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ASSISTÊNCIA CLÍNICA AO PARTO FASES CLÍNICAS DO PARTO PERÍODO PREMONITÓRIO. (NÃO SÃO CONSIDERADOS COMO FASES CLÍNICAS DO PARTO POR ALGUNS AUTORES) O período de pré-parto inicia-se entre 30 e 36 semanas de gravidez, estendendo-se até o desencadeamento do trabalho de parto. À medida que o momento do parto se aproxima, há uma descida do fundo uterino (2 a 4 cm), com a acomodação da apresentação ao canal do parto. As contrações uterinas, ainda irregulares, levam à formação e ao adelgaçamento do segmento uterino inferior e à orientação do colo uterino, que passa a se alinhar ao eixo vaginal. As gestantes começam a perceber as contrações uterinas, por vezes com cólicas, porém incoordenadas e irregulares, podendo ser confundidas com contrações reais de trabalho de parto. Aproximando-se o parto, geralmente há aumento das secreções cervicais, com muco e, por vezes, raias de sangue. A saída dessas secreções e a saída do tampão mucoso endocervical denomina-se popularmente “sinal” do parto, consequência do apagamento do colo uterino. Pode preceder o parto em várias horas ou dias, não constituindo um diagnóstico preciso do início do trabalho de parto. Neste período, também há amolecimento, apagamento e centralização progressivos do colo uterino. Este período culmina na fase de pródromos de trabalho de parto (fase latente do trabalho de parto). A fase latente do parto é, portanto, a fase em que as contrações uterinas tornam-se progressivamente mais intensas, porém sem ainda haver dilatação progressiva e rápida do colo (velocidade de até 1,2 cm/hora), tendo duração de cerca de 14 horas em multíparas e 20 em nulíparas. A transição para a fase ativa do trabalho de parto (período de dilatação) é progressiva e, dificilmente, podemos identificar com precisão o momento exato do início do trabalho de parto. PERÍODO DE DILATAÇÃO OU FASE ATIVA OU PRIMEIRO PERÍODO: Começa quando são atingidas contrações uterinas de frequência, intensidade e duração suficientes para produzir o apagamento e a dilatação do colo uterino. Este primeiro estágio termina quando o colo está totalmente dilatado, isto é, atinge 10 cm de dilatação, o suficiente para permitir a passagem da cabeça do feto. O colo uterino nas multíparas caracteristicamente dilata-se e apaga-se durante o trabalho de parto, enquanto nas primíparas o apagamento ocorre antes do início do trabalho. Neste processo, há formação de uma espécie de projeção das membranas ovulares através do colo, que é chamada de “formação da bolsa das águas”. O Ministério da Saúde define a fase ativa do trabalho de parto quando há presença de contrações uterinas regulares e de dilatação cervical com pelo menos 4 cm. É permitida a ingestão de pequenas quantidades de líquidos claros (água, chás, etc.) ou de uma dieta leve caso a paciente não esteja sob efeito de opioides ou apresente fatores de risco iminente para anestesia geral. Em relação à deambulação e à posição da gestante em trabalho de parto, pode-se permitir que a gestante ande livremente e adote a posição que julgar mais confortável. Ou seja, não é necessário ficar em decúbito todo o tempo. Deve-se, no entanto, evitar o decúbito dorsal pelo risco da síndrome de hipotensão supina (se estiver deitada, a gestante deverá estar em decúbito lateral). O toque vaginal avalia a progressão do apagamento e da dilatação do colo uterino, a sua orientação (se posterior, intermediário ou centralizado) e consistência. Avalia também a progressão da descida do feto (altura da apresentação), a variedade de posição, sua proporcionalidade, o grau de flexão e a presença de assinclitismo. É possível se avaliar também o estado da bolsa das águas (se íntegra ou rota). Deve-se evitar toques desnecessários. Não há frequência pré-estabelecida para os toques vaginais, devendo a sua necessidade ser avaliada caso a caso, embora alguns sugiram que se faça um toque vaginal a cada uma a duas horas durante o período de dilatação. As Diretrizes Nacionais de Assistência ao Parto Normal do Ministério da Saúde (2017) recomendam o toque vaginal a cada quatro horas, se houver alguma preocupação com a progressão do parto ou em resposta aos desejos da mulher. Lembre-se: o excesso de toques vaginais predispõe a infecção puerperal. Portanto, os toques devem ser realizados com parcimônia, especialmente