Buscar

Compendio_de_orientacao_profissional_carreira_1

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 3, do total de 215 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 6, do total de 215 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 9, do total de 215 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Prévia do material em texto

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)
(Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil)
 
Compêndio de orientação profissional e de carreira, volume 1 :
perspectivas históricas e enfoques teóricos clássicos e modernos / Marcelo Afonso Ribeiro,
Lucy Leal Melo-Silva (organizadores).
-- 1. ed. -- São Paulo : Vetor, 2011.
Vários autores.
Bibliografia
1. Comportamento - Análise 2. Escolha de profissão 3. Psicologia do
trabalho 4. Orientação profissional I. Ribeiro, Marcelo Afonso.
II. Melo-Silva, Lucy Leal.
11-00877 CDD – 158.6
 
Índices para catálogo sistemático:
1. Orientação profissional : Análise do
comportamento : Psicologia aplicada 158.6
 
ISBN: 978-85-7585-811-0
 
Projeto gráfico: Adriano oliveira
Capa: Enio Rodrigues
Revisão: Mônica de Deus Martins
 
© 2011 – Vetor Editora Psico-Pedagógica Ltda.
É proibida a reprodução total ou parcial desta publicação, por qualquer meio existente e
para qualquer finalidade, sem autorização por escrito dos editores.
S������
Prefácio
Maria do Céu Taveira
Introdução 
Marcelo Afonso Ribeiro, Lucy Leal Melo-Silva
PARTE I – Introdução à Orientação Profissional
1. Breve histórico dos primórdios da Orientação Profissional
Marcelo Afonso Ribeiro
2. Orientação Profissional: uma proposta de guia terminológico 
Marcelo Afonso Ribeiro
3. Enfoques teóricos em Orientação Profissional 
Marcelo Afonso Ribeiro
PARTE II – Teorias de escolha e desenvolvimento de carreira: origens, evolução e
conquistas atuais
4. Primeira demanda-chave para a Orientação Profissional: Como ajudar o indivíduo
a realizar seu ajustamento vocacional/ocupacional? Enfoque traço-fator
Marcelo Afonso Ribeiro, Maria da Conceição Coropos Uvaldo
5. Segunda demanda-chave para a Orientação Profissional: Como ajudar o indivíduo
a entender os determinantes de sua escolha e poder escolher? Enfoque
psicodinâmico
Yvette Piha Lehman, Fabiano Fonseca da Silva,
Marcelo Afonso Ribeiro, Maria da Conceição Coropos Uvaldo
6. Terceira demanda-chave para a Orientação Profissional: Como ajudar o indivíduo
a desenvolver sua carreira?
Enfoque desenvolvimentista e evolutivo 
Maria Célia Pacheco Lassance, Ângela Carina Paradiso,
Cíntia Benso da Silva
7. Quarta demanda-chave para a Orientação Profissional: Como ajudar o indivíduo a
compreender seu processo de tomada de decisões e desenvolver um método de
escolha?
Enfoque decisional e cognitivo 
Maria Odília Teixeira
8. Quinta demanda-chave para a Orientação Profissional: como ajudar o indivíduo a
entender e enfrentar as múltiplas transições em sua carreira? Enfoque transicional 
Mauro de Oliveira Magalhães
 
Sobre os autores 
P�������
Em fevereiro de 2009, celebrou-se o centenário de um marco
histórico da Orientação Profissional, a edição da obra Choosing
a vocation, de autoria do norte-americano Frank Parsons. Nesse
livro, é apresentado o primeiro modelo de aconselhamento no
âmbito da Orientação, que guia, ainda, muito do pensamento e
da ação dos profissionais de orientação pelo mundo fora e
também a ideia que muitas pessoas da comunidade em geral
ainda têm acerca dessa área de intervenção psicossocial.
É relevante e inspirador que durante o ano de celebração de
tal marco histórico, dois investigadores sul-americanos,
Marcelo Afonso Ribeiro e Lucy Leal Melo-Silva, tenham iniciado
a organização, no Brasil, do Compêndio de Orientação
Profissional e de Carreira, vindo a lume neste ano. Trata-se de
uma obra ímpar e também um marco, não só pelo tributo que
presta a mais de um século de investigação sobre as escolhas e a
evolução das pessoas em relação à sua vida de trabalho e
restantes ocupações, como, sobretudo, por criar alicerces firmes
para um novo enfoque teórico-técnico no domínio.
Com efeito, em 1909, a orientação constituiu-se como uma
abordagem deliberada, humanista e reformadora, dos
processos de entrada e estadia de jovens e adultos no mundo
profissional. Nessa época, vários acontecimentos sociopolíticos
e do mundo educativo e econômico transformavam
rapidamente a sociedade rural norte-americana numa
sociedade industrial, com uso de novas tecnologias, criação de
empregos e profissões e corrida das populações para a urbe. As
novas mudanças na vida pessoal e social de muitos cidadãos
trouxeram novos problemas, em boa parte, resolvidos pela
ciência e ação inteligente e sistemática de diversos
profissionais. A obra e o modelo de aconselhamento de Frank
Parsons inserem-se nesse contexto.
Entretanto, ao longo de mais de um século, centenas de
investigadores trabalharam arduamente para compreender e
explicar, de modo mais profundo, o papel do trabalho e das
ocupações na vida das pessoas em diferentes grupos e culturas.
Foram desenvolvidos diversos enfoques teóricos
complementares sobre essas questões, bem como técnicas e
estratégias novas de avaliação e intervenção vocacional, a
maioria das quais baseadas na ciência psicológica.
Dispomos, na atualidade, de um corpo de conhecimentos que
em muito ultrapassa já os contributos de Frank Parsons, mas
nem por isso é demais recordar o papel que desde essa época a
Orientação passou a ter, entre outros aspectos, na liberdade e
autodeterminação das pessoas e dos povos.
Estamos numa nova era, com necessidade de novos arranjos
da vida pessoal e social e, mais que nunca, a Orientação
Profissional volta a ter um papel ímpar na solução dos novos
problemas da sociedade global e do conhecimento.
Internamente, o domínio da Orientação Profissional tem
também necessidade de exercitar a integração do seu legado
científico e partir para novos enfoques teórico-técnicos,
respondendo uma vez mais às necessidades de novos tempos. É
exatamente a essas funções que o presente compêndio cumpre:
dar a conhecer de modo historicamente contextualizado uma
visão integrada do legado científico e técnico da Orientação
Profissional ao mesmo tempo em que oferece uma base para
novos avanços e propostas nesse âmbito.
Referimos um handbook organizado em dois volumes, cada
um dos quais com duas partes principais. O volume I incide
sobre as Perspectivas históricas e enfoques teóricos clássicos e
modernos da orientação. O volume II aborda os Enfoques
teóricos contemporâneos e modelos de intervenção no âmbito da
orientação e da carreira.
Mais especificamente, no volume I deste compêndio, a
Primeira Parte é de Introdução à Orientação Profissional.
Engloba três capítulos de Marcelo Afonso Ribeiro, da
Universidade de São Paulo, que nos apresenta uma visão
panorâmica da história da Orientação Profissional, um
glossário dos seus conceitos principais e um método analítico
para o desenvolvimento de um novo enfoque teórico-técnico da
Orientação Profissional. Um enquadramento que explicita e
critica as bases epistemológicas, teóricas e metodológicas dos
modelos já produzidos no campo da Orientação e que, ao
mesmo tempo, permite lançar novos contributos nesse campo.
A Segunda Parte, mais alargada, incide sobre as Teorias da
escolha e do desenvolvimento da carreira e inclui cinco
capítulos, ao longo dos quais diferentes investigadores de
renome, brasileiros e portugueses, seguem o modelo proposto
por Marcelo Afonso Ribeiro e apresentam, por ordem
cronológica, os diferentes enfoques da Orientação Profissional –
desde o enfoque traço-fator e o psicodinâmico, passando pelo
enfoque desenvolvimentista e evolutivo, e pelo decisional e
cognitivo até ao enfoque transicional.
O volume II da obra aborda os enfoques teóricos
contemporâneos e modelos de intervenção no âmbito da
orientação e da carreira a partir dos contributos de
investigadores nacionais e internacionais. A Primeira Parte
deste segundo volume, sob o título Teorias de escolha e
desenvolvimento de carreira: enfoques contemporâneos, contém
dois capítulos que apresentam uma interessante discussão
integradora dos enfoques tratados, bem como uma proposta de
enfoque construcionista social para a Orientação.
A Segunda Parte, intitulada Métodos de intervenção e avaliação
em Orientação Profissional, é composta por três capítulos, dois
dos quais problematizam a avaliaçãopsicológica e de serviços
da Orientação Profissional e as questões da sua integração nas
intervenções de carreira. Um terceiro e último capítulo, de
grande relevância também, sobre discussão das políticas
públicas de Orientação, no âmbito internacional e no Brasil.
Estamos desejosos que este compêndio enriqueça, do ponto de
vista reflexivo, o domínio da Orientação Profissional e todos
aqueles que se interessam, estudam e trabalham nesse domínio,
pois seguramente que, ao lê-lo e discuti-lo com outros e para
outros, contribuirão mais rápida e eficazmente para o
desenvolvimento de teoria e práticas de Orientação
Profissional, relevantes e cientificamente informadas e de
qualidade.
 
