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Direito da Criança e Adolescente Aula 2

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Direito da Criança e Adolescente Aula 2
Introdução
A doutrina da proteção integral, regida pela Constituição de 1988, estabelece a necessidade de se respeitar os direitos das crianças e dos adolescentes, lembrando que são pessoas em desenvolvimento, sujeitos de direito, e que, portanto, também possuem um conjunto de direitos fundamentais. Assim, com essa nova doutrina, as crianças e os adolescentes ganham um novo status, como sujeitos de direitos e não mais apenas como menores objetos de repressão, em situação irregular, abandonados ou delinquentes. Percebemos, então, a importância de proteger os menores, bem como de garantir seu desenvolvimento regular e saudável.
Ante o exposto, iniciaremos com o estudo da política de atendimento e das medidas de proteção, essenciais para garantir a preservação dos direitos dos menores. Posteriormente, trataremos dos atos infracionais relacionados aos menores que praticam condutas ilícitas, mas que, apesar disso, merecem atenção especial. Por fim, trataremos das medidas aplicáveis aos pais, que têm, em regra, o objetivo de buscar a recuperação daqueles responsáveis pela criação dos menores.
Módulo 1 = Medidas de Proteção e políticas de atendimento
Distinguir as medidas de proteção e políticas de atendimento.
Política de atendimento
Política de atendimento e entidades
O professor Edison Burlamaqui discorre sobre o que é a política de atendimento e sobre as entidades de atendimento.
Definição
A Política de atendimento é o conjunto de medidas, ações e programas, públicos e privados, direcionados ao atendimento de crianças e adolescentes.
Segundo o artigo 204 da Constituição Federal, as ações governamentais na área da assistência social devem ser realizadas com recursos do orçamento da seguridade social, além de outras fontes, e organizadas com base nas seguintes diretrizes:
· Participação da população
A população formula políticas e controla as ações por meio de organizações representativas.
· Descentralização político-administrativa
A coordenação e as normas gerais são de competência federal enquanto a coordenação e a execução dos programas são de competência estadual e municipal e das entidades beneficentes e de assistência social.
A Constituição adota o modelo de descentralização político-administrativa, com participação dos entes estaduais e municipais, sendo tal previsão considerada mais eficiente, pois os entes menores têm melhores condições de identificar as necessidades e as ações a serem tomadas.
Linhas de Ação
Segundo o artigo 86 e 87 do ECA, a política de atendimento dos direitos da criança e do adolescente far-se-á por meio de um conjunto articulado de ações governamentais e não governamentais, da União, dos estados, do Distrito Federal e dos municípios, possuindo as seguintes linhas de ação:
I. Políticas sociais básicas;
II. Serviços, programas, projetos e benefícios de assistência social de garantia de proteção social e de prevenção e redução de violações de direitos, seus agravamentos ou reincidências;
III. Serviços especiais de prevenção e atendimento médico e psicossocial às vítimas de negligência, maus-tratos, exploração, abuso, crueldade e opressão;
IV. Serviço de identificação e localização de pais, responsável, crianças e adolescentes desaparecidos;
V. Proteção jurídico-social por entidades de defesa dos direitos da criança e do adolescente;
VI. Políticas e programas destinados a prevenir ou abreviar o período de afastamento do convívio familiar e a garantir o efetivo exercício do direito à convivência familiar de crianças e adolescentes;
VII. Campanhas de estímulo ao acolhimento sob forma de guarda de criança e adolescentes afastados do convívio familiar e à adoção, especificamente inter-racial, de crianças maiores ou de adolescentes, com necessidades específicas de saúde ou com deficiências e de grupos de irmãos.
Diretrizes
O artigo 88 do ECA, por sua vez, estabelece as diretrizes da política de atendimento, tudo em consonância com aquelas estabelecidas na Constituição Federal. São elas:
I. municipalização do atendimento;
II. criação de conselhos municipais, estaduais e nacional dos direitos da criança e do adolescente, órgãos deliberativos e controladores das ações em todos os níveis, assegurada a participação popular paritária por meio de organizações representativas;
III. criação e manutenção de programas específicos, observada a descentralização político-administrativa;
IV. manutenção de fundos nacional, estaduais e municipais vinculados aos respectivos conselhos dos direitos da criança e do adolescente;
V. integração operacional de órgãos do Judiciário, Ministério Público, Defensoria, Segurança Pública e Assistência Social, preferencialmente em um mesmo local, para efeito de agilização do atendimento inicial a adolescente a quem se atribua autoria de ato infracional;
VI. integração operacional de órgãos do Judiciário, Ministério Público, Defensoria, Conselho Tutelar e encarregados da execução das políticas sociais básicas e de assistência social, para efeito de agilização do atendimento de crianças e de adolescentes inseridos em programas de acolhimento familiar ou institucional, com vista na sua rápida reintegração à família de origem ou, se tal solução se mostrar comprovadamente inviável, sua colocação em família substituta;
VII. mobilização da opinião pública para a indispensável participação dos diversos segmentos da sociedade;
VIII. especialização e formação continuada dos profissionais que trabalham nas diferentes áreas da atenção à primeira infância, incluindo os conhecimentos sobre direitos da criança e sobre desenvolvimento infantil;
IX. formação profissional com abrangência dos diversos direitos da criança e do adolescente que favoreça a intersetorialidade no atendimento da criança e do adolescente e seu desenvolvimento integral;
X. realização e divulgação de pesquisas sobre desenvolvimento infantil e sobre prevenção da violência.
Adicionalmente, destaca-se que o ECA estabelece que a função de membro do conselho nacional e dos conselhos estaduais e municipais dos direitos da criança e do adolescente é considerada de interesse público relevante e não será remunerada.
