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Insuficiência cardíaca: fisiopatologia e diagnóstico DEFINIÇÕES A insuficiência cardíaca (IC) é uma via final comum para a maioria das doenças cardiovasculares crônicas, incluindo hipertensão, doença arterial coronariana e doença valvar. A IC é definida como uma síndrome clínica complexa que resulta de qualquer comprometimento estrutural ou funcional do enchimento ou da ejeção ventricular levando a manifestações importantes de dispneia, fadiga e retenção de líquidos. Em termos fisiopatológicos, a IC foi definida como uma síndrome caracterizada por pressão de enchimento cardíaco elevada e/ou fornecimento inadequado de oxigênio periférico, em repouso ou durante o esforço, causada por disfunção cardíaca. A insuficiência cardíaca crônica descreve pacientes com sintomas e/ou sinais de IC de longa duração. A insuficiência cardíaca aguda, anteriormente chamada de IC aguda descompensada, refere-se ao início rápido ou agravamento de sintomas de IC. A maioria dos episódios de IC aguda resulta de agravamento de IC crônica. Do mesmo modo, o edema pulmonar agudo na IC descreve um cenário clínico no qual um paciente apresenta sinais e sintomas de congestão pulmonar de evolução rápida, geralmente causado por elevação acentuada da pressão de enchimento ventricular esquerda. EPIDEMIOLOGIA Incidência e prevalência global: A IC é uma causa importante de morbidade e mortalidade em todo o mundo. Estima-se que 6,2 milhões de adultos norte-americanos estejam sendo tratados para IC, com > 600 mil novos casos diagnosticados a cada ano. A prevalência de IC aumenta substancialmente com a idade, ocorrendo em 1 a 2% da população com idade entre 40 e 59 anos e em até 12% dos adultos com > 80 anos de idade. As projeções mostram que a prevalência de IC nos Estados Unidos irá aumentar em 46% de 2012 até 2030. Enquanto a prevalência de IC continua a se elevar, a incidência pode estar diminuindo devido a um melhor reconhecimento e tratamento da doença cardiovascular e suas morbidades, bem como a prevenção de doenças. Contudo, à medida que as taxas de obesidade se elevam em todo o mundo, essas tendências favoráveis na incidência de IC podem ser revertidas. Em estudos feitos na comunidade, os negros têm o maior risco de desenvolver IC, seguidos por hispânicos, brancos e chineses americanos. Essas diferenças são atribuídas a disparidades nos fatores de risco (p. ex., obesidade, hipertensão, diabetes), condição socioeconômica e acesso aos serviços de saúde. As taxas de hospitalização por IC ajustadas para a idade são mais elevadas em homens negros, seguidos por mulheres negras, homens brancos e mulheres brancas. FIGURA: Incidência de insuficiência cardíaca. Taxas de primeiro evento anual de insuficiência cardíaca aguda por 1.000 habitantes do estudo Atherosclerosis Risk in Communities (ARIC) distribuídas por sexo e raça nos Estados Unidos de 2005 a 2014. Morbidade e mortalidade Em cuidados primários, a sobrevida global em 5 anos após o diagnóstico de IC é de cerca de 50%. Em pacientes com IC grave, a mortalidade em 1 ano pode ser de até 40%. Nos EUA, 1 em cada 8 mortes tem insuficiência cardíaca no atestado. A maioria desses casos está ligada a causas Insuficiência cardíaca: fisiopatologia e diagnóstico cardiovasculares, como insuficiência cardíaca progressiva ou morte súbita cardíaca, com vários parâmetros clínicos e laboratoriais como preditores independentes de mortalidade. Após o diagnóstico de insuficiência cardíaca (IC), hospitalizações são frequentes, com 83% dos pacientes internados pelo menos uma vez. As taxas de mortalidade variam de 8 a 14% em 30 dias a 75% em 5 anos após a admissão por IC, e reinternações são comuns, chegando a quase 50% em 6 meses. Há disparidades raciais, sendo que os negros apresentam taxas de fatalidade mais altas. Apesar dessas estatísticas, o prognóstico geral para pacientes com IC está melhorando devido ao tratamento de fatores de risco e ao aumento do uso