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55
COMEÇO DE CONVERSA
1. Um ditado popular afi rma que “o trabalho dignifi ca o ser humano”. Você concorda com 
ele? Para você, qual é a importância do trabalho para a humanidade?
2. Em sua opinião, o que deveria ser feito para garantir que todo trabalhador possa viver 
dignamente?
Cada sociedade organiza o trabalho à sua própria maneira. Entre os indígenas, por exemplo, predo-
mina o trabalho solidário: os bens produzidos são de uso coletivo, não existindo um proprietário único. Já 
em sociedades capitalistas como esta em que vivemos, o trabalho tem outro sentido: o empregado, para 
sobreviver, vende sua força de trabalho a um empregador, em troca de um salário. Os bens produzidos 
por ele pertencem ao empregador.
Durante a colonização do 
continente americano, os eu-
ropeus impuseram aos nativos 
e a africanos transferidos à for-
ça para a América outra forma 
de trabalho: a escravidão. As-
sim, ameríndios e africanos es-
cravizados tiveram de realizar 
trabalhos forçados nas mais 
variadas atividades. Como ve-
remos nesta unidade, a mão 
de obra escrava sustentou por 
séculos o luxo das metrópoles 
e da elite colonial.
Indústria salineira no litoral 
potiguar, região de Areia 
Branca, RN. Foto de 
agosto de 2011.
Du Zuppani/Pulsar Imagens
Camponesas indianas, 2008.
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O Brasil é um país de maioria negra. Essa foi 
a constatação dos técnicos do Instituto Brasileiro 
de Geografi a e Estatística (IBGE) após analisar 
os dados do Censo de 2010. De acordo com o 
levantamento, 50,7% dos brasileiros se declararam 
pretos ou pardos, totalizando 96,7 milhões de 
pessoas. Esses dados fazem do Brasil o segundo 
país com o maior número de negros no mundo, 
superado apenas pela Nigéria, na África.
O perfi l majoritariamente negro da população 
brasileira teve início com a entrada de africanos 
escravizados no país, a partir do século XVI. 
Somente no século XX, com a chegada em massa 
de imigrantes europeus, a população branca 
tornou-se maioria.
A presença negra no Brasil é grande porque, 
entre os séculos XVI e XIX, entraram no atual 
Gravura de Zacharias 
Wagener (século XVII) 
representando uma 
dança cerimonial de 
africanos escravizados 
na colônia portuguesa 
da América. Apesar 
da opressão imposta 
pelos senhores, os 
africanos submetidos 
à escravidão na 
colônia portuguesa 
nunca deixaram de 
cultivar suas crenças, 
valores e formas 
próprias de expressão.
Corbis/Latinstock
Objetivos do capítulo
 n Conhecer as justificativas ideológicas que 
procuravam legitimar a escravização de africanos.
 n Compreender as condições em que se dava 
o transporte dos africanos para a colônia 
portuguesa na América.
 n Entender algumas consequências históricas do 
tráfico negreiro para o continente africano.
 n Perceber que o trabalho escravo foi a base 
da colonização portuguesa na América e 
sustentou todo o modo de vida da colônia.
O tráfico negreiro
Capítulo 6
território brasileiro cerca de 3,8 milhões de africanos. 
Entretanto, essas pessoas não vieram para cá 
espontaneamente. Elas foram arrancadas à força 
de suas terras e obrigadas a vir para o Brasil para 
trabalhar em regime de escravidão.
Neste capítulo veremos como isso ocorreu 
e de que maneira essa violência afetou o 
desenvolvimento do continente africano.
Zacharias Wagener/Galeria estadual de arte, Dresden
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57O tráfi co negreiro Capítulo 6
Cercado por sua corte, Tegbesu, rei do Daomé, recebe visitantes 
ingleses no terraço de uma cabana, em gravura de Archibald 
Dalzel, 1790. A roupa e os adornos das mulheres à sua volta 
revelam a influência europeia no Daomé por essa época.
