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12 1 INTRODUÇÃO A Orientação Profissional (OP) vem assumindo um papel de destaque no mundo atual, pois cada vez mais precocemente exige-se do adolescente uma definição profissional e enfrentar este desafio não é uma atribuição fácil, na medida em que demanda autoconhecimento, segurança e informação para uma tomada de decisão consciente e autônoma. Segundo Vasconcelos e Oliveira (2004) as pessoas que fazem as suas escolhas de maneira espontânea e com possibilidades de reflexão, apresentarão uma menor probabilidade de arrependerem-se dessas escolhas se comparadas as que não vivenciam este processo. A tarefa da OP consiste em propiciar ao adolescente um espaço de discussões, informações e reflexões acerca dos conflitos que emergem mediante a escolha profissional, bem como, construir caminhos para sua superação. Na cidade de Boa Vista e no Estado de Roraima, a OP como uma prática social começou a ser desenvolvida no ano de 2008, pelo curso de Psicologia da Universidade Federal de Roraima – UFRR e que, em anos anteriores somente foi oferecida a partir da prática clínica. Segundo dados fornecidos pela Secretaria de Estado de Educação, Cultura e Desportos (SECD) do Estado de Roraima, o quantitativo de estudantes que estão no ensino médio é de quinze mil, novecentos e setenta e quatro (15.974), estes, em sua maioria, vivenciando dúvidas relativas à escolha profissional. Identificando nesta população os possíveis conflitos que emergem no momento da escolha de uma profissão, a professora Maria do Socorro Lacerda Gomes elaborou um projeto de extensão que possibilitasse aos adolescentes um espaço de discussões acerca da escolha profissional. Surgiu então, o Projeto de Orientação Vocacional/Profissional “Ampliando Horizontes”, que tem se constituído nos últimos quatro anos como uma rede de apoio social aos estudantes do ensino médio do município de Boa Vista-RR. 13 Diante o exposto e a partir da experiência no Estágio em Psicologia e Processos Educativos percebemos a necessidade de analisar a importância deste projeto no contexto da educação para o trabalho, buscando verificar o quanto contribuiu para a definição da escolha profissional dos orientandos e se os mesmos submeteram-se ao concurso vestibular, permanecem nos cursos escolhidos e se estão satisfeitos com a escolha profissional. Para tanto, elegeu-se a turma de orientandos que participaram do projeto no ano de 2008. Esta escolha deve-se aos seguintes motivos: por se tratar da turma em que o projeto foi implantado e por estes, ano de 2011, possivelmente estarem em um curso de graduação ou inseridos no mercado de trabalho. Objetivando aprofundar e compreender o fenômeno da escolha profissional, esta pesquisa foi dividida em capítulos, sendo o primeiro denominado: “A História do Trabalho e a Inserção da Escolha Profissional” no qual é apresentada a trajetória histórica do trabalho em todos os tempos e sociedades. O segundo capítulo, intitulado: “Adolescência e Vestibular: O Momento da Escolha” apresenta a dinâmica interna dos adolescentes a partir dos conflitos vivenciados frente ao momento da escolha profissional e o vestibular, considerado o ritual de passagem mais significativo nessa fase da vida. E terceiro capítulo, “O Projeto de Orientação Vocacional/Profissional Ampliando Horizontes”, descreve a sua constituição e etapas: divulgação, período de inscrição e de execução, composto por dinâmicas de grupo voltadas para o autoconhecimento e para o significado da escolha profissional, palestras com os profissionais das Instituições pública e privada de ensino superior de Boa Vista-RR, aplicação dos testes psicométricos vocacionais e a entrevista de devolução, etapa final que consiste no oferecimento de feedback aos orientandos e suas famílias. No quarto capítulo abordaremos método, instrumentos e procedimentos utilizados para definir esta pesquisa enquanto um estudo descritivo, com delineamento metodológico qualitativo, e utilizando para análise o método de análise de conteúdo. Em seguida, apresentamos a análise e discussão dos dados. 14 Finalizando o estudo, apresentamos as considerações finais acerca do Projeto de Orientação Vocacional/Profissional “Ampliando Horizontes”, da importância do referido projeto para os adolescentes, para a cidade de Boa Vista e para o curso de Psicologia da Universidade Federal de Roraima – UFRR 15 2 A HISTÓRIA DO TRABALHO E DA INSERÇÃO DA ESCOLHA PROFISSIONAL Ao evidenciarmos a trajetória histórica do trabalho, percebemos que o mesmo, enquanto dimensão da existência humana, sempre existiu em todos os tempos e sociedades. O primeiro modelo de trabalho deu-se na comunidade primitiva, onde este era um meio de sobrevivência. De acordo com Bock (2002, p.19), os ancestrais da humanidade viviam para sobreviver ou sobreviviam para viver, pois seu trabalho organizava-se como atividade de coleta e mais tarde de caça, não havendo muita diferenciação de funções, apenas as determinadas pelo gênero e, consequentemente, causadas pela especificidade orgânica na reprodução da espécie. Na Idade Antiga, ainda de acordo com o autor, a relação de trabalho apresenta-se na condição de servidão escravizador/escravo, sendo considerada uma atividade penosa, degradante, sem valor social e que se justificava, em última instância, por assegurar a satisfação das necessidades primárias. Neste período, a atividade humana valorizada era o ócio e a contemplação, exercida pelos cidadãos livres. A escolha de uma atividade, por sua vez, não era livre, mas condição intrínseca da classe a qual o indivíduo pertencia, ou como consequência das vitórias ou derrotas em guerras das quais participava. Mais adiante, na Idade Média, especificamente no feudalismo, passa-se da relação de escravizador-escravo para a relação senhor-servo. A sociedade passa a ser estratificada em camadas sociais - nobres, clérigos, senhores e vassalos. Assim, a posição e ocupação na sociedade eram transmitidas de pai para filho e o trabalho visava apenas o sustento. Pimenta (1981) ressalta que nesses períodos não havia a preocupação com a escolha profissional e o conceito de vocação que imperava era o religioso, um chamado divino que impõe uma missão. A ordem social era determinada pela “vontade de Deus” e por isso nem podia nem devia ser questionada. 16 É na Revolução Industrial com o predomínio da produção em série e fábricas funcionando a plena capacidade, impondo jornadas de trabalho extensas, que o trabalho se constituiu para o homem um verdadeiro sentido de vida, pois o tempo que se passava trabalhando era maior que o tempo que se vivia fora do espaço de trabalho (CALHEIROS e SILVEIRA, 2004, p. 82). Com o advento do capitalismo ocorrem mudanças no modo de produção e reprodução da existência humana. O trabalhador é totalmente alijado da propriedade e de todos os meios de produção, só poderá alcançar sua sobrevivência se vender sua força de trabalho para os proprietários dos meios de produção (BRAVERMAN, 1981 apud BOCK, 2002). A posição do indivíduo no capitalismo não é mais determinada por laços de sangue, mas conquistada a partir do esforço que despende. Se antes esta posição era entendida em função das leis naturais referendadas pela vontade divina, agora, ao contrário, o indivíduo pode tudo, desde que lute, estude, trabalhe, se esforce, e também (por que não?) seja um pouco aquinhoado pela sorte. (Bock 1989 apud BOCK 2002, p.23). É neste contexto que os avanços nas teorias e práticas em OP ocorrem, pois a escolha profissional passa a ter importância, uma vez que passa a prevalecer a idéia do homem certo no lugarcerto, visando uma maior produtividade. E para justificar as diferenças encontradas no seio da sociedade, desenvolve-se o conceito de vocação biológica, onde se considera o orgânico para explicar as diferenças individuais e sociais. O ser humano nasce, portanto, com atributos específicos que servem tanto para localizá-lo na estrutura social quanto justificar o seu fracasso. Não havendo mais um chamamento divino, mas um chamamento interno, que também determina uma missão, visto que, estes são utilizados para a manutenção do status quo. Desta forma, ressalta-se que ao longo dos tempos a sociedade produziu modelos para o trabalho, que vai desde os meios de sobrevivência à valorização social. Entretanto, durante muito tempo foi negada ao homem a liberdade para escolher sua profissão ou ocupação. A partir do advento do capitalismo e nos dias atuais pode-se, se não escolher, mas preocupar-se com a possibilidade de vir a 17 escolher. Neste sentido Pimenta (1981) afirma que se existe a possibilidade de escolha, existe também a possibilidade de alguém para mediar esta escolha e isto é a função da OP. Nesta conjuntura, nasce em 1902 a Psicologia Vocacional (PV), cujo incremento se deu a partir do processo de industrialização, impondo ao homem a necessidade de escolher entre as diversas alternativas ocupacionais oferecidas pela nova realidade sócio-econômica. Filomeno (1997, p.23) profere que “(...) a instalação do primeiro centro de orientação profissional se deu em Munique, cujo objetivo era identificar os indivíduos desprovidos de vocação e capacidade para determinadas tarefas e desta forma minimizar ou evitar os acidentes de trabalho”. A partir de seu nascimento novos centros surgiram em diferentes países, como: Itália (1903), França (1906), Holanda (1907) e Estados Unidos (1908). Na América Latina temos o Brasil e a Argentina como os pioneiros a partir da década de 20 (VASCONCELOS, 2004). Porém, a PV tem sua história dividida em dois períodos: o compreendido entre 1902 a 1950, na qual foi dominada pela Psicometria e de 1950 até a atualidade, no qual surgem novas teorias. Neiva (2007) declara que a PV em sua criação estava a serviço das grandes crises econômicas: pós-Revolução Industrial, 1ª e 2ª Guerras Mundiais e a grande crise econômica de 1929. Salienta-se, portanto, que sua preocupação não era o indivíduo, mas suas aptidões individuais e a correta identificação destas objetivando selecionar para as funções onde seria mais produtivo, como afirma Pimenta (1981). Para apresentar resumidamente esta trajetória histórica, ilustraremos apenas os fatos mais marcantes acerca das grandes crises e do desenvolvimento da PV. Um dos momentos relevantes é a criação, em 1908, do Serviço de OP na Associação Cristã de Moços, em Boston, e a publicação do livro Chosing a Vocation, por Frank Parsons. 