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1 UNIVERSIDADE ESTADUAL DO CEARÁ – UECE CENTRO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE- CCS MESTRADO ACADÊMICO CUIDADOS CLÍNICOS EM SAÚDE - CMACCLIS Ione Cavalcante Lacerda CONSULTA DE ENFERMAGEM AOS TRANSPLANTADOS CARDÍACOS NO CEARÁ: Análise dos registros no período de 2005-2011. Fortaleza-CE 2011 2 IONE CAVALCANTE LACERDA CONSULTA DE ENFERMAGEM AOS TRANSPLANTADOS CARDÍACOS NO CEARÁ: Análise dos registros no período de 2005-2011 Dissertação aprovada pelo Mestrado Acadêmico Cuidados Clínicos em Saúde (CMACCLIS), da Universidade Estadual do Ceará (UECE), como requisito parcial à obtenção do título de Mestre em Cuidados Clínicos. Orientadora: Profa. Dra. Thereza Maria Magalhães Moreira. Área de Concentração: Cuidados Clínicos em Enfermagem e Saúde Linha de Pesquisa: Fundamentos e Práticas do Cuidado Clínico em Enfermagem e Saúde Fortaleza – Ceará 2011 3 IONE CAVALCANTE LACERDA CONSULTA DE ENFERMAGEM AOS TRANSPLANTADOS CARDÍACOS NO CEARÁ: Análise dos registros no período de 2005-2011. Dissertação aprovada pelo Mestrado Acadêmico Cuidados Clínicos em Saúde (CMACCLIS), da Universidade Estadual do Ceará (UECE), como requisito parcial à obtenção do título de Mestre em Cuidados Clínicos. Aprovada em __/__/__ BANCA EXAMINADORA __________________________________________ Profª Drª. Thereza Maria Magalhães Moreira Universidade Estadual do Ceará-UECE Presidente __________________________________________ Profª Drª. Lúcia de Fátima da Silva Universidade Estadual do Ceará-UECE 1º Membro __________________________________________ Profª Drª Maria Vilani Cavalcante Guedes Universidade Estadual do Ceará-UECE 2º Membro __________________________________________ Profª Drª. Vera Lúcia Mendes de Paula Pessoa Universidade Estadual do Ceará-UECE Membro suplente 4 DEDICATÓRIA Ao meu pai Luiz Antônio e à minha mãe, Dione, por terem renunciado muitos sonhos pessoais para a realização dos sonhos dos seus filhos. Ao meu marido, Álisson, pelo incentivo, apoio, paciência e amor de sempre. Deus mais uma vez foi muito bondoso comigo ao colocar você no meu caminho. A professora Dra. Thereza, pelos ensinamentos no decorrer de oito anos de convivência, cumplicidade e por me estimular a dar os primeiros passos como pesquisadora. Dedico todo o meu respeito e admiração. A todos os profissionais e pacientes envolvidos com a realidade do transplante cardíaco, bem como às famílias solidárias, que doaram o coração dos seus entes queridos. 5 AGRADECIMENTOS A Deus, que com sua bondade deu-me a vida, acrescida de saúde, sabedoria, inspiração, fé, possibilitando minha caminhada até aqui e daqui por diante. Aos meus pais, Luiz Antônio e Dione, e irmão Ítalo, a quem amo incondicionalmente, agradeço o amor, apoio, incentivo e a crença na minha capacidade de crescer. Obrigada por tudo que fizeram, fazem e farão por mim. Ao meu marido, Álisson Menezes, por estar compartilhando da minha vida, incentivado-me e apoiado-me na realização dos meus sonhos. Muito obrigada pelo amor, paciência e dedicação! Eu amo você! A professora, Thereza Maria Magalhães, minha orientadora desde o 4º semestre da graduação, agradeço por seguirmos juntas nesse caminho, iniciado há oito anos. Obrigada pelas oportunidades que me ofereceu ao longo do caminho, contribuindo significativamente para muito do que sou hoje. Minha eterna gratidão! A professora e ex chefe, Dra. Vera Mendes, enfermeira do Ambulatório de transplante, por ter viabilizado minha permanência nesta instituição, proporcionando a belíssima experiência de conhecer a realidade do transplante cardíaco, além dos momentos ímpares de aprendizado. Parabéns, por ser um exemplo de enfermeira e de líder. Obrigada por tudo! A toda a equipe do ambulatório de transplante. Não citarei nomes, pois são muitas as pessoas envolvidas. Agradeço a todos igualmente, por terem aceitado conviver comigo. Saudades dos momentos compartilhados! A todos os meus amigos e amigas, aos quais agradeço pela amizade e cumplicidade em todos os momentos das nossas vidas. Aos transplantados cardíacos que consentiram participar deste estudo. 6 Não há emoção no fácil velejar quando os céus estão claros e azuis. Não há alegria em, meramente, fazer coisas que qualquer um pode fazer. Mas existe satisfação, que é muito doce, quando você aposta num destino onde você pensou que jamais chegaria !!! (Spirelle) 7 RESUMO O transplante cardíaco em humanos representou o início de importantes avanços no tratamento dos pacientes acometidos por doença cardíaca severa, possibilitando aos pacientes a busca de melhor qualidade de vida. Inserida neste contexto, a consulta de enfermagem (CE) direcionada aos transplantados cardíacos tem grande importância no seu tratamento, pois realiza importante papel na orientação deste usuário. Nesta perspectiva, este estudo teve como objetivo analisar os registros da consulta de enfermagem aos transplantados cardíacos, identificando os principais focos dos registros da consulta e averiguando a existência de uniformidade ou divergências no atendimento registrado. A pesquisa documental investigou 1322 registros de consultas de enfermagem nas fichas de 65 pacientes vivos, adultos, transplantados e acompanhados em um ambulatório de um hospital público do Ceará, referência em cardiologia. A coleta de dados foi realizada entre setembro e outubro de 2011. Ao analisarmos os dados, observou-se que o sexo masculino representou a maioria dos transplantados e que a faixa etária mais freqüente foi de 41 a 50 anos. Observou-se que os registros mais encontrados foram aqueles acerca das atividades referentes à promoção/controle de saúde (29.8%), nutricional/ metabólico (39.1%), eliminação (5.5%) e atividade/repouso (11.4%). Os referentes à avaliação da cognição (0,1%), da autopercepção (0.3%), sobre relacionamentos e participação da família (0.2%), questões sobre sexualidade (0,5%) e dor (2.4%) foram pouco enfatizadas. A análise individual das atividades registradas permitiu reconhecer a uniformidade da CE e seus focos. Identificamos que o exame físico registrado era limitado à verificação de peso, aferição da pressão arterial, ausculta cardíaca com registro da freqüência cardíaca e breve referência à avaliação dos membros inferiores. Conclui-se que as orientações abordam, principalmente, aspectos biológicos. Registros referentes a atividades de avaliação cognitiva, de autopercepção, acerca dos relacionamentos familiares dos transplantados e seus cuidadores, das atividades laborativas e de lazer foram pouco abordados nas consultas, sendo estas as divergências encontradas. Incrementar a sistematização da assistência de enfermagem poderá facilitar uma abordagem mais integral e eficaz do paciente submetido a transplante cardíaco, contribuindo na promoção de sua saúde. Palavras-chave: Registros de enfermagem, Transplante cardíaco, Enfermagem. 8 ABSTRACT Cardiac transplantation in humans represented the beginning of major advances in the treatment of patients suffering from severe heart disease, allowing patients a better quality of life. Inserted in this context, the nursing consultation (EC) directed to the transplanted heart has great importance in their treatment, as performs an important role in guiding this user. In this perspective, this study aimed to examine the records of thenursing consultation to cardiac transplant, identifying the main focus of the consultation records and investigating the existence of uniformity or differences in the attendance record. The survey investigated 1322 documentary records of nursing visits in the files of 65 patients alive, adult, transplanted and followed in an outpatient clinic of a public hospital in Ceará, cardiology referral. Data collection was conducted between September and October 2011. When analyzing the data, we found that males accounted for the majority of transplanted and that the most frequent age range was 41-50 years. It was observed that the most found in the records of the consultations were those concerning the activities related to promotion / health checks (29.8%), nutritional / metabolic (39.1%), elimination (5.5%) and activity / rest (11.4 %). The areas for the assessment of cognition (0.1%), self-perception (0.3%), about relationships and family participation (0.2%), questions about sexuality (0.5%) and pain (2,4%) were not emphasized. Individual analysis of the recorded activities allowed us to recognize the uniformity of the EC and its focus. We identified that the physical examination record was limited to checking weight, blood pressure measurement, auscultation of the heart with registration and a brief reference to the evaluation of the lower limbs. It follows that the guidance address mainly biological aspects. Records relating to activities of cognitive assessment, self-perception, about the family relationships of the transplant and their caregivers, less work and leisure were rarely addressed in the consultations, which are the differences found. Increasing the systematization of nursing care may facilitate a more comprehensive and effective in patients undergoing cardiac transplantation, contributing to the promotion of their health. Keywords: Nursing records, Heart transplantation, Nursing 9 LISTA DE ILUSTRAÇÕES LISTA DE FIGURAS FIGURA 1. Fluxograma do agendamento das consultas de enfermagem de acordo com o tempo de transplante. Fortaleza-CE, 2011. FIGURA 2. Fluxograma das atividades de enfermagem desenvolvidas na consulta ao transplantado cardíaco, segundo os registros de enfermagem mais freqüentes. Fortaleza-CE, 2011. 