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Reintegração social de pessoas privadas de liberdade (2)

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Reintegração social de pessoas privadas de liberdade
Cleriston Mota da Rocha
Prof. Esp. João Bispo Serejo 
Resumo
Este artigo científico aborda temas-chave na reinserção social de pessoas privadas de liberdade, explorando três pilares fundamentais: programas educativos e de formação profissional, apoio psicossocial e saúde mental, e apoio à ressocialização destas pessoas. A complexidade deste desafio requer uma compreensão profunda e abrangente que reconheça que a reintegração não se trata apenas de não reincidir, mas também da reintegração produtiva dos indivíduos na sociedade. A teoria do capital humano enfatiza a importância do investimento na educação para melhorar a empregabilidade e é a base para explorar programas educacionais em ambientes prisionais. Estes programas não só proporcionam competências práticas, mas também mudam a perspectiva de vida dos reclusos. A saúde mental é considerada um componente importante da reintegração na sociedade, e devem ser implementados programas que abordem os desafios psicossociais enfrentados durante o encarceramento. Sem contar que a família é o pilar básico para a adaptação de uma pessoa à sociedade. Ao explorar a teoria subjacente, estudos de caso e implicações práticas, este artigo contribui para uma compreensão mais abrangente da reintegração e para uma discussão crítica do seu papel na construção de mais sociedade. Comunidades justas e inclusivas.
Palavras-chave: Reintegração social; Sociedade; Saúde; Educação
Abstract: 
This scientific article addresses the crucial theme of the social reintegration of people deprived of liberty, exploring three fundamental pillars: education and professional training programs, psychosocial support and mental health, and support for the resocialization of these people. The complexity of this challenge demands a deep and comprehensive understanding, recognizing that reintegration is not merely the absence of recidivism, but rather the productive reintroduction of individuals into society. Human capital theory, highlighting the importance of investing in education to increase employability, serves as a basis for exploring educational programs in the prison environment. These programs not only provide practical skills but also transform inmates' outlook on life. Mental health is considered a vital component of reintegration, and it is essential to implement programs that address the psychosocial challenges faced during incarceration. Not to mention that the family is a fundamental pillar for that person's adaptation in society. By exploring fundamental theories, case studies and practical implications, this article contributes to a more comprehensive understanding of social reintegration, fostering a critical discussion about its role in building more just and inclusive communities.
Key-words: Social reintegration; Society; Health; Education
Introdução
A reintegração das pessoas privadas de liberdade na sociedade tornou-se uma tarefa vital para os sistemas de justiça contemporâneos, exigindo uma abordagem abrangente e multifacetada para quebrar o ciclo de reincidência e contribuir para a construção de comunidades mais justas e resilientes. Este artigo pretende explorar três pilares fundamentais no contexto da reintegração: programas educativos e de formação profissional, apoio psicossocial e de saúde mental e apoio familiar. Ao considerar a complexidade do desafio, é importante compreender que a reintegração não se trata apenas de não ofender, mas também da reintegração produtiva e saudável de um indivíduo na sociedade. Do ponto de vista da teoria do capital humano, os programas educativos nas instituições prisionais são cruciais, não só proporcionando competências práticas, mas também mudando a perspectiva de vida dos reclusos. Por sua vez, a saúde mental está indissociavelmente ligada à reintegração na sociedade, pelo que é fundamental implementar programas que abordam os desafios psicossociais enfrentados durante o encarceramento. Além disso, as parcerias familiares surgiram como um elemento-chave no apoio a estes indivíduos. Neste contexto, exploraremos cada tópico, analisando a teoria subjacente, estudos de casos exemplares e implicações práticas para a reintegração eficaz de pessoas privadas de liberdade na sociedade. Ao fazê-lo, procuramos contribuir para uma compreensão mais completa e informada da dinâmica de transição destes indivíduos para a sociedade, promovendo a discussão crítica sobre o importante papel que a reintegração desempenha na construção de comunidades mais justas e inclusivas.
