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TEORIA DO CONHECIMENTO - Livro-Texto

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Prévia do material em texto

Autores: Prof. Renato Bulcão de Moraes
 Prof. Marco Antonio Loschiavo Leme de Barros
Colaboradores: Profa. Tânia Sandroni
Teoria do Conhecimento
Professores conteudistas: Renato Bulcão de Moraes / 
Marco Antonio Loschiavo Leme de Barros
Renato Bulcão de Moraes
Formado em Filosofia pela Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo 
(FFLCH-USP) e mestre em Comunicação pela Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo (ECA-USP). 
Foi professor na ECA-USP até 2001. Em 2003, voltou à USP como pesquisador em EaD pela Escola do Futuro, 
função em que permaneceu até 2007. No mesmo período, trabalhou em cinema e televisão, primeiro como editor, 
depois como produtor, e finalmente como diretor de marketing. 
Desde 2009, é professor da EaD da Universidade Paulista (UNIP) e, desde 2010, ensina também nos cursos 
presenciais de Pedagogia e Filosofia. Em 2017, apresentou uma tese de doutorado em Educação e História da Cultura, 
sendo aprovado com louvor e distinção. Desde 2014, publica regularmente no país e no exterior, em especial sobre 
humanidades digitais. Sua linha de pesquisa inclui a análise de textos através de processamento digital.
Marco Antonio Loschiavo Leme de Barros
Doutor em Filosofia e Teoria Geral do Direito pela Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo (USP), com 
apoio da bolsa de doutorado da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp). Mestre em Direito 
e Desenvolvimento pela Escola de Direito de São Paulo da Fundação Getulio Vargas (FGV DIREITO SP). Bacharel em 
Filosofia pela USP e em Direito pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP).
É professor titular da Universidade Paulista (UNIP), leciona nos programas de graduação em Filosofia, Direito e 
Relações Internacionais. Possui pesquisas nas áreas de filosofia política e do direito, direito público, sociologia e teoria 
do direito, pesquisa empírica e metodologia em direito.
© Todos os direitos reservados. Nenhuma parte desta obra pode ser reproduzida ou transmitida por qualquer forma e/ou 
quaisquer meios (eletrônico, incluindo fotocópia e gravação) ou arquivada em qualquer sistema ou banco de dados sem 
permissão escrita da Universidade Paulista.
Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)
M827t Moraes, Renato Bulcão de.
Teoria do Conhecimento / Renato Bulcão de Moraes, Marco 
Antonio Loschiavo Leme de Barros – São Paulo: Editora Sol, 2020.
112 p., il.
Nota: este volume está publicado nos Cadernos de Estudos e 
Pesquisas da UNIP, Série Didática, ISSN 1517-9230.
1. Filosofia. 2. Epistemologia. 3. O problema de Gettier I. Barros, 
Marco Antonio Loschiavo Leme de. II. Título
CDU 1
U505.64 – 20
Prof. Dr. João Carlos Di Genio
Reitor
Prof. Fábio Romeu de Carvalho
Vice-Reitor de Planejamento, Administração e Finanças
Profa. Melânia Dalla Torre
Vice-Reitora de Unidades Universitárias
Prof. Dr. Yugo Okida
Vice-Reitor de Pós-Graduação e Pesquisa
Profa. Dra. Marília Ancona-Lopez
Vice-Reitora de Graduação
Unip Interativa – EaD
Profa. Elisabete Brihy 
Prof. Marcello Vannini
Prof. Dr. Luiz Felipe Scabar
Prof. Ivan Daliberto Frugoli
 Material Didático – EaD
 Comissão editorial: 
 Dra. Angélica L. Carlini (UNIP)
 Dr. Ivan Dias da Motta (CESUMAR)
 Dra. Kátia Mosorov Alonso (UFMT)
 Apoio:
 Profa. Cláudia Regina Baptista – EaD
 Profa. Betisa Malaman – Comissão de Qualificação e Avaliação de Cursos
 Projeto gráfico:
 Prof. Alexandre Ponzetto
 Revisão:
 Bruna Baldez
 Willians Calazans
Sumário
Teoria do Conhecimento
APRESENTAÇÃO ......................................................................................................................................................7
INTRODUÇÃO ...........................................................................................................................................................7
Unidade I
1 O QUE É CONHECIMENTO? .......................................................................................................................... 14
1.1 Crença ....................................................................................................................................................... 14
1.2 Cuidados e desafios com a crença ................................................................................................ 16
1.3 O problema de Gettier ........................................................................................................................ 18
2 CONCEITO DE VERDADE ............................................................................................................................... 21
2.1 Verdade por correspondência .......................................................................................................... 22
2.2 Verdade por coerência ........................................................................................................................ 24
2.3 Verdade por utilidade ......................................................................................................................... 26
2.4 Verdade necessária, contingência e erro .................................................................................... 27
3 CONCEITO DE JUSTIFICAÇÃO ...................................................................................................................... 31
3.1 Evidência e confiança ......................................................................................................................... 33
3.2 Justificativas segundo pontos de vista interno e externo ................................................... 33
4 ESTRUTURA DO CONHECIMENTO ............................................................................................................. 34
4.1 Fundacionalismo ................................................................................................................................... 34
4.2 Coerentismo ........................................................................................................................................... 37
Unidade II
5 FONTES DO CONHECIMENTO ...................................................................................................................... 43
5.1 Percepção ................................................................................................................................................. 43
5.2 Introspecção ........................................................................................................................................... 44
5.3 Memória ................................................................................................................................................... 45
5.4 Razão ......................................................................................................................................................... 46
5.5 Testemunho ............................................................................................................................................ 47
6 HISTÓRIA DA TEORIA DO CONHECIMENTO........................................................................................... 48
6.1 Platão e Aristóteles .............................................................................................................................. 48
6.2 Descartes .................................................................................................................................................. 50
6.3 Kant ............................................................................................................................................................ 54
6.4 Bachelard ................................................................................................................................................. 59
Unidade III
7 TEORIA DO CONHECIMENTO E OUTRAS ÁREAS DA FILOSOFIA ..................................................... 69
7.1 Filosofia da ciência ...............................................................................................................................69
7.2 Ceticismo ................................................................................................................................................. 74
7.2.1 Ceticismo e fechamento do conhecimento ................................................................................. 75
7.2.2 Tipos de ceticismo .................................................................................................................................. 76
7.2.3 Novas formas de pensar ...................................................................................................................... 80
7.3 Teoria do conhecimento e epistemologias ................................................................................ 83
8 FILOSOFIA DA LÓGICA E TEORIA DO CONHECIMENTO ..................................................................... 92
8.1 Transformações na filosofia da lógica ......................................................................................... 92
8.2 Contribuições de Frege....................................................................................................................... 95
8.3 Uma nova lógica para o conhecimento? ..................................................................................100
7
APRESENTAÇÃO
Na sociedade digital, conectada por meio de aparelhos portáteis, uma quantidade incalculável de 
informações está disponível para acesso dos usuários nas redes. Será que toda essa informação se refere 
ao conhecimento?
É cada vez mais frequente observar, por exemplo, pessoas jovens hipnotizadas diante de tablets, 
smartphones e videogames. Será que esses indivíduos conectados conseguem usufruir e produzir algo 
relevante diante dessas informações? O que dizer sobre a dependência tecnológica hoje em dia?
Perguntas como essas nos revelam a importância de saber o que é o conhecimento na atualidade, 
inclusive para atuar em diferentes segmentos profissionais. Acredita-se hoje que, quanto mais acesso à 
tecnologia, mais condições de conhecimento o indivíduo possui. 
Todavia, o conhecimento não se refere apenas ao acesso à informação, mas também a uma ação 
do sujeito. O conhecimento também está vinculado a um conceito sobre a verdade e a um conjunto de 
justificativas fortes a ponto de exigir uma postura ativa desse indivíduo hiperconectado, capaz de defender 
e investigar as razões de suas crenças com propriedade.
Ao contrário do que se acredita, muitos dependentes tecnológicos estão apresentando – do 
ponto de vista médico-clínico – problemas relacionados às funções cognitivas, como a memória e 
o desenvolvimento da atenção. Existe, assim, um sério risco de a sociedade digital se afastar e não 
contribuir para o compartilhamento de conhecimento.
Esta disciplina, embora não se debruce sobre a dependência tecnológica, trata dessa questão social 
para justificar a importância de estudar a teoria do conhecimento em pleno século XXI. O propósito é 
discutir esses temas a partir do enfoque da história da teoria do conhecimento, com o objetivo de habilitar 
o estudioso a compreender as principais teorias sobre o que é o conhecimento, quais são as fontes do 
conhecimento, bem como as relações entre uma teoria geral do conhecimento e a filosofia da ciência, a 
filosofia da lógica, o ceticismo e as diferentes epistemologias.
INTRODUÇÃO
Entender o conceito de conhecimento, suas condições e fontes, é fundamental para compreender 
os encaminhamentos da humanidade em relação às atividades científicas, bem como os problemas 
associados ao desenvolvimento tecnológico. 
O objetivo geral deste material é, portanto, apresentar a teoria do conhecimento como um vasto 
campo de estudo desenvolvido de várias formas e por diferentes correntes. Ademais, será apontado 
que a ideia de teoria do conhecimento não é exclusiva da filosofia, sendo hoje aplicada em diferentes 
áreas e dependente de estudos sobre a medicina, a comunicação e a sociologia, o que permite a 
discussão de diversas epistemologias.
8
De modo esquemático, o conteúdo abordado neste livro-texto é o seguinte:
•	 Objeto da teoria do conhecimento.
•	 Conceito de conhecimento.
•	 Papel das crenças para o conhecimento.
•	 Tipos de verdade: correspondência, coerência e utilidade.
•	 Justificação como etapa do conhecimento: fundacionalismo e coerentismo.
•	 Fontes de conhecimento.
•	 História da teoria do conhecimento.
