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45 CONTABILIDADE SOCIETÁRIA Unidade II 5 TÉCNICA DA EQUIVALÊNCIA PATRIMONIAL 5.1 Efeitos da movimentação do patrimônio líquido das coligadas e controladas nos investimentos da investidora O CPC 18 (R2) – Investimento em Coligada, em Controlada e em Empreendimento Controlado em Conjunto, aprovado pelo Conselho Federal de Contabilidade e transformado na NBC TG 18 (R2), determina a aplicação do método da equivalência patrimonial da seguinte forma: Método da equivalência patrimonial é o método de contabilização por meio do qual o investimento é inicialmente reconhecido pelo custo e, a partir daí, é ajustado para refletir a alteração pós-aquisição na participação do investidor sobre os ativos líquidos da investida. As receitas ou as despesas do investidor incluem sua participação nos lucros ou prejuízos da investida, e os outros resultados abrangentes do investidor incluem a sua participação em outros resultados abrangentes da investida (CPC, 2013c, p. 2). Saiba mais Para acompanhar o método da equivalência patrimonial, leia: COMITÊ DE PRONUNCIAMENTOS CONTÁBEIS (CPC). Pronunciamento Técnico CPC 18 (2) – Investimento em Coligada, Controlada e em Empreendimento Controlado em Conjunto. CPC, 2013c. Disponível em: <http://static.cpc.aatb.com.br/Documentos/263_CPC_18_(R2)_rev%2013. pdf>. Acesso em: 24 abr. 2019. Em resumo, o método da equivalência patrimonial consiste em reconhecer nos investimentos da investidora o percentual de participação no patrimônio líquido da investida. O CPC menciona a participação do investidor sobre os ativos líquidos da investida, que nada mais é do que a participação no patrimônio líquido da investida. Por exemplo, digamos que uma empresa apresente a seguinte situação patrimonial: Ativos = R$ 500.000 Passivos = R$ 400.000 46 Unidade II Consequentemente, o patrimônio líquido será de R$ 100.000. Ou seja, se a empresa liquidar seus passivos, ainda sobrarão recursos, portanto, ativos líquidos no valor de R$ 100.000. Outro aspecto considerado no CPC é com relação à forma de reconhecimento da participação da investidora em suas investidas, ou seja, a participação da investidora: • No lucro ou prejuízo do período da investida deve ser reconhecida no resultado do período da investidora, por meio da conta resultado de equivalência patrimonial. • Nos dividendos recebidos da investida deve reduzir o valor contábil dos investimentos. • Nas variações de saldo dos componentes dos outros resultados abrangentes da investida deve ser reconhecida diretamente no patrimônio líquido, de forma reflexa, em outros resultados abrangentes diretamente no patrimônio líquido da investidora. Para que a investidora contabilize a equivalência patrimonial, a peça fundamental é a demonstração das mutações do patrimônio líquido das sociedades investidas. Quanto às demonstrações contábeis da investida utilizadas para a aplicação da equivalência patrimonial, de acordo com o item 34 do CPC, o aconselhável é que sejam coincidentes com a data da investidora. Caso sejam diferentes, as demonstrações contábeis das investidas devem ser ajustadas pelos efeitos de transações e eventos significativos que ocorrerem entre a data de encerramento das demonstrações contábeis das investidas e da investidora. Independentemente desses ajustes, a defasagem entre as datas de encerramento das demonstrações contábeis das investidas e da investidora não deve ser superior a dois meses e, se houver defasagem, isso deve ser relatado em notas explicativas (CPC, 2013c). O primeiro cuidado na aplicação do método da equivalência patrimonial é analisar quais investimentos devem ser avaliados por este método. Como determina o CPC, devem ser avaliados pelo método da equivalência patrimonial: • O investimento em cada controlada direta ou indireta. • O investimento em coligadas, quando se configurar a existência de influência significativa ou quando a porcentagem de participação, direta ou indireta, da investidora representar 20% ou mais do capital votante. • O investimento em empreendimento controlado em conjunto. Os investimentos em sociedades que não atendam a esses requisitos serão avaliados pelo método do valor justo ou pelo método de custo, conforme o caso. 47 CONTABILIDADE SOCIETÁRIA Observação “O investimento em coligada, em controlada e em empreendimento controlado em conjunto deve ser contabilizado pelo método da equivalência patrimonial, a partir da data em que o investimento se tornar sua coligada, controlada ou empreendimento controlado em conjunto” (CPC, 2013c, item 32, p. 11). Vamos acompanhar, por meio do exemplo a seguir, a determinação de quais investimentos devem ser avaliados pelo método da equivalência patrimonial. Exemplo A Cia. Planeta possui os seguintes investimentos permanentes: Tabela 5 Cia. % de participação Ações ordinárias Ações preferenciais Total Terra 22% 30% 17% Júpiter 20% 5% 8% Vênus 60% 20% 40% Saturno 58% 10% 50% Netuno 5% 7% 4% Quais sociedades devem ser avaliadas pelo método da equivalência patrimonial? 1º passo: classificar as sociedades investidas: Tabela 6 Terra Coligada (22% no capital votante) Júpiter Coligada (20% no capital votante) Vênus Controlada (60% no capital votante) Saturno Controlada (58% no capital votante) Netuno Valor justo ou custo (5% no capital votante) 2º passo: verificar quais investimentos devem ser avaliados pelo método da equivalência patrimonial: • Terra (por ser coligada). • Júpiter (por ser coligada). 48 Unidade II • Vênus (por ser controlada). • Saturno (por ser controlada). Não será avaliada pelo método da equivalência patrimonial a sociedade Netuno, por não ser controlada nem coligada, deverá ser avaliada pelo método do valor justo ou de custo considerando se tem valor de mercado ou não. Uma vez definidos os investimentos avaliados pelo método da equivalência patrimonial, aplicamos a seguinte técnica: à medida que o patrimônio líquido das investidas aumenta ou diminui, a conta investimentos da investidora deverá também aumentar ou diminuir proporcionalmente ao percentual de participação. Determinar a contrapartida desse débito ou crédito vai depender da origem da movimentação do patrimônio líquido das investidas. Essa movimentação pode originar-se de vários motivos, tais como: • lucro ou prejuízo do exercício; • dividendos propostos; • integralização do capital; • ajustes de exercícios anteriores; • outros resultados abrangentes. 