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Minas telecardio implantaçao de telecardiologia no serviço público de saúde do interior de minas gerais

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Minas Telecardio – Implantação de Telecardiologia no Serviço Público de 
Saúde do Interior de Minas Gerais 
 
Maria Beatriz Moreira Alkmim1, Antonio Luiz Pinho Ribeiro2, Clareci Silva Cardoso3, Leonardo 
Freitas da Silva Pereira4, Paulo Couto Lessa5 
 
1,2,4
 Hospital das Clínicas, 
3 
Grupo de Pesquisa em Epidemiologia, 
5
Laboratório de Computação Científica, 
Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), Brasil 
 
 
Resumo - O projeto Minas Telecárdio propõe a implantação de serviço de telecardiologia em 82 municípios do 
interior de Minas Gerais e a realização de um estudo epidemiológico e econômico, por meio de convênio 
firmado entre cinco universidades do estado e a Secretaria de Estado da Saúde, sob a coordenação da UFMG. 
Os municípios são beneficiados com atividades de tele-assistência, teleconsultoria off-line e on-line e tele-
educação em um programa de educação permanente para os profissionais da atenção primária. O estudo 
epidemiológico e econômico busca aferir a efetividade do sistema no atendimento às doenças cardiovasculares 
isquêmicas. A estrutura tecnológica central está implantada na UFMG, com um servidor backup extra em outra 
universidade. Nos municípios, a infra-estrutura oferecida é composta por um micro computador multimídia, 
impressora e um eletrocardiógrafo digital de 12 derivações. Em contrapartida, o município oferece infra-
estrutura física e conexão com a Internet. Devido às particularidades regionais, encontramos vários tipos de 
tecnologias de telecomunicação: satélite, rádio, cabo, ADSL e linha dedicada. Esta diversidade permite 
estabelecer um padrão mínimo de requisitos para a realização das atividades propostas pelo projeto. O 
presente trabalho apresenta a experiência da implantação em 10 municípios piloto. 
 
Palavras-chave: Telemedicina,Telessaúde, MinasTelecardio, Telecardiologia, Tele-educação. 
 
Abstract -. The Minas Telecardio project propounds the implementation of a telecardiology service in 82 cities in 
the State of Minas Gerais and also an epidemiologic and economic study. It happens through an agreement 
among five universities in the State and the State Health Department, under the coordination of UFMG. The 
cities benefit from activities of tele-assistance, teleconsulting and tele-education in a permanent education 
program to primary care professionals. The epidemiologic and economic study seeks to check the effectiveness 
of the care system concerning the support to the ischemic cardiovascular diseases. The central technological 
structure is implemented in UFMG with an extra backup server in another university. In each city, a multimedia 
microcomputer, a printer and a digital electrocardiograph of 12 derivations are offered by the project. The city 
offers infra-structure (room, employees) and Internet connection. Considering each regional particularity, it was 
possible to find several telecommunication technologies: satellite, radio, cable, ADSL and dedicated line. This 
diversity allows establishing a minimum requirement pattern to the activities propounded by the project. This 
article shows the implementation experience in 10 pilot cities. 
 
Key-words: Telemedicine, Telehealth, MinasTelecardio, Telecardiology, Tele-education 
 