•	 Teoria do conhecimento e o ceticismo.
•	 Teoria do conhecimento e a filosofia da ciência.
•	 Teoria do conhecimento e a filosofia da lógica.
Para aprofundar os temas abordados, o livro-texto irá apresentar alguns pensadores que contribuíram 
para o desenvolvimento da teoria do conhecimento na história da filosofia, tais como Platão, Aristóteles, 
René Descartes, Immanuel Kant e Gaston Bachelard, com o objetivo de esclarecer o percurso histórico 
desse campo.
Qual é a importância, então, de resgatar a filosofia? Vale lembrar o exemplo dos esquimós, 
que nomeiam várias tonalidades do branco observadas nas suas experiências com a neve. 
O que eventualmente nomeamos como branco é para os esquimós um tipo específico do branco. 
Por qual motivo? Certamente porque o conhecimento está relacionado com a história, a memória e o 
aprendizado – situações que talvez uma nova geração não perceba. A teoria do conhecimento, campo 
da filosofia, possibilita examinar com atenção a diferença entre conhecimento e opinião, levando em 
consideração toda a complexidade envolvida na definição de uma noção de conhecimento verdadeiro.
Desejamos que este material sirva como ponto de partida para novas reflexões sobre o conhecimento 
no século XXI.
Boa leitura!
9
TEORIA DO CONHECIMENTO
Unidade I
Por qual motivo é fundamental investigar o conhecimento? Para muitos pensadores, conhecer é 
um ato de distinção da espécie humana. O filósofo genebrino Jean-Jacques Rousseau, por exemplo, 
destacava que esse ato é uma busca pela perfectibilidade; dizia que se tratava da faculdade da espécie 
humana de se aperfeiçoar e não seguir o destino dos demais animais. 
Em muitas civilizações, conhecer é um ato valorizado socialmente, por vezes controlado por 
algumas autoridades. Afinal de contas, diante das recompensas obtidas por meio do conhecimento, 
foi possível notar o progresso técnico dos homens graças aos diferentes processos de aprendizagem. 
Basta pensar no período do Iluminismo (ou Século das Luzes), no século XVIII, marcado pela aposta 
no empreendimento do conhecimento humano a ponto de estruturar um projeto de controle da 
natureza e do destino dos homens, fruto da revolução científica copernicana. Não existem surpresas 
da natureza, mas projetos para a investigação humana – sendo possível admitir, em tese, todo o 
conhecimento possível da experiência humana.
A investigação do conhecimento é, então, um campo de estudo que busca entender as diferentes 
formas e fontes utilizadas pelos homens, capazes de se diferenciar das demais espécies, e, ao mesmo 
tempo, compreender como o progresso técnico e cultural das civilizações aconteceu. No entanto, para 
além da dimensão histórica, o conhecimento também é objeto de estudo em si. Quais são as condições 
do conhecimento?
Do ponto de vista filosófico, entender o que é o conhecimento exige compreender como é possível 
conhecer algo. Uma primeira resposta que marcou o início do desenvolvimento de uma teoria 
do conhecimento remonta aos diálogos socráticos de Platão, em especial a obra Teeteto, a qual 
versa sobre o exame da natureza em geral do conhecimento, que ficou conhecido como o conceito 
tripartite (ou em três partes): conhecer é possuir uma crença, verdadeira e justificada. Vejamos:
TEETETO — Que a opinião verdadeira é conhecimento. A opinião verdadeira, 
parece, é infalível e que tudo o que dela resulta é belo e bom.
SÓCRATES — Não há como experimentar para ver, Teeteto, diz o chefe 
de fila na passagem do rio. Aqui dá-se o mesmo: o que temos a fazer é 
avançar na investigação. Talvez venhamos a esbarrar em alguma coisa 
quenos revele o que procuramos. Se pararmos por aqui, é que não 
descobriremos nada.
TEETETO — Tens razão. Vamos em frente e examinemos!
10
Unidade I
SÓCRATES — O problema não exige um estudo prolongado, pois existe toda 
uma profissão que mostra bem como a opinião verdadeira não é conhecimento.
TEETETO — Como é possível? Que profissão é essa?
SÓCRATES — A desses modelos de sabedoria a que se dá o nome de oradores 
e advogados. Tais indivíduos, com a sua arte, produzem a convicção, não 
ensinando, mas sugerindo as opiniões que lhes aprazem. Ou julgas tu que 
há mestres tão habilidosos que, no pouco tempo concedido pela clépsidra, 
sejam capazes de ensinar devidamente a verdade acerca de um roubo ou de 
qualquer outro crime, a ouvintes que não foram testemunhas do fato?
TEETETO — Não creio, de forma nenhuma. Eles não fazem senão persuadi-los.
SÓCRATES — Mas, para ti, persuadir alguém não será levá-lo a ter uma opinião?
TEETETO — Sem dúvida.
SÓCRATES — Então, quando há juízes que se acham justamente persuadidos 
de fatos que só uma testemunha ocular, e mais ninguém, pode saber, não 
é verdade que, ao julgarem esses fatos por ouvir dizer, depois de terem 
formado deles uma opinião verdadeira, pronunciam um juízo desprovido 
de conhecimento, embora tendo uma convicção justa, se deram uma 
sentença correta?
TEETETO — Com certeza.
SÓCRATES — Mas, meu amigo, se a opinião verdadeira dos juízes e o 
conhecimento fossem a mesma coisa, nunca o melhor dos juízes teria uma 
opinião correta sem conhecimento. A verdade, porém, é que se trata de duas 
coisas diferentes (PLATÃO, 2001, p. 124-125).
Conhecer não é apenas uma opinião, pois, caso fosse, a mera curiosidade seria similar ao conhecimento. 
Como mencionado inicialmente, conhecer se refere a uma ação individual, uma realização capaz 
de compreender e explicar as coisas. Nesse sentido, o conhecimento se aproxima da ciência – ainda que 
existam muitas formas diferentes de conhecer que dispensam um método científico.
Vamos esclarecer o assunto com o seguinte caso: Júlio, trabalhando no escritório, interrompe sua 
leitura com um forte barulho e observa que uma chuva torrencial cai do lado de fora. Ora, é possível 
observar que Júlio sabe que está chovendo, pois sabe que a chuva está caindo agora e acredita que 
chove. Em outras palavras, Júlio sabe que chove se e somente se a chuva é verdadeira e está convencido 
de que chove. De acordo com essa análise, existem três condições suficientes para o conhecimento da 
chuva por Júlio: crença, verdade e justificação.
11
TEORIA DO CONHECIMENTO
Ademais, toda e qualquer teoria do conhecimento deve se posicionar sobre o que é a crença, o que 
é a verdade e o que é a justificação.
Conhecimento
Justificação
Verdade
Crença
Figura 1 – Conceito de conhecimento
Para certa corrente filosófica, sobretudo de origem platônica, o conhecimento se aproxima do termo “ideia”. 
Nessa visão, a ideia é uma essência que existe por si, independentemente das coisas e do intelecto humano. 
Por isso, na visão platônica, a ideia possuiria uma índole matemática (influência provável do pitagorismo, do 
qual Platão foi próximo).
Ideias seriam, assim, as causas intemporais para os objetos sensíveis. Por exemplo, existe um belo 
em si, um belo superior, o que explica todos os casos e graus particulares de beleza. Nos diálogos – em 
especial, no Mênon, no Fédon, no Banquete, na República e no Fedro –, Platão caracteriza essas causas 
inteligíveis dos objetos físicos que ele chama de ideias ou formas. Elas seriam incorpóreas e invisíveis, 
o que significa justamente dizer que não está na matéria a razão de sua inteligibilidade. Seriam reais, 
eternas e sempre idênticas a si mesmas, escapando à corrosão do tempo, que torna perecíveis os objetos 
físicos. Perfeitas e imutáveis, as ideias constituiriam os modelos dos quais as coisas materiais seriam 
apenas cópias imperfeitas e transitórias. Seriam, pois, tipos ideais a transcender o plano mutável dos 
objetos físicos.
Conhecer é, portanto, apreender a ideia em si. Como conhecer essas realidades invisíveis e incorpóreas 
se vivemos aqui no mundo sensível? No diálogo Mênon, Platão sustenta que é o nosso intelecto, e não o 
nosso corpo, que pode conhecer as ideias. Isso porque nosso intelecto também é, como as ideias, incorpóreo.
Para tanto, Platão apresenta o mito de Er: a alma humana, antes do nascimento – antes de se 
prender ao cárcere do corpo –, teria contemplado as ideias quando seguia o cortejo dos deuses. Quando 
encarnada, a alma perde a possibilidade de contato direto com as ideias incorpóreas, mas diante de suas 
cópias – os objetos sensíveis – pode ir gradativamente recuperando o conhecimento das ideias. Dessa 
forma, conhecer seria então lembrar, reconhecer, um ato de reminiscência.
Nessa visão, o conhecimento depende de alguma justificativa externa, admitindo uma realidade 
objetiva e independente do sujeito. No entanto, para outras posições, o conhecimento é sempre 
dependente do sujeito, e, por isso, admite-se sempre a exigência de uma justificativa interna ao próprio 
sujeito cognoscente, como em René Descartes, ao afirmar que o conhecimento é aquele certo, indubitável 
e, por isso, obtido por meio de um processo extremamente rigoroso.
12
Unidade I
Da mesma forma, diante das difíceis condições de obter um conhecimento sempre certo e definitivo, 
para outra corrente, vinculada ao ceticismo, os homens não conseguem obter nenhum conhecimento, 
como é o caso de Pirro de Élis (365 a.C. até 270 a.C.), que sustentava a importância de colocar em suspensão 
qualquer tipo de crença e de viver uma vida de quietude. No caso de Júlio, mesmo que ele observe a 
chuva, nunca de fato conhecerá a chuva, já que se trata de um evento externo e de difícil definição para 
o intelecto humano – para alguns, o que Júlio sabe apenas é a experiência (ou a sensação) dessa chuva.
