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Um mUndo em gUerra (1914-1918) 49 1 leitura de documento O texto abaixo foi escrito pelo artista Filippo Marinetti e publicado no jornal italiano Le Figaro, em fevereiro de 1909. Trata-se do Manifesto Futurista, que propunha uma nova concepção estética, afinada com os novos tempos da era industrial. Leia-o com atenção e responda em seu caderno às questões propostas. exerCíCIos De HIstórIA 1. Nós queremos cantar o amor ao perigo, o hábito da energia e da temeridade. 2. A coragem, a audácia, a rebelião serão elementos essenciais de nossa poesia. 3. A literatura exaltou até hoje a imobilidade pensativa, o êxtase, o sono. Nós queremos exaltar o movi- mento agressivo, a insônia febril, o passo de corrida, o salto mortal, o bofetão e o soco. 4. Nós afirmamos que a magnificência do mundo se enriqueceu de uma beleza nova: a beleza da velo- cidade. Um automóvel de corrida com o seu cofre enfeitado com tubos grossos, semelhantes a ser- pentes de hálito explosivo… um automóvel rugidor, que parece correr sobre a metralha, é mais bonito que a Vitória de Samotrácia. 5. Nós queremos glorificar o homem que segura o volante, cuja haste ideal atravessa a Terra, lançada também numa corrida sobre o circuito da sua órbita. 6. É preciso que o poeta prodigalize com ardor, esforço e liberdade, para aumentar o entusiástico fervor dos elementos primordiais. 7. Não há mais beleza, a não ser na luta. Nenhuma obra que não tenha um carácter agressivo pode ser uma obra-prima. A poesia deve ser concebida como um violento assalto contra as forças desconheci- das, para obrigá-las a prostrar-se diante do homem. 8. Nós estamos no promontório extremo dos séculos!… Por que haveríamos de olhar para trás, se que- remos arrombar as misteriosas portas do Impossível? O Tempo e o Espaço morreram ontem. Já estamos vivendo no absoluto, pois já criamos a eterna velocidade onipotente. 9. Queremos glorificar a guerra – única higiene do mundo –, o militarismo, o patriotismo, o gesto des- truidor dos libertários, as belas ideias pelas quais se morre e o desprezo pela mulher. 10. Queremos destruir os museus, as bibliotecas, as academias de toda a natureza, e combater o mora- lismo, o feminismo e toda a vileza oportunista e utilitária. 11. Cantaremos as grandes multidões agitadas pelo trabalho, pelo prazer ou pela sublevação; cantare- mos as marés multicores e polifônicas das revoluções nas capitais modernas; cantaremos o vibrante fervor noturno dos arsenais e dos estaleiros incendiados por violentas lutas elétricas; as estações esganadas, devoradoras de serpentes que fumam; as fábricas penduradas nas nuvens pelos fios con- torcidos de suas fumaças; as pontes, semelhantes a ginastas gigantes que cavalgam os rios, faiscan- tes ao sol com um luzir de facas; os piróscafos aventurosos que farejam o horizonte, as locomotivas de largo peito, que pateiam sobre os trilhos, como enormes cavalos de aço enleados de carros; e o voo rasante dos aviões, cuja hélice freme ao vento, como uma bandeira, e parece aplaudir como uma multidão entusiasta. Manifesto Futurista. Disponível em: <http://memoriavirtual.net/2005/02/ da-vinci/futurismo-manifesto-futurista>. Acesso em: 24 jan. 2013. HGB_v3_PNLD2015_036a051_U1_C2.indd 49 4/15/13 9:56 AM 50 Para entender nosso temPo: o séCUlo XX a) Que relação o Manifesto Futurista estabelece entre a arte e a tecnologia? b) O que Marinetti propõe no lugar da arte marcada pela “imobilidade pensativa, o êxtase, o sono”? c) Em sua opinião, a concepção estética futurista pode ser vista como um reflexo do contexto político eu- ropeu do início do século XX? Justifique. 