Maria do Céu Taveira
(Escola de Psicologia da Universidade do Minho – Portugal)
I���������
Marcelo Afonso Ribeiro
Lucy Leal Melo-Silva
 
A Orientação Profissional vem recebendo demandas cada vez
mais diferenciadas em função do atual momento de
instabilidade e profunda transformação a que o mundo está
submetido, configurando-se numa era de transição que afeta a
tudo e a todos, pois as antigas estruturas que organizavam esse
mundo estão fragilizadas e novas estruturas ainda não se
consolidaram. Diante disso, a Orientação Profissional também
se encontra em momento de transição, tendo de repensar seus
conceitos e suas estratégias para constatar o que pode ser
utilizado na atual configuração mundial e o que não tem mais a
validade que possuía em outros contextos históricos.
A Orientação Profissional, então, deve realizar uma
autorreflexão para vislumbrar as possibilidades presentes e os
planos futuros, para começar a reconstrução de seu projeto, na
qualidade de área de pesquisa e intervenção.
Se pensarmos na definição clássica de projeto, ele se constitui
num plano de ação presente, com base no passado para ser
realizado no futuro, visando atender as novas demandas que
irão surgir. Nesse sentido, para pensarmos o presente e o
futuro, teremos de olhar para o passado; razão esta que justifica
uma obra como a que aqui se apresenta, que visa reconstruir a
história da Orientação Profissional por meio de um passeio
pelos seus enfoques teórico-técnicos construídos,
principalmente com base na Psicologia Vocacional, ao longo do
século XX para verificarmos o que se mostra atual e o que já se
transformou em passado não atualizável.
Nossa tarefa será, portanto, fazer uma breve revisão histórica
do campo da Orientação Profissional, na tentativa de levantar
os fundamentos teóricos e técnicos, que embasaram e embasam
essa área, por meio das demandas que foram surgindo ao longo
dos tempos.
O método empregado para tal tarefa será a utilização de um
modelo de quadro de referência, que, aplicado a todos os
enfoques teórico-técnicos apresentados, servirá para
compararmos os avanços da Orientação Profissional.
Esse quadro de referência, embasado nas sugestões de
Bisquerra-Alzina (1998), Bohoslavsky (1977), Bujold e Gingras
(2000), Crites (1974), Rivas (1988), Savickas e Walsh (1996) e
Shertzer e Stone (1972), delimitará uma base teórica e uma
estratégia de intervenção por meio de alguns pontos principais
que todo enfoque teórico-técnico em Orientação Profissional
deve ter:
a) Bases epistemológicas e teóricas
– Concepção de ser humano
– Bases teóricas e epistemológicas
– Logística: teoria vocacional/ocupacional subjacente
– Princípios, objetivos e funções
b) Bases metodológicas: estratégia, tática e técnica
– Estratégia e tática (métodos empregados)
– Técnica (instrumentos utilizados)
 
Finalizaremos o livro tentando mostrar, a cada capítulo, o que
a Orientação Profissional tem a oferecer ao mundo atual em
termos de possibilidades e limites, levantando sugestões para
serem concretizadas.
O Compêndio de orientação profissional e de carreira está
dividido em 2 volumes.
O volume 1 apresenta um breve histórico da Orientação
Profissional, propõe um guia terminológico, analisa as questões
centrais da área, discute a concepção de teoria em Orientação
Profissional e apresenta os enfoques teóricos clássicos e
modernos (traço-fator, psicodinâmico, desenvolvimentista e
evolutivo, decisional e cognitivo, transicional).
O volume 2 apresenta os enfoques teóricos contemporâneos
(caos, desenvolvimentista-contextual, contextualista e life
design), duas contribuições brasileiras com base na Psicanálise
e no Construcionismo Social e os principais modelos de
intervenção (avaliação e testagem como estratégia de
Orientação, avaliação do processo de Orientação e políticas
públicas em Orientação Profissional).
Referências
BISQUERRA-ALZINA, R. Modelos de orientación e intervención psicopedagógica.
Barcelona: Praxis, 1998.
BOHOSLAVSKY, R. Orientação vocacional: a estratégia clínica. São Paulo: Martins
Fontes, 1977.
BUJOLD, C.; GINGRAS, M. Choix professionnel et développement de carrière. Montréal:
Gaëtan Morin, 2000.
CRITES, J. O. Psicología vocacional. Buenos Aires: Paidós, 1974.
RIVAS, F. Psicología vocacional: enfoques del asesoramiento. Madrid: Morata, 1988.
SAVICKAS, M. L.; WALSH, W. B. (Orgs.). Handbook of career counseling: theory and
practice. Palo Alto: Davies-Black, 1996.
SHERTZER, B.; STONE, S. Manual para el asesoramiento psicológico. Buenos Aires:
Paidós, 1972.
P���� I
I��������� � O���������
P�����������
C������� 1
BREVE HISTÓRICO DOS PRIMÓRDIOS DA ORIENTAÇÃO
PROFISSIONAL
Marcelo Afonso Ribeiro
 
É sempre complicado, senão impossível, estabelecer pontos de
partida em história, pois isso pode negar as contribuições
diretas e/ou indiretas do passado, por isso levantemos os
primórdios da Orientação Profissional, entendidos como ideias
e ações desenvolvidas no passado que geraram no século XX
esse campo teórico-técnico – objeto central do presente livro.
1.1 A necessidade da orientação
A ideia e a prática da orientação sempre foram preocupações
muito presentes ao longo da história da humanidade,
configurando geralmente um auxílio ou conselho de uma
pessoa mais experiente na resolução de problemas ou na
escolha de caminhos, pois sempre houve uma contínua busca
do homem em relação à sua maneira de viver.
Na Pré-História havia uma ajuda mútua para a sobrevivência
e estabilidade. Na Grécia Antiga, os mestres acompanhavam o
desenvolvimento dos seus discípulos, descobriam talentos e
indicavam caminhos. Na Idade Média a Igreja guiava o rumo do
mundo pelos ditames do cristianismo. Os sacerdotes
orientaram os seguidores da dada religião por toda história.
Assim como os pais orientaram seus filhos ao longo dos tempos,
os mestres de ofício orientaram os jovens artesãos e assim por
diante, numa infinidade de exemplos históricos inesgotáveis.
A Orientação Profissional não foge à regra: a ideia de que nem
todas as pessoas poderiam exercer todas as ocupações, fazeres,
artes ou ofícios também percorre toda a história.
Sócrates falava da importância do conhecimento de si mesmo.
Platão em seu livro A república colocava a importância da
determinação das aptidões individuais para a adaptação social.
Aristóteles valorizava o desenvolvimento da razão para a
escolha de atividades em consonância como os interesses do
sujeito. Cícero guiava as pessoas durante o Império Romano
(originando a expressão ciceronear como sinônimo de guiar).
Santo Tomás de Aquino destacava a importância do
desenvolvimento das potencialidades humanas. Muitos
colocavam que existiam pessoas com dons especiais; alguns
começavam a descrever as diversas ocupações que iam
surgindo em guias e manuais e frisavam a importância da
informação ocupacional. Palavras, como aptidão, habilidade,
engenho, talento, tornavam-se cada vez mais frequentes, mas
um pequeno detalhe ainda estava por se consolidar: a
possibilidade de as pessoas realizarem escolhas.
1.2 A possibilidade de fazer escolhas
A necessidade de tomar decisões sempre foi uma das
principais tarefas na vida das pessoas desde a Pré-História,
momento em que cada dia era vivido como único e as decisões
acerca da sobrevivência determinavam a vida das pessoas: uma
decisão mal refletida poderia significar sua morte.A história da humanidade intercalou momentos em que as
pessoas tinham alguma possibilidade de escolher e tomar
decisões com momentos nos quais estavam submetidas a uma
ordem superior que guiava seus passos.
Na Grécia Arcaica, os deuses determinavam o destino dos
homens, que não tinham muita escolha a não ser cumprir seu
destino programado.
Na Grécia Clássica, os filósofos acreditavam poder dominar
sua natureza pela reflexão e, dessa maneira, determinar seu
futuro, mas isso era destinado apenas a poucos escolhidos, pois
a maioria nascia com seu destino traçado: ou se era nobre, ou
se era soldado, ou se era servo.
Na Idade Média, a religião, como ordem superior suprema,
volta a guiar os passos das pessoas, que tinham suas decisões
norteadas pelos princípios da fé: ou se era abençoado por
seguir os mandamentos de Deus ou se era condenado por
cometer seguidos pecados.
O Renascimento surge como possibilidade do resgate da
experiência subjetiva, ou seja, de poder assumir sua vida e
determinar para si o que é certo ou que é errado, trazendo a
abertura da escolha e a insegurança da falta de uma referência
segura a quem seguir.
As artes, as ciências, as navegações, o comércio são frutos
desse período de experimentações, que parece ter atravessado a
vida de todos e, de maneiras diferenciadas, possibilitava a
tomada de decisões mais autônomas: essa era a ilusão que se
vivia na época.
A escolha e a tomada de decisão guiavam a vida das pessoas,
mas até esse momento da história, a questão da escolha
profissional1 não se colocava como uma das muitas tarefas da
vida das pessoas, que se viam presas a determinantes
hereditários, ou seja, o seu futuro como trabalhador estava
marcado pela sua família de origem.
Apesar disso, alguns poucos pensadores começaram a estudar
e propor algumas ideias com ações isoladas e parciais, dentre
eles:
– Rodrigo Sanches Arévalo, em sua obra Speculum Vitae
Humanae de 1498, dizia que o “exercício da profissão obedece
a um impulso natural e pressupõe uma escolha” (SILVA, 1996,
p. 19), ou seja, o que deveria ser levado em conta numa
escolha seriam as inclinações naturais e as circunstâncias de
vida oferecidas pelos diversos ofícios (CHABASSUS, 1981).
– Antonio Pérsio, em seu Trattato dell ingegno dell’huomo de
1576, postulou que o engenho, causado pelo espírito, atribui a
cada pessoa uma inclinação para diferentes ocupações
(SILVA, 1996).
– Juan Huarte de San Juan, em sua obra Examen de ingenios para
las ciências, de 1575, apontava que as pessoas tinham
diferenças individuais (engenhos2) e que os engenhos
conduziriam a pessoa a uma atividade que melhor se
adaptasse a eles (BOHOSLAVSKY, 1977).
– Jourdain Guibelet que, em 1631, dizia que a escolha era fruto
do poder da vontade, não do exercício de uma habilidade
natural.
– Campbell, em 1474, e Garzoni, em 1585, deram sua
contribuição redigindo guias com a descrição dos ofícios de
sua época (ZYTOWSKI, 1972).
 
Todas essas ideias marcariam o desenvolvimento posterior da
Orientação Profissional, mas, nesse contexto ainda, uma
questão parecia claramente posta: para que orientar alguém
que não tinha escolhas e já nascia com seu futuro ocupacional
determinado?
Até meados do século XV, em pleno Renascimento, as
ocupações3 ainda eram determinadas hereditariamente, não
havendo mobilidade social ou possibilidade de inserções
diversas no mundo do trabalho que começava a se transformar.
O Renascimento configura o reconhecimento da singularidade
pelos indivíduos, possibilitando a emergência de uma nova
mentalidade, que gradativamente vai operando uma troca no
mundo ocupacional: a transmissão hereditária dos ofícios cede
lugar à liberdade de escolha segundo as capacidades de cada
um.
As possibilidades de escolha profissional e de inserções
diversas no mundo do trabalho só se tornaram uma realidade
por conta de três fatores da história da humanidade, que
começaram a ganhar corpo em meados do século XVIII (SILVA,
1996):
– As mudanças no modo de produção: passagem de uma relação
manual e mecânica com o trabalho para uma relação
especializada e cada vez mais complexa, fruto do avanço
tecnológico crescente da revolução industrial.
– As doutrinas liberais: passagem de um modelo social no qual
não havia possibilidade de mobilidade social para um modelo
que valorizava o esforço pessoal como forma de ascensão
social, iniciado com a revolução francesa.
– Surgimento e desenvolvimento da Psicologia: possibilidade de
identificar cientificamente as capacidades individuais e
auxiliar no processo de inserção no mundo do trabalho.
 