de terapias baseadas em diretrizes. Custos: O custo global do tratamento da IC é alto (estima-se que tenha sido de 30,7 bilhões de dólares nos Estados Unidos em 2012), e continua a elevar-se. As projeções para 2030 são de que os custos de hospitalização por IC nos Estados Unidos irão subir para 70 bilhões de dólares. Os custos indiretos por perda de trabalho e de produtividade podem ser iguais ou maiores que esse valor. O ônus econômico global da IC em 2012 foi estimado em 108 bilhões de dólares, com os custos diretos respondendo por 60%. Em pacientes pediátricos com IC aguda, os custos com os pacientes internados são estimados em quase 1 bilhão de dólares anualmente, e continua a elevar-se. FENÓTIPOS E CAUSAS IC com fração de ejeção reduzida comparada com fração de ejeção preservada: Estudos epidemiológicos mostraram que aproximadamente metade dos pacientes que desenvolvem IC tem fração de ejeção do ventrículo esquerdo (VE) (FEVE) reduzida (≤ 40%), enquanto a outra metade tem FE quase normal ou preservada (≥ 50%). Alguns pacientes com IC tem anormalidades tanto na função sistólica quanto na diastólica. Classificar os pacientes com base na FE (IC com FE reduzida [ICFER] versus IC com FE preservada [ICFEP]) é importante devido a diferenças na demografia, comorbidades e resposta à terapia As causas subjacentes de IC podem estar associadas à FE reduzida ou preservada e incluem distúrbios das artérias coronárias, do miocárdio, do pericárdio, das valvas cardíacas e dos grandes vasos IC com FE recuperada Um subgrupo de pacientes com diagnóstico de ICFER e tratado com terapia orientada por diretriz tem melhora rápida ou gradual na FE para uma faixa normal e é classificado como tendo IC com FE recuperada (ICFErec). Os preditores da ICFErec incluem idade jovem, menor duração da IC, etiologia não isquêmica, menores volumes ventriculares e ausência de fibrose miocárdica. A despeito da recuperação da FE, os pacientes podem permanecer sintomáticos devido a anormalidades persistentes na função diastólica ou hipertensão pulmonar induzida por exercício. Em pacientes que se tornam assintomáticos, a retirada da terapia pode levar à recorrência dos sintomas de IC e redução na FE. Em geral, o prognóstico de pacientes com ICFErec é superior ao de pacientes com ICFER ou ICFEP. Insuficiência cardíaca com FE levemente reduzida (ICFElr) Pacientes com IC e uma FE entre 40 e 50% representam um grupo intermediário que frequentemente é tratado para Insuficiência cardíaca: fisiopatologia e diagnóstico fatores de risco e comorbidades e com terapia clínica orientada por diretriz, similar aos pacientes com ICFER. Eles parecem ter primariamente disfunção sistólica leve, mas com características de disfunção diastólica. Distúrbios adquirido versus familiar, congênitos e outros Em países desenvolvidos, a doença arterial coronariana é responsável por cerca de dois terços dos casos de IC, com a hipertensão como principal contribuinte em até 75% dos casos e o diabetes melito em 10 a 40%. Mais de 1,4 milhão de adultos nos EUA têm cardiopatia congênita (CPC), superando o número de casos em crianças. Adultos com CPC e insuficiência cardíaca (IC) enfrentam desafios específicos em três categorias fisiopatológicas: defeitos não corrigidos, defeitos corrigidos com complicações tardias ou fisiologia do ventrículo único insuficiente. Cada caso apresenta desafios únicos anatômicos e fisiológicos que influenciam o manejo da IC. FIGURA: Risco atribuível à população de incidência de insuficiência cardíaca (IC) As miocardiopatias hereditárias também são cada vez mais reconhecidas em adultos que apresentam IC. Elas incluem distúrbios mais comuns, como miocardiopatias hipertróficas e arritmogênicas, e doenças do músculo cardíaco menosconhecidas relacionadas com variantes patogênicas nos genes que codificam a lamina e a titina, distrofias musculares e doença mitocondrial. A maioria das formas de miocardiopatia dilatada familiar é herdada de forma autossômica