em casos de amniorrexe. Além disso, os cuidados a serem seguidos antes do toque incluem assepsia adequada, uso de luvas estéreis (o que sabemos nem sempre ser possível na prática) e lavagem das mãos, além de delicadeza ao procedê-lo. O bem-estar fetal geralmente é investigado pela ausculta clínica dos batimentos cardíacos fetais , antes, durante e após uma contração, por pelo menos um minuto e a cada 30 minutos (nas gestações de alto risco, de 15 em 15 minutos). A monitorização rotineira e intermitente do parto é uma conduta adequada para as pacientes de baixo risco, devendo a cardiotocografia (monitorização contínua eletrônica) ser reservada para as gestantes de alto risco. Também se deve cuidar do bem-estar materno e avaliar frequentemente seus sinais vitais. Procurar trazer conforto tanto físico como psicológico à parturiente. Não é adequado instruir a paciente a “fazer força” (puxos) neste período: além de desnecessário, pode levá-la à exaustão. A amniotomia pode reduzir o tempo total do trabalho de parto em até cerca de uma a duas horas, mas seu uso rotineiro é questionável por aumentar o risco de compressão do cordão umbilical, de infecção e da taxa de cesariana. Atualmente, só está indicada para correção de distocias funcionais, avaliação da variedade de posição (caso não seja possível com a bolsa íntegra), avaliação do líquido amniótico quando indicada e nos casos de parto operatório. A infusão de ocitocina também só deve ser considerada caso haja alguma alteração na evolução fisiológica do parto. O alívio da dor durante o trabalho de parto pode ser feito através de métodos não farmacológicos (imersão em água, hipnose, acupuntura, entre outros) ou métodos farmacológicos. Entre estes últimos, a analgesia regional (peridural, ráqui ou combinada) deve ser oferecida à parturiente sempre que possível. O uso de opioides injetáveis, como a meperidina, está associado a depressão respiratória e sonolência no recém- nascido e prostração, náuseas e vômitos para a mulher, devendo ser evitados. PERÍODO EXPULSIVO OU SEGUNDO PERÍODO: O período expulsivo inicia-se no final do período de dilatação (dilatação total do colo uterino: 10 cm) e termina com a expulsão total do bebê. De acordo com o Ministério da Saúde, os limites de tempo para o período expulsivo são 0,5 a 2,5 horas em primíparas (uma a três horas com analgesia peridural) e até uma hora em multíparas (duas horas com peridural). As contrações uterinas atingem seu máximo com uma frequência de 5 a 10 minutos, durando 60 a 70 segundos. A gestante apresenta esforços expulsivos (puxos) e desejo de defecar. Geralmente, está agitada, com dores intensas, se não estiver sendo acompanhada com analgesia de parto (peridural ou medicamentos opiáceos). A altura da apresentação e a variedade de posição no período expulsivo são variáveis, mas frequentemente a apresentação já se encontra insinuada no início do período expulsivo. A ausculta dos batimentos cardíacos fetais deve ser feita a cada cinco minutos. Classicamente, as posições mais utilizadas para o parto eram a de litotomia, com a gestante deitada em decúbito dorsal e abdução dos joelhos, e a de Laborie-Duncan, a qual se diferencia pela flexão exagerada das coxas sobre o abdome. No entanto, atualmente, há uma maior preferência pelo parto em posições verticalizadas (dorso elevado em pelo menos 45°), como sentada, semissentada ou de cócoras. Estudos sugerem que as posições verticalizadas e lateral se associam com melhora da contração uterina, redução da compressão da aorta e da cava e facilitam a descidado feto, porém possuem maior risco de sangramento pós-parto. Durante a expulsão fetal, devem ser tomadas medidas de proteção do períneo e prevenção de traumatismos fetais. A mais usada entre elas era a episiotomia. No entanto, atualmente, seu uso de forma indiscriminada não está indicado, devendo ser considerada em casos específicos na chamada episiotomia seletiva. A episiotomia deve ser considerada somente em casos de parto operatório (fórcipe ou vácuo-extração), períneos rígidos, exaustão materna, feto grande, período expulsivo prolongado, variedades occipitoposteriores, distocia de espáduas, insuficiência cardíaca materna, sofrimento fetal agudo e apresentação pélvica. Outras indicações ocasionalmente citadas na literatura são a primiparidade, episiotomia