Na visão pirrônica, as coisas são, por natureza, indefinidas ou indeterminadas de várias maneiras. 
Nesse sentido, os homens não estão em condições de definir ou determinar a natureza das coisas. 
Obviamente que Pirro nega a posição platônica de que as coisas são, na sua natureza real, definidas e 
determinadas; daí segue que o conhecimento das coisas é inacessível para os homens.
No entanto, como sustentar a posição de Pirro diante de todas as conquistas e avanços da ciência? 
No limite, é possível afirmar que conhecemos muitas coisas, ainda que esse conhecimento seja sempre 
provisório e passível de questionamento. O ceticismo, em verdade, serve como um contraponto e como 
um definidor da teoria do conhecimento, pois exige a cada nova objeção o desenvolvimento de uma 
nova resposta.
É possível diferenciar, portanto, o ceticismo acadêmico vinculado à falibilidade humana do ceticismo 
pirrônico que suspende qualquer crença. Essa posição se aproxima da importante passagem socrática do 
Oráculo de Delfos ao admitir a consciência da própria ignorância. Essa consciência é o único conhecimento 
possível – o que significa a importância de entender a limitação do conhecimento humano.
Retomando o caso de Júlio, é possível afirmar que ele sabe que está chovendo, pois poderia coletar 
por meio de instrumentos meteorológicos (pluviômetro) a quantidade da precipitação das gotas 
observadas, ou mesmo ir lá fora e perceber que essas gotas estão atingindo seu corpo, deixando-o 
encharcado de água.
Todavia, um ceticismo acadêmico poderia questionar as razões do conhecimento de Júlio sobre 
a chuva, pois ele estaria apenas se referindo à experiência notada e não à chuva em si. Júlio 
teria, então, apenas uma percepção sobre a chuva, mas não exatamente o conhecimento dela, revelando 
sua ignorância sobre o caso. Ora, mas Júlio ainda assim sabe que chove, já que está coletando as gotas 
de água no pluviômetro ou na sua jaqueta molhada.
Esse caso nos revela, por exemplo, que existem diferentes tipos de conhecimento sobre a chuva. Ainda 
seria possível cogitar que Júlio afirmasse com maior certeza que está chovendo casoconhecesse o ciclo 
hidrológico ou soubesse por completo todo o processo físico e químico do fenômeno da precipitação, 
no qual partículas de água crescem por difusão de vapor.
O fato é que muito do que Júlio conhece por experiência decorre de fontes diferentes (por exemplo, 
pluviômetro ou jaqueta molhada), sem prejuízo da objeção dos céticos de que a própria meteorologia 
apresente e modifique as explicações sobre o motivo pelo qual existem diferentes tipos de chuvas no globo, 
seja pelo relevo, seja pelas convecções das massas de ar, seja pela evaporação de superfícies úmidas, seja 
por não conseguir estabelecer com exatidão quando ocorrerá a chuva.
13
TEORIA DO CONHECIMENTO
Percebe-se, ainda, que o papel da justificação no exemplo que via o ciclo hidrológico ou o fenômeno 
físico-químico da precipitação asseguraria que a crença de que chove não seria verdadeira apenas por 
contingência, ou pela experiência de Júlio, mas possibilitaria a repetição desse conhecimento, mesmo 
em um dia de chuva.
Pelo exposto, a teoria do conhecimento aqui apresentada não se vincula a nenhum tipo de 
dogmatismo, entendido como a recusa de admitir e aceitar a importância do erro no conhecimento. 
Ao contrário, é fundamental entender o papel do erro no conhecimento, pois isso prova que nossas 
observações são limitadas e que o conhecimento é sempre de caráter hipotético e aproximativo.
Dogmatismo vem da palavra grega dogma, que significa: uma opinião 
estabelecida por decreto e ensinada como uma doutrina, sem contestação. 
Por ser uma opinião decretada ou uma doutrina inquestionada, um dogma 
é tomado como uma verdade que não pode ser contestada nem criticada, 
como acontece, por exemplo, na nossa vida cotidiana, quando, diante 
de uma pergunta ou de uma dúvida que apresentamos, nos respondem: 
“É assim porque é assim e porque tem que ser assim”. O dogmatismo é 
uma atitude autoritária e submissa. Autoritária, porque não admite dúvida, 
contestação e crítica. Submissa, porque se curva às opiniões estabelecidas 
(CHAUI, 2000, p. 109).
Ademais, é possível apresentar a seguinte síntese das correntes criticadas pela teoria do conhecimento:
Quadro 1
Corrente Argumento
Ceticismo pirrônico Nenhum conhecimento é possível
Ceticismo acadêmico O único conhecimento possível é admitir a falibilidade humana (“só sei que nada sei”)
Dogmatismo Nenhum erro é possível
Também é possível pontuar algumas orientações da teoria do conhecimento que foram discutidas 
ao longo dos séculos:
•	 Existem condições para o conhecimento que são estudadas por diferentes teorias.
•	 Existem diferentes fontes do conhecimento.
•	 Toda teoria do conhecimento deve esclarecer todos os domínios do conhecimento, sem prejuízo 
do conhecimento científico aplicado – limitado ao campo metodológico específico.
•	 O conhecimento científico permite compreender e explicar as coisas e também agir sobre a natureza.
14
Unidade I
•	 A distinção entre sujeito e objeto no plano científico é cada vez mais questionada a partir do 
observador – que é parte do mundo que observa.
•	 Não existe uma única justificativa, mas múltiplas justificativas para as nossas crenças.
•	 A concepção de verdade é variada: consensualista, por correspondência, pragmática, entre outras.
Nas próximas páginas, vamos detalhar esses elementos, tomando como ponto de partida a definição 
de conhecimento como crença verdadeira e justificada. Todavia, cabe ressaltar que o conceito tripartite 
clássico é constantemente alvo de modificação e crítica dos teóricos do conhecimento, o que significa 
que, para alguns, esse conceito é apenas um ponto de partida para um debate mais amplo e profundo 
sobre o conhecimento.
1 O QUE É CONHECIMENTO?
1.1 Crença
Como visto no início desta unidade, é possível notar diferentes tipos de conhecimento. Júlio, por 
exemplo, sabia que estava chovendo, pois teve a experiência de se molhar ao sair de sua casa, ou coletar 
e realizar a medição via o pluviômetro da precipitação. Em todos esses casos, o interessante é perceber 
que se trata de um conhecimento propositivo, já que se conhece um determinado estado de coisas, 
nomeadamente a chuva.
Do ponto de vista de uma teoria do conhecimento, a atenção recai no estudo de proposições que 
se referem a um estado de coisas, como no esquema X’ conhece x’, onde X’ representa o sujeito e x’ a 
proposição conhecida. O que isso significa?
O conhecimento depende de crenças individuais sobre estados possíveis de coisas. Assim, é difícil 
desvincular o ato de conhecer da intencionalidade dos sujeitos, ou até mesmo da vontade de conhecer algo.
Para muitos teóricos do conhecimento, toda crença é intencional e se refere a um significado para 
o sujeito: dizer que Júlio conhece a chuva pressupõe que ele pensa em algo como a chuva e está 
consciente desse entendimento. A intencionalidade está relacionada à referência dos estados mentais 
ou à representação mental dos conteúdos pensados.
 Observação
A concepção de intencionalidade como estado mental está vinculada 
com a obra do filósofo alemão Franz Brentano, em especial o livro Psicologia 
segundo o ponto de vista empírico, publicado originalmente em 1874.
Segundo sua obra, a intencionalidade é a capacidade de a mente se 
referir ou ser direcionada a determinado objeto. É importante lembrar que 
15
TEORIA DO CONHECIMENTO
esse conceito está inserido no contexto de seu projeto filosófico maior de 
apresentar uma psicologia descritiva, elaborando um modelo explicativo 
para compreender os fenômenos psíquicos.
Dessa forma, todo fenômeno mental se refere a um estado de coisas 
no sentido intencional. Para Brentano, o ato mental é, de fato, consciente, 
o que sugere existir uma consciência intencional: a compreensão de que o ato 
mental consciente é apresentado por si mesmo e aceito como apresentado.
 Saiba mais
Para conhecer mais a fundo a obra de Brentano, sugerimos a leitura a seguir:
BRENTANO, F. Psychology from an empirical standpoint. London: 
Routledge & Regan Paul, 1973.
Considerando se tratar de uma relação psicológica, o conhecimento pode ter como objeto diferentes 
proposições: conhecer a chuva, a cidade de Berlim ou mesmo a chuva nessa cidade. O que torna distintos 
esses conhecimentos não é o estado mental envolvido, mas o conteúdo de cada proposição deles.
Por fim, é importante perceber que, para conhecer, é preciso acreditar em determinado estado de 
coisas que representa o mundo. Se Júlio acreditasse que o termo “chuva” se referisse à precipitação 
de canivetes (em vez de gotas de água), certamente ninguém diria que se trata de uma crença, mas 
que representa equivocadamente a experiência observada; daí ser possível afirmar em graus ou níveis 
de confiança do conhecimento, pois alguns podem representar com precisão e outros nem tanto as 
experiências da realidade.
Figura 2 – Cidade de Berlim, com a Catedral da Cidade ao fundo
16
Unidade I
Logo, a ideia de crença é fundamental para compreender o conceito de conhecimento. Sem crença, 
não existe conhecimento. O que é a crença? Trata-se justamente de uma informação comunicada 
conscientemente por um sujeito acerca de um possível estado de coisas no mundo. Crenças são 
representativas de visões de mundo, nas quais se percebe a variabilidade da forma do conhecimento a 
depender das crenças na sociedade.
