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BENVINDO ZUBA DE SOUZA JUNIOR A EXPANSÃO ESPACIAL E A MOBILIDADE URBANA EM CIDADES MÉDIAS: O CASO DE MONTES CLAROS/MG UNIVERSIDADE ESTADUAL DE MONTES CLAROS – UNIMONTES MONTES CLAROS / MG Agosto/2016 2 BENVINDO ZUBA DE SOUZA JUNIOR A EXPANSÃO ESPACIAL E A MOBILIDADE URBANA EM CIDADES MÉDIAS: O CASO DE MONTES CLAROS/MG UNIVERSIDADE ESTADUAL DE MONTES CLAROS – UNIMONTES MONTES CLAROS / MG Agosto/2016 Dissertação de Mestrado apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Geografia da Universidade Estadual de Montes Claros, como parte dos requisitos para obtenção do título de Mestre em Geografia. Área de concentração: Dinâmica e Análise Espacial Linha de Pesquisa: Produção dos Espaços Urbanos e Rurais Orientador (a): Dr.ª Anete Marília Pereira 3 Catalogação: Biblioteca Central Professor Antônio Jorge S719e Souza Junior, Benvindo Zuba de. A expansão espacial e a mobilidade urbana em cidades médias [manuscrito] : o caso de Montes Claros/MG / Benvindo Zuba de Souza Junior. – Montes Claros, 2016. 148 f. : il. Bibliografia: f. 139-144. Dissertação (mestrado) - Universidade Estadual de Montes Claros - Unimontes, Programa de Pós-Graduação em Geografia/PPGEO, 2016. Orientadora: Profa. Dra. Anete Marília Pereira. 1. Cidades médias – Montes Claros (MG). 2. Expansão urbana - Espacial. 3. Sistema viário. 4. Mobilidade urbana. I. Pereira, Anete Marília. II. Universidade Estadual de Montes Claros. III. Título. IV. Título: O caso de Montes Claros/MG. 4 BANCA EXAMINADORA ______________________________________________________________________ Prof.ª Dr.ª Anete Marília Pereira (Unimontes) (Orientadora) ______________________________________________________________________ Prof.ª Dr.ª Iara Soares de França (Unimontes) ______________________________________________________________________ Prof. Dr. William Rodrigues Ferreira (UFU) Dissertação defendida e aprovada em 31 de agosto de 2016 5 Para Montes Claros e seus citadinos. 6 AGRADECIMENTOS Ao Programa de Pós-Graduação em Geografia – PPGEO/Unimontes, por ter me acolhido entre os seus discentes. À Capes – Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior, pelo programa de estágio no nível superior, que me permitiu ampliar a prática docente e pela concessão de bolsa, que me auxiliou na execução desta pesquisa. Aos professores do PPGEO que contribuíram em suas disciplinas com a fundamentação teórico-metodológica desta pesquisa. Aos professores que participaram da banca de qualificação e que apresentaram importantes e indispensáveis considerações para o resultado final deste, Prof.ª Dr.ª Iara Soares de França e Prof. Dr. Marcos Esdras Leite. Ao Prof. Dr. William Rodrigues Ferreira da Universidade Federal de Uberlândia, por ter aceitado o convite de compor esta banca examinadora. Em especial à Prof.ª Dr.ª Anete Marília Pereira, por ter me acolhido como seu orientando, por todas suas contribuições e conselhos, pela serenidade em sua orientação e acima de tudo pelo respeito e confiança que sempre demonstrou para comigo, mesmo diante de minhas falhas e limitações. Ao laboratório de geoprocessamento pelo fornecimento das bases cartográficas e pelo apoio na confecção dos mapas, de modo particular ao mestrando André Medeiros Rocha, integrante do laboratório, por sua disponibilidade e prontidão em colaborar. Aos demais professores do departamento de geociências, colegas do PPGEO e amigos por suas indicações, pela troca de informações e pelo apoio nos mais diversos momentos. Aos colegas da Escola Estadual Professor Plínio Ribeiro, em especial àqueles que me apoiaram e vivenciaram comigo o processo de entrada no PPGEO. Por fim, à minha família, por todos os momentos que estiveram presentes e também pela compreensão dos períodos que estive ausente. 7 Todo objeto tem dupla dimensão: a espacial e a temporal. [...] A relação homem-meio movimento dialético de transformação recíproca de conteúdo e forma, equivalente de tempo e espaço, porque de continuidade e descontinuidade. (Ruy Moreira, 2007, p.66) 8 RESUMO O presente trabalho discute a funcionalidade das cidades médias a partir de seu poder concentrador, a sua expansão espacial e as implicações sobre a mobilidade urbana, tomando como escopo os processos espaciais que se desenrolam em decorrência de seus fluxos. As cidades tomam relevo no processo de urbanização contemporâneo e suas funcionalidades se relacionam cada vez mais aos fluxos demográficos e econômicos no que concerne aos espaços não metropolitanos. Nesse contexto a dissertação apresenta uma breve discussão sobre a produção do espaço urbano, a noção de cidades médias e a expansão urbana, onde se adentra nas alterações transcorridas na malha urbana da cidade média de Montes Claros a partir da década de 1970, passando pela década de 1980, da inserção da cidade no Programa de Cidades de Porte Médio, até o período atual, considerando os estudos publicados, a conjuntura da urbanização e as legislações aplicadas. A posteriori é discutida a configuração espacial do sistema viário considerando os estudos desenvolvidos sobre a relação entre o traçado viário, a morfologia urbana e a mobilidade, analisando o caráter funcional das vias e identificando a tradição do projeto urbano, em que é desconsiderada uma série de variáveis urbanas e dos modos de planejamento. Por conseguinte e discutido os índices de mobilidade na cidade, a partir da análise do tempo de deslocamento em uma intersecção com os dados de renda, de acordo com as áreas de ponderação do IBGE. Por fim se tem a apresentação das diretrizes do Plano Diretor e das intervenções em curso ou que se fazem necessárias a partir da leitura do espaço presente, de forma que se possa contribuir na melhoria do sistema viário, da infraestrutura de circulação e do sistema de transporte coletivo, para a obtenção de um sistema de mobilidade urbana eficiente e sustentável. Palavras-chave: cidades médias, expansão urbana, sistema viário, mobilidade urbana, Montes Claros. 9 ABSTRACT This article discusses the functionality of the medium-sized cities from its power hub, its spatial expansion and the implications on urban mobility, taking as scope the spatial processes that take place due to their flows. Cities take relief in the contemporary urbanization process and its features relate increasingly to the demographic and economic flows in respect of non-metropolitan areas. In this context the paper presents a brief discussion of the production of urban space, the notion of medium-sized cities and urban expansion, where it enters the changes elapsed in the urban average city of Montes Claros from the 1970s through the decade 1980, the inclusion of the city in Midsize Cities program, to the current period, considering the published studies, the context of urbanization and the applied legislation. The post discusses the spatial configuration of the road system considering the studies conducted on the relationship between the road layout, urban morphology and mobility, analyzing the functional character of the system and identifyingthe tradition of urban design, it is disregarded a series of urban variables and planning modes. Therefore discussed and mobility rates in the city, from the analysis of travel time at an intersection with the income data, according to the IBGE weighting areas. Finally you have the presentation of the Master Plan guidelines and ongoing operations or that are necessary from the reading of this space, how it can contribute to the improvement of the road system, traffic infrastructure and transport system collective, to obtain an efficient and sustainable urban mobility system. Keywords: medium-sized cities, urban expansion, road system, urban mobility, Montes Claros. 10 LISTA DE FIGURAS Figura 1: Modelo de estrutura e desenvolvimento das cidades latino-americanas .........21 Figura 2: Evolução da dispersão de cidades de Porte Médio – 1970 > 2010..................29 Figura 3: Mapa da área de influência de Montes Claros.................................................36 Figura 4: Mapa das conexões externas realizadas por Montes Claros............................37 Figura 5: Mapa de Localização de Montes Claros..........................................................38 Figura 6: Campanha Publicitária do Loteamento Terra Jardim .....................................47 Figura 7: Expansão Urbana de Montes Claros (1970 – 2015)........................................48 Figura 8: Loteamentos Cidade Jardim (Leste) e Pampulha Tênis (Norte) .....................50 Figura 9: Condomínio Vertical Parque Monte Fiore, Região Leste ...............................50 Figura 10: Residencial Sul...............................................................................................51 Figura 11: Mapa Evolução Urbana de Montes Claros (1970 – 2015).............................54 Figura 12: Empreendimento do PMCMC – Residencial Vitória....................................55 Figura 13: Círculo vicioso da mobilidade urbana...........................................................56 Figura 14: Esquema de traçado radial nas vias de trânsito ............................................58 Figura 15: Mapa do Sistema Viario de Montes Claros ................................................. 