prévia e prematuridade. Caso decida-se pela episiotomia e a paciente não esteja com bloqueio peridural, efetua-se a anestesia do períneo. O bloqueio do nervo pudendo interno é feito no nível das espinhas ciáticas bilateralmente. A episiotomia pode ser mediana ou médio-lateral. A mediana é mais fisiológica e parece apresentar melhores resultados em relação à dor pós-operatória e dispareunia, porém existe risco maior de extensão para o reto. A mais utilizada é a médio-lateral direita. A mediana tem reparo cirúrgico mais fácil, menor grau de lesão muscular, maior risco de lesão anal, com melhor resultado estético, menor sangramento e menor dor no pós-parto quando comparada à episiotomia médio-lateral. Outra maneira bastante adequada de proteção do períneo é a manobra de Ritgen modificada: o objetivo desta manobra é evitar a deflexão rápida da cabeça, comprimindo o períneo posterior e controlando a deflexão da cabeça fetal com a mão oposta . O desprendimento do feto deve ser lento e controlado, o que diminui a chance de traumatismos tanto maternos quanto fetais. Alguns autores recomendam a técnica hands off ou “mãos-prontas”, quando o obstetra não toca o períneo ou a cabeça fetal rotineiramente, apenas se for identificado algum problema durante a expulsão. Devem-se evitar manobras de força durante o período expulsivo, inclusive a manobra de Kristeller. Esta manobra (compressão do fundo uterino) é desconfortável para a mãe e habitualmente danosa para o feto . A manobra de Kristeller pode ser responsável por traumatismos maternos e fetais, inclusive morte materna. Deve ser sempre evitada. As circulares de cordão devem ser reduzidas ou, caso não seja possível, seccionadas antes da saída do feto, após pinçamento do cordão. Durante o desprendimento dos ombros, deve ser usada suavidade ao abaixar e elevar a cabeça. Em casos de dificuldades (distocia de espáduas ou de ombros), a tração do pescoço está associada a paralisias do plexo braquial (Erb-Duchenne). Diversas manobras (não isentas de risco de traumatismo fetal) podem ser utilizadas visando à liberação dos ombros impactados. Após a saída do feto, o ideal é mantê-lo na altura do introito vaginal com a face para baixo ou para o lado (evitar aspiração de líquido amniótico) ou apoiá-lo sobre o abdome materno, para, em seguida, realizar o clampeamento do cordão umbilical aproximadamente a 10 cm de sua inserção no recém-nascido. O Ministério da Saúde (2017) recomenda que o cordão umbilical não deve ser clampeado antes de um minuto após o nascimento, exceto se houver necessidade de manobras de ressuscitação neonatal. Outras situações que justificam o clampeamento precoce são as gestantes vivendo com HIV e na doença hemolítica perinatal. Os benefícios atribuídos ao clampeamento tardio do cordão incluem: níveis de hematócrito mais altos; maiores níveis de ferro no lactante entre dois e seis meses; menor risco de hipotensão, de hemorragia intraventricular e de sepse tardia; maiores níveis de oxigenação cerebral; menos dias ou diminuição da necessidade de ventilação mecânica; e diminuição da necessidade de uso de surfactante e de transfusões devido à hipotensão ou à anemia. Por outro lado, estudos recentes demonstraram maior risco de policitemia e icterícia neonatal, principalmente em fetos a termo ou com crescimento intrauterino restrito. SECUNDAMENTO OU TERCEIRO PERÍODO: Corresponde ao descolamento e à expulsão da placenta e das membranas ovulares. Ocorre entre 10 e 20 minutos após o período expulsivo (sendo considerado prolongado quando ultrapassa 30 minutos), mas geralmente após 2 a 3 contrações uterinas a placenta já está descolada. Existem diversos sinais e manobras que podem ser utilizadas para verificar o desprendimento da placenta. Algumas manobras que podemos utilizar são: ● Pinçamento do cordão umbilical próximo à vulva, e com o descolamento da placenta o local de pinçamento se distancia (sinal de Ahfeld); ● Tração intermitente discreta do cordão umbilical, a qual não será transmitida ao fundo uterino quando a placenta estiver descolada (sinal de Fabre) ou inversamente, a percussão do fundo uterino não é propagada ao cordão umbilical (sinal de Strassmann); ● Elevação do corpo uterino através da palpação abdominal não acompanhada da movimentação do cordão umbilical (sinal de Kustner); ● Sinal da placenta: sensação