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Orientação Profissional (OP)

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12
1 INTRODUÇÃO
A Orientação Profissional (OP) vem assumindo um papel de destaque no 
mundo atual, pois cada vez mais precocemente exige-se do adolescente uma 
definição profissional e enfrentar este desafio não é uma atribuição fácil, na medida 
em que demanda autoconhecimento, segurança e informação para uma tomada de 
decisão consciente e autônoma.
 Segundo Vasconcelos e Oliveira (2004) as pessoas que fazem as suas 
escolhas de maneira espontânea e com possibilidades de reflexão, apresentarão 
uma menor probabilidade de arrependerem-se dessas escolhas se comparadas as 
que não vivenciam este processo.
 A tarefa da OP consiste em propiciar ao adolescente um espaço de 
discussões, informações e reflexões acerca dos conflitos que emergem mediante a 
escolha profissional, bem como, construir caminhos para sua superação. 
Na cidade de Boa Vista e no Estado de Roraima, a OP como uma prática 
social começou a ser desenvolvida no ano de 2008, pelo curso de Psicologia da 
Universidade Federal de Roraima – UFRR e que, em anos anteriores somente foi 
oferecida a partir da prática clínica.
Segundo dados fornecidos pela Secretaria de Estado de Educação, Cultura e 
Desportos (SECD) do Estado de Roraima, o quantitativo de estudantes que estão no 
ensino médio é de quinze mil, novecentos e setenta e quatro (15.974), estes, em sua 
maioria, vivenciando dúvidas relativas à escolha profissional.
Identificando nesta população os possíveis conflitos que emergem no 
momento da escolha de uma profissão, a professora Maria do Socorro Lacerda 
Gomes elaborou um projeto de extensão que possibilitasse aos adolescentes um 
espaço de discussões acerca da escolha profissional. Surgiu então, o Projeto de 
Orientação Vocacional/Profissional “Ampliando Horizontes”, que tem se constituído 
nos últimos quatro anos como uma rede de apoio social aos estudantes do ensino 
médio do município de Boa Vista-RR.
13
Diante o exposto e a partir da experiência no Estágio em Psicologia e 
Processos Educativos percebemos a necessidade de analisar a importância deste 
projeto no contexto da educação para o trabalho, buscando verificar o quanto 
contribuiu para a definição da escolha profissional dos orientandos e se os mesmos 
submeteram-se ao concurso vestibular, permanecem nos cursos escolhidos e se 
estão satisfeitos com a escolha profissional.
Para tanto, elegeu-se a turma de orientandos que participaram do projeto no 
ano de 2008. Esta escolha deve-se aos seguintes motivos: por se tratar da turma em 
que o projeto foi implantado e por estes, ano de 2011, possivelmente estarem em um 
curso de graduação ou inseridos no mercado de trabalho. 
 Objetivando aprofundar e compreender o fenômeno da escolha profissional, 
esta pesquisa foi dividida em capítulos, sendo o primeiro denominado: “A História do 
Trabalho e a Inserção da Escolha Profissional” no qual é apresentada a trajetória 
histórica do trabalho em todos os tempos e sociedades. 
O segundo capítulo, intitulado: “Adolescência e Vestibular: O Momento da 
Escolha” apresenta a dinâmica interna dos adolescentes a partir dos conflitos 
vivenciados frente ao momento da escolha profissional e o vestibular, considerado o 
ritual de passagem mais significativo nessa fase da vida.
E terceiro capítulo, “O Projeto de Orientação Vocacional/Profissional 
Ampliando Horizontes”, descreve a sua constituição e etapas: divulgação, período 
de inscrição e de execução, composto por dinâmicas de grupo voltadas para o 
autoconhecimento e para o significado da escolha profissional, palestras com os 
profissionais das Instituições pública e privada de ensino superior de Boa Vista-RR, 
aplicação dos testes psicométricos vocacionais e a entrevista de devolução, etapa 
final que consiste no oferecimento de feedback aos orientandos e suas famílias. 
 No quarto capítulo abordaremos método, instrumentos e procedimentos 
utilizados para definir esta pesquisa enquanto um estudo descritivo, com 
delineamento metodológico qualitativo, e utilizando para análise o método de análise 
de conteúdo. Em seguida, apresentamos a análise e discussão dos dados.
14
Finalizando o estudo, apresentamos as considerações finais acerca do 
Projeto de Orientação Vocacional/Profissional “Ampliando Horizontes”, da 
importância do referido projeto para os adolescentes, para a cidade de Boa Vista e 
para o curso de Psicologia da Universidade Federal de Roraima – UFRR
15
2 A HISTÓRIA DO TRABALHO E DA INSERÇÃO DA ESCOLHA PROFISSIONAL
Ao evidenciarmos a trajetória histórica do trabalho, percebemos que o 
mesmo, enquanto dimensão da existência humana, sempre existiu em todos os 
tempos e sociedades. O primeiro modelo de trabalho deu-se na comunidade 
primitiva, onde este era um meio de sobrevivência. 
De acordo com Bock (2002, p.19), 
os ancestrais da humanidade viviam para sobreviver ou sobreviviam para 
viver, pois seu trabalho organizava-se como atividade de coleta e mais tarde 
de caça, não havendo muita diferenciação de funções, apenas as 
determinadas pelo gênero e, consequentemente, causadas pela 
especificidade orgânica na reprodução da espécie. 
Na Idade Antiga, ainda de acordo com o autor, a relação de trabalho 
apresenta-se na condição de servidão escravizador/escravo, sendo considerada 
uma atividade penosa, degradante, sem valor social e que se justificava, em última 
instância, por assegurar a satisfação das necessidades primárias. Neste período, a 
atividade humana valorizada era o ócio e a contemplação, exercida pelos cidadãos 
livres. A escolha de uma atividade, por sua vez, não era livre, mas condição 
intrínseca da classe a qual o indivíduo pertencia, ou como consequência das vitórias 
ou derrotas em guerras das quais participava.
Mais adiante, na Idade Média, especificamente no feudalismo, passa-se da 
relação de escravizador-escravo para a relação senhor-servo. A sociedade passa a 
ser estratificada em camadas sociais - nobres, clérigos, senhores e vassalos. Assim, 
a posição e ocupação na sociedade eram transmitidas de pai para filho e o trabalho 
visava apenas o sustento.
Pimenta (1981) ressalta que nesses períodos não havia a preocupação com a 
escolha profissional e o conceito de vocação que imperava era o religioso, um 
chamado divino que impõe uma missão. A ordem social era determinada pela 
“vontade de Deus” e por isso nem podia nem devia ser questionada.
16
É na Revolução Industrial com o predomínio da produção em série e 
fábricas funcionando a plena capacidade, impondo jornadas de trabalho 
extensas, que o trabalho se constituiu para o homem um verdadeiro sentido 
de vida, pois o tempo que se passava trabalhando era maior que o tempo 
que se vivia fora do espaço de trabalho (CALHEIROS e SILVEIRA, 2004, p. 
82).
Com o advento do capitalismo ocorrem mudanças no modo de produção e 
reprodução da existência humana. O trabalhador é totalmente alijado da propriedade 
e de todos os meios de produção, só poderá alcançar sua sobrevivência se vender 
sua força de trabalho para os proprietários dos meios de produção (BRAVERMAN, 
1981 apud BOCK, 2002).
A posição do indivíduo no capitalismo não é mais determinada por laços de 
sangue, mas conquistada a partir do esforço que despende. Se antes esta 
posição era entendida em função das leis naturais referendadas pela 
vontade divina, agora, ao contrário, o indivíduo pode tudo, desde que lute, 
estude, trabalhe, se esforce, e também (por que não?) seja um pouco 
aquinhoado pela sorte. (Bock 1989 apud BOCK 2002, p.23).
 É neste contexto que os avanços nas teorias e práticas em OP ocorrem, pois 
a escolha profissional passa a ter importância, uma vez que passa a prevalecer a 
idéia do homem certo no lugarcerto, visando uma maior produtividade. E para 
justificar as diferenças encontradas no seio da sociedade, desenvolve-se o conceito 
de vocação biológica, onde se considera o orgânico para explicar as diferenças 
individuais e sociais. 
O ser humano nasce, portanto, com atributos específicos que servem tanto 
para localizá-lo na estrutura social quanto justificar o seu fracasso. Não havendo 
mais um chamamento divino, mas um chamamento interno, que também determina 
uma missão, visto que, estes são utilizados para a manutenção do status quo. Desta 
forma, ressalta-se que ao longo dos tempos a sociedade produziu modelos para o 
trabalho, que vai desde os meios de sobrevivência à valorização social. 
Entretanto, durante muito tempo foi negada ao homem a liberdade para 
escolher sua profissão ou ocupação. A partir do advento do capitalismo e nos dias 
atuais pode-se, se não escolher, mas preocupar-se com a possibilidade de vir a 
17
escolher. Neste sentido Pimenta (1981) afirma que se existe a possibilidade de 
escolha, existe também a possibilidade de alguém para mediar esta escolha e isto é 
a função da OP.
Nesta conjuntura, nasce em 1902 a Psicologia Vocacional (PV), cujo 
incremento se deu a partir do processo de industrialização, impondo ao homem a 
necessidade de escolher entre as diversas alternativas ocupacionais oferecidas pela 
nova realidade sócio-econômica. 
Filomeno (1997, p.23) profere que “(...) a instalação do primeiro centro de 
orientação profissional se deu em Munique, cujo objetivo era identificar os indivíduos 
desprovidos de vocação e capacidade para determinadas tarefas e desta forma 
minimizar ou evitar os acidentes de trabalho”.
 A partir de seu nascimento novos centros surgiram em diferentes países, 
como: Itália (1903), França (1906), Holanda (1907) e Estados Unidos (1908). Na 
América Latina temos o Brasil e a Argentina como os pioneiros a partir da década de 
20 (VASCONCELOS, 2004).
Porém, a PV tem sua história dividida em dois períodos: o compreendido 
entre 1902 a 1950, na qual foi dominada pela Psicometria e de 1950 até a 
atualidade, no qual surgem novas teorias.
