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POLÍCIA MILITAR DE MINAS GERAIS ACADEMIA DE POLÍCIA MILITAR CENTRO DE PESQUISA E PÓS-GRADUAÇÃO Elias Alves Dantas A EFETIVIDADE NA SIMBIOSE ENTRE O GCOC E O GAECO NO COMBATE ÀS ORGANIZAÇÕES CRIMINOSAS, BEM COMO O FORTALECIMENTO DA PMMG NA INVESTIGAÇÃO CRIMINAL Belo Horizonte 2020 Elias Alves Dantas A EFETIVIDADE NA SIMBIOSE ENTRE O GCOC E O GAECO NO COMBATE ÀS ORGANIZAÇÕES CRIMINOSAS, BEM COMO O FORTALECIMENTO DA PMMG NA INVESTIGAÇÃO CRIMINAL Monografia apresentada ao Curso de Especialização em Segurança Pública (CESP) do Centro de Pesquisa e Pós- Graduação da Academia de Polícia Militar de Minas Gerais, como requisito parcial para obtenção do título de Especialista em Segurança Pública. Área de concentração: Segurança Pública Orientador: Ten Cel PM Wesley Rodrigues Rosa Belo Horizonte 2020 D192e Dantas, Elias Alves A efetividade na simbiose entre o GCOC e o GAECO no combate as organizações criminosas, bem como o fortalecimento da PMMG na investigação criminal / Elias Alves Dantas. Belo Horizonte, 2020. 135 f.: il. Inclui bibliografias: f. 116-123. Monografia (Especialização em Segurança Pública) - Academia de Polícia Militar de Minas Gerais, Centro de Pesquisa e Pós-Graduação. Orientação: Wesley Rodrigues Rosa. 1. Investigação Criminal. 2. Grupo de Combate a Organizações Criminosas (GCOC). 3. Ministério Público. 4. Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (GAECO ). I. Rosa, Wesley Rodrigues (orient.). II. Academia de Polícia Militar de Minas Gerais. III. Centro de Pesquisa e Pós-Graduação. IV. Título. CDU – 343.1:351.75(815.1) Ficha catalográfica elaborada pela Biblioteca da Academia de Polícia Militar de Minas Gerais Rita Lucia de Almeida Costa CRB6/1730 Dedico a conclusão deste trabalho científico à minha esposa e filhos, pelo apoio e amor imensurável em suprir minha ausência no seio da família durante todo o ano de 2020 e oferecer-me serenidade nos momentos em que me destinei à monografia, na busca por vencer mais um obstáculo na carreira policial militar. AGRADECIMENTOS Agradeço a Deus pela benção em me oferecer uma família tão querida e compreensível, capaz de absorver minhas dificuldades e garantir o amor necessário para transformar as dificuldades na força motriz rumo à vitória. Ao meu orientador Sr. Ten Cel PM Wesley Rodrigues Rosa, que ofereceu ferramentas fundamentais na elaboração e consolidação da presente pesquisa, vindo a transformá-la no estudo cientifico necessário para a conclusão do CESP 2020. Ao meu amigo Cap PM Isaías Cardoso da Silva Junior, que disponibilizou horas de conversas, que me proporcionaram conduzir a pesquisa com clareza e serenidade. Às autoridades entrevistadas nesta pesquisa e Chefes de GCOC’s que dividiram o conhecimento necessário e permitiram ao pesquisador ampliar a maturidade no entendimento da relação de simbiose entre a PMMG e o MP, propiciando a elaboração científica da pesquisa. Mil cairão ao teu lado, e dez mil à tua direita, mas não chegará a ti. Somente com os teus olhos comtemplarás, e verás a recompensa dos ímpios. (SALMO 91, 7-8) RESUMO A presente pesquisa teve por objetivo estudar a Efetividade na simbiose entre o Grupo de Combate a Organizações Criminosas da Polícia Militar de Minas Gerais (GCOC) e o Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (GAECO), bem como o Fortalecimento da PMMG na Investigação Criminal. Desse modo, apresentou-se o problema de pesquisa e como forma de nortear o estudo científico formulou-se o seguinte questionamento: Tem sido efetivo o trabalho do GCOC junto ao GAECO no combate às Organizações Criminosas, bem como o fortalecimento da Investigação Criminal realizada em apoio ao Ministério Público, pela Policia Militar no desempenho das suas atividades através do GCOC? Nesse sentido, para responder a pesquisa inicialmente tratou-se do conceito de ‘Efetividade’ para o contexto do trabalho proposto. Na sequência buscou-se a temática Organizações Criminosas e seus aspectos conceituais, a evolução histórica concernente à legislação brasileira que aborda o assunto e seus mecanismos de combate ao Crime Organizado, bem como o avanço do cangaço ao novo cangaço como Organização Criminosa. Em outro passo, tratou-se das Instituições Polícia Militar de Minas Gerais e o Ministério Público Mineiro, posteriormente abordou a articulação do Estado no combate às Organizações Criminosas, através da simbiose existente entre a Polícia Militar e o Ministério Público, e por derradeiro apresentou o poder investigativo deste egrégio órgão e sua ferramenta de investigação conhecida como Procedimento Investigatório Criminal. Como método de pesquisa utilizou o hipotético-dedutivo, com base na formulação da hipótese a partir do problema definido na pesquisa. A metodologia utilizada no presente trabalho monográfico foi de natureza descritiva, com a abordagem mista, ou seja, tanto qualitativa quanto quantitativa, através de questionários e entrevistas na coleta de dados do trabalho de campo. A pesquisa seguiu o procedimento documental e bibliográfico, calcando o Referencial Teórico em fontes bibliográficas, com base em estudos científicos identificados em documentações impressas e eletrônicas, através de revistas científicas, artigos, monografias, dissertações e teses, de livros e obras dos mais variados autores, bem como a legislação nacional afeta ao tema de pesquisa, a Carta Magna e a Constituição Mineira. Em conclusão, constatou-se que os objetivos geral e específicos foram plenamente atendidos, de forma que resultado obtido impõe a constatação de que a simbiose entre o GCOC e o GAECO é claramente efetiva, tendo em vista a relação de trabalho e a alta produtividade fruto da atuação de tais Instituições, bem como o fortalecimento da PMMG na Investigação Criminal. Palavras-chave: Investigação Criminal. Ministério Público. Organizações Criminosas. Polícia Militar. Simbiose. ABSTRACT This research aimed to study the Effectiveness in the advantageous association between the Group for Combating Criminal Organizations from the Military Police of Minas Gerais (GCOC) and the Special Action Group for Combating Organized Crime (GAECO), as well as the Military Police of Minas Gerais (PMMG) enhancement in criminal investigation. Therefore, this research problem, seen as the way of guiding this scientific study, was presented as the following question: The work of GAECO together with GCOC has been effective, as well as the enhancement of criminal investigation carried out by military police supporting the public prosecutor's office in the endeavour of its activities. In this sense, to answer the research question, it was initially defined the concept of "Effectiveness" for this research context. In the sequence, if it was studied the issues related to criminal organizations and its conceptual aspects, the historical evolution concerning the brazilian legislation that addresses this questionand its mechanisms to fight organized crime, as well as the advance of the term "cangaço" to "novo cangaço" as a criminal organization. In another step, is was addressed the Institutions: Military Police of Minas Gerais and Public Prosecutor's Office of Minas Gerais, later it was analized the state articulations in the war against criminal organizations throught the symbiosis existing between the military police and the public prosecutor's office, and finally it was presented the investigative power of this egregious institution and its investigation tool know as "Procedimento Investigatório Criminal" (PIC). As a research, it was used the hypothetical-deductive method, based on the formulation of the hypothesis from the defined problem. The methodology used in this monographic work was the descrptive nature method with mixed approach, that is, both qualitative and quantitative, through questionnaires and interviews obtained from the fieldwork data collection. The research followed the documentary and bibliographic procedure approached to the theoretical reference in bibliographic sources, based on scientific studies identified in paper and electronic documentation, through scientific journals, articles, monographs, dissertations and theses, books and works written by the most varied authors, as well as national legislation related to this research, the "Magna Carta" and the state constitution. In conclusion, it was found that the general and specific objectives were fully met, so that the result obtained imposes the observation that the symbiosis between the GCOC and GAECO is clearly effective, having in mind the working relationship and the high productivity achieved by the this institutions performance, as well as the enhancement of the PMMG in criminal investigation. Keywords: Criminal Investigation. Public Prosecutor's Office. Criminal Organizations. Military Police; Symbiosis. LISTA DE GRÁFICOS Gráfico 1 – Tempo de serviço no GCOC, que possuem os militares Chefes da atividade .................................................................................................................. 74 Gráfico 2 – Ano em que foi criado cada GCOC ........................................................ 75 Gráfico 3 - GCOC’s que trabalham em conjunto com alguma outra instituição além do Ministério Público, no âmbito do GAECO ................................................................. 76 Gráfico 4 – Atividades realizadas pelo GCOC, no âmbito do GAECO ...................... 79 Gráfico 5 – Grau de concordância no que diz respeito ao efetivo de cada GCOC, dada a demanda de serviços e as funções desenvolvidas no âmbito do GAECO ............. 