Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
Centro Universitário Leonardo da Vinci Curso Bacharelado em Serviço Social ELAINE CRISTINE PINA PEREIRA (SES0386/8) TRABALHO DE CONCLUSÃO DE CURSO: A atuação do assistente social no sistema prisional junto aos familiares da pessoa privada de liberdade atendidas na DAB / CAS BELÉM 2019 CIDADE ANO ELAINE CRISTINE PINA PEREIRA A atuação do assistente social no sistema prisional junto aos familiares da pessoa privada de liberdade atendidas na DAB / CAS Trabalho de Conclusão de Curso apresentado à disciplina de TCC – do Curso de Serviço Social – do Centro Universitário Leonardo da Vinci – UNIASSELVI, como exigência parcial para a obtenção do título de Bacharel em Serviço Social. Nome do Tutor – Jacqueline Almeida de Moraes BELÉM 2019 DEDICATÓRIA Ao meu avô ( IN MEMORIAM), minha mãe Sandra e minha vó Creusa pelo apoio de sempre e por acreditarem na realização dos meus sonhos. AGRADECIMENTOS Agradeço à Deus em primeiro lugar por não soltar minha mão quando minha maior vontade foi desistir. Meus agradecimentos a minha mãe e minha vó pelas incansáveis orações, pelo amor, carinho, atenção que são dedicados a mim constantemente. Agradeço ao meu avó Pina (in memoriam), meu herói, minha referência de ser humano, sou grata pela educação e ensinamentos que em vida me repassou. Meu Dan, meu menino, meu príncipe, meu filho do coração, obrigada por me chamar de titia, te amo demais. A professora Jacqueline minha tutora, grata pela atenção e pelos ensinamentos que foram repassados no decorrer do curso, aos colegas de curso pela troca de experiência. As Pessoas Privadas de Liberdade e seus familiares que foram fonte de aprendizado durante a construção deste trabalho. Agradeço à minha irmã de coração Gabriela Santos que sempre me ajudou nas horas em que mais precisei. Leila Pantoja, minha coordenadora, ser humano incrível, grata pela compreensão que teve comigo durante a construção deste trabalho. Ao grupo “Só Parceiros” pela amizade, companheirismo de sempre. Desejo que vocês permaneçam na minha vida pra sempre. Equipe CAS, especialmente a dra. Régia Sarmento pela oportunidade que me concedeu em realizar meu ciclo de Estágio na Superintendência do Sistema Penitenciário do Estado do Pará, dra. Solange Marques minha supervisora de campo serei eternamente grata pela atenção e disponibilidade que sempre teve comigo, a dra. Lilia Valdez (Psicóloga) e a dra. Kátia Matos por serem sempre solicitas nas horas que precisei. À todos que de alguma forma ou de outra, contribuíram para a construção deste trabalho e para que eu pudesse chegar onde cheguei. EPÍGRAFE “ Lembrai-vos dos encarcerados, como se vós mesmos estivésseis presos com eles. E dos maltratados, como se habitásseis no mesmo corpo com eles.” (Hb 13, 3) RESUMO O presente Projeto de Trabalho de Conclusão de Curso tem a finalidade de colocar em evidência a importância da família para a pessoa privada de liberdade. Para tal entendimento, é preciso levar em consideração a pena e a sua execução, garantidos pela Lei 7.210/84 conhecida como Lei de Execução Penal (LEP). Tem o objetivo de compreender a atuação do Assistente Social dentro da SUSIPE – Superintendência do Sistema Penitenciário do Estado do Pará e posteriormente conhecer a realidade prisional das pessoas privadas de liberdade, bem como conhecer os meios ressocializadores. PALAVRAS-CHAVE: Família, Serviço Social, Sistema Prisional, Prática Profissional, Entrevista. LISTAS DE TABELAS TABELA 1: Pessoa Privada de Liberdade que recebe visita e participa das atividades laborais e educativas……………………..................................................... 42 TABELA 2: Pessoa Privada de Liberdade que não recebe visita e não participa de nenhum tipo de atividade...................................................................................42 LISTA DE ABREVIATURAS CAS Coordenadoria de Assistência Social CRC Centro de Recuperação do Coqueiro DAB Diretoria de Assistência Biopsicossocial PPL Pessoa Privada de Liberdade SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO ................................................................................... 11 2 APRESENTAÇÃO DO TEMA............................................................ 12 2.1 Origem do Serviço Social no Sistema Prisional............................ 15 2.2 O trabalho do assistente social e a Lei de Execução Penal........ 17 2.3 Laços familiares.............................................................................. 26 2.4 A família e a pessoa privada de liberdade.................................... 27 2.5 Saúde................................................................................................. 28 2.6 Saúde /Serviço Social no Sistema Prisional.................................... 29 2.7 Atuação do assistente social junto a DAB / CAS........................... 32 3 PROBLEMATIZAÇÃO DO TEMA E A RELAÇÃO COM A QUESTÃO SOCIAL ............................................................................................... 33 4 JUSTIFICATIVA ................................................................................. 35 5 OBJETIVOS DA PESQUISA................................................................ 38 5.1 Objetivo geral...................................................................................... 38 5.2 Objetivos específicos...................................................................... 38 6 METODOLOGIA DE PESQUISA........................................................... 38 7 ANÁLISE DOS DADOS DA PESQUISA................................................. 39 7.1. Apresentação dos dados.................................................................. 43 7.2. Análise dos dados............................................................................. 43 7.3. Resultados.......................................................................................... 44 7.4. Discussão dos resultados................................................................. 44 8 CONCLUSÕES.................................................................................................. 46 REFERÊNCIA....................................................................................................... 47 APÊNDICES ANEXOS 1 INTRODUÇÃO O presente Projeto de Trabalho de Conclusão de Curso tem a finalidade de colocar em evidência a importância da família para a pessoa privada de liberdade. Para tal entendimento, é preciso levar em consideração a pena e a sua execução, garantidos pela Lei 7.210/84 conhecida como Lei de Execução Penal (LEP). A família é considerada uma instituição responsável por promover a educação dos filhos e influenciar o comportamento dos mesmos no meio social. O papel da família no desenvolvimento de cada indivíduo, é de fundamental importância, pois é no seio familiar que são transmitidos os valores morais e sociais, bem como as tradições e os costumes perpetuados através de gerações. O ambiente familiar é um local onde deve existir harmonia, afetos, proteção e todo tipo de apoio necessário na resolução de conflitos ou problemas de algum membro.As relações de confiança, segurança, conforto e bem-estar proporcionam a unidade familiar. O interesse de falar do respectivo tema surgiu durante a vivência da prática de Estágio que foi realizado na Superintendência do Sistema Penitenciário do Estado do Pará, onde se pôde verificar que existiam laços familiares fragilizados, pessoas que possuíam vínculos consanguíneos mas eram impossibilitadas de realizar a visita ao seu familiar recluso. O objetivo geral deste projeto compreender a atuação do assistente social na DAB – Diretoria de Assistência Biopsicossocial. Como objetivo específico tem a intenção de compreender o papel da família no processo de ressocialização da pessoa privada de liberdade; analisar a importância da socialização das informações e a possibilidade de uma possível inclusão no mercado de trabalho; identificar a importância da escuta nos atendimentos cotidianos realizados na DAB – Diretoria de Assistência Biopsicossocial; interpretar o perfil da pessoa privada de liberdade que recebe visita e do PPL que não recebe de vida. A metodologia utilizada durante a construção deste projeto foi a escuta familiar, os atendimentos cotidianos, relacionamentos, entrevistas, acolhimento e pesquisa bibliográfica em livros, periódicos e artigos disponíveis na internet e questionário composto por doze perguntas 2 – APRESENTAÇÃO DO TEMA A origem da família é verificada a partir do momento em que as pessoas começaram a viver em pares, como sendo uma forma de agrupamento informal, determinando que as pessoas são ligadas a partir de vínculos afetivos existentes entre elas. Dessa maneira, a família é estabelecida como uma construção cultural, onde cada uma das pessoas possui uma função a ser exercida nesse contexto familiar. Nos primeiros períodos da civilização, somente eram reconhecidas como sendo famílias aquelas determinadas sobre a base do casamento. Com isso, esse reconhecimento era feito pela própria sociedade, como também por meio da religião daquele período. Assim com o passar do tempo, as famílias foram sendo consubstanciadas sobre o aspecto de vínculos afetivos, como determinantes para a sua configuração. Dessa maneira, houve o reconhecimento da Constituição Federal de 1988, das várias novas modalidades de família, sendo consideradas tanto aquelas formadas a partir do matrimônio, como também as uniões estáveis, as famílias monoparentais, dentre outras. Foram