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Objetivos: 1) Entender o TDAH, tipos, sintomatologia, etiologia e epidemiologia; 2) Compreender a fisiopatologia do TDAH; 3) Conhecer o diagnóstico do TDAH e o diagnóstico diferencial; 4) Relacionar os transtornos de conduta e aprendizagem com o TDAH e suas consequências na vida adulta; 5) Esclarecer sobre os tratamentos para o TDAH; ENTENDER O TDAH, TIPOS, SINTOMATOLOGIA, ETIOLOGIA E EPIDEMIOLOGIA: Definição: Embora dificuldades de atenção, impulsividade e hiperatividade sejam comuns na população em geral e possam representar padrões de desenvolvimento transitórios ou normais, algumas pessoas têm um curso típico e uma combinação de sintomas associados a incapacidade funcional, com fatores de risco conhecidos e funcionamento neuropsicológico e neurobiológico anormais correlacionados. Tais pessoas são afetadas pelo Transtorno do Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH), um dos transtornos mentais mais comuns entre crianças e adolescentes, com aproximadamente 5 % das crianças menores de 18 anos de idade afetadas em todo o mundo. O Transtorno do Déficit de Atenção com Hiperatividade (TDAH) é um transtorno neurobiológico, de causas genéticas, que aparece na infância e frequentemente acompanha o indivíduo por toda a sua vida. Ele se caracteriza por sintomas de desatenção, inquietude e impulsividade. Ele é chamado às vezes de DDA (Distúrbio do Déficit de Atenção). Em inglês, também é chamado de ADD, ADHD ou de AD/HD. O TDAH significa Transtorno do Déficit de Atenção com Hiperatividade, como já antecipamos, e é um transtorno com causas genéticas, ambientais e biológicos, que, geralmente, se manifesta na infância. Mesmo que esse transtorno se manifeste desde a infância, os sintomas aparecem com mais clareza durante a fase escolar. Isso porque, a criança passa a frequentar um novo ambiente de interação e raciocínio, e é a partir daí que as dificuldades se tornam mais evidentes. As primeiras referências a hiperatividade e desatenção na literatura não-médica datam da metade do século XIX. Heinrich Hoffmann (1809- 1894), um psiquiatra alemão, foi o primeiro a descrever crianças cujo comportamento era marcado por impulsividade e hiperatividade. A tal distúrbio de comportamento ele deu o nome de “insanidade impulsiva” ou “inibição defeituosa”. É importante salientar que a primeira descrição do transtorno em um jornal médico (Lancet) foi feita por um pediatra, George Still, em 1902. Entretanto, a nomenclatura desse transtorno vem sofrendo alterações contínuas. Na década de 40, surgiu a designação "lesão cerebral mínima", que, já em 1962, foi modificada para "disfunção cerebral mínima", reconhecendo-se que as alterações características da síndrome se relacionam mais a disfunções em vias nervosas do que propriamente a lesões nas mesmas. Os sistemas classificatórios modernos utilizados em psiquiatria, CID-10 e DSM-IV, apresentam mais similaridades do que diferenças nas diretrizes diagnósticas para o transtorno, embora utilizem nomenclaturas diferentes (transtorno de déficit de atenção/hiperatividade no DSM-IV e transtornos hipercinéticos na CID-10) Epidemiologia: As estimativas de prevalência do TDAH variam dependendo do critério utilizado. Uma recente revisão sistemática reuniu dados de 102 estudos de todo o mundo e calculou uma taxa de 5% para indivíduos menores de 18 anos de idade, 6% para escolares e 3% entre adolescentes Estudos epidemiológicos também indicam que 3% a 7% das crianças norte-americanas com idade escolar apresentam TDAH. No Brasil, alguns estudos em populações de crianças brasileiras em idade escolar corroboram estes índices. O TDAH afeta entre 5 e 8% das crianças em idade escolar, 60 a 85% dos indivíduos diagnosticados quando crianças continuam a atender aos critérios para o transtorno na adolescência, e até 60% permanecem sintomáticos na vida adulta. Embora as estimativas sejam heterogêneas, não há evidências claras quanto à variação entre diferentes culturas. O transtorno apresenta uma prevalência de 9:1 de meninos para meninas, em amostras clínicas, e uma proporção de 3:1 em amostras populacionais em geral. Vale ressaltar que os estudos epidemiológicos se referem à faixa etária dos 7 aos 14 anos de idade, embora ele possa persistir durante a vida adulta. A prevalência do TDAH em adultos na população geral varia de 2,5% a 8% . Por que é importante estudar sobre TDAH em adultos? Porque, segundo alguns estudos, cerca de 60% das crianças persistem com sintomas significativos na idade adulta. Além disso, porque embora 50% das crianças ou adolescentes com o transtorno sejam diagnosticados e tratados, acredita-se que menos de um a cada cinco adultos com TDAH é diagnosticado e tratado. Etiologia: Neuro-genético-ambiental. O TDAH é um transtorno familiar com um forte componente genético. Sua “herdabilidade” (a proporção de variância atribuída a fatores genéticos adicionais) foi estimada em 76% (Faraone et al, 2005), uma das mais altas dentre os transtornos mentais. Entretanto, fatores genéticos, por si só, não explicam a ocorrência do transtorno. A etiologia do TDAH é considerada multifatorial, ou seja, múltiplos fatores ambientais, genéticos e biológicos desempenham um papel que aumenta o risco de desenvolvimento do transtorno. Enquanto fenótipo, o TDAH resulta da interação de vários fatores ambientais e genéticos que atuam na manifestação de seus diversos quadros clínicos. A influência de fatores genéticos e ambientais no seu desenvolvimento é amplamente aceita na literatura. A contribuição genética é substancial; assim como ocorre na maioria dos transtornos psiquiátricos, acredita-se que vários genes de pequeno efeito sejam responsáveis por uma vulnerabilidade (ou suscetibilidade) genética ao transtorno, à qual somam-se diferentes agentes ambientais. Desta forma, o surgimento e a evolução do TDAH em um indivíduo parecem depender de quais genes de suscetibilidade estão agindo, de quanto cada um deles contribui para a doença (ou seja, qual o tamanho do efeito de cada um) e da interação desses genes entre si e com o ambiente. Embora caracterizado por sintomas de desatenção, hiperatividade e impulsividade, o TDAH é uma patologia bastante heterogênea, pelo menos no nível fenotípico. Provavelmente, casos diversos com fenomenologias particulares (heterogeneidade clínica) também apresentam heterogeneidade etiológica. Alguns genes têm sido associados com o TDAH, particularmente genes relacionados com sistemas catecolaminérgicos, mas cada gene aparenta ser responsável por apenas um pequeno aumento no risco de se desenvolver o transtorno. Além disso, estudos que rastreiam o genoma inteiro sem uma hipótese a priori, os chamados estudos de associação genômica ampla, não acrescentaram novos polimorfismos ao que se conhece atualmente. Essa aparente contradição entre uma alta herdabilidade e os resultados negativos dos estudos de associação genômica ampla encorajaram pesquisas por hipóteses alternativas para a etiologia. Uma possibilidade é que o transtorno surja da interação entre fatores genéticos e ambientais. De fato, tais interações têm sido relatadas em casos de exposição intrauterina ao tabaco e variações nos genes DAT1 e DAT4. Alguns fatores de risco ambientais têm sido testados por sua associação como TDAH. A prematuridade parece ser o fator de risco de associação mais consistente com o TDAH. Limitadas evidências também apontam para a exposição intrauterina ao tabaco e baixo peso ao nascer como possíveis fatores de risco. São necessários mais estudos para que se avalie o impacto da exposição intrauterina a álcool e drogas, distúrbios psicológicos maternos durante a gestação, complicações pré- nataise perinatais, traumatismo cranioencefálico, duração do aleitamento materno, privações precoces, fatores psicológicos e familiares, além da exposição intrauterina a cafeína e nascimento em estações específicas do ano. Vale ressaltar que não há dados conclusivos quanto à relação entre o TDAH e conservantes ou flavorizantes, toxinas ambientais ou jogos de computador. a) Fatores ambientais: Agentes psicossociais que atuam no funcionamento adaptativo e na saúde emocional geral da criança, como desentendimentos familiares e presença de transtornos mentais nos pais, parecem ter participação importante no surgimento e manutenção da doença, pelo menos em alguns casos. Encontraram uma associação positiva entre algumas adversidades psicossociais (discórdia marital severa, classe social baixa, família muito numerosa, criminalidade dos pais, psicopatologia materna e colocação em lar adotivo) e o TDAH. A procura pela associação entre TDAH e complicações na gestação ou no parto tem resultado em conclusões divergentes, mas tende a suportar a ideia de que tais complicações (toxemia, eclampsia, pós-maturidade fetal, duração do parto, estresse fetal, baixo peso ao nascer, hemorragia pré-parto, má saúde materna) predisponham ao transtorno. Recentemente, documentaram uma associação significativa entre exposição a fumo e álcool durante a gravidez e a presença de TDAH nos filhos, a qual se manteve mesmo após controle para psicopatologia familiar (incluindo TDAH), adversidades sociais e comorbidade com transtorno de conduta. Outros