As crenças são intrinsecamente propositivas, pois exigem um objeto 
propositivo. Não são, porém, nem ações psicológicas nem episódios 
ocorrentes; são estados de representação psicológicos que podem ou 
não se manifestar no comportamento. Você pode crer que 2 + 2 = 4, 
por exemplo, e não estar fazendo nada enquanto isso; pode crer nisso 
mesmo enquanto está dormindo a sono solto, sem pensar minimante em 
aritmética. A crença parece semelhante a certos hábitos que temos, pois 
envolve a tendência da pessoa a se comportar de determinado modo em 
determinadas circunstâncias. No caso das crenças, a tendência em questão, 
sendo um caso de representação, parece ser a disposição a concordarcom certos conteúdos propositivos sob as circunstâncias adequadas. 
A concordância ou assentimento em questão é em si mesma episódica, 
uma vez que é uma ação e não precisa se manifestar no comportamento 
evidente. Como você pode crer em algo sem expressar seu assentimento a 
essa crença agora (lembre-se de que você pode estar dormindo enquanto 
crê que 2 + 2 = 4), a crença não se identifica ao ato do assentimento 
(MOSER; MULDER; TROUT, 2004, p. 51).
Ainda, é possível distinguir a crença das justificativas; afinal, as crenças não exigem que o sujeito 
domine todas as razões que as constituem. Veja que Júlio pode crer que está chovendo, sem entender 
plenamente todo o processo físico-químico da precipitação das gotas de água.
Como será visto adiante, é possível afirmar que o papel da justificação é garantir que a crença de 
Júlio – a de que está chovendo – não seja verdadeira apenas por contingência. As evidências como a 
água coletada no pluviômetro ou a roupa molhada podem ser suficientes para justificar que naquele 
momento está chovendo.
1.2 Cuidados e desafios com a crença
Um cuidado importante que o teórico do conhecimento deve destacar em relação à crença é a 
cautela ao diferenciar o conceito de crença da atribuição de crenças a terceiros para fazer os exames. 
Atribuir que Júlio crê que chove não significa que ele possui de fato todos os conceitos necessários para 
acreditar que está chovendo.
Como Moser, Mulder e Trout (2004, p. 52) sustentam:
A útil tendência a atribuir crenças a certas pessoas não nos deve levar a 
concluir simplesmente que elas têm de fato essas crenças. A utilidade da 
17
TEORIA DO CONHECIMENTO
atribuição de crenças não é uma prova automática da existência das crenças. 
A crença é uma coisa, a atribuição útil é outra.
Para a teoria do conhecimento, ao atribuir crenças a terceiros e discutir as possibilidades e condições 
de conhecimento, devemos nos lembrar do princípio da caridade, isto é, devemos atribuir sempre que 
possível crenças a terceiros que acreditamos ser verdadeiras. Trata-se, aqui, de um verdadeiro ato de 
honestidade intelectual do estudioso, pois, afinal, o interesse é discutir e compreender representações 
adequadas dos estados de coisas.
Outro problema em relação às crenças decorre da dificuldade de tradução e compreensão, 
sobretudo se estamos discutindo atribuições a terceiros. Já destacamos que crenças são variáveis 
dependentes de situações sociais (arte, economia, política, entre outros sistemas) e, portanto, 
podem ser de difícil tradução para outra pessoa. A própria interpretação da crença é um processo 
criativo que dificulta qualquer radicalismo em relação à atribuição de crenças a terceiros; 
por isso, novamente o estudioso deverá ter cautela ao avançar sobre essas atribuições, devendo em 
cada caso ser contextualizada com informações relevantes para compreender os possíveis sentidos 
subjacentes daquela representação.
Ainda, o tema das crenças sofre uma forte crítica diante de estudos neurológicos que admitem que 
elas são apenas estados mentais e nada mais. Todavia, ninguém pode negar que o homem possui a 
capacidade de representar para si e para outros os estados de coisas possíveis no mundo. Assim, a crença 
é um fenômeno psicológico complexo e que não pode ser reduzido apenas ao exame das redes neurais.
A crítica baseada nos estudos neurológicos serve como forte eliminativismo da teoria do 
conhecimento, transformando-a em um desdobramento de estudos biológicos. Todavia, a simples 
redução da complexidade da psicologia e dos avanços de estudos epistemológicos não pode ser restrita 
apenas a um campo de uma epistemologia natural. Conhecer é também um ato social complexo, 
que depende de um contexto e da interação entre sujeitos.
Duas razões se impõem contra o eliminativismo em sua forma atual. 
Em primeiro lugar, a previsão feita pelo eliminativismo não é 
perfeitamente clara. Ou seja, não está claro o que seria necessário para 
que um dia descobríssemos que as crenças não existem. Em específico, 
os filósofos eliminativistas não oferecem uma explicação adequada da 
redução radical – uma explicação que nos diga exatamente quando uma 
teoria pode tomar por completo o lugar da outra e quando uma teoria 
pode ratificar de fato a existência dos objetos postulados pela outra. 
Em segundo lugar, a principal previsão do eliminativismo ainda não foi 
confirmada. Os fascinantes desenvolvimentos da neurociência cognitiva 
não tolheram nem tornaram desnecessários os avanços ocorridos em 
campos da psicologia que evidentemente fazem uso da nossa comum 
noção de crença, como a psicologia cognitiva e a psicologia social 
(MOSER; MULDER; TROUT, 2004, p. 62).
18
Unidade I
Por fim, é possível admitir que a relação entre crença e conhecimento é restrita se pensarmos que 
existem outras formas de atitudes proposicionais que servem de base para o conhecimento. Veja o 
esclarecimento de Valter Alnis Bezerra:
A crença é uma atitude proposicional. Mas há um espectro de outras 
atitudes proposicionais que também poderiam aspirar a ser qualificadas 
como conhecimento, tais como aceitação, prospecção, pressuposição, 
adesão, endosso, conhecimento de fundo, tentativa, dúvida, crítica. E, em 
muitos corpos de conhecimento complexos, encontram-se, com frequência, 
inclusive, atitudes cognitivas que nem mesmo são proposicionais. Pensemos, 
por exemplo, na epistemologia da imagem, dos diagramas, da iconografia 
etc. Reduzi-las a conteúdos proposicionais seria descaracterizar aquilo que 
elas têm de mais singular. Esta é uma primeira indicação de que analisar o 
conceito de “conhecimento” em termos do conceito de “crença” é demasiado 
restritivo (BEZERRA, 2014, p. 728).
Para exemplificar essa questão, é possível cogitar o que é a crença no caso de uma comunidade 
epistêmica, ou qualquer sujeito coletivo ou organização. Para essa posição, não bastaria apenas enumerar e 
colecionar o conjunto de conhecimento de todos os membros dessa comunidade epistêmica. É o caso, 
então, de aceitar a possibilidade de existência de outros tipos de portadores de conhecimento.
1.3 O problema de Gettier
Uma questão que colocou em xeque a definição tripartite do conhecimento é o problema elaborado 
por Edmund Gettier, ao indicar que a justificativa para a crença pode ser equivocada, mas a crença acaba 
sendo verdadeira por contingência. Tal problema foi apresentado em 1963, no artigo “É a crença verdadeira 
justificada conhecimento?”.
 Saiba mais
Leia o artigo de Gettier na íntegra:
GETTIER, E. É a crença verdadeira justificada conhecimento? Tradução: 
Célia Teixeira. Investigações Filosóficas. [s.d.]. Disponível em: http://www.
investigacoesfilosoficas.com/wp-content/uploads/Gettier-1963-E_-a-
crenc_a-verdadeira-justificada-conhecimento.pdf. Acesso em: 4 fev. 2019.
Vejamos o caso por meio do exemplo de Júlio novamente. Ele acredita que chove, pois sua jaqueta 
está encharcada de água. O argumento da jaqueta é equivocado, já que descobre que a peça está sendo 
lavada, e, portanto, a crença na chuva acaba sendo verdadeira por outra razão – vamos supor, em razão 
das medições do pluviômetro que Júlio desconhecesse na hora.
19
TEORIA DO CONHECIMENTO
Segundo Gettier, o conceito em três partes estava incompleto, pois existiam casos que não se 
qualificavam como situações de conhecimento à luz da definição de crença verdadeira e justificada. 
Os casos de Gettier confirmam que nem a posse de evidências nem a origem em fontes confiáveis são 
suficientes para garantir que uma crença não seja verdadeira apenas por causa da sorte. Deveria existir 
uma quarta condição?
Esse assunto ganhou diferentes respostas na história da teoria do conhecimento. Para defensores de 
Gettier, deveria se aplicar uma condição de causalidade capaz de eliminar a hipótese da justificativa falsa.
Resumidamente, a teoria causal diz que conhecer um fato é uma questão de aceitar uma crença 
causada por esse mesmo fato. Se considerarmos o que acontece nos casos de Gettier, em que há umacrença verdadeira justificada sem conhecimento, notaremos haver uma desconexão causal entre o que 
o sujeito acredita e o que está acontecendo no mundo. 
Pensemos no viajante do deserto que acredita existir água no vale seguinte por causa de 
uma alucinação. Mesmo que exista água ali, isso não é importante para fazê-lo ter essa crença. 
Sua crença surge de uma confusão interna. Compare esse caso com o da água da pia, quando 
realmente vemos água utilizando nossa percepção normal. O fato de a água estar lá desempenha 
um papel fundamental na formação de nossa crença. A água reflete os raios de luz em nossos olhos, 
levando-nos a experiências visuais que nos fazem acreditar que há água à nossa frente.
Por sua vez, a formulação de Goldman de sua análise causal do conhecimento é: S sabe que P é 
verdadeiro se e somente se o fato de P ser verdadeiro está causalmente ligado de maneira apropriada com 
a ideia de que S acredita que P é verdadeiro (NAGEL, 2013a). Para ele, as conexões causais apropriadas 
incluem as percepções dos sentidos, o testemunho e a inferência. Por exemplo, podemos saber que Neil 
Armstrong caminhou na Lua mesmo que não o tenhamos visto fazer isso pessoalmente. Isso é possível 
desde que exista uma corrente de conexões causais entre esse fato e a formação de nossa crença. 