estabelecidos ainda, alguns princípios na Constituição Federal que são devidamente aplicados ao direito de família, como a da dignidade da pessoa humana, o da afetividade, da proteção integral as crianças e aos adolescentes, dentre outros. A família é uma unidade básica da sociedade formada por indivíduos com ancestrais em comum, ou ligadas por laços afetivos. Podendo também ser considerada como um conjunto invisível de exigências funcionais que organiza a interação dos membros da mesma, considerando-a, igualmente, como um sistema que opera através de padrões transacionais. A família possui a sua origem histórica a partir do momento no qual as pessoas começaram a viver aos pares, como sendo uma forma de agrupamento informal, se formando de maneira espontânea no qual a sua estruturação somente ocorre através do direito. Assim as pessoas se ligam através de vínculos afetivos. A família estaria estruturada na concepção de uma construção cultural, tendo em vista que cada uma das pessoas no qual a compõem possui uma função dentro desta estrutura. Nesse aspecto, a cada modificação da realidade, acaba se traduzindo na lei, cumprindo sua função conservadora. Nesse sentido, podemos aduzir os ensinamentos traduzidos nas palavras de Maria Berenice Dias (2011, p. 27), ao abordar sobre a questão do intervencionismo estatal produzido pela instituição do próprio casamento, a aduzir da seguinte maneira: O intervencionismo estatal levou à instituição do casamento: convenção social para organizar os vínculos interpessoais. A própria organização da sociedade se dá em torno da estrutura familiar. A sociedade, em determinado momento histórico, institui o casamento como regra de conduta. Essa foi a forma encontrada para impor limites ao homem, ser julgado que, na busca do prazer tende a fazer do outro um objeto. É nessa perspectiva, que o Estado começa a intervir nas relações entre pessoas, tendo em vista a importância que o instituto do casamento possui pra o próprio Estado, pois a organização da sociedade é feita com base na estrutura familiar. É dessa maneira que, para o desenvolvimento das civilizações, se impõem restrição total à liberdade por meio da lei. Os vínculos afetivos existentes entre pessoas, somente eram reconhecidas quando tal união era chancelada pelo matrimônio, pois nas sociedades conservadoras, não se reconheciam outra forma de aceitação social e jurídica no qual não fosse feita através do matrimônio entre as pessoas. O primeiro aspecto da família era aquele consubstanciado sobre o aspecto patriarcal e hierarquizado, onde o marido era considerado o chefe da família e todos deviam a ele obediência e respeito. Além disso, também tinha a natureza de entidade patrimonializada, pois todos os seus membros eram força de trabalho, ensejando o crescimento e ainda melhores condições de vida para todos. Esse tipo de família, com o tempo deixou de existir, principalmente a partir da Revolução Industrial, pois houve um significativo aumento da necessidade em contratar mão de obra. Com isso, a mulher acabou sendo inserida no mercado de trabalho, fazendo com que o homem deixasse de ser a única pessoa responsável pela subsistência familiar. As famílias tiveram que migrar da zona rural para as cidades, convivendo em espaços menores, fazendo aumentar o prestígio pelas relações baseadas em vínculos afetivos das pessoas. Com essa alteração dos relacionamentos consubstanciados principalmente no aspecto dos vínculos afetivos, notou-se a necessidade em considerar como sendo família, não somente aquelas advindas a partir do matrimônio, mas também várias outras como família monoparentais, a proveniente da união estável, dentre tantas outras. Nessa concepção, temos a importância que a família possui para o Estado, pois esta é considerada a base de uma sociedade, recebendo especial atenção do próprio Estado, conforme estabelecido no art° 2261 da Constituição Federal de 1988. As relações passaram a ser estabelecidas sobre os aspectos do respeito mútuo e da igualdade, cedendo um lugar maior a sua democratização. A Constituição Federal acabou fazendo um grande alargamento do conceito das relações interpessoais, isso trouxe significativas mudanças para a própria estrutura da sociedade, tendo em vista que, a família é considerada à base desta sociedade. Nesse aspecto, houve o rompimento da ordem jurídica no qual somente determinava como sendo família aquela consubstanciada sobre o instituto do casamento. Assim, o conceito foi mudado e houve a consagração da igualdade, do reconhecimento de outras estruturas de convívio familiar, dentre outras mudanças. “ Art. 226 : A família, base da sociedade, tem proteção especial do Estado.” Nesse sentido, podemos estabelecer nos preciosos ensinamentos de aduzidos por Maria Berenice Dias (2011,p.41), ao abordar sobre a necessidade que a Constituição Federal teve de reconhecer outras formas de família de forma expressamente prevista nesta, ao estabelecer sobre essa questão da seguinte forma: A Constituição Federal, rastreando os fatos da vida, viu a necessidade de reconhecer a existência de outras entidades familiares, além das constituídas pelo casamento. Assim, enlaçou-se no conceito de família e emprestou especial proteção à união estável (CF 226 3°) e à comunidade formada por qualquer dos pais com seus descendentes ( CF226 4°), que começou a ser chamada de família monoparental. No entanto, os tipos de entidades familiares explicitados são meramente exemplificativos, sem embargo de serem os mais comuns, por isso mesmo merecendo referência expressa. Dessa maneira, podemos entender que a própria Constituição Federal estabeleceu em seu texto normativo, várias espécies de família, e inclusive explicitando que podem ter outras formas de entidades familiares, tendo em vista ser o rol meramente exemplificativo. Atualmente, ocorre o reconhecimento das uniões homoafetivas como sendo uma espécie de família. Assim, esse alargamento conceitual da família permitiu os relacionamentos que eram marginalizados e proibidos na sociedade determinada como conservadora. Os fatores que antigamente definiam a família, como no caso da celebração do casamento e a distinção de sexo entre os relacionados, nos dias atuais não possuem mais relevância, pois o principal fator no qual o define juridicamente é o vínculo afetivo da união entre as pessoas. Nessa perspectiva, a família não se encontra mais consubstanciada sobre os fatores determinantes do casamento, sexo e procriação. Assim, para podermos entender a família, temos que possuir uma visão pluralista daquela, pois ela pode se demonstrar-se, nos mais diversos tipos de arranjos familiares. Dessa maneira, o principal fator para o reconhecimento da família é o vínculo afetivo, independentemente da maneira como essa família esteja organizada. 2.1 Origem do Serviço Social no Sistema Prisional Segundo Ferreira (1990), o Serviço Social Penitenciário iniciou suas atividades em 1944, em caráter não – oficial, junto à extinta Casa de Correção de Porto Alegre. Somente em 1951 o exercício dessa profissão foi regulamentado nas casas prisionais do Rio Grande do Sul, por meio da Lei n° 1651. Inicialmente com forte cunho assistencial e assumindo atividades de outras categorias, adotou posição preponderante frente a toda problemática da ressocialização do sujeito apenado. Incorporava-se dessa maneira, o caráter repressor e adaptador da instituição total, não sendo, nesse momento histórico, questionada a contrariedade existente no trinômio segurança, disciplina e recuperação. O Movimento de Reconceituação da profissão (décadas de 60/70), contrário da prática funcionalista, não teve grandes repercussões no Serviço Social do sistema penitenciário, que continuava a expandir-se e legitimar-se como área de controle e reeducação social. Em meados dos anos 80, as sucessivas crises no sistema prisional contribuíram para a emergência de uma posição crítica frente às ações do Serviço Social, principalmente quanto ao espaço institucional e a proposição de novas estratégias de intervenção. O grupo de assistentes sociais tinha reuniões mensais, bem como cursos de capacitação profissional organizados pela UAES – Unidade de Atendimento Educacional e Social. Por exemplo, questionava-se como se desprender das ações de ajustamento social – lógica da ressocialização -e avançar numa perspectiva de transformação social, em uma instituição com caráter punitivo e coercitivo. Nesse momento histórico – teórico, passava-se a explicar a problemática do preso como representante de uma classe marginalizada, ocupando, em algumas análises, posição de “vítima” de sistema social. Com o advento da LEP – Lei de Execuções Penais n° 7.210/84 e principalmente a partir de 1988 o Serviço Social desarticula-se teórica e politicamente devido às novas prioridades colocadas pela politica penitenciária do Estado. Conforme indica a LEP no art. 6°, a CTC - Comissão Técnica de Classificação, composta por profissionais de Serviço Social e Psicologia, deveria acompanhar os presos por intermédio de um programa individualizado (o tratamento penal) e propor às autoridades competentes (juiz da Vara de Execuções Penais) através de pareceres quanto as progressões e conversões de regime. Contraditoriamente, ao mesmo tempo em que a LEP representa um avanço nos termos de legislação que legitima o tratamento penal e o acesso aos direito humanos e sociais dos apenados, há uma retirada do Estado no que tange as condições materiais e humanas para efetivá-lo. Os recursos humanos do sistema