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Aulas 1 - 8

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Unidade 1 – aula1
Ética no ocidente
Definição de ética
Do grego ethos, a palavra “ética” surgiu na Grécia antiga com a filosofia de Aristóteles (século IV a.C.). Ética significa conduta que envolve a ação racional, ou a ciência que estuda o comportamento dos indivíduos. Seu objetivo é promover a felicidade coletiva, a excelência humana ou o bem comum.
A ética exige o uso da racionalidade ou a presença de senso crítico e da reflexão, antes mesmo que qualquer ação seja tomada, pois sempre objetiva o que é melhor, ou a atitude mais equilibrada, para a coletividade. A ética está relacionada à reflexão e ao uso da razão, ou seja, é expressa pela capacidade de cada indivíduo de especular e mensurar os prós e contras de cada atitude diante dos outros. Leva em consideração, portanto, quais as melhores formas de agir, os procedimentos e as virtudes que são necessários para a realização do bem comum. É nesse sentido que devemos entender a ética como uma possível direção para o estabelecimento da felicidade coletiva. 
É comum a confusão entre as palavras “ética” e “moral”. Elas possuem significados diferentes e é necessário que compreendamos o que exatamente permite distinguir um comportamento ou valor moral dos princípios que permeiam o conceito de ética. “Moral” (em latim, moris) é uma palavra cuja origem está relacionada aos seguintes significados: Ética no Ocidente: costume, tradição ou hábitos. Diferentemente da ética, a moral não exige do indivíduo reflexões de teor mais filosófico, em que se analisamos prós e contras de uma ação ou um comportamento. A moral está, sim, carregada de juízos e justificativas fundamentadas em tradições e temporalidades históricas específicas de uma sociedade, sem com isso ter um caráter universal, uma vez que é composta essencialmente por normas e regras que muitas vezes não passam por análises ou questionamentos, pois são transmitidas de geração a geração. Cada indivíduo é introduzido nesse conjunto de costumes como se estes fossem normais ou como se sempre tivessem existido da mesma forma, com poucas variações, sem que isso implique em nenhum estranhamento ou questionamento sobre como esses padrões comportamentais, essas visões de mundo e esses valores foram adquiridos ou como e por quais motivos foram criados e devem ser seguidos. 
A moral sempre é modificada de tempos em tempos ou de sociedade para sociedade, constituindo um conjunto de valores que, embora particulares a um grupo, a uma sociedade ou a épocas específicas, é naturalizado por esses grupos.
O que vem a ser a moral? Um conjunto de valores e de regras de comportamento, um código de conduta que coletividades adotam, quer sejam uma nação, uma categoria social, uma comunidade religiosa ou uma organização. Enquanto a ética diz respeito à disciplina teórica, ao estudo sistemático, a moral corresponde às representações imaginárias que dizem aos agentes sociais o que se espera deles, quais comportamentos são bem-vindos e quais não.
A ética é representada por condutas de alcance universal ou coletivo, na medida em que procura produzir, por meio da reflexão e da razão, o bem e a felicidade coletiva, medindo os elementos favoráveis e desfavoráveis da conduta. A ética procura estabelecer condições de convivência entre grupos diversos e com morais distintas. Por isso, estuda a moral, ou seja, os hábitos e costumes humanos a fim de produzira melhor ação possível, considerando a presença de grupos e moralidades heterogêneas que devem se relacionar entre si a partir de condutas comuns para promover o bem coletivo. A moral é relativa, porque suas regras e normas muitas vezes são inconscientes aos que a praticam; podem valer para uma cultura ou sociedade, mas não necessariamente para outras. Além disso, pode se transformar ao longo da história sem que os indivíduos que a compartilham tenham percepção disso, levando à crença de que seus hábitos e costumes sempre foram os mesmos ou são os mais verdadeiros, quando na verdade estão em permanente modificação. A moral é expressa por meio de valores (ou juízos morais) que permitem que o indivíduo seja norteado pelas noções do que é justo ou injusto, certo ou errado, bom ou mau, virtuoso e/ou que promove vícios. 
A vida humana é formada sempre por ações morais e éticas. 
Cada ação ética deve pressupor impactos sobre diferentes grupos e comunidades humana se levar em consideração o comportamento moral desses grupos para que os resultados sejam os mais racionais possíveis e capazes de originar benefícios ou ganhos coletivos. 
Todos nós temos, certas vezes, um forte sentimento, vontade ou impulso diante de situações que nos fazem agir imediatamente. Isso acontece, por exemplo, quando vemos uma criança com fome ou vivendo de maneira precária e decidimos fornecer algum apoio. A isso chamamos de senso moral. 
O senso moral representa nossos gestos positivos ou negativos, percepções e expressões que legitimam ou criam oposições a determinadas ações que se manifestam diante de nossos olhos. Não há exigência de justificativa imediata quando se pratica o senso moral. Ele está relacionado à nossa formação moral, ou seja, a tradições e costumes que fornecem atitudes imediatas perante situações que nem sempre compreendemos totalmente ou que ocorrem de tal forma que passam a influenciar nossos gestos mais impulsivos.