dominante. Uma miríade de doenças sistêmicas com manifestações cardíacas e extracardíacas (p. ex., amiloidose, sarcoidose), distúrbios autoimunes (p. ex., lúpus eritematoso sistêmico, artrite reumatoide), doenças infecciosas (p. ex., Chagas, HIV) e toxicidade por fármacos (quimioterapia, outros agentes ilícitos ou prescritos) pode resultar em IC com FE reduzida ou preservada. Distúrbios associados a estados de alto débito cardíaco (p. ex., anemia, tireotoxicose) raramente são associados a IC na ausência de doença cardíaca estrutural subjacente. FISIOPATOLOGIA Doença progressiva A Insuficiência Cardíaca com Fração de Ejeção Reduzida (ICFER) é uma condição progressiva caracterizada por um evento inicial, que pode ocorrer de maneira súbita (como um infarto agudo do miocárdio) ou mais gradualmente (como na sobrecarga crônica de pressão ou volume), incluindo causas hereditárias ou congênitas. Apesar de uma redução inicial no desempenho cardíaco, os pacientes podem permanecer assintomáticos devido à ativação de mecanismos compensatórios, o que, ao longo do tempo, contribui para a progressão da doença. FIGURA: Estímulos para remodelamento na insuficiência cardíaca. Remodelamento ventricular Padrões diferentes de remodelamento ventricular ocorrem em resposta à sobrecarga cardíaca excessiva. Hipertrofia concêntrica, na qual a massa aumentada é desproporcional ao volume da câmara, reduz efetivamente o estresse da parede em condições de sobrecarga de pressão. Hipertrofia excêntrica é um aumento no tamanho ou no volume da cavidade ocorre em condições de sobrecarga de volume. Em ambas as formas de remodelamento cardiovascular, ocorre um aumento na massa ventricular. Ao nível celular, isso é acompanhado por hipertrofia dos miócitos e fibrose intersticial. A nível proteico, observam-se alterações na manipulação do cálcio e função citoesquelética. Ao nível molecular, ocorre a reexpressão dos genes fetais. Insuficiência cardíaca: fisiopatologia e diagnóstico Além da perda celular por necrose, miócitos incapazes de se adaptar ao estímulo de remodelação podem sofrer apoptose. O comprometimento da função cardíaca e aumento da tensão da parede, diante de vasoconstrição sistêmica e perda de adaptação neuro-hormonal, podem causar incompatibilidade da pós-carga. Esses eventos alimentam o ciclo de remodelamento, desencadeando processos deletérios e levando ao desenvolvimento da insuficiência cardíaca clínica. A compreensão do remodelamento ventricular na Insuficiência Cardíaca com Fração de Ejeção Reduzida (ICFER) é apoiada por estudos em animais e humanos, mas os mecanismos subjacentes à Insuficiência Cardíaca com Fração de Ejeção Preservada (ICFEP) são menos claros. Originalmente focada na disfunção diastólica, especialmente em mulheres mais velhas com hipertensão, a ICFEP envolve anormalidades no relaxamento miocárdico devido à captação comprometida do cálcio. Diferentes fenótipos de ICFEP implicam em vários processos fisiopatológicos, como rigidez vascular, disfunção renal, avidez por sódio e inflamação metabólica. Alterações biológicas, como estresse oxidativo e sinalização de óxido nítrico prejudicada, podem desempenhar um papel na progressão da doença. MECANISMOS DE PROGRESSÃO DA DOENÇA Na Insuficiência Cardíaca, mecanismos compensatórios são acionados, impulsionando a progressão da doença. Esses insights provêm de estudos pré-clínicos e clínicos, indicando benefícios em terapias que visam atenuar ou reverter esses processos biológicos. Ativação neuro-hormonal A ativação do sistema nervoso simpático (SNS) e do sistema renina-angiotensina-aldosterona (SRAA) é central na progressão da Insuficiência Cardíaca (IC). Inicialmente, isso leva a aumentos na frequência cardíaca, pressão arterial e contratilidade, com retenção de sódio e água. A resposta descontrolada resulta em vasoconstrição, retenção de líquidos, disfunção renal, toxicidade miocárdica e arritmias. Essa ativação contribui para o remodelamento de órgãos e tecidos, promovendo