59 Figura 16: Intersecção das Ruas Tiradentes e João Souto, Centro .................................60 Figura 17: Teste de ônibus articulado na área central ....................................................61 Figura 18: Av. Mestra Fininha Silveira, Região Centro-Sul de Montes Claros .............65 Figura 19: Mapa da distribuição espacial das linhas de ônibus em Montes Claros........70 Figura 20: Mapa da rota das linhas de ônibus operadas pela empresa Transmoc...........73 Figura 21: Mapa da rota das linhas de ônibus operadas pela empresa Princesa.............74 11 Figura 22: Serviço de Táxi em Montes Claros ...............................................................78 Figura 23: Mapa das Áreas de Ponderação – Montes Claros (IBGE) ............................79 Figura 24: Mapa do padrão de deslocamento em Montes Claros ..................................84 Figura 25: Interação Matrix ............................................................................................89 Figura 26: Fábrica da Coteminas e Projeto de Instalação de Shopping .........................92 Figura 27: Antiga Fábrica da Sion e atual Rede Villefort ..............................................93 Figura 28: Metodologia de avaliação de impactos de um PGT no tráfego ....................97 Figura 29: Imagem de Satélite do PGT do Montes Claros Shopping...........................100 Figura 30: PGT do Montes Claros Shopping ...............................................................101 Figura 31: Estação de integração do MOVE e ônibus articulado do sistema................104 Figura 32: Vazio urbano identificado............................................................................108 Figura 33: Descontinuidade viária identificada na região leste.....................................109 Figura 34: Vista parcial da região Leste .......................................................................110 Figura 35: Área de descontinuidade viária na região centro-sul...................................111 Figura 36: Veículo articulado no centro de Montes Claros/Praça Dr. Carlos Versiani..........................................................................................................................113 Figura 37: Avenida Geraldo Athayde............................................................................114 Figura 38: Modelo de abrigo de ônibus em Montes Claros .........................................116 Figura 39: Trecho da Linha férrea na área central........................................................117 Figura 40: Acidentes registrados na linha férrea..........................................................118 Figura 41: Sistema de Informações nos abrigos de ônibus ..........................................119 Figura 42: Calçadas na área central...............................................................................121 Figura 43: Ponte sobre linha férrea na Av. Minas Gerais.............................................122 12 Figura 44: Modificações na Avenida Sidney Chaves....................................................123 Figura 45: Readequação viária da Avenida Lincoln Santos..........................................124 Figura 46: Abertura e pavimentação da Av. Pai João e construção de calçadão...........124 Figura 47: Construção da Alameda Ibituruna................................................................124 Figura 48: Calçadas na área central...............................................................................126 Figura 49: Calçada readequada na intersecção das Ruas Dr. Santos e D. João Pimenta..........................................................................................................................126 Figura 50: Implantação de sinalização semafórica na Av. Antônio L. Rabelo.............127 Figura 51: Faixa de pedestre apagada............................................................................128 Figura 52: Sinalização semafórica Rua Pires e Albuquerque........................................128 Figura 53: Obras de recapeamento e pavimentação......................................................129 Figura 54: Quarteirão sem pavimentação asfáltica na região leste...............................130 Figura 55: Rua sem pavimentação frente área de construção do CEMEI.....................130 Figura 56: Viaduto José Souto (Roxo Verde)...............................................................131 Figura 57: Trecho sem infraestrutura da Av. Antônio Lafetá Rabelo...........................132 13 LISTA DE TABELAS E GRÁFICOS Tabela 1: População Total e Estimada de Montes Claros (2000 – 2015) ...................... 34 Tabela 2: Maiores municípios de Minas Gerais ............................................................ 35 Tabela 3: Evolução do PIB de Montes Claros 2010 – 2013.......................................... 41 Tabela 4: Crescimento da mancha urbana de Montes Claros 1970 – 2015.....................52 Gráfico 1: Frota de Veículos em Montes Claros (2014).................................................64 Gráfico 2: Faixas de Renda em Montes Claros – Áreas de Ponderação.........................75 Gráfico 3: Tempo de Deslocamento em Montes Claros – Áreas de Ponderação........... 80 Tabela 5: Níveis percentuais do tempo de deslocamento por área em Montes Claros...81 Quadro 1: Linhas de Ônibus urbano de Montes Claros/MG...........................................71 Quadro 2: Classificação dos PGT‟s em Montes Claros..................................................96 Quadro 3: Composição das Vias Urbanas.....................................................................12014 LISTA DE SIGLAS ABO – Associação Brasileira de Odontologia AMAMS – Associação dos Municípios da Área Mineira da Sudene ANTP – Agência Nacional de Transporte Terrestre ATCMC – Associação de Transporte Coletivo Urbano de Montes Claros BRT – Bus Rapid Transit CNH – Case New Holand CTB – Código de Trânsito Brasileiro DENATRAN – Departamento Nacional de Trânsito ECMT – Conferência Europeia dos Ministros dos Transportes FACIT – Faculdade de Ciência e Tecnologia FACOMP – Faculdade de Ciências da Computação FAP – Faculdade Prisma FASI – Faculdade de Saúde Ibituruna FAVENORTE – Faculdades Verde Norte FCA – Ferrovia Centro Atlântica FIPMOC –Faculdades Integradas Pitágoras FJP – Fundação João Pinheiro FSA – Faculdades Santo Agostinho FUNORTE – Faculdades Unidas do Norte IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística ICA/UFMG – Instituto de Ciências Agrárias da Universidade Federal de Minas Gerais IFNMG – Instituto Federal do Norte de Minas IPTU – Imposto Predial Territorial Urbano MCTRANS – Empresa de Educação, Planejamento e Gestão do Trânsito de Montes Claros 15 OAB – Ordem dos Advogados do Brasil OD – Origem Destino PGT – Polo gerador de tráfego PMCMV – Programa Minha Casa Minha Vida PMMC – Prefeitura Municipal de Montes Claros PNMU – Política Nacional de Mobilidade Urbana RITUR – Relatório de impacto sobre o trânsito urbano SAMU – Serviço de Atendimento Móvel de Urgência SIG – Sistema de Informações Geográficas SUDENE – Superintendência de Desenvolvimento do Nordeste SUS – Sistema Único de Saúde UNIMONTES – Universidade Estadual de Montes Claros UNIPAC – Universidade Presidente Antônio Carlos UNIUBE – Universidade de Uberaba UNOPAR – Universidade Norte do Paraná VLT – Veículo Leve sobre Trilhos ZT – Zona de Tráfego II PND – II Plano Nacional de Desenvolvimento 16 SUMÁRIO INTRODUÇÃO .......................................................................................................................... 18 1. Montes Claros – Expansão urbana de uma cidade média e a problemática do sistema viário ........................................................................................................................................... 27 1.1 Contextualização ................................................................................................................... 27 1.2. Conceituando a produção espacial e a noção de cidades médias ......................................... 27 1.3. Montes Claros enquanto cidade média no contexto regional ............................................... 33 1.4. Caracterizando o município de Montes Claros .................................................................... 37 1.5.1 A Expansão Urbana em Foco ............................................................................................. 42 1.5.2 O contexto atual da expansão urbana..................................................................................46 1.6 A Formatação do Sistema Viário de Montes Claros..............................................................57 2. Fluxos e deslocamento no espaço urbano – Infraestrutura de circulação e mobilidade urbana.........................................................................................................................................62 2.1 Frota veicular e o trânsito em Montes Claros.........................................................................63 2.2 O transporte coletivo em Montes Claros................................................................................67 2.3 Serviço de Táxi em Montes Claros........................................................................................76 2.4 Os Índices de Mobilidade de acordo com as áreas de ponderação do IBGE em Montes Claros............................................................................................................................................79 2.5 Os PGT‟s – Polos Geradores de Tráfego...............................................................................91 2.5.1 Parâmetros para projetos de pólos geradores de tráfego.....................................................94 2.5.2 Planejamento dos Polos Geradores de Impacto...................................................................97 3. Pressupostos paradigmáticos e normatização – Legislação e aplicabilidade das políticas de mobilidade urbana em Montes Claros..............................................................................102 3.1 A Política Nacional de Mobilidade Urbana..........................................................................102 3.2 Princípios, diretrizes e objetivos da Política Nacional de Mobilidade Urbana....................103 3.3 O Plano Diretor de Montes Claros e a Mobilidade Urbana..................................................106 3.3.1 Análise das Diretrizes de Mobilidade Urbana do Novo Plano Diretor – 2015.................106 3.3.1.1 Das Diretrizes gerais.......................................................................................................106 17 3.3.1.2 – Do Sistema de Transporte Público..............................................................................112 3.3.1.3 – Do Sistema Viário.......................................................................................................120 3.4 Programa de Mobilidade Urbana da Prefeitura de Montes Claros.......................................133 CONSIDERAÇÕES FINAIS .................................................................................................... 