Prévia do material em texto
Renata Valadão Bittar – Medicina Unit HABILIDADES CLÍNICAS – UC 11 Anamnese Obstétrica Exame Físico Obstétrico Partograma Toque Vaginal no Trabalho de Parto 1. ANAMNESE OBSTÉTRICA IDENTIFICAÇÃO Nome, telefone, idade, cor, naturalidade, procedência (CA de mama + frequente nos EUA), profissão (grávidas que trabalham com materiais tóxicos), estado civil (nome do parceiro + contato), religião (práticas, transfusão de sangue), escolaridade, número do SISPRENATAL QUEIXA PRINCIPAL Com queixas ou sem queixas (exames de rotina) HDA Evolução das manifestações clínicas (períodos de melhora espontânea, medicação utilizada, exames laboratoriais e tratamentos) INTERROGATÓRIO SINTOMATOLÓGICO Cabeça e face, respiratório (tuberculose pode causar incontinência urinária de esforço pela tosse crônica), cardiovascular (gravidez sobrecarrega esse sistema), digestivo (algumas alterações nesse sistema podem ser confundidas com as ginecológicas como diverticulite ou apendicite – mudança de hábitos intestinais), urinário (cistites, litíases renais, incontinência urinária, infecção urinária) ANTECEDENTES FAMILIARES HAS, diabetes, osteoporose, alergias, hipo/hipertireoidismo, trombose venosa profunda, história de CA de mama (idade do parente - <50 anos: predisposição genética, >50 anos: idade), ovário, colo do útero ou endométrio, leiomiossarcoma (ou outras neoplasias malignas), gemelaridade, doenças congênitas, hanseníase, tuberculose ANTECEDENTES PESSOAIS PATOLÓGICOS Doenças contagiosas na infância (toxoplasmose, caxumba, rubéola, sarampo e varicela), infecção urinária de repetição, DSTs (clamídia, gonorreia, tricomoníase, gardnerella, HPV, HIV...), cirurgias, internamentos, transfusão de sangue, HAS, Diabetes, cardiopatias, doenças renais crônicas, anemias e deficiências de nutrientes, epilepsia, doenças da tireoide, virose, alergias HÁBITOS DE VIDA Tabagismo, etilismo, drogas ilícitas CONDIÇÕES SOCIOECONÔMICAS Tipo de moradia, saneamento básico, higiene, nível socioeconômico, exercícios, alimentação, renda familiar Renata Valadão Bittar – Medicina Unit DESENVOLVIMENTO PUBERAL Idade e características da menarca, sexarca, pubarca, telarca e menopausa (ordem cronológica do desenvolvimento dos caracteres secundários) HISTÓRIA MENSTRUAL DUM (se não souber/insegurança, pedir US para calcular idade gestacional), tipo menstrual (duração dos ciclos – 3 a 8 dias, intervalo regular de 26 a 32 dias ou irregular, fluxo menstrual (normal = 80mL e intenso > 100mL), sintomas prémenstruais (cólicas, sensibilidade, turgência das mamas, irritação, agressividade, distensão abdominal), ingestão de estrogênios, dor pélvica, sangramento anormal ANTECEDENTES SEXUAIS Atividade sexual (idade de início, ritmo, libido normal, dispareunia, práticas sexuais, orgasmo, número de parceiros, uso de preservativos), método anticoncepcional prévio (qual e duração), corrimento vaginal (coloração, odor, duração, quantidade, tratamento utilizado e resultado), alterações vulvares (prurido, tumores, fístulas ou prolapsos), cauterizações, última citologia e resultado, infertilidade e esterilidade (tratamento?), DSTs, DIP, cirurgia ginecológica, alguma alteração na mama e tratamento, última colpocitologia oncótica (data e resultado) ANTECEDENTES OBSTÉTRICOS Número e tipo de gestações, duração de cada gravidez, número de partos e o tipo, abortos (espontâneos ou provocados e se foi realizada a curetagem), vitalidade do recém-nascido, peso e APGAR dos filhos ao nascer, número de filhos vivos, idade na primeira gestação, intervalo entre as gestações, isoimunização Rh, intercorrências ou complicações nas gestações anteriores, evolução do puerpério, amamentação (como foi e por quanto tempo) Ex: G2P1A1 (2 gestações, 1 paridade e 1 aborto) SINAIS E SINTOMAS DO CLIMATÉRIO Atrofia vulvogenital (dispareunia, secura vaginal, diminuição da libido), tratamento de reposição hormonal (qual e a duração), fogachos, depressão, diminuição da cognição e memória GESTAÇÃO EM CURSO DUM Internação durante essa gestação Peso prévio e altura Hábitos: fumo (número de cigarros/dia), álcool e drogas ilícitas Sinais e sintomas na gestação em curso Ocupação habitual (esforço físico intenso, exposição a agentes químicos e físicos, estresse) Hábitos alimentares Aceitação ou não da gravidez pela mulher, parceiro e família Medicamentos usados na gestação (IDENTIFICAR GESTANTE COM FRACA REDE DE SUPORTE SOCIAL) Renata Valadão Bittar – Medicina Unit 2. EXAME FÍSICO OBSTÉTRICO GERAL Peso e altura (IMC) Pressão arterial Inspeção da pele e das mucosas (normocoradas) Palpação da tireoide e dos linfonodos cervicais e axilares Ausculta cardíaca e pulmonar Exame do abdome Exame dos membros inferiores Pesquisa de edema (face, tronco, membros) ESPECÍFICO (GINECO-OBSTÉTRICO) Exame das mamas + orientações para o aleitamento materno Palpação obstétrica e, principalmente, a partir da 30ª semana, Manobras de Leopold para identificação da situação e apresentação fetal Medida da altura uterina Ausculta dos batimentos cardíacos fetais (a partir da 12ª com o sonar e da 20ª com o estetoscópio de Pinard) Inspeção dos genitais externos Exame especular e toque vaginal de acordo com a necessidade, orientados pela história e queixas do paciente, e quando for realizada coleta de material para exame colpocitológico EXAMES COMPLEMENTARES 1ª CONSULTA – ROTINA MÍNIMA Dosagem de hemoglobina e hematócrito Grupo sanguíneo e fator Rh Sorologia para Sífilis, anti-HIV, Hepatite B e Toxoplasmose Glicemia em jejum Sumário de urina OUTROS EXAMES QUE PODEM SER ACRESCIDOS NA ROTINA MÍNIMA Parasitológico de fezes Colpocitologia oncótica Bacterioscopia da secreção vaginal Sorologia para rubéola (sintomas) Urocultura Eletroforese da hemoglobina US obstétrica (a sua não realização não constitui omissão e nem diminui a qualidade do pré-natal) CONDUTAS Cálculo da idade gestacional e data provável do parto (orientando que o parto pode ocorrer 15 dias antes ou 15 dias depois dessa data) Orientação alimentar e acompanhamento do ganho de peso gestacional Fornecimento de informações necessárias e respostas às indagações da mulher/família Orientação sobre sinais de riscos e assistência em cada caso Referência para o atendimento odontológico Encaminhamento para imunização antitetânica (vacina dupla viral), quando a gestante não estiver imunizada Referência para serviços especializados na mesma unidade ou unidade de maior complexidade, quando indicado Durante o pré-natal, deverá ser realizado o número mínimo de 6 CONSULTAS, preferencialmente, 1 no 1º trimestre, 2 no 2º trimestre e 3 no 3º trimestre. O acompanhamento da mulher no ciclo grávido- puerperal deve ser iniciado o mais precocemente possível e só se encerra após o 42º dia de puerpério, período em que deverá ter sido realizada a consulta de puerpério. Renata Valadão Bittar – Medicina Unit MODIFICAÇÕES GRAVÍDICAS a) Inspeção Linha nigricans Cloasma/Melasma gravídico Estrias no abdome Edema/varizes dos membros inferiores Aumento do volume abdominal Cicatriz umbilical torna-se plana Rede venosa de Haller Tubérculos de Montgomery Formação de lanugem junto aos limites do couro cabeludo (sinal de Halban) Aumento da circunferência cervical (hipertrofia da tireoide) Volume aumentado das mamas Mamas com hipersensibilidade A partir da 16ª semana: colostro Sinal de Hunter: aréola secundária mais escura Hiperpigmentação da vagina/colo do útero devido a influência hormonal (de róseos para arroxeados) – Sinal de Jacquemier- Chadwick econsistência amolecida Hiperpigmentação da vulva (sinal de Kluge) devido à hipervascularização (róseo para violáceo) b) Palpação Manobras de Leopold: identificar a estática fetal são realizadas a partir da 30ª semana até durante o trabalho de parto. Renata Valadão Bittar – Medicina Unit 1ª: delimitação do fundo do útero com ambas as mãos para identificar o polo fetal que se encontra no fundo uterino. 