18 Segundo Pimenta (1981, p. 22), “o modelo de OP de Parsons, se traduz da seguinte forma: a adaptação ao mundo do trabalho depende da harmonia entre as aptidões e características do indivíduo, por um lado, e as exigências da ocupação, por outro”. Estava, assim, lançada a idéia de colocar o homem certo no lugar certo. Ribeiro e Melo-Silva (2011) asseguram que a visão de Parsons era mecanicista, pois defendia que indivíduo e sociedade apresentavam configuração e forma estável, portanto, não mudavam, apenas sofriam poucas alterações ao longo da vida. Outro importante momento da PV reporta-se a primeira guerra mundial, em 1917, com a utilização de testes coletivos de inteligência, cuja finalidade era selecionar homens para o exército norte-americano. De acordo com Pimenta (1981), esses testes permitiram analisar as diferenças ocupacionais relacionadas com traços de inteligência e, por conseguinte, distribuir os sujeitos no campo de guerra de acordo com sua capacidade cognitiva. Uma década depois, em 1927, três contribuições de naturezas diversas, tornam-se decisivas na PV, são elas: a primeira edição do Inventário de Interesses Vocacionais (IIVS) por Strong, permitindo investigar os interesses, escolhas, satisfação e outros fenômenos vocacionais conexos; os estudos de Elton Mayo, que se constituíram no ponto de partida para o que hoje se chama Relações Humanas e, por último, a idéia profética de construir uma máquina “prognosticadora” de Clark L. Hull, que objetivava predizer o êxito de uma pessoa, em todas as possíveis ocupações (PIMENTA, 1981). Mais adiante, em 1933, em plena crise econômica, organiza-se nos Estados Unidos o Serviço de Empregos cujo objetivo era estabelecer o equilíbrio entre oferta e a demanda de trabalho, convertendo-se esse serviço em “bolsa de emprego”. Para a realização desta atividade foi necessário a elaboração de informações ocupacionais ou tarefas a partir da oferta de empregos que possibilitasse preparar medida de competência e capacidade para estabelecer programas de equivalência entre empregos e habilidades (PIMENTA, 1981). 19 Este autor enfatiza que até esta data o interesse básico da PV, centrava-se nas características das ocupações. Com a participação dos Estados Unidos na Segunda Guerra Mundial, em 1939, mais um incremento é dado à necessidade de selecionar e classificar homens para as forças armadas. A PV fica em evidência e é formulada a Teoria dos Traços e Fatores de Parsons. A inserção da análise fatorial na construção de testes e a avaliação dos critérios de êxito permitiu mudar o enfoque do interesse básico da psicologia vocacional para as características individuais; o que não significa que o interesse fosse sobre os indivíduos, mas sim sobre o ajuste de suas aptidões às ocupações guerreiras (PIMENTA, 1981, p. 24). Segundo Neiva (2007) a Teoria de Traços e Fatores caracteriza bem a posição da Psicologia Vocacional nesse período em que o “determinismo vocacional” imperava, assim, acreditando que as aptidões eram inatas, bastava elaborar instrumentos precisos, os testes, para identificá-las. Bock e Aguiar (2002) afirmam que esta teoria fundamenta os testes vocacionais. Assim como Pimenta (1981, p. 24) assegura que: A teoria dos traços e fatores resume toda a característica da Psicologia Vocacional e da Orientação Vocacional/Profissional no período de 1900 a 1950, pois representa o esforço científico para a caracterização das ocupações e identificação das aptidões. Neste período, acreditava-se que o ajuste entre estes dois fatores garantia o bem-estar pessoal e, por conseguinte o bem-estar social. Bock e Aguiar (2002) certificam que os testes vocacionais, por mais criticados que sejam fazem parte do imaginário social quando se trata da escolha profissional. A concepção de escolha, nessa teoria, aproxima-se do modelo médico, que ‘radiografa’ o sujeito, analisa os dados coletados e os sintomas, realiza um diagnóstico e, por fim, propõem um prognóstico. Na realidade, o interessado não decide, mas aceita ou não o conselho do profissional (BOCK, 2001, p. 10). 20 No início da década de 50 a Psicologia começa a encarar a vocação sob um novo enfoque, colocando a Psicometria em segundo plano (PIMENTA, 1981). Surgem mais teorias e novas interpretações acerca da problemática da escolha profissional. Essas teorias, segundo Filomeno (1997), foram agrupadas em três correntes teóricas denominadas: desenvolvimental, psicodinâmica e decisional. Ainda de acordo com esta autora, a abordagem desenvolvimental ou desenvolvimentista proposta por Super nas décadas de 40 e 50, representa a confluência de várias correntes teóricas em OP, influenciada pela Psicologia do Desenvolvimento, pela Teoria dos Traços e Fatores e pelo enfoqueCentrado na Pessoa. Apresentando como premissa a necessidade de entender o passado do indivíduo para melhor orientar o seu futuro. Neste sentido, é preciso analisar os temas recorrentes, as características e tendências do seu desenvolvimento. Para a efetivação desta análise será necessária a realização de uma extensa avaliação de sua personalidade, história pessoal e dos dilemas ocupacionais atuais, utilizando entrevistas, questionários e testes. Outra teoria desenvolvida na década de 60 foi à abordagem psicodinâmica, mais tarde, década de 80, aprimorada por Bohoslavsky, a mesma consiste na aplicação dos conceitos e das técnicas psicanalíticas à escolha ocupacional. O foco da intervenção está no desvelamento e elaboração dos conflitos, ansiedades, medos e fantasias relacionados com o dilema ocupacional, bem como a busca de escolhas conciliatórias ou reparatórias. Por sua vez, as Teorias Decisionais fundamentam-se em modelos econômicos, conceitos e técnicas da Psicologia Cognitiva e da Psicologia Social, e tiveram grande impulsão na década de 90. Para Moura (2011), essas teorias contribuem para a compreensão do problema da escolha vocacional, propondo um esquema de decisão sequencial, em que uma série de decisões intermediárias leva a uma decisão final. Nesta perspectiva, Neiva (2007, p. 18) ressalta que: 21 No decorrer do processo de decisão o indivíduo avalia as possibilidades que lhe são oferecidas, as conseqüências possíveis das decisões que pode tomar e a probabilidade de que essas conseqüências ocorram (...) avaliando as decisões consideradas, o indivíduo fixa finalmente sua decisão. A premissa básica desta tendência está na maximização dos ganhos e minimização das perdas. Isto significa que cada profissão possui um valor particular e o processo de orientação buscará identificar e analisar junto ao sujeito suas atitudes, valores, expectativas, esquemas cognitivos, autoconceito, autoeficácia e objetivos pessoais. Diferente da abordagem diagnóstica, sua conotação é mais positiva, pois a responsabilidade recai tanto sobre o orientador quanto sobre o orientando e, após essa avaliação, é possível identificar o nível de maturidade ocupacional. Segundo Neiva (2007), estas distintas concepções teóricas contribuíram substancialmente para a compreensão do processo de escolha profissional e para o desenvolvimento de diferentes estratégias com o objetivo de facilitar o processo. O campo da OP, portanto, caracteriza-se por seu constante movimento de transformações desde o nascimento até os dias atuas, sendo resultantes das mudanças sociais e paradigmáticas no seio da própria psicologia. Acerca da trajetória da OP brasileira, torna-se importante contextualizar que, havendo sido gestada sob forte influência da Psicometria na década de 1920, em institutos de Psicologia Aplicada, sua ênfase abrangia somente o diagnóstico das tendências vocacionais e aptidões dos indivíduos através do uso de testes psicológicos e aconselhamento para seu melhor ajustamento ao trabalho. Nas décadas seguintes, seu desenvolvimento esteve relacionado à criação de cursos de formação e aperfeiçoamento de psicotécnicos e orientadores profissionais no Instituto de Seleção e Orientação Profissional (ISOP), organizado por Emilio Mira Y López, na Fundação Getúlio Vargas, cuja criação, segundo Cruces (2003), foi relevante para a consolidação da Psicologia brasileira, especialmente em sua interface com a Educação, assim, desde a sua chegada ao Brasil, a OP esteve 22 atrelada à ciência e à prática psicológica, embora mantivesse interfaces com outras áreas, como a Educação. Entretanto, apenas na década de 40 adentrou as escolas, estabelecendo-se gradualmente como campo de atuação de psicólogos e pedagogos. Melo-Silva, Lassance e Soares (2004) ressaltam que, no que diz