penitenciário em geral foram reduzidos por intermédio de um plano de demissões voluntárias, aposentadorias etc, e, em contrapartida houve aumento da população carcerária. Na década de 90, o Serviço Social perde sua identidade enquanto categoria, as ações ocorrem por intermédio das equipes de CTC, ficando muitas vezes relegado a um papel de “executor de laudos”, enquanto o tratamento penal previsto em lei torna-se com algumas exceções secundárias. É importante lembrar que historicamente o Estado brasileiro manteve como paradigma compensatório o tratamento dado as politicas públicas em geral (Sposati, 1995). Entretanto, no caso especifico da politica penitenciária nem isso ocorreu, pois, além de ficar relegada a um plano secundário, acabou mantendo um caráter de contenção dos excluídos sociais. A justificativa para este frágil reconhecimento vai desde a falta de recursos até o fato de pobreza, a violência e a segurança terem sido secundarizadas e “amenizadas” pela repressão policial (civil e militar). Sendo assim a questão social é tratada como caso de policia. (Iamamoto,1998) É dentro deste contexto histórico e institucional que se insere a trajetória do Serviço Social, como área que se intervêm nas contradições que emergem desta realidade social. São profissionais capacitados para pesquisar, elaborar, executar politicas sociais, planos, programas e projetos assistenciais, terapêuticos, promocionais, educativos – preventivos (Martinelli, 1990) junto a uma rede de relações que constitui a vida profissional. 2.2 O trabalho do assistente social e a Lei de Execução Penal(LEP) A prisão nos moldes intentados pela lei pode ser entendida pela sua suposta tripla finalidade: recuperar a pessoa presa, punir o transgressor e prevenir novos delitos (Zaffaroni,1991), sendo, portanto esperado além da retribuição penal, a prisão agregue elementos reabilitadores, de maneira a intervir no processo (re)educativo, pautando –se pela mudança na forma de pensar e de se comportar dos indivíduos que adentram tal equipamento social, a fim de que a pessoa volte a se “encaixar” nos padrões aceitos pela sociabilidade extramuros. Deixando de lado sua face real, é consensual que a dita ressocialização se efetive a partir dos pressupostos humanizadores que entendam o indivíduo dentro de suas particularidades e criem meios que coincidam com as necessidades de cada sujeito em cumprimento de pena, sendo, pois sua efetivação calcada a partir de garantias legais que, somadas, possam ser entendidas como uma politica de ressocialização, que possui em sua essência a transformação moral do indivíduo. A afirmação da ressocialização, legalmente, ocorre pelo cumprimento de um rol de prerrogativas realizadas por diversos profissionais, psicólogos, assistentes sociais, educadores, entre outros, por meio da efetivação dos supostos estabelecidos na LEP, que, juntos, formam um compêndio de ações entendidas pelo Estado como necessárias à promoção da reintegração social e quase sempre nominadas de assistências. Nesse processo, designado pela LEP de reintegração social, insere-se o Serviço Social. A referida lei estabelece um conjunto de ações pontuais que são atribuições do profissional de Serviço Social, cabendo a ele sua execução. Ressaltamos que a LEP é a lei n. 7.210, de 1984, portando promulgada antes da Constituição Federal de 1988. O texto constitucional de 1988 em certo nível estabelece os fundamentos da relação Estado e sociedade constitui legalmente os aspectos que atualmente definem o conceito de cidadão no Brasil, em face do usufruto de seus direitoscivis, políticos e sociais. No entanto, ao analisar a Lei de Execução Penal, verificamos que, devido à sua promulgação, a perspectiva de representação política e a participação social preconizada constitucionalmente não possuem na LEP a centralidade necessária que respalde os princípios de participação da sociedade civil, já consolidados em outras esferas de realização das politicas públicas, o que pode ocasionar dificuldades no trabalho prisional quanto à efetivação do que se entende por dignidade da pessoa humana, uma vez que a pessoa presa se encontra privada de alguns direitos, mas não todos, e esses que se mantêm estão no rol das garantias individuais do cidadão. Novamente assinalamos que não estamos que não estamos a cunhar junto á população carcerária o conceito de “coitadinhos”, ou o chavão do malicioso senso comum que conclama a certos posicionamentos em favor da legalidade como sendo aquele afeto à lógica do “ babá de preso”, ao contrário, afirmamos a defesa da lei e seu cumprimento, considerando de maneira inteligente ações intramuros que mitiguem a probabilidade de articulação e desenvolvimento da barbárie e da violência, eventos que intramuros alimentam a formação de partidos criminosos. Feita essa observação, ater-nos-emos aos dispostos acerca do trabalho do assistente social definido pela LEP. De acordo com o artigo 6º o assistente social é parte integrante da Comissão Técnica de Classificação (CTC), juntamente com outros profissionais, e deve desenvolver trabalho individualizado ou multidisciplinar de tratamento penal, cujas atribuições específicas estão contidas na seção VI que versa sobre a assistência social: Art22 . A assistência social tem por finalidade amparar o preso e o internado e prepara-los para o retorno à liberdade. Art 23. Incumbe ao serviço social de assistência social: I – Conhecer os resultados dos diagnósticos e exames; II – Relatar, por escrito ao diretor do estabelecimento, os problemas e as dificuldades enfrentadas pelo assistido; III – Acompanhar o resultado das permissões de saídas, e das saídas temporárias; IV – Promover, no estabelecimento, pelos meios disponíveis, a recreação; V – Promover a orientação do assistido, na fase final de cumprimento da pena, e do liberando, de modo a facilitar o seu retorno a liberdade; VI – Providenciar a obtenção de documentos, dos benefícios da previdência social e do seguro por acidente no trabalho VII – Orientar e amparar, quando necessário, a família do preso, do internado e da vítima. (BRASIL, 2008, P. 24) A CTC possui a incumbência de realizar a triagem inicial do detento quando adentra o sistema prisional e tem o compromisso de desenvolver o denominado programa de individualização da pena, de forma a designar o tratamento penal adequado e específico para cada apenado. Para tanto, a equipe é composta, obrigatoriamente, de, no mínimo, profissionais assistentes sociais, psicólogos e psiquiatras. Embora não previsto na legislação, é possível encontrar também como integrantes dessa comissão pedagogos, terapeutas ocupacionais, educadores físicos e profissionais de setor de segurança. (ESPEN/PR, 2011) Não há nenhuma atribuição para o Serviço Social, no entanto voltando ao tempo de edição da LEP, a assistência social – por mais que na época já era caracterizada como uma política como uma política – ainda era visto quase como “sinônimo” de Serviço Social. Dessa forma, no entendimento do DEPEN, as atribuições contidas na seção de assistência social são aquelas de competência do assistente social. Feita essa advertência, é pertinente salientar que esse destaque do texto legal não se alinha em plenitude do que no Serviço Social se conhece como Política de Assistência Social, nem às ações elencadas como competências desse profissional. São ações dentro de um texto legal que visam dar certo nível de apoio à pessoa presa e, nesse sentido, possuem um caráter difuso em relação à competência profissional. Quanto à atuação profissional, é salutar destacar que a racionalidade técnica e instrumental posta a serviço da justiça não possui posicionamento neutro. A justiça, como já afirmamos, ainda não atingiu plena neutralidade, nem sabemos se tal intento é possível existir, seu agir em geral se coaduna com os cenários políticos postos na sociabilidade, além do que seus pressupostos positivados nascem literalmente na seara política, assim, nesta arena, muitos critérios interferem na proposição das penas, um categórico se estabelece dentro da conjuntura de luta de classes, qual seja, o egoísmo. No entanto, verificamos que na deontologia profissional do assistente social o alinhamento profissional recomendado em tal instrumento segue um caminho oposto à lógica solicitada. Dentre várias questões preconizadas pela sua deontologia, destacamos de um modo paradoxal o afirmado no Principio I do Código de Ética que diz: “ Reconhecimento da liberdade como valor ético central e das demandas políticas a ela inerentes – autonomia , emancipação e plena expansão dos indivíduos sociais” (CFESS,2012.P.23). Todavia, carece ainda de saliência que no art. 27, da LEP, este discorre que: “O serviço de assistência social colaborará com o egresso para a obtenção de trabalho” ( Brasil,2008, p.25). Eis aqui a afirmação cabal da lógica de integração via consumo e exploração, uma vez que seu retorno para a sociedade carece de ser pela via do trabalho explorado. De acordo com a deontologia profissional dos assistentes sociais vigentes, o trabalho profissional deve preconizar a defesa intransigente dos Direitos Humanos, na ampliação e consolidação da cidadania, aprofundamento da democracia, busca pela igualdade, justiça, emancipação etc., considerando a liberdade como valor ético central. Essa verificação tem importância devido ao estigma que recebem os profissionais que atuam nas ações denominadas de reintegração. De modo geral, são vistos pela equipe de segurança como pessoas solícitas aos presos, que são, naquela