Entidades de atendimento
Disposições gerais
As entidades de atendimento integram-se à rede local pelo tipo ou tipos de regimes de atendimento por elas praticados na implementação das medidas protetivas ou socioeducativas estabelecidas no ECA.
O regime de atendimento é, portanto, o elemento determinante da natureza de uma entidade de atendimento. Assim sendo, ele se torna o critério essencial da organização, da estrutura e do funcionamento de uma unidade de atendimento. Dessa forma, uma entidade de atendimento é uma pessoa jurídica que pode implementar um ou mais programas de atendimento.
De acordo com o artigo 90 do ECA, as entidades de atendimento são responsáveis pela manutenção das próprias unidades, assim como pelo planejamento e execução de programas de proteção e socioeducativos destinados a crianças e adolescentes, em regime de:
I. orientação e apoio sócio-familiar;
II. apoio socioeducativo em meio aberto;
III. colocação familiar;
IV. acolhimento institucional;
V. prestação de serviços à comunidade;
VI. liberdade assistida;
VII. semiliberdade;
VIII. internação.
Tais entidades, governamentais e não governamentais, deverão proceder à inscrição de seus programas, especificando os regimes de atendimento no conselho municipal dos direitos da criança e do adolescente, o qual manterá registro das inscrições e de suas alterações, do que fará comunicação ao conselho tutelar e à autoridade judiciária.
Importante destacar que os programas em execução serão reavaliados, no máximo, a cada dois anos, constituindo-se critérios para renovação da autorização de funcionamento:
O cumprimento ao ECA e às resoluções dos Conselhos de Direitos da Criança e do Adolescente sobre a modalidade de atendimento prestado.
Os índices de sucesso na reintegração familiar ou de adaptação à família substituta, nos programas de acolhimento institucional ou familiar.
A qualidadee eficiência do trabalho realizado, que devem ser atestadas pelo Conselho Tutelar, Ministério Público e pela Justiça da Infância e da Juventude.
Segundo o artigo 91 do ECA:
“As entidades não governamentais, por sua vez, somente poderão funcionar depois de registradas no Conselho Municipal dos Direitos da Criança e do Adolescente, o qual comunicará o registro ao Conselho Tutelar e à autoridade judiciária da respectiva localidade.”
Ressalta-se que não será concedido o registro à entidade que não ofereça instalações físicas em condições adequadas de habitabilidade, higiene, salubridade e segurança; não apresente plano de trabalho compatível com os princípios do ECA; esteja irregularmente constituída; tenha em seus quadros pessoas inidônea; e não se adequar ou deixar de cumprir as resoluções e deliberações relativas à modalidade de atendimento prestado expedidas pelos Conselhos de Direitos da Criança e do Adolescente, em todos os níveis.
O registro, por sua vez, terá validade máxima de 4 (quatro) anos, cabendo ao Conselho Municipal dos Direitos da Criança e do Adolescente, periodicamente, reavaliar o cabimento de sua renovação.
Princípios e obrigações
Importante apontar que o artigo 92 do ECA estabelece que as entidades que desenvolvam programas de acolhimento familiar ou institucional deverão adotar os seguintes princípios:
I. preservação dos vínculos familiares e promoção da reintegração familiar;
II. integração em família substituta, quando esgotados os recursos de manutenção na família natural ou extensa;
III. atendimento personalizado e em pequenos grupos;
IV. desenvolvimento de atividades em regime de coeducação;
V. não desmembramento de grupos de irmãos;
VI. evitar, sempre que possível, a transferência para outras entidades de crianças e adolescentes abrigados;
VII. participação na vida da comunidade local;
VIII. preparação gradativa para o desligamento;
IX. participação de pessoas da comunidade no processo educativo.
O mesmo dispositivo legal estabelece que o dirigente de entidade que desenvolve programa de acolhimento institucional é equiparado ao guardião, para todos os efeitos de direito, bem como os dirigentes de entidades que desenvolvem programas de acolhimento familiar ou institucional remeterão à autoridade judiciária, no máximo a cada 6 (seis) meses, relatório circunstanciado acerca da situação de cada criança ou adolescente acolhido e sua família, para fins da reavaliação.
Da mesma forma, o ECA determina que, salvo determinação em contrário da autoridade judiciária competente, as entidades que desenvolvem programas de acolhimento familiar ou institucional, se necessário com o auxílio do Conselho Tutelar e dos órgãos de assistência social, estimularão o contato da criança ou adolescente com seus pais e parentes.
Saiba mais
O artigo 93 do ECA ainda estabelece que as entidades que mantenham programa de acolhimento institucional poderão, em caráter excepcional e de urgência, acolher crianças e adolescentes sem prévia determinação da autoridade competente, fazendo comunicação do fato em até 24 (vinte e quatro) horas ao juiz da infância e da juventude, sob pena de responsabilidade.