o desenvolvimento da IC. Estudos clínicos indicam que inibir o SRAA e o SNS reduz o remodelamento ventricular e vascular, diminuindo a morbidade e mortalidade na IC. FIGURA: Ativação dos sistemas neuro-hormonais na insuficiência cardíaca (IC). Hormônios vasodilatadores Enquanto a ativação do SRAA e do SNS contribui para a progressão da doença na IC, vários hormônios contrarreguladores são regulados positivamente e exercem efeitos benéficos no coração, nos rins e na vasculatura. Incluem os peptídeos natriuréticos (ANP) e peptídeo natriurético tipo B (BNP), as prostaglandinas e a prostaciclina, a bradicinina, a adrenomedulina e o óxido nítrico. O ANP e o BNP são armazenados e liberados primariamente a partir dos átrios e ventrículos, respectivamente, em resposta ao aumento do estiramento ou pressão. Estimulações da guanilato-ciclase promovem ações benéficas, como vasodilatação, aumento na excreção de sódio e água, inibição de renina e aldosterona, além de modular os barorreceptores. A inibição da neprilisina, uma peptidase ligada à membrana, contribui para os benefícios clínicos da inibição do receptor da angiotensina-neprilisina na Insuficiência Cardíaca, preservando bradicinina e peptídeos natriuréticos. Esses últimos podem ser úteis no diagnóstico e estratificação de risco em pacientes com IC. Insuficiência cardíaca: fisiopatologia e diagnóstico Insuficiência mitral secundária Muitos pacientes com Insuficiência Cardíaca e Fração de Ejeção Reduzida (ICFER) apresentam regurgitação mitral devido a distorções no aparelho valvar mitral. Isso resulta de diversos mecanismos fisiopatológicos, incluindo redução da força contrátil, formato esférico do ventrículo, aumento da dimensão do anel mitral e dilatação da parede posterior do átrio esquerdo. Essa regurgitação piorada contribui para a progressão da IC e impacta negativamente o prognóstico. O tratamento da valva mitral, especialmente por meio de técnicas transcateter, tem mostrado sucesso em interromper esse ciclo vicioso, principalmente quando há persistência significativa de regurgitação mitral após terapia clínica ideal. INTERAÇÕES CARDIORRENAIS E ABDOMINAIS A fisiopatologia da Insuficiência Cardíaca (IC) reconhece sua natureza sistêmica, onde as anormalidades cardíacas afetam órgãos-alvo como rins, fígado e pulmões. A síndrome cardiorrenal, interação entre coração e rins, é tradicionalmente associada à diminuição da perfusão renal devido a comprometimento do débito cardíaco. No entanto, evidências sugerem que a congestão venosa sistêmica e intra-abdominal também desempenham um papel. O alívio da congestão, seja por terapia diurética ou meios mecânicos, não apenas reduz o volume, mas também facilita a diminuição da pressão abdominal, contribuindo para a melhora da função renal na IC. História e Sintoma do PCT Fatores precipitantes Aspectos Gerais DIAGNOSTICO Insuficiência cardíaca: fisiopatologia e diagnóstico Farmacologia A insuficiência cardíaca é uma condição crônica em que o coração não consegue bombear sangue de forma eficiente para atender às necessidades do corpo. O tratamento da insuficiência cardíaca envolve uma abordagem multifatorial, que inclui medidas de prevenção e intervenções terapêuticas. Aqui estão algumas orientações sobre o tratamento e prevenção da insuficiência cardíaca: Tratamento: 1. Estabeleça um diagnóstico preciso: A avaliação clínica, exames laboratoriais e de imagem são fundamentais para confirmaro diagnóstico de insuficiência cardíaca e identificar a causa subjacente. 2. Medidas gerais: - Restrição de sódio: Recomenda-se limitar a ingestão diária de sódio a menos de 2 gramas. Isso ajuda a reduzir a retenção de líquidos e a sobrecarga no coração. - Restrição de líquidos: Em casos de edema ou retenção de líquidos, pode ser necessário restringir a ingestão de líquidos para controlar os sintomas. - Atividade física regular: A prática de exercícios físicos supervisionados, como caminhadas, pode melhorar a capacidade funcional e a qualidade de vida dos pacientes com insuficiência cardíaca. É importante adaptar o programa de exercícios às capacidades individuais de cada paciente. - Controle do peso: Manter um peso adequado é importante para reduzir a sobrecarga no coração. Uma combinação de dieta saudável e atividade física pode ajudar a alcançar e manter um peso saudável. 