal, com data, horário e assinaturas. • Deve existir um plano de contingência e de emergência com descrição clara dos pro- cedimentos necessários em tais situações. • Os filtros Hepa e os pré-filtros das CSBs e dos sistemas de ar devem ser removidos e acondicionados em recipientes hermetica- mente fechados, para subsequente descon- taminação e destruição adequadas. Os laboratórios NB-4 são conhecidos como la- boratórios de máxima segurança que trabalham com agentes biológicos da classe de risco 4 ou com potencial patogênico desconhecido, não existindo para esses agentes vacina ou terapia disponível (BRASIL, 2006c). Nesses laboratórios, os princi- pais causadores de doenças aos homens e animais são os vírus, como o Ebola (BRASIL, 2006b). As instalações e procedimentos exigidos para o NB-4 devem atender as especificações já estabe- lecidas para os laboratórios NB-1, NB-2 e NB-3, porém acrescidas de: • O laboratório deve estar localizado em prédio separado ou em área claramente demarcada e isolada das demais instala- ções da instituição e dispor de vigilância 24 horas por dia. • O laboratório deve possuir câmaras de entra- da e saída de pessoal, separadas por chuveiro. • As manipulações com organismos gene- ticamente modificados (OGM) de classe de risco 4 devem ser realizadas em cabine de segurança biológica Classe II ou III, em associação com roupas de proteção pessoal com pressão positiva, ventiladas por siste- ma de suporte de vida. Outras informações acerca desses procedimentos que são comumente adotados nos laboratórios de nível de biossegurança 4, e também para os NB-1, NB-2 e NB-3, podem ser encontradas no material desenvolvido pelo Ministério da Saúde, intitulado: Diretrizes Gerais para o Trabalho em Contenção de Agentes Biológicos. Disponível em: <http://www.fiocruz.br/biosseguranca/Bis/manuais/ contencaocomagentesbiologicos.pdf>. 98 Especificidades em Rotina Laboratorial A utilização de símbolos ou sinais na área da saúde é um tipo de comunicação não verbal de extrema relevância que visa chamar a atenção e comunicar a existência de uma fonte de risco ou de perigo. Para sinalizar comobjetividade, efi- cácia e clareza, são utilizados recursos auxiliares de fundamental importância, como pictogramas (sinal ou símbolo) e as cores. Os pictogramas obe- decem ao sistema internacional padronizado de pictogramas, aceitos e adotados no mundo inteiro, para comunicar perigos e ações sem o uso das pa- lavras, facilitando a compreensão e memorização (PAIVA, 2013, on-line)1. Os sinais são comumente divididos em: sinais de aviso, sinais de proibição, sinais de obrigação, sinais de orientação e salvamento e sinais de con- trole a incêndio. Simbologia Aplicada 99UNIDADE 3 Norma Regulamentadora n° 26 A Norma Regulamentadora nº 26 (NR-26) é a responsável pela sinalização de segurança, tendo como objetivo a fixação das cores que devem ser usadas nos locais de trabalho para a prevenção de acidentes. As cores utilizadas nos locais de traba- lho para identificar os equipamentos de segurança, delimitar áreas, identificar tubulações empregadas para a condução de líquidos e gases e advertir con- tra riscos devem atender ao disposto nas normas técnicas. A utilização de cores não dispensa o em- prego de outras formas de prevenção de acidentes. Além disso, o uso de cores deve ser o mais reduzido possível, a fim de não ocasionar distração, confusão e fadiga ao trabalhador (BRASIL, NR 26, 2011). E quais são as cores utilizadas para sinalizar os riscos de acidentes no ambiente de trabalho? Vejamos, no Infográfico 1, quais são essas cores e seus locais de aplicação de acordo com a NR 26. Infográfico 1 - Cores de sinalização, aplicação e exemplos Fonte: adaptado de Brasil (2011). AMARELA Cor de segurança utilizada para símbolos de proibição e identi�cação de equipamentos de combate a incêndios e alarme. Exemplos: Hidrantes, bombas de incêndio, extintores, entre outros. VERMELHA Usada para determinar o uso de EPI’s. Exemplos: Canalizações de ar comprimido, obrigatoriedade do uso de EPI’s, entre outros. AZUL Usada para marcar a passagem de pedestres. Exemplos: Passarelas, corredores de circulação, entre outras. BRANCA Usada para identi�car canalizações em vácuo. Exemplos: Canalizações em vácuo. CINZA Cor de segurança usada para símbolos de alerta e sinais de perigo. Exemplos: Canalizações de óleo lubri�cante, asfalto e óleo combustível. PRETA Cor de segurança usada para símbolos de orientação e socorro. Exemplos: Chuveiros de segurança, caixas de equipamentos de socorro de urgência, caixas contendo máscaras de gases, entre outros. VERDE Usada para indicar os perigos provenientes das radiações eletromagnéticas penetrantes de partículas nucleares. Exemplos: Locais onde se manipulam materiais radioativos, locais onde tenham sido enterrados materiais e equipamentos contaminados, entre outros. PÚRPURA Usada para identi�car avisos de advertência. Exemplos: Corrimões, parapeitos, partes baixas de escadas portáteis, entre outros. ALARANJADA Usada em partes móveis e perigosas de máquinas e equipamentos. Exemplos: Canalizações contendo ácidos, entre outros. 100 Especificidades em Rotina Laboratorial Além das cores de segurança, existem as cores de contraste – branca ou preta – que são utilizadas para melhorar a visibilidade da sinalização. Ain- da associada às cores, as formas geométricas das placas também são usadas e podem ser (NORMA TÉCNICA 20/2014): • Circulares: utilizadas para implantar sím- bolos de proibição e ação de comando. • Triangulares: utilizadas para implantar símbolos de alerta. • Retangulares ou quadradas: utilizadas para implantar símbolos de orientação, socorro, emergência, identificação de equipamen- tos utilizados no combate a incêndio, alar- me e mensagens escritas. Cabe destacar que existem outras formas de sina- lização universais que se complementam entre si e compreendem: os sinais acústicos, a comunicação verbal e os sinais gestuais (FATOR SEGURANÇA Ltda, 2002). Agora que já conhecemos as cores e as formas geométricas utilizadas na sinalização de seguran- ça, podemos estudar sobre os principais símbolos/ sinais encontrados em clínicas, hospitais e unida- des básicas de saúde. Principais Sinalizações Utilizadas na Área de Saúde A área da saúde, assim como os demais segmentos que envolvem atividades científicas ou de atendi- mento que apresentem possível risco aos profis- sionais envolvidos, deve contar com ferramentas efetivas que, associadas a medidas de prevenção, possam contribuir para o desenvolvimento das atividades laborais de forma segura. Cabe destacar que uma das principais funções das diferentes sinalizações consiste em alertar a população presente acerca dos riscos, obrigações e medidas de segurança que devem ser adotadas. Ainda, as sinalizações no contexto da saúde têm por finalidade contribuir de forma sistêmica para uma cadeia de serviços, que se iniciam em seu manuseio propriamente dito e estão relacio- nados à rotina laboral e são finalizados no descar- te adequado do material manipulado. Vejamos, na sequência, mais detalhes sobre os diferentes tipos de sinais. 101UNIDADE 3 Sinais de Aviso Os sinais de aviso visam advertir para uma situa- ção, objeto ou ação susceptível que pode originar dano ou lesão pessoal. Podem alertar para poten- cial risco de incêndio, explosão, choques elétri- cos, contaminação por produtos perigosos, entre outros. Neste tipo de sinalização, as placas indicati- vas devem apresentar as seguintes características (ABNT, 2004; NORMA TÉCNICA 20/2014): • Forma: triangular. • Cor do fundo: amarela. • Moldura: preta. • Cor do símbolo (cor de segurança): preta. • Margem (opcional): amarelo. Dentre os inúmeros sinais de aviso existentes, os mais usados em hospitais, clínicas e unidades bá- sicas de saúde estão apresentados no Infográfico 2. Infográfico 2 - Principais sinais de aviso utilizados na área da saúde Fonte: adaptado de ABNT (2004); Norma técnica 20/2014. Risco de choque elétrico Qualquer local que houver instalações elétricas que oferecem risco elétrico. Alerta geral Qualquer local que não houver símbolo especí�co de alerta, devendo sempre estar acompanhado de mensagem escrita especí�ca. Risco biológico Todo local que houver a probabilidade da exposição ocupacional a agentes biológicos. Risco de radiação Qualquer local que houver a presença de materiais radioativos. Risco de incêndio Qualquer local que houver a presença de materiais altamente in�amáveis. Risco de corrosão Qualquer local que houver a presença de materiais corrosivos. 102 Especificidades em Rotina Laboratorial Sinais de Proibição São sinais frequentemente encontrados em ambientes hospitalares e têm como objetivo proibir ou coibir ações capazes de oferecer risco aos profissionais e pacientes, como o início de um incêndio (NORMA TÉCNICA 20/2014). A sinalização de proibição deve apresentar (ABNT, 2004; NORMA TÉCNICA 20/2014), conforme Infográfico 3: • Forma: circular. • Cor de contraste: branca. • Barra diametral e faixa circular (cor de segurança): vermelha. • Cor do símbolo: preta. • Margem (opcional): branca. Proibida a entrada de pessoas não autorizadas Qualquer local que não permite a entrada de pessoas que não façam parte da equipe. Proibido fumar Todo local onde fumar pode aumentar o risco de incêndio. Proibido produzir chama Todo local onde a utilização de chama pode aumentar o risco de incêndio. Proibido utilizar água para apagar o fogo Qualquer local onde o uso de água seja impróprio para extinguir o fogo. Proibido utilizar elevador em caso de incêndio No local de acesso aos elevadores comuns. Em alguns casos pode ser complementada pela mensagem “em caso de incêndio não use os elevadores”. Infográfico 3 - Principais sinais de proibição utilizados na área da saúde Fonte: adaptado de ABNT (2004); Norma técnica 20/2014. 103UNIDADE 3 Sinais de Obrigação Os sinais incluídos nesta categoria impõem um determinado comportamento, estando diretamente associados, na área da saúde, ao uso obrigatóriodos equipamentos de proteção individual. O Infográfico 4 apresenta alguns sinais de obrigação. Os sinais de obrigação devem cumprir com as seguintes características (FATOR DE SEGURANÇA Ltda, 2002; FERNANDES, 2011): • Forma: circular. • Cor do fundo: azul. • Cor de contraste: branca. • Cor do símbolo: branca. Proteção obrigatória dos pés Todo local que houver respingos e derramamento de material infectante. Proteção obrigatória do rosto Qualquer local que possa oferecer impactos, substâncias nocivas e radiações. Proteção obrigatória de olhos Qualquer local que pode ocorrer impactos, respingos de sangue ou outras secreções e formação de aerossóis. Proteção obrigatória dos ouvidos Qualquer local que ofereça ruídos prolongados e nocivos. Proteção obrigatória das vias respiratórias Qualquer local que houver risco de inalação de aerossóis ou produtos químicos. Proteção obrigatória das mãos Todo local que houver manuseio com material contaminado. Infográfico 4 - Principais sinais de obrigação utilizados na área da saúde Fonte: adaptado de Fernandes (2011). 104 Especificidades em Rotina Laboratorial Sinais de Orientação e Salvamento A sinalização de orientação e salvamento visa, em caso de perigo, indicar as saídas de emergência, o caminho para o posto de socorro ou local em que existem dispositivos de salvamento. As placas indicativas devem possuir as seguintes características (ABNT, 2004; NORMA TÉCNICA 20/2014): • Forma: quadrada ou retangular. • Cor do fundo (cor de segurança): verde. • Cor do símbolo (cor de contraste): fotoluminescente. • Margem (opcional): fotoluminescente. Além dos sinais já relatados, estes sinais também são frequentemente encontrados em hospitais, clínicas e unidades básicas de saúde. O Infográfico 5 apresenta alguns desses sinais. Chuveiro de emergência Qualquer local que pode ocorrer impactos, respingos de sangue ou outras secreções e formação de aerossóis Lava-olho de emergência Qualquer local que pode ocorrer impactos, respingos de sangue ou outras secreções e formação de aerossóis. Saída de emergência Todo local que indique saída de emergência com ou sem complementação do pictograma fotoluminescente (seta ou imagem, ou ambos). Escada de emergência Todo local que indique o sentido de fuga no interior da escada. Primeiros socorros Todo local em que medidas especí�cas possam ser tomadas antes da chegada do médico. Maca de emergência Todo local em que medidas especí�cas possam ser tomadas antes da chegada do médico. Infográfico 5 - Principais sinais de orientação e salvamento utilizados na área da saúde Fonte: adaptado de Fernandes (2011); ABNT (2004); Norma Técnica 20/2014. 105UNIDADE 3 Sinais de Controle a Incêndio Os sinais pertencentes a esta categoria têm como objetivo indicar a localização e os tipos de equi- pamentos de combate a incêndios e alarme disponíveis no local (NORMA TÉCNICA 20/2014). O Infográfico 6 mostra os principais sinais encontrados na área da saúde. As placas indicativas devem ser conforme indicadas a seguir (ABNT, 2004): • Forma: quadrada ou retangular. • Cor de fundo (cor de segurança): vermelha. • Cor do símbolo (cor de contraste): fotoluminescente. • Margem (opcional): fotoluminescente. Extintor de incêndio Qualquer local que indique a localização de extintores de incêndio. Telefone ou interfone de emergência Todo local que indique a posição do interfone para comunicação de situações de emergência com uma central. Mangotinho Todo local que indique a localização do mangotinho. Abrigo de mangueira e hidrante Todo local que indique o abrigo da mangueira de incêndio com ou sem hidrante no seu interior. Infográfico 6 - Principais sinais de combate a incêndio utilizados na área da saúde Fonte: adaptado de ABNT (2004); Norma técnica 20/2014. 106 Especificidades em Rotina Laboratorial Caro(a) aluno(a), agora que aprendemos um pouco mais sobre os riscos em ambientes que trabalham com a saúde e como reconhecer os sinais relacionados a eles, você saberia responder o que vem a ser um Mapa de Riscos (MRs)? Caso a resposta seja não, fique tranquilo, na sequência iremos elucidar esse assunto. O MRs surgiu em 1967, na Itália, a partir de uma vasta pesquisa sobre os diversos problemas enfrentados pelos trabalhadores. No Brasil, o MRs foi incorporado à Norma Regulamentadora n° 5, a partir do ano de 1980, e sua elaboração passou a ser obrigatória a todas empresas que tivessem uma Comissão Interna de Prevenção de Acidentes (CIPA), de acordo com a NR-9 (HÖKERBERG et al., 2006; PAVAN; SAVI, 2012). O mapa de riscos é uma técnica empregada para coletar o maior número possível de infor- mações sobre os riscos existentes no ambiente de trabalho. O MRs permite fazer um diagnóstico da situação de segurança e saúde do trabalho nas empresas com a finalidade de estabelecer medidas preventivas. Além disso, possibilita a Mapa de Riscos 107UNIDADE 3 troca e a divulgação de informação entre os tra- balhadores, estimulando sua participação nas atividades de prevenção (BRASIL, NR 9, 1994; BENATTI; NISHIDE, 2000). Nesse momento, você pode estar se questio- nando, e quem pode elaborar um MRs? A elaboração é feita por um profissional ca- pacitado, por exemplo, um técnico em segurança do trabalho, um engenheiro de segurança no trabalho ou, ainda, um profissional qualifica- do responsável pelo local avaliado (PINTO et al., 2013). Esses profissionais aplicam métodos científicos cada vez mais sofisticados ou podem, ainda, basear-se em instrumentos predefinidos por comissões de biossegurança ou de qualidade, para identificar e mensurar os riscos (HÖKER- BERG et al., 2006). O MRs deve ser moldado, inicialmente, ob- servando os riscos que o profissional está sujeito durante o exercício de suas atividades laborais, atividades estas que podem afetar o bem-estar físico e psíquico do indivíduo (PINTO et al., 2013). Algumas vantagens associadas à elabo- ração de um MRs estão listadas a seguir: • Identificação prévia dos riscos existentes nos locais de trabalho, os quais os traba- lhadores poderão estar expostos. • Conscientização quanto ao uso adequado das medidas e dos equipamentos de pro- teção coletiva e individual. • Redução de gastos com acidentes e doen- ças, medicação, indenização, substituição de trabalhadores e danos patrimoniais. • Facilitação da gestão de saúde e segurança no trabalho com o aumento da segurança interna e externa. • Melhoria do clima organizacional, maior produtividade, competitividade e lucrati- vidade (PAVAN; SAVI, 2012). Elaboração de um MRs Segundo Hökerberg et al. (2006), a elaboração do mapa de riscos no hospital é motivada por três fatores: 1. Base legal para uso do MRs como método para a identificação dos riscos. 2. Aparente simplicidade do método. 3. Possibilidade de envolvimento ativo dos trabalhadores. Na elaboração do MRs, são utilizadas cores con- forme a classificação dos riscos ambientais, e a gravidade do risco é representada pelo tamanho dos círculos. A representação gráfica dos riscos deve ser de forma clara, permitindo a rápida iden- tificação de cada tipo de risco existente em cada setor (PAVAN; SAVI, 2012). O Quadro 4 apresen- ta o risco e a cor representativa de cada um dos riscos a que os trabalhadores estão expostos no ambiente de trabalho. Lembrando que se durante o estudo houver alguma dúvida em relação aos riscos, retorne à Unidade 2, nela aprendemos e discutimos a clas- sificação desses riscos individualmente. Quadro 4 - Riscos ambientais e sua representação por cores Cor Grupo Risco Verde 1 Risco físico Vermelha 2 Risco químico Marrom 3 Risco biológico Amarela 4 Risco ergonômico Azul 5 Risco acidente Fonte: Brasil (NR 9, 1994). 108 Especificidades em Rotina Laboratorial Na elaboração do MRs, algumas etapas devem ser seguidas como previsto na Norma Regula- mentadora n° 9 (BRASIL, NR 9, 1994). O Infográfico 7 apresenta as referidasetapas de elaboração. Infográfico 7 - Etapas para elaboração do MRs Fonte: adaptado de Brasil (NR 9, 1994). Etapa Identificar os indicadores de saúde. Descrição • Associado a queixas mais frequentes e comuns entre os trabalhadores expostos aos mesmos riscos. • Acidentes de trabalho ocorridos. • Doenças que acometem os profissionais. Etapa Identificar os riscos existentes no local analisado. Descrição • Associada à identificação dos riscos ambientais. Etapa Conhecer os levantamentos ambientais já realizados no local. Descrição • Verificar os estudos anteriores. Etapa Identificar as medidas preventivas existentes e sua eficácia. Descrição • Refere-se às medidas de proteção coletiva; medidas de organização do trabalho; medidas de proteção individual e medidas de higiene e conforto. Etapa Elaborar o MRs em relação ao layout da empresa. Descrição • Realizado por meio das cores representativas dos riscos e dos tamanhos dos círculos. Etapa Conhecer o processo de trabalho no local analisado. Descrição • Conhecimento dos trabalhadores em relação a número, sexo, idade e treinamento profissional e de segurança e saúde. • Conhecimento dos instrumentos e materiais de trabalho utilizados. • Conhecimento do ambiente de trabalho e das atividades exercidas. 109UNIDADE 3 Como mencionado anteriormente, a gravidade do risco é simbolizada pelo tamanho do círculo, que pode ser pequeno, médio ou grande (PAVAN; SAVI, 2012). Assim: • Círculos pequenos: risco pequeno por sua essência ou por ser um risco médio já protegido. • Círculos médios: risco que gera relativo incômodo, mas que pode ser controlado. • Círculos grandes: risco que pode matar, mutilar ou gerar doenças e que não dispõe de meca- nismo para a redução, neutralização ou controle. Além do tamanho dos círculos e as cores representativas dos riscos, o MRs ainda deve indicar o número de trabalhadores expostos e a especificação dos agentes de risco (PAVAN; SAVI, 2012). O Quadro 5 apresenta um exemplo de risco biológico expressando a gravidade dele. A partir deste modelo, essa forma de expressão pode ser adotada para todos riscos (físico, químico, ergonômico e de acidente). Quadro 5 - Exemplo de gravidade do risco biológico na forma de círculos Risco pequeno Risco médio Risco grande 1 cm de diâmetro 2 cm de diâmetro 4 cm de diâmetro Fonte: os autores. No centro cirúrgico de um hospital, um risco bio- lógico pequeno e médio pode ser considerado o contato com microrganismos patogênicos, doen- ças infectocontagiosas, materiais e lixo contami- nados. Nos riscos ergonômicos, como trabalhar em pé, a postura inadequada e esforços físicos durante o atendimento dos pacientes, a gravida- de é pequena, enquanto que na manipulação de detergentes, desinfetantes e medicamentos (risco químico), o grau de risco pode variar de pequeno a médio. Na ocorrência de cortes com materiais perfurocortantes (risco de acidente), a gravidade é pequena à média. E, por fim, os riscos físicos, como as radiações ionizantes, considera-se grau pequeno. Lembre- -se que a gravidade está diretamente associada à prevenção, isto é, menor será o grau de exposição do trabalhador ao risco quanto mais difundido for o uso de equipamentos de proteção individual e coletiva (PAVAN; SAVI, 2012). 