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Teorias do Conhecimento 02 1. O que Consiste a Teoria do Conhecimento 4 2. Problemas Centrais da Teoria do Conhecimento 11 3. O Processo de Construção do Conhecimento 18 Saber e Conhecer: Diferentes Compreensões 20 4. A Epistemologia 25 Internalismo a Externalismo 27 Espistemologia Cética Contra Anti-Cartesianismo 28 5. Referências Bibliográficas 35 03 4 TEORIAS DO CONHECIMENTO 1. O que Consiste a Teoria do Conhecimento Fonte: Ventilation Solution1 ote que a reflexão sobre a na- tureza da formação do nosso conhecimento dá ascendência a di- versos desconcertantes problemas filosóficos, que compõem a discipli- na teoria do conhecimento, ou Epis- temologia. Logo, a maior parte desses complicadores foi discutida pelos gregos antigos e, mesmo hoje, a anuência é insignificante sobre a forma como precisariam ser resolvi- dos ou, em circunstancia de tal não ser admissível, abandonados. 1 Retirado em http://ventilationsolution.com Desse modo, apresentaremos a seguir sete temas centrais desse discursão, logo, poderemos compre- ender, de forma geral, a natureza desses problemas. 1. Qual é a distinção entre conhe- cimento e opinião verdadeira? Se um homem teve um palpite acertado ("Eu diria que é o sete de ouros"), mas não sabe realmente; e outro ho- mem sabe, mas não diz, e não pre- cisa adivinhar; o que é que o segun- do homem tem (se assim podemos dizer) que falta ao primeiro? Pode- N 5 TEORIAS DO CONHECIMENTO se dizer, é claro, que o segundo ho- mem tem a prova evidente e que o primeiro não a tem, ou que algo é evidente para um que não é para o outro. Mas o que é prova evidente e como decidiremos, em qualquer caso determinado, se temos ou não prova? Essas perguntas têm suas análogas tanto na Filosofia Moral como na Lógica. O que significa um ato estar certo e como decidiremos, em qualquer caso determinado, se um certo ato está certo ou não? O que significa uma inferência ser vá- lida e como decidiremos, num deter- minado caso, se uma dada inferência é ou não válida? 2. A nossa prova para algumas coisas, ao que parece, consiste no fa- to de termos provas para outras coi- sas. "A minha prova de que ele cum- prirá sua promessa é o fato dele ter dito que cumpriria a sua promessa. E a minha prova de que ele disse que cumpriria a sua promessa é o fato de que. . ." Devemos dizer de tudo aqui- lo para o que temos prova que a nos- sa prova consiste no fato de termos prova para alguma outra coisa? Se tentarmos formular, socraticamen- te, a nossa justificação para qual- quer pretensão particular de conhe- cimento ("A minha justificação para pensar que sei que A é o fato de que B") e se formos inexoráveis em nossa investigação ("e a minha justificação para pensar que sei que B é o fato de que C"), chegaremos, mais cedo ou mais tarde, a uma espécie de fim de linha ("mas a minha justificação para pensar que sei que N é simples- mente o f ato de que N"). Um exem- plo de N poderá ser o fato de que me parece recordar que já estive aqui antes ou o fato de que alguma coisa, agora, me parece azul. Esse tipo de interrupção pode ser descrito de duas maneiras bastante diferentes. Poderíamos dizer: "Há certas coisas (por exemplo, o fato de que me pa- rece recordar ter aqui estado antes) que são evidentes para mim e que o são de tal forma que a minha prova de evidência para essas coisas não consiste no fato de haver certas ou- tras coisas que são evidentes para mim" (CHISHOLM, 2010). Ou poderíamos articular, de modo alternado: "Há certas coisas (por exemplo, o fato de que me pa- rece recordar ter aqui estado antes) das quais não se pode dizer que se- jam evidentes, em si mesmas, mas que se parecem com o que se pode considerar evidente, na medida em que funcionam como prova evidente para certas outras coisas." (CHI- SHOLM, 1966). Ambas formulações exclusiva- mente pareceriam dessemelhantes verbalmente. Se seguirmos a primei- 6 TEORIAS DO CONHECIMENTO ra, poderemos assegurar que deter- minados elementos são diretamente manifestos. 3. As coisas que ordinariamente dizemos que conhecemos não são coisas, portanto, "diretamente evi- dentes". Mas, ao justificarmos a pre- tensão de conhecimento de qualquer uma dessas coisas particulares, po- demos ser levados de novo, da ma- neira descrita, às várias coisas que são diretamente evidentes. Devería- mos dizer, portanto, que o conjunto daquilo que conhecemos, em qual- quer momento dado, é uma espécie de "estrutura", que tem seu "funda- mento" no que acontece ser direta- mente evidente, nesse momento? Se dissermos isso, deveremos estar en- tão preparados para explicar de que maneira esse fundamento serve de apoio ao resto da estrutura. Mas essa questão é difícil de responder, visto que o apoio dado pelo fundamento não seria dedutivo nem indutivo. Por outras palavras, não é o gênero de apoio que as premissas de um ar- gumento dedutivo dão à sua conclu- são, nem é o gênero de apoio que as premissas de um argumento indu- tivo dão à sua conclusão. Pois, se to- marmos como nossas premissas o conjunto do que é diretamente evi- dente em determinado momento, não podemos formular um bom ar- gumento dedutivo, nem um bom ar- gumento indutivo, em que qualquer das coisas que ordinariamente dize- mos que conhecemos apareçam como uma conclusão (CHISHOLM, 2010). Deste modo, quem sabe se dê o acontecimento de, acolá das "re- gras de dedução", assim como as "regras de indução", houverem além disso certas "regras de evidência" fundamentais. O lógico dedutivo tenta estabelecer o primeiro modelo de regras; o lógico indutivo, sendo o segundo; e o epistemologista busca compor as regras do terceiro tipo. 4. Pode-se perguntar: "0 que é que sabemos? Qual é a extensão do nosso conhecimento?" Poder-se-á também perguntar: "Como decidir, em qualquer caso particular, se sa- bemos ou não? Quais são os critérios de conhecimento, se porventura existem?" 