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Doença de Kawasaki ● doença febril aguda da infância encontrada no mundo todo, com maior incidência entre crianças asiáticas ● vasculite com predileção pelas artérias coronárias ● 20% a 25% das crianças não tratadas desenvolvem anomalias da artéria coronária (AAC) ● 5% das crianças tratadas com gamaglobulina intravenosa (IGEV) desenvolvem AAC ● principal causa de doença cardíaca adquirida em crianças na maior parte dos países desenvolvidos Etiologia ● causa desconhecida ● acometimento de uma faixa etária jovem, epidemias com propagação geográfica da doença, natureza autolimitada da doença febril aguda e características clínicas de febre, erupções cutâneas, enantema, hiperemia conjuntival e linfadenopatia cervical→ origem infecciosa. ● rara a ocorrência de vários casos ao mesmo tempo dentro de um núcleo familiar ou creche ● nenhum agente etiológico infeccioso foi identificado com sucesso, apesar de pesquisas exaustivas Epidemiologia ● maioria: DK é uma doença da infância ● maior suscetibilidade em meninos ● mais de 75% de todas as internações associadas a DK em pacientes com menos de 18 anos de idade foram registradas em crianças com menos de 5 anos, com idade média de 3 anos ● crianças de origem asiática e das ilhas do Pacífico tiveram maior taxa de hospitalização em comparação a crianças negras não hispânicas, crianças hispânicas e crianças brancas não hispânicas ● preditores de mau desfecho: idade baixa, gênero masculino, febre persistente, má resposta a IGEV, e alterações laboratoriais incluindo neutrofilia, trombocitopenia, transaminite, hiponatremia, hipoalbuminemia, níveis elevados de porção N-Terminal do pró-peptídeo natriurético cerebral e níveis elevados de proteína C-reativa Patologia ● vasculite que afeta predominantemente as artérias de médio porte ● artérias coronárias são as mais comumente envolvidas, embora outras artérias, como a poplítea e a braquial, também possam desenvolver dilatação ● três fases para a arteriopatia ○ 1º fase: arterite necrotizante neutrofílica que ocorre nas primeiras 2 semanas da doença→ começa no endotélio e vai em direção à parede coronariana→ pode formar aneurismas saculares ○ 2ª fase: vasculite subaguda/crônica impulsionada por linfócitos, células plasmáticas e eosinófilos → pode durar de semanas a anos e resultar em aneurismas fusiformes→ vasos afetados desenvolvem miofibriloblastos de células musculares lisas, que causam estenose progressiva + pode haver formação de trombos no lúmen e obstrução do fluxo sanguíneo Manifestações clínicas ● febre alta (≥ 38,3°C) incessante e não responde a antibióticos ○ sem tratamento → dura 1 a 2 semanas, mas pode persistir por 3 a 4 semanas ● outros 5 principais critérios clínicos ○ hiperemia conjuntival não exsudativa bilateral com preservação do limbo ○ eritema da mucosa oral e faríngea com língua em morango e lábios vermelhos e rachados ○ edema e eritema das mãos e dos pés ○ erupções de várias formas (maculopapulares, eritema multiforme ou escarlatiniformes) ○ linfadenopatia cervical não supurativa, geralmente unilateral, com tamanho do linfonodo superior 1,5 cm ● descamação perineal: comum na da fase aguda ● descamação periungueal dos dígitos e artelhos começa 2 a 3 semanas após o início da doença e pode progredir até envolver toda a mão e o pé ● achados laboratoriais na DK aguda ○ leucocitose com neutrofilia e formas imaturas ○ velocidade de hemossedimentação elevada ○ proteína C-reativa elevada ○ anemia ○ lipídios plasmáticos anormais ○ hipoalbuminemia ○ hiponatremia ○ trombocitose após a 1ª semana ○ piúria estéril ○ transaminases séricas elevadas ○ elevação na gama glutamil transpeptidase sérica ○ pleocitose do líquido cefalorraquidiano ○ leucocitose no fluido sinovial ● sintomas além dos critérios clínicos: comuns nos 10 dias anteriores ao diagnóstico de DK→ até um terço dos pacientes com DK tem infecções simultâneas confirmadas ● sintomas gastrointestinais (vômitos, diarreia ou dor abdominal) acometem mais de 60% dos pacientes, e pelo menos um sintoma respiratório (tosse ou coriza) ocorre em 35% deles ● irritabilidade significativa: especialmente proeminente em crianças e provavelmente uma consequência da meningite asséptica, hepatite branda, hidropisia da vesícula biliar, uretrite e meatite com piúria estéril e artrite ● artrite pode se manifestar no início da doença ou pode desenvolver-se na primeira ou na terceira semana da doença ● pequenas ou grandes