respeito à atuação de pedagogos, a OP surgiu como atividade no campo da Orientação Educacional, destinada às classes menos favorecidas que frequentavam as escolas profissionais. Com a Lei 5.692/71, a OP chegou a ser estabelecida como atribuição específica do orientador educacional, devendo ser oferecida em todas as escolas. Quanto à atuação no âmbito da Psicologia, as autoras indicam que a OP desenvolveu-se em três domínios: o da Psicologia do Trabalho, vinculada à Seleção de Pessoal, a da Psicologia Educacional, centrando-se na questão da passagem de um ciclo educativo a outro; e a do Aconselhamento, focalizando determinadas crises evolutivas no ciclo vital. A OP, no Brasil, têm passado por significativas transformações em seus fundamentos teórico-metodológicos, no qual vem possibilitando o estabelecimento de intervenções cada vez mais focadas na promoção do desenvolvimento humano e na construção da cidadania. Neste contexto surgem novas teorias, dentre elas: as gerais, as tradicionais (abordagem liberal), as críticas e as para além da crítica, sendo estas três últimas classificadas por Sílvio Duarte Bock. Ainda de acordo com Bock (2002), as teorias denominadas gerais partem do pressuposto de que a escolha profissional é determinada ora por aspectos psicológicos, ora por aspectos socioeconômicos. Este enfoque tem como principal representante Blau, que elaborou um esquema conceitual contendo aspectos da psicologia, da economia e da sociologia. Segundo Blau (1976 apud BOCK, 2002, p.38): 23 A escolha ocupacional é um processo de desenvolvimento que se estende por muitos anos (...) não há uma ocasião única em que os jovens se decidam por uma dentre todas as carreiras possíveis e as experiências sociais constituem um aspecto essencial do desenvolvimento individual (...). O grupo das teorias tradicionais (ou abordagem liberal) inclui as teorias psicológicas, aponta Bock (1995). Estas teorias buscam entender o fenômeno da escolha profissional a partir do indivíduo e quase exclusivamente somente nele. Bock (2002) afirma que nas teorias tradicionais, utiliza-se o “modelo de perfis”, que classifica uma boa escolha a partir da harmonia mais perfeita entre o perfil profissional ou ocupacional e o perfil pessoal. Para este autor todas as teorias denominadas psicológicas apóiam-se no modelo de perfis. Elas apenas se diferenciam quanto ao entendimento da gênese das características pessoais do indivíduo. Algumas consideram que tais características são inatas; outras, que são construídas a partir da relação afetivo-sexual estabelecida na primeira infância; outras que são construídas ao longo do crescimento, mas todas, sem exceção, comparam as características com os perfis elaborados de cada profissão. Portanto, em maior ou menor escala, há um ajustamento do indivíduo à sociedade (BOCK, 2002, p. 48). As teorias ditas críticas surgiram no final da década de 70 e início da década de 80. Estas analisaram as teorias já existentes, denominadas tradicionais ou liberais, ou seja, o grupo das teorias psicológicas. Ainda de acordo com o autor, estas teorias foram elaboradas no período da Ditadura Militar, onde se restringiam as liberdades democráticas. Por fim, ressaltam-se as teorias para além da crítica, que propõem uma nova abordagem denominada sócio-histórica, procurando superar a dicotomia entre indivíduo e sociedade. Bock (2002) explica que essa abordagem aceita as formulações desenvolvidas pelas teorias críticas, mas aponta que é necessário um avanço na compreensão da relação indivíduo-sociedade, de forma dialética, e não idealista ou liberal. 24 Na perspectiva para além da crítica, o indivíduo é e não é reflexo da sociedade, da mesma forma ele é e não é autônomoem relação a esta, assim como, escolhe e não escolhe sua profissão ou ocupação, ou seja, trata-se da questão da liberdade de escolha (BOCK, 2002). Entende-se, nessa abordagem, que o indivíduo é capaz de mudar sua trajetória de vida independente das suas condições sociais, pois considera que as pessoas podem lutar para mudar as condições nas quais vive. Vigotsky é o principal representante desta abordagem, e tem como pressupostos básicos a idéia de que o ser humano é mutável, constituindo-se enquanto tal na sua relação com o outro social. De acordo com Oliveira (1992 apud BOCK, 2002) a cultura torna-se parte da natureza humana num processo histórico que, ao longo do desenvolvimento da espécie e do indivíduo, molda o seu funcionamento psicológico. Ressalta, ainda, que não há ruptura entre indivíduo e sociedade, mas uma constante relação à medida que se influenciam. Bock (1995) diz que não se quer com isso resgatar a concepção liberal de homem, da mesma forma, não se assume que se superarão todos os obstáculos colocados pela realidade por mera vontade pessoal, mas que as pessoas podem lutar para mudar as condições em que vivem, tanto individual quanto coletivamente. Assim, pode-se enfatizar que a abordagem sócio-histórica indica caminhos para entender o indivíduo na sua relação com a sociedade de forma dinâmica e dialética. Sabe-se, ainda, que a OP realizada no Brasil tem-se voltado essencialmente ao atendimento de jovens do ensino médio, e que são os psicólogos os profissionais que mais estão atuando neste campo (MELO-SILVA et al., 2004). Nas últimas décadas esta atuação dá-se tanto no contexto educativo quanto no do consultório psicológico, ainda com grande ênfase neste último. Valore (2003) considera o alcance da OP como importante instrumento de exercício da cidadania, na medida em que incentiva a prática coletiva e o re-pensar de si e de seu projeto no interior da coletividade, seja o grupo de OP, seja o grupo 25 macro-social. Seu alcance também se faz presente diante da pretensão de se ter no psicólogo um agente de mudança capaz de auxiliar na formação de sujeitos mais ativos, agentes de mudança, tanto na construção de seu destino individual quanto no destino da comunidade à qual pertencem. 26 3 ADOLESCÊNCIA E VESTIBULAR: O MOMENTO DA ESCOLHA Ao discutirmos adolescência e vestibular não podemos desconsiderar o quanto este momento de escolha é doloroso, provoca inúmeras angústias, porém, contribui para a emancipação do sujeito. De acordo com Ariès (1981 apud Ximenes, 2004, p. 38), “a noção de adolescência começa a germinar a partir das drásticas mudanças sociais e econômicas do século XVIII, cujo processo de industrialização da economia desencadeou uma ruptura entre os ambientes público e privado, e a consequência foi o decréscimo e até mesmo a extinção do trabalho doméstico artesanal. A partir desse momento histórico, pontua o autor, a adolescência surge como um período de transição entre a infância e a idade adulta. Neste sentido para REIZ; ZIONE (1981 apud XIMENES, 2004, p.38) a saída do ambiente familiar possibilitou o ingresso em instituições como, a escola e o exército, cuja função era instrumentalizar e socializar o jovem, mediante o ensino, a vigilância e o enquadramento social, favorecendo seu ingresso também no mercado de trabalho. Nesse sentido, um primeiro passo foi separar as crianças mais novas das mais velhas, permitindo a identificação de uma fase cronologicamente posterior à infância, de preparação para a vida adulta, que conhecemos como adolescência. Na Psicologia, a adolescência começa a ser objeto de estudo a partir do século XX, quando Stanley Hall, o precursor, afirma: “a adolescência é um momento de vida do homem, uma etapa marcada por tormentos e conturbações vinculadas à emergência da sexualidade” (AGUIAR, BOCK e OZELLA, 2002, p.164). Conforme Ozella (2002, p.16), “as abordagens psicanalíticas reafirmaram e reforçaram o pensamento de Hall, ao caracterizar a adolescência como uma etapa de confusões, estresse e luto, causados pelos impulsos sexuais que emergem nessa fase do desenvolvimento”. 27 Teóricos como Debesse (1946), Erikson (1976) Aberastury (1980) e Knobel (1981) são adeptos dessa concepção de adolescência. Porém, Ozella (2002) aponta Erikson como o grande responsável pela institucionalização da adolescência, ao identificar os principais conflitos deste período que são: a confusão de papéis e dificuldades em estabelecer uma identidade própria. A adolescência segundo Debese (1946 apud Aguiar, Bock e Ozella, 2002, p.164), não é uma simples transição entre a infância e a idade adulta, mas um período em que se constitui uma mentalidade própria e um psiquismo característico. Enquanto para Aberastury (1980 apud Ozella 2002, p.18), é um momento crucial na vida do homem, uma etapa decisiva de um processo de desprendimento, sendo um período confuso, doloroso e repleto de contradições, chegando esta autora a afirmar que a adolescência é o momento mais difícil da vida do homem. Ao introduzir a síndrome normal da adolescência, ainda de acordo com Ozella (2002), Aberastury e Knobel afirmam uma crise essencial na adolescência, condicionando a realidade biopsicossocial a circunstâncias interiores. Segundo estes, “o adolescente passa por desequilíbrios e instabilidades extremas (...) o adolescente apresenta uma vulnerabilidade especial para assimilar os impactos projetivos dos pais, irmãos, amigos e de toda a sociedade” (ABERASTURY e KNOBEL, 1981, p. 28). Segundo Aguiar, Bock e Ozella (2002, p.165), “Aberastury e Knobel ao pressuporem uma crise preexistente na adolescência determinam a naturalização e a universalização do comportamento adolescente, e este tem imperado na concepção desse momento de vida do homem pela Psicologia”. Em virtude disso, teóricos vêm questionando esses pontos de vista acerca da adolescência, defendendo a necessidade de se construir uma abordagem que considere a realidade social como mutável e procure não negligenciar a trajetória histórica do sujeito. Neste contexto, a perspectiva sócio-histórica vem procurar superar a visão naturalizante acerca do comportamento adolescente, que para Aguiar, Bock e Ozella (2002, p. 112), “(...) tem sido responsável pelo ocultamento das determinações sociais de fenômenos como a adolescência”. 