compreensão, merecedores de toda a punição possível, inclusive com mudanças na lei para tal intento. Considerando essa realidade, parece-nos necessário pesquisar essa proposta criminosa dos denominados comandos prisionais, que se estabelecem com discurso de paz e liberdade, tão importante, pois, sabe-se há muito, que cotidiano carcerário o Estado não pode dispensar um franco diálogo com a população carcerária, a fim de manter certa organização intramuros. Nesse sentido, Torres (1998, p. 236) afirma que há um confronto teórico-prático entre: as atribuições determinadas aos assistentes sociais pela Lei de Execução Penal e as políticas de administração carcerária dos estados, e os princípios e diretrizes normatizados pelo vigente Código de Ética Profissional”. Nesse nexo, o profissional está inserido em um complexo cenário de disputa de poder e em um genuíno equipamento de controle social a favor do establishment, o que faz necessário e fundamental o processo de construção de estratégias na ação do Serviço Social. Conforma preceitua Faleiros (1999, p.76), “ as estratégias sã processos de articulação e mediação de poderes e mudança de relações de interesses [...] pela efetivação de direitos e de novas relações”, de maneira a investir em projetos individuais ou de grupos, com vista “à re-produção e à re-apresentação dos sujeitos históricos de forma a atender as necessidades de sobrevivência nas relações sociais”. Um dos pressupostos paraa reintegração social é a afirmação da cidadania em termos de uma sociedade que busca a efetivação da democracia, inclusive como se constata nos princípios do Código de Ética dos assistentes sociais de 1993: “ampliação e consolidação da cidadania, considerada tarefa primordial de toda a sociedade, com vistas às garantias dos direitos civis, sociais e políticos das classes trabalhadoras” (CFESS, 2012,p 21). Nessa relação entre a LEP e a deontologia profissional do assistente social, Torres (2009, p. 8-9) afirma que os fundamentos da LEP: [...] já não correspondem aos avanços da profissão no país, atribuindo–lhe uma identidade conservadora para a intervenção nesta instituição, distante dos novos parâmetros éticos e políticos do Serviço Social brasileiro. [...] Aos assistentes sociais neste campo de intervenção, cabe ocupá-lo com responsabilidade ética e política, colaborando com as transformações necessárias, que, para tanto, necessita negar a base tradicional e conservadora, afirmando um novo perfil profissional. Sendo necessárias ao profissional estratégias de atuação que visem à busca pela defesa dos Direitos Humanos e à dignidade da pessoa presa, não somente a partir das limitações impostas pela LEP, mas superando também essa questão e expandindo os limites de atuação por meio de sua autonomia profissional, remetendo sempre à questão ética da profissão. Nesse sentido, “a defesa dos Direitos Humanos no campo profissional remete à questão ética, pois esta é parte integrante do sujeito social, sendo também componente de sua atividade profissional” (Torres, 2009, p. 11). Portanto, a deontologia profissional possui ampla dimensão que ultrapassa qualquer condição minimalista e normalizadora, sendo um instrumento de defesa e orientação para os profissionais, os quais devem basear suas ações interventivas nos processos inerentes às demandas sociais. Ao revelar os princípios e as contradições existentes entre a LEP e a deontologia profissional, fica evidente que a LEP possui algumas divergências com a atual legislação da profissão, pois sendo assim, “tentam impor uma ação profissional que estabelece um conflito axiológico, pois uma dada ética pressupõe a afirmação da ordem e sua ampliação pela lógica liberal; outra se determina pela liberdade nos moldes da emancipação humana” ( Silva, 2014, p.84). No ambiente prisional se confirma um campo de atuação repleto de dilemas para o profissional; se por um lado, há a necessidade de afirmação dos princípios deontológicos da profissão, por outro temos uma realidade que de maneira alguma está preparada para que os princípios mais básicos da dignidade humana se efetivem. Segundo Thompson (1991,p. 56), “o trabalho dos técnicos – terapeutas (pessoal do tratamento: psiquiatras, psicólogos, assistentes sociais, professores) não garante que o tratamento penitenciário seja capaz de transformar criminosos em não criminosos. Na proposta de reintegração / ressocialização, “resta evidente que a extensão dos efeitos ainda mais justifica ao Estado Penal a revitalização da ordem societária presente, pois que a punição se estabelece na seara da classe que deve permanecer como subalternada” (Silva, 2014, p. 64), o que caracteriza a proposta ressocializadora como uma forma mascarada de controle, por meio da dominância de práticas repressivas, sobretudo do autoritarismo policial, legitimando a proposta axiológica do egoísmo, fundamentada no controle de classes. Conforme referenciado, verificamos que algumas atribuições possuem caráter técnico e disforme à axiologia profissional, por exemplo, o caráter linear presentes nas ações elencadas na lei, que coloca o assistente social frente a ações estáticas dentro de uma realidade dinâmica, podendo inclusive ser considerada uma ferramenta que aprisiona e limita a ação profissional, mas também é possível elencar atribuições que, desenvolvidas de maneiras qualificada podem se estabelecer em importantes ferramentas para a efetivação do direito e da “cidadania da população carcerária”, por exemplo, o restabelecimento de vínculos familiares e a inserção em programas sociais. Apesar de a LEP elencar ações a serem realizadas no sentido de promover uma suposta reintegração social daqueles que se encontram entre os muros da enxovia, a instituição penal, como reflexo de um modelo de sociedade excludente, é lugar desfavorável e incompatível com esse suposto, sendo, portanto, a tripla finalidade da prisão um pressuposto romântico na análise do cárcere ou uma forma de discurso para legitimar sua existência. Na realidade, conforme afirma Goffman (1998), a prisão cria na vida do sujeito estigmas sociais irreversíveis, que a pessoa leva para o resto da vida. Trabalhando a prisão no sentido de mitigação da humanização da pessoa presa, veremos que: Ao sair do cárcere, após o cumprimento de uma pena mais ou menos longa, o sentenciado nada mais tem em comum que o segregou: seus valores não são idênticos, como diversas são suas aspirações, os seus interesses e seus objetivos. A volta a prisão funciona como retorno ao lar, e assim se perpetua o entra e sai da cadeia ( Pimentel apud Siqueira, 2001, p. 66) No ambiente prisional, notadamente, desenvolve – se outra base axiológica que difere dos valores da sociabilidade extramuros e coloca os apenados frente a uma realidade que dificilmente será esquecida, mesmo após sair da prisão. A marca de que fora um presidiário permanecerá presente em sua vida. O ambiente de barbárie do cárcere e de violação dos direitos mais elementares forma uma nova subjetividade marcada pela perda de sua autoimagem. A identidade de humano, com tudo o que essa carga semântica determinada historicamente na consciência do ser representa na prisão, fica fortemente comprometida. Dessa forma, o produto do cárcere, o homo carcerem, é uma forma de objetivação do humano com tendência a não mais conseguir se adequar à vida fora das celas, ou de construção de relações que não sejam mediadas pela violência; ela, a violência, passa a ser a pedra de toque do existir, novo “Direito”. Como exemplo, remetemos ao que pode ser chamado de política de “afastamento de vínculos e convívio familiar”, em que os presos cumprem pena em unidades distantes da família, não sendo ofertada a esta condições para a manutenção do convívio familiar. Esse afastamento familiar / social expande a pena, não ficando somente restrita ao autor. Nesse contexto, a pena ultrapassa os muros da prisão, estendendo-se até a família e a sociedade, diria, um genuíno paradoxo entre a materialização da execução penal e os diplomas legais, mas não se restringe somente à falta de convívio familiar. Outro fato verificado diz respeito às denominadas imposições, como a imposição feita para a visita em passar por revistas vexatórias, sendo uma expressão da criminalização das pessoas que se relacionam com o indivíduo aprisionado, uma vez que o visitante já é, a priori, considerado suspeito. Diante da realidade desafiadora do cárcere, a prática profissional do assistente social se encontra, em dada medida, inserida em um contexto de reprodução de barbárie, notadamente norteada pelas bases axiológicas presentes na sociabilidade e por práticas de gestão que se encontram calcadas em estruturas administrativamente militares ou com nexos militares. A prisão é um lugar onde se perpetuam o trabalho mais que explorado, a falta de politicas de saúde, educação, seguridade social, elevados índices de violência etc., portanto, nessarealidade, a atuação profissional do Serviço Social, à luz de sua deontologia vigente, deve desenvolver uma práxis interventiva profissional que interpele pensar em novas formas de efetivação do trabalho, lutar contra barreiras próprias da enxovia para a recuperação da pessoa presa e utilizar seus instrumentais técnicos e opinativos como ferramenta que busquem, de alguma forma, a garantia d direitos para os homens e as mulheres no cárcere. Cabe, portanto, ao Serviço Social, mediante o ainda incipiente arcabouço teórico e as prerrogativas legais, larga reflexão acerca de seu fazer profissional