110 Especificidades em Rotina Laboratorial Desde a sua criação, o cultivo de organismos geneticamente modificados (OGMs) provocou controvérsias, existindo muitos relatos alertando contra os potenciais efeitos negativos e outros en- focando nos benefícios dessa tecnologia. Con- tudo, o que realmente são os OGMs e quais são seus riscos para a saúde humana, dos animais e do meio ambiente? A partir desses questionamentos, vamos conhecer os verdadeiros riscos e benefícios que a exposição aos OGMs podem nos oferecer. Definição de OGMs Os organismos geneticamente modificados são aqueles cujo material genético foi alterado, a fim de conter uma ou mais características codificadas pelo gene ou pelos genes introduzidos, modifica- dos a partir da Engenharia Genética (COSTA et al., 2011; MALLAH; OBEID; SLEYMANE, 2011). Desde meados dos anos de 1990, a produção de OGMs está em contínuo crescimento, com cultivo especialmente de milho, soja, canola e algodão. Biossegurança e os Organismos Geneticamente Modificados (OGMS) 111UNIDADE 3 A soja e o milho geneticamente modificados são os OGMs mais extensivamente cultivados, ten- do como principais características introduzidas a tolerância ao herbicida e a resistência a insetos (SHEHATA, 2005). As estatísticas mostraram um aumento de 100 vezes entre 1996 e 2013, em que a área global ex- cedeu 175 milhões de hectares. A fim de proteger os direitos do consumidor e garantir a segurança alimentar e ambiental, 63 países do mundo esta- beleceram suas políticas regulatórias específicas para controlar as autorizações e rotulagem de OGMs (CLIVE, 2014; COSTA et al., 2011). Também, nas duas últimas décadas, organiza- ções governamentais e intergovernamentais têm planejado estratégias e protocolos para o estudo da segurança de cultivos geneticamente modifi- cados. O maior problema na análise de risco de OGMs é que seus efeitos não podem ser previstos na sua totalidade. É válido destacar que países como os Esta- dos Unidos são favoráveis a essa tecnologia; enquanto que na Europa, os OGMs apresen- tam uma imagem negativa, refletindo na acei- tação dos produtos. Por exemplo, apenas 16% dos franceses consideram que os OGMs são seguros para eles e sua família, contra os 33% no Reino Unido. Os comportamentos descritos estão diretamente relacionados às diferenças na cobertura da mídia de OGMs entre a Europa e os Estados Unidos, uma vez que os meios de comunicação europeus focam muito mais nos potenciais riscos dos OGMs do que os demais países (BARDIN et al., 2017). A insulina produzida desde o começo da déca- da de 80, bananas com grande porcentagem de vi- tamina A, tomate longa-vida com maior resistência depois da colheita e batata com menor absorção de óleo durante o processo de fritura são exemplos positivos de OGMs (COSTA et al., 2011). Lei de Biossegurança n° 11.105/2005 e Protocolo de Cartagena No Brasil, é a Lei de Biossegurança n° 11.105/2005 que estabelece normas de segurança e mecanis- mos de fiscalização de atividades que envolvam OGMs e seus derivados. A lei criou o Conselho Nacional de Biossegurança (CNBS) e reestruturou a Comissão Técnica Nacional de Biossegurança (CTNBio). Ainda, as principais preocupações são em relação à saúde humana e animal e também em relação ao meio ambiente, como se dará essa fiscalização e se os órgãos destinados para tal se- rão eficientes o suficiente para garantir esse fim (BRASIL, 11.105/2005). A referida lei também prescreve a necessidade de informar no rótulo dos produtos a existência de OGMs, com a finalidade de não ferir os direi- tos dos consumidores e a oportunidade de livre escolha no consumo dos transgênicos. Desta for- ma, os produtos tanto para o consumo humano quanto animal devem, obrigatoriamente, vir rotu- lados com o símbolo específico dos transgênicos, definido como padrão para não haver qualquer distorção sobre o assunto (Figura 4). Figura 4 - Símbolo de produtos transgênicos 112 Especificidades em Rotina Laboratorial Relacionado aos OGMs, ainda, é importante des- tacar o Protocolo de Cartagena sobre Biossegu- rança, que foi o primeiro acordo firmado no âm- bito da Convenção sobre Diversidade Biológica (CBD). Visa assegurar um nível adequado de pro- teção no campo da transferência, da manipulação e do uso seguro dos organismos geneticamente modificados resultantes da biotecnologia moder- na que possam ter efeitos adversos na conserva- ção e no uso sustentável da diversidade biológica, levando em conta os riscos para a saúde humana. Atualmente, o Protocolo conta com 143 países, entre eles o Brasil, que se reúnem periodicamen- te para discutir sobre questões vinculadas aos OGMs, (COSTA; MARIN, 2011).Benefícios dos OGMs Relatar os riscos ou benefícios dos OGMs é um pouco difícil, tendo em vista que a própria ciên- cia ainda se vê incerta quanto aos reais efeitos. Contudo, de maneira objetiva, vamos apontar os principais benefícios descritos na literatura como (MUÑOZ, 2001): • Aumento da vida de prateleira (shelf-life) de produtos como frutas e vegetais que se degradam facilmente. • Aumento da resistência das colheitas e a consequente redução do uso de produtos químicos. • Maior resistência a insetos e a certos vírus, diminuindo a possibilidade de as plantas contraírem as doenças por eles causadas. • Aumento do nível de produção e o seu rendimento. • Redução de custo e aumento de competi- tividade brasileira no agronegócio interno e externo. • Redução do uso de fertilizantes. • Permite a clonagem e a produção de me- dicamentos por meio da técnica de DNA recombinante. Riscos dos OGMs A inserção de novas construções no genoma de um organismo supõe a melhora das propriedades úteis ao ser humano e a redução nos custos da produção. Contudo, alguns riscos acerca da tec- nologia são relatados a seguir (MACEDO, 2014): • A diminuição ou perda da biodiversidade, pois as plantas que não sofreram modifi- cação genética podem ser eliminadas pelo processo de seleção natural, uma vez que as transgênicas possuem maior resistência às pragas e pesticidas. • O aumento da resistência humana a an- tibióticos a partir do consumo em longo prazo de alimentos transgênicos, ou da ingestão de animais que consumiram ali- mentos transgênicos. • Aumento das alergias devido à produção de proteínas sintetizadas pelos novos genes transgênicos. • Aparecimento de novas doenças devido a maior resistência a antibióticos dos mi- crorganismos provenientes dos OGMs. • Perigo à saúde pública, uma vez que o ex- cesso de produtos químicos não tem ape- nas um impacto negativo no ambiente, mas também um risco para a saúde pública. • Insegurança na utilização dos OGMs, pois os estudos feitos são de curta duração e superficiais, não sendo possível avaliar com segurança os danos provocados pela inserção dos transgênicos no ambiente. • Falta de informação da população acerca dos OGMs. 113UNIDADE 3 OMGs na Área da Saúde A grande quantidade de OGMs que vem sendo aprovada no mundo nos últimos anos e a suspeita de que os eles não sejam seguros para o consumo e saúde levaram esses organismos ao centro das atenções públicas. No âmbito da saúde, a grande preocupação está focada nos microrganismos re- sistentes aos antibióticos, em especial as bactérias. Os microrganismos resistentes são aqueles co- nhecidos pela resistência a uma ou mais classes de antimicrobianos (OLIVEIRA; SILVA, 2008). A elevada atividade metabólica e reprodutiva bacte- riana associada a mecanismos de troca de material genético pode favorecer para que os microrganis- mos desenvolvam, ao longo do tempo, formas de resistência intrínsecas à estrutura física celular, relacionadas a eventos mutacionais e mesmo à transferência de genes de resistência aos antimi- crobianos a outras bactérias (CLOETE, 2003). As infecções causadas por esses microrganis- mos apresentam maior preocupação devido ao reduzido arsenal terapêutico disponível para tra- tamento (ALANIS, 2005). As bactérias Pseudomo- nas aeruginosa, Staphylococcus aureus, Klebsiella pneumoniae, Enterobacter sp., Acinetobacter sp. e Enterococcus faecalis são as mais relatadas no ambiente hospitalar, pois vêm desenvolvendo um alto poder de resistência aos fármacos de última geração e ganham importância na Organização Mundial da Saúde, ANVISA e associações de controladores de infecções hospitalares, além da indústria farmacêutica, que se preocupam com o tratamento das doenças causadas por esses mi- crorganismos (PAIVA, 2013, on-line)1. Justificada a grande preocupação com a emer- gência da resistência bacteriana, considera-se que algumas intervenções podem contribuir para o controle da disseminação como (PASKOVATY et al., 2005; OLIVEIRA; SILVA, 2008): • Informação dos profissionais de saúde. • Detecção de pacientes sob risco. • Implementação de isolamento por contato para pacientes colonizados/infectados. • Uso de Equipamentos de Proteção Indi- vidual (EPI). • Higienização das mãos, desinfecção de superfícies e controle do uso de antimi- crobianos. • Manutenção de um banco de dados com a identificação de todos os pacientes coloni- zados/infectados. • Reformulação das políticas públicas. Também cabe destacar que os OGMs, na área da saúde, apresentam efeitos benéficos, como na pes- quisa e produção de células-tronco embrionárias, para fins científicos e terapêuticos. A utilização em terapia de células-tronco embrionárias huma- nas deve ser realizada em conformidade com as diretrizes do Ministério da Saúde para a avaliação de novas tecnologias. Também é a Lei de Biosse- gurança n° 11.105, de 24 de março de 2005 que oferece suporte para tal tecnologia. As células-tronco embrionárias são células de embriões humanos produzidas por fertilização in vitro que apresentam a capacidade de se transfor- marem em células de qualquer tecido de um or- ganismo. Dentre suas potenciais aplicações estão: restaurar a função de um órgão ou tecido com a O cultivo de OGMs, em larga escala, poderá, eventualmente, ocasionar a disseminação destes no meio ambiente, causando diminuição da biodiversidade e alteração das dinâmicas populacionais. 114 Especificidades em Rotina Laboratorial substituição das células perdidas por uma enfer- midade ou substituir células que não funcionam adequadamente devido a um defeito genético ou vascular, e curar enfermidades dos sistemas hema- tológico (leucemias, linfomas), nervoso (acidente vascular cerebral, esclerose múltipla, traumatismo) e cardiovascular (infarto do miocárdio, insuficiên- cia cardíaca) (OKAMOTO; HOLTHAUSEN, 2004). Sendo assim, caro(a) aluno(a), conforme expos- to, existe uma grande discussão e também grande problematização acerca da manipulação gênica no que tange aos transgênicos, sendo necessário manter-se antenado nos avanços da ciência acerca dessa temática relevante, pertinente e atual. Como vimos ao longo desta unidade, caro(a) aluno(a), os riscos serão de grande relevância em diversos segmentos dos serviços em saúde, influenciando, também, em como eles são classificados e, ainda, nos níveis de biossegurança exigidos em deter- minados locais de trabalho. Os riscos apresentados, ou o tipo de organismo ali manipulado, influencia no nível de contenção e nas medidas que deverão ser adotadas em la- boratórios NB-1, 2, 3 ou 4, sendo estas descritas ao longo desta unidade, bem como as medidas de proteção a serem adotadas nesses diferentes níveis de biossegurança. Conforme exposto, a simbologia aplicada à biossegurança dos serviços de saúde consiste em uma das mais fundamentais ferramentas ou me- canismo de alerta, seja mediante à sinalização de aviso, proibição, obrigação ou orientação. Tais fer- ramentas de sinalização possuem por finalidade alertar os indivíduos que estejam transitando em um ambiente hospitalar, bem como os profissio- nais desse segmento acerca dos riscos presentes e das obrigações e medidas de segurança que de- verão ser adotadas. Tais sinalizações deverão estar em acordo com as informações sobre os riscos expostos no mapa de risco, que configura-se como uma ferramenta essencial e relevante para um bom funcionamento de um ambiente laboratorial/hospitalar/clínico. E, por fim, foi possível conhecer um pouco mais sobre a legislação específica que discorre sobre a utilização dos organismos geneticamente modificados. Tais informações nos direcionam a uma discussão acerca do avanço que eles re- presentam à humanidade e dos riscos que sua utilização incorreta pode apresentar para o meio ambiente que já possui dinâmicas populacionais estabelecidas. Nesse sentido, esperamos que nossa singela contribuição acerca das temáticas abordadas nestaunidade possam ser pertinentes e relevantes para sua jornada acadêmica e profissional. Abraços. 115 Você pode utilizar seu diário de bordo para a resolução. 1. Desde a sua criação, o cultivo de organismos geneticamente modificados (OGMs) provocou controvérsias, resultando em posicionamentos contrários a sua utili- zação, cujo os principais argumentos eram sobre os potenciais efeitos negativos em relação à utilização dessa tecnologia. Em relação a essa temática, assinale a alternativa que contém a correta definição de OGMs. a) Correspondem a indivíduos híbridos, resultantes da reprodução sexuada de duas espécies diferentes. b) Trata-se de organismos que não apresentam modificações em suas estruturas gênicas e que não são utilizados em segmentos como o da saúde. c) Organismos que tiveram genes introduzidos em seu genoma, mediante esforços da engenharia genética, mas que não apresentam características codificadas pelos genes introduzidos. d) Organismos fisicamente modificados, cujo material genético não sofre alteração. e) Os organismos geneticamente modificados são aqueles cujo material genético foi alterado, a fim de conter uma ou mais características codificadas pelo gene ou pelos genes introduzidos, modificados a partir da engenharia genética. 2. Dentre as sinalizações encontradas na área da saúde, destacam-se sinais de obrigação, que impõem um determinado comportamento, estando diretamente associados ao uso obrigatório dos equipamentos de proteção individual. Em relação aos sinais de obrigação, assinale a alternativa que contém sua correta caracterização. a) Forma circular, cor do fundo amarela e cor do símbolo branca. b) Forma retangular, cor do fundo branca e cor do símbolo azul. c) Forma circular, cor do fundo amarela e cor do símbolo vermelha. d) Forma circular, cor do fundo azul e cor do símbolo branca. e) Forma retangular, cor alaranjada e cor do símbolo azul. 116 3. Durante a elaboração de Mapas de risco, os riscos presentes nas áreas analisadas são representados de diferentes formas e podem ser classificados e facilmente reconhecidos em função de sua caracteristicas. Com base nessa informação e no conteúdo apresentado ao longo da unidade, analise os dois riscos indicados e, com base em sua descrição, assinale a alternativa correspondente. I) Círculo com 1 centímetro de diâmetro de coloração verde. II) Círculo com 2 centímetro de diâmetro de coloração vermelha. Os riscos descritos correspondem a: a) Risco ergonômico grande e II - Risco biológico pequeno. b) Risco físico pequeno e II - Risco químico médio. c) Risco químico grande e II - Risco físico pequeno. d) Risco ergonômico grande e II - Risco químico médio. e) Risco químico pequeno e II - Risco físico grande. 4. Avalie as assertivas e assinale a alternativa que contemple somente exemplos de barreiras secundárias dos laboratórios NB-3. I) O laboratório deve ter acesso restrito e estar separado das áreas de trânsito do prédio. II) Uso de luvas ao manusear materiais e equipamentos contaminados. III) Todas as manipulações de materiais infecciosos devem ser conduzidas em uma CBS’s classe II ou III. IV) Lavatórios com torneiras de acionamento sem uso das mãos. Está correta apenas: a) Somente I e II contêm exemplos de barreiras secundárias de laboratórios NB-3. b) Somente I e III contêm exemplos de barreiras secundárias de laboratórios NB-3. c) Somente I e IV contêm exemplos de barreiras secundárias de laboratórios NB-3. d) Somente II e III contêm exemplos de barreiras secundárias de laboratórios NB-3. e) Somente III e IV contêm exemplos de barreiras secundárias de laboratórios NB-3. 117 5. Na elaboração de Mapas de risco (MRs), algumas etapas devem ser seguidas como previsto na Norma Regulamentadora n° 9. Tal ação se faz necessária para evitar as possíveis falhas ao longo desse processo. Nesse sentido, avalie as assertivas e assinale a alternativa que apresenta a correta ordem das etapas a serem seguidas na elaboração de um MRs. I) Identificar as medidas preventivas existentes e sua eficácia. II) Elaborar o MRs em relação ao layout da empresa. III) Conhecer o processo de trabalho no local analisado. IV) Identificar os riscos existentes no local analisado. V) Identificar os indicadores de saúde. VI) Conhecer os levantamentos ambientais já realizados no local. A ordem correta das ações é: a) III, I, IV, II, V e VI. b) II, III, I, VI, V e IV. c) I, II, II, IV, V e VI. d) II, III, IV, I, V e VI. e) III, IV, I, V, VI e II. 118 Biossegurança - Ações Fundamentais Para Promoção da Saúde Autor: Paulo Roberto Barsano; Rildo Pereira Barbosa; Emanoela Soares Gon- çalves; Suerlane Pereira da Silva Editora: Sextante Sinopse: a obra traz temas em Biossegurança, como: conceitos históricos, sua relação com a sociedade, cidadania, saúde e ética profissional e sua aplicação em enfermagem, atividades odontológicas e procedimentos cirúrgicos. Apresenta o ambiente laboratorial e seus perigos e riscos, controle de microrganismos, equipamentos de proteção coletiva e individual (EPC e EPI), e acidentes em laboratório. Explica procedimentos de lavagem e higienização das mãos, limpeza, desinfecção e esterilização de produtos e superfícies, medidas de prevenção e controle de infecção em ambientes de saúde, vigilância epidemiológica e sanitária. O conteú- do pode ser aplicado para os cursos técnicos em Agente Comunitário de Saúde, Análises Clínicas, Análises Químicas, Biotecnologia, Citopatologia, Cuidados de Idosos, Enfermagem, Estética, Farmácia, Gerência em Saúde, Hemoterapia, Imobilização Ortopédica, Massoterapia, Necropsia, Nutrição e Dietética, Óptica, Radiologia, Saúde Bucal, Vigilância em Saúde, entre outros. LIVRO 119 ABNT. ABNT NBR 13434. Sinalização de segurança contra incêndio e pânico. Parte 2: Símbolos e suas formas, dimensões e cores. ABNT, 2004. ALANIS, A. J. Resistance to antibiotics: are we in the postantibiotic era? Archives of Medical Research, v. 36, n. 6, p. 697-705, 2005. BARDIN, B.; PERRISSOL, S.; FACCA, L.; SMEDING, A. From risk perception to information selection… And not the other way round: selective exposure mechanisms in the field of genetically modified organisms. Food Quality and Preference, v. 58, p. 10-17, 2017. BENATTI, M. C. C.; NISHIDE, V. M. Elaboração e implantação do mapa de risco ambiental para prevenção de acidentes do trabalho em uma unidade de terapia intensiva de um hospital universitário. Revista Latino-A- mericana de Enfermagem, v. 8, n. 5, p. 13-20, 2000. BRASIL. Lei nº 11.105, de 24 de Março de 2005. Regulamenta os incisos II, IV e V do § 1o do art. 225 da Constituição Federal, estabelece normas de segurança e mecanismos de fiscalização de atividades que envolvam organismos geneticamente modificados – OGM e seus derivados, cria o Conselho Nacional de Biossegurança – CNBS, reestrutura a Comissão Técnica Nacional de Biossegurança – CTNBio, dispõe sobre a Política Nacio- nal de Biossegurança – PNB, revoga a Lei no 8.974, de 5 de janeiro de 1995, e a Medida Provisória no 2.191-9, de 23 de agosto de 2001, e os arts. 5o, 6o, 7o, 8o, 9o, 10 e 16 da Lei no 10.814, de 15 de dezembro de 2003, e dá outras providências. Brasília: Presidência da República, 2005. Disponível em: <https://www.planalto.gov.br/ ccivil_03/_Ato2004-2006/2005/Lei/L11105.htm>. Acesso em: 26 out. 2018. ______. Ministério da Saúde. Secretaria de Ciência, Tecnologia e Insumos Estratégicos. Departamento de Ciência e Tecnologia. Classificação de risco dos agentes biológicos. Brasília: Editora do Ministério da Saúde, 2006b. 36p. ______. Ministério da Saúde. Secretaria de Ciência, Tecnologia e Insumos Estratégicos. Diretrizes gerais para o trabalho em contenção com agentes biológicos. 2. ed. Brasília: Editora do Ministério da Saúde, 2006c, 52p. ______. Ministério da Saúde. Secretaria de Vigilância em Saúde. Departamento de Vigilância Epidemiológica. Biossegurança em laboratórios biomédicos e de microbiologia. 3. ed. Brasília: Editora do Ministérioda Saúde, 2006a, 290p. ______. Ministério do Trabalho e Emprego. Norma Regulamentadora n° 26 (NR-26). Sinalização de Segu- rança. 2011. Disponível em: <http://www.normaslegais.com.br/legislacao/Portaria-mte-704-2015.htm>. Acesso em: 26 out. 2018. ______. Norma Regulamentadora n. 9. Programa de prevenção de riscos ambientais. 1994. Disponível em: <http://www.guiatrabalhista.com.br/legislacao/nr/nr9.htm>. Acesso em: 26 out. 2018. 120 BRUNO, A. N. Biotecnologia I: princípios e métodos. Porto Alegre: Artmed, 2014, 230p. CLIVE, J. Global status of commercialized biotech/GM crops. The International Service for the Acquisition of Agri-biotech Applications, n. 46, 2014. 338p. CLOETE, T. E. Resistance mechanisms of bacteria to antimicrobial compunds. International Biodeter Bio- degradation, v. 51, n. 4, p. 277-282, 2003. COSTA, T. E. M. M.; DIAS, A. P. M.; SCHEIDEGGER, E. M. D.; MARIN, V. A. Avaliação de risco dos organismos geneticamente modificados. Ciência & Saúde Coletiva, v. 16, n. 1, p. 327-336, 2011. COSTA, T. E. M. M.; MARIN, V. A. Rotulagem de alimentos que contém organismos geneticamente modifica- dos: políticas internacionais e legislação brasileira. Ciência & Saúde Coletiva, v. 16, n. 8, p. 3571-3582, 2011. FATOR DE SEGURANÇA Ltda. Sinalização de segurança e saúde. TECNOMETAL, n. 143, p. 1-9, 2002. FERNANDES, S. Trabalhos de Higiene e Segurança no Trabalho e Ambiente. Nota positiva, 2011. 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Monitoramento em cabine de segurança biológica: manipulação de cepas e descontaminação em um laboratório de micobactérias. Jornal Brasileiro de Patologia e Medicina Labo- ratorial, v. 44, n. 4, p. 263-269, 2008. REFERÊNCIA ON-LINE 1Em: <https://qualidadeonline.wordpress.com/2013/05/09/sinalizacao-de-seguranca-pode-evitar-muitos- acidentes-do-trabalho/>. Acesso em: 26 out. 2018. 122 1. E. 2. D. 3. B. 4. C. 5. E. 123 124 PLANO DE ESTUDOS OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM • Compreender como ocorre a transmissão de doenças. • Conceituar esterelização, limpeza e desinfecção. • Entender as barreiras de controle enquanto mecanismos de isolamento. • Compreender o papel da bioética no campo da saúde. Dra. Michele Putti Paludo Dr. Gustavo Affonso Pisano Mateus Esp. Mylene Manfrinato dos Reis Amaro Transmissão de doenças Esterilização, limpeza e desinfecção Bioética e sua Aplicabilidade na Área da Saúde Barreiras de Controle e Isolamento Transmissão de Doenças, Medidas de Higiene e Contenção e a Bioética Transmissão de Doenças Olá, caro(a) aluno(a), seja bem-vindo(a) a quarta Unidade do nosso material didático, intitulada Transmissão de Doenças, Medidas de Higiene e Contenção e a Bioética. Esta unidade compreen- de assuntos de extrema relevância dentro desta disciplina, uma vez que nela serão abordadas temáticas, como: mecanismos de transmissão de doenças; esterilização, limpeza e desinfecção; barreiras de contenção e isolamento e bioética. As temáticas supracitadas destacam-se den- tro da rotina laboral de trabalho ligado à saú- de, em ambientes como clínicas, laboratórios e hospitais. Neste tipo de ambientes, comumente são atendidos pacientes com a mais vasta gama de doenças ou enfermidades, portanto, discutir e compreender acerca da relevância da higiene em ambientes profissionais da área da saúde se faz imprescindível. A higienização e esterilização de aparatos e ambientes irão influenciar no trata- mento e recuperação de indivíduos acometidos; portanto, conhecer as diferentes técnicas de hi- gienização também se faz imprescindível. 127UNIDADE 4 Ainda nesta unidade, serão apresentadas in- formações acerca da transmissão de doenças, que são importantes em função do risco em po- tencial que elas oferecem aos profissionais da área da saúde, bem como aos demais “persona- gens” presentes em ambientes laboratoriais, clí- nicos e hospitalares. Além disso, iremos também conceituar e discutir sobre a aplicação/execução das barreiras de contenção e isolamento, que estão intrinsecamente relacionadas às doenças infectocontagiosas e a prevenção para a saúde coletiva, seja dos personagens presentes nestes ambientes ou dos profissionais desse segmento. E por fim, versaremos sobre a relação e convergên- cia da bioética com a atuação dos profissionais em saúde. Sendo assim, convidamos você, caro(a) alu- no(a), a conhecer um pouco mais acerca das te- máticas supracitadas que, sem sombra de dúvidas, são de indispensável conhecimento na rotina dos profissionais da área da saúde. Antes de iniciarmos nossa discussão em rela- ção à transmissão de doenças, deixaremos uma pergunta bem objetiva para você: o que é doença? Conceito e Classificação de Doença A vida se manifesta por meio da saúde e da doen- ça, que são formas únicas, experiências subjetivas e que não podem ser manifestadas integralmente por meio de palavras. No entanto, a pessoa doente utiliza palavras para expressar a sua doença, e os profissionais da saúde, por sua vez, também fazem uso de palavras para significar as queixas dos pa- cientes. Dessa maneira, surge tensão entre a sub- jetividade da doença e a objetividade dos signifi- cados atribuídos pelosprofissionais às queixas do paciente e que o levam a propor intervenções para lidar com essa situação (BACKES et al., 2009). As doenças transmissíveis constituem impor- tante causa de morte e, ainda, afligem milhões de pessoas em numerosas regiões, especialmente nos países em desenvolvimento. Segundo a Organiza- ção Mundial da Saúde (OMS), doença pode ser definida como qualquer perturbação ou anor- malidade observada no funcionamento orgânico do indivíduo ou do seu comportamento, quer no aspecto intelectual, quer do ponto de vista moral e social, de tal forma que lhe afete notavelmente o estado de bem-estar geral sugestivo de saúde (ROUQUAYROL; VERAS; TÁVORA, 2013). A história natural da doença mostra que de um estado inicial de saúde passa-se a uma situação interativa, na qual o organismo sadio se encontra em presença de agentes patogênicos ou de fatores de risco que virão a perturbar sua normalidade ou contribuir para tanto. Às primeiras inter-re- lações sucedem as primeiras perturbações leves, mas perfeitamente detectáveis, caso se busque por elas. O estágio inicial é seguido de outros até o estado avançado da doença. Nessa etapa, ocor- rem alterações irreversíveis, podendo evoluir para invalidez total ou parcial, ou para a morte (ROU- QUAYROL; VERAS; TÁVORA, 2013). O termo homeostase, ou homeostasia, pode ser comumente encontrado em qualquer discussão que se faça sobre saúde. Tal termo corresponde a uma condição fisiológica referente à tendên- cia dos sistemas dos seres vivos de buscarem o equilíbrio quase constante; logo, esse conceito, em termos de saúde, faz menção a busca pela melhor condição dos sistemas para a promoção da vida. 128 Transmissão de Doenças, Medidas de Higiene e Contenção e a Bioética Os fatores que podem causar doenças nos seres humanos são biológicos, físicos e químicos, bem como de outros tipos, tais como estresse, que podem ser mais difíceis de classificar. O Quadro 1 aponta alguns fatores que podem estar associados ao aumento do risco de doenças. A Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS, 1983) classifica as doenças em duas categorias distintas: as doenças infecciosas e as não infec- ciosas. • Doenças infecciosas ou transmissíveis: são as doenças causadas por um agente infeccioso específico, ou seus produtos tóxicos, que se manifesta pela transmissão desse agente ou de seus produtos, de uma pessoa ou animal infectados ou de um hospedeiro. • Doenças não infecciosas ou não transmis- síveis: são todas aquelas doenças que não resultam de infecção. • Quanto à duração, as doenças podem ser crônicas e agudas. • Crônicas: também chamadas de doenças persistentes, são aquelas que se desenrolam a longo prazo, podendo persistir por anos, ou mesmo durante toda a vida (GORDIS, 2009). • Agudas: são as doenças de curta duração (ROUQUAYROL; VERAS; TÁVORA, 2013). Quadro 1 - Fatores que podem estar associados ao aumento do risco de doenças em humanos Características do hospedeiro Tipos de agentes Fatores ambientais Idade Biológicos (bactérias e vírus) Temperatura Sexo Químicos (veneno, álcool, fumo) Umidade Raça Radiação Costumes Físicos (trauma, radiação, fogo) Água Antecedentes familiares Poluição ambiental Estado imunológico Nutricionais (deficiência e/ou excesso de nutrientes) Ruído Perfil genético Fonte: Gordis (2009). Hospedeiro é a pessoa ou animal que proporciona um local adequado para que um agente infeccioso cresça e se multiplique em condições naturais. 