Segundo Bisquerra-Alzina (1998) e Brewer (1926), inúmeros
autores deram sua contribuição ao longo do século XIX para o
surgimento da Orientação Profissional por meio de: palestras
sobre o mercado de trabalho, como Edward Hazen em 1836;
propostas incipientes de orientação em escolas, como George
Merril, em 1895; ou publicações como o guia de ocupações de
John Sydney Stoddard em 1899 e o livro Vocophy, de Lysander
S. Richards, em 1881, no qual desenvolvia um sistema capaz de
ajudar a pessoa a refletir e a planejar seu futuro embasado na
frenologia.
 
Tudo o que nós pretendemos fazer é trazer ordem no lugar do oportunismo e
do caos e instituir ou estabelecer um sistema para capacitar a pessoa a
encontrar o mais adequado trabalho através do qual ela consiga obter o
maior sucesso possível (RICHARDS, 1881 apud BREWER, 1926, p. 22).
 
Estava, portanto, configurada a base para o surgimento da
Orientação formal como uma nova área de atuação nas
Ciências Humanas no início do século XX e coube a Frank
Parsons cumprir esse papel na história.
Beck (1977) nos aponta que, como toda novidade, a Orientação
surge com vários problemas e com um dado importantíssimo: a
emergência da prática impediu uma elaboração filosófica e
teórica mais aprofundada, em virtude da carência de pesquisas
e da falta de interesse e tempo dos profissionais que
começaram a encampar essa área. Com a formalização e
expansão da educação e com o crescimento desenfreado do
mercado de trabalho, o problema da Orientação se colocava
como: alguma coisa deve ser feita agora.
Wrenn (apud BECK, 1977, p. 7) faz uma bela analogia do
momento inaugural da Orientação com o súbito surgimento de
um novo bairro:
 
Numa área em que se fazem muitas construções e com muita rapidez haverá
necessidade imperiosa de ruas. A pavimentação de rodovias pode ser feita
com tanta pressa, que o nivelamento cuidadoso e a preparação das
fundações são negligenciados. As ruas podem comportar o tráfego e livrar as
pessoas da lama, mas logo vão apresentar buracos aqui e ali, ou não dar
vazão à água em épocas de fortes chuvas. Além disso, tais ruas podem
apresentar falta de consistência de material ou de estrutura – com um
quarteirão de concreto e outro de asfalto, sarjetas aqui e não ali, placas de
rua no meio-fio num quarteirão e em postes, em outro. Um observador ao
ver tal sistema de ruas poderia protestar ser isso o resultado de
“conveniência”, de “oportunismo” e até mesmo de “corrupção”, mas é
provável que este observador não estivesse presente na hora do aperto.
 
Esse fato é fundamental para entendermos o desenvolvimento
do campo da Orientação: mudanças ocorreram no mundo
criando a necessidade de orientação para as pessoas nas mais
variadas esferas (educação, trabalho, ocupação), e profissionais
assumiram essa tarefa como uma urgência prática, e não como
uma descoberta teórica, o que ocasionou o grande
desenvolvimento inicial de técnicas e a pouca produção teórica.
Rascován (2004) afirma que a Orientação Vocacional surgiu
como resposta às demandas socioeconômicas do começo do
século XX e pode, dessa forma, estabelecer-se como uma
disciplina e uma prática social, voltada à escolha e realização de
um fazer humano relativo aos problemas genericamente
chamados de vocacionais, basicamente educacionais e laborais.
 
A Orientação Vocacional é um “invento” da modernidade para auxiliar
pessoas que se perguntam por seu fazer presente e futuro. Como intervenção,
tem diversas particularesem relação, tanto ao marco conceitual com o qual
se trabalha, quanto também ao contexto em que se exerce sua prática.
(RASCOVÁN, 2004, p. 2).
 
As áreas de saber que mais contribuíram para a Orientação
foram a Psicologia e a Sociologia, tendo ainda a Filosofia, a
Economia e a Pedagogia sua parcela de contribuição.
Referências
BECK, C. E. Fundamentos filosóficos da orientação educacional. São Paulo: EPU, 1977.
BISQUERRA-ALZINA, R. Modelos de orientación e intervención psicopedagógica.
Barcelona: Praxis, 1998.
BOHOSLAVSKY, R. Orientação vocacional: a estratégia clínica. São Paulo: Martins
Fontes, 1977.
BREWER, J. M. The vocational guidance movement. New York: Macmillan Company,
1926.
CHABASSUS, H. Para a história da orientação vocacional I - Rodrigo Sanches de
Arévalo. Síntese, v. 9, n. 26, p. 71-86, 1981.
RASCOVAN, S. Lo vocacional: una revisión crítica. Revista Brasileira de Orientação
Profissional, v. 5, n. 2, p. 1-10, 2004.
SILVA, L. B. C. A escolha da profissão: uma abordagem psicossocial. São Paulo:
Unimarco, 1996.
ZYTOWSKI, D. G. Four hundred years before Parsons. Personnel and Guidance
Journal, v. 50, n. 6, p. 443-450, 1972.
1 Escolha profissional, escolha vocacional e escolha de carreira são termos utilizados,
em geral, de forma indiscriminada, o que pode se configurar num problema para a
comunicação, por conta disso no capítulo 2 será realizada uma análise mais
aprofundada acerca das terminologias em Orientação Profissional.
2 O engenho é uma nomenclatura ancestral da ideia de aptidão, concepção que será
definida no capítulo 2.
3 Ocupação também será um termo a ser definido no capítulo 2.
C������� 2
ORIENTAÇÃO PROFISSIONAL: UMA PROPOSTA DE GUIA
TERMINOLÓGICO
Marcelo Afonso Ribeiro
2.1 Nomeação: delimitação do conceito e evolução da Orientação
Profissional
A Orientação se dividiu basicamente em três grandes áreas no
começo: a Orientação Educacional (OE), a Orientação
Vocacional (OV) e a Orientação Profissional (OP).
A OE atuaria no interior das instituições educacionais sendo
responsável pelo auxílio ao indivíduo como um todo, ou seja,
em todas as esferas do seu desenvolvimento (pessoal,
profissional, comunitário, social, educacional, sexual, familiar);
a OV se consolidaria como um auxílio ao jovem que desejava
ingressar em um curso de nível superior; a OP seria o auxílio ao
indivíduo para seu ingresso no mercado de trabalho. Temos
ainda como área correlata a Seleção Profissional, que seria a
escolha de indivíduos para atuarem em determinado lugar ou
posto de trabalho.
Frank Parsons é tido como o precursor da Orientação
mundial, pois foi um dos primeiros a executar
sistematicamente trabalhos de Orientação no Vocation Bureau
dentro do Civic Service House, em Boston (EUA), a partir de
1908. Atuava em duas frentes:
– Orientação Vocacional: auxílio a jovens oriundos do atual
ensino médio, que desejavam orientação para o ingresso
numa universidade;
– Orientação Profissional: auxílio a pessoas que desejavam
ingressar no mundo do trabalho.
Utilizou pela primeira vez o termo Vocational Guidance
(Orientação Vocacional) e lançou o livro Choosing a vocation,
em 1909 (PARSONS, 2005), tido como marco inaugural das
publicações na área de Orientação Vocacional, um ano após sua
morte, não dando continuidade a seu trabalho pioneiro. Estava
oficialmente fundada a área da Orientação. E nosso foco será a
OP, ou será a OV? Ou ainda a Psicologia Vocacional?
Bisquerra-Alzina (1998) faz uma breve retomada das
terminologias utilizadas em OP e nos auxiliará nessa tarefa,
assim como o glossário em quatro línguas (inglês, alemão,
espanhol e francês) do Office national d’information sur les
enseigments et les professions (ONISEP, 2001).
Parsons (2005) utilizou o termo Vocational Guidance
(Orientação Vocacional), batizando, assim, a área de auxílio a
jovens que buscavam orientação para o ingresso em um curso
superior. Surgiu na mesma época o termo Educational Guidance
(Orientação Educacional), que determinaria o trabalho de
orientação no interior das instituições de ensino e que visava ao
desenvolvimento global do indivíduo, não apenas um aspecto
das suas relações com o mundo, como no caso da Orientação
Vocacional, que visava à orientação para as escolhas
vocacionais (vide Quadro 1).
 
Quadro 1. Orientação Vocacional (glossário em quatro línguas)
Inglês Alemão Espanhol Francês
Vocational
Guidance Berufsorientierung
Orientación
Vocacional
Orientation
Vocationnelle
 
A ideia que estava embutida nessa nomeação era a da vocação
como algo a ser descoberto, portanto o trabalho de Orientação
Vocacional seria o diagnóstico das características das pessoas e
a escolha das ocupações que melhor se ajustassem a esse perfil
na filosofia do the right man for the right place (o homem certo
para o lugar certo) e a posterior orientação (base do enfoque
traço-fator em Orientação Profissional).
Essa forma de entender e trabalhar em Orientação sofreu uma
modificação por volta dos anos 1940, com o advento das ideias
do Counseling (Aconselhamento), que colocavam a Orientação
não mais como um processo diagnóstico, mas sim um processo
de construção das escolhas vocacionais, pelo Counseling, a
Vocational Guidance se torna Vocational Counseling
(Aconselhamento Vocacional), conforme pode se ver no Quadro
2.
 