de peso sobre o reto referida pela paciente. O descolamento da placenta pode se efetuar por dois mecanismos diferentes: ● Baudelocque-Schultze: a implantação placentária encontra-se no fundo uterino (corporal). É a forma mais frequente de implantação (75% dos casos), onde a placenta exterioriza-se pela face fetal em forma de guarda-chuva, com o sangramento surgindo após a saída da placenta ● Baudelocque-Duncan: a implantação placentária ocorreu nas paredes laterais uterinas (25% dos casos) e a exteriorização da mesma ocorre pela borda inferior, com o sangramento precedendo a saída da placenta Nenhuma manobra mais intempestiva deverá ser feita, pois existe o risco de inversão uterina aguda, evento potencialmente grave que leva a choque neurogênico, perdas sanguíneas intensas e até ao óbito. Deve-se instituir ocitocina profilática, rotineiramente, imediatamente após a expulsão fetal, na dose de 10 U, IM, além de clampeamento tardio do cordão umbilical, tração controlada do mesmo e massagem uterina. Diagnosticado o descolamento da placenta, pode-se auxiliar na descida da placenta pelo canal vaginal com compressão leve na região do segmento uterino inferior – manobra de Harvey – Não confundir esta manobra com a manobra de Credé, que consiste na expressão uterina visando auxiliar o descolamento placentário, a qual encontra-se proscrita pelo risco de inversão uterina. Ao se exteriorizar, podemos praticar leve tração e torção axial da placenta, para auxiliar no seu descolamento (manobra de Jacob-Dublin). Se necessário, devemos interferir no processo de secundamento. Nesse período, as perdas sanguíneas maternas devem ser avaliadas frequentemente. Em caso de hemorragia ou retenção placentária, pode ser indicada a extração manual da placenta, preferentemente sob anestesia. Introduz-se a mão na cavidade uterina e procura-se descolar a placenta pelo seu plano de clivagem. Após a saída da placenta deve-se fazer a revisão do canal do parto para identificar se houve alguma laceração no trajeto do parto e no colo uterino, a qual deve ser realizada em todos os partos vaginais. Neste momento, se foi efetuada a episiotomia, sutura-se a incisão (episiorrafia) por planos anatômicos e com fios absorvíveis. A ocorrência de lesões perineais não é incomum, podendo ser classificadas em diversos graus de acordo com a sua extensão: ● 1º grau: lesão da pele do períneo, fúrcula e mucosa vaginal; ● 2º grau: fáscia e músculo do períneo, sem lesão musculardo esfíncter; ● 3º grau: lesão da camada muscular do esfíncter anal; ● 4º grau: lesão que atinge a mucosa retal, expondo à luz do reto As lesões perineais devem ser corrigidas assim que detectadas e o toque retal sempre está indicado para conferência da integridade da mucosa retal após a episiorrafia. PERÍODO DE GREENBERG OU QUARTO PERÍODO . (NÃO SÃO CONSIDERADOS COMO FASES CLÍNICAS DO PARTO POR ALGUNS AUTORES): Inicia-se após o secundamento, estendendo-se por uma hora. Este período demanda expectação atenta pelo risco de hemorragias. É quando ocorre a hemostasia do local onde estava inserida a placenta. Os mecanismos de hemostasia nesta fase são: ● Miotamponagem: caracteriza-se pela contração do útero, provocando uma compressão e consequente laqueadura dos vasos uteroplacentários (ligaduras vivas de Pinard); ● Trombotamponagem: formação de trombos (coágulos) nos grandes vasos uteroplacentários e hematoma intrauterino, que recobre a ferida aberta no sítio placentário; ● Indiferença miouterina: o útero se torna “apático” e, do ponto de vista dinâmico, apresenta fases de contração e relaxamento, podendo se encher progressivamente com sangue; ● Contração uterina “fixa”: decorrida uma hora, o útero adquire maior tono, e a contração se sobrepõe ao relaxamento, passando a se manter contraído. Neste período ocorrem com mais frequência as hemorragias por atonia uterina ou por laceração do trajeto do parto. Também podem ocorrer sangramentos por retenção de restos placentários ou de membranas. É um período em que deve ser feita observação atenta da parturiente, para que qualquer distúrbio seja detectado e tratado imediatamente. Verifica-se, igualmente, se o útero está contraído (globo de segurança de Pinard). PARTOGRAMA O partograma é uma representação gráfica da evolução do trabalho de parto. Através de sua marcação, podemos identificar as