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8º ano Estudos Amazônicos (1)

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Estudos Amazônicos			 8º ano
O ciclo da borracha na Amazônia
“A ambição que gerou a conquista, a conquista que gerou o extrativismo onde os caudilhos fixaram suas leis homicidas, o extrativismo que gerou a súbitas fortunas de aventureiros dos quatro cantos. Era o El Dorado, o esplendor de uma selvagem nobreza dos trópicos cujos cenários e costumes foram importados de Inglaterra, França e Itália”. – Glauber Rocha, Amazonas Amazonas, 1966.
Trataremos aqui de um período de grande importância para a região Amazônica, com grandes repercussões socioeconômicas, não só em nível regional, mas em todo o país, que sentiu seu impacto tanto no apogeu quanto do declínio. Vale salientar que o Brasil dependia da Amazônia para a obtenção das libras esterlinas, moeda dominante na época, necessária à manutenção do seu comércio internacional, ao pagamento do serviço de sua dívida externa e ao alívio orçamentário, que permitiu o embelezamento do Rio de Janeiro, capital na época. A arrecadação da Amazônia permitiu também a construção das estradas de ferro do Centro-sul, a implantação de novas instalações portuárias e, por incrível que pareça, permitiu a manutenção dos preços do café (claro que os livros de história não abordam esse fato, jamais que a região Sudeste iria querer ficar “submissa” a região dita selvagem). Segundo Antônio Loureiro (a Grande Crise, 2ª Edição, 2008), “São Paulo era a locomotiva na época, mas a Amazônia é que lhe fornecia os trilhos e o combustível necessários às suas caldeiras. ”Seringueiros, durante o ciclo da borracha
O ciclo da borracha foi um momento da história econômica e social do Brasil, relacionado com a extração de látex da seringueira e comercialização da borracha. Teve o seu centro na região amazônica, e proporcionou expansão da colonização, atração de riqueza, transformações culturais e sociais, e grande impulso ao crescimento de Manaus, Porto Velho e Belém, até hoje capitais e maiores centros de seus respectivos estados, Amazonas, Roraima e Pará. No mesmo período, foi criado o Território Federal do Acre, atual Estado do Acre, cuja área foi adquirida da Bolívia, por meio da compra no valor de 2 milhões de libras esterlinas, em 1903. O ciclo da borracha viveu seu auge entre 1879 e 1912, tendo depois experimentado uma sobrevida entre 1942 e 1945, durante a Segunda Guerra Mundial (1939-1945). 
Linhas gerais
A borracha já era usada pelos povos pré-colombianos desde as épocas mais remotas, e uma das facetas mais características da civilização Teotihuacán (300 a.C. a 600 d.C.) foi o jogo ritualístico com bolas de caucho, que se espalhou por todo o continente, chegando até a Amazônia, no qual os vencedores, na sua versão centro-americana, eram imolados ao Sol, como Prêmio. Por isto o seu uso não passou despercebido aos primeiros cronistas espanhóis que a citaram, ainda nos séculos XV e XVI, quando dos seus contatos com os povos da América Central e do México.
Dentro da linha cultural luso-brasileira coube ao carmelita frei Manuel da Esperança a sua primeira descrição. Destacado para receber as missões jesuíticas espanholas do Solimões, estabelecidas pelo padre Samuel Fritz, não foi feliz neste objetivo, mas ali observou, entre 1690 e 1701, a manipulação do látex pelos omáguas, em seus objetos utilitários. No século XVIII, o sábio francês Charles Marie de La Condamine, em 1736, descreveu as suas primeiras experiências com a goma elástica e a sua aplicação pelos nativos da Amazônia para diversos fins, como na fabricação de diversos utensílios de uso cotidiano, como sapatos e garrafas, ou no revestimento de tecidos. Mais tarde, em 1745, no Relato Abreviado de uma Viagem feita ao Interior da América Meridional informava que os “portugueses” da Amazônia fabricavam seringas sem êmbolos, trabalho aprendido no seu trato com os cambebas. Estas seringas nada mais eram que as peras de borracha usadas, até hoje, como duchas ginecológicas.Os maias
Bolas, borrachas de apagar, sondas (algalias), tecidos para cintos, ligas e suspensórios, sacos e encerados e galochas foram as primeiras utilidades de borracha a entrar nos mercados europeu e norte-americano, iniciando uma procura mais ou menos intensa da matéria-prima, no começo do século XIX. Nesta época, a produção concentrava-se na região em torno de Belém e nas ilhas do arquipélago de Marajó, e naquela cidade havia uma florescente indústria de exportação de milhares de galochas e de sapatos impermeabilizados, movimentando economicamente o seu porto. Os sapatos de borracha eram bem aceitos no mercado norte-americano, e os jornais daquele país comumente publicavam reclames oferecendo partidas desse artigo nos seguintes termos.
Charles Marie de La Condamine
“A borracha chegou aos USA e, com o entusiasmo tão característico dos americanos, todos querem um par de sapatos de borracha”¹
Cit. Por Tocantins, Leandro – Amazônia, natureza, homem e tempo, Editora Conquista, Rio de Janeiro, 1963.
Para que a aplicação industrial da borracha viesse a ocorrer foram necessários, no entanto, investigações e pesquisas que, finalmente, permitiram tornar o produto mais estável, não – vulnerável, por exemplo, às alterações do ambiente. Seu uso foi ampliado a partir da Vulcanização, tratamento com enxofre e calor feito por Charles Goodyear (1839), que promovia maior durabilidade das qualidades elásticas do látex. Por toda a segunda metade do século, ampliou-se cada vez mais o uso da borracha.
Antes mesmo da ampla vulgarização do automóvel no início do século XX, o uso de luvas de borracha foi uma importante contribuição para a assepsia médica. Preservativos sem costuras longitudinais se difundiram na Inglaterra vitoriana, facilitando o controle da natalidade e da transmissão de doenças venéreas. Bernard Shaw referiu-se a tal proteção de borracha como a maior invenção do século XIX.
Ali foi dado o primeiro passo para o advento do Ciclo-da-Borracha.
A primeira fábrica de produtos de borracha (ligas elásticas e suspensórios) surgiu na França, em Paris, no ano de 1803. Contudo, o material ainda apresentava algumas desvantagens: à temperatura ambiente, a goma mostrava-se pegajosa. Com o aumento da temperatura, a goma ficava ainda mais mole e pegajosa, ao passo que a diminuição da temperatura era acompanhada do endurecimento e rigidez da borracha.Charles Goodyear
Foram os índios centro-americanos os primeiros a descobrir e fazer uso das propriedades singulares da borracha natural. Entretanto, foi na floresta amazônica que de fato se desenvolveu a atividade da extração da borracha, a partir da seringa ou seringueira (Hevea brasiliensis), uma árvore que pertence à família das Euforbiáceas, também conhecida como árvore da fortuna.
Do caule da seringueira é extraído um líquido branco, chamado látex, em cuja composição ocorre, em média, 35% de hidrocarbonetos, destacando-se o 2-metil-buta-1,3-dieno (C5H8), comercialmente conhecido como isopreno, o monômero da borracha.
O látex é uma substância praticamente neutra, com pH 7,0 a 7,2. Mas, quando exposta ao ar por um período de 12 a 24 horas, o pH cai para 5,0 e sofre coagulação espontânea, formando o polímero que é a borracha, representada por (C5H8)n, onde n é da ordem de 10.000 e apresenta massa molecular média de 600 000 a 950 000 g/mol.Extração de látex de uma seringueira.
A borracha, assim obtida, possui desvantagens. Por exemplo, a exposição ao ar provoca a mistura com outros materiais (detritos diversos), o que a torna perecível e putrefável, bem como pegajosa devido à influência da temperatura. Através de um tratamento industrial, eliminam-se do coágulo as impurezas e submete-se a borracha resultante a um processo denominado vulcanização, resultando a eliminação das propriedades indesejáveis. Torna-se assim imperecível, resistente a solventes e a variações de temperatura, adquirindo excelentes propriedades mecânicas e perdendo o carácter pegajoso.
A semente da seringueira é rica em óleo, que pode servir de matéria-prima para a produção de resinas, vernizes e tintas e, por ser rica em nutrientes é usadana fabricação de suplementos alimentares. Atualmente, indígenas ainda usam as sementes da seringueira como alimento. 
O primeiro ciclo da borracha - 1879/1912
Durante os primeiros quatro séculos e meio do descobrimento, como não foram encontradas riquezas de ouro ou minerais preciosos na Amazônia, as populações da hileia brasileira viviam praticamente em isolamento, porque nem a coroa portuguesa e, posteriormente, nem o império brasileiro conseguiram concretizar ações governamentais que incentivassem o progresso na região. Vivendo do extrativismo vegetal, a economia regional se desenvolveu por ciclos (drogas do sertão), acompanhando o interesse do mercado nos diversos recursos naturais da região.
Para extração da borracha neste período, acontece uma migração de nordestinos, principalmente do Ceará, pois o estado sofria as consequências das secas do final do século XIX.Pélas de borracha
Borracha: lucro certo
Com essa nova tecnologia, a vulcanização, as indústrias do mundo passaram a recorrer cada vez mais à borracha. Isso fez da Amazônia uma exportadora em potencial, contudo, era muito complicado e caro transportar a borracha das áreas de extração para os principais portos da região, afinal, as seringueiras estavam espalhadas pelo interior da floresta. Agora, você consegue imaginar como era feito o transporte do látex para os portos de onde a borracha era exportada?
Os barcos foram a alternativa para escoar essa produção. Diversos tipos e tamanhos de canoas e escunas, movidas pela força humana e pelo vento cortavam os rios da Amazônia transportando a produção, entretanto, a viagem de Belém para Manaus durava em média 160 dias! Por isso, a introdução do barco à vapor foi importante para incrementar o comércio baseado no látex.
Para você ter uma ideia, com o barco à vapor, o tempo de viagem entre Belém e Manaus caiu para 22 dias!