2 leitura e reflexão Leia a carta de um oficial inglês, publicada no jornal The Times de 1º- de janeiro de 1915, no período de con- flito conhecido como guerra de trincheiras, contando o Natal de seus soldados. Com base nela, responda às questões propostas a seguir: Foi só um estranho Natal! Tudo calmo, a não ser uns tiros de emboscada do lado direito, mas nada no fronte. Nas trincheiras, aconteceram as cenas mais extraordinárias. Em frente à nossa barricada, nossos homens saíram e se misturaram com os alemães, conversando, trocando cigarros etc. Alguns dos nossos foram mesmo até as trincheiras inimigas e lá ficaram algum tempo, entretidos! Começaram a cantar, cada lado uma canção, até que todos terminaram com o “god save the King” (“Deus Salve o Rei”), que os saxões cantaram com bastante sentimento. Um dos meus homens recebeu uma garrafa de vinho e o regimento chegou a jogar uma partida de futebol com os saxões, que saíram vitoriosos por 3 a 2! Carta de um oficial, citada no The Times, Londres, 1º- jan. 1915. In: História do século XX. Jornal do século. São Paulo: Abril Cultural, 1974. p. 491. a) De acordo com o texto, qual foi o clima que se estabeleceu entre os combatentes alemães e ingleses no Natal de 1914? b) O clima descrito pelo autor é coerente com o contexto político europeu de 1914? Justifique. c) Que reflexão a leitura do depoimento propõe sobre as divergências que opunham a Alemanha e a Ingla- terra? d) Retome o “Para pensar historicamente” e, com base no depoimento acima, registre sua opinião sobre as questões propostas naquela seção. p A carga dos lanceiros, de Umberto Boccioni, de 1915. Boccioni foi um dos autores e principais teó- ricos do manifesto Futurista de Pintura. A lb u m /a k g -i m a g e s /L a ti n s to ck /M u s e u d e A rt e C o n te m p o râ n e a , R o m a , It á li a . HGB_v3_PNLD2015_036a051_U1_C2.indd 50 4/15/13 9:56 AM Um mUndo em gUerra (1914-1918) 51 3 leitura de gráficos e levantamento de hipóteses Em 2009, grande parte do planeta alarmou-se com uma provável pandemia de gripe causada pelo vírus H1N1. Nos momentos de pico da doença, muitos se lembraram da gripe espanhola que, em 1918, fez milhões de vítimas no mundo. Na ocasião, o mundo vivia o fim da Primeira Guerra Mundial. Observando o gráfico abaixo, podemos pensar nos efeitos da gripe espanhola no início do século XX. a) O gráfico acima diz respeito aos casos de gripe espanhola observados em que país do mundo? b) Em relação à mortalidade dos casos de gripe espanhola, o que mudou no período entre 1911-1917 e 1918? c) Considerando os dados do gráfico, pode-se dizer que a pandemia de gripe espanhola afetou os desdo- bramentos da Primeira Guerra Mundial? Explique. d) Em sua opinião, que efeitos a pandemia de gripe espanhola pode ter causado sobre a economia dos países afetados pela doença? Justifique sua hipótese. e) Em sua opinião, é possível fazer alguma associação entre a guerra e a ocorrência da pandemia de gripe espanhola? número de óbitos (por 100 mil pessoas) taxa de mortalidade associada à gripe espanhola nos estados unidos, no início do século xx D is po ní ve l e m : < ht tp :/ /f or um .h ar dm ob .c om .b r/ sh ow th re ad .p hp ?t =3 90 93 9> . A ce ss o em : 2 5 ja n. 2 01 3. C a s s ia n o R ö d a /A rq u iv o d a e d it o ra F o to d a p á g in a 4 1 /B e tt m a n n /C o rb is /L a ti n s to ck HGB_v3_PNLD2015_036a051_U1_C2.indd 51 4/15/13 9:56 AM 52 PARA eNTeNdeR Nosso TemPo: o século XX A revolução russa3 capíTulo p Populares de Petrogrado, adep- tos da revolução, em foto de 1918. B e tt m a n n /C o r b is /L a ti n s to c k reflexões sobre as experiências históricas Na Revolução Russa, líderes do proletariado comandaram o proces- so revolucionário, forçando uma ruptura social e política inédita cujos desdobramentos se refl etiram internacionalmente por todo o século XX. Entretanto, como você estudará mais adiante, após os aconteci- mentos de 1917 o movimento revolucionário não manteve coerência em relação aos desafi os postos pela sociedade soviética e pela comunidade internacional. Qual seria, então, o caráter do sistema soviético? Foi uma tentativa malsucedida de criar uma sociedade sem classes? Teria sido uma forma de resistir ao imperialismocapitalista, mas por meio de um novo tipo de imperialismo? A resposta a essas questões depende do critério que usamos, ou seja, se avaliamos uma experiência histórica pelo que seus sujeitos dizem dela, ou pelos resultados que efetivamente produziu. Ao estudar este capítulo, refl ita sobre as várias análises possíveis da Revolução Russa e de outros processos históricos. para pensar historicaMente HGB_v3_PNLD2015_052a063_U1_C3.indd 52 4/15/13 9:58 AM A Revolução RussA 53 p Trabalhadores