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TDAH e Autismo Transtorno do Espectro Autista (TEA) ● comprometimento persistente da comunicação e interação social recíprocas e padrões restritos e repetitivos de comportamento ou interesses ● engloba transtornos previamente denominados autismo precoce do lactente, autismo da criança, autismo de Kanner, autismo de alto funcionamento, autismo atípico, transtorno de Asperger, transtorno desintegrativo da infância e transtorno invasivo do desenvolvimento sem outra especificação Critérios Diagnósticos A ● Déficits persistentes na comunicação social e na interação social em múltiplos contextos, conforme manifestado pelo que segue, atualmente ou por história prévia (os exemplos são apenas ilustrativos, e não exaustivos; ver o texto): 1. Déficits na reciprocidade socioemocional, variando, por exemplo, de abordagem social anormal e dificuldade para estabelecer uma conversa normal a compartilhamento reduzido de interesses, emoções ou afeto, a dificuldade para iniciar ou responder a interações sociais 2. Déficits nos comportamentos comunicativos não verbais usados para interação social, variando, por exemplo, de comunicação verbal e não verbal pouco integrada a anormalidade no contato visual e linguagem corporal ou déficits na compreensão e uso gestos, a ausência total de expressões faciais e comunicação não verbal 3. Déficits para desenvolver, manter e compreender relacionamentos, variando, por exemplo, de dificuldade em ajustar o comportamento para se adequar a contextos sociais diversos a dificuldade em compartilhar brincadeiras imaginativas ou em fazer amigos, a ausência de interesse por pares Especificar a gravidade atual: A gravidade baseia-se em prejuízos na comunicação social e em padrões de comportamento restritos e repetitivos B ● Padrões restritos e repetitivos de comportamento, interesses ou atividades, conforme manifestado por pelo menos dois dos seguintes, atualmente ou por história prévia (os exemplos são apenas ilustrativos, e não exaustivos; ver o texto): 1. Movimentos motores, uso de objetos ou fala estereotipados ou repetitivos (p. ex., estereotipias motoras simples, alinhar brinquedos ou girar objetos, ecolalia, frases idiossincráticas) 2. Insistência nas mesmas coisas, adesão inflexível a rotinas ou padrões ritualizados de comportamento verbal ou não verbal (p. ex., sofrimento extremo em relação a pequenas mudanças, dificuldades com transições, padrões rígidos de pensamento, rituais de saudação, necessidade de fazer o mesmo caminho ou ingerir os mesmos alimentos diariamente) 3. Interesses fixos e altamente restritos que são anormais em intensidade ou foco (p. ex., forte apego a ou preocupação com objetos incomuns, interesses excessivamente circunscritos ou perseverativos) 4. Hiper ou hiporreatividade a estímulos sensoriais ou interesse incomum por aspectos sensoriais do ambiente (p. ex., indiferença aparente a dor/temperatura, reação contrária a sons ou texturas específicas, cheirar ou tocar objetos de forma excessiva, fascinação visual por luzes ou movimento) Especificar a gravidade atual: A gravidade baseia-se em prejuízos na comunicação social e em padrões restritos ou repetitivos de comportamento C ● Os sintomas devem estar presentes precocemente no período do desenvolvimento (mas podem não se tornar plenamente manifestos até que as demandas sociais excedam as capacidades limitadas ou podem ser mascarados por estratégias aprendidas mais tarde na vida) D ● Os sintomas causam prejuízo clinicamente significativo no funcionamento social, profissional ou em outras áreas importantes da vida do indivíduo no presente E ● Essas perturbações não são mais bem explicadas por deficiência intelectual (transtorno do desenvolvimento intelectual) ou por atraso global do desenvolvimento. Deficiência intelectual ou transtorno do espectro autista costumam ser comórbidos; para fazer o diagnóstico da comorbidade de transtorno do espectro autista e deficiência intelectual, a comunicação social deve estar abaixo do esperado para o nível geral do desenvolvimento Especificar se: Com ou sem comprometimento intelectual concomitante Com ou sem comprometimento da linguagem concomitante Associado a alguma condição médica ou genética conhecida ou a fator ambiental (Nota para codificação: Usar código adicional para identificar a condição médica