 A FAMÍLIA
A teoria dos sistemas familiares enfatiza a interconexão entre os membros da família e sua influência mútua na dinâmica familiar. No contexto prisional, a teoria da privação de liberdade sugere que a ausência do recluso pode colocar desafios significativos à coesão familiar. Além disso, a teoria do capital social sugere que as redes de apoio familiar podem ser uma fonte valiosa de recursos sociais e facilitar a reintegração dos indivíduos na sociedade. Bowen disse: "Temos menos autonomia em nossas vidas emocionais do que pensamos. A maioria de nós é mais dependente e receptiva aos outros do que pensamos. A família é uma rede multigeracional de relacionamentos que molda a personalidade e a interação entre a proximidade.
A presença e o apoio da família durante a detenção são essenciais para manter os vínculos afetivos e fornecer apoio emocional. Os programas que promovem a comunicação entre os reclusos e as suas famílias, tais como visitas regulares e cartas, demonstraram contribuir significativamente para o bem-estar psicológico dos reclusos. Além do apoio emocional, a família pode ser um factor chave na reintegração económica. Os programas de reintegração que envolvem as famílias na procura de oportunidades de emprego e na obtenção de formação profissional estão a apresentar resultados encorajadores. A segurança financeira proporcionada pelo emprego após a libertação não só promove a autonomia individual, mas também fortalece os laços familiares.
A família é o principal instrumento de reabilitação dos reclusos e desempenha um papel insubstituível na sua reinserção na sociedade. Ao compreender a importância das famílias como fonte de apoio emocional, social e económico, os sistemas prisionais podem desenvolver estratégias mais eficazes para envolver as famílias no processo de reabilitação. Ao reconhecer e reforçar o papel das famílias não só como beneficiárias dos libertados, mas também como parceiros ativos no processo de reintegração, podemos não só aumentar as possibilidades de uma reintegração bem sucedida, mas também contribuir para a construção de comunidades mais unidas.
A estrutura familiar desempenha um papel crucial no desenvolvimento e na manutenção do bem-estar dos indivíduos. Quando se trata de pessoas presas, a família pode ser ainda mais significativa, atuando como um ponto de apoio essencial para enfrentar os desafios do encarceramento e um alicerce para a reintegração social após a liberação. Este artigo aborda a importância da família na vida da pessoa presa e como essa relação pode influenciar positivamente o processo de retorno à sociedade.
O encarceramento é um período de grandes dificuldades para o preso, marcado pelo isolamento, pela estigmatização e pela ruptura das relações sociais. A família, neste contexto, emerge como um dos poucos laços estáveis que o indivíduo pode manter, servindo como um canal de comunicação com o mundo exterior e um lembrete de sua identidade fora das grades. A presença familiar pode atenuar o impacto psicológico da prisão, proporcionando suporte emocional e ajudando a manter a saúde mental do preso.
Além do suporte emocional, a família também pode desempenhar um papel ativo na preparação para a reintegração social do preso. Através do contato regular, seja por visitas, cartas ou ligações, os laços familiares são fortalecidos, o que pode ser decisivo para a reconstrução da vida após o cumprimento da pena. A reintegração social é um processocomplexo que envolve a readaptação à sociedade e a reconquista de um lugar na comunidade. A família pode ser um fator de motivação para o preso buscar mudanças e aderir a programas de reabilitação.
A presença de uma rede de apoio familiar é associada a taxas mais baixas de reincidência. Isso se deve ao fato de que o preso que possui uma família envolvida e preocupada tem mais oportunidades de encontrar emprego, moradia e apoio social após a libertação. A família pode auxiliar na criação de um ambiente propício para a mudança de comportamento, oferecendo um espaço de aceitação e compreensão, elementos fundamentais para a superação das adversidades enfrentadas por aqueles que estiveram privados de liberdade.
Contudo, é importante mencionar que nem todas as famílias estão preparadas ou são capazes de oferecer o suporte necessário para a reintegração social do preso. Muitas vezes, as próprias famílias são marcadas por conflitos, violência ou desestruturação, o que pode dificultar esse papel. Nesses casos, é fundamental que o Estado e organizações da sociedade civil ofereçam programas de apoio que possam auxiliar tanto o preso quanto a família nesse processo.