31 53 LISTA DE QUADROS QUADRO1. Classe de recomendação e indicação para transplante cardíaco. QUADRO 2. Testes preconizados para avaliação e seleção do receptor. 16 17 LISTA DE GRÁFICOS GRÁFICO 1. Distribuição do número de transplantados cardíacos segundo o sexo. Fortaleza-CE, 2011. GRÁFICO 2. Distribuição da freqüência de atividades registradas na CE ao paciente transplantado referente à promoção de saúde/ controle de saúde (Bloco de perguntas 1). Fortaleza-CE, 2011. GRÁFICO 3. Distribuição da freqüência de atividades registradas na CE ao paciente transplantado referente a registros nutricionais / metabólicos (Bloco de perguntas 2). Fortaleza-CE, 2011. GRÁFICO 4. Distribuição da freqüência de atividades registradas na CE ao paciente transplantado referente a atividades e repouso (Bloco de perguntas 4). Fortaleza-CE, 2011. GRÁFICO 5. Distribuição da freqüência de atividades registradas na CE ao paciente transplantado referente ao exame físico (Bloco de perguntas 10). Fortaleza-CE, 2011. 32 36 41 44 51 LISTA DE TABELAS TABELA 1. Distribuição do número de transplantados cardíacos segundo a faixa etária. Fortaleza-CE, 2011. TABELA 2. Distribuição do número de registros de enfermagem por bloco de perguntas analisado. Fortaleza-CE, 2011. TABELA 3. Distribuição do número de atividades da consulta enfermagem referentes aos blocos de perguntas 5 a 9. Fortaleza-CE, 2011. 33 34 46 10 SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO 10 2 REVISÃO DE LITERATURA 2.1 Breve relato histórico sobre o transplante cardíaco 2.2 O transplante cardíaco 2.3 Consulta de enfermagem ao transplantado cardíaco 13 13 15 21 3 MÉTODO 3.1 Tipo de estudo 3.2 Local de estudo 3.3 População e amostra 3.4 Coleta de dados 3.5 Análise de dados 3.6 Aspectos éticos 27 27 27 28 28 29 29 4 RESULTADOS E DISCUSSÕES 31 5 CONCLUSÃO 55 REFERÊNCIAS 57 APÊNDICE APÊNDICE A – Termo de consentimento livre e esclarecido APÊNDICE B – Roteiro de coleta de dados 65 65 66 ANEXOS 67 11 1 INTRODUÇÃO A doença cardiovascular é uma das principais causas de internações hospitalares. As pessoas com problemas cardíacos sofrem modificações em seu estilo de vida, em decorrência da incapacidade para executar atividades cotidianas, devido aos seus sinais e sintomas. No caso da Insuficiência Cardíaca, por exemplo, há dor ou desconforto precordial, dispnéia, ortopnéia, palpitação, síncope, fadiga e edema. A doença cardiovascular apresenta elevada taxa de mortalidade, que, segundo Avezum, Guimarães e Piegas (2005), chega a 16,7 milhões de mortes ao ano, com projeções para o ano 2020 de sua manutenção como causa principal de mortalidade e incapacitação . Na tentativa de melhorar a realidade das doenças cardiovasculares e suas implicações como problema de saúde pública, o transplante cardíaco constitui-se uma alternativa cirúrgica utilizada no tratamento das miocardiopatias irreversíveis, sendo responsável pela melhoria da expectativa e da qualidade de vida destes pacientes. O transplante cardíaco é um processo complexo, que exige inúmeras mudanças no estilo de vida do receptor. A preparação para o transplante e os cuidados necessários no pós- operatório (imediato e tardio) são complexos, exigindo do receptor e da família, compreensão e colaboração. Segundo reportagem exibida no jornal Folha de São Paulo, em abril de 2009, o Brasil possui o maior sistema público de transplantes de órgãos e tecidos, encontrando-se em segundo lugar na realização desse procedimento, atrás apenas dos Estados Unidos e tinha em maio de 2005 cerca de 62.785 doentes à espera de um transplante. Após 42 anos do primeiro transplante cardíaco em seres humanos, realizado pelo Dr. Chistian Barnard, com repercussão médica e social desta intervenção manifestada nas estatísticas em mais de 80.000 transplantes cardíacos comunicados ao Registro Internacional, o impacto deste procedimento em qualidade de vida e tempo de sobrevida aos cardiopatas ressalta a importância deste tratamento (FAVALORO, 2010). 12 No Brasil, no período de 2000 a 2009 foram realizados 1.663 transplantes cardíacos, e durante o primeiro trimestre de 2010, houve 50 registros, distribuídos em dez estados do pais (ABTO, 2010). Progressivamente, centros de cirurgia cardíaca têm incorporado o transplante cardíaco em suas atividades como opção terapêutica para pacientes com cardiopatias graves. Avanços nas técnicas cirúrgicas e nas técnicas de preservação miocárdica, seleção rigorosa de receptores, grandes progressos no controle da rejeição e a habilidade de prevenir e tratar diversos tipos de infecções contribuiu para o aumento da sobrevida de receptores de transplantes de órgãos (PENN, 2000). Apesar desses avanços, a ocorrência de complicações tardias, como doença vascular do enxerto e neoplasias afeta a sobrevivência desses pacientes (MELLO JUNIOR, 2006). As taxas de sobrevida após o transplante cardíaco em um, cinco e dez anos são, respectivamente, de 90%, 70% e 50%. Entretanto, não estão tais pacientes isentos de problemas, devido à rejeição e, em particular, aos efeitos colaterais associados às drogas imunossupressoras, como infecções, tumores, rejeição crônica, diabetes mellitus, hipertensão arterial,dislipidemia e doença renal (TAYLOR et al., 2009). Entretanto, as taxas de sobrevida após o transplante são influenciadas pelo acompanhamento deste paciente após a cirurgia. Assim, o ambulatório de transplante cardíaco tem um importante papel na manutenção do bem estar do transplantado, pois, promove seu acompanhamento contínuo. Assim, este serviço deve contar com uma equipe multidisciplinar que atue, principalmente, na prevenção de complicações, juntamente com a colaboração do paciente e família, garantindo adesão ao tratamento e, consequentemente, a qualidade de vida deste indivíduo. No contexto do atendimento ambulatorial ao transplantado cardíaco a consulta de enfermagem (CE) tem grande importância, pois nesta ocasião é realizado um importante papel de orientação deste usuário quanto ao autocuidado, avaliação física, acompanhamento de exames laboratoriais, além de proporcionar a inserção da família neste contexto. De acordo com a Lei do Exercício Profissional da Enfermagem (Lei Nº 7498/86), a consulta de enfermagem é função privativa da enfermeira e deve ser realizada com o intuito 13 de atingir a promoção, prevenção, recuperação e reabilitação da saúde. Para tal, a enfermeira incorpora competência profissional, alcançada pelos padrões intelectuais e éticos, associados às atitudes pessoais e experiência profissional (BRASIL, 1986). A enfermeira precisa fazer incidir nos serviços de saúde a consulta de enfermagem nos diferentes níveis assistenciais. A oferta desta atividade assistencial com ações múltiplas e articuladas interna e externamente, envolvendo equipe multiprofissional, práticas interdisciplinares e intersetoriais, faz com que a convivência profissional-paciente/família estimule a relação social, permitindo a troca de informações e admitindo apoio mútuo (CHRIZOSTIMO; ROSAS, 2006). Sob esta perspectiva, a enfermeira age de forma holística e com foco principal na prevenção e na educação em saúde. Tem como propósito assistir ao transplantado e sua família, contribuindo para sua maior independência. Compreendendo a complexidade da consulta de enfermagem e sendo enfermeira de um setor que atende transplantados cardíacos, constatei na prática que esta atividade requer especialidade e direcionamento, o que justificou o interesse por este estudo. Ante o exposto, surgiram os seguintes questionamentos que nortearam este estudo: Quais os principais focos dos registros da consulta de enfermagem aos transplantados cardíacos no Ceará? Existe uniformidade no atendimento registrado nas consultas ou há divergências? Assim, este estudo pretendeu conhecer os aspectos abordados na consulta de enfermagem ao transplantado cardíaco com base nos registros das consultas de enfermagem. Adotou-se, portanto, como objetivo geral: Analisar os registros da consulta de enfermagem aos transplantados cardíacos da unidade de referência do Ceará realizados entre 2005 e 2011. E como objetivos específicos: Identificar os principais focos dos registros da consulta de enfermagem aos transplantados cardíacos no Ceará; e averiguar a existência de uniformidade ou divergências no atendimento registrado nas consultas por parte das enfermeiras do serviço. Acredita-se que tal conhecimento facilitará a consolidação do conhecimento da consulta de enfermagem no serviço, facilitando seu direcionamento, o que servirá de orientação a outros serviços similares do país. 14 2 REVISÃO DE LITERATURA 2.1 Breve relato histórico sobre o transplante cardíaco O transplante cardíaco em humanos representou o início de importantes avanços no tratamento dos pacientes acometidos por doença cardíaca severa. A partir do desenvolvimento desta cirurgia, pacientes com prognósticos ruins tiveram a oportunidade de um novo tratamento, o que possibilitou a busca da saúde e de melhor qualidade de vida. A técnica cirúrgica do transplante cardíaco foi desenvolvida por Carrel e Guthrie, em 1905, baseada em pesquisas experimentais, ao realizarem despretensiosamente o primeiro transplante cardíaco heterotópico, técnica em que o órgão nativo permanecia no corpo após o transplante juntamente com o enxerto (LUND, AARONSON e MANCIN, 2005). A aplicação clínica do transplante cardíaco heterotópico (TxHet), por Barnard em 1974, ampliou a possibilidade dos transplantes cardíacos para pacientes com resistência vascular pulmonar (RVP) acima de 4 unidades Wood (UW) e foi muito utilizada pelo grupo da