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AUXILIAR DE NECROPSIA GRUPO VISUAL Aluno:____________________________ Docente:__________________________ FRANCISCO BELTRÃO – PR Sumário MEDICINA LEGAL ............................................................................................................................................... 5 AULA 1 - CONCEITOS GERAIS E HISTÓRICO DA MEDICINA LEGAL ..................................................................... 5 AULA 2 - A CADEIA DE CUSTÓDIA E OS PERITOS AUXILIARES E ASSISTENTES ................................................. 16 AULA 3 - DOCUMENTOS LEGAIS E QUESITOS OFICIAIS ................................................................................... 23 AULA 4 - SEXOLOGIA FORENSE ........................................................................................................................ 27 AULA 5 - PERÍCIA EM NASCITUROS ................................................................................................................. 34 AULA 6 - ANTROPOLOGIA FORENSE ................................................................................................................ 45 AULA 7 - TOXICOLOGIA E ANATOMOPATOLOGIA FORENSE ........................................................................... 50 ÉTICA, BIOÉTICA E BIOSSEGURANÇA ............................................................................................................... 57 AULA 1 - MORAL E ÉTICA ................................................................................................................................. 58 AULA 2 - CONCEITO DA BIOÉTICA.................................................................................................................... 61 AULA 3 - BIOÉTICA – CASOS CONCRETOS PARA REFLETIR E DEBATER ............................................................ 65 AULA 4 - BIOÉTICA APLICADA AO I.M.L ........................................................................................................... 69 AULA 5 - BIOSSEGURANÇA – PARTE 1 ............................................................................................................. 73 AULA 6 - BIOSSEGURANÇA – PARTE 2 ............................................................................................................. 80 ANATOMIA E FISIOLOGIA HUMANA ................................................................................................................ 84 AULA 1 - INTRODUÇÃO À ANATOMIA ............................................................................................................. 84 AULA 2 - VARIAÇÕES ANATÔMICAS, ANOMALIAS E MONSTRUOSIDADES ..................................................... 92 AULA 3 - POSIÇÃO ANATÔMICA E PLANOS ANATÔMICOS .............................................................................. 97 AULA 4 - SISTEMAS DO CORPO HUMANO ..................................................................................................... 101 AULA 5 - ESTUDO DAS CÉLULAS .................................................................................................................... 106 AULA 6 - SISTEMA RESPIRATÓRIO – PARTE 1 ................................................................................................ 114 AULA 7 - SISTEMA RESPIRATÓRIO – PARTE 2 ................................................................................................ 119 AULA 8 - SISTEMA CARDIOVASCULAR – PARTE 1 .......................................................................................... 123 AULA 9 - SISTEMA CARDIOVASCULAR – PARTE 2 ......................................................................................... 136 AULA 10 - SISTEMA DIGESTÓRIO ................................................................................................................... 139 AULA 11 - SISTEMA NERVOSO ....................................................................................................................... 150 AULA 12 - SISTEMA ESQUELÉTICO ................................................................................................................. 159 AULA 13 - SISTEMA MUSCULAR – PARTE 1 ................................................................................................... 169 AULA 14 - SISTEMA MUSCULAR – PARTE 2 ................................................................................................... 179 AULA 15 - SISTEMA EXCRETOR ...................................................................................................................... 183 AULA 16 - SISTEMA REPRODUTOR ................................................................................................................ 188 TANATOLOGIA FORENSE ............................................................................................................................... 194 AULA 1 - CONCEITOS DE TANATOLOGIA ....................................................................................................... 194 AULA 3 - ENTOMOLOGIA FORENSE ............................................................................................................... 217 AULA 4 - CONTINUAÇÃO À ENTOMOLOGIA FORENSE .................................................................................. 222 AULA 5 - CASUÍSTICA DE ENTOMOLOGIA FORENSE ...................................................................................... 230 AULA 6 - EXPERIMENTO PRÁTICO DE TANATOLOGIA FORENSE – PARTE 1 .................................................. 238 AULA 7 - EXPERIMENTO PRÁTICO DE TANATOLOGIA FORENSE – PARTE 2 .................................................. 249 AULA 8 - REVISÃO DO CONTEÚDO ................................................................................................................ 252 TRAUMATOLOGIA FORENSE .......................................................................................................................... 254 AULA 1 - INTRODUÇÃO À TRAUMATOLOGIA FORENSE ................................................................................ 254 AULA 2 - ESPÉCIES DE LESÕES ....................................................................................................................... 267 AULA 3 - CONTINUAÇÃO AO ESTUDO DA BALÍSTICA FORENSE ..................................................................... 279 AULA 4 - LESÕES PRODUZIDAS POR INSTRUMENTOS CORTO CONTUNDENTES ........................................... 283 AULA 5 - ENERGIAS DE ORDEM FÍSICA – PARTE 1 ......................................................................................... 290 AULA 6 - ENERGIAS DE ORDEM FÍSICA – Parte 2 ........................................................................................... 298 AULA 7 - AGENTES DE ORDEM QUÍMICA PARTE 1..................................................................................... 305 AULA 8 - AGENTES DE ORDEM QUÍMICA PARTE 2..................................................................................... 313 AULA 9 - CINEMÁTICA DO TRAUMA – Parte 1............................................................................................... 321 AULA 10 - CINEMÁTICA DO TRAUMA – Parte 2 ............................................................................................ 333 AULA 11 - CINEMÁTICA DO TRAUMA – Parte 3 ............................................................................................ 346 AULA 12 - ENERGIAS DE ORDEM BIOQUÍMICA ............................................................................................. 348 TÉCNICAS DE NECROPSIA .............................................................................................................................. 356 Aula 1 - INTRODUÇÃO ÀS TÉCNICAS DE NECROPSIA ..................................................................................... 356 Aula 2 - PROCEDIMENTOS GERAIS DENECROPSIA - Parte 1 ......................................................................... 362 Aula 3 - PROCEDIMENTOS GERAIS DE NECROPSIA - Parte 2 ......................................................................... 366 Aula 4 - PROCEDIMENTOS GERAIS DE NECROPSIA - Parte 3 ......................................................................... 369 Aula 5 - PROCEDIMENTOS ESPECÍFICOS DE NECROPSIA ............................................................................... 371 Aula 6 - NECROPSIA EM CADÁVER DE AVANÇADO ESTADO DE CARBONIZAÇÃO ......................................... 379 Aula 7 - NECROPSIA EM CADÁVER AFOGADO ............................................................................................... 390 Aula 8 - EXAME NECROSCÓPICO EM FETOS E RECÉM-NASCIDOS ................................................................. 395 Aula 9 - EXAME DE PLACENTA ....................................................................................................................... 399 Aula 10 - PREPARO DE OSSADAS ................................................................................................................... 403 TANATOPRAXIA COM ÊNFASE EM NECROMAQUIAGEM .............................................................................. 410 AULA 1 - INTRODUÇÃO AO ESTUDO DA ESTÉTICA MORTUÁRIA ................................................................... 410 AULA 2 - O ESTUDO DA TANATOPRAXIA ....................................................................................................... 416 AULA 3 - PROCEDIMENTOS DE TANATOPRAXIA PARTE 1 ............................................................................ 422 AULA 4 - PROCEDIMENTOS DE TANATOPRAXIA PARTE 2 ............................................................................. 430 AULA 5 - PROCEDIMENTOS DE TANATOPRAXIA PARTE 3 ............................................................................ 431 AULA 6 - FINALIZAÇÃO DA TANATOPRAXIA PARTE 1 .................................................................................. 433 AULA 7 - FINALIZAÇÃO DA TANATOPRAXIA PARTE 2 .................................................................................. 438 AULA 8 - FINALIZAÇÃO DA TANATOPRAXIA PARTE 3 .................................................................................. 439 AULA 9 - FINALIZAÇÃO DA TANATOPRAXIA PARTE 4 .................................................................................. 443 AULA 10 - RECONSTRUÇÃO FACIAL – PARTE 1 .............................................................................................. 445 AULA 11 - RECONSTRUÇÃO FACIAL – PARTE 2 .............................................................................................. 453 AULA 12 – PLASTINAÇÃO, UMA TÉCNICA DA TANATOPRAXIA ..................................................................... 461 AULA 13 – ASPECTOS LEGAIS DA TANATOPRAXIA ........................................................................................ 473 TÉCNICAS DE SUTURA .................................................................................................................................... 480 AULA 1 – INTRODUÇÃO ÀS TÉCNICAS DE SUTURA - PARTE 1 ....................................................................... 480 AULA 2 – INTRODUÇÃO ÀS TÉCNICAS DE SUTURA - PARTE 2 ....................................................................... 488 AULA 3 - TÉCNICAS DE SUTURA – PARTE 1 .................................................................................................... 493 AULA 4 - TÉCNICAS DE SUTURA – PARTE 2 .................................................................................................... 496 AULA 5 - TÉCNICAS DE SUTURA – PARTE 3 .................................................................................................... 498 REVISÃO DE CONTEÚDO ................................................................................................................................ 504 AULA DE REVISÃO 1 ....................................................................................................................................... 504 AULA DE REVISÃO 2 ....................................................................................................................................... 513 AULA DE REVISÃO 3 ....................................................................................................................................... 520 AULA DE REVISÃO 4 ....................................................................................................................................... 528 AULA DE REVISÃO 5 ....................................................................................................................................... 533 AULA DE REVISÃO 6 ....................................................................................................................................... 548 AULA DE REVISÃO 7 ....................................................................................................................................... 561 5 MEDICINA LEGAL AULA 1 - CONCEITOS GERAIS E HISTÓRICO DA MEDICINA LEGAL A medicina legal é uma das ciências mais antigas da nossa civilização e remete ao século treze, em que o papel do investigador era não só desvendar o crime, mas também averiguar as circunstâncias em que o crime aconteceu. Era comum que antigamente os investigadores, comissários de justiça e delegados fossem estudiosos da área das ciências humanas como medicina ou enfermagem, entendessem de corpo humano e que inclusive as necropsias fossem realizadas até mesmo nos locais de crime, sem que fosse necessário encaminhar o cadáver até o IML. Esta obra chama-se LIÇÃO DE ANATOMIA DO DR. PULP e foi pintada no século XVI pelo artista Rembrandt, atendendo a pedidos da Associação de cirurgiões de Amsterdã. Na época, como não havia registro fotográfico, as pessoas mais abastadas pagavam o que fosse preciso para que fosse eternizado em pintura suas riquezas. 6 O quadro retrata uma aula de anatomia do doutor Nicolaes Tulp, onde ocorre a dissecação da mão esquerda de Aris Kindt, um marginal condenado à morte por assalto a mão armada no dia anterior à data em que o quadro foi pintado. Lições de anatomia realmente existiram, e lecionadas por doutores anatomistas e aconteciam em anfiteatros específicos. Desta maneira, a pintura não foi considerada vulgar na época. A obra foi feita quando Rembrandt tinha apenas 26 anos, logo após se mudar para Amsterdã. O quadro, realista, retrata o desejo e inquietação do homem em busca de conhecimento sobre o funcionamento do corpo humano, seu comportamento e suas verdades. Na aula de hoje iremos aprender sobre os primeiros resquícios da medicina legal na nossa civilização, desde o período antigo, romano, idade média e idade moderna até chegar aos dias de hoje. Mas afinal, para que serve a MEDICINA LEGAL? A medicina legal é o ramo da ciência que estuda e relaciona as leis e a medicina. Ela auxilia no esclarecimento de fatos relevantes em um processo judicial. Atualmente a medicina legal deve ser considerada como um ramo do direito que usa o conhecimento de diversas outras disciplinas como a biologia, a física, a química e a psicologia para prestar esclarecimentos para a justiça. A lei diz que para toda infração que deixar vestígios será indispensável o corpo de delito. E a medicina legal vem justamente para descrever esse corpo de delito e auxiliar na investigação criminal, muitas vezes inclusive inocentando pessoas ou prendendo os verdadeiros culpados. Uma perícia médico legal consiste em um exame minucioso que pode ser realizada em pessoas vivas, cadáveres, esqueletos, membroshumanos e fetos humanos. O objeto de análise de uma perícia médico legal recebe o nome de CORPO DE DELITO. Neste módulo iremos aprender sobre os conceitos de medicina legal, quais os profissionais que compõem a equipe de perícia de um IML; como acontecem as perícias nos institutos médico-legais, a diferença entre serviço de verificação de óbito e serviço médico legal e os principais exames realizados no IML. https://pt.wikipedia.org/wiki/Nicolaes_Tulp 7 Temos muito conteúdo pela frente, uma recomendação para estudar e ter o melhor aproveitamento da matéria e um alto desempenho nas provas é baixar o nosso material de apoio e acompanhar junto com a vídeo aula, anotando os principais tópicos e resolvendo as questões. Objetivos da medicina legal: O objetivo da Medicina Legal é esclarecer os problemas do Direito, respondendo ao juiz, promotor e advogados as questões jurídicas como: • A causa e a hora da morte; • Se o indivíduo foi assassinado ou se cometeu suicídio; • Qual a arma utilizada para cometer o crime; • Se o acusado possui algum tipo de insanidade mental; • Se a vítima estava grávida quando ocorreu o crime; Essas respostas acontecem em forma de laudo e os laudos podem ser de múltiplos quesitos, direto ou indireto, sem falar que o perito pode até mesmo, caso o juiz entenda necessário, ser intimado para comparecer em juízo e falar durante o processo acerca daquele caso periciado por ele. Basicamente, quando se tratar de exame em um vivo, a perícia médico legal terá como objetivo: • Diagnosticar lesões corporais em casos de violência, acidentes de trabalho ou acidente de trânsito; • Afirmar ou descartar conjunções carnais ou ato libidinoso; • Comprovar doenças profissionais ou acidentes de trabalho; • Dentre outras questões solicitadas pela delegacia de polícia civil ou juiz. Já nos mortos a perícia médico legal tem como objetivo: • Fornecer o diagnóstico da causa da morte; 8 • A causa jurídica de morte e do tempo aproximado da morte; • A identificação do morto; Se a morte ocorreu por intoxicação, seja por veneno ou outra substância que cause a morte ou se ocorreu a ingestão de drogas de abuso que tornem a vítima mais vulnerável à violência sexual; Mas e nos casos em que for encontrado somente uma ossada humana? Em casos de encontros de ossada ou de cadáveres que o estado de putrefação impossibilite o reconhecimento e que o estudo dos tecidos moles do corpo humano já não seja possível, a perícia médico legal seguirá caminhos diferentes: • Afirmar ou descartar a hipótese da ossada encontrada ser de um exemplar humano; • Atuar na identificação do morto, com base nos conhecimentos da antropologia forense, para afirmar se o indivíduo pertencia ao sexo feminino ou masculino, com base na estrutura óssea; • Atestar a causa da morte, quando possível; Caso exista uma provável identificação da vítima, deverá ser coletado fragmentos de ossos. Os principais ossos ou materiais para o confronto genético são: 9 • O osso do fêmur, que é o osso que sai da nossa bacia e vai até o joelho. Deverá ser coletada a cabeça do fêmur e enviada para o laboratório de genética forense. 10 • Os arcos costais 11 • Dentes • Ou até mesmo a mandíbula toda, na hipótese da seção médico legal contar com um profissional da odontologia, quando poderá ser solicitada a perícia odonto legal, que irá confrontar os registros de tratamento odontológico da possível vítima e a arcada dentária da ossada encontrada. 12 Parte histórica da medicina legal Mas no início, como era a MEDICINA LEGAL? Período antigo Para entendermos melhor vamos retornar para o período antigo da civilização, onde a lei aplicada era a Lei de Talião que pregava que o mal que fosse feito ao próximo deveria ser devolvido da mesma forma. Daí surge a expressão olho por olho e dente por dente, transcrita do Código de Hamurabi. Nesse momento da história a medicina legal tratava de discutir e examinar as questões referentes à virgindade, ao estupro, ao homicídio, às lesões corporais e aos problemas de ordem moral. Se um indivíduo cometesse uma das atitudes descritas, um perito nomeado pelo chefe local iria analisar e constatar se houve falta grave de acordo com as leis da época e devolver “na mesma moeda” ao agressor. Esta era a lei e a justiça da época. Período clássico Já em Roma a medicina legal foi utilizada para examinar e descrever a morte do imperador Júlio César. Segundo os relatos dos livros, Julio César foi vítima de um golpe político e sofreu violência de mais de sessenta pessoas após haver desprezado a opinião de seus adversários. Em 15 de março de 44 antes de Cristo Julio Cesar foi vítima de um ataque provindo de sessenta Senadores, liderados por seu filho adotivo Marcus Julius Brutus e por Caio Cássio. O exame em tela foi realizado por Antístio, Médico e amigo de Júlio César, que verificou a existência de 23 golpes de adaga, sendo apenas um deles mortal. Idade média No Período da Idade Média, o imperador Justiniano reconheceu os Médicos como testemunhas especiais em juízo; 13 Outro imperador Carlos Magno escreveu leis que prescreviam que os julgamentos deveriam ser pautados em pareceres médicos, devendo os Juízes tomarem depoimentos dos médicos nos casos de lesão corporal, infanticídio, tortura, estupro e outros delitos. É no Período Canônico, de 1200 a 1600, que a perícia médica ganha realmente importância e passa a ser obrigatória para os casos de feridos levados aos Tribunais e então a palavra do Médico passa a ter fé pública em assuntos médicos. Na França, Felipe "O Audaz" emite as Cartas Patentes, em 1278, fazendo referência a cirurgiões juramentados junto ao Rei, e a nomeação de médicos, parteiras e barbeiros para exercerem as funções de perito em casos de lesão corporal e morte violenta. As necropsias continuavam a ser realizadas clandestinamente pelos anatomistas, na calada da noite, através do saque aos túmulos e cemitérios. Não era permitida por ser considerada, à época, uma violação divina. No ano de 1374, o Papa Gregório XI concedeu à Faculdade de Medicina de Montpellier a primeira autorização para exames de estudos anatômicos e clínicos. Em 1521 quando o Papa Leão X veio a óbito com suspeita de envenenamento, seu corpo foi necropsiado. Em 1532 a promulgação da Constituição Criminal do imperador alemão Carlos V, marcou de maneira incomparável a história da Medicina Legal. Em 1575, é publicado o primeiro livro de Medicina Legal do Ocidente, por Ambroisé Paré, que por tal façanha é aclamado, principalmente pelos franceses, como o "pai da Medicina Legal". Período moderno Já no Período Moderno, na Itália, Paulus Zacchias, publica o primeiro Tratado de Medicina Legal, em 1621. Tal obra ficou denominada como Todas as Questões de Medicina Legal, e fez com que seu autor ficasse reconhecido como o verdadeiro pai e fundador da Medicina Legal. Sob a influência das obras escritas, análises em anatomia e exames cadavéricos, percebeu-se a importância dessa disciplina, bem como a necessidade de uma formação específica nessa área, que tanto se relacionava com o Direito. Surge assim, o primeiro curso especializado em Medicina Legal, na Faculdade de Medicina da Alemanha, em 1650. 14Em 1682 é realizada a prova hidrostática de Galeno em caso de infanticídio, substituindo-se a confissão da mãe por prova pericial. Em nosso material de apoio é possível compreender em que consiste o exame e quão importante este exame foi e vem sendo realizado até os dias de hoje. Imprescindível para a aplicação da justiça em casos de suspeita de infanticídio. Foi no período moderno em que a disciplina da medicina legal passou a ter relevância em decisões judiciais e passaram a ter bastante importância e contam até hoje com uma grande aliada na demonstração da verdade dos fatos. Em meados do século XIX, as Ciências Biológicas, fazendo uso de método científico, acarretaram um grande progresso nos diagnósticos médicos de doenças, surgiram aos poucos as especialidades clínicas e cirúrgicas, tudo na esteira dos estudos dos pesquisadores da área pericial, e, sendo assim, a Medicina Legal passou a ser considerada uma ciência da medicina aplicada. No Brasil, de acordo com Croce e França, foi Raymond Nina Rodrigues o fundador, na cidade de Salvador, da primeira Escola de Medicina Legal do país, sendo considerado a figura que nacionalizou o ensino e a pesquisa dessa prática médica. A partir de 1891, a disciplina de Medicina Legal passa a configurar como obrigatória nos cursos de Direito do país, após ser proposta por Rui Barbosa perante a Câmara dos Deputados. A perícia médica criminal foi instituída oficialmente no Brasil em 1932, quando o ramo do Processo Penal é estruturado no país, por força da criação do Código Penal Imperial. Antigamente, no Brasil, na ausência de um perito aprovado em concurso público, o imperador poderia nomear alguém como perito criminal. A vigência do Código de Processo Penal de 1941, em vigor até os dias atuais, determina que as perícias sejam procedidas apenas por Peritos oficiais aprovados em concurso público. Em 20 de outubro de 1967 foi fundada a Associação Brasileira de Medicina Legal, sendo hoje a Medicina Legal reconhecida pelo Conselho Federal de Medicina, pela Associação Médica Brasileira e pela Comissão Nacional de Residência Médica do Ministério da Educação como especialidade médica. Os principais expoentes da Medicina Legal no Brasil são os doutores e professores Hygino Hércules e Genival Veloso França. http://www.jusbrasil.com.br/legislacao/1028351/código-processo-penal-decreto-lei-3689-41 15 Quiz: Corpo de delito deve ser definido como o exame: a) De qualquer objeto encontrado em local de crime; b) De elementos materiais resultantes de um delito; c) De pessoa vítima de um crime; d) Feito por perito em qualquer foro, penal, civil ou administrativo. Vamos considerar primeiro a definição de CORPO DE DELITO: O corpo de delito é o conjunto de vestígios materiais produzidos pelo crime, ou seja, é a sua materialidade, é aquilo que é palpável, que se vê, se ouve ou se sente, isto é, que é perceptível pelos sentidos. São os vestígios do crime, marcas, pegadas, impressões, rastros, resíduos, resquícios e fragmentos de materiais deixados no local, sendo instrumentos ou produtos do crime. Logo, não podemos considerar a assertiva A, pois NÃO É qualquer objeto encontrado em local de crime que será considerado um corpo de delito. A assertiva B está CORRETA, pois devemos sempre considerar que a investigação criminal busca unir indícios e materialidades. Se há materialidade, deverá obrigatoriamente, haver um corpo de delito. É inclusive o que diz o Código Penal: Quando a infração deixar vestígios, será indispensável o exame de corpo de delito, direto ou indireto, não podendo supri-lo a confissão do acusado. A letra C está incorreta, pois nem todo crime ocorre mediante violência. Temos por exemplo a calúnia, a difamação, ou até mesmo o furto, que dispensam o exame de corpo de delito, pois não há violência na conduta do agente que pratica o crime. Para compreender que a letra D está errada, devemos sempre lembrar que a perícia criminal será feita sempre pela delegacia de polícia civil, científica, ou pela Polícia Federal e sempre na esfera CRIMINAL. 16 AULA 2 - A CADEIA DE CUSTÓDIA E OS PERITOS AUXILIARES E ASSISTENTES Na aula de hoje aprenderemos o conceito e a importância da cadeia de custódia no processo penal e acerca dos operadores do Direito e da Medicina Legal responsáveis por esses vestígios e provas, quem são, suas funções e responsabilidades na perícia criminal. Diversos agentes se relacionam com o corpo de delito desde o momento em que a polícia toma conhecimento do fato criminoso até o momento em que este corpo será liberado para a família. Portanto devemos compreender que a perícia criminal se inicia com o deslocamento da polícia investigativa até a cena do crime constatando que ali ocorreu um fato delituoso com resultado morte. De forma alguma a polícia militar, guarda municipal ou outras autoridades policiais poderão tocar ou violar a cena do crime, pois é necessário que todos os objetos e elementos da cena do crime estejam preservados até a chegada da equipe investigativa. O código de processo penal estabelece que quando a autoridade policial tiver conhecimento da prática da infração penal, deverá: “Dirigir-se ao local, providenciando para que não se alterem o estado e conservação das coisas, até a chegada dos peritos criminais;” Essa exigência tem como objetivo assegurar a “cadeia de custódia” que na prática quer dizer que só poderá se relacionar com o corpo de delito e os demais elementos da cena do crime os responsáveis pela perícia criminal e tem como finalidade garantir a correta aplicação da justiça. Esse tema é algo recente e foi incluído no código de processo penal em 2019, logo, a possibilidade de ser cobrado em concursos é algo muito grande! Devemos ter atenção nos conceitos da cadeia de custódia. A melhor definição de CADEIA DE CUSTÓDIA é a que vem da lei do processo penal: 17 “Considera-se cadeia de custódia o conjunto de todos os procedimentos utilizados para manter e documentar a história cronológica do vestígio coletado em locais ou em vítimas de crimes, para rastrear sua posse e manuseio a partir de seu reconhecimento até o descarte.” Quando se inicia a cadeia de custódia? “O início da cadeia de custódia dá-se com a preservação do local de crime ou com procedimentos policiais ou periciais nos quais seja detectada a existência de vestígio.” Quem é o responsável pela cadeia de custódia? “O agente público que reconhecer um elemento como de potencial interesse para a produção da prova pericial fica responsável por sua preservação.” Está previsto inclusive a responsabilização criminal aos que violarem as cenas de um crime antes da chegada da equipe investigativa. Chama-se crime de fraude processual. “É proibida a entrada em locais isolados bem como a remoção de quaisquer vestígios de locais de crime antes da liberação por parte do perito responsável, sendo tipificada como fraude processual a sua realização.” Já no local, com a chegada da equipe investigativa serão enumerados e fotografados os vestígios A coleta deverá ser realizada preferencialmente por perito oficial, que dará o encaminhamento necessário para a central de custódia, mesmo quando for necessária a realização de exames complementares. Todos vestígios coletados no decurso do inquérito ou processo devem ser tratados como descrito nesta Lei, ficando órgão central de perícia oficial de natureza criminal responsável por detalhar a forma do seu cumprimento. 18 O que é feito com esse vestígio? Esse vestígio deverá ser coletado e armazenado em embalagens específicas, obedecendo a natureza do material para ser enviado para oslaboratórios e centrais de análises de vestígios. Os materiais de cunho genético, como facas ou lâminas sujas de sangue, fios de cabelo, unhas, roupas íntimas que guardem relação com crimes sexuais, dentre outros vestígios biológicos serão acondicionados e encaminhados ao laboratório de genética forense. O laboratório de toxicologia será o órgão responsável por analisar teor de drogas ou substâncias entorpecentes apreendidas, venenos, pesticidas, bem como análise de vísceras de indivíduos em casos em que ocorra a suspeita de envenenamento ou intoxicação. Todos os Institutos de Criminalística deverão ter uma central de custódia destinada à guarda e controle dos vestígios, e sua gestão deve ser vinculada diretamente ao órgão central de perícia oficial de natureza criminal. A cadeia de custódia é algo levado muito a sério. Todas as pessoas que tiverem acesso ao vestígio armazenado deverão ser identificadas e deverão ser registradas a data e a hora do acesso. Com o encerramento da perícia de local de crime estará então liberada a remoção do cadáver. Nesse momento o perito responsável pelo local de crime acionará os agentes de perícia para realizar a remoção do cadáver, que será levado até o I.M.L pelo veículo oficial popularmente conhecido como “rabecão”. A autópsia será feita pelo menos seis horas depois do óbito, salvo se os peritos, pela evidência dos sinais de morte, julgarem que possa ser feita antes daquele prazo, o que declararão no auto. Nos casos de morte violenta, bastará o simples exame externo do cadáver, quando não houver infração penal que apurar, ou quando as lesões externas permitirem precisar a causa da morte e não houver necessidade de exame interno para a verificação de alguma circunstância relevante. 19 Conheceremos agora a equipe que compõe a perícia criminal Já vimos em um primeiro momento que a perícia em local de crime será realizada pelo perito do instituto da criminalística que deverá fotografar não só o corpo na posição em que se encontrar, mas também todos os objetos que fizerem parte da cena daquele crime. Após as diligências necessárias liberará a cena do crime para então os agentes de perícia do Instituto Médico Legal removerem o cadáver e levarem até o I.M.L para realizar a necropsia. No instituto médico legal o cadáver será periciado por uma equipe composta pelo agente de necropsia que é o profissional que domina os procedimentos de abertura de cavidades e armazenamento das análises que possam interessar para a perícia. O médico legista, por sua vez, é responsável por coordenar os procedimentos e realizar o laudo cadavérico. O laudo cadavérico será lavrado e encaminhado à delegacia e por ser de fundamental importância servirá para que o delegado compreenda melhor a dinâmica dos fatos e circunstâncias daquele crime. Os elementos coletados durante uma perícia, sejam eles biológicos, como fragmentos de vísceras para análise toxicológica, dentes, sangue, urina e ossos, serão acondicionados em embalagens específicas e enviados para os respectivos laboratórios de análise, são estes: O LABORATÓRIO DE GENÉTICA MOLECULAR FORENSE OU O LABORATÓRIO DE TOXICOLOGIA FORENSE. Lá nesses laboratórios existe uma vasta equipe de perícia responsável pelas análises de todo o Estado. Essa equipe é composta por biomédicos, médicos patologistas e auxiliares de laboratório. Já os elementos não biológicos como projeteis de arma de fogo serão analisados pelos Institutos de Criminalística pelos peritos criminais que trabalham no órgão. Quiz: 1. São exemplos de vestígios e evidências biológicas de interesse pericial: a) Sangue e projéteis de arma de fogo. 20 b) Fios de cabelo e fibras de tecido. c) Vestes e sêmen. d) Material fetal e saliva. Temos de ter muita atenção na leitura do comando da questão que quer a alternativa que contenha evidências biológicas. Ou seja, aquilo que faça parte de um corpo humano, como destacamos na aula. Na alternativa A temos sangue e projeteis de arma de fogo. Os projeteis de arma de fogo, ainda que sejam indícios de um crime, não são elementos biológicos. Logo, descartamos a alternativa A. Na alternativa B temos fibras de tecido que tampouco são elementos biológicos. A fibra de um tecido é um material sintético. Na alternativa C lembramos que vestes podem conter material biológico, mas não necessariamente são materiais biológicos. E finalmente, a alternativa CORRETA, a letra D – MATERIAL FETAL E SALIVA, é a alternativa correta, pois o material fetal corresponde a um material biológico que deverá ser periciado, bem como a saliva, que pode ser encontrada em bitucas de cigarro, chicletes e alimentos e é um material biológico genético muito utilizada pelos laboratórios de genética forense para produzir provas contra suspeitos de ter cometido crimes. 2. Durante a perícia em um caso de homicídio, ocorrido em uma via pública, o responsável solicita ao auxiliar que observe o local e aponte vestígios de interesse forense considerando o caso. O cadáver, ainda no local, foi analisado preliminarmente, tendo sido identificadas lesões provocadas por arma branca. Assinale a alternativa que NÃO apresenta, nessa situação e relacionado ao caso, vestígios que o auxiliar mencionaria. a) Os danos no tecido do vestuário da vítima em compatibilidade com as lesões pérfuroincisas. b) Um automóvel estacionado a alguns metros do cadáver juntamente com outros veículos. c) Manchas de sangue próximas ao corpo formadas por espargimento arterial. 21 d) Uma faca situada nas redondezas e compatível com o instrumento causador das lesões. Em uma perícia de local de crime, não é qualquer coisa que será considerada vestígio. É necessário por parte da equipe investigativa um filtro entre o que é considerado um vestígio e o que é irrelevante para a investigação do crime. Na questão exposta, o examinador quer saber o que NÃO tem necessidade de ser informado no laudo. A letra A menciona os buracos na roupa da vítima produzidos por um instrumento perfuro inciso. Assim como a arma do crime e o corpo com os ferimentos produzidos pela arma branca, a roupa da vítima também traz o resultado dos golpes sofridos pela vítima, logo, é algo importante para ser coletado. A letra B fala acerca de um automóvel, junto a outros veículos que estão estacionados perto da vítima, mas não dá detalhes da relevância destes automóveis para a perícia. Logo, a letra B não apresenta vestígio relevante para ser mencionado no laudo. A letra C fala acerca de manchas de sangue formadas que jorraram da artéria da vítima. É um vestígio relevante e deverá ser fotografado. A letra D menciona uma faca localizada nas redondezas do crime. Esta faca é um vestígio que deverá ser coletado para analisar se os ferimentos são compatíveis com a faca e também se as digitais no instrumento são do agressor. A arma do crime ser compatível com as lesões indica a materialidade do delito. 3. Assinale a alternativa que NÃO apresenta uma finalidade do levantamento de local de crime. a) Buscar e reconhecer vestígios e elementos com potencial interesse para a produção da prova pericial. b) Perpetuar a situação em que se encontrava o local, os vestígios e suas posições relativas, a fim de que possam, em qualquer tempo, serem exibidos como prova. c) Levar a termo as declarações das testemunhas em procedimento de interrogatório, constituído por duas partes: sobre a pessoa do acusado e sobre os fatos. 22 d) Fotografar os cadáveres na posição em que forem encontrados, bem como, na medida do possível, todas as lesões externas e vestígios deixados no local do crime. A questão quer saber o que é relevante constar emum laudo de local de crime e o que não tem relevância, então vamos lá: A letra A fala sobre a busca e o reconhecimento dos vestígios, fator de suma importância para a perícia de local de crime e que deve ocorrer em 100% dos casos. A letra B se refere a perpetuar, ou seja, fotografar ou reproduzir o local da cena do crime, seja por meio de fotos, croquis, vídeos ou esquemas, para que posteriormente, possam ser utilizados como prova. A letra C diz respeito ao trabalho da Delegacia de Polícia, na função do investigador policial, que tem como meta arrolar testemunhas e suspeitos, coordenar os interrogatórios e intimar os acusados pelo crime. Como não é este o trabalho do perito criminal, esta é a alternativa incorreta. A letra D, assim como a alternativa B, traz uma importante função do perito criminal, que será fotografar o cadáver, as lesões e os vestígios na cena daquele crime, para que posteriormente, possa ser utilizado pelo delegado no inquérito e pelo juiz no processamento da ação penal. 23 AULA 3 - DOCUMENTOS LEGAIS E QUESITOS OFICIAIS Na aula de hoje iremos aprender acerca dos documentos que envolvem a rotina do trabalho no Instituto Médico Legal. A Declaração de Óbito é o documento preenchido pelo agente de perícia ou médico legista e tem várias finalidades, dentre elas: • Confirmar a morte da vítima • Determinar a causa da morte • Extinguir direitos e obrigações de ordem civil, estatística, demográfica e político-sanitária. Por exemplo: É com a emissão da declaração de óbito que se solicita a abertura de um inventário e partilha, extingue-se uma dívida, dentre outras várias consequências que advêm da morte. Inicialmente vamos tratar da Declaração de Óbito, vejamos o que a lei diz: “Nenhum sepultamento ou cremação serão feitos sem certidão de oficial de registro do local de falecimento, extraída após lavratura do assento de óbito, em vista de atestado médico, se houver no lugar, ou, em caso contrário, de duas pessoas qualificadas que tiverem presenciado ou verificado a morte.” O atestado de óbito que a lei se refere é a Declaração de Óbito é da responsabilidade do médico que atestou a morte. A morte será atestada pelo médico legista do Instituto Médico Legal quando se tratar de morte com circunstância suspeita, violenta ou criminosa. É considerada uma morte violenta o suicídio, o acidente de trânsito, o homicídio, o afogamento, decorrente de incêndio e asfixias. Caso a morte decorra de circunstâncias naturais será responsabilidade do serviço de verificação de óbito do município atestar o óbito. Diferença entre serviço de verificação de óbito e serviço médico legal. Inicialmente é importante conceituarmos em que consiste um serviço de verificação de óbito, então vamos lá: 24 O serviço de verificação de óbito tem como finalidade atender aqueles indivíduos que vieram a óbito sem acompanhamento médico, porém, sem que seja decorrente de morte violenta como homicídio, suicídio, afogamento ou acidente de trânsito ou sem qualquer suspeita de causa externa, como envenenamento ou intoxicação. Sendo assim, estes corpos serão encaminhados até o serviço de verificação de óbito para que sejam realizados os exames necessários para constatar a morte natural, para que ocorra a lavratura da declaração de óbito e o preenchimento da declaração de óbito. A finalidade do S.V.O é oferecer informações estatísticas ao município ou Estado para subsidiar pesquisas e campanhas epidemiológicas e de políticas sanitárias. Por exemplo: • Quantas pessoas faleceram em decorrência da dengue em 2019 no estado do Paraná. • Quantas pessoas acima dos 70 anos faleceram em 2019. Com base nessas informações o município ou o estado consegue trabalhar campanhas de vacinação contra doenças como o sarampo, a rubéola, a prevenção ao contágio de doenças venéreas, políticas públicas contra a dengue ou a chicungunha. É importante anotar: O serviço de verificação de óbito atende os casos de morte natural sem assistência médica. E o I.M.L, além dos casos de morte violenta ou com indício de crime deverá atender também as mortes em residência em avançado estado de decomposição bem como aquelas pessoas sem identificação. Quiz: Foi solicitada ao IML a remoção de um corpo encontrado dentro de uma residência. A vítima estava completamente dependurada por uma corda, presa ao pescoço, e com um bilhete dentro de um dos bolsos da calça, comunicando que não desejava viver por mais tempo. 25 Julgue os itens a seguir, relativos ao exame do cadáver mencionado na situação hipotética acima. Qualquer médico poderia assinar a declaração de óbito, pois a morte por enforcamento é evidente, dispensando o exame necroscópico no IML existente naquela localidade. •Certo •Errado A afirmativa está ERRADA. Pois ainda que as circunstâncias do levantamento do local apontem para um suicídio por enforcamento, o suicídio é, de acordo com o código penal, um crime, e, portanto, uma morte violenta de competência do Instituto Médico Legal. O detalhe é que o sujeito que comete o crime já não é punível pois está morto, mas poderá responder pelo crime alguém que tenha auxiliado ou de alguma forma colaborado para a conduta. O procedimento padrão de necropsia nos casos de enforcamento consiste na descrição do sulco reproduzido pela corda no pescoço, a descrição da presença de congestão ocular, a protusão de língua. Em alguns casos é possível verificar a fratura dos ossos do pescoço. A coleta de sangue e urina para triagem toxicológica é um procedimento padrão e pode oferecer mais subsídios para a investigação criminal. Se o perito achar necessário, pode solicitar também pela abertura da cavidade torácica, em que examinando os vasos da base do coração e os pulmões, poderão estar congestionados e com pequenos pontos arroxeados, que recebem o nome de petéquias. Quiz: Assinale a alternativa incorreta. O médico legista é obrigado a preencher a declaração de óbito quando tiver realizado necrópsia de: A - Criança que nasceu viva e morreu logo após o nascimento. B - Morte suspeita. C - Cadáveres de adultos não qualificados. 26 D - Falecidos por morte natural. A questão pede a alternativa incorreta. Logo, analisamos que a letra A trata de um caso onde a perícia consiste em verificar se a acriança nasceu viva ou já estava morta durante o momento da concepção. Ainda que o médico legista não tenha de imediato o suficiente para atestar a causa do óbito, deverá preencher a declaração de óbito como causa indeterminada. A alternativa B diz respeito a um caso de competência do I.M.L, pois as mortes suspeitas deverão ser encaminhadas para se apurar se há indícios de crime ou não. Ao final da perícia, do médico legista preencherá a declaração de óbito com a causa da morte. A letra C se refere aos cadáveres de desconhecidos que devem ser periciados pelo I.M.L, onde será preenchida a declaração de óbito com a causa da morte e será aguardado a família para possível identificação. Letra D - Já os falecimentos por morte natural, como vimos na aula de hoje, é uma competência do médico do serviço de verificação do óbito, que deverá atestar o óbito, e não do perito médico legista do IML. Portanto, a alternativa CORRETA é a letra D. 27 AULA 4 - SEXOLOGIA FORENSE Na aula de hoje iremos aprender sobre sexologia forense e os procedimentos realizados pela perícia médico legal na atuação contra os crimes sexuais. Inicialmente vamos compreender o conceito de Genival Veloso França acerca da sexologia forense:Trata-se da parte da Medicina Legal que estuda as questões médico-biológicas e periciais ligadas aos delitos contra a dignidade e a liberdade sexual. Segundo a Organização Mundial da Saúde a violência sexual é: “O uso intencional da força ou o poder físico, de fato ou como ameaça, contra uma pessoa ou um grupo ou comunidade, que cause ou tenha possibilidade de causar lesões, morte, danos psicológicos, transtornos do desenvolvimento ou privações’’. A dignidade sexual do ser humano é considerada um bem precioso e que não deve ser violado em circunstância alguma. Caso isso ocorra, cabe ao Direito Penal, através de um trabalho investigativo apurar e punir o infrator na medida da sua conduta. A definição da lei para violência sexual encontra-se no artigo 213 do Código Penal que fala acerca do estupro: “Constranger alguém, mediante violência ou grave ameaça, a ter conjunção carnal ou a praticar ou permitir com que ele se pratique outro ato libidinoso’’. É importante esclarecer que: • Homem e mulher poderão ser sujeitos ativo ou passivo no crime de estupro. • Conjunção carnal é a penetração do pênis na vagina. • Entende-se por ato libidinoso ato diverso da conjunção carnal. É todo ato praticado com a finalidade de satisfazer o apetite sexual. • Grave ameaça é uma modalidade de violência moral em que a resistência é vencida pela promessa de prática de violência física ou chantagem contra a vítima ou qualquer pessoa próxima. 