5.1.1 Lucro ou prejuízo do exercício A contrapartida do ajuste de investimentos deverá estar no resultado do exercício como receita ou despesa. Se a investida apurar lucro, a investidora reconhecerá como receita; se a investida apurar prejuízo, a investidora reconhecerá como despesa. Essa receita ou despesa é operacional e deverá ser classificada em conta específica, denominada resultado de equivalência patrimonial. D = investimentos C = resultado de equivalência patrimonial (no caso de lucro) ou D = resultado de equivalência patrimonial (no caso de prejuízo) C = investimentos 5.1.2 Dividendos propostos No método da equivalência patrimonial, os lucros são reconhecidos no momento em que são apurados pela investida. Assim, quando da distribuição dos dividendos, não existe o reconhecimento de nova receita. Se assim fosse, haveria o reconhecimento em dobro do resultado, pois os lucros já foram reconhecidos via resultado de equivalência patrimonial. Contabiliza-se como um direito (caso tenha 49 CONTABILIDADE SOCIETÁRIA ocorrido a apropriação dos dividendos a pagar pela investida) ou como caixa e equivalentes de caixa (caso tenha havido a efetiva distribuição). D = dividendos a receber/caixa e equivalentes de caixa C = investimentos 5.1.3 Integralização do capital A integralização do capital feita pela investidora provoca um acréscimo do patrimônio líquido da investida e, na mesma proporção, um acréscimo em sua conta de investimentos. Se nesse aumento de capital os sócios participarem com mesmo percentual anteriormenteexistente, não haverá variação de participação. D = investimentos C = caixa e equivalentes de caixa 5.1.4 Ajustes de exercícios anteriores A lei societária estabelece que sejam contabilizados diretamente na conta de lucros acumulados sempre que existirem efeitos decorrentes de: • mudança de critérios contábeis; • retificação de erro imputável a determinado exercício anterior e que não possa ser atribuído a fatos subsequentes. Voltamos ao CPC 18 (R2). O item 10 dispõe que apenas a parte da investidora no lucro ou prejuízo apurado pela investida deverá ser contabilizada como resultado do período da investidora. As demais movimentações nos componentes de outros resultados abrangentes da investida serão reconhecidos de forma reflexa em outros resultados abrangentes diretamente no patrimônio líquido da investidora. Assim, no caso de a investida efetuar um ajuste de exercícios anteriores, aumentando ou diminuindo o patrimônio líquido, o ajuste proporcional na conta de investimentos (na investidora) será contabilizado de forma reflexa. Se resultar em aumento no patrimônio líquido da investida: D = investimentos C = lucros acumulados Se resultar em diminuição no patrimônio líquido da investida: D = lucros acumulados C = investimentos 50 Unidade II 5.1.5 Outros resultados abrangentes Conforme já comentado em relação ao item 10 do CPC, quando a investida apresentar, em seu patrimônio líquido, outros resultados abrangentes em decorrência da existência de reserva de reavaliação, ajustes de avaliação patrimonial, ganhos ou perdas de conversão, ganhos ou perdas por variação percentual, avaliação a valor justo de instrumentos financeiros classificados como disponíveis para venda, a investidora deverá reconhecer, proporcionalmente à sua participação, de forma reflexa, diretamente em contas de patrimônio líquido. Se resultar em outros resultados abrangentes com saldo credor: D = investimentos C = outros resultados abrangentes – Cia. X (patrimônio líquido) Se resultar em outros resultados abrangentes com saldo devedor: D = outros resultados abrangentes – Cia. X (patrimônio líquido) C = investimentos 5.2 Aplicação da técnica da equivalência patrimonial Como a investidora deve calcular e contabilizar os efeitos da aplicação do método da equivalência patrimonial? A aplicação da teoria ficará mais fácil com a aplicação por meio de exemplos. Como já dissemos, a peça fundamental para o cálculo da equivalência patrimonial é a demonstração das mutações do patrimônio líquido das investidas. Exemplo 1 A Cia. Paraná possui uma participação na Cia. Curitiba de 80%. No início do exercício, o patrimônio líquido da Cia. Curitiba é de R$ 3.000.000, sendo R$ 2.500.000 de capital social, representado apenas por ações ordinárias, e o restante composto de reservas. Ao encerrar o exercício, a Cia. Curitiba apurou um lucro de R$ 600.000 e propôs a distribuição de dividendos de R$ 150.000. O excedente de lucros acumulados foi destinado à constituição de reservas de lucros. Contabilize a equivalência patrimonial. Como a participação é de 80% no capital votante, trata-se de uma sociedade controlada e avaliada pelo método de equivalência patrimonial. De acordo com as informações, temos a seguinte posição: 51 CONTABILIDADE SOCIETÁRIA Tabela 7 Cia. Curitiba % Cia. Paraná Saldo no início do exercício 3.000.000 80% 2.400.000 Lucro do exercício 600.000 80% 480.000 Dividendos propostos (150.000) 80% (120.000) Saldo no final do exercício 3.450.000 80% 2.760.000 Contabilização na Cia. Investidora – Cia. Paraná D = investimentos – Cia. Curitiba 480.000 C = resultado de equivalência patrimonial 480.000 D = dividendos a receber 120.000 C = investimentos – Cia. Curitiba 120.000 Como vimos, à medida que o patrimônio líquido da investida aumenta ou diminui, a conta investimentos da investidora deverá também aumentar ou diminuir proporcionalmente ao percentual de participação. Exemplo 2 A Cia. Brasil apresenta os seguintes saldos em seu balanço patrimonial em 31/12/X0: Ativo não circulante – investimentos • Cia. A = 455.000 • Cia. B = 360.000 • Cia. C = 10.000 O percentual de participação detido pela Cia. Brasil nas suas investidas são os seguintes: • Cia. A: participação de 65% no capital total, sendo 60% em ações ordinárias e 30% em ações preferenciais. • Cia. B: participação de 40% no capital total, sendo 30% em ações ordinárias e 50% em ações preferenciais. • Cia. C: participação de 5% no capital total, possuindo apenas ações preferenciais. A Cia. Brasil possuía um saldo em caixa de R$ 200.000. Em 06/X1, a Cia. A aumentou seu capital em R$ 300.000, sendo que a Cia. Brasil exerceu o seu poder de subscrição, de forma a ficar com o mesmo percentual de participação. 52 Unidade II A demonstração das mutações do patrimônio líquido apresentada pelas companhias foi a seguinte. O excedente de lucros acumulados foi destinado à constituição de reservas de lucros. Tabela 8 – Demonstração das mutações do patrimônio líquido Cia. A Cia. B Cia. C Saldo em 31/12/X0 700.000 900.000 300.000 Ajustes de exercícios anteriores 100.000 (60.000) 10.000 Aumento de capital 300.000 Resultado do exercício 200.000 (100.000) 40.000 Dividendos propostos (60.000) (12.000) Saldo em 31/12/X1 1.240.000 740.000 338.000 Contabilize a equivalência patrimonial em 31/12/X1. Sabe-se que há certeza que a distribuição dos dividendos será aprovada pela assembleia. Solução 1º passo: classificar as sociedades investidas: Cia. A – controlada, pois a Cia. Brasil participa com mais de 50% de ações ordinárias. Cia. B – coligada, pois a Cia. Brasil participa com mais de 20% no capital votante. Cia. C – valor justo ou valor de custo, pois a Cia. Brasil não tem participação no capital votante. 