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Mamíferos marinhos André E. Moura, Sofia E. Silva, SPEA, Ana M. Correia, Isabel Sousa-Pinto, Ágatha Gil, Luís Freitas, Cláudia Ribeiro, Adalberto Carvalho, Ana Dinis, Filipe Alves, Rita Ferreira, José Manuel V. Azevedo, Marc Fernández, Arianna Cecchetti, Ricardo Medeiros, Miguel Machete, Helder Silva, Laura González, Cláudia Faustino, Inês Carvalho, Cristina Brito, Francisco Martinho, IFAW/MCR e Neftalí Síllero In: Bencatel, J., Sabino-Marques, H., Álvares, F., Moura, A. E. & Barbosa, A. M. (eds.), 2019. Atlas de Mamíferos de Portugal, 2ª edição. Universidade de Évora, Portugal 161 Dada a grande extensão da Zona Económica Exclusiva portuguesa, ocorrem muitas espécies de cetáceos no nosso país. No entanto, algumas têm apenas registos excepcionais, não representando a fauna regular desta região. Por exemplo, os registos de baleia-franca (Eubalaena glacialis) reduzem-se a menos de uma dezena, nem sempre correspondendo a observações fiáveis. As espécies para as quais existem registos mas sem frequência suficiente para terem uma ficha individual neste atlas incluem, por exemplo, o golfinho-de- Fraser (Lagenodelphis hosei) e o golfinho-de-Clymene (Stenella clymene). É difícil determinar padrões de residência em cetáceos, principalmente em águas oceânicas. Neste atlas consideram-se “nativas/residentes” as espécies observadas com frequência suficiente para serem consideradas comuns nas nossas águas. As espécies “regulares” são aquelas observadas em vários estudos de amostragem diferentes, mas com pouca frequência relativamente a outras espécies. O termo “sazonal” é usado quando a espécie é avistada maioritariamente em certas alturas do ano, embora esta informação nem sempre seja baseada em análises robustas. Como tal, esta classificação é subjetiva e sujeita a alterações à medida que for recolhida mais informação. Nas águas costeiras de Portugal continental, o golfinho-comum é a espécie mais observada. Em águas mais afastadas da costa, o golfinho-riscado torna-se a espécie mais registada, embora esta região seja menos visitada por campanhas de investigação. Outras espécies, como o roaz-corvineiro, o boto e a baleia-anã, são também avistadas de forma regular, embora bastante menos frequente. As restantes espécies são observadas de forma muito mais ocasional e irregular, embora algumas – como a orca – sejam avistadas praticamente todos os anos. Nos Açores são observadas mais espécies oceânicas de forma regular, tais como o golfinho-pintado, o roaz-corvineiro, o grampo e o cachalote, cuja frequência é aqui comparável à do golfinho-comum. Também comuns, mas menos frequentes, são o golfinho-riscado, as baleias-piloto, a falsa-orca e a orca. As baleias-de-barbas da família Balaenopteridae são também observadas com regularidade nesta região, que é intersetada pelas suas rotas migratórias. Na Madeira observam-se habitualmente muitas das espécies observadas também nos Açores. No entanto, são mais frequentes as espécies com distribuição mais tropical, como a baleia-de-Bryde e ocasionalmente o caldeirão. Enquanto os avistamentos de caldeirão são ocasionais, a baleia-de-Bryde é observada regularmente, havendo já estudos de monitorização a longo prazo. Outras baleias-de-barbas são também observadas com regularidade, embora os registos de baleia-azul e de baleia-de-bossa sejam mais esporádicos. Quanto aos pinípedes, em Portugal só a foca-monge (Monachus monachus) pode ser considerada residente. Conhecem-se áreas de reprodução apenas na região da Madeira, e é uma espécie extremamente ameaçada. Neste atlas não se inclui uma ficha para esta espécie, pois os seus registos são raros e a sua vulnerabilidade desaconselha revelar os locais exatos de ocorrência. Há também registos ocasionais de foca-cinzenta (Halichoerus grypus), foca- comum (Phoca vitulina) e foca-de-crista ou foca-de-capuz (Cystophora cristata). No entanto, esses registos ocorrem fora dos limites de distribuição natural dessas espécies e, como tal, não refletem a fauna natural de pinípedes da costa portuguesa. Padrões gerais de distribuição em Portugal Atlas de Mamíferos de Portugal 162 Contribuidores com observação e/ou envio de registos para este capítulo Adalberto Carvalho, Ágatha Gil, Ana Dinis, Ana M. Correia, André E. Moura, Arianna Cecchetti, Cláudia Faustino, Cláudia Ribeiro, Cristina Brito, Débora Marujo, Daniel Raposo, Filipe Alves, Francisco Martinho, Futurismo, Helder Silva, Helena Sabino- Marques, IFAW/MCR, Inês Carvalho, Isabel Sousa-Pinto, José Manuel V. Azevedo, Laura González, Luís Freitas, Marc Fernández, Mário Lopes, Miguel Machete, Patrícia e Luís, Pedro Vaz, Ricardo Medeiros, Rita Ferreira, SPEA 163 Taxonomia Os cetáceos constituíam anteriormente a ordem Cetacea. No entanto, estudos moleculares colocam-nos agora dentro dos artiodáctilos, pelo que publicações taxonómicas mais recentes tendem a agrupar cetáceos e artiodáctilos numa ordem comum, designada Cetartiodactyla. O grupo Cetacea é, ainda assim, evolutiva e biologicamente distinto, e de ecologia e distribuição marcadamente diferentes, sendo por isso tratado separadamente neste atlas. A lista mais recente publicada pela Society of Marine Mammalogy inclui 89 espécies, agrupadas em 14 famílias e pelo menos 38 géneros. No entanto, estes números estão sujeitos a revisão, principalmente na família Delphinidae, onde o conhecimento sobre as relações evolutivas é ainda insuficiente. Em Portugal, são conhecidas 29 espécies de 20 géneros, divididas em 7 famílias. Características gerais do grupo Os cetáceos encontram-se em praticamente todos os ambientes aquáticos do planeta, incluindo ambientes fluviais. Alimentam-se principalmente de peixes e lulas, embora alguns se alimentem de outros cetáceos e de pinípedes, e outros se alimentem de animais planctónicos. São geralmente sociais, embora algumas espécies tenham hábitos maioritariamente solitários. Os cetáceos dividem-se em dois grandes grupos: Mysticeti ou baleias- de-barbas, e Odontoceti ou baleias com dentes (que inclui também golfinhos e botos). Os Mysticeti caracterizam-se pela presença de barbas, estruturas queratinosas (de composição semelhante à das unhas e cabelo humanos) reforçadas com depósitos de hidroxiapatite (mineral ósseo) que usam