2ª: deslizar as mãos para baixo para tentar palpar, de um lado, o dorso fetal e do outro, as partes fetais. 3ª: identifica o grau de mobilidade da apresentação fetal. Tenta-se apreender esse polo fetal entre o polegar e o indicador da mão direita. 4ª: complemento para a 1ª, identifica o polo fetal que está na abertura superior da pelve, ou seja, a apresentação fetal. O examinador deve estar posterior à paciente, como exceção. c) Ausculta A partir da 6ª semana: USEV A partir da 7ª semana: USTA A partir da 12ª semana: sonar-doppler A partir da 20ª semana: estetoscópio de Pinard 120 a 160 BPM d) Altura uterina Utilizando uma fita métrica, mede-se a distância em centímetros da borda superior da sínfise púbica ao fundo do útero, estando entre os dedos médio e indicador da mão esquerda. Na 20ª semana o fundo do útero se encontra na cicatriz umbilical. e) Toque obstétrico 3. TOQUE VAGINAL NO TRABALHO DE PARTO O parto é o período que vai do início das contrações uterinas regulares até a expulsão da placenta. O processo pelo qual isto normalmente acontece é chamado de TRABALHO DE PARTO. PERÍODO PREMONITÓRIO Caracteriza-se por adaptações fisiológicas, com duração extremamente variável, que antecedem o trabalho de parto. Observa-se aumento gradual da atividade uterina – contrações com rítmo irregular, incoordenadas, por vezes dolorosas. Amadurecimento do colo uterino – amolecimento, alteração da sua orientação no eixo vaginal e princípio do seu encurtamento (apagamento). Acomodação do pólo fetal ao estreito superior da pelve. Aumento das secreções cervicais – perda do tampão mucoso – eliminação de muco, por vezes acompanhado de sangue. Descida do fundo uterino, caracterizado por seu abaixamento em cerca de 2 a 4 cm. FASE LATENTE Corresponde ao final do período premonitório e início do trabalho de parto, quando as contrações, embora rítmicas, são incapazes de promover a dilatação do colo uterino. TRABALHO DE PARTO Tipicamente o diagnóstico é feito por contrações uterinas que resultam em dilatação e/ou apagamento cervical: Contrações uterinas regulares (rítmicas), em geral dolorosas, que se estendem por todo o útero. Frequência mínima de 02 contrações a cada 10 minutos, duração maior que 15 a 20 segundos, mantidas após repouso no leito, por período mínimo de 30 minutos. Colo uterino dilatado para, no mínimo 2 cm, centralizado e com apagamento parcial ou total, com modificação progressiva. Trabalho de parto ativo: 3 a 5 cm de dilatação cervical com contrações uterinas. As informações devem ser anotadas em um gráfico horário – Partograma. Toque realizado é o BIDIGITAL. É bastante útil para diagnosticar a gestação no 1º trimestre e na vigência de trabalho de parto. Por seu intermédio, identifica-se o apagamento e a dilatação cervical, a presença ou não da bolsa amniótica, a sua integridade e, eventualmente, a sua ruptura; a altura da apresentação; o exame da pelve óssea com a determinação Renata Valadão Bittar – Medicina Unit dos diâmetros conjugados; a confirmação da apresentação; e o diagnóstico da variedade de posição. a) Posição fetal O diagnóstico da posição fetal antes do trabalho de parto é, geralmente, inconclusivo pois deve ser palpado através da cérvice fechada. Com o início do trabalho de parto e depois da dilatação