ou genética associada.) Associado a outro transtorno do neurodesenvolvimento, mental ou comportamental (Nota para codificação: Usar código[s] adicional[is] para identificar o[s] transtorno[s] do neurodesenvolvimento, mental ou comportamental associado[s].) Com catatonia (consultar os critérios para definição de catatonia associados a outro transtorno mental, p. 119-120) (Nota para codificação: usar o código adicional 293.89 [F06.1] de catatonia associada a transtorno do espectro autista para indicar a presença de catatonia comórbida.) Déficits de Comunicação e Interação Sociais ● crianças podem se apresentar com uma abordagem social anormal, falha na conversação que vai e vem, e dificuldades em processar e reagir a sinais sociais complexos ● lactentes < 6 meses: podem ou não demonstrar características típicas de TEA ● comprometimentos da comunicação social não verbal se manifestam por uso ausente, reduzido ou atípico do contato visual, gestos, expressões faciais, orientação corporal ou entonação da fala ● jovens podem deixar de sorrir, orientar-se para o nome ou usar gestos para apontar ou mostrar ● podem demonstrar interesse social ausente, reduzido ou atípico, que se manifesta por rejeição dos outros, passividade ou abordagens inapropriadas que parecem agressivas ou disruptivas ● crianças pequenas: falta das brincadeiras compartilhadas, simbólicas e de faz-de-conta apropriadas e flexíveis para a idade, com crianças muitas vezes insistentes em brincar por meio de regras muito fixas ● podem preferir atividades solitárias e interações com pessoas muito mais jovens ou mais velhas Padrões Restritivos e Repetitivos ● movimentos estereotipados (agitar das mãos, estalar dos dedos), uso repetitivo de objetos (girar moedas, enfileirar brinquedos), fala repetitiva e anormal (ecolalia [repetição tardia ou imediata de palavras ouvidas], inversão de pronomes, rimas sem sentido, frases idiossincráticas); insistência na mesmice e aderência inflexível a rotinas ou padrões ritualizados de comportamento (aflição com pequenas mudanças, insistência na aderência a regras, rituais e rotinas, pensamento rígido, perguntas repetitivas); interesses altamente restritos e fixos de intensidade ou foco anormal (p. ex., vinculação forte ou preocupação com objetos incomuns, interesses excessivamente circunscritos ou perseverativos); e hiper ou hiporreatividade aos estímulos sensoriais ou interesse incomum aos aspectos sensoriais do ambiente (p. ex., reações extremas a sons ou texturas específicas, cheirar ou tocar excessivamente os objetos, fascinação por luzes ou objetos que giram, aparente indiferença à dor, calor ou frio) ● sintomas devem estar presentes no período inicial do desenvolvimento, precisam causar comprometimento funcional clinicamente significativo e não devem ser melhor explicados por deficiência intelectual ou atraso global do desenvolvimento Gravidade ● se baseia em avaliações de comprometimento causado por ambos os déficits na comunicação social e nos comportamentos restritos repetitivos ● níveis: 1 a 3 ○ 3: déficit mais grave, com necessidade de suporte mais substancial Especificidades/ Características associadas ● ocorre com ou sem comprometimento intelectual e prejuízo da linguagem, e associado a uma condição médica ou genética, fator ambiental ou outro transtorno do neurodesenvolvimento, mental ou comportamental ● nível de linguagem nos indivíduos com TEA “sem comprometimento de linguagem associada”: falar em sentenças completas ou ter fala fluente ● TEA especificado “com um comprometimento de linguagem associada”: pode variar de fala não verbal a fala com palavras oufrases isoladas (capaz de imitar canções, rimas ou comerciais de televisão) ● linguagem receptiva pode atrasar o desenvolvimento da linguagem expressiva no TEA ● preocupações precoces com a linguagem anormal: ausência de balbucio ou de gestos aos 12 meses, ausência de palavras isoladas aos 16 meses, e ausência de frases de duas palavras com objetivo aos 24 meses, bem como qualquer perda de habilidades de linguagem ou sociais em qualquer momento ● linguagem, se presente, é frequentemente unilateral, falta reciprocidade social, idiossincrática, repetitiva e usada para pedir ou rotular, e não para comentar, compartilhar sentimentos ou conversar ● funcionalidade intelectual pode variar do comprometimento intelectual (transtorno