Programas de assistência à família do preso são essenciais para orientar os familiares sobre como lidar com as dificuldades do encarceramento e prepará-los para a futura reintegração do ente. Esses programas podem incluir aconselhamento, grupos de apoio, assistência jurídica e social, além de atividades que promovam a manutenção dos laços familiares durante o período de reclusão.
Em suma, a família tem um papel insubstituível na vida da pessoa presa e na sua reintegração social. Através do suporte afetivo, material e motivacional, a família pode ser o diferencial que possibilita a retomada de uma vida digna e produtiva. É imprescindível que a sociedade reconheça a importância desse vínculo e que políticas públicas sejam implementadas para fortalecer e apoiar as famílias nesse processo desafiador, mas fundamental para a construção de uma sociedade mais justa e inclusiva.
Quando familiares demonstram apoio e incentivo aos parentes encarcerados, eles podem ser motivados a concluir todo o processo de recuperação corretamente dentro do prazo previsto. Quando membros da família decepcionam uma pessoa encarcerada, estigmatizando sem dar a devida ajuda e cuidados necessários, acaba acontecendo complicações e a isenção de responsabilidade tornam-se mais frequentes. Permitir que os prisioneiros experimentem uma variedade de sensações. Por exemplo, a culpa, o desprezo e a resistência deixam você sem motivação e sem razão para continuar a existir. Como mencionado anteriormente, a mistura de sentimentos que ocorre em um indivíduo mexe com suas emoções, portanto é necessário que ele aprenda a cuidar adequadamente de todas elas. É imprescindível que seja fornecido aos sujeitos encarcerados informações completas equilíbrio para prepará-lo com o conhecimento necessário para retornar à sua vida social. 
Numa sociedade verdadeiramente reabilitadora, reconhecer e fortalecer as relações familiares dos reclusos não só humaniza o sistema penal, mas também serve como uma ponte importante entre a punição e a reintegração. Os familiares encarcerados não são apenas uma ligação emocional, mas também uma parte importante da reconstrução pessoal, proporcionando apoio, amor e estabilidade que são elementos fundamentais de mudança e reintegração.
Chalita (2004) destaca que qualquer esforço educacional significativo implementado nas prisões para beneficiar a recuperação dos detentos depende da participação da família. Quando se trata de educação prisional, é essencial considerar todos os aspectos da vida do indivíduo, como seus sonhos, comportamento, relações, profissões, política, saúde, religião, família, escola, ou seja, tudo o que é comum à sociedade. Há educadores e pesquisadores preocupados com o estado da educação nas prisões brasileiras. Chalita (2004) nos leva a refletir sobre as instituições, especialmente a família, ao afirmar que "por melhor que seja uma escola, por mais bem preparados que estejam seus professores, nunca vai suprir a carência deixada por uma família ausente"
A reintegração social do preso é um processo que exige esforços conjuntos do indivíduo, da família, do Estado e da sociedade. É um caminho que deve ser pavimentado com políticas públicas eficazes, programas de reabilitação e uma rede de apoio que inclua a participação ativa da família. O envolvimento familiar, quando possível e saudável, é um dos pilares para a construção de uma trajetória de vida pós-prisão mais estável e menos suscetível a retornos ao sistema prisional.
Se tivermos em mente as razões inicialmente identificadas para taxas mais elevadas de doenças mentais nas populações prisionais, podemos facilmente concluir que a experiência de privação de liberdade numa escala menor em comparação com a prisão seria um grande passo em frente na abordagem das questões acima referidas para um sistema mais tradicional. Se a superlotação e o isolamento são as causas profundas dos transtornos mentais em ambientes prisionais, então a solução para o problema é substituir as grandes prisões que estão superlotadas e profundamente isoladas da comunidade por espaços que tendem a ser menores, com alojamento na comunidade local onde os presos poderiam cumprir suas penas.
A pequena dimensão permite um acompanhamento personalizado de cada recluso e das suas necessidades educativas, vocacionais e terapêuticas. A prevenção ou tratamento de perturbações de saúde mental requer um apoio personalizado, o que a atual superlotação do sistema prisional não permite. Por sua vez, a integração na comunidade local, garantindo a satisfação das necessidades de segurança, também reduzirá a solidão e o estigma associado aos reclusos.