África do Sul, principalmente com o argumento adicional de que, em caso de falência do enxerto, naquele cenário sem a disponibilidade da ciclosporina, o paciente sobreviveria graças ao órgão nativo (NOVITZKY, COOPER e BARNARD, 1983). As pesquisas experimentais prosseguiram nas décadas seguintes, principalmente com o desenvolvimento da circulação extracorpórea. Assim, em 1960, Lower e Shumway com sucesso obtiveram as primeiras séries de transplantes ortotópicos experimentais em cachorros, técnica cujo órgão nativo era substituído, cujos princípios utilizados foram aplicados mais tarde nos primeiros transplantes em humanos e permanecem praticamente inalterados (LOWER e SHUMWAY, 1960). O primeiro transplante cardíaco com sucesso em humanos teve seu início na Universidade de Cape Town, África do Sul, em 3 de dezembro de 1967, com a cirurgia realizada por Barnard (BARNARD, 1967). Desde então o interesse pelos transplantes cardíacos estendeu-se por todo o mundo, e já no ano seguinte foram operados 101 pacientes. No dia 26 de maio de 1968, Zerbini e Decourt realizaram o primeiro transplante cardíaco da América Latina e o décimo sétimo do mundo, em um paciente com miocardiopatia dilatada 15 (ZERBINI e DECOURT, 1969). Assim, o primeiro transplante cardíaco no Brasil e na América do Sul aconteceu no Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP) (SOCESP, 1996). Apesar das dificuldades no controle da rejeição e infecção, segundo Fiorelli, Oliveira Jr. e Stolf (2009), os maus resultados obtidos com o novo método não desmotivaram a equipe da Universidade de Stanford que, liderada por Shumway, manteve ativo seu programa. Essa atitude, seguida por poucos grupos, foi fundamental para se estabelecerem os critérios clássicos de seleção dos doadores, receptores e da própria condução do transplante. Com o advento da ciclosporina na década de 1980, pode-se mudar a realidade dos transplantes, por constatar melhoria na sobrevida dos pacientes para 80,7% no primeiro ano e 59,7% no quinto ano após a operação (FIORELLI et al., 2008). Grattan et al., (1990), descreveram em 1990 a experiência acumulada de oito anos de transplante cardíaco, agora com o uso da ciclosporina, na qual foi possível notar importante melhoria da sobrevida dos pacientes para 80,7% no primeiro ano e 59,7% no quinto ano após a cirurgia. No Ceará, em 1992, ocorreu o primeiro transplante cardíaco do Nordeste, no Hospital Antônio Prudente, em Fortaleza, pelas mãos dos médicos Glauco Lobo Filho, João Martins de Souza Torres e José Maria Furtado Memória. Posteriormente, os transplantes cardíacos passaram a ser realizados no Hospital de Messejana, atualmente o único centro do Estado a realizar esta cirurgia, ultrapassando no ano de 2010 a marca de 200 transplantes cardíacos realizados (ABTO, 2010). Em 1999, foi estabelecida a I Diretriz sobre Transplante Cardíaco no Brasil e até então haviam sido registrados 792 transplantes cardíacos, realizados em 16 centros ativos (HO et al., 1993). Progressivamente, os centros de cirurgia cardíaca têm incorporado o transplante cardíaco como mais um procedimento cirúrgico de alta complexidade prestado aos seus clientes. Na atualidade, o Brasil, conta com 38 centros ativos realizando transplantes cardíacos em 22 estados (ABTO, 2010). Apesar dos avanços dos procedimentos cirúrgicos, o advento da aplicação nas cirurgias de novastecnologias e do crescente número de centros que realizam esta cirurgia, faz-se necessária contínua reforma da assistência à saúde. Mudança nas práticas 16 recomendadas e aumento do corpo de pesquisas e dos guias práticos demandam atenção constante à educação e especialização profissional. Ressalta-se a necessidade de constante aperfeiçoamento técnico, que vise à obtenção de melhores resultados na terapêutica do paciente, minimizando possíveis exposições a riscos. 2.2 O Transplante cardíaco O transplante cardíaco é atualmente a única alternativa cirúrgica amplamente aceita para tratar pacientes com Insuficiência Cardíaca (IC) grave. Porém, existem limitações criadas pela grande demanda de receptores e escassez de doadores. A prioridade de transplante para os pacientes hospitalizados em condições críticas é mundialmente aceita. Já para os ambulatoriais, as condições associadas à mortalidade da IC (fatores prognósticos) têm sido utilizadas como determinantes da indicação ao transplante e o tempo de espera na lista, como critério de prioridade no Brasil e em outros países (AREOSA, 2007). Único tratamento eficaz quando não há alternativas médicas nem cirúrgicas. Devido à desproporção entre órgãos disponíveis e pacientes que necessitam de um coração, o transplante cardíaco é somente para um grupo selecionado de pacientes com insuficiência cardíaca, considerados como maiores beneficiados com o transplante em quantidade e qualidade de vida. Esta técnica é capaz de salvar 75% dos pacientes com alta probabilidade de falecimento ao ano (ALMENAR et al., 2010). Como em outros tratamentos cardiológicos, o transplante cardíaco não é isento de riscos, pois pode apresentar múltiplas complicações pouco conhecidas por cardiologistas em geral e que obrigam a uma super especialização nesta área (KONSTAM et al., 2009). Preparo e avaliação para transplante cardíaco (Pré-transplante) No sentido de prevenir possíveis complicações após o transplante, a seleção dos candidatos ao transplante deve ser criteriosa, com identificação dos fatores de risco e de enfermidades coexistentes (FIORELLI; OLIVEIRA; STOLF, 2009). A adequada seleção do receptor e doador, bem como o conhecimento dos fármacos imunosupressores e complicações 17 em curto, médio e longo prazos é do que dependerá a sobrevivência e a qualidade de vida destes pacientes (ALMENAR et al., 2010). Diante de qualquer paciente em situação funcional avançada, com disfunção ventricular, ambas irreversíveis, sem possibilidade de melhora clínica com tratamento médico ou cirúrgico estabelecido, devemos pensar na possibilidade de transplante cardíaco. Logicamente, a indicação é mais firme se a situação clínica é pior (ALMENAR et al., 2010). A avaliação, estratificação de risco e inclusão dos pacientes ambulatoriais na fila de espera é um procedimento crítico e que requer conhecimento dos marcadores prognósticos de sobrevida. Até o momento, não existe um critério clínico perfeito para identificar os pacientes de maior risco de morte, que deveriam ser colocados na fila de espera do transplante (II DIRETRIZ BRASILERA DE TRANSPLANTE CARDÍACO, 2010). Dentre os principais fatores de mau prognóstico de sobrevida, tem-se, destacando- se pela importância: fração de ejeção ventricular reduzida, a classe funcional III/IV (NYHA), elevação das catecolaminas séricas, hiponatremia, pressão capilar pulmonar elevada, índice cardíaco reduzido, arritmias ventriculares e consumo máximo de oxigênio (VO2 max) reduzido durante exercício (FIORELLI; OLIVEIRA; STOLF, 2009). No quadro 1, são abordadas as indicações para o transplante cardíaco, segundo a II Diretriz Brasileira de Transplante Cardíaco (2010). Quadro1- Classe de recomendação e indicação para transplante cardíaco. CLASSE DE RECOMENDAÇÃO CONCEITO INDICAÇÃO CLASSE I Consenso sobre a indicação do procedimento/ tratamento. IC refratária na dependência de drogas inotrópicas e/ou de suporte circulatório e/ou ventilação mecânica; VO2 pico ≤ 10 l/Kg/ n; Doença isquêmica com angina refratária sem possibilidade de revascularização; Arri ia ventricular refratária; Classe funcional III/IV persistente. CLASSE IIA Evidências favorecem a indicação do procedimento/tratamento. Teste da caminhada dos 6 minutos < 300 metros; Uso de BB com VO2 pico ≤ 12 ml/Kg/ min; Sem uso de BB com VO2 pico ≤ 14 ml/ Kg/min; Teste cardiopulmonar com relação VE/ VCO2 > 35 e VO2 pico ≤ 14 ml/Kg/min. CLASSE III Não indicado o procedimento/tratamento. Presença de disfunção sistólica isolada; Classe funcional II ou IV em otimização terapêutic * VO2 - consumo de oxigênio; BB - betabloqueador. VE – ventrículo esquerdo. Fonte: II Diretriz Brasilera de Transplante Cardíaco (2010). 18 Durante a avaliação clínica, procura-se confirmar a gravidade da cardiopatia; descartar a possibilidade de terapias opcionais, como revascularização do miocárdio ou substituição valvar; verificar a ausência de contra-indicações e estimar o prognóstico em curto prazo para incluir o paciente em lista de espera (FIORELLI, OLIVEIRA e STOLF, 2009). Na vigência de paciente miocardiopata grave é iniciada avaliação e seleção do receptor para transplante cardíaco pela equipe multiprofissional. No quadro 2 são abordadas as recomendações da II Diretriz Brasileira de Transplante Cardíaco (2010) para tal. Quadro 2 – Testes preconizados para avaliação e seleção do receptor. TESTE BASAL REPETIR Anamnese e exame físico completos; X Quinzenal Acompanhamento. X Imunocompatibilidade ABO; X PRA (ver texto); X Tipagem HLA tecidual; X Avaliação da gravidade da IC Teste cardiopulmonar; X Ecodopplercardiograma; X Avaliação hemodinâmica pulmonar; X Anual Eletrocardiograma de repouso. X Avaliação funcional de múltiplos órgãos Bioquímica de sangue, PFH, PFR, PFT, lipidograma; X Urinálise; Proteinúria de 24 horas; Taxa de Filtração Glomerular; X PFP e gasometria; X Radiografia de tórax (PA e perfil); X Ultrassom abdominal total; X Doppler carotídeo (se indicado ou em > 50 anos); X Exame odontológico; X Exame oftalmológico (se diabético). X Sorologia para infecções e vacinação HbsAg, Anti-Hbc,Anti-Hbs, Anti-HCV, HIV, HTLV X CMV, Toxoplasmose, EBV, Varicela; X Vacina antigripal (anual); Vacina antipneumocócica X Vacina anti-hepatite B (três doses); Anti-Hbs (imunidade); X Profilaxia de verminose. X Rastreamento de neoplasia Pesquisa de sangue oculto nas fezes (três amostras); X Colonoscopia (se indicada e acima de 50 anos); X Mamografia (se indicada ou idade > 40 anos) X Citologia cérvico-vaginal (se indicado, idade ≥18 anos, sexualmente ativa); X PSA (se indicado e homens > 45 anos). X Consultas especializadas Avaliação nutricional, social e enfermagem; X Psicologia e Psiquiatria/Nutrologia (se indicadas); X PRA - reatividade contra painel de anticorpos; HLA - antígeno leucocitário humano; PFH - provas de função hepática; PFR - provas de função renal; PFT-provas de função tireoidiana; TFG - taxa de filtração glomerular; PFP - prova de função pulmonar. Fonte: II Diretriz Brasilera de Transplante Cardíaco (2010). 