80 Gráfico 6 – Instituições que apoiaram na execução das operações de combate às Organizações Criminosas orquestradas pelo GCOC-GAECO entre os anos de 2014 a 2019 ......................................................................................................................... 81 Gráfico 7 – Número de operações que ocorreram em decorrência da atividade em cooperação GCOC-GAECO entre os anos de 2014 e 2019 ..................................... 82 Gráfico 8 – Número de Mandados de Busca e Apreensão cumpridos em decorrência da atividade em cooperação GCOC-GAECO entre os anos de 2014 e 2019 ........... 83 Gráfico 9 – Número de prisões realizadas em decorrência da atividade em cooperação GCOC-GAECO entre os anos de 2014 e 2019 ........................................................ 84 Gráfico 10 – Contribuição do GCOC na realização do Procedimento Investigatório Criminal no GAECO entre os anos de 2014 e 2019 ................................................. 85 Gráfico 11 – O gráfico aponta se o GCOC aparece descrito nos autos como participante do Procedimento Investigatório Criminal no âmbito do GAECO entre os anos de 2014 e 2019 ............................................................................................... 87 Gráfico 12 – O gráfico aponta quanto a existência de questionamento por algum Juiz de Direito sobre a participação da PMMG (GCOC) na realização do Procedimento Investigatório Criminal no âmbito do GAECO, durante as investigações entre os anos de 2014 e 2019 ........................................................................................................ 88 Gráfico 13 – O gráfico aponta se tais questionamentos chegaram a invalidar/anular alguma prova ou algum PIC no âmbito do GAECO durante alguma instrução processual sob a responsabilidade do Juiz de direito............................................... 88 Gráfico 14 – Existência de laboratório Forense (perícia), com foco na análise das mídias digitais .......................................................................................................... 91 Gráfico 15 – Participação do GCOC na composição do laboratório forense ............ 92 Gráfico 16 – Exclusividade do efetivo que compõe o laboratório forense por apenas policiais militares ...................................................................................................... 93 Gráfico 17 – Contribuição do GCOC junto ao GAECO, para o fortalecimento da PMMG na Investigação Criminal .......................................................................................... 96 Gráfico 18 – Valor estimado em Reais, quanto aos recursos financeiros ‘sequestrados’, os ‘Acordos de Colaboração Premiada’ e ‘Acordos de Não Persecução Penal’, oriundos das operações de combate às Organizações Criminosas orquestradas pelo GCOC-GAECO de 2014 a 2019 ................................................. 98 Gráfico 19 – Destinação dos recursos financeiros citados da questão 15, oriundos das Organizações Criminosas, frutos de operações realizadas pelo GCOC-GAECO ... 100 Gráfico 20 – Relação de trabalho GCOC-GAECO desenvolvida dentro do Ministério Público ................................................................................................................... 101 Gráfico 21 – Grau de satisfação quanto a sensação de cada Chefe de GCOC em relação ao trabalho que desempenha no âmbito do GAECO ................................. 102 Gráfico 22 – Grau de concordância quanto ao aumento do elo de vinculação entre as Instituições PMMG e o MP, por intermédio da relação de cooperação, desde a criação do GCOC no âmbito do GAECO ............................................................................ 103 Gráfico 23 – Grau de concordância quanto à Efetividade do trabalho em cooperação realizado pelo GCOC e o GAECO, ao se avaliar os resultados obtidos em decorrência das operações no combate às Organizações Criminosas entre os anos de 2014 e 2019 ....................................................................................................................... 105 LISTA DE TABELAS Tabela 1 – Quantidade de Procedimentos Investigatórios Criminais em que o GCOC teve participação, no âmbito do GAECO .................................................................. 86 LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS ACIT Auto Circunstanciado de Interceptação Telefônica BOPE Batalhão de Operações Policiais Especiais CAO CRIMO Centro de Apoio Operacional de Combate ao Crime Organizado CESP Curso de Especialização em Segurança Pública CHEM Chefe do Estado Maior CF Constituição Federal CGMP Corregedor Geral do Ministério Público CNMP Conselho Nacional do Ministério Público CNPG Conselho Nacional dos Procuradores Gerais CP Código Penal CPP Código de Processo Penal CV Comando Vermelho DEPEN Departamento Penitenciário Diest Diretoria de Estudos e Políticas do Estado, das Instituições e da Democracia DInt Diretoria de Inteligência GAECO Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado GAECO-S Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado- SedeGCOC Grupo de Combate a Organizações Criminosas GCOCMG Grupo de Combate a Organizações Criminosas de Minas Gerais GCOC-R Grupo de Combate a Organizações Criminosas-Regional GNCOC Grupo Nacional de Combate às Organizações Criminosas IPEA Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada LCO Lei do Crime Organizado MBA Mandando de Busca e Apreensão MG Minas Gerais MP Ministério Público MPMG Ministério Público de Minas Gerais ONU Organização das Nações Unidas PC Polícia Civil PCMG Polícia Civil de Minas Gerais PCC Primeiro Comando da Capital PGJ Procurador Geral de Justiça PGR Procurador Geral da República PIC Procedimento Investigatório Criminal PM Polícia Militar PMMG Polícia Militar de Minas Gerais PRF Polícia Rodoviária Federal RE Recurso Extraordinário RRCM Regimento Regular de Cavalaria de Minas RPM Região de Polícia Militar SEDS Secretária de Estado de Defesa Social SEJUSP Secretária do Estado de Justiça e Segurança Pública STF Supremo Tribunal Federal SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO ...................................................................................................... 15 2 CONCEITO DE “EFETIVIDADE” NO CONTEXTO DAS AÇÕES DO ESTADO NO COMBATE ÀS ORGANIZAÇÕES CRIMINOSAS ................................................... 19 3 ORGANIZAÇÕES CRIMINOSAS ......................................................................... 24 3.1 ASPECTOS CONCEITUAIS .............................................................................. 24 3.2 EVOLUÇÃO HISTÓRICA QUANTO À LEGISLAÇÃO CONCERNENTE ÀS ORGANIZAÇÕES CRIMINOSAS ............................................................................. 27 3.3 DO CANGAÇO AO NOVO CANGAÇO .............................................................. 34 3.4 A QUEBRA DO PODERIO ECONÔMICO CRIMINOSO, COMO FORMA DE COMBATER O CRIME ORGANIZADO .................................................................... 38 3.4.1 Sequestro de bens móveis e imóveis .......................................................... 38 3.4.2 Acordo de Colaboração Premiada ............................................................... 40 3.4.3 Acordo de Não Persecução Penal ............................................................... 42 4 INSTITUIÇÕES DO ESTADO NO ENFRENTAMENTO ÀS ORGANIZAÇÕES CRIMINOSAS .......................................................................................................... 45 4.1 A POLÍCIA MILITAR DE MINAS GERAIS .......................................................... 45 4.2 O MINISTÉRIO PÚBLICO .................................................................................. 49 5 A ARTICULAÇÃO DO ESTADO NO COMBATE ÀS ORGANIZAÇÕES CRIMINOSAS .......................................................................................................... 52 5.1 A SIMBIOSE POLÍCIA MILITAR E MINISTÉRIO PÚBLICO ............................... 52 5.2 O PODER INVESTIGATIVO DO MINISTÉRIO PÚBLICO .................................. 58 5.3 O PROCEDIMENTO INVESTIGATÓRIO CRIMINAL ......................................... 60 6 METODOLOGIA ................................................................................................... 67 7 APRESENTAÇÃO, ANÁLISE E INTERETAÇÃO DOS DADOS COLETADOS ... 73 7.1 QUESTIONÁRIOS E ENTREVISTAS ................................................................ 73 8 CONSIDERAÇÕES FINAIS ................................................................................ 110 REFERÊNCIAS ..................................................................................................... 116 APÊNDICE “A” – QUESTIONÁRIO DIRECIONADO A TODOS OS CHEFES DE GCOC’S DA POLÍCIA MILITAR DE MINAS GERAIS ........................................... 124 APÊNDICE “B” – ROTEIRO DE ENTREVISTA COM O DIRETOR DE INTELIGÊNCIA DA POLÍCIA MILITAR DE MINAS GERAIS ................................ 131 APÊNDICE “C” – ROTEIRO DE ENTREVISTA AO PROMOTOR DE JUSTIÇA – COORDENADOR DO GAECO UBERLÂNDIA 2014 - 2019 .................................. 