fatores, como danos cerebrais perinatais no lobo frontal, podem afetar processos de atenção, motivação e planejamento, relacionando-se indiretamente com a doença. b) Fatores genéticos: Uma contribuição genética substancial no TDAH é sugerida pelos estudos genéticos clássicos. O risco para o TDAH parece ser de duas a oito vezes maior nos pais das crianças afetadas do que na população em geral. Nos últimos anos, um interesse crescente vem surgindo em relação aos estudos de genética molecular no TDAH. O principal alvo dessas pesquisas são genes que codificam componentes dos sistemas dopaminérgico, noradrenérgico e, mais recentemente, serotoninérgico, uma vez que dados de estudos neurobiológicos sugerem fortemente o envolvimento desses neurotransmissores na patofisiologia do transtorno. O sistema dopaminérgico vem sendo o foco da maioria dos estudos moleculares com o TDAH. O gene do transportador de dopamina (DAT1) foi o candidato inicial para essas investigações, visto que a proteína transportadora é inibida pelos estimulantes usados no tratamento do TDAH. Outro gene do sistema dopaminérgico intensamente investigado neste transtorno é o gene do receptor D4 de dopamina (DRD4). O grande interesse por este gene surgiu a partir da observação de sua associação com a dimensão de personalidade "busca de novidades", provavelmente relacionada ao TDAH. Além disso, o produto deste gene concentra-se em áreas do cérebro cujas funções estão prejudicadas na doença. Praticamente todos os demais genes conhecidos do sistema dopaminérgico já foram objeto de estudos de associação com o TDAH, incluindo genes que codificam os receptores D2, D3 e D5, e genes de enzimas relacionadas ao metabolismo da dopamina. Poucos estudos moleculares foram realizados até o momento com genes do sistema noradrenérgico. Esses estudos concentraram-se principalmente no gene que codifica a enzima dopamina-beta-hidroxilase (DbH), ou lócus DbH, sendo objeto de investigação um sítio de restrição TaqI localizado no íntron 5 do gene. Embora o significado funcional do sítio de restrição TaqI sobre a enzima DbH e desta sobre o TDAH ainda não sejam conhecidos, o relato de associação em duas amostras independentes sugere a contribuição do gene DbH na suscetibilidade a este transtorno. Recentemente, uma possível influência do sistema serotoninérgico na etiologia do TDAH também foi investigada. Resultados positivos em pacientes com este transtorno foram obtidos para os genes do receptor 2A de serotonina (HTR2A) e do transportador de serotonina, enquanto nenhuma associação foi verificada para o gene que codifica a enzima triptofano hidroxilase (TPH), reguladora da síntese de serotonina. Mesmo em relação à genética, intensamente investigada, os resultados são bastante contraditórios. Nenhum dos genes investigados, nem mesmo o DRD4 ou o DAT1, pode ser considerado como necessário ou suficiente ao desenvolvimento do transtorno. Este panorama se deve, em grande parte, a uma heterogeneidade etiológica ímpar, representada pela alta complexidade clínica da doença. O futuro do estudo da etiologia do TDAH vai envolver, certamente, a definição de possíveis "subfenótipos" ou "endofenótipos" onde essa heterogeneidade esteja reduzida. Em outro estudo, Faraone e colaboradores (1992) concluíram que 57% das crianças com TDAH têm pais afetados com o transtorno, com um risco de 15% entre irmãos. Também confirmaram esta teoria os estudos feitos com gêmeos monozigóticos, nos quais se constatou a concordância de 51%, enquanto em dizigóticos a concordância é de 33% com maior incidência de TDAH em familiares de primeiro grau do indivíduo afetado. c) Fatores Neurológicos: Dois grupos de pesquisas atuais têm resultados que atribuem a este transtorno duas possíveis causas: uma relacionada ao déficit funcional do lobo frontal, mais precisamente o córtex cerebral; e a outra ao déficit funcional de certos neurotransmissores. Pesquisadores como Barkley (2002) acreditam ainda que o TDAH se evidencia por um déficit básico no comportamento inibitório. Uma deficiência em determinadas áreas nas quais o cérebro deveria comandar. Ainda para este pesquisador, um dos problemas preponderantes é que a criança com este transtorno tem dificuldade em manter sua atenção focalizada por um período mais longo. Desta forma, como podemos perceber, as causas do TDAH podem ter um sintoma isolado ou um conjunto de fatores. Devido a isso, torna- se imperioso um diagnóstico detalhado por diferentes profissionais, como: psicólogos, psicopedagogos e neuropsicólogos. Contudo, apesar dos variados fatores que influenciam o desenvolvimento do TDAH, cada vez mais se constata que a etiologia do transtorno é neuro- genético-ambiental. Sintomatologia: O TDAH é caracterizado por sintomas de desatenção, hiperatividade e/ou impulsividade. Por definição, o início dos sintomas deve ser precoce na infância e diferir daquilo que é esperado em um desenvolvimento normal. a) Desatenção: • Tem dificuldade em iniciar, continuar exercendo e completar uma tarefa. Crianças desatentas lutam para organizar tarefas e atividades, ouvir o que é lhes é falado, planejar ou executar ações. • Inclui distração, esquecimento, perda frequente ou dificuldade em manter o controle de objetos. • Em adolescentes e adultos, é comum se observar uma percepção distorcida do tempo; pacientes comumente subestimam o tempo em relação a tarefas a serem executadas e tendem a adiá-las b) Hiperatividade: • Atividade física excessiva • Sentimentos constantes de impaciência, tornando os pacientes incapazes de se manterem quietos, mesmo em situações em que se espera tal comportamento • Atividade motora sem propósito, isto é, a atividade não tem um objetivo e afeta o ambiente de forma negativa (frequentemente permanece em pé e caminhando sem propósito quando se deveria estar sentado, ou movimentando as mãos e manipulando pequenos objetos quando se deveria estar imóvel) • Inquietação frequente ou o ato de se contorcer em seu assento • Incapacidade de brincar calmamente • Falar demais, correr em voltas ou escalar algo, quando isto é inapropriadoc) Impulsividade: • Dificuldade em retardar uma ação ou resposta, mesmo quando é sabido que tal ação trará consequências negativas. • Está associada à necessidade de gratificação imediata, mesmo quando o adiamento levaria a melhores resultados. • Dificuldade em aguardar “sua vez de falar”, em jogos e brincadeiras ou ao atravessar a rua. • Podem manifestar-se como uma tendência em agir sem pensar. Por exemplo, dando respostas imediatas, independentemente de sua precisão, ou respostas não relacionadas à questão, ou deixando escapar respostas antes de a questão ser finalizada O distúrbio TDAH é caracterizado por comportamentos crônicos, com duração de no mínimo seis meses, que se instalam definitivamente antes dos sete anos. A tríade sintomatológica clássica da síndrome caracteriza-se por desatenção, hiperatividade e impulsividade. Independentemente do sistema classificatório utilizado, as crianças com TDAH são facilmente reconhecidas em clínicas, escolas e em casa. É importante salientar que a desatenção, a hiperatividade ou a impulsividade como sintomas isolados podem resultar de muitos problemas na vida de relação das crianças (com os pais e/ou colegas e amigos), de sistemas educacionais inadequados, ou podem estar associados a outros transtornos comumente encontrados na infância e adolescência. A apresentação clínica varia de acordo com a fase do desenvolvimento. A avaliação da hiperatividade, desatenção e impulsividade entre os pré-escolares é particularmente difícil, uma vez que esses comportamentos são normais nessa faixa-etária; eles podem ser considerados anormais apenas quando são muito graves, persistentes ou causam significativo prejuízo de funcionamento. Os escolares com TDAH vão frequentemente chamar atenção por seu fraco desempenho escolar e dificuldades de atenção; eles são identificados mais facilmente que os pré- escolares. A hiperatividade tende a diminuir ao longo da adolescência ou se transforma em sentimentos subjetivos de inquietação interna. COMPREENDER A FISIOPATOLOGIA DO TDAH: Neurobiologia do TDAH (Sistema Nervoso e a função cerebral): Um crescente conjunto de evidências tem associado o TDAH com déficits neurobiológicos específicos. É importante notar, entretanto, que os déficits neuroanatômicos envolvidos no TDAH não podem ser interpretados como dano cerebral; Além disso, nenhum dos déficits identificados até hoje são essenciais para o desenvolvimento do transtorno, não podem estar associados ao TDAH como causa e ainda não podem ser usados para fins diagnósticos. Há dados convincentes que indicam uma disfunção “frontoestriatal” no TDAH. De acordo com esses dados, indivíduos com TDAH teriam déficits em funções de execução e de controle inibitório, que são automaticamente associados com o circuito tálamo-cortico-estriatal. A atividade nesses circuitos é mediada pelo GABA e modulada por catecolaminas (dopamina e norepinefrina). O transtorno, é "causado" por um conjunto de aspectos biológicos, genéticos e cerebrais. Assim, os dados que fundamentam esta ideia vêm das pesquisas neurológicas, a partir de tecnologias de imagem cerebral e estudos de biologia molecular. Com os