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36 Unidade 1 Ciência e tecnologia George Orwell era o pseudônimo do es- critor britânico Eric Arthur Blair (1903-1950). Considerado um dos principais nomes da li- teratura inglesa do século XX, Orwell fez, por meio de sua obra, profundas críticas aos re- gimes opressores surgidos na Europa na pri- meira metade do século XX. Um de seus livros mais conhecidos é A revolução dos bichos, de 1945, cujo enredo é uma fábula política. A obra conta a história dos animais de uma fazenda que, após expulsarem os seres hu- manos que a habitavam, assumem o contro- le do estabelecimento e tentam implantar um regime igualitário entre eles. Porém, pouco a pouco, essas ideias vão sendo esquecidas. No mundo Das letras Bola de Neve e Napoleão P o p p e rf o to /G e tt y I m a g e s 1. No final do século XIX e início do século XX, a Rússia era uma das nações com maior extensão territorial do planeta. Sintetize as condições po- líticas, sociais e econômicas desse país nesse período. 2. Em comparação a vários países europeus, a Rússia começou a se industrializar tardiamente. Como ocorreu o processo de industrialização russo? 3. O Partido Operário Social-Democrata Russo (POSDR) surgiu como um grupo clandestino de orientação socialista revolucionária, que reunia intelectuais e ativistas da classe trabalhadora. Em 1903, o POSDR se dividiu em duas tendên- cias políticas. Que ideias eram defendidas pelos membros dessas tendências? 4. Em 1905, os russos promoveram uma revolução no país. Faça um resumo desse movimento, ex- plicitando suas principais causas, como ocor- reu e as mudanças ocorridas (ou não) ao final da revolução. 5. Segundo o historiador Marc Ferro, os sovietes se constituíram como uma espécie de poder parale- lo dentro da Rússia. Explique o significado dessa afirmação. 6. Em fevereiro de 1917, o czar Nicolau II abdicou e um governo provisório assumiu o poder político. Oito meses depois, esse governo foi derrubado por outro movimento revolucionário. Explique as características dessa sublevação, também cha- mada de Revolução de Outubro, e identifique a corrente política que a liderou. 7. Quais as principais medidas colocadas em práti- ca pelos bolcheviques ao chegar ao poder? 8. Os grupos sociais ligados ao antigo regime cza- rista uniram suas forças e se organizaram para derrubar o governo bolchevique que chegou ao poder da Rússia em 1917. Cite as consequências dessa disputa. 9. Escreva um texto destacando a importância que assumiu o Partido Comunista russo após a Revo- lução de 1917. Organizando as iDeias George Orwell, escritor britânico reconhecido pelas obras 1984 e A revolução dos bichos, em foto de 1940. Atenção: não escreva no livro. Responda sempre no caderno. HMOV_v3_PNLD2015_028a037_U01_C03.indd 36 4/25/13 3:26 PM 37A Revolução Russa Capítulo 3 Mundo virtual n Seventeen moments in Soviety history – Site (em inglês) sobre 17 momentos marcantes na história da União Soviética ao longo do século XX. Na parte referente à Revolução Russa, diversos textos e documentos. Disponível em: <http://tinyurl.com/cv9ju8m>. Acesso em: 7 jan. 2013. O texto é uma contundente crítica aos rumos da Revolução Russa de 1917. O trecho a seguir mostra as discordâncias ideológicas de dois líde- res da fazenda, os porcos Bola de Neve e Napo- leão. Leia-o e depois responda ao que se pede. A revolução dos bichos [...] Como sempre, Bola de Neve e Napoleão não estavam de acordo. Segundo Napoleão, o que os animais deveriam fazer era conseguir armas de fogo e instruir-se no seu emprego. Bola de Neve achava que deveriam enviar mais e mais pombos e provo- car a rebelião entre os bichos das outras granjas. O primeiro argumentava que, se não fossem capazes de defender-se, estavam destinados à submissão; o outro alegava que, fomentando revoluções em toda parte, não teriam necessidade de defender-se. Os animais ouviam Napoleão, depois Bola de Neve e não chegavam à conclusão sobre quem tinha razão; a verdade é que estavam sempre de acordo com aquele que falava no momento. ORWELL, George. A revolução dos bichos. São Paulo: Círculo do Livro, 1975. p. 53. 