No entanto, todos os nossos atos e posicionamentos, sejam eles contra ou a favor do que pensa a maioria das pessoas, exigem de nós uma justificativa. A essa justificativa damos o nome de consciência moral; são as explicações que são dadas para fundamentar o senso moral. A consciência moral é, portanto, a justificativa baseada na própria moral que permite dar sentido a todos os nossos atos e visões de mundo. 
Portanto, diante de um senso moral, temos emoções e sentimentos que são suscitados pelos acontecimentos com base em nossa crença nos padrões morais que adotamos e que nos orientam. Mas é a nossa consciência moral que nos leva a agir e a assumir a responsabilidade por nossos atos. 
Percurso histórico da ética no ocidente
A expressão “ética” varia conforme o período histórico e a escola de pensamento.
Grécia - Sócrates
A preocupação que surge na filosofia da Grécia antiga, sobretudo com Sócrates, é a de como devemos viver nossa vida de forma justa e em sociedade. Como promover o bem comum? Como estabelecer o que é verdadeiro e o que é falso para a conduta humana? 
A filosofia antiga tem como preocupação o conhecimento das virtudes dos indivíduos, de seu espírito e de sua capacidade para conhecer a verdade. Sócrates debatia a igualdade de todos os homens e mulheres perante as leis, a importância e os problemas do direito de todos os cidadãos de participarem diretamente do governo da cidade ateniense, por meio de um modelo que permitisse o acesso de todos à política. Nasciam, dessa forma, os questionamentos éticos. Esse período se destacou por ter sido o primeiro na história da cultura ocidental em que houve preocupações com questões morais e políticas. Baseou-se na confiança no pensamento ou no homem como ser racional, capaz de conhecer-se a si mesmo e, portanto, capaz de produzir reflexões e decidir o destino, a felicidade e o bem da sociedade. Para tanto, tornou-se necessário pensar sobre padrões de educação e formação do bom cidadão, capaz de agir em público e convencer aos outros nos debates políticos.
Idade média – Agostinho e Aquino
Na Idade Média, os debates éticos estiveram nas mãos dos teólogos da Igreja católica, que procuravam relacionar a conduta humana com os textos bíblicos, considerando a salvação da alma. Destacam-se: 
· Santo Agostinho (354-430 d.C.): O primeiro foi pioneiro na compreensão da liberdade humana e da capacidade do homem de produzir de maneira autônoma escolhas e responsabilidades, isto é, de exercer o livre-arbítrio. Compreendendo racionalmente que as ações virtuosas e o cultivo da fé conduziriam à salvação da alma após a morte e que o pecado, com o cultivo dos vícios carnais, conduziria ao distanciamento de Deus, Agostinho traça a relação entrea ética e a fé. 
· São Tomás de Aquino (1255-1274 d.C.): elabora tratados morais em que busca estabelecer quais virtudes (entre elas a temperança e a fé) devem acompanhar o comportamento humano a fim de aperfeiçoá-lo e guiá-lo em direção a Deus. 
Idade moderna - Maquiavel
Com o surgimento do pensamento moderno, por volta dos séculos XVI e XVII, as preocupações éticas passaram a ser outras, sobretudo com a figura de Maquiavel (1469-1527), na obra O príncipe. Enquanto os pensadores gregos da Antiguidade procuravam pelas virtudes e um estilo de ética em que todos encontrariam a felicidade por meio da razão, o pensamento moderno, a partir de Maquiavel, passa a observar o ser humano como naturalmente dotado de avareza, individualismo e nenhum verdadeiro interesse pelo bem comum, de modo que na primeira oportunidade trai seu semelhante. 
O filósofo julga que, para manter o poder, o príncipe (expressão que se refere a qualquer governante) tudo pode e deve fazer, mesmo matar, mentir, agir com hipocrisia, demitir e distorcer informações; ele deve ser amado pelo povo e temido pelos inimigos; tornar velhos inimigos novos amigos e vice-versa; usar a força quando julgar necessário ou enveredar pelo caminho da paz; tudo conforme as necessidades e circunstâncias.
Na realidade, ser maquiavélico significa ser calculista, saber medir racionalmente os prós e contras de uma ação; diz respeito à capacidade de o príncipe perceber os jogos de forças políticas e se antecipar aos inimigos. Maquiavel afirma que só é possível um príncipe se sustentar no poder caso tenha como objetivo realizar tudo que lhe for possível para manter o seu domínio, zelando pelo apoio e felicidade dos súditos, pois sem esse apoio popular qualquer governo pode ser sabotado e até derrubado. Isso significa que todo príncipe deve agir visando dois fins: garantir a perpetuação de seu poder político e o bem-estar dos súditos. A promoção do bem comum seria então apenas aparente, pois o verdadeiro interesse seria manter o poder político. A ética maquiavélica revela-se como uma forma de governo na qual o príncipe deve estar sempre alerta e aparentar fazer o bem, mesmo quando suas ações possam ser consideradas moralmente reprováveis.