0 "problema do critério" resulta do fato de que, se não tiver- mos resposta para o segundo par de perguntas, não disporemos, nesse caso, aparentemente, de um proce- dimento razoável para encontrar resposta para o primeiro; e, se não tivermos resposta para o primeiro par de perguntas, não teremos en- tão, aparentemente, um processo ra- zoável de encontrar a resposta do se- 7 TEORIAS DO CONHECIMENTO gundo. 0 problema poderá ser for- mulado mais especificamente para diferentes matérias - por exemplo, o nosso conhecimento (se houver) de "coisas externas", "outros espíritos", "certo e errado", as "verdades da Te- ologia" (CHISHOLM, 2010). Muitos filósofos, claramente sem razão aceitável, abeirar-se algu- mas dessas variantes mais caracte- rísticas do problema do critério de acordo com um ponto de vista, de forma que outros as enfrentam de um ponto de vista muito díspar. 5. O nosso conhecimento (se houver) do que por vezes denomina- mos as "verdades da razão" - as ver- dades da Lógica e da Matemática e o que se expressa por "Uma superfície que é toda vermelha também não é verde" - dota-nos com um exemplo particularmente instrutivo do pro- blema de critério. Alguns filósofos acreditam que qualquer teoria satis- fatória do conhecimento deve ser adequada ao fato de que algumas das verdades da razão, tal como tra- dicionalmente são concebidas, não estão entre as coisas que conhece- mos. Outros, ainda, procuram sim- plificar o problema afirmando que as chamadas "verdades da razão" só pertencem realmente, de algum mo- do, a maneira como as pessoas pen- sam ou a maneira como empregam sua linguagem (CHISHOLM, 2010). Entretanto, uma vez que essas implicações sejamequacionadas com exatidão, assim, perdem toda e qualquer possibilidade que clara- mente tenham tido, no início. 6. Outros problemas da teoria do conhecimento poderiam designar- se, apropriadamente, por "metafísi- cos". Abrangem certas questões so- bre as maneiras como as coisas nos parecem. As aparências que as coi- sas apresentam para nós quando, di- gamos, as percebemos, parecem ser subjetivas na medida em que depen- dem, para a sua existência e natu- reza, do estado do cérebro. Este sim- ples fato levou os filósofos, talvez com excessiva facilidade, a estabele- cerem algumas conclusões extre- mas. Alguns afirmaram que as apa- rências das coisas externas devem ser duplicatas internas dessas coisas - que, quando um homem percebe um cão, uma tênue réplica do cão é produzida dentro da cabeça do ho- mem. Outros disseram que as coisas externas devem ser bastante distin- tas do que ordinariamente aceita- mos que elas sejam - que as rosas não podem ser vermelhas quando ninguém está olhando para elas (CHISHOLM, 2010). 8 TEORIAS DO CONHECIMENTO Também outros afiançaram que as coisas físicas carecem-se compor, de uma certa forma, de ex- terioridades; e existiu também quem articulasse que as aparências neces- sitam ser compostas, de determina- do modo, de coisas físicas. A dificul- dade desvirtuou até alguns filósofos a averiguarem se haverá coisas físi- cas e outros, mais de modo recente, a averiguarem se existirão aparên- cias. 7. O "problema da verdade" po- derá parecer um dos mais simples da teoria do conhecimento. Se disser- mos a respeito de um homem, `'Ele acredita que Sócrates é mortal", e depois acrescentarmos, "E o que é mais, sua crença é verdadeira", en- tão o que acrescentamos não é, cer- tamente, mais do que isto: Sócrates é mortal. E "Sócrates é mortal" diz- nos tanto quanto "é verdade que Só- crates é mortal". Mas que acontece- ria se disséssemos, a respeito de um homem, que algumas de suas cren- ças são verdadeiras, sem especificar- mos que crenças? Que propriedade, nesse caso, estaríamos atribuindo à sua crença? Suponha-se que dize- mos: "0 que ele está dizendo agora é verdade", quando acontece que o que ele está dizendo agora é o que nós estamos agora dizendo que é fal- so, seja o que for. Nesse caso, estare- mos dizendo algo que é verdadeiro ou dizendo algo que é falso? Final- mente, qual é a relação entre as con- dições da verdade e os critérios de evidência? (CHISHOLM, 2010). Dessa forma, somos provas adequadas, presumivelmente, para confiar que existe nove planetas. Es- sa prova incide em diversos outros aspectos que temos ciência a respei- to de Astronomia, todavia não com- preende, em si, o fato de que têm nove planetas. Pareceria logicamente possível, portanto, que um homem tives- se boas provas para uma crença que, não obstante, é uma crença que é falsa. Significará isso que o fato de existirem nove plane- tas, se porventura for um fato, é realmente algo que não pode ser evidente? Deveríamos dizer, portanto, que ninguém sabe, realmente, se existem nove pla- netas? Ou deveríamos dizer que, embora seja possível saber que existem nove planetas. Não é possível saber que sabemos existirem nove planetas? (CHISHOLM, 2010). Ou as provas de que temos pa- ra confiar que existem nove planetas afiançam, de determinada forma, que o crédito é verdadeiro e avali- zam, deste modo, que existe nove planetas? Tais indagações, e proble- mas como esses, compõem o contex- to da teoria do conhecimento. 