SAÚDE MENTAL
A saúde mental desempenha um papel crucial na reintegração de indivíduos após o encarceramento. A experiência prisional frequentemente exacerbada por problemas de saúde mental destaca a necessidade de abordagens integradas para garantir uma reintegração bem-sucedida.
A abordagem biopsicossocial, proposta por Engel, destaca a interação entre fatores biológicos, psicológicos e sociais na saúde mental .A proposta do modelo biopsicossocial é oferecer assistência ao paciente de uma forma holística e não apenas se concentrar no tratamento da doença. Isso envolve uma troca de palavras no vocabulário médico: em vez de “tratar uma doença”, deve-se “cuidar de alguém” No contexto prisional, a teoria da institucionalização destaca como o ambiente carcerário pode afetar negativamente a saúde mental dos detentos, tornando a transição para a sociedade ainda mais desafiadora.
Programas de apoio psicossocial durante o encarceramento e após a liberação são essenciais. Modelos baseados em terapia cognitivo-comportamental demonstraram ser eficazes na redução de recaídas. Além disso, iniciativas que visam a reintegração, como o Projeto Alfa no Brasil, incluem abordagens terapêuticas para promover a saúde mental e a reintegração positiva.
Como a privação à liberdade tem sido compreendida, o quanto os efeitos de reeducação e reinserção social, é que se faz necessário debater sobre tal proposição que vem se tornando cada vez mais desafiadora, principalmente aos estudiosos da saúde mental.
Privar o indivíduo de liberdade é como torná-lo invisível, apartado, ignorado. Sabemos que a realidade carcerária do nosso país se caracteriza pela superlotação e pela ineficiência no que tange à reeducação e reinserção psicossocial. Falar do sistema prisional sem se preocupar com a saúde mental é preocupante e logo, nos vêm à lembrança os antigos manicômios, para onde todos os indivíduos vistos como “diferentes” eram levados, para lá serem esquecidos.
Afastar-se ou ter dificuldade nas relações funcionais com o mundo, a nível social, familiar,laboral, pode ser um indício de doença mental, que mesmo não apresentando uma causa específica, pode ter como agravantes fatores biológicos, psicológicos ou sócioculturais. Portanto, o acesso à avaliação e tratamento psiquiátrico é necessário para indivíduos que estão cada vez mais encarcerados porque são frequentemente presos e condenados por crimes cometidos devido a doenças mentais e porque se sentem desamparados num sistema de políticas públicas que é incapaz de se auto-regular. Diante dos transtornos mentais mais graves
Fornecer acesso a serviços de saúde mental de qualidade não só melhora o bem-estar individual, mas também é necessário para construir comunidades mais saudáveis ​​e seguras. Os cuidados de saúde mental são uma componente crítica para uma reintegração social bem sucedida.
Stuart Grassian, psiquiatra conhecido por seu trabalho sobre os efeitos psicológicos da prisão, salienta que o ambiente carcerário, muitas vezes, exacerba as questões de saúde mental dos detentos, destacando a necessidade crítica de abordagens humanizadas e de suporte psicológico para promover a reintegração e mitigar os impactos adversos na saúde mental dos indivíduos sob custódia. O mesmo também afirma que a prisão pode acabar afetando psicologicamente o preso: 
O isolamento social, associado ao confinamento extremo 
são nocivos para o funcionamento da mente. O dano causado
 por tal confinamento pode resultar em prolongada ou permanente
 deficiência psiquiátrica, incluindo limitações que 
podem comprometer seriamente a capacidade do 
detento de se reintegrar à comunidade após ser solto da prisão.
Lei nº 10.216, de 6 de abril de 2001, conhecida como Lei Paulo Delgado
Um marco na legislação de saúde mental brasileira. Esta lei fornece proteção e determina os direitos das pessoas com deficiência mental e seu tratamento. A saúde mental precisa ser feita de forma independente, em um ambiente comunitário, a qualquer momento. O artigo 2º da referida lei menciona vários direitos das pessoas, incluindo: doença mental.