129UNIDADE 4 Neste sentido, usando-se os dois critérios classi- ficatórios, quatro são as categorias fundamentais de doenças, de acordo com o Quadro 2. Destas, as infecciosas agudas e as não infecciosas crônicas incluem o maior número dentre as doenças conhe- cidas (ROUQUAYROL; VERAS; TÁVORA, 2013). Quadro 2 - Categorias fundamentais de doenças Etiologia Duração Agudas Crônicas Infecciosas Tétano, raiva, sarampo, gripe, dengue. Tuberculose, doença de Chagas, AIDS. Não infecciosa Envenenamento por picada de cobra. Diabetes, doença coronariana, cirrose. Fonte: Rouquayrol, Veras e Távora (2013). Além das doenças infecciosas e não infecciosas, existem outras classificações, como as (ROU- QUAYROL; VERAS; TÁVORA, 2013): • Doenças quarentenáveis: são aquelas que podem levar à restrição de atividades du- rante um período máximo de incubação, a fim de evitar a propagação da doença. São exemplos: peste pneumônica, cólera e febre amarela. • Doenças de isolamento: são doenças que exigem segregação dos indivíduos doentes durante o período de transmissibilidade da doença, em lugar e condições que evitem a transmissão direta ou indireta de agente infeccioso a pessoas ou animais. São exem- plos: febre tifoide, meningite e tuberculose. Transmissão de Doenças A transmissão de doenças compreende o pro- cesso pelo qual o agente infeccioso, oriundo de um indivíduo infectado, pessoa ou animal, com passagem ou não por intermediários vivos ou por qualquer objeto ou material inanimado, tem acesso ao meio interno de um novo hospedeiro (ROUQUAYROL; VERAS; TÁVORA, 2013). O modo de transmissão das doenças infecciosas pode ser direta e indireta. Transmissão Direta Na transmissão direta, o contágio da doença ocorre de uma pessoa para a outra por meio de contato direto (GORDIS, 2009). Destaca-se que essa via de transmissão assume dois modos distintos, podendo ser por meio da transmissão direta imediata e da transmissão direta mediata (ROUQUAYROL; VERAS; TÁVORA, 2013). As doenças cujos agentes causais são transmitidos por contato imediato ou por contato mediato são denominadas doenças contagiosas. Ainda, esta pode ser pelo contato direto pelo beijo, toque, relação sexual e pela disseminação de gotículas ao tossir ou respirar (BONITA; BEA- GLEHOLE; KJELLSTROM, 2011). A transmissão direta também pode ser pela forma horizontal – por meio das vias respiratórias, digestiva – e vertical, quando o agente infeccioso é transmitido para o feto pela placenta. O Quadro 3 apresenta os principais mecanismos de transmis- são dos agentes das doenças infecciosas. 130 Transmissão de Doenças, Medidas de Higiene e Contenção e a Bioética Quadro 3 - Principais mecanismos de transmissão direta e indireta dos agentes de doenças infecciosas Modo Forma Via Veículo Meio Exemplos Direto Horizontal Respiratória Ar Gotículas de flugge Sarampo, coqueluche, rubéola e gripe Direto Horizontal Digestiva Fezes Oral-fecal Febre-tifoide, poliomielite e hepatite A Direto Vertical Sexual Secreções sexuais Pele e mucosas Sífilis, HPV e AIDS Direto Vertical Pele Pele Pele íntegra Escabiose Direto Vertical Intrauterina Sangue materno Placenta Rubéola, toxoplasmose e hepatite B Indireto - Sanguínea Fômites Sangue e secreções Hepatite B, AIDS e doença de Chagas Indireto - Digestiva Água e alimentos Alimentar Cólera, febre e hepatite A Indireto - Pele Solo, água Penetração de saliva Ancilostomíase e esquistossomose mansônica Indireto - Vetor Saliva, fezes do vetor Picada de artrópode Dengue, peste, febre amarela, malária Fonte: Teixeira et al. (2013). Transmissão Indireta A transmissão indireta pode ocorrer por meio de um veículo comum, como na contaminação atmosférica ou fonte de abastecimento de água, ou por um vetor, como um mosquito (Quadro 3) (GORDIS, 2009). Destaca-se que os vetores são insetos ou animais que carregam o agente infeccioso de pessoa para pessoa, en- quanto que os veículos são objetos ou elementos contaminados, tais como roupas, talheres, água, entre outros (BONI- TA; BEAGLEHOLE; KJELLSTROM, 2011). Endemia, Epidemia e Pandemia Além dos termos já definidos para as doenças in- fecciosas, existem outros três que também necessi- tam ser conceituados, compreendendo: endemia, epidemia e pandemia. • Endemia: é a propagação de doenças in- fecciosas quando uma área geográfica ou grupo populacional apresenta padrão de ocorrência relativamente estável, com ele- vada incidência ou prevalência.Doenças endêmicas, como a dengue, estão limitadas especialmente pelas condições climáticas, uma vez que o mosquito é o vetor e não consegue sobreviver ou se reproduzir em regiões muito frias e secas (BONITA; BEA- GLEHOLE; KJELLSTROM, 2011). 131UNIDADE 4 • Epidemia: é definida como a ocorrência em uma região ou comunidade, de um grupo de doenças de natureza similar, ex- cedendo claramente a expectativa normal do que seria esperado (GORDIS, 2009). • Pandemia: ocorre quando a epidemia alcan- ça dimensões mundiais (GORDIS, 2009). Prevenção de Doenças As ações preventivas são intervenções que visam evitar o aparecimento de doenças específicas, reduzindo a sua incidência e prevalência. Seu objetivo é controlar a transmissão de doenças e a redução do risco das doenças; os projetos de prevenção e educação em saúde estão voltados para a divulgação das informações científicas e de recomendações normativas que envolvem mu- danças de hábitos (BACKES et al., 2009). A prevenção é dividida em três fases: a) Prevenção primária: corresponde à eta- pa de prevenção, evitando que o proces- so de doença se estabeleça, por meio da eliminação de suas causas ou aumentan- do a resistência do organismo a elas. O conceito de promoção da saúde aparece como um dos níveis da prevenção primá- ria, definido como esforços voltados ao desenvolvimento de uma saúde ótima. A vacinação (imunização) é um exemplo de prevenção primária. b) Prevenção secundária: fase que interrom- pe a doença antes que ela se torne sintomá- tica. É composta de dois níveis: o primeiro, diagnóstico e tratamento precoce; enquan- to que o segundo, limitação da invalidez. c) Prevenção terciária: nesta fase ocorrem as ações de reabilitação do indivíduo. Ex.: fisioterapia, intervenção cirúrgica, entre outras. Saúde Pública A saúde pública pode ser definida como uma prática social que visa intervir nos problemas de saúde, pre- venindo a população contra doenças, prolongando a vida e promovendo melhorias na saúde física e mental dos cidadãos. As doenças crônicas não in- fecciosas constituem o maior problema global de saúde e estão relacionadas com o elevado número de mortes prematuras, perda de qualidade de vida, alto grau de limitação e incapacidade, além dos im- pactos econômicos para as famílias, comunidades e a sociedade em geral (MALTA; MOURA; SILVA JÚNIOR, 2013). Diabetes, câncer, doenças do sistema respiratório e circulatório são as doenças que mais provocam óbitos, uma vez que atingem indivíduos de todas as classes e de maneira mais intensa aqueles per- tencentes a grupos vulneráveis, como os idosos e os de baixa escolaridade e renda (MALTA; MOURA; SILVA JÚNIOR, 2013). O Brasil marcha a passos largos para um sistema tríplice de saúde. Para os mais pobres e provavelmente mais doentes, há um sistema único de saúde (SUS). Para a classe média, vamos encontrar os planos de saúde e as seguradoras, ambos com fins lucrativos. Para os ricos, o atendimento “particular”. Nesse sistema de saúde fragmentado e injusto, o racionamento do atendimento se faz a partir do poder aquisitivo do ci- dadão. Será que é isso que a população brasileira quer? O SUS tem mais de 20 anos de existência e, apesar dos avanços alcançados, o SUS real está muito longe do SUS constitucional. Existe uma grande distância entre a proposta do movimento sanitário e a prática social do sistema público de saúde vigente. O SUS foi se concretizando como espaço reservado aos que não têm acesso aos subsistemas privados, como parte de um sistema segmentado. A proposição do SUS, inscrita na Constituição de 1988, de um sistema pú- blico universal, infelizmente ainda não se efetivou (DOLABELLA; KATAGIRI; BARBOSA, 2011). Doenças Infectocontagiosas Ainda no contexto da transmissão de doenças as doenças in- fectocontagiosas destacam-se pela sua relevância e incidência na saúde pública. Nesse sentido, elencamos informações sobre as principais doen- ças infectocontagiosas. Para acessar, use seu leitor de QR Code. WEB http:// Caro(a) aluno(a), estamos avançando na leitura de mais uma importante unidade do nosso ma- terial didático e, neste sentido, vamos aprender sobre os procedimentos utilizados no controle da transmissão das principais doenças infectoconta- giosas. Vamos lá? Contudo, antes de iniciarmos nossa discus- são, é pertinente destacar três conceitos funda- mentais que influenciam na escolha do melhor procedimento a ser adotado na esterilização e desinfecção dos artigos hospitalares. Os artigos são classificados, segundo Rodrigues et al., (2009), de acordo com os riscos potenciais de transmissão de infecção para os pacientes e para definição dos processos a que serão submetidos após seu uso: a) Artigos críticos: são utilizados em proce- dimentos invasivos com penetração em pele e mucosas, tecidos e sistema vascular, incluindo, também, todos os artigos ou produtos a eles conectados. Esses artigos, após limpeza, devem ser submetidos à es- terilização. Ex.: tecido para procedimen- tos cirúrgicos, aparelhos endoscópicos e artroscópicos, tubos, látex, acrílico, entre outros artigos. Esterilização, Limpeza e Desinfecção 134 Transmissão de Doenças, Medidas de Higiene e Contenção e a Bioética b) Artigos semicríticos: entram em contato com a pele não íntegra ou com mucosas íntegras. Esses artigos, após limpeza, devem ser submetidos à desinfecção de alto nível ou esterilização. Ex.: inaladores, máscaras de nebulização, espéculos vaginais, entre outros artigos. c) Artigos não críticos: entram em conta- to com a pele íntegra e também aqueles que não entram em contato direto com o paciente. Esses artigos requerem limpeza após seu uso e, dependendo do que desti- na seu último uso, devem ser submetidos à desinfecção de baixo ou médio nível. Ex.: termômetros, comadres, bacias, cubas, en- tre outros artigos. Esterilização A esterilização é o processo pelo qual os micror- ganismos são destruídos a tal ponto que não se possa detectá-los no meio padrão de culturas em que previamente os agentes haviam prolife- rado. Um artigo é considerado estéril quando a probabilidade de sobrevivência dos microrganis- mos contaminantes é menor do que 1:1000.000 (GRAZIANO; SILVA; BIANCHI, 2000). Antes da esterilização, os materiais devem passar pela etapa de pré-limpeza, imergindo- -os em água potável morna, com detergente, mantendo a solução em contato com o material por, no mínimo, três minutos, ou conforme a orientação do fabricante. Após, deve-se friccio- nar a superfície externa de cada artigo com uma esponja e escova, até a eliminação da sujidade visível. Em seguida, enxaguar com água potá- vel sob pressão e enviar os artigos ao Centro de Materiais e Esterilização (CME) (OURIQUES; MACHADO, 2013). O CME é uma área de apoio técnico destinada ao processamento de artigos odonto-médico-hos- pitalares, incluindo, nesse processo, a limpeza, o preparo, a esterilização, a guarda e distribuição dos materiais as demais áreas hospitalares. Ainda, o CME é classificado em duas categorias, segundo o Ministério da Saúde (BRASIL, 2012): a) CME Classe I: é aquele que realiza o proces- samento de produtos para a saúde não críti- cos, semicríticos e críticos de conformação não complexa, passíveis de processamento. b) CME Classe II: é aquele que realiza o processamento de produtos para a saú- de não críticos, semicríticos e críticos de conformação complexa e não complexa, passíveis de processamento. 135UNIDADE 4 A esterilização tem como base o binômio tempo versus tempera- tura, podendo apresentar diferentes valores, conforme indicado na Tabela 1. Tabela 1 - Temperaturas e tempos de exposição utilizados na esterilização Temperatura (°C) Tempo (min) 121 - 123 15 - 30 132 -135 10 - 25 Fonte: Brasil (2001). A escolha do método de esterilização dependerá do artigo a ser esterilizado, compreendendo os métodos físicos, químicos e físi- co-químicos (BRASIL, 2001). A Figura 1 apresenta os métodos de esterilizaçãoexistentes. Vapor a baixa temperatura com formaldeído Plasma de peróxido de hidrogênio Esterilização Métodos Físicos Métodos Químicos Métodos Físico-químicos Agentes esterelizantes líquidos e sólidosCalor Radiação Esterilização Figura 1 - Métodos físicos, químicos e físico-químicos utilizados na esterilização de artigos hospitalares Fonte: os autores. Métodos físicos Os métodos físicos são aqueles que utilizam o calor em diferentes formas e alguns tipos de radiações para esterilizar os artigos. Calor Neste procedimento, o mecanismo de esterilização ocorre a partir da coagulação das proteínas (BRASIL, 2001; VAN DOORNMALEN; KOPINGA, 2008). 136 Transmissão de Doenças, Medidas de Higiene e Contenção e a Bioética Nos CME, a autoclave é o principal equipamento utilizado aplicando vapor saturado sob pressão. No Quadro 4, estão descritas algumas das formas de calor que podem ser utilizadas na esterilização. Quadro 4 - Diferentes formas de calor utilizadas no processo de esterilização dos artigos e demais instrumentos Calor Características Vapor saturado sob pressão A temperatura obtida equivale ao ponto de ebulição da água, sendo produzido a partir da combinação da energia que aquece a água com níveis maiores que a pressão atmosférica, acelerando o aquecimento e alcançando temperaturas adequadas para a esterilização. Vapor saturado seco Contém somente água no estado gasoso, agregando tanta água quanto possível temperatura e pressão. Vapor saturado úmido É normalmente formado quando a água da caldeira é carregada pelo vapor satu- rado ao ser injetado na câmara da autoclave, resultando em um excesso de água que poderá comprometer a secagem da carga em processo. Vapor saturado superaquecido Formado a partir do vapor saturado, o qual é submetido a temperaturas mais elevadas. O vapor torna-se deficiente em umidade e, consequentemente, com maior dificuldade de penetração. Calor seco (estufas) O calor é irradiado das paredes laterais e da base do equipamento. Este processo requer longo tempo de exposição para que se atinjam altas temperaturas nos arti- gos e possa ocorrer a morte microbiana pelo processo de oxidação das células. Fonte: Brasil (2001). Vale destacar que, ainda se tratando da esterilização por calor, existem outros processos, como: a esteri- lização por gravidade, a esterilização por alto vácuo e a esterilização por vácuo pulsátil (BRASIL, 2001). Radiação A radiação atua modificando o DNA das células, provocando lesões estruturais, o que acarreta alte- rações funcionais graves por difusão dos radicais livres na célula microbiana. A radiação gama é a mais utilizada (BRASIL, 2001). Este tipo de esterilização é utilizada nos casos que requerem uma esterilização “a frio”, poden- do ser empregada em materiais sólidos e fluidos. Além disso, apresenta a vantagem de permitir que os produtos sejam esterilizados na própria emba- lagem final e a penetração da radiação assegura a esterilização de todo o volume (COUTO, 2012). 137UNIDADE 4 Métodos Químicos Os métodos químicos utilizados para esterilização podem ser líquidos ou gasosos e se caracterizam pelas interações entre compostos. Agentes Esterilizantes Líquidos Os agentes esterilizantes líquidos compreendem: • Glutaraldeído: apresenta ação contra to- dos os microrganismos, incluindo os espo- ros. Sua atuação ocorre a partir de reações químicas de alquilação, alterando o DNA, RNA e a síntese proteica dos microrganis- mos. A sua eficácia depende do tempo de exposição e condições do artigo, que deverá estar limpo e seco, facilitando a penetração do glutaraldeído (BRASIL, 2001). • Formaldeído: apresenta mecanismo de ação semelhante ao glutaraldeído. É pouco reativo a temperaturas menores que 20°C, apresenta baixo poder de penetração, dis- tribuição não uniforme e alta toxicidade, características estas que acabam restrin- gindo seu emprego nos processos de de- sinfecção e esterilização (BRASIL, 2001). • Ácido peracético: atua promovendo a desnaturação de proteínas e alterando a permeabilidade da parede celular dos mi- crorganismos. Possui como vantagem a permanência da atividade bactericida na presença de matéria orgânica e não for- ma resíduos tóxicos, enquanto que a des- vantagem é a instabilidade e ser corrosivo (BRASIL, 2001). Agentes Esterilizantes Gasosos Os agentes esterilizantes gasosos são: • Óxido de etileno (EtO): é um gás inco- lor, altamente explosivo e reativo, comple- tamente solúvel em água e com grande eficácia na destruição de microrganismos formadores de esporos. O EtO penetra em papel, tecido e em alguns filmes plásticos, contudo, o fato de ser altamente tóxico e cancerígeno exige cuidados extras. A este- rilização com esse composto é executada na faixa de temperatura de 40°C a 60°C (COUTO, 2012). • Plasma de peróxido de hidrogênio: essa outra tecnologia de esterilização também opera à baixa temperatura (entre 45 °C a 55 °C). Assim como o óxido de etileno, esse método encontra grande aplicação em ins- trumentos e dispositivos médico hospita- lares. As suas propriedades oxidantes são capazes de destruir uma ampla gama de patógenos e apresenta como vantagem a rapidez no processo, já que a liberação do produto ocorre num intervalo de 30 mi- nutos a 1 hora (COUTO, 2012). 138 Transmissão de Doenças, Medidas de Higiene e Contenção e a Bioética Métodos Físico-químicos Os métodos físico-químicos consistem na asso- ciação de dois métodos que, de modo geral, são realizados à baixa temperatura. É aplicado em ma- teriais termo sensíveis ou sensíveis à umidade. Podem ser por vapor à baixa temperatura com formaldeído ou por plasma de peróxido de hi- drogênio (BRASIL, 2001): • Vapor à baixa temperatura com formal- deído: a esterilização ocorre por meio da combinação de vapor saturado com for- maldeído e temperatura. É tóxico, carcino- gênico; porém, comparando com o óxido de etileno, representa menor risco aos opera- dores (PADOVESE; DEL MONTE, 2003). • Plasma de peróxido de hidrogênio: sua ação baseia-se na degradação do próprio peróxido, que forma radicais livres respon- sáveis pela eliminação dos microrganis- mos. Não é tóxico devido a sua decom- posição que gera água e oxigênio, rápida esterilização, porém não é recomendado para todos os termossensíveis e exige em- balagem específica (BRASIL, 2001). Limpeza A limpeza consiste na remoção de sujidades orgâ- nicas e inorgânicas, redução da carga microbiana presente nos produtos para saúde, utilizando água, detergentes, produtos e acessórios de limpeza, por meio de ação mecânica (manual ou automati- zada), atuando em superfícies internas (lúmen) e externas, de forma a tornar o produto seguro para manuseio e preparado para desinfecção ou esterilização (BRASIL, 2012). Ainda, compreende uma importante etapa que deve sempre ser realizada antes dos procedi- mentos de desinfecção e esterilização dos artigos. Preferencialmente, a limpeza deve ser realizada por equipamentos que utilizem processos físicos, como lavadoras termo desinfetadoras, as quais promovem a limpeza e descontaminação simul- tâneas (BRASIL, 2001). Como já mencionado anteriormente, a limpe- za inadequada afeta a esterilização, pois a sujeira e a gordura atuam como fatores de proteção dos microrganismos, agindo como barreira e impe- dindo o contato dos esterilizantes químicos, físi- cos e físico-químicos (BRASIL, 2001). Os detergentes são os produtos destinados à limpeza de artigos e superfícies por meio da dimi- nuição da tensão superficial, sendo recomendável utilizar (BRASIL, 2001): • Detergentes enzimáticos: são detergentes que, em sua composição, apresentam ami- lases, proteases e lipases, que promovem simultaneamente a dispersão, solubilização e emulsificação, removendo substâncias orgânicas das superfícies dos artigos. São biodegradáveis, neutros, não oxidantes, com ação bacteriostática. • Detergentes não enzimáticos: detergente de baixa alcalinidade a base de tensoativo aniônico ou emassociação de tensoativos aniônicos e não iônicos. • Após a etapa da limpeza, é necessário que os artigos sejam secos, uma vez que a umidade pode interferir no processo de esterilização e desinfecção. Para tal etapa, pode-se utilizar: estufas, secadoras de ar quente ou frio, pano limpo e absorvente (BRASIL, 2001). Desinfecção A desinfecção consiste na eliminação de micror- ganismos na forma vegetativa, presentes nos arti- gos e objetos inanimados mediante a aplicação de agentes físicos ou químicos. Esse processo pode ser dividido em três níveis (RODRIGUES et al., 2009; BRASIL, 2012): • Desinfecção de alto nível: processo físico ou químico que destrói a maioria dos mi- crorganismos de artigos semicríticos, in- clusive micobactérias e fungos, exceto um número elevado de esporos bacterianos. • Desinfecção de nível intermediário: pro- cesso físico ou químico que destrói micror- ganismos patogênicos na forma vegetativa, micobactérias, a maioria dos vírus e dos fungos, de objetos inanimados e superfí- cies. • Desinfecção de baixo nível: elimina todas as bactérias na forma vegetativa e alguns fungos. Não tem ação contra esporos e ví- rus. Relembrando que, de acordo com esses níveis, os artigos críticos devem ser esterilizados, os semi- críticos devem passar pelo processo de desinfec- ção de alto nível ou esterilização e, por fim, os não críticos, por uma desinfecção de baixo ou médio nível (RODRIGUES et al., 2009). Assim como na esterilização, a desinfecção dos artigos pode ser feita por métodos físicos, químicos e físico-quí- micos (BRASIL, 2001). Métodos Físicos Os métodos físicos consistem na imersão dos ar- tigos em água a 100 °C por 30 min. 140 Transmissão de Doenças, Medidas de Higiene e Contenção e a Bioética Métodos Químicos Esse método faz uso de soluções desinfetantes que agem por contato e, desta forma, o artigo deve ser colocado em recipiente contendo solução suficiente para que fique totalmente imerso. Após a desin- fecção, os artigos devem ser enxaguados com água que atenda os padrões de