2º passo: verificar quais investimentos devem ser avaliados pelo método da equivalência patrimonial: Cia. A – por se tratar de uma controlada. Cia. B – por se tratar de uma coligada. Observação A Cia. C, por não ser controlada ou coligada, não deve ser avaliada pelo MEP. 3º passo: calcular a equivalência patrimonial: Tabela 9 Cia. A Cia. B PL 65% PL 40% Saldo em 31/12/X0 700.000 455.000 900.000 360.000 Ajustes de exercícios anteriores 100.000 65.000 (60.000) (24.000) 53 CONTABILIDADE SOCIETÁRIA Aumento de capital 300.000 195.000 – – Resultado do exercício 200.000 130.000 (100.000) (40.000) Dividendos propostos (60.000) (39.000) Saldo em 31/12/X1 1.240.000 806.000 740.000 296.000 4º passo: contabilizar a equivalência patrimonial: Contabilização – investimento na Cia. A D = investimentos – Cia. A 65.000 C = lucros acumulados 65.000 D = investimentos – Cia. A 195.000 C = caixa 195.000 D = investimentos – Cia. A 130.000 C = resultado de equivalência patrimonial 130.000 D = dividendos a receber 39.000 C = investimentos – Cia. A 39.000 Contabilização – investimento na Cia. B D = lucros acumulados 24.000 C = investimentos – Cia. B 24.000 D = resultado de equivalência patrimonial 40.000 C = investimentos – Cia. B 40.000 Após os lançamentos, o saldo da conta investimentos na Cia. A será de $ 806.000, que representa exatamente 65% do patrimônio líquido de A, e a conta investimentos na Cia. B será de $ 296.000, que traduz exatamente 40% do patrimônio líquido de B. Exemplo 3 A Cia. Alvorada adquiriu uma participação no capital social da Cia. Crepúsculo de 60% em 01.01.X1. A Cia. Crepúsculo emite apenas ações ordinárias. Na data da aquisição, o patrimônio líquido da Cia. Crepúsculo era de R$ 340.000 e a negociação foi feita à vista. Durante o exercício de X1, a Cia. Crepúsculo aumentou o capital e a Cia. Alvorada subscreveu o proporcional ao seu percentual de participação anterior. Em 31.12.X1, ambas as sociedades encerraram suas demonstrações contábeis. A Cia. Crepúsculo apresenta a seguinte demonstração das mutações do patrimônio líquido, que servirá de base para a Cia. Alvorada calcular e contabilizar a equivalência patrimonial. 54Unidade II Tabela 10 – Demonstração das mutações do patrimônio líquido Cia. Crepúsculo Capital social Reservas de capital Reservas de lucro Lucros acumulados Outros resultados abrangentes Total Saldo inicial (em 31.12.X0) 148.000 36.000 116.000 40.000 340.000 Aumento de capital 100.000 (30.000) 70.000 Lucro do exercício 56.000 56.000 Reserva legal 2.800 (2.800) Reserva estatutária 5.600 (5.600) Retenção de lucros 34.300 (34.300) Dividendos obrigatórios (13.300) (13.300) Efeito de avaliação de instrumentos financeiros 1.200 1.200 Saldo em 31.12.X1 248.000 6.000 158.700 41.200 453.900 Pede-se: aplicar e contabilizar o método da equivalência patrimonial. A Cia. Alvorada participa com 60% das ações ordinárias da Cia. Crepúsculo; trata-se de participações em sociedades controladas que devem ser avaliadas pelo método de equivalência patrimonial. Aplicando-se a técnica da equivalência patrimonial, temos a seguinte posição. Tabela 11 – Demonstração das mutações do patrimônio líquido Cia. Crepúsculo Capital social Reservas de capital Reservas de lucro Lucros acumulados Outros resultados abrangentes Total 60% Saldo inicial (em 31.12.X0) 148.000 36.000 116.000 40.000 340.000 204.000 Aumento de capital 100.000 (30.000) 70.000 42.000 Lucro do exercício 56.000 56.000 33.600 Reserva legal 2.800 (2.800) Reserva estatutária 5.600 (5.600) Retenção de lucros 34.300 (34.300) Dividendos obrigatórios (13.300) (13.300) (7.980) Efeito de avaliação de instrumentos financeiros 1.200 1.200 720 Saldo em 31.12.X1 248.000 6.000 158.700 41.200 453.900 272.340 55 CONTABILIDADE SOCIETÁRIA Feito o cálculo, vamos contabilizar. Pela aquisição D = investimentos – Cia. Crepúsculo 204.000 C = caixa e equivalentes de caixa 204.000 Pela movimentação do patrimônio líquido da Cia. Crepúsculo D = investimentos – Cia. Crepúsculo 42.000 C = caixa e equivalentes de caixa 42.000 D = investimentos – Cia. Crepúsculo 33.600 C = resultado de equivalência patrimonial 33.600 D = dividendos a receber 7.980 C = investimentos – Cia. Crepúsculo 7.980 D = investimentos – Cia. Crepúsculo 720 C = outros resultados abrangentes – Cia. Crepúsculo 720 5.3 Variação de percentual de participação em investimentos avaliados pelo método da equivalência patrimonial As participações societárias representam o percentual de participação do investidor no capital social da investida. Quando a investida aumenta o capital social, com a emissão de novas ações, os acionistas são convidados a participar desse aumento de capital, sendo-lhes assegurado o direito de preferência, ou seja, o direito de manter o mesmo percentual de participação anteriormente detido, deixando, assim, intacta a sua participação no capital social. Entretanto, nem sempre os acionistas se utilizam desse direito. Caso não desejem participar do novo aumento de capital, os acionistas podem ceder o seu direito de preferência para outros acionistas, resultando na diminuição de seu percentual de participação e permitindo o aumento do percentual de participação dos outros acionistas. Quando a investida, coligada ou controlada, aumentar o seu capital, pode acontecer de a investidora não subscrever o capital na mesma proporção anteriormente detida. Isso ocorre quando: • a investida aumenta o capital com emissão de novas ações e a investidora subscreve um percentual maior ou menor que o anteriormente detido; • há perda percentual: quando não exerce o direito de preferência de subscrição; • há aumento percentual: pela diluição na participação de outros acionistas (outros acionistas não exercem o direito de preferência de subscrição). 