135 REFERÊNCIAS ........................................................................................................................ 139 ANEXO ..................................................................................................................................... 145 18 INTRODUÇÃO No contexto do mundo globalizado, a progressão tecnológica e científica associada à circulação acelerada das informações produz um espaço cada vez mais denso e complexificado, em que o papel das cidades tem destaque. Em um primeiro momento as metrópoles são o território dessas transformações e os estudos realizados sobre os sistemas urbanos brasileiros têm nestas o seu foco. Todavia, com o alargamento da mundialização econômica, cada vez mais as cidades médias têm destaque. Não obstante, as problemáticas intrínsecas ao tecido urbano metropolitano são observadas com maior frequência nos espaços não metropolitanos. É preciso destacar o modo de urbanização e o papel dos fenômenos correlatos na formatação das cidades, considerando-se para as dos países não desenvolvidos o forte contingente migratório propiciado pelo êxodo rural. Segundo Santos (2008) é comum afirmar-se que a atração urbana se dá por ordem psicológica, sendo este mais do que um receptáculo, um pólo de atração (em que o push-factor é superior ao pull-factor). Entretanto, outras condicionantes entre elas as de ordem demográfica e econômica dão relevo ao papel do push-factor, onde se inserem os desequilíbrios econômicos entre o meio rural e o urbano. Os aspectos citados se relacionam com a constituição da centralidade urbana, para Carlos (2011), segmentada social e funcionalmente, dispersa no território e difusa na representação elaborada da própria cidade e da rede urbana, visto que a centralidade pode ser compreendida e apreendida em múltiplas escalas. Dentro dessa multiplicidade escalar, as cidades médias e suas especializações nos auxiliam a interpretar a organização espacial do mundo globalizado. No que concerne à função das cidades médias dentro deste processo, Pereira sinaliza que: [...] o papel exercido por essas cidades no mundo globalizado também sofre alterações quedevem ser avaliadas. Qualidade de vida, desenvolvimento científico e tecnológico, mão-de-obra disponível, incentivos governamentais são alguns dos elementos que passaram a ser divulgados como atrativos e que alteram a realidade dessas cidades. São, assim, cidades pensadas em termos do seu significado diante das transformações demográficas ou diante do seu padrão de crescimento. (PEREIRA, 2005, p. 2). 19 Embora os processos, dinâmicas e fenômenos urbanos se evidenciem com força e complexidade nas metrópoles, estes não são restritivos as mesmas. Entender as funções das cidades médias colabora para a compreensão da urbanidade contemporânea, uma vez que, segundo Oliveira (2008), suas funcionalidades na rede urbana estão associadas diretamente ao consumo de mercadorias, demarcando, assim, seus papéis na divisão territorial do trabalho e na definição dos fluxos de e para as cidades médias. Em se tratando dos fluxos, estes compõem um sistema de objetos e ações e são indissociáveis aos fixos, como explica Santos: O espaço disso resultante pode ser tratado como um conjunto inseparável de fixos e fluxos. Se a definição de fixos vem da qualidade e quantidade (ou densidade) técnicas que encerram, a definição dos fluxos deriva da sua qualidade de seu peso políticos. Tal oposição é necessária. Ela é, mesmo, indispensável, para distinguir entre o processo imediato de produção, cuja definição é técnica, e as outras circunstâncias: circulação, distribuição, consumo, cuja definição é cada vez mais do domínio político. (SANTOS, 2007, p. 142). Na atualidade, por causa da complexidade da sociedade urbana, é possível que a Geografia da Circulação, Transportes e Logística estude uma multiplicidade de enfoques e utilize variadas metodologias. As tendências não podem ser negligenciadas, porém, por outro lado, diversos enfoques metodológicos e conceituais, “caros” à Geografia, não precisam ser abandonados, como as noções de totalidade que o termo “circulação traz”. Bourdin (2005), citado por Sposito (2011), destaca a importância do aumento da mobilidade como um elemento fundamental para se compreender a tendência à individualização da sociedade, tratando desse tema no que se refere às escolhas habitacionais, ao consumo, ao lazer, às atividades esportivas, entre outas, enfim, a todos os tipos de práticas socioespaciais que constituem parte do movimento de reestruturação do espaço urbano. A segregação socioespacial se evidencia a partir dessas “escolhas”, interferindo diretamente na mobilidade urbana, o que é abordado por Sposito: Os espaços da vida econômica e social de uns não são os mesmos que de outros, se tomamos, por exemplo, como referência os que se utilizam de transporte automotivo individual e os que se deslocam por transporte coletivo ou a pé. Assim, a centralidade também se segmenta porque não há níveis 20 significativos e circunstâncias freqüentes em que haja coincidência territorial entre as práticas socioespaciais de segmentos de diferente poder aquisitivo. (SPOSITO, 2011, p. 140). Villaça (2011) avança nessa discussão ao afirmar que a segregação não se manifesta apenas nas áreas residenciais, mas, sobretudo nas áreas de trabalho, de modo que ambas se superpõem no espaço urbano, facilitando assim o deslocamento cotidiano dos habitantes de alta renda entre os locais de moradia e os de trabalho. Em contrapartida, as famílias de baixa renda são obrigadas a realizar longos deslocamentos entre a residência e o trabalho dado a localização dos mesmos, evidenciando assim a relação entre os transportes (mobilidade urbana) e a segregação socioespacial. A segregação é dessa forma um processo necessário para que haja dominação do espaço urbano, conforme explicita Villaça: Uma das manifestações dessa dominação é o domínio exercido sobre o mercado (especialmente sobre o mercado imobiliário), de maneira a fazer com que áreas residenciais das camadas de alta renda e suas áreas de trabalho sejam misturadas [...] de maneira a minimizar os deslocamentos entre os locais de moradia e os locais de trabalho. Chegamos assim aos pontos de Origem (O) e Destino (D) das viagens urbanas, ou seja, de um lado, há os locais de moradia e, de outro lado, há locais de trabalho (concentrações de indústrias, de comércio e de serviços). (VILLAÇA, 2011, p. 378) Há de se considerar que não é apenas a localização dos pontos “O” e “D” que impactam os deslocamentos diários dos habitantes de uma cidade, uma vez que tais deslocamentos incluem o fator tempo e o fator custo, seja pelos veículos utilizados (transporte particular ou transporte público) e o sistema viário que atende determinada população. Em se tratando da mobilidade, Silveira (2011) expõe que em sua análise deve-se tomar cuidado com a coerência metodológica e teórica a fim de se encontrar uma totalidade, validando assim uma soma concreta ao invés de fragmentações, considerando para tal todos os componentes que envolvem a geografia da circulação: acessibilidade, distância, velocidade, mobilidade geográfica ou espacial, cadeia de transporte (intermodalidade e multimodalidade), custo de transportes, sistema de transportes (movimento), redes de transportes e fluxos. Considerando as transformações passadas pelas cidades até o século XXI, em específico, da América Latina, têm-se noção da complexidade deste espaço que salvo 21 exceções se desenvolveu organicamente, com um planejamento direcionado, desacompanhado de uma política de trânsito e mobilidade urbana eficazes, em um espaço cada vez mais fragmentado e segregado, conforme a figura 1. Figura 1 – Modelo de estrutura e desenvolvimento das cidades latino-americanas Fonte: BORSDOF (2007, p. 3), adaptado por MESQUISTA (2008). O modelo da estrutura e desenvolvimento das cidades latino-americanas proposto por Borsdof (2007) se apresenta como uma generalização da realidade, podendo desconsiderar alguns aspectos inerentes ao desenvolvimento particular de algumas cidades, ao longo dos últimos séculos. No mesmo, verifica-se um novo estágio de desenvolvimento recente, em que os condomínios fechados aparecem como um fenômeno das últimas décadas e são característica da intensificação