na prisão, sendo de ampla relevância reflexões que busquem entender as conexões que interligam toda a estrutura prisional e que se relacionam diretamente com os trabalhos prisionais, tendo “ como norte a radicalização do conhecimento através de uma postura de razão substantiva” (Silva, 2014, p. 7). Tais reflexões são necessárias para que não haja, por parte assistente social, a ratificação da nefasta realidade que se impõem ao ambiente prisional, considerando que tal esforço confere ao profissional clareza quanto ao direcionamento político da profissão, evitando avaliação equivocada dos princípios que norteiam o projeto político-profissional, sendo por vezes necessário, até mesmo um redimensionamento da prática profissional. Outro fator notadamente existente no cárcere e que deve se constituir em espaço de intervenção profissional comprometido com o usuário é o definhamento dos parcos direitos existentes, pois a estrutura carcerária não se encontra preparada para a garantia dos mínimos direitos sociais, por exemplo, o direito a educação, já que a maioria da população carcerária não tem acesso aos programas educacionais extramuros, condicionando o preso à manutenção da falta de instrução, o que certamente, quando egresso, o levará a circunstância de vulnerabilidades econômica e social. Diante da compreensão posta, verifica-se que a atuação do assistente social, em seu conjunto de atividades desempenhadas no sistema prisional, encontra-se interposta às condições do cárcere, que ultrapassam as questões internas da profissão, conformando-se nos condicionantes externos que não dependem somente do profissional, pois conforme afirmara Iamamoto (2009, p. 94), os fatores externos compreendem “ as relações de poder institucional, os recursos colocados à disposição para o trabalho pela instituição empregadora, a realidade social da população usuária dos serviços prestados etc.”. É possível desenvolver algumas ações no sentido de garantir alguma condição de dignidade à pessoa presa, mas não há como afirmar a efetividade dessas ações, pois a realidade intramuros, bem como da sociabilidade vigente, caminha no sentido oposto ao da emancipação humana. Sem querermos ponderar no campo estrito de uma postura cética, porém, considerando os termos da realidade, podemos sopesar que as ações possíveis de serem desenvolvidas pelo profissional de Serviço Social, no sistema prisional e nos moldes atuais, são um conjunto de ações dentro do escopo da redução de danos que lutam pela preservação da integridade orgânica da população carcerária, um limite inequívoco à atuação profissional e que se constitui ao mesmo tempo em imperioso desafio. As determinações da realidade impõem ao profissional de Serviço Social gigantesco repto. Se, por um lado, na efetivação da atual lógica de encarceramento e do cotidiano intramuros, não podemos afirmar a possibilidade de efetivar dignidade inerente ao humano, por outro, vemos a existência de um rico espaço de atuação a fim de mitigar no modelo societário atual – que amplifica a existência da pessoa como criminosa – a lógica de coisificação do ser, estando, pois o profissional de Serviço Social inserido na condição nevrálgica de um cenário cruento de reificação das relações humana. Dessa feita, não cabe ao profissional de Serviço Social apenas a reprodução de ações técnicas e pontuais, que por vezes podem imprimir traços disciplinares e preconceituosos, uma vez que a visão que perpetua acerca desse universo é a mais descontextualizada possível do meio social, e com ranços moralizantes e repletos de nexo ideológico forjado a axiologia presente. O cárcere, portanto, é um curioso espaço de lutas, e seguramente nos termos de Silva (2014), laboratório singular de objetivação humana com referência elevada na axiologia da forma de existir em sociedade. Em tal construto, ao profissional que atua nesse ambiente se cobra não só a devida prudência em conheceras silhuetas das relações intramuros, mas sobretudo, estabelecer alianças a fim de possibilitar sua atividade profissional. O cárcere não é laboratório para amadores, carece de arguta metodologia de trabalho, ainda porque, mais que nunca nesse espaço a lógica de disputa, da eliminação do outro, do compadrio e definitivamente de relações mercadológicas é mesmo algo medonho. 2.3 Laços familiares Uma família é formada não apenas pela relação de sangue que os membros têm, mas sim pelos laços de amor, carinho que se estabelece entre eles. As relações que são construídas pelas pessoas nesse ambiente devem ser pautados na confiança, mais do que isso, devem ser estabelecidos por meio da conversa, do toque, do abraço, das demonstrações de afeto, da troca de experiências e da aprendizagem que se dá entre essas ligações. É na família que surgem os primeiros aprendizados e, é dela que recebemos os exemplos para nosso comportamento e atitudes. Ela promove a educação das gerações mais novas, das suas tradições, cultura e valores, transmite posicionamentos, opiniões e reflexões sobre o mundo e a sociedade em que vive. A personalidade de cada indivíduo recebe forte influência da sua família, todos somos parte de uma família, e todos carregamos em nós não o DNA, mas um pouco do que ela é. Desenvolver relações saudáveis entre pais e filhos é essencial dentro do ambiente familiar. A família é como uma planta, que necessita ser regada, nutrida constantemente. Os erros e as experiências de vida são outros aspectos a serem compartilhados entre os membros da família. A família é o berço do amor, da compreensão, do afeto, é o lugar onde as pessoas devem encontrar apoio, lições e aprendizados, mas que acima de tudo, as relações sejam saudáveis e de convivência harmônica. 2.4 A família e a pessoa privada de liberdade A prisão, consequentemente o prisioneiro se mostra à sociedade como uma “doença” com elevada carga de preconceitos, sejam familiares ou sociais, até mesmo por parte do próprio sistema que não cumpre seu papel. Neste sentido, a família representa o alicerce fundamental para que o encarcerado consiga manter – se na linha e possa voltar ao convívio familiar e social, mesmo tendo sofrido com a situação degradante enfrentada dentro das cadeias. A família diante dos problemas que envolvem o fato de ter um parente prisioneiro, deve ser capaz de lançar mão de mecanismos de enfrentamento próprios, participando na recuperação do preso de maneira positiva ao acolher esta modificação e buscando ajuda dos serviços especializados para esclarecimento de dúvidas, bem como se informar sobre os meios necessários à ressocialização do apenado. Os familiares que mostram atitudes de apoio e incentivos aos parentes presos conseguem motivá-los a cumprir de forma correta todo processo de recuperação no tempo previsto. Já quando a família estigmatiza o indivíduo encarcerado, lhe faltando com a assistência e os cuidados necessários, as complicações e o abandono da responsabilidade se tornam mais frequentes fazendo com que o prisioneiro vivencie uma mistura de sensações de culpa, desprezo, revolta, o deixando desmotivado e sem razão para continuar existindo. Conforme dito anteriormente, a mistura de sentimentos que ocorre no indivíduo integra a afetividade;e aprender a cuidar adequadamente, de todas essas emoções, é que vai proporcionar ao sujeito em situação de encarceramento, uma vida emocional plena e equilibrada, preparando – o para adquirir os conhecimentos ao retorno ao convívio social. 2.5 Saúde A Constituição da República Federativa de 1988 dispõe em seu art. 196 “ A saúde é direito de todos e dever do Estado, garantido mediante políticas sociais e econômicas que visem a redução de risco de doença e de outros agravos e ao acesso universal e igualitário às ações e serviços para a sua promoção, proteção e recuperação. No Brasil, temos um sistema de saúde garantido pela Constituição Federal, que se constitui no Sistema Único de Saúde – SUS. Para Campos at.al (2006, p. 531 apud ZETSZCHE, 2014, p. 87), o SUS é: [...] o arranjo organizacional do Estado Brasileiro que dá suporte à efetivação da política de saúde no Brasil, e traduz em ação os princípios e diretrizes desta política. Compreende um conjunto organizado e articulado de serviços e ações de saúde, e aglutina o conjunto das organizações públicas de saúde existentes nos âmbitos estadual, municipal e nacional, e ainda os serviços privados de saúde que o integram funcionalmente para prestação de serviços aos usuários do sistema, de forma complementar, quando contratados ou conveniados para tal fim. O SUS foi instituído com o objetivo de coordenar e integrara as ações das três esferas de governo e pressupõe a articulação de subsistemas verticais (de vigilância e assistência à saúde) e subsistemas de base territorial-estaduais, regionais e municipais para atender de maneira funcional às demandas por atenção à saúde. Historicamente, a população brasileira era desassistida de assistência médica e, quando acometida de doenças, recorria às crenças e à medicina natural; o auxílio ao povo era feito pelas Santas Casas de Misericórdias. Somente a partir da industrialização no país e dos movimentos sindicalistas é que o Estado passa a atuar na área da saúde, com a criação de aposentadorias e pensão, mas que permitiam somente aos contribuintes o acesso à assistência médica, enquanto a maior parcela da população ficou à margem deste direito. Durante o período militar, a iniciativa privada passa a ter participação no sistema com os convênios e planos de saúde. Essas medidas contribuíram