134 15 1 INTRODUÇÃO A Polícia Militar de Minas Gerais é uma Instituição bicentenária prestadora de serviços de Segurança Pública, consolidada no contexto histórico nacional. Nesses duzentos e quarenta e cinco anos de história, a corporação tem passado por constantes transformações, procurando amoldar-se à evolução e ao dinamismo social. Nesse diapasão, insere-se o constante trabalho de combate à criminalidade, bem como às organizações criminosas, que a passos largos evolui diuturnamente, refina a forma de atuação e inserção na vida da sociedade ordeira, afetando diretamente a qualidade de vida do cidadão mineiro, trazendo notável reflexo tanto no convívio social, quanto no modo como o Estado opera no combate ao crime. O presente estudo de pesquisa terá seu delineamento no âmbito do Estado de Minas Gerais capaz de oferecer ao cidadão ferramentas de combate ao crime, em seu mais alto grau de requinte e organização, cometido pelas organizações criminosas, as quais têm expandido tanto no cenário estadual, quanto nacional. A pesquisa irá debruçar sobre os resultados das operações realizadas e, não obstante, fazer cumprir a lei, com as prisões dos detratores, identificação dos delitos ora cometidos pelas Organizações Criminosas e o seu desmantelamento ao desentranhar condutas delituosas das mais complexas atividades ilegais, na busca de informações quanto às ações direcionadas em “quebrar” o poderio econômico, através do impacto nos recursos financeiros ilícitos das Organizações Criminosas, na medida em que tais operações direcionam esforços no sequestro de bens e recursos financeiros, bem como os acordos de colaboração premiada e de acordos de não-persecução penal apresentados como fruto das operações realizadas. Nessa premissa, diante do problema de pesquisa delimitou-se geograficamente ao Estado de Minas Gerais, considerando que a presente pesquisa tem o condão de buscar compreender a efetividade nos locais onde realizada a atividade de cooperação entre o Grupo de Combate a Organizações Criminosas (GCOC) da Polícia Militar de Minas Gerais, no trabalho em conjunto com Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (GAECO) do Ministério Público de Minas Gerais, no combate às Organizações Criminosas, bem como o fortalecimento da PMMG na Investigação Criminal. 16 Para tanto, buscar-se-á os resultados obtidos nas ações envolvendo o trabalho em conjunto desenvolvido pelas duas instituições, no período compreendido entre 2014 e 2019, partindo-se da criação dos GAECO’s Regionais, bem como os GCOC’s, que somados ao GAECO Sede e ao GCOC Central, totalizam atualmente 13 (treze) GAECO’s/GCOC’s em funcionamento pelo Estado Mineiro. Diante da realidade do cenário de Minas Gerais, após delimitar o estudo proposto, o tema foi estabelecido da seguinte forma: A efetividade na simbiose entre o GCOC e o GAECO, no combate às Organizações Criminosas, bem como o fortalecimento da PMMG na investigação criminal. Sendo assim, este estudo se sustentará pelo fato do referido assunto ser de relevância institucional e pautar-se no rol de interesse da PMMG para a devida investigação, o qual se encontra elencado dentre os temas designados pela Academia de Polícia Militar para o CESP 2020, após avaliação de tema a tema pelo Alto Comando da Polícia Militar Mineira1. Nesse mister, a pesquisa proposta terá o amparo na busca pelo estudo científico, em acompanhar a dinâmica criminal atual e trazer à baila o complexo combate às Organizações Criminosas, desenvolvido por Minas Gerais, por intermédio da PMMG trabalhando em cooperação com o Ministério Público Estadual, através de ações desenvolvidas pelo Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (GAECO), descentralizado estrategicamente por todo o Estadoem regionais desde 2014, as quais possuem vinculação com o GAECO sede em Belo Horizonte, que já existe na capital do Estado desde o início da década de 2000. Está inserido em cada GAECO Mineiro a atuação conjunta do Grupo de Combate a Organizações Criminosas – GCOC da PMMG, conforme regulamentação vigente, em comum acordo entre a Polícia Militar e o Ministério Público. Diante desse labor em conjunto realizado pela Polícia Militar e o Ministério Público de Minas Gerais, a justificativa será consolidada em contribuir para o fiel entendimento dessa simbiose entre as instituições, a qual tem a capacidade de render resultados significativos dada a amplitude de suas ações, não só no campo da Investigação Criminal, assim como, a atividade de planejamento e execução das 1 Ato de designação de Oficiais e Temas para Monografia CESP 2020, assinado pelo Chefe do Estado Maior da Polícia Militar de Minas Gerais, Coronel PM Marcelo Fernandes, como requisito para a conclusão do CESP, realizado pelo Centro de Pesquisa e Pós-graduação (CPP), (MINAS GERAIS, 2020b). 17 operações promovidas pelo GAECO e o GCOC no combate às Organizações Criminosas entre os anos de 2014 e 2019, sendo escolhido esse período por se tratar do marco inicial para a ampliação dos Grupos a partir da Cooperação firmada entre as Instituições no Estado. Seguindo esse raciocínio, o presente trabalho acadêmico, terá como objetivo geral: avaliar a efetividade na simbiose entre o GCOC e o GAECO no combate às Organizações Criminosas, desenvolvido pela Polícia Militar e o Ministério Público, bem como o fortalecimento da PMMG na Investigação Criminal, e assim, nesse contexto, procurou-se também atender os seguintes objetivos específicos: a) Analisar a forma de atuação do GCOC em cooperação com o GAECO no Estado de Minas Gerais; b) Analisar o fortalecimento da Investigação Criminal realizada pelo GCOC, enquanto integrante da estrutura de apoio ao GAECO; c) Pesquisar e analisar os resultados do trabalho realizado em conjunto pelo GCOC e o GAECO em todo o Estado de Minas Gerais, nas regiões onde existam as parcerias entre a PMMG e o MPMG voltadas para o combate às Organizações Criminosas. Diante dos objetivos da pesquisa, a hipótese básica será de que o trabalho em cooperação realizado pelo GCOC e o GAECO tem trazido resultados efetivos no combate à criminalidade organizada, bem como proporcionado o fortalecimento da PMMG no campo da Investigação Criminal. As hipóteses secundárias foram definidas abaixo: O elo entre a Polícia Militar de Minas Gerias e Ministério Público Estadual aumentou consideravelmente, desde a vinculação das Instituições por intermédio do GAECO e do GCOC, no tocante ao combate às Organizações Criminosas. O fruto do trabalho em cooperação entre a PMMG o MP, realizado pelo GCOC e o GAECO, tem garantido expressivo número de prisões, ao considerar as investigações desdobradas no tocante às operações desenvolvidas. O GCOC tem aprimorado seu poder investigativo em apoio ao GAECO desde sua implantação, até os dias de hoje, locupletando a produção de prova. Para alcançar os objetivos e a pertinência das hipóteses o presente estudo terá sua estrutura definida em oito seções, a partir desta introdução, os quais são discriminadas a seguir. 18 Na seção 02 contemplará o conceito de Efetividade para o contexto do estudo que se propõe, como forma de identificar claramente o tema da presente pesquisa. Na seção 03 terá o estudo concernente às Organizações Criminosas, buscando seus aspectos conceituais de relevância para a pesquisa, bem como a evolução histórica da legislação pertinente ao assunto. Será devidamente aprofundado a evolução do cangaço como Organização Criminosa e sua vinculação com o chamado novo cangaço, terminologia comumente utilizada em Organizações voltadas para as práticas delituosas na atualidade. Na seção 04 ter-se-á a abordagem às Instituições do Estado de Minas Gerais abrangidas pelo presente estudo cientifico, como forma de serem entendidas quanto à criação e atual função pública, capazes de combater o Crime Organizado. Na seção 05 tratar-se-á da articulação no combate às Organizações Criminosas, com enfoque na simbiose entre a Polícia Militar, o Ministério e o Público. Será tratado também o Poder Investigativo do MP, bem como o Procedimento Investigatório Criminal, como atividade investigativa realizada por esse Egrégio Órgão. Na seção 06 será procedida a apresentação de questões atinentes à metodologia da pesquisa, com definições capazes de definir o ‘Norte’ deste estudo acadêmico. Na seção 07 serão apresentadas as ferramentas, como questionários e entrevistas, utilizadas para a viabilidade do correto conteúdo a ser identificado para a concatenação da análise e interpretação dos dados coletados. Finalmente, na oitava e última seção, serão realizadas as Considerações Finais, onde todo o estudo proposto tem seu fechamento com assertivas capazes de levar o leitor a entender o caminho traçado desde o ponto de partida, até seu destinatário final, com conclusões vinculadas ao alcance dos objetivos pretendidos. Após as Considerações Finais, ter-se-á as Referências, e três Apêndices, nos quais apresentam o modelo de questionário e o roteiro de entrevistas utilizados durante a pesquisa. 