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Simétrico Pré-Universitário – Curso de Biologia – Prof. Landim – www.simetrico.com.br 135 Biologia essa radiação seja responsável por boa parte das mutações espontâneas. NÍQUEL NÁUSEA – Fernando Gonsales Outros fatores mutagênicos importantes são representados por substâncias químicas. O gás mostarda, usado na Primeira Guerra Mundial, revelou-se um poderoso agente mutagênico. O alcaloide colchicina, interfere na formação das fibras do fuso, causando poliploidia. A lista de substâncias mutagênicas cresce a cada ano que passa, e percebemos que é sempre maior o número de substâncias que eram julgadas inócuas a que no entanto se mostram capazes de induzir mutações. Verificou-se que alguns quimioterápicos, inseticidas, fungicidas a aditivos alimentares, como corantes, conservantes a aromatizantes, não são tão inofensivos como se acreditava. Por fim, é importante distinguirmos as mutações somáticas daquelas que ocorrem em células germinativas; é evidente que so- mente estas últimas têm importância em termos genéticos, pois afetam células transmitidas á descendência. É bem conhecido o fato de que radiologistas, expostos diariamente a raios X, se protegem por meio de aventais de chumbo, "impermeáveis" à radiação. Também sabemos que o use de radiografias do abdômen nos primeiros estágios da gravidez é fortemente desaconselhado, sendo tolerado porém nos últimos meses. Uma mutação que atingisse uma das poucas células de um embrião jovem poderia ter efeitos desastrosos, porque seria transmitida por mitoses a grande parte do corpo da criança. Classificação das mutações quanto ao fator causal Mutação espontânea Fator causal desconhecido (normalmente por erros na replicação do DNA); raras Mutação induzida Fator causal conhecido; em frequência proporcional à exposição ao agente mutagênico Classificação das mutações quanto ao tipo de célula afetada Mutação somática Ocorre em células somáticas, não sendo hereditárias (como as que causam o câncer) Mutação sexual Ocorre em células germinativas/sexuais (gametas), sendo hereditárias Classificação das mutações quanto ao efeito Mutação gênica Altera a sequência de nucleotídeos do gene, criando novos alelos Mutação cromossômica Não cria novos alelos, mas alterando a posição dos alelos no cromossomo ou a quantidade de cópias dos alelos Tipos de mutações. Mutações ou Aberrações cromossômicas Qualquer modificação genética transmissível é chamada mutação. Alterações no número de cromossomos de um organis- mo, ou deficiências na estrutura do cromossomo, como por exemplo a perda de um pedaço, são sem dúvida consideradas mutações. O termo mutação também é usado para indicar mudanças que ocorrem em genes individuais. Geralmente usa-se a expressão aberração cromossômica para indicar mutações numéricas ou estruturais dos cromossomos. Aberrações cromossômicas numéricas Aneuploidias Aneuploidias são variações numéricas dos cromossomos, que, ao contrário das euploidias, não envolvem genomas inteiros, mas sim uma diminuição ou acréscimo de um ou mais cromossomos ao cariótipo normal. São exemplo de aneuploidias as trissomias e as monossomias. Trissomias envolvem o ganho de um cromossomo, de modo ao indivíduo apresentar 3 cromossomos num par, ou seja, 2n + 1 cromossomos. Na espécie humana, são exemplos importantes a síndrome de Down (trissomia do par 21), a síndrome de Edwards (trissomia do par 18), a síndrome de Patau (trissomia do par 13), a síndrome do supermacho (trissomia XYY do par sexual), síndrome de Klinefelter (trissomia XXY do par sexual) e síndrome da superfêmea (trissomia XXX do par sexual). Monossomias envolvem a perda de um cromossomo, de modo ao indivíduo apresentar 1 cromossomo num par, ou seja, 2n – 1 cromossomos. Na espécie humana, a única monossomia viável é a síndrome de Turner (monossomia X0 do par sexual). Euploidias Nos eucariontes, a grande maioria de organismos é diploide (2n), a não ser os vegetais inferiores, que são haploides na maior parte de seu ciclo vital. Em algumas espécies de insetos, como nas abelhas, o macho é normalmente haploide a produzido por partenogênese. Na maior parte das espécies animais diploides, os indivíduos