1. Identifique quais personagens históricos rus- sos podem ser associados a Bola de Neve e a Napoleão. Justifique sua resposta. Se ne- cessário, faça uma releitura do capítulo e do texto. 2. Com base no trecho selecionado, explique qual é a imagem que George Orwell constrói da popu- lação russa diante dos debates ideológicos trava- dos por suas principais lideranças. 3. No trecho selecionado, os animais devem es- colher o tipo de administração que desejam para a granja em que vivem: o modelo pro- posto por Napoleão ou por Bola de Neve. Em época de eleições, ocorrem situações se- melhantes, por exemplo, quando é preciso escolher entre candidatos com projetos po- líticos diferentes e, muitas vezes, antagôni- cos. Reúna-se a seus colegas e debatam as seguintes questões: Qual é a importância de conhecer as propostas dos candidatos nas eleições? Como vocês obtêm informações sobre os candidatos e suas propostas? Ao fi- nal, apresentem oralmente as respostas do grupo para a classe. Hora De reFletir Os avanços tecnológicos da virada do século XIX para o XX permitiram que a Rússia passasse por um processo de industrialização. No entanto, esses avanços não contribuíram para melhorar a situação dos trabalhadores, que recebiam baixos salários e cumpriam pesadas jornadas de trabalho. E hoje, como pode ser avaliado o impacto das novas tec- nologias na vida dos trabalhadores? Reúna-se com seus colegas e apontem três situações em que no- vas tecnologias afetam o cotidiano dessas pessoas. HMOV_v3_PNLD2015_028a037_U01_C03.indd 37 4/25/13 3:26 PM 38 2 0 1 3 G o o g le E a rt h /D ig it a lG lo b e Leonardo Papini/Sambaphoto Os dados sobre São Paulo podem impressionar: com mais de 11,2 milhões de habitantes é a oitava cidade mais populosa do mundo, atrás apenas de Xangai (China), Karachi (Paquistão), Mumbai (Índia), Dhaka (Bangladesh), Pequim (China), Moscou (Rússia) e Istambul (Turquia). Se considerarmos sua região metropolitana, a população ultrapassa os 20 milhões de habitantes. Se a cidade de São Paulo fosse um país, ela seria a 40º maior economia do mundo, segundo uma pesquisa recente feita pela Federação do Comércio de Bens e Serviços e Turismo do Estado de São Paulo. O Produto Interno Bruto (PIB) da capital paulista é superior ao PIB de todos os estados brasileiros, exceto do próprio estado de São Paulo. O que também surpreende é o fato de que toda essa grandeza é relativamente recente. No fi nal do século XIX, a cidade de São Paulo tinha apenas 65 mil habitantes, e o principal polo industrial do país era o Rio de Janeiro. A partir da expansão da produção e das exportações de Capítulo 4 O Brasil chega ao século XX Objetivos do capítulo n Conhecer o contexto socioeconômico e político no Brasil e as transformações observadas na sociedade brasileira nos primeiros anos do século XX. n Perceber como aspectos regionais referentes a desenvolvimento e uso de tecnologia se inter-relacionam a aspectos nacionais e mundiais. n Compreender o processo de surgimento de organizações políticas e sindicais do operariado brasileiro. n Entender o processo de nascimento/ recrudescimento do preconceito contra a população negra no Brasil e conhecer algumas formas de luta dos negros na conquista por direitos. café, São Paulo viria a se tornar a principal força econômica do país. Neste capítulo veremos que, nas primeiras décadas do século XX, milhares de indústrias foram abertas no estado de São Paulo e imigrantes e agricultores deslocaram-se em massa para a capital que, na década de 1920, já abrigava 580 mil pessoas. Imagem de satélite da região central da cidade de São Paulo. Registro de fevereiro de 2013. HMOV_v3_PNLD2015_038a051_U01_C04.indd38 4/25/13 3:26 PM 39O Brasil chega ao século XX Capítulo 4 No princípio de todo esse processo encontra- vam-se outros trabalhadores: os mateiros, indivíduos