Quando Armstrong pisou na Lua, isso foi televisionado, alguém viu essas imagens e acabou escrevendo 
um livro ou fazendo um filme que trouxe até nós a crença justificada de que ele realmente esteve lá. 
Portanto, há uma cadeia de fatos que causam nossa crença e a justificam.
A teoria causal de Goldman é curiosamente diferente da análise clássica do conhecimento como 
crença verdadeira justificada. Goldman mantém as condições de crença e verdade, mas, quando 
acrescenta sua condição causal, ele abandona a necessidade de justificação.
Na compreensão de conhecimento pela teoria de Goldman, não precisamos de justificação para 
saber que conhecemos alguma coisa. Esse autor observa que, para muitos fatos aleatórios, nós nem nos 
lembramos mais de como chegamos a conhecê-los corretamente.
Podemos não saber quem originalmente nos disse que Neil Armstrong andou na Lua, nem onde 
e quando lemos ou aprendemos o que ele fez. Se alguém nos desafiar a enunciar a origem de nosso 
conhecimento, podemos nem ser capazes de dizer nada a respeito, porque não nos lembraremos. Mesmo 
assim, ainda teremos certeza de que conhecemos esse fato.
20
Unidade I
Goldman afirma que, desde que nossa crença tenha sido causada da maneira correta, existe uma 
cadeia causal cuja origem é o fato em si, e nós adquirimos conhecimento (NAGEL, 2013a).
Figura 3 – Comandante da aeronave Apollo 11 Neil Armstrong (à frente) e 
piloto Edwin E. Aldrin treinando sua mobilidade na superfície lunar
Alguns filósofos levantaram objeções à ideia de adquirir conhecimento sem justificação. Outros 
se perguntaram quais são os elementos importantes para criar uma conexão causal apropriada e 
apareceram com casos intrigantes, em que os fatos causam crenças verdadeiras através de caminhos 
bastante estranhos. 
Para outros, o que se observou foi um relaxamento da condição de justificação; isso porque os casos 
de Gettier envolvem níveis insuficientes de justificação. Na verdade, o conhecimento requer níveis mais 
altos de justificação do que os casos de Gettier pressupõem.
Ainda, alguns teóricos ignoram completamente a condição de justificação. Eles diriam que, 
se concebermos o conhecimento como uma crença verdadeira produzida de maneira confiável, não há 
necessidade de justificativa.
Trata-se de uma posição identificada como confiabilismo que admite, então, a justificativa como 
elemento importante do conhecimento, mas que se vincula apenas à confiança. Como teoria do 
conhecimento, o confiabilismo afirma que a justificação não é necessária para o conhecimento; em vez 
disso, a crença verdadeira produzida de maneira confiável é suficiente.
Há muitas formas diferentes de consubstanciar essa ideia central, mas é amplamente aceito entre os 
confiabilistas que nenhuma crença constitui o caminho perfeito para produzir conhecimento. Podemos 
adquirir conhecimento através de nosso sistema visual, mesmo que esse sistema possa ser enganado por 
um cientista maluco. Enquanto nosso conjunto de sentidos for capaz de fornecer a verdade em nosso 
ambiente atual, poderemos adquirir conhecimento por meio dele.
21
TEORIA DO CONHECIMENTO
Existem várias objeções ao confiabilismo. Uma delas é o problema da generalidade. Sempre que 
formamos uma crença, estamos usando algum mecanismo de formação de crenças. Temos que identificar 
esse mecanismo para classificar se nossa crença é verdadeira e confiável ou não. Entretanto, pode ser 
complicado isolar o mecanismo correto.
Como vimos, Edmund Gettier começou uma revolução da epistemologia em 1963. Podemos nomear 
seu feito como a introdução da epistemologia da primeira crença, segundo a qual primeiro se pergunta 
em que se acredita, para depois verificar o que tem de ser acrescentado para alcançar o conhecimento. 
Todo mundo percebe imediatamente que falsas crenças não se parecem com conhecimento. A equação 
começa geralmente com uma crença verdadeira adicionada a mais alguma coisa. 
A regra atual é: conhecimento = crença verdadeira + X. Há muitas propostas para determinar o que 
é X. No entanto, é muito difícil propor um X que suporte os questionamentos contrários. Algumas boas 
hipóteses de X são muito complicadas para que se tornem uma regra geral.
Figura 4 – Ilusão de ótica
2 CONCEITO DE VERDADE
Uma vez compreendido o conceito de crença, é fundamental discutir o conceito de verdade – uma 
segunda condição admitida para a caracterização do conceito de conhecimento.
A verdade é um tema central na história da filosofia, sobretudo diante da definição de uma orientação 
última de todo o empreendimento humano: a busca pela verdade. Nesse sentido, por exemplo, Platão 
vinculava a verdade com o conceito de sumo bem, isto é, a verdade se revela na vida virtuosa.
O desejo da verdade aparece muito cedo nos seres humanos como desejo 
de confiar nas coisas e nas pessoas, isto é, de acreditar que as coisas são 
exatamente tais como as percebemos e o que as pessoas nos dizem é digno de 
confiança e crédito. Ao mesmo tempo, nossa vida cotidiana é feita de pequenas 
e grandes decepções e, por isso, desde cedo, vemos as crianças perguntarem 
aos adultos se tal ou qual coisa “é de verdade ou é de mentira” (...). Assim, seja 
na criança, seja nos jovens ou nos adultos, a busca da verdade está sempre 
22
Unidade I
ligada a uma decepção, a uma desilusão, a uma dúvida, a uma perplexidade, 
a uma insegurança ou, então, a um espanto e uma admiração diante de algo 
novo e insólito (CHAUI, 2000, p. 113).
A verdade corresponde à felicidade ou ao bem-estar, sendo este o objetivo mais elevado do 
pensamento humano, enquanto as virtudes são as habilidades e disposições necessárias para alcançá-la. 
Todavia, esse não é o caso para a teoria do conhecimento, que se vincula a uma visão mais modesta 
sobre a verdade, não se equiparando a uma visão utilitarista ou eudemonista de verdade.
Isso porque a teoria do conhecimento não se preocupa com um conceito último de verdade, apoiado 
em certa moralidade. Aliás, esse ponto é discutido nos próprios diálogos socráticos ao apresentarem 
questionamentos diante de diferentes valores humanos, de modo que os leitores sejam confrontados 
com o problema do pensar.
O confronto do problema do pensar pode revelar certo relativismo do conceito de verdade, pois, 
afinal, a depender das condições admitidas para identificar a verdade, é possível admitir que uma mesma 
crença pode ser reputada como falsa e verdadeira por sujeitos distintos. Nesse sentido, é importante 
estudar os diferentes critérios para a fixação da verdade ou falsidade das proposições.
2.1 Verdade por correspondência
A teoria da correspondência da verdade é uma visão que defende – de modo abrangente – que o 
conceito de verdade consisteem uma relação com a realidade, ou seja, alguma propriedade relacional, 
como a correspondência, a conformidade, ou a representação em relação aos estados de coisas possíveis 
no mundo. Observou-se, ao longo da história da filosofia, uma multiplicidade de versões dessa teoria, 
ainda que se repute como percurso dessa teoria a filosofia aristotélica.
 Observação
O dicionário Michaelis (2015) define “verdade” como “o que está de 
acordo com os fatos ou a realidade; conformidade com o real; autenticidade, 
exatidão, veracidade”.
A definição de verdade como uma correspondência tem sua raiz na proposição de Aristóteles, feita no 
Livro IV, da Metafísica, de que uma afirmação só é verdadeira se afirma que o que é, é, ou que o que não é, não 
é. Nessa mesma linha, uma afirmação só é falsa se afirmar que o que é, não é, ou que o que não é, é. O sentido 
do fraseado pode ser muito difícil de apreender à primeira vista, mas a ideia fundamental fica clara depois de 
um pouco de reflexão. A afirmação de que Chicago é uma grande cidade norte-americana é verdade porque 
afirma que o que é (Chicago como uma grande cidade norte-americana) é de fato (Chicago é uma grande 
cidade norte-americana). A afirmação de que Seattle fica ao sul de Los Angeles é falsa porque afirma que o 
que não é (Seattle ao sul de Los Angeles), é (afirma que Seattle fica ao sul de Los Angeles) (MOSER; MULDER; 
TROUT, 2004, p. 74).
23
TEORIA DO CONHECIMENTO
A teoria da correspondência da verdade é frequentemente associada ao realismo metafísico. 
Seus concorrentes tradicionais, pragmatistas, bem como teorias coerentes, verificacionistas e outras 
teorias epistêmicas da verdade, são frequentemente associados ao idealismo, antirrealismo ou relativismo.
Na sequência, vamos enumerar alguns argumentos a favor da teoria da correspondência e 
algumas objeções.
Tomás de Aquino, por exemplo, apresenta uma versão metafísica da teoria, pois sustenta que um 
pensamento é verdadeiro porque está em conformidade com certa realidade. Desse modo, uma coisa 
ou pessoa é considerada verdadeira porque está em conformidade com um pensamento (um amigo 
é verdadeiro na medida em que e porque está em conformidade com o nosso julgamento ou com o 
divino). Os teólogos consideram tanto a verdade do julgamento quanto a verdade da pessoa, de alguma 
forma fluindo ou fundamentadas na verdade mais profunda que é divina.
Pensadores medievais, como Guilherme de Ockham, apresentaram uma versão semântica da teoria 
da correspondência, pois uma afirmação é verdadeira se e somente se atende ao critério de significação, 
ou seja, daquilo que especificamente está sendo designado. Se determino que Júlio sabe que está 
chovendo, estou especificando determinado sujeito e objeto, o que facilita a identificação do significado 
da minha afirmação.