Neiva (2007) declara que a PV em sua criação estava a serviço das grandes 
crises econômicas: pós-Revolução Industrial, 1ª e 2ª Guerras Mundiais e a grande 
crise econômica de 1929. 
Salienta-se, portanto, que sua preocupação não era o indivíduo, mas suas 
aptidões individuais e a correta identificação destas objetivando selecionar para as 
funções onde seria mais produtivo, como afirma Pimenta (1981).
Para apresentar resumidamente esta trajetória histórica, ilustraremos apenas 
os fatos mais marcantes acerca das grandes crises e do desenvolvimento da PV. 
Um dos momentos relevantes é a criação, em 1908, do Serviço de OP na 
Associação Cristã de Moços, em Boston, e a publicação do livro Chosing a Vocation, 
por Frank Parsons. 
18
Segundo Pimenta (1981, p. 22), “o modelo de OP de Parsons, se traduz da 
seguinte forma: a adaptação ao mundo do trabalho depende da harmonia entre as 
aptidões e características do indivíduo, por um lado, e as exigências da ocupação, 
por outro”. Estava, assim, lançada a idéia de colocar o homem certo no lugar certo.
Ribeiro e Melo-Silva (2011) asseguram que a visão de Parsons era 
mecanicista, pois defendia que indivíduo e sociedade apresentavam configuração e 
forma estável, portanto, não mudavam, apenas sofriam poucas alterações ao longo 
da vida.
Outro importante momento da PV reporta-se a primeira guerra mundial, em 
1917, com a utilização de testes coletivos de inteligência, cuja finalidade era 
selecionar homens para o exército norte-americano. De acordo com Pimenta (1981), 
esses testes permitiram analisar as diferenças ocupacionais relacionadas com 
traços de inteligência e, por conseguinte, distribuir os sujeitos no campo de guerra 
de acordo com sua capacidade cognitiva. 
Uma década depois, em 1927, três contribuições de naturezas diversas, 
tornam-se decisivas na PV, são elas: a primeira edição do Inventário de Interesses 
Vocacionais (IIVS) por Strong, permitindo investigar os interesses, escolhas, 
satisfação e outros fenômenos vocacionais conexos; os estudos de Elton Mayo, que 
se constituíram no ponto de partida para o que hoje se chama Relações Humanas e, 
por último, a idéia profética de construir uma máquina “prognosticadora” de Clark L. 
Hull, que objetivava predizer o êxito de uma pessoa, em todas as possíveis 
ocupações (PIMENTA, 1981). 
Mais adiante, em 1933, em plena crise econômica, organiza-se nos Estados 
Unidos o Serviço de Empregos cujo objetivo era estabelecer o equilíbrio entre oferta 
e a demanda de trabalho, convertendo-se esse serviço em “bolsa de emprego”. Para 
a realização desta atividade foi necessário a elaboração de informações 
ocupacionais ou tarefas a partir da oferta de empregos que possibilitasse preparar 
medida de competência e capacidade para estabelecer programas de equivalência 
entre empregos e habilidades (PIMENTA, 1981). 
19
Este autor enfatiza que até esta data o interesse básico da PV, centrava-se 
nas características das ocupações.
Com a participação dos Estados Unidos na Segunda Guerra Mundial, em 
1939, mais um incremento é dado à necessidade de selecionar e classificar homens 
para as forças armadas. A PV fica em evidência e é formulada a Teoria dos Traços e 
Fatores de Parsons. 
A inserção da análise fatorial na construção de testes e a avaliação dos 
critérios de êxito permitiu mudar o enfoque do interesse básico da psicologia 
vocacional para as características individuais; o que não significa que o 
interesse fosse sobre os indivíduos, mas sim sobre o ajuste de suas 
aptidões às ocupações guerreiras (PIMENTA, 1981, p. 24). 
Segundo Neiva (2007) a Teoria de Traços e Fatores caracteriza bem a 
posição da Psicologia Vocacional nesse período em que o “determinismo 
vocacional” imperava, assim, acreditando que as aptidões eram inatas, bastava 
elaborar instrumentos precisos, os testes, para identificá-las.
Bock e Aguiar (2002) afirmam que esta teoria fundamenta os testes 
vocacionais. Assim como Pimenta (1981, p. 24) assegura que:
A teoria dos traços e fatores resume toda a característica da Psicologia 
Vocacional e da Orientação Vocacional/Profissional no período de 1900 a 
1950, pois representa o esforço científico para a caracterização das 
ocupações e identificação das aptidões. Neste período, acreditava-se que o 
ajuste entre estes dois fatores garantia o bem-estar pessoal e, por 
conseguinte o bem-estar social.
Bock e Aguiar (2002) certificam que os testes vocacionais, por mais criticados 
que sejam fazem parte do imaginário social quando se trata da escolha profissional.
A concepção de escolha, nessa teoria, aproxima-se do modelo médico, que 
‘radiografa’ o sujeito, analisa os dados coletados e os sintomas, realiza um 
diagnóstico e, por fim, propõem um prognóstico. Na realidade, o interessado 
não decide, mas aceita ou não o conselho do profissional (BOCK, 2001, p. 
10).
20
No início da década de 50 a Psicologia começa a encarar a vocação sob um 
novo enfoque, colocando a Psicometria em segundo plano (PIMENTA, 1981). 
Surgem mais teorias e novas interpretações acerca da problemática da escolha 
profissional. Essas teorias, segundo Filomeno (1997), foram agrupadas em três 
correntes teóricas denominadas: desenvolvimental, psicodinâmica e decisional.
Ainda de acordo com esta autora, a abordagem desenvolvimental ou 
desenvolvimentista proposta por Super nas décadas de 40 e 50, representa a 
confluência de várias correntes teóricas em OP, influenciada pela Psicologia do 
Desenvolvimento, pela Teoria dos Traços e Fatores e pelo enfoqueCentrado na 
Pessoa. 
Apresentando como premissa a necessidade de entender o passado do 
indivíduo para melhor orientar o seu futuro. Neste sentido, é preciso analisar os 
temas recorrentes, as características e tendências do seu desenvolvimento. Para a 
efetivação desta análise será necessária a realização de uma extensa avaliação de 
sua personalidade, história pessoal e dos dilemas ocupacionais atuais, utilizando 
entrevistas, questionários e testes.
Outra teoria desenvolvida na década de 60 foi à abordagem psicodinâmica, 
mais tarde, década de 80, aprimorada por Bohoslavsky, a mesma consiste na 
aplicação dos conceitos e das técnicas psicanalíticas à escolha ocupacional. O foco 
da intervenção está no desvelamento e elaboração dos conflitos, ansiedades, medos 
e fantasias relacionados com o dilema ocupacional, bem como a busca de escolhas 
conciliatórias ou reparatórias. 
Por sua vez, as Teorias Decisionais fundamentam-se em modelos 
econômicos, conceitos e técnicas da Psicologia Cognitiva e da Psicologia Social, e 
tiveram grande impulsão na década de 90. Para Moura (2011), essas teorias 
contribuem para a compreensão do problema da escolha vocacional, propondo um 
esquema de decisão sequencial, em que uma série de decisões intermediárias leva 
a uma decisão final. 
Nesta perspectiva, Neiva (2007, p. 18) ressalta que: 
21
No decorrer do processo de decisão o indivíduo avalia as possibilidades que 
lhe são oferecidas, as conseqüências possíveis das decisões que pode 
tomar e a probabilidade de que essas conseqüências ocorram (...) avaliando 
as decisões consideradas, o indivíduo fixa finalmente sua decisão.
A premissa básica desta tendência está na maximização dos ganhos e 
minimização das perdas. Isto significa que cada profissão possui um valor particular 
e o processo de orientação buscará identificar e analisar junto ao sujeito suas 
atitudes, valores, expectativas, esquemas cognitivos, autoconceito, autoeficácia e 
objetivos pessoais. Diferente da abordagem diagnóstica, sua conotação é mais 
positiva, pois a responsabilidade recai tanto sobre o orientador quanto sobre o 
orientando e, após essa avaliação, é possível identificar o nível de maturidade 
ocupacional.
Segundo Neiva (2007), estas distintas concepções teóricas contribuíram 
substancialmente para a compreensão do processo de escolha profissional e para o 
desenvolvimento de diferentes estratégias com o objetivo de facilitar o processo.
O campo da OP, portanto, caracteriza-se por seu constante movimento de 
transformações desde o nascimento até os dias atuas, sendo resultantes das 
mudanças sociais e paradigmáticas no seio da própria psicologia.
Acerca da trajetória da OP brasileira, torna-se importante contextualizar que, 
havendo sido gestada sob forte influência da Psicometria na década de 1920, em 
institutos de Psicologia Aplicada, sua ênfase abrangia somente o diagnóstico das 
tendências vocacionais e aptidões dos indivíduos através do uso de testes 
psicológicos e aconselhamento para seu melhor ajustamento ao trabalho. 
Nas décadas seguintes, seu desenvolvimento esteve relacionado à criação de 
cursos de formação e aperfeiçoamento de psicotécnicos e orientadores profissionais 
no Instituto de Seleção e Orientação Profissional (ISOP), organizado por Emilio Mira 
Y López, na Fundação Getúlio Vargas, cuja criação, segundo Cruces (2003), foi 
relevante para a consolidação da Psicologia brasileira, especialmente em sua 
interface com a Educação, assim, desde a sua chegada ao Brasil, a OP esteve 
22
atrelada à ciência e à prática psicológica, embora mantivesse interfaces com outras 
áreas, como a Educação. 
Entretanto, apenas na década de 40 adentrou as escolas, estabelecendo-se 
gradualmente como campo de atuação de psicólogos e pedagogos. Melo-Silva, 
Lassance e Soares (2004) ressaltam que, no que diz respeito à atuação de 
pedagogos, a OP surgiu como atividade no campo da Orientação Educacional, 
destinada às classes menos favorecidas que frequentavam as escolas profissionais. 