do desenvolvimento intelectual) para o funcionamento intelectual superior em áreas selecionadas (habilidades em fragmentos, comportamento erudito) (“com ou sem comprometimento intelectual associado”) ● algumas crianças: típico desenvolvimento em certas habilidades e podem até mostrar áreas fortemente específicas (quebra-cabeças, arte ou música) ● perfil intelectual de um indivíduo pode ser desigual, tendo lacunas na capacidade de aprendizagem verbal e não verbal e nas habilidades funcionais adaptativas e intelectuais ● déficits motores: frequente ○ marcha estranha, falta de coordenação, dispraxia e outros sinais motores anormais (p. ex., andar na ponta dos pés) ○ movimento estereotipado ou tiques podem não ser percebidos ● pode ocorrer lesão por autoagressão (bater a cabeça, morder o punho) ● alguns jovens: desenvolvem comportamento motor semelhante ao catatônico (desacelerando e congelando em meio à ação), embora a maioria não prossiga desenvolvendo um episódio completo com mutismo, postura, caretas e flexibilidade cérea ● epilepsia: comorbidade comum→ pode se observar qualquer tipo de crise convulsiva no TEA ○ relacionada com a maior deficiência intelectual e mais baixa capacidade verbal. ● propensão para a ansiedade e depressão, bem como para anormalidades na atenção e hiperatividade ● pode ocorrer um padrão de regressão de linguagem, social ou misto nos primeiros 1 a 2 anos ○ alguns: diagnóstico da síndrome de Landau Kleffner ○ outros: regressão pode ser causada pelo início de epilepsia ou achados anormais no EEG na ausência de crises clínicas ● levetiracetam também causa uma síndrome de regressão autista reversível Etiologia/ fatores de risco Fatores genéticos e familiares ● alto risco de recorrência (2% a 19%) para o TEA entre irmãos, bem como uma taxa de concordância mais alta (37% a 90%) em estudos com gêmeos ● fatores de risco: espaço menor entre as gestações, idade materna ou paterna avançada e parto extremamente prematuro (< 26 semanas de gestação), bem como familiares com problemas de aprendizagem, transtornos psiquiátricos e déficit social Fatores neurobiológicos ● taxas altas de transtornos epilépticos→ sugerem um papel para os fatores neurobiológicos no TEA ● número de diferentes áreas do cérebro afetadas pelo autismo sugere um conjunto diverso e amplamente distribuído de sistemas neurais afetados ● tamanho do cérebro, e estudos por imagens por tensores de difusão sugerem aberrações no desenvolvimento dos tratos da substância branca ● RM funcional identifica dificuldades em tarefas envolvendo julgamentos sociais e afetivos e diferenças de processamento de estímulos da face e fora da face ● pouca conectividade neuronal em várias regiões cerebrais ● níveis periféricos elevados de serotonina são um achado neuroquímico replicado de significância ainda não esclarecida ● comprometimentos no funcionamento executivo (p. ex., envolvimento simultâneo em múltiplas tarefas), fraca coerência central (integrar a informação em um todo que faça sentido) e déficits na teoria de tarefas mentais (tendo a perspectiva de outra pessoa) ● teoria da personalidade empatizante-sistemizante descreve a mente autista em termos de comprometimento da empatia ao lado da sistematização intacta ou até mesmo superior (o caminho para analisar ou construir sistemas) ● exposições ambientais no início do 1º trimestre de gravidez ligadas ao TEA: talidomida, misoprostol, infecção por rubéola, ácido valproico e inseticida organofosforado clorpirifós Fatores de neuropatologia ● perímetro cefálico normal ou pouco menor que o normal ao nascimento até 2 meses de idade ● depois: aumento anormalmente rápido do perímetro cefálico dos 6 a 14 meses de idade, aumento do volume cerebral naqueles com 2 a 4 anos de idade, aumento do volume do cerebelo, telencéfalo e amígdala, e crescimento anormal acentuado nas regiões frontal, temporal, cerebelar e límbica do cérebro ● crescimento acelerado do cérebro durante os primeiros anos de vida seguido por um crescimento anormalmente lento ou parada de crescimento→ áreas de circuito subdesenvolvido e anormal em partes do cérebro ● áreas do cérebro responsáveis por funções cognitivas da mais alta ordem, de linguagem, emocionais e sociais são as mais afetadas Evolução clínica ● sintomas: geralmente reconhecidos durante o 2° ano de vida, mas podem ser vistos antes do 12 meses se