19 2 CONCEITO DE “EFETIVIDADE” NO CONTEXTO DAS AÇÕES DO ESTADO NO COMBATE ÀS ORGANIZAÇÕES CRIMINOSAS O embasamento teórico da pesquisa tem-se como um dos pilares de sua fundamentação o estudo sobre conceitos da Teoria Geral da Administração e do Direito Administrativo, no âmbito do entendimento a respeito de critérios importantes para a mensuração e análise da Gestão Pública, quais sejam, a eficiência, eficácia e efetividade, no que tange ao trabalho de Segurança Pública desenvolvido pela Polícia Militar de Minas Gerais por intermédio do Grupo de Combate a Organizações Criminosas (GCOC), em cooperação com o Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (GAECO) como representante do Ministério Público Estadual, no combate às Organizações Criminosas. É de suma importância ressaltar a abordagem teórica no campo da administração pública para que se possa entender o significado da terminologia “EFETIVIDADE”, disposta no tema deste estudo monográfico, por considerar o reflexo direto desse seu contexto quanto ao objeto da presente proposta, qual seja, tratar da efetividade na simbiose entre o GCOC e o GAECO no combate às Organizações Criminosas, desenvolvido pela Polícia Militar e o Ministério Público, bem como o fortalecimento da PMMG na investigação criminal. Para tanto, tem-se o delineamento da pesquisa com amparo nos estudiosos que tratam do conceito de “efetividade”, voltado para o modelo gerencial da gestão da administração pública e seus reflexos na realidade atual, com o foco em demonstrar a relevância de se propiciar um serviço público de qualidade à sociedade, em meio à aplicação dos recursos que o Estado dispõe no combate às Organizações Criminosas, como, por exemplo, a Polícia Militar e o Ministério Público na utilização de suas ferramentas, como o GCOC e o GAECO, os quais levam ao caminho a ser percorrido pelo objetivo do presente estudo. Nesse mister, ao buscar entendimento na Carta Magna, tem-se ancorado em seu art. 37, o seguinte preceito mandamental: Art. 37. A administração pública direta e indireta de qualquer dos Poderes da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios obedecerá aos princípios de legalidade, impessoalidade, moralidade, publicidade e eficiência [...] (BRASIL, 1988). 20 A redação do caput deste artigo trouxe inovação em 1998, momento em que foi criada a Emenda Constitucional nº 19, e aduz a ampliação, dentre os princípios já existentes, o da eficiência voltado para a administração pública.Tal informação, conforme aclara Carvalho Filho (2019, p. 107), arremete a necessidade de se buscar o entendimento da gestão pública gerencial2 diante do cenário nacional consoante à alteração no texto constitucional, que de acordo com o referido Projeto da citada Emenda, eficiência tem a denominação de “qualidade do serviço prestado”. Assevera ainda o autor citado que: Nenhum órgão público se tornará eficiente por ter sido a qualificada como princípio na Constituição [...], o que precisa haver é a busca dos reais interesses da coletividade e o afastamento dos interesses pessoais dos administradores públicos (CARVALHO FILHO, 2019, p. 108). Nessa ótica, tem-se o aprofundamento do estudo científico ao destrinchar as conceituações de eficiência, eficácia e também da efetividade. Com isso, pode-se absorver o que de fato o tema proposto almeja alcançar. Aduz Carvalho Filho (2019, p. 108, grifo nosso), ao lecionar que: A eficiência não se confunde com a eficácia nem com a efetividade. A eficiência transmite sentido relacionado ao modo pelo qual se processa o desempenho da atividade administrativa; a ideia diz respeito, portanto, à conduta dos agentes. Por outro lado, eficácia tem relação com os meios e instrumentos empregados pelos agentes no exercício de seus misteres na administração; o sentido aqui é tipicamente instrumental. Finalmente, a efetividade é voltada para os resultados obtidos com as ações administrativas; sobreleva nesse aspecto a positividade dos objetivos. Afirma ainda Carvalho Filho (2019, p. 110) que, o desejo é que tais instrumentos possam caminhar simultaneamente, no entanto, uma conduta administrativa pode vir a se desenvolver mesmo sem o acompanhamento do outro, 2 Para Chiavenato a “administração pública gerencial caracteriza - se fundamentalmente pela eficiência dos serviços prestados a milhares, senão milhões, de cidadãos”, e em ato continuo o mesmo autor afiança que “o princípio administrativo fundamental é o da efetividade, entendido como a capacidade de ver obedecidas e implementadas com segurança as decisões tomadas” (CHIAVENATO, 2012, p. 116). 21 como, por exemplo, admitir que condutas mesmo eficientes e eficazes possam acabar por não alcançar os resultados desejados; em consequência, serão despidas de efetividade. Segue na mesma vertente Castro (2006, p. 3), ao afirmar que a reforma administrativa com o advento da gestão pública gerencial, com vistas a superar o modelo burocrático de gestão, tem de fato como marco legal a alteração no artigo 37 da Carta Magna, promovido pela Emenda Constitucional nº 19 de 04 de junho 1998, ao afirmar que o princípio da eficiência pode permitir entendimento amplo, o que “faz necessária a verificação dos tradicionais conceitos de eficiência, eficácia e de outro mais novo, a efetividade”. Chiavenato (2012, p. 153) aclara que “não raro, as pessoas confundem os termos eficiência, eficácia e efetividade”, daí a necessidade de abordar esses três conceitos e destaca-los a seguir: A eficácia consiste em fazer a coisa certa (não necessariamente da maneira certa). Assim, está relacionada ao grau de atingimento do objetivo”, de forma a chegar ao resultado almejado. Noutro entendimento, Chiavenato estabelece que o “conceito de eficiência relaciona-se com a maneira pela qual fazemos a coisa. É o como fazemos, o caminho, o método”. Por conseguinte, a “efetividade ressalta o impacto, na medida em que o resultado almejado (e concretizado) muda determinado panorama, cenário”, vindo o autor, por conseguinte, a afiançar que “na ponta da linha, a efetividade ocorre quando um produto ou serviço foi percebido pelo usuário como satisfatório” (CHIAVENATO, 2012, p. 153-154, grifo do autor). Já no entendimento de Torres (2004, p. 175), o entendimento de eficiência, eficácia e efetividade traduz-se nos seguintes aspectos: Eficiência: aqui, mais importante que o simples alcance dos objetivos estabelecidos é deixar explícito como esses foram conseguidos. Existe claramente a preocupação com os mecanismos utilizados para obtenção do êxito da ação estatal, ou seja, é preciso buscar os meios mais econômicos e viáveis, utilizando a racionalidade e busca maximizar os resultados e minimizar os custos, ou seja, fazer o melhor com menores custos, gastando com inteligência os recursos pagos pelo contribuinte. Eficácia: basicamente, a preocupação maior que o conceito revela, se relaciona simplesmente com o atingimento dos objetivos desejados por determinada ação estatal, pouco se importando com os meios e mecanismos utilizados para atingir tais objetivos. 22 Efetividade: é o mais complexo dos três conceitos, em que a preocupação central é averiguar a real necessidade e oportunidade de determinadas ações estatais, deixando claro que setores são beneficiados e em detrimento de que outros atores sociais. Essa averiguação da necessidade e oportunidade deve ser a mais democrática, transparente e responsável possível, buscando sintonizar e sensibilizar a população para a implementação das políticas públicas. Este conceito não se relaciona estritamente com a ideia de eficiência, que tem uma conotação econômica muito forte, haja vista que nada mais impróprio para a administração pública do que fazer com eficiência o que simplesmente não precisa ser feito. Sendo assim, conforme explicita Torres (2004), tem-se a reflexão de que ao seguir os passos da eficiência busca-se a preocupação de como o objetivo foi atingido, enquanto a eficácia se traduz basicamente no próprio atingimento do objetivo proposto, não importando a preocupação de que forma se chegou a ele, já na efetividade a conceituação tem o enfoque na qualidade do resultado atingido pelo objetivo. No tocante à inserção dos indicadores de desempenho de avaliação da administração pública, verificados pela ação estatal como atividade avaliativa, a partir da reforma gerencial do Estado sob a percepção de Silva (2015, p. 112), permitiu incluir “o conceito de resultado ao arcabouço da Nova Gestão Pública”. Sendo assim, destaca ainda Silva (2015, p. 12), que “novas práticas de monitoramento e avaliação de políticas públicas estão sendo desenvolvidas no intuito de sustentar a Gestão Pública com informações concretas e que sejam capazes de alavancar a eficiência, eficácia e efetividade”. Nesse contexto, nova contribuição traz Silva (2015, p. 45) ao asseverar que efetividade se traduz na capacidade de produzir efeito, decorrente de uma realidade existente, e garante ainda que: Em termos governamentais verifica-se a relação entre os resultados da intervenção sobre a população-alvo (impactos observados) e os objetivos pretendidos (impactos esperados). Busca estabelecer a relação de causalidade entre as variáveis do programa e os efeitos observados. [...] examina-se, além do cumprimento de objetivos imediatos (metas de produção ou de atendimento), se os resultados observados foram realmente causados pelas ações desenvolvidas e não por outros fatores (SILVA, 2015, p. 45). 23 Em ato contínuo, na próxima seção serão abordados os aspectos conceituais sobre as Organizações Criminosas, bem como a evolução histórica concernente à legislação que trata do assunto proposto, além de aprofundar no amparo do ordenamento jurídico vigente, que abarca formas de combate ao Crime Organizado, através do impacto em quebrar o poderio econômico de tais atividades, sendo este um dos pilares das Organizações Criminosas. 24 3 ORGANIZAÇÕES CRIMINOSAS O combate às Organizações Criminosas apresenta-se na atualidade como um grande obstáculo que as instituições públicas voltadas para segurança pública enfrentam, representam um verdadeiro desafio, com grande poder de crescimento, avanço e inserção nas camadas sociais, o que preocupa não só o cidadão ordeiro,como também o próprio Estado enquanto responsável pela garantia da paz, manutenção e restauração da ordem pública. 