Art. 2o Nos atendimentos em saúde mental, de qualquer natureza, a pessoa e seus familiares ou responsáveis serão formalmente cientificados dos direitos enumerados no parágrafo único deste artigo. Parágrafo único. São direitos da pessoa portadora de transtorno mental: I - ter acesso ao melhor tratamento do sistema de saúde, consentâneo às suas necessidades; II - ser tratada com humanidade e respeito e no interesse exclusivo de beneficiar sua saúde, visando alcançar sua recuperação pela inserção na família, no trabalho e na comunidade;(...)
Apesar da existência de leis destinadas a proteger o direito à saúde mental, a situação nas prisões brasileiras é das pessoas privadas de liberdade.Ainda muito instável. De acordo com pesquisas recentes, as condições de hospitalização na prisão pode agravar o transtorno mental de um preso, aumentando o risco de suicídio e outras formas de violência
Além disso, falta de estrutura, superlotação e falta de profissionais capacitados são problemas recorrentes no sistema prisional brasileiro.
Assim sendo, é importante destacar que a assistência psiquiátrica no sistema prisional brasileiro ainda enfrenta muitos desafios. Mas, a existência de leis que regulamentam a internação psiquiátrica e garantem o direito à saúde mental, é um passo importante para a promoção da dignidade e da cidadania dos detentos com transtornos mentais
Num ambiente prisional, garantir este princípio significa que as pessoas
presas devem ser tratados de forma adequada e respeitosa, inclusive na área da sua saúde mental. O artigo 196 da Constituição Federal Brasileira dispõe que: A saúde é um direito de todos e uma obrigação do país. Isto significa que o país possui a obrigação de garantir o acesso a cuidados de saúde de qualidade para todos, incluindo pessoas que estão presas. Além disso, o artigo 5.º da Constituição prevê que ninguém estará sujeito a tratamento desumano ou degradante. Portanto, as autoridades têm o dever de garantir condições de vida dignas aos reclusos, incluindo o acesso à saúde mental. O princípio da dignidade da pessoa humana também implica que as penas aplicadas aos infratores não podem ser cruéis ou desumanas. Assim, é excluído o uso da tortura ou de tratamentos degradantes no contexto prisional.
PROGRAMAS DE EDUCAÇÃO E CAPACITAÇÃO PROFISSIONAL
A reintegração social das pessoas privadas de liberdade é uma tarefa multifacetada que requer uma abordagem holística. Uma das principais estratégias para promover uma reintegração bem-sucedida é a implementação de programas de ensino e formação profissional nas prisões.
Segundo a teoria do capital humano de Gary Becker, investir na educação melhora as competências do indivíduo, o que aumenta a produtividade e, consequentemente, a empregabilidade. Becker (2007) acredita que os investimentos em educação contribuem para o crescimento econômico, aumentam a renda pessoal e têm efeitos positivos na saúde e na formação familiar. 
É importante que o governo tenha planos para alargar a educação a todos e que esta educação seja de alta qualidade. Um programa abrangente de educação prisional deve incluir cursos académicos e técnicos. Experiências positivas de países como a Noruega, onde a educação é enfatizada como parte do sistema prisional, mostraram reduções significativas nas taxas de reincidência. O projeto Educação para a Liberdade é um projeto brasileiro que demonstra como o ensino superior nas prisões pode mudar as perspectivas dos presos e prepará-los para contribuir construtivamente para a sociedade após a libertação.
As pessoas presas, assim como quaisquer outras, têm o direito humano à educação. No plano internacional, destaca-se a Declaração Universal dos Direitos Humanos, que, em seu artigo 26, estabelece o direito à educação, cujo objetivo é o pleno desenvolvimento da pessoa e o fortalecimento do respeito aos direitos humanos. Entende-se que os direitos humanos são universais (para todos e todas)
A este respeito, de acordo com Graziano (2005), o direito humano à educação é classificado de diversas maneiras em direitos económicos, sociais e culturais. É também reconhecido na esfera civil e política porque constitui a base para o exercício de outros direitos. Desta forma, o direito à educação também é chamado de direito abrangente porque permite e aumenta a segurança de outras pessoas.