O artigo 94 do ECA, por sua vez, estabelece que as entidades que desenvolvem programas de internação têm as seguintes obrigações:
I. observar os direitos e garantias de que são titulares os adolescentes;
II. não restringir nenhum direito que não tenha sido objeto de restrição na decisão de internação;
III. oferecer atendimento personalizado, em pequenas unidades e grupos reduzidos;
IV. preservar a identidade e oferecer ambiente de respeito e dignidade ao adolescente;
V. diligenciar no sentido do restabelecimento e da preservação dos vínculos familiares;
VI. comunicar à autoridade judiciária, periodicamente, os casos em que se mostre inviável ou impossível o reatamento dos vínculos familiares;
VII. oferecer instalações físicas em condições adequadas de habitabilidade, higiene, salubridade e segurança e os objetos necessários à higiene pessoal;
VIII. oferecer vestuário e alimentação suficientes e adequados à faixa etária dos adolescentes atendidos;
IX. oferecer cuidados médicos, psicológicos, odontológicos e farmacêuticos;
X. propiciar escolarização e profissionalização;
XI. propiciar atividades culturais, esportivas e de lazer;
XII. propiciar assistência religiosa àqueles que desejarem, de acordo com suas crenças;
XIII. proceder a estudo social e pessoal de cada caso;
XIV. reavaliar periodicamente cada caso, com intervalo máximo de seis meses, dando ciência dos resultados à autoridade competente;
XV. informar, periodicamente, o adolescente internado sobre sua situação processual;
XVI. comunicar às autoridades competentes todos os casos de adolescentes portadores de moléstias infectocontagiosas;
XVII. fornecer comprovante de depósito dos pertences dos adolescentes;
XVIII. manter programas destinados ao apoio e acompanhamento de egressos;
XIX. providenciar os documentos necessários ao exercício da cidadania àqueles que não os tiverem;
XX. manter arquivo de anotações onde constem data e circunstâncias do atendimento, nome do adolescente, seus pais ou responsável, parentes, endereços, sexo, idade, acompanhamento da sua formação, relação de seus pertences e demais dados que possibilitem sua identificação e a individualização do atendimento.
Atenção!
As entidades, públicas ou privadas, que abriguem ou recepcionem crianças e adolescentes devem ter em seus quadros profissionais capacitados a reconhecer e reportar ao Conselho Tutelar suspeitas ou ocorrências de maus-tratos.
Fiscalização
As entidades governamentais e não governamentais serão fiscalizadas pelo Judiciário, pelo Ministério Público e pelos Conselhos Tutelares. Importante acrescentar a esse rol a Defensoria Pública, que possui legitimidade para atuar na tutela de direitos individuais e coletivos dos hipossuficientes.
Dessa forma, o artigo 97 do ECA estabelece as seguintes medidas aplicáveis às entidades de atendimento que descumprirem suas obrigações, sem prejuízo da responsabilidade civil e criminal de seus dirigentes ou prepostos:
I – ÀS ENTIDADES GOVERNAMENTAIS
· advertência;
· afastamento provisório de seus dirigentes;
· afastamento definitivo de seus dirigentes;
· fechamento de unidade ou interdição de programa.
II - ÀS ENTIDADES NÃO GOVERNAMENTAIS
· advertência;
· suspensão total ou parcial do repasse de verbas públicas;
· interdição de unidades ou suspensão de programa;
· cassação do registro.
Importante destacar que as pessoas jurídicas de direito público e as organizações não governamentais responderão pelos danos que seus agentes causarem às crianças e aos adolescentes, caracterizado o descumprimento dos princípios norteadores das atividades de proteção específica.
Medidas de proteção
Disposições gerais das medidas de proteção
As medidas de proteção são aplicáveis às crianças e aos adolescentes em situação de risco e às crianças que cometem ato infracional. A situação de risco, por sua vez, ocorre nas hipóteses em que os direitos da criança ou do adolescente estão ameaçados ou já foram violados. Dessa forma, o objetivo das medidas de proteção é exatamente sanar a violação do direito ou impedir que tal ocorra.
O artigo 98 do ECA estabelece que as medidas de proteção à criança e ao adolescente são aplicáveis sempre que os seus direitos forem ameaçados (tutela preventiva) ou violados (tutela protetiva):
· Em razão de sua conduta
· Por ação ou omissão da sociedade ou do Estado
· Por falta, omissão ou abuso dos pais ou responsável.
Desse modo, é possível perceber que a sociedade, os pais, o Estado e a própria criança ou adolescente podem ser responsáveis por colocar os menores em situação de risco.
As medidas de proteção poderão ser aplicadas isolada ou cumulativamente, bem como substituídas a qualquer tempo. Na aplicação das medidas levar-se-ão em conta as necessidades pedagógicas, preferindo-se aquelas que visem ao fortalecimento dos vínculos familiares e comunitários.
Dessa forma, o objetivo do ECA é fortalecer os vínculos familiarese comunitários. Assim, a aplicação de medidas de proteção deve atender às necessidades pedagógicas da criança ou do adolescente, a fim de, justamente, fortalecer os vínculos e não os enfraquecer.