9 TEORIAS DO CONHECIMENTO Por fim, um determinado nú- mero deles, como o leitor já experi- mentará, é meramente o resultado de desordem; e, visto que a exposta a confusão, os complicadores desa- parecem. Entretanto outros, como está disciplina ambiciona mostrar, são um tanto mais complexos de tra- tar. 11 TEORIAS DO CONHECIMENTO 2. Problemas Centrais da Teoria do Conhecimento Fonte: Traffic Technology2 que é de fato o conhecimento? Veja que na tentativa de pro- porcionar uma resposta apropriada para esse questionamento, Platão exibe em sua obra Teeteto um diálo- go realizado por Sócrates e Teeteto, um jovem matemático. Nessa con- versa, Platão dá grande ênfase à ha- bilidade filosófica de distinguir o verdadeiro do falso, acatada como o ponto de partida para qualquer ten- tativa de entender a natureza do co- nhecimento. Desse modo, Sócrates se com- para às parteiras (apesar que se jul- gue superior a elas), no qual ele acre- 2 Retirado em http:// traffictechnologytoday.com dita que o trabalho para ser propria- mente realizado pelas mulheres que, ao chegarem certa idade, já não po- dem reproduzir, entretanto tem mais conhecimento do que as ou- tras, assim quando uma mulher está gestante, elas possuem os caminhos para ajudá-las no parto. A suposta superioridade do parto das ideias em relação ao parto biológico residiria na sua capacidade de auxiliar a refle- xão filosófica na difícil tarefa de determinar critérios de distin- ção entre o verdadeiro e o falso. Na seguinte passagem, Sócrates explica em que consiste sua ale- O Highlight Highlight Highlight Highlight 12 TEORIAS DO CONHECIMENTO gada superioridade: Sócrates - ... A minha arte obstétrica tem atribuições iguais às parteiras, com a diferença de eu não par- tejar mulher, porém homens, e de acompanhar as almas, não os corpos, em seu trabalho de parto. Porém a grande superio- ridade da minha arte consiste na faculdade de conhecer de pronto se o que a alma dos jo- vens está na iminência de con- ceber é alguma quimera e falsi- dade ou fruto legítimo e verda- deiro. Neste particular, sou igualzinho as parteiras: estéril em matéria de sabedoria, tendo grande fundo de verdade a cen- sura que muitos me as assacam, de só interrogar os outros, sem nunca apresentar opinião pes- soal sobre nenhum assunto, por carecer, justamente, de sabedo- ria ...” (Teeteto, VII, p. 10, 150c- d) O pressuposto platônico de que a tarefa do filósofo é a de auxiliar na busca de verdades, deixou raízes profundas na tra- dição filosófica clássica e tam- bém no pensamento contempo- râneo. Neste tópico estaremos questionando esse pressuposto, indicando algumas dificuldades a que ele parece conduzir (apud, GUTIERRE; GONZA- LES; BROENS, 2011). Logo, uma primeira complexi- dade, já preconizada no diálogo Tee- teto, versa em estabelecer a procura de verdades baseada nas sensações, que nos escoltam como uma fonte visivelmente segura para conduzir a atuação desde os primitivos conta- tos com o mundo. A dificuldade nasce por conta do caráter singular (relativo ao su- jeito) mediante aquilo que se sente, visto que as sensações parecem mu- dar segundo o estado daquele que os experimenta. Assim, aquilo que é sentido, a título de exemplo, como acrimonioso por alguma pessoa po- de ser entendido como doce por ou- trem, segundo o estado de cada um. Em consequência, aquilo que é verdadeiro para um não será verdadeiro para o outro: o rela- tivismo parece inevitável se fundamentarmos o que enten- demos por conhecimento nas sensações. Segundo a interpre- tação platônica, sensação e apa- rência se equivalem, o que con- duz à análise do conhecimento em termos do fluxo do movi- mento das coisas, tais como elas nos aparecem. O diálogo platô- nico conduz à conclusão de que a identificação do conhecimen- to à sensação leva à impossibili- dade de se ultrapassar os limi- tes do indivíduo que vivência tais sensações. Uma segunda dificuldade, também tratada no Teeteto, diz respeito à distinção entre conhecimento e opinião verdadeira. Existiria alguma di- ferença relevante entre uma pessoa dotada de conhecimento e outra que apenas possui uma opinião verdadeira? Considere- mos, por exemplo,a opinião de uma pessoa segundo a qual o Brasil seria derrotado na copa do mundo de 2010. Uma vez confirmada, a sua opinião se mostra verdadeira, mas quando 13 TEORIAS DO CONHECIMENTO indagada sobre as razões que a levaram a proferir tal opinião ela afirma que uma borboleta verde e amarela lhe antecipou o resultado do jogo (apud, GU- TIERRE; GONZALES; BRO- ENS, 2011). Nessas circunstâncias, tende- ríamos a ponderar que tal indivíduo não possuía verdadeiramente a ciên- cia sobre a classificação do Brasil na copa. Isso pois ela não exibiu uma justificação racional avaliada ade- quada para fundamentar o seu jul- gamento sobre o acontecimento em questão. Outro exemplo análogo, apa- rentemente menos problemá- tico, seria aquele de um jovem que acredita existir vida em Marte com base na leitura de histórias em quadrinhos. Tendo atualmente evidências cienti- fica da possibilidade de existên- cia de vida em Marte, a opinião do jovem pode vir a se mostrar verdadeira. O que fica implícito nesses exemplos é que a forma de justificação racional, apoi- ada em evidências apropriadas, constituiria o fator diferencia- dor entre conhecimento e opi- nião verdadeira (apud, GU- TIERRE; GONZALES; BRO- ENS, 2011). Johannes Kepler Fonte: http://fisicadaonda.blogspot.com 14 TEORIAS DO CONHECIMENTO Dessa forma, uma caracteriza- ção efêmera do conhecimento, apro- visionada por Platão no diálogo Tee- teto, consiste na opinião verdadeira racionalmente abonada. Nada obs- tante, o que torna as proeminências dos exemplos exibidos mensageiros de legítimo poder justificador (ló- gico) do conhecimento? Um revide trivial a esta questão observa que as proeminências consideradas rele- vantes possibilitam a constituição de sistemas explicativos bem acertados. Logo, esses sistemas podem ser compreendidos como contíguos de hipóteses uniformizadas e orga- nizadas segundo os princípios, com- partilhados por um grupo de pesqui- sadores, cujos aprovam a justifica- ção racional de apreciações verda- deiras, tais como a previsão do even- to de ocorrências no mundo. Um exemplo bem conhecido de elaboração de um tal sistema foi dado por Johannes Kepler (1571-1630) na explicação da órbita elíptica do movimento de Marte. Até o século XVII, o mo- vimento