28 • Quando o estupro é praticado mediante grave ameaça, não deixa vestígios de violência no corpo da vítima, o que dificulta o trabalho pericial. • Segundo estimativas, ocorrem 527 mil casos de violência sexual no Brasil anualmente (IPEA, 2014); Quanto ao ESTUPRO DE VULNERÁVEL, a lei traz uma outra definição: Ter conjunção carnal ou praticar outro ato libidinoso com menor de 14 anos. Para configuração do delito de estupro de vulnerável são irrelevantes a experiência sexual ou o consentimento da vítima menor de 14 anos. Não há aceite da vítima se ela é menor de 14 anos, pois presume-se que a vítima menor de 14 anos não tem o discernimento para decidir sobre isso. Perícia em estupro Existem duas classes de sinais que a perícia procura identificar para constatar a ocorrência de conjunção carnal, são esses: • Sinais duvidosos de conjunção, que indicam a possibilidade de ocorrência, mas não a caracterizam; Sinais certos, que, uma vez constatados, caracterizam a ocorrência da conjunção carnal. Quando a polícia toma conhecimento que ocorreu um crime contra a dignidade sexual em algum local específico as medidas a serem tomadas são: Perícia em local de crime sexual • O local onde se deu a agressão sexual deve ser inteiramente preservado e protegido. • A descrição do ambiente e das alterações nele encontrada devem ser minuciosas. • Procurar objetos pessoais da vítima ou do agressor, incluindo peças íntimas, pontas de cigarro. 29 • Procurar manchas e outros elementos biológicos. Perícia sobre a vítima • O Exame de corpo de delito realizado em local adequado e com privacidade. • Ter sempre o consentimento livre e esclarecido da vítima e, em casos menores, obter o consentimento dos seus representantes legais. • Em casos de exames em menores, ter sempre alguém da família presente. • Aceitar a recusa ou o limite do exame pela vítima. • As amostras coletadas devem ser sempre em número de duas ou mais para possível contraprova. Existem exames específicos para determinadas conjunções e atos libidinosos, sempre com o objetivo de encontrar vestígios biológicos do agressor no corpo da vítima. O perito deve se atentar para certos sinais, que podem ser divididos em: Sinais duvidosos: • Dor: quando ocorre o rompimento do hímen, é natural sentimento de dor, que pode se prolongar por algum tempo. O grau e intensidade da dor vai depender das condições em que o ato foi realizado, e também da sensibilidade individual de cada mulher. • Hemorragia: o hímen é um tecido e, quando se rompe, é natural o início de uma hemorragia. O grau e intensidade da hemorragia também é variável, de acordo com cada caso: existem casos em que a hemorragia não ocorre, e existe caso relatado na literatura de hemorragia até a morte da mulher. A perícia deve tomar cuidado especial quanto à simulação. • Lesões: além do rompimento do hímen propriamente dito, podem ocorrerem ainda escoriações, equimoses e lesões vulvares ou perigenitais, decorrentes em 30 regra do emprego de violência para a efetivação da conjunção carnal, que eventualmente podem ser identificadas pelos peritos. • Contaminações: a contaminação da vítima por doença venérea é um indício de contato íntimo. Entretanto, por si só não caracteriza a conjunção, pois pode resultar de prática libidinosa diversa da conjunção. A perícia deve avaliar a existência da doença também no agressor e, ainda, verificar se a evolução da doença coincide com a data alegada da conjunção. Sinais certos: • Esperma na vagina: a existência de esperma no interior da vagina é a prova certa da conjunção carnal. Existem dificuldades periciais em se constatar sua existência, como o lapso de tempo entre a relação e a perícia, bem como a própria higiene da mulher. A prova pericial se faz com a coleta do material na vagina. • Gravidez: tempo compatível. • Ruptura do hímen: só é um sinal certo da conjunção quando se trata de mulher virgem, não se aplicando às defloradas. Existem casos em que o hímen é rompido por outras razões: queda sobre objetos rígidos ou pontiagudos, exames médicos realizados com imperícia, masturbação (geralmente violenta, praticada por outro e ainda por doenças (muito raro). Tempo de ruptura do hímen: • Recentíssima: ocorreu há poucas horas, as bordas estão sangrantes; • Recente: em cicatrização, pois ocorreu até 15 dias atrás; Há outros pontos a esclarecer na perícia do estupro. Entre outros, a identidade e o estado mental do agressor a fim de medir sua capacidade de entendimento ao fato delituoso e, também, averiguar suas possibilidades físicas de constranger e dobrar a vítima aos seus instintos sexuais. Atualmente existem protocolos para investigação de crimes específicos. Os protocolos são sequências de procedimentos padrões determinados pelos órgãos periciais com o objetivo de uniformizar os exames realizados em um I.M.L. Por exemplo, o crime do feminicídio tem como natureza ofender e atentar contra o gênero 31 feminino. Muitas vezes o agressor viola a dignidade sexual da vítima nestes crimes e por isso é necessária uma atenção maior na busca de vestígios. Caso o agressor tenha, por exemplo, praticado a conjunção antes de atentar contra a vida da vítima, a lei prevê um aumento de pena. O mesmo ocorre se a vítima estiver gestante, lactante ou recentemente dado a luz. Uma das provas mais evidentes para afirmar se ocorreu a prática delituosa são os exames produzidos no I.M.L. Exame objetivo específico – coitos O perito deverá posicionar a vítima em decúbito dorsal, com as pernas entreabertas e analisar e fotografar o orifício anal em busca de lesões locais como equimoses, rupturas, coleta de pelos e por fim realizar o procedimento de suabe para coletar amostras de sêmen, para identificação pelos testes de DNA. • Coito vaginal: O perito deverá posicionar a vítima em decúbito dorsal, com as pernas entreabertas e analisar e fotografar o orifício anal em busca de lesões locais como equimoses, rupturas, coleta de pelos e por fim realizar o procedimento de suabe para coletar amostras de sêmen, para identificação pelos testes de DNA. • Coito oral: O perito solicitará, em caso de perícia em vivos, que ocorra o estudo das lesões labiais e linguais, coleta de amostra de material biológico, pesquisa depossíveis lesões traumáticas e possíveis componentes do objeto usado na penetração. Quiz: 1. Vítima de estupro, sexo feminino, 24 anos, chega para exame pericial. A vítima refere que o agressor a ameaçou com arma branca e obrigou-a a manter com ele conjunção carnal. Assinale a alternativa correta sobre esse caso. a) Trata-se de estupro de vulnerável, visto que a vítima foi ameaçada pelo agressor com emprego de arma branca. 32 b) Se o agente tivesse obrigado, sob ameaça com arma branca, a vítima a praticar conjunção carnal com terceira pessoa, estaria descaracterizado o crime de estupro. c) É irrelevante do ponto de vista pericial que a vítima informe a respeito de conjunção carnal consentida prévia. d) Caso a vítima tivesse menos de 14 anos de idade, mesmo que não houvesse ameaça por parte do agente e mesmo que a vítima consentisse a relação sexual, estaria caracterizado o crime de estupro. A letra A está incorreta, pois o fato, por si só, do agressor empregar uma arma branca e ameaçar a vítima não a coloca na condição de vulnerável. O vulnerável é considerado o menor de 14 anos, doente mental ou em condição psíquica que a torne vulnerável, como a ingestão de substâncias consideradas drogas para abuso, como, por exemplo, o Boa Noite Cinderela. A afirmativa letra B é falsa, pois o Código Penal prevê que também se considera estupro obrigar a vítima a praticar conjunção carnal com terceiro. A respeito da letra C, questões como o consentimento da vítima em se relacionar com o acusado são de extrema relevância para o laudo e inquérito policial, pois descaracterizam um estupro. Portanto a letra C não está correta. Por fim, a alternativa CORRETA, a opção D. Caso a vítima tivesse menos de 14 anos a relação sexual seria considerada conjunção carnal. Isso ocorre, pois, a lei brasileira entende que a pessoa com idade MENOR que 14 anos não tem a maturidade necessária para decidir se quer se relacionar sexualmente com outra pessoa. Esse entendimento tem por base o critério biopsicológico do indivíduo. 2. A respeito da perícia médico-legal em crimes contra a dignidade sexual, assinale a alternativa correta. a) Conjunção carnal é a introdução completa ou incompleta do pênis na cavidade vaginal ou no ânus, ocorrendo ou não ejaculação. b) A constatação de esperma na cavidade vaginal é de muita importância na comprovação da conjunção carnal e pode auxiliar na identificação do agressor. c) Ruptura himenal recente é conclusiva com relação à ocorrência de estupro. 33 d) Não é possível encontrar integridade himenal em mulher com vida sexual iniciada. Inicialmente já podemos descartar a letra A, pois a conjunção carnal é definida pelo código penal como a penetração do pênis na vagina. A opção CORRETA, a letra B corresponde ao que vimos na aula de hoje, a constatação do esperma na cavidade vaginal é importante prova contra o possível agressor pois o sêmen corresponde a material genético que permite a identificação do autor do crime. Sobre a letra C, nem sempre a ruptura recente do hímen caracteriza o estupro, pois não necessariamente a ruptura recente ocorreu por conta de uma conjunção carnal não consentida. Com relação a letra D temos de considerar uma característica de hímen não tão comum, mas existente, o hímen complacente, que significa hímen elástico, e que muitas vezes não se rompe nem com o início das atividades sexuais. Logo, existem mulheres com vida sexual ativa e que possuem ainda hímen complacente. 34 AULA 5 - PERÍCIA EM NASCITUROS Na aula de hoje iremos aprender sobre quem é o nascituro, seus direitos e a perícia em nascituros e bebês, bem como o aspecto legal e criminal dos delitos que envolvam o nascituro, natimorto e os bebês. A expressão “nascituro” decorre do código civil que estabelece que “A personalidade civil do homem começa com o nascimento com vida, mas a lei põe a salvo, desde a concepção, os direitos do nascituro.” Nascituro é, então aquele ser que foi concebido e ainda não nasceu. É o bebê que encontrasse no ventre materno e já tem um conjunto de direitos, como a vida, mas que ainda não nasceu. Esse entendimento da lei brasileira, inclusive, é o que justifica constituir crime o aborto, pois sub entende-se que aquele organismo na barriga da mãe tem uma expectativa de direito à vida, que se concretizará com o nascimento, e por isso, não poderá ter a vida interrompida, a não ser nos casos que veremos a seguir. Aborto legal Existem situações concretas em que a vida da gestante se encontra em risco e o aborto é a única medida a ser tomada para poupar a morte dessa gestante. O código penal estabelece no artigo 128 que não será considerado crime o aborto médico ou o aborto necessário nos casos de perigo de vida da gestante ou quando a gravidez resultou de estupro. Aborto criminoso A lei penal classifica o aborto entre os crimes contra a vida e diz que: • É crime provocar aborto em si mesma ou permitir que outro lhe provoque e a pena prevista é a de detenção de 1 a 3 anos. • Já o indivíduo que provoca o aborto da gestante, sem o consentimento da mesma sofrerá uma pena de 3 a 10 anos. O código penal diz ainda que será imputado ao agente a pena de reclusão de 1 a 4 anos àquele que provocar aborto com o consentimento da gestante. 35 Será aplicada essa mesma pena se a gestante é menor de 14 anos, ou é alienada ou débil mental, ou se o consentimento é obtido mediante fraude, violência ou grave ameaça. Ainda está previsto que serão aumentadas em um terço as penas se em consequência do aborto ou dos meios empregados para provocá-lo, a gestante sofrer lesão de natureza grave. Caso a gestante venha a óbito, as penas serão duplicadas. Se o aborto for provocado pela ingestão de substâncias tóxicas abortivas o organismo da mulher poderá sofrer desde os simples efeitos da intoxicação até o efeito letal. Já os abortos em que se empregam meios mecânicos para a retirada do feto podem ocorrer efeitos colaterais como embolias gasosas, perfurações de útero, lesões das alças intestinais, tétano e infecções hospitalares. Quiz: 1. O médico está autorizado a praticar o aborto com conhecimento da gestante ou de seu representante legal (artigo 128, inciso II, do Código Penal), quando a gestante for vítima de estupro: a) Após estar convencido de que tal circunstância tenha ocorrido; b) Após o registro do fato na Delegacia de Polícia; c) Após o oferecimento da Denúncia contra o autor do fato; d) Após a condenação do autor do fato; e) Após a condenação transitada em julgado em face do autor do fato. Para responder à questão deve ser considerado o que diz o Ministério da Saúde 1.145/05 que explica que não é necessária a existência de boletim de ocorrência para a realização do aborto sentimental. A lei não exige que haja condenação prévia do autor da violência sexual, que haja ação penal em curso, autorização judicial, ou, ainda, que exista instauração de inquérito policial. Basta que o médico forme seu convencimento com base em indícios razoáveis da ocorrência do crime. 36 Uma vez convencido da existência do crime sexual, poderá realizar a intervenção cirúrgica. A alternativa CORRETA é a letra A. 2. Com relação ao aborto necessário, marque a opção correta. a) Pode ser realizado quando houver gravidez de risco. b) Precisa de consentimento da gestante ou de seu representante legal. c) É a interrupção artificial da gravidez para repelir perigo certo e inevitável à vida da gestante, na ausência de outro método eficaz. d) É aquele praticado na presunção de que o futuro filho herdaria dos pais doenças ou anormalidades físicas ou mentais.Vamos entender melhor o tema? Veja só o que diz a lei penal sobre o aborto: Não se pune o aborto praticado por médico. Aborto necessário I - Se não há outro meio de salvar a vida da gestante; Aborto de gravidez decorrente de estupro II - Se a gravidez resulta de estupro e o aborto é precedido de consentimento da gestante ou, quando incapaz, de seu representante legal. Ou seja, a primeira hipótese de aborto é aquela que coloca em xeque a vida da mãe e a única alternativa para assegurar a vida da gestante é o procedimento abortivo. Sendo assim, a lei penal permite expressamente que o aborto seja realizado nesses casos. 37 A letra A fala acerca da gravidez de risco, o que não é uma circunstância que permite o aborto e sim a exigência de cuidados especiais durante a gestação. É o que é chamado de aborto terapêutico ou necessário. Portanto, a alternativa A está errada. Já a letra B fala acerca do consentimento da gestante. É importante considerarmos situações como a que a gestante pode estar inconsciente e impossibilitada de informar ao médico que autoriza o aborto. Este, no entanto, tem o dever legal de assegurar a vida da gestante, e se entender que o aborto é a única medida cabível para assegurar a vida daquela gestante, deverá realizar os procedimentos. Por esse motivo a alternativa B está incorreta. A letra C traz perfeitamente o que diz a lei penal quanto ao aborto necessário. Alternativa CORRETA. Quanto a letra D, o Brasil não permite o aborto nos casos em que os filhos possam herdar doenças congênitas, seja física ou mental, alternativa incorreta. Uma mulher de vinte e oito anos de idade foi presa acusada do crime de infanticídio, após ter jogado em uma centrífuga o bebê que ela havia dado à luz. Segundo a ocorrência policial, um familiar da suspeita disse que ela havia escondido a gravidez e que negava que houvesse praticado aborto. A partir dessa situação hipotética, julgue o item a seguir. 3. Caso a docimasia pulmonar hidrostática de Galeno evidencie franca flutuação desde a primeira fase, excluindo-se as causas de falso-positivos, deverá concluir que o nascituro não respirou. • Certo • Errado A alternativa está INCORRETA, pois o resultado do exame é claro. Se o pulmão, ao ser colocado no recipiente com água, subir até a superfície e boiar, é um sinal que a criança respirou, e, portanto, viveu. Infanticídio e estado puerperal A lei penal estabelece como uma “causa privilegiada” o crime de “matar, sob a influência do estado puerperal o, o próprio filho, durante o parto ou logo após. 38 Causa privilegiada é uma circunstância que atenua, nesse caso, o crime de infanticídio. Já o estado puerperal é definido como um momento até alguns dias após o parto em que a mulher se encontra em uma situação de trauma psicológico, seja por motivos como angústia, aflição, dores, bem como a uma deficiência de alguns níveis hormonais que a medicina entende que podem levar a mulher a cometer o gesto criminoso. A perícia para caracterizar ou não infanticídio é algo muito complexo e exige um estudo detalhado, pois a falha do perito nesse momento pode não só deixar impune quem cometeu o crime como pode também acarretar na prisão injusta de um inocente. Exame pericial O exame pericial tem como objetivo determinar se aquele cadáver analisado tem status de: • Natimorto, que é o indivíduo que já saiu da barriga morto, por alguma circunstância como síndrome, complicação de parto ou erro médico e, portanto, nunca respirou. • Recém-nascido, que é aquele bebê que foi expelido do útero, respirou e posteriormente, por causa natural ou violenta, veio a óbito. Docimasia de galeno A professora Silvia Mota, em breve explicação sobre o referido exame, diz o seguinte: "A palavra docimasia tem origem no grego dokimasia e no francês docimasie (experiência, prova). Trata-se de medida pericial, de caráter médico-legal, aplicada com a finalidade de verificar se uma criança nasce viva ou morta e, portanto, se chega a respirar. Após a respiração o feto tem os pulmões cheios de ar e quando colocados num vasilhame com água, flutuam; não acontecendo o mesmo com os pulmões que não respiram. Se afundarem, é porque não houve respiração; se não afundarem é porque houve respiração e, consequentemente, vida. Daí, a denominação docimasia pulmonar hidrostática de Galeno. 39 No âmbito jurídico a docimasia é relevante porque contribui para a determinação do momento da morte, pois se a pessoa vem à luz viva ou morta, as consequências jurídicas serão diferentes em cada caso. Exemplos: Quando um homem, ao morrer, deixa a mulher grávida e a criança vêm à luz morta, o patrimônio do de cujus transmitir-se-á aos herdeiros deste, que poderão ser seus genitores. Se, por outro lado, a criança nascer viva e morrer imediatamente após o nascimento, o patrimônio do pai passará aos seus herdeiros, no caso, a mãe da criança." Quiz: 4. Em relação ao infanticídio, é correto afirmar que: a) É necessária a presença do estado puerperal da mulher b) A verificação de vida extrauterina não é importante c) É possível sua configuração em natimorto d) A docimasia de galeno não permite verificar que houve vida extrauterina. A lei diz que o infanticídio é o crime cometido pela mãe durante ou minutos após o parto quando tomada pelo “estado puerperal” de descontrole emocional. O professor Genival França diz que este é um estado de descontrole e depressão hormonal onde a mulher não tem entendimento e autodeterminação alguma, portanto não responde por seus atos. Como a letra A expõe, o infanticídio só se configura quando a mulher se encontra acometida pelo estado puerperal. Portanto, alternativa CORRETA. A alternativa B está incorreta. A verificação de vida extrauterina é extremamente importante e inclusive papel do legista determinar, pois caso estiver comprovado que o bebê respirou, estará configurado o infanticídio. A letra C está incorreta e o raciocínio é muito simples. O natimorto é aquele ser que nunca respirou, portanto nunca teve vida. Logo, não pode ser morto o que nunca viveu, estando desconfigurado o infanticídio. 40 A letra D está incorreta pelo fato de que a Docimasia de Galeno é o exame realizado pelo I.M.L para afirmar se houve ou não vida extrauterina. 5. Uma mulher de vinte e oito anos de idade foi presa acusada do crime de infanticídio, após ter jogado em uma centrífuga o bebê que ela havia dado à luz. Segundo a ocorrência policial, um familiar da suspeita disse que ela havia escondido a gravidez e que negava que houvesse praticado aborto. A partir dessa situação hipotética, julgue o item a seguir. Caso a docimasia pulmonar hidrostática de Galeno evidencie franca flutuação desde a primeira fase, excluindo-se as causas de falso-positivos, dever-se-á concluir que o nascituro não respirou. • Certo • Errado A alternativa está INCORRETA, pois o resultado do exame é claro. Se o pulmão, ao ser colocado no recipiente com água, subir até a superfície e boiar, é um sinal que a criança respirou, e, portanto, viveu. Critérios para Investigação do Óbito Infantil e fetal São adotados critérios mínimos de referência para investigação no âmbito nacional, de modo a permitir o dimensionamento dos óbitos investigados no âmbito estadual e municipal, respeitando-se a realidade e as iniciativas locais de implantação das equipes de vigilância. São critérios mínimos sugeridos para investigação todos os óbitos de residentes no município ou Regional: • Pós-neonatais (28 dias a 1 ano incompleto de vida); • Neonatais (0 a 27 dias de vida) com peso ao nascer ≥ 1.500 gramas; • Fetais (natimortos) com peso ao nascer ≥ 2.500 gramas; • Óbitos ocorridos em domicílio.Considerando-se o critério de investigação dos óbitos potencialmente evitáveis, podem ser excluídos os óbitos por malformação congênita grave/complexa/letal. 41 Os municípios com maior capacidade de operacionalização podem estender estes critérios, assumindo, por exemplo, a investigação de óbitos ocorridos em domicílio, fetais com peso ao nascer ≥ 1500 gramas, todos os óbitos neonatais, óbitos de crianças menores de 5 anos, como já acontece em alguns municípios do País. Se o peso de nascimento da criança não está disponível na DO, pode ser necessário o levantamento de dados da Declaração de Nascidos Vivos - DNV (para crianças nascidas vivas) ou do prontuário hospitalar, para seleção do caso segundo o critério de inclusão. Classificação de Wigglesworth modificada e Classificação de Wigglesworth Expandida A classificação de Wigglesworth, (Wigglesworth, 1980; Keeling et al, 1989; CEMACH, 2005) é utilizada em diversos países do mundo para análise do óbito perinatal (fetais e neonatais precoces). Aponta os principais grupos de causas de óbito perinatal, considerando o peso ao nascer e a relação com as circunstâncias do óbito e o momento da assistência à saúde. Utiliza informações clínicas que podem ser obtidas por meio da análise de prontuários, selecionando os aspectos passíveis de intervenção pelos serviços. Essa classificação pode ser aplicada, também, para os óbitos infantis por causas perinatais; não contempla os óbitos infantis por outras causas. Os grupos de causas são excludentes, ou seja, cada caso deve ser categorizado em apenas um grupo de causas. No Anexo VII é apresentado o fluxograma para sua utilização. Grupo de causas 1 Anteparto: morte fetal que ocorre antes do trabalho de parto. Taxas elevadas: falhas na atenção pré-natal e condições maternas adversas. 2 Malformação congênita: Taxas elevadas: falhas no diagnóstico / terapia na gravidez (lesões potencialmente tratáveis). 3 Imaturidade: nascidos vivos com < 37 semanas de gestação, sem hipóxia/anóxia; todos os nascidos vivos com peso ao nascer <1000 gramas. Taxas elevadas: falhas no manejo obstétrico /neonatal. 4 Asfixia: perda fetal intraparto; óbito fetal sem maceração; “fresh stillbirth”, ou seja, natimorto recente (<12 horas); óbitos neonatais por hipóxia, exceto PN< 1000g. Taxas elevadas: falhas no manejo obstétrico e/ou reanimação neonatal. 42 5 Causas específicas: óbitos por infecções especificas (TORSCH), causas típicas de prematuridade em RNT, outros. Taxas elevadas: falhas na assistência pré-natal e assistência ao RN A Calssificação da CEMACH – Confidential Enquiry into Maternal and Child Health (Reino Unido, 2008) propõe 9 grupos de causas de óbitos excludentes como a classificação original. Acrescenta os grupos de causas relacionados à infecção, causas externas, morte súbita e “não classificadas”, como apresentado a seguir: (Anexo VIII) • Grupo 1. Malformação Congênita (letal ou severa); • Grupo 2 Morte fetal anteparto de causa desconhecida; • Grupo 3 Morte intraparto („asfixia ‟, „anoxia ‟ou „trauma ‟); • Grupo 4 Imaturidade/ prematuridade; • Grupo 5 Infecção; • Grupo 6 Outras causas específicas de morte; • Grupo 7 Causa externa; • Grupo 8 Morte súbita, causa desconhecida; • Grupo 9 Não classificadas. Ressalte-se que toda análise de evitabilidade do óbito infantil e fetal deve levar em conta o peso ao nascer, dado que este é o fator isolado de maior importância para a sobrevivência infantil. Isto significa dizer que o óbito de uma criança com baixo peso (<2500g) deve ser considerado de maneira diferenciada em relação a uma criança com peso ao nascer acima de 2500g. Esse diferencial é ainda mais importante para crianças com peso ao nascer <1000g, quando a viabilidade fetal é bastante restrita. Recomendasse, portanto, que a análise e a classificação de evitabilidade do óbito infantil e fetal sejam realizadas com a avaliação do peso ao nascer, tanto por meio de números absolutos (em situações com pequeno número de óbitos) quanto pelo cálculo da proporção e taxas de mortalidade. A análise dos óbitos pode ser feita com a seguinte estratificação por faixas de peso ao nascer: 500-999g; 1000 a 1499g; 1500 a 1999g; 2000 a 2499g; 2500 a 2999g; 3000 gramas ou mais. A produção dos dados e a sistematização da informação devem ser realizadas de forma cotidiana e institucionalizada pelas áreas técnicas das secretarias de saúde e gestores dos serviços de saúde (da atenção básica, urgências e hospitais). A equipe de vigilância deve monitorar e acompanhar sistematicamente os indicadores da assistência 43 obstétrica, neonatal e de saúde da criança, tanto indicadores do processo assistencial quanto de resultados da atenção. Divulgação da investigação dos óbitos e propostas de intervenção As recomendações para redução das mortes infantis e fetais devem ser encaminhadas aos gestores de saúde em todos os níveis, como parte do trabalho da vigilância de óbitos. Devem ser apontadas as medidas de prevenção de novas ocorrências de óbitos potencialmente evitáveis e as medidas de intervenção para a reorganização da assistência. Deve ser promovida a interlocução permanente da equipe de vigilância de óbitos e/ou dos Comitês com os gestores da saúde, para participação na elaboração dos PLANOS DE REDUÇÃO DA MORTALIDADE INFANTIL E FETAL e interferência de forma eficiente nas políticas públicas dirigidas às necessidades da população. Igualmente importante é a divulgação dos resultados e a integração com as demais políticas públicas sociais e de educação para uma atuação intersetorial com vistas à promoção das condições de vida da população e interferência sobre os determinantes sociais da mortalidade infantil. Recomenda-se a elaboração de relatórios periódicos contendo as estratégias de prevenção formuladas para a redução da mortalidade infantil na localidade. Relatórios semestrais ou anuais, conforme acordo local, devem ser encaminhados ao Comitê Estadual. A maneira de organização destes relatórios pode ficar a cargo de cada equipe. Alguns indicadores são sugeridos como referência: • Número total de nascidos vivos e de óbitos do município. • Taxa de mortalidade infantil por componente (neonatal precoce, neonatal tardio e pós-neonatal) e taxa de mortalidade fetal do município. Em municípios menores de 80 mil habitantes é mais adequado apresentar os números absolutos ao invés das taxas. • Percentual de óbitos investigados, segundo critérios adotados. • Proporção de óbitos por período de ocorrência: fetais, neonatais (precoces e tardios) e pós-neonatais. 44 • Proporção de óbitos segundo peso ao nascer. • Proporção de óbitos segundo idade gestacional. • Proporção de óbitos de crianças com asfixia ao nascer (Índice de Apgar <7 no 5º minuto de vida). • Proporção de óbitos e taxa de mortalidade segundo instituição de ocorrência. • Proporção de óbitos por grupos de causa (CID, 10ª revisão). • Proporção de óbitos considerados evitáveis. • Proporção de óbitos segundo critério de evitabilidade: considerar os diversos momentos da assistência conforme listados anteriormente, as dificuldades sociofamiliares e os problemas institucionais ou do sistema de saúde. Um caso pode ser enquadrado em mais de um desses itens. • Principais fatores intervenientes para os óbitos considerados evitáveis, de acordo com os problemas identificados. • Recomendações/propostas e ações de saúde ou medidas de intervenção para redução da mortalidade infantil e fetal potencialmente evitáveis. • Número de reuniões realizadas pelo Comitê. Outros indicadores podem ser construídos, como a condição socioeconômica das famílias utilizando-se, por exemplo, o grau de escolaridade da mãe, características da mãe (idade,paridade), da assistência pré-natal, ao parto, ao RN, entre vários outros fatores disponíveis nos instrumentos de coleta de dados. Os resultados obtidos podem ser divulgados para entidades científicas (Sociedade Brasileira de Pediatria - SBP, Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia – FEBRASGO, outras), bem como escolas médicas, de enfermagem e demais profissionais de saúde, Conselhos de Saúde e de Direitos da Criança, sociedade civil, de maneira a promover a mobilização de todos os atores a fim de subsidiar ações de redução da mortalidade infantil e fetal. Devem ser considerados os canais de divulgação, publicações médicas e de saúde (sítios das secretarias de saúde e do Ministério da Saúde na internet, revista, boletins, outros), publicações oficiais do Sistema de Saúde, por exemplo, os boletins informativos da vigilância epidemiológica e outros meios de comunicação. 45 AULA 6 - ANTROPOLOGIA FORENSE Na aula de hoje iremos compreender acerca dos principais conceitos da antropologia e da identidade do ser e a importância de reconhecer as características únicas de um ser para a perícia médico legal. Identidade é o conjunto de características que tornam uma pessoa individual e permite a diferenciar das outras. O primeiro achado médico legal que utilizou a antropologia forense para reconhecer um corpo ocorreu, segundo os livros, em 1889, em Lião na França, onde foi encontrado um corpo humano altamente putrefeito e coube ao professor e perito Alexander Lacassagne identificá-lo. Este fragmento foi retirado do livro MEDICINA LEGAL – 10a Edição – de Genival Veloso França A primeira iniciativa do mestre foi a transladação do corpo para o necrotério, situado em uma velha barca ancorada às margens do rio Rhône. Era um ambiente repulsivo e deprimente, somente alguém dotado de obstinação e apaixonado pela ciência e pela perícia resistiria a tamanha precariedade. O cheiro da decomposição avançada podia ser sentido a metros de distância, mas, incumbido de do dever legal, iniciou-se a necropsia abrindo a cavidade abdominal. Não constatando útero nem ovários, mas próstata, confirmou que era indivíduo do sexo masculino. Utilizando, em seguida, a Tabela Osteométrica multiplicou suas constantes pelo comprimento dos ossos longos dos membros superiores e inferiores. Assim, achou a altura em torno de 1,78 m. Ao limpar os músculos da perna direita, notou-os mais fracos que os da esquerda. Pesando separadamente os ossos do pé direito e do pé esquerdo, percebeu pequena diferença naqueles, como também uma infecção óssea antiga nos mais leves. Desta forma, chegou à dedução de que o examinado claudicava da perna direita. 46 Pelo desgaste da dentina, pelo acúmulo de tártaro nas raízes dos dentes e pelo adelgaçamento dessas raízes, concluiu ele tratar-se de alguém com cerca de 50 anos. Com base em todas essas descrições perfeitas para a época, surgiram amigos e parentes de um desaparecido, alegando ser este portador de todos aqueles detalhes descritos pelo mestre de Lião. E, sendo Lacassagne apontado naquele instante como um homem de misteriosos poderes e detentor de uma ciência curiosa e apaixonante, limitou-se ele a dizer apenas: “O grande mérito foi do morto. O cadáver é a testemunha mais importante de um crime.” De fato, há sempre um grito silencioso na mudez do cadáver. Identificação médico-legal Neste processo de identificação, exigem-se não só conhecimentos e técnicas médico-legais, como também entendimento de suas ciências acessórias. Sempre é feita por legistas. A identificação médico-legal pode ser efetuada quanto aos seguintes aspectos. Espécie humana ou animal: Quando se encontra um animal, vivo ou morto, com configuração normal, a identificação é uma tarefa fácil. Às vezes, no entanto, podem-se surpreender fragmentos ou partes de seu corpo, inspirando maiores cuidados na sua distinção com restos humanos. Este estudo pode ser levado a efeito nos elementos definidos a seguir. Análise dos ossos: Primeiramente será feita uma análise morfológica dos ossos dos animais e dos homens, pelo exame de suas dimensões e caracteres que os tornam diferentes. Veremos na disciplina de anatomia que o corpo humano possui um conjunto de ossos específicos com relações proporcionais entre si. Estas proporções permitem concluir se se trata de uma ossada humana ou animal. É feita também uma análise Microscópica, onde a diferença é dada pela análise da disposição do tamanho dos canais de Havers. Os canais de Havers são estruturas de vasos sanguíneos que passam entre os ossos. Os animais possuem um número muito maior dessas estruturas que os humanos. 47 Nos animais, são mais estreitos, redondos e mais numerosos, chegando a 40 por mm².Finalmente, pelas reações biológicas, usando-se as provas de anafilaxia, fixação do complemento e soro precipitação. Sangue A primeira providência é saber se o material que está sendo examinado é sangue isso utiliza-se uma técnica muito simples, que consiste na procura dos cristais de Teichmann. Para evidenciar esses cristais, coloca-se um pouco do material sobre a lâmina, cobre-se com a lamínula e deita-se uma gota de ácido acético glacial, levando-a ao calor para uma evaporação lenta, repetindo-se algumas vezes o mesmo processo. Em seguida, leva-se a lâmina ao microscópio e, nos casos positivos, observa-se a presença dos cristais, de forma rômbica, alongados, cor de chocolate, isolados ou em grupos ou em forma de charuto ou de roseta, conforme a disposição em que se encontrem. Atualmente existe um conceito mais adequado para diferenciar os grupos humanos de fenótipos característicos, chamaremos de Tipos étnicos fundamentais ao invés de raça, como chamavam antigamente. Tipo caucásico. Pele branca ou trigueira; cabelos lisos ou crespos, louros ou castanhos; íris azuis ou castanhas; contorno craniofacial anterior ovoide ou ovoide- poligonal; perfil facial ortognata e ligeiramente prognata. Tipo mongólico. Pele amarela; cabelos lisos; face achatada de diante para trás; fronte larga e baixa; espaço interorbital largo; maxilares pequenos e mento saliente. Tipo negroide. Pele negra; cabelos crespos, em tufos; crânio pequeno; perfil facial prognata; fronte alta e saliente; íris castanhas; nariz pequeno, largo e achatado; perfil côncavo e curto; narinas espessas e afastadas, visíveis de frente e circulares. Tipo indiano. Não se afigura como um tipo racial definido. Estatura alta; pele amarelo-trigueira, tendente ao avermelhado; cabelos pretos, lisos, espessos e luzidios; íris castanhas; crânio mesocéfalo; supercílios espessos; orelhas pequenas; nariz saliente, estreito e longo; barba escassa; fronte vertical: zigomas salientes e largos. Tipo australoide. Estatura alta; pele trigueira; nariz curto e largo; arcadas zigomáticas largas e volumosas; prognatismo maxilar e alveolar; cintura escapular larga e pélvica estreita; dentes fortes; mento retraído; arcadas superciliares salientes e crânio dolicocéfalo. 48 Diferenciando as ossadas humanas pertencentes a um homem e a uma mulher Os ossos cranianos do homem têm saliências e sua fronte é achatada, enquanto o crânio da mulher é mais liso e a fronte reta. Essas diferenças aparecem após a puberdade e são disparadas por hormônios. A pelve feminina tem formato mais circular, possui uma grande abertura redonda ao centro e é mais larga que a do homem e uma cavidade pélvica maior que facilita a passagem do bebê no parto. A pelve do homem também tem uma abertura, mas menor e em forma de coração. Quanto aos outros ossos, os do homem são habitualmente maiores e mais pesados que os da mulher. O tórax do homem assemelha-sea um cone invertido; o da mulher tem a semelhança de um ovoide. Na mulher, vê-se uma predominância da cintura pélvica, enquanto, no homem, nota-se a cintura escapular mais larga. Tatuagem: É comum em casos em que o reconhecimento do corpo não possa ocorrer pela via facial que seja relatado a comunidade e prováveis familiares as tatuagens encontradas no indivíduo. Os livros chamam de “cicatrizes que falam”. As tatuagens também são importantes marcas na criminalidade, um universo de códigos próprios. Na cadeia, por exemplo, outros presos conhecidos como “tatuadores” costumam marcar na pele os outros presos, com base nos crimes que cometeram. No mundo do crime essa não é uma opção. Vejamos alguns significados de tatuagens e como a compreensão desses símbolos pode ajudar a polícia na busca por suspeitos: Índia: A tatuagem de uma mulher índia pode indicar que o criminoso é especialista em roubo, com grande habilidade de criar maneiras de atrair as vítimas. O símbolo também é muito utilizado por traficantes no Rio de Janeiro. Os membros da quadrilha que recebem esse desenho estão autorizados a usar as armas mais pesadas, como fuzis. Jesus: O uso da imagem de Jesus Cristo tem origem na máfia russa, mas foi apropriado também por quadrilhas brasileiras. O desenho representa alguém que foi condenado a pagar uma pena muito longa. Se o desenho estiver na perna ou no peito, 49 significa que o criminoso está envolvido em latrocínio – roubo seguido de morte. Também pode representar uma proteção. Amor só de mãe: A frase parece ser inofensiva, mas representa um ato de discriminação que gera grande martírio para os detentos. Esse é o código usado para identificar homossexuais na cadeia. Marcado com essa tatuagem, o detento pode ser obrigado a manter relações sexuais com outros presos, podendo ser estuprado diversas vezes no mesmo dia. Dentre outras tatuagens que trazem características com base no crime que o apenado cometeu. Cicatrizes: São caracteres valiosos para ajudar uma identificação individual. Devem ser estudadas quanto à forma, região, dimensões, colorido, resistência e mobilidade. Têm interesse não apenas quanto à identificação, mas também no que se refere a fatos ocorridos anteriormente. Essas cicatrizes podem ser traumáticas, por ação de agentes mecânicos, por queimaduras ou por ação de cáusticos; patológicas, como as da vacina ou da varíola; e, finalmente, cirúrgicas. Nesse último caso é importante destacar que nas hipóteses de ser impossível realizar o reconhecimento facial, a equipe médico legal pode questionar a família se a suposta vítima realizou em vida algum procedimento cirúrgico como pinos, parafusos ou placas. Em caso da resposta ser afirmativa, a busca por uma característica pode ser de fundamental importância para a identificação, inclusive utilizando radiografias que podem ser fornecidas pela família para auxiliar na identificação. 50 AULA 7 - TOXICOLOGIA E ANATOMOPATOLOGIA FORENSE Na aula de hoje iremos aprender acerca dos exames de toxicologia forense, a necessidade e os casos em que são necessários, bem como a coleta e o armazenamento e transporte destes materiais até os laboratórios. Iremos aprender também acerca dos exames complementares realizados pelo I.M.L e como eles auxiliam na descoberta da causa da morte. A toxicologia forense tem a finalidade de identificar a presença de substâncias químicas em casos de investigação de violência, homicídios, suicídios, acidentes e uso de drogas de abuso para auxiliar na investigação criminal e nos processos cíveis. Matrizes toxicológicas Uma matriz toxicológica é o elemento utilizado para realizar aquela triagem toxicológica. São matrizes toxicológicas utilizadas pelos laboratórios de investigação: • Sangue Quando o resultado é positivo, indica que a exposição da vítima à toxina foi recente, pois as substâncias desaparecem do sangue rapidamente. Utilizando seringa comum de 10ML, deve ser coletado de partes específicas do corpo, são elas: • Cavidade cardíaca • Artéria femoral • Artéria subclávia Após a coleta o sangue deverá ser depositado em frascos adequados para o armazenamento e refrigerado. Coleta-se dois tubos de 5 ML cada. • Urina 51 A urina, coletada da bexiga da vítima poderá ser acessada pelo púbis, externamente, ou internamente acessando a bexiga pelo abdômen da vítima. Tem um tempo de detecção de 1 a 3 dias para a maioria das substâncias. Após a coleta a urina deverá ser armazenada em frasco limpo e refrigerado. • Líquido estomacal O conteúdo estomacal é uma matriz utilizada em situações específicas para os casos em que exista a suspeita que a vítima tenha ingerido alguma substância tóxica, seja acidental ou intencionalmente, em hipóteses de suicídio ou até mesmo envenenamento. A coleta do líquido estomacal é feita com a retirada em bloco do estômago da vítima. Aberta a cavidade torácica, o estômago é amarrado em sua parte superior, no esôfago que é o início do estômago e amarrado também no início do duodeno, que é a saída para o intestino. Já em um padrão nos Institutos Médico Legais que as mortes suspeitas em instituições carcerárias sejam realizadas a coleta do estômago da vítima para verificar se ocorreu o famoso “Gatorade” como é conhecido no meio policial, em que a vítima é coagida a ingerir a substância e logo em seguida tem uma morte súbita, normalmente decorrente de infarto, semelhante a overdose. Síndrome de body packer Os indivíduos chamados “Body Packer” pronúncia BARI PÉQUER são classificados como uma classe de transportadores de drogas que utilizam o próprio corpo para tal finalidade, ingerindo a droga em sacos plásticos para embarcar em aeroportos e cadeias. É comum que com o rompimento destas embalagens dentro do estômago a droga seja absorvida pelo corpo em excesso, levando a convulsões e rapidamente ao óbito. Quando o indivíduo consegue com sucesso chegar até o local de entrega a droga é retirada por laparotomia que consiste na abertura cirúrgica da cavidade abdominal, o que também pode causar o óbito pois ocorrem em clínicas clandestinas sem a higienização e o cuidado adequado para realizar um procedimento cirúrgico. 52 Fígado O acesso ao fígado é feito através da abertura da cavidade torácica, coletando fragmentos do fígado não maiores que 10 gramas do tecido, que deverá ser acondicionado em frasco limpo e logo em seguida refrigerado. É o principal órgão responsável pela metabolização de fármacos e drogas, o que explica as elevadas concentrações observadas neste órgão, permitindo que os tóxicos sejam facilmente detectados mesmo quando presentes em baixas concentrações no sangue Toxicologia nos crimes de trânsito Nos crimes de trânsito com vítimas fatais a perícia toxicológica se faz fundamental. Deve ser coletado sangue e urina da vítima. A triagem solicitada ao laboratório é a triagem toxicológica e alcoolêmica. Os exames laboratoriais nos crimes de trânsito têm como objetivo oferecer respaldo nos processos cíveis e penais. 53 Por exemplo, se o laudo cadavérico da vítima acusar a ingestão de álcool ou qualquer outra droga de abuso como medicamentos ou cocaína, poderá ser alegado culpa exclusiva ou parcial da vítima, fazendo com que os familiares da vítima deixem de receber o Seguro DPVAT. Eventualmente juízes podem também ordenar que o causador do acidente de trânsito seja encaminhado ao IML para realizar exames de triagem toxicológica ou alcoólica. No entanto vale lembrar que ninguém é obrigado a produzir provas contra si mesmo. Toxicologia nos crimes sexuais A toxicologia noscrimes sexuais tem como objetivo detectar a ingestão de drogas que facilitem o abuso sexual, como o popularmente conhecido “BOA NOITE CINDERELA” dentre outras. Essa categoria de droga é conhecida como “rape drugs” que significa drogas para abusar e são utilizadas para cometer desde crimes de violência sexual até outros delitos como roubo e sequestro. A triagem toxicológica nesses casos busca detectar remédios como o ROHYPNOL e o princípio ativo como o HGB que é um depressor do sistema nervoso central. Anatomopatologia forense Os exames anatomopatológicos são exames complementares realizados em um I.M.L e tem como objetivo analisarem microscopicamente os órgãos da vítima para verificar se há alguma alteração que justifique a falência daquele órgão. Por exemplo, um exame anatomopatológico do coração poderá afirmar se houve um infarto ou não, pois nem sempre a ruptura das fibras musculares cardíacas é visível “a olho nu”. Já um exame de pulmão de um cadáver carbonizado poderá definir se ocorreu a asfixia por dióxido de carbono daquela vítima ou se ele morreu decorrente de algum outro fator, seja acidente, queda, ou qualquer outra circunstância não evidenciada no exame cadavérico. 