28 A perspectiva sócio-histórica concebe o homem como um “ser histórico, ser constituído no seu movimento; constituído ao longo do tempo, pelas relações sociais, pelas condições sociais e culturais engendradas pela humanidade” (AGUIAR, BOCK e OZELLA, 2002, p. 166) Os adeptos dessa corrente entendem que para se conceituar a adolescência, primeiramente, deve-se compreender sua gênese histórica e seu desenvolvimento, ou seja, a adolescência existe, é criada historicamente pelo homem nas relações sociais, e não uma fase natural do desenvolvimento humano como acreditam grande parte dos teóricos psicanalistas. A adolescência deve ser compreendida nessa inserção. É importante perceber que essa totalidade social é constitutiva da adolescência, ou seja, sem essas condições sociais a adolescência não existiria ou não seria esta da qual falamos. Não estamos nos referindo, portanto, das condições sociais que facilitam, contribuem ou dificultam o desenvolvimento de determinadas características do jovem, estamos falando de condições sociais que constroem uma determinada adolescência (AGUIAR, BOCK e OZELLA, 2002, p.169). A abordagem sócio-histórica considera os fatores sociais, econômicos e culturais como cruciais para entender o surgimento da adolescência.Aguiar, Bock e Ozella (2002, p. 169) relatam que, na sociedade moderna, o trabalho, com sua sofisticação tecnológica, passou a exigir um tempo prolongado de formação, adquirida na escola, reunindo em um mesmo espaço os jovens e afastando-os do trabalho por algum tempo. Paralelo a isto, o desemprego crônico/ estrutural da sociedade capitalista trouxe a exigência de retardar o ingresso dos jovens no mercado e aumentar os requisitos para esse ingresso, tendo como consequência o aumento do tempo na escola. Com a extensão do período escolar, o distanciamento dos pais e da família e a convivência com um grupo de iguais, contribuíram para a criação de um novo grupo social, no caso, a adolescência. 29 A adolescência se refere, assim, a esse período de latência social constituída a partir da sociedade capitalista gerada por questões de ingresso no mercado de trabalho e extensão do período escolar, da necessidade do preparo técnico (...) o desenvolvimento e o aparecimento de transformações no corpo vão sendo tomados também como marcas desse processo (AGUIAR, BOCK e OZELLA, 2002, p. 170). São também características desses jovens a força e a capacidade para ingressar na vida adulta, porém, são impedidos ou não autorizados para esse ingresso. Os jovens apresentam todas as possibilidades de se inserir na sociedade adulta, em termos cognitivos, afetivos, de capacidade de trabalho e de reprodução. No entanto, a sociedade adulta pouco a pouco lhes tira a autorização para essa inserção. O jovem se distancia do mundo do trabalho e, com isso, se distancia também das possibilidades de obter autonomia e condições de sustento. Aumenta o vínculo de dependência do adulto, apesar de já possuir todas as condições para estar na sociedade de outro modo (AGUIAR, BOCK e OZELLA, 2002, p.170). Os autores ainda afirmam que é dessa relação e de sua vivência enquanto contradição que se constituirá grande parte das características que compõem a adolescência, tais como, a rebeldia, a moratória, a instabilidade, a busca de identidade e os conflitos. Essas características, para a abordagem sócio-histórica, foram geradas no processo histórico da sociedade. Aguiar, Bock e Ozella (2002) apontam que devemos compreender a adolescência como constituída socialmente a partir das necessidades sociais e econômicas dos grupos sociais, como também, entender que suas características se constituem no processo de socialização. Contrapondo-se aos estudos sobre adolescência, com base nas teorias psicológicas que sustentaram e fizeram história por todo o século XX, que Segundo Ozella (2002), na atualidade, a Psicologia Convencional, ainda insiste em negligenciar a inserção histórica do jovem e suas condições objetivas de vida, mesmo com tantos estudos e questionamentos a respeito da universalização dos conflitos adolescentes. 30 3. 1 VESTIBULAR O concurso do vestibular é considerado no Brasil como a porta de entrada para o ingresso no ensino superior. No entanto, Teixeira (1981 apud Oliveira 2004) assinala que, além de apresentar as características de um ritual de iniciação, o vestibular constitui uma barreira institucionalizada, uma vez que não autoriza a passagem da esmagadora maioria que a ele se submete. Existe ainda a preocupação com a concorrência e a possibilidade de não obter a aprovação no primeiro concurso. Levenfus e Nunes (2010) referem-se ao período intermediário entre o término do ensino médio e o ingresso na universidade como vestíbulo, no qual o vestibulando estaria sem identidade enquanto permanecer nessa etapa. Esse marco social que é o vestibular exige do jovem uma posição com relação a sua escolha profissional. Segundo Golin (2000 apud Ximenes, p. 46, 2004), a escolha profissional é, entre outras, uma das grandes geradoras de conflitos no jovem implicando numa das decisões mais importantes de sua vida. Ela transcende a própria pessoa, visto que, repercute e sofre diversas influências, inclusive da família e da sociedade. Em decorrência disto, essa escolha não é tão simples, pois existem inúmeras questões que o adolescente precisa elaborar, além de conhecer as profissões e o mercado profissional. Soares (2009, p. 20) ressalta que, “a escolha é possível, o que não é possível é não escolher, pois mesmo quando não escolhemos, estamos escolhendo, o não escolher”. Para que o adolescente possa realizar suas escolhas, faz-se necessário que saiba quais são seus interesses, habilidades, competências, além da possibilidade de conhecer as ofertas de cursos disponíveis e das possibilidades de atuação 31 destes. Soares (2009) ressalta que é preciso conhecer a si mesmo, buscar informações sobre as áreas profissionais de maior interesse para a pessoa e também conhecer com detalhes a profissão a ser escolhida. Mediante todo esse temor que rodeia o vestibulando, os adolescentes sofrem, em menor ou maior grau, com as influências externas, destacam-se entre elas a família e o grupo de amigos. A família é a base do ser humano e sempre teve como importantes papéis a função socializadora e de transmissão de valores. Bohoslavsky (2007), afirma que o grupo familiar constitui o grupo de participação e de referência fundamental para o adolescente, mesmo que ela atue como grupo positivo de referência ou que opere como grupo negativo de referência. Além disso, a família contribuiu de distintas maneiras para a formação da identidade do adolescente; esta se forma quando o jovem consegue elaborar três questões importantes que Erikson as identificou de identidade sexual, valores e o que nos interessa nessa pesquisa, a escolha de uma ocupação ou identidade ocupacional. De acordo com Bohoslavsky (2007, p. 30), “a identidade ocupacional é a autopercepção, ao longo do tempo, em termos de papéis ocupacionais”. Outro fator de extrema importância é a compreensão dos diferentes tipos e posições que a família pode assumir no processo de escolha profissional. Esses tipos são classificados, segundo Neiva (2007), em pressionadora, ausente e facilitadora. No tipo de família pressionadora, muitas vezes, os pais assumem de forma direta ou indireta a pressão ao filho, cujo adolescente é usado como depositário de desejos, aspirações ou frustrações dos pais, a autora ressalta que, 32 com frequência encontramos pais que sugerem diretamente que o filho siga sua profissão considerando que assim poderão ajudá-lo a ingressar no mercado de trabalho e abrir portas para o seu futuro profissional (...) e outros, indiretamente, influenciam os projetos profissionais dos filhos, de um lado dizendo que apoia qualquer decisão dos filhos e, de outro, expressam sutilmente seus desejos e expectativas com relação ao futuro profissional deles (NEIVA, 2007, p. 74). Por outro lado, na família ausente, não há qualquer tipo de preocupação ou participação com relação à escolha profissional do filho. Neiva (2007, p. 75), atesta que “esse tipo de reação familiar gera um sentimento de abandono ao jovem, que necessita sentir os desejos dos pais”. Enquanto que a família facilitadora participa do processo de escolha profissional, sem pressões, pois está aberta e disponível para discutir suas preocupações e suas expectativas, desta forma, ajuda-o a buscar informações profissionais e o motiva a participar de um processo de orientação profissional (...) é aquela que respeita o adolescente e permite que ele elabore uma decisão madura e autônoma (NEIVA, 2007, p. 75). É perceptível que os dois primeiros tipos, pressionadora e ausente, podem contribuir de forma negativa no processo de identidade vocacional do filho,podendo levá-lo a elaboração de uma falsa identidade vocacional, ao que os autores se referem como pseudoidentidade. No caso da pseudoidentidade, a escolha do adolescente tem como