Quadro 2. Aconselhamento Vocacional (glossário em quatro
línguas)
Inglês Alemão Espanhol Francês
Vocational
Counseling Berufsberatung Asesoramiento Vocacional
Conseil
D’Orientation
 
Nos anos 1950 surgem as ideias desenvolvimentistas que
apresentam um novo paradigma para a Orientação: até esse
momento a Orientação era focada nos momentos de escolha, a
partir de então ela seria um auxílio a qualquer pessoa em
qualquer período da vida, que necessitasse ajuda para o seu
desenvolvimento vocacional, ou seja, o orientador atuaria no
auxílio do desenvolvimento da vida profissional dos indivíduos,
e não mais simplesmente no momento de escolha de um
caminho profissional1.
A ideia de descoberta da vocação é trocada pela do
desenvolvimento vocacional, ou seja, a vocação é substituída
pelo desenvolvimento da carreira e, assim, Vocational
Counseling se torna Career Counseling (Aconselhamento de
Carreira) ou Career Guidance (Orientação de Carreira) ou
Career Development (Desenvolvimento de Carreira), dando base
para o enfoque desenvolvimentista em Orientação Profissional
(vide Quadros 3-5).
 
Quadro 3. Aconselhamento de Carreira (glossário em quatro
línguas)
Inglês Alemão Espanhol Francês
Career
Counseling Berufliche Beratung
Asesoramiento
Profesional
Conseil
D’Orientation
 
Quadro 4. Orientação de Carreira (glossário em quatro línguas)
Inglês Alemão Espanhol Francês
Career
Guidance berufliche Orientierung Orientación Profesional
Orientation
Professionnelle
 
Quadro 5. Desenvolvimento de Carreira (glossário em quatro
línguas)
Inglês Alemão Espanhol Francês
Career
Development Laufbahnentwicklung
Desarrollo de la
Carrera
Développement de
Carrière
 
Atualmente o termo Desenvolvimento de Carreira (Career
Development) é o mais utilizado para designar o que estamos
chamando de Orientação Profissional ao longo do texto e
também a Educação para a Carreira (Career Education) quando
realizado dentro do projeto pedagógico de uma instituição
educacional (vide Quadro 6).
No Brasil, o termo Orientação Profissional, e em alguns
lugares sua ampliação para Orientação Profissional e de
Carreira, é o mais utilizado para designar o que no contexto
internacional tem sido denominado de Desenvolvimento de
Carreira (Career Development).
 
Quadro 6. Educação para a Carreira (glossário em quatro
línguas)
Inglês Alemão Espanhol Francês
Career
Education Berufswahlunterricht Educación para la Carrera Éducation à la Carrière
 
É importante frisar que o termo guidance é traduzido em
português por orientação e o termo counseling por
aconselhamento, mas que isso pode levar a interpretações
errôneas. O guidance traz a ideia de uma orientação mais
diretiva e informativa, com o orientador trazendo informações,
guiandocaminhos, sendo uma tradução mais adequada a ideia
de assessoria ou aconselhamento (no sentido de dar conselhos).
Enquanto o counseling, ao ser traduzido por aconselhamento,
trouxe a ideia de alguém que dá conselhos, ou seja, que indica
caminhos, e é justamente o oposto, pois o counseling surge com
uma ideia de não diretividade, ou seja, seu papel de orientador
seria auxiliar o jovem a construir seu caminho profissional,
mas quem determina esse caminho é ele próprio, sendo a
melhor tradução orientação.
Rivas (1988) reforça essa ideia dizendo que o counseling
traduzido por consejo (aconselhamento) traz uma ideia errônea
do processo de Asesoramiento Vocacional (Orientação
Vocacional), pois conselho qualquer pessoa é capaz de fornecer
e a informação aí contida não é de responsabilidade de quem
emite, enquanto a orientação requer uma qualificação e um
preparo, pois você é um profissional responsável pelo que faz.
Atualmente no Brasil, a utilização das nomenclaturas
Orientação Vocacional ou Orientação Profissional é associada
ao trabalho de psicólogos e pedagogos que auxiliam jovens nas
escolhas que devem ser efetuadas para o ingresso no mundo da
educação (cursos técnicos, cursos superiores, reescolha de
cursos, pós-graduação) e, em geral, acontecem nas escolas,
consultórios e universidades.
Por sua vez, a Orientação, o Planejamento, a Gestão ou o
Desenvolvimento de Carreira estariam mais associados ao
trabalho de consultores (psicólogos, engenheiros,
administradores, entre outros), que tenham conhecimento do
mercado de trabalho, dominem algumas ferramentas de
orientação e auxiliem jovens e adultos no ingresso, nas
transições e na saída do mundo do trabalho, sendo realizados,
em geral, em consultorias de recursos humanos, empresas e
alguns consultórios, escritórios e universidades.
Obviamente este é um quadro genérico que está mudando e se
interpenetrando, o que possivelmente não permitirá mais essa
divisão tão nítida.
Como um dado para concluir a questão terminológica, a atual
entidade que representa a Orientação Profissional no mundo é
nomeada como Associação Internacional de Orientação
Vocacional e Educacional:
– IAEVG – International Association for Educational and
Vocational Guidance;
– IVSBB – Internationale Vereinigung für Schul- und
Berufsberatung;
– AIOEP – Asociación Internacional para la Orientación
Educativa y Profesional;
– AIOSP – Association Internationale d’Orientation Scolaire et
Professionnelle.
 
Temos, também, como instituição parceira a National Career
Development Association (NCDA), Associação Nacional de
Desenvolvimento de Carreira (EUA) e, no Brasil, a Associação
Brasileira de Orientadores Profissionais (ABOP), o que mostra
uma diversidade de nomenclaturas com a marca do seu tempo,
ou seja: Orientação Vocacional e Educacional (IAEVG, cunhada
em 1951), Desenvolvimento de Carreira (NCDA, cunhada em
1986) e Orientação Profissional (ABOP, cunhada em 1993).
Mas qual será a nomeação que usaremos neste livro?
Toda e qualquer escolha de uma nomenclatura carregará uma
tradição, uma história e uma opção epistemológica,
metodológica e sócio-histórica, que será sempre parcial e
criticável, entretanto se faz necessária para marcar uma
posição e operacionalizar a redação do presente livro.
A expressão Orientação Profissional constituirá a nomeação
aqui utilizada (como já está sendo anunciado desde os
primeiros parágrafos do texto e no próprio título do livro), pois,
no nosso entender, melhor representa a tradição brasileira na
Orientação e sua tarefa para o século XXI, além de ser a
representação social predominante da área no Brasil.
Mas qual é a importância de uma terminologia? Uma
nomeação não é simplesmente um título sem significado, mas
carrega o pensamento das teorias dominantes em cada época e
expressa a identidade e as representações sociais vigentes.
A Orientação Profissional, por meio de suas bases
epistemológicas e teóricas que são as áreas da Psicologia
Vocacional/Ocupacional e da Sociologia Ocupacional, construiu
e se utilizou de vários termos, ao longo de sua história,
considerados centrais para sua teorização e intervenção
prática, que nem sempre tiveram um consenso em sua
definições, o que pode ocasionar problemas e usos
inapropriados.
Façamos uma tentativa de síntese das definições dos
principais termos-chave utilizados em Orientação Profissional,
conscientes de que as definições propostas têm mais um caráter
de convite ao debate do que propriamente sua finalização.
2.2 Precisões terminológicas: proposta de definição de alguns dos
principais termos-chave para Orientação Profissional
Muitos conceitos são utilizados no campo da Orientação
Profissional, mas nem sempre de forma homogênea ou
consistente, o que levou vários autores e associações a
desenvolverem glossários dos principais termos-chave
empregados na área.
As definições apresentadas a seguir representam uma
tentativa de sistematizar esse conhecimento produzido e estão
baseadas nas sugestões internacionais de Bisquerra-Alzina
(1998), Bohoslavsky (1977), Bujold e Gingras (2000), Crites
(1974), Dupont e Pereira (1996), Greenhaus e Callanan (2006),
Rivas (1988; 2003), Sears (1982), Silva (1996), Super (1976; 1985);
Super e Bohn Jr. (1972); nas sugestões nacionais de Mello (2000)
e Melo-Silva (2001); e na própria tentativa do autor em realizar
tal tarefa (Ribeiro, 2004, 2009a, 2009b).
Além disso, serão acrescentados os correlativos em inglês,
alemão, espanhol e francês, conforme propõe o glossário
organizado em 2001 pela International Association for
Educational and Vocational Guidance (IAEVG) e pela Office
National d’Information sur les Enseigments et les Professions
(ONISEP).
Como forma de tentar garantir alguma uniformidade ou
padrão nas definições, serão apresentadas2 propostas que
introduzam as principais dimensões, quando possível, de
compreensão de cada noção com seus significados etimológicos,
genéricos, socioeconômicos, sócio-históricos, psicológicos e
psicossociais.
Adaptabilidade de carreira
– Career Adaptability (inglês);
– Berufliche Anpassungsfähigkeit (alemão);
– Adaptabilidad profesional (espanhol);
– Adaptabilité professionnelle (francês).
 
• Significado socioeconômico: adaptação constante da pessoa ao
mundo do trabalho para responder às demandas que lhe são
colocadas e poder, nele, permanecer inserido (DUPONT;
PEREIRA, 1996).
• Significado psicológico: prontidão para enfrentar as tarefas
desenvolvimentais previsíveis e as transições ocupacionais e
constantes crises não previsíveis que a pessoa passará
durante toda a vida; adaptar-se às novas circunstâncias
apresentadas pelo mundo do trabalho; e poder, nele,
permanecer inserido (GREENHAUS; CALLANAN, 2006;
SAVICKAS, 1997; SUPER, 1985).
Adaptação vocacional
– Vocational Adaptation (inglês);
– Berufliche Bearbeitung (alemão);
– Adaptación vocacional (espanhol);
– Adaptation professionnel (francês).
 
• Significado socioeconômico: adaptação constante entre pessoa
e mercado de trabalho que deve gerar um pleno
desenvolvimento da pessoa no trabalho e da economia de um
país (DUPONT; PEREIRA, 1996).
• Significado psicológico: conceito funcionalista dinâmico que
preconiza que a interação entre as pessoas e a realidade
profissional/ocupacional se dá a partir de respostas flexíveis e
mutantes; interação, na qual pessoas e realidade se
modificam para uma adaptação mútua e recíproca que deve
resultar em satisfação e êxito na carreira – base do enfoque
desenvolvimentista em Psicologia Vocacional (MELLO, 2000;
SAVICKAS, 1997; SUPER; BOHN JR., 1972).
Ajustamento vocacional
– Vocational adjustment, vocational fitness (inglês);
– Berufliche Anpassung (alemão);
– Ajuste vocacional (espanhol);
– Épanouissement professionnel (francês).
 