para a Reforma Sanitária que levou à criação do SUS, que segundo Arouca (1998 apud ZETZSCHE, 2014, p. 79): [...] nasceu na luta contra a ditadura, com o tema Saúde e Democracia, e estruturou-se nas universidades, no movimento sindical, em experiências regionais de organização de serviços. Esse movimento social consolidou- se na 8° Conferência Nacional de Saúde, em 1986, na qual, pela primeira vez, mais de cinco mil representantes de todos os segmentos da sociedade civil discutiram um novo modelo de saúde para o Brasil. O resultado foi garantir na Constituição, por meio de emenda popular, que a saúde é um direito do cidadão e um dever do Estado. Posteriormente, em 1990, foi promulgada a Lei Orgânica do SUS, com as Leis n° 8.080 e n° 8.142, que tem como base de sustentação os princípios norteadores do Sistema Único de Saúde Brasileiro: Princípio da Universalidade: que estabelece a todos o direito de atendimento pelo Sistema Único de Saúde. Princípio da Integralidade: que relaciona dois aspectos do SUS, o primeiro refere-se à compreensão do ser humano biopsicossocial que requer um atendimento em sua integralidade; e o segundo aspecto integra as ações do Sistema Único de Saúde para o atendimento integral entre os diferentes níveis de complexidade de atenção à saúde. Princípio da Igualdade: que possibilita as mesmas condições de acesso ao Sistema Único de Saúde neste país, onde ninguém pode solicitar um atendimento diferenciado, seja um pedido por apadrinhamento político, ou pelo nível social, raça, gênero. 2.6 - Saúde / Serviço Social no sistema prisional A Saúde Prisional foi criada por meio da Portaria Interministerial n° 1.777 de 09 de setembro de 2003 que aprovou o Plano Nacional de Saúde no Sistema Penitenciário, porém em 2014 passou a ser uma Política Nacional através da Portaria Interministerial n° 1 de 2 de janeiro de 2014, a qual institui a Política Nacional de Atenção Integral à Saúde das Pessoas Privadas de Liberdade no Sistema Prisional (PNAISP) no âmbito do Sistema Único de Saúde (SUS) Conforme a atual política de atenção à saúde prisional (Brasil, 2014) os serviços de saúde nos estabelecimentos prisionais serão prestados por equipes multiprofissionais denominadas Equipes de Saúde no Sistema Prisionais (ESP), regulamentadas a partir da Política Nacional de Atenção Integral a Saúde das Pessoas Privadas de Liberdade (PNAISP). As principais ações da PNAISP são: 1 – Garantir o acesso à Rede de Atenção à Saúde no território com mais agilidade, equidade e qualidade; 2- Promover ações para a promoção de doenças e prevenção de doenças transmissíveis e dos agravos decorrentes do confinamento; 3 - Melhorar as ações de vigilância sanitária na alimentaçãoe nas condiçõesde higiene dentro das unidades prisionais e para garantir a salubridade ambiental; 4 - Operar estendendo e aprofundando as ações de todos os programas do Ministério da Saúde; 5- Atuar na prevenção do uso de álcool e de drogas e na reabilitação de usuários; 6- Garantir medidas de proteção, como a vacinação para hepatite, influenza e outras do calendários de adultos; 7 – Garantir ações de promoção de saúde bucal (ex: palestras, escovação e avaliação bucal) e tratamento; 8 – Garantir o acesso aos programas de saúde mental, gerais e específicos; 9 – Garantir aquisição e repasse de medicamentos da farmácia básica às equipes de Saúde e desnutrição de insumos (preservativos, absorventes, entre outros) para as presas; 10 – Multiplicar às unidades básicas de saúde prisional e promover o seu funcionamento na lógica do SUS. A Política Estadual de Atenção Básica à Saúde das Pessoas Privadas de Liberdade, no âmbito do SUS, tem por objetivo a garantia do acesso ao atendimento integral à saúde em nível de atenção básica às pessoas privadas de liberdade e segue as diretrizes da PNAISP. As solicitações de saúde são feitas através dos atendimentos cotidianos com familiares de pessoas privadas de liberdade que durante os dia de visita em unidades prisionais observam que o interno precisa de algum atendimento específico. Deve-se observar que o compromisso dos assistentes sociais nesta área de atuação, é garantir os direitos humanos dos internos. Neste contexto, nota-se que apesar dos limites institucionais impostos e a burocracia ao qual estão submetidos, os assistentes sociais buscam compreender esta demanda e a realidade ao qual estão inseridos, visando a garantia dos direitos dos apenados que se encontram em detenção, mesmo com essas limitações. Como explica Teixeira (2013): O SUS pode ser entendido, em primeiro lugar como uma “Política de Estado” materialização de uma decisão adotada pelo Congresso Nacional, em 1988, na chamada Constituição Cidadã, de considerar a Saúde como um “ Direito de Cidadania e um dever do Estado” (Teixeira, 2013, p. 1) Diante disso a Constituição Federal de 1988, também conhecida como Constituição Cidadã, reconhece á saúde como direito de todos e dever do Estado, garantido mediante políticas sociais e econômicas que visem à redução do risco de doença e de outros agravos e ao acesso universal e igualitário. A realidade das pessoas que se encontram hoje em situação de encarceramento é alvo de debates, pois esta população perdeu o direito a liberdade, mais não perdeu os direitos assegurados constitucionalmente. É nesse contexto que a atuação do assistente social se torna imprescindível, seuma pessoa em liberdade tem dificuldade ao acesso a saúde, a pessoa encarcerada essa dificuldade é maior. O que se pode observar e destacar na atuação do assistente social no sistema penitenciário, são as formas da questão social que assumem uma amplitude global e entre seus efeitos, destacar o desemprego estrutural, aumento da pobreza e da exclusão social. Entendemos que a partir desta capacitação, o assistente social estará caminhando para a realização do compromisso profissional visando a equidade, a igualdade, a justiça social e a ampliação dos direitos sociais. Assim, para que o profissional do Serviço Social possa efetivar seu trabalho dentro do sistema penal, faz-se necessário também, atividades estejam em consonância com o Código de Ética Profissional. Porém: O Código possui uma dimensão ampla que ultrapassa o caráter normalizador; é um instrumento de defesa dos direitos e deveres do profissional, orientando-o quanto aos princípios fundamentais éticos e políticos em que devem basear-se suas ações de acordo com as demandas sociais colocadas a profissão (TORRES, 2001, p.89). O Código de Ética Profissional objetiva valores norteadores da profissão, tais como: o reconhecimento da liberdade como valor ético central, bem como preza pelo compromisso com a autonomia, a emancipação e a plena expansão dos indivíduos, a defesa intransigente dos direitos humanos. O Serviço Social se desenvolve num cenário de criação de ambientes propícios a prática profissional, rompe com paradigmas tradicionais e com o senso comum e cria suas raízes em um ambiente político uma vez que incita a participação da sociedade, a teoria define a intenção da prática profissional, sendo assim não existe prática profissional sem teoria, pois a teoria fundamenta a intervenção do profissional. 2.7- Atuação do assistente social junto a DAB / CAS A atuação do profissional de serviço social junto a DAB (Diretoria de Assistência Biopsicossocial) e CAS (Coordenadoria de Assistência Social) realizam um trabalho em conjunto. A CAS realiza orientação e acompanhamento psicossocial; assuntos problemáticos diversos referente ao cadastramento de visitantes, encaminhamentos à rede de serviços ( Casa da Justiça – TJ/PA ; Defensoria Pública, CRAS; SEJUDH; INSS dentre outros promoção de cursos e de eventos comemorativos; solicitação e resposta de transferência de internos de unidade penais; pedidos de revogação de suspensão de cadastro de visita. A DAB, compete planejar, coordenar, executar, supervisionar, monitorar, promover e avaliar as atividades de assistência biopsicossocial e de promoção à saúde e prevenção de doenças de pessoas presas e internadas no sistema penitenciário. Realiza visita domiciliar e institucional (nesta se faz comumente em hospitais). As ações desenvolvidas pelo profissional de Serviço Social não são necessariamente prontas e acabadas, pois existe todo um processo de trabalho que deve ser analisado, cabendo-lhe a construção de respostas profissionais direcionadas a autonomia, auto desenvolvimento e ao fortalecimento das potencialidades dos seus usuários, buscando sempre uma perspectiva transformadora. 3 PROBLEMATIZAÇÃO DO TEMA E A RELAÇÃO COM A QUESTÃO SOCIAL Sabe-se que a problemática que envolve a exclusão social, está inserido na exclusão econômica e política, assim como na falta de acesso ao emprego, à informação, à moradia, a uma educação de boa qualidade, à saúde, à segurança, dentre outros que interagem entre si promovendo a completa privação do exercício da cidadania. Conforme salienta Lídio de Souza (2004): A característica mais importante que se pode identificar na definição genérica de exclusão refere-se à privação. Excluir é afastar, é privar alguém. Os dispositivos jurídicos criados nas diferentes sociedades explicitam as várias situações em que as pessoas, em função de autoridades constituídas, podem ser privadas de contatos, de bens materiais, e da liberdade. Presenciamos a cada dia, uma sociedade produtora da desigualdade e da exclusão social, cujo como consequência destaca-se a criminalização resultante da fragilidade da população proveniente da pobreza, sem contar que vivemos em uma sociedade que exclui parte da sociedade que não lhe é útil, a exemplo: o doente, o idoso, o pedinte, o delinquente, o preso. Este, sendo levado à inclusão marginal e posteriormente ao mundo do crime a ao encarceramento. Dentro do contexto, conforme expõe Souza (2012.p 3), poderíamos dividir a literatura em três grandes concepções ou paradigmas de exclusão social: 1°) Aquela que culpa os indivíduos por sua falta de motivação e sua auto exclusão da sociedade como um todo, embora a responsabilidade última seja colocada no walfarestate, que é visto como impulsionando um estado de “dependência “, segundo o qual, mesmo se o trabalho está disponível no mercado, a subclasse não quer pegá-lo. Ou seja, é um produto de políticas sociais mal concebidas que dão origem a conjuntos de indivíduos não– desejosos de trabalhar ou irresponsáveis. 