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Universidade Estadual do Centro-Oeste do Paraná Campus Universitário do CEDETEG Curso de Medicina Acadêmicos: Kendra Cauana Esteves, Matheus Arengheri Vicente, Melany Mariussi, Nathalia Rodrigues, Victoria Lebedenco TUTORIA IV Caso 2 - Sarcoidose GUARAPUAVA Dezembro de 2022 S C R I P T S SINAIS E SINTOMAS COMEÇ O E DURAÇ ÃO RELAÇÃO EPIDEMIOLÓGICA INTEGRAÇÃO FISIOPATOLÓGICA PRO GNÓ STIC O TRATAMEN TO (INCLUSIVE TESTES) SEGUIMEN TO Dispneia 7 dias agudo Mulher Neurológica Autol imita da Losartana Cefaleia 40 anos Tegumentar Anlodipino Vertigem Afrodescendente Sistema Imune Creatinina alta Parestesia Obesa Linfático TGO e TGP elevados Linfonodo palpável Hipertensa Rim Raio-x com opacidade no linfonodo hilar direito Eritema Acastanhado Histórico familiar de AVC Cardiopulmonar Ca iônico alto Troponina alta Resumo do Caso: • Mulher Afrodescendente de 40 anos apresenta cefaleia, vertigem, parestesia, dispenia, linfonodo supraclavicular palpável abaixo do trapézio e lesão eritema-acastanhada na nuca. Não fuma, não bebe, faz uso de anti-hipertensivos. Exames laboratoriais alterados e raio x de tórax mostrou a presença de uma opacidade no lobo inferior e médio do pulmão. Problema Clínico: • Dispneia associada a parestesia e vertigem com placa eritema-acastanhadas na pele Hipótese Diagnóstica: • Sarcoidose Diagnósticos Diferenciais: • Tuberculose • Hanseníase • Sífilis • Neoplasia de Mediastino Sarcoidose • Epidemiologia: A sarcoidose é uma doença global, com uma prevalência de cerca de 10-20 casos a cada 100.000 pessoas e uma incidência que dependendo da população pode variar de 0-35 casos a cada 100.000 pessoas ao ano. As taxas mais elevadas são relatadas na Europa e Norte da África, particularmente em mulheres, com a maioria dos diagnósticos ocorrendo entre a segunda e a quarta décadas de vida. A doença é ainda de 3 a 4 vezes mais comum na população negra em comparação com os caucasianos. Agentes ambientais ou infecciosos podem ter papel causal. A sua causa não é conhecida e seu diagnóstico pode ser difícil, pois não existem biomarcadores específicos e sua apresentação pode ser similar a outras doenças pulmonares, neurológicas ou multissistêmicas. A exposição a mofo, a odores, a insecticidas, ou ao processamento de metais são fatores de risco aparentes para seu desenvolvimento, com alta incidência de aparecimento da doença em bombeiros e respondedores ao ataque no World Trade. Por outro lado, uma diminuição do risco tem sido associada ao tabagismo. A doença é considerada esporádica, mas casos familiares são relatados em 6% dos casos e em gemêos monozigóticos o risco de desenvolver a doença é 80 vezes maior, o que sugere existir um papel genético no aparecimento da doença. • Etiologia: Admite-se que a sarcoidose decorra de resposta inflamatória a um antígeno ambiental em indivíduos geneticamente suscetíveis. Embora incerto, os deflagradores propostos incluem • Propionibacterium acnes e micobactérias (potencialmente a proteína catalase-peroxidase do Mycobacterium tuberculosis [mKatG]) • Mofo ou bolor e certas substâncias não identificadas presentes nos locais de trabalho com odores de mofo • Pesticidas, sobretudo aqueles que contêm compostos de alumínio O tabagismo está inversamente correlacionado com sarcoidose. Evidências que apoiam a susceptibilidade genética incluem: • Taxa mais alta de concordância da doença em gêmeos monozigóticos do que gêmeos dizigóticos • Maior prevalência de sarcoidose (cerca de 3,6 a 9,6%) entre os parentes de 1ª ou 2ª grau de pacientes que têm sarcoidose • Aumento de cinco vezes no risco relativo de desenvolver sarcoidose em irmãos de pacientes que têm sarcoidose • Identificação de vários genes HLA (human leukocyte antigen) e não HLA possivelmente associados à sarcoidose • Fisiopatologia: A causa exata da sarcoidose ainda não é conhecida. Muitos estudos sugerem que a suscetibilidade genética e fatores ambientais contribuem para o aparecimento da doença. Imunologicamente, a sarcoidose é uma resposta imunológica exagerada a antígenos não identificados. Não existem evidências de que a sarcoidose tenha uma etiologia infecciosa; ao contrário, parece representar esta resposta imune