dos astros era enten- dido como expressão da perfei- ção divina e considerado circu- lar. Como ressalta Norwood R. Hanson (1958), Kepler, na ten- tativa de verificar os dados re- gistrados por Tycho Brahe (1546-1601) sobre o movimento de Marte, encontrou dificulda- des aparentemente insuperá- veis até o momento em que ela- borou um novo sistema explica- tivo. Ao abandonar os pressu- postos geocêntricos do sistema explicativo ptolomaico, adotan- do em seu lugar a cosmologia copernicana, Kepler propôs um novo conjunto de hipóteses que fundamentou um sistema heli- ocêntrico, a partir do qual os dados fornecidos por Ticho Brahe puderam ser compreen- didos e explicados (apud, GU- TIERRE; GONZALES; BRO- ENS, 2011). Além do mais, a partir desse novo sistema, a presciência das posi- ções do planeta Marte pôde ser con- cretamente feita e empiricamente confirmada. Tycho Brahe Fonte: http://fisicadaonda.blogs- pot.com A desenvoltura de arquitetar sistemas explicativos, logicamente justificados, e em certos episódios, empiricamente confirmados distin- guiria, nesse aspecto, o conhecimen- to da simples opinião: o, conheci- mento, de tal modo, seria crença exata racionalmente justificada um 15 TEORIAS DO CONHECIMENTO fator interno de um sistema explica- tivo. Logo, a concepção alcunhada sistêmica do conhecimento é tão-so- mente uma das diversas tentativas de encarar as dificuldades erguidas pela problemáticas do Teeteto. Al- ternativas a este entendimento são vistas ainda na antiguidade, por al- guns céticos, tais como Crátilo (sé- culo V a.C.), e ainda por filósofos re- lativistas, bem como Protágoras (480 a 410 a.C.) e por fim, ainda na contemporaneidade defendido por Richard Rorty (1931-2007) o resu- mos de seus ideias encontra-se nos materiais complementares, entre outros. Mesmo com as diferentes pers- pectivas adotadas por esses fi- lósofos, entendemos que o pro- blema da distinção entre o co- nhecimento e a opinião verda- deira ainda se coloca. No caso da proposta sistêmica, como sa- ber se um sistema será adequa- do para explicar racionalmente novos eventos? Que critério de relevância adotaremos para isso? Afinal, a história da ciên- cia mostra que, não por acaso, o sistema ptolomaico, apesar de equivocado, perdurou por mui- tos séculos. A dificuldade de ex- plicitar um critério de relevân- cia, segundo o qual uma expli- cação possa ser considerada ra- cionalmente justificada, traz de volta o problema do Teeteto, que permanece não resolvido (apud, GUTIERRE; GONZA- LES; BROENS, 2011). Representação do sistema cosmológico ptolomaico Fonte: http://fisicadaonda.blogs- pot.com Para uma conclusão provisória e assim encerrar esta parte, é que se- melha que incidimos em um cami- nho vicioso quando tentamos resol- ver o problema do Teeteto, porquan- to a tentativa bem ocorrida de dife- renciar conhecimento de opinião exata fundamentada em explicações logicamente justificadas, parece de- mandar, ela própria, conhecimento. Ao verificar essa complexida- de, o próprio Platão, ao final de seu diálogo com Teeteto, abandona a probabilidade de se compreender que o conhecimento como opinião verdadeira coligada à elucidação ra- cional, visto que esta solicita conhe- cimento para ser caracterizada como tal. Nesse sentido, ele conclui: Ora, será o cúmulo da simplicidade, 16 TEORIAS DO CONHECIMENTO estando nós à procura do co- nhecimento vir alguém dizer- nos que é a opinião certa aliada ao conhecimento, seja da dife- rença ou do que for. Desse mo- do, Teeteto, conhecimento não pode ser nem sensação, nem opinião verdadeira, nem a ex- plicação racional acrescentada a essa opinião.” (Teeteto, p. 76, 209a) Inúmeras discussões contemporâneas do problema do Teeteto podem ser encontra- das na literatura filosófica, des- tacando-se aquelas propostas por Chisholm (1966) e Ayer (1975), Gettier (1963) e Dretske (1981), cuja leitura permitirá ao leitor interessado acompanhar o desdobramento atual dessa temática (apud, GUTIERRE; GONZALES; BROENS, 2011). Assim, passemos agora ao es- tudo das da construção do conheci- mento. 18 TEORIAS DO CONHECIMENTO 3. O Processo de Construção do Conhecimento Fonte: Sociologia Llíquida3 ote que abordaremos sobre o processo de construção do co- nhecimento iniciando pelos pensa- mentos de Bombassaro (1992, p. 13- 25) e, para conhecer mais sobre o grande professor, solicita-se que leia a entrevista - CONVERSA COM LUIZ CARLOS BOMBASSARO - dis- ponível em: https://lume.ufrgs.br/bitstream/ha ndle/10183/214276/001118840.pdf ?sequence=1&isAllowed=y A partir da página 19 em dian- te. 3 Retirado em https://sociologialiquida.org/ Note que desde a existência humana, o homem constitui cone- xões com ele próprio e com o meio vivente. Essas relações que se dão através da dimensão comunicacio- nal, intercâmbios constituídos por códigos simbólicos que possibilitam a troca, a compartilha e construção do mundo. A capacidade racional, portan- to, distingue o homem dos ou- tros animais e permite a ele, in- terpretar, enunciar, argumen- tar e abstrair. Contudo, além de sua racionalidade, distingue-se o homem também pela sua his- N https://lume.ufrgs.br/bitstream/handle/10183/214276/001118840.pdf?sequence=1&isAllowed=y https://lume.ufrgs.br/bitstream/handle/10183/214276/001118840.pdf?sequence=1&isAllowed=y https://lume.ufrgs.br/bitstream/handle/10183/214276/001118840.pdf?sequence=1&isAllowed=y19 TEORIAS DO CONHECIMENTO toricidade. Aristóteles compre- endia estas duas dimensões da existência humana, argumen- tando que, além de sua capaci- dade de compreender o mundo a sua volta, o homem também se percebe como formador do mundo e identifica a necessida- de de conviver com o que o cer- ca. Esta compreensão aristoté- lica indica que, além de ser ra- cional, o homem é também um ser histórico, pois, na convivên- cia com o que o cerca (a natu- reza), vai estabelecendo pa- drões e normas de comporta- mento, crenças e valores parti- lhados constituintes do mundo (TREVISAN, s/a). Logo, a perpetuação destes exemplos culturais apreendidos nas suas atuações no decorrer do tempo apresenta a historicidade do ho- mem. Fonte: UFSM (s/a). Assim, a racionalidade e a his- toricidade como atributos do ho- mem podem ser entendidas inician- do pelo o conhecimento. A ação de conhecer é um ato humano por meio do qual podemos apreender que o homem é - do mesmo modo - lógico e histórico (racionalidade e histori- cidade). Logo, a ação de conhecer é en- tender como o procedimento pelo qual o homem aprende sobre o mun- do, assim como, o conhecimento é marcado como o conjunto de ex- pressos sobre o mundo. O conheci- mento, logo, é justificado pela racio- nalidade pelo fato que constitui um “ato e um produto racional” (BOM- BASSARO, 1992, p. 17). Colaboran- do com o que vimos na unidade an- terior. Constitui uma ação e um pro- duto na medida em que o ho- mem produz enunciados (com- preensões) sobre o mundo, constantemente utilizados para a construção do conhecimento. Contudo, estes enunciados e, portanto, o conhecimento, é do- tado de sentido, de significa- ções construídas pelo homem, o que caracteriza o conhecimento como racional. Por fim, a racio- nalidade não consiste, simples- mente, na produção de enunci- ados pelo homem (TREVISAN, s/a). Entretanto, consiste em ser um dos argumentos e comprovantes que dão configuração ao conheci- mento. 20 TEORIAS DO CONHECIMENTO Percorremos sobre a dimen- são racional do conhecimento, não obstante, começando pela a frase de Bombassaro, necessitamos salientar outra extensão do conhecimento, a historicidade. Assim, por constituir em ser atividade intelectual, o co- nhecimento não pode ser apreen- dido pela singelas atuações mental do homem, entretanto o resultado, o contíguo de expressos produzido, sistematizado e compartilhado co- mo condição para a vivência e perpe- tuação humana. Desta maneira, o conhecimen- to não versa exclusivamente na per- cepção da vivência e do mundo, to- davia uma atuação que se conecta ao coletivo e que é sistematizado e com- partilhado na coexistência social. Esta justificativa diferencia o conhe- cimento pela sua historicidade con- siderando ambas categorias explica- tivas: A racionalidade; e A historicidade. Saber e Conhecer: Diferen- tes Compreensões Percorremos antes as dimen- sões racionais e históricas do conhe- cimento, apesar disso, é imprescin- dível diferenciarmos dois conceitos basilares para a teoria do conheci- mento: O saber; e O conhecer. Ao procurar a avaliação tradi- cional do saber, deparamo-nos com a o reforço de Platão para quem o sa- ber estabelece uma opinião verda- deira, cujo vem comboiada por uma explicação e de um pensamento fun- damentado (BOMBASSARO, 1992). Atualmente, a filosofia da crí- tica da linguagem entende duas dife- rentes utilizações e sentidos do sa- ber. Ryle aponta ambos sentidos, apresentados a seguir: A expressão “saber que...” pos- sui um sentido explícito nas expressões cotidianas, como: “Sabemos que o Brasil é um país emergente”; “sabe-se que a educação é importante para o desenvolvimento”, etc. Estas expressões revelam o sentido do ‘saber que’, o qual é sempre seguido por uma proposição que pode ser verdadeira ou fal- sa, mas que expressa o conteú- do do saber. O segundo sentido do verbo saber é designado por Ryle “saber como” ou “saber fazer”. Este não necessita de um con- teúdo para adquirir sentido, refere-se a ações, atividades complexas, ou possibilidades de ações. Como exemplo, te- mos: ‘Saber dirigir’; ‘saber es- crever’; ‘saber ler’; etc (TREVI- SAN, s/a). 21 TEORIAS DO CONHECIMENTO Existe, deste modo, uma di- mensão do saber que se esclarece pela fé na verdade, quando se possui por verdadeiro um expresso, tais co- mo, uma dimensão prática que ma- nifesta o saber pela atuação prática, explicada como o poder. Note que o professor deixa claro que: “Quando digo que sei escrever é porque posso escrever’”. Desta maneira, o julgamento do saber lembra à vinculação do in- divíduo ao mundo, a suas atuações, ao mundo prático. Tais como o sa- ber, o conhecer além disso conecta o homem ao mundo, apesar disso, o conhecer sempre demanda um apêndice que proporcione sentido a ação de conhecer, como um exemplo dizemos: ‘conheço este filme’. Fonte: UFSM (s/a). Igualmente, o ato de conhecer está espontaneamente unido há al- gum objeto que tivemos contato e que, de certo modo, estamos famili- arizados. Assim, conhecer é diferente de saber, pois o significado não é o mesmo, como, por exemplo, fa- larmos que conhecemos os li- vros de Aristóteles ou que sabe- mos que os livros existem. São duas formas de falar sobre o sa- ber e o conhecer que expressam um significado diferenciado. Conceitos usados no cotidiano. Contudo, os estudiosos do co- nhecimento, principalmente na filosofia, distinguem algumas formas de conhecer e tipos de conhecimento. Estes conceitos são importantes na medida em que a educação está direta- mente ligada ao conhecimento (TREVISAN, s/a). 22 TEORIAS DO CONHECIMENTO Quanto às maneiras de conhe- cer, ressalta-se, dentre tantas dispo- sições na filosofia ocidental, a dife- renciação entre conhecimento sensí- vel e conhecimento intelectual. Este aforismo tem como fundamento a teoria platônica que determina o co- nhecimento como a implicação da atuação interativa do motivo e dos sentidos. Fonte: UFSM (s/a). O filósofo diferencia o conhecimento por descrição ou conhecimento por familiarização ou direto: Fonte: UFSM (s/a). Logo, quanto aos tipos de co- nhecimento, com constância, deno- mina-se: Conhecimento de senso co- mum; Conhecimento científico; 23 TEORIAS DO CONHECIMENTO Conhecimento filosófico, den- tre outros. Note que estes são os mais im- portantes para entender a teoria do conhecimento na contemporaneida- de, cujo nos encontramos no dia-a- dia e trabalhamos a educação. 