 
1. Introdução 
 
O projeto Minas Telecardio se propõe a 
implantar atividades de telecardiologia em 82 
municípios de Minas Gerais (MG) e realizar um 
estudo epidemiológico e econômico para aferir a 
efetividade do sistema no atendimento às doenças 
cardiovasculares isquêmicas. 
Este projeto é a resposta das instituições 
médicas acadêmicas públicas de Minas Gerais ao 
chamamento da Fundação de Amparo à Pesquisa 
de Minas Gerais (FAPEMIG) que solicitou propostas 
de pesquisa, com vistas à obtenção de dados para 
subsidiarem a implantação, aperfeiçoamento e 
avaliação da efetividade de um sistema piloto de 
telemedicina em cardiologia, uma iniciativa da 
Secretaria de Estado da Saúde de Minas Gerais. 
Dentro desta proposta foi constituída a Rede 
Mineira de Telecardiologia, pela integração das 
cinco instituições universitárias e públicas que 
dispunham de ‘hospital-escola’: Universidade 
Federal de Minas Gerais (UFMG), que detém a 
coordenação do projeto, Universidade Federal de 
Uberlândia (UFU), Universidade Federal do 
Triângulo Mineiro (UFTM), Universidade Estadual de 
Montes Claros (UNIMONTES) e a Universidade 
Federal de Juiz de Fora (UFJF). 
As doenças cardiovasculares são hoje a maior 
causa de morbi-mortalidade no Brasil, com grande 
custo social. Na Síndrome Coronariana Aguda, a 
demora em reconhecer sintomas e o retardo em 
buscar atendimento médico tem sido os 
responsáveis pela elevada mortalidade pré-
hospitalar [1]. Quase 40% dos pacientes vêm a óbito 
antes de receberem os primeiros socorros. A 
cardiologia é um campo fértil para a aplicação da 
telemedicina, considerando-se o uso de métodos 
gráficos que digitalizados, podem ser transmitidos à 
distância, para análise e discussão. Destaca-se a 
eletrocardiografia, exame de fácil realização, baixo 
custo e grande utilidade clínica. 
A comprovada experiência do Hospital das 
Clínicas da UFMG em telessaúde foi fundamental 
para a estruturação deste projeto. A rede 
BHTelessaúde, implantada em Belo Horizonte desde 
abril de 2004, promove a conexão da universidade 
com os centros de saúde municipais, em um grande 
programa de teleconsultoria e tele-educação 
oferecido aos profissionais das equipes de saúde da 
família nas áreas da medicina, enfermagem e 
odontologia. O sistema desenvolvido em parceria 
com a Secretaria Municipal de Saúde de Belo 
Horizonte expande-se agora a outras universidades 
e regiões do estado, com especificidade em 
cardiologia. 
Dentro deste contexto, o projeto é justificado 
tendo em vista os seguintes aspectos: 
• A elevada morbi-mortalidade e o alto custo 
do diagnóstico e tratamento das doenças 
cardiovasculares. 
• A dimensão territorial do estado, que sugere 
a aplicação da telemedicina otimizando a 
assistência [2]. 
• O eletrocardiograma, método validado, de 
baixo custo e elevado valor clínico, 
facilmente transmissível por meio eletrônico. 
• As instituições médicas acadêmicas públicas 
de Minas Gerais têm condições estruturais, 
experiência e recursos humanos para 
implantar e manter sistema de telemedicina. 
• As instituições universitárias têm também 
como função a educação permanente dos 
profissionais de saúde e a telemedicina 
fornece instrumentos adequados para que 
esta ação ocorra e seja bem sucedida. 
Este projeto tem como objetivo a implantação 
e avaliação da efetividade de um Sistema de 
Telecardiologia, constituindo subsídios ao esforço de 
aumentar a efetividade e eficiência dos serviços de 
saúde no Brasil. 
 
2. Método 
 
2.1. Planejamento do estudo 
Em 2005, constituíram-se as equipes do 
projeto: coordenação geral e dos pólos 
universitários, equipes responsáveis pelo estudo 
epidemiológico e econômico, equipes técnicas e 
administrativo-gerenciais, que trabalharam na 
construção do modelo a ser implantado. 
Várias reuniões de coordenação foram 
realizadas em Belo Horizonte, quando foi definida a 
estrutura tecnológica, funcionalidades, fluxo 
operacional e o modelo de estudo a ser 
desenvolvido, além da escolha dos municípios. 
Critérios de elegibilidade dos municípios para 
entrada no estudo, de acordo com a Secretaria de 
Estado da Saúde de Minas Gerais: 
• Taxa de atendimento pelo Programa Saúde 
da Família - PSF igual ou maior que 70%. 
• População de até 10.500 habitantes. 
• Localização geográfica em macro-regiões 
com as maiores taxas de morbi-mortalidade 
por Infarto Agudo do Miocárdio. 
Além destes, foi necessário, no decorrer do 
processo de implantação, a inclusão de novos 
critérios: 
• Interesse do município demonstrado pela 
participação nas reuniões de sensibilização 
e testes de conexão. 
• Condições reais de seu sistema de saúde, 
definindo a necessidade da telecardiologia. 
• Conexão a internet no município com banda 
suficiente paraimplantação de telemedicina 
ou iniciativa local para sua adequação. 
 