3. Tratamento farmacológico: - Inibidores da enzima conversora de angiotensina (IECA): São recomendados como terapia inicial em pacientes com insuficiência cardíaca com fração de ejeção reduzida. Exemplos de IECA incluem o enalapril, lisinopril e ramipril. - Bloqueadores dos receptores de angiotensina II (BRA): Podem ser utilizados em substituição aos IECA em pacientes que não toleram esses medicamentos. Exemplos de BRA incluem o losartan, valsartan e candesartan. - Betabloqueadores: São indicados para melhorar a função cardíaca e reduzir a mortalidade em pacientes com insuficiência cardíaca crônica. Exemplos de betabloqueadores incluem o carvedilol, metoprolol e bisoprolol. - Diuréticos: Podem ser prescritos para controlar os sintomas de retenção de líquidos e edema. Exemplos de diuréticos incluem a furosemida, hidroclorotiazida e espironolactona. - Antagonistas dos receptores de aldosterona: Podem ser adicionados ao tratamento em pacientes com insuficiência cardíaca grave e fração de ejeção reduzida. Exemplos de antagonistas dos receptores de aldosterona incluem a espironolactona e eplerenona. - Digoxina: Pode ser considerada em casos selecionados para controle dos sintomas. A digoxina está disponível na forma farmacêutica de comprimidos e solução oral. 4. Intervenções cirúrgicas: - Implante de dispositivos de ressincronização cardíaca: É uma opção para pacientes com insuficiência cardíaca grave e disfunção sistólica do ventrículo esquerdo. Esses dispositivos ajudam a melhorar a sincronia dos batimentos cardíacos. - Implante de desfibrilador cardioversor implantável: É recomendado em pacientes com alto risco de morte súbita cardíaca. Esses dispositivos monitoram o ritmo cardíaco e podem fornecer terapia de choque quando necessário. - Transplante cardíaco: É uma opção para pacientes com insuficiência cardíaca avançada refratária ao tratamento convencional. O transplante envolve a substituição do coração doente por um coração saudável de um doador compatível. Prevenção: 1. Controle da pressão arterial: Manter a pressão arterial dentro dos níveis recomendados pode reduzir o risco de desenvolver insuficiência cardíaca. Recomenda-se manter a pressão arterial abaixo de 130/80 mmHg em pacientes com diabetes ou doença renal crônica, e abaixo de 140/90 mmHg em pacientes sem essas condições. 2. Controle do diabetes: Manter um bom controle glicêmico é importante para prevenir complicações cardiovasculares, incluindo a insuficiência cardíaca. Recomenda-se manter a hemoglobina glicada (A1C) abaixo de 7% em pacientes com diabetes. Insuficiência cardíaca: fisiopatologia e diagnóstico 3. Estilo de vida saudável: Adotar uma alimentação equilibrada, praticar atividade física regularmente, evitar o tabagismo e limitar o consumo de álcool são medidas importantes para prevenir a insuficiência cardíaca. Recomenda-se seguir uma dieta rica em frutas, vegetais, grãos integrais, proteínas magras e gorduras saudáveis. 4. Vacinação: A vacinação contra a gripe e a pneumonia pode reduzir o risco de infecções respiratórias que podem desencadear ou agravar a insuficiência cardíaca. Recomenda-se que todos os pacientes com insuficiência cardíaca recebam anualmente a vacina contra a gripe e a vacina pneumocócica. Lembre-se de que cada caso de insuficiência cardíaca é único, e o tratamento deve ser individualizado de acordo com as características e necessidades de cada paciente. É fundamental contar com o acompanhamento médico regular e seguir todas as orientações fornecidas pelo profissional de saúde. Analisar os conceitos das doenças negligenciadas As doenças negligenciadas são um grupo de doenças