No plano normativo nacional, a escolaridade nas prisões faz parte de uma modalidade de aprendizagem denominada Educação de Jovens e Adultos (EJA). A Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB), nº 9.394 de 1996, define, em seu artigo 37, essa modalidade como aquela destinada “a pessoas que não tiveram acesso ou continuidade de estudos no ensino fundamental e médio na idade própria”.
De acordo com o relatório da UNESCO (1993: p. 60), os reclusos são geralmente jovens, entre os 18 e os 25 anos. A maioria é do sexo masculino e o número de mulheres nas prisões varia de 2% a 7% da população carcerária total. Em termos de números e visibilidade, as mulheres são uma minoria nas prisões. As recomendações do estudo penitenciário mostram que a necessidade de futuros perfis prisionais de mulheres presas não deve ser ignorada. Em muitos casos, os desafios das mulheres são iguais aos dos homens (ambiente, sistemas, superlotação, etc.), mas é necessário ter em conta questões específicas (situação da criança, gravidez, necessidades emocionais, competências, etc.). A nível internacional, a educação prisional de alta qualidade, sensível ao contexto, tem sido considerada uma parte essencial e importante das medidas de reabilitação prisional. Entre os estudos que visam esclarecer os contornos do mundo prisional, destaca-se uma publicação do Instituto de Educação da UNESCO intitulada “Educação Básica nas Prisões” (1995). Este documento fornece um quadro global, conceitos e mensagens para corrigir iniciativas educativas, descrevendo situações prisionais em diferentes culturas, de acordo com as perspectivas de aprendizagem ao longo da vida e de direitos humanos.
O Código Penal (nº 7.210/1984) regulamenta a escolaridade no sistema prisional. O Artigo 17 estipula que o apoio educativo deve incluira educação escolar e a formação profissional dos reclusos. O artigo 18 estabelece que o ensino fundamental é obrigatório e integrado ao sistema escolar federal. E o artigo 21.º estabelece que cada departamento penitenciário criará uma biblioteca para todas as categorias de reclusos, que será dotada de livros educativos, recreativos e didáticos. 
A educação é um direito social garantido na Constituição Federal e fortalecido no direito internacional. Contudo, para a população encarcerada, esses direitos não parecem ser reconhecidos na mesma medida. Para aqueles que são condenados pelo sistema pelo facto de um segmento da população pobre ser privado de todos os direitos, incluindo o direito a uma educação de qualidade, esta realidade torna-se ainda mais visível e pior (invisível ou natural). Lei criminal. No Brasil, a prestação de serviços educacionais é inexistente, inadequada ou altamente incerta em muitos centros de detenção. Isto, combinado com sistemas disciplinares e legais, impede ou até dificulta a participação dos reclusos no processo educativo.
A educação desempenha um papel importante na reabilitação e muitos reclusos têm baixos níveis de escolaridade. A maioria não adquire habilidades básicas de leitura e escrita. Os programas e projectos educativos nas prisões são importantes para promover o bem-estar dos reclusos, uma vez que estes baixos níveis de educação podem ter impacto nas suas vidas e contribuir para o comportamento criminoso. valor Programas e projetos educacionais devem ser desenvolvidos nas prisões para ajudar os estudantes a aumentar a conscientização e a construir a auto-estima. Isso ocorre porque um indivíduo que nasce pobre e não tem acesso à educação ou a qualquer tipo de educação satisfatória não pode agir com sabedoria em suas ações. 
Contudo, a educação pode ser considerada um caminho promissor para a reinserção social das pessoas condenadas à prisão. Mas acima de tudo, é um direito humano universal que deve ser garantido a todos, independentemente do estatuto. É um direito que promove ainda mais o gozo de outros direitos, como o emprego, a saúde e os direitos de participação cívica. A expansão dos serviços educativos para grupos historicamente marginalizados, como os desfavorecidos, é, portanto, uma parte importante da luta para fazer valer os direitos humanos universais.