resultados destes estudos foi possível demonstrar que o diagnóstico do TDAH é real, porque é visível biologicamente uma condição maligna. A teoria científica atual defende que no TDAH existe uma disfunção da neurotransmissão dopaminérgica nas áreas: a) frontal (pré-frontal, frontal motora, giro cíngulo); b) regiões subcorticais (estriado, tálamo médio-dorsal) c) região límbica cerebral (núcleo acumbens, amígdala e hipocampo). Alguns trabalhos indicam uma evidente alteração destas regiões cerebrais resultando na impulsividade do paciente. Além disso, pesquisas recentes apontam que também ocorre a participação de sistemas noradrenérgicos nos indivíduos com TDAH. Especificamente, as insuficiências nos circuitos do córtex pré-frontal e amígdala, a partir da neurotransmissão das catecolaminas, resultam nos sintomas de esquecimento, distratibilidade, impulsividade e desorganização. Nos estudos utilizando imagens de ressonância magnética (MRI), demonstrou-se a diminuição de atividade neural na região frontal, córtex cingular anterior e nos gânglios da base de pacientes com TDAH. Em apoio às evidências neurológicas, estudos genéticos indicam que a maioria dos genes específicos implicados no TDAH codifica sistemas de sinais de catecolaminas e incluem o transportador de dopamina (DAT), transportador de noradrenalina (NET), receptores dopaminérgicos D4 e D5, dopamina b- hidroxilase e a proteína-25 (SNAP-25) que facilitam a liberação dos neurotransmissores implicados no TDAH. Observação: É sabido que o processo neuromaturacional do encéfalo tem uma progressão póstero-anterior, ou seja, primeiro, mieliniza-se a região da visão, cuja janela maturacional se abre próximo do nascimento e se fecha em torno dos 2 anos de idade. Por último, mielinizam-se as áreas anteriores. Por isso, do ponto de vista neuroevolutivo, é aceitável certo nível de hiperatividade pura em crianças sem lesão até aproximadamente os 4 a 5 anos de idade, visto que a região pré-frontal, onde está o "freio motor", só completa seu ciclo mielinogenético nesta faixa etária. Assim, um estudo recente de neuroimagem estrutural evidenciou que a trajetória neuroevolutiva de aumento dos volumes intracerebrais das crianças com TDAH segue um curso paralelo ao das sem o transtorno, porém sempre com volumes significativamente menores, o que sugere que os eventos que originaram o quadro (influências genéticas ou ambientais) foram precoces e não progressivos. As diferenças entre casos e controles não pareceram relacionadas ao uso de medicações psicoestimulantes. A visão anatomofuncional mais abrangente e completa deve incluir uma circuitaria neural com dois sistemas atencionais: a) um anterior, que parece ser dopaminérgico e envolve a região pré- frontal e suas conexões subcorticais (responsável pelo controle inibitório e funções executivas, como a memória de trabalho), b) outro posterior, primariamente noradrenérgico (responsável pela regulação da atenção seletiva). O locus ceruleus também desempenha importante papel na atenção, é constituído basicamente só de neurônios adrenérgicos e se torna muito ativo em resposta a estímulos específicos. De fato, evidências apontam para uma desregulação catecolaminérgica associada com o transtorno: a) Os sintomas do TDAH são aliviados por agonistas dopaminérgicos e noradrenérgicos como metilfenidato, anfetamina e atomoxetina b) Certos genes associados com o sistema catecolaminérgico aumentam o risco para o transtorno c) Em modelos animais, é possível mimetizar os sintomas do TDAH com a diminuição da função catecolaminérgica d) Noradrenalina e dopamina são neurotransmissores-chave em regiões do cérebro associadas com o TDAH Um amplo e bem conduzido estudo prospectivo mostrou que crianças com TDAH mostram um atraso global na maturação cortical (medida pela espessura cortical) quando comparada ao controle. O atraso foi mais evidente em áreas relacionadas com a atenção, particularmente no córtex pré-frontal latera Fisiopatologia: (Fenômenos que provocam alterações) A forma clássica do TDAH começa por volta dos 7 anos de idade. Suponha-se que por volta dessa idade, as sinapses aumentam rapidamente na região do córtex pré-frontal, e depois, na adolescência, cerca de metade delas são eliminadas. Os estudos sugerem que a formação das sinapses e a escolha das que serão removidas no córtex pré-frontal podem contribuir para o início e a fisiopatologia do transtorno durante toda a vida do indivíduo.O interessante é que a formação de novas sinapses pode ser capaz de compensar as anormalidades pré-frontais livrando o indivíduo do TDAH, mas isso não ocorre obrigatoriamente. Essa hipótese pode explicar o porquê de a prevalência deste transtorno em adultos ser aproximadamente metade da observada em crianças. Os sintomas envolvidos e fenômeno que os provocam: a) Desatenção no TDAH, como disfunção executiva e incapacidade de sustentar a atenção: o processamento ineficaz de informações no córtex pré-frontal dorsolateral (CPFDL), e a dificuldade de atenção seletiva, ao córtex cingulado anterior dorsal (CCAd). A hiperatividade seria pelo córtex motor pré-frontal e a impulsividade, pelo córtex orbitofrontal (COF). b) Manutenção da atenção e função executiva: seriam modulados pela alça corticoestriadotalamocortical (CETC) no córtex pré-frontal dorsolateral (CPFDL), projetando-se para o complexo do estriado. A ativação ineficaz do CPFDL resultaria em dificuldades na persistência ou conclusão de tarefas, desorganização e dificuldade em manter o esforço mental. c) Atenção seletiva: seria modulada pela alça CETC no córtex cingulado anterior dorsal (CCAd), projetando-se para o complexo estriado, depois para o tálamo e de volta ao CCAd. A ativação ineficaz do CCAd acarretaria pouca atenção aos detalhes, dificuldade de escutar, distrações e esquecimentos. d) Impulsividade: seria modulada pela alça CETC, envolvendo o córtex orbitofrontal (COF), o complexo estriado e o tálamo. A ativação ineficaz do COF promoveria sintomas como falar excessivamente, falar sem pensar, não esperar a vez e interromper os outros. e) Hiperatividade: seria modulada pela alça CETC que se projetaria do córtex motor pré-frontal para o putâmen (estriado lateral), depois ao tálamo e voltaria ao córtex motor pré-frontal. Os sintomas decorrentes da ativação ineficaz seriam a inquietação, levantar-se várias vezes da cadeira e estar constantemente se movendo. A nível neuroquímico os neurotransmissores mais importantes no TDAH são a dopamina (DA) e a noradrenalina (NA). Alguns estudos sugerem que a desregulação desses neurotransmissores impede a “sintonização” normal dos neurônios piramidais no córtex pré-frontal. A liberação de NA em níveis baixos pode melhorar a função do córtex pré-frontal ao estimular os receptores α2A pós-sinápticos. Porém, a liberação de altos níveis resulta em prejuízo da memória de trabalho, quando os receptores α1 e β1 também são acionados. Semelhantemente, a DA em níveis baixos estimula inicialmente os receptores D3 – eles são mais sensíveis à DA do que os receptores D1 ou D2 . No entanto, níveis baixos a elevados de estimulação dos receptores D1 propiciam a otimização do funcionamento cortical pré- frontal. No TDAH a sinapse NA e DA no córtex pré- frontal apresentam sinalização deficiente, isto é, há diminuição da neurotransmissão e, consequentemente, redução da estimulação dos receptores pós-sinápticos. Por outro lado, o TDAH também pode estar associado à sinalização excessiva nas vias DA e NA corticais pré-frontais, particularmente em adolescentes e adultos. Embora pareça contraditório, intui-se que a estimulação excessiva ou deficiente pela NA ou DA pode causar o processamento ineficiente de informações, pois, para que o córtex pré-frontal funcione adequadamente, é preciso que os neurônios piramidais corticais estejam sintonizados, ou seja, que ocorra a estimulação dos receptores α2A pela NA e dos receptores D1 pela DA CONHECER O DIAGNÓSTICO DO TDAH E O DIAGNÓSTICO DIFERENCIAL: Diagnóstico: O diagnóstico do TDAH é exclusivamente clínico e pode seguir tanto os critérios do DSM- IV (Associação Americana de Psiquiatria, 1994) como do CID10 (Organização Mundial de Saúde, 1993). O estágio de desenvolvimento da criança deve ser considerado na avaliação clínica, assim como a persistência dos sintomas (ocorrência em mais de um ambiente, como casa e escola) e de claras evidências de prejuízos clinicamente significantes na função social, acadêmica ou profissional. Em crianças mais jovens, é essencial a avaliação do ambiente familiar; onde há relação familiar caótica ou inconsistente, abuso ou negligência, as crianças geralmente respondem com comportamentos muito semelhantes àqueles presentes no TDAH. A não observação desse fator pode facilmente levar a erro de diagnóstico. Portanto, para o diagnóstico do TDAH, é sempre necessário contextualizar os sintomas na história de vida da criança. Algumas pistas que indicam a presença do transtorno são: a) Duração dos sintomas de desatenção e/ou hiperatividade/impulsividade: Normalmente, crianças com TDAH apresentam uma história de vida desde a idade pré-escolar com a presença de sintomas, ou, pelo menos, um período de vários meses de sintomatologia intensa. b) Frequência e intensidade dos