54 Esses exames são de fundamental importância para esclarecer mortes suspeitas ou mortes por causa indeterminada. As vísceras que serão enviadas para análise deverão ser acondicionadas em frascos contendo formol e armazenados em temperatura ambiente, não havendo necessidade de refrigerá-las. Quiz 1. Em relação à coleta de material nas necropsias, aponte aquele que geralmente deve ser guardado, quando se suspeita da ingestão de substância tóxica após o óbito. a) Estômago com seu conteúdo. b) Cérebro e cerebelo. c) Pulmões. d) Sangue. Vimos neste capítulo que as matrizes toxicológicas ideais devem ser eleitas com base nas circunstâncias e suspeitas. No caso acima, estamos diante de uma suspeita de ingestão de substância tóxica, como uma comida ou uma bebida envenenada. A matriz ideal, portanto, será o estômago, que deverá ser coletado em bloco, amarrado como uma bexiga, sem que o conteúdo em seu interior extravase. A alternativa CORRETA é a letra A. 2. A polícia civil levou a um pronto-socorro um rapaz suspeito de ter ingerido cápsulas de drogas ilícitas. No momento do atendimento médico, ele estava assintomático, e seu exame físico não evidenciou anormalidades. No entanto, o exame radiográfico gastrintestinal revelou estruturas radiopacas com halo de hiper transparência circundante, compatíveis com a suspeita de ingestão de drogas. O quadro evoluiu para excitação motora, agitação e morte. 55 Nesse caso, se for constatada a ingestão de cocaína, a morte sempre ocorrerá com a intoxicação aguda causada pela droga ingerida, e os exames toxicológicos de urina e sangue poderão revelar a droga transportada na proporção de sua ingestão. Com referência às informações objeto da situação anteriormente apresentada, assinale a opção correta. • Certo • Errado A assertiva está CORRETA, pois o enunciado fala acerca do “body packer”, indivíduo popularmente conhecido como mula e que utiliza seu corpo para transportar substâncias entorpecentes. Caso a substância que está sendo transportada for cocaína, a matriz ideal para detecção da substância na proporção ingerida será a urina e o sangue do indivíduo. 3. Em relação à coleta e armazenamento das amostras para exame toxicológico, assinale a afirmativa correta: a) As amostras de vísceras não devem ser armazenadas em formol, mas refrigeradas em congelador para impedir a putrefação do tecido. b) O sangue deve ser coletado em frasco contendo substância formolizada para evitar a coagulação da amostra. c) O estômago deve ser esvaziado para realização do exame toxicológico em amostra da mucosa gástrica. d) As amostras devem ser armazenadas à temperatura ambiente. A alternativa CORRETA é a letra A. Devemos sempre estar cientes que quando se tratar de material coletado para toxicológico não deverá, em hipótese alguma, adicionar formol ou qualquer outro composto. Devendo somente acondicionar em recipiente ideal e congelar a amostra para análise. 4. O exame anatomopatológico auxilia no diagnóstico por meio da avaliação macro e microscópica dos tecidos e das células. Para a conservação adequada da peça para exame, deve-se utilizar: 56 a) Solução alcoólica a 70% b) Solução de formalina a 5% c) Solução de formalina a 10% d) Solução alcoólica a 50% O objetivo da conservação adequada é impedir a autólise, que significa degradação do tecido que será analisado. O produto adequado para impedir a decomposição será o formol, tecnicamente conhecido como formalina e o percentual indicado de volume do líquido de formol é de 10 vezes o volume da peça, portanto, alternativa C, solução de formalina a 10% é a alternativa CORRETA. 57 ÉTICA, BIOÉTICA E BIOSSEGURANÇA Neste módulo iremos estudar a ética, seu significado e a importância da ética para o convívio e para a sociedade. Iremos estudar também a bioética, que é a disciplina responsável por abordar os conflitos éticos existentes nas ciências biológicas, tais como: O aborto, a eutanásia, a morte e o luto, dentre outras temáticas. E por fim, mas não menos importante, a biossegurança que é a disciplina que aborda e capacita o indivíduo para atuar no campo das ciências biológicas tendo conhecimento do uso e manuseio dos equipamentos de proteção individual e dominando os procedimentos que tem como objetivo minimizar os riscos de acidentes e de contágio por parte dos agentes físicos, químicos e biológicos. 58 AULA 1 - MORAL E ÉTICA Na aula de hoje iremos aprender acerca do surgimento do estudo da ética, o significado da ética em nossas vidas e o que é ser um sujeito ético hoje em dia. Significado da palavra ética: A palavra ética vem do grego, que chamam de “ethos” e significa caráter. Os gregos entendiam que a Ética é a junção equilibrada de outras palavras, como: DIREITOS, DEVERES, RESPONSABILIDADE e LIBERDADE. História da ética: Os primeiros escritos acerca da ética surgiram no século 5 a.C, com o filósofo grego Sócrates. Sócrates tinha como hábito indagar e estimular os debates na Ágora, que eram as praças da Grécia Antiga. Lá se reuniam outros homens livres e debatiam por horas questões relacionadas à guerra, a política, a ciência, a democracia e a ética. Sócrates defendia que se todos os indivíduos seguissem um conjunto de valores pautados em respeito e diálogo sempre em busca da verdade, as sociedades alcançariam a vida em convivência. Sócrates chamava de MAIÊUTICA, que significa “parto de uma ideia” a busca pela verdade, pois defendia que somente indagando e se perguntando o ser humano conseguiria dar à luz e fazer nascer uma ideia capaz de libertar e de criar a paz. A ética e a moral são debates que acompanham a história da humanidade desde então e não devem nunca serem interpretadas como sinônimos, pois são duas coisas totalmente diferentes. Por exemplo, em 1941 a 1945 o Mundo viveu o maior massacre de um povo da história humana, você sabe do que estamos falando? 59 Esse período da história foi chamado de HOLOCAUSTO e consistiu no assassinato em massa de onze milhões de pessoas em sua maioria de origem judia, mas também de ciganos, negros, deficientes e homossexuais. Na época o líder da Alemanha, Adolph Hitler, ordenou que as pessoas que não fizessem parte de uma raça, segundoele, pura, não teria o direito de residir na Europa e deveria ser capturada e levada aos campos de concentração, onde seria submetida ao trabalho forçado e teria como fim a execução. Essa decisão do líder do partido nazista foi uma lei e estabelecia, inclusive, que os alemães deveriam denunciar ao estado alemão pessoas que estivessem escondidas, e os alemães que soubessem e não denunciassem poderiam ser presos por traição e até mesmo assassinados. Onde queremos chegar é que a moral da época na Alemanha Nazista obrigava os alemães a denunciar os judeus e outros povos, colaborando para a morte dos mesmos. No entanto, internamente todo indivíduo sabia dentro de si que tirar a vida ou colaborar para a morte de alguém é algo errado, e, portanto, antiético. Esse exemplo nos mostra que ética e moral nem sempre caminham juntas. Esse período da história inclusive, é tema de discussões filosóficas muito longas sobre a dualidade da ética e da moral. Ética nos dias atuais: Hoje em dia temos uma definição mais objetiva de ética, que significa: Princípios morais pelos quais uma pessoa se guia. Esses princípios morais sofrem influência do espaço em que o indivíduo está situado, das leis e dos costumes de determinada localidade. Enquanto a moral é externa ao indivíduo e tem como base leis, normas, regras e hábitos a ética é o questionamento filosófico do comportamento para questões como: • Devo sempre dizer a verdade ou as vezes posso mentir? • Será que é correto tomar determinada atitude? • Devo ajudar um amigo? • Será que alguém vai ver se eu furar a fila? 60 Essas e outras perguntas que estão dentro da nossa cabeça e guiam nosso comportamento são questionamentos éticos acerca da vida. A ética é, então, uma coisa intrínseca ao ser, ela habita o nosso peito e está dentro de nós. A conduta ética nos acompanha o tempo todo, seja no convívio com a família, nas relações profissionais e na nossa vida social a todo momento, quando estacionamos um carro na rua, quando atravessamos a faixa de pedestres e até mesmo quando vamos ao super mercado. 61 AULA 2 - CONCEITO DA BIOÉTICA Na aula de hoje iremos aprender sobre a bioética, ou seja, a ética que permeia as ciências biológicas. A bioética é ramo de estudo da ética que sempre acompanhará o profissional da saúde e da segurança pública, pois tem relação direta com as características inerentes ao ser humano, como a sensibilidade, o medo, a angústia, o respeito e a insegurança. Muitas vezes a formação do profissional dessas áreas não contempla o estudo da bioética, mas será justamente durante o exercício diário da profissão que essas questões aparecerão. A definição mais adequada e presente nos livros acerca da bioética diz que: A bioética estuda “um conjunto de preocupações, discursos e práticas relacionadas com a vida, os seus limites e as suas interligações” A bioética cientificamente tem como objetivo analisar desde o início da vida, sendo a matriz de debates longos como a concepção, o estudo de células-tronco, o aborto, a captação de órgãos, como: • Qual o início da vida, se após o nascimento com vida ou se durante a concepção; • Quais os direitos do feto; • Qual o direito da mulher de optar pelo aborto e em quais circunstâncias tem esse direito; • A transfusão de sangue e as religiões conservadoras que vedam essa prática; • A captação de órgãos. Dentre outras temáticas que abordaremos no decorrer desse módulo. Para fazermos uma imersão nesse tema tão interessante que é a bioética, iremos estudar um caso concreto onde aplica-se a bioética e refletiremos acerca. Imaginemos 62 que você é um profissional da saúde e atua em determinado hospital de referência no tratamento de Câncer na sua cidade. Na data de hoje uma pessoa conhecida por Tião dá entrada no hospital com sinais característicos de leucemia, uma doença que acomete os glóbulos brancos do corpo humano e tem como consequência, se não tratar, a morte. O diagnóstico se confirma com exames complementares do sangue e plaquetas do paciente, mas o mesmo se recusa a iniciar o tratamento, pois segundo o mesmo, sua religião não permite a transfusão de sangue. Sabendo que se o paciente não iniciar o tratamento, irá morrer, você tenta convencê-lo, sem sucesso. Os profissionais da saúde são incumbidos de um dever absoluto de zelar pela vida de seus pacientes e assegurar a vida, realizando as manobras e os tratamentos necessários para evitar a morte. Esse caso acima é a realidade de muitos hospitais, tendo inclusive vários julgamentos dos Tribunais de Justiça que se posicionam acerca desse tema, pois é comum que os hospitais entrem na justiça com ações exigindo o tratamento do paciente que se nega a se tratar com fundamento na religião e no direito constitucional a exercer sua crença. Vejamos uma notícia sobre o mesmo tema: Respeitar os preceitos de uma religião é respeitar a dignidade humana. Com este entendimento, o desembargador Paulo Alcides Amaral Salles, do Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo, acolheu recurso de um homem que busca o direito de não fazer transfusão de sangue. O autor da ação é testemunha de Jeová, e a religião tem como norma orientar seus fiéis, a não fazer transfusão de sangue. No caso, o homem está com leucemia e a transfusão é o único tratamento. Mesmo assim, ele se recusa a fazer. O hospital foi à Justiça para obrigar o homem a se tratar. O primeiro grau acolheu o pedido. A decisão de agora do TJ é liminar, sendo que um colegiado ainda irá decidir de forma definitiva. O relator afirma que apesar do direito à vida ser fundamental, o autor da ação é adulto e capaz e pode decidir. Isso porque respeitar os preceitos religiosos é "expressão da dignidade humana". 63 Nas palavras do desembargador, ele fundamenta sua decisão da seguinte forma: "A priori, vislumbro legitimidade na recusa do agravante de se submeter às transfusões de sangue, visto que tal procedimento, para ele, implicaria em tratamento degradante por afrontar as suas crenças". Afirma Princípios da bioética: A bioética é norteada por princípios que permitem ao profissional tomar as medidas mais justas e necessárias para cada caso concreto. São estes princípios: A. A autonomia, ou mais precisamente, o respeito pela legítima autonomia das pessoas, pelas suas escolhas e decisões, desde que sem nenhum tipo de coação externa, constitui o princípio fundamental da liberdade, o respeito pela dignidade humana. B. A beneficência consiste no dever de fazer o que é melhor para o doente, agir no seu melhor interesse, ou seja, promover positivamente o seu bem. C. A não maleficência baseia-se na simples condição de, antes de tudo, não prejudicar, o que implica ter sempre em mente a obrigação de não fazer mal a outrem. D. A justiça, que se trata de equalizar todos os demais princípios já expostos sempre em busca da verdade e do bem. São estes os princípios gerais que o profissional que atua direta e indiretamente em atendimentos clínicos, seja na área da saúde e segurança pública devem sempre ter como norte em suas atitudes e em suas condutas. Questões bioéticas na prática médico legal A perícia médico legal é pautada por princípios específicos como a livre convicção das provas. Não importa para a equipe médico legal de plantão se o cadáver do indivíduo que está sendo periciado foi em vida uma boa ou uma má pessoa. 64 É claro que ter conhecimento da dinâmicados fatos permite realizar uma perícia muito mais consistente e verossímil, porém a perícia deve ser ausente de julgamentos e se ocupar com questões precisas e objetivas. Por exemplo: No caso de um indivíduo que entra em um estabelecimento com ânimo de roubar e vem a óbito vítima de disparos de arma de fogo por parte da polícia, não cabe à equipe médico legal “julgá-lo” por tal conduta e sim apurar as circunstâncias objetivas daquela dinâmica, tais como: • Retirar eventuais projetis de arma de fogo no corpo da vítima. • Atestar a hora e a causa do óbito. • Descrever os ferimentos e as lesões presentes no cadáver. • Realizar o reconhecimento e a liberação aos familiares. E principalmente nesse momento é necessário colocar em prática todos os princípios estudados e a desenvolver a empatia para compreender que os familiares merecem sempre o melhor tratamento pautado no princípio da IMPESSOALIDADE: Tratar a todos da mesma forma, independente de poder aquisitivo, cor, religião ou circunstância. A forma para tratar é o respeito, a polidez, a educação e a cortesia profissional. MOMENTO FILOSOFIA Tema: EUTANÁSIA Hoje vimos acerca de um tema muito questionado na bioética, a eutanásia. Aproveite para refletir acerca e aprofundar os estudos em bioética pesquisando acerca do assunto. Quanto mais informação você tiver, mais perto estará de ser um melhor profissional. 65 AULA 3 - BIOÉTICA – CASOS CONCRETOS PARA REFLETIR E DEBATER Na aula de hoje iremos discutir os temas mais polêmicos acerca da bioética. Doação de órgãos É o ato de coletar o órgão ou tecido de um indivíduo chamado de doador e implantá-lo em outro indivíduo chamado de receptor. Pode ocorrer entre dois indivíduos vivos ou entre um doador morto para um receptor vivo. No Brasil, a lei que regula o tema é a lei 9.434 de 1997 que diz que: A disposição gratuita de tecidos, órgãos e partes do corpo humano, em vida ou após a morte, para fins de transplante e tratamento, é permitida na forma da lei. A realização de transplante ou enxertos de tecidos, órgãos ou partes do corpo humano só poderá ser realizada por estabelecimento de saúde, público ou privado, e por equipes médico-cirúrgicas de remoção e transplante previamente autorizados pelo órgão de gestão nacional do Sistema Único de Saúde. A realização de transplantes ou enxertos de tecidos, órgãos e partes do corpo humano só poderá ser autorizada após a realização, no doador, de todos os testes de triagem para diagnóstico de infecção e infestação exigidos em normas regulamentares expedidas pelo Ministério da Saúde. A retirada após a morte de tecidos, órgãos ou partes do corpo humano destinados a transplante ou tratamento deverá ser precedida de diagnóstico de morte encefálica, constatada e registrada por dois médicos não participantes das equipes de remoção e transplante, mediante a utilização de critérios clínicos e tecnológicos definidos por resolução do Conselho Federal de Medicina. Será admitida a presença de médico de confiança da família do falecido no ato da comprovação e atestação da morte encefálica. A retirada de tecidos, órgãos e partes do corpo de pessoas falecidas para transplantes ou outra finalidade terapêutica, dependerá da autorização do cônjuge ou 66 parente, maior de idade, obedecida a linha sucessória, reta ou colateral, até o segundo grau inclusive, firmada em documento subscrito por duas testemunhas presentes à verificação da morte. A remoção de tecidos, órgãos ou partes do corpo de pessoa juridicamente incapaz poderá ser feita desde que permitida expressamente por ambos os pais, ou por seus responsáveis legais. É vedada a remoção de tecidos, órgãos ou partes do corpo de pessoas não identificadas após a morte. Com tanta lei e regulamentação e procedimentos rígidos acerca do controle dos tecidos retirados, ainda assim não existe limite para a ganância e a venda de órgãos no mercado negro é uma realidade da criminalidade há anos, em esquemas que envolvem vários países. Pesquisas científicas em animais A bioética ocupa-se também de debater questões como a experimentação de substâncias e medicamentos em animais. Atualmente existem diversos institutos que realizam pesquisas no Mundo todo com o objetivo de desenvolverem novos medicamentos, fármacos, cosméticos, vacinas e outros itens químico biológicos. Maior parte das pesquisas realizadas são testadas inicialmente em cobaias, como roedores, cachorros, ovelhas e outros animais domésticos e silvestres. A cobaia é utilizada nestes ambientes de pesquisa científica como modelo vivo, para que os cientistas possam avaliar as reações vitais de circulação do sangue, coagulação, processos inflamatórios diversos. Os cientistas defendem que se trata de prudência não realizar os testes em vidas humanas e sim animais. Salientam também que existem modelos similares ao corpo humano que reproduzem texturas, aspectos do tecido, no entanto, são incapazes de reproduzir as características de ação e reação dos agentes, como um organismo vivo faz. O principal argumento dos cientistas é que se trata do sacrifício de alguns animais em prol do avanço científico e que essas pesquisas são fundamentais para salvar vidas. 67 Por outro lado, os ativistas e defensores dos animais argumentam que não há interesse por parte dos cientistas em desenvolverem novas matrizes de testes, como protótipos similares do corpo humano que substituam os animais. Pode parecer complexo opinar acerca do assunto pois são diversos pontos de vista que estão em jogo e devem ser analisados, no entanto, o caminho para decidir sempre da forma mais coerente e justa é o através do estudo da bioética. Pesquisa com células tronco Células tronco são células do corpo dotadas de uma alta capacidade de multiplicação. Elas estão presentes no primeiro estágio de vida humana, na forma embriológica e são encontradas também em sua fase adulta dentro de ossos, compondo a medula óssea. As pesquisas com células tronco podem ser realizadas com células tronco embrionárias ou células tronco adultas. As primeiras, obtidas de embriões humanos em seus primeiros estágios de desenvolvimento possuem um potencial de utilização muito superior ao das células tronco adultas, porém a polêmica é ainda maior. O Brasil é signatário de um pacto entre países chamado Declaração dos Direitos Humanos que coíbe o uso de células tronco embrionárias. As pessoas mais conservadoras da sociedade invocam que as pesquisas que utilizem tal recurso humano estão na contramão do pacto realizado pelo nosso país. No entanto, o Brasil editou uma lei em 2005 conhecida como Lei de Biossegurança que permitiu expressamente a pesquisa com células tronco embrionárias com algumas restrições, em seu artigo 5o, que: Lei 11.105/2005 • Deverão ser utilizadas células tronco de embriões produzidos artificialmente; • De embriões congelados a mais de 3 anos; • Deve haver o consentimento dos genitores; • É vedada a comercialização de qualquer tipo de venda ou comércio dos embriões ou produto da pesquisa; 68 A principal questão que causa a polêmica do tema é que a lei brasileira garante o direito do embrião a vida. Aquela sementinha de vida chamada de embrião tem, por lei, o direito de crescer e se tornar um ser humano vivo, assim como nós. Foi com base nessa garantia fundamental à vida que o Procurador Geral da República Brasileira entrou com uma ação direta de inconstitucionalidade no Supremo Tribunal de Justiça argumentando que a lei de biossegurança fere o direito do embrião à vida. O Supremo Tribunal Federal, que tem o dever de se posicionarem último caso, sobre questões como essa, decidiu que: As pesquisas com células tronco são compatíveis com o direito à vida. Segundo os ministros que votaram a favor da continuidade das pesquisas, o direito à vida deve ser assegurado ao feto, na fase em que ele estiver no ventre materno. A parte positiva das pesquisas com células tronco é que o desenvolvimento das mesmas pode permitir que deficientes físicos e portadores de doenças degenerativas recuperem os movimentos e passem a ter uma vida normal. 69 AULA 4 - BIOÉTICA APLICADA AO I.M.L Agrotóxicos, transgênicos e a biossegurança Você sabe a diferença entre os alimentos transgênicos e os convencionais? Esse é um tema muito debatido no Brasil e os pontos de vista são muito divididos pois vivemos em um país cuja economia vem, boa parte, do agronegócio, e os produtores sempre estão procurando formas de otimizar suas produções e colher frutos com uma maior qualidade e diminuindo os riscos de bactérias, fungos e pragas que costumam se alimentar das lavouras e diminuem a qualidade da safra. Para isso recorrem a uma modificação genética da planta, fazendo com que a planta passe a ser mais resistente às pragas, agrotóxicos e outros microorganismos. A definição do Instituto Brasileiro de Defesa ao Consumidor acerca dos alimentos transgênicos é a seguinte: “São alimentos modificados geneticamente com a alteração do código genético, isto é, é inserido no organismo gene proveniente de outro. Esse procedimento pode ser feito até mesmo entre organismos de espécies diferentes, como a inserção de um gene de um vírus em uma planta, por exemplo. O procedimento pode ser realizado com plantas, animais e microorganismos”. Segundo o IDEC são vários e graves os riscos potenciais para a saúde, tendo os cientistas apontado como os principais deles: • Aumento das alergias; • Aumento de resistência aos antibióticos; • Aumentos das substâncias tóxicas; • Maior quantidade de resíduos de agrotóxicos. Já os riscos para o meio ambiente, segundo o IDEC, também não são poucos pois a inserção de genes de resistência a agrotóxicos em certos produtos transgênicos faz com que as pragas e as ervas-daninhas desenvolvam a mesma resistência, tornando-se "superpragas" e "superervas". 70 O instituto conclui que para o Brasil, detentor de uma biodiversidade ímpar, os prejuízos decorrentes da poluição genética e da perda de biodiversidade são outros graves problemas relacionados aos transgênicos. Existem vários argumentos a favor e também contrários ao uso dos agrotóxicos e das pesquisas e desenvolvimento de plantas modificadas geneticamente. Lembra do que vimos aula passada? Ter conhecimento acerca do assunto é o mais importante na hora de dar a opinião sobre determinado fato. Bioética aplicada ao IML As aulas de anatomia ocorrem no mundo todo através da dissecação de peças cadavéricas formolizadas, sendo essa metodologia mais consagrada no meio anatômico. Atualmente existem vários equipamentos modernos que auxiliam o processo pedagógico, como os programas computacionais e materiais sintéticos Entretanto nos últimos anos houve uma redução crescente do número de cadáveres humanos cedidos ao ensino e à pesquisa. No Brasil, apesar das campanhas para doação de corpos ou partes deles para o ensino e pesquisa científica, o tema é bastante questionável. São vários fatores que influenciam essas doações: A delicadeza do assunto, bastante triste, dada a repulsa que a morte causa, passando pela cultura dos povos, falta de conhecimento e interesse, até a observação das crenças religiosas, demonstrada ao longo da história do uso do cadáver humano. O homem que cede seu cadáver a uma instituição científica é amparado pela lei e consagrado pelos costumes. Se a questão se passa em termos de cessão, é plenamente aceitável. A lei diz que: Art. 14. “É válida, com objetivo científico, ou altruístico, a disposição gratuita do próprio corpo, no todo ou em parte, para depois da morte.” 71 A pessoa pode dispor do corpo após a morte, com objetivo a fins científicos, ou seja, doar o seu próprio corpo para uma universidade para fazer estudos, ou laboratórios de pesquisa cientificas. Como funciona? Basicamente o indivíduo que tem o desejo de dispor de seu corpo para alguma instituição de pesquisa deve ir até um cartório e preencher um documento chamado de “ESCRITURA PÚBLICA DE DISPOSIÇÃO DO CORPO APÓS A MORTE”, devendo indicar a instituição para qual deseja dispor seu corpo. E você? Teria coragem? A bioética está presente durante todo o tempo na rotina de um profissional do Instituto Médico Legal, desde o respeito com o cadáver e o compromisso com a justiça até a forma de tratamento com os familiares, que deve ser sempre com empatia e educação, procurando a forma mais adequada para assegurar a eficácia nos procedimentos sem constranger os familiares da vítima. Por exemplo, o agente de perícia responsável por realizar o procedimento de reconhecimento do cadáver poderá, ao invés de convidar os familiares para ir até o I.M.L, mostrar uma fotografia da face ou outra característica que permita o reconhecimento, como um membro com uma tatuagem, uma mão com anéis, uma foto da face ou dorso da vítima. É adequado tomar medidas como essa nos casos em que o familiar se encontrar em estado de choque ou que algum outro elemento agrave ainda mais o procedimento de reconhecimento e torne esse momento ainda mais desconfortável para a família, como o risco da exposição a algum agente infeccioso, o cheiro da carbonização ou putrefação daquele cadáver que está aguardando para ser reconhecido. Por fim, nosso último debate acerca da bioética nos tempos atuais. O direito de viver em detrimento de outros - covid-19 No ano de 2020, mais precisamente em março eclodiu o debate acerca do direito de viver de alguns em detrimento de outros. Com o início da pandemia no Brasil e uma previsão que o aumento do contágio pelo vírus covid 19 seria muito superior à capacidade dos estados brasileiros de construírem e equiparem hospitais com os recursos necessários para tratar todos os pacientes infectados pelo COVID-19 iniciou o seguinte debate: Diante de um déficit de equipamentos, ventiladores e leitos como selecionar as pessoas que terão acesso aos recursos para o tratamento necessário? 72 As diretrizes produzidas pela associação britânica British Medical Association, por exemplo, orientam que pacientes idosos ou outros com maior probabilidade de morrer, assim como os que precisem de cuidados intensivos por mais tempo, devem ser secundarizados na avaliação de viabilidade para a assistência à saúde. É uma realidade em todos os países do Mundo onde o número de infectados já é muito maior que o número de leitos e a adoção de critérios para o tratamento é necessária. O Doutor Christian Salaroli, responsável pelo processo de ressuscitação de um hospital em Bérgamo na Itália prestou o seguinte comunicado à imprensa: “Decidimos quem terá direito ao tratamento com base na idade e na condição de saúde. Como em todas as situações de guerra.” Segundo ele, apesar de existir um critério de limite de idade para ser admitido na Unidade de Terapia Intensiva, não é unicamente a idade o critério a ser adotado. O doutor salienta: “Só a idade, não”, e relata já ter admitido em terapia intensiva um paciente com Covid-19 de 85 anos, sem histórico médico e completamente autônomo até então. Enquanto alguém na casa dos 40 com cirrose e que continua a beber, não terá vez. Vários médicos por todo o Mundo relatam a dificuldade de fazer escolhas como essa, um dilema que virou recorrente na bioética,visto que o valor de uma vida não deve se sobrepor ao de outra vida, no entanto, medidas de saúde coletiva são necessárias para não gerar um colapso ainda maior no sistema de saúde. 73 AULA 5 - BIOSSEGURANÇA – PARTE 1 Na aula de hoje iremos aprender o conceito de biossegurança e a importância dessa disciplina no dia a dia do profissional de necropsia. Num aspecto geral podemos dizer que BIOSSEGURANÇA significa “vida com segurança”, ou seja, a vida livre de perigos. A biossegurança é composta por um conjunto de ações destinadas a prevenir, controlar, mitigar e eliminar riscos inerentes às atividades que possam interferir ou comprometer a qualidade de vida, a saúde humana e o meio ambiente. O conceito de biossegurança pode ser definido como procedimentos, metodologias e equipamentos capazes de eliminar ou minimizar riscos inerentes as atividades prestadas em diversos ambientes. Nesse módulo focaremos especificamente nas atividades realizadas habitualmente nos Institutos de Perícia, Institutos Médico Legais e Clínicas de Tanatopraxia e funerárias, como reduzir e prevenir riscos biológicos, as principais formas de contágio e o correto uso dos equipamentos de proteção individual e coletivo. Os riscos: Os riscos analisados pela bioética são divididos em: Risco físico: São Aqueles riscos decorrentes de alguma forma de energia como: • a RADIAÇÃO que é causada por ondas eletromagnéticas • A TEMPERATURA decorrente de ondas de calor emitidas por determinados equipamentos e a própria energia solar e o fogo. • As VIBRAÇÕES decorrentes de energias mecânicas de determinados equipamentos como tratores e equipamentos agrícolas, perfuratrizes, serras elétricas, dentre outros equipamentos, inclusive muito utilizado em determinados procedimentos de necropsia. 74 • PRESSÃO como uma força física que se opõe ao organismo humano, como a que sofrem os profissionais que precisam trabalhar debaixo d´agua ou em alturas elevadas. • RUÍDO que também é uma energia mecânica causada pelas ondas sonoras que determinados equipamentos emitem. Risco químico: Consideram-se agentes de risco químico as substâncias, compostos ou produtos que possam penetrar no organismo do trabalhador principalmente pela via respiratória, nas formas de poeiras, fumos, gases, neblinas, névoas ou vapores, ou pela natureza da atividade, de exposição, possam ter contato ou ser absorvido pelo organismo através da pele, mucosas como boca, olhos e nariz ou pela ingestão. As áreas do corpo humano que são sujeitas à entrada do agente químico no organismo humano chamam-se VIA DE ACESSO e varia de acordo com o agente químico que está sendo utilizado. Como vimos aula passada, o manuseio do formaldeído que será utilizado na conservação das vísceras para serem encaminhadas para exame laboratorial deve ocorrer com a devida paramentação específica para evitar a inalação do formaldeído pelas vias aéreas e olhos, por conta de sua característica volátil, similar ao vapor. Sendo assim o profissional deverá estar equipado com óculos de proteção, máscara com respirador e também utilizando luvas afim de evitar o contato pela pele e evitar queimaduras pelo produto químico. Já um outro procedimento realizado na perícia gera um outro tipo de agente de risco biológico do tipo poeira. Estamos falando da abertura da cavidade craniana para exame necroscópico que consiste em serrar a calota craniana com um serrote elétrico. Inevitavelmente, o procedimento faz com que fragmentos ósseos reduzidos a poeira se desprendam e fiquem no ambiente, como uma “poeira de osso”. Esses fragmentos fazem mal para o pulmão, olhos e garganta, sendo extremamente importante que durante o procedimento os profissionais estejam paramentados com óculos de vedação total contra poeiras, líquidos e fragmentos, um capacete “shield” e máscara tipo PFF2. 75 Risco biológico: São considerados riscos biológicos: vírus, bactérias, parasitas, protozoários, fungos e bacilos. Os riscos biológicos ocorrem por meio de microorganismos que, em contato com o homem, podem provocar inúmeras doenças. Muitas atividades profissionais favorecem o contato com tais riscos. É o caso dos Institutos Médico Legais, Serviços de Verificação de Óbito, clínicas de tanatopraxia e funerárias. É impossível desconsiderar que a atividade pericial e de preparação dos corpos realizada por estas instituições seja insalubre e de elevado risco de contágio, sendo obrigatória a utilização de EPI para todo e qualquer procedimento pois em quase 100% dos cadáveres encaminhados não há qualquer tipo de informação quanto às doenças infectocontagiosas e venéreas. Não obstante devemos mencionar que o material de trabalho do profissional trata-se de material cirúrgico como lâminas, bisturis, facas, agulhas, seringas e serras, ou seja, instrumentos perfurocortantes, que exigem cuidado e atenção por parte do agente que está manuseando. São necessárias medidas preventivas para que as condições de higiene e segurança nos diversos setores de trabalho sejam adequadas. Recentemente surgiram uma série de novos protocolos de biossegurança destinados aos profissionais da saúde que atuam na linha de frente do COVID-19, um vírus de elevado risco de contágio e considerado de risco elevado podendo ser fatal ao ser humano. Ocorre que diversos desses procedimentos já eram realizados pelos IML e IGP, visto que também visam prevenir doenças como hepatite viral, meningite, aids, dentre outras. O Ministério da Saúde do Mato Grosso, em conjunto com a Universidade Federal do Mato Grosso produziram um vídeo que demonstra como deve ocorrer a paramentação nos casos de suspeita de COVID-19 por parte do paciente que está sendo tratado/periciado. A melhor medida de profilaxia é, sem dúvidas, o cuidado e a atenção com os procedimentos realizados durante a necropsia. 76 Ainda assim, na hipótese de ocorrerem acidentes com os materiais de trabalho ou alguma exposição a gotículas, resíduos, dentre outros agentes biológicos, é necessário realizar a PEP, sigla para Profilaxia Pós Exposição. Risco ergonômico: Também conhecido como risco postural, o risco ergonômico é aquele que envolve fatores biomecânicos e que causam desconforto e afetam a saúde do indivíduo. Esses riscos são ocasionados por diversos fatores que vão desde uma postura inadequada para a realização das atividades até jornadas longas e extenuantes e também a repetitividade de determinados procedimentos e atividades realizadas que causam a famosa LER. A seguir veremos de forma isolada os principais riscos ergonômicos presentes nas atividades realizadas no âmbito dos Institutos Médico Legais e Institutos Gerais de Perícia. Má Postura e Manuseio de Carga: Segundo dados da Organização Mundial da Saúde mais de 80% das pessoas terão pelo menos duas crises de dor intensa na coluna durante a vida. Entre as muitas doenças que afetam nossa coluna, muitas vão se manifestar após um período acumulativo de má postura. A má postura ainda pode causar enfraquecimento e lesões em outras áreas do corpo, como ombros e pulsos. Para os médicos, técnicos, auxiliares e outros envolvidos no trabalho pericial é importante ter consciência da postura correta, que deve ser sempre com a espinha ereta, desde a lombar até o pescoço. Vale lembrar que um procedimento pode durar horas, requerendo ao profissional envolvido um bom condicionamento e postura. A carga excessiva é também um problema recorrente do trabalho, visto que um cadáver adulto pode pesar muito e que fenômenos como a rigidez cadavérica dificultam ainda mais o manuseio desse corpo para periciar.https://www.reliza.com.br/2017/10-otimas-razoes-para-ficar-atento-sua-postura-sentado/ https://www.reliza.com.br/2017/10-otimas-razoes-para-ficar-atento-sua-postura-sentado/ https://www.reliza.com.br/2017/10-otimas-razoes-para-ficar-atento-sua-postura-sentado/ https://www.reliza.com.br/2017/10-otimas-razoes-para-ficar-atento-sua-postura-sentado/ https://www.reliza.com.br/2017/10-otimas-razoes-para-ficar-atento-sua-postura-sentado/ https://www.reliza.com.br/2017/10-otimas-razoes-para-ficar-atento-sua-postura-sentado/ https://www.reliza.com.br/2017/10-otimas-razoes-para-ficar-atento-sua-postura-sentado/ 77 Caso seja necessário manusear o corpo para realizar a perícia é importante que o procedimento seja realizado em conjunto, de modo que o peso seja dividido entre os outros profissionais envolvidos, evitando assim a sobrecarga e acidentes de trabalho. Trabalhos monótonos e repetitivos: Tarefas muito burocráticas, paradas e maçantes contribuem para o desenvolvimento de distúrbios psicológicos como ansiedade, estresse e depressão, afetando a produtividade e qualidade de vida do profissional. Vale mencionar também que a natureza da profissão pode ser impactante de início, não sendo incomum que vários profissionais ingressem na área e desistam após vivenciarem situações de violência, tragédias, desastres e que exponham a fragilidade humana, acarretando muitas vezes em distúrbios como os já mencionados. Nesses casos o ideal é buscar ajuda profissional de um psicólogo, procurar ter uma vida mais equilibrada e, em última hipótese, expor ao Departamento de Recursos Humanos o problema desenvolvido, para que possam alocar o servidor em atividade com menor risco de estresse e desconforto profissional. Já a repetição dos movimentos é um fator que requer atenção pois é possível que os profissionais passem a desenvolver lesões por esforço repetitivo, a famosa LÉR. A recomendação para evitar o surgimento dessa moléstia profissional tão comum aos profissionais que utilizam as mãos e dedos para trabalhar é o alongamento dos músculos e tendões envolvidos nos procedimentos e também a realização de pausas ao longo do expediente para relaxar os músculos. Biossegurança na prática. Equipamentos de proteção individual e coletivo: • A Vestimenta do profissional da área de ciências mortuárias é o Pijama cirúrgico ou jaleco, devendo a sua higienização ocorrer ao final de todos os procedimentos em máquina de lavar reservada unicamente para a limpeza desse vestuário. A solução utilizada para a lavagem pode ser produto de uso comum como amaciante, sabão em pedra ou sabão em pó. • Botas 78 • Traje completo para casos específicos de trabalho com putrefeitos, carbonizados e COVID-19 que deverão ser descartados ao final do procedimento. • Luvas de vinil e látex, descartados ao final do procedimento. • Óculos de proteção. • Touca, Propé e Máscara PFF2 que deverão ser descartados ao final do procedimento. Material de trabalho – uso correto, higiene, esterilização e descarte: • Serrote elétrico. Utilizado para abertura da cavidade craniana. É comum que técnicos mais antigos utilizem serrotes manuais, no entanto, a força física exigida para realizar o mesmo procedimento será muito maior. Atualmente utiliza-se o serrote elétrico pela destreza. • Existe uma variação de abertura da cavidade craniana que utiliza a serra circular que permitirá a visualização do encéfalo de forma mais íntegra, pois ao invés de cortar o crânio e o encéfalo, a serra circular serra apenas o perímetro da calota craniana. • Tesourão, utilizado para realizar a abertura da cavidade torácica. Esse equipamento adaptado nas necropsias é utilizado especificamente para quebrar os arcos costais, facilitando a abertura e visualização das vísceras torácicas. • Instrumental cirúrgico geral, composto pelas pinças dente de rato e pinça anatômica, sendo preferível as de medidas entre 10 a 20 centímetros para realizar os procedimentos de necropsia. • Lâmina bisturi e cabo de bisturis • Tesouras fina e reta e tesoura curva. • Pinça backhaus. • Formão. 79 Esse material deverá ser higienizado sempre ao final do procedimento em água corrente e sabão comum. Após o enxague, deixar imerso em solução de hipoclorito de sódio para descontaminação e esterilização final. O material descartável do tipo perfurocortante como seringas, agulhas e bisturis deve ser descartado em lixo coletor que serão coletados por empresa específica que realizam o descarte conforme os parâmetros exigidos pelo Ministério da Saúde. Img coletor. Os materiais não reutilizáveis do tipo vestimenta, curativos, fraldas, lençóis, luvas e máscaras deverão ser descartados em lixo específico. São as lixeiras revestidas com sacos brancos próprias para o descarte de resíduos potencialmente infectantes. Essas exigências são de extrema importância durante a execução do serviço e dos procedimentos, pois o descarte incorreto pode ocasionar no acidente e até mesmo na infecção e contaminação dos profissionais responsáveis pela coleta dos resíduos. 80 AULA 6 - BIOSSEGURANÇA – PARTE 2 Na aula de hoje iremos aprofundar nossos estudos acerca dos resíduos e da biossegurança e a legislação vigente. Iremos estudar também sobre um caso real de não observância dos princípios da biossegurança que causou uma tragédia no Brasil, o acidente com Césio em Goiânia. A coleta dos lixos hospitalares O lixo produzido por instituições funerárias, Instituto médico legal e Institutos gerais de Perícia é considerado lixo hospitalar. Para lidarmos melhor com o descarte do lixo hospitalar de modo a prevenir acidentes que atinjam diretamente a população ou os profissionais que trabalham com a coleta, de acordo com a Resolução RDC № 33/03, os resíduos são classificados como: • Grupo A (potencialmente infectantes) São os materiais que tenham presença de agentes biológicos que apresentem risco de infecção. • Grupo B (Químicos) Materiais que contenham substâncias químicas capazes de causar risco à saúde ou ao meio ambiente, independentemente de suas características inflamáveis, de corrosividade, reatividade e toxicidade. • Grupo C (rejeitos radioativos) São os materiais que contém radioatividade em carga acima do padrão e que não podem ser reutilizados. • Grupo D (resíduos comuns) Qualquer lixo que não tenha sido contaminado ou possa provocar acidentes, como gesso, luvas, gazes, materiais passíveis de reciclagem e papéis. • Grupo E (perfurocortantes) 81 São objetos e instrumentos que possam furar ou cortar, como lâminas, bisturis, agulhas e ampolas de vidro. Esses resíduos devem ser descartados em lixos específicos para evitar a contaminação ou acidentes envolvendo a equipe de coleta. Acidentes de Trabalho Ainda que acidentes de trabalho sejam situações extremamente indesejáveis a todos os trabalhadores, é importante e fundamental dominar os procedimentos no caso de acidentes, pois quanto antes serem tomadas as medidas cabíveis de profilaxia menor serão os riscos de contágio. A definição de “acidente de trabalho” é dada pelo artigo 19 da Lei № 8.213/91 que diz: “Acidente de trabalho é o que ocorre pelo exercício do trabalho a serviço da empresa ou pelo exercício do trabalho, provocando lesão corporal ou perturbação funcional que cause a morte ou a perda ou redução, permanente ou temporária, da capacidade para o trabalho.” Ou seja, tudo o que acontece com o profissionaldurante o trabalho, que provoque problemas ao mesmo é considerado acidente de trabalho. Existem outros dois conceitos, são eles: 82 Doença profissional: São todas as doenças causadas pela constante exposição dos profissionais à fatores de risco e que consequentemente causaram algum dano ao mesmo. Doença do Trabalho: Doença causada pelas condições ambientais do local e trabalho. Caro aluno, preparamos um passo a passo com as principais medidas de biossegurança no trabalho para evitar acidentes. É importante que essas medidas sejam tomadas todos os dias, independente da circunstância e principalmente da experiência prática do profissional com aquela rotina de trabalho. Em outras palavras, é importante alertar que o excesso de confiança é o maior causador de acidentes de trabalho, pois leva o funcionário a desacreditar na necessidade de seguir os procedimentos de segurança e de prevenção. Regras fundamentais durante o trabalho • Usar os EPIS corretos, como luvas, máscaras, óculos de proteção, capotes e aventais. • Nunca reencapar agulhas, nem as quebrar, entortar ou desconectá-las das seringas. • Descartar todo o material perfurocortante em local adequado, nunca no lixo comum. • Respeitar rigorosamente o limite da capacidade do coletor de material perfurocortante. • Manusear materiais cortantes com calma, atenção e cuidado, nunca com pressa. Regras fundamentais a serem seguidas após a exposição • Procurar orientação para avaliar o risco do acidente logo após o ocorrido. • No caso de exposição percutânea ou contato com a ple: lavar bem o local com água e sabão. • Exposição de mucosas: lavar bem com água e/ou solução fisiológica. Jamais utilizar éter, hipoclorito ou qualquer outra solução irritante. 83 • Manter a área exposta protegida, evitando manipulá-la ou mexer no membro exposto. Acidentes envolvendo secreção orgânica • Saber imediatamente qual foi o cadáver que estava sendo periciado, coletar amostra de sangue para realizar análise e verificar se o cadáver possuía alguma doença transmissível. • Avaliar necessidade de medicação como, por exemplo, para HIV, vacina imunológica contra hepatite b, entre outros. • Notificar o acidente em protocolo específico, em duas vias, anexar a declaração de testemunhas, protocolar o acidente E encaminhar uma cópia da notificação ao setor de Biossegurança – vigilância sanitária do estado ou município. (sesa). 