que conheciam bem a floresta e eram capazes de in- dicar os locais onde se encontravam as seringueiras; e os toqueiros, que abriam “estradas” no meio da mata até os locais escolhidos pelos mateiros. A abertura de novos caminhos até o local onde estavam as seringueiras aconteceu muitas vezes em terras habitadas por povos indígenas, o que resultou em uma série de confrontos. Os Apiacás, por exem- plo, que viviam nas proximidades da divisa do Pará com o Mato Grosso foram dizimados ao tentar impe- dir a invasão de suas terras. Uma vez estabelecida a área de exploração, en- travam em ação os seringueiros, que extraíam o lá- tex das árvores e, depois, em um barraco, conhecido como tapiri, defumavam a goma obtida até trans- formá-la em borracha. Essa tarefa acontecia duran- te a chamada “estação da sangria”. Nesse período, os seringueiros passavam vários meses embrenhados na floresta, tendo contato apenas com comerciantes que, em troca de borracha, lhes forneciam víveres e outras mercadorias para subsistência. Surto de riqueza Segundo a historiadora Barbara Weinstein, duran- te o auge da extração da borracha na Amazônia, entre 1895 e 1915, o faturamento com as exportações do produto chegaram a 234 milhões de libras esterlinas. A Amazônia passou por um surto de riqueza que pos- sibilitou o surgimento de uma elite formada sobretudo por seringalistas, grandes comerciantes e banqueiros. Manaus e Belém se tornaram cidades moder- nas, com a construção de largas avenidas, praças, mercados e edifícios imponentes, como o Palácio do Governo e o Teatro Amazonas, ambos em Manaus. Ascensão e queda da borracha Na passagem do século XIX para o século XX, a economia brasileira continuava a se apoiar principal- mente nas atividades agroexportadoras. A principal fonte de riqueza era o café: cerca de 75% de toda a produção mundial tinha origem nos cafezais bra- sileiros. Apenas a borracha – extraída dos seringais da região amazônica, em terras dos atuais estados de Amazonas, Pará, Acre e Rondônia (veja a seção Patrimônio e diversidade, na página seguinte) –, entre 1895 e 1915, fez concorrência ao café em re- lação à produção de riquezas. A exploração comercial do látex, goma extraí- da da seringueira e do qual se obtém a borracha, ocorria desde o século XVIII. Utilizada principal- mente para impermeabilizar tecidos, a borracha fi- cava quebradiça no inverno e pastosa no verão. Em 1844, Charles Goodyear patenteou um processo que dava mais resistência ao produto, deixando-o imune às variações de temperatura. A partir disso, as exportações do látex da região amazônica au- mentaram significativamente. O grande salto na produção ocorreria a partir de 1886, com a invenção do automóvel e a neces- sidade de borracha para a fabricação de pneus. O Brasil, nesse período, respondia por 90% de toda a produção mundial do látex e o produto chegou a re- presentar 40% das exportações brasileiras. A extração do látex Era grande o número de pessoas envolvidas em todo o processo de produção da borracha, começan- do pela extração do látex nas seringueiras até a ven- da da borracha para o exterior. Havia o seringalista, dono do seringal onde era feita a colheita do produ- to. Ele costumava construir, geralmente nas margens dos rios, um barracão que funcionava como escritório e depósito para o armazenamento da borracha. Para o seringalista trabalhavam várias pessoas: o gerente, que cuidava dos negócios quando ele se ausentava; o guarda-livros, encarregado de cuidar de toda a contabilidade do seringal; e os caixeiros, responsáveis por colocar a borracha em caixas an- tes de despachá-las para as casas aviadoras. Essas casas – estabelecidas geralmente em Belém ou Ma- naus – vendiam a borracha para as casas expor- tadoras que, por sua vez, embarcavam a matéria- -prima para os portos de Nova York, nos Estados Unidos, e Liverpool, na Inglaterra. 