sintomas. Para o diagnóstico de TDAH: é fundamental que pelo menos seis dos sintomas de desatenção e/ou seis dos sintomas de hiperatividade/impulsividade descritos na tabela abaixo estejam presentes frequentemente (cada um dos sintomas) na vida da criança. c) Persistência dos sintomas em vários locais e ao longo do tempo: Os sintomas de desatenção e/ou hiperatividade/impulsividade precisam ocorrer em vários ambientes da vida da criança (por exemplo, escola e casa) e manter-se constantes ao longo do período avaliado. Sintomas que ocorrem apenas em casa ou somente na escola devem alertar o clínico para a possibilidade de que a desatenção, hiperatividade ou impulsividade possam ser apenas sintomas de uma situação familiar caótica ou de um sistema de ensino inadequado. Da mesma forma, flutuações de sintomatologia com períodos assintomáticos não são características do TDAH. d) Prejuízo clinicamente significativo na vida da criança: Sintomas de hiperatividade ou impulsividade sem prejuízo na vida da criança podem traduzir muito mais estilos de funcionamento ou temperamento do que um transtorno psiquiátrico. e) Entendimento do significado do sintoma: Para o diagnóstico de TDAH, é necessária uma avaliação cuidadosa de cada sintoma, e não somente a listagem de sintomas. Por exemplo, uma criança pode ter dificuldade de seguir instruções por um comportamento de oposição e desafio aos pais e professores, caracterizando muito mais um sintoma de transtorno opositor desafiante do que de TDAH. A apresentação clínica pode variar de acordo com o estágio do desenvolvimento. Sintomas relacionados à hiperatividade/impulsividade são mais frequentes do que sintomas de desatenção em pré-escolares com TDAH. Como uma atividade mais intensa é característica de pré-escolares, o diagnóstico de TDAH deve ser feito com muita cautela antes dos 6 anos de vida. É por isso, entre outras razões, que o conhecimento do desenvolvimento normal de crianças é fundamental para a avaliação de psicopatologia nessa faixa etária. A literatura indica que os sintomas de hiperatividade diminuem na adolescência, restando, de forma mais acentuada, os sintomas de desatenção e de impulsividade. O DSM-5 (Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais – Citado no Compêndio de Psiquiatria), fez várias alterações nos critérios diagnósticos de TDAH aplicáveis a jovens e adultos. Enquanto no passado era necessária a presença dos sintomas de TDAH na idade de 7 anos, atualmente, nos termos do DSM-5, é imprescindível a presença de “diversos sintomas de déficit de atenção e de hiperatividade e impulsividade” aos 12 anos. Antes, havia dois subtipos: tipo envolvendo déficit de atenção e tipo hiperativo/impulsivo. Entretanto, no DSM-5, esses subtipos foram substituídos por três especificadores que, em essência, denotam os mesmos grupos:1) Apresentação combinada; 2) Apresentação predominantemente desatenta; 3) Apresentação predominantemente hiperativa/impulsiva Muitas discussões surgiram nos últimos anos sobre o “sobrediagnóstico” de TDAH nos países desenvolvidos. Contudo, nos locais menos favorecidos, o TDAH é frequentemente não reconhecido e não tratado. Em uma revisão sistemática de estudos realizados em comunidades conduzidos na América Latina e países do Caribe, as taxas de tratamentos em crianças com TDAH variam de 0 a 7%. Nas nações subdesenvolvidas e em desenvolvimento, onde o acesso à assistência médica e informação é limitado, o TDAH é geralmente não identificado e os pais e familiares lidam com os sintomas da maneira como podem, por exemplo, evitando lugares ou situações em que sabem que os sintomas serão especialmente prejudiciais (como restaurantes ou lojas). Geralmente são os professores que sugerem tratamento. Em adolescentes e adultos, a comorbidade é o que geralmente leva às pessoas a procurarem tratamento. Os pacientes podem ser encaminhados devido a desordens como abuso de substâncias, depressão ou dificuldade em relações interpessoais. Os sintomas listados nos dois sistemas ( CID - 10 e DSM – V) de classificação são equivalentes. Entretanto, para os critérios do CID-10, os sintomas devem estar presentes em todas as três dimensões (atenção, hiperatividade e impulsividade) enquanto o DSM-IV inclui hiperatividade e impulsividade na mesma dimensão e determina que os pacientes podem apresentar sintomas em apenas uma (dentre duas) dimensão. O DSM-IV requer pelo menos 6 dos 9 sintomas de desatenção ou ao menos 6 dos 9 sintomas de hiperatividade/impulsividade para o diagnóstico de TDAH. Para adolescentes com idade igual ou superior a 17 anos e para adultos são necessários apenas cinco, e não seis, sintomas de desatenção ou hiperatividade e impulsividade. Em ambas as classificações, os sintomas precisam persistir por pelo menos 6 meses em um grau que é inadequado e inconsistente como estágio de desenvolvimento. De acordo com o DSM-IV, há três possíveis subtipos baseados na presença ou ausência de sintomas específicos nos últimos 6 meses: • Combinado: se os critérios para desatenção e imperatividade/ impulsividade são encontrados • Predominantemente desatento: se os critérios para o déficit de atenção são encontrados, mas não os critérios para hiperatividade/impulsividade • Predominantemente hiperativo/impulsivo: se os critérios para a hiperatividade/impulsividade são encontrados, mas não os critérios para desatenção. O subtipo “predominantemente desatento” é mais frequente no sexo feminino e menos comum em ambientes clínicos, visto que crianças são menos frequentemente levadas a tratamento devido à desatenção, em relação à hiperatividade. Este subtipo é comumente associado com desempenho acadêmico deficiente, déficits cognitivos e atraso de desenvolvimento. Pacientes predominantemente desatentos são comumente descritos como desorganizados, quietos, sonhadores e como “no mundo da lua”. O subtipo “predominantemente hiperativo/impulsivo” é menos comum tanto no ambiente clínico quanto na comunidade. O subtipo combinado é o subtipo mais comumente diagnosticado no ambiente clínico. Embora todos os subtipos de TDAH estejam associados a comportamentos opositores e desafiadores, esta associação é mais forte para o subtipo combinado, tornando o tratamento mais desafiador. Além disso, o subtipo combinado está associado a uma maior incapacidade funcional em relação aos outros dois tipos. É necessário que se tenha mais de uma fonte de informações, usualmente pais e professores. Isto ocorre porque os informantes (sejam os pais, sejam os professores) observam as crianças em diferentes contextos, o que pode influenciar na ocorrência dos sintomas, e os informantes são suscetíveis a uma variedade de vieses. O clínico também deve examinar a criança, apesar de que, os sintomas são frequentemente ausentes durante avaliação, isso é importante para se excluir outros diagnósticos. O uso de escalas de avaliação é útil para quantificar a presença e gravidade de sintomas específicos e monitorar resposta a tratamentos. Escalas podem ser preenchidas por pais e professores e são fáceis de serem usadas. ASRS-18 - Teste autoaplicável para Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH). Foi desenvolvida para adaptar os sintomas listados no DSM-V para o contexto da vida adulta. A maioria dos testes neuropsicológicos são protegidos por registro de propriedade autoral e caros, o que restringe seu uso, embora testes específicos possam ser de ajuda. Os testes de inteligência (ex. Wechsler) podem ser úteis no esclarecimento de déficits intelectuais ou QI elevado e suas implicações. O Teste de Desempenho Contínuo (CPT-II), o teste Winsconsin de Classificação de Cartas, o teste de STROOP, e teste “go/no go” são úteis para pesquisa. Escalas de Classificação: Apesar do diagnóstico não poder ser feito com base somente em dados de escalas de classificação, o seu uso é uma boa prática clínica para fins de rastreio, para medir a gravidade dos sintomas e monitorar a resposta ao tratamento e evolução. Há várias escalas que podem ser específicas para TDAH ou para psicopatologia sem geral, a maioria com versões para a criança, pais e professores. A tabela abaixo lista algumas das escalas disponíveis em domínio público. a) SNAP IV: é composto pela descrição de 18 sintomas do TDAH, entre sintomas de desatenção (9 primeiros itens) e hiperatividade/impulsividade (itens 10 a 18), os quais devem ser pontuados por pais e/ou professores, em uma escala de quatro níveis de gravidade. Diagnóstico diferencial: Incluir as doenças que são as causas mais prováveis do quadro clínico do paciente. De preferência, sem deixar de fora nenhuma explicação altamente provável. As semelhanças dos sintomas do TDAH com algumas das outras síndromes psicopatológicas dificultam o diagnóstico. Além disso, os adultos diagnosticados com TDAH geralmente vêm de uma infância marcada por dificuldades. Eles expressam um comportamento bastante desadaptativo e deveriam ser reconhecidos como indivíduos que, por definição, lutaram com dificuldades psicossociais duradouras. Consequentemente, os profissionais de saúde mental não só devem ter conhecimento das desordens de comportamento e psicopatologia do desenvolvimento, mas também devem possuir sensibilidade para confrontar as dificuldades nos