A escravidão na África
Os portugueses foram os primeiros europeus 
a explorar a costa da África. Quando ali chegaram, 
no decorrer do século XV, a população do continen-
te africano encontrava-se dividida em diversas etnias, 
também chamadas de nações, com estruturas políti-
cas, econômicas e sociais específicas.
Na época, alguns desses povos já contavam 
com um artesanato têxtil importante e com uma 
significativa produção de ferro, além de outros tra-
balhos em metalurgia (veja a seção Olho vivo, na 
página 58). Os portugueses vinham em busca de ri-
quezas – principalmente ouro – e descobriram que 
o tráfico de pessoas escravizadas poderia também 
render altos lucros.
A escravidão já existia na África antes da chega-
da dos portugueses. Entretanto, as características da 
escravidão africana eram diferentes das impostas aos 
africanos pelas sociedades europeias. 
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Habitante de Loango, ao norte da foz do rio Congo, 
na África, em gravura de Louis Grandpré, produzida entre 
1786 e 1787. Nessa região predominavam povos bantos.
Em muitas comunidades da África, o escravo, 
seu amo e parentes cumpriam as mesmas tarefas no 
dia a dia. Os cativos podiam até ser incorporados à 
família, ainda que com status diferente em relação 
às demais pessoas. Nas sociedades constituídas em 
Estados, os escravizados prestavam serviços na corte 
real e nas moradias dos nobres. Trabalhavam também 
como mineradores, artesãos, agricultores. Em outras 
sociedades, porém, eles se encontravam à mercê de 
seus senhores, que podiam castigá-los fisicamente e 
até matá-los.
A obtenção de um escravo podia ocorrer de di-
ferentes maneiras. A mais comum era a guerra. Após 
ganhar uma batalha, o povo vencedor escravizava os 
inimigos derrotados. Outro expediente era o seques-
tro de crianças para serem vendidas como escravas. 
Em algumas regiões, pessoas que tivessem cometido 
assassinato, furto, adultério ou atos de feitiçaria po-
deriam, como punição, se tornar cativas.
Em muitos lugares, era comum a escravização por 
dívidas. Havia ainda casos de pessoas que, para fugir 
da fome e da miséria, pediam para ser escravizadas.
Apesar dessas diversas modalidades de escravi-
dão, a venda de pessoas escravizadas na África an-
tes da chegada dos europeus ocorria em pequenas 
proporções. Raramente os “lotes” à venda excediam 
dez pessoas.
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58 Unidade 2 O trabalho
O antigo Reino de Benin, na atual Nigéria, destacou-se por uma tradição artística que fl oresceu entre 
os séculos XV e XIX. O alto-relevo a seguir, que se encontra no Metropolitan Museum, de Nova York, nos 
Estados Unidos, é um exemplo do trabalho desse povo com a metalurgia e da qualidade artística atingi-
da por ele. Trata-se de uma placa de latão fundido representando guerreiros e servos. Entre os séculos 
XVI e XVII, placas como essa ornavam a fachada do palácio real da cidade de Edo, atual Benin. Mais do 
que uma preocupação em registrar características físicas, a peça destaca a hierarquia entre as pessoas 
representadas e seus símbolos de poder. As fi guras de maior proporção são as que têm maior autoridade.
Olho vivo O chefe guerreiro e seus acompanhantes
Colar com dentes de leopardo, peça que 
associa o guerreiro com a ferocidade do 
animal, considerado um dos principais 
símbolos da realeza de Benin. 
Atendente com caixa contendo noz-de-cola para o obá (rei). 
A noz-de-cola, conhecida no Brasil como obi, é um produto 
nativo da África, oferecido às pessoas de maior distinção.
Elmo incrustado de 
corais.
Soldados de 
menor patente.
Ornamento de 
latão no quadril.
Leque usado pelo 
atendente para 
abanar o chefe 
guerreiro.
Espada cerimonial 
erguida em um 
gesto indicativo de 
honra e lealdade.