agrícolas russos, em foto de 1917. A corrosão do czArismo russo As contradições vividas pela Rússia no início do século XX – muitas delas decorrentes dos valores impostos pelo Antigo Regime – chocavam-se com o mundo capitalista emergente. Os grandes proprietá- rios de terras, o clero e os oficiais do exército, no alto da pirâmide social, configuravam uma sociedade ba- seada na posse de terras e de títulos honoríficos. Man- tendo uma estrutura que carregava muitos aspectos do mundo feudal, a sociedade russa não mostrava o dinamismo de outras sociedades capitalistas. Os nobres proprietários possuíam a maior parte das terras férteis e exploravam o trabalho dos campo- neses, que viviam em situação próxima da servidão. Desde o final do século XIX, diversos imperado- res vinham adotando tímidas políticas moderniza- doras. Entre elas estavam a abolição da servidão e o encorajamento de investimentos estrangeiros para impulsionar a industrialização russa. Ao mesmo tem- po, a modernização industrial aumentava o contraste entre a estrutura oligárquica que sustentava o czar e as cidades modernizadas. Anarquistas e marxistas rus- sos difundiam suas ideias entre as populações urbanas e rurais, e grandes greves operárias marcaram a Rússia do começo do século XX. Além deles, outros sujeitos sociais se opunham à estrutura autoritária do czaris- mo e todos concorreram para a Revolução de 1917. Os monarcas da dinastia Romanov, no po- der desde 1613, governavam de forma autoritária. O czar se confundia com o Estado e agia politicamen- te sustentado na grandeza imperial e voltado para a ampliação de seu poder como déspota. Essa postura, naturalmente, não satisfazia as aspirações burguesas de industrialização e modernização. p A repressão contribuía para a manutenção do czarismo – especialmente com a atuação da okrana (polícia política), que intimidava as manifestações populares, perseguindo implacavelmente ou eliminando os opositores. Acima, uma ilustração publicada em 1904 no jornal francês Le Petit, re- presentando a repressão a uma manifestação popular em são Petersburgo. A lb u m /a k g -i m a g e s /L a ti n s to ck T h e B ri d g e m a n A rt L ib ra ry /K e y s to n e /C o le ç ã o p a rt ic u la r p Nicolau II em retrato de 1913. A corrosão do czarismo, devido a seu caráter despótico, em contraste com os regimes constitucio- nais de muitas nações europeias, também se revelava no plano internacional, no jogo de forças com outras potências por domínios imperialistas, fragilizando seu poderio e debilitando o regime. O fracasso do czar Nicolau II na Guerra Russo-Japonesa (1904-1905), ao disputar a Coreia e a Manchúria, acabou por incenti- var as forças de oposição a intensificar o desagravo ao despotismo dos Romanov. C o rb is /L a ti n s to ck /M u s e u H e rm it a g e , S ão P et er sb ur go , R úss ia. HGB_v3_PNLD2015_052a063_U1_C3.indd 53 4/15/13 9:58 AM 54 PARA eNTeNdeR Nosso TemPo: o século XX A primeira evidência de im- passe político se deu em 22 de janeiro de 1905, quando uma ma- nifestação popular em frente ao palácio de inverno dos monarcas, em São Petersburgo, foi reprimida violentamente. Os manifestantes, pacífi cos e desarmados, queriam uma entrevista com o czar para lhe pedir a convocação de uma Assembleia Constituinte e im- plantação de melhores condições de trabalho e regras trabalhistas. p Na foto, forças militares reprimem a população em frente ao palácio de inverno dos monarcas russos, em são Petersburgo, no dia 22 de janeiro de 1905. com o domingo sangrento, como este dia fi cou conhecido, instalou-se o descrédito e a revolta da nação russa com o estado czarista. R ia N o w o s ti /A lb u m /a k g -i m a g e s /L a ti n s to ck são petersburgo foi mais tar- de chamada de Petrogrado, depois, de leningrado e, atual- mente, são Petersburgo, seu nome de origem. O episódio envolvendo esse navio ocorreu na cidade de Odes- sa. Sobre ele, o cineasta russo Serguei Eisenstein realizou em 1925 o fi lme O encouraçado Potemkin, para relembrar os vinte anos da revolta de 1905 – ocasião em que marinheiros de um navio do czar rebelaram-se contra a tirania de seus comandantes e assumiram o controle da embarcação. A