adultos e as complexidades associadas ao grau de desadaptação dos sintomas de desatenção e hiperatividade e impulsividade relacionados aos níveis de idade apropriados Existe alta comorbidade (ocorrência de dois ou mais transtornos em um mesmo indivíduo) entre TDAH e outros transtornos psiquiátricos; e entre os assim chamados transtornos de aprendizagem que, de acordo com o DSM IV, englobam os transtornos de leitura (dislexia), transtornos de matemática (discalculia) e transtorno de escrita (disgrafia). a) Comorbidades: Crianças com TDAH geralmente sofrem com outras condições psiquiátricas; é essencial o rastreamento sistemático da presença de outros transtornos mentais. A figura abaixo mostra a prevalência de comorbidades em dois estudos de coorte brasileiros de crianças com TDAH; transtorno opositor desafiante, transtornos de ansiedade, transtornos de conduta e depressão estão entre os mais frequentes. Transtornos psiquiátricos a serem considerados no diagnóstico diferencial de TDAH em Adultos: a) Depressão Maior: tem como características similares ao TDAH dificuldade de concentração, de atenção e de memória e dificuldade na conclusão das tarefas. Como característicasdistintas do TDAH, o humor disfórico constante ou anedonia, sonolência e perturbação do apetite. b)Transtorno do Humor Bipolar: as características similares do TDAH são a hiperatividade, dificuldades em manter atenção e foco; oscilações de humor. As características distintas são a disforia ou humor eufórico, insônia e ilusões. c)Transtorno de Ansiedade: demonstra características similares à excitação e à dificuldade de concentração. Apresenta como características distintas apreensão exagerada, preocupação e sintomas somáticos de ansiedade. d)Abuso de Substâncias ou Dependência Química: Mostram como características similares dificuldades com atenção, concentração, memória e oscilações de humor. Como características distintas apresentam um padrão patológico de uso de substâncias com consequências sociais, tolerância e dependência psicológica. e) Transtornos de Personalidade principalmente Borderline e Antissocial: evidenciam como características similares impulsividade e labilidade afetiva e como características distintas, histórias judiciais (Antissocial), comportamento auto prejudicial ou suicida (Borderline), falta de reconhecimento de que o comportamento é autodestrutivo. Dos quadros clínicos, o que mais causa confusão com o TDAH é o transtorno de humor bipolar. Lara (2004) explica que vários sintomas do TDAH podem estar presentes na bipolaridade, mas há diferenciação, pois, existem aqueles que não são do déficit de atenção e da hiperatividade, mas aparecem na direção da mania no paciente bipolar. São eles: intenso envolvimento em atividades pontuais (sociais, afetivas, do trabalho e criativas), pensamento rápido, diminuição da necessidade de sono, humor eufórico ou irritável, manifestações de grandiosidade, autoestima elevada, comportamentos que envolvem riscos. Se pouco desses sintomas surgirem sem motivo aparente por mais de um dia pode sugerir bipolaridade em vez de déficit de atenção. Por fim, afirma que a resposta à medicação é diferente. No caso do TDAH, há significativa melhora do quadro quando se utiliza remédio estimulante, como o metilfenidato, semelhante à anfetamina. A mesma medicação em bipolares pode induzir sintomas de irritabilidade, mania e agitação, e, se o paciente apresentar melhora neste caso, é transitória. RELACIONAR OS TRANSTORNOS DE CONDUTA E APRENDIZAGEM COM O TDAH, E SUAS CONSEQUÊNCIAS NA VIDA ADULTA: Transtorno de conduta: O Transtorno de Conduta pode se manifestar como um padrão comportamental de agressão e violações graves de regras e normas sociais em casa, na escola ou em outros ambientes. As crianças também têm mais probabilidade de se machucar e ter dificuldades em se relacionar com os colegas. A presença do TDAH aumenta as chances do surgimento do transtorno de conduta nas crianças. • Comportamentos observados: - Quebrar regras importantes; - Ser agressivo de maneira a causar danos às outras crianças, praticar bullying, brigar ou ser cruel com os animais; - Mentir e roubar ou danificar objetos de outras pessoas de propósito. O transtorno da conduta é um dos transtornos psiquiátricos mais frequentes na infância e um dos maiores motivos de encaminhamento ao psiquiatra infantil. No Canadá, o transtorno da conduta atinge 5,5% dos indivíduos da população geral com idade entre 4-16 anos, com taxas variando de 1,8% (meninas de 4-11 anos) a 10,4% (meninos de 12-16 anos). O transtorno da conduta é mais freqüente no sexo masculino, independentemente da As pesquisas mostram uma alta prevalência de comorbidade entre o TDAH e os transtornos disruptivos do comportamento (transtorno de conduta e transtorno opositor desafiante), situada em torno de 30 a 50%. A taxa de comorbidade também é significativa com as seguintes doenças: a) depressão (15 a 20%); b) transtornos de ansiedade (em torno de 25%); c) transtornos da aprendizagem (10 a 25%). Vários estudos têm demonstrado uma alta prevalência da comorbidade entre TDAH e abuso ou dependência de drogas na adolescência e, principalmente, na idade adulta (9 a 40%). Discute-se, ainda, se o TDAH por si só é um fator de risco para o abuso ou dependência de drogas na adolescência. Sabe-se que é muito frequente a comorbidade de TDAH e transtorno de conduta, e que o transtorno de conduta se associa claramente a abuso/dependência de drogas. Desta forma, é possível que o abuso/dependência de drogas ocorra com mais frequência num subgrupo de adolescentes com TDAH que apresentam conjuntamente transtorno de conduta. Em outras palavras, o fator de risco não seria o TDAH em si, mas sim a comorbidade com transtorno de conduta. a) Transtorno Desafiante de Oposição (TOD), que se caracteriza por comportamento desafiador e opositivo (conforme o nome sugere) em relação a figuras de autoridade; b) Transtorno de Conduta (TC), que se caracteriza pelo padrão de comportamento no qual se desrespeita os direitos básicos dos outros (mentiras, roubo, crueldade com animais entre outros); c) Abuso de substâncias psicoativas e álcool - em geral o abuso destas substâncias relaciona-se com o comprometimento funcional nas áreas acadêmicas, social e profissional; d) Transtorno de Humor - depressão e transtorno bipolar, sendo que o primeiro se caracteriza por tristeza, irritação, perda de interesse por atividades habitualmente prazerosas, fadiga fácil, insônia ou hiperisônia, enquanto o transtorno bipolar caracteriza-se pela presença de humor exaltado, euforia alternando-se com momentos de depressão; e) transtornos de ansiedade, que se caracterizam por medos ou preocupações excessivas que comprometem a vida acadêmica, social e familiar; f) Transtornos de tiques que se caracterizam pela realização de movimentos ou sons vocais repentinos, rápidos, não rítmicos, estereotipados; g) Transtornos de aprendizado, não consideradas aqui as dificuldades primárias decorrentes das próprias características do TDAH (desatenção e impulsividade) e que erroneamente são designadas como transtorno de aprendizagem. idade, e mais freqüente em crianças maiores (12-16 anos) comparadas às menores (4-11 anos), independentemente do sexo. De acordo com DSM-IV (2002, p. 120), o “Transtorno de Conduta é um padrão repetitivo e persistente de comportamento no qual são violados os direitos básicos dos outros ou normas ou regras sociais importantes apropriadas à idade”. Na base do transtorno da conduta está a tendência permanente para apresentar comportamentos que incomodam e perturbam, além do envolvimento em atividades perigosas e até mesmo ilegais. Esses jovens não aparentam sofrimento psíquico ou constrangimento com as próprias atitudes e não se importam em ferir os sentimentos das pessoas ou desrespeitar seus direitos. Portanto, seu comportamento apresenta maior impacto nos outros do que em si mesmo. Os comportamentos anti-sociais tendem a persistir, parecendo faltar a capacidade de aprender com as consequências negativas dos próprios atos. O quadro clínico do transtorno da conduta é caracterizado por comportamento anti-social persistente com violação de normas sociais ou direitos individuais. Os critérios diagnósticos do DSM-IV para transtorno da conduta incluem 15 possibilidades de comportamento anti-social: (1) freqüentemente persegue, atormenta, ameaça ou intimida os outros; (2) freqüentemente inicia lutas corporais; (3) já usou armas que podem causar ferimentos graves (pau, pedra, caco de vidro, faca, revólver); (4) foi cruel com as pessoas, ferindo-as fisicamente; (5) foi cruel com os animais, ferindo-os fisicamente; (6) roubou ou assaltou, confrontando a vítima; (7) submeteu alguém a atividade sexual forçada; (8) iniciou incêndio deliberadamente com a intenção de provocar sérios danos; (9)destruiu propriedade alheia deliberadamente (não pelo fogo); (10) arrombou e invadiu casa, prédio ou carro; (11) mente e engana para obter ganhos materiais ou favores ou para fugir de obrigações; (12) furtou objetos de valor; (13) freqüentemente passa a noite fora, apesar da proibição dos pais (início antes dos 13 anos); (14) fugiu de casa pelo menos duas vezes, passando a noite fora, enquanto morava com os