O tamanho com que 
são representados 
os atendentes indica 
sua condição social 
mais baixa.
Lança.
Chefe guerreiro 
portando insígnias e 
símbolos de status.
Espécie de corneta, 
usada para anunciar 
a presença do chefeguerreiro.
Fonte: <www.metmuseum.org/Collections/search-the-collections/50009060>. Acesso em: 8 nov. 2012. 
Placa de latão do século XVI ou XVII 
proveniente do Reino do Benin.
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59O tráfi co negreiro Capítulo 6
A escravidão não acabou?
A Organização Internacional do Trabalho (OIT) 
estima que existam cerca de 12,3 milhões de pes-
soas trabalhando como “escravos modernos” em 
todo o mundo. As principais vítimas são mulheres 
e crianças, mantidas como prostitutas, escravas 
sexuais ou obrigadas a fazer trabalhos forçados.
Muitos desses escravos modernos são pessoas 
que decidem mudar para países mais desenvolvi-
dos em busca de melhores condições de vida. Ao fa-
zerem isso, acabam caindo nas mãos de trafi cantes.
A OIT calcula que o tráfi co de seres humanos 
movimenta algo em torno de 31,6 bilhões de dóla-
res ao ano. Desse total, 10 milhões vêm da “ven-
da” de pessoas. O restante refere-se aos lucros 
provenientes de atividades ou de produtos feitos 
pelas vítimas desse comércio. Trata-se da tercei-
ra atividade ilícita mais lucrativa do mundo. Só 
perde para o tráfi co ilegal de drogas e o de armas. 
No Brasil, pessoas que vivem em situação aná-
loga à escravidão são principalmente agricultores 
recrutados por empreiteiros (apelidados de gatos) 
e levados para trabalhar em latifúndios. Quando 
ali chegam, descobrem que já devem o dinheiro 
do transporte e da alimentação consumida na via-
gem. É uma dívida que se perpetua e que perma-
nece sempre maior do que o salário a ser recebi-
do. Estima-se que no Brasil existam de 15 mil a 
40 mil trabalhadores nessa situação.
Fontes: UNICEF cobra ação contra tráfi co 
de pessoas na África. Disponível em: 
<www.bbc.co.uk/portuguese/noticias/
story/2004/04/040423_slavery.shtml>. 
Acesso em: 8 nov. 2012; COMBESQUE, 
Marie Agnés. Entre guerras e miséria: 
os escravos de hoje. São Paulo: Scipione, 
2002; ROELF, Wendell. ONU quer combater 
tráfi co humano com armas econômicas. 
Disponível em: <http://g1.globo.com/Noticias/
Mundo/0,,AA1646069-5602,00.html>. Acesso 
em: 8 nov. 2012; SURI, Sanjay. Cruzada 
mundial contra o tráfi co humano. Disponível 
em: <www.reporterbrasil.com.br/clipping.
php?id=293>. Acesso em: 8 nov. 2012.
De olho no mundo
Faça uma pesquisa e elabore um 
texto sobre as punições previstas 
em lei, no Brasil, para quem utiliza 
mão de obra escrava. Procure infor-
mar-se também sobre se essas leis 
são aplicadas.
Passado Presente
O tráfico em grande escala
Com a chegada dos portugueses, em meados do 
século XV, as pessoas escravizadas na África come-
çaram a ser vendidas e transportadas, cada vez em 
maior número, para outras regiões do planeta.
Segundo o historiador Fernando Novais, o trá-
fico negreiro, com o comércio de especiarias, a pro-
dução de açúcar e a mineração, foi uma das ativi-
dades comerciais mais lucrativas da Idade Moderna. 
2
O primeiro grupo de cativos chegou a Lisboa em 
1441. Eram dez pessoas levadas pelos marinheiros 
como prova de que haviam explorado a costa africa-
na. Três anos mais tarde, Portugal realizou a primeira 
venda pública de pessoas escravizadas: duzentos afri-
canos foram comercializados na ocasião. De acordo 
com o historiador Luiz Felipe de Alencastro, 10 mi-
lhões de escravos africanos desembarcaram no con-
tinente americano entre os séculos XVI e XIX. Desse 
total, cerca de 3,8 milhões vieram para o Brasil (veja a 
seção Passado presente a seguir).