Um dos pontos importantes dessa teoria é determinar exatamente o que é a correspondência: trata-se de 
um fato ou um objeto? As versões tradicionais das teorias baseadas em objetos supunham que os itens que 
sustentam a verdade (geralmente considerados julgamentos) tenham uma estrutura de sujeito-predicado. 
Isso envolve duas relações em um objeto: uma relação de referência, mantendo-se entre o termo sujeito 
do julgamento e o objeto sobre o qual o julgamento é (seu objeto); e uma relação de correspondência, 
mantendo-se entre o termo predicado do julgamento e uma propriedade do objeto. Devido à sua dependência 
da estrutura sujeito-predicado de itens que sustentam a verdade, a conta sofre de uma limitação inerente: não 
abrange os portadores da verdade que não possuem estrutura predicado por assunto e situações complexas 
que não correspondem a nenhum aspecto do mundo.
Outra abordagem é o conjunto das teorias baseadas em fatos, que não pressupõem que os itens que 
sustentam a verdade tenham uma estrutura de predicado-sujeito. Isso porque, de fato, é possível afirmar 
algo sem nenhuma referência explícita à estrutura dos itens que sustentam a verdade. Essa abordagem 
incorpora, assim, uma resposta alternativa ao problema da correspondência a uma realidade específica. 
A formulação clássica de uma teoria da correspondência baseada em fatos foi apresentada por David 
Hume e também por Bertrand Russell ao afirmarem que uma crença é verdadeira quando há um fato 
correspondente e é falsa quando não há um fato correspondente. A ênfase autoconsciente dos fatos como 
partes correspondentes da realidade pode ser compreendida como uma defesa do realismo metafísico. 
Talvez possamos evitar os problemas ligados à noção de correspondência se formularmos uma 
definição de verdade que não parta de um conceito tão específico. Podemos definir a afirmação verdadeira 
simplesmente como uma afirmação tal que o que ela afirma ser de fato é. A afirmação já feita, e que não 
corresponde aos fatos, é evidentemente verdadeira, pois o que ela afirma ser de fato é; especificamente, 
que, se você fosse o presidente dos Estados Unidos, seria famoso. Do mesmo modo, nossas afirmações 
24
Unidade I
normativistas podem ser verdadeiras quando o que afirmam ser de fato é. Essa versão mais simples da 
definição da verdade como uma correspondência assemelha-se à afirmação de Aristóteles segundo a qual 
é verdadeiro dizer, do que é, que é (MOSER; MULDER; TROUT, 2004, p. 75).
As principais objeções a essa teoria se referem à limitação pressuposta. Embora se aplique às 
verdades de alguns domínios do discurso, por exemplo o domínio da ciência, fracassa em outros, 
por exemplo o domínio da moralidade: não há fatos morais ou fatos lógicos. Uma possível resposta 
se refere ao fato de que as verdades do domínio sinalizado correspondem a fatos de um domínio 
diferente considerado não problemático – por exemplo, verdades morais correspondem a fatos sociais 
e comportamentais, e verdades lógicas correspondem a fatos sobre convenções linguísticas. Dizer que 
“Júlio é justo” se refere ao seguinte fato que existiu: ele repartiu de forma equânime a torta de maçã 
para os seus seis convidados que estavam jantando.
2.2 Verdade por coerência
De acordo com a teoria da coerência, as condições verdadeiras das proposições consistem em 
outras proposições. A teoria da correspondência, ao contrário, afirma que as condições verdadeiras das 
proposições não são proposições (em geral), mas possuem características do mundo.
Embora as teorias de coerência e correspondência sejam fundamentalmente opostas dessa maneira, 
ambas apresentam – em contraste com as teorias deflacionárias da verdade – uma concepção substantiva 
da verdade: a verdade é uma propriedade de proposições que podem ser analisadas em termos dos tipos de 
proposições de condições de verdade e as proposições de relações se mantêm nessas condições.
Segundo a definição da verdade como coerência, uma afirmação só é 
verdadeira se guarda uma relação adequada com algum sistema de outras 
afirmações. Essa relação adequada é chamada coerência. Essa definição foi 
apresentada por Espinosa e Hegel e em tempos mais recentes foi associada 
à figura de Brand Blanshard. A concepção da verdade como coerência tem 
de tratar da questão da natureza da coerência. Qual o sentido de dizer que 
uma afirmação “coere” com algum sistema de outras afirmações? Uma das 
possibilidades faz apelo à noção de implicação lógica: uma afirmação coere 
com um sistema de outras afirmações se e somente se decorre logicamente 
desse sistema ou implica logicamente algum subconjunto do sistema. Os 
coerentistas propõem às vezes o sistema das verdades matemáticas como 
paradigma de um sistema coerente, capaz de produzir a verdade. Não é 
tão evidente, porém, que espécie de sistema real pode servir como base de 
coerência para todas as verdades (MOSER; MULDER; TROUT, 2004, p. 78).
As primeiras versões da teoria da coerência foram associadas ao idealismo, eventualmente 
vinculado de alguma forma às obras de Espinosa, Kant, Fichte e Hegel. Os idealistas são levados a uma 
teoria coerente da verdade por sua posição metafísica. Os defensores da teoria da correspondênciaacreditam que uma crença é (pelo menos na maioria das vezes) ontologicamente distinta das 
condições objetivas que tornam a crença verdadeira. Os idealistas não acreditam que exista uma 
distinção ontológica entre crenças e o que as torna verdadeiras.
25
TEORIA DO CONHECIMENTO
Da perspectiva dos idealistas, a realidade é algo como uma coleção de crenças. Ademais, uma crença 
não pode ser verdadeira porque corresponde a algo que não é uma crença. Em vez disso, a verdade de 
uma crença só pode consistir em sua coerência com outras crenças. Uma crença é verdadeira na medida 
em que é coerente com outras crenças.
Uma objeção à teoria da coerência decorre da impossibilidade de identificar o conjunto especificado 
de proposições sem contradizer sua posição. O argumento de que “Júlio serviu pizza aos seus convidados” 
é coerente com algum conjunto de proposições, mas a afirmação “Júlio serviu torta de maçã aos 
seus convidados” também está de acordo com outro conjunto de proposições. Desse modo, ninguém 
supõe que a primeira dessas proposições seja verdadeira, apesar de ser coerente com um conjunto 
de proposições. A objeção é que os teóricos da coerência não têm motivos para dizer que a primeira 
afirmação é falsa e a segunda verdadeira. Em outras palavras, pode-se dizer que temos motivos para 
concluir que a primeira afirmação é falsa e a segunda é verdadeira porque a última é coerente com 
proposições que correspondem aos fatos. 
Ainda, prevalece outra objeção apresentada por Bertrand Russell, ao afirmar que qualquer teoria 
da coerência pressupõe a verdade das leis da lógica. Por exemplo, dizer que duas proposições são 
coerentes entre si é pressupor a verdade da lei da não contradição. Nesse caso, o coerentismo não 
admite a verdade da lei da não contradição. No entanto, se o teórico da coerência sustenta que a 
verdade da lei da não contradição depende de sua coerência com outro sistema de crenças, essa 
teoria não se sustenta na medida em que as proposições não podem ser coerentes entre si.
Essa observação de Russell pode ser rechaçada, já que a lei da não contradição, como qualquer 
outra verdade, é verdadeira porque é coerente com um sistema de crenças. Em particular, a lei da não 
contradição é apoiada pela crença de que, por exemplo, a comunicação e o raciocínio seriam inviáveis, 
a menos que todo sistema de crenças contenha algo como a lei da não contradição. Para os teóricos 
da coerência, é provável, então, que qualquer conjunto coerente de crenças deve incluir a lei da não 
contradição ou uma lei semelhante.
Por fim, a teoria da coerência admite certo relativismo ao aceitar diferentes sistemas de crenças, 
mesmo que se aceite a lei da não contradição.
Se o sistema em questão provém do conjunto de crenças de um indivíduo, a 
verdade será relativa ao indivíduo. Pessoas diferentes, dotadas de diferentes 
sistemas de crenças básicas, só poderão aceitar afirmações que tenham 
coerência com seus sistemas pessoais, consequentemente, aceitarão como 
verdadeiras afirmações diferentes, talvez até conflitantes. Uma afirmação 
pode ser coerente com o sistema de crenças de uma pessoa, e assim ser 
verdadeira em relação a esse sistema, e ao mesmo tempo não ser coerente 
com o sistema de outra pessoa e ser, portanto, falsa com relação a esse 
outro sistema (MOSER; MULDER; TROUT, 2004, p. 79).
26
Unidade I
2.3 Verdade por utilidade
As teorias pragmáticas da verdade geralmente estão associadas à proposta de Charles S. Peirce de 
que as verdadeiras crenças serão aceitas “no final da investigação” ou à proposta de William James 
de que a verdade seja definida em termos de utilidade. Desde então, diferentes teorias pragmáticas 
se desenvolveram.
De forma mais ampla, essas teorias se concentram na conexão entre a verdade e as práticas 
epistêmicas, notadamente as práticas de investigação e afirmação. Dependendo da teoria pragmática 
adotada, afirmações verdadeiras podem ser úteis para acreditar que são o resultado de uma 
investigação, que atendem a um padrão de assertibilidade garantida ou que representam normas do 
discurso assertórico. 
Diferentemente das teorias de correspondência que, como visto, tendem a adotar a verdade como 
uma relação estática entre um portador da verdade e um criador desta, as teorias pragmáticas da 
verdade tendem a trabalhar o conceito de verdade como uma função das práticas em que as pessoas se 
envolvem e dos compromissos assumidos. Portanto, as teorias pragmáticas tendem a enfatizar o papel 
significativo que o conceito de verdade desempenha em uma variedade de disciplinas e discursos.