da segregação socioespacial e da dispersão de elementos da estrutura urbana, antes tradicionalmente concentradas (indústria, comércio, serviços), agora fragmentadas. A nova tendência (de fragmentação) pode ser vista, como resultante do processo de globalização econômica. Quanto mais as unidades urbanas aumentam de dimensão mais as relações internas tomam importância. Assim, novas formas urbanas são geradas tendo como agente 22 modelador o progresso técnico nos transportes (CASTELLS, 2006). Daí a importância de se verificar a situação desse sistema que influencia diretamente a vida urbana. No que concerne aos estudos desenvolvidos sobre a relação entre o traçado viário e a morfologia urbana, estes não aprofundam a respeito da mobilidade, circunscrevendo-se a analisar este aspecto como resultante do caráter funcional das vias. Tal fato se referenda a partir da reduzida tradição do projeto urbano, em que é desconsiderada uma série de variáveis urbanas, onde se insere o alargamento da mancha urbana a partir de loteamentos irregulares nas periferias e de outras práticas espaciais. Nesse contexto, Gadret (1969) explicita que o sistema de ruas, praças, avenidas e demais logradouros públicos constitui a rede viária da cidade e a disposição dessa rede, o padrão que forma em planta, confere a uma cidade características gerais que lhe permite ser classificada, precisa ou aproximadamente inteira ou parcialmente, em seis tipos de traçado: ortogonal, radial-circular, radial-irregular, irregulares e mistos de traçados, cidades lineares e racionalmente planejados. É preciso se atentar que o trânsito não significa apenas utilizar a viaterrestre. Trata-se, em verdade, de fenômeno complexo, como discorre Honorato (2009), que exige estudos científicos, decisões dos tribunais, eficiência médica e um conjunto de habilidades executadas simultaneamente pelos condutores de veículos, que precisam estar atentos e em condições de perceber, avaliar e agir adequadamente a cada nova situação surgida. A relevância deste trabalho habita na discussão acadêmica de um tema desafiador aos gestores do espaço urbano, que diz respeito e é de interesse de todos, dado a mobilidade ser um ato intrínseco a ação humana e uma necessidade precípua social e economicamente, mas que é dificultada por uma série de processos, onde se inserem o não planejamento, a infraestrutura deficitária e a segregação. Não obstante, o estudo tem acuidade ao discutir as transformações espaciais que implicam diretamente na qualidade de vida dos habitantes da cidade. Os sistemas de transportes constituem, indubitavelmente, um dos elementos mais importantes para o desenvolvimento de uma cidade. Uma rede de transportes eficiente é fator primordial tanto para a circulação da economia, quanto para o deslocamento populacional. No que concerne ao último, o transporte coletivo urbano reveste-se de grande relevância e, muito mais do que simplesmente transportar pessoas, organiza o 23 espaço urbano, viabiliza empreendimentos imobiliários, tais como residenciais, comerciais e de lazer, melhora a situação ambiental, reduz acidentes, torna o trânsito mais fluido, reduz atrasos e o absenteísmo da mão de obra e produz riquezas, apropriadas, pelos mais diversos setores econômicos, inclusive o privado. O planejamento de políticas de mobilidade urbana e a aplicação de legislação vigente, bem como o gerenciamento do transporte urbano são de basilar importância para a gestão da ocupação das cidades, alocação de acessibilidade e redução dos entraves manifestados no trânsito. O desafio que se coloca sobre o trânsito das cidades é de promover a mobilidade dos habitantes de forma segura e eficaz, diante da priorização pelo transporte individual em detrimento do transporte coletivo, em um espaço já saturado e que não comporta novos veículos, concomitante ao não investimento público nos transportes de massa e na infraestrutura de trânsito. A pesquisa procura responder as seguintes indagações: Qual a relação entre a expansão urbana de Montes Claros e a problemática da mobilidade urbana? Quais as características do traçado viário, da infraestrutura e da morfologia urbana de Montes Claros e suas resultantes no tráfego urbano? Qual a relação da segregação socioespacial e o deslocamento dos habitantes na cidade, a partir de seus fluxos? Quais as políticas voltadas pra mobilidade urbana, onde se inclui melhoria da infraestrutura, acessibilidade, transporte coletivo e planejamento de trânsito que são desenvolvidas ou podem ser aplicadas na cidade? Este trabalho teve por objetivo analisar a expansão do espaço intra-urbano da cidade de Montes Claros e sua correlação com os fluxos de deslocamento, no que concerne a mobilidade urbana. Por conseguinte, constituíram os objetivos específicos: identificar a constituição de novas formas urbanas, onde se insere o processo de fragmentação espacial, a infraestrutura viária e a organização do trânsito, seus entraves e suas resultantes sobre os deslocamentos dos habitantes; analisar as políticas de mobilidade urbana apresentadas e o planejamento infraestrutural e operacional em consonância com a legislação vigente, no que se refere ao arranjo, gestão, fiscalização e garantia da mobilidade dos citadinos. O proceder metodológico se pautou no método dedutivo, a partir da pesquisa bibliográfico-documental e de fontes institucionais, em uma abordagem quantitativa e 24 qualitativa. No que concerne ao referencial teórico, a pesquisa bibliográfica se deu na primeira etapa delimitada do trabalho e, por conseguinte, para produção de reflexões e fundamentação científica, trabalhando-se com a geografia urbana e a geografia dos transportes e circulação em um diálogo com a sociologia urbana tendo por base estudos realizados por CARLOS (2011); CASTELLS (2006); CÔRREA (2006); SANTOS (2007, 2008); SPOSITO (2011); VILLAÇA (2011). Para analisar a expansão do espaço urbano de Montes Claros, os desdobramentos sobre o sistema de trânsito e a mobilidade urbana foram utilizados os dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística – IBGE, a fim de identificar os perfis demográfico, social e econômico da cidade de Montes Claros, a partir de estabelecimento de análise comparativa entre o ano de 2005 e 2015, bem como os dados do Departamento Nacional de Trânsito – Denatran, verificando-se o contingente populacional, frota de veículos, características e indicadores socioeconômicos e extensão do espaço urbano e das redes de transportes e trânsito, com o auxílio de exame documental de órgãos competentes e da legislação vigente: diretrizes do estatuto nacional de mobilidade urbana, plano diretor e legislações de trânsito. Na etapa posterior a fim de se verificar as transformações espaciais processadas, as características do sistema viário e as condições temporais de deslocamento, foram executadas consulta de documentação existente; análises e observação em campo para registros fotográficos in loco; utilização de imagens do Google Earth e trabalho de laboratório para mapeamento da expansão do tecido urbano e do sistema viário, através das ferramentas do sensoriamento remoto e do sistema de informações geográficas (SIG), com a utilização do software ArcGis 9.3 e das imagens do satélite World View. Por conseguinte, classificação de dados para se aferir a infraestrutura de trânsito e os índices de mobilidade dos habitantes da cidade de Montes Claros, de acordo com cada área de ponderação do IBGE em intersecção de duas variáveis, os dados de renda e os dados de tempo de deslocamento. Os dados foram extraídos através de consulta em órgãos oficiais e instituições de pesquisa. A partir da discussão da legislação e proposições do novo plano diretor algumas análises foram apresentadas. O trabalho está organizado em três capítulos, assim sendo: o primeiro capítulo Montes Claros – Expansão urbana de uma cidade média e a problemática do sistema viário aborda o espaço da cidade de Montes Claros, suas características enquanto 25 cidade média, a partir de uma revisão literária dos teóricos expoentes do tema e do levantamento de dados disponíveis no IBGE e nos órgãos oficiais municipais. Por conseguinte, foi feita uma discussão da problemática do sistema viário, a partir da expansão urbana de Montes Claros e o “planejamento” do trânsito, partindo de um diagnóstico físico-espacial da mobilidade, considerando-se o espaço intra-urbano em suas dimensões territoriais e o alargamento da malha urbana e a formatação dos sistemas viários. O objetivo deste capítulo foi analisar a expansão urbana da cidade de Montes Claros, a partir de sua caracterização, de fundamentação teórica e estatística, e das variáveis que influem no tráfego urbano, através da correlação com a formatação do seu sistema viário. No segundo capítulo intitulado Fluxos e deslocamento no espaço urbano – Infraestrutura de circulação e mobilidade urbana, a mobilidade urbana foi tratada, a partir de revisão teórica, onde se inserem as principais discussões, concomitantemente ao diagnóstico e caracterização do sistema de trânsito da cidade de Montes Claros e das redes de transportes, considerando-se a infraestrutura viária, os pólos geradores de tráfego, modalidades e fluxo de pessoas e veículos, a mobilidade e a acessibilidade, o sistema de transporte urbano e sua operacionalização, a frota veicular e a relação de ambos com os padrões de deslocamento e formas de apropriação da circulação urbana por veículos motorizados e não motorizados.O objetivo deste capítulo foi caracterizar os sistemas de trânsito e transporte urbano e a