24 25 TEORIAS DO CONHECIMENTO 4. A Epistemologia Fonte: Astro Centro4 epistemologia, ainda chamada como a teoria do conhecimen- to, é a seção da filosofia interessado na averiguação da natureza, fontes e legitimidade do conhecimento. Em meio os diversos tipos de questões, as principais em que ela tenta con- trapor estão as seguintes. Logo, já discutimos o que seria o conhecimento? Mas, ainda não discutimos como nós podemos al- cança-lo? E será que podemos alcan- çar meios para defendê-lo versus o desafio cético? Estes pontos são, de maneira implícita, tão velhos assim como a filosofia, apesar de seu pri- meiro tratamento explícito seja o achado nas obras de Platão (427-347 4 Retirado em http://astrocentro.com.br AC), como vimos em particular em seu debate com Theaetetus. Mas primordialmente na era moderna, a partir do século XVII em diante - como resul- tado do trabalho de Descartes (1596-1650) e Locke (1632- 1704) em associação com a emergência da ciência moderna - que a epistemologia tem ocu- pado um plano central na filo- sofia. Um passo óbvio na dire- ção de responder a primeira questão é tentar uma definição.A definição padrão, preliminar- mente, é a de que o conheci- mento é crença verdadeira jus- tificada. Esta definição parece plausível porque, ao menos, ele dá a impressão de que para co- nhecer algo alguém deve acre- ditar nele, que a crença deve ser A 26 TEORIAS DO CONHECIMENTO verdadeira, e que a razão de al- guém para acreditar deve ser satisfatória à luz de algum crité- rio - pois alguém não poderia dizer conhecer algo se sua razão para acreditar fosse arbitrária ou aleatória. Assim, cada uma das três partes da definição pa- rece expressar uma condição necessária para o conhecimen- to, e a reivindicação é a de que, tomadas em conjunto, elas são suficientes. Há, contudo, difi- culdades sérias com essa ideia, particularmente sobre a natu- reza da justificação requerida para a crença verdadeira equi- valer a conhecimento. Propos- tas competidoras tem sido ofe- recida para acolher as dificulda- des, ou para acrescentar mais condições ou para achar um enunciado melhor para a defi- nição posta (GRAYLING, 1996, traduzido por Ghiraldelli, 2010). Assim, a primeira parte da ar- ticulação que se segue pondera essas propostas. De modo paralelo a esse debate sobre como deliberar o co- nhecimento existe um outro sobre como essa ciência é adquirida. Na história da epistemologia encontra- mos duas principais escolas de pen- samento que retrata o que forma o meio mais importante para o conhe- cimento. Uma delas é a escola "raciona- lista", defende que a razão seria o responsável por esse papel. Outra escola é a "empirista", que sustenta que é a experiência, especialmente a utilização dos sentidos, amparados, quando indispensável, por elemen- tos, que é responsável por tal papel. O paradigma de conhecimento para os racionalistas é a mate- mática e a lógica, onde verdades necessárias são obtidas por in- tuição e inferência racionais. Questões sobre a natureza da razão, a justificação da inferên- cia e a natureza da verdade, es- pecialmente da verdade neces- sária, pressionam para serem respondidas. O paradigma dos empiristas é a ciência natural, onde observações e experimen- tos são cruciais para a investi- gação. A história da ciência na era moderna dá sustentação à causa do empirismo; mais pre- cisamente para esta razão, questões filosóficas sobre per- cepção, observação, evidência e experimento tem adquirido grande importância. Mas para ambas tradições em epistemo- logia o interesse central é se po- demos confiar nas rotas que elas respectivamente denomi- nam. Os argumentos céticos su- gerem que não podemos sim- plesmente assumi-las como confiáveis; certamente, elas su- gerem que trabalho é necessá- rio para mostrar que elas são confiáveis. O esforço para res- ponder ao ceticismo, portanto, fornece um modo distinto de entender o que é crucial em epistemologia (GRAYLING, 1996, traduzido por Ghiraldelli, 2010). Note que a segunda parte está limitada no exame do ceticismo e determinadas respostas a ele. Existe outras disputas em epistemologia 27 TEORIAS DO CONHECIMENTO sobre, em meio a elas, memória, ajuizamento, introspecção, raciocí- nio, elevação "a priori- a posteriori", metodologia científico e distinções metodológicas, logo, se existe, entre ciências da natureza e ciências soci- ais; as indagações avaliadas aqui são basilares para todos esses debates. Internalismo a Externalis- mo Os dois, o fundacionismo e a teoria da coerência, são por vezes co- gitados "internalistas" porque deli- neiam a justificação como forma da relações internas entre as crenças, ou ainda apresentado como no pri- meiro caso começando pela relação vertical de suporte em meio as cren- ças com suposição fundamentais e outras que estão sujeitas a elas, ou como no segundo caso iniciando pelo o suporte mútuo de crenças em um sistema compreendido apropri- adamente. Caracterizada geralmente, as teorias internalistas asseguram ou adotam que uma crença não pode ser abonada para um sujeito epistê- mico S a menos que este tenha aces- so ao que antevê a justificação, ou de certo ou por princípio. Essas teorias geralmente envol- vem o requerimento "de fato" no sentido mais forte porque ser a justificativa de S de acre- ditar que p é algo resgatado, de forma padrão, nos termos de suas razões assumidas para to- mar p como verdadeiro, onde razão assumida é entendido no sentido corrente (no sentido de "ter razão"). Aqui, uma objeção se coloca por si mesma. Qual- quer S tem somente acesso fini- to a o que poderia justificar ou solapar suas crenças, e esse acesso está confinado ao seu ponto de vista