84 ANATOMIA E FISIOLOGIA HUMANA AULA 1 - INTRODUÇÃO À ANATOMIA Olá alunos! Iniciaremos mais uma etapa da nossa aprendizagem sobre o corpo humano e as ciências mortuárias. Estamos iniciando o módulo de Anatomia e Fisiologia Humana, uma ciência que tem como estudo as partes do corpo humano e o funcionamento de cada uma delas. O objetivo do curso é fazer com que o aluno aprenda o funcionamento do corpo humano e a função e a localização de cada órgão dentro do corpo. • Aprenderemos a anatomia humana desde o seu surgimento, nos tempos antigos até os dias de hoje. • A posição anatômica, os planos anatômicos e as formas de se referir a cada parte do corpo humano. • Aprenderemos o que é considerado normal no corpo humano e os conceitos de anomalia e monstruosidade. • Estudaremos também os órgãos, matéria que aprenderemos de forma individual e divididos em sistemas que realizam alguma função essencial para o corpo humano. Serão passadas muitas dicas e formas de estudo da anatomia e da fisiologia humana. A anatomia humana é uma disciplina necessariamente cobrada em editais de concurso público voltados para as áreas da saúde como pronto atendimento e atendimentos emergenciais e também para exercer a função de necropsista nas delegacias civis, institutos médico legais e institutos gerais de perícia. A Anatomia Humana é a principal ferramenta de trabalho em um Instituto Médico Legal ou Instituto Geral de Perícia. Poderíamos dizer que começamos a estudar agora a primeira disciplina prática do curso de auxiliar de necropsia pois a anatomia é exigida em 100% dos procedimentos realizados em um órgão pericial. 85 Uma instrução preciosa para ter um bom desempenho na matéria e aprender a anatomia humana é não só assistir completamente as aulas e realizar o quiz com atenção e auxílio do material de apoio, mas também realizar o estudo complementar indicado ao final de cada vídeo. Em toda aula estarei indicando temas da anatomia humana para complementar nossos estudos, seja em forma de vídeo, aplicativos, filmes e séries e livros. Começaremos agora o estudo pelo maravilhoso universo do corpo humano e suas particularidades!!! Parte Histórica da Anatomia A palavra Anatomia vem do grego e significa cortar em partes. O primeiro relato da anatomia aconteceu 500 anos antes de Cristo, na região que hoje é o Sul da Itália. O grego Alcmeón de Crotona selecionou alguns animais e realizou a dissecação de seus tecidos e o estudo das unidades anatômicas daqueles animais. Até então não havia nenhum relato da prática em humanos. 86 No ano 300 antes de Cristo passaram a acontecer estudos avançados em corpos de humanos. O pioneiro foi Herófilo, a primeira pessoa a realizar dissecações humanas de modo sistemático. Por razões éticas e religiosas no ano 150 depois de Cristo, o Papa Pio primeiro proibiu a realização de dissecações e estudos anatômicos em cadáveres humanos. Essa ideologia da igreja católica durou até o ano 200 depois de Cristo. 87 O primeiro médico que surgiu no mundo ocidental foi Claudio Galeno, contemporâneo ao momento em que as dissecações de humanos eram proibidas. Galeno voltou seus estudos então para a dissecação e vivissecção de macacos e porcos, e passou então, a aplicar os conhecimentos anatômicos desses animais em humanos, quase sempre acertando em suas teorias. Em 161 depois de Cristo esse pesquisador da medicina foi convocado para servir como médico do filho do imperador Marco Aurélio e médico dos gladiadores, que eram guerreiros que lutavam pela vida em arenas abertas ao público. Este era o entretenimento das pessoas da época, que assistiam em arenas enormes, como o Coliseu, dezenas de prisioneiros de outras nacionalidades a lutarem pela vida contra outros guerreiros e animais. 88 Galeno, influenciado pelos ideais e pela ciência da época acreditava em uma interrelação entre os órgãos, o sistema do corpo humano e o eixo da terra e os elementos da natureza. Em uma de suas teorias Galeno registrou que a vida seria mantida pelo equilíbrio entre quatro líquidos dentro do corpo: Sangue, representado pelo coração, o sistema respiratório a qual ele chamava de fleuma, o fígado, representado por uma secreção biliar amarela e o baço, a bílis negra. Ele foi o responsável pela descoberta que mudaria os rumos da medicina: Provou que as artérias do nosso corpo transportam não só ar, como até então se acreditava, mas sangue, pelo qual o ar se liga e nutre nosso corpo com oxigênio. 89 Ele catalogou os ossos do corpo humano que possuem cavidade produtora de medula óssea, como as costelas, a cabeça do fêmur e o osso que temos entre o tórax. O conhecimento desses ossos e dessas estruturas é importantíssimo no momento de realizar a extração de tecido ósseo para D.N.A em umaperícia cadavérica. Galeno morreu por volta do ano 200 depois de Cristo e suas inúmeras contribuições para a medicina são aplicadas até os dias de hoje, fazendo com que ele seja considerado um dos precursores do estudo da anatomia humana. Passado um bom tempo a influência da modernidade e dos ideais iluministas de avanço e progresso científico chegaram até a anatomia e a medicina e o estudo da anatomia passou a crescer desde então. O século quinze ficou conhecido como o século da iniciação científica e foi com o surgimento de pintores humanistas e renascentistas que os estudos da anatomia e das estruturas do corpo humano passaram a ser cada vez mais recorrentes. 90 Atualmente a ciência e as pesquisas mudaram totalmente a forma e a expectativa da vida humana, fazendo com que pessoas com limitações, deficiências e síndromes adquiridas passassem a ter cada vez mais acessibilidade. Aumentando a eficácia dos tratamentos de saúde e devolvendo qualidade de vida a milhões e milhões de pessoas por todo o Mundo. Para termos uma noção do avanço e da melhoria da vida das pessoas com a medicina vou mostrar a vocês uma condição recorrente em algumas crianças que nascem prematuras e são expostas a tratamento antibiótico ototóxico. Quando o bebê nasce muito prematuro é necessário adotar alguns procedimentos de medicação contra agentes biológicos que podem ser fatais ao bebê. Esses antibióticos, ainda que fundamentais para proteger os recém nascidos podem causar lesões em tecidos irreparáveis. Um desses tecidos é a cóclea, que temos dentro do nosso ouvido e é responsável e fundamental para a nossa audição. Recentemente enquanto elaborava essa aula de anatomia entrei em uma longa conversa com um grande amigo que relatou que durante a gestação de seus filhos bivitelinos ocorreram algumas complicações que fizeram com que o nascimento ocorresse de forma prematura. Após o nascimento permaneceram dias na UTI onde receberam medicação antibiótica. Após a bateria de exames pós natal o médico percebeu que um de seus 91 filhos, uma menina que iremos preservar o nome, apresentou lesão na cóclea, ou seja, ela não escutava sons. Após muito estudo e pesquisas dos pais da nossa pequenina, depois da opinião de diversos especialistas, chegaram a decisão de adquirir o aparelho auditivo convencional que capta os sons por um microfone externo e amplifica esses sons dentro do ouvido do paciente, mas com o passar do tempo perceberam que o desenvolvimento da fala da filha deles ficou limitado quanto a alguns sons, que não conseguia reproduzir sons fricativos, que são aqueles sons que esprememos a língua entre dois ou mais dentes como o C H ao falar CHAVEIRO, o SS ao pronunciar ASSADO, e o Z ao falar o nome zebra. Seu cérebro passou então a aprender conforme escutava as palavras, e quando ia pronunciar palavras como PASSARINHO, dizia PAPAINHO. Foi quando seus pais perceberam que havia uma lacuna na audição de sua filha que o aparelho auditivo convencional não conseguia suprir. Após muita pesquisa conheceram o trabalho do médico Rogério Hamer Schimidt, que já realizou mais de 500 implantes cocleares mudando totalmente a vida dessas pessoas. Nossa pequenina realizou a cirurgia então com o doutor otorrinolaringologista Rogério Hamer Schimidt e implantou o chamado “ouvido biônico”. Fazem seis meses da data da produção desse material que foram realizados os procedimentos de implante e segundo seu pai, hoje ela possui uma vida normal, escuta e pronuncia os sons como qualquer outra pessoa que sempre escutou. 92 AULA 2 - VARIAÇÕES ANATÔMICAS, ANOMALIAS E MONSTRUOSIDADES Os livros de anatomia trazem alguns exemplos e modelos de estruturas do corpo humano que recebem o nome de padrões anatômicos, mas temos de nos lembrar que as pessoas são diferentes por fora e por dentro. Cada indivíduo na Terra é diferente na sua estatura, cor e impressão digital. As pessoas podem ter diferentes tamanhos de nariz, boca, mãos, pés, e ainda assim serão todas consideradas pessoas como as outras. Se somos tão diferentes por fora, porque seríamos todos iguais por dentro, não é mesmo?! Isso quer dizer que as variações anatômicas também são visíveis nos nossos órgãos e tecidos internos. Por exemplo, nosso corpo possui dimensões proporcionais e por isso podemos comparar o tamanho do nosso músculo do coração com o tamanho do nosso punho fechado. Seguindo esse raciocínio, vou te apresentar uma pessoa! Esse é o Sultan. O homem vivo mais alto do Mundo. Ele possui 2 metros e 38 centímetros de altura e é também detentor do recorde da pessoa com as maiores mãos do Mundo. O Sultan vive uma vida com algumas dificuldades pois a maior parte das coisas que usamos no nosso cotidiano não são feitas para pessoas tão altas. Imagine só em quantos carros que você já entrou o Sultan caberia, não é mesmo? 93 Apesar das dificuldades que ele enfrenta por ser uma pessoa tão alta, as funções do seu corpo funcionam normalmente e a sua diferença é compatível com a vida. Proporcionalmente, seu coração também é um órgão maior do que o coração da maior parte das pessoas no Mundo, pois é necessário um coração bem grande para bombear todo o sangue que uma pessoa desse tamanho precisa para viver. Vamos agora ver um exemplo de variação anatômica que deu muito certo. Você já deve ter ouvido falar do Michael Phelps. Ele ficou famoso por ter ganho no ano de 2008. 8 medalhas de ouro em provas de natação, nos jogos olímpicos de verão em Pequim na China. Em uma das provas ele nadou 200 metros em 1 minuto e 43 segundos. Um recorde até então. Veja só como foi a prova. Além de uma mentalidade e uma vida toda dedicada ao esporte, Michael Phelps é privilegiado por ter condições anatômicas que favorecem sua alta performance na água. Enquanto a maioria das pessoas possui uma envergadura de tamanho aproximado a altura, a envergadura do Michael Phelps é 10 centímetros maior que a sua altura. 94 A sua envergadura é o comprimento dos seus braços abertos, da ponta de uma mão até a outra. Essa medida é aproximada à sua altura. O Michael Phelps, o atleta que citamos possui um metro e noventa de altura, mas o comprimento da sua mão a outra tem mais que 2 metros, o que oferece a ele uma aceleração muito maior na água, nadando muito mais rápido que os outros atletas. Suas articulações são duas vezes mais flexíveis que de uma pessoa normal e além disso ele possui um metabolismo totalmente diferente de uma pessoa comum, pois seu corpo gasta três vezes mais energia por conta do alto desempenho na água, exigindo dele uma dieta de aproximadamente 12 mil calorias para aguentar os treinos sem sentir fome. Em um dia comum Michael Phelps come tudo isso: Essa diferença anatômica que beneficiou e permitiu que Michael Phelps entrasse para o Livro dos Recordes como um dos mais rápidos nadadores da história tem vários motivos que veremos a seguir e recebe o nome de fatores de variação anatômica. Estudamos no módulo de medicina legal alguns fatores de variação anatômica que diferenciam o esqueleto humano do sexo masculino e feminino. O primeiro fator de variação anatômica que iremos citar é, portanto, o gênero. 95 Fatores anatômicos Gênero Existem variações anatômicas musculares, endócrinas e principalmente genitais entre homens e mulheres.Etnia São grupos humanos que possuem características físicas comuns, externa e internamente, pelos quais se distinguem dos demais. Ambiente Fatores ambientais como o sol, o clima e a alimentação exercem influência no desenvolvimento do indivíduo. Por exemplo, pessoas que se alimentam mal durante as fases de desenvolvimento, como a infância e adolescência tendem a ter desnutrição, não crescendo e nem se desenvolvendo o quanto deveriam. Outra modificação anatômica decorrente do ambiente que podemos citar é o caso dos indivíduos que moram próximo da região da montanha Everest. Essas pessoas possuem uma condição muito superior às pessoas do resto do Mundo de viver em ambientes elevados e com menos oxigênio. A vida nesses lugares fez com que as pessoas dessa região se adaptassem e seus corpos passassem a utilizar menos oxigênio para realizar suas funções vitais. Podemos dizer que o pulmão das pessoas dessa região possui uma anatomia micro celular muito diferente do comum. Biotipo O biotipo é a soma dos fatores etnia e ambiente. Os livros de anatomia consideram três principais biotipos: • Ectomorfos: Tem uma constituição leve, com articulações pequenas e predominância de massa muscular magra. Normalmente o ectomorfo tem membros longos e finos com a musculatura fibrosa. Os Ombros tendem a ser mais finos que a cintura. 96 As pessoas que tem esse biotipo tem uma maior dificuldade para ganhar peso devido ao seu metabolismo rápido. • Mesomorfos: Tem como principal característica uma estrutura óssea grande, grandes músculos e um corpo naturalmente atlético. Tem extrema facilidade em ganhar e perder peso. • Endomorfos: Ganham gordura com muita facilidade, geralmente tem membros mais curtos, com braços e pernas grossas. Tem a musculatura forte, especialmente nas pernas. Idade E por fim, a idade. Um fator que influencia na variação das estruturas anatômicas. Por exemplo, os músculos de um jovem possuem fibras muito mais elásticas que os músculos de uma pessoa com mais idade. Os bebês possuem uma calcificação óssea incompleta que se desenvolve durante os primeiros estágios da vida. Podemos dizer que as variações anatômicas ocorrem durante toda a vida, nos estágios iniciais, na vida adulta e na velhice. 97 AULA 3 - POSIÇÃO ANATÔMICA E PLANOS ANATÔMICOS Na nossa aula passada aprendemos as divisões do corpo, os conceitos de anomalia, monstruosidade e variação anatômica. Na nossa aula de hoje iremos aprender acerca das posições anatômicas, os planos anatômicos e como iremos nos referir e descrever cada parte do corpo humano de forma correta. Na rotina de trabalho da equipe responsável pelos exames de necropsia nos I.M.L e I.G.P é necessário sempre realizar o laudo com o máximo de conhecimento anatômico para descrever o local das lesões e ferimentos no corpo da vítima. A anatomia humana é a principal ferramenta de trabalho desse profissional, que deverá descrever anatomicamente aquele corpo que está sendo periciado de forma que todos que lerem o laudo possam compreender a violência que foi praticada contra aquela vítima e fazer uma reconstituição para entender a dinâmica dos fatos. Para que a referência das partes do corpo se tornasse um padrão e para facilitar a compreensão ficou estabelecido que sempre que nos referirmos a uma parte do corpo humano ou mais partes estaremos nos referindo ao corpo na seguinte posição: Isso quer dizer que sempre que estivermos periciando um cadáver no I.M.L e quisermos nos referir a determinada parte ou região do corpo, temos de levar em consideração a figura anatômica padrão. 98 Acontece que a anatomia é uma linguagem universal e quando adotamos uma figura padrão não iremos nunca nos confundir. Planos anatômicos Os planos anatômicos são nada mais nada menos que linhas imaginárias que nos auxiliam a descrever e especificar determinadas regiões do corpo. São usados como referência na leitura de exames e principalmente no momento de descrever os ferimentos e lesões no corpo da vítima. São 3 os planos anatômicos. Plano sagital Traça uma linha média dividindo o corpo em duas metades iguais: DIREITA e ESQUERDA. Outro plano de referência no estudo da anatomia é o Plano transversal que divide o corpo em duas metades, traçando uma linha aproximadamente na linha do quadril. A metade da linha pra cima será chamada de SUPERIOR enquanto que a metade pra baixo será chamada de INFERIOR. 99 E por fim o terceiro plano anatômico, conhecido como Plano frontal, que divide o corpo na metade da frente conhecida como ANTERIOR e a metade de trás, conhecida como POSTERIOR. Vou dar um exemplo para vocês: Em uma perícia de vítima de ferimento por arma branca que tentou se defender foi verificado lesões de defesa nas mãos e braços. Ao descrever uma lesão causada por arma branca na palma da mão, por exemplo, o perito deverá descrever que se trata de um ferimento compatível com lesão de defesa em face anterior do membro superior esquerdo da vítima com determinados centímetros de extensão. 100 Termos anatômicos Os termos anatômicos são expressões utilizadas para se referir a partes específicas do corpo no momento de realizar aquele exame de necropsia. Não basta escrever no laudo que o ferimento se encontra, por exemplo, na face anterior do ante braço esquerdo. É necessário ser mais específico, o laudo deve ser rico em detalhes e não deixar dúvidas. Para isso, foram criadas algumas expressões para se referir e detalhar ainda mais aquela região estudada. Distal é utilizado para se referir aquilo que está mais distante à raiz do membro. A raiz do membro inferior é a pelve, pois é ela que conecta a perna ao tronco. A parte da perna que está mais próxima à pelve recebe o nome de PROXIMAL. Enquanto que o que está mais longe da pelve recebe o nome de DISTAL que significa distante. E tudo que está no meio do caminho recebe o nome de MEDIAL. Por exemplo, o joelho encontra-se na face anterior da região proximal da perna. Entenderam? Já com relação aos membros superiores, os nossos braços, sabemos que a raiz do membro é o ombro, pois é ele que liga o braço ao tronco do corpo. Sendo assim, a parte mais próxima do ombro recebe o nome de PROXIMAL, e a parte mais próxima ao cotovelo recebe o nome de DISTAL. No momento de descrever o antebraço, temos de considerar a raiz desse membro como o próprio cotovelo, pois é ele que liga o antebraço ao braço que por sua vez se liga ao corpo. Tudo que está mais próximo ao cotovelo receberá o nome de PROXIMAL e tudo que está próximo ao punho receberá o nome de DISTAL. 101 AULA 4 - SISTEMAS DO CORPO HUMANO Na aula passada aprendemos acerca das posições anatômicas e dos planos anatômicos. Na aula de hoje iremos aprender sobre os sistemas do corpo humano, que será a partir de agora o conteúdo das nossas aulas de anatomia. O corpo humano é formado por órgãos que não funcionam sozinhos e sim interligados e inter-relacionados no que chamamos de SISTEMAS. Um sistema é um conjunto de órgãos e estruturas presentes no corpo humano que exercem uma ou mais funções no corpo para manter nossa vida e nossa saúde em equilíbrio. Por exemplo, o sistema respiratório que estudaremos nas próximas aulas é composto de diversas estruturas que são responsáveis por receber e permitir passagem do ar e a chegada do ar até os pulmões, para que esses realizem a troca gasosa que é mandar o oxigênio para todo o corpo através do fluxo sanguíneo. Cada estruturatem sua importância, não podemos pensar somente nos pulmões como responsáveis pela respiração pois sem o nariz, a traqueia e o diafragma não haveria respiração nenhuma. O que veremos nessa aula é uma breve explanação sobre cada sistema do corpo humano e a forma que estudaremos cada um, focado na necropsia e nos procedimentos realizados nos I.M.L e I.G.P. O primeiro sistema que estudaremos recebe o nome de: Sistema cardiovascular O sistema cardiovascular é composto pelo sangue, coração e vasos sanguíneos. Para que o sangue possa atingir as células corporais ele deve ser constantemente impulsionado ao longo dos vasos sanguíneos. O coração é a bomba que promove a circulação de sangue por cerca de 100 mil quilômetros de vasos sanguíneos. 102 Sistema respiratório O sistema respiratório humano é constituído por um par de pulmões e por vários órgãos que conduzem o ar para dentro e para fora das cavidades pulmonares. Esses órgãos são as fossas nasais, a boca, a faringe, a laringe, a traqueia, os brônquios, os bronquíolos e os alvéolos, os três últimos localizados nos pulmões. Sistema Digestório O sistema digestório é o sistema responsável por algumas funções como mastigação, deglutição, metabolização e absorção dos alimentos. Além disso, tudo aquilo que não é aproveitado pelo nosso corpo é excretado ainda pelo sistema digestório Sistema Endócrino Dá-se o nome de sistema endócrino ao conjunto de órgãos que apresentam como atividade característica a produção de secreções denominadas hormônios, que são lançados na corrente sanguínea e irão atuar em outra parte do organismo, controlando ou auxiliando o controle de sua função. Sistema Musculoesquelético O sistema locomotor tem a função de movimento, locomoção e deslocamento dos seres vivos. Faz parte desse sistema um conjunto de ossos, músculos e articulações. O esqueleto sustenta a estrutura do corpo, protege os órgãos internos, armazena mineral e produz células sanguíneas. Sistema Nervoso O sistema nervoso é a parte do organismo que transmite sinais entre as suas diferentes partes e coordena as suas ações voluntárias e involuntárias. O sistema central é formado pelo encéfalo e pela medula espinhal. Todas as partes do encéfalo e da medula estão envolvidas por três membranas de tecido conjuntivo que recebem o nome de meninges. O encéfalo, principal centro de controle, é constituído por cérebro, cerebelo, tálamo, hipotálamo e bulbo. 103 Vimos uma breve apresentação dos órgãos que compõem cada sistema do corpo humano, a partir de agora em nossas aulas passaremos a estudar de forma específica cada sistema do corpo humano. O estudo será dividido entre parte anatômica do sistema e do órgão, por exemplo, sua composição e tipo de tecido e a sua fisiologia, ou seja, a sua função no corpo e o seu funcionamento. Durante o decorrer das aulas você perceberá que existem órgãos do corpo humano que serão estudados e mencionados em mais de um sistema. Isso acontece porque o corpo humano tem um funcionamento sistêmico, ou seja, o corpo humano é como um jogo de engrenagens interligadas em que cada uma representa um papel essencial para o bom funcionamento do corpo todo. Não há respiração pulmonar sem coração, nem sistema muscular sem sistema esquelético. Não há vida sem sistema endócrino e nem movimento algum sem sistema cerebral. O agrupamento dos órgãos do corpo humano em sistemas é uma forma de facilitar o estudo das partes do corpo. Após o estudo da anatomia estudaremos a fisiologia de cada sistema e como ele se relaciona com os demais órgãos do corpo humano e permitem a vida em equilíbrio. Por exemplo: O estômago, que estudaremos no sistema digestório é um dos lugares pelo qual a comida que ingerimos todos os dias passa e permanece, com o objetivo de realizar o processo de nutrição. Nessa estrutura chamada estômago que fica na nossa barriga é que a comida vai para nutrir todas as partes do nosso corpo. Quando a fome passa e estamos saciados, algumas terminações nervosas que vão do nosso cérebro até nossa barriga emitem impulsos ao nosso cérebro que nos diz que não precisamos mais comer, pois estamos satisfeitos. Quer dizer também que pessoas que possuem algum tipo de compulsão por determinados alimentos podem na verdade ter um problema não na barriga, como a maioria das pessoas acreditam, mas sim no hipotálamo, uma estrutura que fica dentro do cérebro e veremos nas aulas aprofundadas sobre o sistema nervoso. Mas antes de nos aprofundarmos nos estudos dos sistemas do corpo humano, quero passar a vocês um mapa das regiões externas do abdômen. Como já expliquei a vocês, meus alunos, durante o trabalho no Instituto Médico Legal ou Instituto Geral de Perícia é muito importante descrever os ferimentos externos do cadáver. As regiões do corpo que possuem marcas de agressão, sejam ferimentos por projetis de arma de fogo ou ferimentos por arma branca. 104 O abdômen é uma região extensa do nosso corpo, cavidade responsável por acondicionar importantes órgãos como estômago, intestino, fígado, dentre vários outros que veremos nas próximas aulas. Conhecer as regiões do abdômen é ter conhecimento para pressupor qual órgão foi ferido ou danificado com aquela agressão. A parte superior do abdômen recebe o nome de hipocôndrio, e são divididas em duas metades sagitais, que como vimos na aula anterior, correspondem aos lados direito e esquerdo. Nas nossas próximas aulas aprenderemos que é na parte superior esquerda do abdômen onde fica o baço, órgão responsável pela filtragem do sangue. Ao iniciarmos a perícia de uma vítima de ferimento por arma branca que possui um único ferimento na parte superior esquerda do abdômen, aplicando essa forma lógica da anatomia é possível supor que a arma branca utilizada para cometer o crime possivelmente tenha lesionado o baço, o que ocasionou um derrame de sangue na cavidade abdominal, que é o que chamamos de hemoperitôneo. Aplicar esse raciocínio lógico faz com que as necrópsias sejam mais eficazes, pois assim a equipe médico legal sabe ir diretamente na busca da “causa mortis”. Nesse caso, bastará o médico legista abrir a cavidade abdominal e examinar o baço e os outros órgãos que estão anatomicamente alocados na parte superior esquerda do abdômen. Se realmente for constatada a lesão de baço, estômago ou outras vísceras e a vítima não ter qualquer outro ferimento externo em nenhuma outra parte do corpo o legista poderá afirmar no laudo que foi dispensada a abertura de outras cavidades, como a torácica e craniana, pelo fato da necrópsia ter sido conclusiva. Veremos agora a classificação das regiões externas do abdômen, a região do corpo que se inicia no diafragma, na linha inferior do osso esterno torácico e se estende até o início da pelve. Serve como eixo de sustentação do nosso tronco, possui músculos importantes para o processo de rotação do quadril e tórax e armazena nossas vísceras como estômago, intestino, baço, fígado, pâncreas e vários outros tecidos importantes. No nosso material de apoio PDF você terá acesso a essa imagem e poderá imprimir ou copiar em seu caderno e utilizá-la no dia da nossa avaliação, pois esse tema é bem cobrado nas provas e provavelmente teremos uma questão sobre isso em nossa avaliação. 105 106 AULA 5 - ESTUDO DAS CÉLULAS Na aula anterior vimos rapidamente os sistemas do corpo humano e a forma de estudo da anatomia. Estudamos também os planos do corpo humano e as divisões externas do abdômen. Hoje estudaremos a menor unidade que forma o corpo, a célula. Estamos começando agora a nossa aula de Citologia, a disciplina que estuda a célula. As células sãounidades microscópicas que juntas formam um órgão, um sistema e assim por diante. Cada célula do seu corpo é um organismo vivo e funcional. Por exemplo, o seu dedão do pé é formado por milhões e milhões de células que possuem diversas funções necessárias para que você possa movimentar o seu dedão e para que ele possa existir. Cada uma dessas células é muito menor que a ponta de uma agulha, mas juntas representam uma parte do seu corpo. A célula é a menor unidade que forma o seu corpo. Várias e várias células formam uma outra estrutura, que chamamos de tecido. 107 Um tecido pode formar um órgão, que por sua vez, auxilia na formação de um sistema. Todos os sistemas vitais do corpo humano ajudam a formar um único organismo, um ser. Um corpo humano possui diversos tipos de células, cada uma com uma função dentro do corpo e com uma determinada característica. Por exemplo, a célula que compõe sua pele recebe o nome de CÉLULA EPITELIAL. Outras partes do corpo humano também são formadas pelas células epiteliais e são totalmente diferentes da célula que cobre a palma da nossa mão, por exemplo. O estômago, a uretra, a mucosa do nariz e da boca também são tecidos compostos por células epiteliais, mas que possuem uma organização celular diferente. Confuso né??? É que a célula é tão pequena que nosso olho não consegue enxergá-la. Ela só pode ser vista através de um microscópio. Mas se conseguíssemos enxergar as células epiteliais do corpo, elas seriam mais ou menos assim: Além das células epiteliais temos as células ósseas: Especializadas em formar a estrutura do nosso corpo, originando o nosso esqueleto. São células vivas. 108 Isso explica porque muitas vezes um osso tende a se recuperar após uma fratura. Apesar de ser diferente, também é possível analisarmos a cicatrização de um tecido ósseo. O osso está em constante reconstrução durante toda a vida humana. Isso ocorre por conta de duas células que possuem um metabolismo ósseo e formam a estrutura óssea: Os Osteoblastos e os Osteoclastos. Os Osteoclastos atuam na desmineralização dos ossos, enquanto que os osteoblastos atuam na mineralização dos ossos. Quando essas duas células trabalham em conjunto elas criam um tecido flexível e resistente como os ossos. Você sabia que o osso do fêmur pode suportar até 9 mil quilos? Temos também as células musculares, que originam não só os músculos do corpo humano, mas compõem também o coração, que é uma musculatura cardíaca, e também órgãos como o diafragma que é responsável pela respiração e também os tecidos como o intestino e o estômago. Falaremos agora de um outro tipo de célula, as células nervosas. As células nervosas são as responsáveis por comunicar todas as partes do nosso corpo ao cérebro. Essa célula recebe o nome de neurônio e tem como função transmitir os impulsos nervosos. 109 Se o nosso olho conseguisse enxergar um único neurônio, viríamos algo muito pequeno e parecido com isso: Mas quando olhamos para um cérebro humano não enxergamos um, mas milhares e milhares de células nervosas que formam nosso encéfalo, representado por essa figura. Um grande detalhe sobre as células nervosas é que elas não ficam só na nossa cabeça, compondo o encéfalo, mas vão desde a nossa cabeça até a nossa medula espinhal e os nervos inseridos nos músculos e ossos. 110 E vamos agora falar de um tipo de célula que realiza funções vitais no nosso corpo: O Sangue. O sangue que circula em nosso corpo é composto por dois tipos de células. Se você já fez alguma vez um exame de sangue provavelmente já mediu a taxa de glóbulos vermelhos e glóbulos brancos do seu sangue. Os glóbulos vermelhos são chamados de hemácias ou eritrócitos, enquanto que os glóbulos brancos, responsáveis pelo nosso sistema imunológico recebe o nome de leucócitos. Temos uma terceira célula que compõe nosso sangue: As plaquetas. Elas desempenham papel fundamental na coagulação do sangue e na reparação dos vasos sanguíneos. Apesar de ser imperceptível pelos nossos olhos, essas três células do sangue existem em milhões por todo nosso corpo e têm como objetivo executar funções como levar nutrientes e o ar dos pulmões para o corpo todo, nutrindo as outras células espalhadas pelo corpo; realizar a defesa imunológica do nosso corpo, nos protegendo dos vírus, bactérias e outras doenças e realizam funções de coagulação no sangue quando sofremos algum tipo de lesão ou ferimento, impedindo que o sangue saia do nosso corpo com tanta velocidade e leve a óbito rapidamente. É um mecanismo fundamental para a saúde do corpo todo e uma pequena alteração na contagem dessas células pode fazer com que o corpo todo entre em colapso. Estudaremos agora sobre os glóbulos vermelhos. 111 Essa célula presente no sangue, com um formato de disco achatado, é a hemácia, célula responsável por carregar o ar oxigênio que entra pelos pulmões. Lá dentro do nosso peito, nos pulmões ocorrem as trocas gasosas. Essas hemácias possuem em sua constituição uma proteína chamada hemoglobina, que é rica em ferro, um nutriente que tem como característica atrair o oxigênio. A hemácia é o verdadeiro veículo do nosso sangue para carregar o oxigênio até as demais células. Produção das hemácias As hemácias se originam na nossa medula óssea vermelha, uma parte do nosso corpo que possui células que tem a capacidade de criar outras células. Essa medula óssea vermelha fica no interior de alguns ossos específicos, como o fêmur. Esse processo de criação de célula vermelha leva cerca de 3 dias em um corpo sadio e essas hemácias vivem aproximadamente 120 dias. Elas estão em constante mudança. Quando atingem seu prazo de validade o corpo trata de encaminhá-las até um outro órgão chamado de baço, responsável por quebrar essas células e devolvê-las ao restante do corpo. Esse processo recebe o nome de ERITROPOIESE. 112 Quando o corpo possui uma condição de deficiência na produção dos glóbulos vermelhos, estamos diante de uma ANEMIA. A anemia mais comum no Brasil é a Anemia Ferropriva que é a deficiência da hemácia em se ligar ao oxigênio por conta de uma deficiência no nutriente Ferro. Pode ser resultado de fatores como: • Alimentação inadequada; • Má absorção do nutriente do corpo; 113 • Perda crônica de sangue em decorrência de de hemorragia pela via gastrointestinal ou por menstruação abundante. Agora iremos falar sobre a segunda célula presente no nosso sangue, chamados de glóbulos brancos, os leucócitos são os soldados do nosso corpo, defendendo nosso corpo contra os vírus, bactérias e outras substâncias tóxicas, causadoras de infecções e outras doenças. Os glóbulos brancos estão envolvidos no reconhecimento de invasores nocivos e na criação de anticorpos que protegem o corpo contra a exposição futura de agentes biológicos. O processo de surgimento dos glóbulos brancos também ocorre na medula óssea, como vimos anteriormente. A seguir será exibido um vídeo que mostra a ação do vírus COVID-19 no corpo e como nosso sistema imunológico procura combater esse tipo de infecção. O HIV, sigla para vírus da imunodeficiência adquirida é uma doença que ataca o sistema imunológico humano. Diferente do que muitaspessoas pensam, o HIV não age sozinho, mas enfraquece e desabilita o nosso sistema imunológico fazendo com que as chamadas doenças oportunistas como a tuberculose e a pneumonia ataque nosso corpo. Sem a defesa dos linfócitos, desativados pelo HIV, nosso corpo fica suscetível a essas doenças. A seguir será exibido um vídeo de como o HIV age afetando os glóbulos brancos do nosso corpo. Como o sangue é importante, não é mesmo? Aprenderemos mais sobre ele no estudo dos sistemas do corpo humano, quando formos falar do sistema cardiovascular e respiratório, assunto que iniciaremos na próxima aula. 114 AULA 6 - SISTEMA RESPIRATÓRIO – PARTE 1 Na aula anterior aprendemos sobre a menor unidade do corpo humano: As células. Na aula de hoje iremos iniciar no estudo do primeiro sistema do corpo humano: O Sistema Respiratório. O sistema respiratório é um dos sistemas vitais do corpo humano. Ele é, resumidamente, o conjunto de órgãos e estruturas do corpo humano que permite ao corpo absorver oxigênio através do ar. Sem oxigênio no planeta Terra não haveria vida. O oxigênio é um elemento vital para nós desde o momento que saímos da barriga de nossas mães até o último dia de nossas vidas. É um elemento abundante na atmosfera terrestre e é ele o responsável pelo fenômeno chamado de troca gasosa que ocorre em nossos corpos. Como vimos aula passada, todas as células do nosso corpo precisam receber oxigênio para realizarem suas funções metabólicas e permitirem o funcionamento do corpo. Esse oxigênio percorre diversos caminhos no nosso corpo até ir para a corrente sanguínea que levará o oxigênio na hemácia até cada célula. Veremos a partir de agora todas as estruturas envolvidas no processo respiratório! Fossas nasais O primeiro local por onde o ar passa. Nelas é possível observar três regiões: o vestíbulo, a área respiratória e a área olfatória. O vestíbulo é a parte anterior e dilatada das fossas nasais. É o primeiro lugar por onde o ar passa. Ali acontece o primeiro filtro respiratório. Os pelos presentes no vestíbulo do nariz fazem com que partículas de poeira e outros corpos estranhos não penetrem no sistema respiratório. 115 A região respiratória corresponde à maior parte das fossas nasais. Por fim, temos a área olfatória que corresponde à parte superior das fossas nasais, a qual é rica em quimiorreceptores de olfação. São células cuja função é captar os cheiros que penetram pela cavidade nasal e emitir sinais para que nosso cérebro possa então interpretar do que se trata. Faringe A faringe é um órgão membranoso que faz parte de dois sistemas: O sistema digestório e o sistema respiratório. A região que faz parte do sistema respiratório é denominada de nasofaringe, enquanto a parte digestória é denominada de orofaringe. A nasofaringe está localizada depois da cavidade nasal. Laringe A laringe é um tubo de cerca de 5 cm de comprimento que atua conectando a faringe e a traqueia. Na laringe, é possível perceber a válvula epiglote, que nada mais é do que um prolongamento da laringe em direção à faringe e evita que alimento entre pelo sistema respiratório. Epiglote É uma válvula que abre e fecha fazendo com que o alimento e os líquidos desçam pelo caminho correto. Além da epiglote, encontramos na laringe a presença das chamadas pregas vocais, que são responsáveis pela produção de som. A seguir veremos o funcionamento das cordas vocais dentro da laringe. 116 Traqueia A traqueia é um tubo formado por cartilagens em formato de C e fica logo depois da laringe. A traqueia ramifica-se dando origem a dois brônquios, denominados de brônquios primários. Os Brônquios São ramificações da traqueia que penetram cada um em um pulmão. Esses brônquios, denominados de brônquios primários ou principais, penetram pelos pulmões e ramificam-se em três brônquios no pulmão direito e dois no pulmão esquerdo. Esses brônquios, chamados de secundários ou lobares, ramificam-se dando origem a brônquios terciários, que se ramificam dando origem aos bronquíolos. Os Bronquíolos São ramificações dos brônquios, possuem diâmetro de cerca de 1 milímetro e não possuem cartilagem. Eles se ramificam formando os bronquíolos terminais e, posteriormente, os bronquíolos respiratórios. Os bronquíolos respiratórios marcam a transição para a parte respiratória e abrem-se no chamado ducto alveolar, uma estrutura repleta por unidades de alvéolos. Os Alvéolos pulmonares são estruturas que fazem parte da última porção do sistema respiratório e estão localizadas no final dos ductos alveolares. São estruturas que parecem com pequenas bolsas, apresentam uma parede epitelial fina e são o local onde ocorrem as trocas gasosas. Trocas gasosas, também chamado de HEMATOSE é o nome correto para o processo de respiração que estamos estudando. Quando o ar entra pelo nariz e passa por todas as estruturas mencionadas e chega até o pulmão ocorre as trocas gasosas. Quando ocorre alguma exposição a agentes biológicos que possam fazer mal para nosso corpo, como os vírus e bactérias, estamos diante de uma possível infecção. 117 Uma infecção do sistema respiratório recebe o nome de Pneumonia e é uma doença capaz de diminuir consideravelmente a capacidade respiratória do ser humano e muitas vezes causando até a morte. Pulmões Os pulmões são duas estruturas esponjosas. Possuem esse aspecto por conta dos alvéolos, as pequenas bolsinhas que temos dentro do peito e permitem que nosso corpo realize a hematose. Nos pulmões existem cerca de 300 milhões de alvéolos. Ao redor das estruturas esponjosas, observa-se a presença de uma membrana chamada de pleura. Essa membrana reveste internamente a cavidade torácica e externamente os pulmões, recebendo o nome de pleura parietal e pleura visceral, respectivamente. Vale destacar que uma pleura mantém continuidade com a outra. Entre as pleuras é possível verificar líquido. Esse líquido garante o deslizamento de uma pleura sobre a outra no momento em que o pulmão se enche e libera o ar nos movimentos respiratórios. O pulmão esquerdo é formado por dois lobos, um superior e outro inferior, em virtude da presença de apenas uma fissura. O pulmão direito, por sua vez, é dividido em lobo superior, lobo médio e lobo inferior em virtude da presença de duas fissuras. Em cada um dos pulmões, observa-se a presença do hilo, local onde penetram os brônquios, as artérias pulmonares e saem as veias pulmonares. O pulmão direito é maior que o esquerdo. Isso se dá pela posição anatômica do coração do lado esquerdo da cavidade torácica, ocupando parte do espaço do pulmão. Durante uma necropsia, ao examinar um cadáver que supostamente foi vítima de asfixia, seja por esganadura ou enforcamento, é extremamente relevante realizar o exame dos pulmões, que poderá estar repleto de petéquias, que são pontos arroxeados que representam lesão àquele tecido. As petéquias normalmente encontradas na região do mediastino do pulmão são elementos que caracterizam a falência daquele órgão como causa mortis. Ao faltar oxigênio nos alvéolos surgem essas petéquias, que podem ser visualizadas na foto a seguir. 118 Existem diversos agentes que fazem com que o sistema respiratório entre em colapso. Como exemplo podemos listar a poluição, principalmente o dióxido de carbono de veículos como caminhões e a poluição produzida pelas indústrias. Um outro agente de risco é o hábito de fumar. Os componentes químicos do cigarro e a fumaça que é um produto da combustão desses componentes podem causar diversos malefícios ao corpo humano, como veremos a seguir.119 AULA 7 - SISTEMA RESPIRATÓRIO – PARTE 2 Na aula passada aprendemos sobre as estruturas que compõem o sistema respiratório e o caminho percorrido pelo ar dentro do corpo. Aprendemos também sobre a fisiologia dos alvéolos, estrutura responsável por realizar a troca gasosa, chamada de hematose. Aprendemos que essa troca gasosa é o nome dado ao fenômeno que ocorre no interior das células pulmonares, os alvéolos, que são pequenas estruturas que lembram bolsas e que agem misturando o oxigênio ao sangue, o precursor de todo o nutriente e oxigênio que deve chegar às nossas células. Na aula de hoje aprenderemos sobre os órgãos e tecidos envolvidos na respiração. O primeiro órgão que iremos falar é o diafragma. Um músculo que divide a cavidade torácica da cavidade abdominal. É um tecido muscular que se liga em sua parte inferior à parede abdominal e ao coração e pulmões e auxilia no processo de respiração. Quando o diafragma está relaxado, possui o formato de uma abóbada. Durante o processo de inspiração, este se contrai e ao distender-se irá diminuir a pressão intratorácica e comprimir as vísceras abdominais. Deste modo, o ar tende a entrar nos pulmões e auxilia na circulação sanguínea na veia cava inferior. Quando há o relaxamento deste músculo, o ar presente nos pulmões é expulso. Como seus movimentos fazem pressão no trato gastrointestinal, ele tem um papel importante no processo de digestão dos alimentos; é importante também nos mecanismos de tosse, espirro, parto e defecação. https://www.infoescola.com/fisiologia/movimentos-respiratorios/ https://www.infoescola.com/fisiologia/movimentos-respiratorios/ https://www.infoescola.com/anatomia-humana/pulmoes/ https://www.infoescola.com/anatomia-humana/pulmoes/ https://www.infoescola.com/anatomia-humana/pulmoes/ https://www.infoescola.com/fisiologia/espirro/ https://www.infoescola.com/fisiologia/espirro/ 120 Você sabe para que serve esse equipamento? Esse é um ventilador pulmonar. Também chamado de Respirador Artificial, é um equipamento utilizado para auxiliar pacientes que estão com a capacidade de respirar reduzida, como em um quadro de insuficiência respiratória. O aparelho funciona administrando a quantidade de ar que entra e sai do pulmão. Normalmente o ventilador pulmonar é utilizado por pacientes que se encontram sedados, em um quadro de coma induzido. Nessa condição, ele perde a capacidade de respirar sozinho. O aparelho funciona assim: Ele realiza a mistura de ar e oxigênio na concentração desejada e envia uma quantidade predeterminada desse volume de ar para os pulmões que irão se expandir e receber o oxigênio que entrará na corrente sanguínea. Logo depois, o gás carbônico produzido pelo organismo é expulso pelos pulmões que se esvaziam através da expiração. A necessidade de usar o ventilador se dá pela insuficiência respiratória, que é quando o indivíduo sente um cansaço respiratório tão intenso que a musculatura fica incapaz de movimentar o diafragma e as costelas para puxar o ar. 121 A seguir veremos o funcionamento de um ventilador mecânico sendo testado em um bloco pulmonar de uma ovelha. Dentre as estruturas mencionadas, a única que pertence tanto ao sistema respiratório quanto ao sistema digestivo é a faringe. Vamos olhar a seguinte figura: Nela podemos identificar as três divisões da faringe: A NASOFARINGE, A OROFARINGE e a LARINGOFARINGE. Essa é a única estrutura que auxilia tanto na respiração, servindo de caminho para o ar chegar até os pulmões quanto no sistema digestório, para que o alimento vá até o estômago. Aprendemos na nossa aula que o sistema respiratório é composto por diferentes órgãos e tecidos que atuam em conjunto para fazer com que o ar entre pelo nosso nariz e chegue até todas as células do nosso corpo. O ar que entra pelo nariz passa pelas fossas nasais e segue seu caminho pela faringe, até chegar à traqueia. No final da traqueia temos os brônquios direito e esquerdo, por onde o ar passa até chegar nos pulmões. Dentro dos pulmões os brônquios se dividem em bronquíolos que por sua vez irão se dividir e se ramificar em estruturas chamadas de alvéolos pulmonares. Os alvéolos pulmonares são estruturas ricas em capilares que são pequenos vasos por onde passa o sangue que será enriquecido com oxigênio. Os cientistas acreditam que cada pulmão humano possui aproximadamente 200 milhões de alvéolos pulmonares. São os alvéolos que dão ao pulmão uma consistência esponjosa. 122 Aprendemos que o processo de puxar o ar rico em oxigênio recebe o nome de inspiração, que é quando o diafragma se expande apertando as vísceras abdominais e aumentando a caixa torácica. Já o processo contrário recebe o nome de expiração, que é quando o diafragma aperta a caixa torácica, expulsando ar rico em gás carbônico dos nossos pulmões. Aprendemos também que nossos pulmões direito e esquerdo são diferentes um do outro. Enquanto o pulmão direito é dividido em 3 lobos, chamado de lobo superior, lobo médio e lobo inferior o pulmão esquerdo possui apenas 2 lobos, superior e inferior. Essa diferença se dá pelo fato de que o coração está entre os dois pulmões, na linha sagital que divide o corpo humano, com seu ápice voltado para o lado esquerdo. Espero que tenham aprendido bastante, não se esqueçam de realizar o download do nosso material PDF e realizar o quiz da aula de hoje. 123 AULA 8 - SISTEMA CARDIOVASCULAR – PARTE 1 Na aula anterior aprendemos sobre o funcionamento do sistema respiratório. Na aula de hoje iremos estudar o sistema cardiovascular, que interage com o sistema respiratório e é também um dos sistemas mais importantes do corpo humano, responsável pelo transporte do oxigênio, nutrientes e sangue para todas as estruturas do corpo humano. 