2°) Aquela que vê o problema como um tipo de falha do sistema de providência de empregos, que leva a uma situação de “ isolamento social” em que as pessoas perdem a capacidade para encontrar trabalho, em conjunto com um isolamento espacial das oportunidades de trabalho. 3°) Por fim, há aquela que pontua a rejeição ativada subclasse pela sociedade, por meio da diminuição da indústria, da estigmatização dos desempregados, e da estereotipação de uma subclasse como criminogênica e drogada, cujas imagens são frequentemente racializadas e cheia de preconceito. Em suma, a pobreza, a exclusão e as desigualdades sociais, são algumas das expressões da questão social que tornam homem vulnerável ao mundo do crime. Dentro dos presídios as dificuldades como superlotação e condições precárias das celas, fere o direito dos apenado, dificultando processo de adequação para o retorno ao convívio social. Sob esta realidade brasileira, Torres (2001, p. 77) afirma: O sistema prisional é um sistema que apresenta sérios problemas e sobrevive caoticamente, mantendo em constante conflitos e sob o jugo da violação dos direitos humanos de milhares de homens e mulheres presos. Esse quadro decorre da ausência de uma política institucional definida e estruturada em níveis nacionais que construa novos parâmetros e objetivos para o sistema penitenciário além da segurança e do encarceramento. Considerando que é ligado ao cárcere a produção de criminalidade e que a população carcerária é formada por indivíduos que de uma certa forma, em suma maioria, apresentam uma trajetória de exclusão social, esta, se agravando com a passagem pela prisão. O papel do serviço social dentro do sistema prisional, é de uma profissão regulamentada, com atribuições definidas, especializada, não podemos deixar de trazer uma descrição da categoria que nos ratifique no cenário profissional. Segundo Iamamoto ( 1998 p. 20): Diante da importância da temática acima mencionada, entende-se que o Assistente Social dispõe de um código de Ética profissional e embora o Serviço Social seja regulamentado como uma profissão liberal, não tem essa tradição na sociedade brasileira. É um trabalhador especializado, que vende a capacidade de trabalho para algumas entidades empregadoras. O Assistente Social te sido historicamente um dos agentes profissionais que implementem políticas sociais, especialmente políticas públicas. Profissional do Serviço Social, dedica-se ao máximo para atendera demanda imposta pelo sistema, enfrentando diversos problemas desde a falta de estrutura e instrumentos para o fazer profissional, sobrecarregando - se diante dagrande demanda e atribuindo a esses profissionais algumas tarefas que não correspondem a sua função, prejudicando dessa maneira o atendimento aos internos os privando do atendimento individual, os delimitando o seu direito à individualidade. Embora haja dificuldade enfrentada no cotidiano profissional do assistente social este, dentro das possiblidades, procura garantir aos apenados e familiares os direitos alencados na Lei de Execução Penal- LEP ( Lei n° 7.210/84). De acordo com o exposto, o serviço social no sistema prisional, propicia atendimentos, cria possibilidades de convívio social entre os apenados e seus familiares. No sistema penitenciário observa-se que o serviço social enfrenta algumas limitações, porém considera as leis, normas e decretos em vigor que determinam as atribuições do assistente social em sua profissão na unidade prisional, a exemplo legislações como: Sistema Único de Saúde (SUS), Sistema Único de Assistência Social (SUAS), Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), Estatuto do Idoso, dentre outras legislações direcionadas ao usuário do serviço social. Por fim, o serviço social na unidade prisional possui o papel de garantir à população carcerária os devidos direitos, igualdade e humanização no atendimento, prestando assistência aos internos e familiares, assim como também, orientar e esclarecer aos internos sobre seus direitos e deveres dentro da instituição prisional, estabelecendo desta forma, uma relação entre o profissional, o encarcerado e familiares, afim de promover posteriormente, uma reintegração deste ao convívio social. 4 – JUSTIFICATIVA Há uma inegável discrepância entre nossa realidade prisional e o que é preconizado em nossa legislação. A falta de políticas públicas e o descaso com as normas existentes fazem com que a ressocialização não aconteça. Para possibilitar a ressocialização dos condenados é necessários colocar em prática às normas existentes em nosso ordenamento jurídico, especialmente na LEP- Lei de Execução Penal, tendo como base medidas de assistência aos apenados. Lei de Execução Penal brasileira é considerada uma das mais modernas, mas é inexequível em muitos de seus dispositivos por falta de estrutura adequada ao cumprimento das penas privativas de liberdade e das medidas alternativas previstas. Aliás, são inúmeras as demonstrações de falência do sistema prisional, visto que os órgãos de comunicação diariamente noticiam problemas de superlotação atrelados a rebeliões, motins e fugas que acabam por estampar de forma pública e notória, a total ineficiência do Estado na recuperação e ressocialização do apenado dando mostras cabais do caos vivido pelo sistema prisional. A solução para que a ressocialização se efetive é uma política de carcerária que garanta a dignidade a Pessoa Privada de Liberdade. A família do PPL e os vínculos afetivos constituem pilares sólidos para uma boa regeneração, fortalecendo e incentivando – o a não mais delinquir. A pena privativa de liberdade não recupera ninguém, mais é nesse momento de reclusão que os agentes penitenciários deveriam trabalhar para fortalecer os laços do preso com a família, trata-lo como ser humano, e demonstrar o quanto é significativa uma participação dele na sociedade de maneira ética e justa. Oferecer-lhes um ajuste ético e planejar - lhes experiências que os façam sentir, conscientes de que o crime não compensa. A convivência entre preso e família, é de suma importância para o processo de reinserção social da pessoa privada de liberdade. No sistema prisional brasileiro as atividades exercidas pelos detentos não configuram uma atividade capaz de formar indivíduos preparados para retornar ao convívio social, pois eles não são educados para adquirir conhecimento técnico necessário a reintegração social. É preciso reorganizar a forma de aplicação do trabalho, devendo além de ocupar o tempo ócios, preparar e oportunizar esses sujeitos para escolhas mais conscientes e transformadoras. O estudo e o trabalho devem ser incentivados através de parcerias ou convênios com empresas públicas ou privada com o objetivo da formação profissional com condenados conforme Art. 34 da LEP. O conceito de ressocialização de detentos, pelo trabalho e pela qualificação profissional, com o propósito de prepará-los ao reingresso social, baseia-se na afirmação de que o trabalho é fonte de equilíbrio na nossa sociedade e também é agente ressocializador nas prisões de mundo todo. Através do trabalho, os indivíduos garantem equilíbrio e melhor condicionamento social. Ensinar é um ofício enquanto cumprem a pena é a maneira mais eficaz para ressocializar os presos. Ao oferecer uma formação profissional como direito do preso ou como dever do Estado pode-se qualificá-lo profissionalmente, principalmente se o ilícito que levou a cumprir a pena tenha sido consequência de não habilitação educacional ou profissional, pois assim facilita um futuro para o PPL mais favorável a reinserção social, e ainda previne reincidência. A presença do assistente social nas unidades prisionais sempre esteve vinculada à promoção que visassem assegurar aos assistidos a reintegração à sociedade. Em 08 de dezembro de 1951 foi assinada a Lei n° 1651 que regulamentou o exercício da profissão definindo assim as atribuições do Serviço Social no sistema prisional. No cotidiano profissional do assistente social existem as intervenções que possibilitam ao preso e sua família acessarem os recursos e serviços sociais. Nesta perspectiva, o profissional de serviço social deve estar atento quanto a situação vivenciada pelo sujeito e seus familiares. No âmbito da família devem ser observados os encaminhamentos à rede de serviços públicos, como benefício do INSS, auxilio-reclusão, etc. Ainda no campo do acesso aos direitos, uma das intervenções realizadas pelo assistente social é o reconhecimento de paternidade. No que se refere aos atendimentos das demandas cotidianas deve o assistente social estar atento para as dificuldades enfrentadas pelas pessoas privadas de liberdade no que tange as condições de habitualidade no cárcere, questões de saúde e de relacionamento entre os internos, pois tudo repercute no pronto atendimento, umas das funções mais requisitadas aos assistentes sociais. Nesses atendimentos é possível identificar situações graves que devem ser encaminhadas e acompanhadas até sua resolutividade. Quando estendidas as famílias, o profissional tende a dialogar com outros setores e segmentos da sociedade, desvelando a rede que dará acesso a bens e serviços dos usuários. Na atuação cotidiana, todas as situações de intervenções geram comprometimento na ação profissional e geralmente devem ser divididas com outros profissionais que atuam no sistema prisional ou em torno dele, formatando uma rede multidisciplinar para atender as demandas dos presos. Sempre é possível buscar um dialogo com outros operadores do sistema penal, profissionais que seguidamente contribuem para a extensão da ação. Um dos fatores importantes ao enfrentamento da problemática penitenciária é a valorização das políticas de assistência prevista na Lei de Execuções Penais – LEP: assistência material, à saúde, à educação, à assistência jurídica, social e religiosa. 