O desenvolvimento tecnológico e a Revolução Industrial, na Europa, foram o estopim que fizeram da borracha natural, até então um produto exclusivo da Amazônia, um produto muito procurado e valorizado, gerando lucros e dividendos a quem quer que se aventurasse neste comércio.
Palacete Pinho, considerado um dos principais exemplares do ápice do ciclo da borracha. Belém ficou conhecida como a "Paris dos Trópicos" durante o Ciclo da Borracha.
Desde o início da segunda metade do século XIX, a borracha passou a exercer forte atração sobre empreendedores visionários. A atividade extrativista do látex na Amazônia revelou-se de imediato muito lucrativa. A borracha natural logo conquistou um lugar de destaque nas indústrias da Europa e da América do Norte, alcançando elevado preço. Isto fez com que diversas pessoas viessem ao Brasil na intenção de conhecer a seringueira e os métodos e processos de extração, a fim de tentar também lucrar de alguma forma com esta riqueza.
A mudança no transporte da região tem relação direta com as transformações que aconteciam no Brasil. Ela também foi uma tentativa de impedir que empresas estrangeiras circulassem pela região. Foi nessa época que a companhia de navegação à vapor, criada pelo Barão de Mauá, ganhou o direito de ter o monopólio de navegação do rio Amazonas.O Mercado Municipal Adolpho Lisboa, em Manaus
Mercado Ver-o-Peso, em Belém, foram construídos durante o Ciclo da Borracha.
Com tanto interesse das nações sobre o látex da Amazônia, o governo brasileiro temia pela integridade de seu território. Essa foi uma das razões pelas quais passou a estimular a ocupação da região e dinamização do transporte.
A partir da extração da borracha surgiram várias cidades e povoados, depois também transformados em cidades. Belém e Manaus, que já existiam, passaram então por importante transformação e urbanização. Manaus foi a segunda cidade do Brasil, depois de Campos dos Goytacazes, no Rio de Janeiro, a introduzir a eletricidade na iluminação pública. Assim, cria-se a viabilidade para o bonde elétrico.
Como base da economia gomífera no ciclo da borracha, o sistema de aviamento não pode ser pensado sem seus principais elementos: o seringal, o seringalista e o seringueiro. O seringal era formado por uma espécie de barracão, onde moravam os “patrões” e algumas famílias de trabalhadores, formando um vilarejo. Era geralmente localizado próximo a rios para facilitar o abastecimento de mercadorias e escoamento da produção. Como unidade produtiva e social o seringal também se constituía pela posse de uma imensa área conectada por caminhos onde se localizavam as seringueiras. O seringalista era conhecido como “patrão”, o dono dos meios de produção que comandava seus capatazes, gozando dos privilégios de mando. O seringueiro provinha das camadas mais pobres da população e, na maioria das vezes, era o migrante nordestino que, imerso num sistema de endividamento do qual dificilmente conseguia escapar, vivia numa condição semiescravista, à mercê dos “patrões”.
Depois de pesada, a borracha era enviada pelos rios da região para os principais portos, em Belém ou Manaus. Nessas cidades a borracha era mais uma vez comercializada, porém, a negociação agora se deva entre o seringalista e as casas aviadoras. Em seguida, as casas aviadoras negociavam a borracha para a exortação. Era nesse momento que a borracha era realmente valorizada, já que no seringal o valor pago ao seringueiro era baixo, enquanto que no mercado mundial o preço era alto. Isso significa que o comércio da borracha gerava grandes fortunas, mas apenas para poucos.
Esse comércio também gerou muita riqueza para os cofres públicos. Uma taxa de impostos era cobrada sobre cada quilo de borracha vendido. 
Como funcionava o sistema de trabalho nos seringais? Os seringueiros não eram escravos, mas viviam em um regime de exploração de constante endividamento, chamado aviamento.
Para chegar ao seringal, o seringueiro recebia passagem e algum dinheiro do aviador. Chegando ao seringal, ele precisava comprar suas ferramentas de trabalho, alguns utensílios domésticos e. logicamente, comida. Tudo isso era adquirido no barracão localizado no seringal. Então, antes mesmo de começar a trabalhar, o seringueiro já estava endividado, e o endividamento só aumentava, haja visto que o seringueiro só poderia comprar alimentos e outros produtos no barracão do seringal. Lá, essas mercadorias eram vendidas por um preço muito mais alto do que normal. Era nesse sistema de exploração que ocorria a extração do látex.
A questão do Acre – A Guerra da Borracha
Entre 1877 e 1879, o nordeste brasileiro sofre uma das piores secas de sua história. Somente do Ceará, mais de 65.000 pessoas partem para a Amazônia, acossados pelo flagelo natural e pela crise da economia agrária. Esse contingente humano vai servir de mão-de-obra nos seringais, avançando a fronteira do extrativismo. Em pouco tempo, a maioria desses cearenses entra pelo rio Purus, ocupando zonas ricas em seringueiras. No final da década estarão no Acre, território reivindicado pela Bolívia, Brasil e Peru.
Mas o exagero do extrativismo descontrolado da borracha estava em vias de provocar um conflito internacional. Os trabalhadores brasileiros cada vez mais adentravam nas florestas do território da Bolívia em busca de novas seringueiras para extrair o precioso látex, gerando conflitos e lutas por questões fronteiriças no final do século XIX, que exigiram inclusive a presença do exército, liderado pelo militar José Plácido de Castro.Retirantes da seca de 1877.
Desenho especial de Percy Lau para o livro Geografia da Fome de Josué de Castro
Os bolivianos, impotentes para impedir a invasão brasileira, associam-se a grupos econômicos europeus e norte-americanos, fundando o Bolivian Syndicate, que se encarregaria de garantir o domínio boliviano no território e explorar os recursos naturais pelo prazo de dez anos. Os empresários brasileiros decidem enfrentar a ameaça apresentada por tão poderosa associação.
Em maio de 1899, aproveitando a madrugada, o navio de guerra norte-americano Wilmington parte do porto de Belém e ilegalmente navega o rio Amazonas acima, rumo ao Acre. O navioé interceptado perto de Manaus e o governo brasileiro protesta junto ao governo dos Estados Unidos, provocando uma deterioração nas relações dos dois países. No dia 14 de junho de 1899, com o apoio de políticos e empresários amazonenses, o aventureiro espanhol Luiz Galvez Rodrigues de Aria, à frente de um exército de boêmios e artistas de teatro, ocupa o território e funda o Estado Independente do Acre, sendo deposto no final do mesmo ano por uma flotilha da marinha brasileira. Era uma demonstração, um tanto burlesca, é certo, das intenções dos empresários amazonenses.
No dia 6 de agosto de 1902, comandando um exército de guerrilheiros recrutados entre seringueiros, o jovem Plácido de Castro, gaúcho de São Gabriel, entra na cidade de Xapuri e, após prender o intendente boliviano, Juan de Dios Barrientos, proclama novamente o Estado Independente do Acre. Nos próximos meses, esse estrategista talentoso, com homens de pouca instrução militar, moverá uma guerra contra o exército boliviano, criando uma situação de fato naqueles territórios cobiçados. O governo brasileiro, temendo a ampliação do conflito, manda uma poderosa força militar, sob o comando do general Olímpio da Silveira, o mesmo que derrotara os rebeldes de Canudos e mandara degolar os prisioneiros, para ocupar o Acre, obrigar Plácido de Castro a depor as armas e levar a questão para a mesa diplomática.
A Bolívia pensou em reagir novamente quanto a tomada do território acreano, mas antes que ocorresse alguma batalha significativa, o Barão do Rio Branco intermediou diplomaticamente propondo um acordo entre o Brasil e a Bolívia, que ficou conhecido como o Tratado de Petrópolis. 
Em parte financiados pelos barões da borracha, assinado em 17 de novembro de 1903 no governo do presidente Rodrigues Alves, este tratado pôs fim à contenda com a Bolívia, garantindo o efetivo controle e a posse das terras e florestas do Acre por parte do Brasil.
Nesse tratado a Bolívia concordava em vender o território de 191.000 km², para o Brasil, pelo preço de dois milhões de libras esterlinas.
O Brasil recebeu a posse definitiva da região em troca de, além dos dois milhões de libras esterlinas, ceder terras de Mato Grosso, e do compromisso de construir uma ferrovia que superasse o trecho encachoeirado do rio Madeira e que possibilitasse o acesso das mercadorias bolivianas (sendo a borracha o principal), aos portos brasileiros do Atlântico (inicialmente Belém do Pará, na foz do rio Amazonas).Brasil, Bolívia e Peru em 1904, assinaram o Tratado de Petrópolis. Por esse tratado, essa área passou a fazer parte do território brasileiro.
Devido a este episódio histórico, resolvido pacificamente, a capital do Acre recebeu o nome de Rio Branco e dois municípios deste Estado receberam nomes de outras duas importantes personagens: Assis Brasil e Plácido de Castro.
A velha sonolência dos tempos de D. Pedro II é sacudida pelo novo compasso do mercado internacional. Os extrativistas não mais se sentiam embaraçados pela impossibilidade tecnológica de domar a região, nem tampouco pelas limitações de seu saber. Invadiram a selva, pois para isso bastava um pouco de vivência, subordinando-se aos caprichos da hévea. Regiões inteiras, antes vedadas pelas doenças, percorridas apenas por índios nômades e penetradas por solitários aventureiros, foram invadidas por caçadores em busca da seringa. A ideologia do Far-West enfrentava os insetos e os males estranhos e mortais. As libras esterlinas não escolhiam grau de instrução ou escolaridade, o látex redimia a ignorância. O colono analfabeto assume ares de cosmopolita, torce o nariz para a antiga vida tradicional.
O fim do monopólio amazônico da borracha
O clima de euforia dura até 1910, quando a situação começa a mudar: a partir daquele ano entram no mercado as exportações de borracha a partir das colônias britânicas e o Brasil não suporta a feroz concorrência que lhe é imposta. No ano 1913 a produção Inglesa-Malásia superou pela primeira vez a do Brasil. Em seguida muitos seringais foram abandonados e muitos seringueiros voltaram ao nordeste. A Inglaterra havia adquirido cerca de 70.000 sementes do inglês Henry Wickham, em 1876, contrabandeadas, das quais 2.000 haviam florescido. A diferença técnica de plantio e extração do látex no Brasil e na Ásia foi determinante para os resultados da exploração como negócio.Teatro da Paz em Belém, um dos símbolos do ciclo da borracha.