Com a Lei 5.692/71, a OP chegou a ser estabelecida como atribuição 
específica do orientador educacional, devendo ser oferecida em todas as escolas. 
Quanto à atuação no âmbito da Psicologia, as autoras indicam que a OP 
desenvolveu-se em três domínios: o da Psicologia do Trabalho, vinculada à Seleção 
de Pessoal, a da Psicologia Educacional, centrando-se na questão da passagem de 
um ciclo educativo a outro; e a do Aconselhamento, focalizando determinadas crises 
evolutivas no ciclo vital.
A OP, no Brasil, têm passado por significativas transformações em seus 
fundamentos teórico-metodológicos, no qual vem possibilitando o estabelecimento 
de intervenções cada vez mais focadas na promoção do desenvolvimento humano e 
na construção da cidadania. Neste contexto surgem novas teorias, dentre elas: as 
gerais, as tradicionais (abordagem liberal), as críticas e as para além da crítica, 
sendo estas três últimas classificadas por Sílvio Duarte Bock.
Ainda de acordo com Bock (2002), as teorias denominadas gerais partem do 
pressuposto de que a escolha profissional é determinada ora por aspectos 
psicológicos, ora por aspectos socioeconômicos. Este enfoque tem como principal 
representante Blau, que elaborou um esquema conceitual contendo aspectos da 
psicologia, da economia e da sociologia. 
Segundo Blau (1976 apud BOCK, 2002, p.38):
23
A escolha ocupacional é um processo de desenvolvimento que se estende 
por muitos anos (...) não há uma ocasião única em que os jovens se 
decidam por uma dentre todas as carreiras possíveis e as experiências 
sociais constituem um aspecto essencial do desenvolvimento individual (...).
O grupo das teorias tradicionais (ou abordagem liberal) inclui as teorias 
psicológicas, aponta Bock (1995). Estas teorias buscam entender o fenômeno da 
escolha profissional a partir do indivíduo e quase exclusivamente somente nele. 
Bock (2002) afirma que nas teorias tradicionais, utiliza-se o “modelo de 
perfis”, que classifica uma boa escolha a partir da harmonia mais perfeita entre o 
perfil profissional ou ocupacional e o perfil pessoal. Para este autor todas as teorias 
denominadas psicológicas apóiam-se no modelo de perfis. Elas apenas se 
diferenciam quanto ao entendimento da gênese das características pessoais do 
indivíduo.
Algumas consideram que tais características são inatas; outras, que são 
construídas a partir da relação afetivo-sexual estabelecida na primeira 
infância; outras que são construídas ao longo do crescimento, mas todas, 
sem exceção, comparam as características com os perfis elaborados de 
cada profissão. Portanto, em maior ou menor escala, há um ajustamento do 
indivíduo à sociedade (BOCK, 2002, p. 48). 
As teorias ditas críticas surgiram no final da década de 70 e início da década 
de 80. Estas analisaram as teorias já existentes, denominadas tradicionais ou 
liberais, ou seja, o grupo das teorias psicológicas. Ainda de acordo com o autor, 
estas teorias foram elaboradas no período da Ditadura Militar, onde se restringiam 
as liberdades democráticas. 
Por fim, ressaltam-se as teorias para além da crítica, que propõem uma nova 
abordagem denominada sócio-histórica, procurando superar a dicotomia entre 
indivíduo e sociedade. Bock (2002) explica que essa abordagem aceita as 
formulações desenvolvidas pelas teorias críticas, mas aponta que é necessário um 
avanço na compreensão da relação indivíduo-sociedade, de forma dialética, e não 
idealista ou liberal.
24
Na perspectiva para além da crítica, o indivíduo é e não é reflexo da 
sociedade, da mesma forma ele é e não é autônomoem relação a esta, assim 
como, escolhe e não escolhe sua profissão ou ocupação, ou seja, trata-se da 
questão da liberdade de escolha (BOCK, 2002).
Entende-se, nessa abordagem, que o indivíduo é capaz de mudar sua 
trajetória de vida independente das suas condições sociais, pois considera que as 
pessoas podem lutar para mudar as condições nas quais vive. 
Vigotsky é o principal representante desta abordagem, e tem como 
pressupostos básicos a idéia de que o ser humano é mutável, constituindo-se 
enquanto tal na sua relação com o outro social.
De acordo com Oliveira (1992 apud BOCK, 2002) a cultura torna-se parte da 
natureza humana num processo histórico que, ao longo do desenvolvimento da 
espécie e do indivíduo, molda o seu funcionamento psicológico. Ressalta, ainda, que 
não há ruptura entre indivíduo e sociedade, mas uma constante relação à medida 
que se influenciam. 
Bock (1995) diz que não se quer com isso resgatar a concepção liberal de 
homem, da mesma forma, não se assume que se superarão todos os obstáculos 
colocados pela realidade por mera vontade pessoal, mas que as pessoas podem 
lutar para mudar as condições em que vivem, tanto individual quanto coletivamente. 
Assim, pode-se enfatizar que a abordagem sócio-histórica indica caminhos para 
entender o indivíduo na sua relação com a sociedade de forma dinâmica e dialética.
Sabe-se, ainda, que a OP realizada no Brasil tem-se voltado essencialmente 
ao atendimento de jovens do ensino médio, e que são os psicólogos os profissionais 
que mais estão atuando neste campo (MELO-SILVA et al., 2004). Nas últimas 
décadas esta atuação dá-se tanto no contexto educativo quanto no do consultório 
psicológico, ainda com grande ênfase neste último. 
Valore (2003) considera o alcance da OP como importante instrumento de 
exercício da cidadania, na medida em que incentiva a prática coletiva e o re-pensar 
de si e de seu projeto no interior da coletividade, seja o grupo de OP, seja o grupo 
25
macro-social. Seu alcance também se faz presente diante da pretensão de se ter no 
psicólogo um agente de mudança capaz de auxiliar na formação de sujeitos mais 
ativos, agentes de mudança, tanto na construção de seu destino individual quanto 
no destino da comunidade à qual pertencem.
26
3 ADOLESCÊNCIA E VESTIBULAR: O MOMENTO DA ESCOLHA
Ao discutirmos adolescência e vestibular não podemos desconsiderar o 
quanto este momento de escolha é doloroso, provoca inúmeras angústias, porém, 
contribui para a emancipação do sujeito.
De acordo com Ariès (1981 apud Ximenes, 2004, p. 38), “a noção de 
adolescência começa a germinar a partir das drásticas mudanças sociais e 
econômicas do século XVIII, cujo processo de industrialização da economia 
desencadeou uma ruptura entre os ambientes público e privado, e a consequência 
foi o decréscimo e até mesmo a extinção do trabalho doméstico artesanal. A partir 
desse momento histórico, pontua o autor, a adolescência surge como um período de 
transição entre a infância e a idade adulta. 
Neste sentido para REIZ; ZIONE (1981 apud XIMENES, 2004, p.38) a saída 
do ambiente familiar possibilitou o ingresso em instituições como,
a escola e o exército, cuja função era instrumentalizar e socializar o jovem, 
mediante o ensino, a vigilância e o enquadramento social, favorecendo seu 
ingresso também no mercado de trabalho. Nesse sentido, um primeiro 
passo foi separar as crianças mais novas das mais velhas, permitindo a 
identificação de uma fase cronologicamente posterior à infância, de 
preparação para a vida adulta, que conhecemos como adolescência.
Na Psicologia, a adolescência começa a ser objeto de estudo a partir do 
século XX, quando Stanley Hall, o precursor, afirma: “a adolescência é um momento 
de vida do homem, uma etapa marcada por tormentos e conturbações vinculadas à 
emergência da sexualidade” (AGUIAR, BOCK e OZELLA, 2002, p.164).
Conforme Ozella (2002, p.16), “as abordagens psicanalíticas reafirmaram e 
reforçaram o pensamento de Hall, ao caracterizar a adolescência como uma etapa 
de confusões, estresse e luto, causados pelos impulsos sexuais que emergem 
nessa fase do desenvolvimento”. 
27
Teóricos como Debesse (1946), Erikson (1976) Aberastury (1980) e Knobel 
(1981) são adeptos dessa concepção de adolescência. Porém, Ozella (2002) aponta 
Erikson como o grande responsável pela institucionalização da adolescência, ao 
identificar os principais conflitos deste período que são: a confusão de papéis e 
dificuldades em estabelecer uma identidade própria. 
A adolescência segundo Debese (1946 apud Aguiar, Bock e Ozella, 2002, 
p.164), não é uma simples transição entre a infância e a idade adulta, mas um 
período em que se constitui uma mentalidade própria e um psiquismo característico. 
Enquanto para Aberastury (1980 apud Ozella 2002, p.18), é um momento crucial na 
vida do homem, uma etapa decisiva de um processo de desprendimento, sendo um 
período confuso, doloroso e repleto de contradições, chegando esta autora a afirmar 
que a adolescência é o momento mais difícil da vida do homem.
 Ao introduzir a síndrome normal da adolescência, ainda de acordo com 
Ozella (2002), Aberastury e Knobel afirmam uma crise essencial na adolescência, 
condicionando a realidade biopsicossocial a circunstâncias interiores. Segundo 
estes, “o adolescente passa por desequilíbrios e instabilidades extremas (...) o 
adolescente apresenta uma vulnerabilidade especial para assimilar os impactos 
projetivos dos pais, irmãos, amigos e de toda a sociedade” (ABERASTURY e 
KNOBEL, 1981, p. 28).
Segundo Aguiar, Bock e Ozella (2002, p.165), “Aberastury e Knobel ao 
pressuporem uma crise preexistente na adolescência determinam a naturalização e 
a universalização do comportamento adolescente, e este tem imperado na 
concepção desse momento de vida do homem pela Psicologia”.
Em virtude disso, teóricos vêm questionando esses pontos de vista acerca da 
adolescência, defendendo a necessidade de se construir uma abordagem que 
considere a realidade social como mutável e procure não negligenciar a trajetória 
histórica do sujeito.