5 – OBJETIVOS DA PESQUISA A seguir serão enunciados os objetivos geral e específicos deste trabalho. 5.1 OBJETIVO GERAL Compreender a atuação do assistente social na DAB – Diretoria de Assistência Biopsicossocial. A Diretoria de Assistência Biopsicossocial - DAB subordinada diretamente à Diretoria Geral Penitenciária, compete planejar, coordenar, executar, supervisionar, monitorar, promover e avaliar as atividades de assistência biopsicossocial e de promoção à saúde e prevenção de doenças de pessoas presas do Sistema Penitenciário. 5.2 OBJETIVO ESPECÍFICO Compreender o papel dafamília no processo de ressocialização da pessoa privada de liberdade; Analisar a importância da socialização das informações e a possibilidade de uma possível inclusão no mercado de trabalho; Identificar a importância da escuta nos atendimentos cotidianos realizados na DAB – Diretoria de Assistência Biopsicossocial; Interpretar o perfil da pessoa privada de liberdade que recebe visita; 6 – METODOLOGIA DE PESQUISA A pesquisa teve como objetivo principal compreender a importância da família na vida da pessoa privada de liberdade, conhecer as possíveis políticas de reinserção social, destacando que a família, a educação e a formação profissional configuram-se em meios para prepara-los ao convívio social. A metodologia utilizada durante a construção deste projeto foi a pesquisa bibliográfica em livros, revistas, periódicos, materiais disponíveis na internet, portarias disponibilizadas no site da Superintendência do Sistema Penitenciário do Estado do Pará, bem como também foi realizada a entrevista com dois internos que encontram – se custodiados no Centro de Recuperação do Coqueiro – CRC onde se utilizou um questionário composto de doze perguntas. Como instrumental, foi utilizada entrevista que é uma forma de relação entre o assistente social e o usuário, ou seja é o momento que o profissional tem para estabelecer confiança entre usuário, para que este consiga realizar relatos e repassar informações importantes para o profissional que esta no papel de entrevistador. Este instrumento busca compreender, identificar ou constatar uma determinada situação, que o assistente social emite sua opinião profissional e seu parecer. O objetivo da entrevista se configura como uma mediação necessária ao processo de conhecimento e intervenção profissional. Dependendo das finalidades e peculiaridades dos diferentes espaços sócio-ocupacionais do Serviço Social, este instrumental pode ser utilizado com objetivos específicos. De uma forma geral a entrevista tem dois objetivos principais: conhecer a realidade dos usuários e prestar informações sobre as situações demandadas por esses, além de fazer encaminhamentos e orientações com vistas a garantias de seus direitos. Pode utilizar-se também dos atendimentos cotidianos realizados na DAB/CAS onde é possível notar a atuação do assistente social junto à essas famílias que buscam atendimentos, seja para a efetivação de cadastro ou para solicitar algum tipo de atendimento que seja de interesse de seu ente recluso. 7 – ANÁLISE DOS DADOS DA PESQUISA Como instrumento de coleta de dados da pesquisa, foram utilizadas entrevistas semiestruturadas gravadas e posteriormente transcritas. A escolha desse instrumental, deve - se a possibilidade que o mesmo pôde oferecer para obter do entrevistado os motivos que o levaram a ingressar no mundo crime, bem como conhecer os sentimentos e impressões que a vida carcerária apresenta para essas pessoas, entender a importância da família como principal meio ressocializador e a atuação do profissional de Serviço Social no campo penitenciário. Estas entrevistas semiestruturadas foram norteadas sob um roteiro que tinha como objetivo conhecer a um pouco da vida da pessoa privada de liberdade, de como a família poderia ajudar nesse processo de retorno ao convívio social, bem como conhecer também os reflexos causados no ambiente familiar. Buscou-se também analisar o perfil do PPL - Pessoa Privada de Liberdade que recebe visita,e o perfil do apenado que não tem esse contato com a família nos dias de visita. As entrevistas foram feitas através de uma conversa formal, sob a autorização dos entrevistados, cujo os nomes não foram e nem serão apresentados para fins de preservação de identidade. Entrevistado A–“[...] eu era coordenador de escotismo por 12 anos, trabalhava com adolescente e acebei me envolvendo com duas menores de idade uma de 13 e outra de 14 anos... Antes de ser preso tinha uma vida agitada, ia ao cinema, viajava, fazia acampamento, procurava sempre ir atrás de familiares que moravam distantes...Tinha um relacionamento com uma pessoa, não deu certo e me deixei levar por um momento de carência...Sou o filho mas novo, minha família vem me visitar todos os finais de semana, vem minha mãe, meu pai e minha irmã... Com a prisão o nosso vínculo familiar se fortaleceu, quando eu era livre encontrava eles somente aos finais de semana devido a rotina do dia a dia...Tenho consciência das dificuldades que minha família enfrenta, nunca exigir nada.. Quando eles vem me visitar conversamos coisas boas... Vim do CTM II e em 2014 no CRF trabalhei como eletricista, e desde 2017 trabalho como facilitador de alfabetização e letramento... em setembro de 2013 fui preso tinha 30 anos estudei o ensino médio, hoje faço curso EAD de analise de desenvolvimento de sistemas desde o segundo semestre de 2017... Aqui dentro a gente se fecha muito, estou a 5 anos no mesmo anexo e tenho uma boa convivência dentro da cela... Assumir um papel de liderança dentro do bloco carcerário, ajudo quando necessário, sou responsável pela listagem de nomes para a limpeza das celas, do banheiro e na distribuição de pães e material de higiene... Na rotina carcerária a gente se blinda, minha pena foi de 73 anos pelo artigo 217 contra 6 visitas, já cumpri 6 anos... Faço parte do projeto leitura que liberta, de segunda a quinta feira pela manhã como facilitador de alfabetização e letramento, das 18 h às 21 h curso EAD... Passei 12 anos cuidando do filho dos outros, as vezes o simples ato de emprestar uma caneta ajuda muito aqui dentro... Tenho experiência profissional, trabalhei de carteira assinada como analista de cobrança por um ano, eletricista predial, prestei serviço em um cyber fazendo edições de vídeo... Sou adventista, não tenho filhos... “Como lição de vida tento melhorar o dia de hoje, não tenho pressa, vivo um dia de cada vez.” Entrevistado B – “[...] fui acusado de uma coisa que eu não fiz, já sair várias vezes do sistema mais sempre volto... Cair na cadeia era menor de idade tinha 14 anos... Desde menor já cometia crime 157... Minha família mora toda em Gurupa – Amazonas e ninguém vem me visitar... Aqui dentro não tem nada, não tem trabalho, não estudo, só saiu duas pra pegar banho de sol dois dias na semana... Antes de ser preso eu estudava parei na 3° e 4° série, estudei ate 25 anos... Nunca tive saída temporária, espero mudar de vida, tenho quatro filhos menores de idade... Quando vejo outros presos com suas famílias, passa mil coisas pela minha cabeça, ajuda a repensar na vida... Em Altamira eu recebia visita da minha irmã isso foi em 2009, quando vim pra Belém não tenho visita e nem contato com ninguém da minha família ... Tenho uma irmã que mora em Belém mais ela não me visita... Só tenho meu pai vivo e quando perdi minha mãe tinha 14 anos e já estava preso a um ano e quatro meses... Em Gurupa tudo sou eu, sou conhecido lá, tenho ficar pagando pelos erros dos outros... Antes de ser preso eu trabalhei com serviço braçal, pedreiro, eletricista, nunca trabalhei de carteira assinada, nunca fiz curso... Sou o segundo filho de nove irmãos, sou católico... Sempre tive um bom relacionamento com a minha família , mas depois que minha mãe morreu, meu pai abandonou eu e meus irmãos... Não é difícil sair do mundo do crime, basta querer. A Constituição Federal prevê claramente como responsabilidade do Estado à frente de todos os cidadãos direitos e deveres fundamentais, que abrange também a população que adentra o sistema prisional. A pessoa privada de liberdade devem ser proporcionadas condições mínimas para que sua integração social dentro das unidades prisionais, buscando assim a não violação de seus direitos. O conceito de ressocialização de apenados, através do trabalho e da educação, tem o objetivo de prepara-los
Compartilhar