As plantações racionalizadas do Extremo Oriente proporcionaram significativo aumento da produtividade e se tornaram mais competitivas. Enquanto a distância entre as seringueiras na Ásia era de apenas quatro metros, na Amazônia caminhava-se às vezes quilômetros entre uma árvore e outra, o que prejudicava e encarecia a coleta. No Brasil, o governo resistia a mudar os métodos. Acreditava que a exploração da maneira que era feita assegurava a presença de brasileiros e garantia a soberania nacional sobre a despovoada região amazônica. Privilegiava-se a geopolítica, representada pela ocupação, em detrimento da geoeconomia, que poderia render melhores frutos. Em 1920 os seringais do Oriente produziam 1,5 milhão de toneladas de borracha, contra 20 mil toneladas da Amazônia. A Estrada de Ferro Madeira-Mamoré, terminada em 1912, já chegava tarde.
A crise da borracha tornou-se ainda maior porque a falta de visão empresarial e governamental resultou na ausência de alternativas que possibilitassem o desenvolvimento regional, tendo como consequência imediata a estagnação também das cidades. A falta não pode ser atribuída apenas aos empresários tidos como barões da borracha e à classe dominante em geral, mas também ao governo e políticos que não incentivaram a criação de projetos administrativos que gerassem um planejamento e um desenvolvimento sustentável da atividade de extração do látex.
Por sinal, desde a época do Governo Imperial que eram descartados projetos de incentivo à produção ou proteção dessa que era, no final do século XIX, a maior fonte de renda do Brasil, superando o decadente ciclo do café. Tal inércia se devia ao Governo Monárquico, que era atrelado ao interesse econômico dos barões do café, que direcionava todos os esforços governamentais para manter a riqueza do sudeste brasileiro, mais próxima e influente ao poder do que os ricos barões da borracha, que preferiam viagens de negócios internacionais do que visitas políticas ao Rei.Sir Henry Alexander Wickham
Com a República, pouca coisa mudou. O baixo peso político era contrastante com o poder financeiro do riquíssimo Norte. O Poder, concentrado no Sudeste brasileiro, passou a ser controlado pelos interesses econômicos dos cafeicultores e dos pecuaristas, resultando na política do café-com-leite, e excluindo os interesses dos barões da borracha (que também, pouco se movimentavam politicamente para serem incluídos, preferindo ir gastar seu dinheiro nos cassinos europeus do que investir em "lobbies" por acharem que o ciclo da borracha nunca acabaria).
Embora restando a ferrovia Madeira-Mamoré e as cidades de Porto Velho e Guajará-Mirim como herança deste apogeu, a crise econômica provocada pelo término do ciclo da borracha deixou marcas profundas em toda a região amazônica: queda na receita dos Estados, alto índice de desemprego, êxodo rural e urbano, sobrados e mansões completamente abandonados, e, principalmente, completa falta de expectativas em relação ao futuro para os que insistiram em permanecer na região.A Malásia, que investiu no plantio de seringueiras e em técnicas de extração do látex, foi a principal responsável pela queda do monopólio brasileiro.
Os trabalhadores dos seringais, agora desprovidos da renda da extração, fixaram-se na periferia de Manaus em busca de melhores condições de vida. Por volta de 1920, começaram a formar o que seria chamado de cidade flutuante, que se consolidaria até a década de 1960 .
O governo central do Brasil até criou um órgão com o objetivo de contornar a crise, chamado Superintendência de Defesa da Borracha, mas esta superintendência foi ineficiente e não conseguiugarantir ganhos reais, sendo, por esta razão, desativada não muito tempo depois de sua criação.
A partir do final da década de 1920, Henry Ford, o pioneiro da indústria americana de automóveis, empreendeu o cultivo de seringais na Amazônia criando 1927 a cidade de Fordlândia e posteriormente (1934) Belterra, no Oeste do Pará, especialmente para este fim, com técnicas de cultivo e cuidados especiais, mas a iniciativa não logrou êxito já que a plantação foi atacada por uma praga na folhagem conhecida como mal-de-folhas, causada pelo fungo Microcyclus ulei.
O segundo ciclo da borracha - 1942/1945
A Amazônia viveria outra vez o ciclo da borracha durante a Segunda Guerra Mundial, embora por pouco tempo. Como forças japonesas dominaram militarmente o Pacífico Sul nos primeiros meses de 1942 e invadiram também a Malásia, o controle dos seringais passou a estar nas mãos dos nipônicos, o que culminou na queda de 97% da produção da borracha asiática.
Para o Brasil, além da grande movimentação realizada pela exportação da borracha, os investimentos realizados os Estados Unidos chegaram, de certa forma, a manter nossa economia estável e até - em alguns momentos - em alta durante o período em que se desenrolava o conflito. O país havia encontrado a química milagrosa da guerra por conta da abertura rumo às atividades rurais e extrativistas, no qual permitia perspectivas de propulsão e crescimento de nossa economia. Parte desse ideal surgia da necessidade de viver com os próprios recursos, a fim de estimular o crescimento da riqueza agropecuária nacional e de produtos que poderiam ter desenvolvido suas exportações. 
Naquele período já havia uma grande oportunidade de bons negócios entre Brasil e Estados Unidos: o Conselho Federal de Comércio Exterior, com sede no Rio de Janeiro, havia emitido uma circular aos governos e às associações comerciais e industriais dos Estados comunicando que tinham recebido um telegrama da Embaixada do Brasil em Washington, o qual informava que o Departamento de Guerra dos Estados Unidos iniciava algumas compras para armazenamento, no valor de 100 milhões de dólares em mercadorias necessárias à defesa nacional, tais como: bauxita, manganês, mica, cobre, borracha, lã, cristal de rocha, etc. Isto resultaria na implantação de mais alguns elementos, inclusive de infraestrutura, apenas em Belém, desta vez por parte dos Estados Unidos. A exemplo disso, temos o Banco de Crédito da Borracha, atual Banco da Amazônia; o Grande Hotel, luxuoso hotel construído em Belém em apenas 3 anos, onde hoje é o Hilton Hotel; o aeroporto de Belém; a base aérea de Belém; entre outros.
Batalha da borracha
Com o alistamento de nordestinos, Getúlio Vargas minimizou o problema da seca do nordeste e ao mesmo tempo deu novo ânimo na colonização da Amazônia.
Na ânsia de encontrar um caminho que resolvesse esse impasse e, mesmo, para suprir as Forças Aliadas da borracha então necessária para o material bélico, o governo brasileiro fez um acordo, em maio de 1941, com o governo dos Estados Unidos (Acordos de Washington), que desencadeou uma operação em larga escala de extração de látex na Amazônia - operação que ficou conhecida como a Batalha da Borracha.
Como os seringais estavam abandonados e mais de 35 mil trabalhadores permaneciam na região, o grande desafio de Getúlio Vargas, então presidente do Brasil, era aumentar a produção anual de látex de 18 mil para 45 mil toneladas, como previa o acordo. Para isso seria necessária a força braçal de 100 mil homens.
O alistamento compulsório em 1943 era feito pelo Serviço Especial de Mobilização de Trabalhadores para a Amazônia (SEMTA), com sede no nordeste, em Fortaleza, criado pelo então Estado Novo. A escolha do nordeste como sede deveu-se essencialmente como resposta a uma seca devastadora na região e à crise sem precedentes que os camponeses da região enfrentavam.
Além do SEMTA, foram criados pelo governo nesta época, visando a dar suporte à Batalha da borracha, a Superintendência para o Abastecimento do Vale da Amazônia (Sava), o Serviço Especial de Saúde Pública (Sesp) e o Serviço de Navegação da Amazônia e de Administração do Porto do Pará (Snapp). Criou-se ainda a instituição chamada Banco de Crédito da Borracha, que seria transformada, em 1950, no Banco de Crédito da Amazônia.
O órgão internacional Rubber Development Corporation (RDC), financiado com capital dos industriais estadunidenses, custeava as despesas do deslocamento dos migrantes (conhecidos à época como brabos). O governo dos Estados Unidos pagava ao governo brasileiro cem dólares por cada trabalhador entregue na Amazônia.
Milhares de trabalhadores de várias regiões do Brasil foram compulsoriamente levados à escravidão por dívidas e à morte por doenças para as quais não possuíam imunidade. Só do Nordeste foram para a Amazônia 54 mil trabalhadores, sendo 30 mil deles apenas do Ceará.
Esses novos seringueiros receberam a alcunha de Soldados da Borracha, numa alusão clara de que o papel do seringueiro em suprir as fábricas nos EUA com borracha era tão importante quanto o de combater o regime nazista com armas.O governo dos Americano pagava ao governo brasileiro cem dólares por cada trabalhador entregue na Amazônia
Manaus tinha, em 1849, cinco mil habitantes, e, em meio século, cresceu para 70 mil. Novamente a região experimentou a sensação de riqueza e de pujança. O dinheiro voltou a circular em Manaus, em Belém, em cidades e povoados vizinhos e a economia regional fortaleceu-se.
Kit básico
Cada migrante assinava um contrato com o SEMTA que previa um pequeno salário para o trabalhador durante a viagem até a Amazônia. Após a chegada, receberiam uma remuneração de 60% de todo capital que fosse obtido com a borracha.
O kit básico dos voluntários, ao assinar o contrato, consistia em:
· Uma calça de mescla azul
· Uma blusa de morim branco
· Um chapéu de palha
· Um par de alpercatas de rabicho
· Uma caneca de flandre
· Um prato fundo
· Um talher
· Uma rede
· Uma carteira de cigarros Colomy
· Um saco de estopa no lugar da mala
Após recrutados, os voluntários ficavam acampados em alojamentos construídos para este fim, sob rígida vigilância militar, para depois seguirem até à Amazônia, numa viagem que podia demorar de 2 a 3 meses.