alterações do trabalho de parto e instituir o tratamento adequado. Duas linhas diagonais devem ser traçadas: a da esquerda corresponde à “linha de alerta” e a da direita à “linha de ação”. Logo abaixo, observamos local para registro da hora do exame, frequência cardíaca fetal, contrações uterinas, estado da bolsa das águas, administração de medicamentos e procedimentos efetuados durante o parto. O registro gráfico deve ser iniciado quando a parturiente estiver na fase ativa do trabalho de parto (2 a 3 contrações eficientes em 10 minutos e dilatação cervical de 3/4 centímetros) . A dilatação cervical deve ser indicada no ponto correspondente do gráfico, traçando-se na hora imediatamente seguinte a linha de alerta e, em paralelo, quatro horas após a linha de ação. A taxa normal de dilatação do colo varia em torno de 1,2 cm/h. Se a dilatação for inferior a 1 cm/h, as marcações se aproximarão da "linha de alerta". O alerta implica simplesmente a necessidade de uma melhor observação clínica. Se houver parada ou atraso maior da dilatação, as marcações ultrapassarão a "linha de ação", ficando à direita desta linha e indicando a necessidade de correção do problema (parto disfuncional). Não significa necessariamente conduta cirúrgica. OBS: Como cada coluna representa uma hora, as marcações só devem ser feitas na coluna correspondente à hora do acompanhamento. Por exemplo, se você examinou a paciente às 12h e novamente apenas às 16h, deverá haver três colunas em branco entre o primeiro e o último exame, correspondendo a 13h, 14h e 15h • O triângulo é referente a dilatação e está correlacionado com a escala à esquerda. • Já o círculo representa a altura do feto, respeitando os planos de De Lee ou de Hodge. Temos também duas linhas: a linha de alerta e a linha de ação. Elas podem estar presentes ou não no partograma, se não estiverem será de responsabilidade de quem abre o partograma desenhá-las. Ambas estão em um ângulo de 45 graus e devem estar espaçadas em 4 quadrados. E a linha de alerta deve começar na segunda hora do partograma. No plano de DeLee Tomamos como ponto zero o plano transversal das espinhas isquiáticas, com os pontos máximos variando geralmente entre -3 cm e +3 cm. Acima das espinhas, utilizamos as numerações negativas com a distância em centímetros.. Regra geral: quanto maior o número, mais próximo de nascer estará o feto! DISTOCIAS Pode-se definir distocia como qualquer perturbação no bom andamento do parto em que estejam implicadas alterações em um dos três fatores fundamentais que participam do parto: Força motriz ou contratilidade uterina – caracteriza a distocia funcional Objeto – caracteriza a distocia fetal Trajeto (bacia e partes moles) – caracteriza a distocia do trajeto Por outro lado, o parto pode evoluir de forma muito rápida, o que é chamado de parto precipitado ou taquitócito. É definido pela dilatação, descida e expulsão do feto que ocorrem num período de quatro horas ou menos. Estão presentes a taquissistolia e hipersistolia. CLASSIFICAÇÃO E CONDUTA: Utiliza-se a classificação de Goff para descrever as distocias funcionais, a saber: - Distocia por hipoatividade uterina Os elementos da contração encontram- se abaixo do normal, gerando um parto lento. Nestes casos, a conduta necessária é aumentar a força motriz com medidas ocitócicas, como a amniotomia e/ou infusão de ocitocina, separadas entre si por no mínimo 40 a 60 minutos. Pode ser dividida em: Hipoatividade primária – diagnosticada desde o início do trabalho de parto; Hipoatividade secundária – inicialmente normal, tornou-se ficou lento ou parou de evoluir. - Distocia por hiperatividade uterina Os elementos da contração estão acima do normal, porém não geram necessariamente um parto rápido. Subdivide-se em: Hiperatividade com obstrução, como devido à desproporção cefalopélvica, tumor de trajeto prévio, ou sinéquia do colo uterino; Hiperatividade sem obstrução – a hiperatividade é intrínseca, levando a um parto rápido, ao que se conceitua um parto em 3 horas ou menos – desde o início do trabalho de parto até a expulsão do produto conceptual e da placenta e suas membranas. - Distocia por hipertonia Gera um parto lento, causado normalmente por: Uso indevido de ocitocina - é a causa mais frequente de hipertonia. Deve-se suspender seu uso imediatamente. Sobredistensão uterina – por gemelidade