os atrasos do desenvolvimento forem graves ● sintomas iniciais: atraso da linguagem acompanhado por falta de interesse social ou padrões incomuns de brincadeiras ● 2º ano: comportamentos estranhos e repetitivos e a ausência de brincadeiras típicas se tornam mais aparentes ● comum: pais relatarem que não existiu período de desenvolvimento normal ou que havia uma história de comportamentos incomuns ● 20% a 40% dos casos: período aparentemente normal de desenvolvimento é relatado antes de uma perda de habilidades ● adolescência: pequeno número de indivíduos com TEA tem ganhos acentuados de desenvolvimento; outro subgrupo irá se deteriorar (comportamento autoagressão, agressividade) Diagnóstico diferencial ● transtornos da comunicação (especialmente transtorno da comunicação social), deficiência intelectual, de comprometimentos sensoriais (especialmente surdez), do transtorno reativo de vinculação da infância, dos transtornos obsessivocompulsivos e relacionados, dos transtornos de ansiedade , incluindo mutismo seletivo, esquizofrenia, transtorno dos movimentos estereotipados, transtorno do déficit da atenção e hiperatividade (TDAH) e síndrome de Rett ● distúrbios sindrômicos metabólicos e genéticos: deficiência de adenilossuccinato liase, PKU, deficiência de glicose 6-fosfatase, deficiência de adenosina desaminase, deficiência de semialdeído succínico desidrogenase, distúrbios do transporte e metabolismo da creatina, doença de Danan, esclerose tuberosa, síndrome do X frágil, síndrome de Smith Lemli Opitz, distrofia miotônica, distrofinopatias, síndromes de Cohen e de Myhre, doença do músculo-olho-cérebro e várias microdeleções ou duplicações genéticas, incluindo deleção 22q11.2 ● transtornos do desenvolvimento da linguagem e a deficiência intelectual ● transtorno reativo de vinculação (geralmente ocorrendo em face de negligência emocional)→ podem exibir déficits de vinculação → responsividade social inadequada, mas elas geralmente melhoram substancialmente se forem adequadamente cuidadas ● transtorno obsessivo-compulsivo: início mais tarde do que o TEA, não se associa tipicamente a comprometimentos sociais e comunicativos, e é caracterizado por padrões repetitivos de comportamento que são egodistônicos ● transtornos de ansiedade ● esquizofrenia infantil ● síndrome de Rett Comorbidades ● dificuldades na comunicação (mutismo) e o comprometimento cognitivo, as questões de comorbidade no TEA podem ser bastante complexas ● habilidades verbais são geralmente mais comprometidas que as habilidades não verbais ● comprometimento intelectual não é uma característica essencial para o diagnóstico de autismo ● comorbidades neurológicas: epilepsia, distúrbios do sono, atraso motor, dispraxia, incoordenação e distúrbios da marcha ● dificuldades comportamentais: hiperatividade, fenômenos obsessivo-compulsivos, comportamentode autoagressão, agressividade, estereotipias, tiques e sintomas afetivos ● sintomas afetivos: labilidade, reações afetivas inadequadas, ansiedade e depressão ● comprometimentos dos processos de regulação das emoções→ sub ou a um excesso de reatividade ● depressão clínica evidente é algumas vezes observada, e isso pode ser particularmente verdade para os adolescentes ● dificuldades de atenção (TDAH) também são frequentes no autismo, refletindo problemas cognitivos, de linguagem e sociais Sequelas ● maioria: continua no espectro quando adulta → independentemente do seu funcionamento intelectual, continua a apresentar problemas com a vida independente, emprego, relacionamentos sociais e saúde mental ● algumas crianças: esp. aquelas com capacidade de comunicação, podem, ao crescer, ter uma vida autossuficiente na comunidade com emprego ● outras: permanecem dependentes da família ou precisam ser colocadas em estabelecimentos fora de casa ● terapia precoce intensiva pode melhorar a linguagem e a função social→ diagnóstico tardio pode levar a um desfecho pior ● prognóstico melhor está associado à inteligência mais alta, fala funcional e sintomas e comportamento menos bizarros ● perfil de sintomas para algumas crianças pode mudar à medida que envelhecem, e o risco de crise convulsiva ou de comportamento autoagressivo se torna mais comum ● não é um transtorno degenerativo e é típico que a aprendizagem e a compensação continuem ao longo da vida Triagem/ investigação de caso ● todas as crianças