infraestrutura de circulação da cidade de Montes Claros, considerando-se os aspectos elementares, os entraves existentes e o diagnóstico dos fluxos veiculares e da população que incorrem na acessibilidade e mobilidade urbana. No terceiro capítulo: Pressupostos paradigmáticos e normatização – Legislação e aplicabilidade das políticas de mobilidade urbana em Montes Claros foram analisadas as políticas públicas de mobilidade urbana, o planejamento urbano e as transformações na estrutura viária, considerando-se as proposições do plano diretor, a gestão do trânsito e transporte urbano, a infraestrutura atual, o atendimento as diretrizes do estatuto nacional de mobilidade urbana e o papel representativo dos órgãos municipais na organização do sistema viário. Foram apresentadas as intervenções em 26 curso na cidade de Montes Claros, as deficiências e possíveis aplicabilidades, considerando-se entre outros, o sistema integrado de transporte urbano e o planejamento territorial, os sistemas Bus Rapid Transit (BRT) e Veículo Leve Sobre Trilhos (VLT), e a criação de um sistema de mobilidade urbana. O objetivo deste capítulo foi avaliar a normatização do sistema viário e as políticas públicas de mobilidade aplicadas em Montes Claros, considerando-se o plano diretor, o estatuto da mobilidade urbana, a legislação de trânsito e a gestão pública; apresentando proposições que possam contribuir na melhoria do sistema viário e na obtenção de um sistema de mobilidade urbana. 27 1. Montes Claros – Expansão urbana de uma cidade média e a problemática do sistema viário 1.1 Contextualização Este capítulo aborda os fatores que desencadearam a expansão urbana de Montes Claros, a partir de seu desenvolvimento econômico e das políticas públicas implementadas. Partindo-se da configuração territorial atual são discutidos os desdobramentos da expansão no sistema viário, onde se inserem o trânsito e o transporte urbano, com enfoque na mobilidade urbana. Para tal realizou-se uma contextualização dos temas explorados, que são a urbanização contemporânea, os estudos das cidades médias e a geografia dos transportes e mobilidade urbana. 1.2. Conceituando a produção espacial e a noção de cidades médias Pensar a cidade em sua perspectiva espacial é um desafio da Geografia. Segundo Carlos (2011), isto significa a precisão da produção de um conhecimento que dê conta da construção de uma teoria da prática socioespacial urbana para desvelar a realidade urbana em sua totalidade e as possibilidades para a vida cotidiana na cidade. Constitui pensar o espaço urbano em suas várias dimensões. Tal análise incorpora as múltiplas escalas, os agentes sociais, a espacialidade e a temporalidade em que se define a escalaridade espacial da ação humana, citados por Côrrea (2011) que afirma serem os agentes sociais os materializadores dos processos na forma de um ambiente construído, seja a rede urbana, seja o espaço intra-urbano. O crescimento urbano se associa diretamente aos fatores do desenvolvimento econômico, a partir de uma trilogia: crescimento diferencial da população, dos recursos disponíveis e de empregos urbanos; apontados por Santos (2008), todavia tal crescimento econômico nem sempre é correlato do afluxo: O estudo dos fatores da expansão econômica urbana deve levar em conta os investimentos regionais, o movimento dos capitais em grande escala e o papel dos transportes que fazem com que, de um lado, as cidades percam seu isolamento e, de outro, facilitem as trocas com a região [...] (SANTOS, 2008, p.79-80, grifo nosso). 28 Não se pode desvencilhar tal reflexão do conceito de organização espacial apontado também por Santos (1999), concernente à relação dialética entre forma-função- estrutura-processo, elementos que possibilitam a compreensão da totalidade social e sua espacialidade. Spósito (2011) avança ao tratar as articulações entre o aumento das relações econômicas, como movimento que amplia e exige maior articulação entre escalas, e as dinâmicas de produção do espaço urbano que revelam e redefinem o espaço: A redefinição do escopo e da qualidade das relações entre as cidades pode ser apreciada segundo muitas perspectivas, entre as quais destaco duas. De um lado, observa-se a intensificação das relações no âmbito de diferentes redes urbanas, tomadas e reconhecidas em diversas escalas, o que se pode notar pelo aumento da quantidade e da frequência de interações. De outro, há possibilidade e a realização de interações espaciais entre cidades componentes de redes urbanas distintas, gerando também aumento na quantidade e na frequência delas. (SPÓSITO, 2011, p.126) Dessa forma no cenário atual, em que a mundialização da vida econômica e globalização dos valores e práticas constituem um vetor importante de estabelecimento de fluxos dos mais variáveis, para Spósito (2011) necessário se faz pensar a situação geográfica e a morfologia urbana como conceitos que precisam ser revisitados e valorados a partir da relação tempo-espaço o que coloca em xeque a ideia de centro e periferia, nas escalas da rede e da cidade. A partir da década de 1970 a rede urbana brasileira passou por intensas alterações, que podem ser assinaladas pela desconcentração, ampliação e diversificação das atividades industriais, com o aparecimento de centros industriais especializados e diversificados; a modernização, industrialização e capitalização do campo (CORRÊA, 2006). Deve-se realçar a ampliação de uma base técnica, integrada às comunicações e aos transportes, que possibilitaram a diversificação das interações espaciais. Nesse escopo é relevante destacar os novos papéis exercidos pelas cidades, cabendo identificar também as novas funções urbanas e as novas interações espaciais que delas decorrem, discussão em que se alocam as cidades médias. No contexto regional, as cidades médias assumem papel de destaque na centralidade da rede urbana, estando estas estrategicamente posicionadas, o que lhes confere o poder de “gerenciamento” territorial da sua área de influência. Não obstante, uma gama de 29 critérios define e diferencia as cidades médias, o que pode provocar uma confusão conceitual, já que são tratadas em determinados estudos como “cidades-intermediárias”, “cidades de médio porte” e “centros regionais e sub-regionais”. Assim um estudo de tal magnitude sugere a análise das relações, fluxos e processos que condicionaram a produção da cidade, bem como o seu papel regional, como sinaliza Pereira (2007). Para Amorim Filho e Serra (2001), não existe uma ideia consensual do que seriam as cidades médias. Em meio aos critérios definidores, o Programa Nacional de Capitais e Cidades de Porte Médio (1980) as dividiu em duas grandes categorias: uma referente aos aspectos interurbanos e outra aos aspectos intra-urbanos das cidades. No primeiro se inserem a relevância regional, localização em relação aos eixos principais, existência de programas especiais na área, distância de outros centros e posição estratégica. Já os aspectos intra-urbanos foram delimitados a partir das dimensões demográficas, do desempenho recente, grande proporção de migrantes recentes, estrutura da população economicamente ativa, pobreza urbana recente, conforme é apontado por Serra (1991). As atuais cidades de porte médio não metropolitanas atraem um considerável contigente de fluxo migratório e algumas delas poderão atingir um estágio submetropolitano conforme Stamm (2013), em que tal perspectiva sinaliza não apenas o papel de contenção dos fluxos migratórios, que anteriormente se dirigiam aos grandes centros urbanos, mas também apontam para dispersão da população pelo território nacional, o que se liga diretamente à desconcentraçãoindustrial e à mobilidade da fronteira agrícola, entre outros fatores novos. Figura 2 - Evolução da dispersão de cidades de Porte Médio – 1970 > 2010 Fonte: STAMM (2013) 30 A figura 2 mostra a evolução do número de cidades de porte médio no Brasil entre os anos de 1970 e 2010. É possível observar o perfil da dispersão das cidades de porte médio pelo país. No ano de 1970 nota-se que elas se concentravam essencialmente nas regiões Sul e Sudeste, que representavam 71,25% do total das cidades de porte médio do Brasil somando num total de 80. No ano de 2010, a participação percentual das regiões supracitadas apresentou regressão e atingiu 67,76%, um indicativo da dispersão e do crescimento da população em outras áreas do país. A dispersão espacial das cidades se dá no sentido leste para oeste do país, em que a difusão das mesmas acompanha um processo de “interiorização”, tornando as cidades de porte médio em plataformas de bens e serviços para as cidades locais e sub-regionais das regiões Centro-Oeste e Norte do país. No que concerne à noção de cidade média propriamente dita o seu uso surge inicialmente na França, em finais dos anos de 1970. Todavia, muito dos princípios e critérios associados à sua definição estiveram presentes no pensamento de técnicos e políticos, bem como nas variáveis intervenções urbanísticas até então desenvolvidas (COSTA, 2002). No que concerne aos debates, pesquisas, estudos e proposições metodológicas sobre as cidades médias no Brasil remonta-se ao mesmo período, quando das primeiras tentativas de classificação e identificação das mesmas no sistema urbano brasileiro levava em consideração apenas o aspecto demográfico. Amorim Filho (2007) ressalta que concomitante a esse período ocorreu considerável crescimento das cidades médias e de sua importância na rede urbana brasileira. Tal noção pauta-se no mesmo critério adotado pelo IBGE, que considera como cidade média