3.1 ASPECTOS CONCEITUAIS Ao abordar estudiosos com cabedal no assunto, sob a perspectiva de Melo3 (2015, p. 18-19), a diferenciação básica dos crimes cometidos pelas Organizações Criminosas, tidos como especiais, dos crimes cotidianos ou de rua, dá-se pela perspectiva de que aqueles ocorrem de maneira organizada. Nessa ótica, o autor aclara a existência de dois tipos de Organizações, sendo elas a “organização ‘violenta’ e a organização ‘suave’. No conceito amplo, pode haver organização criminosa que opera com violência ou sem violência. Entende, ainda, que muitas organizações criminosas suaves cometem crimes de colarinho branco. Nesse contexto, Mingardi (2007, p. 56), defende que “não é a modalidade do crime que define a existência de Crime Organizado”. Destaca o autor que algumas características que os diferenciam do crime comum, são: “1 – Hierarquia; 2 - Previsão de lucros; 3 - Divisão do trabalho; 4 - Planejamento Empresarial; 5 - Simbiose com o Estado”. Afirma Mingardi (2007) que nas quatro primeiras características são comuns a atividade empresarial moderna e adaptadas pelas Organizações Criminosas, no entanto, a quinta é a mais polêmica, pois em todas as organizações estudadas aparece uma ligação com a máquina do Estado. 3 Técnico de Planejamento e Pesquisa na Diretoria de Estudos e Políticas do Estado, das Instituições e da Democracia (Diest-IPEA), o qual realizou a pesquisa oferecida pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada – IPEA. 25 Em ato contínuo, Marçal e Masson (2018, p. 55), asseveram a existência de “quatro formas básicas de Organizações Criminosas”, que inclusive havendo a possibilidade de tais formas mesclarem entre si, sendo elas as que seguem abaixo: 1. Tradicional (ou Clássicas): Das quais o exemplo mais clássico são as máfias. [...] O elemento constitutivo especial das associações de tipo mafioso, que as diferenciam daquelas comuns (demais), é a existência de uma profunda força intimidatória, de forma autônoma, difusa e permanente. 2. Rede (Network – Rete Criminale – Netszstruktur): Cuja principal característica é a globalização. [...] É provisória por natureza, e se aproveita das oportunidades que surgem em cada setor e em cada local. [...] A Organização Criminosa se forma em decorrência de ‘indicações’ e ‘contratos’ existentes no ambiente criminal, sem qualquer compromisso de vinculação (muito menos em caráter permanente), age em determinado espaço territorial favorável [...] (no geral em alguns meses) e depois se dilui. [...] Para tanto, são ou se valem de agentes públicos de altos escalões, que realizam transações financeiras e comerciais que camuflam seu verdadeiro propósito, utilizando-se muitas vezes, através de ‘laranjas’, ou testas-de-ferro de empresas públicas. 3. Empresarial: Formada no âmbito de empresas lícitas – licitamente constituídas. Nesse formato, também modernamente chamadas de Organizações Criminosas, os empresários se aproveitam da própria estrutura hierárquica da empresa. Mantém suas atividades primárias licitas [...] para secundariamente praticar crimes fiscais, crimes ambientais, cartéis, fraudes, [...] (lavagem de dinheiro falsidades documentais, materiais ideológicos, estelionatos, etc). 4. Endógena: Trata-se de espécie de Organização Criminosa que age dentro do próprio Estado, em todas as suas esferas – Federal, Estaduais e Municipais, envolvendo, [...] Executivo, Legislativo ou Judiciário. É formada essencialmente por políticos e agentes públicos de todos os escalões [... ] crimes praticados por funcionários públicos contra a administração pública (corrupção, concussão, prevaricação, etc) [...] Mas também, quase que inevitavelmente outra infrações penais como aquelas que se relacionam direta ou indiretamente. Para Mingardi (2007, p. 57) “No nosso país, a cadeia é a grande gestora dessas organizações. Foi nela que surgiram o Comando Vermelho (CV), o Primeiro Comando da Capital (PCC) e o Terceiro Comando (TC)”. Nesse sentido, Adorno e Salla (2007, p. 15) asseveram que: 26 A modalidade de criminalidade organizada com sua origem nas prisões se formou nos anos 1970 no Rio de Janeiro, experimentando rápido crescimento na década seguinte. Em São Paulo, todavia, esse processo se expandiu mais tarde, na década de 1990, conquanto houvesse sinais de sua existência na década imediatamente anterior. O Instituto de Estudos Avançados da Universidade de São Paulo4 (2007), em entrevista publicada com o Delegado da Polícia Federal Getúlio Bezerra Santos, traz a seguinte conceituação de Crime Organizado: Trata-se de crimes de grande potencial ofensivo, praticados por grupos criminosos organizados, permanentes ou duradouros, que buscam incessantemente vantagem financeira e que debilitam o Estado. Esse é apenas um conceito amplo porque não há uma definição legal. Acredito que o Brasil deverá acatar as recomendações da Convenção de Palermo, da qual é signatário, para melhor tipificar o conceito (SÃO PAULO, 2007, p. 100). Assevera Ferro (2006, p. 517), que para conceituar Organização Criminosa faz necessária a associação estável dos detratores, de caráter permanente, dotada de hierarquia, divisão nas tarefas e estrutura empresarial, valendo-se de tecnologia avançada, capaz de causar elevada lesividade social, no intuito prioritário de almejar lucro e poder, mediante o uso de meios intimidativos, com características territoriais e dotada de vínculos nas relações com outras associações ilícitas, além da própria conexão estrutural e funcional com Poder Público, destacando também que o crime organizado é a espécie de macrocriminalidade perpetrada pela organização criminosa. Na ótica de Nucci (2019, p. 3), é indiscutível a relevância da conceituação de Organização Criminosa, pois cabe não só a abordagem acadêmica, mas também pelo fato de ter sido criado um tipo penal ao longo dos anos, dotado de especificidade capaz de punir detratores componentes dessa modalidade de associação criminosa, e sendo assim, o referido autor estabelece a conceituação de Organização Criminosa como: 4 O Instituto de Estudos Avançados da Universidade de São Paulo publicou em 2007 a entrevista realizada entre o Instituto e o Delegado da Policia Federal Getúlio Bezerra Santos. Disponível em: https://www.scielo.br/pdf/ea/v21n61/a07v2161.pdf. Acesso em: 06 maio. 2020. https://www.scielo.br/pdf/ea/v21n61/a07v2161.pdf 27 A associação de agentes, com caráter estável e duradouro, para o fim de praticar ações penais, devidamente estruturada em organismo preestabelecido, com divisão de tarefas, embora visando ao objetivo comum de alcançar qualquer vantagem ilícita, a ser partilhada entre seus integrantes. [...] Seja qual for o objetivo da Organização Criminosa, a sua atuação, em algum ponto e sob determinada medida, termina por se sustentar pelo apoio de servidores públicos mancomunados e aliciados, integrantes do esquema, direta ou indiretamente (NUCCI, 2019, p. 2). Na próxima seção tratar-se-á da legislação pertinente às Organizações Criminosas, dentro do contexto de sua evolução histórica afeta ao ordenamento jurídico nacional. 3.2 EVOLUÇÃO HISTÓRICA QUANTO À LEGISLAÇÃO CONCERNENTE ÀS ORGANIZAÇÕES CRIMINOSAS Na busca pelo parâmetro legal quanto à definição de Organizações Criminosas, o ordenamento jurídico brasileiro tem esquadrinhado desde seu nascedouro enquanto previsão em lei a partir 1995, para tratar do complexo assunto. A Lei 9.034 de 03 de maio de 19955 traz a informação de que a Organização Criminosa está num mesmo patamar das ações praticadas por quadrilha ou bando, entretanto, não elenca a definição para tal modalidade criminosa,apenas abarca o cometimento de “crime”, de forma a não contemplar também a contravenção penal, como se observa em seu art. 1º - “Esta Lei define e regula meios de prova e procedimentos investigatórios que versarem sobre crime resultante de ações de quadrilha ou bando” (BRASIL, 1995). Sendo assim, pode constatar claramente que ,em seu conteúdo normativo, a citada norma não contempla a definição, nem a tipificação, como forma de aprofundar o assunto sobre as Organizações Criminosas. Em 11 de abril de 2001, com a promulgação da Lei 10.217, o art. 1º da Lei 9034 de 1995, passou a vigorar da seguinte forma, “art. 1o - Esta Lei define e regula meios de prova e procedimentos investigatórios que versem sobre ilícitos decorrentes de ações praticadas por quadrilha ou bando ou organizações ou associações criminosas de qualquer tipo", vindo suprimir a palavra ‘crime’ e 5 A Lei Federal nº 9034 de 03 de maio de 1995 foi o primeiro texto normativo no Brasil a abordar o complexo e abrangente tema sobre Organização Criminosa. http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/L9034.htm#art1 28 acrescentar a palavra ‘ilícito’, de forma a abranger também a contravenção penal, além do próprio crime, já previsto desde 1995, contudo, novamente não traz a conceituação de Organização Criminosa. Em 12 de março de 2004, tem-se a edição do Decreto 5.015, que o Governo Federal promulga tratativas sobre a Convenção de Palermo6, ocorrida em 2000 na cidade de Nova Yorque, ocasião em que ocorrera a Convenção das Nações Unidas (ONU), que à época tratou do Crime Organizado Transnacional. Nesse diapasão, o referido decreto apresenta a Convenção de Palermo e nela traz consigo a seguinte definição: "Grupo criminoso organizado" - grupo estruturado de três ou mais pessoas, existente há algum tempo e atuando concertadamente com o propósito de cometer uma ou mais infrações graves ou enunciadas na presente Convenção, com a intenção de obter, direta ou indiretamente, um benefício econômico ou outro benefício material (BRASIL, 2004). Em alinhamento ao segmento jurídico apresentado em 24 de julho de 2012, a Lei 12.694, dentre suas disposições, busca abarcar, para organização criminosa, a definição a seguir: Art. 2º Para os efeitos desta Lei, considera-se organização criminosa a associação, de 3 (três) ou mais pessoas, estruturalmente ordenada e caracterizada pela divisão de tarefas, ainda que informalmente, com objetivo de obter, direta ou indiretamente, vantagem de qualquer natureza, mediante a prática de crimes cuja pena máxima seja igual ou superior a 4 (quatro) anos ou que sejam de caráter transnacional (BRASIL, 2012). No intento de convergir para a definição de Organização Criminosa, em 2 de agosto de 2013, tem-se estabelecida a Lei 12.850/13 que além da revogação da Lei 9.034 de 1995, aduz em seu escopo: 6 A Convenção de Palermo ocorrida em Nova Yorque em 2000, é também conhecida como Convenção das Nações Unidas contra o Crime Organizado Transnacional, e trouxe em seu texto normativo a definição de Organização Criminosa, no entanto não contemplou a tipificação penal para o cometimento do delito apresentado na norma (BRASIL, 2004). 