56 Unidade II Sempre que ocorrer qualquer alteração no percentual de participação da investidora no capital social da investida, haverá aumento ou diminuição no valor dos investimentos avaliados pela equivalência patrimonial, gerando um ganho ou uma perda por mudança de participação. Esses ganhos ou perdas não poderão ser reconhecidos diretamente no resultado do período da investidora, e sim diretamente no patrimônio líquido, como outros resultados abrangentes. Cabe lembrar o dispositivo do CPC 18 (R2), item 10, ao determinar que apenas a participação do investidor no lucro ou prejuízo da investida deve ser reconhecida no resultado do período da investidora. A variação apurada pela mudança de participação não decorre de lucros ou prejuízos gerados pela investida, representa um ganho ou uma perda na investidora pela variação de participação nas reservas e nos lucros ou prejuízos acumulados existentes antes do novo aumento de capital. Lembrete As alterações no percentual de participação da investidora no capital social das sociedades controladas e coligadas causam impacto no valor patrimonial dos investimentos, gerando ganhos ou perdas. A contrapartida desses ganhos ou perdas por variação patrimonial deve ser reconhecida diretamente no patrimônio líquido da investidora como outros resultados abrangentes. Exemplo 1 Suponha que o capital social da Cia. Gama seja representado por 4 mil ações das quais a Cia. Ômega detém 55%. Em X1, a Cia. Gama aumenta seu capital com a emissão de 2 mil novas ações a R$ 1,00 cada, totalmente subscritas e integralizadas pela Cia. Ômega. Isso significa que os demais acionistas não exerceram o direito de preferência de subscrição das novas ações. Considere o seguinte patrimônio líquido da Cia. Gama antes do aumento de capital: Capital social 4.000 Reservas 2.000 Total do PL 6.000 A Cia. Ômega apresentava um valor de investimento, em Gama, já aplicada a equivalência patrimonial, na data da aquisição das novas ações de R$ 3.300 (R$ 6.000 x 55%). Durante X1, após a data do aumento do capital social, a Cia. Gama apurou um lucro R$ 1.500 e propôs a distribuição de dividendos de 30%. Calcule a equivalência patrimonial. 57 CONTABILIDADE SOCIETÁRIA Solução 1. Calcular o novo percentual de participação. Tabela 12 Gama % Ômega Quantidade de ações existentes 4.000 55% 2.200 Quantidade de ações emitidas 2.000 100% 2.000 Total de ações 6.000 70% 4.200 O total das ações emitidas por Gama foi de 6 mil; e a Cia. Ômega detém 4.200 ações, representando 70% das ações. 2. Calcular a equivalência patrimonial. Tabela 13 Gama % Ômega Saldo antes do aumento de capital 6.000 55% 3.300 Aumento de capital 2.000 100% 2.000 Subtotal 8.000 5.300 Ganho por variação de percentual 300 Total 8.000 70% 5.600 Lucro líquido do exercício 1.500 70% 1.050 Dividendos propostos (450) 70% (315) Saldo final 9.050 70% 6.335 3. Conciliação do ganho de capital. Percebe-se que o ganho por variação percentual foi calculado por diferença, mas sabemos, por conceito, que esse ganho reflete a variação percentual nas contas do patrimônio líquido (exceto capital social) existentes antes do novo aumento de capital. Reservas existentes antes do aumento do capital 2.000 Variação de percentual de participação (70% - 55%) 15% Ganho por variação percentual (2.000 x 15%) 300 A parcela de $ 300 corresponde aos 15% de acréscimo na participação acionária calculada sobre as reservas existentes na data do aumento do capital. A Cia. Ômega se beneficiou em detrimento dos demais acionistas, que abriram mão da subscrição de ações no aumento do capital. 58 Unidade II 4. Contabilização. D = investimentos – Cia. Gama 2.000 C = caixa e equivalentes de caixa 2.000 Pela aquisição e integralização das novas ações. D = investimentos – Cia. Gama 300 C = ganho por variação percentual Outros resultados abrangentes (PL) 300 Pelo reconhecimento do ganho por variação patrimonial. D = investimentos – Cia. Gama 1.050 C = resultado de equivalência patrimonial 1.050 Pelo reconhecimento do resultado de equivalência patrimonial. D = dividendos a receber 315 C = investimentos – Cia. Gama 315 Pelo reconhecimento dos dividendos a receber. Após os lançamentos, a Cia. Ômega apresenta um saldo na containvestimentos na Cia. Gama de $ 6.335, que traduz exatamente 70% do patrimônio líquido de Gama. Exemplo 2 Considere as mesmas informações do Exemplo 1, mas admitindo, agora, que a Cia. Ômega subscreve apenas 40% das novas ações emitidas por Gama. Solução 1. Calcular o novo percentual de participação. Tabela 14 Gama % Ômega Quantidade de ações existentes 4.000 55% 2.200 Quantidade de ações emitidas 2.000 40% 800 Total de ações 6.000 50% 3.000 O total das ações emitidas por Gama foi de 6 mil, e a Cia. Ômega detém 3 mil ações, representando 50% das ações. 59 CONTABILIDADE SOCIETÁRIA 2. Calcular a equivalência patrimonial. Tabela 15 Gama % Ômega PL antes do aumento de capital 6.000 55% 3.300 Aumento de capital 2.000 40% 800 Subtotal 8.000 4.100 Perda por variação percentual (100) Total 8.000 50% 4.000 Lucro líquido do exercício 1.500 50% 750 Dividendos propostos (450) 50% (225) Saldo final 9.050 50% 4.525 3. Conciliação da perda por variação percentual. Reservas existentes antes do aumento do capital 2.000,00 Variação de percentual de participação (50% - 55%) - 5% Perda por variação percentual (2.000 x -5%) (100,00) A parcela de R$ 100 corresponde aos 5% de diminuição na participação acionária calculada sobre as reservas existentes na data do aumento do capital. A Cia. Ômega não se beneficiou do direito de preferência em subscrever ações no mesmo percentual anteriormente detido. 4. Contabilização. D = investimentos – Cia. Gama 800,00 C = caixa e equivalentes de caixa 800,00 Pela aquisição e integralização das novas ações. D = perda por variação percentual Outros resultados abrangentes (PL) 100,00 C = investimentos – Cia. Gama 100,00 Pelo reconhecimento da perda por variação percentual. D = investimentos – Cia. Gama 750,00 C = resultado de equivalência patrimonial 750,00 Pelo reconhecimento do resultado de equivalência patrimonial. D = dividendos a receber 225,00 C = investimentos – Cia. Gama 225,00 Pelo reconhecimento dos dividendos a receber. 60 Unidade II Após os lançamentos, a Cia. Ômega apresenta um saldo na conta investimentos na Cia. Gama de $ 4.525, que traduz exatamente 50% do patrimônio líquido de Gama. 5.4 Mais-valia, ágio por rentabilidade futura e ganho por compra vantajosa De acordo com o CPC 18 (R2), na aplicação do método de equivalência patrimonial, o investimento em coligada e em controlada deve ser inicialmente reconhecido pelo valor de custo, e o seu valor contábil será aumentado ou diminuído pelo reconhecimento da participação no patrimônio líquido dessas sociedades investidas. Ocorre que, na data do reconhecimento inicial, a negociação pode ser feita por um valor pago diferente do valor patrimonial da coligada ou controlada. Quando o valor pago for maior que o valor patrimonial da investida, essa diferença pode ser atribuída a dois fatores, dependendo do fator que deu origem a essa diferença. Esses fatores podem ser identificados por: • mais-valia de ativos líquidos; • ágio por rentabilidade futura (goodwill). Quando o valor pago for menor que o valor justo dos ativos líquidos, essa diferença representa um ganho, identificado por: • ganho por compra vantajosa. Lembrete Os ativos líquidos correspondem ao valor dos ativos menos o valor dos passivos, portanto, expressam o patrimônio líquido. 