• Significado socioeconômico: combinação do perfil pessoal com
o da ocupação gerando um pleno desenvolvimento da pessoa
no mundo do trabalho e da economia de um país (DUPONT;
PEREIRA, 1996).
• Significado psicológico: conceito mecanicista que pressupõe a
combinação entre as características pessoais(perfil
vocacional) com as características das profissões/ocupações
(perfil profissiográfico), vistas como realidades estáveis e
definidas, para assumir uma ocupação/profissão no mundo
do trabalho que resulta em satisfação e êxito na carreira.
Base do enfoque traço-fator em Psicologia Vocacional (DAWIS;
LOFQUIST, 1984; PARSONS, 2005).
Aptidão
– Aptitude (inglês);
– Anlagen, Begabung, Fähigkeiten (alemão);
– Aptitude (espanhol);
– Aptitude (francês).
• Significado genérico: aptidão é sinônimo de vocação, como a
característica que definiria a escolha vocacional.
• Significado psicológico: a aptidão teria relação com
comportamentos específicos, estáveis no tempo e unitários
indicativos da facilidade ou predisposição natural para
aprender (SUPER; BOHN JR., 1972; SUPER; CRITES, 1962) ou
da capacidade de obter eficiência ou executar uma tarefa
com sucesso (SANTOS, 1978). Seria indicativa do provável
nível de habilidade futura que um indivíduo terá para
executar uma atividade (GREENHAUS; CALLANAN, 2006). O
talento seria o superlativo de aptidão, sendo definido de
forma semelhante a ela (VAN KOLCK, 1974).
Capacidade
– Capacity (inglês);
– Leistungsfähigkeit (alemão);
– Capacidad (espanhol);
– Capacités (francês).
• Significado socioeconômico: possibilidade individual de
vinculação e realização de atividades em um dado trabalho.
• Significado psicológico: potencialidade individual para o
exercício de qualquer função definida em relação a quanto
uma pessoa já possui de domínios aprendidos necessários
para a realização de uma dada atividade (dimensão passada),
englobando tanto a habilidade (dimensão presente) quanto a
aptidão (dimensão futura), embora nem sempre fique clara a
fronteira entre esses conceitos (CRITES, 1974; SUPER; CRITES,
1962).
Carreira
– Career (inglês);
– Berufliche Laufbahn, Laufbahn (alemão);
– Carrera (espanhol);
– Carrière (francês).
 
• Significado socioeconômico:
a) estruturas de trabalho inseridas em organizações (BLAU;
DUNCAN, 1967; DUPONT; PEREIRA, 1996; RIVAS, 1988);
b) respostas às forças do mercado de trabalho (ARTHUR, HALL;
LAWRENCE, 1989).
 
• Significado social:
a) desempenho de papéis sociais no trabalho (BERGER;
LUCKMANN, 1980);
b) mobilidade social (BOUDON; BOURRICAUD, 1994).
• Significado sócio-histórico: percurso construído ao longo da
vida pelo vínculo a uma série de ocupações e profissões, que
constituem o histórico de vida no mundo do trabalho (SEARS,
1982; SUPER; BOHN JR., 1972).
• Significado psicológico:
 
a) realização vocacional no mundo (HOLLAND, 1985);
b) sequência evolutiva das experiências de trabalho de uma
pessoa em dado contexto ao longo do tempo, que se constitui
em um veículo de autorrealização psicológica (SUPER, 1976);
c) resposta individual mediada às requisições externas dos
papéis sociais (SAVICKAS, 1997);
d) “Desenvolvimento do comportamento vocacional ao longo do
tempo.” (SAVICKAS, 2002, p. 151).
 
• Significado psicossocial:
 
a) síntese da relação dialética de construção psicossocial
contínua entre indivíduo e mundo social e do trabalho
(RIBEIRO, 2004; RIVAS, 2003);
b) narrativa de vida no trabalho direcionada ao outro que é
organizadora da experiência de si no trabalho e das
possibilidades de construção de carreira no mundo, gerando,
ao mesmo tempo, o reconhecimento social e a compreensão
da trajetória de vida (RIBEIRO, 2009b; YOUNG; COLLIN, 2004).
Comportamento vocacional
– Vocational behavior (inglês);
– Berufsverhalten (alemão);
– Conducta vocacional (espanhol);
– Comportement professionnel (francês).
 
• Significado psicológico:
 
a) respostas de uma pessoa ao escolher uma ocupação e
adaptar-se a ela, com caráter processual e acompanhando o
desenvolvimento da pessoa pela atualização de suas
experiências (BISQUERRA-ALZINA, 1998; CRITES, 1974; SUPER,
1976);
b) ações contínuas de escolha, adaptação e realização
vocacional (MARTINS, 1978).
 
• Significado psicossocial:
 
a) “Manifestação da relação dialética entre a pessoa e o meio
socioprofissional que marca a finalização do processo
evolutivo de socialização do ser humano no seu meio
produtivo.” (RIVAS, 1988, p. 13);
b) conjunto de processos psicossociais que uma pessoa mobiliza
em relação ao mundo profissional/ocupacional, no qual já está
instalada ou pretende envolver-se ativamente, e que
representam o tipo de vínculo que cada sujeito estabelece com
o mundo naquele momento pela síntese da relação dialética
entre as demandas sociais e pessoais (RIBEIRO, 2004; RIVAS,
2003).
Construção da carreira
– Career construction (inglês);
– Laufbahn konstruktion (alemão);
– Construcción de la carrera (espanhol);
– Construction de carrière (francês).
 
• Significado psicossocial:
a) concepção de construção de carreira com base no
construtivismo3: conceito funcionalista dinâmico que
preconiza que a interação entre as pessoas e a realidade
profissional/ocupacional se realiza por meio da construção da
forma como as pessoas adaptam o trabalho em suas vidas
(não como as pessoas se ajustam às ocupações) e da
construção da trajetória do comportamento vocacional da
pessoa (não da análise do comportamento vocacional em si),
sendo esta a ideia da construção de carreira (SAVICKAS, 2002;
DUARTE, 2009);
b) concepção de construção de carreira com base no
construcionismo: construção é a operação básica de relação
entre pessoa e contexto, num processo de coevolução
indissociável, pelo qual a pessoa constrói sua trajetória no
mundo do trabalho, elaborando e realizando continuamente
projetos de vida no trabalho que integrem as várias
dimensões de sua vida pela transformação contínua dessas
dimensões e constituam sua identidade profissional (RIBEIRO,
2004; YOUNG, VALACH; COLLIN, 2002).
Desenvolvimento de carreira
– Career development (inglês);
– Laufbahnentwicklung (alemão);
– Desarrollo de la carrera (espanhol);
– Développement de carrière (francês).
 
• Significado socioeconômico: progressão dos indivíduos em
termos psicológicos, sociais e econômicos no mundo do
trabalho pelo desenvolvimento contínuo da carreira (BUJOLD;
GINGRAS, 2000; RIVAS, 1988; SEARS, 1982).
• Significado psicossocial: percepção das relações entre
autoconceito e trabalho, e dos passos necessários para a
concretização do padrão de carreira (projeto de vida no
trabalho) pela atualização da identidade profissional
realizada pelo desempenho de papéis profissionais (SUPER,
1985).
Desenvolvimento vocacional
– Vocational development (inglês);
– Berufliche Entwicklung (alemão);
– Desarrollo profesional (espanhol);
– Développement professionnel (francês).
 
• Significado psicológico: atualização do autoconceito vocacional
realizada pelo comportamento vocacional, que propicia a
formação, clarificação e maturação das tendências
vocacionais, bem como a realização desse autoconceito na
realidade ocupacional/profissional pelas constantes sínteses
geradas pelas experiências de relação com essa realidade
(MELLO, 2000; SUPER; BOHN JR., 1972).
Escolha vocacional, profissional ou de carreira
– Vocational choice; career choice (inglês);
– Berufswahlentscheidung; berufswahl (alemão);
– Elección profesional; elección de carrera (espanhol);
– Choix professionnel; choix de carrière (francês).
 
• Significado socioeconômico: intenção de ingressar e ocupar um
lugar no mundo do trabalho (CRITES, 1974).
• Significado psicológico:
a) resposta do ego diante de um objeto interno danificado que
clama por reparação, sendo a escolha de uma maneira de ser,
por meio de algo que a pessoa faz e é corporificado nas
ocupações (BOHOSLAVSKY, 1977);
b) atualização do autoconceito por meio das constantes
experiências com a realidade ocupacional/profissional
(SUPER; BOHN JR., 1972);
c) expressão da intenção de ingressar numa área
profissional/ocupacional que melhor represente suas
preferências e aspirações numa predição acerca de sua
adaptação profissional/ocupacional futura (CRITES, 1974);
d) processo sociocognitivo de tomada de decisão no mundo do
trabalho (LENT; BROWN; HACKETT, 1994; KRUMBOLTZ, 1981).
 
• Significado psicossocial:a) síntese possível entre as demandas do vocacional (desejo
inconsciente) e do ocupacional (exigências do sistema
produtivo em relação às expectativas de papel), num caminho
dialético do psíquico ao social e vice-versa (BOHOSLAVSKY,
1983);
b) estratégias que o sujeito utiliza para construir um lugar no
mundo do trabalho pela síntese operada na relação dialética
entre identidade vocacional e identidade profissional
(RIBEIRO, 2004; RIVAS, 2003).
Habilidades
– Skills (inglês);
– Fertigkeiten, Können, Fachkenntnis (alemão);
– Habilidades, destrezas (espanhol);
– Habiletés (francês).
 
• Significado psicológico: capacidade de execução de uma dada
atividade adquirida por experiência ou aprendizagem na
dimensão do presente (CRITES, 1974; GREENHAUS;
CALLANAN, 2006; SUPER; CRITES, 1962).
Identidade ocupacional
– Sem correlativos em outras línguas.
 