2.2. Composição das equipes 
 
A UFMG como pólo coordenador constitui a 
equipe central de coordenação, médica, técnica e de 
pesquisadores e articula as atividades do projeto 
nas instituições envolvidas. 
O Centro de Telessaúde do Hospital das 
Clínicas se responsabiliza pelas atividades de 
implantação do projeto nos outros quatro pólos 
universitários e nos oitenta e dois municípios. Sua 
equipe técnica é composta por uma coordenação de 
telemedicina, um analista de software e um analista 
de rede, um técnico de informática, uma 
administradora e um consultor do Laboratório de 
Computação Científica, LCC/CENAPAD. 
A equipe clínica tem sua coordenação médica 
no Hospital das Clínicas, que se responsabiliza pela 
organização dos plantões de cardiologia, definição 
dos protocolos e padronização de condutas. 
O estudo epidemiológico tem a coordenação 
do Grupo de Estudos em Epidemiologia GPE-
UFMG/CNPq, conta com duas pesquisadoras e dois 
técnicos de pesquisa, uma em avaliação de serviços 
e outra em estatística. 
O estudo econômico é coordenado por equipe 
da Faculdade de Ciências Econômicas da UFMG, 
composta por uma pesquisadora, e dois bolsistas 
em pesquisa. 
Cada pólo universitário tem equipe composta 
por um coordenador, um técnico de referência em 
pesquisa, um técnico de informática e dois bolsistas 
de iniciação científica. 
Cada município define os profissionais 
responsáveis pelo projeto, que deve incluir: um 
profissional médico, um técnico de pesquisa e um 
técnico de informática. 
 
2.3. Estrutura tecnológica 
 
O projeto conta com uma estrutura composta 
por 12 servidores, distribuídos da seguinte forma: no 
pólo coordenador, 2 para Banco de dados (em 
cluster), 2 para software de comunicação (em 
cluster), 1 WEB, 1 Firewall, 1 para Arquivo. Na UFU, 
1 Backup e 1 Firewall. Os outros pólos recebem 1 
Firewall cada. Os servidores de serviços 
considerados essenciais para os atendimentos, são 
clusterizados dando confiabilidade e robustez para 
que os atendimentos possam ser feitos 24/7. 
Cada pólo foi equipado por 2 estações de 
trabalho compostas por microcomputadores 
PentiumIV, 1 webcam, e 1 equipamento de 
videoconferência. A estrutura de videoconferência 
adquirida permite a conexão de até 5 pontos no pólo 
coordenador, sendo que cada pólo pode abrir 
conexão com outros 3 pontos em sistema de 
cascateamento. 
Cada município recebe um microcomputador 
de configuração avançada, uma webcam, uma 
impressora e um eletrocardiógrafo digital capaz de 
fornecer 12 derivações com precisão. 
 
2.3.1. Estrutura de software 
 
Os softwares utilizados pelo projeto são: 
software de comunicação para interação via chat, 
voz, imagem e arquivos entre os usuários, software 
de eletrocardiograma e um sistema WEB 
desenvolvido pela equipe do projeto para 
gerenciamento de informações entre os usuários. 
Além das formas de interação já citadas, o 
software de comunicação possibilita a gravação das 
atividades para segurança de ambas as partes. 
O software do eletrocardiograma fornece 
informações sobre as 12 derivações e também 
algumas ferramentas como: medidas, co-
morbidades, fatores de risco, hipótese diagnóstica. 
Como critérios relevantes para sua escolha, 
podemos citar principalmente a certificação na 
ANVISA, a segurança das informações dos 
pacientes, a qualidade do produto em relação à 
bugs, usabilidade e sua navegabilidade. 
Para os atendimentos off line e on line, 
desenvolvemos no site do projeto um sistema para 
gerenciamento de teleconsultas entre os 
profissionais da atenção primária e os especialistas. 
Além do agendamento de teleconsultas e 
atendimentos descritos, o sistema permite aos 
usuários se informar e receber notícias sobre o 
andamento do projeto. No módulo de teleconsultas 
os médicos têm a opção de enviar imagens aos 
especialistas. As informações dos usuários no 
sistema são pessoais, onde apenas este usuário 
tem acesso às informações de seus casos. As 
informações transitam pelo sistema de forma 
criptografada, o que aumenta a segurança e o sigilo 
das informações do paciente. 
 