para filtrar a água. Incluem várias espécies de grandes dimensões e tendem a exibir comportamentos migratórios, apesar de as rotas exatas serem desconhecidas para várias espécies. Os Odontoceti incluem o maior número de espécies e variam significativamente em tamanho e ecologia. Embora várias espécies sejam oceânicas, outras têm hábitos costeiros. Algumas têm distribuições geográficas extremamente restritas, incluindo sistemas fluviais. Os Odontoceti são também caracterizados pela capacidade de ecolocalização, usando para isso o chamado melão, um órgão complexo que cria a característica forma globular da testa destes animais. Bibliografia Berta et al. (2015), Carvalho & Brito (2012), Correia & Farinha (2003), Evans & Raga (2001), Freitas et al. (2004), Hoelzel (2002), Jefferson et al. (2015), Perrin et al. (2009) Cetáceos (Cetartiodactyla) Cetáceos Atlas de Mamíferos de Portugal 164 Steno bredanensis (Lesson, 1828) Caldeirão Delfín de dientes rugosos, Rough-toothed dolphin Zosia Halicka Origem Categoria IUCN Categoria LVVP Raro LC NC / DD / NC Ecologia O caldeirão é uma espécie maio- ritariamente oceânica, para a qual existem muito poucos registos. A sua dieta é composta por peixe e cefalópodes, desconhecendo-se, no entanto, mais detalhes acerca das suas presas. Distribuição global Esta espécie é observada com mais frequência em águas tropicais e subtropicais. Na Europa é observada principalmente no Mediterrâneo, com alguns registos ocasionais nas res- tantes águas até ao mar do Norte. Distribuição em Portugal O caldeirão é observado mais fre- quentemente nas águas da Madeira, havendo registos esporádicos nos Açores. No continente, apesar dehaver registos de arrojamentos, nunca foi observado nas amostragens disponíveis para este atlas. Não são conhecidas populações residentes e, como tal, é considerado um visitante ocasional em águas nacionais. Prioridades de investigação Dada a escassez de informa- ção, será de considerar esta espécie como demasiado rara para viabilizar qualquer tipo de estudo sistemático. Os registos na Madeira parecem ser mais comuns em anos recentes, pelo que será prioritário monitorizar esta área. Bibliografia Baird et al. (2008), da Silva et al. (2015), Ortega-Ortiz et al. (2014), Steiner (1995) Cetáceos 165 Fonte: IUCN (2019) Steno bredanensis Nº de quadrículas com registos: Regiões costeiras (10 km x 10 km) 11 Regiões oceânicas (0,5º x 0,5º) 5 Quadrículas costeiras: 10x10 km2 Quadrículas oceânicas: 0,5ºx0,5º Atlas de Mamíferos de Portugal 166 Tursiops truncatus (Montagu, 1821) Roaz-corvineiro Delfín mular, Bottlenose dolphin Patrícia e Luís Origem Categoria IUCN Categoria LVVP Nativa / Residente LC LC / LC / LC Ecologia O roaz-corvineiro (ou toninha- -brava) é geralmente observado em grupos de poucas dezenas de indi- víduos, tendo uma dieta generalista. Pode ser observado em águas pro- fundas, mas é também notório por entrar em sistemas fluviais. Tem uma ecologia variada e flexível, depen- dendo da região e das condições ambientais em que se encontra. Distribuição global Ocorre em águas tropicais e temperadas. Na Europa, forma uma meta-população composta por várias subpopulações costeiras regionais e uma subpopulação oceânica mais numerosa. São conhecidas várias comunidades residentes em águas semifechadas, como o Estuário de Shannon (Irlanda), Moray Firth (Escó- cia), golfo Normando-Bretão (França), Galiza (Espanha), Estuário do Sado (Portugal), Golfo de Trieste (Eslové- nia) e Golfo Amvrikakos (Grécia). Distribuição em Portugal O roaz-corvineiro é particular- mente conhecido pela comunidade residente que forma no Estuário do Sado (com os registos de presença representados em cor mais clara nos mapas desta ficha), cujos membros estão bem catalogados e são rara- mente vistos fora do Estuário. No entanto, a espécie pode ser obser- vada por toda a costa continental, embora com menos frequência do que o golfinho-comum. É também avistada regularmente noutros sis- temas fluviais, nomeadamente no Estuário do Tejo, na Foz do Arade e no porto de Sines. Nos Açores e na Madeira, a frequência de avistamen- tos de roaz é comparável à do golfi- nho-comum, e existem também indi- víduos considerados residentes ou associados ao respetivo arquipélago pelo seu elevado grau de fidelidade. Prioridades de investigação Esta espécie pode formar grupos estáveis e exibe hábitos costeiros, o que a torna mais suscetível a pertur- bações ambientais. É também uma espécie prioritária na União Europeia dentro da Directiva Habitats. Sendo uma espécie propícia a estudos de foto-identificação, deve ser dada prio- ridade à compilação de fotografias de grupos observados em diferentes locais e/ou épocas, para permitir o estudo dos padrões de composição de grupos, movimentação e abun- dância destes animais. Bibliografia Dinis et al. (2016a, b), dos Santos et al. (2007), Fernández et al. (2011), Gaspari et al. (2015), Louis et al. (2014), Luís et al. (2016), Martinho et al. (2014), Monteiro et al. (2016b), Quérouil et al. (2008), Silva et al. (2008), Van Bressem et al. (2003) Cetáceos 167 Fonte: IUCN (2019) Tursiops truncatus Nº de quadrículas com registos: Regiões costeiras (10 km x 10 km) 441 Regiões oceânicas (0,5º x 0,5º) 185 Quadrículas costeiras: 10x10 km2 Quadrículas oceânicas: 0,5ºx0,5º Atlas de Mamíferos de Portugal 168 Stenella coeruleoalba (Meyen, 1833) Golfinho-riscado Delfín listado, Striped dolphin Ágatha Gil Origem Categoria IUCN Categoria LVVP Nativa/Residente LC LC / DD / LC Ecologia O golfinho-riscado (ou toninha- -riscada) é uma espécie bastante comum em águas oceânicas, fora da plataforma continental. Forma gru- pos numerosos e alimenta-se prin- cipalmente de lulas durante a noite, embora também se possa alimentar de peixe. É frequentemente obser- vado em grupos mistos com outras espécies, nomeadamente o golfinho- -comum e o roaz-corvineiro. Distribuição global Esta espécie tem uma distribuição global, em águas tropicais e tempera- das. Na Europa é avistada principal- mente em águas oceânicas, sendo a espécie de golfinho mais comum no Mediterrâneo, embora seja rara no mar Adriático, e ausente no Mar Negro. Parece ser menos comum no Pacífico e Atlântico Sul, embora exis- tam lacunas no seu conhecimento em várias regiões. Distribuição em Portugal O