124 O sistema cardiovascular é formado pelo coração, um músculo responsável por bombear o sangue e os vasos sanguíneos, que são caminhos por onde circula o sangue no nosso corpo. Esses vasos sanguíneos podem ser artérias ou veias. Vamos analisar o posicionamento do músculo cardíaco, o nosso coração: O coração, órgão que falaremos nessa aula está posicionado no centro do nosso corpo, com a sua ponta, que chamamos de ápice, voltada para a esquerda. Podemos visualizar na imagem que o coração não está do lado esquerdo e sim centralizado, levemente voltado para a esquerda e entre os dois pulmões do corpo humano, na região chamada de mediastino. Anatomicamente podemos dividir o coração em duas partes. Essa divisão tem como objetivo facilitar o estudo das partes do coração. A base do coração, que é a parte de cima do coração, onde são encontradas as artérias e veias e a região chamada de ápice do coração. O coração fica dentro de uma estrutura chamada de saco pericárdio. 125 O saco pericárdio é uma espécie de pacote onde o coração fica dentro. É uma espécie de membrana elástica e tem como função fazer com que o coração fique em seu devido lugar enquanto bate. Ele tem um papel fundamental em manter o ritmo do batimento do coração. Dentro do saco pericárdio há um líquido branco amarelado e sua função é lubrificar as membranas que o envolvem, permitindo que o coração bata perfeitamente dentro do peito. O coração é um músculo chamado de miocárdio, diferente dos demais músculosque temos no nosso corpo. O seu tecido muscular recebe o nome de músculo estriado cardíaco e realiza contrações involuntárias. O que isso quer dizer? Quer dizer que diferente dos músculos que compõem o seu braço, por exemplo, você não escolhe quando deseja contraí-lo. Quando pegamos uma carga que está no chão e levantamos ela acima da nossa cabeça, utilizamos um conjunto de músculos que são recrutados para permitir esse movimento. Nós tivemos a intenção de levantar o peso e nosso cérebro mandou estímulos nervosos aos nossos braços, pernas e tronco para que nossos músculos levantassem a carga. 126 Se fizermos isso dez vezes seguidas ficaremos exaustos. Essa sensação é uma fadiga muscular e é justamente essa a diferença do tecido muscular cardíaco: Ele não cansa. Nosso coração irá contrair e relaxar até o resto das nossas vidas, todos os dias, sem nunca se cansar! E digamos que se você, nesse momento, tentar ordenar seu coração a não se mexer, você com certeza não terá nenhum resultado! Você não consegue desligar seu coração ou ordenar que ele bata de forma diferente porque a característica do tecido muscular do miocárdio é realizar movimentos involuntários e ritmados. O nosso coração é uma verdadeira válvula de sangue, feita para funcionar ao ritmo de 72 batidas por minuto. São cerca de 2,5 bilhões de pulsações ao longo da vida. A quantidade de sangue bombeada por dia pelo nosso coração é de aproximadamente 9 mil litros de sangue por dia. Esses batimentos são pulsos magnéticos emitidos pelo coração. Isso explica porque alguns médicos recorrem ao marca passo para ajustar o coração de seus pacientes e também porque descargas elétricas de alta voltagem podem fazer com que o coração pare de bater, levando a vítima a óbito por parada cardiorrespiratória. É comum também que socorristas e outros profissionais da área da saúde emergencial utilizem um equipamento chamado desfibrilador, um equipamento comum nas manobras de ressuscitação. Esse equipamento tem como objetivo gerar uma descarga elétrica no coração e fazer com que este volte a bater, revertendo um caso de parada cardiorrespiratória. Veremos agora a estrutura interna do coração. O coração é um órgão oco. Se fizermos um corte no coração ao meio veremos a seguinte imagem: 127 Esses espaços ocos são chamados de câmaras cardíacas, que podem ser átrios ou ventrículos. As câmaras superiores são os átrios, enquanto que as câmaras inferiores são os ventrículos. Entre o átrio direito e o ventrículo direito há uma válvula chamada de válvula tricúspide. A função da válvula tricúspide é impedir o refluxo do sangue. Na saída do ventrículo direito e a artéria pulmonar temos a válvula pulmonar. A função dessa válvula é jogar o sangue do coração até a circulação pulmonar, permitindo assim as trocas gasosas que estudamos na aula passada. Já do lado esquerdo do coração entre o átrio esquerdo e o ventrículo esquerdo temos a válvula mitral ou bicúspide. Na saída do coração entre o átrio esquerdo e a aorta temos a válvula aórtica, que manda o sangue bombeado para toda a corrente sanguínea. Essa anatomia do coração, cheia de cavidades e válvulas existe exatamente para que o sangue simplesmente não espirre por todos os espaços durante as contrações e relaxamentos. Passaremos agora a falar sobre um tema muito importante: O funcionamento do sistema cardiovascular. 128 O nosso coração funciona em um ciclo, chamado de ciclo cardiovascular. Esse ciclo é composto de dois movimentos: A SÍSTOLE e a DIÁSTOLE. A Sístole é a contração do músculo cardíaco. Enquanto que a Diástole é o movimento de relaxamento da musculatura cardíaca. Os movimentos acontecem de forma ritmada. Primeiramente ocorre a contração atrial, ou seja, da parte superior do coração. Em seguida ocorre a contração ventricular. Esse fenômeno que faz com que nossa circulação sanguínea esteja em funcionamento o tempo todo e permite ao nosso coração bater ocorre por conta de dois fatores que estão envolvidos: Volume e Pressão. Para compreendermos os dois movimentos realizados pelo coração, podemos pensar da seguinte forma: A palavra diástole significa a distensão do músculo do coração, que é quando ele aumenta de tamanho para acomodar um volume maior de sangue dentro de suas cavidades. Nesse momento ocorre um relaxamento na pressão do músculo e um aumento do volume de sangue nos ventrículos. No movimento chamado de sístole ocorre a contração do músculo cardíaco, fazendo com que a pressão da cavidade ventricular aumente, jogando o sangue para os vasos sanguíneos que por sua vez irão irrigar todo o corpo. 129 Estudaremos agora as outras estruturas do sistema cardiovascular: Os vasos sanguíneos. Quando o sangue sai do coração pelas artérias ele vai circular pelo corpo com o objetivo de irrigar todos os nossos órgãos e membros. O caminho percorrido pelo sangue será dos vasos de maior calibre para os vasos de menor calibre, ou seja, das artérias até os capilares. Tanto as veias quanto as artérias são formadas por três camadas de um tecido chamado de túnica. Esse tecido é uma espécie de membrana muscular fina que tem a capacidade de contrair e relaxar. Esse fenômeno recebe o nome de vaso constrição, que é quando o calibre do vaso diminui. Já a vasodilatação ocorre quando o espaço interno do vaso sanguíneo aumenta. Esse mecanismo serve para que o vaso sanguíneo controle quando quer receber mais sangue ou menos sangue em determinada região do corpo. As principais diferenças entre as veias e artérias é que as artérias transportam sangue rico em oxigênio que sai do coração. Esse sangue que sai do coração pelas 130 artérias sai com muita pressão e esse é o motivo pelo qual as artérias são os vasos sanguíneos com uma maior capacidade de dilatação, dilatando e contraindo de acordo com o fluxo sanguíneo. Isso é possível porque as artérias tem paredes mais elásticas e fortes que os outros vasos do corpo humano. Já as veias fazem o caminho reverso no corpo, transportando o sangue que está voltando dos tecidos para o pulmão para ser novamente oxigenado. Quando comparadas com as artérias podemos dizer que as veias são menos calibrosas, ou seja, a pressão interna das veias é maior que a das artérias. 131 Isso permite às veias vencer a força da gravidade e permitir que o sangue retorne, por exemplo, das pernas para o coração. Já os capilares são os vasos sanguíneos mais finos e periféricos do corpo humano. A principal função deles é permitir as trocas gasosas entre o sangue e os tecidos, garantindo que sangue e nutrientes sejam passados para as células. São vasos bem finos, com aproximadamente 8 milímetros e formados por uma única camada de túnica. Nosso corpo é formado por inúmeras artérias e veias, cada uma com uma função especial no corpo humano. Por exemplo: A artéria femoral leva sangue rico em oxigênio do coração para os membros inferiores, e pode ser apalpada na altura do encaixe do nosso fêmur no quadril. 132 1 - Artéria circunflexa ilíaca profunda 2 - Artéria circunflexa ilíaca superficial 3 - Ramo ascendente da artéria circunflexa femoral lateral 4 - Ramo transversal da artéria circunflexa femoral lateral 5- Artéria circunflexa femoral lateral 6 - Ramo descendente da artéria circunflexa femoral lateral 7 - Artéria profunda da coxa 8 - Ramos perfurantes 9 - Artéria genicular lateral superior 133 10 - Anastamoses patelares 11 - Artéria genicular lateral inferior 12 - Ramo fibular circunflexo da artéria tibial anterior 13 - Artéria tibial anterior 14 - Artéria ilíaca externa 15 - Artéria epigástrica inferior 16 - Artéria epigástrica superficial 17 - Artéria pudenda externa superficial 18 - Artéria pudenda externa profunda (corte) 19 - Artéria obturadora (da artéria ilíaca interna) 20 - Artéria femoral 21 - Artéria femoral circunflexa medial (artéria profunda da coxa) 22 - Ramos musculares 23 - Hiato adutor 24 - Artéria genicular descendente 25 - Ramo articular da artéria genicular descendente y 26 - Ramo safeno da artéria genicular descendente 27 - Artéria genicular medial superior 28 - Artéria genicular medial inferior Já a artéria subclávia que se encontra abaixo da nossa clavícula, próximo ao pescoço, é o vaso responsável por transportar o sangue rico em oxigênio que sai do coração para os membros superiores. Decorar todas essas veias, artérias e ramificações não é um trabalho fácil, mas essa é uma matéria de extrema importância para a área da saúde e inclusive para o dia a dia de trabalho na perícia criminal. Aprendemos que o laudo cadavérico deve constar todas as lesões da vítima, inclusive quando ocorrer o rompimento de vasos que acarretaram no óbito daquela vítima. 134 Além disso também é realizada a coleta de sangue para toxicológico e DNA e nesse momento o conhecimento dos vasos e artérias permite agilidade e eficiência nesse procedimento. Principais vasos sanguíneos no corpo humano 135 Veremos agora algumas patologias relacionadas ao sistema cardiovascular e respiratório relevantes durante as perícias nos Institutos Médico Legais e Institutos Gerais de Perícia: Iremos falar agora sobre o TROMBOEMBOLISMO PULMONAR, conhecido no meio médico como TEP. É uma doença em que uma ou mais artérias pulmonares ficam bloqueadas por um coágulo sanguíneo. Na maioria das vezes, a embolia pulmonar é causada por coágulos de sangue originários das pernas ou, em casos raros, de outras partes do corpo. Normalmente em casos de vítimas de acidente de trânsito quando o paciente apresenta muitas lesões e fraturas nos membros inferiores e um quadro de melhora lento, evoluindo a óbito por parada cardiorrespiratória, um dos objetivos da perícia médico legal é verificar se ocorreu um trombo embolismo pulmonar. O trombo é quando o corpo, na tentativa de conter uma hemorragia, provoca a formação de coágulos de sangue que se desprendem e caem na corrente sanguínea venosa e sobem até o coração. Na subida desse sangue, eles entopem algum vaso, normalmente a artéria pulmonar, obstruindo e impedindo a passagem de sangue até o coração. Nesse momento ocorre a parada cardiorrespiratória, que é quando o coração fica sem sangue para bater. Durante a perícia, com a cavidade torácica do cadáver aberta, é realizada a incisão da artéria pulmonar para tentar localizar o trombo que tenha entupido o coração da vítima. Em alguns casos é possível localizar o trombo entre o ventrículo direito e a válvula do tronco pulmonar. Quando essa obstrução é parcial e acarreta na necrose do tecido do miocárdio por falta de irrigação sanguínea estamos falando de um ataque cardíaco, também chamado de INFARTO AGUDO DO MIOCÁRDIO. 136 AULA 9 - SISTEMA CARDIOVASCULAR – PARTE 2 Na aula de hoje daremos continuidade ao estudo do sistema cardiovascular. Estudaremos as doenças causadas pelo mal funcionamento do coração. Infarto do miocárdio é a necrose de uma parte do músculo cardíaco causada pela ausência da irrigação sanguínea que leva nutrientes e oxigênio ao coração. É o resultado de uma série complexa de eventos acumulados ao longo dos anos, mas geralmente está ligado aos ateromas, placas de gordura e outras substâncias que se formam nas paredes das artérias. Essas placas podem crescer até entupir a artéria, ou se romper e liberar fragmentos que irão obstruir vasos que levam ao coração, causando o infarto, que é a falência do músculo do miocárdio por falta de oxigênio. O músculo cardíaco é irrigado por duas artérias, que são chamadas de artéria coronária esquerda e artéria coronária direita. O que acontece é que o coração precisa estar recebendo sangue o tempo todo. Quando um ateroma começa a obstruir a artéria, a parte que fica sem receber sangue https://drauziovarella.uol.com.br/corpo-humano/coracao/ https://drauziovarella.uol.com.br/corpo-humano/coracao/ https://drauziovarella.uol.com.br/corpo-humano/coracao/ 137 que chamaremos de área de risco, é afetada, e aí acontece o rompimento de algum feixe da musculatura do miocárdio. O sangue dentro da cavidade começa então a extravasar da cavidade cardíaca e passa a encher o saco pericárdio, a estrutura que estudamos que reveste o coração como uma espécie de sacola. Esse sangue que vai se acumulando entre o coração e o saco pericárdio faz com que a pressão externa do coração seja maior que a pressão interna, impedindo o órgão de bombear o sangue, o que se não tratado rapidamente, será fatal. Os sintomas de um infarto podem durar de minutos a horas, ser fracos ou intensos, desaparecer ou surgir novamente. As pessoas que sofreram infarto do coração relatam na maioria das vezes os seguintes sintomas: • Dor ou desconforto na região peitoral que pode irradiar para costas, rosto, braço esquerdo e braço direito. • Sensação de peso ou aperto sobre o tórax; • Suor frio e • Desmaio. Existem alguns procedimentos cirúrgicos emergenciais que podem reverter o quadro do paciente, evitando que este venha a óbito. Veremos a seguir dois procedimentos cardíacos realizados nesse caso. Quando o entupimento da artéria é identificado preliminarmente através de exames uma das indicações é a intervenção cirúrgica para evitar que ocorra a obstrução total da artéria e cause o infarto. Nesses casos, é indicado o procedimento de cateterismo, que consiste em acessar o local que está entupindo a veia através da artéria femoral do paciente e chegar até o coração. Lá será colocado um tubo chamado de stent que aumenta a vasão da artéria, impedindo que as paredes da artéria se fechem. Uma outra alternativa cirúrgica para os pacientes que estão com a artéria coronária entupida é fazer um bypass coronário. Isso é, desviar o fluxo sanguíneo fazendo uma espécie de estrada alternativa ao caminho obstruído. Nesses casos, é retirado um 138 pedaço da veia safena da parte posterior da perna e com a safena é feita a ponte, por isso o procedimento leva o nome de ponte de safena. Veremos agora algumas dicas sobre como cuidar desse órgão tão importante que é o coração e como melhorar o funcionamento dele e prolongar a nossa vida, evitando doenças cardíacas. Tenha o controle de seu peso. Um dos fatores de risco para um ataque cardíaco é a obesidade. Sendo assim cuidar da alimentação, ingerindo menos açúcar, menos sal e dar preferência para alimentos ricos em colesterol bom, como peixes, aves e castanhas. Uma ótima dica também é criar o hábito de praticar atividades físicas com frequência. A atividade física faz com que o coração entre em exercício bombeando mais sangue para o corpo, otimizando seu funcionamento. 139 AULA 10 - SISTEMA DIGESTÓRIO Na aula passada estudamos o sistema cardiovascular, aprendemoscomo funciona o coração e como o sangue flui através de nossas veias e artérias e chega até todo o nosso corpo. Na aula de hoje iremos aprender sobre o sistema digestório, o órgão humano responsável pelo processo de ingestão e absorção dos nutrientes que obtemos através da alimentação. Esse processo de ingestão e absorção ocorre através da ação de vários órgãos e glândulas que formam o canal alimentar, que agem sintetizando substâncias essenciais no processo de digestão. Os órgãos que compõem o sistema digestório são a boca, a faringe, o esôfago, o estômago, o intestino delgado, o intestino grosso e o ânus. Já as glândulas acessórias desse sistema são as glândulas salivares, o pâncreas e o fígado. Órgãos do sistema digestório Os órgãos do sistema digestório são responsáveis por garantir a ingestão do alimento, sua digestão, absorção dos nutrientes e a eliminação do que não é necessário para o corpo. 140 A seguir conheceremos melhor cada componente do sistema digestório e o funcionamento de cada estrutura no papel da digestão. Boca A boca é o local onde a digestão começa. Nossos dentes realizam a digestão mecânica, garantindo que o alimento seja rasgado, amassado e triturado. Além da atuação dos dentes, o alimento que está na boca sofre a ação da saliva, que é secretada pelas glândulas salivares. A saliva contém a enzima amilase, também conhecida por ptialina, que promove o início da digestão dos carboidratos, os açúcares que ingerimos. A língua também é importante nessa etapa, garantindo que o alimento se misture à saliva e forme o chamado bolo alimentar. É a língua também que ajuda na deglutição do bolo alimentar, empurrando-o em direção à faringe. Faringe Como estudamos nas aulas passadas, esse é um órgão comum ao sistema digestório e respiratório, abrindo-se em direção à traqueia e ao esôfago. O bolo alimentar segue da faringe para o esôfago. Esôfago É o órgão tubular e musculoso que conecta a faringe com o estômago. O bolo alimentar atinge o estômago graças às contrações do músculo liso que forma o esôfago. Essas contrações são chamadas de contrações peristálticas. Estômago O estômago está localizado logo abaixo do diafragma. Nesse órgão, o bolo alimentar sofre a ação do suco digestivo, chamado suco gástrico, que é misturado graças à atividade muscular do órgão. Nesse momento, o bolo alimentar passa a ser chamado de quimo. 141 O suco gástrico apresenta entre seus componentes a pepsina, que atua na digestão de proteínas, e o ácido clorídrico, que torna o pH do estômago baixo e promove a ativação da pepsina. Geralmente, o ácido clorídrico e a pepsina não causam irritação na parede do estômago, pois esta apresenta um muco que a reveste. Além disso, há a renovação constante das células que revestem o interior do estômago. Intestino delgado Trata-se da porção mais longa do sistema digestório, que possui cerca de 6 m de comprimento. Possui três segmentos: o duodeno, o jejuno e o íleo. Nessa porção do sistema digestório, a digestão é finalizada e há absorção de nutrientes. O órgão é responsável pela maior parte do processo de digestão. Na primeira porção, chamada de duodeno, o quimo, vindo do estômago, sofre a ação das secreções pancreáticas, da bile e de secreções produzidas pelo próprio intestino delgado. A secreção pancreática, rica em bicarbonato, ajuda a neutralizar a acidez do quimo. Além disso, apresenta enzimas diversas, como a tripsina e a quimiotripsina, que atuam nas proteínas. A bile, produzida pelo fígado e armazenada na vesícula biliar, atua como emulsificante, facilitando a digestão dos lipídios. Já a secreção produzida pelo intestino delgado é rica em enzimas, que agem quebrando o alimento para facilitar a absorção dos nutrientes. O jejuno e íleo, as porções seguintes do intestino delgado, atuam, principalmente, na absorção de nutrientes, graças à presença de vilosidades e microvilosidades. As vilosidades são dobras no revestimento do intestino, enquanto as microvilosidades são projeções nas células epiteliais do intestino. Intestino grosso Com cerca de 1,5 metros de comprimento, esse órgão é responsável pela absorção de água e formação da massa fecal. Além disso, divide-se em ceco, cólon e reto. 142 No ceco, observa-se uma projeção chamada de apêndice, bastante conhecida por sua inflamação, que é chamada de apendicite. O reto termina em um estreito canal, chamado de canal anal que se abre para o exterior no ânus, por onde as fezes são eliminadas. Glândulas acessórias do sistema digestório As glândulas acessórias do sistema digestório liberam secreções que participam do processo de digestão. São elas: Glândulas salivares: responsáveis pela produção da saliva, uma substância rica em água, mas que também apresenta outros componentes, como enzimas e glicoproteínas. A saliva ajuda a lubrificar o bolo alimentar e também possui ação antibacteriana. Pâncreas: glândula mista, ou seja, possui funções endócrinas e exócrinas. Sua porção exócrina é responsável pela produção do suco pancreático, que apresenta uma série de enzimas que atuam na digestão, além de bicarbonato, que neutraliza a acidez do quimo. A porção endócrina do pâncreas é responsável pela produção dos hormônios insulina e glucagon. Fígado: Segundo maior órgão do corpo humano, perdendo apenas para a pele. Atua em diversas funções no organismo, porém, na digestão, seu papel é garantir a produção da bile, uma substância que é armazenada na vesícula biliar e, posteriormente, é lançada no duodeno. A bile atua na emulsificação de gorduras, funcionando como uma espécie de detergente, facilitando a ação das enzimas responsáveis pela quebra de gordura. Agora que vimos rapidamente todos os órgãos e glândulas que compõem o sistema digestório aprenderemos a função e a a anatomia de cada parte envolvida no processo de ingestão do alimento até a sua completa absorção dos nutrientes e eliminação, através das fezes. A Boca É a porta por onde entra o alimento no nosso corpo. Esse primeiro momento em que colocamos o alimento na boca é fundamental para nossa nutrição. É nesse estágio 143 em que o alimento começa a ser triturado, com auxílio dos dentes que tem a função de transformar o alimento em partículas menores, um processo chamado mastigação. Temos também alguns receptores nervosos em nossa boca que mandam sinais para o cérebro produzir mais ou menos saliva, de acordo com a necessidade daquele alimento. A saliva tem como função lubrificar e diluir o alimento, facilitando a mastigação, a gustação e a deglutição, além de proteger contra bactérias e umedecer a boca. Uma pessoa adulta produz cerca de 1 a 2 litros de saliva por dia e ao ingerir algum alimento, a quantidade de saliva secretada aumenta. Ficamos com “água na boca” porque o nosso sistema nervoso estimula a produção de saliva pelas glândulas salivares quando sentimos o cheiro ou o sabor de algum alimento. Em verde podemos ver a parótida, glândula que fica dentro da nossa bochecha e é responsável por produzir a saliva, que vai até a nossa boca através de dutos que atravessam os músculos da face e se inserem dentro da nossa boca. 144 A língua também é uma estrutura encontrada na boca e possui relevância no processo de digestão, uma vez que mistura o alimento triturado com a saliva e empurra- o para trás para que ocorra a deglutição. Além disso, é importante para a fala e também para a percepção de sabores, pois possui papilas gustativas, que são células receptoras que tem a capacidade de distinguir os sabores e criam o nossopaladar. Elas são encontradas em áreas diferentes da língua, vejam só: 145 Depois que o alimento entra em nossa boca, é triturado e é empurrado para baixo pela língua ele chega até a faringe, que possui musculaturas que contraem involuntariamente. Uma importante estrutura da traqueia é a epiglote, que também já estudamos. Ela está sincronizada com a respiração. Quando estamos prestes a engolir a comida a língua empurra o alimento. Através desse movimento o palato mole que fica no céu da boca sobe e fecha a passagem de ar entre a boca e o nariz, impedindo que a comida suba até as fossas nasais. Esse movimento faz com que a válvula epiglote abra o tubo alimentar e feche o tubo respiratório, fazendo com que o alimento caia até o esôfago. Esse movimento de contração muscular recebe o nome de movimento peristáltico e é ele que faz a comida descer por todos os tubos e chegar corretamente até o seu destino final. Quando alguma coisa de errada acontece nós nos engasgamos, que é também uma reação do corpo de tirar a comida que está entalada na faringe, que é quando vomitamos. Em seguida a comida passa até o esôfago, um canal que conduz o alimento até o estômago. Ele é composto por uma mucosa que reveste o canal esofágico, uma submucosa, uma camada muscular que é responsável por realizar os movimentos peristálticos e uma camada chamada de adventícia, que é a parte de fora do tubo esofágico, onde passam as artérias que mandam sangue para o esôfago e irrigam o estômago. 146 Depois do esôfago, temos o estômago, a porção mais dilatada do tubo digestivo, logo abaixo do diafragma, entre o esôfago e o duodeno, no lado superior esquerdo do abdômen. Pode ser dividido em quatro partes: • Cárdia, que comunica o órgão com o esôfago; • Fundo gástrico, parte superior à entrada do esôfago; • Corpo, parte intermediária e principal; • E piloro, na junção com o duodeno do intestino, que regula a passagem do quimo de um órgão para o outro e impede o refluxo. O estômago é revestido pela mucosa gástrica, uma camada de tecido pregueado. Em seu interior se encontram as glândulas gástricas, que produzem o suco gástrico. Quando o alimento é engolido, passa pelo esôfago e chega ao estômago, onde esse suco envolve os alimentos em digestão e, através dos movimentos peristálticos, transforma o bolo alimentar em quimo. O estômago continua o processo de digestão dos carboidratos que foi iniciado na boca e inicia a digestão das proteínas. Vazio, esse órgão parecido com um balão possui um volume de aproximadamente 50 mililitros, mas seu tecido elástico pode expandir sua capacidade para até 4 litros. Possui duas válvulas ou esfíncteres, que mantêm o conteúdo do órgão em seu interior. O esfíncter esofágico fica na parte superior do estômago e o esfíncter pilórico, na parte inferior, separando o órgão do intestino delgado. Após o alimento que ingerimos passar pelo estômago ele cai no intestino delgado, que também faz parte do sistema digestório. Um órgão de formato tubular que vai do estômago até o intestino grosso. É composto de três partes: duodeno, que fica logo após o estômago, o jejuno na parte central e o íleo, que fica próximo do intestino grosso e que estudaremos a seguir. 147 O intestino delgado inicia-se no piloro, constrição musculosa que separa o estômago do intestino delgado, e segue até a válvula ileocecal, que separa os dois intestinos. O duodeno é a primeira parte do intestino delgado, já o jejuno e o íleo não são fáceis de diferenciar. O interior do intestino delgado é revestido de vilosidades intestinais que absorvem as substâncias digeridas. Cerca de 80% da digestão ocorre no duodeno, região rica em enzimas, produzidas por 3 órgãos como o próprio duodeno, o fígado e o pâncreas. O duodeno produz o suco intestinal, que se mistura ao suco pancreático que é produzido no pâncreas e ao suco biliar, produzido no fígado e expulso pela vesícula biliar, para auxiliarem a digestão. O duodeno recebe o quimo e graças à ação das enzimas ali encontradas, este é transformado em quilo, produto final da digestão. As vilosidades intestinais, então, absorvem os nutrientes úteis ao organismo e as substâncias residuais do processo digestivo passam para o intestino grosso. O intestino grosso é a parte final do tubo digestivo, possui cerca de 1 metro e meio e divide-se em três partes: ceco, cólon e reto. O ceco corresponde à parte que se conecta ao intestino delgado e onde se localiza o apêndice cecal. O cólon atravessa quase todo o abdômen e é dividido em quatro partes: cólon ascendente, cólon transverso, cólon descendente e cólon sigmoide. O reto possui uma dilatação chamada ampola retal que acumula as fezes, iniciando o processo de defecação. Faz a comunicação do cólon com o ambiente exterior por meio do ânus, que possui um músculo em forma de anel chamado esfíncter anal. No intestino grosso ocorre a parte final da digestão. Nele se acumulam os resíduos do processo digestivo em forma de fezes. Esse órgão também é responsável pela absorção de água, que determina a consistência do bolo fecal. Aprenderemos agora sobre os órgãos que auxiliaram no processo digestório como o fígado e o pâncreas. 148 O fígado é a maior glândula do corpo humano, podendo pesar até 1 quilo e meio e suas principais funções no corpo humano é de metabolizar e armazenar nutrientes. Ele desempenha um papel muito importante na digestão pois é responsável pela produção e secreção da bile, uma substância formada principalmente por ácidos biliares, colesterol e a bilirrubina. A bile derrete as gorduras que comemos, ajudando nosso corpo a digeri-las. Ela age como um detergente, facilitando a quebra das moléculas de gordura. O fígado é também o órgão responsável por filtrar o sangue. Por esse motivo que diversos problemas relacionados à má alimentação causam problemas no fígado, como a cirrose que é o excesso de cereais como o álcool e a desnutrição. Pâncreas Uma outra glândula que age no processo de digestão do corpo humano é o pâncreas, órgão responsável pela produção de insulina e de enzimas que ajudam à digestão, bem como de outras substâncias que regulam os níveis de açúcar no sangue e participam de reações metabólicas. 149 Agora Iremos falar de um tema muito importante que é a nossa nutrição e a importância da escolha dos alimentos que comemos diariamente e como eles podem impactar no funcionamento do nosso cérebro e da nossa disposição. Existe uma relação direta entre os alimentos que ingerimos, o nosso intestino e o nosso sistema nervoso que veremos nas próximas aulas. Quer dizer que determinados alimentos que ingerimos pode nos fazer produzir hormônios específicos ou deixar de produzir hormônios essenciais. Esses hormônios, por sua vez, têm influência no nosso humor, no nosso sono e na nossa energia. Veremos a seguir o que diz o doutor Wilson Della Paschoa Junior em seu vídeo chamado Intestino, o segundo cérebro. Chegamos até o fim de mais uma aula. Espero que tenham aprendido bastante. Até a próxima aula! 150 AULA 11 - SISTEMA NERVOSO Na aula anterior aprendemos sobre o sistema digestório, os órgãos e tecidos envolvidos e o seu funcionamento dentro do corpo humano. Na aula de hoje estudaremos o sistema nervoso, as estruturas responsáveis pelo comando de todo o nosso corpo. É elequem comanda todos os nossos órgãos, músculos e sentidos, como a visão, o olfato e o paladar, mas diferente do que boa parte das pessoas pensam, o sistema nervoso não é composto somente pelo cérebro, aquela massa cinzenta que temos dentro da cabeça. O sistema nervoso é muito mais complexo do que isso, e é por isso que iremos dividir o sistema nervoso em sistema nervoso central e sistema nervoso periférico. 151 O sistema nervoso central é composto pelo Encéfalo e pela Medula espinhal. O encéfalo é composto pelo cérebro, que é o centro de comandos do nosso corpo. É para lá que convergem todas as informações que recebemos. O cérebro pesa aproximadamente 2% da massa total do nosso corpo e utiliza 20% da energia e do oxigênio que respiramos para realizar suas funções e coordenar nosso corpo. Ele é o responsável por comandar as atividades como o controle das ações motoras do nosso corpo, pela integração dos estímulos sensoriais e pelas atividades neurológicas como a memória e a fala. É formado por dois tecidos: o córtex cerebral, mais externo e mais extenso, de coloração cinza, composto pelos corpos celulares dos neurônios e outras células nervosas e um tecido de coloração branca é o núcleo cerebral, rico em fibras nervosas que estabelecem comunicação entre o córtex cerebral, os órgãos sensoriais e os músculos de todo o corpo. O cérebro é dividido em lobos, cada um com uma importância e um centro de controle específico. 152 Lobo frontal É o maior dos quatro, se estende por trás da testa. Responsável pelos mais simples movimentos físicos, como também pelas funções do aprendizado, do pensamento, da memória e da fala. Lobo parietal Localizado por trás do lóbo frontal, se estende até a parte posterior da cabeça. Responsável pela percepção espacial e pelas informações sensoriais de dor, calor e frio. Lobo Occipital É o menor dos quatro lobos, situado na parte posterior do cérebro, recebe e processa as imagens visuais. Lobo temporal Localizado na base do lobo parietal até a altura dos ouvidos é responsável pelos estímulos auditivos. O cérebro é dividido também em dois hemisférios, representados pelo lado direito e esquerdo. Veja a imagem a seguir: 153 A metade esquerda controla o lado direito do organismo. Isso quer dizer que o movimento de levantar o braço direito é um impulso nervoso gerado pelo hemisfério esquerdo do cérebro. Se o hemisfério dominante é o lado direito do cérebro a pessoa será canhota. Cada hemisfério controla uma série de funções, por exemplo, o hemisfério direito é que nos confere a capacidade de reconhecer rostos e objetos. Já o lado esquerdo do cérebro controla nossa capacidade de leitura e escrita, assim como nos permite identificar regras gramaticais. No entanto, esses hemisférios atuam em conjunto e em algumas funções são comprovadamente controladas pelos dois lados, como a fala, por exemplo. Estudos com pessoas que tiveram um dos hemisférios lesionados e continuaram a falar mostraram esse resultado. Abaixo do cérebro temos um órgão também muito importante, o cerebelo. É a parte do encéfalo responsável pela manutenção do equilíbrio, pelo controlo do tónus muscular, dos movimentos involuntários e aprendizagem motora. O cerebelo é uma região do cérebro localizada na fossa craniana posterior. Ele é dividido anatomicamente em dois hemisférios laterais denominados de hemisférios cerebelares e uma região mediana, denominada vérmis. Essa estrutura apresenta ainda uma região superficial, chamada de córtex cerebelar, uma parte intermediária, denominada de substância branca, e uma porção mais interna, onde são encontrados os núcleos do cerebelo ou núcleos centrais. A substância branca é constituída por dois conjuntos de fibras nervosas e, como em todo o sistema nervoso central, é a via de transmissão dos impulsos nervosos. Já os https://www.biologianet.com/anatomia-fisiologia-animal/sistema-nervoso.htm https://www.biologianet.com/anatomia-fisiologia-animal/sistema-nervoso.htm https://www.biologianet.com/anatomia-fisiologia-animal/sistema-nervoso.htm 154 núcleos do cerebelo ou núcleos centrais são constituídos por uma massa de substância cinzenta, formada pelos corpos dos neurônios. Quando acontecem lesões cerebelares, os seus principais sintomas são chamados de ipsilaterais, pois eles ocorrem do mesmo lado em que houve a lesão. As lesões na região denominada de vérmis apresentam sinais e sintomas no tronco da pessoa, como tórax e abdômen. Já as lesões ocorridas nos hemisférios cerebelares manifestam-se nos membros como as pernas e os braços. Veremos agora a última estrutura que compõe o encéfalo: O tronco encefálico. 155 Localizado na parte inferior do encéfalo, o tronco encefálico conduz os impulsos nervosos do cérebro para a medula espinhal e vice-versa. Além disso, produz os estímulos nervosos que controlam as atividades vitais como os movimentos respiratórios, os batimentos cardíacos e os reflexos, como a tosse, o espirro, a deglutição, a transpiração, a micção e excitação sexual. Abaixo do tronco encefálico temos a medula espinhal que é um cordão cilíndrico composto de células nervosas, localizada no canal interno das vértebras. É constituída de tecido nervoso, situada no interior da coluna vertebral e se estende desde o final do tronco encefálico até mais ou menos a região da segunda vértebra lombar. A medula se torna mais fina no final formando o cone medular. Abaixo da vértebra, envolvendo o cone e um filamento terminal, estão as meninges e raízes nervosas dos últimos nervos que juntos formam a cauda equina. A medula óssea é responsável por comandar as ações reflexas do nosso corpo que são respostas rápidas, involuntárias, que são controladas pela substância cinzenta da medula antes mesmo de atingir o cérebro, sendo, portanto, importantes na defesa do corpo em situações de emergência. 156 Por exemplo, quando encostamos a mão em local muito quente, graças ao ato reflexo tiramos a mão imediatamente para não nos queimarmos. Após receber o estímulo, as fibras sensitivas da raiz nervosa dorsal passam sinais aos neurônios associativos localizados no interior da medula, na substância cinzenta que por sua vez, os repassam para as fibras motoras das raízes nervosas ventrais. Estas fibras enviam resposta aos órgãos que efetuarão a ação. Todas essas estruturas que vimos agora compõem o Sistema Nervoso Central. Vamos ver novamente e memorizar: O Sistema Nervoso Central é composto pelo encéfalo e pela medula espinhal. A medula espinhal é uma extensão de comando de impulsos do encéfalo e vai do tronco encefálico até a segunda vértebra lombar. O encéfalo, por sua vez é composto pelas seguintes estruturas: cérebro, cerebelo e tronco encefálico. 157 Agora vamos aprender sobre o sistema nervoso periférico, que também pertence ao sistema nervoso e é a estrutura responsável por ligar o Sistema Nervoso Central aos outros órgãos do corpo e com isso realizar o transporte de informações que chegam em forma de sinapses, os estímulos neurológicos que veremos adiante. Esses estímulos que são comandos que nosso cérebro manda para as outras partes do corpo chegam através dos nervos e gânglios. Os nervos são cordões esbranquiçados formados de fibrasnervosas unidas por tecido conjuntivo. Os nervos têm como função levar ou trazer impulsos. Já os gânglios nervosos são aglomerados de corpos celulares de neurônios localizados fora do sistema nervoso central. Os gânglios aparecem como pequenas dilatações em certos nervos. Para compreendermos melhor como esses comandos neurológicos vão tão rápido de diferentes partes do cérebro até nossas mãos, pés, braços e pernas iremos estudar a estrutura da célula neurológica: O Neurônio. 158 Neurônios são as células responsáveis pela transmissão dos impulsos nervosos. Eles são constituídos basicamente por três estruturas: um corpo celular, dendritos e axônios. Neurônios são as células responsáveis pela transmissão dos impulsos nervosos e constituem cerca de 10% do tecido nervoso. Os neurônios são células altamente especializadas em processar informações. São responsáveis pela propagação do impulso nervoso e pelas sinapses, de modo que fazem a comunicação entre o sistema nervoso e o restante do corpo, conduzindo respostas a determinados estímulos. O poder do neurônio resulta da sua capacidade de se interligar com os outros milhares de neurônios que temos espalhados por nossas células nervosas no corpo todo. Um padrão de ligações neurológicas é o que cria sensações como o medo, a alegria, a tristeza e a felicidade, ativa memórias, gera impulsos e espasmos. A medicina moderna ainda não aprendeu a decifrar esses códigos neurológicos para saber como evitar ou como reproduzir determinada sensação ou como ativar determinada lembrança, mas sabemos que os neurônios agem através de impulsos que são como micro descargas que carregam os neurônios, fazendo com que eles passem essa descarga uns aos outros, se polarizando, como microbaterias capazes de carregar pulsos pelas suas estruturas. Esse é um neurônio: Ele possui uma cabeça, chamada de corpo celular, que possui ramificações que chamaremos de dendritos. A sua calda, por onde passa o impulso nervoso gerado nos dendritos recebe o nome de axônio, e é composta por uma outra estrutura polarizada chamada de bainha de mielina. 159 AULA 12 - SISTEMA ESQUELÉTICO Na aula de hoje aprenderemos sobre o sistema esquelético, suas funções, a composição óssea e as divisões do esqueleto e o nome dos principais ossos do corpo humano. O sistema esquelético é constituído de ossos e cartilagens, além dos ligamentos e tendões. O esqueleto é responsável por sustentar e dar forma ao corpo. Ele também protege os órgãos internos e atua em conjunto com os sistemas muscular e articular para permitir o movimento. Os ossos são um tecido vivo do corpo humano, irrigados por vasos sanguíneos e por esse motivo estão em constante dinâmica dentro do nosso corpo. Apresentam uma capacidade de se regenerar que explica como os ossos se regeneram quando caímos e quebramos. Também são fundamentais para o processo de produção de células sanguíneas na medula óssea e armazenamento de sais minerais, como o cálcio. Veremos agora como são formados os ossos: 160 A estrutura óssea é constituída pelos tecidos ósseo, adiposo, cartilaginoso, sanguíneo e nervoso. O periósteo É a camada mais externa, sendo uma membrana fina e fibrosa que envolve o osso, exceto nas regiões de articulação. É no periósteo que se inserem os músculos e tendões. 161 Osso Compacto O tecido ósseo compacto é composto de cálcio, fósforo e fibras de colágeno que lhe dão resistência. É a parte mais rígida do osso, formada por pequenos canais que circulam nervos e vasos. Entre estes canais estão espaços onde se encontram os osteócitos. Osso Esponjoso O tecido ósseo esponjoso é uma camada menos densa. Em alguns ossos apenas essa estrutura está presente e pode conter medula óssea. Canal Medular É a cavidade onde se encontra a medula óssea, geralmente presente nos ossos longos. 162 Medula Óssea A medula vermelha produz células sanguíneas, existe somente em alguns ossos como o fêmur, por exemplo. Em outros há somente medula amarela, um tecido adiposo que é uma espécie de tutano que armazena gordura. O esqueleto humano é composto por 206 ossos com diferentes tamanhos e formas. Eles podem ser longos, curtos, planos, suturais, sesamoides ou irregulares. Cada um deles apresenta suas funções próprias e para isso, o esqueleto é dividido em axial e apendicular. Os ossos do esqueleto axial estão na parte central do corpo, ou próximo da linha sagital, que é o eixo vertical do corpo. Os ossos que compõem essa parte do esqueleto são: • O crânio e ossos da face. • A coluna vertebral e as vértebras. • As costelas e o esterno. • O osso hioide A cabeça é formada por 22 ossos, sendo 14 da face e 8 da caixa craniana; e há ainda 6 ossos que compõem o ouvido interno. O crânio é extremamente resistente, seus ossos são intimamente ligados através de fissuras e sem movimentos. Ele é responsável por proteger o cérebro, além de possuir os órgãos do sentido. Coluna Vertebral A coluna é formada por vértebras que são ligadas entre si por articulações, o que torna a coluna bem flexível. Possui curvaturas que ajudam a equilibrar o corpo e amortecem os choques durante os movimentos. Ela é constituída por 24 vértebras independentes e 9 que estão fundidas. 163 A região cervical é formada por 7 vértebras do pescoço. São elas que permitem o movimento do crânio. A região torácica ou dorsal é formada por 12 vértebras e articulam-se com as costelas. A região lombar é formada por 5 vértebras. São as mais resistentes e que suportam mais peso. O cóccix é formado por 4 vértebras coccígeas que também se unem no início da vida adulta. Tórax O tórax é constituído por 12 pares de costelas ligadas umas às outras pelos músculos intercostais. São ossos chatos e encurvados que se movimentam durante a respiração. As costelas são ligadas às vértebras torácicas na sua parte posterior. Os sete primeiros pares de costelas que chamamos de costelas verdadeiras ligam- se ao esterno. 164 As três últimas costelas que chamaremos de falsas ligam-se entre si, e os dois últimos pares que chamamos de flutuantes não se ligam a nenhum osso. O esterno é um osso plano que se liga às costelas por meio de cartilagem. Esqueleto Apendicular 165 O esqueleto apendicular corresponde aos ossos dos membros superiores e inferiores. Além disso, o esqueleto apendicular possui os ossos que os ligam ao esqueleto axial, as chamadas cinturas escapular e pélvica, além de ligamentos, juntas e articulações. A cintura escapular é formada pelas clavículas e escápulas. A clavícula é longa e estreita, se articula com o esterno e na outra extremidade com a escápula, que é um osso chato e triangular articulado com o úmero, formando a articulação do ombro. Membros Superiores Os membros superiores correspondem aos braços. O braço é formado pelo úmero que é o osso mais longo do braço. Ele se articula com o rádio, que é o mais curto e lateral, e também com a ulna, osso chato e bem fino. Os ossos da mão são 27, divididos em carpos, metacarpos e falanges. Cintura Pélvica A cintura pélvica é formada pelos ossos do quadril, os ossos ilíacos que são constituídos pelo ílio, ísquio e púbis fundidos e são firmemente ligadosao sacro. A união dos ossos ilíacos, do sacro e do cóccix formam a pelve, que nas mulheres é mais larga, menos profunda e com a cavidade maior. É essa formação que permite a abertura da pélvis no momento do parto para a passagem do bebê. Membros inferiores Tradicionalmente chamados de pernas são responsáveis por funções básicas como a locomoção e a sustentação do peso do corpo. Ao garantir a movimentação, esses membros também promovem o equilíbrio. 