O sistema prisional deve se preocupar principalmente com o desenvolvimento das capacidades críticas e criativas dos alunos e requer uma educação que permita aos alunos reconhecer as escolhas que lhes são disponibilizadas nas suas próprias vidas e nos seus grupos sociais e a importância dessas escolhas. Isto só pode ser alcançado através de atividades de sensibilização que possam preparar os alunos para assumirem o compromisso de mudar a sua própria história.
Como já mencionado, dentre as diversas medidas adotadas como meios eficazes de reintegração, uma das medidas mais adotadas para repressão ao crime é a trabalhista. Esta é uma forma de preparar os presos e torná-los elegíveis para retornar ao mercado de trabalho. Os artigos 28, 29 e 30 da LEP estabelece que o trabalho dos presos, como obrigação social e condição de dignidade humana, tem finalidade educativa e produtiva.
Art. 28. O trabalho do condenado, como dever social e condição de dignidade humana, terá finalidade educativa e produtiva.
§ 1º Aplicam-se à organização e aos métodos de trabalho as precauções relativas à segurança e à higiene.
§ 2º O trabalho do preso não está sujeito ao regime da Consolidação das Leis do Trabalho.
Art. 29. O trabalho do preso será remunerado, mediante prévia tabela, não podendo ser inferior a 3/4 (três quartos) do salário mínimo.
§ 1° O produto da remuneração pelo trabalho deverá atender:
a) à indenização dos danos causados pelo crime, desde que determinados judicialmente e não reparados por outros meios;
b) à assistência à família;
c) a pequenas despesas pessoais;
d) ao ressarcimento ao Estado das despesas realizadas com a manutenção do condenado, em proporção a ser fixada e sem prejuízo da destinação prevista nas letras anteriores.
§ 2º Ressalvadas outras aplicações legais, será depositada a parte restante para constituição do pecúlio, em Caderneta de Poupança, que será entregue ao condenado quando posto em liberdade.
Art. 30. As tarefas executadas como prestação de serviço à comunidade não serão remuneradas. (BRASIL, 1988).
O trabalho do preso não é uma medida criada para gerar algo que possa dificultar a sua pena nem vir a prejudicar o condenado, mas sim possui como objetivo a reinserção do mesmo à sociedade, o preparando para uma profissão que possa vir a contribuir para a formação da sua personalidade, e além disso, do ponto de vista econômico, permitir ao detento dispor de algum dinheiro, sendo também uma forma de usar o tempo ocioso disponível para que ele cresça não apenas como pessoa, mas também profissionalmente. O preso é um cidadão como qualquer outro que nunca cometeu nenhum crime, embora tenha perdido provisoriamente alguns de seus direitos, ele deve apenas pagar pelo erro cometido preparando-se para ter melhores condições e não voltar a delinquir, a falta de mecanismos acaba por contribuir para a ocorrência de atitudes criminosas. 
 O trabalho é uma forma de mostrar para a sociedade que o preso pode mudar, porém para isso precisa ser estimulado, além de um melhor aproveitamento do tempo ocioso o trabalho pode ser uma maneira de cortar gastos do poder público, pois o próprio apenado pode vir a desenvolver atividades dentro da unidade prisional a fim de evitar serviços terceirizados, sendo essa uma solução para os gastos em excesso de presidiários. 
 O Estado é o responsável por manter os estabelecimentos prisionais, no entanto este não possui condições de proporcionar e de supervisionar a atividade dos detentos, cabe ressaltar que quando estas são oferecidas, possui pouca aceitação ou não são adequadas às exigências do mercado de trabalho, acabando por não requalificar o detento com a mão de obra apta a retornar e a concorrer a uma vaga no mercado de trabalho devido a qualificação exigida e competitividade.
Uma vez que a ideia principal de proporcionar trabalho aos reclusos visa proporcionar melhores métodos de interação entre os reclusos, implica a possibilidade de proporcionar gradualmente condições para que os reclusos percebam que podem e irão parar o seu comportamento da vida social. Os presos são compostos em sua maioria por trabalhadores ociosos, trabalhadores que precisam de políticas que atendam às suas necessidades básicas, não apenas suas famílias, mas também trabalhadores que precisam de extrema instabilidade existencial neste período, prisões e espaços onde possam redescobrir seu próprio potencial. Um espaço onde as pessoas possam receber educação junto com trabalho. (MIRABETE, 1997, p. 99). 