5.4.1 Conceitos de mais-valia por ativos líquidos, ágio por rentabilidade futura e ganho por compra vantajosa Entenderemos o conceito desses fatores que afetam o reconhecimento inicial dos investimentos avaliados pela equivalência patrimonial. • Mais-valia de ativos líquidos: é a diferença entre o valor justo dos ativos líquidos e o valor contábil dos ativos líquidos da investida na data da aquisição. • Ágio por rentabilidade futura (goodwill): é a diferença positiva entre o valor pago na aquisição da participação e o valor justo dos ativos líquidos da investida. A existência do ágio por rentabilidade futura está fundamentada na expectativa da investidora gerar lucros futuros com a aquisição desse negócio, ou seja, acreditar na capacidade desse negócio gerar riquezas futuras. 61 CONTABILIDADE SOCIETÁRIA É necessário que na data da aquisição da participação a coligada ou controlada determine o valor justo dos ativos líquidos assim como o valor contábil do seu patrimônio líquido. Embora a mais-valia e o ágio por rentabilidade futura integrem o valor contábil do investimento, para efeito de controle, é recomendável que sua contabilização seja segregada em contas distintas. • Ganho por compra vantajosa: é a diferença negativa entre o valor pago na aquisição da participação e o valor justo dos ativos líquidos da empresa. Esse ganho deve ser contabilizado como uma receita no resultado do período da investidora em contrapartida do investimento. Observação No balanço patrimonial da investidora, o ágio por rentabilidade futura deverá ser classificado no subgrupo investimentos no ativo não circulante, pois representa parte do custo do seu investimento. Já no balanço patrimonial consolidado, deverá ser classificado no subgrupo ativo intangível, também no ativo não circulante – ICPC 09 (R2). 5.4.2 Realização da mais-valia e do ágio por rentabilidade futura (goodwill) A mais-valia fundamenta-se na existência dos ativos líquidos cujo valor justo seja superior ao valor contábil. Dessa forma, a realização (amortização) deve ser feita proporcionalmente à baixa dos ativos e passivos que lhe deram origem. Adriano (2018) exemplifica a realização de mais-valia da seguinte forma: • no caso de estoques, quando de sua venda; • no caso de imobilizado, proporcionalmente à sua depreciação, baixa por alienação ou teste de recuperabilidade; • no caso de ativos intangíveis com vida útil definida, proporcionalmente à sua amortização, baixa por alienação ou teste de recuperabilidade. A realização de mais-valia deverá ser registrada na conta de resultado de equivalência patrimonial por meio do seguinte lançamento: D = resultado de equivalência patrimonial C = mais-valia – coligada ou controlada X Isso se justifica porque, caso a investida pudesse contabilizar, por exemplo, o imobilizado que deu origem à mais-valia, pelo valor justo, contabilizaria o reflexo da depreciação desse imobilizado em seu 62 Unidade II resultado. Dessa forma, a amortização de mais-valia de ativos líquidos representa um ajuste no resultado líquido da investida. Conclui-se que quando se tratar de mais-valia de ativos líquidos não sujeitos à depreciação, como terrenos e obras de arte ou de intangíveis com vida útil indefinida, não sofrerão amortização. A realização de mais-valia se dará quando da baixa dos respectivos ativos, por alienação, perdas ou pela aplicação do teste de recuperabilidade. O ágio por rentabilidade futura não deve ser amortizado, conforme o item 32 (a) do CPC 18 (R2): “o ágio fundamentado em rentabilidade futura (goodwill) relativo a uma coligada, a uma controlada ou a um empreendimento controlado em conjunto (neste caso, no balanço individual da controladora) deve ser incluído no valor contábil do investimento e sua amortização não é permitida” (CPC, 2013c). Deve, portanto, permanecer no subgrupo investimentos até sua efetiva baixa. Saiba mais Para saber mais sobre mais-valia e goodwill, leia o capítulo 11 do seguinte manual: FUNDAÇÃO INSTITUTO DE PESQUISAS CONTÁBEIS, ATUARIAIS E FINANCEIRAS (FIPECAFI). Manual de contabilidade societária: aplicável a todas as sociedades de acordo com as normas internacionais e do CPC. 3. ed. São Paulo: Atlas, 2018. Exemplo 1 A Cia. Mercúrio adquire, por R$ 15.000, 25% das ações da Cia. Netuno. O patrimônio líquido da Cia. Netuno, na data da negociação, era de R$ 50.000. Nas bases da negociação a Cia. Netuno complementa com as seguintes informações: • o valor justo de máquinas e equipamentos registradas no imobilizado vale R$ 2.000 a mais do que o valor que está contabilizado; • existe uma patente criada pela própriaempresa, e por isso não contabilizada que pode ser negociada, no mercado, por R$ 1.600. 63 CONTABILIDADE SOCIETÁRIA Pede-se: contabilizar a operação na data da negociação. Tabela 16 Cia. Netuno % de participação Valor justo Cia. Mercúrio Valor do PL na data da negociação 50.000 25% 12.500 Valor justo do imobilizado 2.000 25% 500 Valor justo da patente 1.600 25% 400 Mais-valia 900 Valor do patrimônio líquido a valor justo 53.600 25% 13.400 Ágio por rentabilidade futura 1.600 Valor pago na negociação 15.000 Contabilização D = participações – Cia. Netuno 12.500 D = mais-valia – Cia. Netuno 900 D = ágio por rentabilidade futura – Cia. Netuno 1.600 C = caixa e equivalentes de caixa 15.000 Exemplo 2 A Cia. Negociante iniciou entendimentos com os acionistas da Cia. Negociada para adquirir 40% de suas ações. Em 02/01/X8, para realizar o negócio, a Cia. Negociada fechou um balanço patrimonial a fim de demonstrar o patrimônio líquido naquela data. Em reunião entre os acionistas de ambas as companhias, eles analisaram o balanço entregue pelo contador da Cia. Negociada e complementaram com as seguintes informações: O patrimônio líquido da Cia. Negociada, em 02/01/X8, era de R$ 100.000. O valor justo dos ativos líquidos identificáveis da Cia. Negociada, em 02/01/X8, era R$ 150.000 e referia-se ao valor justo de um terreno que estava registrado pelo valor de custo. Ao fim da negociação, acertou-se que a Cia. Negociante pagaria pelos 40% das ações o valor de R$ 50.000. Pede-se a contabilização da operação na data da aquisição da participação. 