potabilidade estabelecidos por normas específicas (BRASIL, 2001). O Quadro 5 indica os principais desinfetantes utilizados na desinfecção dos artigos hospitalares. Quadro 5 - Desinfetantes e características no processo de desinfecção dos artigos Classificação Desinfetante Características Exemplos Aldeídos Formaldeído Pode ser líquido ou gás; é comumente encontrado como formalina, apresen- ta ação bactericida potente, fungicida, agindo também contra vírus, bacilos da tuberculose e esporos bacterianos; cancerígeno. Desinfecção de artigos semicríticos Glutaraldeído Boa ação antimicrobiana dependendo da concentração de uso; ativo em pre- sença de matéria orgânica; não corrosi- vo; requer enxague abundante. Desinfecção de artigos semicríticos sensíveis ao calor. Álcoois Álcool isopro-pílico Tem ação seletiva para vírus; é mais tóxico que o álcool etílico; menor ação antimicrobiana que o álcool etílico. Desinfecção de artigos não críticos e semicrí- ticos e desinfecção de superfícies ambientais. Álcool etílico Rápida ação bactericida, eliminando também o bacilo da tuberculose, os fungos e os vírus, não agindo, porém, contra os esporos bacterianos. Desinfecção de artigos não críticos e semicrí- ticos e desinfecção de superfícies ambientais. Composto clorados Hipoclorito de sódio Boa ação antimicrobiana dependendo da concentração de uso; pode ser líqui- do ou pó; ação rápida; baixo custo. Desinfecção de utensí- lios em geral. Ácidos Ácido peracético Rápida atividade antimicrobiana; ativo em presença de matéria orgânica; não deixa resíduos no material; corrosivo. Desinfecção de artigos semicríticos. Fonte: adaptado de Brasil (2001) e Rui et al. (2011). Métodos Físico-químicos Os métodos físico-químicos atuam, como já descritos, na esterilização, utilizando, neste caso, os de- sinfetantes adequados para o processo. Neste contexto, caro(a) aluno(a), diante de tudo que aprendemos até o momento, uma ressalva fundamental se faz necessária, isto é, não existe um método com 100% de eficácia e todos apresentarão alguma limitação. O ambiente hospitalar oferece agentes infecciosos variados e muito resistentes. Os pacientes interna- dos têm um maior risco de adquirirem infecções devido à própria natureza hospitalar, pois estão expostos a microrganismos que, no seu dia a dia, não entrariam em contato (NOGUEIRA et al., 2009). Nesse cenário, desponta a biossegurança com o intuito de empregar precauções como for- ma de minimizar os riscos de contaminação cru- zada entre os pacientes, profissionais e visitantes. As ações estão relacionadas com a implemen- tação de políticas, no que diz respeito aos riscos biológicos, principalmente quanto aos acidentes com materiais biológicos e as medidas de con- tenção biológica por meio das precauções e iso- lamentos, priorizando e estabelecendo políticas que irão minimizar os riscos de transmissão de infecção entre os trabalhadores da saúde e os pa- cientes (SCHEIDT; ROSA; LIMA, 2006). Barreiras de Controle e Isolamento 142 Transmissão de Doenças, Medidas de Higiene e Contenção e a Bioética Como visto, o isolamento é uma das maneiras de prevenir a transmissão das doenças infecto- contagiosas, criando uma barreira física entre o paciente e o mundo externo. Além disso, o isola- mento oferece a assistência adequada ao paciente, aumenta a segurança e a confiança no trabalho e diminui a possibilidade de ocorrência de um surto entre as pessoas que assistem diretamente ao paciente, familiares e a comunidade (SCIH – HUM, 2014, on-line)1. Além do isolamento, barreiras de contenção também são eficazes na prevenção de tais doenças. As barreiras de contenção estão relacionadas às precauções padrão (PP), as quais consistem em atitudes que devem ser tomadas por todo trabalhador da saúde frente a qualquer paciente, com o objetivo de reduzir os riscos de trans- missão de agentes infecciosos, principalmen- te veiculados por sangue e fluidos corpóreos (líquor, líquido pleural, peritoneal, pericárdico, sinovial, amniótico, secreções e excreções res- piratórias, do trato digestivo e geniturinário) ou presentes em lesões de pele, mucosas, restos de tecidos ou de órgãos (SCIH – HUM, 2014, on-line)1. Os equipamentos de proteção indivi- dual (EPIs), equipamentos de proteção coletiva (EPCs), os procedimentos de higienização cor- reta das mãos e imunização dos trabalhadores constituem alguns exemplos das precauções padrões amplamente aplicadas na prevenção da transmissão de doenças infectocontagiosas (Quadro 6). Quadro 6 - Alguns EPIs comumente utilizados pelos profissionais da área da saúde na precaução padrão Barreiras de contenção Aplicação Luvas Sempre utilizar no contato com sangue e líquidos corporais, secreções e excre- ções, membranas mucosas, pele lesada, artigos ou superfícies sujas com material biológico. Avental Deve ser usado como barreira física, quando existir possibilidade de contaminar as roupas ou a pele do profissional da saúde com material biológico. Deve-se despre- zar o avental de proteção de contato imediatamente após uso, antes de sair do quarto. Máscara cirúrgica As máscaras devem cobrir a boca e o nariz, protegendo o trabalhador de saúde de infecções por inalação de gotículas transmitidas à curta distância e pela projeção de sangue ou outros fluidos corpóreos que possam atingir suas vias respiratórias. Óculos de proteção Sempre devem ser usados durante a realização de procedimentos no paciente ou manuseio de artigos ou materiais contaminados em que houver a possibilidade da ocorrência de respingos de material biológico sobre as mucosas do olho. Fonte: adaptado de SCIH – HUM, (2014, on-line)1; Silva et al. (2016, on-line)2. 143UNIDADE 4 Além das PP, existem também as precauções de contato, precauções respiratórias contra aerossóis e precauções respiratórias contra gotículas, conforme mostrado no Quadro 7 (SILVA et al., 2016, on-line)2.Quadro 7 - Precauções: definições e ações a serem adotadas Precauções Definições Ações De contato São medidas aplicadas para a prevenção da transmissão de agentes infecciosos por meio de contato direto ou indireto com o paciente ou ambiente. Uso de luvas. Avental de manga longa. Artigos e equipamentos devem ser ex- clusivos de cada paciente. Evitar ao máximo o transporte do pa- ciente. Aerossóis São medidas instituídas para prevenir a transmissão de agentes infecciosos por meio da disseminação de pequenas partículas que ficam suspensas no ar, podendo ser amplamente dispersas por correntes aéreas e inaladas pelos indiví- duos suscetíveis. Obrigatório o uso de máscaras com capacidade de filtrar partículas menores do que 3 µm. O transporte do paciente deve ser evitado, mas quando necessário usar máscara cirúrgica. Gotículas São medidas empregadas para prevenir a transmissão dos agentes infecciosos gerados durante a fala, espirro e tosse. Obrigatório uso de máscara comum, durante o período de transmissibilidade da doença, para todas as pessoas que entrarem no quarto. O transporte do paciente deve ser evitado, mas quando necessário usar máscara cirúrgica. Fonte: adaptado de Silva et al., (2016, on-line)2. Diante deste contexto, observa-se que é essencial oferecer todo cuidado necessário para o paciente “isolado”, mas sem esquecer de usar as precauções adequadas. Quando Devemos Realizar o Isolamento do Paciente? A instalação de isolamento fica sob a respon- sabilidade da equipe médica e de enfermagem da unidade, que deverão analisar a natureza da infecção e as condições do paciente. É de funda- mental importância que as medidas indicadas sejam observadas precocemente, e na suspeita de doença infecciosa, a equipe deve avaliar se a doença é passível de isolamento e tomar as me- didas necessárias para prevenir sua transmissão o mais breve possível. E, assim, de acordo com a avaliação, o isolamento poderá ser, ainda, domici- liar ou hospitalar (SCIH – HUM, 2014, on-line)1. 144 Transmissão de Doenças, Medidas de Higiene e Contenção e a Bioética Antes da tomada da decisão do isolamento do paciente infectado, algumas perguntas devem ser feitas, conforme indicado no Quadro 8. Quadro 8 - Parâmetros para a instalação do isolamento de pacientes Tomada da decisão Ação Existe a necessidade do isolamento? Sim, se o diagnóstico suspeito ou comprovado de doença infectocontagiosa por microrganismo multirresistente. Por quanto tempo deve durar o isolamento? O paciente deve permanecer no isolamento até que o perío- do de transmissibilidade do agente da infecção tenha sido concluído. Que barreiras técnicas devem ser utilizadas? As barreiras vão variar de acordo com o agente infeccioso, modo de transmissão e condições do paciente. Fonte: adaptado de SCIH – HUM, (2014, on-line)1. tar a data do início e do tempo previsto para o isolamento e assinar como responsável (SCIH – HUM, 2014, on-line)1. Além do isolamento no quarto privativo, tam- bém há o isolamento coorte, no qual, em uma enfermaria, ficam segregados um grupo de pa- cientes que foram acometidos de doença infec- ciosa causada pelo mesmo agente, durante um surto ou epidemia. É importante observar se o microrganismo, isolado de todos os pacientes, apresenta seguramente o mesmo perfil de sus- ceptibilidade aos antimicrobianos para evitar pro- pagação de resistência ou superinfecção. O tempo de isolamento varia de acordo com o período de transmissibilidade de cada doença (SCIH–HUM, 2014, on-line)1. O hospital deverá definir uma área específica para isolamento conforme critérios clínicos, restringindo ao máximo o número de acessos a essa área, com o objetivo de conseguir um maior controle da movimentação, evitando-se o tráfego indesejado e o cruzamento de pessoas. Deste modo, com a tomada da decisão do isola- mento, faz-se necessário a adoção de um quarto privativo localizado afastado do posto de enfer- magem, da sala de procedimentos, de locais onde se realizam preparo de medicações e de áreas de grande circulação de pessoas. O quarto, ainda, deve possuir: • Banheiro privativo. • Porta com visor. • Janelas teladas. • Cabideiros de parede no lado externo (cor- redor) e no interior do quarto. • Campainha com fácil acesso ao paciente. • Pia para lavagem das mãos e material para a higienização das mãos com preparações alcoólicas. Os quartos do isolamento devem sempre manter as portas fechadas e identificadas, afixando na parte externa uma folha de orientações especí- ficas para o tipo de isolamento definido, ano- 145UNIDADE 4 Doenças Infectocontagiosas que Exigem Isolamento dos Pacientes As principais doenças infectocontagiosas que exigem isolamento dos pacientes estão descritas no Quadro 9. Quadro 9 - Doenças infectocontagiosas e o tipo de precau- ção que deve ser adotada pelo profissional da saúde Doença Material infectante Precaução Caxumba Secreção respiratória Respiratória e Padrão Coqueluche Secreção respiratória Respiratória Difteria Secreção das lesões e respiratória Contato e Respiratória Herpes zoster Secreções das lesões e respiratória Aerossóis e Contato Meningite me- ningocócica Secreção respiratória Respiratória e Padrão Raiva Secreção respiratória Contato Rubéola Secreção respiratória Respiratória Sarampo Secreção respiratória Aerossóis Tuberculose pulmonar Aerossóis Aerossóis Varicela Secreções das lesões e respiratórias Aerossóis e contato Fonte: SCIH – HUM (2014, on-line)1; SILVA et al. (2016, on-line)2. Estado Emocional dos Pacientes Sob Isolamento O isolamento provoca um afastamento do pa- ciente em relação à continuidade da vida fora do seu quarto, o que acaba refletindo diretamente na sua saúde mental. As unidades de isolamento geram um nível de estresse muito grande tanto para os doentes como em seus acompanhan- tes, que ficam isolados juntamente com eles. O isolamento de crianças é ainda mais tortuoso, pois além de ficarem tristes e deprimidas, elas pedem para sair ou choram por querer brincar do lado de fora com as outras crianças que ca- minham livremente pela enfermaria (CARDIM et al., 2008). Desta maneira, é fundamental que o profis- sional da saúde esteja atento aos seguintes aspec- tos associados ao paciente (SCIH – HUM, 2014, on-line)1: • Permitir visitas e acompanhamento após orientação (mesmo de forma limitada). • Conversar com o paciente, explicando o porquê das medidas de isolamento e buscar esclarecer suas dúvidas, visando diminuir sua ansiedade e temores sem fundamento. • Incentivar uma boa interação entre o pa- ciente e a equipe multiprofissional. • Verificar se o alarme ou campainha do quarto está funcionando, para garantir a rápida comunicação do paciente com a equipe de enfermagem. • Quando necessário, solicitar assistência social e psicológica. 146 Transmissão de Doenças, Medidas de Higiene e Contenção e a Bioética Vale destacar que as temáticas apresentadas até o momento explicitam a integração das infor- mações apresentadas nas unidades anteriores, com ênfase nas medidas preventivas individuais e coletivas voltadas à higiene e proteção não só dos colaboradores, mas também da população presente nesses ambientes como um todo. Conforme expresso ao longo da unidade, foi possível compreender a dinâmica dos temas abor- dados, especialmente no que tange a transmissão de doenças, doenças infectocontagiosas e as bar- reiras de contenção e isolamento. Tais temáticas caminham em conformidade, uma vez que pos- síveis medidas de contenção deverão ser tomadas casos as medidas de higiene não sejam eficientes. Ainda, em face do conteúdo apresentado, tor- na-se possível estabelecer relações diretas acerca da higiene, das medidas preventivas individuais e coletivas apresentadas nas unidades anterio- res, com problemáticas voltadas à transmissão de doenças infectocontagiosas, que poderão resultar em medidas de contenção, como o isolamento. A esse passo, a integraçãodessas temáticas e a compreensão de todas elas de forma globalizada e multidisciplinar começa a tomar forma. As especificidades dos ambientes hospitalares se tornam claras quando diferentes profissionais irão atuar exercendo diferentes funções voltadas à manutenção da qualidade de vida e a busca pela reversão dos diferentes quadros de diferentes pa- cientes. Entretanto, a sinergia dessa prática laboral depende de medidas de higiene e esterilização adotadas por todos esses colaboradores, ressaltan- do a necessidade de compreensão acerca dessas práticas tão relevantes em termos de atendimento em saúde, uma vez que este terá sua efetividade comprometida caso as medidas básicas não sejam contempladas. Outro tema que deve ser salientado gira em torno das doenças infectocontagiosas, que tem ganhado grande relevância em termos de atendi- mento em saúde e saúde pública, especialmente devido às diferentes vias de transmissão que se agravam quando associadas a condições socioe- conômicas precárias comuns aos países em de- senvolvimento. Em 2017, foram registrados o maior número de casos de dengue, zika e febre amarela; tal fato indica um retrocesso em termos de saúde pública e uma possível sobrecarga no atendimento do sistema público. 147UNIDADE 4 Você sabia que a profissão da saúde sempre foi ex- tremamente importante para a sociedade? Imagi- no que devem estar passando muitas coisas agora em sua cabeça, certo? Pois é, devido ao valor e à responsabilidade que esta atividade tem para a vida humana trazendo o bem-estar, as reflexões na área da Filosofia aprofundaram a preocupa- ção com o ser humano e, por meio do estudo das ciências médicas, a Bioética surge com o propósito de nortear as condutas dos profissionais da saúde em prol dos indivíduos. Diante disso, você deve respeitar a autonomia do seu paciente de decidir ou buscar o que ele acredita ser melhor para si mesmo; contudo, como profissional habilitado para a função, nunca po- derá realizar qualquer tipo de procedimento que não esteja dentro de suas competências profissio- nais e, principalmente, que coloque a vida, saúde e integridade física de seu cliente em risco, mesmo que ele insista na realização do procedimento. Dessa forma, alguns dos entraves que surgem em decorrência da prática dos profissionais da saúde, como é seu caso, podem ser solucionados por meio da Bioética. Bioética e sua Aplicabilidade na Àrea de Saúde 148 Transmissão de Doenças, Medidas de Higiene e Contenção e a Bioética A bioética é simplesmente a ética da vida apli- cada à saúde e em todas as áreas que atuam no campo médico. Inclusive, na área da promoção da saúde, ela segue uma lista do que pode ou não pode ser feito, associando os riscos e consequên- cias que um procedimento poderá causar na vida dos pacientes submetidos às técnicas/ações que você realiza no exercício de sua profissão. Isto é, a bioética é um aparato de princípios que devem ser exercidos a fim de evitar prejuízos e danos à saúde e à vida dos seus clientes, pois nem sempre o que é praticado é eticamente aceito. Muitas vezes, seus clientes desejam realizar proce- dimentos que violam a dignidade da pessoa hu- mana e da própria bioética. Por outro lado, como profissional da saúde, você também está sujeito a realizar condutas que podem acarretar prejuízos para vida e saúde de seus clientes. Por meio dos princípios norteadores da bioé- tica, os quais são representados pela beneficência, autonomia, justiça e não maleficência, você terá todo aparato ético para respeitar a integridade de seus pacientes, realizando suas condutas profissio- nais dentro dos limites estabelecidos pela bioética, para que você não venha sofrer consequências ad- vindas da responsabilidade civil, que podem gerar seríssimos problemas ao seu futuro profissional. Portanto, você deve proporcionar um serviço/ atendimento de qualidade e segurança para seus pacientes, fornecendo todos os meios capazes de gerar bem-estar físico e mental a eles e, princi- palmente, você deve estar apto e autorizado para realizar apenas os procedimentos que estão den- tro do rol de suas competências. Ainda, a bioética, configura-se como recurso fundamental para que você obtenha as respostas do que pode ser realizado no ser humano, para que suas condutas, além de não ferirem o indi- víduo, não gerem responsabilidade civil a você. A bioética emerge de uma reflexão das intera- ções humanas entre sociedade, meios científicos e ambiente, possuindo três funções básicas, entre elas: Função Descritiva, Função Normativa e Fun- ção Protetora. A primeira função corresponde ao 149UNIDADE 4 meio pelo qual irá relatar conflitos e questões; a segunda função é o modo que indica condutas consideradas reprováveis ou aprováveis; e, por fim, a terceira função corresponde à maneira pela qual a bioética conduz seus objetivos, mediando con- flitos que surgem e submetendo a ela. Diante das funções da Bioética, podemos aden- trar em seu conceito e evolução. Você sabia que foi por meio da Segunda Guerra Mundial que a história reflete a exagerada liberdade das práticas no campo da ciência, mais especificamente na área da saúde, vida e a integridade física e psíquica do homem? Por meio dos avanços tecnológicos in- terventivos, conformados pela existência de uma relação de natureza médica, científica e interven- tivas nos seres humanos, surge a necessidade de compreensão de tais ditames das ciências (DU- RANT, 1995). Neste sentido, a ética toma papel de protago- nista, com principal função de percorrer cami- nhos em consenso com as conjecturas morais, para compreensão das intervenções praticadas nos seres humanos. Com intuito de inibir práticas que venham a violar o direito à vida e saúde do homem, valores éticos se exteriorizam, no orde- namento jurídico brasileiro. Nesse cenário, surge a Bioética, sendo apresentada como uma resposta às demandas sociais, marcadas pelo surgimento dos processos científicos, que apresentam, a cada novo passo, possibilidades de manipulações no homem. 150 Transmissão de Doenças, Medidas de Higiene e Contenção e a Bioética A Bioética é a área do conhecimento responsável por atestar os delineamentos éticos em torno dos procedimentos biológicos e médicos, incluindo os procedimentos estéticos, que se associam com a vida. As primeiras manifestações do termo Bioética possuem feições bastante recente, decorre do iní- cio dos anos 70, sendo concebida como uma nova maneira de se vislumbrar e enfrentar o mundo e a vida a partir da ética. Especificamente, o termo Bioética é usado pela primeira vez pelo oncolo- gista norte-americano Van Rensselaer Potter, no seu livro Bioethics: Bridge to the Future. A bioé- tica, segundo Potter (1971, p. 2), “é a ponte entre a ciência e as humanidades”. O autor tinha como objetivo salientar os dois pontos mais importantes para se conquistar uma nova sabedoria, que com- preendia em alcançar o conhecimento biológico e os valores humanos (POTTER, 1971). Entretanto, em meados de 1988, Van Rens- selaer Potter apresenta outra definição para o termo bioética, no qual diz que é “a combinação da biologia com os conhecimentos humanísticos diversos constituindo uma ciência que estabelece um sistema de prioridades médicas e ambientais para a sobrevivência aceitável” (POTTER, 1988, p. 186), desenvolvendo uma Bioética com foco nas preocupações ecológicas, para prevenção da destruição dos elementos da biosfera, elemento essencial para vida humana. Segundo o autor, a bioética é vista como a ciência da sobrevivência, com objetivo de compatibilização dos valores éti- cos e os aspectos biológicos (SGRECCIA, 2002). Por sua vez, o holandês obstetra André Helle- gers, na Universidade de Georgetown, em Washin- gton, alinhou o estudo da Bioética como uma área da ética empregada às demandas da biomedicina, que se relacionam com aspectos científicos que envolvam os seres humanos, temas relacionados com a vida humana(FERRER; ÁLVAREZ, 2005). Deste modo, a gênese da palavra bioética (do grego bios: vida), que traduz a origem biológica, mais especificamente a ciência da vida, ao pas- so que ética (do grego ethos: ética) exprime os valores humanos. Portanto, a bioética pode ser definida como a ciência da vida ou ética da vida, que regula as condutas humanas na esfera da vida e saúde com base nos valores e princípios morais (LUCAS LUCAS, 2002). Ainda na década de 70, outro teórico, mais conhecido como Warren Reich (1978, p. 116), esclareceu que bioética é “ “ o estudo sistemático da conduta humana na área das ciências da vida e da atenção à saúde, enquanto que esta conduta é exami- nada à luz dos princípios e valores morais. Segundo o autor, a base de atuação primordial da bioética é a pesquisa e atenção na área da saúde. Nesse aspecto, o esteticista M. Vidal evidencia a concepção apresentada por Reich, apresentando a bioética de modo formal como: “ “ una rama o subdisciplina del saber ético, del que recibeel estatuto epistemológico bá- sico y com el que mantiene uma relación de dependencia justificadora y orientadora. Los contenidosmaterialesleson proporcio- nados a la bioética por la realidaddel ‘cuida- 151UNIDADE 4 do de la salud’ y por losdatos de las ‘ciencias de la vida’ como labiología, la medicina, la antropología, la sociología (VIDAL, 1991, p. 303). Portanto, a bioética se estabelece por uma intensa interdisciplinaridade com referência à ciência que trata sobre a vida e saúde. Pouco tempo depois, David J. Roy (1979, p. 59-75), diretor do Centro de Bioética da Universidade de Montreal, anunciou que bioética é “o estudo interdisciplinar do conjunto das condições exigidas para uma administração responsável da vida humana, ou da pessoa humana, tendo em vista os progressos rápidos e complexos do saber e das tecnologias biomédicas”. O pesquisador é um dos autores pioneiros em inserir o avanço das pesquisas tecnológicas em prol da saúde, como propulsor da reflexão ética. Nesse sentido, Pessini e Barchifontaine (2014, p. 205) dispõem que: Maria Helena Diniz (2010, p. 11) conceitua bioética como “uma vigorosa resposta aos riscos inerentes à prática tecnocientífica e biotecnocientífica”. Por outro lado, Francisco Lima Neto (1997, p. 46) entende que a bioética é o “ramo do saber ético que se ocupa da discussão e conservação de valores morais de respeito à pessoa humana no campo das ciências da vida. “ A bioética estuda os avanços recentes da ciência em função, sobretudo, da pessoa humana. A refe- rência central é o ser humano, especialmente considerado em dois momentos básicos: o nascimento e a morte.” É sobre estas duas fases da vida que hoje a ciência está fazendo seus melhores progressos e, obviamente colocando problemas éticos inimagináveis antes destas descobertas. 