166 Os membros inferiores são formados por 62 ossos, que estão conectados ao restante do esqueleto pela cintura pélvica. Os ossos desse membro são divididos em quatro grupos principais: ossos do quadril, coxa, perna e pé. Coxa: Essa região é formada pela patela e o fêmur que é o maior e mais resistente osso do corpo humano. A patela, por sua vez, é um osso pequeno que se articula apenas com o fêmur. Sua função é aumentar a ação de alavanca dos músculos do joelho e proteger a articulação dessa região. A perna é formada pela tíbia e pela fíbula. A tíbia é o segundo maior osso do corpo humano, seguido pela fíbula, que fica em terceiro lugar. A fíbula é o osso mais delgado do organismo e dispõe-se de forma paralela à tíbia. Já os pés são formados pelos ossos do tarso, metatársicos e falanges. Os ossos do tarso são pequenos e formam um grupo de sete ossos: o calcâneo, tálus, navicular, cuboide, cuneiforme medial, cuneiforme intermédio e cuneiforme lateral. Os ossos metatársicos, por sua vez, são um grupo formado por cinco ossos longos. Por fim, temos as falanges dos pés, que são um grupo de 14 ossos longos que formam os dedos dos pés, que são chamados de pododáctilos. Iremos falar agora de um problema que acomete boa parte das pessoas acima dos cinquenta anos, a osteoporose. 167 Apesar de parecerem estáticos, os ossos do corpo humano estão o tempo todo se reconstruindo microscopicamente para assegurar que nossos ossos sejam sempre firmes e resistentes. Uma dieta balanceada e rica em minerais e vitaminas como o potássio, o cálcio e a vitamina D são excelentes para a saúde dos nossos ossos e podem ser encontrados no leite, em vegetais de folha verde escura como o, brócolis e em castanhas, nozes e peixes, prevenindo a osteoporose, uma doença que acomete os ossos, tornando-os fracos e quebradiços. A osteoporose é uma condição causada por uma irregularidade no trabalho das duas células ósseas, os osteoblastos e osteoclastos. Os osteoclastos agem reabsorvendo os minerais presentes nos nossos ossos, eliminando tecido ósseo antigo e criando cavidades que serão preenchidas por células ósseas novas. Já os osteoblastos agem regenerando esse novo esqueleto, criando novas células ósseas e recompondo nosso esqueleto. Esse trabalho é tão constante que se estima que em 3 meses cerca de 10% do esqueleto é reconstruído. Quando há um desequilíbrio entre as células de absorção e de regeneração e os osteoclastos passam a agir mais rapidamente, degradando os ossos com maior velocidade do que os osteoblastos são capazes de repor, aí estamos diante de um quadro de osteoporose. 168 Articulações Os ossos são unidos aos outros através das articulações, que é o tecido que iremos aprender agora! Uma articulação pode ser definida como a junção entre dois ou mais ossos. Elas permitem a amplitude de movimento dos membros e estruturas do corpo humano e podem ser divididas em: • Articulações sinoviais • Fibrosas • Cartilagíneas As articulações sinoviais são as que mais permitem a mobilidade dos membros. Isso acontece porque essa espécie de articulação que liga os ossos possui uma cápsula que é preenchida pelo líquido sinovial que amortece o atrito entre os ossos. É possível ver essa estrutura articular nos joelhos e nos ombros. Já as articulações fibrosas possuem pouca ou nenhuma mobilidade. Essa articulação junta o osso através de uma membrana fibrosa e pode ser observada entre as fissuras do crânio, por exemplo. E por fim, as articulações cartilagíneas que unem os ossos e dão sustentação, amortecem impactos e permitem leves movimentações entre os ossos, evitando o desgaste. É possível ver essa espécie de tecido nos discos intervertebrais, que funcionam como amortecedores dos discos, reduzindo o impacto e o desgaste ósseo. 169 AULA 13 - SISTEMA MUSCULAR – PARTE 1 Na aula de hoje iremos aprender sobre os músculos do crânio, tórax e o abdômen. Na aula de hoje iremos aprender sobre os músculos do corpo humano, a função e o funcionamento desse tecido tão importante para o corpo humano. Os músculos são tecidos, cujas células ou fibras musculares possuem a função de permitir a contração e produção de movimentos. O Sistema Muscular é responsável por exercer algumas funções que são fundamentais para o corpo humano, como: • A Estabilidade corporal; • A Produção de movimentos; • Promover a manutenção da temperatura corporal; • Auxiliar nos fluxos sanguíneos. • E ainda exerce a função de servir de estrutura para o corpo. O corpo humano é formado por aproximadamente 600 músculos que, em conjunto com outros tecidos como as articulações e os tendões nos permitem realizar diversos movimentos. Para facilitar a aprendizagem dos músculos faremos a divisão dos músculos da seguinte forma: • músculos da cabeça e do pescoço; • músculos do tórax e abdômen; • músculos dos membros superiores, e; • músculos dos membros inferiores. Os músculos da cabeça são agrupados em dois conjuntos, de acordo com as suas funções. O primeiro grupo, chamado de músculo da mastigação tem como função movimentar a mandíbula, fechando e abrindo a boca. Esse movimento da mandíbula 170 pode ser uma oclusão ou elevação, que é quando fechamos o maxilar ou pode ser uma retração que é quando abrimos a boca e aproximamos o queixo do pescoço. Os músculos e articulações envolvidos nesse processo recebem o nome de articulação temporomandibular ou ATM, que é o termo mais utilizado no meio médico. Os músculos envolvidos na ATM são os seguintes: Masseter Temporal 171 Pterigoide medial As fibras musculares da ATM estão dispostas de forma que sua contração e relaxamento movimente a mandíbula e ocorra a mastigação. Veremos agora onde estão localizados e inseridos no crânio cada um desses três músculos: O Músculo Masseter é o principal músculo da mastigação, responsável pela elevação e abertura da mandíbula e também por auxiliar os outros músculos a mover lateralmente a mandíbula. Esse músculo é inervado pelo ramo massetérico do nervo mandibular. O músculo temporal eleva e retrai a mandíbula. Ele se origina na linha temporal inferior. Suas fibras convergem em um formato de leque por toda a fossa, e se inserem no processo coronóide da mandíbula. Esse músculo é rebatido e dissecado nos procedimentos de necropsia que envolvem a abertura da cavidade craniana. Para sentir a atividade de contração dessa musculatura basta posicionar os dedos na região temporal de sua cabeça e fechar a mandíbula. Dessa forma é possível sentir como o funcionamento dos músculos da ATM são relacionados. O músculo pterigoide é responsável pela movimentação lateral da mandíbula. O músculo possui uma cabeça superficial e uma profunda. Elas se originam da superfície medial da placa pterigoide. 172 O outro grupo de músculos da cabeça são os músculos da mímica facial, que funcionam movimentandoos tecidos moles da face e permitem as expressões faciais como franzir a testa quando estamos irritados, levantar as sobrancelhas quando estamos surpresos, sorrir quando estamos felizes, movimentar os olhos e piscar dentre outras expressões fundamentais na nossa comunicação não verbal. Músculos do pescoço É muito importante dominar e compreender os músculos da região do pescoço, pois é comum realizar dissecações nessa região afim de esclarecer possíveis asfixias e estrangulamentos. A principal função da musculatura dessa região é dar sustentação à cabeça e permitir a movimentação do crânio. Como podemos perceber, o nosso pescoço permite movimentarmos a cabeça para vários ângulos. Isso acontece porque a musculatura do pescoço é formada por vários músculos que se inserem em diferentes ângulos. Músculo Platisma É um músculo dérmico muito extenso e delgado que possui forma quadrangular. 173 Recobre a região antero lateral do pescoço e a parte inferior da face. Estende-se do tórax até a mandíbula e está situado imediatamente abaixo da pele. Tem origem na base da mandíbula e se insere abaixo da clavícula. Esse tecido muscular tem como função esticar a pele do pescoço. Em pessoas de idade avançada é comum notar o envelhecimento desse tecido, o que faz com que a pele da região do pescoço fique mais flácida. Músculo Esternocleidomastóideo É um músculo cilíndrico e robusto que se estende obliquamente pela face ântero- lateral do pescoço. É dotado de duas porções, uma esternal e outra clavicular. A porção esternal tem características tendíneas e a porção clavicular é mais achatada, com características aponeuróticas. Outro importante músculo do pescoço é chamado de triângulo, e são três feixes de músculo que se estendem da orelha até a clavícula e recebem esse nome por possuírem um formato de vértice que se assemelha a figura geométrica de um triângulo. 174 Tem como função proteger e dar a sustentação para importantes vasos sanguíneos que passam pelo pescoço, como a artéria carótida e a veia jugular. 175 Músculos do tórax e abdômen Na face anterior do tórax temos a musculatura do peitoral, que é composta por três porções: O peitoral maior, que é o feixe muscular mais superficial; O peitoral menor, um músculo mais profundo que representa a parte inferior do peitoral. E a porção subclavicular, localizada na parte superior do peitoral, abaixo do osso da clavícula. Essa musculatura é nitidamente mais desenvolvida nos homens do que nas mulheres, e isso se deve a fatores principalmente genéticos e hormonais. Nas mulheres adultas a musculatura do peitoral fica debaixo dos seios, um tecido composto de glândulas mamárias responsável pela lactação, ou seja, a produção do leite materno. O peitoral maior É um músculo forte e tem um formato parecido com um leque. Ele inicia na metade medial da clavícula e vai até a região do esterno no espaço compreendido pela 2ª e a 7ª cartilagem costal. Está inserido dentro do úmero, na região óssea que chamamos de crista do tubérculo. O músculo peitoral maior é o mais importante músculo para a adução e ante versão da articulação do ombro, motivo pelo qual ele é conhecido entre os nadadores como músculo do “estilo peito”. Ele roda a porção superior do braço internamente e realiza um poderoso movimento de remada quando os braços estão elevados. Peitoral menor O peitoral menor está debaixo do peitoral maior e está inserido nessa região que chamamos de apófise coracoide da omoplata e vai até a terceira e quinta costela. https://www.kenhub.com/pt/library/anatomia/anatomia-do-braco-e-do-ombro https://www.kenhub.com/pt/library/anatomia/anatomia-do-braco-e-do-ombro https://www.kenhub.com/pt/library/anatomia/anatomia-do-braco-e-do-ombro 176 Subclávia A porção subclávia do peitoral tem sua inserção lateral na face inferior da clavícula e inserção medial na primeira costela e cartilagem costal. É bastante utilizado em exercícios que exigem a elevação dos braços acima da cabeça, como a atividade de cortar lenha por exemplo. Já a face posterior do tórax, chamada de região costal é composta dos músculos intercostais internos e externos. São estruturas musculares firmes que formam juntamente com as nossas costelas uma verdadeira proteção aos nossos órgãos torácicos, além de exercerem papel fundamental na respiração, pois são eles que rebaixam as costelas no momento da expiração, fazendo com que o ar saia do corpo. Estudaremos agora a musculatura da região abdominal, responsável por proteger nossas vísceras e também pela sustentação e equilíbrio do nosso tronco. A parte anterior do abdômen recebe o nome de região Antero lateral do abdômen e é composta pela estrutura muscular do reto abdominal, que começa desde o púbis e se estende até o final do osso esterno e pelas porções laterais direita e esquerda que recebem o nome de oblíquos do abdômen. Há ainda uma camada muscular mais profunda abaixo desses dois músculos que dá sustentação para estabilizar a camada lombar e recebe o nome de transverso do abdômen. Esse conjunto de músculos e feixes que se sobrepõem e se entrelaçam formam nossa musculatura abdominal. Na região posterior do abdômen encontramos nosso quadrado lombar, composto pela musculatura da região lombar e por um músculo muito profundo que está entre a lombar e o quadril, inserido nas últimas vértebras lombares. Esse músculo forma a pelve, uma estrutura fundamental para o equilíbrio e a boa postura. E por fim, um importante músculo do abdômen que aprendemos em nossa aula de sistema respiratório: O diafragma Ele ocupa a porção superior do abdômen e marca a transição entre tórax e abdômen. 177 Auxilia no processo respiratório e é um tecido muscular muito denso e elástico que eleva e abaixa os pulmões para que estes por sua vez se encham e se esvaziem de ar, realizando a respiração pulmonar. Falaremos agora dos membros superiores, os nossos: Braços No entanto, o que é o "braço"? É todo o membro superior, do ombro até a ponta dos dedos, certo? Errado! Em termos de anatomia macroscópica, o "braço" refere-se à porção entre as articulações do ombro e cotovelo. Suas principais funções incluem o movimento do antebraço, a transmissão de movimento e a passagem de estruturas neuro vasculares ao longo do membro superior. Os músculos do braço atuam nas articulações do cotovelo e do ombro para gerar os vários movimentos do antebraço. Dois músculos do braço desempenham um papel nesses movimentos: Os bíceps e o tríceps. Os dois primeiros estão envolvidos principalmente na flexão do antebraço, portanto são chamados de flexores. Eles ocupam o compartimento anterior ou flexor do braço. O bíceps Está envolvido principalmente na extensão do antebraço. Está localizado no compartimento posterior ou extensor do braço. • O músculo consiste em duas cabeças, longa e curta. • A cabeça longa se origina do tubérculo supra glenoideo da escápula. • A cabeça curta se origina do processo coracoide da escápula. https://www.kenhub.com/pt/library/anatomia/anatomia-do-braco-e-do-ombro https://www.kenhub.com/pt/library/anatomia/anatomia-do-braco-e-do-ombro https://www.kenhub.com/pt/library/anatomia/anatomia-do-braco-e-do-ombro https://www.kenhub.com/pt/library/anatomia/articulacao-do-cotovelo https://www.kenhub.com/pt/library/anatomia/articulacao-do-cotovelo https://www.kenhub.com/pt/library/anatomia/articulacao-do-cotovelo https://www.kenhub.com/pt/library/anatomia/articulacao-do-ombro-glenoumeralhttps://www.kenhub.com/pt/library/anatomia/articulacao-do-ombro-glenoumeral https://www.kenhub.com/pt/library/anatomia/articulacao-do-ombro-glenoumeral https://www.kenhub.com/pt/library/anatomia/musculos-e-movimentos-dos-membros-superiores https://www.kenhub.com/pt/library/anatomia/musculos-e-movimentos-dos-membros-superiores https://www.kenhub.com/pt/library/anatomia/musculos-e-movimentos-dos-membros-superiores https://www.kenhub.com/pt/library/anatomia/cotovelo-e-antebraco https://www.kenhub.com/pt/library/anatomia/cotovelo-e-antebraco https://www.kenhub.com/pt/library/anatomia/cotovelo-e-antebraco https://www.kenhub.com/pt/library/anatomia/cotovelo-e-antebraco 178 • As duas cabeças se fundem distalmente, terminando em um tendão único do bíceps que se insere na tuberosidade radial. O estudo de anatomia dos músculos do braço seria incompleto sem conhecer o: Tríceps braquial O maior músculo dessa região. É o único ocupante do compartimento posterior do braço, sendo claramente visível em formato de ferradura na parte de trás do braço, especialmente em atletas bem treinados. Como o próprio nome sugere, o tríceps é composto por três cabeças: longa, lateral e medial. A cabeça longa se origina no tubérculo infra glenoideo da escápula. As cabeças lateral e medial se originam na superfície posterior do úmero, superiormente e inferiormente ao sulco radial, respectivamente. As três cabeças se fundem em um único tendão que se insere na ulna e no antebraço. As inserções do tríceps braquial implicam no seu envolvimento em duas articulações, a do ombro e a do cotovelo. A principal função desse músculo é a extensão do antebraço através da tração da ulna. A cabeça medial gera a maior quantidade de força, seguida pela lateral. A cabeça longa é a parte extensora menos ativa, mas ela executa outras funções tais como a extensão do braço e a adução ao redor da articulação do ombro. O tríceps braquial é inervado pelo nervo radial. https://www.kenhub.com/pt/library/anatomia/musculo-tricipite-braquial https://www.kenhub.com/pt/library/anatomia/musculo-tricipite-braquial 179 AULA 14 - SISTEMA MUSCULAR – PARTE 2 Na aula de hoje daremos continuidade ao estudo da musculatura dos membros superiores e inferiores do corpo humano. O tríceps O estudo de anatomia dos músculos do braço seria incompleto sem conhecer o tríceps braquial, o maior músculo dessa região. É o único ocupante do compartimento posterior do braço, sendo claramente visível em formato de ferradura na parte de trás do braço, especialmente em atletas bem treinados. Como o próprio nome sugere, o tríceps é composto por três cabeças: longa, lateral e medial. A cabeça longa se origina no tubérculo infra glenoideo da escápula. As cabeças lateral e medial se originam na superfície posterior do úmero, superiormente e inferiormente ao sulco radial, respectivamente. As três cabeças se fundem em um único tendão que se insere na ulna e no antebraço. As inserções do tríceps braquial implicam no seu envolvimento em duas articulações, a do ombro e a do cotovelo. A principal função desse músculo é a extensão do antebraço através da tração da ulna. A cabeça medial gera a maior quantidade de força, seguida pela lateral. A cabeça longa é a parte extensora menos ativa, mas ela executa outras funções tais como a extensão do braço e a adução ao redor da articulação do ombro. O tríceps braquial é inervado pelo nervo radial Antebraço O antebraço é uma das regiões do corpo humano com maior número de músculos envolvidos. Os músculos do antebraço se inserem nos dedos, chamados de metacarpos e se estendem como feixes musculares por toda a extensão do membro. São divididos 180 em músculos flexores e músculos extensores e são eles que nos permitem segurar e agarrar os objetos. E por fim, aprenderemos sobre os: Membros inferiores O membro inferior é formado pelo quadril, região glútea, coxa, perna e pé e são os músculos mais fortes e resistentes do corpo humano pois são eles que fazem o processo de locomoção, sustentação do corpo e postura. Os glúteos são divididos em três feixes musculares: O glúteo máximo, o glúteo médio e o glúteo mínimo. O músculo glúteo máximo constitui a camada mais superficial da musculatura dorsal glútea e, assim, forma a anatomia superficial da região glútea. Ele tem origem na estrutura óssea que forma a crista ilíaca e está inserido na tuberosidade glútea do osso do fêmur. O músculo glúteo médio forma a camada média, enquanto o músculo glúteo mínimo pertence à camada mais profunda, junto com os rotadores da articulação do quadril. Desenvolver os músculos do glúteo é fundamental para evitar dores nos joelhos, nas pernas e na lombar. Isso ocorre porque os glúteos agem conectando o quadril ao fêmur e acaba sendo a primeira musculatura a ser recrutada quando levantamos ou quando caminhamos. Por isso é importante praticar atividades físicas que coloquem todo o corpo em atividade. A coxa A coxa é composta por um conjunto de músculos com diferentes funções e inserções que servem para sustentar o peso do nosso tronco. Um dos maiores músculos desse membro é o quadríceps, que fica na porção anterior da coxa e recebe esse nome porque é formado por 4 feixes musculares: O reto femoral, o vasto médio, o vasto lateral e o vasto intermediário. 181 Os quatro feixes musculares se inserem na patela, através do ligamento patelar, na tuberosidade da tíbia e são recrutados principalmente nos movimentos em que estendemos o joelho e quando flexionamos o quadril. A ação de chutar uma bola de futebol utiliza esses músculos. Esse é o motivo pelo qual os jogadores de futebol que vemos na televisão investem tanto no treinamento dessa região da coxa. Uma musculatura maior e mais exercitada permite com que esses atletas chutem com muito mais força e velocidade. O outro músculo importante da coxa fica na região posterior e recebe o nome de bíceps femoral. É composto por duas cabeças que se inserem na cabeça do osso da fíbula e vão até o osso do sacro. Essa musculatura é responsável pela extensão do quadril e pela rotação lateral do joelho. Os corredores e ciclistas costumam utilizar muito esse músculo, pois é a parte posterior da coxa que empurra o chão para trás e permite a passada, no caso da corrida, e no caso do ciclismo, empurra o pedal da bicicleta para baixo permitindo a tração da correia que por sua vez movimenta a bicicleta. Um outro grupo muscular da coxa e que apesar de ser pequeno realiza diversas funções da nossa perna é o grupo de músculos adutores, que é composto pelo músculo adutor magno, adutor curto, adutor longo, pectíneo e grácil. Os adutores estão inseridos no tubérculo púbico, no osso do púbis e do outro lado no osso da tíbia. Eles são os responsáveis por permitir a abertura das pernas. Em esportes de curtas corridas de potência e de contato é comum os atletas sofrerem o estiramento dessa musculatura, lesionando os tendões que ligam os feixes musculares à pelve. E com isso encerramos nossos estudos de músculos da coxa. E por fim, iremos estudar os músculos da perna, que são divididos em plano anterior, posterior e lateral. Na região anterior da perna temos dois feixes musculares responsáveis por movimentar os nossos dedos do pé. O primeiro feixe muscular é chamado de extensor longo dos dedos, está inserido de modo proximal na cabeça lateral da tíbia e vai até os dedos dos pés, onde se insere na falange média e distal do segundo e quinto dedo do pé. 182 Esse é o músculo responsável por movimentar os dedos dos pés e realizar a extensão dos mesmos. Já o hálux, popularmente conhecido como dedão do pé tem o movimentode extensão realizado pelo músculo extensor longo do hálux, que se insere proximal mente na metade da fíbula e distalmente na falange do hálux. Na parte posterior da perna temos o gastrocnêmio: O gastrocnêmio, conhecido como panturrilha ou batata da perna insere-se proximal mente no côndilo medial do fêmur e distalmente no osso do calcâneo. É um músculo muito resistente, responsável por sustentar todo o peso do corpo quando estamos de pé. Logo, o estresse muscular dessa região é contínuo, o que faz com que a musculatura dos gastrocnêmios seja mais densa e resistente que o restante do corpo. É conhecida também como segundo coração, pois bombeia o sangue venoso novamente para o coração, sendo um músculo fundamental para o processo de retorno venoso do sangue. Esse é um dos motivos dos especialistas recomendarem que pessoas hipertensas ou com algum tipo de problema cardiovascular realize caminhadas com frequência. Temos também outros dois músculos que completam a parte posterior da perna: O sóleo e o plantar, que juntos com o gastrocnêmio permitem ao nosso corpo nos movermos, ficarmos na ponta dos pés, corremos longas distâncias e também nos permite realizar várias outras atividades locomotoras. Na face lateral da perna temos a musculatura fibular, um feixe de músculo que se insere proximal mente na cabeça da fíbula e distalmente nos metatarsos, ou seja, nos dedos da ponta dos pés. 183 AULA 15 - SISTEMA EXCRETOR Na aula de hoje aprenderemos sobre o sistema excretor, o responsável por eliminar substâncias que podem ser tóxicas para o organismo humano. Fazem parte do Sistema Excretor o sistema urinário, os rins, a bexiga, ureteres, a uretra e as glândulas sudoríparas. O Sistema Excretor é o conjunto de órgãos e estruturas responsáveis por filtrar o sangue humano e eliminar as substâncias em excesso e que podem ser tóxicas para o organismo. Essas substâncias são resultantes de reações químicas que acontecem dentro das células do corpo humano, durante os processos metabólicos que as células realizam. O Sistema Excretor também é responsável pela homeostase do organismo, isto é, pelo equilíbrio químico interno que controla a quantidade de água e de sais minerais, fazendo com que todas as etapas do metabolismo sejam realizadas de forma correta. O nome da eliminação de substâncias tóxicas ao organismo se chama excreção, e os produtos dessa excreção são chamados de “excretas”, que são provenientes das células e são passadas para o sangue, posteriormente eliminados na urina, na respiração ou no suor. O primeiro órgão que iremos estudar são os rins. https://beduka.com/blog/exercicios/biologia-exercicios/exercicios-sobre-sistema-excretor/ https://beduka.com/blog/exercicios/biologia-exercicios/exercicios-sobre-sistema-excretor/ https://beduka.com/blog/exercicios/biologia-exercicios/exercicios-sobre-sistema-excretor/ 184 Os rins são órgãos em formato de feijão, podem ser encontrados nos quadrantes abdominais superiores à direita e à esquerda. O rim direito está localizado levemente inferior ao esquerdo, devido ao tamanho e à localização do lobo direito do fígado, em comparação ao lobo esquerdo, que é muito menor e são constituídos por uma cápsula formada de tecido conjuntivo denso, por uma região cortical e uma região medular. As regiões corticais e medulares recebem sangue pela artéria renal e são drenadas pela veia renal. A região cortical é onde estão presentes os néfrons, que são as unidades funcionais dos rins. Os néfrons, são, uma importante estrutura do rim que funciona como um filtro, estão localizados nos rins em grandes quantidades de aproximadamente 1 milhão em cada rim e são os responsáveis pela formação da urina, filtrando os elementos do plasma sanguíneo e, posteriormente, eliminando a urina. As substâncias eliminadas pelos rins são: ureia, creatinina, ácido úrico e toxinas do sangue. O rim também atua na regulação de volume de líquidos no corpo humano e na manutenção da pressão arterial do sangue. A urina resulta da depuração do sangue sendo um produto de excreção de composição variada. Formam-se nos rins, mais especificamente, nas unidades funcionais chamadas néfrons, através de 3 processos: • Filtração • Reabsorção • Secreção A formação da urina inicia com a entrada do sangue em alta pressão na cápsula de bowman através da arteríola aferente e se ramifica em capilares originando o glomérulo de malpighi. A maior parte do plasma sanguíneo passa dos capilares para a cápsula em um processo chamado de filtração, do qual resulta o filtrado glomerular. Do filtrado fazem parte substâncias como: água, glicose, aminoácidos, sais minerais, ureia, ácido úrico e creatinina. https://www.kenhub.com/pt/library/anatomia/figado https://www.kenhub.com/pt/library/anatomia/figado 185 Em seguida o filtrado inicia seu percurso pelo tubo urinífero percorrendo o tubo contornado proximal e o tubo contornado distal. Ao longo destes tubos a composição do filtrado vai se alterando devido a absorção e secreção. Na reabsorção grande parte do volume do filtrado é reabsorvido pelos capilares sanguíneos. Isso é, cerca de 98% da água e substâncias úteis para o organismo, quase toda a glicose, aminoácidos e vitaminas e alguns sais minerais. No entanto, os produtos resultados como a ureia e o ácido úrico e ainda a água e os sais minerais permanecem no filtrado. O tubo urinífero é formado por estruturas de redes de capilares sanguíneos que fazem com que durante esse processo substâncias como hormônios e medicamentos sejam lançadas diretamente pelo tubo urinífero. O resultado final é a formação da urina, composta pelas substâncias não reabsorvidas e secretadas, essencialmente água e creatinina. A urina continua seu trajeto até o tubo coletor. Lá também poderá ocorrer a reabsorção de água, de acordo com as necessidades do organismo, o que levará a uma maior ou menor quantidade de urina excretada. Após a formação da urina no rim temos uma outra estrutura que se assemelha a um cano e são responsáveis por levar a urina do rim à bexiga. Eles realizam movimentos peristálticos que ajudam na condução da urina até a bexiga, sendo um ureter para cada rim. 186 Em seguida temos a bexiga, um órgão que armazena a urina produzida pelos rins e transportada pelos ureteres. Ela também é a responsável por eliminar a urina e possui uma alta capacidade elástica, podendo armazenar até 800 ml de urina. A uretra é responsável por expelir a urina para fora do organismo, durante a micção. Ela faz parte também do sistema reprodutor no caso dos homens, é o local por onde o sêmen é expelido na ejaculação. Entretanto, nas mulheres, a uretra é restrita ao sistema excretor. Uma boa dica para cuidar dos nossos rins e prevenir doenças renais é a ingestão de água. Devemos ingerir uma quantidade de água proporcional ao nosso peso. Por exemplo: Uma pessoa que pesa cinquenta quilos deve tomar em média 2 litros de água por dia, enquanto que uma pessoa de 80 quilos deve tomar aproximadamente 3 litros de água. Isso ocorre por conta da propriedade da água de manter nosso corpo em equilíbrio, fazendo com que ela seja um dos elementos mais importantes para o nosso corpo. A seguir veremos um vídeo de como prevenir doenças adotando hábitos saudáveis diariamente. As doenças mais comuns relacionadas ao sistema renal são: 187 Infecção Urinária: Uma doença infecciosa que pode ocorrer em qualquer parte do sistema urinário, como rins, ureteres, bexiga e uretra, sendo maiscomum nos dois últimos. É também conhecida como Infecção do Trato Urinário e os sintomas normalmente incluem ardência ao urinar e incontinência urinária. Insuficiência renal crônica: trata-se da deterioração gradual das funções dos rins. Com o tempo, os órgãos perdem a vitalidade, e então a filtragem das substâncias precisa ser feita por meio de hemodiálise ou de diálise peritoneal. Estão mais propensas a desenvolver a insuficiência renal crônica, pessoas com diabetes tipo 1 e 2, hipertensos, fumantes e idosos. Em muitos casos, o transplante de rim é o mais indicado para quem sofre dessa doença. Nefrite: essa doença está associada à inflamação do glomérulo e pode ser aguda, cuja recuperação é espontânea, ou crônica, que pode se desenvolver e atingir os rins inteiros. Os sintomas para os casos de nefrite são a diminuição da quantidade de urina produzida, a ardência ao urinar e a mudança na coloração da urina. Cálculo renal: conhecido popularmente como “pedra no rim”, o cálculo renal é formado por cristais presentes na urina que se unem e aumentam de tamanho. A formação das pedras está associada a diferentes motivos, entre eles o consumo exagerado de sal, o baixo consumo de água e distúrbios metabólicos. Uma outra excreção realizada pelo nosso corpo é o suor, que está relacionado a capacidade do corpo de regular nossa temperatura corporal e manter nosso corpo em equilíbrio. Através do suor são eliminados sais minerais, como o cloreto de sódio, e água sendo que, devido a sua enorme importância para a célula, ela fica conservada em grande parte no organismo. Essa excreção ocorre através das glândulas sudoríparas. As glândulas sudoríparas encontram-se em quase toda a extensão da pele. Elas são glândulas exócrinas, responsáveis pela eliminação do suor e consequentemente pela termorregulação do organismo. A função do suor é refrigerar o corpo, liberando o excesso de calor e promovendo a termorregulação do organismo. 188 AULA 16 - SISTEMA REPRODUTOR Na aula de hoje vamos aprender sobre o sistema reprodutor, que também é chamado de sistema genital e tem como principal função garantir a reprodução da espécie humana. Estudaremos o sistema reprodutor masculino e feminino, as estruturas que compõem esses dois sistemas e a fisiologia da reprodução humana, isto é, como o corpo masculino e o corpo feminino se prepara para reproduzir. Vamos começar aprendendo sobre o sistema reprodutor masculino. O sistema reprodutor masculino é formado pelas seguintes estruturas: Os Testículos que são as gônadas masculinas. Gônada é o nome da glândula que tem como função produzir os hormônios sexuais. Cada testículo é composto por um emaranhado de tubos, os ductos seminíferos. 189 Esses ductos são formados pelas células de Sértoli e pelo epitélio germinativo, que é onde ocorre a formação dos espermatozoides. É no meio dos ductos seminíferos em que as células de Leydig produzem os hormônios sexuais masculinos, sobretudo a testosterona, responsável pelo desenvolvimento dos órgãos genitais masculinos e das características secundárias. É esse hormônio o responsável por: Estimular os folículos pilosos para que façam crescer a barba masculina e o pêlo pubiano. • Estimular o crescimento das glândulas sebáceas e a elaboração do sebo. • Produzir o aumento de massa muscular nas crianças durante a puberdade, pelo aumento do tamanho das fibras musculares. • Ampliar a laringe e tornam mais grave a voz. • Fazer com que o desenvolvimento da massa óssea seja maior, protegendo contra a osteoporose. No sistema reprodutor masculino existem estruturas que são fundamentais para a formação do espermatozoide, como os epidídimos que são dois tubos enovelados que partem dos testículos, onde os espermatozoides são armazenados. 190 • Os Canais deferentes que são dois tubos que partem dos testículos, circundam a bexiga urinária e unem-se ao ducto ejaculatório, onde desembocam as vesículas seminais. • As Vesículas seminais que são responsáveis pela produção de um líquido, que será liberado no ducto ejaculatório que, juntamente com o líquido prostático e espermatozoides, entrarão na composição do sêmen. O líquido das vesículas seminais age como fonte de energia para os espermatozoides. • A Próstata que é a glândula localizada abaixo da bexiga urinária. É ela quem secreta substâncias alcalinas que neutralizam a acidez da urina e ativa os espermatozoides. • As Glândulas Bulbo Uretrais que produzem uma secreção transparente que é lançada dentro da uretra para limpá-la e preparar a passagem dos espermatozoides. Também tem função na lubrificação do pênis durante o ato sexual. O genital externo do homem é formado pelo Pênis que é considerado o principal órgão do aparelho sexual masculino, sendo formado por dois tipos de tecidos cilíndricos e dois corpos cavernosos e um corpo esponjoso que envolve e protege a uretra. A uretra é comumente um canal destinado para a urina, mas os músculos na entrada da bexiga se contraem durante a ereção para que nenhuma urina entre no sêmen e nenhum sêmen entre na bexiga. Todos os espermatozoides não ejaculados são reabsorvidos pelo corpo dentro de algum tempo. É no saco escrotal em que os espermatozoides são produzidos, em um processo que leva cerca de 70 dias. Para que os testículos se desenvolvam a temperatura deve estar inferior a 36 graus célsius. É por isso que anatomicamente os testículos ficam suspensos do corpo pela bolsa escrotal, que tem a função de termorregulação fazendo com que ela retraia e aproxime-se do corpo ou relaxe e afaste os testículos do corpo, mantendo-os a uma temperatura geralmente em torno de 1 a 3 °C abaixo da corporal. 191 Agora iremos aprender sobre o sistema reprodutor feminino. Vagina A vagina é um canal de 8 a 10 cm de comprimento, de paredes elásticas, que liga o colo do útero aos genitais externos. Contém de cada lado de sua abertura duas glândulas denominadas glândulas de Bartholin, que secretam um muco lubrificante. A entrada da vagina é protegida por uma membrana circular chamada hímen que fecha parcialmente o orifício vulvovaginal e é quase sempre perfurado no centro, podendo ter formas diversas. Geralmente, essa membrana se rompe nas primeiras relações sexuais. A vagina é o local onde o pênis deposita os espermatozoides na relação sexual. Além de possibilitar a penetração do pênis, possibilita a expulsão da menstruação e, na hora do parto, a saída do bebê. A genitália externa que também recebe o nome de vulva é delimitada e protegida por duas pregas intensamente irrigadas e inervadas que são chamadas de grandes lábios. Quando a mulher atinge a idade reprodutiva os grandes lábios são recobertos por pelos pubianos. Internamente há uma prega que envolve a abertura da vagina. São os pequenos lábios que protegem a abertura da uretra e da vagina. Na vulva também está o clitóris que é formado por um tecido esponjoso erétil. 192 Útero No final do canal vaginal encontra-se o útero que é um órgão muscular com formato de pera invertida e quando não está fecundado mede aproximadamente 7 centímetros. Ele possui uma capacidade muito grande de expansão para acomodar um bebê quando está gravídico. Ele é constituído por uma parede espessa, formada por três camadas. Uma camada interna ou de revestimento chamada endométrio. A serosa que é a camada de tecido que cobre a parte externa do útero e uma parte medial que forma uma camada espessa de músculo que é o miométrio. OváriosCada lado do útero possui um Ovário. O par de ovários que se ligam ao útero são as gônadas femininas. As gônadas são as glândulas responsáveis pela síntese dos hormônios sexuais. Elas produzem estrógeno e progesterona, os hormônios sexuais femininos que estudaremos mais adiante. Esses ovários ligam-se ao útero através de uma estrutura chamada de tuba uterina ou trompa de falópio. Medem aproximadamente 10 centímetros de extensão cada uma e se estendem do ângulo lateral do útero para os lados da pelve. As tubas uterinas transportam os óvulos que romperam a superfície do ovário até a cavidade do útero. 193 No final do desenvolvimento embrionário de uma menina, ela já tem todas as células que irão transformar-se em gametas nos seus dois ovários. Estas células - os ovócitos primários - encontram-se dentro de estruturas denominadas folículos de Graaf ou folículos ovarianos. A partir da adolescência, sob ação hormonal, os folículos ovarianos começam a crescer e a desenvolver. Os folículos em desenvolvimento secretam o hormônio estrógeno. Mensalmente, apenas um folículo geralmente completa o desenvolvimento e a maturação, rompendo-se e liberando o ovócito secundário (gameta feminino): fenômeno conhecido como ovulação. Após seu rompimento, a massa celular resultante transforma-se em corpo lúteo ou amarelo, que passa a secretar os hormônios progesterona e estrógeno. Com o tempo, o corpo lúteo regride e converte-se em corpo albicans ou corpo branco, uma pequena cicatriz fibrosa que irá permanecer no ovário. O gameta feminino liberado na superfície de um dos ovários é recolhido por finas terminações das tubas uterinas - as fímbrias. Tubas uterinas, ovidutos ou trompas de Falópio: são dois ductos que unem o ovário ao útero. Seu epitélio de revestimento é formado por células ciliadas. Os batimentos dos cílios microscópicos e os movimentos peristálticos das tubas uterinas impelem o gameta feminino até o útero. Útero: órgão oco situado na cavidade pélvica anteriormente à bexiga e posteriormente ao reto, de parede muscular espessa (miométrio) e com formato de Pêra invertida. É revestido internamente por um tecido vascularizado rico em glândulas - o endométrio. 194 TANATOLOGIA FORENSE AULA 1 - CONCEITOS DE TANATOLOGIA Iniciaremos nossos estudos no módulo de TANATOLOGIA, a matéria que irá nos dar o conhecimento necessário para responder questões como: • Porque o corpo esfria e endurece; • Qual o tempo aproximado que este cadáver foi assassinado; E também aprenderemos uma abordagem psicológica da profissão, compreendendo os processos de luto, a cultura sobre a morte e como a nossa sociedade encara a passagem da vida. Nessa nossa primeira aula veremos como a psicologia classifica os cinco estágios do luto na sociedade moderna e veremos também as primeiras manifestações da ausência de vida no corpo, que iremos chamar de fenômenos imediatos e de fenômenos consecutivos. A palavra Tanatologia tem sua origem no idioma grego na união dos radicais Thanatos e Logos. Na mitologia grega, Thanatos era uma entidade masculina, representativa da morte. Filho da noite e irmão do sono, era constantemente representada com asas, tendo nas mãos uma foice e uma urna com cinzas e uma borboleta que simboliza a esperança de uma vida nova. 195 Quanto a Logos, significa estudo. Assim, o significado de Tanatologia, juntando as duas palavras é de “estudo da morte”. Podemos dizer que a Tanatologia estuda não só a morte, mas também os processos de morrer, o luto e as perdas. É competência da tanatologia forense investigar as circunstâncias envolvidas na morte, como alterações corporais que acompanham a morte e o período pós morte através de exame de necropsia, coleta de dados clínicos da vítima e exames complementares que poderão conduzir as causas e circunstâncias da morte. A Tanatologia como ciência tem como objetivo geral estudar os processos do morrer e do luto. Como alguns dos objetivos antropológicos, podemos citar: • Estudar a dicotomia entre a vida e a morte; • Abordar particularidades do processo de morrer para auxiliar a compreensão daqueles pacientes em estado terminal e seus familiares. • Identificar meios de lidar e avaliar a dor psíquica e as dificuldades impostas pela morte Vamos iniciar nossos estudos analisando os aspectos psicossociais do luto e da morte. Luto É um processo, um conjunto de reações e emoções, resultado de uma perda muito impactante. A verdade é que podemos nos esforçar para definir o que é luto, mas não conseguiremos jamais ser precisos. Isso porque ele é extremamente particular, individual. Cada um elabora o sofrimento, a desestrutura, a ideia de fim, de modo singular. Inclusive, ao vivenciar diferentes lutos, um mesmo indivíduo pode e provavelmente irá reagir de forma única a cada um dos processos. https://www.vittude.com/blog/fala-psico/sofrimento-por-que-e-ou-para-que/ 196 Embora não possamos comparar ou estabelecer parâmetros fixos, as 5 fases do luto, propostas pela psiquiatra suíça Elisabeth Kübler-Ross, sugerem um princípio de entendimento. Assim, partimos deles para refletirmos sobre o assunto. Os 5 estágios do luto Elisabeth Kübler-Ross observou 5 reações recorrentes em pessoas diante da morte. 1. Estágio da negação Se amamos a pessoa que partiu o luto é natural. Quando uma pessoa nos deixa para sempre, esse tempo sem a pessoa causará estranheza. Quanto mais somos apegados à pessoa que partiu mais constante é a falta que a presença da pessoa faz em nossa vida. Logo, negar essa nova realidade não parece uma alternativa de difícil compreensão. A negação pode ser íntima e silenciosa. Pode ser comparada a um pesadelo, à ideia de uma suspensão temporária da realidade concreta. Em alguns casos, pode ser uma desconfiança das informações. Como uma discreta esperança do anúncio do engano. Em outros casos, a negação é anunciada. Tanto pela voz quanto pelo comportamento, que pode deixar claro que a ausência não foi aceita. É possível permanecer longo tempo nessa etapa. Algumas pessoas jamais saem dela. Por quê? Porque a negação nos protege da ruptura, deixando a morte como um assunto pendente, ao mesmo tempo em que alivia a perda do controle emocional. Não há regras para a duração da fase de negação. Se a fase de negação pode durar 10 anos para uns, para outros, pode ocorrer em 10 segundos. Não há regras ou conceitos de certo e errado. https://www.vittude.com/blog/cinco-estagios-do-luto/ https://www.vittude.com/blog/cinco-estagios-do-luto/ https://www.vittude.com/blog/cinco-estagios-do-luto/ 197 Todavia, a demora neste estágio deve ser observada não só pelo enlutado que pode muitas vezes não ter dimensão dos impactos da negativa em sua vida, mas também pelas pessoas que o cercam. Nesses casos, é muito importante o papel da terapia no luto. Enquanto a negação se mantém, a vida segue presa a um passado de presente impossível. Um psicólogo pode oferecer um atendimento clínico diferente, trabalhando uma outra abordagem ao luto que não será a mesma que os amigos e parentes, ainda que esses, com as melhores intenções, estimulem a “seguir em frente.” Na terapia, encontramos uma conversa que respeita nossos entraves, mas nos provoca a pensamentos novos. Um psicólogo não nos consola e diz que “tudo ficará bem”. Mas nos ajuda a encontrar nossos próprios meios para, aos poucos, digerirmos a nova condição e nos adaptarmos, da melhor forma possível. 2. Estágio da raiva A partir do momento em que o indivíduo toma consciência do caráter irreversível que éa morte e que a passagem daquela pessoa querida é irreversível surgem fortes emoções. Explosões de raiva, portanto, são bastante comuns, já que exteriorizam o sentimento de frustração. Por vezes, a raiva se dirige a um lugar ou objeto associado à morte. Em outras circunstâncias, a raiva encontra em pessoas vistas como culpadas o foco de sua direção. Também pode ser uma raiva menos específica, quando a vida e o destino são interpretados como algozes injustos. O estágio da raiva pode ser passageiro, como um rompante. Ou pode persistir, alimentando uma revolta que torna os relacionamentos, em geral, um tanto quanto problemáticos. A pessoa em luto pode ser bastante “difícil”, pois, com a raiva, é normal que ela se apresente menos cortês, de mau-humor e indisposta. É importante que o círculo de convivência dessa pessoa, como amigos e familiares ofereçam apoio e tenham paciência. O acolhimento psicológico dialoga com todas as etapas do luto, incluindo a raiva. A terapia pode ser sugerida por familiares ou pessoas próximas, que notam https://www.vittude.com/blog/o-que-e-psicoterapia/ https://www.vittude.com/blog/o-que-e-psicoterapia/ https://www.vittude.com/blog/raiva/ https://www.vittude.com/blog/raiva/ https://www.vittude.com/blog/frustracao-porque-ficamos-frustrados/ https://www.vittude.com/blog/frustracao-porque-ficamos-frustrados/ https://www.vittude.com/blog/fala-psico/morte-e-luto-e-preciso-saber-lidar/ https://www.vittude.com/blog/fala-psico/morte-e-luto-e-preciso-saber-lidar/ https://www.vittude.com/blog/relacionamentos/ https://www.vittude.com/blog/relacionamentos/ https://www.vittude.com/blog/distimia-sintomas-tratamento/ https://www.vittude.com/blog/distimia-sintomas-tratamento/ https://www.vittude.com/blog/psicologia-online/ https://www.vittude.com/blog/psicologia-online/ 198 excessos que apontam prejuízos maiores. Ou, muitas vezes, é procurada por iniciativa do próprio enlutado, quando este percebe o impasse de seus sentimentos. Ao elaborar sua dor, com auxílio do psicólogo, o enlutado consegue administrá- la melhor, visto que a terapia o conduz ao enfrentamento da morte — com gradual abandono de culpas, ressentimentos e revolta. 