• Significado psicológico: “autopercepção, ao longo do tempo, em
termos de papéis ocupacionais” (BOHOSLAVASKY, 1977, p. 55),
que permite a integração de suas diferentes identificações na
relação com os sujeitos sociais, representantes de formas de
ser e estar no mundo, sendo uma resposta ao o quê, ao de que
modo que e ao em que contexto da escolha.
• Significado psicossocial: veicula, expressa e articula as
determinações subjetivas e objetivas da identidade,
possibilitando estar no mundo do trabalho de forma
transitória e temporária por meio de uma atividade de
passagem que vai mediar essas determinações (RIBEIRO, 2004;
SILVA, 1996).
Identidade vocacional/profissional
4
– Vocational identity (inglês);
– Berufsidentität (alemão);
– Identidad vocacional (espanhol);
– Identité professionnelle (francês).
Identidade profissional
• Significado socioeconômico: características semelhantes
associadas a uma dada profissão, que congrega grupos
específicos de trabalhadores reunidos como categoria
profissional (DUPONT; PEREIRA, 1996).
• Significado psicológico: resultado da síntese identificatória
desenvolvida na contínua interação entre fatores internos e
externos à pessoa (BOHOSLAVSKY, 1977; SUPER, 1976).
• Significado psicossocial: “expressão das determinações
objetivas da identidade que possibilita o vínculo ao social pelo
fazer como possibilidade de subjetivação” (RIBEIRO, 2004, p.
104), ou seja, ser ao fazer.
Identidade vocacional
• Significado psicológico:
a) expressão da personalidade e da subjetividade (dimensão
subjetiva da condição humana), sendo uma resposta ao para
que e ao por quê da escolha profissional (BOHOSLASKY, 1977);
b) “Representações simbólicas que são pessoalmente
construídas, intersubjetivamente determinadas e
linguisticamente comunicadas” (SAVICKAS, 2002, p. 161),
responsáveis por controlar, guiar e avaliar o comportamento
vocacional (SAVICKAS, 1985; VONDRACEK, 1992);
c) Guichard (2000, 2005, 2009) caracteriza a identidade
vocacional como formas identitárias subjetivas e as define
como um “conjunto de modos de ser, agir e interagir em
relação a uma certa visão de si mesmo em dado contexto”
(GUICHARD, 2009, p. 253), que permitirão a construção de si
no mundo social e laboral.
• Significado psicossocial: expressão das condições subjetivas da
identidade que sobredetermina a construção da identidade
profissional, mas também se modifica nessa relação pelo
desempenho de papéis, ou seja, não é algo a ser descoberto,
mas algo que se reconstrói a cada momento de integração
identificatória (RIBEIRO, 2004; SUPER, 1985).
Interesses
– Interests (inglês);
– Interesse (alemão);
– Intereses (espanhol);
– Intérêts (francês).
 
• Significado socioeconômico: empenho a favor de alguém ou
de alguma coisa.
• Significado psicológico: o interesse é o aspecto que mais
relação teve com o desenvolvimento da Orientação
Profissional e foi definido por vários autores, podendo
significar:
a) “uma resposta a uma preferência; enquanto que a aversão é
uma resposta a um desagrado” (STRONG, 1943, p. 6), sendo
visto como um aspecto do comportamento humano, ligado às
atitudes e à personalidade, não a uma instância em si mesma;
b) “atividades ou objetos através dos quais se perseguem
valores” (SUPER; BOHN JR., 1972, p. 105);
c) “fator ou conjunto de fatores determinantes da atração ou
repulsão que o indivíduo pode sentir em relação a pessoas,
objetos e atividades do meio que o rodeia” (ANGELINI, 1984, p.
31-32), sendo o aspecto consciente da motivação.
Maturidade adaptativa (maturidade de carreira)
– Career maturity (inglês);
– Berufs(wahl)reife (alemão);
– Madurez profesional (espanhol);
– Maturité professionnelle (francês).
• Significado psicológico: possibilidade de transformação e
adaptação contínua ao mundo do trabalho a cada crise da
carreira, pela mobilização das competências e estratégias
necessárias a esse processo (PATTON; LOKAN, 2001; RASKIN,
1998; SAVICKAS, 1997; SUPER, 1985; SUPER; SAVICKAS, 1996).
Maturidade vocacional
– Vocational maturity (inglês);
– Berufswahlreife (alemão);
– Madurez vocacional (espanhol);
– Maturité vocationnelle (francês).
 
• Significado psicológico: prontidão para enfrentar as tarefas
desenvolvimentais apropriadas ao estágio de vida no mundo
do trabalho (CRITES, 1974; SUPER; BOHN JR., 1972) ou “a
similaridade entre seu comportamento vocacional e dos
indivíduos mais velhos do estágio do desenvolvimento
vocacional no qual se encontra” (SEARS, 1982, p. 141), sendo a
maturidade vocacional constituída por um processo de
maturação de estruturas internas e subjetivas (SAVICKAS,
2002).
Mercado de trabalho
– Labour market (inglês);
– Arbeitsmarkt (alemão);
– Mercado laboral (espanhol);
– Marché du travail (francês).
• Significado socioeconômico: conjunto de atividades
ocupacionais e profissionais em dada sociedade em dada
época, calcadas sobre as relações de oferta de trabalho (por
parte dos empregadores) e procura de trabalho (por parte dos
demandantes de trabalho ou trabalhadores). É constituído
por todas as possibilidades de trabalho oferecidas pelo
mercado formal, sendo parte integrante do mundo do
trabalho (GREENHAUS; CALLANAN, 2006).
Mundo do trabalho
– World of work (inglês);
– Welt der Arbeit (alemão);
– El mundo del trabajo (espanhol);
– Monde du travail (francês).
 
• Significado socioeconômico: Conjunto de determinantes e
processos sociais que definem, articulam e regulam tanto as
atividades ocupacionais e profissionais, quanto toda e
qualquer forma de trabalho (formal ou informal, produtivo
ou reprodutivo) em dada sociedade em determinada época,
dando-lhes forma, significado e legitimação social. É
constituído por todas as possibilidades de trabalho oferecidas
pelo mercado formal e informal, sendo o mercado de
trabalho parte integrante do mundo do trabalho
(GREENHAUS; CALLANAN, 2006).
Ocupação
– Occupation (inglês);
– Beruf, Berufung (alemão);
– Oficio, ocupación, profesión (espanhol);
– Profession (francês).
 
• Significado genérico: ato ou modo de estar ocupado,
independentemente do status com que se realiza o trabalho
(SEBASTIÁN-RAMOS, 2003).
• Significado socioeconômico: atividade institucionalizada pela
organização do trabalho, sem vinculação a uma formação
prévia específica em uma área da ciência, o que inclui o
exercício de qualquer forma de atividade de trabalho, que
independe do nível de qualificação (SEBASTIÁN-RAMOS,
2003; RIVAS, 1988; SEARS, 1982).
• Significado psicológico: nome com o qual se designa a síntese
de expectativas do papel profissional a ser desempenhado
pelos indivíduos (BOHOSLAVSKY, 1977).
• Significado psicossocial: atividade desempenhada no mundo
do trabalho de forma transitória e sem vinculação
psicossocial, configurando algo que eu tenho ou faço
(BUJOLD; GINGRAS, 2000; RIBEIRO, 2004).
Papel profissional
– Occupational role (inglês);
– Rollenberuf (alemão);
– Role ocupacional/profesional (espanhol);
– Rôle professionnel (francês).
 
• Significado socioeconômico:
a) sistema organizado de funções (scripts sociais) realizado por
meio de uma sequência estabelecida de ações apreendidas e
executadas por uma pessoa em contexto de interação
profissional e/ouocupacional (RIVAS, 1988);
b) conjunto de expectativas sociais atribuídas às posições
ocupadas no mundo do trabalho (SUPER, 1980).
 
• Significado psicológico: “sequência estabelecida de ações
aprendidas, executadas por uma pessoa em situação de
interação” (BOHOSLAVSKY, 1977, p. 56).
Plano de ação
– Action plan (inglês);
– Aktion splan (alemão);
– Plan de acción (espanhol);
– Plan d’action (francês).
• Significado genérico: um conjunto de ações para atingir um
fim.
• Significado psicológico:
Enunciado relativo a uma representação antecipadora e finalizante de uma
estrutura ordenada de operações susceptíveis de conduzirem ao estado-final
da realidade-objecto do processo de transformação que constitui uma acção
singular. É a imagem antecipadora de um processo de transformação do real.
É uma representação de operações. (BARBIER, 1996, p. 71).
Profissão
5
– Vocation; profession (inglês);
– Gehobene beruf (alemão);
– Profesión (espanhol);
– Profession (francês).
 
• Significado etimológico: associada etimologicamente à palavra
latina proffessio, que sugere a ideia de declarar ou professar
publicamente algo.
• Significado socioeconômico: atividade institucionalizada pela
organização do trabalho vinculada a uma formação
específica prévia em uma área da ciência, claramente
identificada com espaço, tarefas e funções próprias
(SEBASTIÁN-RAMOS, 2003; RIVAS, 1988).
• Significado psicossocial: uma atividade no trabalho centrada
na pessoa, sendo um espaço institucionalizado de expressão
da identidade, no qual eu professo o que eu sou,
possibilitando ser ao fazer (RIBEIRO, 2004).
Projeto de vida
– Life project, life design (inglês);
– Life projekt, life design (alemão);
– Proyecto de vida (espanhol);
– Projet de vie (francês).
 
• Significado etimológico: palavra oriunda do latim proiectus
(lançado) e do verbo projicere (lançar adiante).
• Significado genérico: estado que se pretende atingir ou
identidade que se pretende construir.
• Significado filosófico: “direcionamento do ser para o futuro: o
homem é apenas o que ele projeta ser pelas seguidas escolhas
que faz [...] propósito de vida com horizonte no futuro, na
relação com o passado e com a intenção de transformação do
presente” (RIBEIRO, 2004, p. 89).
• Significado psicológico: possibilitador da compreensão do
sentido de vida dos indivíduos na articulação do seu passado,
presente e futuro, pela “organização de meios e recursos
concretizadores das aspirações e objetivos dos indivíduos,
num campo concreto de possibilidades e limitações” (CATÃO,
2001, p. 24).
• Significado psicossocial:
Seria um ponto de ultrapassagem da oposição sujeito/sociedade aparecendo
como uma variável intermediadora das relações de limitações recíprocas
entre indivíduo e mundo social, permitindo, então, a articulação dos tempos
de vida dos indivíduos, bem como a construção de representações sobre si e
sobre o mundo (autonomia e práxis), pois todo projeto é construído
intersubjetivamente e baseado em representações sociais, que orientam o
agir e operam suas transformações. (RIBEIRO, 2004, p. 90).
Saliência de carreira
– Career salience (inglês);
– Bedeutung, wichtigkeit der berufsrolle (alemão);
– Importancia del trabajo (espanhol);
– Prépondérance de la carrière (francês).
 