objetivo agradar a família respondendo aos seus desejos e expectativas e, na identidade negativa, confrontá-la (...) toda família deve avaliar a sua participação no processo de escolha profissional do adolescente, e pensar que o mesmo necessita ser ajudado (...) por isso, a necessidade de discutir no seio familiar os seus desejos, inquietudes, medos, expectativas e necessidades próprias do momento que atravessa (NEIVA, 2007, p. 76). Outra importante influência é o grupo de amigos que se reverte de grande importância para o adolescente, visto que necessita ser aceito por eles. Além disso, 33 no grupo dividem-se muitas inquietudes e medos com relação ao futuro, como também existe a troca de informações sobre a realidade profissional. Entretanto, o grupo pode contribuir negativamente, quando não permite ao adolescente manter sua própria individualidade, que ainda de acordo com Neiva (2007, p. 78), “este é o caso do adolescente que acaba escolhendo o que o grupo escolhe, para acompanhar seus companheiros. Ele teme que, ao diferenciar-se em sua escolha profissional, possa ser abandonado pelo grupo” Mediante todos esses desafios, muitos jovens chegam ao final do ensino médio, e não tem definida a sua escolha, estão cheios de dúvidas e angústias. Somente elaborando esses conflitos, o adolescente pode chegar a uma escolha mais assertiva. Para Soares (2009, p. 65), “(...) quando o adolescente já tiver bastante conhecimento sobre si mesmo e sobre as profissões chegará a hora de escolher”. A autora ainda afirma que a escolha nunca é definitiva, é sempre passível de ser refeita. 34 4 O PROJETO DE ORIENTAÇÃO VOCACIONAL/PROFISSIONAL “AMPLIANDO HORIZONTES” Segundo dados obtidos na Secretaria de Estado de Educação, Cultura e Desportos (SECD) do Estado de Roraima, tem se no Estado um quantitativo de noventa e nove (99) escolas públicas de ensino médio, o que totaliza quinze mil, novecentos e setenta e quatro (15.974) alunos. Destes, vinte e três (23) escolas, e nove mil, novecentos e sessenta e três (9.963) alunos estão localizados no município de Boa Vista. O município, ainda dispõe de três (03) escolas de ensino médio na rede privada. A partir da identificação desta demanda e percebendo que se constituía num potencial público para a implantação de um projeto de extensão, no ano de 2008, a professora Maria do Socorro Lacerda Gomes percebeu a necessidade de elaborar um projeto denominado Orientação Vocacional/Profissional “Ampliando Horizontes”, cujo objetivo é oferecer aos adolescentes de Boa Vista um espaço para as discussões acerca da escolha profissional, considerando que na cidade as escolas não oferecem este tipo de atividade e que as únicas possibilidades disponíveis são oferecidas na modalidade clínica, de alto custo financeiro e revestida de uma visão que utiliza, sobretudo, os testes psicológicos para a definição profissional. De acordo com Aguiar e Bock (1995), o trabalho em Orientação Vocacional é uma atividade promotora de saúde, na medida em que é estimuladora e provoca reflexões sobre a própria adolescência, pois neste contexto vivenciam-se suas dúvidas, buscas e possíveis identificações, além das reflexões acerca das questões a respeito do mundo adulto e da sociedade onde vive. Aguiar, Bock e Ozella (2002) ressaltam que promover saúde significa, portanto, trabalhar para ampliar a consciência que o indivíduo possui sobre a realidade que o cerca, instrumentando-o para o agir, no sentido de transformar e resolver as dificuldades que essa realidade lhe apresenta. 35 O Projeto de Orientação Vocacional/Profissional “Ampliando Horizontes” desenvolve atividades que possa trazer à tona questões intrínsecas e extrínsecas a serem refletidas ativamente pelos participantes, dando aos mesmos a possibilidade do autoconhecimento e da apropriação de suas dúvidas e decisões. O público alvo do projeto constitui-se dos alunos do ensino médio das redes pública e privada do município de Boa Vista – Roraima. Este tipo de intervenção para Bock (2002) oferece ao sujeito a possibilidade de se apropriar de suas determinações, compreendendo-se como um sujeito ao mesmo tempo único, singular/histórico e social. O projeto considera o homem sujeito de suas escolhas, assim como, compreende que a escolha da profissão é algo que pertence ao indivíduo, por isso o cuidado de devolver ao jovem sua capacidade ativa de tomar decisões autônomas. 4. 1 DESCRIÇÃO DO PROJETO Anualmente a coordenadora do projeto, Maria do Socorro Lacerda Gomes, divulga entre os alunos do curso de Psicologia o projeto, e são oferecidas entre quatro (04) e seis (06) vagas para participarem da atividade na modalidade de extensão. Nestes quatro (04) anos de execução já participaram cerca de vinte (20) acadêmicos de psicologia e aproximadamente cento e cinquenta (150) participantes. O projeto tem duração de seis (06) meses, março-agosto, sendo dividido em cinco (05) etapas: divulgação e período de inscrições, dinâmicas de grupo dirigidas ao autoconhecimento e reflexão sobre o significado da escolha profissional, palestras com profissionais das Instituições públicas e privadas de ensino superior de Boa Vista-RR e com autônomos, aplicação de testes psicométricos vocacionais e entrevista de devolução comunicando os resultados. Os encontros são semanais, realizados aos sábados, com duração de quatro (04) horas cada. 36 Cada etapa objetiva auxiliar o adolescente na clarificação da sua escolha profissional, que para Gimenez (2009, p.22), “(...) constitui-se na primeira escolha importante com grande repercussão na vida individual, familiar e social que um adolescente precisa realizar.”. Para uma melhor compreensão da dinâmica desta atividade, apresentaremos a seguir como se constituiu cada etapa. 4.1.1 DIVULGAÇÃO E PERÍODO DE INSCRIÇÃO A primeira etapa consiste na divulgação e período de inscrição. Nesta, os acadêmicos de psicologia dirigem-se às escolas públicas e privadas de ensino médio para divulgar o projeto e convidar os alunos a participarem. Pelo período de duas semanas são realizadas as inscrições nas instalações do Centro de Educação – CEDUC e é cobrado um valor simbólico. No momento da inscrição ocorre o primeiro contato com o orientando, através do preenchimento do formulário e entrevista inicial. De acordo com Bohoslavsky (2007, p. 119), “a maneira convencionada para se fazer a primeira entrevista poderá fixar dados muitos valiosos quanto a certas hipóteses gerais sobre o conflito que determinou a vinda do adolescente à entrevista”. Por isso, o cuidado de coletar informações que sejam pertinentes na compreensão e elaboração desses conflitos. 4.1.2 DINÂMICAS DE GRUPO A segunda etapa marca o início dos encontros semanais, através das dinâmicas de grupo, em cada encontro são introduzidos temas referentes ao autoconhecimento e ao significado da escolha profissional, com o objetivo que sejam 37 discutidos assuntos referentes à habilidade, interesses e características pessoais, influências externas (amigos, sociedade e família), vestibular, relação de gênero e escolha profissional, desempenho e interesses escolares. Para Neiva (2007, p. 49), as discussões destes assuntos contribuem para o processo de autoconhecimento do adolescente, e este: Pode formular aspirações profissionais realistas e compatíveis com suas características pessoais, interesses, potencialidades e habilidades (...) conhecer as características pessoais é fundamentalpara a formação de uma autoimagem real e autêntica, a qual permitirá o desenvolvimento de aspirações profissionais coerentes. Durante as discussões afloram conflitos, angústias e ansiedades dos orientandos. No entanto, criam-se possibilidades para reflexão sobre si e suas preferências, dando-lhe condições de maior autonomia na hora da escolha. Duran (1995, p.59) enfatiza que “escolher tem relação inequívoca com liberdade e autonomia.” Além disso, as dinâmicas de grupo são importantes no processo de OP, pois os adolescentes interagem entre si trocando informações e experiências, criando vínculos de amizade e identificações. Diversos autores da área consideram o trabalho em grupo um relevante aspecto do processo, por ser a melhor forma de realização desta atividade, devido ao crescimento pessoal. Lucchiari (1993 apud Vasconcelos, p. 30) destaque que, 38 é próprio do adolescente o convívio em grupos e turmas. É importante, no momento em que ele está buscando a sua identidade, sentir-se igual aos outros (...) há possibilidades de compartilhar sentimentos de dúvida, confusão e insegurança em relação à escolha profissional e ao seu futuro, sendo cada participante do grupo um facilitador, pois a sua possibilidade de entender o outro e poder expressar como o percebe, auxiliam no conhecimento que cada membro busca de si mesmo. Uma vez concluída esta fase de autoconhecimento e escolha profissional passa-se a etapa seguinte. 4.1.3 PALESTRAS COM OS PROFISSIONAIS Esta etapa consiste no conhecimento das profissões através das palestras com profissionais. Buscando abranger o maior número possível de cursos oferecidos no Estado, são convidados profissionais das Universidades Federal e Estadual, Instituto Federal e das Faculdades Particulares. As palestras são dirigidas ao conhecimento da profissão, conceituação do curso, sua duração, área de atuação, mercado de trabalho, faixa salarial, entre outros. Para Bohoslavsky (1998, p. 141): A informação tem tamanha importância dentro do processo de orientação profissional que nenhum processo pode ser considerado completo se não inclui, em alguma etapa deste, o fornecimento de informação com respeito às carreiras, ocupações, áreas de trabalho, demanda profissional. 