Medidas específicas de proteção
Com a finalidade de garantir maior proteção aos menores, o artigo 100 do ECA estabelece princípios que regem a aplicação das medidas de proteção. O artigo 101 do ECA, por sua vez, descrimina as espécies de medidas de proteção, sendo tal rol exemplificativo, podendo a autoridade judiciária estabelecer outras medidas que entender cabíveis. Essas medidas são:
I. encaminhamento aos pais ou responsável, mediante termo de responsabilidade;
II. orientação, apoio e acompanhamento temporários;
III. matrícula e frequência obrigatórias em estabelecimento oficial de ensino fundamental;
IV. inclusão em serviços e programas oficiais ou comunitários de proteção, apoio e promoção da família, da criança e do adolescente;
V. requisição de tratamento médico, psicológico ou psiquiátrico, em regime hospitalar ou ambulatorial;
VI. inclusão em programa oficial ou comunitário de auxílio, orientação e tratamento a alcoólatras e toxicômanos;
VII. acolhimento institucional;
VIII. inclusão em programa de acolhimento familiar; e
IX. inclusão em programa de acolhimento familiar; e
Importante destacar que o acolhimento institucional e o acolhimento familiar são medidas provisórias e excepcionais, utilizáveis como forma de transição para reintegração familiar ou, não sendo esta possível, para colocação em família substituta, não implicando privação de liberdade.
Deve-se pontuar que o afastamento da criança ou adolescente do convívio familiar é de competência exclusiva da autoridade judiciária e importará na deflagração, a pedido do Ministério Público ou de quem tenha legítimo interesse, de procedimento judicial contencioso, no qual se garanta aos pais ou ao responsável legal o exercício do contraditório e da ampla defesa.
O ECA estabelece ainda que, verificada a hipótese de maus-tratos, opressão ou abuso sexual impostos pelos pais ou responsável, a autoridade judiciária poderá determinar, como medida cautelar, o afastamento do agressor da moradia comum. Constará também a fixação provisória dos alimentos de que necessitem a criança ou o adolescente dependentes do agressor.
De tal medida cautelar constará, ainda, a fixação provisória dos alimentos de que necessitem a criança ou o adolescente dependentes do agressor.
Quanto ao local do acolhimento familiar, este ocorrerá no local mais próximo à residência dos pais ou do responsável, e, como parte do processo de reintegração familiar, sempre que identificada a necessidade, a família de origem será incluída em programas oficiais de orientação, de apoio e de promoção social, sendo facilitado e estimulado o contato com a criança ou com o adolescente acolhido. Verificada a possibilidade de reintegração familiar, o responsável pelo programa de acolhimento familiar ou institucional fará imediata comunicação à autoridade judiciária, que dará vista ao Ministério Público, pelo prazo de 5 (cinco) dias, decidindo em igual prazo.
Em sendo constatada a impossibilidade de reintegração da criança ou do adolescente à família de origem, após seu encaminhamento a programas oficiais ou comunitários de orientação, apoio e promoção social, será enviado relatório fundamentado ao Ministério Público, no qual conste a descrição pormenorizada das providências tomadas e a expressa recomendação, subscrita pelos técnicos da entidade ou responsáveis pela execução da política municipal de garantia do direito à convivência familiar, para:
A destituição do poder familiar   x  A destituição de tutela ou guarda
Recebido o relatório, o Ministério Público terá o prazo de 15 (quinze) dias para o ingresso com a ação de destituição do poder familiar, salvo se entender necessária a realização de estudos complementares ou de outras providências indispensáveis ao ajuizamento da demanda.
Ressalta-se, por fim, que a autoridade judiciária manterá, em cada comarca ou foro regional, um cadastro contendo informações atualizadas sobre as crianças e os adolescentes em regime de acolhimento familiar e institucional sob sua responsabilidade, com informações pormenorizadas sobre a situação jurídica de cada um, bem como as providências tomadas para sua reintegração familiar ou colocação em família substituta.
Módulo 2 = Ato infracional
Identificar os atos infracionais e as medidas socioeducativas.
Da prática de ato infracional
Sobre o ato infracional
O ato infracional corresponde a toda conduta prevista como crime ou contravenção praticada por criança ou por adolescente. Trata-se de categoria jurídica própria, autônoma em relação a crimes e contravenções. Entretanto, grande parte da doutrina entende que é uma categoria que pertence ao gênero dos delitos.
São penalmente inimputáveis os menores de dezoito (18) anos, sujeitos às medidas previstas no Estatuto da Criança e do Adolescente (artigo 28 da CF, 27 do CP e 104 do ECA), devendo ser considerada a idade do adolescente à data do fato.
Dessa forma, quanto ao tempo em que o ato é praticado (fato), aplica-se a mesma teoria do Código Penal, ou seja, a teoria da atividade. Assim, considera-se praticado o ato no momento da ação ou omissão, ainda que outro seja o local do resultado.
Destaca-se que, segundo o STJ, se à época do fato o adolescente tinha menos de 18 anos, nada impede que permaneça no cumprimento de medida socioeducativa imposta, ainda que implementada sua maioridade civil. É o que determina, aliás, o ECA:
Art. 2º, parágrafo único, do ECA
Nos casos expressos em lei, aplica-se excepcionalmente este Estatuto às pessoas entre dezoito e vinte e um anos de idade.
Súmula 605 do STJ
A superveniência da maioridade penal não interfere na apuração de ato infracional nem na aplicabilidade de medida socioeducativa em curso, inclusive na liberdade assistida, enquanto não atingida a idade de 21 anos.
Importante relembrar, como já dito, que ao ato infracional praticado por crianças se aplicam as medidas de proteção. Dessa forma, a criança também pratica ato infracional, mas a ela não são aplicáveis medidas socioeducativas, apenas as de proteção.