aquela que apresenta população entre 100.000 e 500.000 habitantes, definição aceita também por Andrade e Serra (2001). Já a Organização das Nações Unidas - ONU alarga essa faixa entre 100.000 e 1.000.000 de habitantes. Todavia essa definição ainda se concentra no conceito de cidade de porte médio, que se pauta no tamanho demográfico, enquanto as cidades médias são aquelas que desempenham papéis de intermediação em suas redes urbanas, diferenciando-as de cidades de “porte médio”, que são aquelas que são definidas, exclusivamente, em função de seu tamanho demográfico (SPOSITO, 2001). Bellet e Llop (2004, p.12) dizem o mesmo ao exporem que “[…] la dimensión, la talla demográfica y la extensión física eran las variables que contribuían, mayormente, en la 31 delimitación/definición de ciudad media, variables que actualmente se consideran demasiado rígidas y estáticas”. Isto é, considerava-se a extensão física e o aporte demográfico os fatores mais relevantes na caracterização da cidade média, fatores estes vistos atualmente como rígidos e estáticos ou, em outra leitura, como insuficientes. Destarte, é preciso avaliar outros aspectos para definição das cidades médias, considerando que não há uma relação direta entre a dimensão do tecido urbano ou mais precisamente entre seu porte demográfico e o papel desempenhando na rede urbana. A delimitação da cidade média transcorre das funções que ela exerce na rede urbana no contexto da região em que se insere. Isto é, a leitura de uma cidade média deve estar articulada em diferentes escalas, a partir de combinações particulares entre o tamanho demográfico, o carácter morfológico, as funções e usos urbanos que as alocam em antagônicos papéis e posições/situações (não hierarquicamente rígidas) na rede urbana. Para compreender a essência dos papéis desempenhados por cada cidade média e as suas respectivas posições, Sposito (2007) considera tanto a contiguidade como a conectividade e, além disso, as relações que se estabelecem entre as duas naturezas de fluxos – materiais e imateriais, de transportes e de telecomunicações – uma vez que eles não estão justapostos, nem sobrepostos, mas articuladas entre si. Amorim Filho (2007) discorre sobre as cidades médias mineiras, identificando quatro níveis hierárquicos: grandes centros regionais; cidades médias de nível superior; cidades médias propriamente ditas e centros urbanos emergentes. Nos estudos realizados por Amorim (1982, 1999 e 2006), Montes Claros aparece como uma cidade média de nível superior: Cidades médias de nível superior: as cidades aqui incluídas são sempre visualizadas, em qualquer hierarquização, como cidades médias, quando se trata de classificações que cobrem todas as cidades do Estado. No interior de suas próprias regiões, são encaradas pela população regional como cidades grandes. São cidades que possuem um dinamismo demográfico sustentado e, no caso do estudo publicado em 1982, tinham populações que se situavam entre um pouco mais de 70.000 até cerca de 200.000 habitantes. São cidades que desenvolveram, paralelamente à indústria, dinâmicos setores de comércio e de serviços. Assim, essas cidades, além de fortalecerem sua posição e suas ligações no domínio regional, começam a estender essas ligações a pontos situados para além desses domínios. São, em síntese, cidades de estruturas já bem consolidadas e cujo crescimento futuro parece, sem dúvida, assegurado. (AMORIM FILHO; BUENO; ABREU, 1982, p. 41). 32 No estudo de 1999, as variáveis escolhidas foram agrupadas em oito indicadores principais, dotados, do ponto de vista teórico, de capacidade de identificar não somente uma hierarquia das cidades médias mineiras, como também de selecionar, entre elas, as que mais condições apresentavam de criar e desenvolver um parque tecnológico Esses indicadores foram os seguintes: 1) população urbana; 2) índice de desenvolvimento humano (IDH); 3) renda familiar per capita média; 4) número de indústrias de ponta; 5) total de eixos rodoviários que convergem para cada cidade; 6) presença de aeroportos; 7) presença e número de cursos superiores. (AMORIM FILHO, 2007, p. 13). Nesse novo estudo a cidade de Montes Claros permaneceu no nível 2 (cidade média de nível superior), mas se aproximou de uma ascensão para o nível 1, dos grandes centros regionais, no estudo de 2006, considerando a metodologia aplicada. 1 A definição de cidade média, portanto, tem por base as funções urbanas da cidade, sobretudo aos níveis de consumo e comando da produção regional nos seus aspectos técnicos como discorre Pereira (2007), não sendo mais apenas um centro em meio à hierarquia urbana, mas uma cidade com envergadura de articulação nas relações estabelecidas entre os sistemas urbanos nacionais e internacionais. Assim, os estudos sobre as mesmas devem estar alocadas numa concepção em rede, da cidade e da região, numa perspectiva que priorize, para além do calibre demográfico, o caráter como a cidade média se articula aos demais elementos do sistema urbano. 1 Os Grandes Centros Regionais tratam-se do limiar superior, que serve para fazer a transição entra as cidades médias de nível superior e as grandes cidades. Por isso, quando uma cidade é classificada na categoria de grande centro regional, haverá necessariamente certa imprecisão, encontrando-se pesquisadores e analistas que poderão incluí-la seja como cidade média, seja como cidade grande. Esses grandes centros regionais possuem um forte contingente populacional: no caso de Minas Gerais, uma população urbana em torno de 400.000 habitantes. Possuem, igualmente, uma economia saudável, equilibrada em seus setores secundário e terciário, além de já apresentarem núcleos (mesmo que embrionários) de desenvolvimento de inovações tecnológicas. Polarizam vastos espaços regionais e mantêm relações econômicas, culturaise demográficas até mesmo com cidades e regiões situadas fora de Minas Gerais. (AMORIM FILHO, 2007, p. 9) 33 1.3. Montes Claros como cidade média no contexto regional A cidade média de Montes Claros, consolidada como tal, como discorrem Amorim Filho e Abreu (2000), Pereira (2007), França (2007), se apresenta como “capital regional” do Norte de Minas Gerais, a partir de sua área de influência, onde se inclui o vetor norte do estado e o sul da Bahia, constituindo um centro urbano que, de acordo com seus parâmetros físicos, sociais e econômicos, localiza-se numa região fronteiriça entre o Nordeste e o Sudeste do Brasil. Uma característica elementar para se compreender o poder de polarização da cidade de Montes Claros em seu contexto regional repousa no fato de constituir a única cidade média de nível superior do norte de Minas (AMORIM FILHO, 2007), além de ser a única também com população superior a 100.000 habitantes, enquadrando-se assim nos mais diversos critérios de classificações de cidade média. A demografia municipal apresenta níveis de crescimento estáveis, conforme tabela 1, que mostra a evolução da população a partir do ano 2000. O município de Montes Claros possui uma população estimada em 394.350 habitantes, estando 94% da população em área urbana (IBGE, 2015) com uma densidade demográfica de 101,41 hab/km², tendo perpassado por períodos de maiores afluxos populacionais, que contribuíram para o seu posicionamento atual na hierarquia urbana, em específico na década de 1970 com investimentos oriundos da Superintendência de Desenvolvimento do Nordeste – SUDENE a partir do desenvolvimento do II Plano Nacional de Desenvolvimento - II PND, que visava conter o fluxo migratório em direção às regiões metropolitanas através do fortalecimento econômico e industrial nessas cidades. Dessa forma, tais centros urbanos funcionaram como receptáculo e contenção desse fluxo, caso de Montes Claros. 34 Tabela 1: População Total e Estimada de Montes Claros (2000 – 2015) Ano População Total Taxa de Crescimento Anual (%) 2000 306.947 - 2001 313.688 2,20 2002 318.916 1,67 2003 324.471 1,74 2004 336.132 3,59 2005 342.586 1,92 2006 348.991 1,87 2007 352.384 0,97 2010 361.915 2,70 2011 366.135 1,16 2012 370.216 1,14 2013 385.898 4,24 2014 390.212 1,11 2015 394.350 1,06 Fonte: IBGE, 2015. Censo Demográfico e projeção da população. Conforme apresentado na tabela 1 há uma curva ascendente no crescimento demográfico do município de Montes Claros, considerando-se as estimativas anuais do IBGE e os censos demográficos realizados nos anos de 2000 e 2010, todavia com uma irregularidade proporcional, com crescimento superior ou inferior entre um ano e outro. O dado de 2010 se refere ao recenseamento oficial, constituindo assim um aumento populacional de 17,9% em relação ao censo anterior de 2000. Tal evolução demográfica confere ao município de Montes Claros, o papel de sexto maior em população do estado de Minas Gerais e o maior do Norte do estado, região na que se insere, conforme tabela 2. Entre os municípios não metropolitanos ocupa o terceiro lugar. 35 Tabela 2: Maiores municípios de Minas Gerais em população. Município População Região Administrativa 1º Belo Horizonte 2.502.557 Central 2º Uberlândia 662.362 Triângulo 3º Contagem 648.766 Central 4º Juiz de Fora 555.284 Zona da Mata 5º Betim 417.307 Central 6º Montes Claros 394.350 Norte 7º Ribeirão das Neves 322.659 Central 8º Uberaba 322.126 Triângulo 9º Governador Valadares 278.363 Vale do Rio Doce 10º Ipatinga 257.345 Vale do Rio Doce Fonte: IBGE – Estimativa (2015) Org.: SOUZA JUNIOR, 2015 A metodologia adotada pela Fundação João Pinheiro – FJP (2015) prevê que em 2020 Montes Claros terá 404.70 habitantes. Entretanto, se seguir a média de crescimento atual, em 2020 Montes Claros estará com 452.749 habitantes e em 2030, com 553.144 habitantes 2 . Tais números distam dos um milhão propagado pela classe política e pelos mais otimistas. 