exagerada a estímulos como mofo e micobactérias parcialmente degradadas e propionobacterias. O antígeno desconhecido deflagra resposta imunitária mediada por célula, caracterizada pelo acúmulo de células T e macrófagos, liberação de citocinas e quimiocinas e organização de células responsivas em granulomas. Agrupamentos da doença em famílias e comunidades sugerem predisposição genética, exposições compartilhadas ou, com menos frequência, transmissão de pessoa a pessoa. O resultado do processo inflamatório exagerado leva à formação de granulomas sem caseificação, a marca registrada da sarcoidose. Granulomas são coleções de células mononucleares e macrófagos, que se diferenciam em células epitelioides multinucleadas gigantes e são circundadas por linfócitos, plasmócitos, fibroblastos e colágeno. Granulomas ocorrem mais comumente nos pulmões e linfonodos, mas podem envolver qualquer órgão e causar disfunção significativa. Os granulomas no pulmão distribuem-se ao longo dos vasos linfáticos, encontrados predominantemente nas regiões peribronquiolar, subpleural e perilobular. O acúmulo de granulomas distorce a arquitetura dos órgãos afetados. Não se sabe se os granulomas levam diretamente à fibrose ou se seu curso é paralelo. A presença de granulomas na progressão da doença manifesta-se em alguns pacientes, mas com resolução espontânea em outros pacientes, o aumento do fator de crescimento ß (TGF-p) pode ter um papel nesta evolução. Os granulomas acontecem por interação de macrófagos e linfócitos T que se retro-estimulam. Na sarcoidose aguda, o número de células CD14 aumentam e ativação de linfócitos Th1 com produção de interferon-y, TNF-alfa e interleucina 2 ocorrem. A resposta imune Th1 é exagerada, ainda mais por causa da ausência de sinais de feedback imunológicos negativos de células T reguladoras, que estão em número baixo nesses pacientes. Estes eventos são dependentes de alterações genéticas predisponentes, com o HLA DRB1, predispondo a doença com resolução espontânea e HLA-DRB1 14 ou HLA-DRB1, predispondo a evolução com cronicidade, alguns genes foram identificados com possível fator co-causal, mas cada um desses agentes aumenta pouco o risco de desenvolvimento da sarcoidose. Pode ocorrer hipercalcemia por causa da maior conversão da vitamina D à forma ativada (1,25 di-hidroxi vitamina D) pelos macrófagos. Hipercalciúria pode estar presente, mesmo em pacientes com níveis séricos normais de cálcio sérico. Nefrolitíase e nefrocalcinose podem ocorrer, levando algumas vezes à doença renal crônica. • Manifestações Clínicas: Os sintomas comuns da sarcoidose são vagos, podem compreender dispneia, tosse, desconforto torácico e estertores crepitantes no exame físico. Também são comuns fadiga, mal-estar, fraqueza, anorexia, perda ponderal e febre baixa. A sarcoidose pode se manifestar como febre de origem indeterminada. O comprometimento sistêmico causa vários sintomas, os quais variam em termos de raça, sexo e idade. Os negros têm maior probabilidade que os brancos de desenvolverem comprometimento de olhos, fígado, medula óssea, linfonodos periféricos e pele, diferentemente do eritema nodoso. As mulheres têm maior probabilidade de desenvolver eritema nodoso (nódulos vermelhos) e envolvimento dos olhos ou do sistema nervoso. Os pacientes do sexo masculino e os mais idosos têm maior probabilidade de ter hipercalcemia. Crianças com sarcoidose podem apresentar síndromede Blau (artrite, exantema, uveíte) ou manifestações semelhantes às dos adultos. A sarcoidose pode ser confundida com artrite idiopática juvenil (artrite reumatoide juvenil) nessa faixa etária. https://www.msdmanuals.com/pt-br/profissional/dist%C3%BArbios-geniturin%C3%A1rios/doen%C3%A7a-renal-cr%C3%B4nica/doen%C3%A7a-renal-cr%C3%B4nica https://www.msdmanuals.com/pt-br/profissional/dist%C3%BArbios-geniturin%C3%A1rios/doen%C3%A7a-renal-cr%C3%B4nica/doen%C3%A7a-renal-cr%C3%B4nica https://pt.wikipedia.org/wiki/Sintoma https://www.msdmanuals.com/pt-br/profissional/doen%C3%A7as-infecciosas/biologia-das-doen%C3%A7as-infecciosas/febre-de-origem-indeterminada-foi https://www.msdmanuals.com/pt-br/profissional/dist%C3%BArbios-dermatol%C3%B3gicos/hipersensibilidade-e-doen%C3%A7as-cut%C3%A2neas-reativas/eritema-nodoso