152 Transmissão de Doenças, Medidas de Higiene e Contenção e a Bioética Em sentido amplo, a Bioética corresponde ao resultado da ética aos novos contextos da ciência no âmbito da saúde, dedicando-se aos problemas éticos ocasionados pelas tecnologias biomédicas e atinentes à vida e saúde humana. Com essas reflexões, em 1978, o Congresso Americano instituiu uma comissão, denomina- da National Commission for the Protection of Human Subjects of Biomedicaland Behanvioral Resarch (Comissão Nacional para a proteção dos seres humanos em pesquisas biomédicas e com- portamentais) responsável por criar o relatório Belmont, que trouxe em seu bojo, três princípios que possuem como escopo de iluminar a nova caminhada da humanidade (GAMA, 2003). Estes são chamados “trindade bioética”, co- nhecidos como princípio da beneficência, da au- tonomia e da justiça. Entretanto, em meados de 1979, com base na ética katiana, o princípio da não maleficência foi acrescentado ao rol de princípios bioéticos. Ape- sar de não serem os únicos que guiam a bioéti- ca, são os mais importantes, pois são os grandes responsáveis por guiar todas as demais normas jurídicas que tratam do tema (GAMA, 2003). O princípio da beneficência possui suas raízes na instrução da ética de fazer o bem sem esperar por algo em troca, o qual “[...] deita suas raízes no reconhecimento do valor moral do outro, consi- derando-se que maximizar o bem do outro, supõe diminuir o mal” (BARRETO, 1998, p. 31). Dessa forma, requer o entendimento dos envolvidos nas técnicas da saúde e o interesse das pessoas envol- vidas nos “tratamentos”, para que o respeito seja considerado e não ocorra danos ao indivíduo. Pirâmide Principiológica da Bioética 153UNIDADE 4 O princípio da beneficência deve ser mentor prin- cipal das regras que tentam regulamentar a bioé- tica, a autora Daury Fabriz (2003, p. 108) dispõe: “ “ O princípio da beneficência deve servir como horizonte para uma normatização ju- rídica, a fim de que possa ser compreendido em situações específicas, preceituando e as- segurando os direitos e deveres que dizem respeito à comunidade científica, aos sujei- tos da pesquisa, aos médicos e pacientes, bem como ao Estado. O princípio da autonomia corresponde ao direito de escolha que cada indivíduo possui, ou seja, cada pessoa tem o direito de se autodeterminar. Dessa forma, os profissionais da saúde devem respeitar a vontade do “paciente” ou de seu representante. A autonomia traz a ideia de que as pessoas devem ser livres em decidirem o que irão realizar ou se submeter. O vocábulo autonomia deriva do grego Autos (próprio) e Nomos (norma/regra/lei), ou seja, é a autodeterminação, autogoverno que o ser humano possui sobre suas escolhas (MUÑOZ; FORTES, 1998). Na concepção de Dary Fabriz (2003, p. 109) a autonomia proporciona o exercício da própria autonomia, vejamos: “princípio da autonomia jus- tifica-se como princípio democrático, no qual a vontade e o consentimento livres do indivíduo devem constatar como fatores preponderantes, visto que tais elementos ligam-se diretamente ao princípio da dignidade da pessoa humana”. A autonomia se manifesta no consentimento livre e esclarecido, que advém do exercício de sua autonomia, para recusar ou consentir, com diag- nósticos, terapias ou procedimentos interventivos que venham afetar sua vida, saúde e integridade física (MUÑOZ; FORTES, 1998). Portanto, respeitar a autonomia inerente de cada ser humano é prezar pela opinião e escolhas, evitando, dessa forma, violações ao livre arbítrio de cada indivíduo, a não ser que suas escolhas venham causar prejuízos para si mesmo ou para outrem (BIZATTO, 2003). Por sua vez, o princípio da justiça, criado por Aristóteles, liga-se à ideia de justiça social distri- butiva, sendo o mais elevado princípio (FABRIZ, 2003). Tem como objetivo regular as condutas dos profissionais da área da saúde e os pacientes, com propósito de fornecer os mesmos serviços de saú- de a todos os indivíduos, sem concepção de raça, sexo e classe social. Com base nesse princípio, a exigência de proteção prevalece sobre as classes vulneráveis, para que não sejam alvo de pesquisas e ações médicas contra sua vontade. 154 Transmissão de Doenças, Medidas de Higiene e Contenção e a Bioética O princípio da não maleficência corresponde dizer que “não devemos infringir mal ou danos a outros, sendo apenas um ponto de partida muito rudimentar como orientação acerca das condi- ções nas quais as ações danosas são proibidas” (BEAUCHAMP; CHILDRESS, 2002, p. 45). Portanto, o princípio da não maleficência de- termina que os profissionais da saúde devem se responsabilizar em evitar danos previsíveis. Esse princípio se distingue do princípio da beneficên- cia, pois sua aplicação em prol de garantir sua proteção se estende a todos e não apenas aos pro- fissionais da saúde. Entendendo estes quatro princípios, pode- mos utilizá-los como estratégias para análise e compreensão de situações do cotidiano que os profissionais da saúde estão submetidos diaria- mente. Portanto, a relação entre os pacientes e os profissionais da saúde sedeve fundamentar na confiança e respeito, para que os primeiros pos- sam determinar suas escolhas e os profissionais possam compreender as escolhas do “paciente”. Sabemos que a vida consiste em um direito protegido em âmbito nacional e internacional. Em âmbito nacional, a vida é tutelada pela Cons- tituição Federal, por meio do art. 5°, vejamos: “Art. 5º: Todos são iguais perante a lei, sem dis- tinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos ter- mos seguintes (...)” (BRASIL, 1988). Isto é, define a vida como um direito que não pode sofrer li- mitações. Em âmbito internacional, porém, as normas que tutelam a vida consistem na Declaração Uni- versal dos Direitos do Homem (BRASIL, 1948) e o Pacto de São José da Costa Rica (BRASIL, 1992). A primeira norma revela que todo homem possui o direito à vida, e a segunda dispõe que a vida deve ser assegurada desde o momento da concepção (fecundação do óvulo com sêmen). Antônio Mesquita Galvão (2004) dispõe que, no campo da ciência genética, a vida possui sua gênese no momento da fecundação, que equivale ao momento do encontro do material genético masculino e feminino, por meio das seguintes etapas: célula-ovo, célula-fecundada, pré-embrião, feto e criança. Christian de Paul Barchifontaine (2010, p. 14), de forma didática, traz os cincos posicionamentos diferentes que tentam explicar o início da vida humana, vejamos: a) A visão genética, que disciplina que a vida se inicia a partir da fertilização do óvulo pelo espermatozóide; b) A visão neurológica, que dispõe que a vida se inicia apenas com a atividade cerebral viável; É diante desse cenário que a Bioética e a Res- ponsabilidade com a vida humana começa ga- nhar enfoque. O início da vida humana é um assunto complexo e presente na ciência dos profissionais da saúde. Os contextos científicos e biológicos têm se manifestado em determi- nar quando se inicia a vida humana, para que a área da saúde saiba quais são seus limites. 155UNIDADE 4 c) A visão metabólica, que assegura não existir um momento único para a vida ter início; d) A visão embriológica, que defende ser fundamental que a gestação alcance a 3a semana para que a individualização hu- mana seja alcançada, pois até 12 dias após a fecundação existe a possibilidade de di- visão de células que podem dar origem a mais um “bebê” e; e) A visão ecológica, que defende a capacida- de de sobrevivência extrauterina. Além das teorias apresentadas, existem outras que também possuem o escopo de definir o início da vida humana, como a teoria concepcionista, natalista, a teoria da nidação e a teoria do desen- volvimento do sistema nervoso central. Para a teoria concepcionista, a vida tem seu iní- cio no momento da fecundação, que compreende a junção do material genético masculino e femini- no. O material genético feminino corresponde ao zigoto que corresponde à primeira célula formada após a fecundação, que possui toda carga genética necessária para formar o novo ser (MARTINS, 2005). Renata Rocha (2008, p. 75) demonstra ainda que: “ “A teoria concepcionista, considerando a primeira etapa do desenvolvimento em- brionário humano, entende que o embrião possui um estatuto moral semelhante ao de um ser humano adulto, o que equivale a afirmar que a vida humana inicia-se, para os concepcionistas, com a fertilização do ovócito secundário pelo espermatozóide. A partir desse evento, o embrião já possui a condição plena de pessoa, compreendendo, essa condição, a complexidade de valores inerentes ao ente em desenvolvimento. A teoria natalista, por sua vez, dispõe que a vida tem início com o advento do nascimento com vida. No qual, o nascituro (criança que está sendo gerada) possui apenas expectativa de vida (PA- RISE, 2003). Por sua vez, a teoria da nidação define o início da vida no momento da junção do gameta femi- nino e masculino por meio da fecundação que acontece na trompa de falópio (cavidade que liga os ovários da mulher no útero) proporcionando a concepção, que será responsável por fixar o óvulo no útero materno, iniciando-se a vida (DOURA- DO, 2009 apud SILVA, 2010). 156 Transmissão de Doenças, Medidas de Higiene e Contenção e a Bioética A última teoria que tenta explicar o início da vida humana é a teoria do sistema nervoso central, que determina existir vida apenas no momento em que o cérebro humano estiver formado; para essa teoria, é necessário que existam ligações ner- vosas para que se tenha vida. Fernanda dos Santos Souza (2009 apud SILVA, 2010, p. 100) dispõe: “ Esta teoria sustenta como principal defen- sor o biólogo contemporâneo Jaques Mo- nod, prêmio Nobel de Biologia em 1965, o qual defende que, por ser o homem um ser fundamentalmente consciente, não é pos- sível admiti-lo como tal antes do quarto mês de gestação, quando se pode constatar, eletroencefalograficamente, a atividade do sistema nervoso central diretamente rela- cionado à possibilidade de possuir cons- ciência. Por meio das teorias apresentadas, surgem algu- mas situações em que a vida humana é colocada em risco, como exemplo as técnicas do mundo contemporâneo, como a medicina reprodutiva, transplante de órgãos, pesquisas com células- -tronco, eutanásia e aborto. Na área da medicina reprodutiva, os problemas que eles estão inseridos corresponde aos danos que os profissionais de saúde podem gerar ao embrião por meio das técnicas de reprodução humana assistida – são meios que possibilitam a gestação em pessoas inférteis/estéreis. Por meio da fertilização in vitro e da injeção de espermatozoides, novas vidas podem ser criadas. A primeira situação corresponde ao uso de um tubo de ensaio, para que o óvulo seja fecundado pelo espermatozoide fora do útero materno, que posteriormente será implantado na mulher, e a segunda situação corresponde ao processo que injeta os espermatozoides diretamente no óvulo que esteja no corpo da mulher (MORAES, 2019). As consequências que essas técnicas podem gerar são os problemas de saúde nas pessoas nas- cidas por meio dessas modalidades. Um estudo coordenado pela Universidade Norueguesa de- clarou que as técnicas de reprodução humana as- sistida são capazes de desencadear doenças como leucemia nos indivíduos nascidos por meio dessas técnicas (MORAES, 2019). O transplante de órgãos lida com valores fun- damentais da vida humana. A evolução da medi- cina trouxe mudanças significativas a ponto de solucionar problemas relacionados à vida e à mor- te. Contudo, os profissionais da saúde, precisam procurar respostas jurídicas e eticamente aceitas para essas evoluções do progresso científico. A norma legal que regulamenta o transplante de órgão é estabelecida por meio do Decreto n° 9.175/2017, que, entre suas maiores inovações, traz a necessidade de comprovação da morte en- cefálica que só poderá ser comprovada por meio de médico que seja “especificamente qualifi- cado”, não podendo ser médicos integrantes das equipes de transplante (BRASIL, 2017). Essa conduta de precaução quanto à capacida- de médica e sua restrição ao envolvimento com equipes de procedimentos de transplante mostra 157UNIDADE 4 a preocupação da lei em objetivar um procedimento seguro, que não terá interesses particulares envolvidos, para que seja bioeticamente respeitadas todas as fases do transplante de órgão e, consequentemente, os indivíduos envolvidos. O princípio da autodeterminação também é apresentado nas situações que en- volvam o transplante de órgãos, uma vez que a autonomia da vontade do doador deve ser respeitada; em caso que o doador esteja sem vida e não tenha expressado sua vontade, é a família que terá o direito de determinar em positivamente ou nega- tivamente a doação. Portanto, o médico deve ter certeza da vontade do “paciente” ou da “família”, pois caso seja feita a doação e o doador,na situação de estar vivo, venha falecer, serão responsabilizados o médico e sua equipe, tanto na esfera civil quanto penal. Contudo, é necessário que seja comprovado a ausência de consentimentos do doador (DALVI, 2008). Quanto às células-tronco embrionárias, os maiores problemas que surgem diante das pesquisas realizadas são o conflito existente entre o início da vida humana e a liberdade das pesquisas com esse tipo de material genético. A ética e, principalmente, a bioética devem permear os pesquisadores e, sobretudo, os profissionais de saúde que irão lidar com os problemas do cotidiano que envolvam os limites de manipu- lações genéticas. A Lei n° 11.105/2005 é responsável por disciplinar a pesquisa com células-tronco e por meio do art. 5° é disposto: Art. 5º É permitida, para fins de pesquisa e terapia, a utilização de células-tronco embrionárias obtidas de embriões humanos produzidos por fertilização in vitro e não utilizados no respectivo procedimento, atendidas as seguintes condições: I – sejam embriões inviáveis; ou II – sejam embriões congelados há 3 (três) anos ou mais, na data da publicação desta Lei, ou que, já congelados na data da publicação desta Lei, depois de completarem 3 (três) anos, contados a partir da data de congelamento. § 1º Em qualquer caso, é necessário o consentimento dos genitores. § 2º Instituições de pesquisa e serviços de saúde que realizem pesquisa ou terapia com células-tronco embrionárias humanas deverão submeter seus projetos à apreciação e aprovação dos respectivos comitês de ética em pesquisa. § 3º É vedada a comercialização do material biológico a que se refere este artigo e sua prática implica o crime tipificado no art. 15 da Lei nº 9.434, de 4 de fevereiro de 1997. 158 Transmissão de Doenças, Medidas de Higiene e Contenção e a Bioética Como analisado, é permitido, com algumas ob- servações, o uso e pesquisas com células-tronco. No entanto, Maria Helena Diniz (2005, p. 10) ar- gumenta que a utilização de células-embrionárias para o fim de pesquisas é conduta que “viola o direito à vida e o princípio do respeito à dignidade da pessoa humana, consagrados constitucional- mente”. Pois se o material genético da pesquisa advém de embriões, e eles são considerados vida, a violação se torna perceptível e a máxima da bioé- tica é vislumbrada, no qual não se deve praticar condutas que gerem danos ao ser humano. Por sua vez, em âmbito da eutanásia, ela é con- siderada como abreviação da vida de um paciente que se encontra em estado de dores e intoleráveis sofrimentos físicos ou psíquicos. O termo Eutaná- sia vem do grego eu + thanatos, boa morte, sendo utilizada pela primeira vez, em meados do século II d.C., para descrever a morte tranquila do Im- perador Augusto (BRANDÃO, 2007). Em âmbito nacional, a prática da eutanásia é proibida e enquadrada como crime de homicídio ou auxílio ao suicídio na situação que o paciente solicitar ajuda para findar com sua vida. O Código de Ética Médica dispõe sobre a ve- dação da prática da eutanásia, vejamos: Art. 41. Abreviar a vida do paciente, ainda que a pedido deste ou de seu representante legal. Parágrafo único. Nos casos de doença incurável e terminal, deve o médico ofere- cer todos os cuidados paliativos disponíveis sem empreender ações diagnósticas ou te- rapêuticas inúteis ou obstinadas, levando sempre em consideração a vontade expressa do paciente ou, na sua impossibilidade, a de seu representante legal (BRASIL, 1988). Não há dúvidas que o tema é complexo e que en- volve valores morais e éticos, desse modo, a prática da eutanásia por profissionais é conduta antiética e proibida expressamente no ordenamento jurí- dico brasileiro. Por fim, o aborto é outra prática que gera consequências aos profissionais da saúde que praticarem o ato. Julio Fabbrini Mirabete (1986) disciplina que o aborto consiste na interrupção da gravidez, com a destruição do produto da con- cepção. 159UNIDADE 4 A legislação penal que criminaliza as práticas de aborto está prevista no Código Penal, por meio do art. 124 ao art. 128. Os art. 125 e 126 dispõe sobre o terceiro pro- vocar o aborto na gestante, e é neste cenário que os profissionais da saúde ganham destaque. Art. 125 - Provocar aborto, sem o consenti- mento da gestante: Pena - reclusão, de três a dez anos. Art. 126 - Provocar aborto com o consentimento da gestante: Pena - reclusão, de um a quatro anos. Parágrafo único. Apli- ca-se a pena do artigo anterior, se a gestante não é maior de quatorze anos, ou é alienada ou débil mental, ou se o consentimento é obtido mediante fraude, grave ameaça ou violência (BRASIL, 1940). Além dessas hipóteses de crime com suas de- terminadas penas, o art. 127 traduz uma conse- quência ainda maior, que corresponde ao aborto praticado na forma qualificada: Art. 127 - As penas cominadas nos dois arti- gos anteriores são aumentadas de um terço, se, em consequência do aborto ou dos meios empregados para provocá-lo, a gestante so- fre lesão corporal de natureza grave; e são duplicadas, se, por qualquer dessas causas, lhe sobrevém a morte (BRASIL, 1940). No entanto, na hipótese de aborto necessário ou em caso de gravidez resultante de estupro, a mesma norma legal não criminaliza a conduta, vejamos: Art. 128 - Não se pune o aborto praticado por médico: I - se não há outro meio de salvar a vida da gestante; II - se a gravidez resulta de estupro e o abor- to é precedido de consentimento da gestante ou, quando incapaz, de seu representante legal (BRASIL, 1940). Portanto, além de ferir o direito à vida e os pró- prios princípios da bioética, a prática do aborto gera consequências criminais aos profissionais que praticam o crime. Assim, diante do contexto de inúmeras teorias que tentam definir o início da vida humana, é importante destacar que ela possui respaldo legal e moral para que seja respeitada, desde sua menor manifestação, seja em fase embrionária ou pessoa já nascida. Esse respeito pautado nos princípios da bioética será capaz de garantir a aplicação da dignidade da pessoa humana em qualquer situa- ção que o profissional da saúde estiver envolvido. Dessa forma, a dignidade humana é vista como princípio comum da Bioética e da Saúde, pois, ao defrontar-se com os temas da ética, a dignidade da pessoa humana é o princípio maior de todo sistema de proteção ao ser humano (PERELMAN, 1996). Suas raízes fundamentam-se nos cernes da filosofia, que afirma ser um atributo intrínseco e insígnia de cada ser humano, que potencializa a proteção do homem de não sofrer qualquer tipo de violação que venha lhe causar danos. Com a era do Iluminismo, a dignidade hu- mana ganhou brilho por ser defendida categori- camente por Immanuel Kant. O filósofo dispõe que o homem se constitui por ser racional, capaz de regular-se por meio de leis que a si mesmo im- põe. Essa imposição gera o dever e, por meio dele, nasce uma lei universal, que, por meio da ética e razão, o ser humano irá regular a si e a convivência com seu próximo, tratando o outro sempre como fim e nunca como meio (KANT, 2004). 160 Transmissão de Doenças, Medidas de Higiene e Contenção e a Bioética O princípio da dignidade da pessoa huma- na, mais do que exercer papel fundamental na aplicação de procedimentos de saúde e beleza, subsiste como alicerce da República Federativa Brasileira e fundamento do Estado Democrático de Direito. Portanto, “a legislação elaborada pela razão prática, a vigorar no mundo social, deve levar em conta, como sua finalidade suprema, a realização do valor intrínseco da dignidade da pessoa” (MORAES, 2003, p. 81). O Brasil, por meio do art.1°, III da Constitui- ção Federal, estabeleceu o Estado Democrático de Direito, fundamentado no princípio da Dignidade da Pessoa Humana e o elegeu como centro dos demais direitos fundamentais (SARLET, 2001). Zulmar Fachin leciona que “os direitos fun- damentais [...] são direitos que valem em todos os lugares, emtodos os tempos e são aplicáveis à todas as pessoas” (FACHIN, 2008, p. 212). Luiz Edson Fachin argumenta que a dignidade da pessoa humana pertence ao “ [...] princípio estruturante, constitutivo e in- dicativo das idéias diretivas básicas de toda ordem constitucional. Tal princípio ganha concretização por meio de outros princípio e regras constitucionais formando um siste- ma interno harmônico, e afasta de pronto, a ideia de predomínio do individualismo atomista do Direito. Aplica-se como leme a todos o ordenamento jurídico nacional compondo-lhe o sentido e fulminando de inconstitucionalidade todo preceito que com ele conflitar. É de um princípio emanci- patório que se trata (FACHIN, 2006, p. 180). A aplicação das tecnologias da saúde pode repre- sentar reais possibilidades de afronta à tutela do ser humano, caso se proceda de modo arbitrário. Assim, é necessário o amplo respeito ao princípio da dignidade da pessoa humana, essencialmente por parte dos profissionais da saúde, que lidam com vidas em todos seus atos profissionais. Conforme esse entendimento, Cleber Alves (2001, p. 118) argumenta: “ A questão da proteção e defesa da dignidade da pessoa humana e dos direitos da perso- nalidade, no âmbito jurídico, alcança uma importância proeminente neste final de sé- culo, notadamente em virtude dos avanços tecnológicos e científicos experimentados pela humanidade, que potencializam de for- ma intensa riscos e danos a que podem estar sujeitos os indivíduos, na sua vida cotidiana. O campo de aplicação do mencionado princípio é o eixo condutor das práticas humanas, princi- palmente quando essas podem interferir na vida humana e na saúde. As tecnologias da saúde, como é o caso dos procedimentos estéticos, devem sub- missão ao princípio estruturante das condutas humanas. Por meio da 8ª Conferência Nacional de Saúde de 1986, foram estabelecidas normas condutoras para a Constituição Federal de 1988, dispondo do direito à saúde para todo cidadão. Segundo a referida conferência, por meio do seu item “3 ” Direito à saúde significa a garantia, pelo Estado, de condições dignas de vida e acesso universal e igua- litário às ações e serviços de promoção, proteção e 161UNIDADE 4 recuperação de saúde, em todos os seus níveis (...)” (BRASIL, 1986), é evidente que o direito à saúde não está atrelado apenas a doenças, mas também à plenitude do ser humano. O direito à saúde, assim como a dignidade da pessoa humana, constitui-se como direito funda- mental previsto na Constituição Federal de 1988. Qualquer pessoa, independentemente de sua cor, sexo e raça, possui o direito ao acesso aos serviços de saúde que o Estado e as tecnologias médicas podem ofertar. No âmbito da bioética, o princípio da digni- dade da pessoa humana e o direito ao acesso dos meios de saúde constituem-se como vetor legiti- mador do conteúdo de valores indispensáveis ao ser humano. A noção de dignidade da pessoa humana assevera os princípios cuja observância é indis- pensável no campo da saúde e das biotecnologias aplicadas à vida, que necessitam de limites por meio dos princípios da bioética, a fim de proteger o ser humano. Tendo em vista os novos questionamentos advindos pelos avanços da ciência que, profun- damente, supera o campo interno dos estados, a contemplar toda a humanidade, a dignidade da pessoa humana deve ser compreendida como o “núcleo moral, político e jurídico do estado de- mocrático de direito”(BARRETO, 2001, p. 222). A ideia de dignidade da pessoa humana possui conteúdo tão amplo que permite englobar todas as ações em prol do ser humano, principalmen- 162 Transmissão de Doenças, Medidas de Higiene e Contenção e a Bioética te aquelas que lidam diretamente com a vida e saúde humana, exigindo a proibição de práticas que violem o corpo humano, como o exemplo de aplicação de substâncias não permitidas ao esteticista, a exemplo do silicone. Pois, “as coisas têm preço; as pessoas, dignidade. O valor moral se encontra infinitamente acima do valor de merca- doria, porque, [...] não admite ser substituído pelo equivalente” (MORAES, 2003, p. 81). A dignidade é um valor, uma fonte, aos profis- sionais da saúde que, em conjunto com bioética, é capaz de proteger os pacientes submetidos aos procedimentos de saúde e nortear os profissionais que atuam nesse segmento. Isso porque é respon- sabilidade de todos os profissionais que atuam no segmento da saúde, garantir o direito do paciente de ter acesso às técnicas que geram proteção à saúde de qualidade por um preço justo. E isso só, possível se todos os envolvidos estiverem respal- dados pela ética e moral, encontradas na bioética. O Sistema jurídico brasileiro passa por cons- tantes modificações. As mudanças ocorridas no contexto científico, devem acompanhar todas es- sas modificações que envolvem a vida e saúde dos indivíduos envolvidos em algum procedimento advindo dessas áreas, sendo imprescindível o uso da dignidade humana como fator limitador das intervenções nos seres humanos e os próprios princípios da bioética que norteiam as condutas em prol da vida humana. Aqui, vimos os problemas atuais a que a bioé- tica é submetida, como exemplo de manipulações genéticas e da eutanásia. Portanto, após essa imersão de conhecimento, você está apto a solucionar as problemáticas ad- vindas do exercício de sua profissão no campo da saúde. Imagine comigo, você, como profissional habilitado com todos seus conhecimentos em dia e com vasta habilidade profissional, está diante de um paciente/cliente que possui uma depressão profunda, advinda de um histórico familiar. No entanto, você percebe que não detém habilida- de técnica para sanar com a problemática de seu paciente. Neste sentido, qual será a melhor atitude a ser tomada por você, diante de tal situação? Sabe- mos que os princípios da bioética são capazes de lhe ajudar para encontrar a solução para essa problemática. O que pode ser feito? Qual será sua fundamentação para sua decisão? Em caso de atendimento ao paciente/cliente, você estará exercendo de forma literal todo conhecimento adquirido nesta unidade? Já que você não pode oferecer o tratamento para depressão profunda, qual sugestão você da- ria ao seu paciente/cliente? E, em caso de atendi- mento, mesmo sem habilidade técnica, quais as consequências dessa conduta? Com base nos princípios da bioética, na sua atitude de tentar contribuir para cura dessa pes- soa, você não está agindo de acordo com esses princípios, pois, a partir do momento em que você não possui habilidade técnica para tanto, automa- ticamente, o princípio da não maleficência não está sendo aplicado no caso relatado, pois ele tem como objetivo não ocasionar prejuízos ou danos aos seres humanos. 