1 O Teatro Amazonas, construído em 1896, é hoje um símbolo do período de riqueza e esplendor observado na região amazônica, durante o ciclo da borracha. Foto de 2012. R ic a rd o A zo u ry /P u ls a r Im a g e n s HMOV_v3_PNLD2015_038a051_U01_C04.indd 39 4/25/13 3:26 PM 40 Unidade 1 Ciência e tecnologia Patrimônio e diversidade Rondônia No início do século XX, a necessidade de es- coar a borracha extraída das seringueiras da fl o- resta Amazônica até os grandes centros da época motivou a construção de uma ferrovia no meio da selva: a Estrada de Ferro Madeira-Mamoré. A fer- rovia ligava a atual capital de Rondônia, Porto Ve- lho, localizada na margem direita do rio Madeira, até o porto de Guajará-Mirim, no rio Mamoré, na fronteira do Brasil com a Bolívia. As obras iniciaram-se em 1907 e sua constru- ção pode ser considerada uma epopeia. Foram contratados trabalhadores de mais de 40 naciona- lidades. Para construir os 366 quilômetros que se- paravam as duas localidades, os operários tiveram de superar inúmeras difi culdades, como transpor as cachoeiras, enfrentar naufrágios, mortes por doenças tropicais e ataques indígenas. As obras fi caram prontas em 1912, quando a borracha ama- zônica começava a perder espaço no cenário eco- nômico internacional. A estrada de ferro permane- ceria em atividade até 1972. A história da ferrovia encontra-se hoje preser- vada no Museu Ferroviário Madeira-Mamoré, em Porto Velho, do qual fazem parte os prédios das ofi cinas, os armazéns de carga e descarga e a es- tação local. Seu acervo também é composto por móveis de escritório, relógios de ponto, carimbos, cofres, máquinas de escrever, além de locomotivas e vagões da ferrovia. A implantação dessa ferrovia teve um cará- ter épico semelhante aos esforços empreendidos na construção do Real Forte Príncipe da Beira, no atual município rondoniense de Costa Marques, às margens do rio Guaporé, outra fronteira natural entre o Brasil e a Bolívia. Localizada a 3 mil quilô- metros do litoral, a fortaleza começou a ser cons- truída em 1776, na administração do Marquês de Pombal, e foi inaugurada sete anos depois. O obje- tivo de sua construção era delimitar o território sob domínio de Portugal. Com quase um quilômetro de perímetro, o for- te é uma das maiores obras da engenharia portu- guesa do século XVIII e, para ser construído, foi necessário transportar por via fl uvial grande parte das pedras usadas nas muralhas de 10 metros de altura da fortaleza. As mais de mil pessoas envol- vidas nas obras desbravaram a mata virgem e con- viveram com o risco de contrair malária e outras doenças tropicais. Devido à proximidade com a Bolívia, a popula- ção de Rondônia é infl uenciada por hábitos e cos- tumes dos bolivianos. Nessas regiões fronteiriças é possível encontrar, por exemplo, lanchonetes e barracas que servem comidas típicas de Rondônia (como o massaco, um prato feito com banana da terra ou mandioca cozida e socada no pilão com carne seca e queijo) ao lado de comidas e bebi- das de origem boliviana (como empanadas e sal- tenhas, espécies de pastéis salgados recheados). Também é signifi cativa em Rondônia a pre- sença de povos indígenas. Atualmente, cerca de 30 povos diferentes habitam as terras desse es- tado. Alguns são descendentes dos primeiros ha- bitantes dessa região, como os Uru-Eu-Wau-Wau e Uru-Pa-In. Esses povos vivem atualmente no Parque Nacional de Pacaás Novos, uma das principais reservas extrativistas e biológicas de Rondônia, localizada no município de Ariquemes. No coração da Amazônia Abril de 1909. Trem com trabalhadores, água e dormentes trafega no trecho construído da Estrada de Ferro Madeira-Mamoré com destino às obras em construção do restante da ferrovia. In s ti tu to H is tó ri c o e Ge o g rá fi c o d e S ã o P a u lo / A rq u iv o d a e d it o ra HMOV_v3_PNLD2015_038a051_U01_C04.indd 40 4/25/13 3:27 PM 41O Brasil chega ao século XX Capítulo 4 A euforia com tanta riqueza, entretanto, não du- rou muito. Atraídos pela perspectiva de lucros ainda maiores, os ingleses transplantaram mudas de serin- gueiras para o Ceilão (atual Sri Lanka) e Cingapura, onde a planta passou a ser cultivada de forma ra- cional em grandes propriedades, enquanto no Brasil, ao contrário, ela permanecia crescendo espontanea- mente no meio da floresta. Com esse processo, em pouco tempo os asiáticos passaram a liderar a pro- dução mundial do látex, desbancando os produtores brasileiros. Em 1919, as vendas brasileiras no merca- do externo não chegavam a 10% das exportações mundiais do produto. A expansão industrial no início do século XX Na região Sudeste, a produção e a exportação de café enriqueceram alguns fazendeiros do oeste pau- lista, que passaram a utilizar parte de seus lucros em outras atividades, entre as quais o comércio e a in- dústria. A atividade industrial também recebeu inves- timentos dos grandes comerciantes e dos imigrantes que traziam algum dinheiro ou riquezas quando se mudavam para o Brasil. Vários desses homens de ne- gócios tinham experiência no ramo de importação, como era o caso dos empresários Francisco Matarazzo e Rodolfo Crespi, ambos de origem italiana, que se tornariam, com o tempo, donos de parques indus- triais em São Paulo. As fábricas instaladas no país nos primeiros anos da República eram, na maioria, de pequeno e mé- dio porte, e produziam, principalmente, bens de con- sumo não duráveis, como tecidos, roupas, calçados, chapéus, massas alimentícias, sabão, bebidas, etc. Em 1907, o Brasil contava com 3 120 estabelecimen- tos industriais. Entre todas as cidades brasileiras, o Rio de Janeiro era a que concentrava o maior núme- ro de fábricas. São Paulo começava a despontar como um polo dinâmico, e logo viria a consolidar-se como principal centro de circulação de produtos de exportação e im- portação e como um ponto de distribuição de bens de consumo. Em 1920, quando havia mais de 13 mil indústrias no Brasil, São Paulo já era o principal e mais diversificado polo industrial do país. 2 A vida dos trabalhadores A maioria dos trabalhadores urbanos encontra- va-se empregada no setor de serviços, como balconis- tas, empregados domésticos, motoristas de bondes, ou no setor informal, onde atuavam como mascates e ambulantes, por exemplo. Segundo a historiado- ra Heloísa de Faria Cruz, na passagem do século XIX para o XX a maior parte das atividades do setor de serviços encontrava-se a cargo da iniciativa privada, inclusive aquelas que seriam de responsabilidade do governo local, como transporte urbano, iluminação, limpeza pública e comunicações. O número de operários fabris tendia a crescer. Em sua maioria, eles trabalhavam em fábricas de pe- queno porte, algumas das quais não chegavam a em- pregar mais de dez trabalhadores. As maiores unida- des fabris pertenciam sobretudo ao ramo têxtil, que era nessa época o setor mais dinâmico da indústria. Nas fábricas, fossem elas grandes ou pequenas, no setor de serviços e nas atividades extrativas e agro- pecuárias, nenhuma proteção legal amparava os tra- balhadores. Não existia legislação trabalhista, como conhecemos hoje. Não havia descanso semanal re- munerado, férias ou aposentadoria. Os donos de fá- brica estabeleciam seus próprios regulamentos, nor- mas e disciplinas em relações contratuais que não garantiam nenhum direito aos empregados, impon- do-lhes todos os deveres e obrigações. As jornadas eram longas e extenuantes, durando em média de 10 a 14 horas por dia. Tampouco havia indenização para os casos de acidentes de trabalho, muito frequentes em virtude da presença de crian- ças nas fábricas, das condições físicas dos trabalha- dores, debilitados pela má alimentação e pelas escas- sas horas de repouso, e da falta de equipamentos de proteção. O ambiente de trabalho era quase sempre insalubre, mal ventilado e precariamente iluminado, facilitando a propagação de doenças. Favorecidas pelo excesso de mão de obra, mui- tas fábricas procuravam contratar mulheres e crian- ças, que recebiam salários inferiores aos dos homens. Em alguns locais de trabalho, era possível encontrar