Fonte: Folha de S.Paulo. São Paulo, Caderno Mais, 21 abr. 2004, p. 17.
1,6%
África oriental
1%
Norte da África
32,1%
África
 ocidental 
58,5%
África
centro-ocidental 
5,7%
Sudeste da África
1,1%
Sul da África
OCEANO
PACÍFICO
OCEANO
ATLÂNTICO
OCEANO
ÍNDICO
Equador
30º L
Trópico de Capricórnio
Trópico de Câncer
ORIGEM DOS AFRICANOS ESCRAVIZADOS 
QUE VIERAM PARA O BRASIL
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QUILÔMETROS
ESCALA
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60 Unidade 2 O trabalho
Pombeiros e traficantes
Inicialmente, a captura de pessoas era feita por 
meio de ataques a aldeias instaladas junto ao litoral 
saariano e na região do Senegal. Com o tempo, os 
traficantes passaram a fazer alianças comerciais e mi-
litares com chefes de comunidades, líderes de aldeias 
e reis. Nesses acordos, reis, chefes e líderes de aldeias 
se comprometiam a capturar e entregar homens, mu-
lheres e crianças em troca de bens materiais, como 
utensílios de cobre e de vidro, tecidos, cavalos, etc.
No século XIX, época em que o tráfico negrei-
ro atingiu o apogeu, a compra de seres humanos na 
África passou a ser feita mediante pagamento em di-
nheiro ou por meio de letras de câmbio.
Para obter maior quantidade de cativos, portu-
gueses e outros europeus estimulavam as guerras en-
tre povos africanos. O objetivo era comprar os vencidos 
a baixo preço e revendê-los a alto preço nas colônias.
Outra forma de captura consistia em contratar 
os chamados pombeiros – mercadores que percor-
riam o interior do continente africano para comprar 
pessoas capturadas aos chefes locais. Os mercados 
de cativos chamavam-se pombos. Um dos mais im-
portantes ficava no Congo, junto ao lago Malebo.
Os pombeiros partiam para o interior da África 
carregados de tecidos, bebidas e búzios destinados à 
troca por cativos. Muitas vezes, per-
maneciam até dois anos no inte-
rior do continente. Ao retornarem 
ao porto de Luanda*, em Angola, 
onde os comerciantes da costa os aguardavam, tra-
ziam consigo em torno de quinhentas a seiscentas pes-
soas capturadas.
Acorrentados uns aos outros, os cativos eram obri-
gados a percorrer centenas de quilômetros a pé quase 
sem descansar. A viagem podia demorar meses, e as 
pessoas enfrentavam fome e doenças. As perdas hu-
manas eram enormes: estima-se que cerca de 25% dos 
cativos morriam nessas viagens. Muitas mortes também 
ocorriam nas rebeliões das pessoas capturadas durante 
o trajeto até o litoral ou nos armazéns onde ficavam an-
tes de serem embarcadas para a América.
Cruzando o Atlântico
Antes de partirem para a América, religiosos portu-
gueses batizavam e davam nomes cristãos aos cativos. 
Essa cerimônia era obrigatória. A Igreja cobrava dos co-
merciantes uma taxa por pessoa batizada, garantindo 
assim uma importante fonte de renda. Quando as em-
barcações chegavam ao porto africano de embarque, 
os comerciantes da costa compravam os cativos a pre-
ços que, segundo o historiador Jaime Rodrigues, varia-
vam conforme a idade: três crianças de 8 a 15 anos 
custavam o mesmo que dois jovens de 15 a 25.
Acorrentados, os cativos eram levados aos navios 
– conhecidos como negreiros – que os conduziriam ao 
outro lado do Atlântico*. As con-
dições da travessia eram cruéis 
e degradantes. Muitos morriam. 