https://www.msdmanuals.com/pt-br/profissional/dist%C3%BArbios-end%C3%B3crinos-e-metab%C3%B3licos/dist%C3%BArbios-eletrol%C3%ADticos/hipercalcemia https://www.msdmanuals.com/pt-br/profissional/dist%C3%BArbios-oftalmol%C3%B3gicos/uve%C3%ADte-e-dist%C3%BArbios-relacionados/vis%C3%A3o-geral-da-uve%C3%ADte https://www.msdmanuals.com/pt-br/profissional/pediatria/artrite-idiop%C3%A1tica-juvenil/artrite-idiop%C3%A1tica-juvenil-aij Highlight Highlight Sistema Frequência estimada Comentários Pulmonar > 90% Granulomas se formam nos septos alveolares e nas paredes brônquicas e bronquiolares, causando pneumopatia difusa; também há comprometimento de artérias e veias pulmonares Frequentemente assintomático Resolve-se de modo espontâneo em muitos pacientes, mas pode evoluir para disfunção pulmonar progressiva, acarretando limitações da atividade física, insuficiência respiratória e morte em poucos casos Linfático pulmonar 90% Detecção acidental de comprometimento hilar ou mediastinal por radiografia de tórax na maioria dos pacientes; outros podem ter linfadenopatias periférica ou cervical indolores Músculo 50–80% Doença assintomática, com ou sem elevação das enzimas, na maioria dos pacientes Às vezes, pode haver miopatia insidiosa ou aguda, com fraqueza muscular Hepático 40–75% Em geral, assintomático Manifesta-se por discretos aumentos nas provas de função hepática, áreas de hipotransparência por TC com contraste Raramente, causa colestase ou cirrose clinicamente significativa Quando a sarcoidose compromete apenas o fígado, a diferenciação entre sarcoidose e hepatite granulomatosa é difícil Articulação 25–50% Artrite de tornozelo, joelho, punho e cotovelo (mais comum) Pode causar artrite crônica, com deformidades de Jaccoud ou dactilite Síndrome de Löfgren (tríade de poliartrite aguda, eritema nodoso e adenopatia hilar) https://www.msdmanuals.com/pt-br/profissional/dist%C3%BArbios-hep%C3%A1ticos-e-biliares/fibrose-e-cirrose/cirrose https://www.msdmanuals.com/pt-br/profissional/dist%C3%BArbios-hep%C3%A1ticos-e-biliares/massas-e-granulomas-hep%C3%A1ticos/granulomas-hep%C3%A1ticos https://www.msdmanuals.com/pt-br/profissional/dist%C3%BArbios-hep%C3%A1ticos-e-biliares/massas-e-granulomas-hep%C3%A1ticos/granulomas-hep%C3%A1ticos Hemtológico < 5–30% Linfocitopenia Anemia decorrente de doença crônica Anemia decorrente de infiltração granulomatosa da medula óssea, às vezes com consequente pancitopenia Sequestro esplênico, com consequente trombocitopenia Leucopenia Dermatológico 25% Eritema nodoso: • Nódulos vermelhos, endurecidos e dolorosos na face anterior das pernas • Mais comum em europeus, porto-riquenhos e mexicanos • Em geral, regridem em 1–2 meses • As articulações circundantes frequentemente são artríticas (síndrome de Löfgren) • Pode ser sinal de bom prognóstico Biópsia das lesões eritematosas nodosas é desnecessário porque granulomas característicos de sarcoidose estão ausentes Lesões cutâneas comuns: • Placas • Máculas e pápulas • Nódulos subcutâneos • Hipopigmentação • Hiperpigmentação Lúpus pérnio: • Placas violáceas no nariz, nas bochechas, nos lábios e nas orelhas • Mais comum em negros americanos e em porto- riquenhos • Associa-se frequentemente à fibrose pulmonar • Sinal de prognóstico reservado Ocular 25% Uveíte (mais comum), que provoca vista turva, fotofobia e lacrimejamento Pode acarretar cegueira Resolve-se espontaneamente na maioria das vezes Pode manifestar conjuntivite, iridociclite, coriorretinite, dacriocistite, infiltração da glândula lacrimal que acarreta ressecamento dos olhos, neurite óptica, glaucoma ou catarata O comprometimento ocular é mais comum em negros americanos e descendentes de japoneses Indica-se a avaliação anual para a detecção precoce da doença https://www.msdmanuals.com/pt-br/profissional/hematologia-e-oncologia/leucopenias/linfocitopenia https://www.msdmanuals.com/pt-br/profissional/hematologia-e-oncologia/anemias-causadas-por-eritropoese-deficiente/anemia-decorrente-de-doen%C3%A7a-cr%C3%B4nica https://www.msdmanuals.com/pt-br/profissional/hematologia-e-oncologia/leucopenias/vis%C3%A3o-geral-da-leucopenias https://www.msdmanuals.com/pt-br/profissional/dist%C3%BArbios-dermatol%C3%B3gicos/hipersensibilidade-e-doen%C3%A7as-cut%C3%A2neas-reativas/eritema-nodoso