Assim, quanto às crianças e aos adolescentes que praticam atos infracionais, podem ser adotadas as seguintes medidas:
Crianças
O tratamento será exclusivamente protetivo, sendo as crianças absolutamente da gravidade do fato ou das consequências, aplicando-se apenas medidas de proteção.
Adolescentes
São submetidos à responsabilidade socioeducativa por meio das medidas socioeducativas previstas no artigo 112 e seguintes do ECA. Entretanto, os adolescentes portadores de doença ou deficiência mental receberão tratamento individual e especializado, em local adequado às suas condições.
Direitos individuais dos menores
O ECA determina que nenhum adolescente será privado de sua liberdade senão em flagrante de ato infracional ou por ordem escrita e fundamentada da autoridade judiciária competente. Adicionalmente, impõe que o adolescente tem direito à identificação dos responsáveis pela sua apreensão, devendo ser informado acerca de seus direitos.
Estabelece, ainda, o ECA que o adolescente apreendido em razão de ordem judicial deve ser apresentado à autoridade judiciária (art. 171 do ECA). O adolescente apreendido em flagrante de ato infracional, por sua vez, deve ser encaminhado à autoridade policial com atribuição para lavrar a ocorrência (art. 172 do ECA).
Atenção!
A apreensão de qualquer adolescente e o local onde se encontra recolhido serão incontinenti comunicados à autoridade judiciária competente e à família do apreendido ou à pessoa por ele indicada, devendo ser examinada, desde logo e sob pena de responsabilidade, a possibilidade de liberação imediata.
Conforme determina o ECA, o adolescente pode ser liberado quando sua apreensão tiver sido ilegal, ou quando, apreendido em flagrante de ato infracional, possa ser reintegrado à família (art. 174).
Importante destacar que a internação, antes da sentença,pode ser determinada pelo prazo máximo de quarenta e cinco (45) dias, devendo a decisão ser fundamentada e basear-se em indícios suficientes de autoria e materialidade, demonstrada a necessidade imperiosa da medida. Ocorre que, conforme entendimento do STJ, a gravidade em abstrato do ato infracional não é motivação idônea para fundamentar o decreto de apreensão provisória do adolescente.
Havendo a inobservância do prazo, deve haver a colocação em liberdade do menor, configurando a manutenção de sua internação constrangimento ilegal, sendo sanável por meio de Habeas Corpus.
O ECA estabelece, ainda, que o adolescente civilmente identificado não será submetido à identificação compulsória pelos órgãos policiais, de proteção e judiciais, salvo para efeito de confrontação, havendo dúvida fundada, bem como não poderá ser conduzido ou transportado em compartimento fechado de veículo policial, em condições atentatórias à sua dignidade, ou que impliquem risco à sua integridade física ou mental, sob pena de responsabilidade.
Por fim, a internação, decretada ou mantida pela autoridade judiciária, não poderá ser cumprida em estabelecimento prisional. Inexistindo na comarca entidade capaz de recebê-lo, o adolescente deverá ser imediatamente transferido para a localidade mais próxima. Sendo impossível a pronta transferência, o adolescente aguardará sua remoção em repartição policial, desde que em seção isolada dos adultos e com instalações apropriadas, não podendo ultrapassar o prazo máximo de 5 (cinco) dias, sob pena de responsabilidade.
Garantias Processuais
Nenhum adolescente será privado de sua liberdade sem o devido processo legal, sendo-lhe asseguradas, entre outras, as seguintes garantias (rol exemplificativo):
I. pleno e formal conhecimento da atribuição de ato infracional, mediante citação ou meio equivalente;
II. igualdade na relação processual, podendo confrontar-se com vítimas e testemunhas e produzir todas as provas necessárias à sua defesa;
III. defesa técnica por advogado;
IV. assistência judiciária gratuita e integral aos necessitados, na forma da lei;
V. direito de ser ouvido pessoalmente pela autoridade competente;
VI. direito de solicitar a presença de seus pais ou responsável em qualquer fase do procedimento.
É importante destacar que, na hipótese de regressão da medida socioeducativa, que é a substituição de uma medida mais branda por uma mais gravosa em razão de descumprimentos reiterados da medida anteriormente imposta, o menor tem o direito de ser ouvido. Esse é o entendimento do STJ:
Súmula 265 do STJ ‒ É necessária a oitiva do menor infrator antes de decretar-se a regressão da medida socioeducativa.
O STJ entende que, no procedimento para aplicação de medida socioeducativa, é nula a desistência de outras provas em face da confissão do adolescente (Súmula 342 do STJ0). Dessa forma, a confissão do adolescente não pode ser o único meio de prova para lhe impor medida socioeducativa, devendo o Ministério Público provar devidamente a autoria e a materialidade do ato infracional.
Medidas socioeducativas e suas espécies
O que são medidas socioeducativas?
As medidas socioeducativas são medidas sancionatórias que encerram um programa de caráter proeminentemente pedagógico, impostas obrigatoriamente ao adolescente, autor de ato infracional, com a finalidade de reorganizar seus valores pessoais, sem prejuízo de ser uma resposta à violação da ordem com caráter preventivo.
Essas medidas possuem três objetivos marcantes:
· A desaprovação da conduta infracional.
· A integração social e garantia de seus direitos individuais e sociais por meio do cumprimento de seu plano individual de atendimento.
· A responsabilização do adolescente quanto às consequências lesivas do ato infracional, sempre que possível incentivando sua reparação.