Outros enlouqueciam.
Contratados por pombeiros, 
africanos livres conduzem 
grupos de africanos 
escravizados em direção à 
costa. Gravura de W. Bulmer 
executada em 1799.
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* Veja o filme 
Amistad, 
de Steven 
Spielberg, 1997.
* Veja o filme 
Cobra verde, 
de Werner 
Herzog, 1987.
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61O tráfico negreiro Capítulo 6
-1697) chamava esses navios de tumbeiros, pois eram 
verdadeiras tumbas, ou túmulos, em alto-mar.
O tráfico negreiro provocou fortes reflexos na 
África. Com ele, o número de homens e mulheres 
jovens se reduziu drasticamente, comprometen-
do de maneira significativa o crescimento demo-
gráfico e o próprio desenvolvimento econômico 
do continente africano. Alguns estudos revelam 
que, para cada africano escravizado que chegou à 
América, outros cinco teriam morrido entre a cap-
tura, a prisão e o transporte. Isso significa a morte 
de pelo menos 50 milhões de africanosentre os 
séculos XVI e XIX.
Sociedades inteiras na África se desestabilizaram, 
a economia se desorganizou. Reinos como Daomé, An-
gola e Congo transformaram a venda de escravos em 
sua principal atividade econômica, deixando assim de 
apoiar seu desenvolvimento na ex-
ploração dos recursos naturais.
Muitos dos problemas enfrenta-
dos hoje pelos países africanos tive-
ram início nesse período, durante o 
qual a venda de seres humanos ge-
rou elevados lucros para os trafican-
tes europeus protegidos pelas Igrejas 
católica e protestante e pelos gover-
nos de seus respectivos países.
Os tumbeiros
A maior parte dos navios negreiros era de peque-
no porte. Para fazer com que coubesse neles o maior 
número de pessoas, os traficantes construíam um se-
gundo compartimento no porão, cujo teto, excessiva-
mente baixo, impedia que as pessoas ficassem de pé.
Uma viagem de Luanda ao Recife levava cerca 
de 35 dias. De Luanda ao Rio de Janeiro, dois meses. 
Amontoados nos porões, durante o percurso os ca-
tivos tinham de permanecer sentados, acorrentados 
uns aos outros e com a cabeça inclinada. Doenças 
como tifo, sarampo, febre amarela e varíola se propa-
gavam com rapidez e provocavam inúmeras mortes.
As estimativas indicam que de 15% a 20% dos 
africanos embarcados morreram nessas viagens duran-
te o período em que durou o tráfico negreiro. Alarma-
do com esses índices, o padre Antônio Vieira (1608- 
Depois da longa viagem da África 
para o Brasil, um grupo de africanos 
escravizados é levado em um pequeno 
barco do navio negreiro em que vieram 
para o porto do Rio de Janeiro, em 
gravura de Paul Harro-Harring, 1840.
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1. Quais eram as características da escravidão no 
continente africano antes da chegada dos eu-
ropeus?
2. Descreva, em linhas gerais, como se organizou o 
tráfico de escravos com a chegada dos portugue-
ses ao continente africano.
3. À medida que o tráfico negreiro se tornava uma 
atividade cada vez mais lucrativa, os trafican-
tes precisaram encontrar novas estratégias para 
capturar ou comprar escravos na África. Nesse 
contexto, explique quem eram e como agiam 
os “pombeiros”.
4. Descreva, passo a passo, o trajeto percorrido pe-
los africanos escravizados, desde o momento da 
captura no interior do continente até sua chega-
da à América, após a travessia do Atlântico.
5. Por que o padre jesuíta Antônio Vieira chamou os 
navios negreiros de “tumbeiros”?
6. De que modo a escravidão afetou o continente 
africano em seus aspectos econômicos e sociais?
Organizando as ideias Atenção: não escreva no livro. Responda sempre no caderno.
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