devem receber triagem específica para autismo com 18 e 24 meses de idade, além de triagem ampla do desenvolvimento com 9, 18 e 24 meses ● alguns casos: triagem pode ser relevante para crianças mais velhas, como aquelas que são intelectualmente mais capazes e cuja deficiência social, portanto, tem mais probabilidade de ser detectada mais tarde ● alguns instrumentos de triagem para TEA que podem ser úteis para a prática pediátrica ○ ex.: Modified Checklist for Autism in Toddlers (M-CHAT)→ instrumento on-line gratuito de triagem de autismo com 23 itens para identificar crianças de 16 a 30 meses de idade que devam receber uma pesquisa mais minuciosa para possíveis sinais precoces de TEA ou de atraso do desenvolvimento Transtorno de Déficit de Atenção/ Hiperatividade ● distúrbio neurocomportamental mais comum na infância ● uma das condições crônicas de saúde mais prevalentes que afetam crianças em idade escolar ● desatenção (aumento da distratibilidade e dificuldade em manter a atenção) + fraco controle do impulso e capacidade autoinibitória reduzida + agitação motora e hiperatividade motora ● crianças afetadas: geralmente enfrentam baixo rendimento escolar, problemas nas relações interpessoais com familiares e seus pares, e baixa autoestima ● frequentemente ocorre junto com outros transtornos emocionais, comportamentais, de fala e de aprendizado ● 40-50% das crianças afetadas: transtorno parece avançar até a fase adulta com manifestações variadas → subdesemprego ou desemprego, disfunção social e aumento no risco de comportamentos antissociais, incluindo abuso de drogas, dificuldades em manter relacionamentos e problemas com a lei Etiologia ● pode ser a via final comum para uma variedade de processos de desenvolvimento cerebral complexos ● mães de crianças com TDAH: + propensas a enfrentar complicações no parto (toxemia, trabalho de parto demorado e complicado) ● consumo de drogas, álcool e tabaco pela mãe durante a gestação, exposição ao chumbo ou ao mercúrio (pré-natal e pós-natal)→ frequentemente ligados a dificuldades de atenção relacionados ao desenvolvimento do TDAH ● corantes e conservantes alimentares têm sido associados de forma inconsistente com hiperatividade em crianças previamente hiperativas ● componente genético ○ gene do transportador de dopamina (DAT1) ○ forma específica do gene para os receptores de dopamina do tipo 4 (DRD4) ○ genes adicionais: DOCK2 associado a uma inversão pericêntrica do 46N in(3) (p14:q21) que está envolvido na regulação de citocinas, um gene do trocador de sódio-hidrogênio, outros genes dopaminérgicos (DRD5), genes serotonérgicos (5HTT, HTR1B) e a proteína associada a sinaptossoma, SNAP-25 ● estruturas cerebrais anormais→ aumento no risco de TDAH ○ 20% das crianças com lesão cerebral traumática grave apresentam início subsequente de sintomas significativos de impulsividade e falta de atenção ○ crianças com lesão craniana ou outro tipo de lesão posteriormente diagnosticadas com TDAH → podem apresentar equilíbrio prejudicado ou comportamento impulsivo como parte do TDAH, consequentemente predispondo-as à lesão ○ identificadas anomalias estruturais e funcionais em crianças com TDAH sem lesão cerebral pré-existente identificável → desregulação dos circuitos fronto-subcorticais, pequenos volumes corticais nessa região, redução de pequenos volumes difundidos por todo o cérebro e anomalias no cerebelo, especialmente nos elementos medianos/vermianos ○ anomalias nas redes neurais ou circuitos cerebrais usando a MRI funcional ● estressores psicossociais familiares (pobreza, exposição à violência e malnutrição ou subnutrição) → contribuir para ou exacerbar os sintomas do TDAH Patogênese ● possível observar uma perda de assimetria normal no cérebro, além de pequenos volumes cerebrais de estruturas específicas, tais como o córtex pré-frontal e gânglios basais, em cérebros de crianças com TDAH ○ 5-10% de redução no volume dessas estruturas cerebrais ● achados com MRI funcional → baixo fluxo sanguíneo no corpo estriado + déficits em redes funcionais abrangentes para a atenção seletiva e atividade tônica no TDAH (corpo estriado, as regiões pré-frontais, o lobo parietal e o lobo temporal) ○ córtex pré-frontal + gânglios basais→ ricos em receptores de dopamina ○ distúrbios no sistema dopaminérgico podem estar relacionados ao desencadeamento do TDAH ● captação