golfinho-riscado é maioritaria- mente observado em águas continen- tais para além da plataforma continen- tal, onde substitui o golfinho-comum como a espécie mais avistada. Nos Açores e na Madeira é avistado com regularidade, mas não mais frequente do que outras espécies de golfinhos oceânicos. Prioridades de investigação Tendo uma população numerosa e a sua ecologia oceânica a limitar as interações com humanos, o golfi- nho-riscado é uma espécie de menor preocupação em termos de conser- vação. No Mediterrâneo tem sofrido episódios de mortalidade elevada devido a infeções com morbilivírus, mas a informação sobre a epidemio- logia desta doença em território por- tuguês é limitada, embora possa ser importante para compreender a dinâ- mica desta patologia. Bibliografia Bento et al. (2016), Garcia-Martinez et al. (1999), Godoy-Vitorino et al. (2017), Papale et al. (2013), Ringelstein et al. (2006), Spitz et al. (2006) Cetáceos 169 Fonte: IUCN (2019) Stenella coeruleoalba Nº de quadrículas com registos: Regiões costeiras (10 km x 10 km) 236 Regiões oceânicas (0,5º x 0,5º) 164 Quadrículas costeiras: 10x10 km2 Quadrículas oceânicas: 0,5ºx0,5º Atlas de Mamíferos de Portugal 170 Stenella frontalis (G Cuvier, 1829) Golfinho-pintado Delfín manchado del Atlántico, Atlantic spotted dolphin Ágatha Gil Origem Categoria IUCN Categoria LVVP Nativa/Residente DD LC / LC / NC Ecologia O golfinho-pintado (ou pinta- dinha) é uma espécie maioritaria- mente oceânica, embora possa ser observado em águas costeiras nas Bahamas. Tem uma dieta variada, ali- mentando-se de peixe, cefalópodes e crustáceos. Embora se alimente, acima de tudo, na zona mesopelá- gica, pode também alimentar-se de organismos bentónicos em águas menos profundas. É fácil de confundir com o roaz-corvineiro, dado que ape- nas os adultos apresentam as pintas características desta espécie. Distribuição global Esta espécie é endémica do Oceano Atlântico, onde ocupa princi- palmente águas tropicais e tempera- das. Na Europa é avistado geralmente em águas oceânicas, sendo mais comum nas águas costeiras da Amé- rica Central e do Norte. Existe pouca informação sobre a sua distribuição no Atlântico Sul, e está ausente no Mediterrâneo e no Mar Negro. Distribuição em Portugal O golfinho-pintado é observado quase exclusivamente em águas profundas, sendo visto com frequên- cia nos arquipélagos dos Açores e da Madeira, embora de forma sazo- nal. No continente é principalmente observado para além da plataforma continental, existindo apenas registos pontuais perto da linha de costa. Prioridades de investigação Pouco se sabe acerca dos padrões de movimentação e pre- ferências de habitat desta espécie, embora existam estimativas recentes de abundância e sazonalidade na Madeira. Como tal, torna-se prioritá- rio recolher informação de base para esta espécie, para a totalidade da sua área de distribuição. Bibliografia Alves et al. (2015b), Clua & Grosvalet (2001), dos Santos et al. (2016), Quérouil et al. (2008, 2010, 2013) Cetáceos 171 Fonte: IUCN (2019) Stenella frontalis Nº de quadrículas com registos: Regiões costeiras (10 km x 10 km) 437 Regiões oceânicas (0,5º x 0,5º) 224 Quadrículas costeiras: 10x10 km2 Quadrículas oceânicas:0,5ºx0,5º Atlas de Mamíferos de Portugal 172 Delphinus delphis Linnaeus, 1758 Golfinho-comum Delfín común, Short-beaked common dolphin André E. Moura Origem Categoria IUCN Categoria LVVP Nativa/Residente LC LC / LC / LC Ecologia O golfinho-comum (ou toninha- -mansa) pode formar grupos nume- rosos de centenas ou até milhares de indivíduos, sendo especialista em capturar peixes de cardume mesope- lágicos de alto valor energético. Pos- sui uma estrutura social fluída, apre- sentando particular tendência para se aproximar e navegar na proa de embarcações. Distribuição global Esta espécie pode ser encontrada por todo o mundo, concentrando-se geralmente em regiões de intenso afloramento costeiro. Na Europa, é particularmente abundante na Penín- sula Ibérica e Golfo da Biscaia, mas mais raro no Atlântico Norte, Mar do Norte e Mediterrâneo, onde sofreu reduções drásticas nas últimas déca- das. Distribuição em Portugal O golfinho-comum é claramente a espécie de cetáceo mais abundante em águas nacionais, principalmente na costa continental. No entanto, e apesar de ser observado em toda a costa durante todo o ano, não são ainda bem conhecidos os padrões de ocupação sazonal e geográfica. É também observado com frequência nos Açores e na Madeira. Prioridades de investigação Apesar de ser a espécie mais comum nas nossas águas, são ainda raros os estudos detalhados sobre a ecologia local e padrões de movimen- tação desta espécie. Deve dar-se prioridade à recolha de informação mais detalhada referente a padrões de sazonalidade e ocupação geo- gráfica, particularmente em zonas de afloramento marinho mais intenso. Bibliografia Amaral et al. (2007), Ball et al. (2017), Cañadas et al. (2009), Cecilio et al. (2006), Monteiro et al. (2016a), Moura et al. (2012, 2013a, b), Murphy et al. (2005, 2006, 2013), Quérouil et al. (2010), Silva (1999), Spitz et al. (2010), Westgate (2007), Zhou et al. (2001) Cetáceos 173 Fonte: IUCN (2019) Delphinus delphis Nº de quadrículas com registos: Regiões costeiras (10 km x 10 km) 703 Regiões oceânicas (0,5º x 0,5º) 266 Quadrículas costeiras: 10x10 km2 Quadrículas oceânicas: 0,5ºx0,5º Atlas de Mamíferos de Portugal 174 Grampus griseus (Cuvier, 1812) Grampo Calderón gris, Risso’s dolphin Débora Marujo, Cape Cruiser Origem Categoria IUCN Categoria LVVP Regular/Ocasional LC DD / DD / DD Ecologia O grampo (ou moleiro) é uma espécie maioritariamente oceânica, que se alimenta exclusivamente de lulas durante a noite. É característico da espécie adquirir uma coloração esbranquiçada, devido à acumulação de cicatrizes resultantes de intera- ções sociais. Tende a formar grupos sociais de pequenas dimensões. Distribuição global Esta espécie é observada por todo o planeta, embora seja mais comum em águas temperadas. Na Europa é observada com mais frequência em águas oceânicas e no Mediterrâneo. Distribuição em Portugal O grampo é observado mais fre- quentemente nas águas dos Açores, principalmente no grupo Central. É também observado na Madeira e, ocasionalmente, na costa continental, onde tende a evitar