infecciosas que afetam principalmente populações em áreas de baixa renda e com acesso limitado a serviços de saúde. Essas doenças são chamadas de "negligenciadas" porque historicamente receberam pouca atenção e investimento em pesquisa, prevenção e tratamento em comparação com outras doenças mais prevalentes ou com maior impacto econômico. A característica comum das doenças negligenciadas é sua associação com condições socioeconômicas precárias, falta de saneamento básico, habitação inadequada e acesso limitado a cuidados de saúde. Esses fatores contribuem para a persistência e disseminação dessas doenças em determinadas regiões do mundo. Algumas das principais doenças negligenciadas incluem: Doença de Chagas: Causada pelo parasita Trypanosoma cruzi, transmitido principalmente por insetos vetores conhecidos como "barbeiros". A doença de Chagas pode levar a complicações cardíacas, como a cardiomiopatia chagásica. Leishmaniose: Causada por parasitas do gênero Leishmania, transmitidos por picadas de mosquitos flebotomíneos. Existem diferentes formas clínicas da leishmaniose, incluindo a forma visceral, que pode afetar órgãos internos, incluindo o coração. Esquistossomose: Causada por vermes parasitas do gênero Schistosoma, transmitidos por contato com água contaminada por larvas do parasita. A esquistossomose pode causar danos ao sistema cardiovascular, incluindo a hipertensão arterial pulmonar. Filariose: Causada por vermes parasitas do gênero Wuchereria bancrofti, transmitidos por mosquitos. A filariose pode levar ao desenvolvimento de linfedema e elefantíase, que podem afetar membros inferiores e genitais. Essas doenças negligenciadas têm um impacto significativo na saúde das populações afetadas, causando morbidade, incapacidade e mortalidade. Além disso, elas também têm um impacto socioeconômico negativo, contribuindo para o ciclo de pobreza e desigualdade em muitas regiões. A prevenção e o controle das doenças negligenciadas envolvem medidas como melhorias nas condições de saneamento básico, acesso a água potável, controle de vetores, diagnóstico precoce e tratamento adequado. Além disso, é importante promover a conscientização sobre essas doenças e investir em pesquisa e desenvolvimento de novas ferramentas de diagnóstico, tratamento e prevenção. As doenças negligenciadas são reconhecidas como um problema de saúde global e têm sido alvo de esforços internacionais para reduzir sua carga e melhorar a saúde das populações afetadas. Organizações como a Organização Mundial da Saúde (OMS) e outras instituições de saúde pública têm trabalhado para aumentar a visibilidade e o investimento nessas doenças, visando alcançar os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável relacionados à saúde até 2030. Insuficiência cardíaca: fisiopatologia e diagnóstico Farmacologia 2.0 O tratamento medicamentoso da insuficiência cardíaca com fração de ejeção reduzida (ICFEr) crônica passou por avanços significativos nas últimas décadas. Drogas que atuam nos eixos neuro-hormonais, como inibidores da enzima conversora da angiotensina (IECA), betabloqueadores, bloqueadoresdos receptores AT-I da angiotensina II (BRA), antagonistas dos receptores da aldosterona, e recentemente, medicamentos que reduzem a frequência cardíaca, desempenharam um papel crucial na redução da morbidade e mortalidade associadas à IC. Os diuréticos são utilizados para aliviar os sintomas de congestão, atuando na espoliação de sódio e água, promovendo vasodilatação e aumentando a secreção renal de prostaglandinas. Existem três classes de diuréticos: de alça, tiazídicos e poupadores de potássio. Diuréticos de alça: Inibem o transporte de sódio e cloro na alça de Henle, sendo úteis em situações de edema agudo de pulmão e congestão esplâncnica. Devem ser usados com cautela para evitar efeitos colaterais como hipocalemia e desidratação. Tiazídicos: Inibem o transporte de sódio no túbulo contornado distal, sendo indicados principalmente em associação com