3 Deve-se destacar que além dos fatores já expostos, a localização geográfica da cidade é um facilitador das relações interurbanas na conjunção da rede, fazendo assim a interligação das demais cidades. Outrossim, para se compreender o papel exercido por Montes Claros cabe uma analogia com a Teoria das Localidades Centrais de Christaller, de 1933, quando enfatiza as características que são categoricamente relevantes para o significado de uma cidade e a geografia dos arranjos espaciais, em que, deve-se analisar um sítio como um lugar que tenha a função de ser o centro de um região, centros de ordem superior que passam a exercer além da função designada aos centros menores, a função de prover as demandas que as cidades inferiores não conseguem suprir. Na constituição da hierarquia urbana funcional apresentada por Friedman (1964) aparecem as cidades regionais (regional city), que se compreendem dentro do raio de influência da cidade primaz, podendo ser ofertantes de serviços regionais e/ou 2 Informações disponíveis em http://www.fjp.mg.gov.br/index.php/fjp-na-midia/3338-31-8-2015-montes- claros-proxima-dos-400-mil-habitantes 3 Em discurso “desenvolvimentista”, se propagou a ideia, principalmente no meio político de que Montes Claros atingiria a marca de um milhão de habitantes em curto espaço de tempo, dado alterações econômicas do munícipio e da instalação de grandes empreendimentos na cidade, como da indústria de Biodiesel da Petrobrás. O que se mostrou um discurso falacioso, não se processando até o momento tamanha alteração demográfica. 36 importantes centros comerciais e industriais, além de centros administrativos regionais; o que se assemelha ao papel exercido por Montes Claros, devendo ser encarada não apenas como uma cidade em si, mas como um espaço com a função centralizadora das atividades em escala regional. Nesse escopo, tal centro urbano apresenta um raio de influência, que denota a força do seu poder polarizador, no caso específico de Montes Claros a sua abrangência se dá por toda extensão do norte de Minas Gerais, como mostra a figura 3, apresentando também conexões externas com importantes centros urbanos de outras regiões, conforme figura 4. Figura 3 – Mapa da área de influência de Montes Claros Fonte: IBGE (2008) 37 Figura 4 - Mapa das conexões externas realizadas por Montes Claros Fonte: IBGE (2008) Tais conexões apresentadas na figura 4 denotam a força capilizadora de Montes Claros, ao estabelecer ligação entre as cidades menores com os grandes centros urbanos, no espectro de sua rede urbana, evidenciando assim seu peso político e econômico e a força de sua organização rodoviária. 1.4. Caracterizando o município de Montes Claros O município de Montes Claros está localizado na mesorregião Norte de Minas, entre as coordenadas geográficas 16º 04' 57" e 17º 08' 41" de Latitude sul e entre as Longitudes 43º 41‟ 56" e 44º 13‟ 1" oeste de Greenwich, possuindo como municípios limítrofes ao norte São João da Ponte, a nordeste Capitão Enéas, a leste Francisco Sá, a sudeste Juramento e Glaucilândia, ao sul Bocaiúva, a sudoeste Claro dos Poções, a oeste São João da Lagoa, Coração de Jesus e, a Noroeste, Mirabela e Patis. O município tem área total de 3.568,941 km², tendo densidade demográfica de 101,41 hab/km² de acordo com o censo IBGE 2010. A cidade dista 418 km da capital estadual Belo Horizonte, 694 km da capital federal Brasília e 1002 km da cidade de São Paulo, maior centro financeiro dopaís. 38 Figura 5 - Mapa de Localização de Montes Claros De acordo com a sua localização geográfica e o crescimento do sistema viário, as ligações se dão através das BR-135, BR-251 e BR-365, além das rodovias estaduais que também permitem a ligação com outros modais rodoviários (BR-040, BR-116). Parcela considerável do movimento é caracterizada pelo transporte de cargas, tendo-se no município ponto de ligação e escoamento da produção entre as regiões Sul, Sudeste, Nordeste e Centro-Oeste. Montes Claros se localiza entre os principais entroncamentos rodoviários do país, tendo sua localização geográfica e sua malha viária importantes papéis na constituição de sua centralidade, uma vez que a partir destas o comércio e o setor de serviços se expandiu e se tem na localização o favorecimento da implantação de redes de transportes, como pontua Leite (2011). O aeroporto de Montes Claros possui a segunda maior pista do estado, comportando aeronaves de grande porte e operando diariamente das seis horas da manhã às 22 horas, conforme Associação Comercial e Industrial – ACI (2012). O transporte aéreo em Montes Claros é operacionalizado atualmente pelas empresas Azul Linhas Aéreas e Gol – que atuam com voos diários para Belo Horizonte e São Paulo – integrando as principais cidades do Brasil via conexões. 39 O transporte ferroviário é realizado pela Ferrovia Centro Atlântica, com o transporte de cargas. É relevante ressaltar que o projeto da Ferrovia Central do Brasil pensado para integração do Centro-Sul e Nordeste do Brasil passando por Montes Claros, colocou o município em uma posição de destaque no cenário regional e extra regional no que se refere a distribuição dos mais diversos produtos. Entretanto, como aponta Leite (2011), a priorização do modal rodoviário tornou obsoleta a linha férrea de Montes Claros, constituindo um entrave para o trânsito urbano, já que esta se localiza no meio do tecido urbano. O transporte urbano de passageiros por sua vez, apresenta um fluxo mensal de cerca de dois milhões de pessoas (ATCMC, 2015). O setor educacional da cidade é composto por 330 estabelecimentos de ensino (IBGE, 2012), do quais 117 são pré-escolas, 163 escolas de ensino fundamental e 50 colégios de ensino médio entre públicos municipais, estaduais, federais e particulares, possuindo, em 2012, 78. 953 alunos matriculados nos três níveis de ensino. No que concerne ao ensino superior, Montes Claros apresenta polarização no setor, estando situados na cidade o campus sede da Universidade Estadual de Montes Claros – Unimontes, o Instituto de Ciências Agrárias da Universidade Federal de Minas Gerais – ICA/UFMG, o Instituto Federal do Norte de Minas – IFNMG, se localizando também as faculdades particulares (Faculdades Santo Agostinho – FSA, Faculdades Integradas Pitágoras – FiPMoc, Faculdade de Ciência e Tecnologia – FACIT, Faculdade Prisma - FAP, Faculdade de Ciências da Computação – Facomp, Faculdades Unidas do Norte – Funorte, Faculdade de Saúde Ibituruna – FASI e Faculdades Verde Norte –Favenorte), além dos polos à distância (Universidade Norte do Paraná – Unopar, Anhanguera, Universidade de Uberaba – Uniube, Universidade Presidente Antônio Carlos – Unipac), entre outros. No campo da pós-graduação stricto sensu se destacam os cursos de mestrado e doutorado ofertados por duas instituições: Unimontes e UFMG. A Unimontes conta com 16 programas de mestrado. No Campus Universitário Professor Darcy Ribeiro da Unimontes ainda é ofertado os programas de doutorado em Ciências da Saúde e em Desenvolvimento Social. Todos estes reafirmam o desenvolvimento do ensino superior na cidade de Montes Claros. 40 No setor de saúde a cidade se constitui em um pólo de atendimento à saúde, que está mais bem aparelhado dos municípios limítrofes entre o norte de Minas Gerais e Sul da Bahia. Montes Claros é hoje referência em serviços de saúde de média e alta complexidade para o Norte de Minas, Vale do Jequitinhonha e Sul da Bahia. Conta com a presença dos Hospitais Alfeu de Quadros (Municipal), Aroldo Tourinho, Clemente de Faria (Universitário), Dilson Godinho, Mário Ribeiro, Santa Casa e Prontosocor, além das policlínicas, das clínicas particulares especializadas e da Estratégia de Saúde da Família - ESF‟s. A regionalização do Serviço de Atendimento Móvel de Urgência – SAMU deu origem ao SAMU Macro Norte/MG, habilitado pela Portaria Ministerial nº 129 de 27/01/2009, que passou a integrar os oitenta e seis municípios da macrorregião Norte de Minas, tendo seu Complexo Regulador Macrorregional sediado na cidade. Nas telecomunicações, Montes Claros é servida por telefonia fixa e móvel, com atuação das principais empresas de atuação nacional (Claro, NEXTEL, Oi, TIM, Vivo). Dispõe de emissoras de rádio AM (Rádio Fundação José de Paiva Neto, Rádio Educadora, Rádio Terra) e FM (Rádio Transamérica FM, Rádio São Francisco de Assis, Rádio Montes Claros, Rádio FM Itatiaia, Rádio Unimontes, Expressão FM). A cidade conta com sinal das principais emissoras de TV aberta (Rede Minas/TV Brasil, Globo, Bandeirantes, SBT, Record, RIT, Canção Nova, Rede Vida e TV Aparecida) no sistema analógico e quatro emissoras com sinal digital (Record, InterTV, Rede Vida e Band), além dos serviços de TV por assinatura a cabo (Master e VOX) que também ofertam internet ao lado da ConecTV e Oi (via fibra óptica) e dos sistemas via satélite (Oi TV, Claro HDTV e Sky). A estrutura econômica do município de Montes Claros se destaca entre os 853 municípios mineiros, se constituindo a 10ª economia do estado (FJP, 2012), conforme a tabela 3, onde se tem números importantes na agropecuária, indústria, administração, saúde e educação públicas e seguridade social, tendo como setor mais pujante o setor de serviços que apresentou crescimento exponencial no período destacado. 