embarcações. Prioridades de investigação Pensa-se que algumas popula- ções observadas nos Açores pos- sam ser residentes, tornando-se por isso mais suscetíveis a perturbações ambientais locais. Pode ser impor- tante avaliar os padrões de residência nos locais onde a espécie é frequen- temente observada. Bibliografia Gaspari et al. (2007), Hartman et al. (2008, 2014), Jefferson et al. (2014), Pereira (2008) Cetáceos 175 Fonte: IUCN (2019) Grampus griseus Nº de quadrículas com registos: Regiões costeiras (10 km x 10 km) 259 Regiões oceânicas (0,5º x 0,5º) 90 Quadrículas costeiras: 10x10 km2 Quadrículas oceânicas: 0,5ºx0,5º Atlas de Mamíferos de Portugal 176 Pseudorca crassidens (Owen, 1846) Falsa-orca Falsa orca, False killer whale Laura González Origem Categoria IUCN Categoria LVVP Regular/Ocasional DD DD / NC / NC Ecologia A falsa-orca (ou negro) é uma espécie oceânica caracterizada por formar laços sociais fortes. É uma das espécies em que se observam arro- jamentos em massa com mais fre- quência. Alimenta-se principalmente de peixes e lulas, embora existam registos de predação sobre outros cetáceos. Distribuição global Esta espécie ocorre maioritaria- mente em águas oceânicas tropi- cais, embora haja registos também em regiões costeiras temperadas. Na Europa, há registos de presença desde o mar do Norte até ao Medi- terrâneo, estando ausente no mar Negro. Globalmente, estima-se que a densidade populacional seja baixa, devido à raridade dos avistamentos. Distribuição em Portugal A falsa-orca é avistada principal- mente nas águas dos Açores e da Madeira, havendo também alguns registos em águas continentais mais profundas. É provavelmente um visi- tante ocasional, não se conhecendo populações residentes, o que reflete a sua natureza nómada. Prioridades de investigação Existe muito pouca informação relativa a esta espécie, pelo que é prioritária a recolha de informação de base, como as áreas preferenciais de ocorrência e estudos de nicho ecoló- gico. Bibliografia Chivers et al. (2007), Kitchener et al. (1990), Silva et al. (2011) Cetáceos 177 Fonte: IUCN (2019) Pseudorca crassidens Nº de quadrículas com registos: Regiões costeiras (10 km x 10 km) 128 Regiões oceânicas (0,5º x 0,5º) 73 Quadrículas costeiras: 10x10 km2 Quadrículas oceânicas: 0,5ºx0,5º Atlas de Mamíferos de Portugal 178 Globicephala sp. Baleia-piloto Calderón, Pilot whale Marc Fernández Origem Categoria IUCN Categoria LVVP Regular/Ocasional DD LC / LC / DD Esta ficha agrupa as espécies Globicephala macrorhynchus (Gray, 1846) e G. melas (Traill, 1809). Ecologia As duas espécies de baleia-pi- loto (ou peixe-boi) são diferenciadas pelas dimensões do crânio e pelo comprimento das barbatanas peito- rais, sendo estas mais longas em G. melas. É por isso bastante difícil dis- tinguir entre as duas espécies durante as observações no mar. São espé- cies gregárias e nómadas e seguem populações de lulas, que constituem a maior parte da sua alimentação. Estão entre as espécies para as quais ocorrem arrojamentos em massa com elevada frequência. Distribuição global As baleias-piloto distribuem-se por todos os oceanos, sendo que G. macrorhynchus tem uma distribuição mais tropical, enquanto que G. melas tem uma distribuição anti-tropical. Na Europa, G. melas é observada geralmente no Mediterrâneo Oeste e no Atlântico Norte, enquanto que G. macrorhynchus é mais avistada no Atlântico temperado e sul. Distribuição em Portugal Estas espécies são observadas com mais frequência nas águas da Madeira e dos Açores, sendo também regulares em águas profundas do con- tinente. Em águas costeiras continen- tais, são observadas apenas espo- radicamente. A maioria dos registos são atribuídos a G. macrorhynchus, embora não se possa excluir a pre- sença de G. melas, principalmente nos Açores. Prioridades de investigação As baleias-piloto não formam populações residentes com frequên- cia, embora exista uma população de cerca de 140 indivíduos associada à Madeira. É importante procurar iden- tificar áreas preferenciais para cada uma das espécies, que poderão ser facilmente distinguidas através de análises genéticas. Estas espécies são também afetadas por morbilivírus no Mediterrâneo, apesar de existi- rem poucos estudos patológicos em águas nacionais. Bibliografia Alves et al. (2013a, b, 2015a), de Stephanis et al. (2008), Fullard et al. (2000), Monteiro et al. (2015, 2016c, 2017), Prieto & Fernandes (2007), Santos et al. (2013) Cetáceos 179 Fonte: IUCN (2019) Globicephala sp. Nº de quadrículas com registos: Regiões costeiras (10 km x 10 km) 216 Regiões oceânicas (0,5º x 0,5º) 104 Quadrículas costeiras: 10x10 km2 Quadrículas oceânicas: 0,5ºx0,5º Atlas de Mamíferos de Portugal 180 Orcinus orca (Linnaeus, 1758) Orca Orca, Killerwhale Dália Neves, Cape Cruiser Origem Categoria IUCN Categoria LVVP Regular/Ocasional DD DD / DD / DD Ecologia A orca (ou roaz-de-bandeira) é a maior espécie de golfinho, sendo um predador de topo no meio marinho. Alimenta-se de uma grande varie- dade de presas, nomeadamente pei- xes, cefalópodes, tubarões, focas, e outros cetáceos, incluindo grandes baleias. Em alguns locais tende a for- mar grupos familiares coesos, consti- tuídos por uma fêmea matriarca e os seus descendentes. Distribuição global Esta espécie distribui-se por todos os oceanos do mundo, mas a sua abundância varia de região para região. Na Europa é avistada com frequência na Noruega, Islândia e estreito de Gibraltar. Segue as migra- ções de diferentes peixes, nomea- damente o arenque nas regiões do Atlântico Norte, e o atum no Mediter- râneo. Distribuição em Portugal A orca é avistada em águas nacio- nais ocasionalmente, mas de forma regular. É também avistada regu- larmente nos Açores e na Madeira, assim como na costa do Algarve durante os meses de junho e julho. Tem sido também avistada na costa Oeste continental, principalmente em águas oceânicas, onde interage com barcos palangreiros. Prioridades de investigação Pensa-se que as orcas avistadas na costa continental possam per- tencer ao mesmo grupo que migra anualmente para o estreito de Gibral- tar, dada a comparação com catálo- gos de foto-identificação, apesar de não existirem estudos publicados. A origem dos indivíduos avistados poderia ser determinada através de foto-identificação