articulações podem ser afetadas, e as artralgias podem persistir por várias semanas ● características clínicas menos compatíveis com a DK: conjuntivite exsudativa, faringite exsudativa, linfadenopatia generalizada, lesões orais discretas e erupções bolhosas, pustulares ou vesiculares ● envolvimento cardíaco: manifestação mais importante da DK ○ miocardite ocorre na maior parte dos pacientes com DK aguda→ se manifesta como taquicardia desproporcional à febre, junto com função sistólica ventricular esquerda diminuída ○ ocasionalmente: pacientes com DK apresentam choque cardiogênico (síndrome de choque da DK), com função ventricular esquerda acentuadamente diminuída ○ pode ocorrer pericardite com um pequeno derrame pericárdio durante a doença aguda ○ insuficiência atrioventricular esquerda de gravidade pelo menos leve é evidente no ecocardiografia em 10% a 25% dos pacientes → diminui de incidência com o tempo, exceto entre os raros pacientes com aneurismas coronarianos e doença cardíaca isquêmica ○ AAC se desenvolve em até 25% dos pacientes não tratados entre a 2º e a semana de doença ○ aneurismas gigantes da artéria coronária (definição clássica de diâmetro interno > 8 mm) → maior risco para rotura, trombose ou estenose, e infarto agudo do miocárdio ○ artérias axilar, poplítea, ilíaca ou outras artérias também podem tornar-se dilatadas→massa pulsante localizada ● ocasionalmente: DK apresenta inicialmente apenas febre e linfadenopatia→ pode atrasar o diagnóstico de DK ● crianças com DK que acomete primeiro os linfonodos tendem a ser mais velhas (4 vs 2 anos) e a ter mais dias de febre e níveis de proteína C-reativa mais elevados ● muitas crianças têm inflamação retrofaríngea e periamigdaliana nos exames de tomografia computadorizada (TC) ● 3 fases clínicas ○ (1) fase febril aguda: febre e outros sinais de doença aguda e normalmente dura entre 1 e 2 semanas ○ (2) fase subaguda: associada a descamação, trombocitose, desenvolvimento de AAC, risco mais elevado de morte súbita em pacientes que desenvolveram aneurismas e geralmente dura cerca de 3 semanas ○ (3) fase de convalescença: começa quando todos os sinais clínicos da doença desapareceram e continua até que a velocidade de hemossedimentação (VHS) retorne ao normal, normalmente cerca de 6 a 8 semanas após o início da doença Achados laboratoriais e radiológicos ● não existe um teste diagnóstico para a DK ● achados laboratoriais característicos ● contagem de leucócitos elevada, com predomínio de neutrófilos e formas imaturas ● anemia normocítica normocrômica: comum ● contagem de plaquetas: normal na primeira semana da doença e aumenta rapidamente entre a segunda e a terceira semana da doença, às vezes acima de 1.000.000/mm3 ● valor elevado de VHS e/ou de proteína C reativa está universalmente presente na fase aguda da doença ● VHS pode permanecer elevada por semanas, em parte pelo efeito da IGEV ● pode haver presença de piúria estéril, pequenas elevações nas transaminases hepáticas, hiperbilirrubinemia e pleocitose do líquido cerebrospinal ● ecocardiografia bidimensional é o exame mais útil para monitorar o desenvolvimento de AAC e deve ser realizado por um cardiologista pediátrico ○ aneurismas francos raramente são detectados no início da doença ○ ausência do afilamento normal dos vasos é típica ○ dimensões das artérias coronárias ajustadas à área de superfície corporal na ecocardiografia de base nos primeiros 10 dias da doença parecem ser bons preditores do envolvimento durante o início doacompanhamento ● aneurismas ○ pequenos: < 5 mm de diâmetro interno ○ médios: 5 a 8 mm de diâmetro interno ○ gigantes: > 8 mm de diâmetro interno ● ecocardiograma deve ser realizado no momento do diagnóstico e novamente após 2 a 3 semanas de doença ○ resultados normais→ exame deve ser repetido em 6 a 8 semanas após o início da doença ○ resultados anormais ou se paciente tiver febre ou sintomas recorrentes→ pode ser necessária uma ecocardiografia com mais frequência ou outros exames ● pacientes sem anormalidades coronarianas em qualquer momento durante a doença → realização de um ecocardiograma e de um perfil lipídico 1 ano mais tarde ○ após: avaliação periódica para aconselhamento cardiológico preventivo não se justifica ● pacientes com anomalias coronarianas → tipo de exame e a frequência de consultas de acompanhamento ao cardiologista são adaptadas à condição coronariana dos pacientes Diagnóstico ● se baseia na presença de sinais clínicos característicos ● DK clássica ○ critérios diagnósticos: febre por pelo menos 4 dias e no mínimo 4 de 5 outras características principais da doença ● DK atípica ou incompleta ○ pacientes têm febre persistente, mas menos de 4 de 5 características ○ dados laboratoriais e ecocardiográficos podem auxiliar no diagnóstico ○ casos incompletos são mais frequentes em crianças →maior probabilidade de desenvolver AAC ● casos ambíguos → encaminhados a um centro com experiência no diagnóstico de DK Diagnóstico diferencial ● adenovírus, o sarampo e a escarlatina ● crianças com adenovírus: normalmente têm faringite exsudativa e conjuntivite exsudativa ● problema clínico comum: diferenciação da escarlatina da DK em uma criança que é portadora de estreptococos do grupo A ○ pacientes com escarlatina normalmente têm uma resposta clínica rápida à antibioticoterapia adequada ○ tratamento realizado por 24 a 48 horas, com reavaliação clínica geral, determina o diagnóstico ○ achados oculares são bastante raros na faringite estreptocócica do grupo A e podem auxiliar no diagnóstico de DK ● características do sarampo que o distinguem da DK ○ conjuntivite exsudativa, manchas de Koplik, xantema que começa no rosto e couro cabeludo e atrás das orelhas, bem como leucopenia ● linfadenite cervical pode ser o diagnóstico inicial em crianças que por fim são diagnosticadas com DK ● febre maculosa ○ características distintivas: mialgias pronunciadas e cefaleia no início, erupções cutâneas centrípetas e petéquias palmoplantares ● leptospirose ● crianças com DK e miocardite pronunciada podem demonstrar hipotensão com um quadro clínico semelhante ao da síndrome de choque tóxico ○ características da síndrome de choque tóxico que não são comumente observadas na DK: insuficiência renal, coagulopatia, pancitopenia e miosite ● síndrome de Stevens-Johnson (hipersensibilidade a fármacos) ○ presença de edema periorbital, ulcerações orais e VHS normal ou minimamente elevado não são vistas na DK ● artrite idiopática juvenil de início sistêmico ○ achados físicos incluem linfadenopatia difusa e hepatoesplenomegalia Tratamento ● 2 g/kg de IGEV e aspirina em altas doses (80-100 mg/kg/dia, divididas a cada 6 h) dentro de 10 dias do início da doença e, de modo ideal, o mais rapidamente possível após o diagnóstico → tratamento resulta em defervescência e resolução dos sinais clínicos da doença em aproximadamente 85% dos pacientes ● considerar fortemente a realização de tratamento em pacientes com febre persistente e/ou sinais de inflamação sistêmica que são diagnosticados após o décimo dia de febre ● dosagem de aspirina geralmente é diminuída de doses anti-inflamatórias para doses antitrombóticas (3-5 mg/kg/dia em dose única) após o paciente ter permanecido afebril durante 48 horas ● aspirina é continuada por seu efeito antitrombótico até 6 a 8 semanas após o início da doença e é, então, interrompida em pacientes que tiveram resultados normais na ecocardiografia durante todo o curso de sua doença ● pacientes com AAC: continuam seu tratamento com aspirina e podem necessitar de anticoagulação, dependendo do grau de dilatação coronariana Complicações ● paciente com DK que apresentou um pequeno aneurisma solitário deve continuar utilizando aspirina indefinidamente ● pacientes com aneurismas maiores ou vários aneurismas podem exigir a adição de outros agentes antiplaquetários ou anticoagulantes ● ocasionalmente: trombose aguda em uma artéria coronária aneurismática ou estenótica ● acompanhamento a longo prazo dos pacientes com aneurismas de artérias coronárias: deve incluir uma ecocardiografia periódica com teste de estresse e, possivelmente, uma angiografia em caso de presença de grandes aneurismas ● pacientes submetidos a tratamento com aspirina a longo prazo devem receber vacinação anual contra a gripe para reduzir o risco de síndrome de Reye Prognóstico ● maioria dos pacientes com DK retorna à saúde normal, já que o tratamento oportuno reduz o risco de aneurismas coronarianos para menos de 5% ● DK aguda recorre em 1% a 3% dos casos ● prognóstico para os pacientes com anomalias coronarianas depende da gravidade da doença coronariana → recomendações para acompanhamento e conduta são estratificadas de acordo com a condição da artéria coronária ● geralmente: 50% dos aneurismas da artéria coronária regridem ao diâmetro luminal normal em 1 a 2 anos após a doença ○ aneurismas menores têm maior probabilidade de regredir
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