 O trabalho não é um benefício do preso, mas um direito humano baseado no cumprimento das condições sanitárias mínimas e nas restrições do preso. É necessário aumentar a sensibilização do público para que este compreenda que os indivíduos devem ser processados ​​e as sanções impostas pelos juízes devem ser cumpridas. 
 A Constituição Federal Brasileira estipula a responsabilidade do Estado para com todos os cidadãos, e para garantir seus direitos e deveres fundamentais, todos os direitos e deveres devem ser estendidos aos presos, de modo a não infringir os direitos que conquistaram como cidadãos. Os reclusos devem proteger os seus direitos e receber integração social na área prisional.
Fala-se muito em reeducação e ressocialização, mas muitas vezes trata-se de pessoas sem educação ou socialização e, como já mencionado, a maioria dos presos são excluídos. São pessoas pobres que não têm oportunidades na sociedade e nem dignidade de vida, não só quando são presos, mas também ao longo da vida, por isso acabam caindo no mundo do crime.
A sociedade como um todo deve acreditar no potencial de reabilitação destes graduados, trabalhando com o Estado para reintegrá-losno mercado de trabalho e, além disso, acolhê-los no meio social para que o ciclo vicioso seja quebrado. 
 Considerando a violência, a indiferença e a crueldade para com os presos no Brasil, que demonstram reiterados atos desumanos em nosso país, é comum pensar que os criminosos têm uma personalidade diferente dos demais cidadãos, como se não se enquadrassem na sociedade. 
Os programas, leis e projetos só podem alcançar resultados eficazes se forem adequadamente adaptados no ambiente social e se as comunidades aderirem aos mesmos objetivos e ideais comuns, para serem eficazes exigem a participação de todos. 
É importante lembrar que os graduados também são pessoas. Devemos lembrar que não importa quantos crimes cometamos, ainda temos a oportunidade de votar na sociedade, admitir os nossos erros e iniciar um novo caminho.
Investir em programas educativos e de capacitação profissional não só proporciona aos reclusos competências práticas, mas também ajuda a quebrar o ciclo do crime. Ao proporcionar oportunidades educativas, não só facilitamos a reintegração dos indivíduos, mas também criamos sociedades mais justas e resilientes.
CONCLUSÃO
Em resumo, a reintegração social das pessoas privadas de liberdade requer uma abordagem holística e integrada, tal como se manifesta nos elementos-chave dos programas educativos, no apoio psicossocial e nas parcerias estratégicas. Olhando para a teoria do capital humano, descobrimos que os programas educativos não só proporcionam competências práticas, mas também contribuem para mudar as perspectivas de vida dos reclusos, realçando que a educação é uma ferramenta poderosa para quebrar o ciclo vicioso da reincidência.
Os cuidados de saúde mental baseados na teoria biopsicossocial tornaram-se um componente importante para uma reintegração bem-sucedida. O objectivo da implementação de programas que abordam os desafios psicossociais enfrentados durante o encarceramento não é apenas reduzir as taxas de reincidência, mas também promover o bem-estar individual e, como resultado, construir comunidades mais saudáveis.
Além disso, é importante reconhecer o papel da família como fonte de apoio emocional, social e econômico nesse processo. Os sistemas prisionais podem desenvolver estratégias mais eficazes para envolver as famílias no processo de reabilitação, desenvolvendo um papel ativo neste processo. Bilhete de loteria. Em última análise, o objetivo deste artigo não é apenas descrever estes pilares, mas também destacar a necessidade urgente de políticas e práticas que combinem estes elementos para alcançar uma reintegração mais eficaz e humana e contribuir para uma sociedade mais justa e inclusiva.
REFERÊNCIAS
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GRASSIAN, Stuart. Efeitos psiquiátricos do confinamento solitário. Madri: Gomez, 1993.
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