39 As palestras aguçam a curiosidade do orientando e principalmente esclarece o que de fato é a profissão, visto que, muitos optam por uma profissão sem sequer conhece–lá. A perspectiva para esses encontros é proporcionar ao adolescente uma melhor compreensão acerca das profissões e instigá-los a buscar informações específicas das profissões que mais lhe chamou atenção. 4.1.4 APLICAÇÃO DOS TESTES VOCACIONAIS PSICOLÓGICOS Apesar da etapa da aplicação dos testes psicológicos vocacionais não ser a mais importante. Os testes quando bem aplicados, somam-se às demais etapas do processo, na medida em que são fontes de informação objetivas. Eles por si só não dizem nada, Bohoslavsky (2007, p.93), garante que o “processo de orientação vocacional começa na primeira entrevista e a aplicação de testes psicológicos integra-se a elas”. São aplicados cinco (05) testes: Questionário Vocacional de Interesse (QVI), Levantamento de Interesse Profissional (LIP), Bateria Percentual de Raciocínio (BPR5), Inventário de Interesse Profissional (IIP) e Escala de Preconceito Profissional (EPP). 4.1.5 DEVOLUÇÃO DOS RESULTADOS A etapa final do processo consiste na devolução dos resultados no modelo de relatório ou laudo psicológico. Esta sessão caracteriza-se nos moldes de um atendimento psicológico e visa esclarecer todos os aspectos levantados, buscando dirimir todas as dúvidas. 40 Destaca-se que o orientando ao participar ativamente do todas as etapas do processo, tem grandes possibilidades de realizar uma escolha mais assertiva. Segundo Aguiar e Bock (1995, p. 21), “(...) a melhor escolha é aquela que o jovem realiza a partir de um maior conhecimento de si, como ser histórico, determinado pela realidade social, e maior conhecimento das possibilidades profissionais oferecidas pela sua sociedade”. 41 5 METODOLOGIA O presente estudo teve como objetivo avaliar a importância do Projeto de Orientação Vocacional/Profissional “Ampliando Horizontes” na definição da escolha profissional do grupo de orientandos atendidos no ano de 2008. E de forma mais específica: verificar se os orientandos permanecem nos cursos escolhidos e examinar se os mesmos estão satisfeitos com a escolha profissional. Para alcançar os objetivos, optou-se por um estudo descritivo, com delineamento metodológico qualitativo. Lüdke e André (1986) dão as características básicas de uma pesquisa qualitativa: a pesquisa qualitativa tem o ambiente natural como sua fonte direta de dados e o pesquisador como seu principal instrumento; os dados coletados são predominantemente descritivos; a preocupação com o processo é muito maior do que com o produto; o 'significado' que as pessoas dão às coisas e à sua vida são focos de atenção especial pelo pesquisador. 5. 1 ESCOLHA E CARACTERIZAÇÃO DOS SUJEITOS DA PESQUISA Os sujeitos escolhidos para contribuir com a pesquisa foram os orientandos que participaram do projeto no ano de 2008. A seleção desse grupo deu-se por dois motivos, o primeiro deles, por se tratar da primeira turma do projeto, e o segundo, pelo fato de hoje, ano de 2011, os orientandos estarem provavelmente cursando uma faculdade ou inseridos no mercado de trabalho, tendo condições de discorrer a respeito da importância do projeto Orientação Vocacional/Profissional “Ampliando os Horizontes” na definição de sua escolha profissional. A turma era formada por vinte e quatro (24) participantes, sendo que sete (07) destes são do sexo masculino e dezessete (17) do sexo feminino, com idades variando entre 14 a 19 anos. Sendo que dois (02) orientandos estavam cursando o primeiro ano do ensino médio, quatro (04) estavam cursando o segundo ano do 42 ensino médio, dezesseis (16) estavam cursando o terceiro ano do ensino médio e dois (02) haviam concluído o ensino médio. Com relação à instituição de ensino, dezessete (17) sujeitos estão divididos em sete (07) escolas públicas; e sete (07) sujeitos estão divididos em quatro (04) escolas privadas. Desses vinte e quatro (24) participantes conseguimos localizar cinco (05) que representam 20,8% da turma de 2008. Sendo que três participantes são do sexo masculino e dois (02) participantes do sexo feminino, com idade variando de dezoito (18) a vinte (20) anos. Para preservar o sigilo, serão utilizados nomes fictícios. 5. 2 PROCEDIMENTO DE COLETA DE DADOS Para caracterização e localização dos sujeitos utilizou-se os instrumentos de análise dos dados documentais. São considerados documentos “quaisquer materiais escritos que possam ser utilizados como fonte de informação sobre determinado comportamento humano (...) estes incluem desde leis e regulamentos, normas, pareceres, cartas, memorandos, diários pessoais, autobiografias, jornais, revistas, discursos, roteiros de programas de rádio e televisão até livros, estatísticas e arquivos escolares (LÜDKE e ANDRÉ, 1986, p. 38). Considerou-se documentos as entrevistas aplicadas no ano de 2008 pelo projeto de Orientação Vocacional/ Profissional “Ampliando os Horizontes”. São materiais já existentes independentemente desta pesquisa. Lakatos (2010) diz que antes de iniciar qualquer pesquisa de campo, o primeiro passo é a analise minuciosa de todas as fontes documentais que sirvam de suporte à investigação projetada. A análise dos documentos foi realizada no Laboratório de Desenvolvimento e Orientação Profissional (LADOP), localizado no Bloco de Psicologia– UFRR. 43 Depois de caracterizados os sujeitos, tentamos localizá-los através de ligações telefônicas. Sendo que o primeiro contanto ocorreu no mês de julho, no qual foi explicado aos orientandos os objetivos da pesquisa, procedimentos de coleta de dados, o termo de consentimento livre e esclarecido e que a pesquisa estava em apreciação no Comitê de Ética em Pesquisa (COEP). O contato estendeu-se com um convite para participarem do estudo, todos aceitaram. Após aprovação do projeto pelo COEP, estabelecia-se com os orientandos o segundo contato, também através de ligação telefônica, o mesmo se deu no mês de outubro para agendarmos o dia, horário e local das entrevistas. Nos dias dez (10), onze (11) e treze (13) de outubro foram realizadas as cinco (05) entrevistas. Duas (02) destas, aplicadas na sala do Bloco de Psicologia da Universidade Federal de Roraima – UFRR, e as outras três (03) entrevistas nas casas dos orientandos. Antes de iniciarmos a entrevista, lia-se e assinava o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido, de acordo com os procedimentos éticos exigidos por lei, depois iniciávamos a entrevista, audiogravada, individuais, sem interrupções ou barulhos que pudessem prejudicar o andamento das mesmas. Em média, cada entrevista teve a duração de dez (10) minutos. Aplicou-se uma entrevista semi-estruturada na modalidade focalizada, que segundo Lakatos (2010, p. 279), “(...) há um roteiro de tópicos relativos ao problema a ser estudado, e o entrevistador tem liberdade para desenvolver cada situação em qualquer direção que considere adequada.” As questões que nortearam as entrevistas foram: Avaliação e contribuição do Projeto de Orientação Vocacional/Profissional “Ampliando Horizontes”, vestibular, escolha profissional e a experiência em participar do projeto com outros adolescentes. As entrevistas foram transcritas para análise dos resultados. 44 5. 3 ANÁLISE DOS DADOS Segundo Lüdke e André (1986, p. 45), “(...) analisar os dados qualitativos significa ‘trabalhar’ todo o material obtido durante a pesquisa, ou seja, as análises de documentos, as transcrições de entrevistas e as demais informações disponíveis”. Os dados obtidos com a análise dos documentos serviram para caracterização dos sujeitos, os mesmos foram sistematizados em uma categoria descritiva que abrange idade, sexo e escolaridade. As entrevistas foram transcritas e submetidas a uma leitura rigorosa. Em seguida, elaborou-se cinco categorias descritivas (caracterização dos sujeitos da pesquisa, vestibular, escolha profissional, análise e contribuição do projeto Vocacional/Profissional “Ampliando Horizontes” e experiência com o grupo de adolescentes). Alocaram-se nelas dados retirados das falas dos sujeitos. Utilizou-se também as narrativas dos orientandos, com o intuito de se compreender os sentidos e os significados envolvidos com relação à escolha profissional. Para isso utilizou a metodologia de análise de conteúdo. A análise do conteúdo é um conjunto de técnicas de análise das comunicações visando obter por procedimentos sistemáticos e objetivos de descrição o conteúdo das mensagens indicadores (quantitativos ou não) que permitam a inferência de conhecimentos relativos às condições de produção/recepção (variáveis inferidas) dessas mensagens (BARDIN, 2011 p.48). A unidade de análise foi a de contexto, isto é, procurou-se avaliar os dados de forma não fragmentada buscando inferir os valores, os sentimentos, as intenções e a ideologia das fontes ou dos autores dos documentos (LÜDKE e ANDRÉ, 1986). 45 6 ANÁLISE E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS Para uma melhor compreensão da análise dos dados, optou-se por dividir os resultados em cinco (05) categorias (caracterização dos sujeitos da pesquisa, vestibular, escolha profissional, avaliação e contribuição do projeto de Orientação Vocacional/Profissional “Ampliando Horizontes” e experiência com o grupo de adolescentes). Os dados apresentados foram extraídos da análise documental e das entrevistas realizadas com os orientandos. 