haploides (ou monoploides) desenvolvem-se de maneira anômala ou sucumbem; quando sobrevivem são estéreis, devido à não ocorrência de pareamento na meiose (já que não há pares de homólogos). Os gametas porventura formados terão um número de cromossomos variável a são inviáveis. O termo poliplóide é usado para indicar indivíduos com mais de dois conjuntos cromossômicos. Como os triploides (3n), tetraploides (4n), etc. Fala-se em autopoliploidia quando o acréscimo é de cromossomos da própria espécie: se um zigoto sofrer uma mitose anômala, na qual os cromossomos duplicados permanecem no mesmo núcleo, ele fica tetraploide (4n). Daqui por diante, as mitoses podem ocorrer normalmente, a todas as células resultantes serão 4 n. Conhecem-se certas substâncias, como a colchicina, que inibem a formação das fibras do fuso nas células em divisão, favorecendo então a ocorrência de poliploidias. Meioses anômalas podem também levar à formação de gametas 2n; esses gametas, fecundados por um gameta n normal, originam indivíduos triploides. Plantas autopoliploides são frequentes na natureza. Quando o número de genomas é ímpar (3n, 5n, 7n...), as plantas poliploides apresentam problemas no pareamento de cromossomos na meiose e produzem gametas inviáveis, sendo, portanto, estéreis. A banana utilizada na alimentação humana é uma espécie triploide, apresentando meiose anômala e, por isso, sendo estéril. Assim, ela não fecunda seus óvulos, de modo a produzir frutos partenocárpicos, ou seja, sem semente. A propagação das bananeiras, então, se dá apenas de modo assexuado. Existem bananeiras selvagens na natureza, que são diploides, e por isso Simétrico Pré-Universitário – Curso de Biologia – Prof. Landim – www.simetrico.com.br 136 Biologia apresentam gametas viáveis e reprodução sexuada, gerando frutos com semente. Alguns frutos são artificialmente gerados de modo a serem partenocárpicos, como algumas variedades de uva ou de melancia. Uma das maneiras de produzi-los se dá pela produção de variedades triploides dessas plantas. Quando o número de genomas é par (4n, 6n, 8n...) são, as plantas poliploides apresentam meiose viável e são férteis. Muitas das plantas cultivadas são poliploides: existem variedades de trigo hexaploide (6n) a alguns morangos são octoploides (8n). Os poliploides muitas vezes apresentam fenótipos mais robustos que seus ancestrais diploides, e quase sempre mostram folhas, flores a frutos maiores. Certos vegetais tetraploides, como batata, alfafa, café e amendoim são também maiores e mais vigorosos do que as variedades diploides. É por esse motivo que técnicas especiais têm sido usadas para obter esses efeitos, como, por exemplo, o uso da colchicina, que citamos acima. Animais poliploides são inviáveis, com algumas poucas exceções, caso dos sapos do gênero Xenopus. Aberrações cromossômicas estruturais Existem alguns tipos básicos de modificações na estrutura dos cromossomos, como veremos a seguir. Deficiência ou Deleção A deleção ou deficiência consiste na perda de um segmento do cromossomo. Deficiências demasiado acentuadas podem ser letais, pois implicam a perda de muitos genes. Durante a prófase 1 da meiose, uma deficiência pode ser percebida por intermédio do pareamento anômalo dos cromossomos. Na figura abaixo, um cromossomo com os genes ABCDEFG perdeu um segmento com os genes CDE; o segmento FG se solda novamente ao pedaço AB. A síndrome de Cri du Chat ou síndrome do miado de gato é uma séria anomalia que pode atingir a espécie humana como decorrência de uma deleção no cromossomo 5. Há má- formação do crânio (microcefalia), da face e da laringe, além de deficiência neuromotora e mental. O conjuntodesses fatores produz o típico choro da criança portadora da anomalia, que lembra o miado de um gato e deu nome à síndrome. Duplicação A duplicação consiste na repetição de um determinado segmento do cromossomo. Acredita-se que no decorrer da evolução de alguns organismos, a intensificação de certos caracteres tenha se dado pela duplicação de genes relacionados a eles. Por exemplo, a duplicação de genes para a produção de melanina pode ter levado ao surgimento de populações de coloração mais escura. Além disso, a duplicação permite que