população de Odessa apoiou a revolta, mas as forças repressoras do regime czarista esmagaram o movi- mento com violência desmedida. o eNcouraçado POTEMKIN Apesar de não desrespeitarem a autoridade do czar, para quem chegaram a cantar o hino da fi deli- dade ao governo, Deus salve o czar, os manifestantes acabaram sendo dizimados às centenas, por tropas de soldados e da polícia. O episódio fi cou conhecido como Domingo Sangrento. Depois disso, uma onda de protestos e intran- quilidade espalhou-se pelo Império Russo, resultando em uma greve geral e em levantes militares, como o do encouraçado Potemkin, da esquadra do mar Ne- gro. Essa situação obrigou o czar a assinar o Tratado de Portsmouth, em 5 de setembro de 1905, pondo fi m ao confl ito com o Japão. O país foi obrigado a entregar ao vencedor a parte setentrional da ilha de Sacalina e a península de Liaotung e a reconhecer os direitos exclusivos dos japoneses sobre a Coreia. Diante das crescentes manifestações, no mês seguinte o czar lançou o Manifesto de Outubro, pro- metendo a instauração de uma monarquia constitu- cional e parlamentar. As agitações populares, tanto de trabalhadores da indústria como de camponeses, estimularam a formação dos sovietes – conselhos de trabalhadores – em várias regiões da Rússia, o que ati- vou a participação popular. A lb u m /a k g -i m a g e s /L a ti n s to ck o encouraçado Potemkin foi construído em 1898 e serviu à marinha russa até 1918. Na foto, marinheiros amotinados a bordo do navio, em 1905. esta foi mais uma demonstração popular do descontentamento com o governo czarista. P HGB_v3_PNLD2015_052a063_U1_C3.indd 54 4/15/13 9:58 AM A Revolução RussA 55 Em 1906, Nicolau II cum- priu a promessa de instaurar uma Duma (parlamento), a fi m de re- digir uma nova Constituição para o país. Controlada por deputados predominantemente originários das elites nacionais, a Duma, no entanto, acabou ficando subme- tida à autoridade do czar, que au- mentou seus próprios poderes por meio de decretos. As críticas dos parlamentares levaram-no, no ano seguinte, a dissolver a Duma. O movimento de abertura do regime czarista mostrava-se osci- lante, pendular. Em 1911 a reação absolutista se impôs novamente. A monarquia autocrática czarista convivia com a Constituição, com a Duma e com os sovietes – todos, agora, sem poderes efetivos. Entre os opositores do czarismo, destacaram-se várias agremiações político-ideológicas, como os narodnikis (populistas), os anarquistas (partidários das ideias de Bakunin) e principalmente os social- -democratas (defensores dos princípios marxistas). Os social-democratas dividiram-se, a partir de 1903, em duas facções. Os mencheviques (do russo menshe = “menos”, indicando sua presença minoritária no Congresso da Social-Democracia dos Trabalhadores Russos) caracterizavam-se como marxistas ortodoxos e pregavam o desenvolvimento e o amadurecimento do capitalismo para só então almejar o socialismo. Eram liderados por Gheorghi Plekhanov e Iulii Martov. A outra facção dossocial-democratas russos era a dos bolcheviques (do russo bolshe = “mais”, in- dicando o caráter de maioria no mesmo congresso), que defendiam a revolução socialista, a instalação da ditadura do proletariado, com a aliança de operários e camponeses, e tinham como líder Vladimir Ilitch Lênin. A progressiva divisão dos social-democratas levou-os à separação defi nitiva em 1914. Apesar dis- so, tanto bolcheviques como mencheviques conti- nuavam a catalisar o crescente e generalizado des- contentamento da população russa em relação ao czarismo. Taiwan (Formosa) Port Arthur Mar do Japão OCEANO PACÍFICO IMPÉRIO RUSSO CHINA Sacalina Manchúria Manchúria do Sul JAPÃOCOREIA T róp ico de Cân cer Círculo Polar Á rtico 80° L 830 km 0 1 660 Vitórias do Japão em áreas disputadas com a Rússia (1904-1905) p mapa do Império Russo até o início do século XX. veja as áreas perdidas com o Tratado de Portsmouth. H u lt o n -D e u ts ch C o ll e c ti o n /C o rb is /L a ti n s to ck A ll m a p s /A rq u iv o d a e d it o ra Ad ap ta do d e: P AR K ER , G eo ffr ey (E d. ). A tl a s d a h is tó ri a d o m u n d o . S ão P au lo : T im es B oo ks /F ol ha d e S. Pa ul o, 1 99 5. p . 