19 Após a realização das avaliações expostas no quadro 2 é fechada a indicação para transplante cardíaco ou não. No caso de indicação para o transplante cardíaco, por parte da equipe, é preenchida uma ficha de cadastro pela unidade transplantadora com os dados do receptor para ser enviada via fax à central de transplante, para que este possa ser inserido na Lista Única de Espera para a recepção do órgão. O paciente candidato ao transplante após sua inclusãona lista permanece acompanhado ambulatorialmente pela equipe multiprofissional de transplante cardíaco, pois segundo Fiorelli, Oliveira e Stolf (2009), são necessários cuidados constantes durante o período de espera em função da alta morbidade oferecida pela insuficiência cardíaca. O transplante só é realizado quando o receptor estiver inscrito na Lista Única de Espera para a recepção do órgão, após aconselhamento sobre os benefícios e os riscos do procedimento e a devida autorização do receptor. As Listas Únicas de Espera são formadas para cada tipo de órgão ou tecido, estabelecendo-se critérios mínimos para seleção de pacientes. De acordo com os critérios nacionais para seleção de receptores de órgãos, o aspecto cronológico da fila de espera deve ser prioritário, seguido pela gravidade do estado de saúde do paciente. No entanto, há exceções, caracterizadas como urgência, igualando os direitos dos receptores, independente de classe socioeconômica e cultural (MARINHO, 2006). No que se refere ao potencial doador, de acordo com Fiorelli, Oliveira e Stolf (2009), o sucesso do transplante depende, entre outros fatores, da qualidade do enxerto, devendo-se assegurar que ele seja capaz de manter condições hemodinâmicas adequadas ao receptor após o implante e estar isento de transmitir doenças infecciosas ou tumorais. Ressalta também que a histocompatibilidade entre o doador e o receptor é avaliada pela compatibilidade obrigatória entre os grupos sangüíneos ABO e pela obtenção do resultado negativo da prova cruzada de linfócitos do doador com o soro do receptor. Para se obter órgãos em condições adequadas, é necessário que o doador continue sendo tratado como um paciente crítico, mesmo após a confirmação da morte encefálica. Mediante boas condições clínicas e a doação do órgão pela família do paciente potencial doador, é realizada a cirurgia de retirada do órgão. Segundo Fiorelli, Oliveira e Stolf 20 (2009), o tempo de isquemia do coração não deve ultrapassar o limite de 4 a 6 horas, para que o transplante seja realizado com segurança. Técnicas cirúrgicas utilizadas no transplante cardíaco A técnica cirúrgica original do transplante cardíaco foi desenvolvida por Lower e Shumway (1960). Baseada na sutura biauricular (técnica clássica), foi aplicada rapidamente a todos grupos de transplante pela simplicidade e confiabilidade. Foi nos anos noventa que se desenvolveu outra técnica, na qual a sutura da aurícula direita se realizou ao nível de ambas cavas (SARSAM, CAMPBELL e YONAN, 1999). Segundo Almenar (2010), esta técnica, também simples e segura, preserva melhor a fisiologia auricular demonstrada em ecocardiógrafo e pode melhorar o gasto cardíaco e a situação clínica e funcional do paciente. A implantação se realiza seguindo a técnica descrita por Lower e Shumway, que consiste em dissecar todo o maciço ventricular e suas válvulas, deixando uma parte das aurículas (direita e esquerda) e os pedículos arteriais – aorta e artéria pulmonar. A estas estruturas receptoras se suturam as correspondentes do coração do doador. Existe na atualidade uma variante, a técnica bicaval, utilizada pela maioria dos grupos, que consiste em dissecar a aurícula direita e o septo interauricular, deixando somente uma pequena parte da aurícula esquerda contendo as veias pulmonares (ZAMORANO e SEPULVEDA, 2007). Pós operatório da cirurgia transplantadora e evolução clínica do paciente Após o transplante cardíaco o paciente é transferido para a sala de recuperação, onde os objetivos iniciais nesta fase são: estabilização hemodinâmica; suporte ventilatório adequado; controle da infecção; inicio da imunossupressão e diagnóstico de rejeição precoce (ALMENAR et al., 2010). Os protocolos de imunossupressão utilizados para suprimir a resposta imune contra o enxerto variam de um centro para outro e mudam periodicamente, segundo apareçam novos fármacos que permitam melhorar a sobrevida do paciente com menos reações adversas (ZAMORANO e SEPULVEDA, 2007). 21 A base do manejo hemodinâmico consiste em manter um gasto cardíaco adequado mediante pressões elevadas, frequências cardíacas altas (estimulação elétrica, isoproterenol ou outros inotrópicos), vasodilatadores pulmonares em caso de resistências vasculares pulmonares elevadas (óxido nítrico, prostaglandinas, outros) e balão intraaórtico de contrapulsação ou assistência ventricular se baixo gasto grave (ALMENAR et al., 2010). Infecções pós transplante cardíaco Sobre as infecções em transplante cardíaco, estas ocorrem em dois períodos principais. O primeiro período compreende o pós-operatório imediato até o final do primeiro mês, no qual predominam as infecções bacterianas primárias, infecções de sítio cirúrgico, urinárias e pneumonias hospitalares. Durante esse período, a terapia imunossupressora está exacerbada com o objetivo de prevenir a rejeição do enxerto. Além disso, os receptores estão sujeitos à monitorização invasiva com drenos torácicos, tubo endotraqueal, cateteres venosos e sonda vesical. O segundo período começa após o primeiro mês de pós-operatório, predominando, nessa época, as infecções oportunistas, causadas por vírus, fungos e protozoários (COUTO, 2000). Passados os períodos principais mencionados, o paciente dependendo de sua evolução clínica recebe alta hospitalar, retornando ao centro transplantador para acompanhamento ambulatorial por toda a equipe multidisciplinar. Acompanhamento ambulatorial do transplantado após alta hospitalar O ambulatório direcionado aos transplantados cardíacos tem grande importância no seu tratamento, pois são acompanhados por uma equipe multidisciplinar e em especial, pela equipe de enfermagem, que realiza um importante papel na orientação deste usuário quanto ao autocuidado, avaliação física, acompanhamento com exames laboratoriais e diagnósticos (Ecocardiograma, ECG, Holtter, teste da caminhada, dentre outros) e proporciona a inserção da família neste contexto do cuidado. As condições que podem causar prejuízo à evolução do transplante, são falta de adesão ao tratamento, condições socio-econômicas precárias, hipertensão arterial pulmonar, 22 embolia pulmonar recente, quadros infecciosos, insuficiência renal ou hepática, neoplasias, alcoolismo e dependência de drogas (SANTOS; PESSOA, 2004). O acompanhamento ambulatorial é de fundamental importância para a prevenção de complicações e possibilita a manutenção da saúde e recuperação deste indivíduo após o transplante, visto que, na atividade educativa a enfermeira trabalha em conjunto com o transplantado e família na perspectiva de melhores estratégias de cuidado no domicílio, favorecendo assim, a adesão ao tratamento. 2.3 Consulta de enfermagem ao transplantado cardíaco O freqüente êxito nos transplantes cardíacos, representado pelo aumento de sobrevida e qualidade de vida dos transplantados (GRADY et al, 2005) aponta este tipo de terapêutica como primeira opção de tratamento para a falência cardíaca refratária. De acordo com Almenar et al., (2010), a sobrevida depois do transplante cardíaco tem melhorado nos últimos anos devido ao maior conhecimento em todos os âmbitos do processo. Assim, têm se potenciado linhas de investigação relacionadas com cardioproteção, tolerância e diagnóstico da rejeição mediante expressão genética. Porém, o que existe de mais avançado clinicamente é o desenvolvimento de novos fármacos e sua inserção no mercado. No entanto, sucesso do procedimento significa não apenas garantir a sobrevida dos pacientes em fase final da cardiopatia, mas permitir-lhe alcançar bons níveis de capacidade física e qualidade de vida (PARIS e WHITE-WILLIAMS, 2005). Para o cliente transplantado atingir o melhor nível de saúde e de bem-estar é imprescindível que seja acompanhado por uma equipe multiprofissional, atuando em caráter interdisciplinar (SANTOS e PESSOA,2004). Um importante desafio que se coloca para os profissionais que atuam junto ao receptor, será ajudar indivíduos submetidos ao transplantado cardíaco e suas famílias a adaptarem-se à nova situação, a se conscientizarem da sua real condição e possibilidades, a 23 responsabilizarem-se pelo autocuidado, exercendo, com todo o apoio da equipe, ao máximo, a sua autonomia (STOLF; SADALA, 2006). Apesar dos avanços na terapêutica de combate à rejeição e complicações pós transplante cardíaco, o que se observa é