crianças de até cinco anos nas linhas de produção. Muitas delas eram recrutadas em asilos de órfãos e instituições de caridade. Pequenas faltas cometidas por meninos e meninas eram punidas com castigos físicos. As mulheres eram vítimas constantes do assé- dio sexual de patrões e capatazes. HMOV_v3_PNLD2015_038a051_U01_C04.indd 41 4/25/13 3:27 PM 42 Unidade 1 Ciência e tecnologia Os socialistas defendiam a união dos trabalhado- res em torno de um partido político. Para eles, esse seria o início de um processo que culminaria na cria- ção de uma sociedade socialista. Os anarquistas* propu- nham a extinção imediata do Estado e da propriedade pri- vada. Uma de suas variantes era o anarcossindicalismo, que atribuía particular importância à ação dos sindicatos e das ligas operárias na luta contra os patrões e contra o Estado capitalista. Nas duas primeiras décadas do século XX, a lide- rança do movimento operário em São Paulo e em ou- tras capitais brasileiras esteve nas mãos do anarcos- sindicalismo. Já no Rio de Janeiro era forte também a presença de uma corrente chamada de trabalhista pelo historiador Boris Fausto. Essa corrente era com- posta de líderes sindicais que propunham o diálogo com o governo, o que era rejeitado por anarquistas e anarcossindicalistas. Em 1922, sob a influência dos acontecimen- tos da Revolução Russa de 1917, militantes saídos principalmente do anarquismo fundaram o Partido Comunista do Brasil (PCB). A partir desse momen- to, os comunistas entraram na disputa pela lideran- ça do movimento operário nos principais estados brasileiros. Assim como os anarquistas, eles defen- diam o fim da sociedade burguesa, mas acredita- vam que isso não podia ser feito de uma hora para outra, como pretendiam os anarquistas. Para eles, era preciso que o proletariado tomasse o poder por meio de uma revolução e substituísse o governo capitalista por um governo operário, dirigido pelo Partido Comunista. Vagão com destino ao bairro da Penha, Zona Leste da capital de São Paulo, transporta operários grevistas no início do século XX. A rq u iv o /A g ê n c ia E s ta d o Com os baixos salários, muitos trabalhadores iam residir em cortiços, porões e pensões precárias. Atividades de lazer eram limitadas pelo pouco tem- po de que dispunham para descanso e pela falta de dinheiro, o que aumentava a necessidade de mu- lheres e crianças também trabalharem para ajudar no sustento da família. Os operários que moravam em bairros pobres, lo- calizados na periferia das cidades, tinham como princi- pais diversões atividades gratuitas, como quermesses, bailes, procissões e romarias. Mais tarde, o futebol de várzea, cujos jogos também eram gratuitos, passou a ser a principal diversão, sobretudo dos homens. Quan- do sobrava algum dinheiro, o que era raro, os traba- lhadores se davam ao luxo de ir ao cinema, onde se divertiam com as aventuras de Charles Chaplin, do caubói Tom Mix, do atlético Douglas Fairbanks ou com os amores de Pola Negri ou Gloria Swanson. O operariado brasileiro se organiza Nas últimas décadas do século XIX, surgiram as primeiras associações de ajuda mútua, que reuniam trabalhadores do mesmo ofício e tinham por objeti- vo obter recursos para amparar os associados e suas famílias em casos de doença, desemprego ou morte. Mais tarde, surgiram as ligas operárias e os sindicatos. Até mesmo o teatro foi utilizado com essa finali- dade. Homens e mulheres participavam de grupos de teatro amador nosquais eram representadas peças que tinham por objetivo despertar a conscientização dos trabalhadores para a luta pelos seus direitos. Essa mudança foi decorrência direta da ação de imigrantes politizados, que trouxeram para o Brasil as principais correntes de ideias do movimento operário europeu: socialismo, anarquismo e anarcossindicalismo. * Leia o livro Anarquistas, graças a Deus, de Zélia Gattai, editora Record. HMOV_v3_PNLD2015_038a051_U01_C04.indd 42 4/25/13 3:27 PM
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