pais ou pais substitutos (ou fugiu de casa uma vez, ausentando-se por um longo período); e (15) falta na escola sem motivo, matando aulas frequentemente (início antes dos 15 anos). Os critérios diagnósticos do DSM-IV para transtorno da conduta aplicam-se a indivíduos com idade inferior a 18 anos e requerem a presença de pelo menos três desses comportamentos nos últimos 12 meses e de pelo menos um comportamento anti-social nos últimos seis meses, trazendo limitações importantes do ponto de vista acadêmico, social ou ocupacional. Os sintomas do transtorno da conduta surgem no período compreendido entre o início da infância e a puberdade e podem persistir até a idade adulta. Quando iniciam-se antes dos 10 anos, observa-se com maior freqüência a presença de transtorno com déficit de atenção e hiperatividade (TDAH), comportamento agressivo, déficit intelectual, convulsões e comprometimento do sistema nervoso central devido a exposição a álcool/drogas no período pré-natal, infecções, uso de medicamentos, traumas cranianos, etc., além de antecedentes familiares positivos para hiperatividade e comportamento anti-social. O início precoce indica maior gravidade do quadro com maior tendência a persistir ao longo da vida. O transtorno da conduta está freqüentemente associado a TDAH (43% dos casos) e a transtornos das emoções (ansiedade, depressão, obsessão-compulsão; 33% dos casos). A comorbidade com o TDAH é mais comum na infância, envolvendo principalmente os meninos, enquanto a comorbidade com ansiedade e depressão é mais comum na adolescência, envolvendo principalmente as meninas após a puberdade. O rendimento escolar da criança TDAH, associado a outros transtornos é marcado pela instabilidade, assim como consegue desenvolver uma criatividade e atenção espetacular em alguns momentos, em outros pode se dispersar com o menor estimulo. Assim, torna-se extremamente importante, a participação da família e da escola. Ambas, tem um papel significativo, auxiliando a superar as dificuldades de aprendizagem, sendo âncoras e estimuladoras deste processo, informando a criança sobre suas limitações e potencialidades. Comportamentos anti-sociais mais graves (por exemplo, brigas com uso de armas, arrombamentos, assaltos) costumam ser antecedidos por comportamentos mais leves (por exemplo, mentir, enganar, matar aulas, furtar objetos de pouco valor) e, ao longo do tempo, observa-se o abuso de álcool/drogas, principalmente no sexo masculino e os quadros de ansiedade e depressão, principalmente no sexo feminino. O transtorno da conduta está frequentemente associado a baixo rendimento escolar e a problemas de relacionamento com colegas, trazendo limitações acadêmicas e sociais ao indivíduo. São freqüentes os comportamentos de risco envolvendo atividades sexuais, uso de drogas e até mesmo tentativas de suicídio. O envolvimento com drogas e gangues pode iniciar o jovem na criminalidade. Na fase adulta, notam- se sérias consequências do comportamento anti-social, como discórdia conjugal, perda de empregos, criminalidade, prisão e morte prematura violenta. Quanto mais jovem o paciente e menos graves os sintomas, maior a probabilidade do indivíduo se beneficiar de uma psicoterapia. Quando trata-se de adolescente que já cometeu delitos, observa-se maior resistência à psicoterapia, podendo ser útil o envolvimento com profissionais especializados no manejo de jovens anti-sociais através de oficinas de artes, música e esportes. Nessas oficinas, o adolescente tem a oportunidade de estabelecer vínculo afetivo com os profissionais responsáveis pelas atividades, tomando-os como modelo, além de perceber-se capaz de criar, o que favorece o desenvolvimento da auto- estima. Sempre que possível, a família dos pacientes deve ser incluída no processo terapêutico, lembrando que muitas vezes os pais necessitam de tratamento psiquiátrico (por exemplo, abuso de drogas). O tratamento com psicofármacos faz-se necessário em algumas situações nas quais os sintomas-alvo (por exemplo, idéias paranóides associadas à agressividade, convulsões) ou outros transtornos psiquiátricos (por exemplo, TDAH, depressão) estão presentes. Recomendamos cautela no uso de neurolépticos para o tratamento da agressividade, pois os riscos podem superar os benefícios. Transtorno de Aprendizagem: Muitas crianças com TDAH manifestam algum Transtorno de Aprendizagem. Vale ressaltar que, além dos sintomas do TDAH, como dificuldades em prestar atenção, permanecer na tarefa ou ser organizado, ele pode impedir a criança de ir bem na escola. A criança com Transtorno de Aprendizagem tem uma clara dificuldade em uma ou mais áreas do conhecimento, mesmo quando a sua inteligência não é afetada. • Os Transtornos de Aprendizagem são: Dislexia: A principal característica da dislexia é a dificuldade em ler e escrever. Pessoas com dislexia apresentam atrasos para o aprendizado da leitura e da fala, problemas para memorizar palavras, regras ortográficas e conceitos, dispersão e falta de atenção. A dislexia é um problema crônico, com origem no cérebro, coluna vertebral e nervos (neurobiológica). Discalculia: Dificuldades para compreender e assimilar regras, conceitos e operações matemáticas. Portadores desse transtorno possuem sérios problemas em realizar operações que envolvam números, além da dificuldade em ler símbolos matemáticos, operar cálculos numéricos e realizar operações mentais e escritas. Disgrafia: A disgrafia é um distúrbio que dificulta a percepção e capacidade escrita dos indivíduos, levando os portadores a frequentemente cometerem diferentes erros ortográficos. De acordo com especialistas, o transtorno pode estar relacionado a problemas psicomotores, levando as pessoas a apresentarem dificuldade em formar palavras, reconhecer e diferenciar maiúsculas e minúsculas, espaçamento das palavras, entre outras. A combinação de problemas causados pelo TDAH em comorbidade com esses transtornos, pode tornar ainda mais difícil as tarefas na escola. Por isso, o diagnóstico adequado é importante para saber qual a melhor forma de ajudar a criança. EVOLUÇÃO: Antigamente, acreditava-se que todas as crianças com o transtorno superavam os sintomas ("amadureciam") com a chegada da puberdade. Entretanto, estudos prospectivos recentes que seguiram crianças com TDAH mostram uma persistência do diagnóstico em até cerca de 70-80% dos casos na adolescência inicial a intermediária. Estimativas conservadoras documentam que cerca de 50% dos adultos diagnosticados como tendo TDAH na infância seguem apresentando sintomas significativos associados a prejuízo funcional. Ao longo do desenvolvimento, diminui a hiperatividade, restando frequentemente déficits atencionais e impulsividade, especialmente cognitiva (agir antes de pensar). Ao longo do desenvolvimento, o TDAH está associado com um risco aumentado de baixo desempenho escolar, repetência, expulsões e suspensões escolares, relações difíceis com familiares e colegas, desenvolvimento de ansiedade, depressão, baixa autoestima, problemas de conduta e delinquência, experimentação e abuso de drogas precoces, acidentes de carro e multas por excesso de velocidade, assim como dificuldades de relacionamento na vida adulta, no casamento e no trabalho.Ainda em relação a avaliações complementares, avaliações auditivas e visuais são fundamentais, já que déficits nessas funções sensoriais podem determinar importantes dificuldades atencionais e hiperatividade. A avaliação neurológica é relevante para a exclusão de patologias neurológicas que possam mimetizar o TDAH e, muitas vezes, é valiosa como reforço para o diagnóstico. Os dados provenientes do exame neurológico evolutivo são importantes. No que tange à testagem psicológica, a Wechsler Intelligence Scale for Children permite uma avaliação cognitiva da criança, sendo útil no diagnóstico diferencial com retardo mental. Outras condições prevalentes, como síndrome do X-frágil, também devem ser descartadas, visto que esta patologia pode causar problemas de atenção, hiperatividade e impulsividade. Outros testes neuropsicológicos (por exemplo, o Wisconsin Cart-Sorting Test, Continuous Performance Test - CPT, ou o STROOP Test), assim como exames de neuroimagem (tomografia, ressonância magnética, ou SPECT cerebral), também fazem parte do ambiente de pesquisa, e não do clínico. • Outras condições que podem afetar ou agravar a aprendizagem: - Alterações das funções executivas - Questões emocionais - Transtorno do Desenvolvimento da Coordenação* (também conhecido como dispraxia e disgrafia) - Alteração do processamento auditivo - Questões socioeconômicas e culturais (*) O Transtorno do Desenvolvimento da Coordenação pode prejudicar principalmente a escrita a mão. Relação com a vida adulta: Independentemente da faixa etária, o TDAH ocasiona problemas em diferentes domínios do desenvolvimento: social, escolar/acadêmico, profissional e intrapessoal. De forma geral, o indivíduo com TDAH pode apresentar desempenho abaixo do esperado, alcançar escolaridade menor, e apresentar maior probabilidade de desemprego, insucesso profissional, e problemas de relacionamento interpessoal no trabalho. Além disso, tais indivíduos também são mais suscetíveis a se envolver em acidentes automobilísticos, violar regras