https://www.msdmanuals.com/pt-br/profissional/dist%C3%BArbios-oftalmol%C3%B3gicos/uve%C3%ADte-e-dist%C3%BArbios-relacionados/vis%C3%A3o-geral-da-uve%C3%ADte Psiquiátrico 10% Depressão (comum), mas não está esclarecido se é manifestação primária de sarcoidose ou resposta à evolução prolongada da doença e às recorrências frequentes Renal 10% Hipercalciúria assintomática (mais comum) Nefrite intersticial Doença renal crônica causada por nefrolitíase e nefrocalcinose e que requer substituição renal (diálise ou transplante) em alguns pacientes Esplênico 10% Em geral, assintomático Manifesta-se por dor no hipocôndrio esquerdo e trombocitopenia, achado acidental na radiografia ou como na TC Neurológico < 10% Neuropatia craniana, em especial no 7º nervo (que causa paralisia facial) e no 8º nervo (que causa perda auditiva) Neuropatias óptica e periférica (comum) Qualquer par craniano pode ser comprometido O envolvimento do sistema nervoso central é constituído de lesões nodulares ou inflamação meníngea difusa, tipicamente nas regiões do cerebelo e do tronco encefálico Diabetes insípido central, polifagia e obesidade, alterações termorregulatórias e da libido Seios nasais < 10% Inflamação granulomatosa aguda e crônica da mucosa dos seios da face com sintomas indistinguíveis das sinusites comuns alérgicas e infecciosas A biópsia confirma o diagnóstico Mais comum em pacientes com lúpus pérnio Cardíaco 5% Bloqueios de condução e arritmias (mais comuns), algumas vezes causando morte súbita Insuficiência cardíaca por miocardiopatia restritiva (primária) ou hipertensão pulmonar (secundária) Disfunção transitória do músculo papilar e pericardite (raras) É mais comum em japoneses, nos quais a miocardiopatia é a causa mais frequente de óbito relacionado com a sarcoidose Osso 5% Lesões osteolíticas ou císticas Osteopenia https://www.msdmanuals.com/pt-br/profissional/dist%C3%BArbios-geniturin%C3%A1rios/doen%C3%A7as-tubulointersticiais/nefrite-tubulointersticial https://www.msdmanuals.com/pt-br/profissional/dist%C3%BArbios-geniturin%C3%A1rios/doen%C3%A7a-renal-cr%C3%B4nica/doen%C3%A7a-renal-cr%C3%B4nica https://www.msdmanuals.com/pt-br/profissional/dist%C3%BArbios-end%C3%B3crinos-e-metab%C3%B3licos/dist%C3%BArbios-hipofis%C3%A1rios/diabetes-ins%C3%ADpido-central https://www.msdmanuals.com/pt-br/profissional/doen%C3%A7as-cardiovasculares/miocardiopatias/miocardiopatia-restritiva https://www.msdmanuals.com/pt-br/profissional/dist%C3%BArbios-pulmonares/hipertens%C3%A3o-pulmonar/hipertens%C3%A3o-pulmonar Oral < 5% Edema assintomático da parótida (mais comum) Parotidite com xerostomia Síndrome de Heerfordt (febre uveoparotídea), caracterizada por uveíte, edema bilateral da parótida, paralisia facial e febre crônicaLúpus pérnio oral, que pode desfigurar o palato duro e comprometer bochecha, língua e gengiva Gastrintestinal Raro Raramente, granulomas gástricos Raramente, comprometimento intestinal Linfadenopatia mesentérica pode acarretar dor abdominal Endócrino Raro Infiltração das hastes hipotalâmica e hipofisária, podendo causar pan-hipopituitarismo Pode haver infiltração da tireoide sem disfunção Hipoparatireoidismo secundário em virtude de hipercalcemia Pleural Raro Provoca derrames exsudativos linfocíticos, geralmente bilaterais Reprodutivo Raro Relatos de casos de envolvimentos endometrial, ovariano, epididimal e testicular Não tem efeito na fertilidade A doença pode regredir durante a gestação e recidivar no pós-parto • Diagnóstico: Os pacientes devem realizar exames para avaliar a presença de manifestações pulmonares e extrapulmonares. As manifestações extrapulmonares devem ser procuradas com um exame físico completo, exame oftalmológico com uma lâmpada de fenda, e com um eletrocardiograma (ECG) e exames laboratoriais. O diagnóstico é mais difícil quando apenas um órgão é inicialmente. As manifestações cardíacas incluem bloqueios atrioventricular, arritmias ventriculares, insuficiência cardíaca, morte súbita e disautonomia. A presença de QRS aumentados ou bloqueios de ramo são sugestivos de envolvimento miocárdico. A ressonância magnética e PET-FDG podem mostrar lesões granulomatosas cardíacas. A avaliação do envolvimento