Em outras palavras, as teorias pragmáticas da verdade têm o efeito de desviar a atenção do que 
torna uma afirmação verdadeira para o que efetivamente as pessoas querem dizer ou fazer ao descrever 
uma afirmação como verdadeira. Assim, as teorias pragmáticas da verdade enfatizam as dimensões 
práticas e performativas mais amplas da verdade, ressaltando o papel que a verdade desempenha na 
formação de certos tipos de discurso. 
Como todas as teorias pragmáticas da verdade, esses “novos” relatos pragmáticos se concentram no 
uso e na função da verdade. Os primeiros pragmáticos, como Pierce e James, respondiam primariamente 
à teoria da correspondência da verdade. Hoje, as novas teorias pragmáticas têm como objetivo mostrar 
que há mais na verdade do que sua função dissociativa. Vale dizer que o conceito de verdade também 
funciona como uma norma que impõe expectativas claras aos enunciadores.
Ao afirmar que algo é verdadeiro, o enunciador assume a obrigação de especificar as consequências 
de sua afirmação, de considerar como suas afirmações podem ser verificadas e de oferecer razões para 
apoiar suas reivindicações. Obviamente, se Júlio afirmar que está chovendo canivetes, terá que apontar 
as razões que comprovam que sua afirmação é verdadeira – indicando o método, a pesquisa, entre 
outras afirmações, a ponto de ser crível por qualquer um.
Percebe-se, assim, que a verdade não é apenas um objetivo de investigação; há pressuposta na verdade 
uma norma de investigação que estabelece expectativas de como os investigadores se comportam. 
Trata-se de uma norma da verdade, sem a qual os enunciadores não poderiam ser responsabilizados 
apenas por afirmar sinceramente coisas em que eles próprios não acreditam ou por afirmar coisas que 
não têm evidências suficientes.
27
TEORIA DO CONHECIMENTO
Por fim, é importante destacar algumas objeções às teorias pragmáticas. Primeiro, o questionamento 
sobre a equiparação da verdade à utilidade. A crítica admite a existência de crenças úteis, mas falsas, por um 
lado, e a existência de verdadeiras crenças inúteis, do outro. A resposta a essa rejeição decorre do simples fato 
de que a utilidade é admitida como critério (e não definição) de verdade pelos pragmatistas.
Além disso, uma outra objeção é que as teorias pragmáticas da verdade são antirrealistas, pois 
essas teorias da verdade abordam a verdade epistemicamente, concentrando-se na verificabilidade, 
na assertibilidade e em outros conceitos relacionados. Os críticos acreditam que os pragmatistas tornam 
a verdade subjetiva demais e dependente da nossa capacidade contingente de descobrir as coisas, 
em oposição às teorias por correspondência, que recorrem a fatos objetivos como responsáveis pela verdade.
Nessa visão, acredita-se que as teorias pragmáticas são uma teoria da justificação ou da assertibilidade 
– e não da verdade.
Os pragmatistas não determinaram suficientemente a natureza exata da 
utilidade que, segundo sua alegação, define a verdade. De acordo com 
certas explicações pragmáticas, a noção de verdade parece ser somente a 
noção de garantia epistêmica ou justificação. Pode-se admitir a importância 
das considerações relativas à utilidade cognitiva para a justificação de 
uma crença, e ao mesmo tempo negar que tal utilidade sirva como uma 
definição da verdade. O fato de não haver distinção entre as condições que 
definem a verdade e as condições da justificação elimina– o que é implausível 
– a possibilidade de haver crenças falsas, mas justificadas. Parece que, para 
todas as noções específicas de utilidade apresentadas pelos pragmatistas, 
é possível que uma crença seja considerada útil, mas mesmo assim seja falsa. 
É evidente que certas crenças falsas podem provar-se cognitivamente úteis. 
Os pragmatistas, porém, parecem ter a forte intuição de que uma afirmação 
não pode ser ao mesmo tempo cognitivamente útil e falsa (MOSER; MULDER; 
TROUT, 2004, p. 81).
2.4 Verdade necessária, contingência e erro
O tema da verdade e do erro guarda uma importante relação com a filosofia da ciência. Para 
Aristóteles, por exemplo, é importante diferenciar a verdade necessária do contingente.
A verdade necessária é aquela na qual não existe nenhuma possibilidade de falsidade. Acredita-se, 
assim, que um dos propósitos da verdade científica é produzir afirmações verdadeiras necessárias 
(afastando efetivamente as falsas) sobre o mundo. Afinal, afirmar que 2 + 1 = 3 é o mesmo que 
dizer que matematicamente essa afirmação é necessária, já que seu contrário não pode ser verdade 
(como 2 + 1 = 4). Uma situação diferente é realizar afirmações que poderiam não ser verdadeiras, mas 
são tal como “Júlio sabe que está chovendo agora” – ainda que isso não seja uma verdade necessária.
Ao longo da história da filosofia, inúmeros pensadores se preocuparam com a chamada verdade 
ontológica, aquela afirmação que exprime o ser das coisas, enquanto corresponde exatamente ao nome 
28
Unidade I
que se lhes dá. Nesse sentido, por exemplo, as ideias são conforme as coisas. Conhecer essa verdade é, 
então, conhecer as coisas exatamente como são. Tal ponto remete ao debate já apresentado entre os 
idealistas e os realistas.
O interessante é perceber que esses debates se vinculam à própria história, sendo que a verdade é 
um conceito histórico. Vejamos:
As várias concepções da verdade que foram expostas estão articuladas 
com mudanças históricas, tanto no sentido de mudanças na estrutura e 
organização das sociedades, como quanto no sentido de mudanças no 
interior da própria Filosofia. Assim, por exemplo, nas sociedades antigas, 
baseadas no trabalho escravo, a ideia da verdade como utilidade e eficácia 
prática não poderia aparecer, pois a verdade é considerada a forma superior 
do espírito humano, portanto, desligada do trabalho e das técnicas, e tomada 
como um valor autônomo do conhecimento enquanto pura contemplação 
da realidade, isto é, como teoria. Nas sociedades nascidas com o capitalismo, 
em que o trabalho escravo e servil é substituído pelo trabalho livre e em que 
é elaborada a ideia de indivíduo como um átomo social, isto é, como um ser 
que pode ser conhecido e pensado por si mesmo e sem os outros, a verdade 
tenderá a ser concebida como dependendo exclusivamente das operações 
do sujeito do conhecimento ou da consciência de si reflexiva autônoma. 
Também nas sociedades capitalistas, regidas pelo princípio do crescimento 
ou acumulação do capital por meio do crescimento das forças produtivas 
(trabalho e técnicas) e por meio do aumento da capacidade industrial para 
dominar e controlar as forças da Natureza e a sociedade, a verdade tenderá 
a aparecer como utilidade e eficácia, ou seja, como algo que tenha uso 
prático e verificável. Assim como o trabalho deve produzir lucro, também o 
conhecimento deve produzir resultados úteis (CHAUI, 2000, p. 132).
Nesse sentido, as verdades contingentes podem ser revistas, por exemplo quando o estado da arte 
da tecnologia possibilitar ao homem observar e compreender fenômenos antes não notados. Não seria 
possível discutir o mapa genético com maior precisão antes da invenção do microscópio, por exemplo.
Exemplo de aplicação
Como vimos, a discussão do significado e da busca pela verdade é um tema central na história da filosofia. 
Diferentes concepções foram apresentadas ao longo da história.
Reflita sobre as diferentes acepções apresentadas pelo texto, comparando, por exemplo, a atuação 
do cientista na busca da verdade científica a partir de um novo experimento e a decisão do juiz, que 
pretende alcançar a verdade jurídica. Será que a verdade científica se equipara à verdade jurídica?
Não restam dúvidas de que as tecnologias possibilitam a revisão da verdade e nos lembram, inclusive, 
da importância do erro no conhecimento.
29
TEORIA DO CONHECIMENTO
Para alguns autores, o espírito em relação ao verdadeiro pode se encontrar em quatro estados diferentes:
•	 Estado de ignorância: ausência de todo conhecimento relativo a qualquer objeto.
•	 Estado de dúvida: a dúvida é uma suspensão de qualquer juízo, não tendo qualquer afirmação 
sobre o objeto.
•	 Estado de opinião: afirmação que se baseia na probabilidade de determinado juízo, ainda que 
ignore as razões para tal.
•	 Estado de certeza: adesão firme a uma verdade conhecida, que recorre à evidência. A clareza é 
plena, pela qual o verdadeiro se impõe à adesão da inteligência.
Muitos defendem que a certeza pode ser metafísica quando se baseia na própria essência das coisas; 
física quando se baseia na experiência ou em leis da natureza ou moral quando a asserção é verdadeira.
Se a verdade lógica é a conformidade da inteligência às coisas, o erro é seu oposto e não deve ser 
definido como a não conformidade do juízo às coisas. Nessa visão, erro e ignorância não se confundem. 
Esta se refere a nada saber, enquanto o erro consiste em não saber e afirmar acreditar saber – é uma 
ignorância que se ignora.
Alguns atribuem aos erros causas lógicas, como falta de atenção e de memória, e também causas 
morais, como a vaidade, pela qual confiamos em demasia nas nossas luzes pessoais, o interesse, pelo 
qual preferimos asserções que nos são favoráveis, e a preguiça, pela qual aceitamos simplificações e 
aceitamos os argumentos de autoridade.
Para tanto, alguns remédios contra o erro são as aplicações de métodos das regras lógicas, a exemplo 
dos processos dedutivos e indutivos, e o amor pela verdade e a suspeita filosófica, que nos inclina a 
desconfiar de nós mesmos, agir com paciência e perseverança na procura da verdade.
Por fim, é possível também discutir o critério da certeza que permite reconhecer uma coisa, 
distinguindo-a de todas as outras. É possível distinguir critérios particulares dos universais para afirmar: 
“Isto é verdadeiro, isto é falso”. Por vezes, o critério universal é vinculado à evidência. Daí dizer que tudo 
o que é evidente é verdadeiro e, mais, apenas isso é evidente.