Neste contexto, a perspectiva sócio-histórica vem procurar superar a visão 
naturalizante acerca do comportamento adolescente, que para Aguiar, Bock e Ozella 
(2002, p. 112), “(...) tem sido responsável pelo ocultamento das determinações 
sociais de fenômenos como a adolescência”.
28
A perspectiva sócio-histórica concebe o homem como um “ser histórico, ser 
constituído no seu movimento; constituído ao longo do tempo, pelas relações 
sociais, pelas condições sociais e culturais engendradas pela humanidade” 
(AGUIAR, BOCK e OZELLA, 2002, p. 166)
Os adeptos dessa corrente entendem que para se conceituar a adolescência, 
primeiramente, deve-se compreender sua gênese histórica e seu desenvolvimento, 
ou seja, a adolescência existe, é criada historicamente pelo homem nas relações 
sociais, e não uma fase natural do desenvolvimento humano como acreditam grande 
parte dos teóricos psicanalistas. 
A adolescência deve ser compreendida nessa inserção. É importante 
perceber que essa totalidade social é constitutiva da adolescência, ou seja, 
sem essas condições sociais a adolescência não existiria ou não seria esta 
da qual falamos. Não estamos nos referindo, portanto, das condições 
sociais que facilitam, contribuem ou dificultam o desenvolvimento de 
determinadas características do jovem, estamos falando de condições 
sociais que constroem uma determinada adolescência (AGUIAR, BOCK e 
OZELLA, 2002, p.169).
A abordagem sócio-histórica considera os fatores sociais, econômicos e 
culturais como cruciais para entender o surgimento da adolescência.Aguiar, Bock e 
Ozella (2002, p. 169) relatam que,
na sociedade moderna, o trabalho, com sua sofisticação tecnológica, 
passou a exigir um tempo prolongado de formação, adquirida na escola, 
reunindo em um mesmo espaço os jovens e afastando-os do trabalho por 
algum tempo. Paralelo a isto, o desemprego crônico/ estrutural da 
sociedade capitalista trouxe a exigência de retardar o ingresso dos jovens 
no mercado e aumentar os requisitos para esse ingresso, tendo como 
consequência o aumento do tempo na escola. 
Com a extensão do período escolar, o distanciamento dos pais e da família e 
a convivência com um grupo de iguais, contribuíram para a criação de um novo 
grupo social, no caso, a adolescência.
29
A adolescência se refere, assim, a esse período de latência social 
constituída a partir da sociedade capitalista gerada por questões de 
ingresso no mercado de trabalho e extensão do período escolar, da 
necessidade do preparo técnico (...) o desenvolvimento e o aparecimento de 
transformações no corpo vão sendo tomados também como marcas desse 
processo (AGUIAR, BOCK e OZELLA, 2002, p. 170).
São também características desses jovens a força e a capacidade para 
ingressar na vida adulta, porém, são impedidos ou não autorizados para esse 
ingresso.
Os jovens apresentam todas as possibilidades de se inserir na sociedade 
adulta, em termos cognitivos, afetivos, de capacidade de trabalho e de 
reprodução. No entanto, a sociedade adulta pouco a pouco lhes tira a 
autorização para essa inserção. O jovem se distancia do mundo do trabalho 
e, com isso, se distancia também das possibilidades de obter autonomia e 
condições de sustento. Aumenta o vínculo de dependência do adulto, 
apesar de já possuir todas as condições para estar na sociedade de outro 
modo (AGUIAR, BOCK e OZELLA, 2002, p.170).
Os autores ainda afirmam que é dessa relação e de sua vivência enquanto 
contradição que se constituirá grande parte das características que compõem a 
adolescência, tais como, a rebeldia, a moratória, a instabilidade, a busca de 
identidade e os conflitos. 
Essas características, para a abordagem sócio-histórica, foram geradas no 
processo histórico da sociedade. Aguiar, Bock e Ozella (2002) apontam que 
devemos compreender a adolescência como constituída socialmente a partir das 
necessidades sociais e econômicas dos grupos sociais, como também, entender 
que suas características se constituem no processo de socialização.
Contrapondo-se aos estudos sobre adolescência, com base nas teorias 
psicológicas que sustentaram e fizeram história por todo o século XX, que Segundo 
Ozella (2002), na atualidade, a Psicologia Convencional, ainda insiste em 
negligenciar a inserção histórica do jovem e suas condições objetivas de vida, 
mesmo com tantos estudos e questionamentos a respeito da universalização dos 
conflitos adolescentes.
30
3. 1 VESTIBULAR
O concurso do vestibular é considerado no Brasil como a porta de entrada 
para o ingresso no ensino superior. No entanto, Teixeira (1981 apud Oliveira 2004) 
assinala que, além de apresentar as características de um ritual de iniciação, o 
vestibular constitui uma barreira institucionalizada, uma vez que não autoriza a 
passagem da esmagadora maioria que a ele se submete.
Existe ainda a preocupação com a concorrência e a possibilidade de não 
obter a aprovação no primeiro concurso. Levenfus e Nunes (2010) referem-se ao 
período intermediário entre o término do ensino médio e o ingresso na universidade 
como vestíbulo, no qual o vestibulando estaria sem identidade enquanto permanecer 
nessa etapa.
Esse marco social que é o vestibular exige do jovem uma posição com 
relação a sua escolha profissional. Segundo Golin (2000 apud Ximenes, p. 46, 
2004), a escolha profissional é,
entre outras, uma das grandes geradoras de conflitos no jovem implicando 
numa das decisões mais importantes de sua vida. Ela transcende a própria 
pessoa, visto que, repercute e sofre diversas influências, inclusive da família 
e da sociedade. 
Em decorrência disto, essa escolha não é tão simples, pois existem inúmeras 
questões que o adolescente precisa elaborar, além de conhecer as profissões e o 
mercado profissional. Soares (2009, p. 20) ressalta que, “a escolha é possível, o que 
não é possível é não escolher, pois mesmo quando não escolhemos, estamos 
escolhendo, o não escolher”. 
Para que o adolescente possa realizar suas escolhas, faz-se necessário que 
saiba quais são seus interesses, habilidades, competências, além da possibilidade 
de conhecer as ofertas de cursos disponíveis e das possibilidades de atuação 
31
destes. Soares (2009) ressalta que é preciso conhecer a si mesmo, buscar 
informações sobre as áreas profissionais de maior interesse para a pessoa e 
também conhecer com detalhes a profissão a ser escolhida.
Mediante todo esse temor que rodeia o vestibulando, os adolescentes sofrem, 
em menor ou maior grau, com as influências externas, destacam-se entre elas a 
família e o grupo de amigos.
A família é a base do ser humano e sempre teve como importantes papéis a 
função socializadora e de transmissão de valores. Bohoslavsky (2007), afirma que o 
grupo familiar constitui o grupo de participação e de referência fundamental para o 
adolescente, mesmo que ela atue como grupo positivo de referência ou que opere 
como grupo negativo de referência.
Além disso, a família contribuiu de distintas maneiras para a formação da 
identidade do adolescente; esta se forma quando o jovem consegue elaborar três 
questões importantes que Erikson as identificou de identidade sexual, valores e o 
que nos interessa nessa pesquisa, a escolha de uma ocupação ou identidade 
ocupacional.
De acordo com Bohoslavsky (2007, p. 30), “a identidade ocupacional é a 
autopercepção, ao longo do tempo, em termos de papéis ocupacionais”.
Outro fator de extrema importância é a compreensão dos diferentes tipos e 
posições que a família pode assumir no processo de escolha profissional. Esses 
tipos são classificados, segundo Neiva (2007), em pressionadora, ausente e 
facilitadora.
No tipo de família pressionadora, muitas vezes, os pais assumem de forma 
direta ou indireta a pressão ao filho, cujo adolescente é usado como depositário de 
desejos, aspirações ou frustrações dos pais, a autora ressalta que,
32
com frequência encontramos pais que sugerem diretamente que o filho siga 
sua profissão considerando que assim poderão ajudá-lo a ingressar no 
mercado de trabalho e abrir portas para o seu futuro profissional (...) e 
outros, indiretamente, influenciam os projetos profissionais dos filhos, de um 
lado dizendo que apoia qualquer decisão dos filhos e, de outro, expressam 
sutilmente seus desejos e expectativas com relação ao futuro profissional 
deles (NEIVA, 2007, p. 74).
Por outro lado, na família ausente, não há qualquer tipo de preocupação ou 
participação com relação à escolha profissional do filho. Neiva (2007, p. 75), atesta 
que “esse tipo de reação familiar gera um sentimento de abandono ao jovem, que 
necessita sentir os desejos dos pais”.
Enquanto que a família facilitadora participa do processo de escolha 
profissional, sem pressões, pois está aberta e disponível para discutir suas 
preocupações e suas expectativas, desta forma, 
ajuda-o a buscar informações profissionais e o motiva a participar de um 
processo de orientação profissional (...) é aquela que respeita o adolescente 
e permite que ele elabore uma decisão madura e autônoma (NEIVA, 2007, 
p. 75).
É perceptível que os dois primeiros tipos, pressionadora e ausente, podem 
contribuir de forma negativa no processo de identidade vocacional do filho,podendo 
levá-lo a elaboração de uma falsa identidade vocacional, ao que os autores se 
referem como pseudoidentidade.
No caso da pseudoidentidade, a escolha do adolescente tem como objetivo 
agradar a família respondendo aos seus desejos e expectativas e, na 
identidade negativa, confrontá-la (...) toda família deve avaliar a sua 
participação no processo de escolha profissional do adolescente, e pensar 
que o mesmo necessita ser ajudado (...) por isso, a necessidade de discutir 
no seio familiar os seus desejos, inquietudes, medos, expectativas e 
necessidades próprias do momento que atravessa (NEIVA, 2007, p. 76).