29 Art. 1º Esta Lei define organização criminosa7 [...] § 1º Considera-se organização criminosa a associação de 4 (quatro) ou mais pessoas estruturalmente ordenada8 e caracterizada pela divisão de tarefas, ainda que informalmente, com objetivo de obter, direta ou indiretamente, vantagem de qualquer natureza, mediante a prática de infrações penais cujas penas máximas sejam superiores a 4 (quatro) anos, ou que sejam de caráter transnacional. [...] (BRASIL, 2013). O dispositivo legal citado acima, ao abordar o assunto Organização Criminosa, basicamente se diferencia dos demais anteriormente citados pela quantidade de autores ao participar da referida associação, bem como a previsão da tipificação legal como se pode verificar adiante: Art. 2º Promover, constituir, financiar ou integrar, pessoalmente ou por interposta pessoa, organização criminosa: Pena - reclusão, de 3 (três) a 8 (oito) anos, e multa, sem prejuízo das penas correspondentes às demais infrações penais praticadas. § 1º Nas mesmas penas incorre quem impede ou, de qualquer forma, embaraça a investigação de infração penal que envolva organização criminosa. § 2º As penas aumentam-se até a metade se na atuação da organização criminosa houver emprego de arma de fogo. § 3º A pena é agravada para quem exerce o comando, individual ou coletivo, da organização criminosa, ainda que não pratique pessoalmente atos de execução. § 4º A pena é aumentada de 1/6 (um sexto) a 2/3 (dois terços): I - Se há participação de criança ou adolescente; II - Se há concurso de funcionário público, valendo-se a organização criminosa dessa condição para a prática de infração penal; III - Se o produto ou proveito da infração penal destinar-se, no todo ou em parte, ao exterior; IV - Se a organização criminosa mantém conexão com outras organizações criminosas independentes; V - Se as circunstâncias do fato evidenciarem a transnacionalidade da organização (BRASIL, 2013). Há que se destacar a situação em que o infrator exerce o comando da Organização Criminosa, em que “o ponto fundamental para incidir a agravante é o 7 O art. 1º da Lei 12.850 de 02 de agosto de 2013, estabelece que para a validação quanto a constituição de quaisquer Organização Criminosa, exige-se um quantitativo mínimo de 04 integrantes (BRASIL, 2013). 8 Para Nucci (2018, p. 4) “não se concebe uma Organização Criminosa sem existir um escalonamento, permitindo ascensão no âmbito interno, com chefia e chefiados”, de forma a estabelecer alguma hierarquia organizada entre superiores e subordinados. 30 exercício de liderança no contexto da Organização Criminosa” (NUCCI, 2019, p. 31), não importando a relevância se a atividade de comando dá-se nas ordens emanadas ou no ato de integrar a gestão da Organização. Importante ressaltar a conexão entre as Organizações e o caráter da transnacionalidade, como previsões de aumento de pena, descrito no dispositivo legal acima citado, pois para Nucci (2019, p. 29) tais conexões, permitiram observar “nos últimos tempos, o nefasto contato entre Organizações Criminosas de presídios, cada uma delas comandando uma facção e uma região do país”. A danosidade social é elevada justificando a causa de aumento e a transnacionalidade de acordo com Marçal e Masson (2018, p. 91) “o caráter transnacional não é elemento inerente a toda e qualquer Organização Criminosa, não fazendo parte de sua essência”. Tem-se também como aumento de pena o concurso do funcionário público, em que para Marçal e Masson (2018, p. 89) dá-se da seguinte forma: Quando mais profunda a reconfiguração cooptada do Estado (infiltração às avessas), tanto maior deverá ser o aumento da sanção”, ou seja, leva-se em consideração a utilidade do servidor público, no tocante a sua atuação na Organização Criminosa, permitindo que se estabeleça vinculação entre a sua atividade funcional e a pratica do crime, na busca de se aferir a elevação de pena de acordo com o “nível de engajamento do servidor público para com a Organização Criminosa”. Necessário faz-se ressaltar a importância da Lei 12.850 de 2013, não só para definir e tipificar as Organizações Criminosas, bem como para aduzir os meios de obtenção de provas, os quais se apresentaram como ferramentas importantes no combate ao Crime Organizado a serem utilizadas durante a persecução penal, de acordo com art. 3º da referida Lei, descritos abaixo: Art. 3º Em qualquer fase da persecução penal, serão permitidos, sem prejuízo de outros já previstos em lei, os seguintes meios de obtenção da prova: I -Colaboração premiada; II - Captação ambiental de sinais eletromagnéticos, ópticos ou acústicos; III - Ação controlada; 31 IV - Acesso a registros de ligações telefônicas e telemáticas, a dados cadastrais constantes de bancos de dados públicos ou privados e a informações eleitorais ou comerciais; V - Interceptação de comunicações telefônicas e telemáticas, nos termos da legislação específica; VI - Afastamento dos sigilos financeiro, bancário e fiscal, nos termos da legislação específica; VII - Infiltração, por policiais, em atividade de investigação, na forma do art. 11; VIII - Cooperação entre instituições e órgãos federais, distritais, estaduais e municipais na busca de provas e informações de interesse da investigação ou da instrução criminal (BRASIL, 2013). Atualmente, o dispositivo legal mais moderno concernente às Organizações Criminosas alicerça-se na Lei 13.964/19, conhecida como “Pacote Anti-Crime”, que altera alguns dispositivos da Lei, 12.850, além de aperfeiçoar a legislação penal e processual penal vigente, com enfoque claro em endurecer o ordenamento quanto ao alcance dos criminosos responsáveis por tais delitos. Nas palavras de Apolinário e Filippetto (2016), imperioso destacar a ascensão na última década da modalidade criminosa organizada conhecida como ‘novo cangaço’, a qual se manifesta em tomar cidades de pequeno porte, tidas como interioranas, para a subtração de grandes volumes de dinheiro de instituições financeiras, subjugando a fragilidade das forças policiais presentes naqueles locais, valendo-se da violência, caos e terror aplicados nas ações criminosas, por intermédio do aparato logístico e o planejamento das ações. Dada a evolução das ações do ‘novo cangaço’, tem-se notícia de fatos envolvendo essa modalidade de Organização Criminosa, não só em cidades de pequeno porte por todo o país, mas também em cidades de médio e grande porte como os ataques registrados em cidades localizadas no Estado de São Paulo9 como Ribeirão Preto, Campinas e Santos e em Uberaba10 situada em Minas Gerais, dentre outras, o que evidencia a ampliação dessa conduta criminosa. 9 No site HNT Hipernotícias foi publicada em 26 de agosto de 2016 matéria que tratou do alcance das ações típicas do novo cangaço em vários Estados do país. Disponível em: https://www.hnt.com.br/cidades/policia-investiga-participacao-de-cabelo-de-bruxa-em-assaltos- contra-empresas-de-valores-em-sp/63918. Acesso em: 09 set. 2020. 10 Conforme matéria publicada no site Estado de Minas, dia 27 de junho de 2019 “bandidos explodem banco, fazem reféns e trocam tiros com a PM em Uberaba”. Na matéria cita que em novembro de 2017, criminosos haviam sitiado a mesma cidade de Uberaba praticando delito semelhante, que na ocasião se tratava da empresa de valores RODOBAN. Disponível em: https://www.em.com.br/app/noticia/gerais/2019/06/27/interna_gerais,1065067/bandidos-explodem- banco-fazem-refens-e-voltam-a-aterrorizar-uberaba.shtml. Acesso em: 06 set. 2020. https://www.hnt.com.br/cidades/policia-investiga-participacao-de-cabelo-de-bruxa-em-assaltos-contra-empresas-de-valores-em-sp/63918 https://www.hnt.com.br/cidades/policia-investiga-participacao-de-cabelo-de-bruxa-em-assaltos-contra-empresas-de-valores-em-sp/63918 https://www.em.com.br/app/noticia/gerais/2019/06/27/interna_gerais,1065067/bandidos-explodem-banco-fazem-refens-e-voltam-a-aterrorizar-uberaba.shtml https://www.em.com.br/app/noticia/gerais/2019/06/27/interna_gerais,1065067/bandidos-explodem-banco-fazem-refens-e-voltam-a-aterrorizar-uberaba.shtml 32 A onda criminosa conhecida como ‘novo cangaço’, que se iniciou nas cidade interioranas e posteriormente se alastrou para cidades maiores pelo Brasil, dada a forma de atuação, causando grande pânico, terror e medo, tendo em vista a brutalidade e o perigo impostos à sociedade, através das ações de tais Organizações Criminosas, ensejou a mudança na legislação penal brasileira, através da criação da Lei 13.654 de 23 de abril de 2018, a qual dispõe sobre a alteração do Código Penal Brasileiro, no que abrange os crimes de furto qualificado e de roubo que tenha envolvimento quanto ao uso de explosivos, bem como a prática de roubo com o emprego de