Um caminho sem volta
Entretanto, para muitos trabalhadores, este foi um caminho sem volta. Cerca de 30 mil seringueiros morreram abandonados na Amazônia, depois de terem exaurido suas forças extraindo o ouro branco. Morriam de malária, febre amarela, hepatite e atacados por animais como onças, serpentes e escorpiões.
O governo brasileiro também não cumpriu a promessa de reconduzir os Soldados da Borracha de volta à sua terra no final da guerra, reconhecidos como heróis e com aposentadoria equiparada à dos militares. 
Calcula-se que conseguiram voltar ao seu local de origem (a duras penas e por seus próprios meios) cerca de seis mil homens.Mosquito, transmissor da malária e da febre amarela, doenças que causaram muitas mortes aos seringueiros
Mas quando chegavam tornavam-se escravos por dívida dos coronéis seringueiros e morriam em consequência das doenças, da fome ou assassinados quando resistiam lembrando as regras do contrato com o governo.
Os soldados da Borracha na Amazônia
Novas tentativas da exploração da Borracha: Fordlândia e Belterra
Na região amazônica, houve duas novas tentativas para se produzir, de novo, o látex em grande quantidade. Entre 1934 e 1945 houve uma tentativa da Companhia Ford, uma empresa norte-americana.
Os Estados Unidos era o maior produtor mundial de carros. A borracha cultivada respondia a demanda para fabricar pneus. Mas 90% desta produção dependiam das colônias europeias da Ásia.
Durante a Segunda Guerra Mundial (1939-1945), os países da Ásia com plantações da hévea foram ocupados pelo exército do Japão que, nessa conflagração, era inimigo dos Estados Unidos. Os EUA ficaram com dificuldades em obter borracha para a produção de pneus e outros produtos. Desta forma, os EUA firmaram um acordo com o governo brasileiro para a produção da borracha.Houve a criação do Banco de Crédito da Borracha para ajudar no financiamento e nas negociações da produção da borracha.
Nesta época, a Companhia Ford, grande indústria de automóveis, que utilizava um quarto da borracha produzida no mundo, teve a ideia de produzir, ela mesma, a borracha necessária para os pneus de seus automóveis. Henry Ford escolheu a Amazônia para fazer suas plantações de hévea. Importou da Ásia mudas da planta e plantou-as em Fordlândia, ao sul de Santarém.
Um grande capital foi investido em Fordlândia, até uma grande serraria, naquele tempo a maior de toda a América do Sul, foi construída para aproveitar as árvores da floresta.
Na época 32.000 nordestinos foram trazidos para trabalhar na Amazônia na coleta do látex para a produção da Borracha em Fordlândia. Eram os Soldados da Borracha. Estes trabalhadores nordestinos que vieram para trabalhar na Amazônia viviam em condições precárias, com péssimas condições de vida e trabalho, sofrendo de doenças que levaram muitos a morte.
Além disto, ocorreu em 1932 a aparição do fungo Dothidella ulei nas árvores plantadas em Fordlândia, era o “mal das folhas”, que acabava por matar a seringueira e prejudicava a produção.
Tudo isto acabou por levar ao fracasso o projeto de produção de borracha em Fordlândia.
Em 1935, foi aberta também uma nova plantação em Belterra, a sudeste de Santarém, como campo de experimentação. Contudo, a plantação em Belterra encerrou suas atividades em 1945 quando os Estados Unidos recuperaram sua produção de Borracha na Ásia.
Assim, com o fim da Segunda Guerra Mundial e a nova concorrência da borracha asiática, a exploração da borracha amazônica voltou a entrar em decadência.
Apontamentos finais
Os finais abruptos do primeiro e do segundo ciclo da borracha demonstraram a incapacidade empresarial e falta de visão da classe dominante e dos políticos da região. No primeiro, além da extrema confiança dos barões da borracha na perpetuação daquele ciclo, houve os interesses dos cafeicultores, que influenciavam o Governo Monárquico a proteger e fomentar apenas a sua produção (e, consequentemente, seus lucros), e culminando com a influência no Governo Republicano, comandado pela política do café-com-leite, que pouco fez pela borracha da Amazônia. O final da Segunda Guerra conduziu, pela segunda vez, à perda da chance de fazer vingar esta atividade econômica, posto que o Governo Getulista fomentara o retorno à borracha apenas por interesses externos dos países aliados - notadamente os Estados Unidos. Não se fomentou qualquer plano de efetivo desenvolvimento sustentado na região, o que gerou reflexos imediatos: assim que terminou a Segunda Guerra Mundial, tanto as economias de vencedores como de vencidos se reorganizaram na Europa e na Ásia, fazendo cessar novamente as atividades nos velhos e ineficientes seringais da Amazônia.A Serraria foi fabricada em Michigan, EUA, e montada no Brasil, em Fordlândia.
A serraria em 2003.
Belle Époque Tropical
Os coronéis da borracha, enriquecidos na aventura, resolveram romper a órbita cerrada dos costumes coloniais, a atmosfera de isolamento e tentaram transplantar os ingredientes políticos e culturais da Velha Europa, matrona próspera, vivendo numa época de fastígio e menopausa. O clima do faroeste seria visível nas capitais amazônicas subitamente emergidas das estradas de seringa.
O Pará, Empório Comercial da Grande Bacia Amazônica
Au Bon Marche em Manaus
Boulevard Castilhos França, Belém, início do século XX
As cidades foram, em todos os países, os cenários mais espetaculares da Belle Époque. Intervenções urbanísticas modernizaram ou renovaram suas feições, expressando a realização dos anseios e do desejo das elites em se mostrarem progressistas e afinadas com o gosto europeu. No Brasil, a renovação das cidades, o afastamento das classes pobres dos limites urbanos, a implantação de uma estética que rompe com os padrões coloniais e o cosmopolitismo são parte de um vocabulário comum às cidades progressistas transformadas pelo urbanismo técnico, pelas medidas higienizadoras e pelas muitas medidas de controle social; a modernização da cidade do Rio de Janeiro é, a esse respeito, emblemática. Embora estas iniciativas também tenham se feito presentes na Amazônia, é preciso ressaltar a especificidade de sua consolidação nas duas capitais, Belém e Manaus – de histórias e tradições muito distintas, ainda que igualmente favorecidas pela economia da borracha.
Santa Maria de Belém do Grão-Pará foi fundada no século XVII como uma cidade-fortaleza, uma das iniciativas do império português visavam à defesa da região setentrional da colônia, objeto de sucessivas disputas entre franceses, holandeses e espanhóis. Quando, em meados do século XVIII, o sábio francês La Condamine desceu o Amazonas, reconheceu no Pará uma cidade com “ruas bem alinhadas, casas risonhas, magníficas igrejas”.
Em 1751, com a chegada do novo governador, Mendonça Furtado – irmão do marquês de Pombal, imbuído do projeto iluminista de restaurar a Amazônia -, a cidade ascendeu a capital da unidade administrativa agora denominada do Grão-Pará e Maranhão, diretamente ligada a Lisboa e destacada do Brasil.Ciclo da Borracha na Amazônia
Neste momento, chegam à cidade vários cartógrafos e engenheiros, um corpo de profissionais e técnicos que atuaria nas comissões de demarcação do território amazônico. O fato de Belém ter se tornado a capital é expressivo da eficácia pretendida em relação aos controles do território amazônico e do lugar que o aspecto urbano assumia no projeto pombalino. Muitos dos técnicos permaneceram no Pará e estabeleceram descendência, ampliando as bases da elite paraense. A cidade ganhou novos contornos e foi objeto de investimentos para a regularização dos espaços públicos e a implantação e espaços e instituições sinalizadoras do poder, refazendo-se, na capital do Grão-Pará, o urbanismo monumental da capital do reino. O naturalista Alexandre Rodrigues Ferreira, em seu livro Viagem Filosófica, apresenta minuciosas vistas aquareladas e o plano geral da cidade de Belém, a qual, mesmo em sua expansão durante o século XIX, manteve o padrão proposto pelo urbanismo português.
Cidade de S. Maria de Belém do Grão-Pará - Ilustração do livro 'Viagem filosófica' de Alexandre Rodrigues Ferreira.
Em 1859, a cidade, com seus 25.000 habitantes, causou boa impressão ao estudioso Ave-Lallemant, a quem chamou a atenção o magnífico palácio do presidente, por ele considerado um dos melhores edifícios do Brasil – numa cidade onde registrou haver “ruas de bom aspecto, casas distintas, igrejas vetustas, um antigo convento”, como lemos no seu livro No rio Amazonas, muito embora nada lhe subtraísse o ar antigo e português. Nela, tudo parecia velho! Causavam-lhe estranheza as maneiras de trajar dos homens e mulheres no Pará: vestiam-se pela última moda francesa, com caudas e anquinhas, fraques e cartolas. Nas casas de família havia sempre um piano, e bandas marciais tocavam hinos patrióticos; estas marcas do que Ave-Lallemant chamou de “europeização” acentuar-se-iam nas décadas seguintes, com a ampliação do número dos que a ela tiveram acesso.
Poucos anos após a estada de Ave-lallemant na cidade, Hasting, um major americano responsável pela vinda de confederados americanos para o Pará, foi mais favorável em suas observações: ao passar por Belém, impressionou-se com a imponência da cidade, suas longas avenidas arborizadas com mangueiras frondosas, numerosas praças públicas e iluminação a gás.Travessa Frutuoso Guimaraes – Rua 15 de Novembro, Belém Antiga
Na última década do século XIX, a cidade, aos olhos dos paraenses, ainda deixava a desejar, na medida em que, sob muitos aspectos, mantinham-se os traços do urbanismo colonial reconhecidos por seus visitantes. Na “era dos engenheiros”, quando a borracha tornava palpável o progresso, o Pará se modernizou. Jovens paraenses – engenheiros, militares de ideologia positivista - articulados em redes nacionais de relação com seus colegas de formação estabelecidos na capital da República,promoveram ou respaldaram as alterações que imprimiriam à cidade os sinais da nova ordem do progresso.