Outra importante influência é o grupo de amigos que se reverte de grande 
importância para o adolescente, visto que necessita ser aceito por eles. Além disso, 
33
no grupo dividem-se muitas inquietudes e medos com relação ao futuro, como 
também existe a troca de informações sobre a realidade profissional. Entretanto, o 
grupo pode contribuir negativamente, quando não permite ao adolescente manter 
sua própria individualidade, que ainda de acordo com Neiva (2007, p. 78), “este é o 
caso do adolescente que acaba escolhendo o que o grupo escolhe, para 
acompanhar seus companheiros. Ele teme que, ao diferenciar-se em sua escolha 
profissional, possa ser abandonado pelo grupo” 
 Mediante todos esses desafios, muitos jovens chegam ao final do ensino 
médio, e não tem definida a sua escolha, estão cheios de dúvidas e angústias. 
Somente elaborando esses conflitos, o adolescente pode chegar a uma escolha 
mais assertiva. Para Soares (2009, p. 65), “(...) quando o adolescente já tiver 
bastante conhecimento sobre si mesmo e sobre as profissões chegará a hora de 
escolher”. A autora ainda afirma que a escolha nunca é definitiva, é sempre passível 
de ser refeita.
34
4 O PROJETO DE ORIENTAÇÃO VOCACIONAL/PROFISSIONAL “AMPLIANDO 
HORIZONTES”
Segundo dados obtidos na Secretaria de Estado de Educação, Cultura e 
Desportos (SECD) do Estado de Roraima, tem se no Estado um quantitativo de 
noventa e nove (99) escolas públicas de ensino médio, o que totaliza quinze mil, 
novecentos e setenta e quatro (15.974) alunos. Destes, vinte e três (23) escolas, e 
nove mil, novecentos e sessenta e três (9.963) alunos estão localizados no 
município de Boa Vista. O município, ainda dispõe de três (03) escolas de ensino 
médio na rede privada.
A partir da identificação desta demanda e percebendo que se constituía num 
potencial público para a implantação de um projeto de extensão, no ano de 2008, a 
professora Maria do Socorro Lacerda Gomes percebeu a necessidade de elaborar 
um projeto denominado Orientação Vocacional/Profissional “Ampliando Horizontes”, 
cujo objetivo é oferecer aos adolescentes de Boa Vista um espaço para as 
discussões acerca da escolha profissional, considerando que na cidade as escolas 
não oferecem este tipo de atividade e que as únicas possibilidades disponíveis são 
oferecidas na modalidade clínica, de alto custo financeiro e revestida de uma visão 
que utiliza, sobretudo, os testes psicológicos para a definição profissional.
De acordo com Aguiar e Bock (1995), o trabalho em Orientação Vocacional é 
uma atividade promotora de saúde, na medida em que é estimuladora e provoca 
reflexões sobre a própria adolescência, pois neste contexto vivenciam-se suas 
dúvidas, buscas e possíveis identificações, além das reflexões acerca das questões 
a respeito do mundo adulto e da sociedade onde vive. 
Aguiar, Bock e Ozella (2002) ressaltam que promover saúde significa, 
portanto, trabalhar para ampliar a consciência que o indivíduo possui sobre a 
realidade que o cerca, instrumentando-o para o agir, no sentido de transformar e 
resolver as dificuldades que essa realidade lhe apresenta. 
35
O Projeto de Orientação Vocacional/Profissional “Ampliando Horizontes” 
desenvolve atividades que possa trazer à tona questões intrínsecas e extrínsecas a 
serem refletidas ativamente pelos participantes, dando aos mesmos a possibilidade 
do autoconhecimento e da apropriação de suas dúvidas e decisões. O público alvo 
do projeto constitui-se dos alunos do ensino médio das redes pública e privada do 
município de Boa Vista – Roraima.
Este tipo de intervenção para Bock (2002) oferece ao sujeito a possibilidade 
de se apropriar de suas determinações, compreendendo-se como um sujeito ao 
mesmo tempo único, singular/histórico e social.
O projeto considera o homem sujeito de suas escolhas, assim como, 
compreende que a escolha da profissão é algo que pertence ao indivíduo, por isso o 
cuidado de devolver ao jovem sua capacidade ativa de tomar decisões autônomas.
4. 1 DESCRIÇÃO DO PROJETO 
Anualmente a coordenadora do projeto, Maria do Socorro Lacerda Gomes, 
divulga entre os alunos do curso de Psicologia o projeto, e são oferecidas entre 
quatro (04) e seis (06) vagas para participarem da atividade na modalidade de 
extensão. Nestes quatro (04) anos de execução já participaram cerca de vinte (20) 
acadêmicos de psicologia e aproximadamente cento e cinquenta (150) participantes.
O projeto tem duração de seis (06) meses, março-agosto, sendo dividido em 
cinco (05) etapas: divulgação e período de inscrições, dinâmicas de grupo dirigidas 
ao autoconhecimento e reflexão sobre o significado da escolha profissional, 
palestras com profissionais das Instituições públicas e privadas de ensino superior 
de Boa Vista-RR e com autônomos, aplicação de testes psicométricos vocacionais e 
entrevista de devolução comunicando os resultados. Os encontros são semanais, 
realizados aos sábados, com duração de quatro (04) horas cada.
36
Cada etapa objetiva auxiliar o adolescente na clarificação da sua escolha 
profissional, que para Gimenez (2009, p.22), “(...) constitui-se na primeira escolha 
importante com grande repercussão na vida individual, familiar e social que um 
adolescente precisa realizar.”. 
Para uma melhor compreensão da dinâmica desta atividade, apresentaremos 
a seguir como se constituiu cada etapa.
4.1.1 DIVULGAÇÃO E PERÍODO DE INSCRIÇÃO
 A primeira etapa consiste na divulgação e período de inscrição. Nesta, os 
acadêmicos de psicologia dirigem-se às escolas públicas e privadas de ensino 
médio para divulgar o projeto e convidar os alunos a participarem.
Pelo período de duas semanas são realizadas as inscrições nas instalações 
do Centro de Educação – CEDUC e é cobrado um valor simbólico. No momento da 
inscrição ocorre o primeiro contato com o orientando, através do preenchimento do 
formulário e entrevista inicial. 
De acordo com Bohoslavsky (2007, p. 119), “a maneira convencionada para 
se fazer a primeira entrevista poderá fixar dados muitos valiosos quanto a certas 
hipóteses gerais sobre o conflito que determinou a vinda do adolescente à 
entrevista”. Por isso, o cuidado de coletar informações que sejam pertinentes na 
compreensão e elaboração desses conflitos. 
4.1.2 DINÂMICAS DE GRUPO
A segunda etapa marca o início dos encontros semanais, através das 
dinâmicas de grupo, em cada encontro são introduzidos temas referentes ao 
autoconhecimento e ao significado da escolha profissional, com o objetivo que sejam 
37
discutidos assuntos referentes à habilidade, interesses e características pessoais, 
influências externas (amigos, sociedade e família), vestibular, relação de gênero e 
escolha profissional, desempenho e interesses escolares. 
Para Neiva (2007, p. 49), as discussões destes assuntos contribuem para o 
processo de autoconhecimento do adolescente, e este:
Pode formular aspirações profissionais realistas e compatíveis com suas 
características pessoais, interesses, potencialidades e habilidades (...) 
conhecer as características pessoais é fundamentalpara a formação de 
uma autoimagem real e autêntica, a qual permitirá o desenvolvimento de 
aspirações profissionais coerentes.
Durante as discussões afloram conflitos, angústias e ansiedades dos 
orientandos. No entanto, criam-se possibilidades para reflexão sobre si e suas 
preferências, dando-lhe condições de maior autonomia na hora da escolha. Duran 
(1995, p.59) enfatiza que “escolher tem relação inequívoca com liberdade e 
autonomia.”
Além disso, as dinâmicas de grupo são importantes no processo de OP, pois 
os adolescentes interagem entre si trocando informações e experiências, criando 
vínculos de amizade e identificações. Diversos autores da área consideram o 
trabalho em grupo um relevante aspecto do processo, por ser a melhor forma de 
realização desta atividade, devido ao crescimento pessoal.
Lucchiari (1993 apud Vasconcelos, p. 30) destaque que,
38
é próprio do adolescente o convívio em grupos e turmas. É importante, no 
momento em que ele está buscando a sua identidade, sentir-se igual aos 
outros (...) há possibilidades de compartilhar sentimentos de dúvida, 
confusão e insegurança em relação à escolha profissional e ao seu futuro, 
sendo cada participante do grupo um facilitador, pois a sua possibilidade de 
entender o outro e poder expressar como o percebe, auxiliam no 
conhecimento que cada membro busca de si mesmo.
Uma vez concluída esta fase de autoconhecimento e escolha profissional 
passa-se a etapa seguinte.
4.1.3 PALESTRAS COM OS PROFISSIONAIS
Esta etapa consiste no conhecimento das profissões através das palestras 
com profissionais. Buscando abranger o maior número possível de cursos oferecidos 
no Estado, são convidados profissionais das Universidades Federal e Estadual, 
Instituto Federal e das Faculdades Particulares.
As palestras são dirigidas ao conhecimento da profissão, conceituação do 
curso, sua duração, área de atuação, mercado de trabalho, faixa salarial, entre 
outros. 
Para Bohoslavsky (1998, p. 141):
A informação tem tamanha importância dentro do processo de orientação 
profissional que nenhum processo pode ser considerado completo se não 
inclui, em alguma etapa deste, o fornecimento de informação com respeito 
às carreiras, ocupações, áreas de trabalho, demanda profissional.
39
As palestras aguçam a curiosidade do orientando e principalmente esclarece 
o que de fato é a profissão, visto que, muitos optam por uma profissão sem sequer 
conhece–lá. 
A perspectiva para esses encontros é proporcionar ao adolescente uma 
melhor compreensão acerca das profissões e instigá-los a buscar informações 
específicas das profissões que mais lhe chamou atenção. 