arma de fogo, ou que resulte em lesão corporal grave, além de trazer a previsão na referida norma, que obrigue as Instituições instalarem dispositivos de segurança que permitam a inutilização de dinheiro nos caixas eletrônicos. O endurecimento da aplicação da reprimenda penal promovido pelo Estado através da Lei 13.654 de 2018, ampliando com maior severidade sua intervenção quanto ao furto, aponta para as questões a seguir: Art. 155. Subtrair, para si ou para outrem, coisa alheia móvel: [...] § 4º-A A pena é de reclusão de 4 (quatro) a 10 (dez) anos e multa, se houver emprego de explosivo ou de artefato análogo que cause perigo comum. [...] § 7º A pena é de reclusão de 4 (quatro) a 10 (dez) anos e multa, se a subtração for de substâncias explosivas ou de acessórios que, conjunta ou isoladamente, possibilitem sua fabricação, montagem ou emprego (BRASIL, 2018). Conforme apresentado acima, as alterações no crime de furto levadas ao Código Penal, aclaram a intenção de incluir condutas criminosas que anteriormente não haviam previsão na norma penal, em que a pena traz semelhança com a pena do roubo simples11, com a previsão de pena de 4 a 10 anos, em se tratando da pratica de furto nas situações acima descritas. Em se tratando do furto qualificado com emprego de explosivos, para Jesus (2020), tem-se o entendimento de que o explosivo se refere a substância ou 11De acordo com o Código Penal Brasileiro o roubo simples tem previsão no art. 157 - Subtrair coisa móvel alheia, para si ou para outrem, mediante grave ameaça ou violência a pessoa, ou depois de havê-la, por qualquer meio, reduzido à impossibilidade de resistência: Pena - reclusão, de quatro a dez anos, e multa” (BRASIL, 1940). http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Decreto-Lei/Del2848.htm#art155%C2%A74a http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Decreto-Lei/Del2848.htm#art155%C2%A77 33 material capaz de provocar liberação de grande energia, sendo ele homogêneo (fórmula de caráter explosivo como a nitroglicerina) ou heterogêneo (compostos quando separados não possuem o caráter explosivo como a pólvora), devendo como qualificadora tais explosivos ou análogos ter a capacidade de romper obstáculos. Segue Jesus (2020) noutra qualificadora, ao tratar do furto na ocasião em que é subtraído substâncias de caráter explosivo, ou substâncias que possam permitir a fabricação montagem ou emprego do material explosivo. A Lei 13.654 de 2018, no que tange as alterações referente ao roubo, traz abaixo tais modificações realizadas no Artigo 157 do Código Penal: Art. 157: Subtrair coisa móvel alheia, para si ou para outrem, mediante grave ameaça ou violência a pessoa, ou depois de havê-la, por qualquer meio, reduzido à impossibilidade de resistência:12 [...] § 2º A pena aumenta-se de 1/3 (um terço) até metade: I – (revogado); [...] VI – se a subtração for de substâncias explosivas ou de acessórios que, conjunta ou isoladamente, possibilitem sua fabricação, montagem ou emprego. [...] § 2º-A A pena aumenta-se de 2/3 (dois terços): I – se a violência ou ameaça é exercida com emprego de arma de fogo; II – se há destruição ou rompimento de obstáculo mediante o emprego de explosivo ou de artefato análogo que cause perigo comum. § 3º Se da violência resulta: I – lesão corporal grave, a pena é de reclusão de 7 (sete) a 18 (dezoito) anos, e multa; II – morte, a pena é de reclusão de 20 (vinte) a 30 (trinta) anos, e multa (BRASIL, 1940). A citada norma em seu § 2º, expõe a mesma preocupação para o aumentode pena de 1/3 a metade, com relação à subtração das substâncias explosivas também prevista na modalidade de furto, com a mesma intenção em aplicar pena mais pesada para o delito em questão. 12Importante salientar que o art. 157 do Código Penal Brasileiro, teve outra alteração, posterior a alteração ocorrida pela Lei 13.654 de 2018, em que a Lei 13.964 de 2919, trouxe em seu conteúdo normativo a inclusão do inciso VII do parágrafo 2º - em que abrange o uso da violência ou grave ameaça mediante o emprego de arma branca para os casos de aumento de pena de 1/3 até a metade, e também a inclusão do § 2º-B que prevê o emprego de arma de fogo de uso restrito ou proibido, no uso de violência ou grave ameaça, com a previsão da aplicação do dobro da pena descrita no caput do artigo (BRASIL, 1940). http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Decreto-Lei/Del2848.htm#art157%C2%A72. http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Decreto-Lei/Del2848.htm#art157%C2%A72i. http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Decreto-Lei/Del2848.htm#art157%C2%A72vi http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Decreto-Lei/Del2848.htm#art157%C2%A72a http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Decreto-Lei/Del2848.htm#art157%C2%A73.. 34 Já no § 2º-A - tem-se o aumento de 2/3 para os casos em que haja o emprego da arma de fogo no ato da violência ou grave ameaça, ou o rompimento de obstáculo mediante o emprego de explosivo, ou análogo. Quanto ao § 3º amplia a pena nos casos em que da violência resulte lesão corporal ou morte. Na próxima seção, será abordado com o devido aprofundamento a gênese das Organizações Criminosas nos séculos XIX e XX, bem como sua relação histórica e diferenciações com o Crime Organizado atual, ao apresentar o cangaço e o novo cangaço brasileiro. 3.3 DO CANGAÇO AO NOVO CANGAÇO Ao buscar entendimento quanto à conduta de Organizações Criminosas típicas da modalidade do ‘novo cangaço’, obrigatoriamente se arremete o estudo científico em pauta a idos do final do século XIX e início do século XX, de acordo com Apolinário e Filippetto (2016, p. 83), relacionando-se com o movimento do cangaço, que envolvia pessoas organizadas hierarquicamente que, sob o comando de Lampião (Virgulino Ferreira da Silva), saqueavam vilas e pequenas cidades e praticavam extorsão”. Ilustra Clemente (2007, p. 1) em sua obra, adiante: O cangaço desse período é definido na literatura para referir-se ao bandido que vive debaixo da canga, o complexo de armas sobrepondo-lhe o corpo, mas principalmente para referir-se a um modo específico de ação independente, em que o cangaceiro estaria subordinado apenas ao seu bando. Para Villela (2001, p. 146) “em função das alianças políticas, das relações pessoais entre os diversos grupos, um número significativo de pessoas passa a integrar as facções e a formar grupos armados. Estas pessoas são chamadas [...] cangaceiros”. Em ato contínuo, afiança Tavares (2013, p.16) que inicialmente “significava um grupo de homens armados a serviço de um fazendeiro, mas, a partir de 1900, os cangaceiros começaram a operar independentemente. Daí em diante é que a palavra ‘cangaceiro’ começou a ser usada”. O cangaço, com origens enraizadas na realidade do sertão nordestino, onde a grande seca de 1877 é o pano de fundo para o surgimento do cangaço. De 35 acordo com Gomes, Hackmayer e Primo (2008, p. 17), a seca arrasou o Nordeste, criou uma massa de flagelados, além de tumultos em várias regiões: vilas eram invadidas e os saques eram frequentes, destacam os autores: A revolta social implicou em atividades banditistas que se formavam espontaneamente e o caos social se instalava com a ocorrência de assaltos, sequestros, roubos a fazendas, comboios, comércios, cenário de um verdadeiro caos social. Tal desestruturação do sertão nordestino enfraqueceu o poder imposto pelos coronéis, que no intento de buscar evitar tal desestabilização passaram a promover a organização de bandos para impor a ordem local. Dos bandos surgiram os rebeldes, que além de agirem em favor dos Coronéis, também agiam em proveito próprio como forma de luta pela sobrevivência dado os problemas sociais e a dificuldade de acesso a terra (GOMES; HACKMAYER; PRIMO, 2008, p. 17). Ao ilustrar o cenário do cangaço, faz necessário depreender alguns conceitos a seguir: O coronel: o dono da terra; representa o legítimo árbitro social, mandando em todos (do padre à força policial), com o apoio integral da máquina do Estado. Contrariar o coronel, portanto, é algo a que ninguém se atreve. Volantes: para combater o Cangaço, esse novo fenômeno social, o Poder Público cria os “volantes”. Nestas forças policiais, os seus integrantes se disfarçavam de cangaceiros, tentando descobrir os seus esconderijos. Logo, ficava bem difícil saber ao certo quem era quem. Do ponto de vista dos cangaceiros, eles eram, simplesmente, os “macacos”. Jagunços ou capangas: aqueles assalariados que trabalham para os “coronéis” como vaqueiros, agricultores ou mesmo assassinos, defendendo com unhas e dentes os interesses do patrão, de sua família e de sua propriedade. Coiteiros: a polícia chama de “coiteiros” todas as pessoas que, de alguma forma, ajudam os cangaceiros. Os residentes no interior do sertão – moradores, vaqueiros e criadores, por exemplo – se inserem, também, nessa categoria (GOMES; HACKMAYER; PRIMO, 2008, p. 17, grifo do autor). Afirmam Gomes, Hackmayer e Primo (2008, p. 16) que a “revolução social que Virgulino aparentava defender, estava conivente com a própria elite agrária, que precisava dos bandos e de sua valentia para estabelecer a ordem social na então República Velha”. 