cervical, as apresentações de vértice e suas posições são reconhecidas por palpação das diversas fontanelas e suturas fetais. As apresentações da face e pelve podem ser identificadas pela palpação dos aspectos faciais e do sacro fetal, respectivamente. b) A presença ou não da bolsa amniótica, a sua integridade e, eventualmente, a sua ruptura Com maior frequência, a menos que tenha havido sangramento além do muco cervical sanguinolento, deve-se realizar um exame vaginal. Os dedos indicador e médio enluvados devem ser introduzidos na vagina, evitando a região anal. O número de exames vaginais correlaciona-se com a morbidade decorrente da infecção, principalmente nos casos de ruptura precoce das membranas. c) Apagamento e dilatação cervical Comumente, o grau de apagamento cervical é expresso em relação ao comprimento do canal cervical em comparação com o de um colo normal. Quando o comprimento do copo se encontra reduzido pela metade, está apagado em 50%. Renata Valadão Bittar – Medicina Unit Quando o colo se torna tão fino quanto o segmento uterino inferior adjacente, encontra-se totalmente apagado ou 100% apagado. A dilatação cervical é determinada estimando o diâmetro médio da abertura cervical ao deslizar o dedo examinador desde a margem da abertura cervical em um lado até a margem do lado oposto. O diâmetro transverso é estimado em centímetros. Diz-se que o colo se encontra totalmente dilatado quando o diâmetro mede 10 cm, porque a parte apresentada de um neonato a termo comumente pode atravessar um colo amplamente dilatado. A posição do colo é determinada pela relação entre o óstio cervical e a cabeça fetal, sendo categorizada como posterior, média ou anterior. Juntamente com a posição, a consistência do colo é determinada como sendo macia, firme ou intermediária. O plano ou altura da parte fetal apresentada no canal de parto é descrito em relação às espinhas isquiáticas, as quais estão a meio caminho entre a entrada da pelve e a saíde pélvica. Quando a porção mais inferior da parte fetal apresentada se encontra no nível das espinhas, é considerada no PLANO ZERO. A classificação do plano divide a pelve acima e abaixo das espinhas isquiáticas em quintos. Cada quinto representa 1 cm acima ou abaixo das espinhas isquiáticas. Desta maneira, à medida que a parte fetal apresentada desce desde a entrada no sentido das espinhas isquiáticas, a designação é plano -5, -4, -3, -2, -1 e, em seguida, 0. Abaixo das espinhas, à medida que a parte fetal apresentada desce, passa pelos planos +1, +2, +3, +4, +5 até o parto. O plano +5 corresponde à cabeça fetal visualizada no introito vaginal. Renata Valadão Bittar – Medicina Unit DESPROPORÇÃO CEFALOPÉLVICA Pode ser previsto através da PELVIMETRIA. PELVIMETRIA É o estudo da capacidade da bacia. O prognóstico do parto pode ser razoavelmente previsto, no seu aspecto mecânico, diante da correta realização dos métodos habituais de exame da bacia. Avalia o diâmetro do estreito superior da pelve. Aspectos a serem avaliados: Capacidade Forma Inclinação A pelvimetria pode ser interna ou externa. PELVIMETRIA INTERNA Pode ser instrumental, digital ou manual. Mede os diâmetros internos da escavação. Usa-se a regra de Smellie, que é uma medição indireta do diâmetro da conjugada verdadeira ou diagonal (+- 11 cm) feita manualmente. Paciente em posição ginecológica, faz-se o toque vaginal com a mão direita no intuito de atingir o promontório. Uma vez tocado, com o dedo indicador da mão esquerda, marca-se o local onde a sínfise púbica repousa sobre a mão que realiza o toque. Posto que o diâmetro biparietal (D.B.P.) fetal ao termo é em torno de 9,5 cm, avaliamos que, se esta conjugada obstétrica supera os 9,5 cm, (subtrair 1,5 cm do