que a qualidade de vida do transplantado depende de sua adesão ao tratamento, que é o engajamento no autocuidado. Assim, a ocorrência deste engajamento está diretamente associada ao bom relacionamento enfermeiro-paciente, e ao apoio familiar, que é possibilitado pela implementação de ações educativas que visem a mudança de comportamento, no sentido de adotar um estilo de vida saudável, favorecida pelo acompanhamento durante a consulta de enfermagem (SANTOS e PESSOA, 2004). A consulta de enfermagem (CE) ao paciente transplantado é uma atividade de enfermagem independente. Sobre a consulta de enfermagem em geral, Padilha (1993) a considera como uma atividade ainda pouco explorada pelas (os) enfermeiras (os), talvez pelo fato de sua legalização ter ocorrido somente em 1986, com a Lei do Exercício Profissional de nº 7498/86 (PADILHA, 1993). De acordo com esta lei, a consulta de enfermagem é uma atividade privativa da (o) enfermeira (o), e que mostra às pessoas uma outra face profissional, diferente da visão tradicional da (o) enfermeira (o) que atua nas instituições hospitalares. Tal consulta tem logrado êxito e se popularizado nos últimos anos por meio da Estratégia Saúde da Família, mas ainda é restrita sua ocorrência no âmbito terciário, sobretudo se ligada ao transplante cardíaco. A Consulta de Enfermagem orienta cientificamente as ações da enfermeira dispensadas ao cliente. Esta atividade assistencial supõe a entrevista para coleta dos dados, exame físico, definição dos diagnósticos de enfermagem, prescrição, implementação dos cuidados e orientação das ações relativas a problemas encontrados. A partir do diagnóstico efetivado, a enfermeira adota conduta de resolutividade. No caso de escapar a seu âmbito de atuação, reconhecer vulnerabilidades subjetivas, sociais, institucionais e encaminhar a profissional/serviço competente (CHRIZOSTIMO e ROSAS, 2006). Segundo Machado, Leitão e Holanda (2005), a CE é uma atividade independente, realizada pela enfermeira, cujo objetivo propicia condições para melhoria da qualidade de vida por meio de uma abordagem contextualizada e participativa. Além da competência 24 técnica, a enfermeira deve demonstrar interesse pelo ser humano e pelo seu modo de vida, a partir da consciência reflexiva de suas relações com o indivíduo, família e comunidade. Assim, a CE direcionada aos transplantados cardíacos tem grande importância no seu tratamento, pois é realizado um importante papel na orientação deste usuário quanto ao autocuidado, avaliação física, acompanhamento com exames laboratoriais e diagnósticos, e proporciona a inserção da família neste contexto do cuidado. A consulta com foco na prevenção e na educação em saúde assiste ao transplantado e família, contribuindo para maior independência dos serviços de saúde. É também uma atividade integrada às ações de outros profissionais da área da saúde. A CE ao paciente transplantado envolve uma relação interativa enfermeira (o) e paciente, com o objetivo de identificar riscos e complicações que comprometam a saúde destes propõe-se a resolver ou atenuar tais problemas com base nas necessidades de saúde. Durante a consulta ocorre um processo de interação entre a enfermeira e o assistido, na busca da promoção da saúde, da prevenção de doenças e limitação do dano. Para que ocorra eficazmente a interação, é necessário o desenvolvimento da habilidade refinada de comunicação, para o exercício da escuta e da ação dialógica. A fala dialogada está além de um ato técnico e automatizado. Para isso, convém à enfermeira adquirir capacidade de compreender e entender o ser humano diante de suas complexidades, dimensões amplificadas, sabendo ouvir e, ao intervir, fazê-lo com ações compreensivas e humanizadas (MACHADO, LEITÃO e HOLANDA, 2005). A enfermeira deve reconhecer que não pode impor a sua própria realidade aos outros, sendo necessária a abordagem dialógica que favoreça um respeito ao pensamento e atitude daquele por ele assistido (GALERA e LUIS, 2002). No momento, em que o paciente tem indicação médica de avaliação para sua possível inclusão na lista de transplante cardíaco, a equipe de enfermagem tem o primeiro contato com o futuro paciente transplantado. Nesta consulta ocorre aproximação com o paciente e seus familiares, no sentido de estabelecer relação de confiança e preparando-os 25 com orientações sobre a cirurgia, pós-operatório imediato e tardio, terapia medicamentosa, realização de biópsias periódicas, seu retorno ao lar e cuidados que deverá lá realizar. Assim, o contato da enfermeira com o paciente e seus familiares torna-se constante. Ele ocorre desde o encaminhamento do médico que o indicou para avaliação para transplante e se estende após o transplante com retornos periódicos ao ambulatório. Sendo imprescindível uma boa relação enfermeiro-paciente/família. Nessa concepção, a educação do paciente para o autocuidado envolve um conjunto de estratégias para estimular o desenvolvimento de sua autonomia e a participação ativa no próprio tratamento; compreendendo-se que somente a partir da escuta do paciente e de seus desejos e significações singulares traçaremos um planejamento de cuidados de forma conjunta (SILVA e CIAMPONE, 2003). As atividades educativas no âmbito da CE são importantes, pois possibilitam a manutenção e recuperação da saúde e previnem complicações após o transplante. Atividade educativa realizada pela enfermagem, em conjunto com o transplantado e família, visa melhores estratégias de cuidado no domicílio, favorecendo a adesão ao tratamento. Durante as consultas é observado se o paciente encontra dificuldades no autocuidado e se há riscos à saúde deste, detectam-se complicações após transplante e realiza- se o encaminhamento para a consulta médica. Diante de uma situação de complicações, os pacientes são instruídos a procurar a equipe de transplante, sendo o ambulatório disponível durante a semana para atendê-los independente de marcação. O contato telefônico de toda a equipe de transplante é disponibilizado para que no período da noite e aos finais de semana, em caso de urgência, os pacientes e seus familiares possam entrar em contato. As condições que podem causar prejuízo à evolução do transplante são falta de adesão ao tratamento, condições socio-econômicas precárias, hipertensão arterial pulmonar, embolia pulmonar recente, quadros infecciosos, insuficiência renal ou hepática, neoplasias, alcoolismo e dependência de drogas (SANTOS e PESSOA, 2004). No contexto da CE o enfoque da enfermeira que realiza a atividade educativa é assumir o compromisso de compartilhar conhecimentos, dividindo com o transplantado as 26 ações de cuidado à saúde. Assim, este reconhece a importância que exerce sobre seu próprio tratamento e recuperação. Para o transplantado, atingir o melhor nível de saúde e de bem-estar é imprescindível que seja acompanhado por uma equipe multiprofissional, atuando em caráter interdisciplinar. Pois, estes estão sempre suscetíveis a desenvolver processos de rejeição, hipertensão arterial pelo uso obrigatório de ciclosporinas (imunossupressor), entre outros problemas (SANTOS e PESSOA, 2004). Considerando que o paciente transplantado cardíaco está exposto a inúmeros riscos, seja decorrente da rejeição ou pelos efeitos adversos dos imunossupressores,em especial a ciclosporina, imunossupressor mais utilizado no ambulatório, a CE tem importante função de avaliar durante os retornos ao ambulatório o desenvolvimento de hipertensão após o transplante ou o não controle da pressão arterial no caso de pacientes já hipertensos, para que, juntamente com a equipe médica, seja implementada uma terapia anti-hipertensiva adequada. A enfermeira da unidade de transplante cardíaco deve estar familiarizado com as diversas complicações que o paciente poderá apresentar em função do uso da ciclosporina, bem como a manifestação de infecções e da rejeição, para que possa identificar o desenvolvimento destas complicações pós transplante cardíaco e preveni-las. É de fundamental importância que o paciente compreenda as razões das modificações alimentares, pois só dessa maneira a adesão irá ocorrer efetivamente. A dieta participa do acompanhamento pós transplante cardíaco como importante coadjuvante no controle do peso, favorecendo melhor sobrevida. Alguns pressupostos condicionam a adesão do paciente ao plano de cuidado da equipe de saúde: o seu reconhecimento como o responsável pelo próprio cuidado, e não os profissionais; o respeito às suas crenças sobre saúde; a aceitação da sua autodeterminação nesse processo (SUNDEEN e RANKIN, 1997). Nessa concepção, a educação do paciente para cuidar-se envolve um conjunto de estratégias para estimular o desenvolvimento da sua autonomia e da participação ativa no próprio tratamento; compreendendo-se que somente a partir da escuta do paciente e de seus desejos e significações singulares traçaremos um planejamento de cuidados de forma conjunta (SILVA e CIAMPONE, 2003). 27 As atividades educativas no âmbito da consulta de enfermagem são de fundamental importância para a prevenção de complicações e possibilitam a manutenção da saúde e recuperação deste indivíduo após o transplante, pois, na atividade educativa, a enfermeira trabalha em conjunto com o transplantado e família na perspectiva de melhores estratégias de cuidado no domicílio, favorecendo a adesão ao tratamento. 