2.4. Funcionalidades e fluxo operacional 
 
As atividades de telecardiologia são 
desenvolvidas por meio da utilização de 
eletrocardiógrafo digital instalado nos municípios, 
que enviam seus exames aos pólos universitários. 
O plantão é realizado cada dia em um pólo, 
em modelo original e específico de telemedicina, 
onde o atendimento é oferecido a todos os 82 
municípios independentemente da localização 
geográfica do paciente e do especialista. 
Os plantões diários, realizados por 
especialistas em cardiologia, são responsáveis pela 
análise e laudo dos exames e pela discussão on line 
dos casos clínicos quando assim se faz necessário. 
O sistema oferece também atividades de 
teleconsultoria ou segunda opinião em outras 
especialidades médicas, on line e off line e o 
sistema de tele-educação por meio de palestras 
proferidas em rede nas áreas médicas, de 
enfermagem e odontologia [3]. A tecnologia utilizada 
é multiponto, o que permite o acesso das unidades 
participantes de forma simultânea, promovendo a 
integração das equipes. 
 
2.5. Metodologia de implantação 
 
Um evento de lançamento do projeto foi 
realizado em Belo Horizonte, sendo demonstrada ao 
vivo a tecnologia a ser utilizada no projeto, em um 
grande processo de sensibilização. 
Iniciaram-se a seguir os testes de conexão 
entre cada pólo universitário e seus municípios de 
referência. Inicialmente, o técnico de informática do 
pólo entra em contato por telefone com o técnico do 
município e agenda o primeiro teste. Encaminha-se 
por e-mail um arquivo com as orientações técnicas 
para o acesso inicial. Os testes são realizados em 
computador do próprio município, utilizando o 
software de comunicação para análise de som, 
vídeo, chat e compartilhamento de arquivos. 
Formatou-se uma planilha para avaliação dos 
testes, preenchida individualmente pelo pólo 
analisando todos os itens verificados. Após a 
realização de 5 testes em média em cada município, 
é dada uma pontuação (0 a 5). Notas iguais ou 
superiores a 3 indicam que o município está apto a 
seguir os próximos passos para a implantação. 
A visita técnica é realizada por um 
coordenador e um profissional de informática do 
pólo e dividida em quatro etapas: entrevista com os 
gestores, com os médicos, vistoria técnica e teste de 
conexão com o pólo. Um roteiro de visita foi 
padronizado, sendo preenchido pelos dois 
profissionais individualmente. Na ocasião, é 
entregue o Termo de Adesão do município, que 
deve ser assinado pelos partícipes para firmar o 
compromisso de participação. 
No caso da visita não encontrar 
irregularidades e o teste local ser adequado, o 
município é liberado a participar do treinamento 
centralizado no pólo coordenador. 
O treinamento é dado a três profissionais por 
município: um médico, um técnico de informática e 
um técnico de pesquisa, com duração de 8 horas 
cada e específico para cada tipo de profissional. 
A liberação dos equipamentos ao município 
só é efetivada mediante o recebimento do Termo de 
Adesão e a participação no treinamento. Os 
equipamentos são instalados no local pré-
determinado e testes finais de transmissão de 
eletrocardiograma são realizados. A partir de então, 
o município integra-se ao projeto, com participação 
em todas as atividades. 
Concomitantemente a estas atividades, 
treinamentos para os técnicos de informática, 
técnicos de pesquisa, bolsistas de iniciação 
científica e médicos plantonistas dos cinco pólos são 
centralizados no pólo coordenador. 
A implantação foi dividida em quatro etapas. 
Na primeira fase, 10 municípios piloto foram 
escolhidos para iniciar as atividades. As demais 
etapas são constituídas pela entrada de 22, 25 e 25 
municípios respectivamente. 
 