valorencontrado na medida da Conjugada diagonal) o parto vaginal a termo se faz possível. Em pelves normais, não se toca ou se toca com grande dificuldade o promontório. Se o promontório for tocado, deve-se suspeitar de estreitamento, que deve ser confirmado com a medida descrita. Ao final, retiram-se as mãos e pede-se que o auxiliar que meça o ídice entre a ponta do dedo da mão direita e o dedo indicador = conugada diagonal. No final desse medida, não esquecer de substrair 1,5cm). Conjugada Diagonal – 1,5 = Conjugada Obstétrica (deve ser > 9,5) PELVIMETRIA EXTERNA Estimar os diâmetros do estreito inferior. Paciente em posição ginecológica com as coxas hiperfletidas sobre a bacia, medir com uma régua a distância entre as duas tuberosidades isquiáticas. Se a medida for maior que 11, a criança poderá passar sem maiores dificuldades pelo canal de parto. Renata Valadão Bittar – Medicina Unit 4. PARTOGRAMA O diagnóstico de trabalho de parto é um processo dinâmico, devendo haver contrações uterinas rítmicas e regulares, com uma frequência de pelo menos 3 em 10 minutos, colo parcialmente apagado e dilatação cervical de pelo menos 3,0 cm. De preferência, a gestante só deve ser admitida (início do preenchimento do partograma) quando estiver na fase ativa do trabalho de parto, ou seja, com pelo menos 3 cm de dilatação. O Partograma é a representação gráfica do trabalho de parto que permite acompanhar sua evolução, documentar, diagnosticar alterações e indicar a conduta apropriada para correção dos desvios e evitar intervenções desnecessárias. O partograma serve como um ”sistema precoce de aviso” e ajuda numa decisão antecipada em transferir, conduzir e finalizar o trabalho de parto. Ele também aumenta a qualidade e a regularidade de todas as observações da mãe e do feto, ajudando no reconhecimento precoce de problema com eles. De acordo com o CLAP- Centro Latino Americano de Perinatologia, a curva de dilatação cervical se processa de forma ascendente, de início com menor velocidade. No final essa velocidade aumenta, ou seja, o parto se desenvolve mais rapidamente a partir dos 4-5 cm de dilatação. A diferenciação na velocidade da dilatação cervical caracteriza a Fase de latência (inicial) e a Fase Ativa (final), de interesse na evolução do trabalho de parto e na construção do partograma. É importante lembrar que a fase de interesse para o acompanhamento da evolução pelo partograma é a fase ativa, com velocidade de dilatação cervical mínima de 1 cm/hora (geralmente 1,2 cm/hora nas primíparas e 1,5 cm nas multíparas). A abertura do partograma na fase latente (menor que 3-4 cm) ou inicial implicaria em intervenções não só desnecessárias, mas também iatrogênicas. 1. Inicia-se o registro quando a paciente estiver claramente em fase ativa do trabalho de parto. 2. Realizam-se toques vaginais subsequentes, a cada 2 horas, respeitando em cada anotação o tempo expresso no gráfico. Em cada toque avaliar a dilatação cervical, altura da apresentação, variedade de posição e o estado da bolsa das águas e do líquido amniótico, quando a bolsa estiver rota. Por convenção, registra-se a dilatação cervical com um triângulo (preenchido se a bolsa estiver rota e não preenchido se a bolsa estiver íntegra) e a apresentação e variedade de posição com uma circunferência. 3. Deve-se registrar também o padrão das contrações uterinas, os batimentos cardíacos fetais, a infusão de líquidos e drogas e o uso de analgesia. 