6.1 CATEGORIA 1 – CARACTERIZAÇÃO DOS SUJEITOS DA PESQUISA A primeira categoria avaliada recebe a denominação de caracterização dos orientandos, nesta será apresentada e discutida dados gerais (inscritos no projeto) e dados específicos (público alvo da pesquisa). A primeira turma do projeto no ano de 2008 era constituída por vinte e quatro (24) participantes, sendo que sete (07) destes são do sexo masculino e dezessete (17) do sexo feminino, com idades variando entre 14 a 19 anos (TABELA 1 e TABELA 1.1). 46 Orientandos Sexo Idade Instituição de ensino Escolaridade Participou da Pesquisa Participante 01 F 14 Particular Primeiro Não Participante 02 F 14 Pública Primeiro Não Participante 03 F 15 Particular Terceiro Não Participante 04 M 15 Particular Segundo Sim Participante 05 M 16 Particular Terceiro Não Participante 06 F 16 Pública Terceiro Não Participante 07 F 16 Pública Segundo Não Participante 08 F 16 Pública Terceiro Não Participante 09 M 16 Pública Segundo Sim Participante 10 F 16 Pública Segundo Não Participante 11 F 16 Particular Terceiro Não Tabela 1: Caracterização dos participantes do projeto da turma de 2008 Orientandos Sexo Idade Instituição de ensino Escolaridade Ensino Médio Participou da Pesquisa Participante 12 F 17 Pública Terceiro Sim Participante 13 F 17 Pública Terceiro Não Participante 14 F 17 Pública Terceiro Sim Participante 15 F 17 Pública Terceiro Não Participante 16 M 17 Particular Terceiro Sim Participante 17 F 17 Pública Terceiro Não Participante 18 F 17 Pública Terceiro Não Participante 19 M 17 Pública Terceiro Não Participante 20 M 18 Público Concluiu Não Participante 21 F 18 Pública Terceiro Não Participante 22 M 18 Pública Terceiro Não Participante 23 F 18 Pública Terceiro Não Participante 24 F 19 Particular Concluiu Não Tabela 1. 1: Caracterização dos participantes do projeto da turma de 2008. Os dados permitem concluir que os adolescentes que mais procuraram o Projeto de Orientação Vocacional/Profissional são do gênero feminino. As transformações ocorridas nas relações de gênero nos últimos tempos foram bastante significativas no universo feminino, no qual a mulher deixou de trabalhar exclusivamente no âmbito doméstico-familiar, e assumiu várias funções muitas destas consideradas predominantemente masculinas. A partir desta nova realidade é 47 imposto à mulher uma melhor qualificação e isto contribui para seu ingresso nas universidades e, posteriormente no mercado de trabalho. Sobre as séries que cursavam, dois (02) orientandos estavam no primeiro ano do ensino médio, quatro (04) no segundo ano, dezesseis (16) no terceiro ano e dois (02) já haviam concluído o ensino médio. Referente à instituição de ensino na qual cursa o ensino médio: dezessete (17) sujeitos estão divididos em sete (07) escolas públicas; e sete (07) sujeitos estão divididos em quatro (04) escolas privadas. Os dados acima ilustram a prevalência da procura por adolescentes cursando o terceiro ano do ensino médio. As pesquisas na área confirmam que há maior interesse nestas atividades no período próximo ao vestibular, no qual são feitas as exigências sociais da escolha de uma profissão de forma mais explícita. As pesquisas ainda afirmam que a procura do projeto por adolescentes que estão iniciando o ensino médio, dá-se pelo fato dos mesmos iniciarem o Processo Seletivo Seriado (PSS) já no primeiro ano do ensino médio. De acordo com inúmeros estudos, os adolescentes cheios de dúvidas, angústias e insegurança, buscam apoio, a principio, como um direcionamento para sua decisão e cabe ao processo de orientação desmistificar essaidéia de diagnóstico, e clarificar que a proposta é possibilitar ao sujeito a ampliação do autoconceito, na medida em que, perceba que a escolha é sua, e esta deve ser tomada de forma autônoma e consciente. Neste sentido, Levenfus e Soares (2010) pontuam que a Orientação Profissional atua como um suporte para os indivíduos em diversos momentos de crise, como por exemplo, a escolha profissional. Foram convidados a participarem desta amostra cinco (05) orientandos o que corresponde ao percentual de 20,8% da turma de 2008. Destes, 60% são do sexo masculino e 40% do sexo feminino, com idade, no ano de 2011, variando de dezoito (18) a vinte (20) anos (TABELA 2). 48 Orientando Pseudônimo Sex o Idade 2008 Idade 2011 Escolaridade 2008 Curso Universitário Semestre atual Pedro - P M 15 18 Segundo Ano Biologia Terceiro Maria - Ma F 17 20 Terceiro Ano Ciências Econômicas Quarto Aparecida – A F 17 20 Terceiro Ano Direito Primeiro José – J M 15 18 Primeiro Ano Administração de Empresas Segundo Mateus - Mt M 17 20 Terceiro Ano Relações Internacionais Sexto TABELA 2 - Caracterização dos sujeitos da pesquisa Com relação à área de conhecimento, nesta amostra 40% optou pela área de humanas, 40% na área de exatas e 20% na área de saúde, conforme critério adotado pela Universidade Federal de Roraima – UFRR. Este critério refere-se à distribuição dos cursos por centros (TABELA 3). Outro ponto que merece destaque é com relação às áreas de atuação escolhida pelos orientandos. As profissões das áreas de humanas e exatas tiveram uma expressão mais significativa. Visto que na cidade de Boa Vista, as oportunidades de emprego estão mais voltadas para o concurso público. Neves (1993 apud Levenfus e Soares, 2010) considera o mercado de trabalho como um importante item a ser considerado na escolha, desde que não apareça como fenômeno imutável, isolado e cristalizado, ou seja, é importante que o adolescente compreenda o mercado de trabalho dentro de uma conjuntura em que vive e em uma perspectiva dinâmica. 49 Orientandos Curso Universitário Área de Conhecimento José Administração Exatas Pedro Biologia Saúde Aparecida Direito Humanas Mateus Relações Internacionais Humanas Maria Economia Exatas TABELA 3: Área de Conhecimento. 6.2 CATEGORIA 2 – VESTIBULAR A segunda categoria que foi definida como o vestibular denota que 100% prestaram o concurso do vestibular e foram aprovados. Destes 60% prestaram o concurso uma vez e 40% prestaram o concurso mais de uma vez (TABELA 4). Orientandos Prestou concurso Prestou concurso somente uma vez Prestou concurso mais de uma vez Pedro X X Maria X X Aparecida X X José X X Mateus X X TABELA 4: Vestibular. Os sujeitos José, Pedro e Mateus, prestaram o vestibular somente uma vez, para os seguintes cursos, respectivamente: Administração, Biologia e Relações Internacionais. Maria prestou para administração e ciências econômicas e Aparecida para Antropologia, Biologia, Enfermagem, Medicina e Direito. 50 Orientandos Cursos escolhidos no concurso do vestibular José Administração Pedro Biologia Aparecida Antropologia, Biologia, Direito, Enfermagem e Medicina Mateus Relações Internacionais Maria Administração e Ciências Econômicas Tabela 5: Cursos O vestibular é considerado um ritual de passagem da adolescência que culmina no ingresso em uma universidade. Configura-se como um momento em que o adolescente precisa consolidar sua escolha, embora isso não significa dizer que essa escolha é definitiva, ao contrário, ela pode e deve ser refeita, este é o caso de um dos orientandos que prestaram o concurso do vestibular para vários cursos, abaixo segue o seu depoimento: “Medicina, Direito, Enfermagem, Antropologia, Biologia. Passei para Antropologia, Direito e Enfermagem, e cursei Enfermagem e Direito. Enfermagem eu cursei um semestre e desisti, atualmente faço Direito” (A, 20 anos). A adolescente prestou o concurso para várias áreas, chegou a cursar um semestre de um curso e não se identificou, trancou, escolheu uma nova área e se identificou. Soares (2002) acredita que uma escolha profissional única e definitiva não existe, o que existe é uma escolha possível dentro de um leque de alternativas e contingências: “fiz a primeira vez para administração de empresas e aí não consegui passar, e fiz pela segunda vez para ciências econômicas” (Ma, 20 anos). A questão da concorrência e de tentativas fracassadas de aprovação assolam os adolescentes, chegando a cursar áreas afins, menos concorridas, na tentativa de uma aprovação. Levenfus e Soares (2010) afirmam que o adolescente, enquanto permanecer no vestíbulo estaria sem identidade vocacional. 51 Mudar de opção quando não se está satisfeito com a escolha, para Franco (2001 apud Oliveira, 2006), configura-se como uma atitude positiva, o sujeito tornar- se autônomo, adulto e humano. 6.3 CATEGORIA 3 – ESCOLHA PROFISSIONAL A categoria escolha profissional aborda a descrição dos sujeitos com relação à escolha profissional. Perguntamos aos orientandos se os mesmos estavam satisfeitos com sua escolha profissional, os resultados apontaram que: 60% dos orientandos estão satisfeitos com a escolha, 20% dos orientandos estão insatisfeitos e 20% dos orientandos não estão totalmente satisfeito (TABELA 6). Orientandos Satisfeito Não Totalmente Satisfeito Insatisfeito José X Pedro X Aparecida X Maria X Mateus X Tabela 6: Escolha Profissional. Dos 60% dos orientandos que estão satisfeitos com a escolha profissional, 20% já mudaram de curso. Dos 20% que estão insatisfeitos e dos 20% que não estão totalmente satisfeitos, todos pretendem mudar de curso ou fazer outro curso depois de concluído o que estão cursando (TABELA 7). 