163 Você pode utilizar seu diário de bordo para a resolução. 1. As ações preventivas são intervenções que visam evitar o aparecimento de doenças específicas, reduzindo a sua incidência e prevalência. Seu objetivo é controlar a transmissão de doenças e a redução do risco das doenças, e os projetos de prevenção e educação em saúde estão voltados para a divulgação das informações científicas e de recomendações normativas que envolvem mu- danças de hábitos. Em relação as três etapas de prevenção, leia as assertivas e assinale a alternativa correta. I) A prevenção terciária é a fase que interrompe a doença antes que ela se torne sintomática. É composta de dois níveis: o primeiro, diagnóstico e tratamento precoce, enquanto que o segundo, limitação da invalidez. II) A prevenção primária corresponde à etapa de prevenção que poderá evitar que o processo de doença se estabeleça pela eliminação de suas causas ou aumentando a resistência do organismo a elas. III) A prevenção secundária ocorre com as ações de reabilitação do indivíduo. Ex.: fisioterapia e intervenção cirúrgica. Assinale a alternativa correta: a) Apenas I está correta. b) Apenas II está correta. c) Apenas III está correta. d) ApenasI e II estão corretas. e) Nenhuma das alternativas está correta. 164 2. A vida se manifesta por meio da saúde e da doença, que são formas únicas, experiências subjetivas e que não podem ser manifestadas integralmente por meio de palavras. Portanto, a compreensão e discussão desses termos se fa- zem fundamentais. Nesse sentido, avalie as assertivas apresentadas e assinale a alternativa correta. I) As doenças transmissíveis constituem importante causa de morte e ainda afligem milhões de pessoas em numerosas regiões, especialmente nos países em desenvolvimento. II) Fatores de difícil classificação, como o estresse, não podem causar problemas à saúde dos seres vivos. III) Doença pode ser definida como qualquer perturbação ou anormalidade ob- servada no funcionamento orgânico do indivíduo ou do seu comportamento. IV) Dentre os fatores que podem causar doenças nos seres humanos encon- tram-se os biológicos, físicos e químicos. Assinale a alternativa correta: a) Apenas I e II estão corretas. b) Apenas II e III estão corretas. c) Apenas I está correta. d) Apenas I, III e IV estão corretas. e) Nenhuma das alternativas está correta. 3. O isolamento de um paciente fica sob responsabilidade da equipe médica e de enfermagem da unidade em questão, que deverão analisar a natureza da infec- ção e as condições do paciente, estabelecendo, assim, se o isolamento deverá ser domiciliar ou hospitalar. Em relação ao isolamento hospitalar, assinale a alternativa que contém apenas seus requisitos. a) Ambiente aberto e compartilhado com outros pacientes e pias para higieni- zação. b) Janelas teladas, banheiro comunitário e pias para a higienização. c) Ambiente aberto e com ampla circulação, portas sem isolamento e banheiros comunitários. d) Banheiro privativo, ambiente aberto e com ampla circulação de terceiros. e) Pias para higienização, janelas teladas e banheiro privativo. 165 4. Assim como na esterilização, a desinfecção dos artigos comuns aos ambientes hospitalares pode ser feita por métodos físicos, químicos e físico-químicos. O uso de diferentes técnicas de esterilização faz com que existam contratempos com infecções e transmissão de doenças devido à falta de higiene. Nesse senti- do, associe as colunas contendo os diferentes desinfetantes químicos com sua correta classificação e assinale a alternativa correta. A) Rápida ação bactericida, eliminando também o bacilo da tuberculose, os fungos e os vírus, não agindo, porém, contra os esporos bacterianos. B) Pode ser líquido ou gás; é comumente encontrado como formalina, apresenta ação bactericida potente, fungicida, agindo também contra vírus, bacilos da tuberculose e esporos bacterianos; cancerígeno. C) Boa ação antimicrobiana dependendo da concentração de uso; pode ser líquido ou pó; ação rápida; baixo custo. I) Formaldeído. II) Álcool Etílico. III) Hipoclorito de Sódio. Está correta apenas: a) B - I, A - III e C - II. b) B - III, C - I e A - II. c) C - I, B - II e A - III. d) B - I, A - II e C - III. e) A - I, B - II e C - III. 5. A limpeza consiste na remoção de sujidades orgânicas e inorgânicas, redução da carga microbiana presente nos produtos para saúde, utilizando água, detergen- tes, produtos e acessórios de limpeza, por meio de ação mecânica (manual ou automatizada), atuando em superfícies internas (lúmen) e externas, de forma a tornar o produto seguro para manuseio e preparado para desinfecção ou este- rilização. A limpeza ou higienização pode, ainda, ser realizada por detergentes enzimáticos e não enzimáticos, que são comumente encontrados em ambientes laboratoriais voltados aos serviços em saúde. Nesse sentido, diferencie deter- gentes enzimáticos e não enzimáticos. 166 Fisiopatologia da Doença: Uma Introdução à Medicina Clínica Autor: Gary D. Hammer, Stephen J. Mcphee Editora: Grupo A Educação Sinopse: totalmente colorida, a 7ª edição de Fisiopatologia da Doença é uma excelente introdução à medicina clínica, ao revisar as bases fisiopatológicas das doenças mais encontradas na prática médica. Os autores, todos especialistas em suas respectivas áreas, apresentam a estrutura e o funcionamento normal de cada sistema de órgãos, bem como os mecanismos que causam diversas doenças relacionadas. EsTa combinação única entre conceitos fisiológicos e patológicos permite a compreensão dos sinais e sintomas considerando sua origem, o que proporciona um aprendizado mais completo das doenças e seus tratamentos. LIVRO 167 ALVES, C. F. O princípio constitucional da dignidade da pessoa humana: o enfoque da doutrina social da igreja. Rio de Janeiro: Renovar, 2001. BACKES, M. T. S.; ROSA, L. M.; FERNANDES, G. C. M.; BECKER, S. G.; MEIRELLES, B. H. S.; SANTOS, S. M. A. Conceitos de saúde e doença ao longo da história sob o olhar epidemiológico e antropológico. Revista de Enfermagem UERJ, v. 17, n. 1, p. 111-117, 2009. BARCHIFONTAINE, C. de P. Bioética e início da vida. Dignidade da vida humana. São Paulo: LTr, 2010. BARRETO, V. P. As relações da bioética com o biodireito. 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Dr. Gustavo Affonso Pisano Mateus Dra. Michele Putti Paludo Manuseio, controle e descarte de produtos químicos e seus resíduos Manuseio, controle e descarte de produtos biológicos Legislação em biossegurança Plano de gerenciamento de resíduos de serviços de saúde - PGRSS Gerenciamento e Descarte de Resíduos Laboratoriais Manuseio, Controle e Descarte de Produtos Químicos e seus Resíduos Olá, caro(a) aluno(a), por fim, chegamos a Uni- dade 5 deste material didático. Esta unidade tem por finalidade apresentar informações acerca do manejo e descarte dos resíduos laboratoriais e clínicos provenientes dos serviços e atendimen- tos em saúde. Conhecer o manejo adequados de produtos químicos e biológicos facilita o descarte dos resíduos gerados e que são específicos à área da saúde. Os resíduos dos diferentes serviços de saúde devem ser devidamente descartados seguindo um conjunto de normas específicas desenvolvidas com o intuito de evitar possíveis contaminações ao longo de seu descarte ou destinação final. A classificação dos resíduos gerados nos diferentes processos comuns a ambientes laboratoriais tam- bém se faz relevante, sobretudo quando inúmeros serviços são gerados em fluxo constante, gerando uma preocupação com a higiene laboratorial. Neste contexto, surgiram as normas estrutu- rantes do plano de gerenciamento de resíduos de serviços de saúde (PGRSS), responsáveis por um direcionamento específico e amplo acerca de toda e qualquer ação que venha a ser desenvolvida e 177UNIDADE 5 que contemplem os resíduos sólidos desse seg- mento. Portanto, a correta elaboração do PGRSS torna-se imprescindível em termos de biossegu- rança para realização de serviços em saúde. Ainda nesta unidade, serão apresentadas al- gumas legislações pertinentes em biossegurança, enfatizando a ação à comissão técnica nacional de biossegurança regulamentada pela Lei de Bios- segurança, considerada um marco nacional rela- cionado à regulamentação do uso de organismos geneticamente modificados. Por fim, esperamos que esta unidade possa contribuir, ainda que de forma não exaustiva, com noções básicas acerca das temáticas supracitadas que são de grande relevância no segmento de atendimento em saúde. A complexidade dos processos de gerencia- mento de resíduos químicos tem aumentado com o passar dos anos, devido ao aumento do conheci- mento sobre os efeitos deletérios desses compos- tos sobre o meio ambiente e sobre a saúde humana e, também, devido à introdução de legislação mais restritiva a respeito desse assunto (SCHNEIDER; GAMBA; ALBERTINI, 2011). O princípio básico do gerenciamento de resí- duos químicos em laboratórios não especializados no assunto se resume à adequação de resíduos para descarte no lixo sólido comum ou na rede de esgotos por procedimentos simples, como a neutralização de ácidos e bases ou a remoção de corantes de soluções por adsorção em resinas ou em carvão ativado, e coleta segregada de resíduos de maneira que possam ser encaminhados cada um para tratamento especializado específico (SCHNEIDER; GAMBA; ALBERTINI, 2011). Desse modo, a implementação de um progra- ma de gerenciamento de resíduos passa por uma tomada de consciência acerca da necessidade de adotar novos hábitos, no sentido de atender não só a legislação vigente, mas principalmente a uma nova mentalidade que se preocupe não apenas com a qualidade das análises, mas também com a gestão dos resíduos. Essa visão passa pela identificação, tratamento e encaminhamento destes, de forma a diminuir os possíveis impactos ao meio ambiente (MARINHO; BOZELLI; ESTEVES, 2011). A partir de agora, caro(a) aluno(a), vamos co- nhecer quais são os principais resíduos químicos e como devemos proceder em relação a sua esto- cagem, manuseio e descarte. Produtos Químicos e sua Classificação Os produtos químicos são definidos como subs- tâncias químicas, seja só, em mistura ou em pre- paração, fabricadas ou obtidas da natureza (PNU- MA, 2009). Não esqueça, caro(a) aluno(a), que na classificação de riscos, esses produtos estão agrupados nos riscos químicos, isto é, substâncias químicas na forma líquida, sólida ou gasosa, que podem ser absorvidas pelo organismo humano por meio das vias respiratórias, cutânea ou pela ingestão, produzindo reações tóxicas e danos à saúde. Assim, sob condições adequadas de manu- seio, os riscos oferecidos pelos produtos químicos podem ser controlados, minimizados, mas não desprezados ou ignorados. Desde 2011, a legislação brasileira exige que o produto químico utilizado no local de trabalho deva ser classificado quanto aos perigos para a segurança e a saúde dos trabalhadores, de acor- do com os critérios estabelecidos pelo Sistema Globalmente Harmonizado de Classificação e Rotulagem de Produtos Químicos (GHS), con- forme a Norma ABNT - NBR 14725 (ABNT, 2009; WALLAU; SANTOS, 2013). O GHS engloba todos os produtos químicos perigosos, não existindo isenções completas no âmbito do GHS para um tipo particular de subs- tância ou de produto químico. O Sistema con- 178 Gerenciamento e Descarte de Resíduos Laboratoriais grega o esforço de várias agências internacionais, coordenadas pela Organização das Nações Unidas (ONU), para harmonizar a classificação de produ- tos químicos perigosos e a comunicação de peri- gos para diferentes públicos alvo – organizações, trabalhadores e consumidores em geral. A classificação é uma estratégia fundamental para priorizar as atividades de gestão dos riscos relacionados a produtos químicos, permitindo identificar aqueles que têm o potencial de causar danos físicos à saúde humana e ao meio ambien- te. O GHS oferece a primeira base globalmente uniformizada para avaliação das propriedades das substâncias e dos riscos associados (ABIQUIM, 2005; SCHNEIDER; GAMBA; ALBERTINI, 2011). Dessa maneira, com base nos perigos ofereci- dos, os produtos químicos podem ser classificados em: perigos físicos, perigos à saúde e perigos ao meio ambiente. Vejamos, no Quadro 1, a descrição de cada um dos perigos mencionados. Quadro 1 – Classificação dos produtos químicos segundo o GHS Classificação Descrição Perigos físicos Explosivos Gases inflamáveis Aerossóis inflamáveis Gases oxidantes Gases sob pressão Líquidos inflamáveis Sólidos inflamáveis Substâncias autorreativas Líquidos pirofóricos Sólidos pirofóricos Substâncias autoaquecíveis Substâncias que, em contato com a água, liberam gases inflamáveis Líquidos oxidantes Sólidos oxidantes Peróxidos orgânicos Corrosivo aos metais Perigos à saúde Toxicidade aguda Corrosão e irritação da pele Danos e irritação séria nos olhos Sensibilização respiratória ou dérmica Mutagenicidade em células germinativas Carcinogenicidade Toxicidade à reprodução Toxicidade sistêmica em órgão alvo – exposição única e múltipla Perigoso por aspiração Perigos ao meio ambiente Perigoso para o ambiente aquático (toxicidade crônica e aguda) Fonte: Abiquim (2005). 179UNIDADE 5 Estocagem dos Produtos Químicos Os potenciais perigos que os produtos químicos podem oferecer estão, muitas vezes, associados a medidas inadequadas de estocagem e manuseio nos laboratórios. Esses perigos sempre existirão, mas podem ser amenizados ou eliminados a partir do conhecimento das propriedades dos materiais (COSTALONGA; FINAZZI; GONÇALVES,2010). Um fator fundamental que devemos observar na estocagem dos produtos químicos é a existên- cia de incompatibilidade entre algumas substân- cias que podem, assim, oferecer riscos de explo- são, incêndio, liberação de gases tóxicos e outros danos. O ideal é sempre identificar os produtos, a fim de que seja possível um gerenciamento se- guro dos riscos às pessoas, ao meio ambiente e ao patrimônio da empresa ou laboratório (CRQ, [2018], on-line)1. O Quadro 2 apresenta alguns exemplos de substâncias incompatíveis e que, por- tanto, devem permanecer afastadas e separadas umas das outras. Quadro 2 – Substâncias incompatíveis no armazenamento Substância Incompatibilidade Acetona Ácido nítrico e sulfúrico concentrados Amônia Mercúrio, fluoreto de hidrogênio, hipoclorito de cálcio, bromo e cloro Líquidos inflamáveis Nitrato de amônio, ácido crômico, peróxido de sódio, ácido nítrico e os halogênios Iodo Acetileno, amônia e hidrogênio Mercúrio Acetileno e amônia Ácido fluorídrico Amônia (aquosa ou anidra) Ácido perclórico Anidrido acético, bismuto e suas ligas, álcoois, papel, madeira e outros mate-riais orgânicos Peróxido de sódio Álcool etílico ou metílico, ácido acético glacial, dissulfeto de carbono, glicerina, etilenoglicol e acetato de etila Fonte: Fonseca (2009); Costalonga, Finazzi e Gonçalves (2010). Dessa forma, devemos ter o máximo cuidado ao armazenarmos os reagentes no laboratório, prevenindo a ocorrência de reações dos produtos entre si, as quais podem oferecer perigo. Sendo esses produtos incompatíveis no armazenamento, você saberia como guardar esses materiais de forma segura? A seguir, estão descritas algumas medidas que podem auxiliá-lo(a) nessa tarefa (CRQ, [2018], on-line)1. • O estoque por compatibilidade. • Separação dos reagentes ácidos e básicos em armários diferentes. • Os reagentes sólidos devem ser separados dos líquidos, a fim de evitar um meio adequado para reações, no caso de quebra dos frascos. • Os reagentes voláteis, em especial solventes, devem ser guardados em armários com ventilação e a prova de explosão. • Os reagentes incompatíveis com água devem ficar longe de tubulações. • Não é aconselhável armazenar os reagentes químicos em ordem alfabética. 180 Gerenciamento e Descarte de Resíduos Laboratoriais Manuseio e Controle dos Produtos Químicos O manuseio seguro de produtos químicos de- pende de um conjunto de ações voltadas à pre- venção, minimização ou eliminação de perigos inerentes às atividades de pesquisa, produção, ensino, desenvolvimento tecnológico e presta- ção de serviços, visando à saúde do homem, dos animais e à preservação do meio ambiente. Pro- dutos químicos potencialmente perigosos podem ser encontrados por toda parte, não somente no ambiente de trabalho, mas também no domicílio das pessoas e em locais frequentemente visitados, como o comércio, oficinas, entre outros. Portanto, é indispensável todo o cuidado quando manu- seamos esses materiais (SCHNEIDER; GAMBA; ALBERTINI, 2011). Além disso, é fundamental o uso de equipamentos de proteção individual (EPI), como luvas, máscaras e óculos de proteção. Descarte dos Produtos Químicos e seus Resíduos Os produtos químicos e seus resíduos, prove- nientes de laboratórios de pesquisa e extensão, são considerados resíduos químicos e, portanto, é de extrema importância que estes apresen- tem um adequado descarte. De acordo com a Resolução CONAMA nº 358, resíduo químico é todo material ou substância com caracterís- tica de periculosidade, que quando não forem submetidos a processo de reutilização ou reci- clagem, podem apresentar risco à saúde pública ou ao meio ambiente, dependendo de suas ca- racterísticas de inflamabilidade, corrosividade, reatividade e toxicidade. Dessa forma, os resíduos gerados devem ser acondicionados, rotulados e encaminhados para a área de armazenamento externo de resíduos químicos para serem descartados corretamente. Os grupos de compostos que podem apresentar risco à saúde pública ou ao meio ambiente são os (BRASIL, 2005): • Produtos hormonais e produtos antimi- crobianos. • Resíduos de saneantes, desinfetantes, resí- duos contendo metais pesados. • Reagentes para laboratório, inclusive os recipientes contaminados por estes. • Efluentes de processadores de imagem (re- veladores e fixadores). • Efluentes dos equipamentos automatiza- dos utilizados em análises clínicas. • Demais produtos considerados perigosos, conforme classificação da NBR 10004 (tó- xicos, corrosivos, inflamáveis e reativos) (ABNT, 2004). 181UNIDADE 5 A periculosidade dos produtos químicos é avaliada pelo risco que esses compostos representam à saúde ou ao meio ambiente, levando em consideração as concentrações de uso. De modo geral, nos rótulos dos produtos químicos existem símbolos impressos que dão ideia da periculosidade do produto. Informações sobre as características de cada produto podem ser encontradas nas Fichas de Informações de Segurança de Produtos Químicos (FISPQ) no site dos fabricantes (CARTILHA FMUSP-HC, 2017, on-line)2. Os resíduos dos produtos químicos perigosos podem ser separados em duas categorias, isto é, os orgânicos e os inorgânicos. Resíduos Químicos Orgânicos Em ambientes laboratoriais ou de serviços de saú- de, o manuseio de produtos químicos de origem orgânica é frequente, sobretudo no preparo de soluções e reagentes que possam ser necessários na rotina laboral desse tipo de ambiente. A utili- zação desses reagentes ou a confecção de novas soluções podem resultar em composto indesejá- veis que devem ser acondicionados e descartados corretamente. Os resíduos químicos orgânicos compreendem (FONSECA, 2009): • Solventes orgânicos não halogenados. • Solventes orgânicos com mais que 5% de água. • Solventes orgânicos com menos que 5% de água. • Soluções de material orgânico biodegra- dável. • Soluções aquosas contendo substâncias orgânicas. • Soluções de corantes. • Soluções de substâncias carcinogênicas, mutagênicas, teratogênicas ou que apre- sente toxicidade conhecida. • Pesticidas (organoclorados, organofosfo- rados etc). Para acondicionar os resíduos orgânicos perigo- sos, e também os inorgânicos, são comuns práticas como (FONSECA, 2009): • Cada tipo de resíduo deve ser acondicio- nado em um frasco devidamente rotu- lado. • Usar frascos de vidro ou polietileno, des- de que não haja incompatibilidade com o resíduo a ser armazenado. • Não misturar substâncias ou produtos in- compatíveis no mesmo recipiente. • Não colocar produtos químicos corrosivos ou reativos em recipientes metálicos. • Utilizar frascos de reagentes, desde que o rótulo seja completamente retirado e o frasco seja lavado com água (deve se proce- der à lavagem tríplice com o menor volume de água possível, e a água de lavagem dos frascos deve ser considerada resíduo da substância contida nele). 