64 Unidade II Tabela 17 Cia. Negociada % de participação Valor justo Cia. Negociante Valor do PL na data da negociação 100.000 40% 40.000 Valor justo dos ativos líquidos 50.000 40% 20.000 Mais-valia 20.000 Valor do patrimônio líquido a valor justo 150.000 40% 60.000 Ganho por compra vantajosa (10.000) Valor pago na negociação 50.000 Conforme informações dadas, o valor justo dos ativos líquidos era de R$ 150.000, o que significa que esse é o valor do patrimônio líquido a valor justo, portanto, o valor justo dos ativos era de R$ 50.000. (Ativos líquidos = patrimônio líquido) Contabilização D = participações – Cia. Negociada 40.000 D = mais-valia – Cia. Negociada 20.000 C = ganho por compra vantajosa (receita-resultado) 10.000 C = caixa e equivalentes de caixa 50.000 Exemplo 3 A Cia. Monte Alegre, em 31/12/X1, apresenta a seguinte situação no subgrupo de investimentos, com participações na Cia. Morro Bonito. Participações – Cia. Morro Bonito 100.000 Mais-valia – Cia. Morro Bonito 15.000 Ágio por rentabilidade futura – Cia. Morro Bonito 1.600 A participação da Cia. Morro Bonito foi adquirida em 01/01/X1, e a mais-valia foi justificada por máquinas e equipamentos que serão depreciados em dez anos, sem valor residual. Pede-se para registrar a realização (amortização) de mais-valia necessária para o fechamento do balanço patrimonial da Cia. Monte Alegre, em 31/12/X1. Solução A realização de mais-valia é feita proporcionalmente à baixa dos ativos que lhe deram origem. Como se trata de um imobilizado, ela é feita considerando a alienação ou é proporcional à depreciação. 65 CONTABILIDADE SOCIETÁRIA As máquinas e equipamentos que suportam a mais-valia serão depreciadas em dez anos, dessa forma, a realização da mais-valia será proporcional a esse período. Mais-valia = 15.000 ÷ 10 anos = 1.500 ao ano. Em 31/12/X1, o lançamento será: D = resultado de equivalência patrimonial 1.500 C = mais-valia – Cia. Morro Bonito 1.500 6 RESULTADOS NÃO REALIZADOS EM OPERAÇÕES INTERSOCIEDADES Um dos assuntos que mais sofreu alterações, a partir do alinhamento aos padrões internacionais, sem dúvida foi o tratamento dos lucros não realizados em operações entre sociedades coligadas e controladas. Os resultados não realizados ocorrem quando são realizadas operações de venda de ativos entre a investidora e coligada e entre controladora e controlada com lucros ou prejuízos. Quando esses ativos negociados, com lucros ou prejuízos no final do exercício, ainda não tiverem sido vendidos a terceiros e ainda constarem no ativo da sociedade compradora, surgirão os resultados não realizados e deverão ser eliminados para efeitos de apuração do resultado dessas sociedades. As operações intercompanhias não geram lucro (economicamente), a não ser quando esses bens forem vendidos para terceiros. As diversas empresas de um mesmo grupo econômico devem ser avaliadas como uma única entidade, ou seja, para efeito da aplicação do método da equivalência patrimonial, não devem ser computados os resultados não realizados decorrentes de negócios entre elas. Lembrete Os investidores costumam enxergar um grupo econômico de uma forma única, simplificada, como se fosse apenas uma empresa ou “família”. Então, usando essa analogia, se um pai ou uma mãe vender um bem para um filho com lucro ou prejuízo, para a família não gerou lucro nem prejuízo. Quando todos os ativos forem vendidos a terceiros, ou seja, quando não restarem mais ativos no balanço patrimonial da compradora, não existem mais resultados não realizados e, consequentemente, nenhum ajuste deverá ser feito. A eliminação dos resultados não realizados está prevista na Lei nº 6.404/76, inciso I. I – o valor do patrimônio líquido da coligada ou da controlada será determinado com base em balanço patrimonial ou balancete de verificação levantado, com observância das normas desta Lei, na mesma data, ou até 60 (sessenta) dias, no máximo, antes da data do balanço da companhia; 66 Unidade II no valor de patrimônio líquido não serão computados os resultados não realizados decorrentes de negócios com a companhia, ou com outras sociedades coligadas à companhia, ou por ela controladas (BRASIL, 1976). O CPC 18 (R2) trata de forma diferenciada os resultados não realizados para as coligadas e controladas. Para auxiliar o entendimento do referido CPC, o órgão emitiu a Interpretação Técnica ICPC 09 (R2), aprovada pelo CFC ITG 09 (R1), complementando de forma mais prática os esclarecimentos sobre lucros não realizados. Os itens 28 e 28-A classificam as operações em transações ascendentes (upstream) e descendentes (downstream). Uma transação é ascendente (upstream) quando a coligada vende para a investidora ou quando a controlada vende para a controladora. Uma transação é descendente (downstream) quando a investidora vende para a coligada ou a controladora vende para a controlada. Investidora Controladora Investidora Controladora Coligada Controlada Coligada Controlada Downstream Upstream Figura 9 Acentuamos a seguir o que dispõem esses itens: 28. Os resultados decorrentes de transações ascendentes (upstream) e descendentes (downstream), envolvendo ativos que não constituam um negócio, conforme definido pelo Pronunciamento Técnico CPC 15, entre o investidor (incluindo suas controladas consolidadas) e a coligada ou o empreendimento controlado em conjunto devem ser reconhecidos nas demonstrações contábeis do investidor somente na extensão da participação de outros investidores sobre essa coligada ou empreendimento controlado em conjunto, desde que esses outros investidores sejam partes independentes do grupo econômico ao qual pertence a investidora. As transações ascendentes são, por exemplo, vendas de ativos da coligada ou do empreendimento controlado em conjunto para o investidor. A participação da entidade no resultado de coligada ou empreendimento controlado em conjunto resultante dessas transações deve ser eliminada. As transações descendentes são, por exemplo, vendas de ativos do investidor para a coligada ou para o empreendimento controlado em conjunto. (Alterado pela Revisão CPC 08) 28A. Os resultados decorrentes de transações descendentes (downstream) entre a controladora e a controlada não devem ser reconhecidos nas demonstrações contábeis individuais da controladora enquanto os ativostransacionados estiverem no balanço de adquirente pertencente ao mesmo 67 CONTABILIDADE SOCIETÁRIA grupo econômico. O disposto neste item deve ser aplicado inclusive quando a controladora for, por sua vez, controlada de outra entidade do mesmo grupo econômico (CPC, 2013c, p. 9-10). 