A mencionada identificação do debate sobre verdade e erro foi alterada sobretudo com o avanço das 
preocupações da humanidade e do próprio esclarecimento do homem. Afinal, Hannah Arendt pontua, 
bem retomando Kant:
O grande obstáculo que a razão (Vernunft) coloca à sua própria maneira 
surge do lado do intelecto (Verstand) e dos critérios inteiramente 
justificados que ela estabeleceu para seus próprios propósitos, isto é, 
para saciar nossa sede e satisfazer nossa necessidade, conhecimento 
e cognição. (...) A necessidade da razão não é inspirada pela busca da 
verdade, mas pela busca de significado. E verdade e significado não 
30
Unidade I
são os mesmos. A falácia básica, tomando precedência sobre todas as 
falácias metafísicas específicas, é interpretar o significado no modelo da 
verdade (ARENDT, 2000, p. 27).
Aí reside o paradoxo da ciência e da teoria do conhecimento: a ideia de que seu objetivo é dissipar 
a ignorância com o conhecimento, mas também é, na melhor das hipóteses, conduzido totalmente pela 
ignorância. O que é a verdade? Dizer se determinada afirmação é verdadeira ou falsa passa, na melhor 
das circunstâncias, a depender da possibilidade de verificar à luz de determinadas convenções ou perante 
certas comunidades se são aceitas como verdades e, portanto, precisam ser verificáveis ou confirmáveis.
A princípio, é possível coletar um número suficiente de evidências para que se possa defini-las como 
verdadeiras. Tal visão se vincula à perspectiva indutiva dopensamento e pressupõe certa uniformidade 
da natureza, tal como no famoso caso do cisne negro: o fato de todos os cisnes já observados serem 
brancos não é uma garantia de que todos os cisnes são brancos. Mas o que isso diz sobre o nosso mundo?
 Saiba mais
Sugerimos o livro a seguir para aprofundar o estudo das teorias de 
Hannah Arendt sobre o significado de verdade:
ARENDT, H. A vida do espírito: o pensar, o querer, o julgar. Rio de Janeiro: 
Relume Dumará, 2000. 
Novamente, Arendt é precisa: esperar que a verdade venha do pensamento significa que nós 
confundimos a necessidade de pensar com o desejo de saber. O pensamento pode e deve ser empregado 
na tentativa de conhecer, mas no exercício dessa função nunca é ele mesmo; é apenas a versão criada 
de um empreendimento totalmente diferente. No limite, a tentativa de objetividade na verdade sempre 
será uma busca do estudioso da teoria do conhecimento.
Diante dessa perspectiva crítica sobre a verdade, é possível observar na história da teoria do 
conhecimento uma guinada em relação à valorização do erro no processo de aquisição de conhecimento, 
bem como certa tematização da incerteza no conhecimento.
Hoje, o conceito de incerteza interessa tanto à lógica, à matemática e à física quanto às artes. 
Na verdade, são sobretudo as investigações estéticas que parecem precisar do pensamento incerto. Essa 
nova forma de pensar relaciona-se a uma característica das situações artísticas em geral, como resultado 
da presença de situações semânticas. A ambiguidade é um conceito que não pertence exclusivamente à 
lógica clássica e à matemática. Se alguém tem dúvida do que é um pensamento incerto, basta assistir 
a uma comédia: a maioria das piadas são proposições de pensamento incerto.
A lógica e a matemática clássica sempre buscam situações precisas, porque os matemáticos acham 
que a ambiguidade é um tipo de pecado da razão. Mesmo assim, tem sido muito interessante estudar 
com métodos rigorosos o conceito de incerteza, que do ponto de vista lógico e matemático constrói o 
contexto da lógica difusa, a lógica fuzzy ou nebulosa.
31
TEORIA DO CONHECIMENTO
A lógica nebulosa abandonou o princípio da lógica aristotélica de que os valores da verdade, 
o verdadeiro e o falso, são dois e apenas dois, não se considerando a ambiguidade das situações 
semânticas de indeterminação. Na década de 1920, começaram a ser estudadas as lógicas polivalentes, 
ou seja, as lógicas segundo as quais os valores da verdade podem ser mais do que dois, geralmente 
tantos quantos os números reais que estão no intervalo entre zero e um. 
As lógicas difusas foram inicialmente criadas para fins filosóficos, porque nos anos 1920 era 
necessário salvar o livre-arbítrio do determinismo da lógica e da matemática. Se as respostas para 
tudo estivessem sempre limitadas a sim ou não, não existiria espaço para alguém pensar diferente nem 
mudar de ideia; não haveria terceira opinião.
O resultado prático desse modo de filosofar foi que esse tipo de lógica permitiu, nos anos 1960 e 
1970, no Japão, o ajuste de dispositivos tecnológicos que faziam funcionar câmeras de vídeo e máquinas 
de lavar roupa. 
Um conjunto fuzzy é uma classe de objetos com um continuum de graus 
de associação. Esse conjunto é caracterizado por uma função de associação 
(característica) que atribui a cada objeto um grau de pertencimento entre zero e 
um. As noções de inclusão, união, intersecção, complemento, relação, convexidade 
etc. são estendidas a tais conjuntos, e diferentes propriedades dessas noções são 
estabelecidas no contexto de conjuntos fuzzy (HAACK, 2002, p. 222).
Um conjunto difuso é uma coleção de objetos em que não há um limite muito preciso ou definido 
entre os objetos que pertencem a ele e os que não pertencem. Por exemplo: quem são todos os torcedores 
de um time de futebol da zona leste de uma cidade? São os que moram lá? São os que assistem a jogos do 
time lá? Podemos discutir isso por horas sem chegar a nenhuma conclusão. Isto é exatamente um conjunto 
difuso: temos uma boa ideia do que é, mas é difícil determinar seus limites.
3 CONCEITO DE JUSTIFICAÇÃO
Afirmar que Júlio sabe que chove não assegura que essa crença verdadeira não seja conhecimento, 
mas mera adivinhação. Obviamente que Júlio sabe, por inúmeras razões já apresentadas, que o 
conhecimento também depende de justificativa.
Para relacionar as condições entre crença e verdade, é necessário um elemento integrador que se 
identifica como justificação, efetivos indícios ou provas de que essa afirmação é verdadeira. Uma atenção 
deve ser notada, pois é possível trabalhar com uma crença justificada falsa – discutindo o caso do falibilismo.
Segundo o falibilismo, uma proposição pode ser amparada por um 
grande número de indícios e mesmo assim pode ser falsa. Lembre-se de 
que, de acordo com a maioria dos filósofos, os astrônomos ptolomaicos 
pré-copernicanos tinham justificativa suficiente para aderir ao modelo 
geocêntrico do universo, muito embora fosse falso. A realidade do mundo 
não precisa de modo algum ser igual ao que os nossos melhores indícios nos 
dizem que ela é (MOSER; MULDER; TROUT, 2004, p. 86).
32
Unidade I
Justificativas servem como boas razões que nos guiam para confirmar as crenças verdadeiras; logo, 
podem ser derrotadas e não necessariamente decorrem logicamente do que elas justificam.
Considere, por exemplo, que quase todos os que nasceram no Brasil conhecem as chuvas tropicais 
por experiência e que Júlio é brasileiro. Tais proposições servem como uma justificativa não necessária 
de que Júlio conhece as chuvas tropicais por experiência, mas poderiam dizer que ele apenas soube 
que choveu por causa da medição do pluviômetro, que coletou uma quantidade de precipitação 
de gotas. Ao adquirir essa segunda justificativa, a primeira sobre “nascer no Brasil e conhecer por 
experiência” é derrotada em face da nova justificativa. Logo, justificavas mudam conforme novas 
provas são apresentadas.
Uma distinção entre as justificativas é delimitar as razões obrigatórias e não obrigatórias – trata 
de saber quais razões devem ser apresentadas. Se Fátima perguntar a Júlio se choveu canivetes hoje, 
ele está obrigado a dizer a verdade? Deve apresentar razões necessárias? Quais razões? A depender da 
relação social subjacente, sim. Caso Júlio fosse o meteorologista de uma estação de rádio de grande 
cidade, é possível admitir que ele deveria apresentar razões necessárias de que não choveu canivetes, 
mas gotas de água na cidade.
Para tanto, poderiam ser utilizadas as evidências já mencionadas para facilitar a justificativa. Vejamos: 
“segundo os dados meteorológicos oficiais da cidade, choveu 237 mm pela manhã”; ou, ainda: “tivemos 
27 pontos de alagamento na cidade em razão da forte chuva”. Essas afirmações são justificativas da 
afirmação primeira de que Júlio sabe que choveu hoje, mas também são necessárias na medida em 
que afastam a possibilidade de qualquer tipo de chance de chuva de canivetes, já que não se admitiria 
– pragmaticamente – que tal proposição fosse feita por um meteorologista de uma rádio. Júlio conhece 
as regras epistêmicas necessárias para desempenhar seu ofício a ponto de guiar as suas condutas – por 
exemplo, que deve sempre dar o relato sobre o tempo a partir de evidências. Trata-se de entender quais 
obrigações o objetivo da verdade nos impõe.
Todavia, um contraexemplo pode ser oferecido, que questiona a exigência de oferecimento de 
justificativas obrigatórias. Crenças não podem ser exatamente controladas tal como nossas ações. 
Retomando o exemplo de Júlio, vamos supor que nessa cidade exista uma crença difundida de que 
às quartas-feiras do mês de janeiro a comunidade crê que chova canivetes. A princípio, não existe 
nenhuma razão suficiente que justificaria essa crença, mas, ainda que fosse falsa, Júlio deveria negar a 
pergunta de Fátima?
A pergunta é interessante, pois nos revela que crenças não são adequadas para avaliação 
deontológica; pode-se admitir certa falta de

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