2.6. Estudo epidemiológico e de custo 
efetividade do sistema de telecardiologia 
 
Esta investigaçãoé dividida em três fases: 
Fase I - Estudo descritivo pré-implantação do 
sistema de telecardiologia: 
• Descrição do perfil dos serviços de saúde de 
todos os municípios com base nos dados do CNES 
(Cadastro Nacional dos Estabelecimentos de 
Saúde); 
• Avaliação da estrutura do serviço de saúde 
selecionado para a implantação do sistema, por 
meio do levantamento de dados primários utilizando 
entrevistas padronizadas; 
• Construção de uma linha de base com 
indicadores de morbi-mortalidade relacionados às 
doenças cardiovasculares em MG e municípios do 
estudo; 
• Avaliação econômica dos gastos do 
tratamento cardíaco por meio da identificação dos 
procedimentos realizados pelos municípios 
selecionados nos bancos do SIH (Sistema de 
informações hospitalares) e do SIA (Sistema de 
informações ambulatoriais). Será ainda analisada a 
distância percorrida pelo paciente encaminhado 
para tais procedimentos; 
• Avaliação da satisfação da equipe médica 
com o atendimento as doenças cardiovasculares no 
município. 
Fase II - Implantação e acompanhamento do 
sistema de telemedicina em cardiologia: 
• Treinamento e capacitação da equipe de 
pesquisadores para a condução do estudo 
epidemiológico. 
• Dados epidemiológicos e clínicos coletados 
em cada eletrocardiograma realizado. 
• Indicadores do fluxo de atendimento 
levantados por meio de protocolo previamente 
estabelecido. 
Fase III - Avaliação de resultado da implantação do 
sistema de telemedicina em cardiologia. 
• Estudos comparativos pré e pós 
intervenção: 
Os indicadores epidemiológicos obtidos na 
etapa I serão reavaliados: taxa de morbidade (SIH) e 
mortalidade (SIM) por doenças cardiovasculares. 
Será reavaliada a satisfação da equipe 
médica com a implantação do sistema. 
Estudos de seguimento do paciente: Todo 
paciente com diagnóstico de Síndrome Coronariana 
Aguda é prospectivamente acompanhado por um 
período de 60 dias após o primeiro atendimento pela 
telecardiologia. 
Estudo caso-controle para determinar a 
efetividade da intervenção: propõe-se incluir 
indicadores de morbi-mortalidade e gastos dos 
municípios elegíveis para a implantação do sistema 
e comparar com municípios que sofreram a 
intervenção. 
 
2.6.1. Análises estatísticas 
 
Estudos comparativos serão realizados 
utilizando os indicadores de implantação do sistema, 
antes e depois. Será conduzida uma análise 
espacial por meio de uma série temporal com 
indicadores de morbi-mortalidade para os anos de 
2000 a 2003 contextualizando as doenças 
cardiovasculares nos 82 municípios. Propõe-se fazer 
uma reavaliação espacial desses indicadores após a 
implantação do sistema. Quando apropriado serão 
conduzidas análises multivariadas, comparação 
entre grupos utilizando teste não paramétrico e 
quiquadro de Pearson. 
 
3. Resultados 
 
Eleitos os 82 municípios seguindo os critérios 
descritos, a equipe coordenadora recebeu até o 
presente 18 cartas de prefeituras de outros 
municípios que também preenchem os critérios de 
inclusão no projeto solicitando a sua participação, 
demonstrando o interesse, necessidade e aceitação 
do estudo. 
Geograficamente, os 82 municípios 
selecionados para implantação estão distribuídos 
equitativamente em relação a cada um dos pólos 
universitários, com distância máxima de cerca de 
350 km. 
 