• Significado etimológico: saliência é oriunda do latim salire, que
significa sair ou se destacar do resto, ser proeminente
(GREENHAUS; CALLANAN, 2006).
• Significado psicológico: padrão organizado da totalidade de
papéis que uma pessoa desempenha ao longo da vida, no qual
há a hierarquização em termos de importância de cada papel
a cada momento do ciclo vital, gerando a base estrutural para
definição da identidade e da ação da pessoa no mundo
(LASSANCE; SARRIERA, 2009; SAVICKAS, 2002; SUPER, 1985).
Valores
– Values (inglês);
– Werte (alemão);
– Valores (espanhol);
– Valeurs (francês).
 
• Significado psicológico: os valores são uma dimensão
significativa para a escolha profissional, apesar de ser um
conceito pouco estudado e nem sempre lembrado pelos
orientadores. Podem ser compreendidos como qualidades ou
objetivos abstratos considerados desejáveis e que são
buscados pela ação nas atividades em que as pessoas se
inserem, nas situações que vivem e nos objetos que
produzem ou adquirem. Tem caráter abstrato e estabelecem-
se mais tarde do que os interesses (SUPER, 1969; SUPER;
BOHN JR., 1972).
Vocação
– Vocation, call (inglês);
– Beruf, neigung, berufung (alemão);
– Vocación (espanhol);
– Vocation (francês).
 
• Significado etimológico: associada etimologicamente à palavra
latina vocatio, que significa chamamento interno, inclinação,
disposição, tendência ou dom, ou seja, a descoberta de algo
que está dentro de si e que emergirá por um estímulo externo
ou mesmo interno. Na língua inglesa tem o duplo sentido de
inclinação, mas também de tarefa, atividade, ocupação ou
profissão, à qual se dedica uma pessoa (BUJOLD; GINGRAS,
2000; CRITES, 1974; SUPER; BOHN JR., 1972).
 
• Significado filosófico: também tem duplo sentido, podendo ser
definida como inclinação imperiosa para uma atividade
laboral ou destinação individual de cada ser humano
(LALANDE, 1999).
• Significado psicológico: o que uma pessoa se sente atraída a
fazer (pela mobilização de processos psicológicos em relação
ao mundo do trabalho ou profissão exercida) por uma pessoa
cujo engajamento se dá por sua significação psicológica
(RIVAS, 1988; SEARS, 1982; SUPER, 1976).
2.3 Construção de uma definição: no caminho de uma concepção para
a Orientação Profissional
Ao longo da história, várias foram as definições e os enfoques
teóricos construídos na tentativa de formar o corpo da
Orientação Profissional, e não nos cabe aqui apresentar tudo já
postulado, mas sim verificar algumas constâncias históricas e
analisar dados necessários para uma definição. Vamos conferir
apenas algumas definições.
Parsons (2005, p. 13) primeiramente definiu a Orientação
Profissional como o processo especializado de ajuda para:
A questão fundamental, que supera em importância todas as outras, que é a
questão do ajustamento – a questão de unir, tanto quanto possível, as
melhores habilidades e interesses do homem com o cotidiano do trabalho
que ele tem que realizar.
O ajustamento seria realizado por meio de:
 
(1) uma clara compreensão de si mesmo, de suas aptidões, capacidades,
interesses, ambições, recursos, limites e de suas causas; (2) um conhecimento
dos requisitos e condições de sucesso, vantagens e desvantagens,
remuneração, oportunidades e das perspectivas nos diferentes tipos de
trabalho; (3) uma resultante verdadeira das relações entre esses dois grupos
de fatores. (PARSONS, 2005, p. 5).
 
Brewer (1926, p. 11) diria que a Orientação Profissional é um
processo para “ajudar as pessoas a escolher e se preparar para
entrar e progredir nas ocupações”.
Claparède (1922, p. 37-38) postulava a Orientação Profissional
como um processo que “tem como fim guiar um indivíduo até a
profissão que lhe ofereça mais probabilidades de êxito, pois
esta corresponde mais às suas atitudes psíquicas e físicas”,
assim como apontava, da mesma maneira, Myers (1941) e Mira
y Lopez (1947), definindo a Orientação Profissional como o:
 
Processo de auxiliar os indivíduos a escolher uma ocupação, preparar-se
para isso, entrar e progredir nela. Ele está fundamentalmente interessado em
ajudar os indivíduos a tomar decisões e fazer escolhas relativas ao
planejamento do futuro e a construção de uma carreira. (MYERS, 1941, p. 19).
Processo de auxílio a um indivíduo na escolha de uma profissão ou carreira;
de prepará-lo para ela, de fazê-lo ingressar e progredir nela. Isto se refere,
essencialmente, ao auxílio que se oferece a uma pessoa para que ela tome a
decisão de escolha de uma carreira e planeje sua vida futura considerando,
necessariamente, o mais satisfatório ajuste de cada indivíduo à vida
profissional. (NVGA, 1945 apud MYERS, 1941, p. 13).
Atuação científica completa e persistente, destinada a conseguir que cada
sujeito se dedique ao tipo de trabalhoprofissional no qual ele obtenha o
maior rendimento, aproveitamento e satisfação para si e para a sociedade,
com o menor esforço. (MIRA Y LÓPEZ, 1947, p. 1).
 
Até então vemos, como princípios para a Orientação
Profissional, uma relação especializada de ajuda, por meio de
um método científico, visando à escolha profissional, pontual e
permanente, pelo ajustamento vocacional e buscando o
desenvolvimento pessoal e social. Jones (1930) amplia esses
princípios, acrescentando que a autonomia e a aprendizagem
de um processo de escolha são metas para a Orientação
Profissional, que deve ser oferecida para todos, em todos os
contextos e fases da vida.
 
Orientação é a ajuda dada por uma pessoa para outra no sentido de fazer
escolhas, ajustamentos e resoluções de problemas. A orientação objetiva
auxiliar o orientando a crescer em independência e ter habilidade de ser
responsável por si mesmo. É um serviço que é universal – não restrito a
escola ou a família. É encontrado em todas as fases da vida – em casa, nos
negócios e na indústria, no governo, na vida social, em hospitais, em prisões;
de fato ele está presente onde existirem pessoas que necessitem ajuda e onde
existirem pessoas que possam ajudar. (JONES, 1930, p. 5).
 
Super (1951) e Ojer (1965) enfatizam o desenvolvimento
pessoal e social como princípios para a Orientação Profissional,
definindo-a como “a integração do homem na sociedade em que
vive, através do ponto de vista de sua profissão ou campo de
atividade” (OJER, 1965, p. 19) e:
Processo mediante o qual se ajuda uma pessoa a desenvolver e aceitar uma
imagem completa e adequada de si mesma e de seu papel no mundo laboral,
pondo a prova este conceito diante da realidade cotidiana e a convertendo
em uma realidade que traga satisfação pessoal e benefício social. (SUPER,
1951, p. 89).
Podemos perceber, nessas definições já bem conhecidas,
elementos centrais para uma definição atual da Orientação
Profissional, a saber:
 
• é um processo de ajuda realizado por uma pessoa com
conhecimentos técnicos, que visa beneficiar outra pessoa ou
grupo de pessoas que estejam necessitados;
• objetiva trabalhar com o processo de escolha, as inserções
ocupacionais e a elaboração e o acompanhamento de um
projeto profissional/ocupacional;
• deve ser realizado ao longo de toda vida, dirigido a todos os
indivíduos e realizado nos mais variados espaços sociais;
• visa ao auxílio à integração psicossocial dos indivíduos, via
inserção ocupacional/profissional, objetivando o
desenvolvimento pessoal e social.
ara completar nossa definição de Orientação Profissional vamos
recorrer a dois autores mais recentes: Rivas (1988) e Bisquerra-
Alzina (1998). Os elementos centrais a serem adicionados
seriam:
 
• tem caráter mediador e com um sentido cooperativo, ou seja, a
Orientação Profissional conta com um profissional que media
o processo, mas conta principalmente como o orientando, que
tem a responsabilidade exclusiva de colocar seus projetos em
prática;
• apresenta intervenção continuada, sistemática, técnica e
profissional;
• tem como princípios a prevenção, desenvolvimento e
intervenção social;
• requer a implicação da comunidade.
Em 2001, durante as comemorações dos 50 anos da IAEVG
(International Association for Educational and Vocational
Guidance), foi elaborada uma carta de princípios para a
Orientação Profissional que reforçava sua universalização e
diversificação de objetivos e métodos, bem como a necessidade
de padrões de qualidade para os orientadores. Segue um trecho
desta carta:
 
Uma Orientação Profissional e Educacional efetiva deve auxiliar indivíduos a
compreender seus talentos, potencialidades e habilidades e possibilitá-los a
planejar os passos necessários para o desenvolvimento das competências
essenciais que guiarão para a evolução pessoal, educacional, econômica e
social relativa aos indivíduos, às famílias, às comunidades e às nações. Uma
Orientação Profissional e Educacional de qualidade é um processo contínuo e
regular, não uma simples intervenção. Acompanha e melhora a
aprendizagem continuada e ajuda indivíduos a evitar períodos de
desemprego. A Orientação Profissional e Educacional contribui para a
igualdade de oportunidades e não auxilia, somente, para o desenvolvimento
pessoal e para a oportunidade de carreira para cada indivíduo, mas também
contribui para o desenvolvimento social, econômico e sustentável como um
todo (IAEVG, 2001; 2007).
 
A Orientação Profissional teria quatro princípios básicos
(BISQUERRA-ALZINA, 1998):
– antropológico: concepção de ser humano como sujeito de
escolhas;
– prevenção primária: projeto profissional/ocupacional como
agente de saúde;
– desenvolvimento: agente ativador e facilitador do
desenvolvimento;
– intervenção social: agente de mudança social.
 
O princípio de intervenção social remete a modelos ecológicos, que levam em
conta o contexto no qual atuam e que propõe tanto a adaptação do sujeito ao
ambiente quanto a adaptação do ambiente ao sujeito. (BISQUERRA-ALZINA,
1998, p. 46).
 