a cópia produzida fique livre para assumir novas funções. Por exemplo, as cadeias α e β da hemoglobina devem ter surgido a partir de um único gene que foi duplicado, e por mutação, originou outro gene, para a outra cadeia. Inversões A inversão consiste numa situação em que um segmento de cromossomo se quebra, sofre uma rotação de 180°, a se solda novamente. Esse fenômeno pode levar à transferência de um determinado gene de uma região ativa do cromossomo (na forma de eucromatina) para uma região inativa do mesmo (na forma de heterocromatina) ou vice-versa, de modo a alterar a manifestação dos genes. As inversões podem ser classificadas pela posição do segmento invertido em relação ao centrômero do cromossomo. Assim, as inversões pericêntricas envolvem a região do centrômero, e as inversões paracêntricas não envolvem a região do centrômero. Na prófase I da meiose, o pareamento ocorre formando uma figura característica, como vemos a seguir. Translocações Ocasionalmente, os cromossomos podem sofrer quebras, soldando-se os pedaços quebrados em cromossomos não homólogos. Na translocação recíproca, há uma troca de pedaços entre cromossomos não homólogos, fenômeno distinto do crossing-over, em que a permuta ocorre entre cromátides homólogas. Um indivíduo heterozigoto para uma translocação recíproca, ou seja, no qual a translocação envolveu apenas um de cada cromossomo homólogo, formará na meiose (prófase I) uma figura semelhante a uma cruz, na, qual estão pareados os cromossomos translocados com os homólogos normais. Na espécie humana, a translocação que une o cromossomo 21 ao 14 ou ao 15 resulta em síndrome de Down. Mais comumente, porém, ela resulta da trissomia do cromossomo 21. Em algumas ocasiões, ocorre uma translocação do cromossomo 22 com o 9, gerando uma anomalia conhecida como cromossomo philadelphia. Essa situação leva a um descontrole na divisão celular, o que resulta câncer, particularmente um tipo de leucemia. Quebras ou translocações cromossômicas podem ter sido mecanismos evolutivos de formação de novas espécies. Existe uma hipótese acerca de algumas espécies de drosófila, todas com um número diferente de cromossomos, que poderiam ter-se originado de uma espécie ancestral. Simétrico Pré-Universitário – Curso de Biologia – Prof. Landim – www.simetrico.com.br 137 Biologia Recombinação Gênica Outro fator importantíssimo que origina variabilidade é a recombinação genética ou gênica, característica da reprodução sexuada. É necessário entender que a seleção natural não age sobre genes isolados, mas sim sobre o conjunto de genes que o indivíduo apresenta (genótipo). A recombinação genética promove o aparecimento não de genes novos, mas sim de genótipos novos. A recombinação gênica se processa por três mecanismos básicos: segregação dos cromossomos na meiose, crossing-over e fecundação. (Na verdade, qualquer mecanismo de reprodução sexuada é considerado recombinação gênica. Em bactérias, por exemplo, conjugação, transdução e transformação são consideradas mecanismos de recombinação.) Seleção e Adaptação Vimos que há dois principais fatores de evolução: o primeiro é a variabilidade genética, sobre a qual age o segundo fator: a seleção natural. O capítulo anterior foi dedicado à discussão das diferentes causas da variabilidade: a mutação gênica, as mutações cromossômicas a finalmente a recombinação gênica. A variabilidade é o substrato sobre o qual a seleção age, "escolhendo" os genótipos mais adaptados a um certo ambiente. Se o ambiente for estável, a cada geração ocorre uma fixação cada vez maior dos fenótipos adaptados. Veja que o significado da palavra adaptação, aqui, é totalmente diferente da adaptação individual, que não é transmitida. Alguns mecanismos de adaptação Camuflagem Camuflagem é uma situação em que o indivíduo simula a cor (homocromia) e ou o formato de alguma estrutura (homotipia) do meio, viva ou não, de modo a se tornar imperceptível para predadores ou presas. Alguns exemplos são apresentados a seguir: - O bicho-pau é um inseto semelhante a gravetos, o que acaba confundindo pássaros. - Tigres, por exemplo, apresentam listras verticais para se esconderem no capim alto das savanas indianas. - Orcas e pinguins