de trânsito e adotar práticas sexuais de risco. Na idade adulta, a hiperatividade pode ser manifesta por excesso de atividades ou trabalho. Por sua vez, os traços de impulsividade podem ser observados em exemplos como a direção imprudente no trânsito ou relacionamentos amorosos de curta duração. As alterações do sono também são comuns e manifestas por dificuldades em manter um horário para dormir, não acordar nos horários previstos e sonolência diurna. Estatisticamente, pelo menos metade das crianças, adolescentes e adultos com TDAH terão duas ou mais condições clínicas associadas, como desvios de conduta, transtorno opositivo desafiador, ansiedade, depressão, distúrbios de aprendizagem, transtorno da personalidade antissocial e abuso de substâncias ilícitas. É fácil pensar que uma criança ou adolescente com sintomas não tratados possa desenvolver outros transtornos. Imagine, por exemplo, um estudante que não consegue realizar as mesmas tarefas acadêmicas que o colega de turma, apresenta dificuldade em respeitar regras e, assim, é frequentemente cobrado pelos professores e pais, não estabelecendo amizades e retornando para casa exausto, com um “dever de casa” a ser cumprido. Possivelmente, essa pessoa se sentirá pior que as demais por não se adaptar às demandas escolares e sociais e poderá apresentar sintomas de auto depreciação, incapacidade e irritabilidade, facilitando o desenvolvimento de outros transtornos do humor. Aqueles sintomas que se apresentavam como hiperatividade na infância, na idade adulta podem se manifestar como sensações de inquietude, impaciência, labilidade, fadiga e serem confundidos com sintomas de ansiedade. Ele passará pela infância e adolescência vivenciando todas as adversidades descritas acima e quando chegar na idade adulta irá se deparar com outras demandas que podem ser tanto quanto, ou mais, angustiantes. Os adultos com TDAH têm três vezes mais chances de se envolverem em acidentes automobilísticos, maior tendência ao abuso de tabaco, álcool e drogas ilícitas, desvio de conduta, envolvimento com criminalidade, instabilidade em empregos e relacionamentos interpessoais. Portanto, o subdiagnóstico desse transtorno pode trazer impactos econômicos à sociedade. ESCLARECER SOBRE OS TRATAMENTOS PARA O TDAH: O tratamento do TDAH envolve uma abordagem múltipla, englobando intervenções psicossociais e psicofarmacológicas. Cinco princípios básicos: 1) O pediatra deve estabelecer um programa de tratamento que reconheça o TDAH como uma condição crônica. 2) O pediatra, em conjunto com os pais, a criança e a escola, deve especificar os objetivos a serem alcançados em termos de evolução do tratamento para guiar o manejo. 3) O pediatra deve recomendar o uso de medicação estimulante e/ou tratamento comportamental quando apropriado para melhorar sintomas-alvo em crianças com TDAH. 4) Quando o manejo selecionado não atingir os objetivos propostos, o pediatra deve reavaliar o diagnóstico original, verificar se foram usados todos os tratamentos apropriados, a aderência a tratamento e a presença de comorbidades. 5) O pediatra deve sistematicamente prover um retorno para a criança com TDAH, monitorando objetivos propostos e eventos adversos através de informações obtidas com a criança, a família e a escola. Intervenções Psicossociais: No âmbito das intervenções psicossociais, é fundamental que o pediatra possa educar a família sobre o transtorno, através de informações claras e precisas. Muitas vezes, é necessário um programa de treinamento para os pais, com ênfase em intervenções comportamentais, a fim de que aprendam a manejar os sintomas dos filhos. É importante que eles conheçam as melhores estratégias para o auxílio de seus filhos na organização e no planejamento das atividades (por exemplo, essas crianças precisam de um ambiente silencioso, consistente e sem maiores estímulos visuais para estudar). Além disso, esses programas devem oferecer treinamento em técnicas específicas para dar os comandos, reforçando o comportamento adaptativo social e diminuindo ou eliminando o comportamento desadaptado (por exemplo, através de técnicas de reforço positivo). Intervenções no âmbito escolar também são importantes. Nesse sentido, idealmente, os professores deveriam ser orientados para a necessidade de uma sala de aula bem estruturada, com poucos alunos. Rotinas diárias consistentes e ambiente escolar previsível ajudam essas crianças a manter o controle emocional. Estratégias de ensino ativo, que incorporem a atividade física com o processo de aprendizagem, são fundamentais. As tarefas propostas não devem ser demasiadamente longas e necessitam ser explicadas passo a passo. É importante que o aluno com TDAH receba o máximo possível de atendimento individualizado. Ele deve ser colocado na primeira fila da sala de aula, próximo à professora e longe da janela, ou seja, em local onde ele tenha menor probabilidade de distrair- se. Muitas vezes, crianças com TDAH precisam de reforço de conteúdo em determinadas disciplinas. Isso acontece porque elas já apresentam lacunas no aprendizado no momento do diagnóstico, em função do TDAH. Outras vezes, é necessário um acompanhamento psicopedagógico centrado na forma do aprendizado, como, por exemplo, nos aspectos ligados à organização e ao planejamento do tempo e das atividades. Em relação às intervenções psicossociais centradas na criança ou no adolescente, a modalidade psicoterápica mais estudada e com maior evidência científica de eficácia para os sintomas centrais do transtorno (desatenção, hiperatividade, impulsividade), bem como para o manejode sintomas comportamentais comumente associados (oposição, desafio, teimosia) é a cognitivo-comportamental, especialmente os tratamentos comportamentais. Dentre os tratamentos comportamentais, o treinamento parental parece ser a modalidade mais eficaz. Entretanto, os resultados recentes do MTA. demonstram claramente uma eficácia superior da medicação nos sintomas centrais do transtorno quando comparada à abordagem psicoterápica e ao tratamento comunitário. A interpretação mais cautelosa dos dados sugere que o tratamento medicamentoso adequado é fundamental no manejo do transtorno. Intervenções psicofarmacológicas: Em relação às intervenções psicofarmacológicas, no Brasil, o único estimulante encontrado no mercado é o metilfenidato. A dose terapêutica normalmente se situa na faixa de 20 a 60 mg/dia. Como a meia- vida do metilfenidato é curta (de 3 a 4 horas), geralmente pode-se utilizar o esquema de administração de três doses por dia: uma de manhã, outra ao meio-dia e uma última ao final da tarde. Isso é especialmente importante naqueles pacientes com tarefas que requerem demanda atencional no final do dia. Alguns pacientes não toleram a terceira dose, apresentando insônia importante com esse esquema. Esses podem ser candidatos a receber a medicação duas vezes ao dia. Em alguns desses casos, a associação com clonidina pode ser benéfica. Duas formulações de efeito prolongado devem estar disponíveis no Brasil brevemente, permitindo uma única tomada ao dia. Uma delas tem liberação em dois pulsos, mimetizando o esquema de metilfenidato de curta ação dado duas vezes ao dia. A outra é uma formulação de metilfenidato de liberação prolongada (sistema OROS), com duração de efeito de até 12 horas. Cerca de 70% dos pacientes com TDAH respondem adequadamente aos estimulantes, com redução de pelo menos 50% dos sintomas básicos do transtorno, e os toleram bem. Os eventos adversos mais freqüentemente associados ao uso de estimulantes são: perda de apetite, insônia, irritabilidade, cefaléia e sintomas gastrointestinais. Observação: A indicação para a suspensão parece ocorrer quando o paciente apresenta um período de cerca de 1 ano assintomático, ou quando há melhora importante da sintomatologia. Suspende-se a medicação para a avaliação da necessidade de continuidade de uso. Mais de 25 estudos apontam a eficácia dos antidepressivos tricíclicos (ADT) no TDAH. Clinicamente, os ADT são indicados nos casos em que não há resposta aos estimulantes e na presença de comorbidade com transtornos de tique ou enurese. Em relação ao uso de ADT dosagem - a dosagem adequada de imipramina situa-se na faixa entre 2 e 5 mg/kg/dia (é prática comum no nosso meio a utilização de subdosagem de ADT para o tratamento de crianças). Alguns estudos também demonstram a eficácia de outros antidepressivos no TDAH, principalmente a bupropiona. A dosagem de bupropiona utilizada é de 1,5 a 6 mg/kg/dia, divididos em duas ou três tomadas; doses acima de 450 mg/dia aumentam muito o risco de convulsões, que é a principal limitação para sua utilização. Seus principais efeitos colaterais são agitação, boca seca, insônia, cefaléia, náuseas, vômitos, constipação e tremores. Recentemente, um estudo de meta- análise sobre o uso da clonidina no TDAH encontrou um efeito positivo nos sintomas: sua efetividade pode ser comparada à dos antidepressivos tricíclicos. Seu uso é indicado quando houver presença de comorbidades que contra-indiquem o uso dos estimulantes ou quando estes não forem tolerados. As doses utilizadas situam-se entre 0,03 e 0,05 mg/kg/dia, e a principal contra-indicação é a preexistência de distúrbios da condução cardíaca, devido