neurológico pode ser avaliada por biópsia de nervo que raramente pode ser obtida. Os pacientes devem fazer RM, LCR e outros testes. Os diagnósticos diferenciais incluem esclerose múltipla, infecções e neoplasias. A avaliação do envolvimento pulmonar e intratorácico devem realizar alguns exames para facilitar seu diagnóstico. A aspiração com agulha endobrônquica guiada por ultrassom é uma técnica recente e útil para investigação de linfadenopatia mediastinal e hilar e pode evitar a necessidade de 87% das mediastinoscopias. Além disso, o uso de citologistas bem treinados no local podem fornecer informações sobre a necessidade de coleta de material adicional, ou indicar se a melhor opção é a realização de uma biopsia transbrônquica. O FDG-PET pode ser utilizado para avaliar com precisão a atividade inflamatória e pode ajudar a prever a deterioração pulmonar em um ano, e a melhora pulmonar esperada após o tratamento. Os exames de imagem são fundamentais para o diagnóstico do paciente. As radiografias de tórax são anormais em 90% dos casos e mostram linfadenopatia em 25-65% dos pacientes, infiltrados pulmonares em 40% dos casos, e fibrose pulmonar em 5% dos pacientes na apresentação. Os pacientes podem ser classificados da seguinte forma: - Estágio 1: linfadenopatia isoladamente hilar e mediastinal, representa cerca de 50% dos casos; - Estágio 2: infiltrado pulmonar com linfadenopatia hilar e mediastinal, ocorrendo em 30% dos casos; - Estágio 3: infiltrado pulmonar sem linfadenopatia, representa cerca de 10% dos casos; - Estágio 4: fibrose pulmonar com evidência de faveolamento, representando cerca de 10%. A TC pode mostrar o infiltrado pulmonar e fibrose, e pode ser utilizada para verificar a contribuição das diferentes lesões na doença. O FDG-PET mostra com precisão o processo inflamatório ativo. A prova de função pulmonar pode mostrar restrição de volume ou limitação de fluxo em vias aéreas, o que indica a presença de lesões em vias aéreas enquanto a presença de uma prova de função pulmonar completa com difusão de monóxido de carbono diminuída e fluxos anormais na espirometria são mais típicos. A distância de caminhada de 6 min é muitas vezes reduzida em sarcoidose e está correlacionada com os resultados de questionário respiratório de St George. A broncoscopia é usada para acessar e visualizar granulomas em vias aéreas proximais. Em situações particulares, o teste ergoespirométrico pode ajudar alterações induzidas pelo exercício em pacientes com sintomas inexplicadamente incapacitantes e para avaliar dispneia de origem incerta. A broncoscopia pode avaliar a presença de nódulos nas mucosas, distorção brônquica e estreitamento de vias aéreas secundário à fibrose pulmonar, estenoses brônquicas localizadas, compressão extrínseca, bronquiolite e hiper-reatividade das vias aéreas. Para o diagnóstico é necessário apresentação clínica compatível e evidência de inflamação de característica granulomatosa em órgão afetado pela doença, sendo necessária a frequente avaliação histopatológica tecidual. Existe a necessidade do preenchimento de três critérios para o diagnóstico, que são as manifestações clínicas, apresentação radiológica e a demonstração da presença de granulomas não caseososos, além da falta de evidência da presença de outras doenças, que poderiam ser etiologia da doença. Granuloma não caseoso Os sinais diagnósticos mais comuns são linfadenopatia hilar intratorácica bilateral, infiltração pulmonar micronodular na radiografia de tórax, associada com uma distribuição típica linfática ou um sinal de galáxia na TC e a presença de algumas manifestações extrapulmonares, como olho e pele. Se as manifestações clínicas são menos características, a presença combinada de múltiplos achados diagnósticos aumenta a possibilidade do diagnóstico. A probabilidade do diagnóstico de sarcoidose aumenta com a utilização da biopsia mostrando granuloma de células epitelioides não caseosos. Uma biopsia com este achado costuma ser suficiente para o diagnóstico e análise da biopsia é em geral recomendada antes de iniciar o tratamento. No entanto, a biópsia não é necessária para o diagnóstico de síndrome de Löfgren, que é uma forma aguda de sarcoidose em que é verificada a adenopatia