2 39 . Áreas disputadas durante a Guerra russo-Japonesa (1904-1905) ∏ A foto de maio de 1906 mostra o czar Nicolau II abrindo os trabalhos da duma no Palácio de Inver- no de são Petersburgo. HGB_v3_PNLD2015_052a063_U1_C3.indd 55 4/15/13 9:58 AM 56 PARA eNTeNdeR Nosso TemPo: o século XX A revolução menchevique O clima de radicalização ao qual chegou a Rússia às vésperas da revolução é relatado pelo jornalista norte-americano John Reed, que mais tarde participaria do governo bolchevique: Nós, americanos, custávamos a crer que a luta de classes fosse capaz de gerar ódios tão intensos. Vi oficiais da frente norte que preferiam abertamente uma catástrofe militar a qualquer en- tendimento com os comitês de soldados. O secretário da seção dos cadetes de Petrogrado garantiu-me que o descalabro econômico geral era parte de um plano organizado para desmoralizar a revolu- ção aos olhos das massas. Um diplomata aliado, cujo nome prometi não revelar, confirmou o que me dissera o oficial. Soube ainda que muitas minas de carvão perto de Khárkov tinham sido incendiadas e inundadas por seus próprios donos, e que muitos engenheiros de fábricas têxteis, antes de abandoná-las em poder dos operários, destruíram suas máquinas. Empregados ferroviários haviam sido igualmente surpreendidos por trabalhadores quando inutilizavam suas locomotivas. Grande parte da burguesia preferia os alemães à revolução. Nesse número, contava-se o próprio Governo Provisório, que não escondia mais seu ponto de vista. REED, John. Os dez dias que abalaram o mundo. São Paulo: Círculo do Livro, 1984. p. 32. o colApso do czArismo Membro da Tríplice Entente, juntamente com a Inglaterra e a França, a Rússia lutou contra a Alemanha e a Áustria-Hungria durante a Primeira Guerra Mun- dial, visando a conquistas territoriais. A guerra, porém, agravou as contradições sociais e políticas internas. As sucessivas derrotas da Rús- sia diante do poderio militar alemão, pelas quais o czar foi responsabiliza- do, foram acompanhadas de deser- ções em massa de soldados da frente de batalha, favorecendo a organiza- ção das oposições que se preparavam para a insurreição. No final de 1916, após a conquis- ta de boa parte de seu território pelos alemães, a Rússia estava militarmente Em março de 1917, foi instalada a República da Duma, sob a chefia de um nobre politicamente moderado, o prín- cipe Lvov, sobre o qual pesava a influência de Alexandre Kerensky, líder menchevique. Kerensky era membro do Soviete de Petrogrado, outro centro de poder criado logo após a queda do czar, composto de operários, marinheiros e soldados. ∏ Grigorij efimovitch Novych, mais conhecido por Rasputin (1871-1916), teve grande influência sobre a corte de Nicolau II, especialmente sobre a czari- na. era considerado um homem santo por ter sido capaz de curar o filho do czar, o príncipe herdeiro, afetado por hemofilia. Rasputin angariou grande poder, nomeando ou destituindo ministros e altos funcionários do estado. Atraiu crescente rivalidade e morreu assassinado em 30 de dezembro de 1916. o caso Rasputin contribuiu bastante para a desmo- ralização do estado czarista de Nicolau II. H u lt o n -D e u ts c h C o ll e c ti o n /C o r b is /L a ti n s to c k B e tt m a n n /C o r b is /L a ti n s to c k aniquilada e economicamente desorganizada. Sua po- pulação convivia com o desabastecimento e a escassez de gêneros básicos. Em fevereiro de 1917, os trabalha- dores fizeram várias greves e manifestações, apoiadas por motins de soldados e marinheiros, o que acabou por gerar a deposição de Nicolau II. Questões interdisciplinares 1. o texto de John Reed é um exemplo de jornalismo literário. Pesquise as principais características desse gênero textual. 2. com base em sua pesquisa e na leitura do texto acima, você diria que o relato feito por John Reed sobre a Revo- lução de outubro foi imparcial? Justifique. 3. As características do jornalismo literário prejudicam o uso desse tipo de texto como fonte documental para o estudo da História? Justifique. Às vésperas da revolução Kerensky, no carro e de uniforme militar, inspeciona tropas no front de 1917. P HGB_v3_PNLD2015_052a063_U1_C3.indd 56 4/15/13 9:58 AM