particular. Pa- rece que a justificação completa para suas crenças raramente estaria disponível, porque sua experiência seria restrita ao que é próximo, em tempo e espaço, e ele estaria designado a manter somente aquelas crenças que sua experiência limitada licen- ciou. (GRAYLING, 1996, tradu- zido por Ghiraldelli, 2010). Uma oposição interligada é a de que o internalismo apresenta-se incongruente com o fato de que di- versas pessoas parecem ter ciência a despeito dele não ser de maneira sa- tisfatoriamente sofisticado para per- filhar que tal e qual é um motivo pa- ra confiar que p sendo que este é o caso, isto pode ser visto com crian- ças. Logo, uma objeção mais gené- rica, além disso, é que as relações entre crenças, se são as ligadas aos fundacionismo ou ainda a da teoria da coerência, poderiam ser alcança- das sem que as crenças motivo da lide consistissem como verdadeiras de algo para afora delas próprias. 28 TEORIAS DO CONHECIMENTO Alguém poderia imaginar um conto, claramente verdadeiro, diga-se, que em nenhum mo- mento corresponde a alguma realidade externa, mas que tem suas crenças justificadas, toda- via, por suas relações mútuas. Essa reflexão nada fácil induz o pensamento de que deveria ha- ver uma restrição em relação às teorias de justificação, na forma de uma demanda de que deve- ria haver alguma conexão ajus- tável entre posse de uma crença e fatores externos - isto é, algo mais do que as crenças e suas relações mútuas - que determi- nam seu valor epistêmico. Isso concordamente motiva a ideia de uma alternativa externaliza (GRAYLING, 1996, traduzido por Ghiraldelli, 2010). Espistemologia Cética Contra Anti-Cartesianismo Determinados epistemólogos não tentam contrafazer o ceticismo pela bom motivo de que eles com- preendem que ele é verdadeiro ou indiscutível. As perspectivas desses filósofos poderia ser ponderadas como proferindo que o ceticismo é a implicação inevitável do pensamen- to epistemológico. Desse modo, somente devería- mos acatar o seguinte: ou estamos propostos mesmos a acreditarmos em crenças justificadas só que im- perfeitamente, sempre sujeitas à ex- periência, ou teremos que reconhe- cer que o ceticismo, passa a ser irre- futável, note que não é uma alterna- tiva prática, e deste modo temos de viver como a maior parte a pessoas vivem, ou seja, meramente relevan- do tais questões. Alguns comentadores de Hume interpretam seu pensamento como endossando esta última perspectiva, e de acordo com isso falam em "resposta huma- na ao ceticismo". Stroud (1984) e Strawson (1985), fazem algo mais ou menos parecido com essa "resposta humana ao ceti- cismo". Outros, em debates re- centes, são mais combativas, entre eles está Dewey (1859- 1952) e Wittgenstein (1889- 1951). A despeito das diferenças fundamentais sobre outros as- pectos, esses dois pensadores mantiveram uma interessante perspectiva comum, que é a de que o ceticismo resulta da acei- tação do ponto de partida carte- siano do dado privado da cons- ciência individual. Se, em vez disso, dizem eles dois, começar- mos com o mundo público - com considerações relaciona- das a fatos sobre o caráter es- sencialmente público do pensa- mento humano e da linguagem- emergirá daí um quadro dife- rente. Dewey argumentou que o modelo cartesiano torna o su- jeito epistêmico uma recipiente meramente passivo de experi- ências, como alguém sentado no escuro do cinema assistindo a fita; mas, apontou ele, nossa visão é de uma perspectiva par- ticipante - somos atores no mundo, e nossa aquisição de conhecimento é o resultado de nossos feitos no mundo. Witt- genstein contestou toda a coe- rência da abordagem cartesiana 29 TEORIAS DO CONHECIMENTO argumentando pela impossibi- lidade da linguagem privada (GRAYLING, 1996, traduzido por Ghiraldelli, 2010). Observe que a linguagem pri- vada, considerando a fala de Witt- genstein, é aquela que é logicamente plausível, única e tão-somente para um falante, ou seja, é o que um sujei- to cartesiano careceria no sentido de abrir um discurso sobre seu raciocí- nio particular. Fonte: http://netumundi.org Sua defesa é a seguinte: lin- guagem é um exercício dirigido por regras, e somente se tem êxito ao uti- lizar uma linguagem quando se ado- ta as regras para o emprego de suas expressões. Porém um ermo usuário da linguagem constituiria alguém inábil ao não saber distinguir real- mente essas regras e puramente acreditar que desse modo está fazen- do-o; portanto, a linguagem que ele utiliza não pode ser logicamente particular para ele próprio; pois ne- cessita ser partilhado com outros. Certamente, Wittgenstein argu- mento que a linguagem só pode ser adquirida em uma situação pública (ele liga o aprendizado da linguagem ao treinamento de animais; aprender uma lin- guagem é imitar comportamen- tos linguísticos de quem está ensinando), que similarmente pesa contra a ideia de que o pro- jeto cartesiano é, até mesmo em princípio, possível. As possibili- dades contra os céticos do argu- mento da linguagem privada parecem não ter sido vislum- brada em seu todo pelo próprio Wittgenstein. Em notas de es- boço sobre o ceticismo e o co- nhecimento, escritas nos últi- mos meses de sua vida - depois publicadas sob o título Da Cer- teza (1969) - ele oferece uma resposta ao ceticismo, que mar- ca um retorno a uma aborda- gem mais tradicional, não dife- rente da oferecida por Hume e Kant. Há algumas coisas que te- mos de aceitar no sentido de administrar nosso modo co- mum de pensar e falar. Tais proposições como a de que há um mundo externo, ou que o mundo veio a existir há muito tempo, não estão, simplesmen- te, abertas à dúvida; não é uma opção para nós questioná-las. Nem, portanto, diz Witgens- tein, podemos dizer que sabe- mos delas, porque conhecimen- to e dúvida são intimamente re- lacionados, e só pode haver co- nhecimento onde pode haver dúvida e vice versa (GRAY- LING, 1996, traduzido por Ghi- raldelli, 2010). 