28 3 MÉTODO 3.1 Tipo de estudo Pesquisa documental, realizada de forma retrospectiva, com abordagem quantitativa, pesquisando-se em fichas de acompanhamento da Unidade de Transplante e Insuficiência Cardíaca (UTIC), onde são registradas as evoluções das consultas de enfermagem aos pacientes transplantados acompanhados em um ambulatório de um hospital público de referência em cardiologia. Segundo Gil (2007, p.66), este tipo de estudo “vale-se de materiais que não receberam ainda tratamento analítico, ou que ainda podem ser reelaborados de acordo com os objetivos da pesquisa”. Para Gil, esses documentos podem ser de primeira mão, ou seja: aqueles que ainda não sofreram uma problematização “tais como documentos oficiais, reportagens, cartas, contratos, filmes, fotografias, dentre outros”. 3.2 Local do estudo O estudo foi realizado na Unidade de Transplante Cardíaco (UTIC) de um Hospital Estadual de Fortaleza-Ceará, referência em cardiologia. O referido hospital é uma unidade terciária especializada no diagnóstico e tratamento de doenças cardíacas e pulmonares, dispondo de todos os procedimentos de alta complexidade nestas áreas e destacando-se no transplante cardíaco de adultos e crianças. A instituição oferece atendimento de emergência a pacientes adultos. Possui seis unidades de internação e cinco Unidades de Tratamento Intensivo (UTI’s). A UTIC vem realizando transplantes cardíacos desde o ano de 1997. O funcionamento da unidade para serviços ambulatoriais ocorre de segunda a sexta feira, no horário de 07 às 18 horas. Durante a semana a partir das 18 horas e durante os finais de semana, os profissionais médicos e enfermeiros ficam à espera (sobreaviso) de uma possível ocorrência de um potencial doador pela central de transplantes do Ceará e da vigência de um transplante. A UTIC é composta por uma equipe multiprofissional, sendo que médicos, cirurgiões, enfermeiras, nutricionista, odontóloga, psicóloga, assistente social, fisioterapeuta e secretários integram o quadro de funcionários desta unidade. 29 3.3 População e amostra A população foi constituída pelas fichas dos pacientes adultos, submetidos ao transplante cardíaco, vivos e em acompanhamento na unidade. Estas fichas são próprias da UTIC e contêm as evoluções de enfermagem desenvolvidas durante a consulta, bem como resultados de exames realizados pelo paciente ao longo do acompanhamento. A amostra foi composta por fichas de 65 pacientes deste grupo, que foram transplantados no período de 2005 a 2010, e com registros de enfermagem entre janeiro de 2005 a outubro de 2011. 3.4 Coleta de dados A coleta de dados ocorreu no período de setembro a outubro do ano de 2011. Para tal, foi utilizado um formulário (Apêndice A) para verificação das ações de enfermagem registradas durante a consulta de acompanhamento ambulatorial ao transplantado na unidade. Para tanto, utilizou-se como base para a elaboração do formulário o instrumento de Lima (2008) que propôs um protocolo de consultas de enfermagem ao paciente pós revascularização do miocárdio. As perguntas de Lima seguiram uma taxonomia própria da área. Como neste trabalho, não adotamos a mesma taxonomia literalmente e suprimimos alguns dos aspectos lá abordados, além de alterar algumas denominações e conteúdos, prefirimos por nomear o formulário em blocos de perguntas. Foram realizadas neste instrumento adequações para direcionar o instrumento a consulta de enfermagem aos transplantados. Assim, o instrumento utilizado neste estudo constituiu-se da identificação do paciente, idade, sexo, data do transplante e o número de consultas de enfermagem a que ele compareceu até o período da coleta. Foi verificado também o profissional que prestou o atendimento em cada consulta. O formulário também contemplou as ações de enfermagem divididas em dez blocos de perguntas: 1.Promoção da saúde/ controle de saúde (avaliação do estado geral, sinais/sintomas, internações e seus motivos, doenças associadas, medicações em uso e orientações sobre o uso, reações adversas, história de tabagismo/etilismo e orientações de hábitos saudáveis); 2. Nutricional/metabólico (aferição da PA, altura, peso, cálculo do IMC, avaliação do apetite, hábitos e orientações dietéticas, estímulo à ingesta hídrica, atividade física, avaliação da boca e mastigação, encaminhamento pata odontóloga); 3. Eliminação 30 (gastrintestinal e urinária); 4. Atividade/repouso (prática de atividade física, atividades laboral e de lazer, sono/repouso); 5. Cognitivo/perceptivo (dificuldades para aprender, ler, escrever, falar, ouvir, compreender ou memorizar, conhecimento sobre sua condição de saúde); 6. Autopercepção (modificação após a cirurgia, satisfação com a aparência, estilo de vida e realizações); 7. Participação/ relacionamento (relacionamento com família e cuidadores); 8. Sexualidade/ reprodução (tem parceiro sexual fixo, dúvidas, dificuldades, preocupações em relação à atividade sexual, acompanhamento com ginecologista/urologista, menopausa, uso de anticoncepcional, orientação para evitar gravidez); 9. Dor (queixas de dor, características e intensidade da dor); 10. Exame físico. Cada ação de enfermagem durante a consulta foi contabilizada no formulário de acordo com seu bloco de perguntas e, ao final do preenchimento do instrumento, foi contabilizado o total de ações de enfermagem por consulta. Assim, observamos os registros das atividades realizadas na consulta de enfermagem para cada bloco e averiguamos a existência de uniformidade ou de divergências no atendimento registrado nas consultas. 3.5 Análise dos dados Para análise dos dados foi construído um banco de dados com as variáveis do estudo. Para tanto, utilizou-se o programa de estatística PASW(Statistics - Predictive Analytics Software), versão 17.0.2. A análise das ações contidas nas evoluções de enfermagem pelas diferentes enfermeiras do serviço foi realizada por meio da contabilização das ações por bloco de perguntas e pelo total das ações realizadas na consulta onde as variáveis contínuas foram expressas com média, mediana e desvio padrão. A fim de se proceder a discussão e análise, os dados coletados foram organizados em tabelas e gráficos. A interpretação dos dados foi feita com base na literatura pertinente. 3.6 Aspectos éticos Para a realização do estudo, foi solicitada uma declaração de autorização do chefe do setor onde ocorreu o estudo e posterior encaminhamento do projeto ao Comitê de Ética da 31 Universidade Estadual do Ceará (UECE). Após aprovação, realizou-se nova submissão do projeto e da carta de aprovação fornecida, ao Comitê de Ética do Hospital de Messejana Dr. Carlos Alberto Studart Gomes, para assim, deste receber parecer favorável para o desenvolvimento da coleta de dados (Anexo A). Conforme descrito e considerando o que preconiza a Resolução nº 196/96 do Conselho Nacional de Saúde sobre Diretrizes e Normas Regulamentadoras de Pesquisas envolvendo Seres Humanos, os princípios éticos, como autonomia, beneficência, não-maleficência, fidelidade, justiça, veracidade e confidencialidade, foram respeitados em todas as fases da pesquisa (BRASIL, 1996). Os participantes foram informados sobre os objetivos do estudo e assinaram o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE) (Apêndice B), autorizando a coleta dos dados referentes às consultas de enfermagem prestadas a eles. Ainda como previsto, a eles foram garantidos o anonimato na divulgação das informações e a liberdade de autorizar ou não sua participação no estudo. 32 4 RESULTADOS E DISCUSSÕES Foram coletadas informações contidas em 1322 registros de consultas de enfermagem realizadas a 65 transplantados cardíacos que são acompanhados no ambulatório da unidade de transplante cardíaco. Para compreender melhor a atuação de enfermagem durante sua consulta ambulatorial, é relevante ressaltar em que condições estes atendimentos ocorrem, para contextualizar os dados analisados, pois a organização do serviço é primordial para que seja prestada uma assistência de qualidade. Assim, o agendamento da CE ocorre logo após a alta hospitalar do paciente submetido ao transplante pela enfermeira do serviço. O recém transplantado deve comparecer ao ambulatório na semana seguinte após a alta, conforme agendamento. Seus retornos são semanais até que ele complete um mês após a alta. Após este período, o paciente retorna quinzenalmente e, depois de dois meses, as consultas se tornam mensais. Completado um ano de transplante o paciente tem seus retornos agendados trimestralmente. O intervalo entre as consultas inicialmente são pequenos porque o risco de complicações pós transplante cardíaco são maiores no primeiro ano de transplante (ABTO, 2010), sendo necessário um acompanhamento mais intenso neste período, conforme ilustra a figura 1, no sentido de detectar e prevenir problemas de saúde. Figura 1: Fluxograma do agendamento das consultas de enfermagem segundo o tempo de transplante, Fortaleza-CE, 2011. 33 Este fluxograma não se aplica em casos de pacientes em condições clínicas desfavoráveis, nas quais a enfermeira agenda as consultas conforme a necessidade de acompanhamento ambulatorial diferenciado. As consultas são previamente agendadas no horário das 07:00 as 12:00 horas, de segunda a sexta feira. São realizadas por enfermeiras que atendem a uma demanda de, em média, oito a quatorze transplantados por dia de ambulatório, com duração de atendimento de 30 minutos, em média. No que se refere ao agendamento de retornos, visualizamos a CE como um conjunto de ações de sucessão ordenada, para conhecer a situação de saúde da clientela e tomar decisões quanto à assistência a ser prestada, visando a mudanças favoráveis à saúde (MARGARIDO e CASTILHO, 2006). A consulta de enfermagem ao paciente transplantado, por ser uma atividade que envolve uma relação interativa enfermeira e cliente, com o objetivo de identificar riscos e complicações que comprometam a saúde deste, propõe-se a resolver ou atenuar tais problemas com base nas necessidades de saúde. Contextualizada a dinâmica do serviço ambulatorial conheceremos o público alvo deste serviço. Ao analisarmos os dados coletados, observamos que, dentre os 65 transplantados, a maioria era do sexo masculino (Gráfico 1). Masculino 82% Feminino 18% Gráfico 1: Transplantados cardíacos segundo o sexo. Fortaleza, 2011. 