6.1 Venda com lucro da investidora para uma coligada ou empreendimento controlado em conjunto – CPC 18 (R2), item 28; ICPC 09 (R2), itens 48 a 52 Nas operações de downstream, de venda de ativos da investidora para a coligada, os lucros obtidos em operações de ativos que ainda permaneçam na coligada são considerados lucros não realizados na proporção da participação da investidora na coligada. As parcelas do lucro proporcional à participação dos demais sócios na coligada devem ser realizadas na investidora. Apenas a parcela relativa à sua própria participação deve ser considerada não realizada. Exemplo A Cia. Silva participa com 40% no capital da investida, Cia. Souza. A investidora vende mercadorias para coligada por R$ 300.000, com lucro de 25%. No final do exercício a coligada ainda mantém em seus estoques metade dessas mercadorias adquiridas. Vamos admitir que a única movimentação no patrimônio líquido da Cia. coligada no período foi o lucro líquido do exercício no valor de R$ 100.000. Pede-se: calcule os lucros não realizados a serem excluídos pela investidora. Desconsidere os efeitos tributários. 1. Calcular o lucro contido na venda da investidora para a Cia. Coligada Venda de mercadorias 300.000 Lucro (25%) 75.000 Desse lucro permanecem nos estoques da coligada 50% = 37.500 2. Calcular o lucro não realizado Tabela 18 Lucro líquido da Cia. Coligada 100.000 Percentual de participação 40% Resultado de equivalência patrimonial 40.000 Lucros não realizados contidos nos estoques da Cia. Coligada 37.500 Percentual de participação 40% Lucros não realizados com coligadas 15.000 68 Unidade II Contabilização D = investimentos em coligadas 40.000 C = resultado de equivalência patrimonial 40.000 D = lucros não realizados com coligadas (resultado) 15.000 C = lucros a realizar com coligadas (redutora de investimento) 15.000 Reflexo na demonstração do resultado do exercício da Cia. Investidora: Resultado de equivalência patrimonial 40.000 (-) Lucros não realizados com coligadas (15.000) 25.000 Reflexo no balanço patrimonial da Cia. Investidora: Investimentos em coligadas Valor do investimento (-) Lucros a realizar com coligadas (15.000) 6.2 Venda com lucro da coligada (ou empreendimento controlado em conjunto) para a investidora – CPC 18 (R2), item 28; ICPC 09 (R2), itens 53 e 54 Nas operações de upstream, de venda de ativos da coligada para a investidora (ou empreendimento controlado em conjunto), devem ser eliminados os lucros não realizados por operação de ativos ainda em poder da investidora. Vejamos como devem ser eliminados: aplicar o percentual de participação sobre o lucro líquido da coligada deduzido o total do lucro que for considerado como não realizado pela investidora e contabilizar como resultado de equivalência patrimonial. Exemplo Vamos utilizar os dados do exemplo anterior, só que, agora, considerando que a venda seja feita pela coligada para a investidora. 1. Calcular o lucro contido na venda da coligada para a investidora Venda de mercadorias 300.000 Lucro (25%) 75.000 Desse lucro permanecem nos estoques da investidora 50% = 37.500 69 CONTABILIDADE SOCIETÁRIA 2. Calcular o lucro não realizado Tabela 19 Lucro líquido da Cia. Coligada 100.000 (-) Lucros não realizados contidos nos estoques da Cia. Investidora (37.500) Lucro líquido ajustado para fins de MEP 62.500 Percentual de participação 40% Resultado de equivalência patrimonial 25.000 Contabilização D = investimentos em coligadas 25.000 C = resultado de equivalência patrimonial 25.000 Cálculo do lucro não realizado efetivamente eliminado REP antes dos lucros não realizados (100.000 x 40%) 40.000 REP após lucros não realizados (25.000) Lucro não realizado efetivamente eliminado (40% x 37.500) 15.000 Observação REP significa resultado de equivalência patrimonial. 6.3 Venda com lucro da controladora para a controlada – CPC 18 (R2), itens 28A a 28C; ICPC 09 (R2), itens 55 a 55C Nas operações de downstream, de venda de ativos da controladora para a controlada, os lucros não realizados devem ser totalmente eliminados. Os lucros não realizados devem ser excluídos no resultado da controladora deduzindo-se 100% dos lucros contidos nos ativos ainda em poder da compradora (controlada) da seguinte forma: aplicar o percentual de participação sobre o lucro líquido da controlada e contabilizar como resultado de equivalência patrimonial. Exemplo Vamos utilizar os dados do exemplo anterior, só que, agora, considerando que a venda seja feita pela controladora para a controlada. Por se tratar de controladora e controlada, vamos admitir um percentual de participação de 60%. 70 Unidade II 1. Calcular o lucro contido na venda da controladora para a controlada Venda de mercadorias 300.000 Lucro (25%) 75.000 Desse lucro permanecem nos estoques da controlada 50% = 37.500 2. Calcular o lucro não realizado Tabela 20 Lucro líquido da Cia. Controlada 100.000 Percentual de participação 60% Resultado de equivalência patrimonial 60.000 Lucros não realizados contidos nos estoques da Cia. Controlada 37.500 Resultado da equivalência patrimonial após eliminação 22.500 Contabilização D = investimentos em controladas 60.000 C = resultado de equivalência patrimonial 60.000 D = lucros não realizados com controladas (resultado) 37.500 C = lucros a realizar com controladas (redutora de investimento) 37.500 Reflexo na demonstração do resultado do exercício da Cia. Controladora: Resultado de equivalência patrimonial 60.000 (-) Lucros não realizados com controladas (37.500) 22.500 Reflexo no balanço patrimonial da Cia. Controladora: Investimentos em controladas Valor do investimento (-) Lucros a realizar com controladas (37.500) 6.4 Venda com lucro da controlada para a controladora – CPC 18 (R2), itens 28A, 28B e 28C; ICPC 09 (R2), itens 56 a 56B Nas operações de upstream, de venda da controlada para a controladora, o lucro deve ser reconhecido na controlada normalmente. Nas demonstrações individuais da controladora, o cálculo da equivalência patrimonial deve ser feito deduzindo-se do patrimônio líquido da controlada, isto é, 100% do lucro contido no ativo em poder da controladora. 71 CONTABILIDADE SOCIETÁRIA Exemplo Vamos utilizar os dados do exemplo anterior, só que, agora, considerando que a venda seja feita pela controlada para a controladora. Por se tratar de controladora e controlada, vamos admitir um percentual de participação de 60%. 