Em obra de 1895, o barão de Marajó descrevia em minúcias as mudanças que transformaram Belém na última década do século XIX, propiciando, a partir de então, uma alteração positiva da “prosperidade pública”, a “purificação de nossos costumes” e o aperfeiçoamento dos espíritos. Sua opinião encerra as observações do historiador e do político cuja atuação na Intendência Municipal de Belém, logo após a instauração da República, certamente favoreceu as transformações a que se refere.
Com orgulho, enfatiza as inovações promovidas pelas últimas administrações do período republicano, financiadas por uma “lisonjeira” economia em que os impostos advindos da exportação permaneciam na esfera da administração estadual e os oriundos da importação eram da esfera da administração federal. Ampliaram-se as ofertas de ensino, superando-se com isso o período em que a instrução pública era tão insuficiente que “obrigava os pais a mandarem os filhos para o estrangeiro”. Sem dúvida, o barão se referia aos filhos das famílias dos segmentos mais abastados, os pecuaristas do Pará ou aqueles oriundos da crescente classe média, sedentos de educação formal como parte fundamental de suas trajetórias em busca de posição e prestígio social. Foi o caso da maioria dos filhos da elite de Manaus, onde faltavam as marcas de distinção advindas da riqueza da terra.
No fim de 1895, Belém era uma cidade com área igual a de Madri, capital da Espanha, cortada por amplas avenidas e grandes estradas direcionadas para os novos bairros que recebiam as famílias em processo de elevação social. Praças ajardinadas, edifícios da administração pública, várias escolas, hospitais, asilos e cadeia compunham as instituições de controle e reprodução social. Completavam o conjunto urbano, com seus serviços e numerosas atividades, os estabelecimentos industriais, casas bancárias e firmas seguradoras, e ainda as companhias de serviços urbanos: telégrafos, telefonia, linhas de bonde e estrada de ferro.
As quase 100.000 pessoas que viviam em Belém dispunham ainda de instituições culturais e recreativas, religiosas e laicas. Nas docas do Pará chegavam duas companhias inglesas, fazendo de dez em dez dias a navegação para Lisboa, Havre, Liverpool, Antuérpia, Nova York, Maranhão, Ceará, Pernambuco e Manaus, além da navegação costeira até o Maranhão e da linha inglesa com vapores semanais do Rio de Janeiro a Pernambuco, Pará e Nova York.
A transformação radical pela qual Belém passou estendeu-se ainda por toda a primeira década do século XX, de modo que a renovação urbana concretizada pelos engenheiros republicanos e o cosmopolitismo facilitado pela intensificação da exportação promoveram, pelo menos entre os paraenses, a sensação de que Belém era uma das melhores cidades do Brasil. Era indiscutível a prosperidade visível nas ruas, na monumentalidade das avenidas, e a euforia retratada na agenda dos acontecimentos culturais e sociais, conforme registravam os jornais.
Como resultado da expansão da economia da borracha e do crescimento geral das finanças do estado, a elite de fazendeiros, comerciantes, profissionais liberais e grandes seringalistas passou a viver na capital. As medidas modernizadoras e a reforma urbana impuseram restrições às camadas mais populares. O centro histórico foi mantido em sua escala e traçado do período colonial, e ampliou-se o perímetro da cidade em direção ao porto – afinal, a parte da cidade que melhor expressava o dinamismo econômico e as atividades de importação e exportação que garantiam a riqueza da municipalidade.
Em 1907, Belém contava com 192.230 habitantes. No porto do Pará, termômetro da crescente economia, o vaivém de pessoas e mercadorias era grande: das 36.026 pessoas que entraram no estado naquele ano, quase 11.600 permaneceram na capital, absorvidas pelas atividades comerciais e pelos estabelecimentos industriais.Belém Antiga, do início do século XX – em destaque o Mercado de Ferro do Ver-o-Peso, a Doca do Ver-o-Peso e a área verde era a Praça Afonso Pena; atual D. Pedro II
O embelezamento da cidade resultava de alterações urbanísticas e arquitetônicas estimuladas por uma legislação que procurava modernizar os espaços públicos e dotar de certas características as construções, imprimindo, nas fachadas dos prédios, elegância estética, graciosidade e uma racionalidade condizente com as necessidades de ventilação e higiene exigidas pelo clima.
Antônio Lemos, intendente de Belém, em relatório de 1905, comentava, desgostoso, o desequilíbrio estético de parte dos edifícios, sugerindo sua demolição e incentivando o apuro arquitetônico nas novas edificações. O apelo teve ressonância, as restrições se impuseram e, de fato, no cenário urbano de Belém e Manaus do início do século, consagraram-se as fachadas que expressavam a incorporação de novas técnicas, dos princípios de higiene e das normas estéticas. Novos materiais de construção chegavam da Itália, de Portugal e da França, de onde vinham também muitos dos profissionais que cuidaram de executar as alterações de estilo.Antigo Igarapé das Almas, no Reduto Antigo, Belém
 Palacete Brício Costa
Antônio Lemos, Intendente de 1897 a 1911
É importante considerar a dimensão moral das transformações urbanas, no sentido de impor regras de conduta e hábitos de higiene e racionalizar o uso dos espaços públicos. O código de posturas previa multas para os que jogassem águas utilizadas e quaisquer tipos de dejetos nas ruas, e os jornais anunciavam o horário em que passariam os carros de coleta do lixo, a ser posteriormente incinerado.
Apesar das medidas, no início do século XX, Belém e Manaus eram grandes focos de febres palustres, especialmente a malária, que dizimava sobretudo os estrangeiros, desprovidos de imunidade. Para solucionar o problema – que difamava a cidade e amedrontava seus moradores -, o governo promoveu uma campanha de erradicação dessas doenças, solicitando os serviços de Oswaldo Cruz entre 1910 e 1911.Contudo, já no próprio início do século XX, quando os postais eram uma das expressões mais vivas da sociabilidade brasileira, entre as imagens que circulavam nos cartões, exibindo os sinais do novo e da modernidade, não faltavam as vistas coloridas de Manaus e Belém.
Belém Antiga Casa Do Povo 1900
Manaus Antiga
 O Lado Oculto do Auge
Na última década do século XIX, o palco para o vaudeville (forma de entretenimento popular que misturava diversas atrações distintas) estava preparado e o cenário pronto. O coronel da borracha, ou seringalista, seria o grande astro dessa comédia de boulevard, a grande personagem dessa obra-prima da monocultura brasileira que foi o vaudeville do “ciclo da borracha”. Ele era o patrão, o dono e senhor absoluto de seus domínios, um misto de senhor de engenho e aventureiro vitoriano. O coronel tinha “formas” de agir: era o cavaleiro citadino em Belém ou Manaus e o patriarca feudal no seringal.Hotel Cassina, Manaus
Mas essa contradição nunca preocupou ninguém. A face oficial do látex era a paisagem urbana, a capital cintilante de luz elétrica, a fortuna de Manaus e Belém, onde imensas somas de dinheiro corriam livremente. O outro lado, o lado terrível, as estradas secretas, estavam bem protegidas, escondidas no infinito emaranhado de rios, longe das capitais. O lado festivo, civilizado, que procurou esconder as grandes monstruosidades cometidas nos domínios perdidos, poucas vezes foi perturbado durante a sua vigência no poder. Euclides da Cunha foi um pioneiro ao anunciar a estrutura aberrante. Para o pobre imigrante, “Nas paragens exuberantes das héveas e castilôas, o aguarda a mais criminosa organização do trabalho que ainda engendrou o mais desaçamado egoísmo”.
Contra essa situação, Euclides da Cunha pede “urgência de medidas que salvem a sociedade obscura e abandonada: uma lei do trabalho que enobreça o esforço do homem; uma justiça rigorosa que cerceie os desmandos; uma forma qualquer que o associe definitivamente à terra”.
Euclidesda Cunha redescobre o seringueiro explorado: “ (…) são admiráveis. Vimo-los de perto, conversamo-lo (…) considerando-os, ou revendo-lhes das musculaturas inteiriças ou a beleza moral das almas varonis que derrotaram o deserto”.
Com essa visão crítica, Euclides da Cunha passou a ser considerado pelos coronéis como um pobre demente que não sabia o que dizia numa literatura intricada.
Plácido de Castro combatia a monocultura cega da borracha, vislumbrava sua futura decadência e preocupava-se com o sistema retrógrado dos seringais. Ele foi o primeiro a tentar, em suas terras no Acre, uma diversificação agrícola por meios modernos usando adubos e máquinas para melhorar a produção. Pagou com a vida a ousadia de desafiar homens tão poderosos.
O seringueiro, retirante nordestino que fugia da seca e da miséria, era uma espécie de assalariado de um sistema absurdo. Aparentemente era livre, mas a estrutura concentradora do seringal o levava a se tornar um escravo econômico e moral do patrão. Endividado, não conseguia mais escapar. Se tentava fugir, isso podia significar a morte ou castigos corporais rigorosos. Definhava no isolamento, degradava-se como ser humano, era mais uma pobre alma do sistema espoliativo do extrativismo.Seringueiro extraindo o Látex
Nas cidades: O luxo e a opulência (Moda europeia entre as damas da elite seringalista - Belém 1916)
Na floresta: Miséria, semiescravidão (Seringueiros extraindo o látex da seringueira)
Enquanto os seringueiros caíam no esquecimento, os coronéis de barranco vibravam com as polacas e francesas, mas as senhoras de respeito eram guardadas nos palacetes, cercadas de criadas e ocupadas com alguns afazeres mesquinhos.
A Ostentação
A ostentação das cidades de Belém e Manaus impressionava os novos viajantes que nelas chegavam. Jean de Bonefous, viajante francês, dá sua impressão do lado sorridente da sociedade da borracha. Belém pareceu-lhe Bordéus, com “um movimento de veículos de toda a sorte, um vai-e-vem contínuo, que parecia mais um grande centro europeu do que uma cidade tropical”.