O artigo 112 do ECA estabelece as espécies de medidas socioeducativas, sendo este rol taxativo. São estas:
I. pleno e formal conhecimento da atribuição de ato infracional, mediante citação ou meio equivalente;
II. igualdade na relação processual, podendo confrontar-se com vítimas e testemunhas e produzir todas as provas necessárias à sua defesa;
III. defesa técnica por advogado;
IV. assistência judiciária gratuita e integral aos necessitados, na forma da lei;
V. direito de ser ouvido pessoalmente pela autoridade competente;
VI. direito de solicitar a presença de seus pais ou responsável em qualquer fase do procedimento.
Destaca-se que a medida aplicada ao adolescente levará em conta a sua capacidade de cumpri-la, as circunstâncias e a gravidade da infração. Em hipótese alguma e sob pretexto algum, será admitida a prestação de trabalho forçado.
Como já dito, é perfeitamente possível a cumulação de medidas socioeducativas e de proteção a um adolescente e a sua substituição a qualquer tempo. Nesse caso, em atenção ao contraditório, deve-se dar a oportunidade de o adolescente e seu defensor público (ou advogado) se manifestarem acerca da pertinência e adequação da substituição da medida.
Por fim, cabe ressaltar que o ECA, em seu artigo 114, estabelece que a imposição das medidas de reparação do dano, prestação de serviços, liberdade assistida, semiliberdade ou internação pressupõe a existência de provas suficientes da autoria e da materialidade da infração. A advertência, por sua vez, poderá ser aplicada sempre que houver prova da materialidade e indícios suficientes da autoria.
Advertência; obrigação de reparar o dano; e prestação de serviços à comunidade
Segundo artigo 115 do ECA, a advertência corresponde à repreensão verbal feita pelo juiz ao adolescente em audiência, depois tomada por termo assinado pelos presentes, sendo essa medida empregada nas situações de ato infracional de pequeno potencial ofensivo. De acordo com o artigo 116 do ECA, em se tratando de ato infracional com reflexos patrimoniais, a autoridade poderá determinar, se for o caso, que o adolescente restitua a coisa, promova o ressarcimento do dano, ou, por outra forma, compense o prejuízo da vítima. Desse modo, tal medida consiste na imposição ao adolescente da obrigação de reparar o dano ocasionado à vítima em virtude da prática do ato infracional.
Atenção!
Tal medida pode ser aplicada por meio da indenização em pecúnia, restituição da coisa e da imposição de providência compensatória em relação ao dano. Entretanto, havendo manifesta impossibilidade, a medida poderá ser substituída por outra adequada.
A prestação de serviços à comunidade consiste na imposição ao adolescente do dever de prestar atividade laborativa gratuita em favor de entidade pública ou privada que tenha suas atividades na área da educação, saúde, atendimento social etc. Essa medida tem o objetivo principal de restabelecer no adolescente os seus vínculos com determinados valores sociais, podendo perdurar por no máximo de seis meses, com uma carga de até oito horas semanais.
Importante destacar que a medida deve ser implementada aos sábados, domingos e feriados, ou em dias úteis, de modo a não prejudicar a frequência à escola ou à jornada normal de trabalho, sendo impostos serviços compatíveis com as aptidões do menor.
Outras medidas socioeducativas
Liberdade assistida
A liberdade assistida consiste no acompanhamento e orientação do autor do ato infracional por um orientador de confiança do juízo, durante o tempo em que esta alternativa pareça indispensável.
A liberdade assistida será fixada pelo prazo mínimo de 6 (seis) meses, podendo, a qualquer tempo, ser prorrogada, revogada ou substituída por outra medida, ouvido o orientador, o Ministério Público e o defensor. Conforme entendimento do STJ, na falta de previsão específica de prazo máximo de cumprimento da liberdade assistida, aplica-se a regra da internação, que fixa em três anos o prazo máximo de cumprimento de medida socioeducativa.
Destaca-se que, conforme o artigo 119 do ECA, incumbe ao orientador, com o apoio e a supervisão da autoridade competente, a realização dos seguintes encargos, entre outros:
I. pleno e formal conhecimento da atribuição de ato infracional,mediante citação ou meio equivalente;
II. igualdade na relação processual, podendo confrontar-se com vítimas e testemunhas e produzir todas as provas necessárias à sua defesa;
III. defesa técnica por advogado;
IV. assistência judiciária gratuita e integral aos necessitados, na forma da lei;
V. direito de ser ouvido pessoalmente pela autoridade competente;
VI. direito de solicitar a presença de seus pais ou responsável em qualquer fase do procedimento.
Por fim, é importante ressaltar que o orientador deve ser uma pessoa maior, capaz e idônea, não havendo quaisquer outros requisitos.
Regime de semiliberdade
A inserção em regime de semiliberdade é medida em que o juiz impõe ao adolescente sua inserção em estabelecimento adequado, onde ele permanecerá recluso, podendo sair apenas, sem autorização, para trabalho e estudo, devendo retornar depois para ali permanecer, inclusive em fins de semana.
Essa medida é justificada quando existe uma vida infracional intensa e uma inviabilidade das outras medidas, podendo ser aplicada como medida inicial ou como transição para medida de meio aberto. Sendo assim, em regra, é medida intermediária de saída da internação.
Destaca-se que essa medida não comporta prazo determinado, aplicando-se, no que couber, as disposições relativas à internação, tendo, assim, o prazo máximo de três anos.