Como síntese, temos que a Orientação Profissional é um
processo de ajuda de caráter mediador e cooperativo entre um
profissional preparado teórica e tecnicamente com as
competências básicas exigidas e desenvolvidas para um
orientador profissional e um sujeito ou grupo de sujeitos, que
necessite auxílio quanto à elaboração e consecução do seu
projeto de vida profissional/ocupacional com todos os aspectos
envolvidos do seu comportamento vocacional (conhecimento
de seu processo de escolha, autoconhecimento, conhecimento
do mundo do trabalho e dos modelos de elaboração de
projetos). Pode ser realizado durante toda a vida, em todas as
idades, com todos os sujeitos (não somente os problemáticos) e
em todos os espaços de organização social. Requer a implicação
da comunidade, pois é uma responsabilidade individual e
social. Não é uma intervenção focal, mas continuada, pois visa
auxiliar o bom desenvolvimento ocupacional dos sujeitos, bem
como o desenvolvimento socioeconômico de cada nação.
Vejamos, então, quais são as competências básicas para um
orientador profissional, segundo proposta da IAEVG
(International Association for Educational and Vocational
Guidance), após pesquisa realizada com amostra dos cinco
continentes.
2.4 Competências básicas para o orientador profissional
Segundo a IAEVG (2003/2007), o exercício pleno da Orientação
Profissional exige onze competências centrais (core
competencies), além das competências especializadas
(specialized competencies) requisitadas para a atuação nas dez
áreas de especialização do orientador profissional.
Os Critérios Internacionais de Qualificação para o Orientador Educacional e
Vocacional incorporam uma abordagem baseada em competências,
focalizando os conhecimentos, habilidades e atitudes necessárias ao
provimento de serviços de qualidade. Elas estão divididas em duas categorias
principais: (1) competências centrais que todos os profissionais precisam ter
independentemente de seus ambientes de trabalho, e (2) competências
especializadas que são habilidades, conhecimentos e atitudes adicionais que
podem ser necessárias, dependendo do ambiente de trabalho e dos grupos de
clientes que estão sendo atendidos. Alguns profissionais precisarão de uma
ampla gama de competências especializadas, enquanto outros podem
precisar de poucas, dependendo da natureza dos serviços que eles prestam.
As competências especializadas são vistas como igualmente importantes,
representando áreas diferentes de atendimento, que não são nem mais, nem
menos importantes. (TALAVERA et al., 2004).
As competências centrais são:
 
1) Demonstrar comportamento ético e conduta profissional
apropriados na realização de seus papéis e
responsabilidades.
2) Demonstrar defesa e liderança na evolução da
aprendizagem, interesses pessoais e desenvolvimento de
carreira dos clientes.
3) Demonstrar respeito e consideração às diferenças culturais
dos clientes para interagir efetivamente com todos os
públicos-alvo.
4) Integrar teoria e pesquisa naprática do aconselhamento, do
desenvolvimento de carreira, da orientação e da supervisão.
5) Ter capacidade de elaborar, implementar e avaliar
programas e intervenções de aconselhamento e orientação
profissional.
6) Levar em consideração suas próprias capacidades e
limitações.
7) Ter habilidade de se comunicar com colegas e clientes,
utilizando nível de linguagem apropriada.
8) Obter informações atualizadas sobre questões educacionais,
de formação, tendências de emprego, mercado de trabalho e
sociedade em geral.
9) Ter sensibilidade social e transcultural.
10) Ter capacidade de cooperar efetivamente numa equipe
profissional.
11) Demonstrar conhecimento dos processos de
desenvolvimento de carreira ao longo da vida (IAEVG,
2003/2007).
As competências especializadas, que não são pré-requisitos na
íntegra para ser um orientador profissional, mas são
demandadas de acordo com a especialidade da intervenção a
ser realizada, são:
1) Diagnóstico: aplicar, avaliar, integrar e comunicar resultados
de avaliação psicológica.
2) Orientação educacional: atender as necessidades de alunos
em contextos educacionais e integrá-las com professores,
família e comunidade.
3) Desenvolvimento de carreira: facilitar na elaboração,
implementação, adaptação e transição de planos e projetos de
carreira.
4) Orientação (counseling): auxiliar na promoção do
autoconhecimento, nas tomadas de decisão e na resolução de
dificuldades dos orientandos.
5) Gestão da informação: organizar e oferecer informações
profissionais e educacionais atualizadas aos orientandos,
bem como auxiliá-los no seu uso efetivo.
6) Supervisão e coordenação: orientar pais, professores,
diretores de escola, empregadores e agentes comunitários a
facilitar o progresso educacional e o desenvolvimento de
carreira de pessoas que estes assistem.
7) Pesquisa e avaliação: pesquisa e avaliação teórica e técnica
em Orientação Profissional.
8) Gestão de programas e serviços em Orientação Profissional.
9) Desenvolvimento da capacidade comunitária: fomentar a
colaboração entre os membros das comunidades para o
desenvolvimento social.
10) Colocação: auxiliar pessoas que buscam a inserção no
mercado de trabalho.
2.5 Ensino, orientação (counseling) e psicoterapia
O campo da Orientação Profissional, por conta de sua
polissemia, diversidade e interdisciplinaridade, tem causado
confusões conceituais e metodológicas, entre elas, a dimensão
de atuação do orientador: ele ensinaria, orientaria ou faria
psicoterapia?
As delimitações entre esses campos de intervenção são tênues
e alguns autores defendem que seria secundária a divisão,
principalmente, entre aconselhamento (guidance), orientação
(counseling) e psicoterapia (psychotherapy), pois ela não se
daria a priori e, sim, em função da demanda ou pedido de ajuda
do cliente (SCHMIDT, 1987).
Stefflre (1976), Scheeffer (1976) e Hahn (1953) também
indicam a dificuldade de delimitação desses campos de
intervenção, embora afirmem ser necessária a realização dessa
tarefa.
 
Conheço poucos orientadores ou psicólogos que estejam completamente
convencidos de que tenham sido feitas distinções claras [...] Talvez haja mais
consenso quanto aos seguintes pontos: (1) não é possível distinguir
claramente orientação de psicoterapia; (2) os orientadores praticam o que
muitos psicoterapeutas chamam psicoterapia; (3) os psicoterapeutas
praticam o que os orientadores consideram aconselhamento ou orientação; e
(4) apesar de tudo que foi dito, psicoterapia, aconselhamento e orientação
são diferentes. (HAHN, 1953, p. 232).
 
Diante desse desafio difícil, mas necessário, façamos um
esforço de realizar uma distinção (ao menos didática, pois
muitas vezes na prática ela não é tão clara) entre ensino
(teaching) ligado ao aconselhamento (guidance), orientação
(counseling) e psicoterapia (psychotherapy), por meio de um
quadro esquemático para fins didáticos contando com as
reflexões de Scheeffer (1976), Schmidt, (1987), Stefflre (1976) e
Williamson (1965).
Na Tabela 1 podemos perceber, como indica a APA (American
Psychological Association – Associação Americana de
Psicologia), que ensino, orientação e psicoterapia são gradações
de um mesmo processo que visa ao desenvolvimento integral
da pessoa, sendo o ensino (teaching) de natureza mais
desenvolvimental, a orientação (counseling) de natureza mais
profilática e a psicoterapia (psychotherapy) de natureza mais
curativa.
Uma outra discussão importante diz respeito ao papel do
orientador, que pode ser caracterizado como de um
diagnosticador, facilitador, clarificador, orientador, educador,
assessor e conscientizador. São papéis mais tradicionais e
podem ser associados, respectivamente aos enfoques teóricos
da Orientação Profissional, a saber: diagnosticador (enfoque
traço-fator), clarificador e facilitador (enfoques
psicodinâmicos), orientador (enfoques desenvolvimentistas e
transicionais), educador e assessor (enfoques decisionais e
cognitivos) e conscientizador (enfoque sócio-histórico).
Um novo papel que vem sendo discutido seria o papel de
intermediário, compreendido como um lugar que permitiria a
construção de um espaço de transição, no qual o orientando
pode recriar seu projeto ocupacional/profissional, papel
necessário num mundo em constante transformação (KAËS,
1997; 2005).
 
Tabela 1. Comparação entre ensino (teaching), orientação
(counseling) e psicoterapia (psychotherapy).
Ensino
(Teaching)
Orientação
(Counseling)
Psicoterapia
(Psychotherapy)
Alcance da
intervenção
Desenvolvimento cognitivo Focal e situacional Global e totalidade psíquica
Objetivos
e
demandas
- Desenvolvimento e
aprendizagem
(insight cognitivo);
- Lidar com situações
esperadas de
desenvolvimento pessoal do
ciclo de vida;
- Propiciar o
desenvolvimento pessoal.
- Prevenção, desenvolvimento
(insight reeducativo) e
aprendizagem (insight
cognitivo);
- Lidar com problemas
situacionais envolvendo as
dimensões
objetivas e subjetivas da vida;
- Propiciar a abertura de
oportunidades.
- Terapêutico (insight
reconstrutivo);
- Lidar com problemas
profundos de personalidade,
envolvendo a dimensão
subjetiva da vida;
- Propiciar a cura.
Clientes Qualquer pessoa
Pessoas com necessidades
situacionais
Pessoas com dificuldades e/ou
questões psicológicas globais
Profissionais
Educadores e
orientadores
Psicólogos, educadores e
orientadores
Psicólogos e psicanalistas
Método Duração
preestabelecida
1. Elaboração de um plano de
ensino;
2. Execução
(fornecimento de informações
e
facilitação da aprendizagem);
Duração
preestabelecida
1. Descoberta inicial (identificação
da demanda);
2. Exploração em profundidade
(autoconhecimento,
conhecimento das possibilidades
Duração
indeterminada
1. Diagnóstico inicial;
2. Prognóstico;
3. Intervenção (reconstrução
subjetiva ou psicológica).
3. Avaliação do
processo.
que a realidade pode oferecer e
redefinição do projeto de vida);
3. Preparação para a ação
(tomada de decisões em função
das demandas identificadas e do
projeto de vida; e elaboração de
um plano de ação).
Resultados
esperados
Aprendizagem por meio do
desenvolvimento de
competências (resultado em
termos de produto esperado)
e desenvolvimento da
competência de aprender a
aprender (resultado em
termos de
processo).
Construção de um plano de ação
baseado no projeto de vida
(resultado em termos de produto
esperado) e instrumentação
objetiva e subjetiva para a
construção de planos de ação
(resultado em termos de
processo).
Reconstrução subjetiva ou
psicológica (resultado em termos
de produto esperado) e
instrumentação objetiva e
subjetiva para a
autorreconstrução subjetiva ou
psicológica (resultado em termos
de processo).
2.6 Código de ética e deontologia da Orientação Profissional
É evidente a indispensabilidade de um código deontológico
que estabeleça os deveres profissionais de cada categoria,
fundamentados em princípios éticos, mesmo em áreas
interdisciplinares como a Orientação Profissional, pois
cumprem a função de orientar o comportamento e a atuação
profissional.
Cada categoria profissional possui

Outros materiais