hilar, eritema nodoso e muitas vezes artrite e febre. Outras situações que podem descartar a necessidade de biopsia incluem adenopatia hilar assintomática, ou adenopatia hilar associada com uveíte e para casos avançados de sarcoidose, sem indicação de tratamento. O melhor local para realizar a biópsia depende da acessibilidade, da segurança e do potencial de rendimento do processo de acordo com a apresentação. Amostras de biópsia de pelo, exceto para eritema nodoso, linfonodo periférico palpável deve ser considerado antes da biopsia de outros sítios. Se nenhum desses fatores estão presentes, em seguida, a broncoscopia flexível com biópsia endobrônquica e a biópsia pulmonar transbrônquica e endobrônquica guiada por ultrassom são opções. O lavado broncoalveolar mostra uma moderada linfocitose (20-50%) em 80% dos casos de sarcoidose e uma relação de linfócitos T CD4: CD8 superior a 3 ocorre em 50% dos casos, essa técnica poderia ser utilizada para auxiliar o diagnóstico de sarcoidose. Análise de uma amostra de biópsia de glândula salivar é útil quando as amostras anteriores falharem, ou quando nenhum alvo é facilmente acessível. Diagnósticos diferenciais que devem ser considerados incluem infecções, especialmente a tuberculose; ocupacionalmente induzida, induzidas ambientalmente, e granulomatose induzida por drogas; imunodeficiência comum variada, síndrome de Blau; reações tipo sarcoidose como em neoplasias e linfomas, e outras causas de granulomatose idiopática. O diagnóstico de uma imunodeficiência comum variável depende da presença de hipogamaglobulinemia, e o diagnóstico da beriliose pulmonar crônica depende da história exposicional. A hipertensão pulmonar é causada por muitos mecanismos e deve ser suspeitada quando há dispneia persistente insensível aos corticosteroides, à fibrose pulmonar, às alterações no teste de caminhada de 6 minutos, reduzida capacidade de difusão de monóxido de carbono, à necessidade de oxigênio suplementar, ou resultados de ecocardiograma sugestivos de cor pulmonale. O diagnóstico só pode ser confirmado com o caterismo de coração direito. A TC com contraste pode descartar embolia pulmonar, e ajuda a especificar os mecanismos da hipertensãopulmonar. Cerca de 30-50% dos pacientes apresentam doença extrapulmonar que, por vezes, pode ser a principal manifestação da doença. Os testes de dosagem de enzima conversora de angiotensina, apesar de estar elevada em 80% dos pacientes, não ajudam no diagnóstico de sarcoidose. As concentrações de BNP e troponina T, por sua vez, podem ser úteis para o diagnóstico de sarcoidose cardíaca. Testes de função pulmonar podem ser necessários. Os resultados dos testes de função pulmonar são frequentemente normais nos estágios iniciais, mas demonstram restrição e baixa difusão do monóxido de carbono (DLCO) na doença avançada. Também ocorre obstrução do fluxo aéreo, podendo sugerir o comprometimento da mucosa brônquica. Adicionar um teste de caminhada de 6 minutos pode caracterizar o comprometimento funcional de forma mais abrangente do que os resultados dos testes de função pulmonar isolados. Pacientes com comprometimento pulmonar extenso podem apresentar saturação normal de oxigênio em repouso, mas podem mostrar dessaturação aos esforços. Para a detecção rotineira de doença extrapulmonar, recomendam-se os seguintes exames de triagem • ECG e ecocardiografia de 12 derivações • Exame oftalmológico com lâmpada de fenda • Exames de sangue de rotina para avaliar as funções renal e hepática • Níveis de cálcio sérico e excreção de cálcio na urina de 24 horas Os exames laboratoriais desempenham um papel adjuvante na determinação do diagnóstico e da extensão do envolvimento de órgãos. O lavado broncoalveolar (LBA) é usado para ajudar a excluir outras formas de doença pulmonar intersticial, caso o diagnóstico de sarcoidose ainda não esteja confirmado e para descartar infecções. Ressonância magnética (RM) cardíaca com ou sem contraste com gadolínio pode ser apropriada para os pacientes com sintomas cardíacos. Em pacientes com sintomas neurológicos, pode ser necessária RM do encéfalo ou da medula espinal com ou sem contraste com gadolínio. Adenopatia hilar bilateral na sarcoidose em estádio I