1. Calcular o lucro contido na venda da controlada para a controladora Venda de mercadorias 300.000 Lucro (25%) 75.000 Desse lucro permanecem nos estoques da controladora 50% = 37.500 2. Calcular o lucro não realizado Tabela 21 Lucro líquido da Cia. Controlada 100.000 (-) Lucros não realizados contidos no estoque da Cia. Controladora (37.500) Lucro líquido ajustado para fins de MEP 62.500 Percentual de participação 60% Resultado da equivalência patrimonial 37.500 Contabilização D = investimentos em controladas 37.500 C = resultado de equivalência patrimonial 37.500 Cálculo do lucro não realizado efetivamente eliminado REP antes dos lucros não realizados (100.000 x 60%) 60.000 REP após lucros não realizados 37.500 Lucro não realizado efetivamente eliminado (37.500 x 60%) 22.500 Saiba mais É imprescindível a leitura do CPC 18 (R2) e da ICPC 09 (R2), normas que definem a aplicação do método da equivalência patrimonial. COMITÊ DE PRONUNCIAMENTOS CONTÁBEIS (CPC). Pronunciamento Técnico CPC 18 (2) – Investimento em Coligada, Controlada e em Empreendimento Controlado em Conjunto. CPC, 2013c. Disponívelem: <http://static.cpc.aatb.com.br/Documentos/263_CPC_18_(R2)_rev%2013. pdf>. Acesso em: 24 abr. 2019. 72 Unidade II ___. Pronunciamento Técnico ICPC 09 (2) – Demonstrações Contábeis Individuais, Demonstrações Separadas, Demonstrações Consolidadas e Aplicação do Método de Equivalência Patrimonial. CPC, 2009. Disponível em: <http://static. cpc.aatb.com.br/Documentos/494_ICPC_09_(R2)_rev%2009.pdf>. Acesso em: 24 abr. 2019. Resumo Nesta unidade, tratamos especificamente da aplicação da técnica da equivalência patrimonial e todos os aspectos que envolvem seu cálculo e sua contabilização. Vimos que a aplicação dessa técnica consiste em aplicar, nos investimentos da investidora, o percentual de participação no patrimônio líquido da investida. A demonstração contábil apropriada para a avaliação de investimentos pela equivalência patrimonial é a demonstração das mutações do patrimônio líquido da investida. Para tanto, a aplicação da técnica exige estudo e acompanhamento contínuo do patrimônio líquido da empresa que está sendo avaliada por esse método. Todas as alterações ocorridas no patrimônio líquido da investida são refletidas nos investimentos da investidora proporcionalmente ao percentual de participação. Assim, as duas informações imprescindíveis para a aplicação do método são: o percentual de participação e as mutações do patrimônio líquido da investida. Também ilustramos os reflexos da mudança de variação percentual da investidora e os impactos provocados em suas demonstrações contábeis. As sociedades podem deliberar aumentar o capital social para diferentes finalidades, entre elas, fatores estratégicos, aumentar o caixa e até criar ou desenvolver novos projetos. Esse aumento de capital é fixado pelos acionistas em assembleia geral. Quando a empresa aumenta o capital social com a emissão de novas ações, os atuais acionistas têm preferência na subscrição dessas novas ações proporcionalmente ao número de ações detidas naquela data. Se todos os acionistas fizerem uso dessa prerrogativa, não será preciso fazer qualquer alteração do percentual de participação. Contudo, se algum acionista não exercer o direito preferência, abrirá a oportunidade de outros acionistas aumentarem o percentual de participação antes existente, o que provocará a apuração de ganhos ou perdas por variação percentual. Esses ganhos e perdas deverão ser registrados como outros resultados abrangentes diretamente no patrimônio líquido da investidora. Outro ponto importante focado nesta unidade foi o tratamento do reconhecimento inicial do investimento. Muitas vezes, a negociação não se dá pelo valor patrimonial do investimento. Nesse caso, o custo de aquisição 73 CONTABILIDADE SOCIETÁRIA pode ser desdobrado em: valor do patrimônio líquido na data da aquisição, mais-valia e ágio por rentabilidade futura (goodwill). A determinação da mais-valia deve ser feita por meio de laudo elaborado por peritos independentes conhecedores do negócio. Já o ágio por rentabilidade futura é o valor pago a mais em relação ao valor justo dos ativos líquidos da investida. Quando o valor pago for menor que o valor justo dos ativos líquidos, tem-se o ganho por compra vantajosa. Por fim, estudamos os resultados não realizados em operações intersociedades, um tema que passou por grandes alterações nos últimos tempos e que, em geral, apresenta maior dificuldade de entendimento. A respeito do assunto, os pronunciamentos contábeis tratam de forma diferenciada os resultados não realizados de coligadas e de controladas. Para tal, destacamos exemplos para esclarecer a questão. Exercícios Questão 1. A composição do capital social da empresa Tales of Avalon é a seguinte: 240.000 ações ordinárias e 240.000 ações preferenciais ao valor nominal de R$ 1,00 por ação. A empresa Seven Son adquire 124.800 ações ordinárias e 96.000 ações preferenciais, sem ágio nem deságio. No primeiro exercício, após a negociação, a Tales of Avalon divulga a apuração de um lucro líquido do exercício de R$ 180.000 e distribuição de dividendos no valor de R$ 36.000. Com base nessas informações, avalie as afirmativas a seguir. I – A Tales of Avalon é uma controlada da Seven Son. PORQUE II – A Seven Son detém mais do que 50% do capital votante da Tales of Avalon e os investimentos devem ser avaliados pelo método de custo. Considerando o exposto, é correto afirmar que: A) A primeira afirmativa é falsa, e a segunda é verdadeira. B) A primeira afirmativa é verdadeira, e a segunda é falsa. C) As duas são falsas. D) As duas afirmativas são verdadeiras, e a segunda justifica a primeira. E) As duas afirmativas são verdadeiras, e a segunda não justifica a primeira. Resposta correta: alternativa B. 74 Unidade II Análise das afirmativas I – Afirmativa verdadeira. Justificativa: a Seven Son detém 52% das ações ordinárias da Tales of Avalon, o que caracteriza empresa controlada. Vejamos os números. Tabela 22 Quantidade de ações Empresas Ordinárias Preferenciais Total Seven Son 124.800 96.000 220.800 Tales of Avalon 240.000 240.000 480.000 % de participação 52% 40% 46% II – Afirmativa falsa. Justificativa: como a Seven Son detém mais do que 50% do capital votante da Tales of Avalon (52%), os investimentos devem ser avaliados pelo método da equivalência patrimonial. Questão 2. A empresa Zaraplasta adquiriu, em 01.01.X0, 56% do total das ações do capital da empresa Morosol pelo valor total de R$ 105.840. A Morosol tinha um patrimônio líquido nesta data de R$ 189.000, apurou lucro de R$ 12.400 no exercício social de X0 e declarou dividendos de R$ 5.800 em 31.12.X0. Sabendo-se que os investimentos são avaliados pelo método de equivalência patrimonial, o valor do investimento da Zaraplasta em 31.12.X0 é de: A) 105.700. B) 109.536. C) 124.040. D) 175.302. E) 169.502. Resolução desta questão na plataforma.
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