52 Orientandos Mudar de curso Fazer outro curso Mudaram de curso José X X Pedro X Aparecida X Tabela 7: Mudanças na Escolha Profissional. Ao escolher, e, sobretudo, ao escolher uma profissão, o sujeito abre mão de outras possibilidades. Refletindo sobre este impasse, pode-se dizer que minimizar as dúvidas nesta fase, possibilita reduzir angústias, temores e medos. De acordo com os teóricos da OP, para os adolescentes, decidir sobre uma profissão, configura-se como a primeira escolha importante com grande repercussão para a vida, além de ser uma tarefa cobrada pela nossa sociedade. Um autoconceito definido consiste num dos aspectos fundamentais para uma escolha assertiva. Ao analisar os resultados podemos inferir que os orientandos obtiveram êxito, na medida em que o projeto buscou levá-los a uma reflexão sobre si, objetivando levá-los a identificar suas habilidades, competências, valores, limitações, interesses, possibilidades entre tantas outras características. Sobre a possibilidade de uma escolha assertiva, Mateus ressalta que: “Muitíssimo, eu me apaixonei logo de cara” (20 anos). A partir do autoconhecimento, Neiva (2007) acredita que o adolescente pode formular aspirações, profissões realistas e compatíveis com suas características pessoais. Corroborando com o ponto de vista da abordagem sócio-histórica, entendo que o sujeito constrói suas escolhas a partir do que vive: “Agora sim que estou no direito, apesar de não ter testado medicina, mas agora eu pretendo seguir carreira no direito mesmo” (A, 20 anos). Soares (2009) enfatiza que há uma média de 25% a 30% de jovens universitários fazendo um novo vestibular, na busca de uma resposta para os seus problemas. Para a autora, a origem está na escolha profissional. 53 Segundo Bohoslavsky (2007), a carreira universitária faz parte de uma etapa que denominou de exploração, em que são perfeitamente esperadas reedições de crises vocacionais, ocorridas durante o processo de escolha profissional. Para o autor, o termo exploração sugerea idéia de alguém que penetra num lugar desconhecido, o que ocorre com o adolescente ao vivenciar esta nova etapa de sua vida, que representa o momento da escolha da profissão. O fato é que escolher é um processo difícil, que requer uma decisão frente às inúmeras profissões oferecidas pelo mercado de trabalho, e muitas vezes lhe causa confusão e conflitos que precisam ser elaborados. Como é o caso das escolhas equivocadas, que têm sido responsáveis pelos desejos de mudança de curso, como expressa o orientando abaixo: “Bom, não, não tou satisfeito. Porque a gente começa a fazer o curso e, eu não sei, talvez eu esteja errado, mas, é, aqui em Roraima eu acho que não tem mercado para área de Biologia, mas para a área de professor mesmo, já que a economia de Boa Vista é mais voltada para concurso público, e eu faço na área de bacharelado, então, o Brasil não está muito preparado para pesquisadores, e aqui em Boa Vista eu acho meio difícil o campo de biologia bacharelado, já que tem poucas vagas para trabalhar, talvez, se, se eu sair de Boa Vista para outro estado, eu acho mais fácil, mas com o término do curso eu vou, tou vendo o que e vou fazer” (Pedro, 18 anos). Pode-se deduzir que a insatisfação refere-se ao mercado de trabalho em Boa Vista - RR, e não necessariamente a não identificação com a profissão. As informações concernentes às profissões precisam ser bastante claras na hora de escolher, devendo haver espaço para a pesquisa e o que é conhecimento da profissão, suas áreas de atuação, o mercado de trabalho, questão salarial, entre outros, pois de acordo com Bohoslasvsky (1998, p. 56), 54 quem escolhe não está escolhendo somente a carreira. Está escolhendo “com o que” trabalhar, está definindo “para que” fazê-lo, está pensando num sentido para sua vida, está escolhendo um “como”, delimitando um “quando” e “onde”, isto é, está escolhendo o inserir-se numa área específica da realidade ocupacional. Para Levenfus (2004 apud Oliveira, 2006) grande parte das decisões profissionais inadequadas estão relacionadas a desinformação e a falta de conhecimento sobre a profissão e sobre si mesmo, insistindo que a melhor escolha profissional será aquela ocorrida nos momentos em que o adolescente seja capaz de lidar com as ambiguidades inerentes a própria vida. No entanto, a experiência de uma escolha profissional equivocada não só significa a vivência de momentos conflitivos, mas um incentivo para um repensar acerca das novas possibilidades de escolha, embora isso requeira certo amadurecimento, como é o caso do orientando abaixo: “Não totalmente, é assim é, eu entrei em administração né, passei no vestibular de primeira, mas é, lá dentro eu descobri uma disciplina de direito, e acabei gostando dessa disciplina, eu pretendo ou mudar de curso, ou terminar administração mesmo, aí depois entrar em direito, fazer direito” (J, 18 anos). Gimenez (2009) compreende que a escolha profissional, na atualidade, não é uma decisão única, tomada para a vida toda, e sim, um processo passível de mudança. Quando os orientandos afirmam que não estão satisfeitos com a escolha profissional, percebe-se que os mesmos já demonstram certo entendimento do que seja o fenômeno da escolha profissional. Os dados, entretanto, permitem que se faça a uma compreensão positiva acerca da escolha profissional pelos orientandos, pois mesmos os que não estão satisfeitos com a escolha, já conseguem identificar novos rumos para uma reescolha profissional. 55 6.4 CATEGORIA 4 – AVALIAÇÃO/CONTRIBUIÇÃO DO PROJETO A categoria avaliação/contribuição do projeto descreve como os orientandos avaliaram as contribuições do projeto com relação à sua escolha profissional. Os dados levantados assinalam que 100% dos orientandos fizeram uma avaliação considerada positiva (TABELA 8). Orientandos Sentimento Positivo Pedro X Maria X Aparecida X José X Mateus X Tabela 8: Avaliação do Projeto. No tocante, às contribuições do projeto para definição da escolha profissional, as mais citadas pelos orientandos foram: definição da profissão, autoconhecimento e conhecimento das profissões (TABELA 9). Orientandos Definição da escolha profissional Autoconhecimento Esclarecimento das Profissões Pedro X Maria X X Aparecida X José X X Mateus X Tabela 9: Contribuições do Projeto. Os resultados analisados mostram que os orientandos, em sua totalidade, fizeram uma avaliação positiva do projeto. Este por sua vez, não tem como objetivo 56 encaixar ou direcionar seus orientandos para uma profissão, ao contrário, o projeto procura impulsionar os orientandos em direção a uma melhor compreensão de si e de suas escolhas, pois a escolha da profissão é algo que lhe pertence, apesar das pressões externas, por isso o cuidado de devolver-lhe a capacidade ativa de tomar decisões autônomas, o depoimento retrata esta questão: “Bom, o resultado não teve muito, muita importância né, mas é tanto as pesquisas que nos fizemos os testes quanto às visitas dos profissionais, professores dos cursos, para mim, foram decisivas, porque eu tava realmente em dúvida entre vários cursos, entre várias áreas diferentes, de biologia a relações internacionais né, então com a visita dos professores eu pude perceber melhor o que cada curso faria, o que eu faria em cada curso e escolher qual o meu curso, o quer que eu seguiria na universidade” (Mt, 20 anos). Quando se referiu ao resultado, o orientando está falando dos testes psicológicos, é justamente esse o papel do projeto, fazer com que o adolescente se desprenda de resultados objetivos, que de certa forma dão um direcionamento, e levá-los a decisões reflexivas a partir de suas determinações psíquicas e de seu ambiente social. Müller (1988) explica que Orientação Vocacional não se trata de estudo psicológico do qual necessariamente saem resultados, tampouco um conselho no sentido de direcionar a vida do orientando, ao contrário, trata-se de um processo, uma trajetória, uma evolução mediante a qual os orientandos têm a oportunidade de refletir sobre sua problemática ao mesmo tempo em que procuram construir caminhos para a sua superação, a sim se expressa a orientanda: “Foi gratificante sim, porque ele dá um, norteia né, no caso a gente acaba no, nós nos conhecemos melhor, e assim e tal, as atividades que eram feitas lá, fazia, aguçava nossa, assim o nosso próprio eu né, é tinha vezes que a atividades não tinha nada haver, mas quando o professor, a psicóloga ia explicar, a gente via que tinha uma finalidade específica, que no caso assim, era conhecer as nossas habilidades principalmente né, é isso” (A, 20 anos). 57 Quando a orientanda se referiu as atividades, são as dinâmicas de grupo, a partir delas torna-se possível discutir e refletir sobre diversos referenciais e valores que implicam na formação do seu autoconceito. As palestras com os profissionais também tiveram uma avaliação positiva, na medida em que, possibilitou os orientandos obterem informações dos cursos universitários oferecidos pelas instituições públicas e privadas em Boa Vista, como também, o esclarecimento sobre as profissões, como relata o orientando: “Ele, assim, a princípio ele tava me ajudando a escolher de fato a minha profissão, né. Que ia ser Zootecnia, eu achava que queria, mas aí depois eles levaram um profissional dessa área, foi quando eu comecei a ter conhecimento do que era essa profissão, daí eu vi que não era bem o que eu achava e eu acabei deixando de lado essa profissão, então passei a buscar outra profissão, que eu acabei descobrindo administração” (J, 18 anos). Pontua-se que as intervenções do projeto, dinâmicas de grupo e palestras com os profissionais,
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