aos seus efeitos colaterais relacionados com alterações cardiovasculares. Uma nova opção farmacológica para o tratamento do TDAH recentemente aprovada pelo Food and Drug Administration (FDA) nos Estados Unidos. A atomoxetina é um fármaco não-estimulante, sendo um potente inibidor seletivo da recaptura de noradrenalina e possuindo baixa afinidade por outros receptores e neurotransmissores. Tem seu pico plasmático em 1 a 2 horas, com uma meia-vida ao redor de 5 horas. Sua dosagem média é de 1,4 mg/kg/dia. Observação: No Brasil, o único psicoestimulante disponível é o Metilfenidato, (Ritalina® e Concerta®) com duas formas de ação, curta e longa. A medicação de curta duração é comercializada com o nome de Ritalina®, na apresentação convencional de 10 mg, com uma duração de 3 a 4 horas. A compreensão do princípio ativo do Metilfenidato, fármaco freqüentemente utilizado no tratamento do TDAH é o principal suporte para a teoria da hipofunção dopaminérgica, por promover um aumento de dopamina na fenda sináptica Saiba Mais! Abuso e contrabandoTodos os medicamentos estimulantes têm o potencial de abuso. Abuso econtrabando(ex., vender medicamentos, dá-los a amigos ou parentes ou adquiri-los roubados), mesmo que raros, têm aumentado nos últimos anos em alguns países onde estimulantes são amplamente prescritos. Os pacientes que abusam relatam usar estimulante para melhorar o desempenho escolar, mas o uso recreativo também ocorre. O uso indevidoé mais comum entre aqueles com transtorno de conduta ou abuso de substâncias. Membros da família ou colegas de classe que abusam de substâncias também podem furtar o medicamento de pacientes, caso não protegidos de forma apropriada. Embora os estimulantes de longa ação possam sermenospropensos ao uso indevido oucontrabando, a atomoxetina deve ser prescrita nesses casos. Novas Abordagens Terapêuticas! Novas abordagens terapêuticas estão surgindo. O neurofeedback, um tipo de biofeedback que usa sinais eletroencefalográficos para promover uma auto- capacitação de atividade cerebral, tem mostrado alguns resultados positivos iniciais (Arns et al, 2009). Outra intervenção em estudo é o treino cognitivo (Halperin & Healey, 2011). O treino cognitivo procura melhorar a memória de trabalho e funções executivas por meio de uma variedade de meios, incluindoaplicativos de computador. A suplementação com ácido graxoOmega-3 também está recebendo atenção considerável; alguns estudos sugerem melhora dos sintomas do TDAH(Bloch & Qawasmi, 2011). Retardo do crescimento: Os estimulantes podem prejudicar o crescimento de criançase podem reduzir a estatura final do adulto. Não há dúvidas de que os estimulantes reduzem levemente o crescimento e isto requer discussão com pais e pacientes. Portanto, o crescimento das crianças deve ser monitorado regularmente enquanto há uso dos estimulantes. O crescimento é retomado assim que há a interrupção dos estimulantes; interromper o tratamento durante as férias de verão pode minimizar o risco de retardo de crescimento quando este representa uma preocupação. Outras opiniões incluem redução da dose, interrupção ou troca por atomoxetina. Morte súbita: Há um potencial teórico por parte de todos os estimulantes a aumentar o risco de morte cardíaca súbita e acidente vascular cerebral. Não está claro se este risco é dependente do estimulante usado, da participação individual em exercícios extenuantes ou possíveis fatores de risco cardíacos subjacentes. O metilfenidato tem sido associado a morte cardíaca súbita em indivíduos com anormalidades cardíacas estruturais, mas não há evidências de que a frequência de ataque cardíacoé maior entre os que usam metilfenidato em relação à população em geral (Elia and Vetter, 2010; Stiefel and Besag, 2010). Vários grandes estudos e metanálises têm mostrado que não há evidências de que o uso vigente de uma droga para TDAH está associado com um aumento de sérios eventos cardiovasculares. Apesar de o risco não poder ser descartado totalmente, a magnitudeabsoluta de tal risco é muito baixa. Medicamentos não-estimulantes São considerados tratamentos de segunda linha no caso de intolerância, contraindicações ou falha de tratamento. Evidências de efetividade dessas drogas, embora não tão fortes as dos estimulantes, são boas para a atomoxetina, guanfacina de liberação prolongada, e clonidina de liberação prolongada (nesta ordem) • A atomoxetina é um inibidor seletivo da receptação de noradrenalina (ISRN) que parece causar um aumento secundário nos níveis de dopamina. O tamanho de efeito estimado da atomoxetina para o tratamento de TDAH (aproximadamente 0.8) é mais alto que o de outras drogas não-estimulantes, porém menor em relação aos estimulantes. A atomoxetina pode reduzir sintomas de ansiedade em adultos e crianças e é uma opção para o tratamento de TDAH quando há transtorno de ansiedade como comorbidade. Também é preferível para pacientes com história de abuso de substâncias (ou se há outros membros da família que usam drogas, devido ao risco de desvio do seu uso). Comparada aos estimulantes, a atomoxetina tem um início de ação mais lento, mas pode ser tomada em uma dose diária. A dose inicial é de 0,5 mg/kg/dia, que pode ser aumentada para 1,2 mg/kg/dia. Os eventos adversos mais frequentes são os sintomas gastrintestinais transitórios, redução de apetite, distúrbios de sono, aumento da frequência cardíaca e pressão arterial. Efeitos colaterais graves, porém, muito raros, incluem hepatotoxicidade, com aumento de enzimas hepáticas, bilirrubina e icterícia; comportamentos suicidas emergentes (tanto de ideias suicidas quanto de tentativas) também têm sido relatados. • A clonidina e a guanfacina são agonistas dos receptores alfa-2 com eficácia demonstrada no tratamento do TDAH. A guanfacina é mais seletiva que a clonidina, causando menos efeitos adversos, como sonolência. Tais medicamentos também podem ser usados em pacientes com tiques ou Síndrome de Tourette, onde sua eficácia aparenta ser maior. Atualmente, há formulações de longa ação tanto para a clonidina quanto para a guanfacina. • A modafinila é um medicamento não-estimulante usado para o tratamento de narcolepsia que tem sido testado para o TDAH; sua eficácia tem sido demonstrada em ensaios clínicos randomizados • Os antidepressivos tricíclicos, como a imipramina, também têm demonstrado que reduzem os sintomas de TDAH. No entanto, antidepressivos tricíclicos estão associados com efeitos adversos significativos, são menos efetivos que os medicamentos estimulantes e devem ser usados somente após falha de resposta a dois ou três estimulantes e atomoxetina (AAP, 2011). Antidepressivos tricíclicos podem interferir na condução cardíaca e podem causar morte súbita; é importante que os pacientes sejam monitorados com eletrocardiograma antes e durante o tratamento. • A bupropiona é considerada um tratamento de terceira linha para o TDAH; ela pode ser usada em casos de falha dos estimulantes, atomoxetina e alfa-2-agonistas. A bupropiona reduz o limiar de convulsão de um modo dose dependente. Medicamentos estimulantes: Têm sido usados por décadas no tratamento de TDAH e são licenciados para esse fim em muitos países. Testes mostram de forma consistente que estimulantes são mais efetivos que placebo, com tamanho de efeito variando de 0.8 a 1.1 e uma resposta clínica positiva precoce em aproximadamente 70% dos casos. Mais comumente, os medicamentos estimulantes usados incluem o metilfenidato, dexmetilfenidato, dextroanfetamina e sais mistos de anfetamina. Outros agentes como a metanfetamina estão disponíveis em alguns países. Os medicamentos são disponibilizados em diferentes apresentações, incluindo de ação curta, ação longa e de liberação prolongada. A principal vantagem dos de longa ação e de liberação prolongada é que uma dose pela manhã pode sustentar o efeito ao longo de todo o dia, o que aumenta a adesão. Entretanto, eles são mais caros, o que limita seu uso. Não há evidências conclusivas favorecendo qualquer um dos estimulantes em relação aos outros, em termos de eficácia e perfil de efeitos colaterais. A dosagem dos estimulantes não é dependente do peso. O clínico deve iniciar com uma baixa dose e aumentar gradativamente até alcançar uma resposta ótima. A melhor dose é a que leva a um benefício máximo com mínimos efeitos colaterais. Apesar da escassez de estudos controlados que comparam diferentes esquemas de dosagens, alguns clínicos acreditam que interromper a medicação durante finais de semana e feriados pode comprometer sua eficácia. O metilfenidato está disponível em preparações de liberação imediata e em liberação prolongada. A forma de liberação imediata alcança o pico de concentração plasmática em 1 a 3 horas após a ingestão. Os efeitos duram aproximadamente 4 horas; assim, duas ou três doses diárias são necessárias a cobertura dos sintomas. O metilfenidato SODAS® é uma formulação de longa ação em que metade da dosagem é imediatamente liberada e a outra metade é liberada após 4 horas. O Metilfenidato OROS® libera cerca de um quarto da dosagem imediatamente, sendo o restante liberado após as próximas 9 horas. As duas últimas preparações requerem apenas um esquema de 1 dose diária.
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