182 Gerenciamento e Descarte de Resíduos Laboratoriais Em relação ao descarte desses resíduos, o Quadro 3 apresenta algumas medidas e cuidados importantes que devem ser adotados pelos responsáveis da geração dos resíduos. Quadro 3 – Medidas e cuidados adotados no descarte dos resíduos químicos orgânicos perigosos Resíduos químicos orgânicos Medidas adequadas para o descarte Resíduos orgânicos e suas soluções aquosas tóxicas Coletar em frascos devidamente rotulados e que destaque essas informações Resíduos orgânicos ácidos e suas soluções aquosas que não apresente toxicidade Diluir com água, neutralizar com ácidos diluídos e descartar na rede coletora de esgoto em água corrente Resíduos orgânicos básicos e suas soluções aquosas que não apresente toxicidade Diluir com água, neutralizar com ácidos diluídos e descartar na rede coletora de esgoto em água corrente Resíduos orgânicos neutros e suas soluções aquosas que não apresentem toxicidade Diluir com água e descartar na rede coletora de esgoto em água corrente Resíduos orgânicos sólidos insolúveis em água com risco de contaminação ao meio ambienteArmazenar em frascos etiquetados e para pos- terior recolhimento Resíduos orgânicos sólidos insolúveis em água sem risco de contaminação ao meio ambiente Filtrar e descartar em lixo comum Solventes halogenados puros ou em mistura Armazenar em frascos etiquetados para poste-rior incineração Solventes isentos de halogenados, puros ou em mistura tanto os com mais ou menos que 5% de água Coletar em frascos etiquetados, para posterior incineração Solventes isentos de toxicidade, puros ou em solução aquosa, utilizados em grande volume Coletar em frascos etiquetados, para posterior incineração Solventes que formam peróxidos e suas misturas Armazenar pelo menor tempo possível Fonte: Fonseca (2009). Resíduos Químicos Inorgânicos Os resíduos químicos inorgânicos correspondem (FONSECA, 2009): • Soluções aquosas de metais pesados; • Ácidos e/ou soluções ácidas. • Bases e/ou soluções básicas. • Sulfetos. • Cianetos. • Mercúrio metálico. • Sais de prata. • Metais pesados. 183UNIDADE 5 O descarte desses materiais exige tanto cuidado quanto o descarte dos resíduos orgânicos perigosos. Veja, no Quadro 4, algumas medidas empregadas para o descarte correto destes materiais. Quadro 4 – Medidas para o descarte dos resíduos químicos inorgânicos perigosos Resíduos químicos inorgânicos Medidas adequadas para o descarte Resíduos inorgânicos ácidos e suas solu- ções aquosas Diluir com água, neutralizar com bases diluídas e des- cartar na rede coletora de esgoto em água corrente Resíduos inorgânicos básicos e suas soluções aquosas Diluir com água, neutralizar com ácidos diluídos e des- cartar na rede coletora de esgoto em água corrente Resíduos inorgânicos neutros e suas soluções aquosas Diluir com água e descartar na rede coletora de esgoto em água corrente Resíduos inorgânicos insolúveis em água com risco de contaminação ambiental Armazenar em frascos etiquetados para posterior reco- lhimento Resíduos inorgânicos insolúveis em água sem risco de contaminação ambiental Coletar em saco plástico e descartar como lixo comum Soluções contendo metal pesado Devem ser armazenados em bombonas após terem sido precipitados na forma de hidróxido por solução de cal ou hidróxido de sódio comercial Fonte: Fonseca (2009). Fármacos Vencidos Os fármacos vencidos ou o resíduo de seus produtos são considerados de risco potencial à saúde pública e ao meio ambiente, portanto, o seu descarte deverá seguir as orientações de segregação e acondiciona- mento de resíduos químicos. Os demais medica- mentos, uma vez descaracterizados (retirados da embalagem e triturados ou dissolvidos), podem ser descartados como resíduos comuns na rede de esgoto (CARTILHA FMUSP-HC, 2017, on-line)2. Devolver remédios vencidos às farmácias é uma das melhores formas de descartar tais resíduos. Porém, infelizmente, a população em geral não realiza tal prática. Os produtos e resíduos biológicos são comuns aos ambientes laboratoriais, clínicas e hospitala- res em suas mais variadas formas. Sendo assim, informações sobre o manuseio desse tipo de ma- terial tornam-se relevantes, sobretudo quando o descarte desses produtos requerem atenção e pro- cedimentos específicos, visando a manutenção da saúde coletiva. Nesse contexto, serão apresentadas informações gerais acerca do manuseio, controle e descarte de produtos biológicos. Aspectos Gerais dos Produtos e Resíduos Biológicos Os resíduos biológicos podem ser definidos como resíduos com a possível presença de agentes bio- lógicos que, por suas características de maior virulência ou concentração, possam apresentar risco de infecção (BRASIL, 2005). Para fornecer um ambiente de trabalho seguro, todos os agentes infecciosos devem ser manipulados de acordo com o Nível de Biossegurança (NB) a que estão Manuseio, Controle e Descarte de Produtos Biológicos 185UNIDADE 5 relacionados, dependendo da virulência, patogenicidade, estabilidade, rota da propagação, comu- nicabilidade, quantidade e disponibilidade de vacinas ou de tratamento. O NB aplicável define não somente os procedimentos gerais de manipulação, mas também o tratamento dos resíduos biológicos (FONSECA, 2009). Essa classe de resíduos pode ser incorporada em três categorias (FONSECA, 2009): Resíduos Medicinais Envolve todos os resíduos continuamente gerados em diagnóstico, em tratamento ou na imunização de seres humanos ou de animais, em pesquisa e na produção de testes biológicos. Resíduos Patológicos São os resíduos oriundos das carcaças de animais. Resíduos de Laboratórios Biológicos ou que Trabalhem com Substâncias Controladas São os resíduos cujas pesquisas envolvem moléculas de DNA recombinante ou outras ativi- dades reguladas pela Comissão Técnica Nacional de Biossegurança (CTNBio). Manuseio e Controle dos Produtos e Resíduos Biológicos O manuseio dos produtos biológicos deve ser efetuado por pessoal treinado e devidamente paramentado com os equipamentos de proteção individual indicados no Infográfico 1. Sabe-se que a falta de cuidado no manuseio e nos demais procedimentos que envolvem os re- síduos biológicos afetam muitos profissionais da área da saúde e podem acarretar graves proble- mas. As consequências de uma exposição ocupa- cional a microrganismos patogênicos veiculados pelo sangue vão além do comprometimento fí- sico a curto prazo e influenciam em outros as- pectos da saúde. O acidente envolvendo material biológico potencialmente contaminado pode trazer repercussões psicossociais ao profissio- nal acidentado, levando mudanças nas relações sociais, familiares e de trabalho (MAGALHÃES; SANCHEZ, 2014). 186 Gerenciamento e Descarte de Resíduos Laboratoriais Infográfico 1 – EPI utilizados no manuseio de produtos e resíduos biológicos Fonte: adaptado de Fonseca (2009). Equipamento Função e Características Proteger os cabelos - deve ser de cor branca. Proteger os olhos - lente panorâmica, incolor e de plástico re- sistente, com armação em plástico flexível, proteção lateral e válvulas para ventilação. Para impedir a inalação de partículas e aerossóis, do tipo se- mifacial. Proteger o corpo - calça comprida e camisa de manga, material resistente e cor clara. Material impermeável, resistente, tipo PVC, antiderrapante e de cano longo. Material impermeável, resistente, tipo PVC, de solado antider- rapante e cor clara. 187UNIDADE 5 Pré-Tratamento dos Resíduos Biológicos em Serviços de Saúde Cabe ressaltar que, na possibilidade de uti- lização da autoclave, esta deverá ser preferida pela redução dos impactos ambientais. Em se- guida, aos pré-tratamentos descritos, é necessá- ria a etapa de destinação dos resíduos livres de contaminação, e um procedimento amplamente utilizado nos serviços de saúde é a incinera- ção. Este processo é indicado para os resíduos que não podem ser reciclados, reutilizados ou dispostos em aterros sanitários. A partir desse pré-tratamento, é possível reduzir significativa- mente, em volume e em peso, a matéria orgânica submetida ao processo. Para que a incineração ocorra de maneira eficiente, é preciso controlar alguns parâmetros, como: conformação do equipamento, tempo de residência adequado, temperatura, turbulência, alimentação e oxigenação. Recomenda-se que os materiais submetidos à incineração sejam pré-tratados por processo adequado para mi- nimizar risco de exposição. Os incineradores modernos atuam com duas câmaras: na primei- ra, a temperatura deve ser de, ao menos, 800 ºC; na segunda de, ao menos, 1000 ºC. Podem ser incinerados os resíduos biológi- cos do grupo A, curativos, chumaços, espéculos descartáveis, esparadrapo, algodão, gazes, dre- nos, escalpes, bolsas coletoras, material de sutura, luvas, todo e qualquer material que entrar em contato com pacientes. É importante ressaltar que cinzas e escórias obtidas com a incinera- ção contêm metais pesados e, portanto, devem ser caracterizadas segundo NBR 10004 (ABNT, 2004) e enviadas para aterro condizente com a classe do material (FONSECA,2009). O Quadro 5 indica alguns resíduos biológicos e estabelece o pré-tratamento e a destinação final adequados. Aproveitando o ensejo, vamos, neste momento, aprofundarmos em relação à necessidade de trata- mento prévio dos resíduos biológico oriundos dos serviços de saúde para o seu descarte. Os métodos mais comuns aplicados são a autoclavagem e a desinfecção química (FONSECA, 2009). Autoclavagem Na autoclavagem, a descontaminação se dá quan- do o resíduo é exposto a altas temperaturas, me- diante contato com vapor de água, durante um período de tempo suficiente para destruir todos os agentes patogênicos. Para esporos bacterianos, o processo requer uma temperatura mínima de 121 ºC durante 20 minutos, ou 5 minutos para tempe- raturas superiores a 134 ºC. A eficiência do proces- so depende do tipo e do tamanho dos recipientes a serem esterilizados e, ainda, de sua distribuição no interior da autoclave (FONSECA, 2009). Desinfecção Química A redução ou eliminação da carga microbiana por meio de desinfecção química é uma alter- nativa à autoclavagem. Esse método é indicado para o tratamento de resíduos líquidos, como sangue, urina e outros fluidos corpóreos. Dentre os agentes desinfetantes mais comuns estão: aldeí- dos, compostos a base de cloro, sais de amônio e compostos fenólicos. A velocidade e a eficiência dependem do tipo e da quantidade de substância empregada, do tempo e da extensão do contato entre o desinfetante e o resíduo, da matéria or- gânica presente no resíduo, da temperatura, da umidade e do pH (FONSECA, 2009; CARTILHA FMUSP-HC, 2017, on-line)2. 188 Gerenciamento e Descarte de Resíduos Laboratoriais Quadro 5 – Resíduos biológicos, pré-tratamento e destinação adequada Resíduo biológico Pré-tratamento Destino Cultura e estoque de agentes infectantes Autoclavagem Incineração Resíduos líquidos de humanos (sangue ou outros fluidos corpóreos contaminados com sangue; e demais fluidos corpóreos) Autoclavagem ou desinfecção química Pode ser lançado na rede de esgoto Animais (carcaças inteiras e peças con- taminadas ou não) Autoclavagem Incineração ou vala asséptica Material perfurocortante contaminado ou não com agente infectante Autoclavagem Incineração Peças anatômicas (membros) de humanos Após o registro no local de geração, devem ser encaminhados para tratamento térmico por inci- neração em condições compatíveis com o esta- belecido na Resolução CONAMA nº. 316/2002. Fonte: Fonseca (2009). Descarte dos Produtos e Resíduos Biológicos Os resíduos biológicos devem ser acondicionados em sacos brancos, contendo o símbolo universal de risco biológico (Figura 1) de tamanho compa- tível com a quantidade. Há um lacre próprio para o fechamento, sendo terminantemente proibido esvaziar ou reaproveitar os sacos. A substituição do saco ocorrerá quando forem atingidos 2/3 de sua capacidade e pelo menos uma vez a cada 24 horas. Dessa forma, a coleta deve ser efetuada dia- riamente e em intervalos regulares, de forma a atender à demanda e evitar acúmulo de resíduos nos locais de produção (FONSECA, 2009; CAR- TILHA FMUSP-HC, 2017, on-line)2. Ainda, é de fundamental importância que todos os sacos de descarte estejam devidamente identificados e preenchidos, contendo informa- ções, como: nome do responsável ou nome do Departamento e data do descarte do saco (CAR- TILHA FMUSP-HC, 2017, on-line)2. Culturas, estoques de microrganismos e instru- mentais utilizados para transferência, inoculação ou mistura destes, resíduos de manipulação ge- nética, resíduos de fabricação de produtos bio- lógicos, vacinas de agentes vivos ou atenuados, bolsas transfusionais contendo sangue, rejeitadas por contaminação, má conservação ou vencidas e sobras de amostras de laboratório contendo san- gue ou líquidos corpóreos são exemplos de mate- riais biológicos que necessitam, obrigatoriamente, receber tratamento antes de deixar o local. Enquanto que recipientes e materiais contami- nados provenientes da manipulação de amostras humanas, bolsas transfusionais vazias ou com vo- lume residual, filtros de ar e gases aspirados de área contaminada, membrana filtrante de equipamento de pesquisa e outros similares devem ser acondi- cionados em sacos brancos, lacrados, identificados e armazenados em recipiente rígido até a coleta (CARTILHA FMUSP-HC, 2017, on-line)2. Dessa forma, os resíduos que não podem ser tratados no estabelecimento gerador devem ser armazenados para serem, então, enviados para tra- tamento ou destino final. Dependendo do porte do gerador, pode haver necessidade de se ter um abri- go interno e um externo, os quais devem atender uma série de especificações (FONSECA, 2009). 189UNIDADE 5 Os resíduos de serviços de saúde são parte im- portante do total de resíduos sólidos urbanos, não necessariamente pela quantidade gerada (cerca de 1% a 3% do total), mas pelo potencial de risco que representam à saúde pública e ao meio ambiente (BRASIL, 2006). Neste contexto, o Plano de Gerenciamento dos Resíduos de Serviços de Saúde (PGRSS) é o docu- mento que aponta e descreve as ações relativas ao manejo dos resíduos sólidos, considerando suas inúmeras características e riscos, ações de prote- ção à saúde e ao meio ambiente e os princípios da biossegurança de empregar medidas técnicas administrativas e normativas para prevenir aci- dentes (BRASIL, 2006). A Figura 2 apresenta as etapas envolvidas para a implantação do PGRSS nos serviços de saúde. Plano de Gerenciamento de Resíduos de Serviços de Saúde - PGRSS 190 Gerenciamento e Descarte de Resíduos Laboratoriais Ma nej o Seg reg açã o Ac on dic ion am ent o Ar ma zen am ent o Tra tam ent o Co leta Ar ma zen am ent o Ex ter no Dis po siç ão Fin al Ide nti �ca ção Tra nsp ort e Int ern o • Manejo: compreende todas as ações de geren- ciar os resíduos em seus aspectos intra e extra estabelecimento, desde a geração até a dispo- sição final, incluindo as etapas subsequentes. • Segregação: consiste na separação dos resí- duos no momento e local de sua geração, de acordo com as características físicas, quími- cas, biológicas, o seu estado físico e os riscos envolvidos. • Acondicionamento: compreende o ato de embalar os resíduos segregados, em sacos ou recipientes que evitem vazamentos e resis- tam à ruptura. A capacidade dos recipientes de acondicionamento deve ser compatível com a geração diária de cada tipo de resíduo. • Identificação: consiste no conjunto de me- didas que permite o reconhecimento dos resíduos contidos nos sacos e recipientes, fornecendo informações em relação ao cor- reto manejo dos resíduos de serviço de saú- de. Conforme o risco oferecido pelo agente infeccioso, os sacos plásticos poderão ser brancos (utilizado no descarte da maioria dos resíduos biológicos) ou vermelhos (para príons e agentes da classe de risco 4). • Transporte interno: consiste no traslado dos resíduos dos pontos de geração até o local destinado ao armazenamento tem- porário ou armazenamento externo, com a finalidade de apresentação para a coleta. • Armazenamento: trata da guarda tempo- rária dos recipientes contendo os resíduos já acondicionados, em local próximo aos pontos de geração, visando agilizar a co- leta dentro do estabelecimento e otimizar o deslocamento entre os pontos geradores e o ponto destinado à apresentação para coleta externa. • Tratamento: compreende a aplicação de método, técnica ou processo que modifi- que as características dos riscos inerentes aos resíduos, reduzindo ou eliminando o risco de contaminação, de acidentes ocu- pacionais ou de dano ao meio ambiente. O tratamento pode ser aplicado no próprio estabelecimento gerador ou em outro es- tabelecimento, observadas, nestes casos, as condições de segurança para o transporte entre o estabelecimento gerador e o local do tratamento. Figura 2 - Etapas para a implantação do PGRSS Fonte: os autores. 191UNIDADE 5 • Armazenamento externo: trata-se da guarda dosrecipientes de resíduos até a realização da etapa de coleta externa, em ambiente exclusivo com acesso facilitado para os veículos coletores. • Coleta: compreende a remoção dos resí- duos do abrigo até a unidade de tratamento ou disposição final, utilizando-se técnicas que garantam a preservação das condições de acondicionamento e a integridade dos trabalhadores, da população e do meio ambiente, devendo estar de acordo com as orientações dos órgãos de limpeza urbana. • Disposição final: trata-se da disposição dos resíduos no solo, previamente prepara- do para recebê-los, obedecendo a critérios técnicos de construção e operação e licen- ciamento ambiental (BRASIL, 2004). A elaboração, implantação e desenvolvimento do PGRSS deve envolver os setores de higienização e limpeza, a Comissão de Controle de Infecção Hospitalar - CCIH ou Comissões de Biossegurança e os Serviços de Engenharia de Segurança e Medicina no Trabalho - SESMT, onde houver obrigatorie- dade de existência desses serviços, por meio de seus responsáveis, abrangendo toda a comunidade do estabelecimento, estando de acordo com as legis- lações de saúde, ambiental e de energia nuclear vigentes (BRASIL, 2006). Desse modo, antes de implementar o PGRSS, é recomendável que os responsáveis pelo laborató- rio estudem por um período de dois a três meses os diferentes tipos de resíduos gerados nas atividades realizadas, a fim de verificar o percentual de cada um dos tipos de resíduos e atender às orientações e regulamentações estaduais, municipais ou federais. Também, ao implantar o PGRSS, é necessário saber algumas características da cidade, do aterro sanitá- rio, do tratamento de água e esgoto, das empresas especializadas em transporte de resíduos e de abrigo de lixo, essas são algumas das recomendações da Sociedade brasileira de patologia clínica e medi- cina laboratorial para a coleta de sangue venoso (COSTALONGA; FINAZZI; GONÇALVES, 2010). Devido a sua relevância, o PGRSS deve ser planejado e conhecido de toda a gestão laboratorial. Nesse contexto, diversos modelos básicos, como os indicados na sequência, podem ser encontrados em diversos sites de busca, com o intuito de auxiliar e exemplificar no preenchimento deste documento tão relevante. Seguem alguns links contendo exemplos de PGRSS básicos: <https://goo.gl/LgSR6d>. <https://goo.gl/kf4Brn>. Lembrando que as especificidades de segmento e as exigências municipais e estaduais devem sempre ser respeitadas. 192 Gerenciamento e Descarte de Resíduos Laboratoriais Fontes Geradoras Diferentes estabelecimentos de assistência à saúde humana ou animal são responsáveis pela geração de resíduos sólidos, líquidos e semilíquidos, com maior ou menor potencial contaminante. Dentre estes estão (BRASIL, 2006): • ID da Serviços de assistência domiciliar e de trabalhos de campo. • Laboratórios analíticos de produtos para saúde. • Necrotérios, funerárias e serviços onde se realizam atividades de embalsamento. • Serviços de medicina legal. • Drogarias e farmácias, inclusive, as de ma- nipulação. • Estabelecimentos de ensino e pesquisa na área de saúde. • Centros de controle de zoonoses. • Distribuidores de produtos farmacêuticos, importadores, distribuidores e produtores de materiais e controles para diagnóstico in vitro. • Unidades móveis de atendimento à saúde. • Serviços de acupuntura. • Serviços de tatuagem, dentre outros similares. Ressalta-se que os estabelecimentos de serviços de saúde mencionados anteriormente são os res- ponsáveis pelo correto gerenciamento de todos os resíduos dos serviços de saúde (RSS) por eles gerados, cabendo aos órgãos públicos, dentro de suas competências, a gestão, regulamentação e fiscalização (BRASIL, 2006). Classificação dos Resíduos dos Serviços de Saúde (RSS) Os resíduos devem ser classificados em gru- pos e subgrupos para facilitar a execução da atividade e dar o correto tratamento para cada grupo. A classificação dos RSS objetiva destacar a composição desses resíduos visando seu ma- nejo seguro, segundo suas características bio- lógicas, físicas, químicas, o estado da matéria e sua origem, e os riscos de transmitir doenças, provocar acidentes ocupacionais ou promo- ver danos ao meio ambiente (MOL; SANTOS; NUNES, 2017). Dessa forma, segundo a Resolução n° 306 (BRASIL, 2004) e a Resolução CONAMA n° 358 (BRASIL, 2005), os resíduos de serviço de saúde são classificados em: Grupo A Este grupo compreende resíduos que possivelmente apresentam agentes bio- lógicos com concentração e virulência elevada, elevando riscos de infecção. Em função de seus vários tipos de mi- crorganismos existentes, os resíduos do grupo A podem ser subdivididos em cinco subgrupos, sendo eles: 193UNIDADE 5 A1 Pertencem a este grupo: • Estoques de microrganismos e culturas. • Resíduos utilizados na fabricação de pro- dutos biológicos, exceto os hemoderivados. • Descarte de vacinas contendo microrga- nismos vivos ou atenuados. • Meios de cultura e aparato utilizado na transferência, inoculação ou mistura de culturas. • Resíduos de laboratórios resultantes de manipulação genética. • Resíduos remanescentes do atendimen- to à saúde de indivíduos ou animais, com possível ou efetiva contaminação biológica por agentes classe de risco 4, microrganis- mos com amplo risco de contaminação ou potencial epidêmico e de mecanismo de transmissão desconhecido. • Hemocomponentes, como bolsas transfu- sionais rejeitadas devido à validade expi- rada, à contaminação ou pela má conser- vação, ou com prazo de validade vencido. • Amostras laboratoriais e aparatos utiliza- dos no atendimento e assistência à saúde, contendo sangue ou líquidos corpóreos residuais ou em forma livre; recipientes e materiais resultantes do processo de assis- tência à saúde, contendo sangue ou líqui- dos corpóreos na forma livre. A2 Compreendem as vísceras, membros, peças ana- tômicas e outros resíduos oriundos de animais utilizados em processos de experimentação de inoculação microbiológica, assim como os cadá- veres de animais com suspeita de contaminação por microrganismos de importância epidemio- lógica de potencial disseminação utilizados ou não em estudos e pesquisas ou que apresentarem contaminação confirmada por diagnóstico. A3 Este grupo abrange os membros ou peças ana- tômicas humanas; produto de fecundação sem sinais vitais, com estrutura inferior a 25 centí- metros, peso inferior a 500 gramas ou de idade gestacional inferior a 20 semanas, que não tenham valor científico ou legal e que não tenha sido re- quisitado pelos pacientes ou familiares. A4 Compreendem ao subgrupo A4: • Material de punção arterial, endovenosas e aparato utilizado em diálise, quando uti- lizados. • Filtros de ar e gases succionados de área contaminada. • Aparatos de filtração, como, por exemplo, as membranas e equipamentos filtrantes médico-hospitalar e utilizados em pesqui- sas, entre outros similares. • Amostra residuais e recipientes contendo urina, fezes e outras secreções oriundas de pacientes que não contenham e nem apresentem suspeitas de conter agentes da Classe de Risco 4, e que não apresen- tem relevância epidemiológica ou risco de disseminação, ou microrganismos relacio- nados a doenças emergentes epidemiologi- camente importantes, cujo mecanismo de transmissão seja desconhecido ou, ainda, material biológico com suspeita ou possí- vel contaminação por príons. A5 São os órgãos, tecidos, fluidos orgânicos, materiais perfurocortantes ou escarificantes e demais mate- riais resultantes da atenção à saúde de indivíduos ou animais, com suspeita ou certeza de contami- nação com príons. Tratamento e Disposição Final dos RSS Para a descontaminação dos resíduos infectan- tes, deve ser empregado tratamento prévio por meio da aplicação de processos térmicos, quí- micos ou biológicos, de eficiência comprovada, visando reduzir ou eliminar o risco de contami- nação, acidentes ocupacionais ou danos à saúde pública e ao meioambiente. Já o tratamento final pode ser efetuado por técnicas, como: vala sép- tica, micro-ondas, pirólise, plasma térmico, au- toclavagem, esterilização de gases e incineração. A escolha depende da adequação da técnica às características quali-quantitativas do resíduo e do seu fluxo nos ambientes externos e internos do estabelecimento gerador (MOL; SANTOS; NUNES, 2017). Dentre os resíduos com risco biológico ge- rados em estabelecimento de saúde, o grupo A, com destaque para os subgrupos A1, A2 e A5, é o que apresenta potencial de contaminação eleva- do e, portanto, deve ser descontaminado no local de geração, antes da destinação final, que pode ser realizada em aterro sanitário devidamente licenciado para receber este tipo de resíduo. Caso estejas com dúvida em relação aos trata- mentos utilizados nos resíduos de serviço de saú- de, retorne ao tópico anterior, nele explicamos separadamente os métodos de autoclavagem e desinfecção química, além da incineração. Em relação a disposição final dos RSS, as for- mas atualmente utilizadas são: aterro sanitário, aterro de resíduos perigosos classe I (para re- síduos industriais), aterro controlado, lixão ou vazadouro e valas (BRASIL, 2006). Grupo B Compreende resíduos com substâncias químicas que apresentam possível risco à saúde pública ou ao meio ambiente, dependendo de algumas característi- cas específicas, como: inflamabilidade, corrosividade, reatividade e toxicidade. Grupo C São todos os materiais remanescentes de atividades que envolvam radionu- clídeos em quantidades superiores aos limites de eliminação especificados nas normas da Comissão Nacional de Energia Nuclear (CNEN) para os quais a reutilização é imprópria, não prevista ou não recomendada. Grupo D Trata-se dos resíduos que não represen- tam risco biológico, químico ou radio- lógico à saúde humana e ao meio am- biente, sendo equiparados aos resíduos domésticos ou domiciliares. Grupo E São os materiais perfurocortantes (lâ- minas de barbear, agulhas, ampolas de vidro, bisturi etc.) e escarificantes. 