4.1.4 APLICAÇÃO DOS TESTES VOCACIONAIS PSICOLÓGICOS
Apesar da etapa da aplicação dos testes psicológicos vocacionais não ser a 
mais importante. Os testes quando bem aplicados, somam-se às demais etapas do 
processo, na medida em que são fontes de informação objetivas. Eles por si só não 
dizem nada, Bohoslavsky (2007, p.93), garante que o “processo de orientação 
vocacional começa na primeira entrevista e a aplicação de testes psicológicos 
integra-se a elas”.
São aplicados cinco (05) testes: Questionário Vocacional de Interesse (QVI), 
Levantamento de Interesse Profissional (LIP), Bateria Percentual de Raciocínio 
(BPR5), Inventário de Interesse Profissional (IIP) e Escala de Preconceito 
Profissional (EPP).
4.1.5 DEVOLUÇÃO DOS RESULTADOS
 A etapa final do processo consiste na devolução dos resultados no modelo de 
relatório ou laudo psicológico. Esta sessão caracteriza-se nos moldes de um 
atendimento psicológico e visa esclarecer todos os aspectos levantados, buscando 
dirimir todas as dúvidas. 
40
Destaca-se que o orientando ao participar ativamente do todas as etapas do 
processo, tem grandes possibilidades de realizar uma escolha mais assertiva. 
Segundo Aguiar e Bock (1995, p. 21), “(...) a melhor escolha é aquela que o jovem 
realiza a partir de um maior conhecimento de si, como ser histórico, determinado 
pela realidade social, e maior conhecimento das possibilidades profissionais 
oferecidas pela sua sociedade”. 
41
5 METODOLOGIA
O presente estudo teve como objetivo avaliar a importância do Projeto de 
Orientação Vocacional/Profissional “Ampliando Horizontes” na definição da escolha 
profissional do grupo de orientandos atendidos no ano de 2008. E de forma mais 
específica: verificar se os orientandos permanecem nos cursos escolhidos e 
examinar se os mesmos estão satisfeitos com a escolha profissional.
Para alcançar os objetivos, optou-se por um estudo descritivo, com 
delineamento metodológico qualitativo. Lüdke e André (1986) dão as características 
básicas de uma pesquisa qualitativa: a pesquisa qualitativa tem o ambiente natural 
como sua fonte direta de dados e o pesquisador como seu principal instrumento; os 
dados coletados são predominantemente descritivos; a preocupação com o 
processo é muito maior do que com o produto; o 'significado' que as pessoas dão às 
coisas e à sua vida são focos de atenção especial pelo pesquisador.
5. 1 ESCOLHA E CARACTERIZAÇÃO DOS SUJEITOS DA PESQUISA
Os sujeitos escolhidos para contribuir com a pesquisa foram os orientandos 
que participaram do projeto no ano de 2008. A seleção desse grupo deu-se por dois 
motivos, o primeiro deles, por se tratar da primeira turma do projeto, e o segundo, 
pelo fato de hoje, ano de 2011, os orientandos estarem provavelmente cursando 
uma faculdade ou inseridos no mercado de trabalho, tendo condições de discorrer a 
respeito da importância do projeto Orientação Vocacional/Profissional “Ampliando os 
Horizontes” na definição de sua escolha profissional. 
A turma era formada por vinte e quatro (24) participantes, sendo que sete (07) 
destes são do sexo masculino e dezessete (17) do sexo feminino, com idades 
variando entre 14 a 19 anos. Sendo que dois (02) orientandos estavam cursando o 
primeiro ano do ensino médio, quatro (04) estavam cursando o segundo ano do 
42
ensino médio, dezesseis (16) estavam cursando o terceiro ano do ensino médio e 
dois (02) haviam concluído o ensino médio. Com relação à instituição de ensino, 
dezessete (17) sujeitos estão divididos em sete (07) escolas públicas; e sete (07) 
sujeitos estão divididos em quatro (04) escolas privadas.
Desses vinte e quatro (24) participantes conseguimos localizar cinco (05) que 
representam 20,8% da turma de 2008. Sendo que três participantes são do sexo 
masculino e dois (02) participantes do sexo feminino, com idade variando de dezoito 
(18) a vinte (20) anos. Para preservar o sigilo, serão utilizados nomes fictícios.
5. 2 PROCEDIMENTO DE COLETA DE DADOS
Para caracterização e localização dos sujeitos utilizou-se os instrumentos de 
análise dos dados documentais.
São considerados documentos “quaisquer materiais escritos que possam 
ser utilizados como fonte de informação sobre determinado comportamento 
humano (...) estes incluem desde leis e regulamentos, normas, pareceres, 
cartas, memorandos, diários pessoais, autobiografias, jornais, revistas, 
discursos, roteiros de programas de rádio e televisão até livros, estatísticas 
e arquivos escolares (LÜDKE e ANDRÉ, 1986, p. 38). 
Considerou-se documentos as entrevistas aplicadas no ano de 2008 pelo 
projeto de Orientação Vocacional/ Profissional “Ampliando os Horizontes”. São 
materiais já existentes independentemente desta pesquisa. 
Lakatos (2010) diz que antes de iniciar qualquer pesquisa de campo, o 
primeiro passo é a analise minuciosa de todas as fontes documentais que sirvam de 
suporte à investigação projetada. A análise dos documentos foi realizada no 
Laboratório de Desenvolvimento e Orientação Profissional (LADOP), localizado no 
Bloco de Psicologia– UFRR.
43
Depois de caracterizados os sujeitos, tentamos localizá-los através de 
ligações telefônicas. Sendo que o primeiro contanto ocorreu no mês de julho, no 
qual foi explicado aos orientandos os objetivos da pesquisa, procedimentos de 
coleta de dados, o termo de consentimento livre e esclarecido e que a pesquisa 
estava em apreciação no Comitê de Ética em Pesquisa (COEP). O contato 
estendeu-se com um convite para participarem do estudo, todos aceitaram.
Após aprovação do projeto pelo COEP, estabelecia-se com os orientandos o 
segundo contato, também através de ligação telefônica, o mesmo se deu no mês de 
outubro para agendarmos o dia, horário e local das entrevistas.
Nos dias dez (10), onze (11) e treze (13) de outubro foram realizadas as cinco 
(05) entrevistas. Duas (02) destas, aplicadas na sala do Bloco de Psicologia da 
Universidade Federal de Roraima – UFRR, e as outras três (03) entrevistas nas 
casas dos orientandos.
Antes de iniciarmos a entrevista, lia-se e assinava o Termo de Consentimento 
Livre e Esclarecido, de acordo com os procedimentos éticos exigidos por lei, depois 
iniciávamos a entrevista, audiogravada, individuais, sem interrupções ou barulhos 
que pudessem prejudicar o andamento das mesmas. Em média, cada entrevista 
teve a duração de dez (10) minutos.
Aplicou-se uma entrevista semi-estruturada na modalidade focalizada, que 
segundo Lakatos (2010, p. 279), “(...) há um roteiro de tópicos relativos ao problema 
a ser estudado, e o entrevistador tem liberdade para desenvolver cada situação em 
qualquer direção que considere adequada.” 
As questões que nortearam as entrevistas foram: Avaliação e contribuição do 
Projeto de Orientação Vocacional/Profissional “Ampliando Horizontes”, vestibular, 
escolha profissional e a experiência em participar do projeto com outros 
adolescentes. As entrevistas foram transcritas para análise dos resultados.
44
5. 3 ANÁLISE DOS DADOS
Segundo Lüdke e André (1986, p. 45), “(...) analisar os dados qualitativos 
significa ‘trabalhar’ todo o material obtido durante a pesquisa, ou seja, as análises de 
documentos, as transcrições de entrevistas e as demais informações disponíveis”.
 Os dados obtidos com a análise dos documentos serviram para 
caracterização dos sujeitos, os mesmos foram sistematizados em uma categoria 
descritiva que abrange idade, sexo e escolaridade. 
As entrevistas foram transcritas e submetidas a uma leitura rigorosa. Em 
seguida, elaborou-se cinco categorias descritivas (caracterização dos sujeitos da 
pesquisa, vestibular, escolha profissional, análise e contribuição do projeto 
Vocacional/Profissional “Ampliando Horizontes” e experiência com o grupo de 
adolescentes). Alocaram-se nelas dados retirados das falas dos sujeitos. 
Utilizou-se também as narrativas dos orientandos, com o intuito de se 
compreender os sentidos e os significados envolvidos com relação à escolha 
profissional.
 Para isso utilizou a metodologia de análise de conteúdo.
A análise do conteúdo é um conjunto de técnicas de análise das 
comunicações visando obter por procedimentos sistemáticos e objetivos de 
descrição o conteúdo das mensagens indicadores (quantitativos ou não) 
que permitam a inferência de conhecimentos relativos às condições de 
produção/recepção (variáveis inferidas) dessas mensagens (BARDIN, 2011 
p.48).
A unidade de análise foi a de contexto, isto é, procurou-se avaliar os dados de 
forma não fragmentada buscando inferir os valores, os sentimentos, as intenções e a 
ideologia das fontes ou dos autores dos documentos (LÜDKE e ANDRÉ, 1986).
45
6 ANÁLISE E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS 
Para uma melhor compreensão da análise dos dados, optou-se por dividir os 
resultados em cinco (05) categorias (caracterização dos sujeitos da pesquisa, 
vestibular, escolha profissional, avaliação e contribuição do projeto de Orientação 
Vocacional/Profissional “Ampliando Horizontes” e experiência com o grupo de 
adolescentes). 
Os dados apresentados foram extraídos da análise documental e das 
entrevistas realizadas com os orientandos. 
6.1 CATEGORIA 1 – CARACTERIZAÇÃO DOS SUJEITOS DA PESQUISA
A primeira categoria avaliada recebe a denominação de caracterização dos 
orientandos, nesta será apresentada e discutida dados gerais (inscritos no projeto) e 
dados específicos (público alvo da pesquisa).
 A primeira turma do projeto no ano de 2008 era constituída por vinte e quatro 
(24) participantes, sendo que sete (07) destes são do sexo masculino e dezessete 
(17) do sexo feminino, com idades variando entre 14 a 19 anos (TABELA 1 e 
TABELA 1.1).