A vedação de realização de atividades externas e de visitação à família depende de fundamentação do juízo, conforme entendimento STF.
Adicionalmente, conforme já indicado, o adolescente está sujeito à aplicação das medidas socioeducativas até completar 21 anos.
Internação
A internação constitui medida privativa da liberdade, sujeita aos princípios da brevidade, excepcionalidade e respeito à condição peculiar de pessoa em desenvolvimento. Dessa forma, a medida de internação só pode ser utilizada quando não for cabível outra medida mais adequada.
Atenção!
A internação deve ser extinta ou substituída por medida não privativa de liberdade o mais brevemente possível, não sendo viável o seu prolongamento por período indeterminado. A medida deve, ainda, respeitar a dignidade do adolescente e sua condição peculiar.
Destaca-se que será permitida a realização de atividades externas, a critério da equipe técnica da entidade, salvo expressa determinação judicial em contrário. Dessa forma, é possível que o juiz ressalve a saída à sua própria autorização, desde que tal decisão seja devidamente fundamentada.
A medida de internação não comporta prazo determinado, devendo sua manutenção ser reavaliada, mediante decisão fundamentada, no máximo a cada 6 (seis) meses, e, em nenhuma hipótese, o período máximo de internação excederá a 3 (três) anos. Entretanto, no caso da hipótese de regressão, o prazo máximo da medida de internação será de 3 (três) meses.
Atingido o prazo limite, o adolescente deverá ser liberado, colocado em regime de semiliberdade ou de liberdade assistida. Ademais, a liberação será compulsória aos 21 anos de idade.
Segundo o STJ, a idade de 21 anos é aplicável também no caso de adolescente que sofre de distúrbios psiquiátricos.
Para a corte, o critério estabelecido pelo ECA é objetivo, não sendo possível impor outros requisitos de ordem subjetiva para a não desinternação do menor. Segundo o artigo 122 do ECA, a medida de internação só poderá ser aplicada quando se trarar de umas das três situações que seguem:
I. Ato infracional cometido mediante grave ameaça ou violência a pessoa.
II. Reiteração no cometimento de outras infrações graves.
III. Descumprimento reiterado e injustificável da medida anteriormente imposta (regressão).
Segundo a doutrina e jurisprudência, mesmo que as condutas sejam apenas tentadas, é possível aplicar a medida de internação. Ressalta-se, contudo, que existem crimes hediondos e graves que não são praticados mediante violência ou grave ameaça, não sendo possível, nesses casos, a aplicação da medida. Assim, a gravidade do fato, do ponto de vista da legislação penal, é irrelevante. Dessa forma, segundo o STJ e STF, em regra, não é cabível a medida de internação no caso de tráfico de drogas, quando o adolescente for primário, por não haver violência ou grave ameaça.
O STF determina que a medida de internação não será aplicada quando outra medida se mostrar adequada à ressocialização do adolescente.
Adicionalmente, conforme se depreende da leitura do ECA, a medida de internação não é obrigatória, nem mesmo nos casos do artigo 122. Dessa forma, o juiz pode determinar, caso entenda cabível, uma medida mais branda.
A internação deverá ser cumprida em entidade exclusiva para adolescentes, em local distinto daquele destinado ao abrigo, obedecida rigorosa separação por critérios de idade, compleição física e gravidade da infração. Adicionalmente, durante o período de internação, inclusive provisória, serão obrigatórias atividades pedagógicas, não sendo admitido o cumprimento em estabelecimento penal, ainda que segregado.
É importante apontar que o artigo 124 do ECA estabelece uma série de direitos do adolescente privado de liberdade. São alguns desses direitos:
I. Entrevistar-se pessoalmente com o representante do Ministério Público;
II. Peticionar diretamente a qualquer autoridade;
III. Avistar-se reservadamente com seu defensor;
IV. Ser informado de sua situação processual, sempre que solicitada;
V. Ser tratado com respeito e dignidade;
VI. Permanecer internado na mesma localidade ou naquela mais próxima ao domicílio de seus pais ou responsável;
VII. Receber visitas, ao menos, semanalmente;
VIII. Corresponder-se com seus familiares e amigos;
IX. Ter acesso aos objetos necessários à higiene e asseio pessoal;
X. Habitar alojamento em condições adequadas de higiene e salubridade;
XI. Receber escolarização e profissionalização;
XII. Realizar atividades culturais, esportivas e de lazer;
XIII. Ter acesso aos meios de comunicação social;
XIV. Receber assistência religiosa, segundo a sua crença, e desde que assim o deseje;
XV. Manter a posse de seus objetos pessoais e dispor de local seguro para guarda-los, recebendo comprovante daqueles porventura depositados em poder da entidade;
XVI. Receber, quando de sua desinternação, os documentos pessoais indispensáveis à vida em sociedade.
Saiba mais
Em nenhum caso haverá incomunicabilidade do menor, podendo a autoridade judiciária suspender temporariamente a visita, inclusive de pais ou responsável, se existirem motivos sérios e fundados de sua prejudicialidade aos interesses do adolescente.
Por fim, deve-se destacar que é dever do Estado zelar pela integridade física e mental dos internos, cabendo-lhe adotar as medidas adequadas de contenção e segurança.