ou análise gené- tica, particularmente importante para os indivíduos que interagem com a atividade pesqueira. Bibliografia Esteban et al. (2013), Filatova et al. (2015), Matthews et al. (2011), Moura et al. (2014a, b), Samarra et al. (2015, 2017a, b), Silva et al. (2002) Cetáceos 181 Fonte: IUCN (2019) Orcinus orca Nº de quadrículas com registos: Regiões costeiras (10 km x 10 km) 60 Regiões oceânicas (0,5º x 0,5º) 50 Quadrículas costeiras: 10x10 km2 Quadrículas oceânicas: 0,5ºx0,5º Atlas de Mamíferos de Portugal 182 Phocoena phocoena (Linnaeus, 1758) Boto Marsopa común, Harbour porpoise André E. Moura Origem Categoria IUCN Categoria LVVP Nativa/Residente LC NC / NC / VU Ecologia O boto (ou toninha-comum) é nor- malmente encontrado em águas cos- teiras pouco profundas, embora haja registos isolados em águas oceâ- nicas. Vive em pequenos grupos, alimentando-se principalmente de peixes bentónicos. Possui um carác- ter tímido, evitando aproximar-se de embarcações, o que torna difícil a sua observação no mar. Distribuição global Esta espécie distribui-se maiori- tariamente em regiões temperadas e polares do Pacífico Norte e Atlân- tico Norte, embora possa também ser encontrada na costa de África até à Mauritânia. Na Europa, é particular- mente comum no mar do Norte e no mar Negro, estando ausente no Medi- terrâneo e sendo raro no mar Báltico. Distribuição em Portugal O boto distribui-se quase exclu- sivamente na costa continental em águas pouco profundas, embora haja registos individuais de arrojamentos nos Açores e na Madeira. Devido ao seu comportamento tímido, não é possível determinar se ocorre em certas regiões com maior abundân- cia, mas análises genéticas indicam a existência de uma única população ibérica. Assim, a escassez de regis- tos neste atlas provavelmente reflete mais o seu carácter tímido do que uma baixa abundância desta espécie. Prioridades de investigação Devido à sua distribuição cos- teira, esta espécie é particularmente vulnerável a perturbações ambien- tais locais. É também uma espécie prioritária na União Europeia dentro da Directiva Habitats. É prioritário compreender os seus padrões sazo- nais, assim como potenciais áreas de ocupação preferencial. Face à dificuldade em observar esta espécie no mar, métodos de deteção acústica são particularmente úteis para identi- ficar a presença destes animais. Bibliografia Barreiros et al. (2006), Ferreira et al. (2016), Fontaine et al. (2014), Tolley et al. (2001) Cetáceos 183 Fonte: IUCN (2019) Phocoena phocoena Nº de quadrículas com registos: Regiões costeiras (10 km x 10 km) 18 Regiões oceânicas (0,5º x 0,5º) 16 Quadrículas costeiras: 10x10 km2 Quadrículas oceânicas: 0,5ºx0,5º Atlas de Mamíferos de Portugal 184 Ziphius cavirostris G Cuvier, 1823 Zífio Zifio de Cuvier, Cuvier’s beaked whale Emmanuel Baltasar Origem Categoria IUCN Categoria LVVP Regular/Ocasional LC DD / DD / DD Ecologia Muito pouco é conhecido sobre o zífio (também chamado bico-de- -garrafa), assim como sobre outras baleias-de-bico da família Ziphiidae. Pensa-se que sejam maioritaria- mente oceânicas e parecem evitar a proximidade de embarcações, pelo que são avistadas apenas ocasio- nalmente e por pouco tempo. O zífio é geralmente observado em grupos pequenos e pensa-se que seja um caçador oportunista, alimentando-se de lulas e peixes. Distribuição global Existem registos de zífio em todos os oceanos do planeta, mas os seus padrões de abundância são pouco conhecidos. É observado em todas as águas europeias, e é a baleia-de- -bico mais comum no Mediterrâneo. Distribuição em Portugal O zífio ocorre com regularidade em todas as águas nacionais, sendo observado com mais frequência em águas longe da linha costeira. Rara- mente é observado em águas pouco profundas, ocorrendo perto da linha costeira em ambos os arquipélagos. Prioridades de investigação Dada a escassez de avistamen- tos, esta espécie é demasiado rara perto da costa para viabilizar qual- quer tipo de estudo sistemático. No entanto, existem registos oceânicos suficientes para permitir estudos de nicho ecológico e habitat preferencial. Bibliografia Covelo et al. (2016), Dalebout et al. (2005), Gerard (2013), MacLeod et al. (2006) Cetáceos 185 Fonte: IUCN (2019) Ziphius cavirostris Nº de quadrículas com registos: Regiões costeiras (10 km x 10 km) 86 Regiões oceânicas (0,5º x 0,5º) 104 Quadrículas costeiras: 10x10 km2 Quadrículas oceânicas: 0,5ºx0,5º Atlas de Mamíferos de Portugal 186 Hyperoodon ampullatus (Forster, 1770) Botinhoso Zifio calderón boreal, Northern bottlenose whale Karin Hartman Origem Categoria IUCN Categoria LVVP Regular/Ocasional DD DD / NC / NC Ecologia O botinhoso (ou grampa) é uma das espécies de baleia-de-bico mais comuns no Atlântico Norte. É encon- trado maioritariamente em zonas de grande profundidade, muitas vezes em zonas de declive acentuado, e alimenta-se essencialmente de lulas. Pode ser encontrado em grupos pequenos, executando mergulhos profundos com frequência. Tem ten- dência a aproximar-se de embarca- ções, e foi alvo comum da indústria baleeira. Distribuição global Esta espécie distribui-se exclu- sivamente no Atlântico Norte. Existe uma população bem conhecida no canhão de Gully, ao largo da Nova Escócia. Na Europa, é mais frequen- temente observada na Islândia, na Noruega e nas ilhas Faroé, com avis- tamentos ocasionais no Mediterrâ- neo. Distribuição em Portugal O botinhoso é encontrado maio- ritariamente nos Açores, sendo esta também uma das áreas no Atlântico Norte onde a espécie é mais frequen- temente avistada. Existem avista- mentos raros na Madeira, e ocasio- nais na costa continental, geralmente em águas mais profundas. Prioridades de investigação Os Açores são uma área priori- tária, dada a sua importância para esta espécie a nível internacional. A monitorização desta espécie é par- ticularmente importante em termos de conservação, tendo em conta a sua ocorrência exclusiva no Atlântico Norte e a elevada pressão baleeira que sofreu no passado. Bibliografia Fernández et al. (2014), Ferreira et al. (2017), Gerard (2013), Whitehead & Hooker (2012) Cetáceos 187 Fonte: IUCN (2019) Hyperoodon ampullatus Nº de quadrículas com registos: Regiões costeiras (10 km x 10 km) 122 Regiões oceânicas (0,5º x 0,5º) 77 Quadrículas costeiras: 