ou polidramnia, por exemplo. Deve-se tentar amniodrenagem ou rotura de uma das bolsas amnióticas, se clinicamente possível. - Distocia por hipotonia uterina Não possui relevância clínica durante a dilatação ou no período expulsivo, mas pode acarretar em uma dequitação retardada. Deve ser corrigida com medidas ocitócicas. - Distocia de dilatação Seu diagnóstico é feito por eliminação. São casos em que a atividade uterina e o tônus são normais, mas a evolução ainda assim não é favorável. O quadro clínico pode se apresentar de duas formas: Com paciente poliqueixosa, ansiosa – a liberação de catecolaminas na circulação decorrente do estresse pode levar à incoordenação uterina. Deve-se orientar a paciente e oferecer, se possível, analgesia peridural. Quando não se trata de ansiedade, provavelmente está ocorrendo inversão de gradiente ou incoordenação de primeiro grau idiopáticos. Deve-se adotar medidas ocitócicas, visto que a ocitocina sensibiliza o marcapasso uterino. DISTOCIA DO TRAJETO Deve-se à presença de anormalidades ósseas ou de partes moles, o que gera um estreitamento do canal de parto e dificulta ou até impede a evolução normal do trabalho de parto e a passagem do feto. DISTOCIAS ÓSSEAS São anormalidades no formato, no tamanho ou nas angulações da pelve, o que torna difícil ou até impede o parto por via vaginal. Para diagnosticá-las, o principal meio de avaliação ainda é clínico, através da pelvimetria, apesar da possibilidade de realização de radiografias de quadril ou ressonância magnética da pelve, para as quais reservamos os casos mais dúbios.DISTOCIAS DE PARTES MOLES São alterações do canal de parto que impedem a progressão do trabalho de parto, excetuando-se as distocias ósseas, a saber: Vulva e períneo – Varizes, estenose ou edema de vulva, condiloma acuminado de grande extensão. Normalmente não impedem o parto, mas podem gerar mais sangramentos vaginais e/ou infecções pós-parto; Vagina – septos vaginais (transversos ou longitudinais); Colo – hipertrofia, estenose cervical pós-cirúrgica (conização, cerclagem) ou cicatricial e edema de colo; Tumores prévios – interpõem-se à apresentação fetal, como miomas ou neoplasias de colo uterino. DISTOCIA DO OBJETO São as anormalidades que ocorrem no trabalho de parto atribuídas ao feto e às relações materno-fetais. TAMANHO FETAL O tamanho do feto pode prejudicar uma boa evolução do trabalho de parto quando este for estimado em mais de 4000 g ou quando, mesmo não tendo um peso aumentado, a bacia materna não apresenta diâmetros que permitam a sua passagem, ao que se denomina desproporção cefalopélvica. Deve-se tentar identificar uma distócia pelo tamanho fetal preferencialmente antes do trabalho de parto efetivamente, o que pode ser evidenciado de diversas maneiras: Altura uterina acima do percentil 95 para idade gestacional; Presença de edema suprapúbico e membros inferiores sem insinuação do pólo cefálico no estreito superior da bacia; Estimativa do peso fetal por meio de ultrassonografia obstétrica; Prova de trabalho de parto – caracteriza-se a parada secundária de dilatação pelo partograma. DISTOCIA DE BIACROMIAL Trata-se de complicação grave que pode ocorrer no trabalho de parto, quando a apresentação é cefálica e, após o desprendimento do pólo cefálico, os ombros não se soltam e não há outros fatores que impeçam seu desprendimento. Associa-se frequentemente a obesidade materna, ao pós-datismo e à diabetes gestacional. A distocia de ombros, como também é chamada, pode causar graves consequências à parturiente – como lacerações, atonia uterina, rotura uterina ou disjunção da sínfise púbica – e ao feto – lesões de plexo braquial, fratura de clavícula ou úmero, podendo evoluir para óbito intraparto ou neonatal. Diante de uma distocia biacromial, deve-se adotar as seguintes medidas iniciais, em ordem, como descritas abaixo – protocolo ALEERTA, orientado pelo ALSO (Advanced Life Support of Obstetrics): Diante da impossibilidade de alcançar os ombros, deve-se indicar resolução da gestação por via alta, reintroduzindo a cabeça na pelve materna até as espinhas isquiáticas (manobra de Zavaneli). ANORMALIDADES DE SITUAÇÃO E APRESENTAÇÃO Não são tão frequentes no trabalho de parto quanto as distocias já citadas. Podem-se observar as anormalidades a seguir:
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