195UNIDADE 5 Aterro Sanitário É um processo utilizado para a disposição de resí- duos sólidos no solo de forma segura e controlada, garantindo a preservação ambiental e a saúde pú- blica. O sistema está fundamentado em critérios de engenharia e normas operacionais específicas. O principal objetivo do aterro sanitário é dis- por os resíduos no solo de forma segura e con- trolada, garantindo a preservação ambiental e a saúde. Aterro de Resíduos Perigosos - Classe I - Aterro Industrial Técnica de disposição final de resíduos químicos no solo, sem causar danos ou riscos à saúde pú- blica, minimizando os impactos ambientais e uti- lizando procedimentos específicos de engenharia para o confinamento destes. Aterro Controlado Neste sistema, os resíduos são descarregados no solo, com recobrimento de camada de material inerte, diariamente. Essa forma não evita os pro- blemas de poluição, pois é carente de sistemas de drenagem, tratamento de líquidos, gases, imper- meabilização etc. Lixão ou Vazadouro Este é considerado um método inadequado de disposição de resíduos sólidos e se caracteriza pela simples descarga de resíduos sobre o solo, sem medidas de proteção ao meio ambiente e à saúde. É altamente prejudicial à saúde e ao meio ambiente, devido ao aparecimento de vetores in- desejáveis, mau cheiro, contaminação das águas superficiais e subterrâneas, presença de catado- res, risco de explosões, devido à geração de gases (CH4) oriundos da degradação do lixo. A Figura 3 ilustra a situação caótica de um lixão. Valas Sépticas Esta técnica, com a impermeabilização do solo de acordo com a norma da ABNT, é chamada de Célula Especial de RSS e é empregada em peque- nos municípios. Consiste no preenchimento de valas escavadas impermeabilizadas, com largura e profundidade proporcionais à quantidade de lixo a ser aterrada. A terra é retirada com retroescava- deira ou trator que deve ficar próxima às valas e, posteriormente, ser usada na cobertura diária dos resíduos. Os veículos de coleta depositam os resí- duos sem compactação diretamente no interior da vala e, no final do dia, é efetuada sua cobertura com terra, podendo ser feita manualmente ou por meio de máquina. Caro(a) aluno(a), depois de uma longa caminhada, na qual adquirimos importantes conhecimentos, estamos chegando ao fim deste estudo, e vamos encerrá-lo com um assunto de extrema valia, as Leis em Biossegurança, com ênfase na Comissão Técnica Nacional de Biossegurança (CNTBio). CNTBio A Comissão Técnica Nacional de Biossegurança (CTNBio) é uma instância colegiada multidisci- plinar, integrante do Ministério da Ciência e Tec- nologia, com a finalidade de prestar apoio técnico consultivo e de assessoramento ao Governo Fede- ral na formulação, atualização e implementação da Política Nacional de Biossegurança relativa aos Or- ganismos Geneticamente Modificados, bem como no estabelecimento de normas técnicas de segu- rança e pareceres técnicos conclusivos referentes à proteção da saúde humana, dos organismos vivos e do meio ambiente, para atividades que envolvam a construção, experimentação, cultivo, manipulação, transporte, comercialização, consumo, armazena- mento, liberação e descarte de Organismos Geneti- camente Modificados e derivados (CNTBio, 2017). Legislação em Biossegurança http://www.ctnbio.gov.br/ 197UNIDADE 5 O funcionamento da CTNBio é definido pela Lei de Biossegurança (Lei 11.105), regulamentada em 2005, segundo a qual a (BRASIL, 2005): “ CNTBio, composta de membros titulares e suplentes, designados pelo Ministro de Es- tado da Ciência e Tecnologia é constituída por 27 (vinte e sete) cidadãos brasileiros de reconhecida competência técnica, de no- tória atuação e saber científico, com grau acadêmico de doutor e com destacada ativi- dade profissional nas áreas de biosseguran- ça, biotecnologia, biologia, saúde humana e animal ou meio ambiente [...]. Segundo a Lei de Biossegurança, a CNTBio tem como objetivos: • Estabelecer normas para as pesquisas com OGM e derivados de OGM. • Estabelecer normas às atividades e aos pro- jetos relacionados a OGM e seus derivados. • Estabelecer, no âmbito de suas competên- cias, critérios de avaliação e monitoramen- to de risco de OGM e seus derivados. • Proceder à análise da avaliação de risco, caso a caso, relativamente a atividades e projetos que envolvam OGM e seus de- rivados. • Estabelecer os mecanismos de funciona- mento das Comissões Internas de Biosse- gurança – CIBio, no âmbito de cada insti- tuição que se dedique ao ensino, à pesquisa científica, ao desenvolvimento tecnológi- co e à produção industrial que envolvam OGM ou seus derivados. • Estabelecer requisitos relativos à biossegu- rança para autorização de funcionamen- to de laboratório, instituição ou empresa que desenvolverá atividades relacionadas a OGM e seus derivados. • Relacionar-se com instituições voltadas para a biossegurança de OGM e seus deri- vados, em âmbito nacional e internacional. • Autorizar, cadastrar e acompanhar as ati- vidades de pesquisa com OGM ou deri- vado de OGM, nos termos da legislação em vigor. • Autorizar a importação de OGM e seus derivados para atividade de pesquisa. • Prestar apoio técnico consultivo e de as- sessoramento ao Conselho Nacional de Biossegurança (CNBS), na formulação da Política Nacional de Biossegurança (PNB) de OGM e seus derivados. • Emitir Certificado de Qualidade em Bios- segurança – CQB para o desenvolvimento de atividades com OGM e seus derivados em laboratório, instituição ou empresa e enviar cópia do processo aos órgãos de registro e fiscalização. • Emitir decisão técnica, caso a caso, sobre a biossegurança de OGM e seus derivados no âmbito das atividades de pesquisa e de uso comercial de OGM e seus derivados, inclusive a classificação quanto ao grau de risco e nível de biossegurança exigido, bem como medidas de segurança exigidas e restriçõesao uso. • Definir o nível de biossegurança a ser apli- cado ao OGM e seus usos, e os respectivos procedimentos e medidas de segurança quanto ao seu uso, conforme as normas estabelecidas na regulamentação desta Lei, bem como quanto aos seus derivados. • Classificar os OGM segundo a classe de risco, observados os critérios estabelecidos no regulamento desta Lei. • Acompanhar o desenvolvimento e o pro- gresso técnico-científico na biossegurança de OGM e seus derivados. 198 Gerenciamento e Descarte de Resíduos Laboratoriais • Emitir resoluções, de natureza normativa, sobre as matérias de sua competência. • Apoiar tecnicamente os órgãos competen- tes no processo de prevenção e investigação de acidentes e de enfermidades, verificados no curso dos projetos e das atividades com técnicas de DNA/RNA recombinante. • Apoiar tecnicamente os órgãos e entidades de registro e fiscalização no exercício de suas atividades relacionadas a OGM e seus derivados. • Divulgar no Diário Oficial da União, pre- viamente à análise, os extratos dos plei- tos e, posteriormente, dos pareceres dos processos que lhe forem submetidos, bem como dar ampla publicidade no Sistema de Informações em Biossegurança – SIB a sua agenda, processos em trâmite, rela- tórios anuais, atas das reuniões e demais informações sobre suas atividades, excluí- das as informações sigilosas, de interesse comercial, apontadas pelo proponente e assim consideradas pela CTNBio. • Identificar atividades e produtos decor- rentes do uso de OGM e seus derivados potencialmente causadores de degradação do meio ambiente ou que possam causar riscos à saúde humana. • Reavaliar suas decisões técnicas por so- licitação de seus membros ou por recur- so dos órgãos e entidades de registro e fiscalização, fundamentado em fatos ou conhecimentos científicos novos, que se- jam relevantes quanto à biossegurança do OGM ou derivado, na forma desta Lei e seu regulamento. • Propor a realização de pesquisas e estudos científicos no campo da biossegurança de OGM e seus derivados. • Apresentar proposta de regimento interno ao Ministro da Ciência e Tecnologia. Como podemos observar, são inúmeras as atribui- ções concedidas ao CNTBio, por meio da Lei de Biossegurança, e deixa claro a grande preocupa- ção em relação, principalmente, à biossegurança dos OGM e seus derivados. Caso empresas ou demais entidades não res- peitem as normas estabelecidas pela Lei citada e disposições legais pertinentes, os responsáveis pelos danos ao meio ambiente e a terceiros responderão, solidariamente, por sua indenização ou reparação integral, independentemente da existência de culpa. As infrações administrativas serão punidas na forma disposta no regulamento desta Lei, inde- pendentemente das medidas cautelares de apreen- são de produtos, suspensão de venda de produto e embargos de atividades, com as seguintes sanções: • Advertência. • Multa. • Apreensão de OGM e seus derivados. • Suspensão da venda de OGM e seus de- rivados. • Embargo da atividade. • Interdição parcial ou total do estabeleci- mento, atividade ou empreendimento. • Suspensão de registro, licença ou autori- zação. • Cancelamento de registro, licença ou au- torização. • Perda ou restrição de incentivo e benefício fiscal concedidos pelo governo. • Perda ou suspensão da participação em li- nha de financiamento em estabelecimento oficial de crédito. • Intervenção no estabelecimento. • Proibição de contratar com a administra- ção pública, por período de até 5 (cinco) anos. Vale salientar que todos os recursos arrecadados com base nas infrações cometidas serão destinados aos órgãos e entidades de registro e fiscalização. 199UNIDADE 5 Mesmo com todas as sanções descritas anteriormente, muitas vezes, a infração pode constituir-se de um crime ou contravenção e, portanto, penas devem ser aplicadas pela autoridade fiscalizadora. O Quadro 6 apresenta os crimes e suas respectivas penalidades, segundo a Lei de Biossegurança. Quadro 6 – Crimes e penalidades adotadas pelos agentes fiscalizadores da CNTBio Crime Pena Utilização de embrião humano em desacordo com o previsto pela Lei 11.105 Detenção de 1 a 3 meses e multa Praticar engenharia genética em célula germinal humana, zigoto humano ou embrião humano Reclusão de 1 a 4 anos e multa Realizar clonagem humana Reclusão de 2 a 5 anos e multa Liberar ou descartar OGM no meio ambiente, em desacordo com as normas estabelecidas pela CTNBio e pelos órgãos e entidades de registro e fiscalização Reclusão de 1 a 4 meses e multa Utilizar, comercializar, registrar, patentear e licenciar tecnolo- gias genéticas de restrição do uso Reclusão de 2 a 5 anos e multa Produzir, armazenar, transportar, comercializar, importar ou exportar OGM ou seus derivados, sem autorização ou em desacordo com as normas estabelecidas pela CTNBio e pelos órgãos e entidades de registro e fiscalização Reclusão de 1 a 2 anos e multa Fonte: adaptado de Brasil (2005). Conselho Nacional de Biossegurança - CNBS É um órgão de assessoramento superior da Presidência da República, criado por meio da Lei de Biossegurança e constituído de 11 Ministros de Estado, tendo como objetivo principal formular e implementar a Política Nacional de Biossegurança - PNB. Além disso, compete a este órgão: • Fixar princípios e diretrizes para a ação administrativa dos órgãos e entidades federais com competências sobre a matéria. • Analisar, a pedido da CTNBio, quanto aos aspectos da conveniência e oportunidade socioe- conômicas e do interesse nacional, os pedidos de liberação para uso comercial de OGM e seus derivados. O Ministro de Estado da Casa Civil, o Ministro da Justiça, o Ministro da Ciência e Tecnologia, o Mi- nistro do Desenvolvimento Agrário, o Ministro da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, Ministro da Saúde, o Ministro do Meio Ambiente, o Ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, o Ministro das Relações Exteriores, o Ministro da Defesa e o Secretário de Aquicultura e Pesca são os constituintes do CNBS. Comissão Interna de Biossegurança (CIBio) A CIBio compreende ao órgão criado por toda a instituição que utilize técnicas e métodos de engenharia genética ou que realize pesquisas com OGM e seus derivados. Dentre as suas compe- tências estão: • Manter informados os trabalhadores e demais membros da coletividade, quando suscetíveis de serem afetados pela ativi- dade, sobre as questões relacionadas com a saúde e a segurança, bem como sobre os procedimentos em caso de acidentes. • Estabelecer programas preventivos e de inspeção para garantir o funcionamento das instalações sob sua responsabilidade, dentro dos padrões e normas de biosse- gurança, definidos pela CTNBio na regu- lamentação desta Lei. • Encaminhar à CTNBio os documentos cuja relação será estabelecida na regula- mentação desta Lei, para efeito de análise, registro ou autorização do órgão compe- tente, quando couber. • Manter registro do acompanhamento in- dividual de cada atividade ou projeto em desenvolvimento que envolvam OGM ou seus derivados. • Notificar à CTNBio, aos órgãos e entidades de registro e fiscalização e às entidades de trabalhadores o resultado de avaliações de risco a que estão submetidas as pessoas expostas, bem como qualquer acidente ou incidente que possa provocar a dissemina- ção de agente biológico. • Investigar a ocorrência de acidentes e as enfermidades possivelmente relacionados à OGM e seus derivados e notificar suas conclusões e providências à CTNBio. 201UNIDADE 5 Sistema de Informação em Biossegurança (SIBio) Trata-se do Sistema destinado à gestão das in- formações decorrentes das atividades de análise, autorização, registro, monitoramento e acompa- nhamento das atividades que envolvam OGM e seus derivados. Desse modo, os órgãos e en- tidades devem alimentar o Sistema com infor- mações relativas às atividades de que trata essa Lei, processada no âmbito de sua competência. Nesse sentido, caro(a) aluno(a),torna-se im- prescindível conhecer as legislações específicas, os sistemas de informações e as especificidades relacionadas aos OGMs, uma vez que a rela- ção de práticas utilizando a manipulação gênica ou ferramentas de engenharia genética sem a devida autorização ou registro junto às insti- tuições responsáveis pode resultar em sérias consequências! Nesta última unidade, podemos conhecer um pouco sobre os tratamentos e destinação dos re- síduos gerados na área da saúde que apresentam características específicas e que são reflexo do tipo de atendimento ou serviço prestado. Pode- mos conhecer algumas das práticas mais comuns voltadas ao tratamento desses resíduos da área da saúde, bem como as legislações e recomen- dações voltadas ao transporte interno, logística e disposição final desse material. Ainda em relação aos resíduos laboratoriais, clínicos e hospitalares, conhecemos e discutimos acerca da importância da elaboração adequada de um Plano de gerenciamento de resíduos de servi- ços de saúde (PGRSS), documento fundamental para a concessão de licenciamentos e regulari- zação junto aos órgãos de vigilância competen- tes. Tal documento descreve detalhadamente a destinação e manejo acerca dos resíduos gerados em ambientes voltados ao atendimento em saúde. Após estas discussões iniciais ainda voltadas à rotina laboratorial e aos atendimentos de normas específicas, informações sobre legislações rela- cionadas à biossegurança e, em especial, a mani- pulação de microrganismos geneticamente mo- dificados (OGMs) foram apresentadas as ações da Comissão Técnica Nacional de Biossegurança (CNTBio) e do Conselho Nacional de Biossegu- rança (CNBs) que, por meio da lei de biossegu- rança, podem regulamentar, fiscalizar e punir o desenvolvimento e a manipulação de produtos geneticamente modificados que não atendam os critérios de qualidade estipulados. Por fim, caro(a) aluno(a), esperamos ter contri- buído com informações relevantes e pertinentes em relação a esta grande área do conhecimento multidisciplinar e tão necessária denominada biossegurança. Esperamos que sua jornada aca- dêmica seja repleta de conquistas e realizações. Um grande abraço! 202 Você pode utilizar seu diário de bordo para a resolução. 1. O Sistema Globalmente Harmonizado de Classificação e Rotulagem de Produtos Químicos (GHS) congrega o esforço de várias agências internacionais, coordena- das pela Organização das Nações Unidas (ONU), para harmonizar a classificação de produtos químicos perigosos e a comunicação de perigos para diferentes públicos alvo, como organizações, trabalhadores e consumidores em geral. Em relação ao exposto, assinale a alternativa que não corresponde a perigos físicos segundo o GHS. a) Peróxidos orgânicos. b) Células germinativas. c) Gases inflamáveis. d) Gases oxidantes. e) Líquidos inflamáveis. 2. Conforme exposto ao longo desta unidade de nosso material didático, a Comis- são Técnica Nacional de Biossegurança (CNTBio) possui inúmeras atribuições concedidas pela Lei de Biossegurança, dentre as quais figura a fiscalização de produtos oriundos de organismos geneticamente modificados (OGMs) que requerem uma série de medidas especiais e cuidados adequados para seu manuseio e utilização. Com base no exposto, analise as assertivas e assinale a alternativa que corresponde as medidas que podem ser aplicadas aos esta- belecimentos ou instituições que não atendem as normas específicas para o trabalho com OGMs. I) Perda ou restrição de incentivo e benefício fiscal concedidos pelo governo. II) Interdição exclusivamente parcial da instituição ou estabelecimento. III) Multas e Advertências. IV) Embargo da atividade. 203 Está correta: a) Apenas I e II estão corretas. b) Apenas II e III estão corretas. c) Apenas II está correta. d) Apenas I, III e IV estão corretas. e) Nenhuma das alternativas está correta. 3. Diferentes estabelecimentos de assistência à saúde humana ou animal são responsáveis pela geração de resíduos sólidos, líquidos e semilíquidos, sendo esses estabelecimentos responsáveis pela coleta, tratamento e destinação final desses resíduos gerados. Nesse sentido, assinale (V) para verdadeiro e (F) para falso nos estabelecimento listados que possuem potencial de geração de resí- duos perigosos ou contaminantes em saúde. Assinale Verdadeiro (V) ou Falso (F): ) ( Laboratórios analíticos. ) ( Serviços de medicina legal. ) ( Unidades móveis de atendimento à saúde. ) ( Distribuidores de serviços farmacêuticos. ) ( Bares e restaurantes. 4. Os serviços de atendimento em saúde, especialmente os voltados à prática da medicina legal, são responsáveis pela geração de resíduos específicos em fun- ção do tipo de atendimento/serviço prestado, por exemplo, pelas anatômicas (membros) e vísceras oriundas de procedimentos cirúrgicos. Nesse sentido, discorra brevemente acerca dos procedimentos que devem ser realizados para o correto descarte/destinação dessas peças anatômicas. 5. A Comissão Técnica Nacional de Biossegurança (CTNBio) é uma instância cole- giada multidisciplinar, integrante do Ministério da Ciência e Tecnologia com a finalidade de prestar apoio técnico consultivo e de assessoramento ao Governo Federal na formulação, atualização e implementação da Política Nacional de Biossegurança relativa aos Organismos Geneticamente Modificados. Neste entendimento, cite alguns dos principais objetivos da CNTBio fomentados pela Lei de Biossegurança. http://www.ctnbio.gov.br/ 204 O presente manual disponibilizado pela Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho” (Unesp) tem por objetivo orientar quanto à correta carac- terização, passivação e disposição final de resíduos gerados em ambientes laboratoriais. Para acessar, use seu leitor de QR Code. WEB http://appgame.unicesumar.edu.br/API/public/getlinkidapp/3/123 205 ABIQUIM. Associação Brasileira da Indústria Química. Departamento de Assuntos Técnicos. O que é o GHS? Sistema harmonizado globalmente para a classificação e rotulagem de produtos químicos. São Paulo: ABIQUIM/ DETEC, 2005. 69 p. ABNT. ABNT NBR 10004. Resíduos sólidos – Classificação. ABNT, 2004. ______. ABNT NBR 14725-2. Produtos químicos – informações sobre segurança, saúde e meio ambiente. Parte 2: Classificação de perigo. 2009. 98 p. BRASIL. Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação. Lei n° 11.105, de 24 de março de 2005. Regulamenta os incisos II, IV e V do § 1o do art. 225 da Constituição Federal, estabelece normas de segurança e mecanismos de fiscalização de atividades que envolvam organismos geneticamente modificados – OGM e seus derivados, cria o Conselho Nacional de Biossegurança – CNBS, reestrutura a Comissão Técnica Nacional de Biossegurança – CTNBio, dispõe sobre a Política Nacional de Biossegurança – PNB, revoga a Lei no 8.974, de 5 de janeiro de 1995, e a Medida Provisória no 2.191-9, de 23 de agosto de 2001, e os arts. 5o, 6o, 7o, 8o, 9o, 10 e 16 da Lei no10.814, de 15 de dezembro de 2003, e dá outras providências. Brasília: Presidência da República, 2005. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2004-2006/2005/lei/l11105.htm>. Acesso em: 29 out. 2018. ______. Ministério da Saúde. Agência Nacional de Vigilância Sanitária. Resolução RDC n° 306, de 7 de dezembro de 2004. Dispõe sobre o Regulamento técnico para o gerenciamento de resíduos de serviços de saúde. 2004. Disponível em: <http://portal.anvisa.gov.br/documents/33880/2568070/res0306_07_12_2004. pdf/95eac678-d441-4033-a5ab-f0276d56aaa6>. Acesso em: 29 out. 2018. ______. Ministério da Saúde. Agência Nacional de Vigilância Sanitária. Manual de gerenciamento de resíduos de serviços de saúde. Brasília: Ministério da Saúde, 2006. 182 p. ______. Ministério do Meio Ambiente. Conselho Nacional do Meio Ambiente (CONAMA). Resolução n° 358, de 29 de abril de 2005. Dispõe sobre o tratamento e a disposição final dos resíduos dos serviços de saúde e dá outras providências. 2005. Disponível