3.1. Estudo piloto 
 
Relatamos a seguir a experiência com a 
implantação dos 10 municípios piloto, coordenada 
pela UFMG. 
Os municípios escolhidos possuem no total 15 
equipes de saúde da família e 9 médicos, sendo que 
4 municípios estavam sem médico do Programa de 
Saúde da Família (PSF) no momento da visita 
técnica. Todos possuem aparelho de 
eletrocardiograma convencional e 40% tem um 
cardiologista contratado para atendimento uma vez 
por semana. Apesar disto, médicos encaminham 
sistematicamente pacientes a municípios de 
referência para a realização de eletrocardiogramas 
ou aguardam o laudo do cardiologista local quando 
for o caso. 
Entrevistas com os profissionais de saúde 
mostram que a insegurança médica para a 
realização dos laudos determina os 
encaminhamentos e apontam como maior 
expectativa em relação ao projeto, a capacitação e a 
possibilidade de interação com especialistas das 
universidades, demonstrando interesse no programa 
de educação permanente. 
 Já as entrevistas com os gestores locais 
durante a visita técnica mostram como maior 
expectativa a diminuição dos custos da prefeitura 
com o encaminhamento dos pacientes, pois o 
município arca as vezes com o pagamento de 
consultas particulares com especialistas nos 
municípios de referência. 
Durante 30 dias, testes de conexão foram 
realizados em 22 municípios do pólo coordenador 
avaliando as conexões em uma escala de 0 a 5. O 
resultado definiu os 10 melhores que receberam as 
visitas técnicas. Nestas, orientações foram dadas 
quanto as instalações físicas e conexões à internet. 
Como os testes locais foram satisfatórios, todos 
foram liberados para o treinamento. Participaram 
deste evento em Belo Horizonte 10 médicos ou 
enfermeiros, 11 técnicos de informática e 11 
técnicos de pesquisa. 
O contato direto entre os técnicos de 
informática dos municípios e a equipe de tecnologia 
do projeto possibilitou o esclarecimento de muitas 
dúvidas, apresentação de soluções e opções de 
mudanças tecnológicas. Encontramos nos 
municípios realidades diferenciadas do ponto de 
vista tecnológico. Muitos deles não contavam com 
acesso a Internet nos Centros de Saúde, outros 
tinham capacidade insuficiente de banda ou 
configuração incorreta. 
A tabela a seguir demonstra as características 
de conexões à internet encontradas nos primeiros 
testes. 
 
Tabela 1: Tipos de conexão, velocidade, número de 
computadores compartilhados e nota dada aos 10 
municípios piloto após 30 dias de testes 
 
Municípios Conexão Kbps
1
 Pc´s Nota 
Buenópolis Rádio 64 1 5 
Augusto de 
Lima 
Rádio 128 10 4 
Crucilândia Rádio 128 2 4 
Moeda Satélite 64 8 4 
Morada 
Nova 
Rádio 256 x 4 
Quartel 
Geral 
Rádio 256 10 4 
Cachoeira 
da Prata 
Rádio 256 1 3 
Inimutaba Rádio 128 x 3 
Pequi Rádio 128 2 3 
Belo Vale Satélite 64 1 1 
 Linha 
discada 
 1 3 
 5 ótimo, 4 bom, 3 razoável, 2 ruim,1 péssimo, 0 não testou 
 
Observamos que dentre os dez municípios 
escolhidos apenas dois deles usavam conexão via 
satélite e os demais, rádio. Belo Vale realizou testes 
em linha discada com resultado satisfatório, o que 
determinou sua visita técnica. 
 
 
 
 
 