Bondinho em BelémGrafite sobre a Belle Époque em Manaus
Sobre Manaus, outro francês, Auguste Plane, emocionava-se com o Teatro Amazonas:
“A construção é majestosa, quanto ao interior; a sala é elegante e ricamente decorada. O teto, obra magistral do pintor de Angelis, é admirável. Bem arejado, bem iluminado, representa uma das curiosidades de Manaus. A mais refinada das civilizações chegou até o rio negro. ”
Os coronéis enriquecidos receberam de braços abertos os europeus. Afinal, para a administração de seus bens precisavam de pessoal alfabetizado.
“Dominando a sociedade – informa o sociólogo Bradford Burns – e as atividades da cidade, encontravam-se os membros da aristocracia brasileira que, ou eram brancos, ou passavam como tal, e uma grande percentagem de estrangeiros”
Belém e Manaus mantiveram uma agitada vida cultural entre os anos de 1890 e 1920.As duas cidades investiram na construção de óperas suntuosas, que acolhiam temporadas líricas anuais. O Teatro da Paz, localizado em Belém, foi concebido na década de 1860, quando foi lançada sua pedra fundamental, foi inaugurado somente em 1878.Na década seguinte, o edifício foi reformado e reinaugurado, incorporando nesta ocasião detalhes arquitetônicos que resgataram sua monumentalidade, e ainda os trabalhos de pintores italianos na decoração interna. Em 1881, este teatro iniciou sua primeira temporada lírica.Interior do Salão Nobre do Teatro Amazonas, Manaus
O Teatro Amazonas, inaugurado em 1896, custou aos cofres públicos a quantia de 400.000 libras esterlinas. Na opinião do historiador inglês Eric Hobsbawm, o Teatro Amazonas é uma “catedral característica da cultura burguesa”. Essa descrição é reforçada por duas peculiaridades do teatro: sua localização, em meio à exuberante floresta equatorial; e sua singular e multicolorida cúpula. O Teatro Amazonas foi sem dúvidas o grande salão da “Alta sociedade Manauara”.Escola Universitária Livre de Manaus, fundada e 17 de janeiro de 1909
Teatro da Paz, Belém
A Amazônia produziu escritores como o colombiano José Eustasio Rivera, autor do romance La Voragine, e brasileiros como Inglês de Sousa, pioneiro do naturalismo, autor de romances como O Coronel Sangrado e o Cacaulista, e poetas como Jonas da Silva, Paulino de Brito e Raimundo Monteiro. No campo dos estudos literários, é inquestionável a presença de José Veríssimo, e nos estudos regionais ressaltam os nomes de Domingos Antônio Raiol, Ferreira Pena, Lauro Sodré e Sant’Ana Nery.Teatro Amazonas em 1909
O poderio econômico da borracha foi capaz de tentar a elevação do nível educacional, criando no Amazonas a primeira universidade brasileira, a Escola Universitária Livre de Manaus, e de buscar expressão na mais moderna e dispendiosa forma de arte e seu tempo, o cinema. Com o pioneiro Silvino Santos, imagens da região foram guardadas para sempre em filmes como “No Paiz das Amazonas” e “No Rastro do Eldorado”.
O processo de urbanização na Amazônia
O processo de transformação ocorrida no espaço é uma das principais temáticas discutidas pela geografia. Essas transformações no espaço são ocasionadas pelo homem na sua relação, homem – natureza. Diante disso discutiremos sobre o processo de colonização e urbanização na Amazônia, a escolha desse tema é justificada pela necessidade de se esclarecer as várias formas de colonização e urbanização ocorridas na Amazônia, levando o aluno a perceber esses vários tipos de colonização e urbanização, destacando as transformações, ocasionadas pelo homem nesse espaço. A problemática do projeto busca questionar sobre o processo de colonização e urbanização na Amazônia.  
Ao longo das aulas, esperasse que o aluno compreenda esse processo de colonização e urbanização na Amazônia, relacionando o mesmo com sua realidade e seu dia a dia.    
Contexto Histórico do processo de urbanização na Amazônia 
Ao caracterizar a região Amazônica, iremos perceber que até os dias de hoje a região é uma das regiões menos povoadas do Brasil. Diante disso várias políticas de povoamento foram implantadas na região.
O interesse em conhecer e atuar sobre a cidade deriva do fato de ser ela o lugar onde vive parcela crescente da população. Mas também de ser o lugar onde os investimentos de capital são maiores, seja em atividades localizadas na cidade, seja no próprio urbano, na produção da cidade. E mais, de ser o principal lugar dos conflitos sociais.  
O processo de urbanização na Amazônia ocorreu de várias formas, diante disso vários autores discorrem sobre o tema, que é objeto de pesquisa na maioria das vezes de geografia, discutidos em disciplina especifica ministrada por geógrafos denominada de Estudos Amazônicos. 
A região amazônica é composta por 9 estados, entre eles os que possuem maiores extensões são os estados do Pará e do Amazonas. Essa região em relação ao território nacional é considerada como fornecedora de matéria prima, para o restante do país.
   
As cidades Ribeirinhas da Amazônia.
Uma das primeiras estratégias de colonização da Amazônia foi, através dos rios que cortam a região, com a criação dos fortes em Belém e o surgimento de várias cidades que seriam pontos estratégicos de ocupação para evitar a invasão de outros povos.
Nesse período foram fundados, 62 pontos de colonização na Amazônia, fruto das missões que fundaram várias vilas. Com a política pombalina essas missões passam a ter condições de vilas com a denominação cidades portuguesas. As vilas criadas foram: Abaetetuba (1750); Aveiro (1751); Macapá e Ourém (1752) Colares, Maracanã, Muaná, Salvaterra, Soure e Souzel (1757), entre outros.
As populações dessas cidades ribeirinhas dependem, diretamente da pesca dos rios que as cortam, sendo considerado como povo das aguas, já que o seu deslocamento depende na maioria das vezes desses rios. Algumas comunidades até os dias de hoje transportam seus estudantes de caso para a escola em barcos escolares.
A região da Amazônica e cortada por vários rios, que são muito importantes, como meiode transporte e fonte de renda para pesca de várias espécies que vivem nesses rios.
Dentre essas cidades temos o município de Bragança, que fica localizada no nordeste paraense, também caracterizada como região bragantina, que é composta por vários municípios que surgiram com a construção da estrada de ferro Belém - Bragança. Desde o momento inicial da Região Bragantina, a sociedade estabelecida, formada em grande parte por populações provenientes do Nordeste ou de outros países. Diante disso podemos identificar presente a cultura nordestina nessa região.
A construção da estrada de ferro, que interligaria o município de Bragança a sua capital, Belém do Pará, fez surgir vários municípios, que ficavam as margens da ferrovia, como é o caso de Capanema, Peixe boi, que se caracterizava como o melhor clima do Brasil, Nova Timboteua, Igarapé-Açu, que sofreu uma grande influência de colonização de japonese, Castanhal que é conhecida, atualmente como cidade modelo.
A fundação da cidade de Bragança fez surgir várias outras cidades, que passam por um processo de urbanização na Amazônia. Nas margens da ferrovia, por onde circulava o trem Belém-Bragança, surgiu o município de Capanema, colonizada por nordestinos que descobriram nessas terras grandes fontes de calcário, que mais tarde servira para a produção de cimento.
As cidades ribeirinhas da Amazônia, além de terem a pesca como fonte de renda, algumas delas também são pontos turísticos de nível internacional, como é o caso de Santarém localizado no Sudeste do Estado do Pará, denominado de Caribe brasileiro, com suas praias belíssimas, e seu cultivo de soja em expansão Santarém é considerada uma cidade média com uma grande influência dentro do Estado, além de representar a capital do Tapajós, caso o estado do Pará, seja dividido futuramente.   
  
As cidades as Margens das Rodovias na Amazônia. 
Outra forma de colonização na Amazônia foi através das rodovias, que foram abertas a partir de projetos militares, que tinham como objetivo colonizar a Amazônia com a abertura da Transamazônica a BR 230, e a Belém- Brasília, que seriam de fundamental importância para interligar a Amazônia ao restante do país. 
De acordo com os militares, a construção das estradas, principalmente da Transamazônica, seria uma forma de promover “ocupação” da Amazônia, e ao mesmo tempo resolver problemas do Nordeste, uma vez que o governo iria investir na transferência de muitas famílias nordestinas para as margens da rodovia. Outro argumento bastante utilizado pelos governos militares era a defesa da soberania nacional, pois a construção da estrada seria fundamental para garantir a ocupação da região que estaria bastante vulnerável a dominação estrangeira.
De acordo com o autor acima podemos perceber, que o processo de abertura de rodovias na Amazônia, teve como principal objetivo colonizar a região, para a mesma fornecer matéria prima, para o restante do país e prevenir ocupação de países estrangeiros.
O governo federal com o intuito de atrair a população principalmente do nordeste do Brasil criou lemas para incentivar a vinda desses imigrantes de várias partes do Brasil, um dos lemas utilizados foi “Terra sem homem para, homem sem terra”, o objetivo principal, era incentivar a vinda desses imigrantes, que receberam incentivos para migrarem para a Transamazônica, que recebeu imigrantes de toda parte do Brasil, inclusive da região sul, sudeste e nordeste do Brasil.
O percurso que a rodovia Transamazônica, iria percorrer seria realmente bem extenso, cortando vários estados. Essa obra faraônica foi idealizada para praticamente corta o Brasil de ponta a ponta, trouxe o surgimento de varais cidades, nas margens da Transamazônica, entre elas podemos destacar: Brasil Novo, Medicilândia, Anapu, Pacajá.
A abertura da transamazônica é defina por Francisco (2016). “A Transamazônica, ou Rodovia Transamazônica (BR-230), foi construída no decorrer do governo de Emílio Garrastazu Médici, entre os anos de 1969 e 1974”. Uma obra de grande proporção que ficou conhecida como uma “obra faraônica”. Que até os dias de hoje, em alguns dos seus trechos ainda não foram conclusas, a população que migrou para a região sofre, com as estradas intrafegáveis principalmente no período do inverno Amazônico, que se estende dos meses de janeiro a junho.