4. A dilatação cervical inicial é marcada no ponto correspondente do gráfico, traçando-se na hora subsequente a linha de alerta e em paralelo, quatro horas depois, a linha de ação. Se as membranas se rompem espontaneamente ou a amniotomia é efetuada artificialmente, deve-se assinalar o aspecto do líquido amniótico na história e no partograma (líquido claro ou meconizado) A presença de mecônio não é sinal de sofrimento fetal, porém se associa a maior risco de morbimortalidade neonatal. Na presença de líquido meconial moderado a espesso, a paciente deverá ser referenciada. Atualmente, o partograma realizado em ambiente hospitalar, não exige intervenção imediata quando a dilatação atinge ou cruza a linha de alerta. O alerta implica simplesmente a necessidade de melhor observação clínica e intervenção quando necessário. Com base nos conhecimentos originais da dilatação cervical, construíram uma linha de alerta, que servia para identificar as pacientes com parto de risco. Quando a dilatação cervical cruzava a linha de alerta, a paciente deveria ser encaminhada ao hospital. Num intervalo de 4 horas, padronizaram a linha de ação, paralela à de alerta, porque este era o tempo de transporte da parturiente para centros médicos, onde se efetuavam partos operatórios. Atualmente, o registro gráfico do parto é realizado em ambiente hospitalar e, portanto, não há a necessidade de intervenção quando a dilatação atinge ou cruza a linha de alerta. O alerta implica, simplesmente, a necessidade de uma melhor observação clínica. Somente quando a curva da dilatação cervical atinge a linha de ação é que a intervenção médica torna-se necessária, na tentativa de melhorar a evolução do trabalho de parto e corrigir possíveis distócias que possam estar se iniciando. Isto não significa necessariamente conduta cirúrgica. Renata Valadão Bittar – Medicina Unit DIVISÕES FUNCIONAIS DO PARTO 1. DILATAÇÃO Dilatação preparatória Dilatação propriamente dita 2. EXPULSÃO O período expulsivo passou a ser considerado por esse autor como período pélvico, ou seja, período em que se processam os fenômenos mecânicos do parto Na fase latente do trabalho de parto a conduta é expectante, desde que a vitalidade fetal esteja preservada, e o ideal é que as parturientes sejam acompanhadas de ambulatório quando não se tratar de gestação de risco. Observa-se que, em muitas mulheres, a duração é superior a 20 horas e os ocitóocicos devem ser evitados, pelo risco de aumento na incidência de cesárea, decorrente do colo uterino desfavorável. Os sinais de alerta, como perda de líquido, sangramento uterino, contrações eficientes a cada 5 minutos e diminuição dos movimentos fetais, são orientações para que a parturiente retorne ao hospital no momento adequado. Para a descida da apresentação, considera-se o plano zero de De Lee ou o correspondente plano III de Hodge - espinhas ciáticas no estreito médio da bacia - acima deste ponto estão os valores negativos e abaixo os positivos de De Lee ou, respectivamente, os planos I, II e IV de Hodge. Na evolução normal do trabalho de parto, a curva de dilatação cervical se processa à esquerda da linha de ação. Quando essa curva ultrapassa a linha de ação, trata-se de um parto disfuncional. A construção correta da linha de alerta e de ação é fundamental para que se evitem erros na interpretação do parto. A identificação das DISTÓCIAS é feita pela observação das curvas de dilatação cervical e de descida da apresentação expressas no partograma. Pélvico = período de expulsão Na FASE ATIVA PROLONGADA OU DISTÓCIA FUNCIONAL, a dilatação do colo uterino ocorre lentamente, numa velocidade menor que 1 cm/hora (Figura 6). A curva da dilatação ultrapassa a linha de alerta e, ás vezes, a linha de ação. Essa distócia geralmente decorre de contrações uterinas não eficientes (falta de motor). A correção é feita inicialmente pelo emprego de técnicas humanizadas de estímulo ao parto normal, por exemplo estimulando-se a deambulação e, se necessário, posteriormente pela