de fluorodopa na tomografia por emissão de pósitrons → apoia a hipótese dopaminérgica com a identificação de baixos níveis de atividade dopaminérgica em adultos Manifestações clínicas ● DSM-5: comportamento deve ser de desenvolvimento inapropriado (substancialmente diferente daquele de outras crianças com a mesma idade e nível de desenvolvimento), deve ter início antes dos 12 anos de idade, deve estar presente por pelo menos 6 meses, deve se manifestar em 2 ou mais ambientes e relatado como tal por observadores independentes e não deve ser secundário a outro transtorno→ critérios diagnósticos ● 3 subtipos ○ (1) TDAH, predominantemente o tipo falta de atenção: inclui o comprometimento cognitivo e é mais comum no sexo feminino ○ (2) TDAH, predominantemente o tipo hiperativo impulsivo ○ (3) TDAH, tipo combinado ○ (2) e (3)→maior frequência no sexo masculino ● manifestações clínicas podem sofrer alterações com a idade ● sintomas: pode variar de agitação psicomotora e comportamento agressivo e disruptivo (comuns em crianças na fase pré-escolar) até sintomas desordenados, distraídos e com falta de atenção (mais típicos no final da adolescência e na fase adulta) ● em geral: TDAH é difícil de ser diagnosticado em crianças na fase pré-escolar porque a distratibilidade e a falta de atenção podem ser consideradas normas do desenvolvimento durante esse período Diagnóstico e diagnóstico diferencial ● feito principalmente em ambientes clínicos após um exame completo, incluindo um relatório clínico e histórico minucioso para descartar ou identificar outras causas ou fatores contribuintes; preenchimento de escalas de classificação comportamental por diferentes observadores de pelo menos 2 ambientes distintos (p. ex., professor e pais); um exame físico; e, caso necessário ou indicado, testes laboratoriais que resultam de condições suspeitas baseadas no histórico e/ou exame físico ● importante: coletar e checar as informações de forma sistemática de várias fontes (própria criança, pais, professores, médicos e, quando apropriado, de outros responsáveis e cuidadores,tanto durante o período do diagnóstico como no subsequente tratamento) Entrevista clínica e histórico ● permite que se chegue a uma compreensão abrangente de como os sintomas se encaixam nos critérios de diagnóstico para o TDAH ● coletar as informações relacionadas ao histórico dos problemas em questão, ao desenvolvimento e saúde geral da criança e ao histórico social e familiar ● entrevista: focar os fatores que possam afetar o desenvolvimento ou a integridade do sistema nervoso central ou revelar uma doença crônica, deficiências sensoriais ou uso de medicamentos que possam afetar o aspecto funcional da criança ● fatores sociais disruptivos: discórdia familiar, estresse situacional e abuso ou negligência → podem resultar em comportamentos hiperativos ou ansiedade ● histórico familiar de parentes de primeiro grau com TDAH, transtornos de humor ou de ansiedade, dificuldade de aprendizagem, transtorno antissocial ou abuso de drogas ou álcool→ pode indicar um risco elevado de TDAH e/ou de condições comórbidas Escalas de classificação comportamental ● úteis para se estabelecer a magnitude e abrangência dos sintomas, mas sozinhas não são suficientes para se chegar a um diagnóstico de TDAH ● Escalas de Classificação de Diagnóstico de TDAH de Vanderbilt; Escalas de Classificação de Conner (pais e professores); Índice de TDAH; a Checklist de Swanson, Nolan e Pelham (SNAP); e a ADD-H: Escala de Classificação Abrangente de Professores (ACTeRS) ● outras checklists de cobertura mais ampla: Checklist de Comportamento Infantil de Achenbach (CBCL) ou a Escala de Avaliação Comportamental para Crianças (BASC) → úteis, esp. em casos em que a criança pode estar sofrendo com problemas concomitantes em outras áreas (ansiedade, depressão, problemas de conduta) Exame físico e achados laboratoriais ● não há testes laboratoriais padronizados disponíveis para identificar o TDAH em crianças ● presença de hipertensão, ataxia ou um distúrbio da tireoide deve alertar para mais exames de diagnóstico ● deficiências no movimento motor fino e má coordenação + outros sinais neurológicos motores sutis (dificuldade ao bater os dedos, com movimentos de alternância, na prova dedo-nariz, para traçar um labirinto, para cortar papel) → comuns, mas não são suficientemente