34 O sexo masculino representou a maioria dos transplantados cardíacos (53 pacientes; 82%). Os resultados desta pesquisa foram compatíveis com os dados apresentados na literatura nacional. Na questão de gênero, houve equivalência aos dados da ABTO (2010), que considera que 75% dos pacientes submetidos ao transplante cardíaco são do sexo masculino. Segundo Assef et al. (2001), como ocorre em outras casuísticas nacionais e internacionais, a maioria dos pacientes é do sexo masculino, em mais de 60% dos casos. Com relação à faixa etária dos transplantados atendidos no ambulatório, observa- se que as mais freqüentes foram de 41 a 50 anos (29,2%) e a de pacientes com idade superior ou igual a 61anos (27,7%), conforme ilustra a Tabela 1, sendo a média das idades de 51,97, a idade mínima de 21 anos e a máxima de 76 anos. Tabela 1: Transplantados cardíacos segundo faixa etária. Fortaleza-CE, 2011. Faixa Etária f % Fa 18 – 30 4 6.1 6.1 31 – 40 9 13.8 19,9 41 – 50 19 29.3 49.2 51 – 60 15 23.1 72.3 > 61 18 27.7 100 TOTAL 65 100 No estudo, observou-se que a faixa etária de 41 a 60 anos foi a mais freqüente e representou 50,7%, o que corrobora com os dados da ABTO (2010), que evidenciaram que cerca de 70% dos pacientes que receberam coração no Brasil estão na idade de 41 a 60 anos. Conhecida sumariamente a clientela deste ambulatório especializado em transplante, iniciaremos a apresentação dos dados referentes à CE. Os 1322 registros de enfermagem analisados foram realizados de 2005 até outubro de 2011, por nove enfermeiras que atenderam 65 pacientes transplantados entre 2005 e 2010. Ao analisarmos o quantitativo de consultas referido, temos que ter em mente que a enfermeira no seu papel de educador transformador, admite a bagagem cultural do transplantado, favorecendo a aquisição de habilidades necessárias para o autocuidado, objetivando promover, manter e restaurar a saúde (SANTOS e PAULA, 2004). 35 Assim, a consulta de enfermagem constitui um espaço favorável para a exposição de queixas, para a identificação das demandas ou necessidades de autocuidado quanto ao aspecto biopsíquico e socioespiritual, e às capacidades do paciente para o exercício das atividades de autocuidado. Também, envolve um momento educativo, que visa preparar o indivíduo e sua família para o autocuidado (SANTOS e SILVA, 2002). Segundo Maciel e Araújo (2003), a CE supõe a entrevista para coleta dos dados, exame físico, estabelecimento do diagnóstico de enfermagem, prescrição, implementação dos cuidados e orientação das ações relativas aos problemas encontrados. Retomando os dados referentes à CE, observa-se que o número mínimo de consultas realizadas ao avaliar individualmente o atendimento para cada transplantados foi de 13 e o máximo de 30 consultas, sendo a média de 20,34 consultas com desvio padrão de 4,236. Ressalta se que o número de consultas variou de acordo com a data do transplante, sendo os pacientes com menor número de consultas os transplantados no ano de 2010, por seu transplante estar mais recente e não ter havido ainda tempo suficiente para mais consultas. Para auxiliar a coleta das informaçõescontidas nos registros de enfermagem adotou-se um formulário dividido em dez blocos de perguntas que contemplam as ações de enfermagem ideais para serem desenvolvidas durante a CE, ilustrados na tabela 2, a seguir: Tabela 2: Número de registros de enfermagem segundo bloco de perguntas analisados. Fortaleza-CE. 2011. BLOCOS DE PERGUNTAS f % 1. PROMOÇÃO / CONTROLE DE SAÚDE 4285 29.8 2. NUTRICIONAL/ METABÓLICO 5610 39.1 3. ELIMINAÇÃO 779 5.5 4. ATIVIDADE/REPOUSO 1644 11.4 5. COGNITIVO/ PERCEPTIVO 12 0.1 6. AUTOPERCEPÇÃO 47 0.3 7. PARTICIPAÇÃO/ RELACIONAMENTO 30 0.2 8. SEXUALIDADE/ REPRODUÇÃO 74 0.5 9. DOR 341 2.4 10. EXAME FÍSICO 1529 10.6 TOTAL 14351 100 36 Observa-se que os itens onde houve maior número de registros de enfermagem foram as atividades referentes à promoção/controle de saúde (29.8%), nutricional/metabólico (39%), eliminação (5.5%) e atividade/repouso (11.4%). Ao analisarmos as atividades de enfermagem registradas durante a consulta de enfermagem por cada bloco de perguntas, compreende-se a importância da enfermagem para o processo de adaptação à condição de transplantado e da educação em saúde. Ao apropriar-se do saber produzido no período de acompanhamento ambulatorial, os clientes são orientados a realizar atividades de autocuidado, desenvolvendo suas habilidades, garantindo-lhes a conquista contínua de qualidade de vida, com a redução das demandas de autocuidado (SANTOS e PAULA, 2004). Observa-se também que os registros referentes à avaliação da cognição (0.1%), da autopercepção (0.3%), sobre relacionamentos e participação da família (0.2%), questões sobre sexualidade (0.5%) e da dor (2.4%) foram pouco enfatizadas nas CE. Também pode-se considerar o não registro de informações neste caso. No decorrer deste estudo analisaremos detalhadamente as atividades registradas correspondentes aos itens expostos, iniciando com a promoção de saúde e controle de saúde. A educação em saúde é uma ação de promoção de saúde e se apresenta como uma ferramenta instigadora do cuidado de enfermagem ao transplantado cardíaco, permitindo aproximação do conhecimento cientificamente produzido no campo da saúde com a vida cotidiana das pessoas. Oferece, dessa forma, subsídios para a adoção de novos hábitos e condutas em saúde, além de permitir um espaço de troca entre o conhecimento popular do paciente e do conhecimento científico dos profissionais de saúde. É sabido que cabe à enfermeira desenvolver não só o atendimento direto ao cliente, mas também estratégias que possibilitem o ensino à comunidade, de medidas de promoção à saúde, exercendo, portanto, a função de educadora (MACIEL e ARAÚJO, 2003). A utilização da educação como uma forma de cuidar na enfermagem transcende os preceitos básicos do cuidado, pois, por meio do educar a enfermeira potencializa a 37 capacidade de cuidar e a utilização desta os capacita a intervir de forma construtiva nas relações desenvolvidas entre os sujeitos, onde um aprende com o outro (FERRAZ, 2005). A importância da consulta de enfermagem na busca do atendimento integral, com vistas à maior resolutividade dos problemas de saúde dos usuários dos serviços tem sido referendada por vários estudiosos (SANTOS et al., 2008). Importante ressaltar que, pela atenção prestada de forma contínua, é possível diagnosticar as necessidades do paciente, contribuindo para resolver satisfatoriamente os problemas identificados (CARNEIRO et.al., 2008). Assim, compreendermos que a CE prioriza o cuidado à saúde e não apenas a doença conforme aponta o Gráfico 2. 8 1322 478 134 453 57 567 31 1236 0 200 400 600 800 1000 1200 1400 PROMOÇÃO SAÚDE AEG SSPC RIM DA UM RAI OUI HTE OEVS Avaliação do estado geral (AEG); Sinais e sintomas pós cirurgia (SSPC); Registro de internação e motivo (RIM); Doenças associadas (DA); Medicações em uso (MU); Reação adversa ao imunossupressor (RAI); Orientações sobre uso do imunossupressor (OUI); História de tabagismo e/ou etilismo (HTE); e Orientação sobre estilo de vida saudável (OEVS). Gráfico 2: Atividades registradas na CE ao paciente transplantado referentes à promoção de saúde/controle de saúde . Fortaleza, 2011. A avaliação do estado geral mostrou-se presente em todos os registros de enfermagem analisados, sendo todas as evoluções de enfermagem iniciadas com esta avaliação. 38 A avaliação de enfermagem ou evolução de enfermagem é o registro feito pela enfermeira após a avaliação do estado geral do paciente. Neste registro, devem constar os problemas novos identificados, um resumo sucinto dos resultados dos cuidados prescritos e os problemas a serem abordados nas consultas subseqüentes (COFEN, 2000). Em 478 (36.15%) dos registros foram descritos os sinais e sintomas após a cirurgia. Tal se dá, principalmente, no que se refere aos primeiros meses após o transplante, no qual são essenciais para detectar rejeição ou quadros infecciosos decorrente do uso dos imunossupressores. As primeiras CEs após a alta hospitalar são importantes na detecção da rejeição aguda, relacionada essencialmente à reação imunitária do tipo celular. Pode ocorrer a partir da primeira semana e sua incidência é maior durante os meses seguintes ao transplante. É esse tipo de rejeição prevenida e tratada com os imunossupressores administrados aos pacientes transplantados (BARROSO et al., 2002). Diante disso, é imperativo que nas primeiras CEs após alta hospitalar a enfermagem esteja atenta aos sinais e sintomas sugestivos de rejeição. A doença vascular do enxerto (rejeição crônica) é responsável pela maioria dos óbitos no seguimento tardio pós-transplante e a sua incidência atinge valores estimados em 10% ao ano de pós-operatório, chegando a 40 a 50% em receptores que completam o quinto ano de pós-operatório (FIORELLI et al, 2009). A primeira manifestação da doença, muitas vezes, é um quadro de insuficiência cardíaca congestiva ou mesmo morte súbita, decorrentes de infarto agudo do miocárdio assintomático, já que os corações são desnervados, não