41 Tabela 3 – Evolução do PIB 4 de Montes Claros - 2010-2013 2010 (1.000 R$) 2011 (1.000 R$) 2012 (1.000 R$) 2013 (1.000 R$) Agropecuária 108.460 154.060 197.000 149.120 Indústria 1.150.264 1.265.359 1.278.772 1.486.881 Administração, saúde e educação públicas e seguridade social 762.316 840.084 949.429 1.058.419 Serviços 3.065.051 3.486.099 4.046.487 4.675.459 TOTAL 4.837.571 5.467.489 6.167.828 7.053.746 Fonte: PEREIRA (2015) A atividade comercial localizada precipuamente na área central, ofertando uma gama de serviços e produtos – em alguns casos tendo produzido vias especializadas – desloca-se pelo espaço urbano, a partir da descentralização do setor, em especial com a emergência dos sub-centros comerciais que se manifestam através da expansão da cidade, tratados por França (2007) e Leite (2011). É importante destacar a instalação dos shopping centers, no que concerne a reestruturação espacial do setor comercial, que datam pós 1990. São três shoppings localizados na cidade e que atendem a todas as classes sociais. O Montes Claros Shopping Center, localizado na região centro-sul, é o maior e mais antigo, tendo passado por duas expansões, possui as principais lojas de departamento e varejo nacionais, tais como Riachuelo, Renner, C&A, Marisa, Americanas, além das principais redes de fast-food, destacando-se o Mc Donald‟s e o Burger King, tendo abrigado durante anos o único cinema da cidade em funcionamento, o Moviecom, atualmente Cinemais, um dos maiores complexos de cinema do interior do estado. O shopping ainda abriga a Faculdade Santo Agostinho, o Bretas Hipermercado e o Hotel Ibis. O Shopping Ibituruna localiza-se na região oeste, área de grande valor comercial, abrigando um número inferior de lojas, além de um colégio pré-vestibular e o Ibicinemas. Foi construído com o objetivo de atender a demanda dos moradores de classe média alta da região. 4 Valor adicionado bruto.42 O Shooping Popular Mário Ribeiro da Silveira, construído no ano 2000, pela Prefeitura de Montes Claros, localiza-se na área central e foi empreendido com objetivo de transferir o comércio de rua que era exercido principalmente na Praça Dr. Carlos Versiane, local que se transformou em uma espécie de terminal de ônibus urbano. Atualmente no shopping popular é mais comum encontrar artigos eletrônicos e o comércio de CD‟s, DVD‟s, jogos e acessórios para telefone. Toda estruturação de comércio e serviços apresentada colocam Montes Claros em ponto de destaque na região em que se insere, o Norte de Minas Gerais, o que lhe confere, como supracitado, poder de polarização, devido a oferta dos serviços, e evidencia seu poder centralizador no contexto da rede. Montes Claros é a cidade com maior dinamismo econômico da região Norte de Minas 5 e dispõe de uma complexa rede de serviços, além de concentrar o maior número de indústrias da região. A população da cidade representa 20,8% da população regional, isso ratifica que Montes Claros é o principal ponto de imigração da região já que tais características contribuem para a atração de fluxos populacionais, sejam temporários ou fixos, o que se relaciona diretamente à sua expansão urbana. 1.5.1 A Expansão Urbana em Foco Tem-se a partir da segunda metade do século XX, marco da internacionalização do capital e da revolução técnico-científica, a intensificação do processo de urbanização brasileira, o que produziu um aumento do número de cidades, da população urbana e, por conseguinte da expansão das mesmas. Ao se buscar um quadro de expansão urbana no Brasil, em especial das cidades não metropolitanas, percebe-se que estas têm sido palco das novas dinâmicas imobiliárias pós 1980, a partir da criação de distritos industriais, da expansão de loteamentos horizontais residenciais e por programas de uso múltiplo, fomentados por planos de financiamento habitacional e por políticas de mobilidade pautadas nos veículos individuais e no rodoviarismo. (MATTOS, 2007; REIS, 2006). Na literatura específica, a expansão urbana tem sido associada às alterações demográficas pós década de 1980 no Brasil, com o aumento populacional nas cidades 5 Sobre a situação da cidade de Montes Claros no contexto do Norte de Minas, consultar Pereira (2007). 43 dinâmicas, todavia associa-se também às estratégias dos mercados imobiliários que estimulam o crescimento horizontal. Isso se realiza de duas formas, através do mercado formal ou via mercado informal. No que concerne ao mercado informal, este busca a economia de redução de custos, por meio da implementação da urbanização, na perspectiva do crescimento urbano, em uma estrutura difusa e dispersa. Já no que se relaciona ao mercado formal, procura-se a inovação do produto imobiliário disponibilizado ao mercado, como em condomínios horizontais fechados. Ao analisar a expansão urbana nos países em desenvolvimento, mais precisamente no Brasil, Resende (2009, p. 257) sinaliza as desordens que esse processo implicou: A expansão urbana trouxe transtornos para a população, que sentiu a degradação das condições ambientais, de transportes e da própria qualidade de vida. Esses problemas foram provocados, essencialmente, pelo inadequado e/ou ausente planejamento urbano e de transportes, que viabilizaram e adaptaram o crescimento urbano em função do automóvel. Isso se deu, sobretudo, porque as políticas públicas adotadas visavam à articulação dos diversos lugares da cidade, que cada vez mais, apresentavam uma diversidade de atividades difusas espacialmente. É a correlação desses fatores da expansão urbana e suas resultantes, de forma mais específica no que concerne ao deslocamento no espaço urbano dos citadinos e as relações com os meios de transportes e o trânsito urbano e seu sistema viário, que será analisada, cabendo dentre outros reconhecer não só o crescimento urbano, mas também o crescimento populacional no período circunscrito. No escopo demográfico, a década de 1980 aponta para uma alteração significativa do padrão de urbanização brasileiro como discorre Martine (1994), onde se insere uma redução considerável do ímpeto da concentração urbana em grandes cidades, com declínio significativo dos índices de migração rural-urbana para estas. Em contrapartida, os fluxos migratórios se direcionam em maior grau para as cidades de porte-médio. O fluxo migratório em Montes Claros se mantém crescente desde meados do século XX, quando se firmou como polo regional (LEITE, 2011). A intensidade dessa migração variou de acordo com os momentos econômicos ocorridos no município, onde se destaca a inserção da região na área de abrangência da SUDENE. Nesse período, que data a partir da década de 1970, ocorre a mudança da base econômica, que passa de 44 agropecuária para industrial. Tem-se na industrialização o escopo do processo de urbanização do município. No ano de 1960 a população urbana do município de era de 46.531 habitantes, contra 85.971 da população rural, constituindo um índice de urbanização de apenas 35%. Em 1970 houve uma inversão da população, com 85.154 residentes em área urbana, contra 31.332 na zona rural, correspondendo a um índice de urbanização de 73%, um salto considerável. Em 2010, do número da população total - 361.915 - têm-se 94% residindo em área urbana, isto é 340 mil habitantes, constituindo-se um elevado nível de urbanização, superior ao nível de urbanização do país (IBGE, 2015). Logo, a transformação demográfica ocorrida nos anos 1970 intensificou o crescimento espacial da cidade e, consequentemente, o alargamento do seu tecido urbano, dado o aporte migratório. Tomando como referência Leite (2011) verifica-se que no período anterior à década de 1970, o adensamento urbano de Montes Claros concentrava-se na parte central, considerando-se o fato deste ser o primeiro local de ocupação. Segundo o autor, naquele período não havia uma funcionalidade definida e o comércio e as residências estavam presentes no mesmo espaço. No restante da área urbana havia loteamentos descontínuos pouco integrados à parte central, os quais estavam relacionados à presença da linha férrea, tendo em vista que existia vila para a moradia dos ferroviários, caso da Vila Telma, no sudeste dessa cidade. Leite (2011) ainda cita que em algumas partes da cidade, a linha férrea também era um obstáculo para a expansão urbana, uma vez que para transpô-la eram necessárias adequações nos trilhos ou mesmo construção de pontes, o que era escasso na década de 1970. A linha férrea constitui até o momento atual um enclave no trânsito urbano, ora sendo proposta a retirada de seus trilhos, ora a construção de um Veículo Leve Sobre Trilhos – VLT, nenhuma proposição ainda efetivada. Durante aquele período, ainda segundo Leite (2011), o crescimento provocou a formação e estruturação de novos bairros próximos ao centro, mantendo essa parte com o maior adensamento e apenas a periferia norte da cidade apresentou-se em expansão. Nas outras periferias predominavam grandes vazios demográficos próximos aos cursos da água. 45 Outro fator de relevância na expansão urbana foi a instalação do distrito industrial, no fim da década de 1960, e a instalação de várias indústrias, a partir dos anos de 1970, na região norte da cidade, determinou o grande crescimento dessa região. A população imigrante procurava se fixar próxima às indústrias na tentativa de obter um emprego e, dessa forma, não ter gasto com transporte. Nos anos de 1980 novas alterações se manifestam no espaço urbano de Montes Claros, sendo este um período importante no que concerne a infraestruturação da cidade, a partir do Programa Cidades de Porte Médio, como discorre Leite (2011) A década de 1980 se destaca como o período mais importante
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