https://www.msdmanuals.com/pt-br/profissional/dist%C3%BArbios-pulmonares/exames-de-fun%C3%A7%C3%A3o-pulmonar/vis%C3%A3o-geral-dos-testes-de-fun%C3%A7%C3%A3o-pulmonar https://www.msdmanuals.com/pt-br/profissional/dist%C3%BArbios-pulmonares/doen%C3%A7as-pulmonares-intersticiais/vis%C3%A3o-geral-das-doen%C3%A7as-pulmonares-intersticiais https://www.msdmanuals.com/pt-br/profissional/dist%C3%BArbios-pulmonares/doen%C3%A7as-pulmonares-intersticiais/vis%C3%A3o-geral-das-doen%C3%A7as-pulmonares-intersticiais Adenopatia hilar bilateral com opacidades intersticiais na sarcoidose em estádio II. Infiltrados intersticiais difusos sem adenopatia hilar na sarcoidose em estádio III. Fibrose grave e difusa com adenopatia hilar e alterações císticas dos lobos superiores na sarcoidose em estágio IV. TC de alta resolução do tórax de um paciente com sarcoidose mostrando nódulos de tamanhos variados distribuídos ao longo dos vasos linfáticos e também nódulos coalescentes na superfície pleural. • Prognóstico: Embora a remissão espontânea seja comum, a gravidade e as manifestações da doença são altamente variáveis e muitos pacientes precisam de tratamento com corticoides para aliviar os sintomas ou o declínio progressivo da função de órgãos em algum momento do curso da doença. Dessa maneira, o monitoramento seriado para a verificação de evidências de recaída é imperativo. Quase dois terços dos pacientes com sarcoidose acabam alcançando a remissão com poucas ou nenhuma sequela. Cerca de 50% dos pacientes que desenvolvem remissão espontânea o fazem dentro dos 3 primeiros anos após o diagnóstico. Menos de 10% desses pacientes apresentam recidiva depois de 2 anos. Aqueles que não desenvolvem remissão dentro de 2 a 3 anos têm probabilidade de ter doença crônica. Admite-se que a sarcoidose seja crônica em até 30% dos pacientes e 10 a 20% desenvolvem sequelas permanentes. A doença é fatal em 1 a 5% dos pacientes, tipicamente devido à insuficiência respiratória causada por fibrose pulmonar e, menos frequente, por causa de hemorragia pulmonar provocada por aspergiloma. Entretanto, no Japão, a miocardiopatia infiltrativa acarreta insuficiência cardíaca e arritmias, constituindo a causa mais comum de óbito. O prognóstico é pior para os pacientes com sarcoidose extrapulmonar e para os negros. A remissão ocorre em 89% dos brancos e em 76% dos negros sem doença extratorácica e em 70% dos brancos e 46% dos negros com doença extratorácica. Os sinais de bom prognóstico incluem: Síndrome de Löfgren (tríade de poliartrite aguda, eritema nodoso e adenopatia hilar) Os sinais de prognóstico reservado incluem: Uveíte crônica, Lúpus pérnio, Hipercalcemia crônica, Neurossarcoidose, Envolvimento cardíaco, Envolvimento pulmonar extenso e/ou desenvolvimento de hipertensão pulmonar Há pouca diferença na evolução a longo prazo entre os pacientes submetidos e os não submetidos ao tratamento e a recaída é comum ao término do tratamento. • Tratamento: AINEs, Corticoides, Imunossupressores, Anticorpos antifator de necrose tumoral alfa Pacientes que exigem tratamento independentemente do estágio incluem aqueles com: Piora dos sintomas, Limitação da atividade, Função pulmonar deteriorada ou muito comprometida, Alterações radiográficas preocupantes (cavitação, fibrose, massas conglomeradas, sinais de hipertensão pulmonar), Comprometimento do coração, do sistema nervoso, ou dos olhos, Insuficiência hepática ou renal, Hipercalcemia moderada a grave, Desfiguração da pele (lupus pernio) e doença articular. Os anti-inflamatórios não esteroides (AINEs) são usados para tratar o desconforto musculoesquelético. Não há tratamento curativo para a sarcoidose, e não se sabe o quanto o tratamento influencia a evolução da doença, em particular da fibrose. As principais indicações para tratamento são manifestações cardíacas, neurológicas, renais ou oculares, como irite que não respondem à terapia tópica; e hipercalcemia sintomática. Alguns autores recomendam tratar também pacientes com artrite e eritema nodoso. A melhor estratégia seria a de observar pacientes recém-diagnosticados que têm uma alta probabilidade de resolução espontânea para decidir sobre um tratamento quando a doença progride com radiográfico e funcionalmente. Os corticosteroides