Prescrição das Medidas Socioeducativas
O Superior Tribunal de Justiça, por meio do entendimento sumulado 338, determina que a prescrição penal é aplicável nas medidas socioeducativas. Entretanto, o STJ não se utiliza dos prazos prescricionais estabelecidos para os crimes (ex.: homicídio, roubo, fruto, tráfico etc.). Dessa forma, para o cálculo da prescrição, não são utilizados os prazos previstos como pena máxima para os crimes análogos aos atos infracionais praticados pelos menores.
Na realidade, a corte superior se vale da tabela de contagem de prazos da parte geral do Código Penal, considerando, contudo, o tempo de cumprimento da medida socioeducativa previsto no estatuto. Assim, para o cálculo da prescrição da medida socioeducativa, deve-se analisar o tempo de cumprimento da medida imposto na sentença, sendo consultada a tabela do artigo 109 do Código Penal para se verificar a efetiva ocorrência da prescrição.
Essa tabela é aplicável tanto para as medidas privativas de liberdade como para as restritivas de direito.
Importante destacar ainda que, segundo o artigo 115 do Código Penal, são reduzidos de metade os prazos de prescrição quando o criminoso era, ao tempo do crime, menor de 21 anos. Dessa forma, no âmbito no Estatuto da Criança e do Adolescente, essa diminuição será sempre aplicada.
Ante o exposto, no caso das medidas de semiliberdade e internação, nãose estabelece prazo fixo para o cumprimento da medida, podendo variar do mínimo de seis meses ao máximo de três anos. Assim, para o cálculo da prescrição, é utilizado o prazo máximo de três anos, que importa, conforme o artigo 109, IV do CP, em um prazo prescricional de oito anos. Reduzindo à metade tal prazo, tem-se que o prazo prescricional das medidas privativas de liberdade é de quatro anos. Não é outro o entendimento do STJ:
“AGRAVO REGIMENTAL NO RECURSO ESPECIAL. PENAL. ATO INFRACIONAL ANÁLOGO AO CRIME DE FURTO. APLICAÇÃO DE MEDIDA SOCIOEDUCATIVA SEM TERMO FINAL. PRESCRIÇÃO DA PRETENSÃO SOCIOEDUCATIVA. NÃO OCORRÊNCIA. AGRAVO REGIMENTAL NÃO PROVIDO. 1. Nos termos do enunciado n. 338 da Súmula do STJ, a prescrição penal é aplicável nas medidas socioeducativas. Diante disso, a jurisprudência desta Corte firmou o entendimento de que, uma vez aplicada medida socioeducativa sem termo final, deve ser considerado o período máximo de 3 anos de duração da medida de internação, para o cálculo do prazo prescricional da pretensão socioeducativa, e não o tempo da medida que poderá efetivamente ser cumprida até que a envolvida complete 21 anos de idade. 2. Agravo regimental não provido.”
Medidas Pertinentes aos Pais
Como já dito, o ECA estabelece a corresponsabilidade da família, da sociedade e do Estado em resguardar os direitos das crianças e dos adolescentes integralmente e prioritariamente. Adicionalmente, o Estatuto da Criança e do Adolescente também se ocupa em prever medidas administrativas aplicadas aos atores familiares e sociais que desrespeitarem esse dever. É exatamente nesse contexto que se aplicam as medidas pertinentes aos pais ou responsáveis, coordenadas entre o Conselho Tutelar e a autoridade judiciária suas aplicações.
O artigo 129 do ECA estabelece que são medidas aplicáveis aos pais ou responsável:
I. encaminhamento a serviços e programas oficiais ou comunitários de proteção, apoio e promoção da família;
II. inclusão em programa oficial ou comunitário de auxílio, orientação e tratamento a alcoólatras e toxicômanos;
III. encaminhamento a tratamento psicológico ou psiquiátrico;
IV. encaminhamento a cursos ou programas de orientação;
V. obrigação de matricular o filho ou pupilo e acompanhar sua frequência e aproveitamento escolar;
VI. obrigação de encaminhar a criança ou adolescente a tratamento especializado;
VII. advertência;
VIII. perda da guarda;
IX. destituição da tutela;
X. suspensão ou destituição do poder familiar.
Destaca-se que, verificada a hipótese de maus-tratos, opressão ou abuso sexual impostos pelos pais ou responsável, a autoridade judiciária poderá determinar, como medida cautelar, o afastamento do agressor da moradia comum. Adicionalmente, da medida cautelar constará, ainda, a fixação provisória dos alimentos de que necessitem a criança ou o adolescente dependente do agressor.
Considerações Finais
Conforme visto, o Estatuto da Criança e do Adolescente estabeleceu diversas formas de garantir proteção aos menores. Inicialmente, o ECA prevê medidas de proteção com a finalidade de preservar os direitos fundamentais das crianças e adolescentes em situação de riscos, bem como proteger e reeducar as crianças (menores de 12 anos) que praticam atos infracionais.
Adicionalmente, o Estatuto da Criança e do Adolescente também disciplina a prática do ato infracional e a aplicação das medidas socioeducativas, com a finalidade de garantir proteção e recuperação dos adolescentes que praticam condutas ilícitas.
Por fim, o mesmo diploma legal trata das medidas aplicadas aos pais e aos responsáveis que não cumprem com suas obrigações de cuidado em relação aos menores.
Ante o exposto, é possível verificar que o ECA, em conformidade com o que determina a Constituição Federal, estabelece um sistema completo que busca garantir a proteção integral dos menores.

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