No dia 30 de agosto de 1972, a Transamazônica, foi inaugura com o principal objetivo de interligar a floresta Amazônica, ao restante do país. 
Vieram para cá cerca 6.000 colonos, entre eles nordestinos e sulistas. Estima-se que foram gastos mais de 12 bilhões de dólares só na abertura. O projeto inclui abertura de 10 km de vicinais, chamadas aqui de travessões. Os povos indígenas foram dizimados e/ou obrigadas a morarem nas cidades. A abertura em 1970 foi historicamente, o início da grande devastação, da Amazônia Legal, e possibilitou a explosão demográfica, a intensificação de trabalho nas terras que até hoje não têm documentação, para agricultura e pecuária extensiva.
De acordo com o autor acima podemos perceber que a abertura da transamazônica, além de grandes impactos ambientais, provocou também grandes impactos sócias e a morte cultural de vários indígenas, a vinda de vários imigrantes, que esperavam encontrar um paraíso no meio da transamazônica, se sentiram enganados, ao se depararem com a realidade.
O município de Altamira, que foi considerado a capital da Transamazônica, passou a ser um polo de atração das pessoas que vieram. O município recebeu uma infraestrutura diferenciada, que servia para receber grandes personalidades, da política brasileira da época. Segundo Souza (2014) “A “princesinha do Xingu”, foi metamorfoseada em “capital da Transamazônica” de tal forma, que o rio Xingu e todas as suas histórias é mais associado a São Félix do Xingu-PA, do que a cidade que um dia se orgulhou de ser sua princesa”. Diante disso, podemos perceber que a capital da transamazônica exerceu um papel muito importante, no processo de colonização da Amazônia, por esse motivo, o município também sofre com problemas, como, o surgimento de bairros periféricos ocupados por colonizadores.
Atualmente o município de Altamira, está em fase de instalação de outro grande projeto estalado na Transamazônica que é a construção da hidrelétrica de Belo Monte, localizada no Rio Xingu. A construção da hidrelétrica trouxe um novo fluxo de migrantes, e uma expansão no processo de urbanização do município. O processo de colonização através das estradas e um processo contínuo é que tende a se expandir.
O processo de colonização e urbanização na Amazônia é complexo, sendo, que este ocasionou várias modificações e transformações no espaço dessa região, que é considerada uma região ampla e com uma grande diversidade de flora e fauna.
Esse processo de Colonização e urbanização trouxera, várias consequências para a população dessa região entre eles, temos as ocupações desordenadas principalmente nas capitais como Belém e Manaus, que sofrem com o crescimento desordenado e conflitos urbanos como violência.
Bertha Becker diz que: “A pesar do crescimento das grandes cidades ter sido muito forte nas grandes aglomerações, a sua participação relativa se reduziu, devido ao aumento... das cidades médias e pequenas. A tal ponto que a Amazônia se constitui na única região do Brasil em que a população residente em cidades de mais 100 mil habitantes vêm caindo progressivamente. ”
Como já foi dito, o espaço urbano na Amazônia surge a partir da conquista da região pelo colonizador europeu, sendo os núcleos urbanos coloniais o resultado da estratégia de ocupação colonial, por meio de fortes e missões religiosas. Conforme a autora acima afirma, um fenômeno nos chama a atenção: o crescimento das cidades médias e pequenas na região.
As primeiras cidades que surgiram na Amazônia mantiveram de imediato uma relação com o rio e a floresta. A imagem ao lado mostra a Estação das docas, em Belém, parte do porto que foi revitalizado para fins turísticos, o mesmo vale para o Portal da Amazônia na imagem abaixo e à direita. Percebe-seaí a relação da cidade com o espaço, a história e a natureza, gerando aproveitamento econômico. 
As cidades que irão surgir ao longo do tempo estarão ligadas a esses elementos geográficos e serão a materialização das diversas formas de produção social. Essas formas de espaciais urbanas contradizem a lógica perversa de que a região se resume a floresta e aos índios. A região possui vários tipos de cidades, das grandes metrópoles as Company Towns, cidades grandes, médias e pequenas. 
Até a década de 1960, a rede urbana da Amazônia estava interligada pelos rios, o que se se deve a grande bacia hidrográfica do Amazonas e Araguaia-Tocantins. A partir do mesmo período, com a construção das rodovias e dos grandes projetos, a rede urbana se torna complexa: o rio e a estrada passam a interligar as cidades.
As características do espaço urbano na Amazônia
Dentre as principais características das cidades amazônicas, pós – 1960, destacam-se: 
· Urbanização concentrada nas capitais;
· Consolidação das cidades de médio porte, tornadas centros urbanos sub-regionais;
· Surgimento e crescimento de cidades em função de projetos de colonização agrária;
· Implantação de cidades planejadas para servir aos grandes projetos econômicos;
· Retração de cidades tradicionais;
· Multiplicação de pequenos de núcleos urbanos ao longo das novas vias de circulação;
· Crescimento das cidades médias e pequenas; 
Em geral, esses espaços são carentes de infraestrutura urbana, como hospitais, escolas, universidades, saneamento básico, lazer e segurança, o que decorre da função periférica que a região possui na DTT – Divisão Territorial do Trabalho –, como área fornecedora de matéria-prima e consumidora de produtos industrializados do Centro-Sul brasileiro.
O espaço urbano compreende o espaço das cidades e está diretamente relacionado ao crescimento técnico (infraestrutura urbana) e demográfico destas. Para o IBGE, toda a sede do município é considerada cidade, para outros, a cidade deve ter uma população superior ao campo, ou ter um número de habitantes específico.
Belém e Manaus, além de outras capitais e centros regionais como Santarém e Marabá, se destacam, a pesar de apresentarem vários problemas socioambientais em decorrência do crescimento urbano desordenado e da forte migração para essas cidades.
A interligação ocorre através dos rios, estradas, aerovias e infovias, das pouquíssimas ferrovias e, geralmente, para escoamento de minérios e circulação de algumas pessoas. A região é predominantemente urbana, ou seja, a maioria das pessoas vive nas cidades, mas não por escolha, e sim pela concentração de terra, violência no campo e ausência de políticas efetivas de acesso à terra e renda.
As cidades da Amazônia são carregadas de simbolismos, religiosidade, cultura, misticismo, história, lutas e sociodiversidade. Podemos citar Manaus e Belém – as metrópoles da Amazônia – que surgiram a partir da fundação de fortes, como o São José da Barra do Rio Negro e o Forte do Presépio fundado pelos portugueses, e que viveram a Belle Époque durante o período da borracha.Manaus, assim como Belém, cresceu muito durante a Belle Époque, período do qual o Teatro Amazonas é uma das expressões
Vejamos agora uma tipologia das cidades amazônicas:
	Cidade e história na Amazônia: uma tipologia
	Cidades
	Vínculos/vinculações
	Metrópoles contemporâneas
	Estruturas urbanas complexas associadas às repercussões dos novos processos de ocupação (Belém, Manaus e São Luís).
	
Cidades novas e modernas
	Bases de operação e reprodução social dos grandes projetos minerometalúrgicos implantados na região (Company Towns de Barcarena, Tucuruí e Carajás, principalmente) ou associadas à necessidade de consolidação de novas estruturas territoriais que demandam uma relativa estrutura urbana concentrada de apoio às atividades econômicas e políticas (Palmas).
	
Cidades da colonização
	Núcleos de apoio ao processo de colonização no final da década de 1960 e pontos de apoio aos eixos de penetração rodoviários (Agrovilas, Agrópolis e Rurópolis).
	
Cidades espontâneas
	Estruturas urbanas novas e precárias associadas a atividade e serviços complementares, formais ou não, relativas aos grandes projetos ou de apoio as novas frentes econômicas.
	
Cidades tradicionais
	Estruturas urbanas mais antigas e sujeitas às transformações recentes, decorrentes dos impactos sociais, culturais e ambientais promovidos pela introdução de novos modelos de produção e inovações tecnológicas na região.
Durante o período da economia da borracha, muitas cidades cresceram, como Belém e Santarém no Pará, e Manaus, Itacoatiara e Parintins no Amazonas. Além disso, novas cidades surgiram, advindas em sua maioria dos seringais, como Manicoré (AM), Boca do Acre (AC), Xapuri (AC), Tarauacá (AC) e Rio Branco (AC). Outras surgiram a partir de ordens religiosas e suas missões, como é o caso de Bragança (PA) e Cametá (PA), algumas ligadas a projetos econômicos como Porto Velho (RO) e a estrada de ferro Madeira-Mamoré, Presidente Figueiredo (AM), com a usina hidrelétrica de Balbina, muitas conhecidas pelas suas festas como Parintins (AM), Santarém (PA) e Juruti PA).
Muitas cidades surgem a partir dos projetos de colonização dirigida, pois o governo federal confiscou dos estados amazônicos 100 km das margens esquerda e direita das rodovias federais, a exemplo das agrovilas, agrópolis e rurópolis, como Jaru (RO), Colorado do Oeste (RO), Ouro Preto do Oeste (RO), Rurópolis (PA), Medicilândia (PA) e Tucumã (PA). No trecho da rodovia Transamazônica, situado entre Altamira e Itaituba, deveriam ser construídas agrovilas (conjunto de 48 ou 64 lotes urbanos de 100 ha). Tais casas estavam destinadas aos colonos assentados no local, os quais receberam, também, lotes rurais, onde desenvolveriam suas atividades econômicas. Cada agrovila deveria contar com os serviços de uma escola de 1º Grau, uma igreja ecumênica, um posto médico e, em alguns casos, um armazém para produtos agrícolas.Cidade de Rurópolis (PA), no entroncamento da Transamazônica com a Santarém-Cuiabá.