possuem costas negras para que os animais que esteja, acima deles os confundam com o fundo escuro dos oceanos, e barrigas brancas para que os animais que estejam abaixo deles os confundam com a claridade do sol fora d’água. - Polvos e camaleões chegam a mudar de cor para simular a cor do meio. A mudança de cor em polvos e camaleões é devido a estruturas denominadas cromatóforos. Mimetismo Mimetismo é uma situação em que o indivíduo tenta se passar por outra espécie, de modo a inibir a ação de eventuais predadores. Dois importantes exemplos de mimetismo são mimetismo batesiano e o mimetismo mülleriano. No mimetismo batesiano ou mimecria, um indivíduo inofensivo (o imitador) adquire as formas e as cores de outro mais agressivo ou venenoso, para intimidar seus predadores. A borboleta vice-rei, não venenosa, imita a borboleta monarca, venenosa, assim como a cobra coral falsa não peçonhenta imita a cobra coral verdadeira peçonhenta. Em ambos os casos, agressores evitam a borboleta vice-rei e a cobra coral-falsa com receio de se confundirem com as espécies mais perigosas. Alguns autores reservam o nome mimecria só para esse caso. No mimetismo mülleriano, um mesmo padrão identifica um grupo de espécies com um padrão semelhante de comportamento. Por exemplo, as listras pretas e amarelas das abelhas e das vespas as identifica como todo um grupo de insetos dotados de ferrão. Um predador, ao ter experiências desagradáveis com alguns desses indivíduos, acaba por associá- las ao grupo todo. O mimetismo também pode ser utilizado para atrair presas e para se confundir com o meio ambiente. Coloração de advertência ou aposematismo Coloração de advertência é uma situação em que o indivíduo apresenta uma cor chamativa para alertar predadores para o fato de serem venenosos. As cores usadas na coloração de advertência, como vermelho, verde, amarelo ou laranja, são chamadas de cores aposemáticas. A borboleta monarca é laranja e preta, assim como a cobra coral verdadeira é vermelha e preta: ambos são animais venenosos. NÍQUEL NÁUSEA – Fernando Gonsales Camuflagem ou mimetismo? Adaptações para dispersão Regra de Bergmann A regra de Bergmann afirma que num determinado grupo de endotermos, as espécies que vivem em climas frios têm maior tamanho do que as espécies relacionadas que vivem em climas quentes, desde que os outros fatores ecológicos sejam os mesmos. Essa regra é bastante fácil de entender: quanto maior o volume de um animal, menor será a superfície relativa de seu corpo, e menor sua tendência a perder calor para o meio. Para animais de regiões frias, essa menor superfície relativa de pele é muito importante, pois reduz consideravelmente a perda de calor por irradiação. Assim, na maior espécie de pinguim, os indivíduos chegam a 1,20 m e podem pesar 34 kg. Simétrico Pré-Universitário – Curso de Biologia – Prof. Landim – www.simetrico.com.br 138 Biologia Esses animais vivem em pleno continente antártico. A menor espécie, na qual o indivíduo mede apenas 50 cm, vive nas ilhas Galápagos, sob o Equador. Entre esses dois extremos,há uma série de espécies intermediárias distribuídas entre o pólo e o Equador. Regra de Allen A regra de Allen é uma conseqüência direta da regra de Bergmann. Os endotermos de climas frios têm grande redução na superfície dos apêndices corporais, como orelhas, caudas e patas, o que diminui também as perdas de calor. Como os apêndices apresentam volumes desprezíveis, a preocupação passa a ser somente com a superfície em si, mas não com a relação superfície/volume. Raposa do Ártico e Feneco (raposa típica do deserto do Saara), respectivamente. A raposa do Ártico é a maior das espécies de raposa (de acordo com a regra de Bergmann), mas o Feneco é a raposa que tem as maiores orelhas (de acordo com a regra de Allen). Casos peculiares de seleção natural Melanismo Industrial As populações inglesas de uma determinada espécie de mariposas, Biston betularia, sofreram nos últimos 130 anos uma evolução muito grande com relação à cor. Essas mariposas existem sob duas formas: uma, clara, com leves manchas escuras, que, quando pousa sobre troncos cobertos de liquens, é praticamente invisível, por confundir-se com o substrato. O surgimento