46
Orientandos Sexo Idade Instituição 
de ensino
Escolaridade Participou 
da 
Pesquisa
Participante 01 F 14 Particular Primeiro Não
Participante 02 F 14 Pública Primeiro Não
Participante 03 F 15 Particular Terceiro Não
Participante 04 M 15 Particular Segundo Sim
Participante 05 M 16 Particular Terceiro Não
Participante 06 F 16 Pública Terceiro Não
Participante 07 F 16 Pública Segundo Não
Participante 08 F 16 Pública Terceiro Não
Participante 09 M 16 Pública Segundo Sim
Participante 10 F 16 Pública Segundo Não
Participante 11 F 16 Particular Terceiro Não
Tabela 1: Caracterização dos participantes do projeto da turma de 2008
Orientandos Sexo Idade Instituição 
de ensino
Escolaridade 
Ensino 
Médio
Participou 
da 
Pesquisa
Participante 12 F 17 Pública Terceiro Sim
Participante 13 F 17 Pública Terceiro Não
Participante 14 F 17 Pública Terceiro Sim
Participante 15 F 17 Pública Terceiro Não
Participante 16 M 17 Particular Terceiro Sim
Participante 17 F 17 Pública Terceiro Não
Participante 18 F 17 Pública Terceiro Não
Participante 19 M 17 Pública Terceiro Não
Participante 20 M 18 Público Concluiu Não
Participante 21 F 18 Pública Terceiro Não
Participante 22 M 18 Pública Terceiro Não
Participante 23 F 18 Pública Terceiro Não
Participante 24 F 19 Particular Concluiu Não
Tabela 1. 1: Caracterização dos participantes do projeto da turma de 2008.
Os dados permitem concluir que os adolescentes que mais procuraram o 
Projeto de Orientação Vocacional/Profissional são do gênero feminino. As 
transformações ocorridas nas relações de gênero nos últimos tempos foram 
bastante significativas no universo feminino, no qual a mulher deixou de trabalhar 
exclusivamente no âmbito doméstico-familiar, e assumiu várias funções muitas 
destas consideradas predominantemente masculinas. A partir desta nova realidade é 
47
imposto à mulher uma melhor qualificação e isto contribui para seu ingresso nas 
universidades e, posteriormente no mercado de trabalho. 
Sobre as séries que cursavam, dois (02) orientandos estavam no primeiro ano 
do ensino médio, quatro (04) no segundo ano, dezesseis (16) no terceiro ano e dois 
(02) já haviam concluído o ensino médio. Referente à instituição de ensino na qual 
cursa o ensino médio: dezessete (17) sujeitos estão divididos em sete (07) escolas 
públicas; e sete (07) sujeitos estão divididos em quatro (04) escolas privadas. 
Os dados acima ilustram a prevalência da procura por adolescentes cursando 
o terceiro ano do ensino médio. As pesquisas na área confirmam que há maior 
interesse nestas atividades no período próximo ao vestibular, no qual são feitas as 
exigências sociais da escolha de uma profissão de forma mais explícita. As 
pesquisas ainda afirmam que a procura do projeto por adolescentes que estão 
iniciando o ensino médio, dá-se pelo fato dos mesmos iniciarem o Processo Seletivo 
Seriado (PSS) já no primeiro ano do ensino médio. 
De acordo com inúmeros estudos, os adolescentes cheios de dúvidas, 
angústias e insegurança, buscam apoio, a principio, como um direcionamento para 
sua decisão e cabe ao processo de orientação desmistificar essaidéia de 
diagnóstico, e clarificar que a proposta é possibilitar ao sujeito a ampliação do 
autoconceito, na medida em que, perceba que a escolha é sua, e esta deve ser 
tomada de forma autônoma e consciente. Neste sentido, Levenfus e Soares (2010) 
pontuam que a Orientação Profissional atua como um suporte para os indivíduos em 
diversos momentos de crise, como por exemplo, a escolha profissional.
Foram convidados a participarem desta amostra cinco (05) orientandos o que 
corresponde ao percentual de 20,8% da turma de 2008. Destes, 60% são do sexo 
masculino e 40% do sexo feminino, com idade, no ano de 2011, variando de dezoito 
(18) a vinte (20) anos (TABELA 2).
48
Orientando 
Pseudônimo
Sex
o
Idade
2008
Idade
2011
Escolaridade
2008
Curso
Universitário
Semestre 
atual
Pedro - P M 15 18 Segundo Ano Biologia Terceiro
Maria - Ma F 17 20 Terceiro Ano Ciências 
Econômicas
Quarto
Aparecida – A F 17 20 Terceiro Ano Direito Primeiro
José – J M 15 18 Primeiro Ano Administração 
de Empresas
Segundo
Mateus - Mt M 17 20 Terceiro Ano Relações 
Internacionais
Sexto
TABELA 2 - Caracterização dos sujeitos da pesquisa
Com relação à área de conhecimento, nesta amostra 40% optou pela área de 
humanas, 40% na área de exatas e 20% na área de saúde, conforme critério 
adotado pela Universidade Federal de Roraima – UFRR. Este critério refere-se à 
distribuição dos cursos por centros (TABELA 3). 
Outro ponto que merece destaque é com relação às áreas de atuação 
escolhida pelos orientandos. As profissões das áreas de humanas e exatas tiveram 
uma expressão mais significativa. Visto que na cidade de Boa Vista, as 
oportunidades de emprego estão mais voltadas para o concurso público.
Neves (1993 apud Levenfus e Soares, 2010) considera o mercado de trabalho 
como um importante item a ser considerado na escolha, desde que não apareça 
como fenômeno imutável, isolado e cristalizado, ou seja, é importante que o 
adolescente compreenda o mercado de trabalho dentro de uma conjuntura em que 
vive e em uma perspectiva dinâmica. 
49
Orientandos Curso Universitário Área de Conhecimento
José Administração Exatas
Pedro Biologia Saúde
Aparecida Direito Humanas
Mateus Relações Internacionais Humanas
Maria Economia Exatas
TABELA 3: Área de Conhecimento.
6.2 CATEGORIA 2 – VESTIBULAR
A segunda categoria que foi definida como o vestibular denota que 100% 
prestaram o concurso do vestibular e foram aprovados. Destes 60% prestaram o 
concurso uma vez e 40% prestaram o concurso mais de uma vez (TABELA 4). 
Orientandos Prestou 
concurso
Prestou concurso 
somente uma vez
Prestou 
concurso mais 
de uma vez
Pedro X X
Maria X X
Aparecida X X
José X X
Mateus X X
TABELA 4: Vestibular.
Os sujeitos José, Pedro e Mateus, prestaram o vestibular somente uma vez, 
para os seguintes cursos, respectivamente: Administração, Biologia e Relações 
Internacionais. Maria prestou para administração e ciências econômicas e Aparecida 
para Antropologia, Biologia, Enfermagem, Medicina e Direito.
50
Orientandos Cursos escolhidos no concurso do vestibular
José Administração
Pedro Biologia
Aparecida Antropologia, Biologia, Direito, Enfermagem e 
Medicina
Mateus Relações Internacionais
Maria Administração e Ciências Econômicas
Tabela 5: Cursos
O vestibular é considerado um ritual de passagem da adolescência que 
culmina no ingresso em uma universidade. Configura-se como um momento em que 
o adolescente precisa consolidar sua escolha, embora isso não significa dizer que 
essa escolha é definitiva, ao contrário, ela pode e deve ser refeita, este é o caso de 
um dos orientandos que prestaram o concurso do vestibular para vários cursos, 
abaixo segue o seu depoimento:
 “Medicina, Direito, Enfermagem, Antropologia, Biologia. Passei para 
Antropologia, Direito e Enfermagem, e cursei Enfermagem e Direito. Enfermagem eu 
cursei um semestre e desisti, atualmente faço Direito” (A, 20 anos). 
A adolescente prestou o concurso para várias áreas, chegou a cursar um 
semestre de um curso e não se identificou, trancou, escolheu uma nova área e se 
identificou. Soares (2002) acredita que uma escolha profissional única e definitiva 
não existe, o que existe é uma escolha possível dentro de um leque de alternativas e 
contingências:
 “fiz a primeira vez para administração de empresas e aí não consegui 
passar, e fiz pela segunda vez para ciências econômicas” (Ma, 20 anos). 
A questão da concorrência e de tentativas fracassadas de aprovação assolam 
os adolescentes, chegando a cursar áreas afins, menos concorridas, na tentativa de 
uma aprovação. Levenfus e Soares (2010) afirmam que o adolescente, enquanto 
permanecer no vestíbulo estaria sem identidade vocacional. 
51
Mudar de opção quando não se está satisfeito com a escolha, para Franco 
(2001 apud Oliveira, 2006), configura-se como uma atitude positiva, o sujeito tornar-
se autônomo, adulto e humano.
6.3 CATEGORIA 3 – ESCOLHA PROFISSIONAL 
A categoria escolha profissional aborda a descrição dos sujeitos com relação 
à escolha profissional. Perguntamos aos orientandos se os mesmos estavam 
satisfeitos com sua escolha profissional, os resultados apontaram que: 60% dos 
orientandos estão satisfeitos com a escolha, 20% dos orientandos estão insatisfeitos 
e 20% dos orientandos não estão totalmente satisfeito (TABELA 6).
Orientandos Satisfeito Não Totalmente 
Satisfeito 
Insatisfeito
José X
Pedro X
Aparecida X
Maria X
Mateus X
Tabela 6: Escolha Profissional.
Dos 60% dos orientandos que estão satisfeitos com a escolha profissional, 
20% já mudaram de curso. Dos 20% que estão insatisfeitos e dos 20% que não 
estão totalmente satisfeitos, todos pretendem mudar de curso ou fazer outro curso 
depois de concluído o que estão cursando (TABELA 7). 
52
Orientandos Mudar de 
curso
Fazer outro 
curso
Mudaram de curso
José X X
Pedro X
Aparecida X
Tabela 7: Mudanças na Escolha Profissional.