3. Estágio de negociação ou barganha Diante da morte consumada, a barganha geralmente se manifesta como imaginação temporária, como se fosse possível reverter o fato, com mudanças nos eventos que a desencadearam. Fica mais claro quando entendemos que, nessa etapa do luto, especialmente para pessoas religiosas, busca-se negociar com o sobrenatural. Como se uma promessa a Deus ou entidade pudesse reverter o quadro, ou conferir um último momento extra. Enquanto a morte ainda não é presente, mas se faz próxima, como no caso de uma doença grave, a barganha é mais evidente. A pessoa enferma pode buscar uma chance de superar a ideia de morte, procurando novos comportamentos. É possível que ela se empenhe em criar hábitos mais saudáveis, maior generosidade e gentileza. Essa postura é positiva nesses casos e, sem dúvida, se não chega a interferir no tempo de vida, torna a qualidade desse tempo muito mais rica. O risco é quando a barganha não logra êxito, o que inevitavelmente ocorre diante da morte consumada ou perante avanços da doença. A frustração leva a outros estágios do luto, que podem ser experimentados de forma bastante enfática, desestabilizando a saúde emocional. 4. Estágio de depressão Nesta fase, a falta do ente querido é sentida na intensidade de sua consciência. Negação, raiva e barganha falham. O que se materializa, é a tristeza profunda, um vazio que torna tudo desconexo, desinteressante e sem sentido. A busca por apoio psicológico, na etapa de depressão, não deve ser entendida como a procura pelo fim do sofrimento. A dor do luto não é um transtorno mental que https://www.vittude.com/blog/fala-psico/sobre-a-importancia-de-curar-a-dor/ https://www.vittude.com/blog/fala-psico/sobre-a-importancia-de-curar-a-dor/ https://www.vittude.com/blog/terapia-online/ https://www.vittude.com/blog/terapia-online/ https://www.vittude.com/empresas/blog/gentileza-como-cultivar-um-ambiente-de-trabalho-mais-saudavel/ https://www.vittude.com/empresas/blog/gentileza-como-cultivar-um-ambiente-de-trabalho-mais-saudavel/ https://www.vittude.com/blog/fala-psico/5-maneiras-de-cuidar-da-sua-saude-emocional/ https://www.vittude.com/blog/fala-psico/5-maneiras-de-cuidar-da-sua-saude-emocional/ https://www.vittude.com/blog/fala-psico/5-maneiras-de-cuidar-da-sua-saude-emocional/ https://www.vittude.com/blog/depressao-profunda/ https://www.vittude.com/blog/depressao-profunda/ 199 precisa ser curado ou medicado. O luto precisa ser vivido. E o papel do psicólogo é auxiliar a travessia, não a ignorar ou silenciar. Vivemos numa condição que nos cobra produtividade e rápida superação de obstáculos. Aprendemos a ver a dor como inimiga e, mesmo quando é natural, acabamos querendo encurtar o processo. Um remédio não ensinará como lidar com a perda de um ente querido. Nem o psicólogo apresentará, instantaneamente, a solução para que a vida volte ao normal. As sessões de terapia não objetivam fazer do luto uma doença a ser tratada. Mas sim uma conversa, uma narrativa que permita ao enlutado expressar toda a força da ausência. É na vivência do luto que a superação, sem tempo certo para acontecer, se desenvolve. Os recursos terapêuticos favorecem o gradual reencontro do ânimo e da potência de novos sentidos. 5. Estágio de aceitação do luto É o momento em que os sentimentos já não bloqueiam a compreensão do fim, nem impedem que a vida se restabeleça. É crucial que não se confunda aceitação com esquecimento. Não há como superar o luto imaginando que, um dia, ele será totalmente deletado da memória. Aceitar também não é deixar de sentir. O luto se torna parte da essência, um marco indelével da história pessoal. O sentir se modifica, mas não se esgota. E pode provocar retornos a estágios de luto descritos anteriormente. Lembre-se de que não estamos falando de ciências exatas, mas de nossas emoções. A etapa de aceitação significa a resiliência diante da morte. Para alguns, os projetos cotidianos ou o compromisso com membros da família podem representar a raiz da motivação. Para outros, o engajamento em causas ou projetos maiores é que sinalizará o norte para a retomada do movimento vital. Cada pessoa encontrará sua trajetória ímpar de aceitação do luto. Não existem fórmulas, embora o exemplo do outro possa despertar encorajamentos e inspirações. É necessário que o profissional que atue direta ou indiretamente na perícia criminal tenha noção e conhecimento destes processos individuais pois faz parte da rotina profissional lidar e atender pessoas enlutadas, sendo compreensíveis todos os reflexos de luto, devendo o profissional durante o atendimento manejar de forma a conter os ânimos e as emoções dos familiares https://www.vittude.com/blog/psicologo-online/ https://www.vittude.com/blog/psicologo-online/ https://www.vittude.com/blog/sentir-tristeza/ https://www.vittude.com/blog/sentir-tristeza/ https://www.vittude.com/blog/diferenca-entre-psicologo-e-psiquiatra/ https://www.vittude.com/blog/diferenca-entre-psicologo-e-psiquiatra/ https://www.vittude.com/blog/diferenca-entre-psicologo-e-psiquiatra/ https://www.vittude.com/blog/resiliencia/ https://www.vittude.com/blog/resiliencia/ https://www.vittude.com/blog/fala-psico/emocoes-sentimentos-saude-mental/ https://www.vittude.com/blog/fala-psico/emocoes-sentimentos-saude-mental/ https://www.vittude.com/blog/o-que-e-resiliencia/ https://www.vittude.com/blog/o-que-e-resiliencia/ https://www.vittude.com/blog/5-razoes-para-fazer-terapia-familiar/ https://www.vittude.com/blog/5-razoes-para-fazer-terapia-familiar/ https://www.vittude.com/blog/5-razoes-para-fazer-terapia-familiar/200 Cronotanatognose Ainda sobre a análise cadavérica é importante dar destaque à Cronotanatognose que também é um ramo da tanatologia que realiza o estudo da passagem do tempo aplicada ao exame cadavérico. São analisados fenômenos que se apresentam após o início da morte. Esses fenômenos podem ser divididos em: Fenômenos abióticos imediatos São aqueles comuns, ocorridos instantes após a morte, como parada respiratória e circulatória, palidez, faces hipocráticas e imobilidade. Fenômenos abióticos consecutivos Aqueles que se sucedem a partir da morte declarada, como rigidez cadavérica, manchas de hipóstase, desidratação do cadáver, resfriamento corporal e ainda os espasmos cadavéricos. 201 Desidratação cadavérica O cadáver sujeito às leis físicas sofre evaporação tegumentar, variando de acordo com a temperatura ambiente com a circulação do ar, com a umidade local e com a causa da morte. A desidratação se traduz por: Decréscimo de peso A evaporação da água dos tecidos orgânicos após a morte leva, consequentemente, à diminuição de peso. É mais acentuada nos fetos e recém-nascidos, chegando a até 8 g por quilograma de peso em um dia, alcançando, segundo Dupont, nas primeiras horas até 18 g/kg de peso. Deve-se levar em conta que este fenômeno varia de indivíduo para indivíduo, de acordo com o tipo de morte e condições ambientais. Para utilização dessa prática, faz-se mister o conhecimento do peso da pessoa ante mortem. Pergaminhamento da pele Por efeito da evaporação tegumentar, a pele se desseca, endurece e torna-se sonora à percussão, tomando um aspecto de pergaminho. Apresenta-se de tonalidade pardacenta ou pardo amarelada e com estrias decorrentes de arborizações vasculares que se desenham na derme. Esse processo começa onde a pele é mais delgada, como no saco escrotal. Dessecamento das mucosas dos lábios Principalmente nos cadáveres de recém-nascidos e de crianças, a mucosa dos lábios sofre desidratação, tomando uma consistência dura e tonalidade pardacenta. É 202 mais comum na porção mais externa da mucosa labial. Seu conhecimento é fundamental para não se atribuir a lesões traumáticas ou ação de substâncias cáusticas. Modificação dos globos oculares A desidratação manifesta nos olhos certos fenômenos que devem ser conhecidos, como, por exemplo, a formação da tela viscosa, a perda da tensão do globo ocular, o enrugamento da córnea, a mancha negra da esclerótica e a turvação da córnea transparente. O enrugamento da córnea, conhecido também como sinal de Bouchut, é outro fenômeno ainda decorrente da desidratação cadavérica. A mancha da esclerótica conhecida por sinal de Sommer e Larcher, é explicada pela dessecação da esclerótica, mostrando, no quadrante externo ou interno do olho, uma mancha de cor enegrecida pela transparência do pigmento coroide ano. A córnea, algumas horas depois da morte, perde sua transparência e se torna turva. Este fenômeno, no entanto, poderá ser observado no vivo, quando em estados agônicos prolongados. Após 8 h da morte, exercendo-se a pressão digital literalmente no globo ocular, pode ocorrer a deformação da íris e da pupila, chamado de sinal de Ripault. Esfriamento cadavérico (algor mortis). Com a morte e a consequente falência do sistema termorregulador, a tendência do corpo é equilibrar sua temperatura com o meio ambiente. 203 Embora esse esfriamento seja progressivo, não se observa sempre uma uniformidade rigorosamente precisa. Ele começa pelos pés, mãos e face. Os órgãos internos mantêm-se aquecidos por 24 h em média. Quanto maior for o tecido adiposo apresentado pelo indivíduo, mais lento será o processo de resfriamento do corpo. Os livros de Medicina Legal trazem o relato do caso de uma mulher de 150 kg que, após 12 h de morte ainda apresentava uma temperatura como se estivesse viva. As crianças e os velhos esfriam mais facilmente que os adultos. O corpo, quando envolvido em roupas ou mantido em ambiente fechado, sofre um processo de esfriamento bem mais lento do que em outras circunstâncias. Por outro lado, os que morrem de doenças crônicas, de traumas cranianos com lesões hipotalâmicas, hipotermia, desidratação e grandes hemorragias têm um esfriamento do corpo mais rápido. E os que padeceram de insolação, intermação, intoxicação por venenos e doenças infecciosas agudas apresentam um esfriamento mais lento. A verificação da temperatura, no cadáver, é feita de preferência no reto, a uma profundidade de 10 cm, com termômetros especiais de hastes longas. O estudo do esfriamento cadavérico é de grande importância na determinação do tempo aproximado de morte. Manchas de hipóstase cutâneas (livor mortis). Também chamadas de manchas de posição ou livores cadavéricos, são fenômenos constantes, inexistindo apenas, e bem assim de modo irregular, em casos excepcionais de mortes por grandes hemorragias. Com a parada da circulação, o sangue, pela lei da gravidade, vai se acumulando nas partes mais baixas, deixando de aparecer apenas nas superfícies de contato que o cadáver sofre por compressão sob o plano resistente. Segundo Genival Veloso de França caracterizam-se pela tonalidade azul púrpura, de certa intensidade e percebidas na superfície corporal. 204 São encontradas, de preferência, na parte de declive dos cadáveres e por isso chamadas de manchas de hipóstase, variando, logicamente, com a posição do corpo. Apresentam-se em forma de placas, embora possam surgir as chamadas púrpuras hipostáticas. As manchas hipostáticas cutâneas permanecem até o surgimento dos fenômenos putrefativos, quando elas são invadidas pela tonalidade verde enegrecida que aparece no cadáver devido à formação do hidrogênio sulfurado combinado com a hemoglobina. Essas manchas, portanto, são importantes para o diagnóstico da realidade da morte, para o diagnóstico da causa da morte, para a estimativa do tempo de morte e para o estudo da posição em que permaneceu o cadáver depois da morte. Em geral, começam a aparecer em torno de 2 a 3 horas após a morte. Sua distribuição varia de acordo com a posição do cadáver. Assim, se o cadáver é colocado em decúbito dorsal, que é a mais comum das posições, a distribuição dos livores é na parte posterior do corpo, com exceção das escápulas, nádegas e face posterior das coxas e das pernas, pelo fato de essas regiões estarem sob a pressão do plano onde repousa o corpo. Não são vistos também nos locais pressionados pelas vestes, cintos, alças elásticas e pelas dobras e rugas da pele como no pescoço. Sua intensidade varia de acordo com a fluidez do sangue, por isso são mais realçadas nos casos de asfixia. Aluno, chegamos ao final de mais uma aula. Espero que tenham aprendido e absorvido todo o conhecimento. Até a próxima aula. 205 AULA 2 - FENÔMENOS CADAVÉRICOS Na aula passada fizemos um estudo sobre os acontecimentos do corpo após a morte. Vimos como os psicólogos tratam o luto e a morte e começamos a estudar também os fenômenos cadavéricos. Na aula de hoje daremos continuidade ao estudo dos fenômenos cadavéricos. Os fenômenos cadavéricos são classificados em abióticos e transformativos; Os fenômenos abióticos ocorrem sem a interferência de agentes biológicos como as bactérias, enquanto nos fenômenos transformativos esta interferência é intensa, exceto a autólise, outro tema que veremos mais adiante. Os abióticos se dividem em imediatos e mediatos, já os transformativos são classificados em destrutivos e conservadores. Nós aprendemos que osfenômenos cadavéricos abióticos imediatos são aqueles que começam imediatamente após a cessação da vida, tal como a perda da consciência. O desaparecimento dos movimentos, a perda dos movimentos respiratórios e dos batimentos cardíacos, a perda da ação reflexa a estímulos táteis, térmicos e dolorosos e a perda das funções cerebrais. Já os fenômenos abióticos mediatos, que também podem ser chamados de consecutivos, que são aqueles que começam minutos ou horas após a morte são os seguintes: • desidratação, • resfriamento do corpo, • manchas de hipóstase, • rigidez cadavérica, • coagulação do sangue, • alterações oculares 206 • e autólise que é a destruição do tecido humano pelas próprias bactérias que vivem no corpo. Esses fenômenos abióticos consecutivos que vimos acima sofrem influência direta de fatores variáveis, como a causa da morte e o local em que ocorreu a morte. Isso quer dizer que um cadáver encontrado em uma margem de rio que é um ambiente úmido e frio terá um resfriamento muito maior que um cadáver encontrado no interior de uma residência, por exemplo. Veja só a manifestação dos fenômenos cadavéricos a seguir em algumas fotos. E um macete para decorar com facilidade é lembrar-se da chamada “tríade da morte”, composta pelo rigor mortis, livor mortis e algor mortis que como estudamos, representam os fenômenos de rigidez, mancha hipostática e resfriamento do cadáver. A respeito dos fenômenos cadavéricos. Existem vídeos e imagens que viralizaram na internet onde aparecem cadáveres que praticamente “voltam a viver”. Mas isso seria possível? Vimos que os sinais abióticos são conclusivos para constatar a morte. Como isso poderia acontecer? Para compreender melhor como isso pode acontecer, procuramos nos livros de ciência uma explicação para esse acontecimento e descobrimos que Sim! Braços e pernas podem se mover durante a rigidez cadavérica. Esse processo começa entre uma e duas horas após a morte e acaba em 24 horas. Quando estamos vivos, tanto a contração como o relaxamento dos músculos gastam moléculas armazenadoras de energia, conhecidas pela sigla ATP. Mas, quando morremos e as reservas de ATP se esgotam, os filamentos musculares de contração ficam permanentemente unidos. É nesse instante que pode haver uma movimentação brusca dos membros, se eles estiverem estendidos. Esse movimento tende a ser sempre em direção ao centro do corpo e pode ser influenciado por fatores como a temperatura ambiente e até a causa da morte. Fenômenos transformativos Separe uma folha nova para o caderno. Começaremos agora a aprender sobre os fenômenos transformativos, aquele fenômeno que age modificando o cadáver. Eles recebem esse nome porque modificam o corpo, diferente dos fenômenos abióticos, e podem ser chamados de fenômenos transformativos destrutivos e, conservadores. 207 Os destrutivos como o nome já diz, agem destruindo o corpo, e são chamados de putrefação, maceração e autólise. Enquanto que os fenômenos transformativos conservadores ocorrem em um cadáver conservando o mesmo e são chamados de mumificação, saponificação e corificação. Vamos começar aprendendo sobre os fenômenos transformativos destrutivos! Fenômenos transformativos destrutivos O primeiro que iremos falar será a Autólise: São vários fenômenos fermentativos anaeróbicos que ocorrem no interior das células do indivíduo após sua morte, ocorrem independentemente de qualquer ação de outros microrganismos. É o primeiro dos fenômenos cadavéricos. Palavras difíceis, não é mesmo? Vamos descomplicar então! 208 Somos compostos de pequenas estruturas que recebem o nome de células. Esses milhões de unidades que compõem nosso corpo possuem uma vida própria, se alimentam dos nutrientes que ingerimos e usam o mesmo ar que aspiramos pelo nariz e que preenche nosso pulmão. A partir do momento em que cessa a vida, deixamos de ingerir nutrientes e também de realizar a respiração. As células, por sua vez também ficam sem nutrientes e então entram em colapso. Em uma tentativa de deixar de usar energia para realizar suas funções elas se auto destroem. Por isso o nome autólise que significa auto destruição da célula. As primeiras células do corpo que realizam essa função são as células nervosas do nosso cérebro e medula, enquanto que as mais resistentes são as células ósseas. O segundo fenômeno destrutivo que iremos aprender é a Maceração. A maceração é o processo de transformação destrutiva em que ocorre o amolecimento dos tecidos e órgãos quando os mesmos ficam submersos em um meio líquido, comum no caso de cadáveres afogados e também em fetos onde ocorre a morte intrauterina, pois a cavidade uterina é repleta de líquido amniótico. Na maceração, a pele se torna esbranquiçada e enrugada e faz com que a epiderme se solte da derme e possa até se rasgar em grandes fragmentos. Isto é bastante evidente nas mãos onde a pele se desprende como se fossem “luvas”. Com o desprendimento da epiderme é possível então visualizar a derme, que é vermelha brilhante. 209 E finalmente, vamos abordar o mais complexo dos fenômenos transformativos destrutivos: a Putrefação. A PUTREFAÇÃO É DIVIDIDA EM QUATRO FASES: A PRIMEIRA FASE Recebe o nome de coloração. É nessa fase que surge a mancha verde abdominal. É possível observar o surgimento de uma mancha verde na parede abdominal da fossa ilíaca direita. O sangue fica verde por conta de uma reação entre o gás sulfídrico e a hemoglobina que é a molécula do sangue. O que ocorre é que o tecido do corpo passa a sofrer a ação de bactérias que iniciaram a decomposição dos tecidos do corpo humano. Essas bactérias de decomposição produzem um cheiro similar ao enxofre, comum de ovos podres. Esse gás quando misturado com o sangue faz com que o sangue fique verde. 210 Essa mancha surge entre 18 e 24 horas após a morte e dura cerca de uma semana e com o passar do tempo será distribuída em todo o tronco, cabeça e membros. A SEGUNDA FASE Da putrefação é o período gasoso que dura em média duas semanas e ocorre porque o gás sulfídrico oriundo da putrefação migra para a superfície do corpo. O cadáver assume uma postura de boxeador, com face, tronco, pênis e escroto inchado. Um outro sinal é a presença de circulação póstuma de Brouardel, caracterizada pelo Aparecimento na Pele de veias cheias de Sangue causada pelo Aumento de volume das cavidades abdominais pelos gazes gerados pela Putrefação cadavérica. https://www.enciclopedia.med.br/wiki/Pele https://www.enciclopedia.med.br/wiki/Pele https://www.enciclopedia.med.br/wiki/Pele https://www.enciclopedia.med.br/wiki/Sangue https://www.enciclopedia.med.br/wiki/Sangue https://www.enciclopedia.med.br/wiki/Sangue https://www.enciclopedia.med.br/wiki/Aumento https://www.enciclopedia.med.br/wiki/Aumento https://www.enciclopedia.med.br/wiki/Aumento https://www.enciclopedia.med.br/wiki/Putrefa%C3%A7%C3%A3o https://www.enciclopedia.med.br/wiki/Putrefa%C3%A7%C3%A3o https://www.enciclopedia.med.br/wiki/Putrefa%C3%A7%C3%A3o 211 TERCEIRA FASE Chamado de estágio coliquativo, esse estágio é caracterizado pelo amolecimento e desintegração dos tecidos que se transformam em uma massa pastosa, chama putrilagem. O aspecto geral desse estágio é como se o cadáver estivesse derretendo. 212É nessa fase em que surgem as larvas e insetos necrófagos. Esses elementos vivos que podem ser visualizados em um cadáver são de extrema importância para elucidar importantes questões que como vimos nas aulas do módulo de Medicina Legal, são atribuições da Perícia Criminal resolver, como o momento estimado da morte, se o crime ocorreu no lugar em que o cadáver foi encontrado. Veremos no decorrer das nossas aulas de tanatologia a seriedade com que os pesquisadores e cientistas forenses tratam a Entomologia Forense que é a ciência responsável pelo estudo dos insetos que podem viver e se reproduzir em um cadáver e como estes insetos que recebem o nome de fauna cadavérica são muitas vezes os verdadeiros peritos, oferecendo aos profissionais respaldo para atestar o dia, a hora e circunstância do crime. QUARTA FASE: ESQUELETIZAÇÃO A esqueletização é a quarta fase de redução do cadáver. É o momento em que os tecidos considerados moles, como as camadas da epiderme, as cartilagens, os músculos e o tecido adiposo já se reduziram totalmente, e os ossos do cadáver começam a ficar à mostra. 213 Alguns autores também chamam de fase de ossificação, e ela ocorre após alguns fenômenos que ocorrem na fase coliquativa, como a desintegração da pele, tecidos moles e certos órgãos devido ao processo de liquefação, restando apenas os órgãos mais sólidos como o útero e a glândula da próstata, o coração e algumas vezes os tendões, as cartilagens, unhas e cabelo. O esqueleto pode também tornar-se desarticulado através de processos ambientais e biológicos. 214 Não é incomum que parte do cadáver composta por massa de menor densidade, como a cabeça, mãos, perna e pés, se apresente de forma ossificada. Isso ocorre porque a decomposição desses tecidos mais “magros” ocorre antes que os tecidos e órgãos da região torácica e abdominal. Outros aspectos que catalisam a reação de putrefação é o aparecimento da fauna cadavérica, representada pela predominância de colônias de dípteras (moscas cosmopolitas) nas cavidades corpóreas como o nariz, a boca e os olhos. Por fim, é importante ter compreensão que as fases podem se conglobar. Isso é dizer, por exemplo, que um corpo pode manifestar-se como coliquativo e apresentar sinais iniciais da fase de esqueletização, que é marcada pela exposição óssea. 215 Quis 1. Com base no que estudamos sobre os fenômenos cadavéricos, assinale: O sinal mais precoce de putrefação do cadáver é uma mancha verde que aparece, primeiramente: A) na cabeça. D) nas costas. B) no tórax. E) nos pés. C) No abdômen. O gabarito correto é a letra C – No abdômen. Esse fenômeno cadavérico ocorre na primeira fase da putrefação, que recebe o nome de coloração. Nessa fase é possível observar no cadáver o surgimento da mancha verde abdominal, que se inicia na fossa ilíaca direita que é um local irrigado pela artéria femoral. O sangue fica verde por conta de uma reação entre o gás sulfídrico produzido pelas bactérias do intestino e a hemoglobina que é a molécula do sangue. 216 2. Em relação aos fenômenos cadavéricos, julgue a assertiva abaixo: A fase de esqueletização do período de putrefação cadavérica caracteriza-se pela posição de atitude de boxeador e face vultosa, com protrusão de língua e dilatação do saco escrotal. • certo • errado A assertiva a seguir está ERRADA. Não é na fase de Esqueletização em que observamos os sinais de face vultosa, protusão de língua e dilatação do saco escrotal e sim na fase enfisematosa ou fase gasosa, que pode ser observado a partir de uma a duas semanas após a morte. 217 AULA 3 - ENTOMOLOGIA FORENSE Na aula passada concluímos o estudo dos fenômenos cadavéricos e iniciamos nossos estudos na Entomologia Forense que é a perícia realizada com o auxílio dos insetos necrófagos, como as moscas, larvas e besouros. Na nossa aula de hoje continuaremos o estudo da entomologia forense. A entomologia forense pode ser definida como a aplicação do estudo da biologia de insetos e outros artrópodes em processos criminais. A Entomologia Médico-Legal está relacionada com os processos criminais nos quais os insetos fornecem um conjunto adicional de informações para compor uma prova, especialmente no que diz respeito à determinação do tempo de morte. Essa ciência aborda elementos que abrangem a morte de humanos como os processos de decomposição dos cadáveres, a busca de evidências a serem utilizadas durante o julgamento de suspeitos e o esclarecimento de dúvidas. A primeira aplicação da entomologia forense documentada ocorreu em um caso ocorrido em 1235 e está relatada em um manual Chinês de Medicina Legal do século 13. Foi um caso de homicídio em que um lavrador apareceu degolado por um instrumento de ação corto-contundente. Os investigadores, à procura de vestígios na redondeza, encontraram uma foice com moscas sobrevoando a seu redor, devido, provavelmente, aos odores exalados de substâncias orgânicas aderidas à lâmina. 218 Em vista disso, o proprietário da foice foi pressionado pela polícia, levando-o a confessar a autoria do crime. Mas essa ciência tornou-se mundialmente conhecida apenas após 1894, com a publicação na França do livro chamado A Fauna dos Cadáveres do autor Mégnin, que fundamentou a descrição dos insetos e relatos de casos reais estudados por ele e seus colaboradores. Esses estudos são utilizados até os dias de hoje como padrão para os achados de insetos cadavéricos que se sucedem de modo previsível no processo de decomposição. No Brasil, o início dos estudos em Entomologia Forense está associado ao trabalho de Oscar Freire, em 1908, quatorze anos depois do trabalho de Mégin. Ele apresentou à Sociedade Médica da Bahia a primeira coleção de insetos necrófagos e os resultados de suas investigações, em grande parte obtidos do estudo de cadáveres humanos e carcaças de pequenos animais. A fauna entomológica cadavérica no Brasil apresenta vasta diversidade de espécies, uma vez que o processo de decomposição cadavérico apresenta condições ideais ao seu desenvolvimento. Os estudos da entomologia forense no Brasil indicam as moscas da ordem DIPTERA como os insetos de maior interesse na área, provavelmente pela diversidade deste grupo em regiões tropicais e principalmente pela atratividade que a matéria orgânica em decomposição exerce sobre esses insetos, influenciando no desenvolvimento, comportamento e dinâmica populacional das variadas espécies em nichos ecologicamente distintos. 219 O segundo grupo de insetos de maior interesse forense no Brasil são os besouros da ordem Coleóptera, frequentemente encontrados em carcaças, tanto na fase adulta de desenvolvimento, quanto na fase larval. 220 Os conhecimentos entomológicos podem auxiliar a revelar o modo e a localização da morte do indivíduo, a estimar o tempo de intervalo pós morte, chamado de IPM, além de determinar o local onde a morte ocorreu. O intervalo pós-morte corresponde ao período de tempo entre a ocorrência da morte e o momento em que o corpo é encontrado. A duração do desenvolvimento dos insetos encontrados no corpo, ou no local do crime, são usadas para calcular o IPM. Os insetos que podem ser encontrados em um cadáversão divididos em quatro grupos: • Os insetos necrófagos, em sua grande maioria moscas e besouros se alimentam de tecido em decomposição. • Os omnívoros, que são insetos com uma dieta alimentar ampla pois se alimentam tanto dos corpos em decomposição quanto da fauna associada. São formigas, vespas e alguns besouros. • Os parasitas e predadores que utilizam a entomofauna cadavérica para retirar os meios para o seu próprio desenvolvimento e se alimentam dos insetos necrófagos, principalmente das larvas das moscas. Podemos citar nesse grupo os insetos dermápteros, como a tesourinha. • E o quarto grupo, os insetos acidentais, que são aqueles que se encontram ao acaso no cadáver, relacionados principalmente a área ecológica em que o cadáver estava ou foi encontrado. É comum ver aranhas, centopeias, ácaros e outros artrópodes nesse grupo. Os insetos do primeiro grupo são os mais importantes no momento de determinar e estimar o IPM. Essa estimativa oferece um viés para a investigação criminal, pois através dela é possível estabelecer uma média de quanto tempo a pessoa está morta. Essa estimativa é feita observando as fases do inseto. A mosca díptera, por exemplo, passa por três fases de desenvolvimento até se tornar uma mosca adulta. As fases são: o ovo, a larva e a pupa. A mosca possui um olfato excelente. Ao sentir o cheiro de uma matéria em decomposição a mosca fêmea irá colocar ovos sobre esse substrato. Normalmente em lugares mais úmidos e que favoreçam a proliferação das larvas, como vísceras expostas e cavidades como orelha, olhos, nariz e boca. 221 Um ovo demora 24 horas para eclodir. Desse ovo nascerá uma larva. A duração do desenvolvimento do período larval é encontrada através da medição do tamanho das larvas. A mosca possui três estágios larvais, chamados de primeiro, segundo e terceiro ínstar. Cada estágio larval demora 24 horas. Isso quer dizer que depois de vinte quatro horas que aquela larva nasceu do ovo, ela já estará se preparando para o segundo ínstar. E após vinte quatro horas ela passará do segundo para o terceiro ínstar. No terceiro ínstar a larva precisa se alimentar para adquirir energia suficiente para a terceira fase da sua metamorfose, que é chamada de pupa. Para isso a larva do terceiro ínstar fica 72 horas se alimentando do substrato. Após esse período ela procurará um lugar adequado e seguro para se transformar em uma pupa. A pupa é uma espécie de casulo em que ela permanecerá por 5 a 10 dias até virar uma mosca. Essa disciplina é levada a sério pela biologia. Existem importantes laboratórios e centros de pesquisa responsável por estudar dia e noite a entomologia forense, como o Museu de História Natural, na Inglaterra, que tem como responsável o Doutor Martin Hall, um biomédico entomologista que presta auxílio a justiça na investigação criminal através dos conhecimentos da entomologia e da biologia dos insetos. 222 AULA 4 - CONTINUAÇÃO À ENTOMOLOGIA FORENSE Na aula passada aprendemos sobre a Entomologia Forense e os principais insetos aplicados nessa área do conhecimento. Na aula de hoje veremos alguns casos concretos em que essa ciência foi utilizada a favor da justiça e os fenômenos de variabilidade da data estimativa da morte. Quando aprendemos sobre as fases de decomposição vimos que eles levam determinado período de tempo para começarem a acontecer, mas essas estimativas são encontradas com base em uma média de tempo calculada no Brasil, em um clima fresco e aberto. Mas nem sempre os cadáveres encontram-se expostos às mesmas temperaturas, espaços e ambientes. Por exemplo, a decomposição de um cadáver dentro de uma residência fechada em uma cidade fria do Rio Grande do Sul seguirá fases e manifestações totalmente diferentes da decomposição de outro cadáver que se encontre na beira de um rio em uma cidade quente como o Rio de Janeiro, por exemplo. Essa diferença acontece porque para determinar o IPM não basta somente conhecer o ciclo de vida dos insetos. Devemos também considerar a influência dos fatores ambientais como a temperatura, a umidade relativa, a latitude e a altitude da área que se encontra o corpo de delito analisado. É necessário também considerar se o corpo está coberto com roupas e se ocorreu a presença de substâncias ingeridas ou se sobre o corpo há algum produto como combustíveis, lubrificantes ou tintas. Tudo isso irá influenciar na chegada dos insetos até o cadáver e a proliferação dos mesmos na carcaça. Veremos a seguir uma coletânea de casos onde a entomologia forense foi utilizada e aplicada juntamente com os métodos conservadores de uma investigação criminal. 223 Caso 1 Em 06 de julho de 1999, o corpo de uma mulher foi encontrado em um imóvel residencial. As portas e janelas estavam lacradas e o corpo estava coberto por várias colchas e lençóis. Esses tecidos formaram uma espécie de barreira para o acesso dos insetos ao cadáver. O corpo estava inchado, a língua estava protusa e exalava um odor fétido. O relatório de investigação indicou que a mulher teria sido vista viva pela última vez, três dias antes da data em que o corpo foi encontrado. Apenas alguns ovos de mosca foram localizados atrás da orelha e eclodiram em laboratório. 224 Essas larvas foram criadas até o estágio adulto. O grau dia acumulado foi calculado baseado no tempo de desenvolvimento para essa espécie sob condições de laboratório. O GDA foi calculado para eclosão dos ovos resultando em um intervalo pós- morte menor que um dia. Esses resultados não coincidiram com a estimativa obtida pelos médicos legistas através de critérios usuais como aparência física, lividez, rigor mortis e principalmente o relatório da investigação. Essa discrepância entre a estimativa alcançada pela análise das moscas e larvas e o resultado obtido através do relatório da investigação provavelmente aconteceu pelo atraso na chegada dos insetos ao corpo, porque as portas e janelas estavam fechadas e o copo estava coberto, criando uma barreira. Se o corpo estivesse em um ambiente externo seria imediato o início do desenvolvimento entomológico e várias espécies de insetos estariam presentes, possibilitando os cálculos pela comparação de seus ciclos de vida, aumentando a acuidade do método. 225 Caso 2 Em 06 de julho de 1999 em um terreno baldio com piso de terra batida foi encontrado um cadáver masculino em avançado estágio de decomposição, já apresentando as características compatíveis com o estágio enfisematoso. Esse cadáver estava coberto por vegetação. O relatório da investigação indicou que o homem havia sido visto pela última vez a quatro dias atrás. Através da estimativa da morte e reconstruindo os últimos lugares e pessoas visitados pela vítima a polícia conseguiu chegar até a autoria daquele crime. No cadáver a equipe de entomologia forense encontrou espécimes adultos dos insetos Chrysomya megacephala, Chrysomya macellaria e Sarcophaga ruficornis. 226 Quanto aos insetos imaturos, muitas larvas em terceiro ínstar foram encontradas, especialmente na região craniana. A temperatura da massa larval foi medida em 31 graus célsius. Em 14 de julho, depois de 141 horas, alguns espécimes de Chrysomya megacephala emergiram. O grau dia acumulado foi calculado e o intervalo pós-morte mínimo foi estimado em 4 dias, o que coincidiu com a estimativa obtida pelos métodos usuais de investigação. Caso 3 Em 9 de agosto de 1999, o corpode um homem foi descoberto no meio de uma floresta. Os investigadores verificaram que o homem teria sido visto pela última vez seis dias antes do corpo ser encontrado. 227 O corpo estava em recente estagio de decomposição e os espécimes adultos Calliphoridae e Sarcophagidae estavam presentes. Quanto aos insetos imaturos, larvas de terceiro ínstar estavam no corpo e pupários escuros foram encontrados no solo perto do corpo. Em 13 de agosto de 1999, após 92 horas alguns espécimes de Cochliomya macellaria emergiram em laboratório. O grau dia acumulado foi estimado em 5,5 dias, em conformidade com o intervalo obtido nas investigações. Caso 4 Em 19 de abril de 2004, os corpos de 26 homens foram encontrados na floresta da reserva indígena do Parque Nacional Aripuanã, no estado da Rondônia. Segundo a investigação da Polícia Federal os garimpeiros teriam sido mortos durante um conflito com os índios por causa da extração ilegal de diamantes na reserva em abril de 2004. Os corpos dos 29 garimpeiros foram achados pela Polícia Federal já em estado de decomposição. Na ocasião, helicópteros foram usados para retirar os cadáveres, colocados em 13 sacos de diferentes tamanhos. Numa região de floresta densa e chuvosa. Os homens foram identificados como garimpeiros envolvidos em confronto com índios Cinta Larga. 228 Os corpos estavam em diferentes posições, 23 juntos e três isolados, numa distância de 1000 metros dos outros. Os corpos estavam vestidos com camisetas, shorts ou calças e em diferentes condições. Os estágios de decomposição eram de saponificação e Esqueletização. A necropsia indicou que a maior parte das mortes foi causada por traumatismo cranioencefálico. Não havia patologistas nem entomologistas presentes na cena do crime. Não foram coletados insetos, nem verificada a temperatura em umidade do local. Os corpos foram removidos e transportados de helicóptero para a cidade de Porto Velho, localizado a 500 quilômetros do local do crime. Em 20 de abril, 2004, durante a necropsia foram coletadas 320 larvas dos corpos. As larvas foram imediatamente refrigeradas e encaminhadas para a Universidade de Brasília onde foram identificadas como Paralucilia fulvinota. No laboratório as larvas que estavam em terceiro instar evoluíram para pupas em 58 horas e em adultos em 110,5 horas. O tempo total de desenvolvimento para Paralucilia fulvinota foi mensurado em experimentos realizados em Manaus dentro da floresta usando carcaça de porcos. A idade estimada das larvas e o intervalo pós-morte mínimo foi de 5,7 dias. O dia o mais provável que possa ter ocorrido o massacre foi no dia 15 de abril de 2004. O que esses casos concretos nos mostram é que como o Brasil é um país que possui uma grande diversidade de climas e ambientes, é possível observar diferentes espécies entomológicas e diferentes estágios e ciclos de desenvolvimento desses insetos. Por mais que na maior parte das vezes a estimativa do IPM obtida através da análise dos insetos irá coincidir com as informações e as provas investigativas, existem circunstâncias que podem alongar ou reduzir a estimativa do IPM. 229 Dinâmica de trabalho da equipe de trabalho da entomologia forense A equipe pericial que trabalha em campo no atendimento de diversos locais de crime é normalmente composta por um perito criminal e um fotógrafo técnico-pericial, podendo ser incrementada com um desenhista técnico-pericial e um auxiliar de papiloscopia. Compete ainda ao perito criminal o exame Peri necroscópico do corpo humano envolvido em morte violenta ou em morte suspeita, ainda no local onde foi encontrado sendo, portanto, o primeiro agente do Estado a proceder o exame do cadáver, buscando relacionar as circunstâncias em que o corpo foi encontrado e suas eventuais lesões, com a cena do crime. Esse profissional irá complementar seu laudo mencionando aspectos imediatos à consumação do crime como os atos preliminares, sua execução e os vestígios remanescentes do crime. Uma análise criteriosa desses vestígios poderá fornecer os elementos de convicção indispensáveis ao julgador. É nesse campo que a Entomologia Forense ganha espaço, porém a sistemática para sua execução deve se adequar às peculiaridades, limitações e dificuldades enfrentadas pela equipe pericial, sob pena do seu potencial investigativo ser ignorado. Encerramos a aula de hoje alunos. Espero que tenham aprendido bastante sobre esse universo da biologia e dos insetos necrófagos. Continuaremos na próxima aula com mais alguns casos práticos de como a perícia e os insetos são fundamentais em uma investigação criminal! Até a próxima aula 230 AULA 5 - CASUÍSTICA DE ENTOMOLOGIA FORENSE Na aula passada aprendemos sobre os fatores de variabilidade na hora de apurar o intervalo após a morte. Na aula de hoje veremos a aplicabilidade prática da Entomologia Forense na perícia criminal. Esse caso se trata de um caso de homicídio que caminhava para arquivamento do Inquérito Policial como morte natural. Um cadáver em avançado estado de putrefação com presença de colonização de larvas foi atendido na cidade de Franca em São Paulo, onde uma mulher cardiopata e que residia sozinha foi encontrada nua ao lado de sua cama, em decúbito ventral, com estimativa de morte para 7 dias e sem vestígios de violência naquele ambiente, nem rompimento de obstáculos como portas e janelas. O Exame necroscópico foi efetuado e não foram encontrados traumas que sugerissem violência, mesmo porque o estágio putrefativo daquele cadáver impedia quaisquer considerações a respeito de eventuais lesões superficiais. O laudo médico- legal foi emitido como provável causa mortis decorrente de falência cardiovascular, como um infarto. Já o exame Peri necroscópico realizado pelo Perito Criminal de local constatou a presença de massa larval na nuca da vítima, na região occipital do crânio, o que chamou a atenção do perito criminal que fez constar o fenômeno em seu laudo pericial, alertando o delegado quanto à possibilidade de a vítima ter sofrido em vida alguma lesão na nuca que tenha causado o extravasamento sanguíneo. Um caso que já caminhava para arquivamento ganhou novas diligências, inclusive com exumação do cadáver, que confirmou o laudo médico-legal, comprovando que não haviam traumatismos no esqueleto da vítima. No curso das investigações os investigadores tiveram êxito em identificar um suspeito que teria invadido a residência da vítima no período estimado pelos peritos para a morte da vítima. Esse suspeito confessou a tentativa de estupro. Ao tentar imobilizar a vítima no chão o agressor golpeou sua nuca contra o piso áspero, ocasião em que a vítima teria desfalecido e o autor do delito empreendido fuga. 231 Mas antes o criminoso reorganizou o estado das coisas e trancafiou a porta com chave reserva, alterando a cena do crime. A grande contribuição que os conhecimentos entomológicos prestaram à Justiça nesse caso demonstra o potencial dessa ciência. Falaremos agora sobre os fenômenos cadavéricos transformativos conservadores, que são aqueles que agem transformando o cadáver, mas ao invés de reduzir e levar ao apodrecimento como a decomposição ou a maceração ele conservará o cadáver de alguma forma, preservando seu tecido e esqueleto. Mumificação A mumificação é um processo transformativo conservador do cadáver, podendo ser produzido por meio natural, artificial, natural e misto. Nas mumificações artificiais os corpos são submetidos a processos especiais de conservação que tem como objetivopreservar o corpo por conta de alguma crença ou ritual. Os primeiros registros desses acontecimentos são muito antigos. Eles eram feitos como embalsamamentos e eram praticados pelos povos egípcios, pelos nativos das Ilhas Canárias e pelos incas no Peru. Atualmente existem relatos de cultura que realizam a preservação do corpo de seus familiares os mumificando, como os povos da Indonésia que enterram seus familiares e anualmente os desenterram para celebrar o dia dos mortos com seus familiares que já partiram. Diferente não é mesmo? Veja a seguir como é o Dia dos Mortos na Indonésia. 232 A mumificação pode ocorrer também como um processo natural, mas é algo muito incomum e que dependerá de condições ambientais específicas que garantam a desidratação rápida, de modo a impedir a ação microbiana responsável pela putrefação. O cadáver, ficando exposto ao ar, em regiões de clima quente e seco, perde água rapidamente, sofrendo acentuado dessecamento. Podemos citar por exemplo as múmias do deserto, que são cadáveres de pessoas que morreram e tiveram seus corpos desidratados ficando com um aspecto de mumificação. Saponificação Também chamada de adipocera, a saponificação é um processo conservador que se caracteriza pela transformação do cadáver em substância de consistência untuosa, mole e quebradiça, de tonalidade amarelo-escura, dando uma aparência de cera ou sabão. Ela surge depois de um estágio mais ou menos avançado de putrefação quando certas enzimas bacterianas hidrolisam as gorduras neutras, dando origem aos ácidos graxos, os quais em contato com elementos minerais da argila se transformam em ésteres. 233 É raro encontrar um cadáver totalmente transformado por esse fenômeno especial. Mais comum é encontrar um cadáver com pequenas partes ou segmentos limitados, constituídos em adipocera. Inicia-se esse processo pelas partes do corpo que contêm mais gordura. Esse fenômeno pode surgir espontaneamente, em geral após a sexta semana depois da morte, sendo, porém, a água parada e o solo argiloso os responsáveis. O solo argiloso, úmido e de difícil acesso ao ar atmosférico facilita tal processo especial de transformação cadavérica. Este processo é mais comum em cadáveres com mais tecido adiposo, normalmente observado em obesos. Calcificação A calcificação é um fenômeno transformativo conservador que se caracteriza pela petrificação ou calcificação do corpo. Ocorre mais frequentemente nos fetos mortos e retidos na cavidade uterina, constituindo-se nos chamados litopédios, que significa criança de pedra. Corificação A corificação é um fenômeno transformativo conservador muito raro, descrito por Della Volta em 1985, sendo encontrado em cadáveres que foram armazenados em urnas metálicas fechadas hermeticamente, principalmente em urnas de zinco. 234 O cadáver submetido ao fenômeno da corificação apresenta a pele de cor e aspecto do couro curtido recentemente. O cadáver normalmente fica com o abdome achatado e deprimido, a musculatura e a tela subcutânea preservadas e os órgãos em geral amolecidos e conservados. No interior da urna, pode-se encontrar relativa quantidade de um líquido viscoso, turvo e de tonalidade castanho-amarelada. Acredita-se que nesse fenômeno o cadáver passa por um processo inicial de putrefação, mas que por motivos ainda não bem explicados seria interrompido, dando origem em seguida a um processo de mumificação natural, sendo responsável por isso certos ácidos graxos oriundos da decomposição da gordura e o ambiente fechado onde o cadáver se encontra. 235 Congelação Um cadáver submetido à baixíssima temperatura e por tempo prolongado vai se conservar integralmente por muito tempo. Há relatos de que foram encontrados corpos de animais pré-históricos com milhões de anos e que tiveram a aparência e a conservação preservadas. Certos autores consideram que em temperaturas de menos 40 graus podem-se obter “uma preservação quase indefinida”, inclusive permitindo a conservação em condições vitais de alguns materiais orgânicos como ossos, tecidos e espermatozoides. Como exemplo temos as múmias do gelo, que ficam preservadas por conta da baixa temperatura que anula a ação bacteriana e preserva a matéria. A mais famosa dessas múmias é Ôtzzi, você já ouviu falar dele? E por fim, iremos aprender sobre um fenômeno de conservação realizado por tribos indígenas da região da Amazônia. O fenômeno das cabeças reduzidas, chamado de TsanTsan constituía-se em uma forma especial de conservação cadavérica utilizada por aborígines do Equador, Colômbia e Peru, com a finalidade de manter as cabeças de seus inimigos como troféu de guerra ou talismã. Essas cabeças, além de conservadas, apresentavam-se com acentuada diminuição do seu volume. 