apresentando, portanto, fibras aferentes sensitivas (BACAL et al, 2001). Diante das incidências apontadas, justifica-se a importância do acompanhamento ambulatorial. A identificação precoce da rejeição pela equipe de transplante permite o início rápido do tratamento, diminuindo o risco de morte. Outras complicações comuns aos transplantados são os processos infecciosos. É sabido que as infecções pós transplante estão diretamente relacionadas ao grau de imunodepressão necessário para prevenir ou tratar os episódios de rejeição. Portanto, apesar de todo o aprimoramento, é a infecção que permanece como uma das principais causas de morbidade e mortalidade após o transplante, mesmo com a utilização de modernos 39 antimicrobianos. Tal fato ocorre devido ao tratamento imunossupressor que, embora essencial para a sobrevivência dos pacientes operados em longo prazo, leva ao comprometimento das defesas imunológicas do organismo (principalmente dos linfócitos T e B) e aumenta a probabilidade de infecção (COUTO et al, 2001). Assim, o conhecimento dos agentes causadores de infecção por parte dos enfermeiros, mostra-se útil como guia para o diagnóstico precoce e diferencial dos processos infecciosos nos transplantados cardíacos, assim como na detecção precoce de exposição ambiental para o desenvolvimento de estratégias preventivas. Após o primeiro mês e até o sexto mês de pós-operatório aparecem novos tipos de infecção, principalmente: Citomagalovírus, Toxoplasmose, Epstein-barr, Herpes, dentre outros. A combinação de imunossupressão sustentada e essas infecções virais possibilita as infecções oportunistas. No período superior a seis meses após o transplante a maioria dos pacientes é mantida com terapia Imunossupressora mínima. Os problemas infecciosos são semelhantes aos da população emgeral e são, principalmente, respiratórios. As infecções oportunistas são ocasionais, exceto se a exposição ambiental foi intensa (COUTO et al, 2001). Com base no exposto, a orientação de estilo de vida saudável também é uma constante durante a CE, correspondendo a 1236 registros (93,4%). A pessoa transplantada necessita de cuidados especiais para a manutenção e promoção da saúde. Tudo isso está aliado à necessidade de mudanças no estilo de vida para aquisição de hábitos saudáveis que compreendam cuidados higieno-dietéticos. Durante a CE deve-se reforçar que as mudanças são necessárias para melhor preservação do estado de saúde do transplantado, principalmente nos primeiros meses após o procedimento. Em virtude da suscetibilidade dos pacientes pós transplante cardíaco em adquirir infecções devido à imunossupressão, utilizava-se inicialmente, um certo “isolamento protetor”, como cuidado especial ao paciente. Para a prevenção é orientado nos primeiros três meses após a cirurgia o uso de máscara, restrição no contato com outras pessoas, cuidados de higiene rigorosos, entre outros. De acordo com Ledoux e Luikart (2003), a higienização das mãos e precauções universais são usadas como sustentáculo de proteção ao transplantado. A prevenção de infecções situa-se em um dos maiores objetivos da equipe de enfermagem durante o cuidado prestado aos pacientes. Assim, todos os aspectos devem ser 40 analisados, discutidos e pesquisados, com o intuito de proporcionar maior segurança e evitar que a infecção se sobreponha ao sucesso do transplante cardíaco (BOAZ et al., 2006). As complicações relatadas são responsáveis pelas internações ocorridas após o transplante. O registro de internações hospitalares foi evidenciado em oito (0,6%) registros de enfermagem. Um quantitativo pequeno se considerarmos o recorte temporal da coleta, o que sugere a existência de sub-notificação de casos. Ressaltamos que é importante que se faça o registro de todas as internações ocorridas e suas causas, pois isto auxilia no acompanhamento ambulatorial direcionado à prevenção de internações recorrentes. Com relação aos registros de história de tabagismo e etilismo, encontrou-se 31 (2,3%) registros. Ressaltamos que o paciente antes de ser transplantado é orientado a abolir o tabagismo e consumo de álcool, requisito importante para sua inclusão na lista de transplante. Porém, existe a preocupação da equipe de enfermagem em orientar os transplantados a manter as mudanças conquistadas anteriormente ao transplante. A orientação sobre o uso dos imunossupressores e também das medicações associadas ao tratamento pós transplante foi encontrada em 567 (42,7%) registros. A anotação das medicações em uso pelo transplantado esteve presente 453 (34,2%) vezes, assim, também foram atividades de enfermagem registradas com certa freqüência, evidenciando que a enfermagem no ato da consulta investiga potenciais situações de risco à saúde do transplantado, vislumbrando que o tratamento seja realizado de forma correta e regular. A investigação de possíveis reações adversas aos imunossupressores também deve ser analisada durante a CE. Neste estudo houve 57 (4,3%) registros de reações adversas decorrentes do uso crônico dos imunossupressores. Importante ressaltar que o esquema de imunossupressão utilizado no serviço baseia-se no uso de corticosteróides por até seis meses, de acordo com o protocolo do serviço, podendo ser prolongado o uso conforme indicação médica devido a episódios de rejeição, sendo ciclosporina em doses ajustáveis no decorrer do tratamento e o micofenolato de mofetil. Alguns pacientes que tiveram a função renal comprometida devido ao uso de ciclosporina passam a fazer uso de rapamicina. Ciclosporina é uma droga imunossupressora potente e efetiva no combate à rejeição de órgãos transplantados e é a droga usualmente utilizada pelo serviço. Sua dosagem 41 administrada ao paciente requer ajustes individuais, sendo necessário monitoramento constante de seu nível sérico para obter o máximo de efeito imunossupressor com o mínimo de efeitos tóxicos (WINKLER et al., 1992). Apesar dos efeitos benéficos da droga, o uso crônico pode causar efeitos tóxicos indesejáveis para a maioria dos transplantados, entre os quais destacam-se a nefrotoxicidade e a hipertensão arterial (HA). Os enfermeiros, conscientes destes efeitos, têm o papel de orientar os transplantados cardíacos sobre ingesta hídrica adequada e dieta hipossódica, para prevenir ou minimizar riscos. O controle dos níveis de ciclosporina sérica também é solicitado a cada consulta. Em caso de níveis séricos aumentados ou diminuídos a enfermagem identifica e encaminha o transplantado para a equipe médica que fará os ajustes necessários na dose. Doenças associadas foram encontradas nos transplantados cardíacos em 134 registros (10,1%), aparecendo hipertensão e diabetes, como mais comuns. Na CE foi aferida a PA e solicitada glicemia de jejum a cada retorno. São reforçadas as orientações a cada consulta sobre o uso regular dos antihipertensivos e hipoglicemiantes prescritos e o seguimento de uma dieta adequada. Portanto, é necessário que a enfermeira desenvolva junto ao transplantado cardíaco hipertenso estratégias para a redução da quantidade de sódio na alimentação. A mudança de comportamento alimentar é de fundamental importância para a estabilização ou a normalização dos níveis de pressão arterial e até para controle da glicemia. Assim, a implementação de medidas que estimulem ou facilitem a adesão a novos hábitos alimentares que sejam mais salutares é primordial. No entanto, deve-se avaliar o contexto em que o transplantado está inserido, considerando sua cultura, crenças e a renda familiar, para, assim, realizar orientações sobre as modificações dos hábitos alimentares que sejam coerentes com a realidade do transplantado. Para que haja controle adequado da hipertensão e do diabetes em pacientes transplantados e também para prevenir seu surgimento, a CE possui atividades que visam à nutrição e metabólicos dos transplantados, onde destacam-se o conhecimento dos hábitos 42 alimentares, a avaliação do apetite e as orientações dietéticas. Com as atividades descritas, a CE tem como objetivo prevenir o surgimento ou o aparecimento de complicações de doenças associadas à má alimentação, esclarecer sobre os fatores de risco cardiovascular, alcançar maior adesão dos pacientes ao tratamento, valorizar a mudança de comportamento e estimular o autocontrole. A alimentação é um elemento importante na qualidade de vida, pois existem alguns alimentos que contribuem para a elevação dos níveis pressóricos pelo alto teor de sal e de gorduras. Além disso, esses alimentos propiciam dislipidemias e obesidade que, quando associados ao sedentarismo, contribuem para a alta prevalência de hipertensão arterial e doença coronária (VI DIRETRIZES BRASILEIRAS DE HIPERTENSÃO, 2010). Portanto, é imprescindível uma abordagem nutricional e metabólica na CE, conforme mostra o Gráfico 3. 1322 1322 634 543 1008 756 25 0 200 400 600 800 1000 1200 1400 NUTRICIONAL/ METABÓLICO PA PESO APETITE HÁBITOS ALIMENTARES ORIENTAÇÃO DIETÉTICA ESTÍMULO À INGESTA HIDRICA ENCAMINHAMENTO ODONTOLÓGICO Gráfico 3: Atividades registradas da CE ao transplantado referente à aspectos nutricionais/metabólicos. Fortaleza, 2011. Analisando-se as ações registradas, observou-se que, quanto ao levantamento de dados, a mensuração do peso e a aferição da pressão arterial foram uma constante e ambas estiveram presentes em todos os registros da CE. Existiu também grande preocupação na identificação dos hábitos alimentares da clientela, com 543 (41,7%) registros, na avaliação do apetite, com 634 (47,9%) registros e na orientação dietética, com 1008 (76,2%) registros. 43 Sabe-se que o ganho excessivo de peso