10x10 km2 Quadrículasoceânicas: 0,5ºx0,5º Atlas de Mamíferos de Portugal 188 Mesoplodon sp. Baleia-de-bico Zifio, Beaked whale Stephanie Almeida Origem Categoria IUCN Categoria LVVP Raro DD NC / NC / NC Esta ficha agrupa as espécies Mesoplodon densirostris (Blainville, 1817), M. bidens (Sowerby, 1804), M. europaeus (Gervais, 1855) e M. mirus (True, 1913). Ecologia Muito pouco é conhecido sobre as espécies do género Mesoplodon que ocorrem no Atlântico. Sabe-se que são quase exclusivamente oceâni- cas e extremamente crípticas, sendo notórias por evitarem as embarca- ções. Os estudos de ecologia são insuficientes para determinar diferen- ças entre espécies, mas pensa-se que se alimentam maioritariamente de lulas e, ocasionalmente, de peixes. Distribuição global A distribuição destas espécies é inferida principalmente através de arrojamentos, havendo, portanto, grande incerteza. M. densirostris é registada em águas pantropicais de todo o planeta, enquanto que as res- tantes três espécies são exclusivas do Atlântico. Julga-se que M. euro- paeus habita águas tropicais e tem- peradas, enquanto que M. bidens e M. mirus habitam águas temperadas e frias. Distribuição em Portugal Neste atlas, todos os registos de Mesoplodon spp. foram incluídos no mesmo mapa. Tal deve-se ao facto de os seus avistamentos serem bas- tante raros, e a sua distinção no mar bastante difícil. A principal diferença morfológica é a posição e tamanho dos dois únicos dentes visíveis. A maioria dos avistamentos são identi- ficados como M. densirostris, mas é frequentemente impossível identificar a espécie com confiança. Os den- tes são visíveis apenas nos machos adultos, pelo que as fêmeas e juvenis ou sub-adultos podem ser facilmente confundidos. A maioria dos registos são obtidos em águas oceânicas, sendo mais frequentes nos Açores, e regulares na Madeira. Prioridades de investigação Sendo escassa a informação dis- ponível, as espécies deste género devem ser consideradas demasiado raras para viabilizar qualquer tipo de estudo sistemático. Apesar disso, a análise morfológica e/ou genética de arrojamentos poderá ajudar a cla- rificar padrões de distribuição e de abundância relativa. Bibliografia Aguilar de Soto et al. (2017), Dinis et al. (2017), MacLeod (2000), MacLeod et al. (2006), Pereira et al. (2011) Cetáceos 189 Fonte: IUCN (2019) Mesoplodon sp. Nº de quadrículas com registos: Regiões costeiras (10 km x 10 km) 223 Regiões oceânicas (0,5º x 0,5º) 103 Quadrículas costeiras: 10x10 km2 Quadrículas oceânicas: 0,5ºx0,5º Atlas de Mamíferos de Portugal 190 Kogia sp. Cachalote-pigmeu / anão Cachalote pigmeo / enano, Pigmy / dwarf sperm whale Filipe Alves Origem Categoria IUCN Categoria LVVP Regular/Raro DD NC / DD / DD Esta ficha agrupa as espécies Kogia breviceps (Blainville, 1838) e K. sima (Owen, 1866). Ecologia As espécies do género Kogia são maioritariamente oceânicas, onde se crê que se alimentam a grandes profundidades. Vivem em pequenos grupos e são notoriamente furtivas, provavelmente evitando o contacto com embarcações. Como tal, pouco se conhece sobre a ecologia destes animais. Distribuição global Distribuídas em águas tropicais e temperadas de todo o mundo, desco- nhece-se qual a distribuição exata de cada uma das espécies. Especula-se que K. sima prefira águas mais quen- tes, havendo, no entanto, registos desta espécie nas ilhas Faroé. Distribuição em Portugal Os registos de Kogia spp. são raros em todas as águas nacionais, tanto nos arquipélagos como no continente. É particularmente difícil distinguir as duas espécies no mar. Os arrojamentos são normalmente atribuídos a K. breviceps, embora existam casos confirmados de K. sima na Madeira. Tendo ainda em conta que a distribuição de K. sima é pouco conhecida, não será de excluir a possibilidade de esta espécie ocor- rer também em águas nacionais de forma mais extensa. Prioridades de investigação Estas espécies parecem ser demasiado raras para viabilizar qual- quer tipo de estudo sistemático. No entanto, a identificação rigorosa da espécie em arrojamentos, através de análise morfológica e/ou gené- tica, poderia contribuir para clarificar os padrões de distribuição das duas espécies. Bibliografia Chivers et al. (2005), Erwin et al. (2017), Santos et al. (2006a), Staudinger et al. (2014) Cetáceos 191 Fonte: IUCN (2019) Kogia sp. Nº de quadrículas com registos: Regiões costeiras (10 km x 10 km) 20 Regiões oceânicas (0,5º x 0,5º) 10 Quadrículas costeiras: 10x10 km2 Quadrículas oceânicas: 0,5ºx0,5º Atlas de Mamíferos de Portugal 192 Physeter macrocephalus Linnaeus, 1758 Cachalote Cachalote, Sperm whale Marc Fernández Origem Categoria IUCN Categoria LVVP Nativa/Residente VU VU / VU / NC Ecologia O cachalote é uma espécie maioritariamente oceânica que se alimenta quase exclusivamente de lulas, incluindo várias espécies de lulas gigantes. São mergulhadores exímios, sendo capazes de descer a profundidades de vários quilóme- tros. É uma espécie social, formando grupos matrilineares compostos por fêmeas e as suas crias. Existem registos frequentes de arrojamentos em massa. Distribuição global Esta espécie pode ser encontrada em todos os oceanos do mundo, embora haja regiões onde é particu- larmente comum, regiões essas bem conhecidas dos antigos baleeiros. As fêmeas são geralmente encontradas em grupos sociais em águas tropi- cais, enquanto que os machos vivem isolados, fazendo migrações para as regiões polares durante o inverno. Pode, no entanto, haver exceções a este comportamento. Distribuição em Portugal O cachalote é maioritariamente avistado nos arquipélagos dos Aço- res e da Madeira. Os Açores, em particular, são há muito reconhecidos como um local de elevada frequência de ocorrência desta espécie. Em tem- pos desenvolveu-se uma atividade baleeira significativa, baseada nesta espécie, nos Açores e na Madeira. Na costa continental os avistamen- tos são menos frequentes, ocorrendo exclusivamente em águas profundas. Prioridades de investigação Dada a conhecida preferência dos cachalotes pelas águas dos Aço- res, deve dar-se prioridade a progra- mas de monitorização nessas águas, embora existam já projetos que têm vindo a monitorizar esta espécie com regularidade. Bibliografia Carpinelli et al. (2014), Engelhaupt et al. (2009), Lyrholm & Gyllensten (1998), Magalhães et al. (2002), Matthews et al. (2001), Pinela et al. (2009), Steiner et al. (2012), Vieira & Brito (2009), Walton et al. (2008) Cetáceos 193 Fonte: IUCN (2019) Physeter macrocephalus Nº de quadrículas com registos: Regiões costeiras (10 km x 10 km) 354 Regiões oceânicas (0,5º x 0,5º) 167 Quadrículas costeiras: 10x10 km2 Quadrículas oceânicas: 0,5ºx0,5º Atlas de Mamíferos de Portugal 194 Balaenoptera acutorostrata Lacépède, 1804 Baleia-anã Rorcual aliblanco, Common Minke whale André E. Moura Origem Categoria IUCN Categoria LVVP Nativa/Residente LC DD / NC / VU Ecologia A baleia-anã é observada tanto em águas oceânicas como costeiras. Por vezes aproxima-se bastante de embarcações podendo acompanhá- -las durante períodos substanciais. Embora seja maioritariamente solitá- ria, existem registos de agrupamen- tos de grandes dimensões. Alimenta- -se de peixes e crustáceos e é uma espécie bastante vocal, exibindo um reportório variado de vocalizações. Distribuição global A distribuição exacta desta espécie no Atlântico Norte é pouco conhecida, mas sabe-se que inicia a sua migração para regiões polares durante a primavera, migrando para zonas tropicais a partir do outono. Na Europa, é observada com frequên- cia em latitudes acima das Hébridas (Reino Unido) durante os meses de Verão. É observada no Mediterrâneo muito esporadicamente. Distribuição em Portugal Os avistamentos de baleia-anã ocorrem regularmente de forma oca- sional, principalmente em águas costeiras continentais. Existem tam- bém registos ocasionaisnos Açores, sendo a espécie considerada rara na Madeira. Prioridades de investigação A costa continental é onde esta espécie ocorre de forma mais regu- lar, podendo permitir análises mais robustas. A análise genética de arro- jamentos pode ajudar a perceber a proveniência dos indivíduos avista- dos na costa continental. Bibliografia Anderwald et al. (2011, 2012), Born et al. (2003), Quintela et al. (2014), Silva et al. (2002), Van Waerebeek et al. (1999) Cetáceos 195 Fonte: IUCN (2019) Balaenoptera acutorostrata Nº de quadrículas com registos: Regiões costeiras (10 km x 10 km) 99 Regiões oceânicas (0,5º x 0,5º) 102 Quadrículas costeiras: 10x10 km2 Quadrículas oceânicas: 0,5ºx0,5º Atlas de Mamíferos de Portugal 196 Balaenoptera borealis Lesson, 1828 Baleia-sardinheira Rorcual norteño, Sei whale Laura González Origem Categoria IUCN Categoria LVVP Regular/Sazonal EN EN / NC / NC Ecologia A sardinheira é uma espécie maioritariamente oceânica, que rea- liza migrações entre latitudes altas no Verão, e latitudes mais baixas no Inverno, embora as rotas exatas sejam pouco conhecidas. Alimen- ta-se principalmente de crustáceos planctónicos, embora possa também ingerir peixes e lulas. É observada normalmente em pequenos grupos, e foi alvo de grande pressão pela baleação industrial. Distribuição global A sardinheira é observada por todo o planeta, embora sejam raras as observações no oceano Índico Norte. Durante o Inverno, é particu- larmente comum na costa do Brasil, Perú, Angola e Congo. Na Europa, é observada com frequência em águas subpolares, e raramente no Mediter- râneo. Distribuição em Portugal Esta espécie é avistada com mais frequência nas águas dos Açores, e com menos frequência na Madeira. Na costa continental é avistada ape- nas raramente, e normalmente longe da linha costeira. Prioridades de investigação A região dos Açores é prioritária em termos de monitorização, já que a sardinheira é ali avistada com mais frequência, embora provavelmente durante a sua migração anual. Como tal, será de particular interesse com- parar as observações nos Açores com aquelas feitas noutras regiões do globo, para determinar zonas de origem e destino da migração. Bibliografia Olsen et al. (2009), Prieto et al. (2012, 2014), Romagosa et al. (2015), Skov et al. (2008) Cetáceos 197 Fonte: IUCN (2019) Balaenoptera borealis Nº de quadrículas com registos: Regiões costeiras (10 km x 10 km) 179 Regiões oceânicas (0,5º x 0,5º) 77 Quadrículas costeiras: 10x10 km2 Quadrículas oceânicas: 0,5ºx0,5º Atlas de Mamíferos de Portugal 198 Balaenoptera physalus (Linnaeus, 1758) Baleia-comum Rorcual común, Fin whale Laura González Origem Categoria IUCN Categoria LVVP Regular/Sazonal EN EN / EN / EN Ecologia A baleia-comum (ou finbeque) é uma das espécies de cetáceos de maiores dimensões. É maiorita- riamente oceânica e tem uma dieta variada de peixe e crustáceos planc- tónicos. Embora se pense que seja uma espécie migratória, as suas rotas são desconhecidas para o Atlân- tico Norte. Normalmente é avistada em pequenos grupos ou solitária. Embora seja uma das espécies mais velozes de grandes baleias, foi alvo de grande pressão baleeira industrial após a invenção do arpão de ponta explosiva. Distribuição global Esta espécie pode ser obser- vada em todos os oceanos do pla- neta, embora seja menos comum em regiões próximas das calotas polares. Na Europa, é observada com mais frequência em águas temperadas e no Mediterrâneo Oeste, onde existe uma população residente genetica- mente distinta da do Atlântico. Distribuição em Portugal Esta espécie ocorre maioritaria- mente em águas oceânicas, sendo observada com relativa frequência perto da linha costeira nos Açores. É também observada na Madeira, e raramente perto da linha costeira continental, sendo mais frequente em águas mais profundas. Prioridades de investigação A região dos Açores, onde a baleia-comum é avistada com mais frequência, é prioritária em termos de monitorização. Será de particular inte- resse a determinação de padrões de residência, para comparar com dados provenientes de outras regiões, com vista à determinação de potenciais rotas migratórias. Bibliografia Bérubé et al. (1998), Castellote et al. (2012a, b), Edwards et al. (2015), Harris et al. (2013), Mellinger et al. (2014), Whooley et al. (2011) Cetáceos 199 Fonte: IUCN (2019) Balaenoptera physalus Nº de quadrículas com registos: Regiões costeiras (10 km x 10 km) 188 Regiões oceânicas (0,5º x 0,5º) 98 Quadrículas costeiras: 10x10 km2 Quadrículas oceânicas: 0,5ºx0,5º Atlas de Mamíferos de Portugal 200 Balaenoptera musculus (Linnaeus, 1758) Baleia-azul Rorcual azul, Blue whale Laura González Origem Categoria IUCN Categoria LVVP Regular/Sazonal EN EN / NC / NC Ecologia A baleia-azul é o maior dos cetá- ceos conhecidos, e talvez o maior animal que alguma vez existiu no planeta. Espécie maioritariamente oceânica, pode ser encontrada perto de costa em algumas regiões. Ali- menta-se maioritariamente de krill e é frequentemente observada solitária ou aos pares. Devido ao seu grande tamanho e velocidade relativamente lenta, foi uma das espécies que mais pressão sofreu na era da baleação industrial. Distribuição global Esta espécie pode ser encontrada em todos os oceanos do planeta, embora seja mais comum em algu- mas regiões, dependendo da época do ano (por exemplo, na costa do Chile durante o Verão). Na Europa, é mais comum nas costas da Islândia e no estreito da Dinamarca, e está ausente do Mediterrâneo. Pensa-se que estaria mais amplamente distri- buída antes de ser alvo da baleação industrial. A sua abundância atual é bastante reduzida. Distribuição em Portugal A baleia-azul é avistada maiorita- riamente nos Açores, embora apenas sazonalmente. Estas observações provavelmente refletem rotas de migração anuais ao longo da Crista Média Atlântica até à Islândia. É rara- mente avistada na Madeira e na costa continental. Prioridades de investigação A região dos Açores, de onde pro- vém a maioria dos avistamentos, é prioritária em termos de investigação. O facto de este arquipélago provavel- mente fazer parte da rota migratória desta espécie torna importante com- parar as observações com dados de outras regiões, para determinação de zonas de origem e destino da migra- ção. Bibliografia Baines et al. (2017), Mellinger & Clark (2003), Pike et al. (2009), Prieto et al. (2017), Reeves et al. (2004) Cetáceos 201 Fonte: IUCN (2019) Balaenoptera musculus Nº de quadrículas com registos: Regiões costeiras (10 km x 10 km) 99 Regiões oceânicas (0,5º x 0,5º) 48 Quadrículas costeiras: 10x10 km2 Quadrículas oceânicas: 0,5ºx0,5º Atlas de Mamíferos de Portugal 202 Balaenoptera edeni Anderson, 1878 Baleia-de-Bryde Rorcual tropical, Bryde’s whale Filipe Alves Origem Categoria IUCN Categoria LVVP Raro DD NC / NC / NC Ecologia Esta espécie é maioritariamente oceânica, embora existam popu- lações costeiras bem conhecidas, como a da costa oeste da África do Sul. Alimenta-se principalmente de peixe, embora também ingira ocasio- nalmente crustáceos planctónicos. A designação de baleia-de-Bryde poderá ter sido atribuída a várias espécies diferentes, pelo que muita da informação sobre a sua ecologia pode não ser fiável. De forma geral, conhece-se pouco sobre esta espé- cie. Distribuição global A baleia-de-Bryde distribui-se principalmente em águas tropicais e temperadas do planeta. Embora se pense que segue um padrão de migração semelhante aos de outras baleias-de-barbas de grandes dimen- sões, as suas rotas são desconheci- das. Em algumas regiões pode ser observada durante todo o ano, como no Golfo da Califórnia. É relativa- mente rara na Europa, devido à sua distribuição essencialmente pantropi- cal. Distribuição em Portugal Dada a sua preferência por águas mais tropicais, esta espécie é avis- tada mais regularmentena Madeira. Há também vários registos nos Aço- res, embora esta região esteja locali- zada no extremo norte da distribuição global conhecida para esta espécie. Note-se que pode ser difícil a distin- ção entre esta espécie e a baleia- -sardinheira (B. borealis), quando são observadas no mar. São extrema- mente raras as observações na costa continental. Prioridades de investigação A região da Madeira, onde a espé- cie é observada com mais frequência, é prioritária em termos de investiga- ção, existindo já estudos de longa duração em curso. De uma forma geral, as observações desta espé- cie poderão estar a tornar-se mais frequentes, pelo que será importante manter um registo das ocorrências e analisar padrões temporais em águas nacionais de forma mais extensa. Bibliografia Alves et al. (2009), Steiner et al. (2008) Cetáceos 203 Fonte: IUCN (2019) Balaenoptera edeni Nº de quadrículas com registos: Regiões costeiras (10 km x 10 km) 74 Regiões oceânicas (0,5º x 0,5º) 23 Quadrículas costeiras: 10x10 km2 Quadrículas oceânicas: 0,5ºx0,5º Atlas de Mamíferos de Portugal 204 Megaptera novaeangliae (Borowski, 1781) Baleia-de-bossa Ballena jorobada, Humpback whale Laura González Origem Categoria IUCN Categoria LVVP Regular/Ocasional LC VU / NC / NC Ecologia A baleia-de-bossa (ou corcunda) é notória pelo seu comportamento marcadamente migratório, bem como pelas vocalizações complexas que executa principalmente durante a época de reprodução. Alimenta-se em latitudes elevadas, migrando para regiões tropicais onde se reproduz. A única excepção conhecida é uma população no Médio Oriente que não executa migrações, permanecendo residente. Distribuição global Esta espécie encontra-se distri- buída por todos os oceanos do pla- neta, embora populações do hemisfé- rio Norte executem rotas de migração independentes das de populações do hemisfério Sul. As rotas de migração são relativamente bem conhecidas, sendo que no Atlântico se conhecem áreas de reprodução em Cabo Verde e nas Caraíbas, com áreas de alimen- tação na Islândia, Noruega, Grone- lândia e Terra Nova. Fora das áreas de alimentação, a espécie é relativa- mente rara na Europa, embora exis- tam registos ocasionais. Distribuição em Portugal A baleia-de-bossa é observada regularmente nos Açores, mas ape- nas de forma sazonal, como ponto de passagem durante a migração anual. Existem registos individuais na Madeira, e a espécie já foi obser- vada na costa continental, mas estas observações são eventos excepcio- nais. Prioridades de investigação Deverá dar-se prioridade à moni- torização de indivíduos avistados nos Açores, no sentido de determinar as zonas de origem e/ou destino da migração. Esta informação poderá ser obtida através de foto-identifica- ção de barbatanas caudais, ou atra- vés de análises genéticas. Bibliografia Darling et al. (2006), Smith & Reeves (2010), Stevick et al. (2003a, b, 2006), Wenzel et al. (2009) Cetáceos 205 Fonte: IUCN (2019) Megaptera novaeangliae Nº de quadrículas com registos: Regiões costeiras (10 km x 10 km) 67 Regiões oceânicas (0,5º x 0,5º) 29 Quadrículas costeiras: 10x10 km2 Quadrículas oceânicas: 0,5ºx0,5º
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