236 Muitos pensavam que esse processo era devido a uma prática capaz de reduzir o tamanho da cabeça. Na verdade tal redução se devia à retirada de todos os ossos do crânio e da face, com o cuidado de manter a pele íntegra. Através de um corte na parte posterior do pescoço retiravam esses ossos e a bolsa de pele da cabeça era colocada em água fervente com ervas por 15 a 20 minutos, o que diminuía em cerca da metade o seu volume. Em seguida, por meio da ação do calor conseguiam encolher e endurecer a pele da face e da cabeça, colocando nessa espécie de saco de pele humana uma pedra quente e recheio de areia que lhe servia de molde, o que diminuía pouco a pouco seu tamanho. A isso, juntavam-se ainda certas ervas aromáticas e ricas em tanino, o que evitava o mau cheiro e a putrefação. Depois, quando a areia e a pedra começavam a esfriar, reiniciava-se o mesmo processo e com isso a cabeça ia encolhendo ainda mais. Durante esse procedimento, a cabeça ia sofrendo a ação da fumaça de carvão vegetal ou negro de fumo e por isso tinha sempre a tonalidade enegrecida. 237 Assim, a cabeça sem os ossos do crânio e da face ia encolhendo até adquirir o tamanho de um punho. Enquanto durava essa operação, o corte da nuca continuava aberto, e quando a bolsa de pele chegava a uma forma e tamanho desejados faziam a sutura da incisão da nuca, costuravam os olhos, passavam azeite nos cabelos e faziam um orifício na parte superior da cabeça por onde colocavam um cordão para suspendê-la ou pendurá-la. Muito curioso os fenômenos transformativos conservadores, não é mesmo?! Isso acontece porque a relação da vida após a morte é algo que sofre muita influência da cultura e da crença local e regional. Nossa cultura está sujeita a mudar e com isso mudam os costumes também, mas a história ficará preservada, assim como as múmias e os fenômenos transformativos conservadores! 238 AULA 6 - EXPERIMENTO PRÁTICO DE TANATOLOGIA FORENSE – PARTE 1 Nas últimas aulas aprendemos sobre o desenvolvimento dos insetos em um cadáver e como eles são fundamentais no estudo da Entomologia Forense. Para termos um conhecimento concreto acerca do tema, realizamos nesse módulo de tanatologia um experimento que acompanhou a decomposição de duas cabeças de suíno por aproximadamente 90 dias, realizando o registro fotográfico, relatando e relacionando as principais modificações desse cadáver. Os relatos técnicos e o material registrado através de vídeos e fotos servirãopara vermos na prática como acontece o surgimento dos insetos, larvas e suas diferenças, bem como o surgimento dos fenômenos transformativos. Espero que gostem do experimento, pois ele foi desenvolvido especialmente para aprimorar e desenvolver ainda mais o estudo de vocês! Na aula de hoje aprenderemos na prática sobre os processos físico químicos que ocorrem na disciplina de Tanatologia Forense. Experimento prático de tanatologia forense Esse estudo tem como objetivo analisar de maneira sistemática as fases da putrefação de um cadáver, usando como modelo animal carcaças de cabeças de suínos domésticos de nome científico sus scrofa Domésticus de aproximadamente 3 Kg cada. 239 As cabeças foram expostas em ambiente rural da região noroeste do Estado do Paraná, em um local próximo a uma represa chamada de Usina Mourão. Os porcos foram armazenados em armadilhas apropriadas, para evitar o ataque de bichos maiores que poderiam atrapalhar o experimento. Ambos os suínos foram abatidos conforme procedimento realizado em abatedouros especializados. As cabeças foram adquiridas em açougue e no início do experimento estavam frescas e aptas para consumo. Local do experimento Um dos experimentos ocorreu nas proximidades da represa, em uma distância de um metro da água e sem qualquer tipo de proteção contra o sol ou à chuva, simulando um achado de cadáver na beira da represa, em clima úmido e quente a maior parte do dia, com início de luz solar às 6 da manhã e ausência de luz solar às 18 horas. A segunda cabeça de porco foi deixada em um local de cultivo de folhosas como o eucalipto. A vegetação local, composta de plantas altas que impediam o sol fez com que o local simulasse uma cena de crime de achado de cadáver em mata fechada. 240 O clima do segundo local é frio a maior parte do dia e de incidência de sol praticamente nula, pois as árvores da região impedem que o sol chegue até o chão. O segundo local, portanto, não tem luz solar e mantém durante a maior parte do dia e noite uma temperatura média, sem picos de calor. Para que fique mais fácil a identificação das amostras durante o experimento chamaremos o experimento da cabeça de porco que foi deixado na margem do rio de CADÁVER 1 e o porco que foi deixado em meio aos eucaliptos iremos chamar de CADÁVER 2. Metodologia utilizada na pesquisa e experimento A identificação dos estágios de decomposição das carcaças de suínos foi feita através de observações pessoais juntamente com registros fotográficos diários, baseada em informações da literatura médico legal. Coleta de dados durante o experimento. A coleta de dados durante o experimento ocorreu da seguinte forma: • Na primeira semana foi monitorado diariamente, no período da manhã e no período da tarde as duas cabeças de porco. • Foram registrados dados como temperatura e também as espécies dos insetos que foram observados nos experimentos. • Na segunda semana em diante o acompanhamento e as visitas aos locais passaram a ocorrer em menor frequência, ocorrendo semanalmente. Início do experimento O experimento foi iniciado em 22 de julho de 2020 ao meio dia. A temperatura registrada no dia era de 27 graus célsius. As gaiolas foram montadas utilizando tela de alumínio e arame e amarradas com corda. 241 DIA 1 - 22 de julho de 2020 Assim que as gaiolas foram devidamente instaladas e o experimento iniciou já chegaram algumas moscas nos porcos e começaram a voar em volta. As moscas foram atraídas pelo cheiro da matéria sem vida, mas isso não está relacionado ao olfato da mosca. O que acontece é que a mosca não tem nariz como nós, que captamos o odor através de terminações nervosas do nariz que enviam uma mensagem para o cérebro que por sua vez assimila o cheiro. A mosca possui células sensoriais por todo o corpo, principalmente em suas antenas. É como se ela tivesse milhares de narizes espalhados por todo o seu pequeno corpo, o que faz com que ela consiga sentir o cheiro das coisas de uma distância muito maior do que nós humanos. 242 DIA 2 – 23 de julho de 2020 Realizamos a visita na parte da manhã. Eram 9 horas da manhã. A temperatura do dia estava em 26 graus célsius e o suíno estava úmido por conta do orvalho e do sereno da noite. Havia cerca de 2 a 3 moscas varejeiras voando em volta da carcaça. No porco de número 2, em mata fechada, foi possível observar a presença de diversas moscas pretas no porco, principalmente no focinho, que é o orifício mais úmido e frio do porco. Haviam aproximadamente 5 moscas pretas, chamada também de mosca cosmopolita ou doméstica, que é a mesma que vemos em lixeiras na cidade. Dia 23 de Julho de 2020, às 15 horas. Faziam 28 graus célsius e o porco de número 1, que no dia de ontem apresentava uma coloração branco-rosada comum ao suíno doméstico hoje já estava com a cor do couro rosa amarelado. Durante a verificação do experimento identificamos um inseto chamado de traça. Esse inseto se alimenta não só de amido presente em roupas, sapatos, livros e outros materiais sintéticos, mas também de ovos de moscas. Identificar esse inseto foi fundamental para afirmar que naquele dia se iniciou a contagem entomológica naquela carcaça. 243 Não foi possível sentir nenhum odor característico da putrefação, mas havia grande número de moscas verde metálicas e azul metálicas nas cavidades, principalmente orifícios do focinho e boca. Uma informação interessante sobre as moscas verde e azul metálicas, popularmente chamadas de varejeiras é que elas são mais comuns em áreas rurais, afastadas dos centros urbanos, como por exemplo o local em que a cabeça de suíno número um foi deixada. Já com relação ao suíno dois foi possível identificar um grande número de moscas domésticas, as moscas pretas ou cosmopolitas não só nas cavidades, mas também sobrevoando toda a carcaça, que já apresentava um odor desagradável, porém suportável. Com relação ao couro do porco, o mesmo apresentou uma cor amarelo rosada, mais próxima da cor natural do dia anterior. Provavelmente relacionada a não interferência do sol. No suíno número um a atividade solar cozinhou o couro do porco, enquanto que no suíno número dois não houve ação solar. 244 24 de julho de 2020 Nessa data foram realizadas duas visitas ao experimento. Na parte da manhã, por volta de 8 horas da manhã faziam 26 graus célsius no local em que estava o suíno O mesmo apresentava um aspecto de úmido, provavelmente por conta do sereno e da proximidade da água. Também não foi identificado nenhum tipo de inseto próximo ao suíno ou nas cavidades. Esse local do experimento do suíno número um atinge baixas temperaturas durante a noite, o que faz cessar toda a atividade entomológica durante a noite. A partir das 6 horas da manhã, conforme a luz solar surge, os insetos vão surgindo, atingindo o pico de atividade entomológica após o meio dia. No momento da visita ainda estava úmido e sem muitos insetos. Já no local em que foi deixado o suíno número dois a temperatura era de 22 graus célsius. Haviam muitas moscas, mas o suíno ainda apresentava o mesmo aspecto amarelo-rosado de quando o experimento iniciou. Foi possível verificar a presença de um grande número de moscas domésticas que voavam em volta da cabeça do suíno e na cavidade dos olhos foi possível constatar a presença de ovos demoscas. Já na parte da tarde o examinador retornou até o local e verificou que a cor do suíno estava amarelo pardacenta, como se tivesse sido cozida lentamente, provavelmente decorrente da ação do tempo que fez com que o suíno ficasse com um aspecto de defumado. 245 A textura do couro estava mais seca e firme. Não foi verificado nenhuma mosca varejeira, provavelmente pelo fato de que esse local do experimento é um local urbano, próximo de casas, e não uma área rural. O examinador entrou em plantão no dia seguinte. Motivo pelo qual não conseguiu realizar as visitas técnicas por uma semana aos suínos. Dia 1 de Agosto de 2020 Passaram 7 dias da última visita e o examinador teve uma surpresa que QUASE afetou o experimento: O porco número um foi parar acidentalmente dentro da água. Não se sabe se isso ocorreu pela ação de um animal que possa ter mexido na gaiola ou se algum ser humano teria jogado a gaiola na água por conta do mal cheiro, pois ali naquela região transitam alguns pescadores que podem ter visto o experimento. Não se sabe exatamente em que dia o suíno teria sido arremessado na água, mas pelo grau de maceração que ele foi encontrado a estimativa seria entre dia 30 e 31 de julho. A maceração, conforme estudamos, é o processo de transformação destrutiva em que ocorre o amolecimento dos tecidos e órgãos quando os mesmos ficam submersos em um meio líquido, como a água do rio em que o suíno ficou. Nos achados de cadáver em beira de rio, analisar todos esses fenômenos permite reproduzir a dinâmica dos fatos e entender como e quando a morte aconteceu. Por exemplo, a situação atual do suíno permite a equipe pericial afirmar que o suíno foi abatido há 3 dias, sendo que dois dias após o abatimento ele teria sido arremessado ao rio, vindo parar na margem daquela represa no momento em que foi encontrado. Essa diferenciação é fundamental para esclarecer problemas como se a pessoa foi morta antes de ir à água ou se morreu afogada. Mas voltando ao experimento, continuaremos realizando o acompanhamento desse suíno, mas agora foi escolhido um lugar não tão próximo do rio, mas ainda assim com a mesma temperatura e grau de umidade e de exposição solar. Nesse dia fazia 30 graus célsius as 9 horas da manhã. O cheiro estava realmente muito desagradável, característico de uma matéria que estava se decompondo dentro 246 da água. O aspecto do suíno era como se ele estivesse se soltando, como se o tecido estivesse realmente desmanchando e amolecendo. O suíno número dois estava totalmente diferente, apresentando uma cor marrom escura, com cheiro desagradável similar ao cheiro de bicho morto que sentimos as vezes em estradas e rodovias. Mas diferentemente do porco 1, ele estava duro, como se o couro tivesse virado uma espécie de casca. Já não havia mais globo ocular no suíno. As dípteras possuem o que a biologia chama de “boca atrofiada” e se alimenta somente de coisas pastosas e líquidas. Por conta do processo natural de decomposição, o globo ocular se liquefaz, sendo o primeiro tecido que serve de alimento para as moscas. Nesse caso, o suíno dois já não tinha globo ocular, e essa cavidade deu lugar a um verdadeiro depósito de ovos de moscas que pode ser visto em amarelo na parte inferior do olho, dentro das cavidades nasais ou focinhos e também na parte superior do focinho. 3 de agosto de 2020 Nesse dia foi realizada uma visita às 17 horas no local do experimento número um. A temperatura média do dia foi de 28 graus célsius e umidade relativa alta pois havia chovido bastante nos dias anteriores. 247 Como vimos na literatura médico legal, situações como a de chuva, frio e umidade atrasam os fenômenos cadavéricos, então poderemos ter um atraso no surgimento de larvas e moscas por conta das variações de temperatura. Ainda assim foi possível verificar no suíno número um a presença de larvas de primeiro ínstar, pequenas e recentes, principalmente dentro da cavidade oral do suíno e na cavidade ocular. Na visita ao suíno de número dois, relata-se que a carcaça do suíno apresentava cor marrom escuro, sendo que o focinho já estava enegrecido por conta da decomposição. O odor estava desagradável, porém suportável. A gordura presente na carcaça adquiriu uma coloração branca, parecida com um sabão. Nesse dia foi possível observar larvas de primeiro ínstar. Elas tinham aproximadamente 3 milímetros e pelo tamanho das larvas indicavam que haviam eclodido dos ovos entre 12 horas a um dia. 6 de agosto de 2020 No dia 6 de agosto de 2020 a visita ocorreu às 17 horas no local do experimento número um. A atividade solar diária já estava se encerrando e a temperatura média do dia foi de 33 graus célsius e umidade relativa baixa. A cabeça do suíno estava cheia de larvas nas cavidades e na parte de baixo da carcaça. 248 Vale mencionar que o suíno passou nesse momento a apresentar a característica de um fenômeno conservador transformativo raro, que é o aspecto de cera, que dá ao cadáver uma consistência untuosa, mole e quebradiça. Normalmente nos livros de Medicina Legal esse fenômeno surge após a primeira semana, o que coincidiu com a cronologia do nosso experimento. Além do fato de que a reação química de saponificação ocorre pela hidrólise de gorduras neutras que liberam ácidos graxos. Isso quer dizer que esse fenômeno transformativo é mais comum em pessoas com muito tecido adiposo, como os obesos. No caso, o nosso suíno realmente possui bastante gordura, o que reafirma a tese dos livros. Para o surgimento da saponificação ou adipocera não basta somente que seja um cadáver obeso ou com muito tecido adiposo, mas é necessário também que esse cadáver esteja em contato com um solo argiloso como o barro, pois essa reação química ocorre entre os minerais do barro e a gordura. O tamanho das larvas coincidiu com a cronologia do experimento, pois as larvas estavam no primeiro estágio de desenvolvimento. Foi possível verificar também joaninhas, caramujos e outros insetos que se alimentam de larvas de moscas que provavelmente foram atraídos para a carcaça do suíno em busca de alimento. Já no experimento número dois o odor começou a ficar insuportável. O porco já apresentava uma cor marrom escura, alguns ovos próximos aos olhos e da boca já haviam eclodido, mas o número de larvas não era tanto como no suíno de número um. Nesse estágio do experimento já foi possível concluir que a temperatura e a atividade solar é fundamental para o desenvolvimento da fauna entomológica e do surgimento dos fenômenos transformativos. O suíno de número um que teve muito mais exposição solar e calor apresentava naquele momento um número muito maior de larvas, moscas e outros insetos necrófagos. 249 AULA 7 - EXPERIMENTO PRÁTICO DE TANATOLOGIA FORENSE – PARTE 2 Na aula de hoje daremos continuidade ao experimento prático de Tanatologia Forense. Dia 6 de Outubro de 2020 Se passaram 30 dias desde a última visita que ocorreu no dia 7 de setembro e fazem exatamente 75 dias que o experimento iniciou. Na data desse relato de 6 de outubro, às 17 horas faziam 32 graus célsius e o examinador decidiu que este seria o último dia do experimento. A carcaça do suíno já estava enrijecida e desidratada e a atividade entomológica já havia cessado a um bom tempo. As fibras musculares da face e o colágeno do couro do suíno já haviam desnaturado e virado uma espécie de casca, preservando a fisionomia e os traços e protuberâncias do focinho e boca. Por conta da sucessão de fatores que influenciaram o experimentonão foi possível acompanhar até o fim o desenvolvimento da fauna entomológica dessa carcaça, no entanto pudemos ver na prática o processo de saponificação que age conservando o cadáver, quase como uma mumificação, mas de forma natural. A explicação química para isso é que o solo argiloso da região onde o experimento aconteceu é rico em elementos como o hidróxido de magnésio e o potássio. Esses elementos são o que chamamos na química de BASES. Quando as bases entram em contato com um outro elemento chamado de triglicerídeo, que fica no nosso corpo em forma de reserva energética, ocorre uma reação chamada de saponificação. A saponificação é um fenômeno conservador muito raro, pois exige condições específicas, como a que tivemos no experimento, para que aconteça. Normalmente é mais comum em cadáveres obesos e que tenham ficado em contato total com a terra vermelha e na exposição ao sol. 250 O primeiro relato trazido pela Medicina Legal sobre um cadáver saponificado ocorreu no século dezenove na Filadélfia. Se trata do cadáver de um homem e de uma mulher que viraram múmias. Isso ocorreu devido à água que se infiltrou em seus caixões, transformando a gordura em adipocera. No caso da mulher, os pesquisadores acreditavam que ela havia falecido durante uma epidemia de febre amarela que atingiu a região em 1792, e que ela tinha por volta de 40 anos quando morreu. Mas exames de raio X e estudos da antropologia forense realizados na década de 80 revelaram que a mulher provavelmente era mais jovem, com cerca de vinte anos, e ela usava peças de roupa que só começaram a ser fabricadas após o ano de 1830, indicando que o sepultamento ocorreu décadas depois do que se pensava. Atualmente, a “mulher de sabão”, como é conhecida, faz parte da coleção do Museu Mutter de Filadélfia. 251 Já no caso do cadáver masculino as análises realizadas no corpo revelaram que ele provavelmente morreu entre os anos de 1800 e 1810, com cerca de 40 anos de idade. E, assim como a mulher de sabão, a múmia do homem se encontra em exposição no Museu Nacional de História Natural de Washington. Veja a seguir a imagem da múmia de sabão. Acerca do nosso experimento prático, algumas considerações são importantes: Primeiramente devemos considerar que a cabeça do suíno representou de forma fictícia um tecido em decomposição, mas não podemos ignorar o fato de que a decomposição se inicia de dentro pra fora. Isso quer dizer que as primeiras manifestações da morte e os principais fenômenos abióticos ocorrem da reação do sangue e da fermentação das bactérias que vivem no intestino. No caso do experimento realizado, a carcaça do suíno já havia sido abatida a algum tempo, não possuía tronco e abdômen e, portanto, não tinha intestino e tampouco havia sangue na circulação sanguínea para se tornar sulfato hemoglobina. Ainda assim foi possível comparar o desenvolvimento entomológico no suíno com o que é afirmado nos livros de Medicina Legal e Biologia. Concluímos também que apesar dos locais dos experimentos serem próximos um do outro, as diferenças foram muito grandes, desde a espécie de insetos analisados, que no suíno um vimos ser predominante colonizado por varejeiras, que são moscas características de áreas rurais. Já no suíno dois foi observada várias moscas domésticas, provavelmente pela proximidade do local do experimento e da zona residencial. O calor e a presença do sol no experimento um também foi fundamental para fazer com que aquele suíno tivesse uma decomposição e uma transformação cadavérica muito mais acentuada. Concluímos então que o sol age como um catalisador, aumentando a atividade das bactérias. http://newsdesk.si.edu/snapshot/soapman http://newsdesk.si.edu/snapshot/soapman 252 AULA 8 - REVISÃO DO CONTEÚDO O último tópico que estudamos no nosso módulo de tanatologia foi a Entomologia Forense, que é a área do conhecimento que combina os conhecimentos da biologia e a medicina legal. A Entomologia Médico-Legal utiliza os insetos para compor uma prova ou comprovar uma tese investigativa, especialmente no que diz respeito à determinação do tempo de morte. Essa ciência aborda elementos que abrangem a morte de humanos como os processos de decomposição dos cadáveres, a busca de evidências a serem utilizadas durante o julgamento de suspeitos e o esclarecimento de dúvidas. Mas essa ciência tornou-se mundialmente conhecida apenas após 1894, com a publicação na França do livro chamado A Fauna dos Cadáveres do autor Mégnin, que fundamentou a descrição dos insetos e relatos de casos reais estudados por ele e seus colaboradores. Aprendemos sobre a fauna entomológica cadavérica, que são os insetos que se alimentam da carcaça e de insetos que ficam na carcaça. Através desses insetos conseguimos afirmar se aquele cadáver foi movido de lugar, a causa mortis daquele indivíduo, se houve alguma intoxicação por substância e o tempo da morte, medido através do Intervalo Pós Morte ou IPM. As DIPTERAS são os insetos de maior interesse na área, provavelmente pela diversidade deste grupo em regiões tropicais e principalmente pela atratividade que a matéria orgânica em decomposição exerce sobre esses insetos, influenciando no desenvolvimento, comportamento e dinâmica populacional das variadas espécies em nichos ecologicamente distintos. O segundo grupo de insetos de maior interesse forense no Brasil são os besouros da ordem Coleóptera, frequentemente encontrados em carcaças, tanto na fase adulta de desenvolvimento, quanto na fase larval. Esses dois grupos de insetos são chamados de necrófagos, pois se alimentam da matéria em decomposição. Há também os omnívoros, que são insetos com uma dieta alimentar ampla pois se alimentam tanto dos corpos em decomposição quanto da fauna associada. São formigas, vespas e alguns besouros. 253 Existe também o grupo dos insetos predadores que utilizam a entomofauna cadavérica para retirar os meios para o seu próprio desenvolvimento e se alimentam dos insetos necrófagos, principalmente das larvas das moscas. Podemos citar nesse grupo a tesourinha. E o quarto grupo, os insetos acidentais, que são aqueles que se encontram ao acaso no cadáver, relacionados principalmente a área ecológica em que o cadáver estava ou foi encontrado. É comum ver aranhas, centopeias, ácaros e outros artrópodes nesse grupo. A questão mais importante dentro da Entomologia Forense é o IPM. Através desse cálculo o legista poderá estimar a hora do óbito. Essa estimativa é feita observando as fases do inseto. A mosca díptera, por exemplo, passa por três fases de desenvolvimento até se tornar uma mosca adulta. As fases são: o ovo, a larva e a pupa. Um ovo demora 24 horas para eclodir. Desse ovo nascerá uma larva. A duração do desenvolvimento do período larval é encontrada através da medição do tamanho das larvas. A mosca possui três estágios larvais, chamados de primeiro, segundo e terceiro ínstar. Cada estágio larval demora 24 horas. Isso quer dizer que depois de vinte quatro horas que aquela larva nasceu do ovo, ela já estará se preparando para o segundo ínstar. E após vinte quatro horas ela passará do segundo para o terceiro ínstar. No terceiro ínstar a larva precisa se alimentar para adquirir energia suficiente para a terceira fase da sua metamorfose, que é chamada de pupa. Para isso a larva do terceiro ínstar fica 72 horas se alimentando do substrato. Após esse período ela procurará um lugar adequado e seguro para se transformar em uma pupa. A pupaé uma espécie de casulo em que ela permanecerá por 5 a 10 dias até virar uma mosca. 254 TRAUMATOLOGIA FORENSE AULA 1 - INTRODUÇÃO À TRAUMATOLOGIA FORENSE No módulo de Traumatologia Forense iremos aprender sobre as lesões, os traumas bem como todos os objetos e instrumentos que possam ser utilizados para ofender a integridade física de outrem ou de si mesmo. Olá aluno. Fico feliz que esteja aprendendo sobre o universo da ciência criminal. Iremos iniciar hoje nossa primeira aula do módulo de Traumatologia Forense, a disciplina responsável por estudar as lesões, os acidentes e os instrumentos e os meios que causam essa violência. Na aula de hoje iremos aprender sobre a função da traumatologia e a sua aplicação prática na medicina legal. A traumatologia é a ciência que investiga as modalidades de energia que causam danos ao corpo humano. Por exemplo: Quando escutamos uma notícia que diz que determinada pessoa foi alvejada por um disparo de arma de fogo, podemos dizer que, através do ponto de vista da traumatologia forense, essa pessoa sofreu uma lesão causada por uma energia de ordem mecânica. Inicialmente iremos aprender quais são as energias estudadas pela traumatologia e suas respectivas ordens. Essas energias dividem-se em seis espécies de ordens. A primeira que iremos aprender é a energia de ordem mecânica. 255 Energias de ordem mecânica Os meios mecânicos causadores do dano vão desde as armas propriamente ditas, como os punhais, revólveres, as armas eventuais, como uma faca, uma navalha, uma foice, um facão ou um machado e as armas naturais como os próprios punhos, os pés e até mesmo os dentes. Não podemos esquecer dos mais diversos meios imagináveis, como as máquinas, os animais, os veículos, as quedas, as explosões e as precipitações. As lesões produzidas por ação mecânica no ser humano podem ter suas repercussões externa ou internamente. Podem ter como resultado o impacto de um objeto em movimento contra o corpo humano parado, que iremos chamar de meio ativo, como um atropelamento de uma pessoa parada ou sentada. Ou o instrumento encontrar-se imóvel e o corpo humano em movimento, que chamaremos de meio passivo como é o caso da violência cometida contra uma pessoa que é empurrada contra um móvel. Ou os dois se acharem em movimento, indo um contra o outro, em uma ação mista, como no caso de alguém que é fortemente empurrado contra um veículo em movimento. Esses meios de ordem mecânica atuam por pressão, percussão, tração, torção, compressão, descompressão, explosão, deslizamento e contrachoque. Analisando as características que imprimem às lesões, os meios mecânicos classificam-se em: • Perfurantes • Cortantes • Contundentes • Perfurocortantes • Perfuro contundentes • corto contundentes. 256 E, por sua vez, produzem, respectivamente, feridas puntiformes, cortantes, contusas, perfurocortantes, perfuro contusas e corto contusas. Falaremos agora sobre as lesões produzidas por ação perfurante. As lesões causadas por meios ou instrumentos perfurantes, de aspecto pontiagudo, alongado e fino, e de diâmetro transverso reduzido, têm características bem próprias. Os principais objetos utilizados para causar esse tipo de lesão estão: O estilete, a agulha e o furador de gelo, os quais quase sempre atuam por pressão, afastando as fibras do tecido e lesionam o corpo, podendo muitas vezes levar a óbito, caso penetrem algum órgão vital. As lesões causadas por estes objetos são chamadas de feridas puntiformes ou punctórias, pela sua característica de forma de ponto. 257 Os ferimentos possuem uma abertura estreita e raramente sangram. O trajeto dessas feridas é representado por um túnel estreito que continua pelo tecido lesado. Analisando o trajeto do golpe, os instrumentos perfurantes podem produzir ferimentos que penetrem e terminem em uma cavidade, ou podem transfixar um segmento, causando então dois orifícios: um de entrada e outro de saída, além de um trajeto. O orifício de entrada, como já se disse, tem formato de ponto, de reduzidas dimensões e pouco sangrante. O orifício de saída, quando existe, é muito parecido com o de entrada, apresentando, no entanto, suas bordas discretamente invertidas. A profundidade do trajeto do golpe dependerá do tamanho do instrumento utilizado e da força aplicada no golpe. A gravidade desses ferimentos dos órgãos e estruturas atingidos ou do surgimento de eventuais infecções causadas pela lesão. Sua causa jurídica é, na maioria das vezes, homicida, mas pode ocorrer também de forma acidental ou suicida. 258 Lesões produzidas por ação cortante Os meios ou instrumentos de ação cortante agem através de um gume mais ou menos afiado, por um mecanismo de deslizamento sobre os tecidos e, na maioria das vezes, em sentido linear. A navalha, a lâmina de barbear e o bisturi são exemplos de instrumentos cortantes. As feridas cortantes têm suas extremidades mais superficiais e a parte mediana mais profunda, nem sempre se apresentando de forma regular. Tem como característica principal a chamada “cauda de escoriação”. Essas feridas se caracterizam pelas seguintes características: • Forma linear • Regularidade das bordas • Regularidade do fundo da lesão 259 • Ausência de vestígios traumáticos em torno da ferida • Hemorragia quase sempre abundante • Predominância do comprimento sobre a profundidade • Afastamento das bordas da ferida • Presença de cauda de escoriação voltada para o lado onde terminou a ação do instrumento • Vertentes cortadas obliquamente • Centro da ferida mais profundo que as extremidades e • Paredes da ferida lisas e regulares A regularidade das bordas das feridas cortantes deve-se ao gume mais ou menos afiado do instrumento usado. Os ferimentos geralmente são retilíneos devido à ação de deslizamento, embora às vezes possam ser curvos ou irregulares devido a rugas transitórias ou permanentes na área afetada. No entanto, esses desvios não produzem irregularidades nas bordas da ferida. 260 Nessas lesões não se observam escoriações, equimoses ou infiltração hemorrágica nas bordas ou em volta daquela ferida. Quando o golpe ocasionar uma secção dos vasos, poderá ocorrer uma hemorragia vultosa. Outro fato explicativo desse fenômeno é a maior retração dos tecidos superficiais, deixando o sangramento se processar livremente. Quanto mais afiado for o gume do instrumento utilizado, a profundidade da lesão e a maior riqueza vascular da região atingida, mais abundante será a hemorragia. Nesse tipo de lesão há uma predominância do comprimento sobre a profundidade das feridas. Isso ocorre por conta da ação deslizante do instrumento e pelo movimento em arco exercido pelo braço do agente e ao abaulamento das regiões ou segmentos do corpo. O instrumento cortante, agindo por deslizamento e seguindo uma direção em semicurva condicionada pelo braço do agressor ou pela curvatura da região atingida deixa no final do ferimento uma cauda de escoriação. É difícil um tipo de instrumento cortante capaz de alcançar órgãos cavitários ou vitais, exceção feita ao pescoço, onde a morte pode sobrevir pela síndrome de “esgorjamento”. 261 O esgorjamentoé uma lesão produzida pelo corte das partes moles da região anterior do pescoço, sem que se desmembre a cabeça do tronco. Definição de arma branca Tudo o que for utilizado no universo criminal para ferir e lesionar e que não se enquadra como uma arma de fogo receberá o nome de “ARMA BRANCA”. As armas brancas são assim chamadas pela brancura e pelo brilho de suas lâminas. As armas brancas são caracterizadas pela agressividade de seu gume afiado ou de sua extremidade pontiaguda ou de ambos de uma vez só, e pelo uso dependente do manejo da ação humana. A finalidade, das armas brancas são diversas. Algumas são desenvolvidas e colocadas em circulação para o próprio ataque ou a defesa, enquanto que alguns instrumentos assim considerados também são destinados a outros fins como trabalhos artesanal, culinário ou doméstico. É importante compreender que as armas brancas não necessariamente são compostas por lâminas, como os cacetetes, nunchakus, dentre outros. 262 Lesões de defesa por arma branca Outro tema de grande importância na hora de analisar a característica das lesões provocadas por arma branca é verificar a existência das clássicas lesões de defesa, que são comuns em mãos, braços e até mesmo nos pés. Dentro do estudo das lesões produzidas por ação cortante, existe uma espécie de lesão chamada de esquartejamento, que é o desmembramento do corpo nas articulações, quase sempre como forma de o autor livrar-se criminosamente do cadáver ou impedir sua identificação. Uma outra lesão por arma branca é a decapitação, que se trata da separação da cabeça do corpo e pode ser oriunda de outras formas de ação além da cortante. Pode ser acidental ou homicida e, mais raramente, suicida. As decapitações depois da morte ocorrem com frequência, e o objetivo dos criminosos nesses casos é prejudicar a identificação da vítima ou ocultar o cadáver. 263 Nesse contexto é importante também falar sobre uma lesão conhecida por esgorjamento e que se caracteriza por uma longa ferida transversal do pescoço, de significativa profundidade, que pode lesionar não só o plano cutâneo, mas também tecidos vasculares, nervosos, musculares, e também órgãos internos como esôfago, laringe e traqueia. Essa lesão pode ser homicida ou suicida. Nos casos de suicídio, quando o indivíduo é destro, o ferimento ocorre normalmente da esquerda para a direita, sua localização é mais anterolateral esquerda e termina ligeiramente voltada para baixo. Sua profundidade é maior no início da lesão, pois no final da ação a vítima começa a perder as forças. As lesões da laringe e da traqueia no suicídio são menos graves. Nesses casos pode ocorrer também marcas no pescoço por conta de tentativas frustradas, principalmente quando elas são paralelas e próximas umas das outras. Na maioria das vezes, a mão da vítima que segura a arma está suja de sangue. A morte, nesses casos, ocorre pela hemorragia, causada pela secção dos vasos do pescoço ou por asfixia, decorrente da secção da traqueia e aspiração do sangue, causando uma embolia gasosa. Existem achados médico legais que permitem diferenciar o esgorjamento suicida e o homicida. Nos casos do esgorjamento homicida, normalmente o autor se coloca por trás da vítima, provocando ferimento da esquerda para a direita, em sentido horizontal, uniforme, terminando com a mesma profundidade do seu início, mas um pouco voltado para cima, atingindo algumas vezes a coluna vertebral, onde é comum ficar a marca do instrumento usado. Instrumentos de ação contundente e suas características Iremos estudar agora sobre as lesões produzidas através de uma ação contundente. Entre os agentes mecânicos, os instrumentos contundentes são os maiores causadores de dano. Normalmente esse tipo de lesão é produzida por um objeto que possui uma superfície, e suas lesões mais comuns se verificam externamente, embora possam repercutir na profundidade também, atingindo órgãos e até mesmo causando fraturas. 264 A contusão pode ser ativa, passiva ou mista, de conformidade com o estado de repouso ou de movimento do corpo ou do meio contundente. É ativa a contusão quando apenas o meio ou o instrumento se desloca. É passiva quando só o corpo humano está em movimento. As contusões mistas também são chamadas de biconvergentes ou biativas. O resultado da ação desses meios ou instrumentos é conhecido geralmente por contusão. Lesões causadas por instrumento contundente As lesões produzidas por essa forma de energia mecânica sofrem uma incrível variação. A seguir veremos cada lesão contundente: Rubefação Não chega a ser uma lesão por não apresentar significativas e permanentes modificações de ordem estrutural. A rubefação caracteriza-se pela congestão repentina e momentânea de uma região do corpo, atingida pelo traumatismo, evidenciada por uma mancha avermelhada, efêmera e fugaz, que desaparece em alguns minutos, daí sua necessidade de averiguação exigir brevidade. A bofetada na face ou nas nádegas de uma criança, onde muitas vezes ficam impressos os dedos do agressor é um exemplo de rubefação. A rubefação é a menos severa das lesões produzidas por ação contundente. Equimose São lesões representadas por infiltração hemorrágica nas malhas dos tecidos. Para que ela se verifique, é necessária a presença de um plano mais resistente abaixo da região traumatizada e de ruptura capilar, permitindo, assim, o extravasamento sanguíneo. Em geral, são superficiais, mas podem surgir nas massas musculares, nas vísceras e no periósteo. 265 Alguns pesquisadores da Medicina Legal dizem que a equimose é uma prova irrefutável de reação vital. Quando se apresenta em forma de pequenos grãos, recebe o nome de sugilação e, quando em forma de estrias chama-se víbices, ou petéquias. São quase sempre agrupadas e caracterizadas por um pontilhado hemorrágico. As equimoses nem sempre surgem de imediato ou nos locais de traumatismo. Por exemplo, nos traumatismos cranioencefálicos mais graves, surgirem tardiamente equimoses palpebrais, subconjuntivas, mastóideas, faríngeas e, com menos frequência, cervicais. A forma das equimoses significa muito para o exame de necropsia. Às vezes o corpo fica com a marca dos objetos que lhe deram origem, como os dedos de uma mão, anéis e até mesmo a marca de pneus de um automóvel, nos casos de atropelamento, podem ser reproduzidas como equimoses no cadáver. A tonalidade da equimose é algo muito importante, pois através daí é possível concluir quanto tempo faz que o indivíduo sofreu aquela violência. Chamamos de espectro equimótico de legrãn du sule. No início ela possui a coloração vermelho-arroxeada. Depois, com o passar do tempo, ela se apresenta vermelho- escura, violácea, azulada, esverdeada e, finalmente, amarelada, desaparecendo, em média, entre 15 e 20 dias. Simonin, um cientista médico legal foi o primeiro a estudar sobre as equimoses, e sua maior colaboração para a perícia criminal se traduz na frase: “uma equimose nitidamente caracterizada por sangue coagulado prova que a lesão se deu em vida”. Isso quer dizer que as equimoses são sempre vitais, isto é, não se produzem no cadáver”. No morto, por não haver circulação sanguínea ativa, o máximo que se pode ter é a tonalidade mantida da equimose do vivo até surgirem os fenômenos putrefativos que lhe modificam suas peculiaridades. Mas nunca acontecerá o surgimento de uma equimose após a morte. Por essa razão que a equimose é de extrema importância nos nossos estudos de medicina legal. • Hematoma. 266 Quando acontece o extravasamento de um vaso sanguíneo e esse sanguefica entre as malhas dos tecidos moles estamos diante de um hematoma. Pode também ser profundo e encontrado nas cavidades ou dentro dos órgãos, e, por isso, é chamado de hematoma intra parenquimatoso. • Bossa sanguínea. A bossa sanguínea diferencia-se do hematoma por apresentar-se sempre sobre um plano ósseo e pela sua saliência bem pronunciada na superfície cutânea. É muito comum nos traumatismos do couro cabeludo e é vulgarmente conhecida por “galo. 267 AULA 2 - ESPÉCIES DE LESÕES Na aula anterior iniciamos os estudos do módulo de traumatologia forense e aprendemos a distinguir lesões causadas por instrumentos perfurantes e contundentes. Aprendemos também as características dos objetos que produzem essas lesões. Na aula de hoje iremos aprender sobre os objetos mistos, que são aqueles que podem produzir lesões com várias características que variam conforme o objeto é utilizado para lesionar. Existem objetos que combinam características, sendo ora cortante e ora perfurante ou contundente, como um facão por exemplo, por isso é muito importante analisar não só o objeto, mas também a característica da lesão. Por exemplo, uma faca de cortar carne pode ser utilizada como instrumento perfurante, cortante ou perfurocortante. Ao apoiar uma faca como essa sobre um pedaço de carne, a mesma agirá cortando através do deslizamento do seu fio sobre o tecido. Nesse momento o instrumento está sendo usado como um objeto cortante. Caso esse mesmo objeto seja utilizado para golpear, por exemplo, como o presidente do Brasil foi golpeado, ele irá provocar uma lesão perfurocortante. Isso acontece porque a parte da ponta da faca ao entrar em contato com a pele irá inicialmente perfurar. Em seguida, irá agir por deslizamento, cortando. Por isso o nome perfurocortante. As lesões perfurocortantes são provocadas por instrumentos de ponta e gume, atuando por um mecanismo misto: penetram perfurando com a ponta e cortam com a borda afiada os planos superficiais e profundos do corpo da vítima. Esse mecanismo age por pressão e por secção. Dentre os instrumentos perfurocortantes há os de um só gume como a faca- peixeira, o canivete, e a espada. 268 Há também os perfuro cortantes de dois gumes, como o punhal, a faca “vazada” e também há os de três gumes ou triangulares, como a lima. Os ferimentos causados por arma de dois gumes produzem uma fenda de bordas iguais e ângulos agudos. A perícia, ao analisar as lesões deve também levar em conta a identificação da arma usada, a gravidade dos ferimentos, o tempo da lesão, se esta foi produzida em vida ou depois da morte, sua causa jurídica, a posição da vítima e do agressor, a ordem das lesões e o número de agressores. 269 No diagnóstico da arma usada, devem-se levar em consideração as dimensões, a forma e a profundidade do ferimento. A perícia criminal, nesse momento, deve sempre estar atenta ao fato que o tamanho das lesões, devido à elasticidade da pele, pode ser inferior, igual ou superior ao diâmetro da arma, não obedecendo necessariamente a regra de que o ferimento será do tamanho da lâmina. Os ferimentos penetrantes do abdome, por exemplo, podem ter um trajeto maior ou menor que o comprimento do objeto, e isto é explicado por circunstâncias como a movimentação aflita da vítima em uma luta corporal e pela posição da vítima durante o golpe. As feridas penetrantes são geralmente graves, não apenas pela infecção causada no interior do organismo, como também pelas lesões sofridas pelos órgãos de maior importância. As lesões mais graves e que exigem tratamento cirúrgico imediato são os golpes penetrantes da cavidade peritoneal. A mais comum das causas jurídicas dessas lesões é o homicídio, enquanto o suicídio e o acidente são mais raros. Uma forma de descaracterizar um suicídio é observar fatores como o número e o local dos ferimentos, outros sinais de violência, mais de dois ferimentos mortais, a variedade das feridas e o local da morte. É extremamente importante observar a presença de lesões de defesa na vítima. Elas podem ser encontradas na palma da mão, nas bordas mediais dos antebraços, no ombro, no dorso e até nos pés e simbolizam o homicídio como esforço da vítima na tentativa angustiante e desesperada de salvar a vida, expondo aquelas partes do corpo como escudo. 270 Iremos agora estudar sobre as lesões mistas de natureza perfuro contundente. As feridas perfuro contusas são produzidas por um mecanismo de ação que perfura e contunde ao mesmo tempo. Na maioria das vezes, esses instrumentos são mais perfurantes que contundentes. Esses ferimentos são produzidos quase sempre por projéteis de arma de fogo; no entanto, podem também ser produzidos por objetos que tenham essa característica, como a ponta de um guarda-chuva, por exemplo. De todas as formas, a maior parte das lesões dessa natureza são produzidas por projéteis de arma de fogo, que será o principal objeto do nosso estudo a partir de agora! Veremos agora sobre o universo da Balística Forense, iniciando pelo conceito de arma de fogo: Arma de fogo é uma peça constituída de um ou dois canos, abertos em uma das extremidades e parcialmente fechados na parte de trás, por onde se coloca o projétil. Lesões por disparo de arma de fogo No momento de estudar e laudar as lesões produzidas por projéteis de arma de fogo devem-se considerar o ferimento de entrada, o ferimento de saída e o trajeto do tiro dentro do corpo. 271 Aprenderemos a seguir como reconhecer um ferimento compatível com a ENTRADA do projétil de arma de fogo. Ferimento de entrada de projétil de arma de fogo Eles podem ser resultantes de um tiro encostado, a curta distância ou a distância. Ferimentos de entrada nos tiros a curta distância Estes ferimentos possuem como característica: Borda arredondada ou elíptica Orla de escoriação, que representa a primeira extremidade da região da pele que o tiro atingiu. Essa pele queimada forma a orla de escoriação, que serve para indicar a direção que veio o projétil. 272 Caso o projétil penetre frontalmente o tecido, é possível que não haja orla de escoriação, ou que a orla de escoriação seja muito pequena. Outro indicador de ferimento de entrada de disparo de arma de fogo é a zona de queimadura, que acompanha a circunferência do ferimento e é a queimadura que o projétil quente imprime na pele quando faz o primeiro contato, em um milésimo de segundo. Um importante indicador do disparo a curta distância, também chamado de queima-roupa é a zona de esfumaçamento, ou zona de tatuagem. 273 A zona de tatuagem é o nome da lesão decorrente da ação dos resíduos de combustão da pólvora quente que sai do cano da arma e queima a pele. Essa pólvora quente forma pequenos pontos enegrecidos na pele, próximo do ferimento de entrada. Analisando essas marcas de tatuagem a perícia pode determinar a distância exata do tiro. 274 Ferimentos de entrada nos tiros a distância. Os ferimentos de entrada de bala, nos tiros a distância, têm as seguintes características: Diâmetro menor que o do projétil e uma forma arredondada