administração de ocitocina ou rotura artificial da bolsa das águas. A PARADA SECUNDÁRIA DA DILATAÇÃO é diagnosticada por dois toques sucessivos, com intervalo de 2 horas ou mais, com RenataValadão Bittar – Medicina Unit a mulher em trabalho de parto ativo. Nesse tipo de distócia, a dilatação cervical permanece a mesma durante duas horas ou mais, ultrapassa a linha de alerta e, por vezes, a linha de ação (Figura 7). Há associação freqüente com sofrimento fetal agravando o prognóstico perinatal. A causa principal e a desproporção céfalo-pélvica relativa ou absoluta. Desproporção céfalopélvica absoluta traduz tamanho do pólo cefálico maior que a bacia (feto macrossômico) ou feto de tamanho normal e bacia obstétrica inadequada. Na vigência de desproporção céfalo-pélvica absoluta, a resolução da gestação é feita por cesárea. Considera-se desproporção relativa quando existe defeito de posição da apresentação: deflexão ou variedades de posição transversas ou posteriores. Nestas condições, a deambulação, a rotura artificial da bolsa das águas ou a analgesia peridural podem favorecer a evolução normal do parto. Nos casos de membranas rotas, a deambulação só deve ser recomendada com o pólo cefálico completamente apoiado na bacia materna, para evitar a ocorrência de prolapso de cordão umbilical. A resolução por cesárea deverá ser indicada quando esses procedimentos não forem eficientes para corrigir a evolução anormal da cérvico- dilatação observada no partograma. O PARTO PRECIPITADO OU TAQUITÓCICO é diagnosticado quando a dilatação cervical e a descida e expulsão do feto ocorrem num período de 4 horas ou menos (Figura 8). O padrão da contratilidade uterina é de taquissistolia e hipersistolia e, caso a placenta esteja no limite de sua função, pode ocorrer o sofrimento fetal. Lacerações do trajeto também são mais frequentes neste tipo de parto, pois não há tempo para acomodação dos tecidos pélvicos, ocorrendo descida e expulsão do feto de modo abrupto. O parto taquitócico pode ser espontâneo em multíparas, sendo mais raro em primíparas. Também pode acontecer em decorrência de iatrogenia pela administração excessiva de ocitocina. Neste caso, deve-se suspender a infusão de ocitocina até o retorno a um padrão contratural normal. Orienta-se atenção à vitalidade fetal no período de dilatação cervical e revisão detalhada do canal de parto após a dequitação. O PERÍODO PÉLVICO PROLONGADO manifesta-se no partograma com a descida progressiva da apresentação, mas excessivamente lenta (Figura 9). Nota-se dilatação completa do colo uterino e demora na descida e expulsão do feto. Essa distócia geralmente está relacionada à contratilidade uterina deficiente e sua correção é obtida pela administração de ocitocina, rotura artificial da bolsa das águas e, ainda, pela utilização do fórcipe, desde que preenchidos os pré-requisitos para sua aplicação. Também recomenda-se a posição verticalizada para favorecer a descida da apresentação. A PARADA SECUNDÁRIA DA DESCIDA é diagnosticada por dois toques sucessivos, com intervalo de 1 hora ou mais, desde que a dilatação do colo uterino esteja completa. Considera-se que há parada secundária da progressão da apresentação quando ocorre cessação da descida por pelo menos 1 hora após o seu início (Figura 10). Deve ter pronta correção. Há necessidade de se reavaliar as relações feto-pélvicas, pois a causa mais frequente desse tipo de distócia é a desproporção céfalopélvica relativa ou absoluta. A presença de desproporção absoluta leva à indicação de cesárea. Na vigência de desproporção relativa, com pólo cefálico profundamente insinuado e cérvico-dilatação completa, é válida a tentativa de fórcipe de tração ou rotação, dependendo da variedade de posição.