diuréticos de alça. Poupadores de potássio: Inibem a secreção de potássio no túbulo distal, sendo utilizados em combinação com outros diuréticos. Os digitálicos, como a digoxina, têm efeito inotrópico positivo, modulando a ativação neuro- hormonal e melhorando a sensibilidade dos reflexos barorreceptores. Embora não tenham impacto significativo na mortalidade, podem reduzir hospitalizações por descompensação. Os betabloqueadores, como metoprolol, bisoprolol, carvedilol e nebivolol, mostraram benefícios na melhora da função ventricular, redução de sintomas, hospitalizações e mortalidade. A escolha do betabloqueador depende de características individuais. Inibidores da ECA são fundamentais, inibindo a síntese de angiotensina II e promovendo benefícios hemodinâmicos e neuro-hormonais. Bloqueadores dos receptores da angiotensina II (BRA) têm um perfil terapêutico semelhante aos IECA, sendo uma opção em pacientes que não toleram IECA. Antagonistas da aldosterona, como espironolactona e eplerenona, reduzem morbidade e mortalidade em pacientes com IC, especialmente em classes funcionais III e IV. A associação de hidralazina/nitrato é uma opção em pacientes com contraindicação a IECA ou BRA. A anticoagulação está indicada em determinadas condições, como fibrilação atrial e trombos intracavitários. Em relação aos antiarrítmicos, a amiodarona é reservada para manutenção de ritmo sinusal e controle de frequência em fibrilação atrial, bem como prevenção secundária de morte súbita. Medicamentos como ivabradina para redução da frequência cardíaca, ômega-3 e outros tratamentos específicos também desempenham papéis em situações particulares. O tratamento é individualizado, considerando a situação clínica, comorbidades e características do paciente. Essa abordagem multifatorial visa melhorar a qualidade de vida, prevenir descompensações e reduzir a mortalidade na ICFEr crônica. O tratamento da insuficiência cardíaca diastólica (IC) tem pouca evidência substancial. O racional para abordar a IC diastólica está relacionado ao controle da congestão pulmonar, pressão arterial, isquemia miocárdica e frequência cardíaca. O estudo relevante CHARM Preserved demonstrou benefícios do candesartan na redução de hospitalizações. Outros estudos investigam o papel de antagonistas de canal de cálcio, betabloqueadores, digitálicos, estatinas, IECA, antagonistas da aldosterona, inibidores de fosfodiesterase e BRA na IC diastólica. Na IC aguda, a má adesão ao tratamento é uma causa comum de descompensação. Identificar causas precipitantes é crucial, incluindo disfunção ventricular e forma de apresentação. O tratamento não medicamentoso visa melhorar a saturação de oxigênio, reduzir sintomas e manter boa perfusão tecidual. Pacientes descompensados geralmente necessitam de internação. O tratamento medicamentoso na IC descompensada depende do perfil hemodinâmico. O uso de volume, diuréticos, vasodilatadores, inotrópicos ou vasoconstritores pode ser indicado com base em parâmetros de congestão e perfusão. A escolha dessas terapias depende do padrão Insuficiência cardíaca: fisiopatologia e diagnóstico hemodinâmico do paciente, como "quente e úmido", "frio e úmido" ou "frio e seco". As medicações inotrópicas incluem dobutamina, milrinona e levosimendam. Vasodilatadores como nitroglicerina, nitroprussiato de sódio e neseritide são utilizados para afetar a pré e a pós-carga do coração. O tratamento das obstruções mecânicas ou insuficiências valvares visa evitar o desenvolvimento ou progressão da IC. Em casos avançados da doença, os cuidados paliativos são importantes para melhorar o conforto do paciente, considerando opções de tratamento para redução da mortalidade e sintomatologia. A decisão sobre ressuscitação deve ser tomada de acordo com as expectativas do paciente e da família. Uma equipe de cardiologistas especializados em insuficiência cardíaca é recomendada para tratamento intra-hospitalar.
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