Além dos serviços bancários, correios, telefones, escolas de 2º grau, etc... O objetivo da agrópolis era atender à demanda de todas as agrovilas situadas num determinado trecho da Transamazônica. Na verdade, foram implantadas várias agrovilas, apenas uma agrópolis (a de Brasil Novo, no Km 46 do trecho Altamira - Itaituba) e, finalmente, o programa previa a construção de Rurópolis, um conjunto de agrópolis. Na prática, às proximidades do cruzamento da Transamazônica com a Rodovia Santarém - Cuiabá, foi construída apenas uma rurópolis - a Presidente Médici, hoje município de Rurópolis.Desmatamento espinha de peixe ao longo de rodovia
Outra consequência desse processo foi o desmatamento “espinha de peixe” ao longo da Transamazônica. Várias estradas paralelas foram construídas, as chamadas vicinais, conforme vemos na imagem acima, acelerando a destruição da floresta, pois a falta de um planejamento adequado deixou marcas na região.
Os grandes projetos criaram as Company Towns, núcleos urbanos planejados e com excelente infraestrutura, que passam a ser controlados e a servir às empresas envolvidas nesses empreendimentos, como: Fordlândia (PA), Vila Amazonas e Serra do Navio (AP), Porto Trombetas (PA), Monte Dourado (PA), Carajás (PA), Vila do Cabanos (PA), Balbina (AM) e Vila de Tucuruí.
Vejamos algumas delas:
Company Towns na Amazônia
Company Towns, em português significa cidade da empresa, é uma vila ou cidade onde quase tudo, casas, escolas, hospital, supermercado, cinema, posto de gasolina e estabelecimentos comerciais, pertencem a uma única empresa. Na maioria das vezes essas Company Towns (Cidades da empresa) são caracterizadas pelo monopólio, elo paternalismo, pelo isolamento e pela excelente qualidade de vida. E no caso das Company Towns na Amazônia estas cidades giram em torno de algum Mega Projeto.
Estas cidades são caracterizadas pelo monopólio uma vez que quase todos os serviços e estabelecimentos comerciais (em alguns casos até a igreja)pertencem à empresa que controla a cidade, que no geral gira em torno de alguma grande indústria, onde trabalham praticamente todos os trabalhadores da Company Town. Estas cidades são caracterizadas pelo paternalismo, por que como todos os serviços básicos como saúde, educação, habitação, clubes entre outros são pagos ou subsidiados pela empresa. A empresa é tida como o “grande pai” gerando uma espécie de “estado paralelo” e um “patriotismo empresarial”, tornando os trabalhadores não somente dependentes, mas também leais a empresa, que estabelece nestas cidades as suas próprias leis.Mapa das Company Towns na Amazônia
Estas cidades são caracterizadas pelo isolamento, por que este faz parte da lógica da Company Town, que se baseia no monopólio e no paternalismo. No caso das Company Towns na Amazônia o isolamento não é apenas geográfico, existe também um “isolamento social” muitas das vezes não é qualquer um que pode morar na cidade da empresa, ou seja, somente funcionários, e em parte, estes funcionários são mão de obra especializada e vindos de outras regiões, fazendo que se crie “cidades paralelas” no entorno das Company Towns, fora dos limites do projeto, como é o caso de Laranjal do Jari-AP e Parauapebas-PA. E estas cidades da empresa são caracterizadas pela excelente qualidade de vida de seus habitantes-empregados. Serra do Navio (cidade construída no Amapá pela ICOMI para exploração do manganês), por exemplo, tinha um padrão de vida estadunidense no meio da floresta amazônica, o hospital de Serra do Navio realizava operações de coração nos anos 70 que até hoje não são realizadas na capital, Macapá. E algumas das últimas Company Towns na Amazônia como Porto Trombetas e Núcleo Carajás ainda mantém seus moradores com um padrão de vida muito superior ao resto da região.
A história das Company Towns começa nos Estados Unidos em 1880 com a construção da cidade de Pullman em Illinois que foi projetada para abrigar 6.000 pessoas, e era comanda pela Companhia Pullman Palace Car, no auge das Company Towns nos Estados Unidos haviam mais de 2.500 cidades da empresa e mais de 3% dos estadunidenses moravam em uma Company Town. Mas na Amazônia, pode ser considerada como a primeira Company Town, a atual capital de Rondônia, Porto Velho que nasceu como uma vila, em 1907, para abrigar os funcionários da estrada de ferro Madeira-Mamoré (As estradas de ferro são uma características em comum das Company Towns amazônicas), Porto velho, foi construída pela Madeira-Mamoré Railway Company, uma empresa estadunidense responsável pelo consócio que construiu a ferrovia (Outra característica em comum das Company Towns da Amazônia, é a participação estrangeira). Abaixo algumas das principais Company Towns na Amazônia:
FORDLÂNDIA
Foi um mega projeto agroindustrial do famoso milionário Henry Ford em 1927, que pretendia fugir do monopólio do látex (Borracha) dos britânicos no sudeste asiático, Ford entrou em negociação com o governo do Pará, que mediante negociações até hoje não muito bem explicadas, concedeu a Companhia Ford Industrial do Brasil uma área de 14.568 km2 as margens do Rio Tapajós, e Henry Ford ainda ganhou direito de importar e exportar máquinas, equipamentos e tudo mais que lhe fosse preciso sem pagar taxas ao governo paraense. Apesar das grandes espectativas de Ford (Que nunca pisou na Amazônia por que tinha medo de jacaré e malária), o projeto foi um fracasso, dentre os vários motivos estão; Aterra era infertil e pedregosa, não havia nenhum agrónomo especializado em agricultura equatorial, as seringueiras foram plantadas muito proximas de modo que ficaram indefesas a ataques de pragas e por fim os funcionários na sua maioria amazônicos brasileiros foram forçados a se adequar ao estilo de vida estadunidense, sendo obrigados a comer hamburguers, usar crachás e cumprir uma rotina de trabalho que não estava acostumados. Resultado, foram inúmerosconflitos com os trabalhadores, baixa produtividade e mortes. Após a morte de Henry Ford em 1947 seu sucessor encerrou as atividades do desastroso Projeto Fordlandia.Fordlândia (PA)
SERRA DO NAVIO
Foi um mega projeto da mineradora ICOMI (Indústria Comércio e Mineração), para alguns historiadores o Território Federal do Amapá foi criado por conta deste projeto, uma vez que o governo federal sabendo da existência de manganês na região, a desmembrou do estado do Pará para que a união obtivesse total controle nas negociações. O projeto audacioso incluía a construção de duas Company Towns (Serra do Navio e Vila Amazonas em Santana), um porto e uma ferrovia, todos esses equipamentos foram construídos com êxito e a mineradora operou com um contrato de 50 anos a partir de 1953, no auge do projeto nos anos 70 e 80 o Amapá tornou-se o maior exportador de manganês do planeta e Serra do Navio era a localidade com a melhor qualidade de vida do país, uma cidade estadunidense em plena Amazônia. Nos anos 90 a empresa encerrou suas atividades antes do prazo e entregou todas as suas propriedades sucateadas ao governo do Amapá, como estava no contrato, que herdou também inúmeros problemas ambientais e sociais. E hoje Serra do Navio é um enorme museu a céu aberto.Serra do Navio (AP) década de 1950
PORTO TROMBETAS 
É um mega projeto da Mineradora MRN (Mineradora Rio do Norte) localizado no município paraense de Oriximiná. A implantação do projeto iniciou em 1971 e tinha como propósito a extração de bauxita e o seu beneficiamento, lavagem, secagem e embalagem para exportação, o projeto também inclui além das minas de Sacará, Almeidas e Aviso, uma ferrovia, um porto e a Company Town de Porto Trombetas que mantém até os dias de hoje com um elevado padrão de vida, e é dotada de usina de geração de energia, tratamento de água e esgoto, escola, hospital, clube, cine teatro, casa da memória, centro comercial, aeroporto, e sistema de comunicação nacional e internacional. Porto Trombetas, (PA)
O verdadeiro “sonho americano”, e o lado positivo deste projeto é que ele não formou bolsões de pobreza no seu ao redor e de todas as Company Towns na Amazônia Porto Trombetas é o projeto mais bem-sucedido até hoje, talvez uma das razões seja que o projeto levou em conta os efeitos da floresta.
MONTE DOURADO
 
 Foi talvez o projeto mais desastroso de todos, em nenhum ângulo que se olhe, seja econômico, social ou ambiental poderemos dizer que foi um projeto bem-sucedido. Foi o sonho do bilionário Daniel Keith Ludwig que sonhou em construir na Amazônia a maior fábrica de celulose do mundo. O projeto inicialmente incluía: Portos, Rodovias, Ferrovia, Aeroporto, termelétrica, uma Company Town além de audacioso projeto agropecuário. Um dos motivos para o fracasso colossal do projeto foi novamente a força da floresta amazônica. Foram devastados milhares de Km² de floresta para plantação de gmelina árvore matéria prima para produção da celulose, que foi atacada por pragas, o projeto atraiu milhares de pessoas que não conseguiram ser absorvidas pelo empreendimento e acabaram se alocando na outra margem do Rio Jari, o projeto sofreu inúmeros revés e chegou até ser aberta uma CPI no congresso nacional para investigar o projeto e seu dono Ludwig, que desistiu da empreitada e vendeu o projeto. Mas ainda assim, até os dias de hoje a Company Town Monte Dourado ainda é uma das localidades com melhor qualidade de vida, em contraste com o lado amapaense de Laranjal do Jari que é o segundo município com o maior percentual de moradias subumanas.Monte dourado (PA)
NÚCLEO CARAJÁS 
 Como no nome já diz, Núcleo Carajás está no centro do gigantesco projeto Carajás, a maior mina de ferro do mundo, é tanto ferro que mesmo que fosse explorada de maneira intensiva, ainda assim seriam necessários 800 anos para esgotar as minas. E a população de 6.000 habitantes da cidade da companhia conta com um padrão elevadíssimo de vida, talvez o melhor do Brasil. A Company Town está a 15 Km das minas e cerca de 200 Km de Marabá (Principal cidade da região). A cidade possui escolas, hotel, clube, comércio, aeroporto, além de um excelente

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