36 De acordo com Clemente (2007, p. 2), Lampião, como era chamado Virgulino Ferreira da Silva, era o cangaceiro mais conhecido em seu tempo13, dada a construção voluntária de sua imagem perante a sociedade nordestina, ofertando entrevistas e fotografias dele e do bando que compunha, sendo também representante emblemático na relação com os coronéis da época, tendo se tornado chefe de cangaço por volta de 1920, reinou absoluto até 1938 quando, junto com Maria Gomes de Oliveira, a Maria Bonita, sua companheira, morreu em Angico, sertão de Sergipe. Destaca, também, Clemente (2007) que em 1940 morreu seu parceiro de cangaço, tido como o vingador de Lampião, o Cristino Gomes da Silva Cleto, conhecido como Corisco, levando à ruína o ciclo do cangaço. Tinha-se no cangaço uma realidade de extrema violência na conduta dos cangaceiros, e nesse sentido, importantes lições de Villela (201, p. 147): Procurava-se, como na guerra e na política, a desmobilização completa das forças do inimigo. Na impossibilidade total de matar pessoas, matavam-se animais, queimavam-se casas e cercas das propriedades rurais. Quando se podia matar gente, procurava-se os mais influentes, capazes de apoiar financeiramente, juridicamente, politicamente, a ação dos bandos armados da sua facção; ou então os mais valentes, responsáveis pela liderança do seu ou de vários bandos de homens armados. Além disso, segundo Villela (2001, p. 149-150) “alguns desses bandos eram acusados de arrombar e roubar casas, violar mulheres, [..] roubar armas, dinheiro e munição”. Acerca do que foi o cangaço, para Tavares (2013, p. 34) pode- se afirmar que “foi um fenômeno de homens armados que faziam do roubo, da vingança, da extorsão, e de outros delitos, seu meio de vida. Pode-se afirmar que o cangaço conhecido e desenvolvido nos moldes lampiônicos não existe mais”. Ao abordar o novo cangaço como Organização Criminosa, como o próprio nome faz alusão ao tradicional cangaço, assunto já apresentado anteriormente, tem- se o cabedal necessário para abordar essa conduta criminosa atual que assola vários Estados brasileiros, a começar pela vertente de Costa (2016, p. 5) descrita a adiante:13Os cangaceiros Jesuíno Brilhante (1844-1879) e Antônio Silvino (1875-1944) eram considerados cangaceiros famosos no ciclo do cangaço, no entanto, raramente se deixavam fotografar, condutas bem diferentes da que Lampião adotava, o qual investia na representação de sua imagem (CLEMENTE, 2007). 37 Apesar das semelhanças existentes entre as ações dos grupos de cangaceiros como os de Lampião e o ‘Novo Cangaço’, entre elas, ação voltada para pequenas cidades, grupo de 10 (dez) a 15 (quinze) pessoas, utilização de armas de fogo e reféns, saques e pilhagem, essas modalidades não devem ser confundidas, uma vez que Lampião e seu bando possuíam intrinsecamente motivação político pessoal, levando em consideração a vingança privada e a subversão à ordem estatal, concentrando suas ações e integrantes à realidade regional do sertão nordestino. Nesse mister, Costa (2016, p.5), aduz o entendimento de que o novo cangaço possui outro contexto finalístico, sendo que esses grupos criminosos são atrelados à lavagem de dinheiro, ao tráfico de drogas e de armas de fogo tomam de assalto instituições bancárias, públicas ou privadas, saqueando-as com o objetivo de fomentar e capitalizar investimentos em atividades aparentemente legais ou manifestamente ilícitas. Outra nítida diferenciação apontada por Costa (2016), trata-se dos componentes das Organizações Criminosas, a qual no cangaço, a formação dava-se pela afinidade e pelos laços sanguíneos entre eles, além de serem frutos de uma mesma realidade cultural. Já o novo cangaço tem a formação nítida de integrantes desvestidos de qualquer vínculo, onde as naturalidades são as mais diversas ou até mesmo não se conhecem, em que o objetivo busca apenas o cometimento do evento delituoso, assim, destaca o autor: Esse novo modelo de organização criminosa permite a formação de diversos grupos não necessariamente vinculados a uma estrutura piramidal e hierárquica, mas sim com a divisão em diversas células, cada qual com função específica, que interagem conforme o momento da prática criminosa. [...] mesmo reclusos no sistema prisional, os criminosos continuam com seu poder de comando, uma vez que articulam novas ações delituosas com comparsas em liberdade, aliciam novos integrantes e se beneficiam com parte do dinheiro roubado, seja para manutenção de suas famílias, pagamento de advogados, corrupção de funcionários públicos e investimento em outras ações criminosas, atuando preponderantemente no tráfico de drogas e de armas, sequestros, roubos a bancos e cargas. (COSTA, 2016, p. 6). Na próxima seção, serão apresentadas medidas adotadas conforme suas disposições no ordenamento jurídico brasileiro, como resposta ao enfrentamento às Organizações Criminosas, qual seja, com o intuito de combater um dos pilares do 38 Crime Organizado, como forma de enfraquece-lo, através de ações Estatais que buscam quebrar o poder econômico de tais organizações. 3.4 A QUEBRA DO PODERIO ECONÔMICO CRIMINOSO, COMO FORMA DE COMBATER O CRIME ORGANIZADO É comumente utilizado no ordenamento jurídico brasileiro, como forma de buscar enfraquecer o Crime Organizado, no intuito de quebrar o poderio econômico das Organizações Criminosas, com vistas a combater um dos grandes pilares de sustentação do Crime Organizado, algumas medidas judiciais previstas no sistema normativo nacional que foram ao logo dos anos desenvolvidas, no intuito de oferecer ao Estado, mecanismos capazes de fazer frente à realidade na qual às Organizações Criminosas se inserem, as quais seguem adiante no presente estudo científico. 3.4.1 Sequestro de bens móveis e imóveis O sequestro de bens móveis e imóveis tem sua previsão legal no Código de Processo Penal (CPP) brasileiro com previsão no Decreto-Lei 3.689 de 03 de outubro de 1941, em seu capitulo VI, concernente às medidas assecuratórias, o qual faz parte de medidas cautelares que visam assegurar os direitos do ofendido e a responsabilização pecuniária do criminoso, sendo que de acordo com o art. 126 – “Para a decretação do sequestro, bastará a existência de indícios veementes da proveniência ilícita dos bens” (BRASIL, 1941). Ao ancorar no art. 13314 caput do Código de Processo Penal, garante que após o trânsito em julgado da sentença condenatória, “o juiz, de ofício ou a requerimento do interessado ou do Ministério Público, determinará a avaliação e a venda dos bens em leilão público cujo perdimento tenha sido decretado”, vindo ainda a salientar em seu § 1º15 que “do dinheiro apurado, será recolhido aos cofres públicos o que não couber ao lesado ou a terceiro de boa-fé”, bem como no § 2º16 que prevê o 14O Código de Processo Penal foi alterado em seu Artigo 133, através da redação prevista na Lei 13.964, de 24 de dezembro de 2019. 15O § 1º do art. 133 do Código de Processo Penal foi incluído pela Lei 13.964 de 24 de dezembro de 2019. 16O § 2º do art. 133 do Código de Processo Penal foi incluído pela Lei 13.964 de 24 de dezembro de 2019. 39 recolhimento do valor apurado no fundo penitenciário nacional, exceto na condição em que houver alguma outra previsão em lei especial. Nas palavras de Mendes e Martinez (2020, p. 72), cabe ressaltar que como incremento no art. 133, a “principal alteração no caput é a inclusão expressa do Ministério Público como legitimado ativo”. No art. 133-A, também contemplado dentre o rol de inovações abarcadas pela Lei 13.964 de 2019, que alteraram o CPP aduz a seguinte previsão: Art. 133-A. O juiz poderá autorizar, constatado o interesse público, a utilização de bem sequestrado, apreendido ou sujeito a qualquer medida assecuratória pelos órgãos de segurança pública previstos no art. 144 da Constituição Federal, do sistema prisional, do sistema socioeducativo, da Força Nacional de Segurança Pública e do Instituto Geral de Perícia, para o desempenho de suas atividades. [...] § 3º Se o bem a que se refere o caput deste artigo for veículo, embarcação ou aeronave, o juiz ordenará à autoridade de trânsito ou ao órgão de registro e controle a expedição de certificado provisório de registro e licenciamento em favor do órgão público beneficiário, o qual estará isento do pagamento de multas, encargos e tributos anteriores à disponibilização do bem para a sua utilização, que deverão ser cobrados de seu responsável. § 4º Transitada em julgado a sentença penal condenatória com a decretação de perdimento dos bens, ressalvado o direito do lesado ou terceiro de boa-fé, o juiz poderá determinar a transferência definitiva da propriedade ao órgão público beneficiário ao qual foi custodiado o bem (BRASIL, 1941). Nota-se, com a inovação do art. 133-A no CPP trazido pela Lei 13.964 de 2019, o intento da norma em disciplinar a utilização de maneira aberta e clara. Nesse sentido, destaca Nucci (2020, p. 68) que “Imagine-se a apreensão de armas de grosso calibre. [...] o juiz poderá autorizar seu uso pelos órgãos de Segurança Pública. Nada mais racional e razoável”. Em continuidade, de acordo com Nucci (2020, p. 68) “Abrange a nova Lei, também, veículo, embarcação ou aeronave. [...] Transitada em julgado a decisão condenatória, esses bens podem ser incorporados definitivamente à propriedade do órgão público”. O Juiz de Direito em sua própria avaliação tem o condão de determinar, conforme o art. 144-A do CPP17, “alienação antecipada para preservação do valor dos bens sempre que estiverem sujeitos a qualquer grau de deterioração ou depreciação, 17O art. 144-A do Código de Processo Penal, foi acrescido pela lei 12.694 de 24 de julho de 2012. http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Decreto-Lei/Del3689.htm#art133a http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Constituicao/Constituicao.htm#art144 40 ou quando houver dificuldade para sua manutenção”, inclusive mediante a
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