30 TEORIAS DO CONHECIMENTO As proposições que não pode- mos ter dúvidas compõem os "ní- veis" de nosso aforismo ordinário e de nossa conversação habitual, ou Wittgenstein muda as suas metáfo- ras, sendo elas como o leito e mes- mos barcos de um rio, aquém nas correntezas do discurso normal acompanha seu fluxo. Fonte: http://lolaefilosofia.blogs- pot.com Nesse contexto são essas cren- ças que o ceticismo tenta altercar não estão abertas para a negociação; segundo Wittgenstein, aponta o ce- ticismo. Esses ajuizamentos são tão indicativos quando eles jazem na fi- losofia de Hume e Kant, entretanto um dos problemas com a forma de pensar de Wittgenstein de situá-los é que ele utiliza conceitos fundacio- nistas na exposição da relação das proposições ditas "gramaticais" em determinados casos, todavia divor- ciar-se de o fundacionismo como tal, e parece ponderar uma variante de relativismo, do mesmo modo fazen- do com que o leito do rio e os barcos, segundo ele, poderiam, na ocasião imperiosa, serem ser deteriorados. Fonte: https://image.slidesharecdn.com 31 TEORIAS DO CONHECIMENTO Filosofia da linguagem de Wittgenstein Fonte: http://blogsdoenem.com.br Mas o relativismo é apenas o ce- ticismo disfarçado - ele é, de fa- to, argumentativamente, o mais poderoso e a forma mais pro- blemática de ceticismo, pois ele é a perspectiva de que conheci- mento e verdade são relativos a um ponto de vista, um tempo, um lugar, um meio ambiente cognitivo ou cultural: e conhe- cimento e verdade, assim en- tendidos, não são conhecimen- to e verdade. Observações finais Há muito gostar-se-ia insistir sobre uma tentativa correta pa- ra descrever o trabalho que ne- cessita ser feito em epistemolo- gia, para isso é necessário preli- minarmente fazer o progresso que podem. Aqui, eu simples- mente sublinharei um canal de observações já feitas acima. Pri- meiramente, debates sobre a definição de "conhecimento" me parecem ser um lado a ser mostrado. A justificação de afir- mações nas ciências naturais, nas ciências sociais (não, no mí- nimo, na história) e direito é onde o trabalho real a ser feito em epistemologia fala mais alto. E sua explicação aplica-se somente ao caso empírico: o que das questões epistemológi- cas que apertam em ética e em filosofia da matemática? Pode não haver nenhuma garantia - e certamente é não razoável - que 32 TEORIAS DO CONHECIMENTO altar generalizações sobre justi- ficação e conhecimento se apli- carão inequivocamente a todos esses campos. "Justificação" é um conceito mudo que neces- sita ser resgatado fora, nos ter- mos particulares para campos particulares; muito seria óbvio a partir do fato de que explica- ções gerais de justificação não restritivamente mostram-se não ajudáveis à vulnerabilidade de contraexemplos (GRAY- LING, 1996, traduzido por Ghi- raldelli, 2010). Dessa forma, deixa implícito nessa caracterização que ambas afir- mações são importantes: “primeira- mente, que o ceticismo é melhor en- tendido como um desafio, não como uma afirmação de que não sabemos nada ou que não podemos saber nada; e, secundariamente, que o me- lhor modo de responder ao ceticis- mo não é tentando refutá-lo na base de argumento por argumento, mas mostrando como fazemos as justifi- cações para o que acreditamos.” (GRAYLING, 1996, traduzido por Ghiraldelli, 2010). De certa forma, esses dois pontos, que foram inconfundíveis aos nossos antecessores, parecem terem sido derivados de um pensa- mento que se perdeu. 33 TEORIAS DO CONHECIMENTO Materiais Complementares Links “gratuitos” a serem con- sultados para um acrescentamento no estudo do aluno de assuntos que não poderão ser abordados na apos- tila em questão. Teoria do Conhecimento- caps1234.pdf Leituras sobre Richard Roth Teoria do Conhecimento.pdf O_100_anos_manifesto_estudan- til_cordoba/teoria_conheci- mento.pdf CAPITULO_ConhecimentoCiencia- Natureza.pdf https://www.dca.fee.unicamp.br/~gudwin/ftp/ia005/TeoriaDoConhecimento-caps1234.pdf https://www.dca.fee.unicamp.br/~gudwin/ftp/ia005/TeoriaDoConhecimento-caps1234.pdf https://www.mercado-de-letras.com.br/resumos/pdf-06-10-13-1-50-57.pdf https://repositorioaberto.uab.pt/bitstream/10400.2/9551/1/Teoria%20do%20Conhecimento.pdf https://www.uaberta.unisul.br/repositorio/download/web/OA_100_anos_manifesto_estudantil_cordoba/teoria_conhecimento.pdf https://www.uaberta.unisul.br/repositorio/download/web/OA_100_anos_manifesto_estudantil_cordoba/teoria_conhecimento.pdf https://www.uaberta.unisul.br/repositorio/download/web/OA_100_anos_manifesto_estudantil_cordoba/teoria_conhecimento.pdf https://www.repositorio.unb.br/bitstream/10482/13525/1/CAPITULO_ConhecimentoCienciaNatureza.pdf https://www.repositorio.unb.br/bitstream/10482/13525/1/CAPITULO_ConhecimentoCienciaNatureza.pdf 34 34 35 TEORIAS DO CONHECIMENTO 35 5. Referências Bibliográficas BOMBASSARO, L. Carlos - As fronteiras da epistemologia: como se produz o co- nhecimento. Petrópolis: Vozes, 1992. CHISHOLM, Roderick. O que é Teoria doConhecimento? PR. GOV, 2010. _________. In Chisholm, R. M. (1966): Teoria do Conhecimento, Rio de Janeiro: Zahar, págs. 11-15. GUTIERRE, Jézio Hernani Bonfim; GON- ZALES, Maria Eunice Quilici; BROENS, Mariana Claudia. Teoria do Conhecimen- to. Unesp/Redefor - Módulo I - Disciplina 02, São Paulo-SP, 2011. GRAYLING, A. C. A Epistemologia. Birk- beck College, Londres St Anne’s College, Oxford, Tradução de Paulo Ghiraldelli Jr. O texto foi traduzido de Grayling, A C. Epistemology. Bunnin and others (edi- tors); The Blackwell Companhion to Philo- sophy. Cambridge, Massachusetts: Blackwell Publishers Ltd, 1996. TREVISAN, Tatiana Valéria; et al,. TEO- RIA DO CONHECIMENTO E EPISTEMO- LOGIA. UFSM [s/a]. 03 6
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