1
 Informações fornecidas pelos municípios durante os testes. 
4. Discussão 
 
A implantação do projeto apontou algumas 
situações críticas do PSF, como a rotatividade dos 
médicos e a necessidade de educação continuada 
para seus profissionais. 
A falta de médicos do PSF em alguns 
municípios suscitou discussão sobre sua inclusão ou 
não no projeto. A decisão de aceitá-los foi baseada 
na instabilidade geral da situação e por não termos 
da mesma forma garantia da permanência dos 
médicos no município durante o período do estudo. 
As funcionalidades oferecidas pelo projeto 
foram bem recebidas. O interesse dos médicos e 
enfermeiros por um programa de educação 
permanente a distancia é grande, demonstrando 
certa facilidade com a incorporação de tecnologias 
de informação em suas atividades rotineiras. Um 
fator importante é a possibilidade dos próprios 
profissionais definirem a grade de temas a serem 
abordados. 
O custo das prefeituras com o transporte de 
pacientes a municípios de referência é alto, em 
média enviam de 6 a 8 veículos por semana. 
Durante uma visita a um município de 4000 
habitantes, presenciamos o encaminhamento de 6 
veículos com pacientes em uma manhã. Portanto, 
os gestores municipais recebem o projeto com 
grande expectativa e justifica-se a lista de espera 
existente. 
Na prática, comprovamos este interesse no 
investimento dasprefeituras na melhoria da conexão 
à internet quando assim era necessário. 
Comparando os tipos de conexão 
encontrados nas 10 cidades, verificamos que no 
caso do satélite a qualidade da conexão com o 
software de comunicação é inferior. A principio, 
acreditávamos que era um problema com a latência 
do satélite, porém verificando in-loco, constatamos 
uma importante diferença entre as taxas de 
download e upload, o que não acontece com o 
rádio. 
Concluímos que para conexões via satélite, é 
importante considerar as duas taxas. 
Recomendamos para uma conexão via satélite com 
qualidade, uma banda de 300 Kbps download e 100 
Kbps upload. 
Além da conexão, os municípios receberam 
outras orientações, como: melhoria do 
comportamento dos usuários, corte de programas 
P2P, racionalização do uso, e orientação sobre 
aquisição de novos ativos de rede ou até mesmo 
melhorias nos passivos, que em algumas vezes 
estavam fora das especificações. 
Na implantação, os municípios já 
apresentavam uma nova realidade no acesso à 
Internet, conforme descrito na tabela abaixo: 
 
Tabela 2: Tipos de conexão, velocidade, número de 
computadores compartilhados e nota dada aos 10 
municípios piloto na implantação 
 
Municípios Conexão Kbps Pc´s Nota 
Buenópolis Rádio 128 1 5 
Augusto de 
Lima 
Rádio 150 1 4 
Crucilândia Rádio 128 4 4 
Moeda Satélite 200 7 4 
Morada 
Nova 
Rádio 256 5 4 
Quartel 
Geral 
Rádio 128 3 4 
Cachoeira 
da Prata 
Rádio 256 1 4 
Inimutaba Rádio 128 4 4 
Pequi Rádio 360 4 5 
Belo Vale Satélite 64 1 3 
 
Finalmente, observamos que este estudo 
além de oferecer aos municípios suporte tecnológico 
e clínico para o diagnóstico e condução das 
doenças cardiovasculares, vai levantar indicadores 
econômicos e epidemiológicos capazes de orientar a 
Secretaria de Estado da Saúde no planejamento dos 
serviços e atenção às doenças cardiovasculares. 
Outro benefício é a promoção da inclusão digital nos 
sistemas de saúde municipais. 
 
Referências bibliográficas: 
 
[1] Woolard, M., Pitt, K., Hayward, A.J., Taylor, N.C., 
(2005), “Limited benefits of ambulance 
telemetry in delivering early thrombolysis: a 
randomized controlled trial”, Emerg Med J, 
22:209-215. 
 
[2] Lievens, F., Jordanova, M. (2004), “Is there a 
contradiction between telemedicine and 
business?”, J Telemed Telecare.,10 Suppl 
1:71-4. 
 
[3] Vladzymyrskyy, A.V., Klymovytskyy, V.G., 
Dorokhova, E.T., (2004), “Our best practice 
models for telemedicine and eHealth”, Ukr. 
Z. telemed. Med. Telemat., v. 2, n. 2, p. 134-
141. 
 
Contato: 
Maria Beatriz Moreira Alkmim 
Centro de Telessaúde 
Hospital das Clínicas / UFMG 
Av. Alfredo Balena, 110, sala 105, CEP 30130-100 
Tels: (31) 3248-9201, 3248-9279 
E-mail:beatriz@hc.ufmg.br

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