sistêmicos permanecem o tratamento padrão. Nenhum protocolo claro foi validado para definir a dose e a duração do tratamento. O tratamento inicial é muitas vezes com prednisona 20-40 mg por dia, durante 6-12 semanas, sendo a dose reduzida após esse tempo. Em situações com risco de vida como o envolvimento do coração, sistema nervoso central, e rim, ou localizações oftalmológicas graves, a dose inicial é de 1 mg / kg por dia. Embora um mínimo de 12 meses de terapia de manutenção é muitas vezes aconselhado para prevenir a recidiva, vários investigadores preferem que o tratamento seja interrompido tão cedo quanto seis meses. Ajustes de tratamentos devem ser feitos de acordo com apresentação clínica. Pacientes com sarcoidose crônica podem necessitar de tratamento com dose baixa, durante muitos anos, enquanto tratamentos por 3-6 meses pode ser adequado para os pacientes com formas agudas da doença. Embora o tratamento com corticosteroides sistêmicos para sarcoidose sintomática tenha benefícios de curto prazo, não há evidência para longo prazo. O aumento da conscientização dos efeitos colaterais de longo prazo dos corticosteroides, e o surgimento de novas drogas, tem mudado o tratamento da sarcoidose. Opções adicionais aos corticoesteroides podem ser avaliadas. As drogas antimaláricas podem ser preferíveis a corticosteroides para pacientes com manifestações cutâneas leves, e antimaláricos drogas são também uma opção para tratamento de pacientes com hipercalcemia leve. O metotrexato é mais comumente usado para a doença cortico-resistente, principalmente pulmonar, e caso sem resposta a azatioprina e leflunamida são opções.Os resultados de dois estudos retrospectivos não controlados sugerem que leflunomida pode permitir a redução da dose de corticosteroides, sendo eficiente isoladamente ou em associação com o metotrexato para tratamento de manifestações extrapulmonares. Cerca de 10% dos pacientes com sarcoidose crônica vão manter doença ativa, apesar de ser dado pelo menos um imunossupressor. Nos últimos 10 anos, antagonistas do TNF-alfa estão sendo cada vez mais utilizados para seu tratamento. O Infliximab mostrou eficácia em um ensaio clínico randomizado em comparação com placebo em uma população com sarcoidose pulmonar refratária, mas com efeito relativamente pequeno. O Adalimumab é eficaz para uvíte, bem como outros sintomas incapacitantes, o Rituximab é eficaz em lesões oculares refratárias. O Apremilast foi estudado com benefícios para lesões de pele. Os corticosteroides tópicos são úteis para o tratamento de lesões oculares e cutâneas. Embora úteis para a tosse e hiper-reatividade brônquica, o tratamento com corticoides inalatórios por si só não melhora objetivamente os resultados de testes de função pulmonar ou imagens radiológicas. O tratamento sequencial com três meses de prednisona por via oral seguido de 15 meses de budesonida inalatória resultou em melhora funcional significativa, mas pequena, e não pode ser recomendado rotineiramente. Medidas de suporte e sintomáticas são cruciais, incluindo a redução da ingesta de cálcio e exposição solar para hipercalcemia, medicamentos e dispositivos implantáveis para o comprometimento cardíaco, substituição hormonal para hipotálamo-hipófise e oxigênio suplementar pulmonar, se necessário. Em pacientes com osteoporose induzida por corticosteroide osteoporose, é sensata a medida das concentrações séricas e urinárias de cálcio antes e periodicamente após o início de cálcio e suplementação de vitamina D. Tratamento com bifosfonatos deve ser preferido para prevenção de osteoporose induzida por corticosteroide. Referências: • Thomas KW, Hunninghake GW. Sarcoidosis. JAMA 2003; 289:3300. • Vizza CD, Jansa P, Teal S, et al: Sildenafil dosed concomitantly with bosentan for adult pulmonary arterial hypertension in a randomized controlled trial. BMC Cardiovasc Disord17(1):239, 2017. doi: 10.1186/s12872-017-0674-3 • Medicina Interna de Harrison. 18 ed. Porto Alegre, RS: AMGH Ed., 2013. 2v • msdmanuals-distúrbios-pulmonares-sarcoidose http://www.uptodate.com/contents/clinical-manifestations-and-diagnosis-of-pulmonary-sarcoidosis/abstract/1 https://bmccardiovascdisord.biomedcentral.com/articles/10.1186/s12872-017-0674-3