específicos para se chegar a um diagnóstico de TDAH ● deve considerar o exame para níveis elevados de chumbo em crianças que apresentam alguns ou todos os critérios de diagnóstico, caso essas crianças tenham sido expostas a fatores ambientais que possam ter contribuído a esse risco (moradia precária, tinta antiga nas paredes, proximidade a rodovias que levaram ao depósito de chumbo na superfície dos escapamentos de automóveis nos anos anteriores) ● depender apenas no comportamento observado em um ambiente médico pode resultar em um diagnóstico incorreto ● testes computadorizados de atenção e avaliações eletroencefalográficas não são necessários para fazer o diagnóstico ○ comparados ao padrão-ouro clínico→ sujeitos a erros falso-positivo e falso-negativo Diagnóstico diferencial Tratamento Psicossociais ● diagnóstico confirmado → médico deve dialogar com os pais e a criança para mostrar de que forma o TDAH pode afetar o aprendizado, o comportamento, a autoestima, as competências sociais e as funções familiares ● estabelecer objetivos para que a família ajude a melhorar as relações interpessoais da criança, desenvolver técnicas de estudo e diminuir os comportamentos disruptivos ● grupos de apoio aos pais, com consulta profissional apropriada para tais finalidades, podem ser muito úteis Orientação comportamental ● objetivo: identificar os comportamentos específicos que desencadeiam o transtorno na vida da criança (comportamento disruptivos, dificuldade em concluir a lição de casa, incapacidade de obedecer a regras em casa e na escola), e para que a criança consiga desempenhar de forma progressiva e melhorar suas habilidades nessas áreas ● deve orientar os pais e professores para que apliquem regras, consequências e recompensas que estimulem os comportamentos desejados ● particularmente úteis quando combinados com medicamentos Medicamentos ● mais utilizados ○ agonistas dopaminérgicos pré-sinápticos, normalmente conhecidos como medicamentos psicoestimulantes, incluindo metilfenidato (Ritalina, Concerta, Metadate, Focalin, Daytrana), anfetamina e/ou várias fórmulas com anfetamina e dextroanfetamina (Dexedrina, Adderall, Vyvanse) ● tratamento com estimulantes, seja com metilfenidato ou um composto de anfetaminas ● gama completa de dosagens de metilfenidato for usada→ 25% dos pacientes devem apresentar uma ótima reação em doses diárias baixas (<0,5 mg/kg/dia de metilfenidato, <0,25 mg/kg/dia para anfetaminas) + 25% em doses diárias médias (0,5- 1,0 mg/kg/dia de metilfenidato, 0,25-0,5 mg/kg/dia de anfetaminas) ou doses diárias altas (1,0-1,5 mg/kg/dia de metilfenidato, 0,5-0,75 de anfetaminas) + outros 25% não surtirão reação ou terão efeitos colaterais, tornando esse medicamento especialmente desagradável para os familiares ● primeiras 4 semanas de tratamento → aumentar a dose do medicamento ao nível tolerável (mantendo os efeitos colaterais no mínimo ou ausentes) para obter a maior benefício possível ● sem resultados satisfatórios ou efeitos colaterais não permitirem maiores ajustes da dosagem na presença de sintomas persistentes→ classe de estimulantes alternativos que não tenha sido usada previamente Prognóstico ● diagnóstico infantil de TDAH geralmente leva à persistência do TDAH pelo resto da vida ● 68% das crianças com TDAH continuam com os sintomas na adolescência, e até 60% dos adolescentes carregam os sintomas de TDAH para a fase adulta ● crianças com TDAH→ queda do comportamento hiperativo geralmente ocorre com a idade ● outros sintomas → podem se tornar mais proeminentes com a idade, tais como falta de atenção, impulsividade e desorganização→ fardo enorme no desenvolvimento de jovens adultos ● fatores de risco: envolvimento em comportamentos inconsequentes de risco (atividade sexual, comportamentos delinquentes, abuso de drogas), insucesso educacional, dificuldades de emprego e relacionamentos interpessoais problemáticos ● tratamento adequado→ riscos associados ao transtorno podem ser reduzidos de forma significativa ● tratamento consistente com medicamentos e terapias adjuvantes pode reduzir o risco de resultados adversos, tais como o abuso de drogas Prevenção ● capacitação dos pais pode ajudar a melhorar de forma significativa as crianças com sintomas de TDAH em idade pré-escolar, e o treinamento dos pais para orientar os jovens com TDAH ajuda a reduzir o comportamento de oposição