da outra variedade foi registrado por volta de 1850: nessas mariposas a cor era uniformemente escura, porém era muito mais difícil ser encontrada do que a variedade clara. Com a industrialização crescente de várias regiões inglesas, a fuligem produzida pelas fábricas enegreceu lentamente muros a troncos de árvores. Progressiva mente, nas regiões industriais, a variedade escura ficava cada vez mais numerosa, substituindo a variedade clara, sendo que na atualidade esse fenômeno generalizou-se, e é chamado melanismo industrial. No início, pensou-se que a coloração era devida à fuligem ingerida pelas mariposas; mas notou-se mais tarde que a cor é hereditária a depende de um par de genes, sendo a variedade escura condicionada par um gene dominante. Uma hipótese, confirmada depois por experimentos, propunha que teria havido uma seleção efetuada pelos pássaros: sabre os troncos escuros, as formas claras ficavam muito mais visíveis, e eram predadas com maior facilidade. Ao contrário, as formas escuras confundiam-se perfeitamente com o ambiente. Em conclusão, as mariposas claras, enquanto viviam num ambiente sem fuligem, tinham maiores probabilidades de sobrevivência a produziam mais filhos iguais a elas do que as escuras, constantemente atacadas pelos pássaros. Fixaram-se assim os genótipos causadores do caráter claro. Um pequeno número de mariposas escuras sempre aparecia, devido ao fenômeno da mutação. Modificando-se drasticamente o ambiente com a fuligem, o gene para cor escura torna-se agora altamente adaptativo; a situação se inverte, as mariposas melânicas sobrevi- vem melhor a têm maior oportunidade de transmitir seu genótipo, agora favorável, aos seus descendentes. Quando falamos então em "caráter adaptativo", no caso da Evolução, isso somente adquire significado se for especificado o ambiente. Siclemia (Anemia Falciforme) na África Outro caso bem estudado de seleção em populações naturais relaciona-se com uma doença hereditária, chamada anemia falciforme, na qual há produção de moléculas de hemoglobina com um aminoácido trocado: nessa doença, os glóbulos vermelhos apresentam-se deformados e são pouco eficientes em termos de transporte de. oxigênio. Os homozigotos para a siclemia (SS) raramente atingem a idade adulta, morrendo normalmente até os 5 anos de idade. O heterozigoto (Ss) fabrica tanto hemoglobina normal como hemoglobina siclêmica; suas hemácias, em baixa tensão de O2, ficam arqueadas. Apesar disso, esses indivíduos sobrevivem normalmente. De modo geral, o gene para a anemia falciforme é mantido em taxas baixas nas populações; pelo fato de os homozigotos não atingirem a idade de reprodução, seus genes não são transmitidos às gerações seguintes. O gene se mantém apenas em heterozigose. Porém, em determinadas populações da África Oriental, Grécia a Índia, a frequência de heterozigotos revelou-se sur- preendentemente alta, atingindo às vezes 40%. Essa alta taxa somente se explicaria caso os heterozigotos levassem alguma vantagem adaptativa em relação aos homozigotos normais. O problema foi investigado; verificou-se que as regiões de alta incidência do gene S, coincidentemente, eram áreas onde havia malária em grande escala. Uma das hipóteses levantadas foi de que os heterozigotos eram imunes à malária. Essa idéia foi confir- mada experimentalmente através da injeção de Plasmodium da malária em heterozigotos para a siclemia; apesar disso, não contraíram malária. A resistência dos siclêmicos à malária parece ser produzida pelo seguinte mecanismo: o protozoário, ao penetrar no glóbulo vermelho, consome O2. A hemácia siclêmica, em tensão baixa de O2, modifica sua forma, ficando com a forma de uma foice. Células desse tipo são mais rapidamente atacadas por leucócitos, que as destroem junto com os parasitas que elas contêm. Assim, o protozoário não se dissemina no organismo pela circulação. Possuir o gene para a siclemia em heterozigotos representa então, nas regiões com malária, uma vantagem adaptativa sobre não possuí-lo. Naquele ambiente, a seleção natural favorece então o gene S quando em heterozigose, apesar de continuar a eliminá-lo quando aparece em homozigose.
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