Ao escolher, e, sobretudo, ao escolher uma profissão, o sujeito abre mão de 
outras possibilidades. Refletindo sobre este impasse, pode-se dizer que minimizar 
as dúvidas nesta fase, possibilita reduzir angústias, temores e medos.
De acordo com os teóricos da OP, para os adolescentes, decidir sobre uma 
profissão, configura-se como a primeira escolha importante com grande repercussão 
para a vida, além de ser uma tarefa cobrada pela nossa sociedade. 
Um autoconceito definido consiste num dos aspectos fundamentais para uma 
escolha assertiva. Ao analisar os resultados podemos inferir que os orientandos 
obtiveram êxito, na medida em que o projeto buscou levá-los a uma reflexão sobre 
si, objetivando levá-los a identificar suas habilidades, competências, valores, 
limitações, interesses, possibilidades entre tantas outras características. Sobre a 
possibilidade de uma escolha assertiva, Mateus ressalta que: 
“Muitíssimo, eu me apaixonei logo de cara” (20 anos). 
A partir do autoconhecimento, Neiva (2007) acredita que o adolescente pode 
formular aspirações, profissões realistas e compatíveis com suas características 
pessoais. Corroborando com o ponto de vista da abordagem sócio-histórica, entendo 
que o sujeito constrói suas escolhas a partir do que vive: 
“Agora sim que estou no direito, apesar de não ter testado medicina, mas 
agora eu pretendo seguir carreira no direito mesmo” (A, 20 anos). 
Soares (2009) enfatiza que há uma média de 25% a 30% de jovens 
universitários fazendo um novo vestibular, na busca de uma resposta para os seus 
problemas. Para a autora, a origem está na escolha profissional. 
53
Segundo Bohoslavsky (2007), a carreira universitária faz parte de uma etapa 
que denominou de exploração, em que são perfeitamente esperadas reedições de 
crises vocacionais, ocorridas durante o processo de escolha profissional. Para o 
autor, o termo exploração sugerea idéia de alguém que penetra num lugar 
desconhecido, o que ocorre com o adolescente ao vivenciar esta nova etapa de sua 
vida, que representa o momento da escolha da profissão.
O fato é que escolher é um processo difícil, que requer uma decisão frente às 
inúmeras profissões oferecidas pelo mercado de trabalho, e muitas vezes lhe causa 
confusão e conflitos que precisam ser elaborados. Como é o caso das escolhas 
equivocadas, que têm sido responsáveis pelos desejos de mudança de curso, como 
expressa o orientando abaixo: 
“Bom, não, não tou satisfeito. Porque a gente começa a fazer o curso e, eu 
não sei, talvez eu esteja errado, mas, é, aqui em Roraima eu acho que não tem 
mercado para área de Biologia, mas para a área de professor mesmo, já que a 
economia de Boa Vista é mais voltada para concurso público, e eu faço na área de 
bacharelado, então, o Brasil não está muito preparado para pesquisadores, e aqui 
em Boa Vista eu acho meio difícil o campo de biologia bacharelado, já que tem 
poucas vagas para trabalhar, talvez, se, se eu sair de Boa Vista para outro estado, 
eu acho mais fácil, mas com o término do curso eu vou, tou vendo o que e vou 
fazer” (Pedro, 18 anos). 
Pode-se deduzir que a insatisfação refere-se ao mercado de trabalho em Boa 
Vista - RR, e não necessariamente a não identificação com a profissão. As 
informações concernentes às profissões precisam ser bastante claras na hora de 
escolher, devendo haver espaço para a pesquisa e o que é conhecimento da 
profissão, suas áreas de atuação, o mercado de trabalho, questão salarial, entre 
outros, pois de acordo com Bohoslasvsky (1998, p. 56),
54
quem escolhe não está escolhendo somente a carreira. Está escolhendo 
“com o que” trabalhar, está definindo “para que” fazê-lo, está pensando num 
sentido para sua vida, está escolhendo um “como”, delimitando um “quando” 
e “onde”, isto é, está escolhendo o inserir-se numa área específica da 
realidade ocupacional. 
Para Levenfus (2004 apud Oliveira, 2006) grande parte das decisões 
profissionais inadequadas estão relacionadas a desinformação e a falta de 
conhecimento sobre a profissão e sobre si mesmo, insistindo que a melhor escolha 
profissional será aquela ocorrida nos momentos em que o adolescente seja capaz 
de lidar com as ambiguidades inerentes a própria vida.
No entanto, a experiência de uma escolha profissional equivocada não só 
significa a vivência de momentos conflitivos, mas um incentivo para um repensar 
acerca das novas possibilidades de escolha, embora isso requeira certo 
amadurecimento, como é o caso do orientando abaixo:
 “Não totalmente, é assim é, eu entrei em administração né, passei no 
vestibular de primeira, mas é, lá dentro eu descobri uma disciplina de direito, e 
acabei gostando dessa disciplina, eu pretendo ou mudar de curso, ou terminar 
administração mesmo, aí depois entrar em direito, fazer direito” (J, 18 anos).
Gimenez (2009) compreende que a escolha profissional, na atualidade, não é 
uma decisão única, tomada para a vida toda, e sim, um processo passível de 
mudança. 
Quando os orientandos afirmam que não estão satisfeitos com a escolha 
profissional, percebe-se que os mesmos já demonstram certo entendimento do que 
seja o fenômeno da escolha profissional. Os dados, entretanto, permitem que se 
faça a uma compreensão positiva acerca da escolha profissional pelos orientandos, 
pois mesmos os que não estão satisfeitos com a escolha, já conseguem identificar 
novos rumos para uma reescolha profissional.
55
6.4 CATEGORIA 4 – AVALIAÇÃO/CONTRIBUIÇÃO DO PROJETO 
A categoria avaliação/contribuição do projeto descreve como os orientandos 
avaliaram as contribuições do projeto com relação à sua escolha profissional. Os 
dados levantados assinalam que 100% dos orientandos fizeram uma avaliação 
considerada positiva (TABELA 8). 
Orientandos Sentimento Positivo
Pedro X
Maria X
Aparecida X
José X
Mateus X
Tabela 8: Avaliação do Projeto.
No tocante, às contribuições do projeto para definição da escolha profissional, 
as mais citadas pelos orientandos foram: definição da profissão, autoconhecimento e 
conhecimento das profissões (TABELA 9). 
Orientandos Definição da 
escolha 
profissional
Autoconhecimento Esclarecimento das 
Profissões
Pedro X
Maria X X
Aparecida X
José X X
Mateus X
Tabela 9: Contribuições do Projeto.
Os resultados analisados mostram que os orientandos, em sua totalidade, 
fizeram uma avaliação positiva do projeto. Este por sua vez, não tem como objetivo 
56
encaixar ou direcionar seus orientandos para uma profissão, ao contrário, o projeto 
procura impulsionar os orientandos em direção a uma melhor compreensão de si e 
de suas escolhas, pois a escolha da profissão é algo que lhe pertence, apesar das 
pressões externas, por isso o cuidado de devolver-lhe a capacidade ativa de tomar 
decisões autônomas, o depoimento retrata esta questão: 
“Bom, o resultado não teve muito, muita importância né, mas é tanto as 
pesquisas que nos fizemos os testes quanto às visitas dos profissionais, professores 
dos cursos, para mim, foram decisivas, porque eu tava realmente em dúvida entre 
vários cursos, entre várias áreas diferentes, de biologia a relações internacionais né, 
então com a visita dos professores eu pude perceber melhor o que cada curso faria, 
o que eu faria em cada curso e escolher qual o meu curso, o quer que eu seguiria na 
universidade” (Mt, 20 anos). 
Quando se referiu ao resultado, o orientando está falando dos testes 
psicológicos, é justamente esse o papel do projeto, fazer com que o adolescente se 
desprenda de resultados objetivos, que de certa forma dão um direcionamento, e 
levá-los a decisões reflexivas a partir de suas determinações psíquicas e de seu 
ambiente social.
Müller (1988) explica que Orientação Vocacional não se trata de estudo 
psicológico do qual necessariamente saem resultados, tampouco um conselho no 
sentido de direcionar a vida do orientando, ao contrário, trata-se de um processo, 
uma trajetória, uma evolução mediante a qual os orientandos têm a oportunidade de 
refletir sobre sua problemática ao mesmo tempo em que procuram construir 
caminhos para a sua superação, a sim se expressa a orientanda:
 “Foi gratificante sim, porque ele dá um, norteia né, no caso a gente acaba no, 
nós nos conhecemos melhor, e assim e tal, as atividades que eram feitas lá, fazia, 
aguçava nossa, assim o nosso próprio eu né, é tinha vezes que a atividades não 
tinha nada haver, mas quando o professor, a psicóloga ia explicar, a gente via que 
tinha uma finalidade específica, que no caso assim, era conhecer as nossas 
habilidades principalmente né, é isso” (A, 20 anos).
57
Quando a orientanda se referiu as atividades, são as dinâmicas de grupo, a 
partir delas torna-se possível discutir e refletir sobre diversos referenciais e valores 
que implicam na formação do seu autoconceito. 
As palestras com os profissionais também tiveram uma avaliação positiva, na 
medida em que, possibilitou os orientandos obterem informações dos cursos 
universitários oferecidos pelas instituições públicas e privadas em Boa Vista, como 
também, o esclarecimento sobre as profissões, como relata o orientando: 
“Ele, assim, a princípio ele tava me ajudando a escolher de fato a minha 
profissão, né. Que ia ser Zootecnia, eu achava que queria, mas aí depois eles 
levaram um profissional dessa área, foi quando eu comecei a ter conhecimento do 
que era essa profissão, daí eu vi que não era bem o que eu achava e eu acabei 
deixando de lado essa profissão, então passei a buscar outra profissão, que eu 
acabei descobrindo administração” (J, 18 anos). 
Pontua-se que as intervenções do projeto, dinâmicas de grupo e palestras 
com os profissionais,

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