Fica evidente que a ética maquiavélica está direcionada aos fins (manter o poder e garantir o apoio popular), independentemente dos meios empregados. A partir de Maquiavel, nos referimos a toda ação ética que visa aos fins com a palavra "teleologia" (do grego telos, fim, finalidade, objetivo; e logos, discurso, razão ou racionalidade). Teleologia designa o estudo dos fins ou das finalidades. Trata-se, portanto, de um modelo ético no qual os fins, os resultados ou as consequências são sempre medidos e calculados pelo indivíduo.
Capitalismo – Adam Smith
O desenvolvimento do capitalismo e da sociedade burguesa a partir dos séculos XVIII e XIX produziu modificações a respeito do que vem a ser a ética, vinculando-a com uma nova noção de trabalho. Adam Smith(1723-1790) é considerado o precursor da ética voltada ao trabalho e à economia. A palavra "economia", até antes do surgimento do capitalismo, estava restrita à administração privada do lar (envolvendo a família, a produção de alimentos e os escravos ou servos). Foi a partir da teoria econômica de Adam Smith que a noção de economia foi posta de ponta-cabeça, tornando-se um assunto público e, portanto, uma ética.
Até o século XVII não existia vínculo algum entre a noção de economia e comércio, uma vez que se entendia por economia apenas o cuidado com a vida privada. A grande inovação do homem moderno, ou melhor, do burguês ou do comerciante, foi a conquista do poder político. Se em outros períodos da história ocidental os comerciantes estiveram ligeira ou drasticamente afastados das decisões políticas, as revoluções burguesas(1688 – Revolução Gloriosa, na Inglaterra; e 1789 – Revolução Francesa) foram responsáveis por alocarem definitivamente os comerciantes no poder dos Estados e de toda a burocracia oficial. Obviamente, o trabalho, antes visto como função não nobre, foi dignificado. A economia, antes uma noção privada, passou a ser assunto coletivo e público. A economia enquanto uma questão pública e o trabalho racional, amplamente difundido hoje como mãe de todas as relações sociais, são invenções humanas recentes e se constituíram como porta-vozes da ética burguesa, a qual fundamenta a ética empresarial e enaltece o negócio, termo cuja etimologia em latim significa negar o ócio (negotium). 
Para Smith, o mercado deveria funcionar segundo princípios éticos individualistas, o que ele designou de “mão invisível”. Esse conceito se fundamenta em interesses econômicos privados ou individuais, competitividade e uma sociedade guiada pela livre iniciativa, concorrência e lei da oferta e da procura.
Smith cria a percepção de que a economia é uma esfera ética, na medida em que o mercado, aparentemente caótico, é, na realidade, organizado e produz as espécies e quantidades dos bens mais desejados pela população. Quanto mais egoísta e competitivo for um indivíduo e quanto mais obtiver riquezas através de seu trabalho, indiretamente mais contribuirá com o progresso de outros indivíduos competitivos, por meio da compra de outros serviços ou mercadorias, de modo a gerar o progresso coletivo. Surge uma modalidade de ética que tem, como fim último, o progresso social a partir do individualismo exacerbado. Outra interpretação sobre a ética presente nas relações mercantis modernas está na obra A ética protestante e o espírito do capitalismo, escrita por Max Weber nos primeiros anos do século XX. O pensador procura compreender qual é a origem da racionalidade e da burocracia presentes no capitalismo.
Racionalidade e Burocracia – Weber
Seus estudos se concentram na origem da racionalidade moderna, a qual se desdobra não apenas no capitalismo, mas também na burocracia e, portanto, em um maior controle sobre as relações sociais. Isso faz de Weber um dos precursores da teoria geral da administração e da sociologia. 
A Reforma Protestante (iniciada entre os séculos XVI e XVII), segundo Weber, deu origem à ascese, entendida como a busca constante do domínio e controle do próprio corpo, disciplina rígida diante das paixões, visando finalmente ao controle da natureza por meio da ação metódica, racional e calculada. Diferentemente do catolicismo medieval (que nega o trabalho, o juro e o lucro como fontes de riquezas), a conduta de vida protestante, sobretudo a calvinista, desenvolveu uma ética que prevê a racionalização da atividade mundana e, portanto, que se realiza através do trabalho rígido e do negócio (negação do ócio) enquanto formas de demonstração de que se é um escolhido por Deus, ou seja, um predestinado à salvação. 
O que está em jogo é a relação entre a prosperidade econômica, a ética protestante e a origem da racionalidade presente no capitalismo. Weber designou esse estilo de vida como ética do trabalho, que possivelmente criou a crença de que o “trabalho dignifica o homem” ou o “enobrece”. A principal característica da ética do trabalho é o controle e a racionalização sobre todos os processos da vida e do trabalho.
O ponto central da análise que Weber realiza sobre a ética do trabalho é o de que indiretamente, ou seja, sem exatamente saber, os protestantes inventaram as práticas racionalizadoras que foram incorporadas pelo capitalismo. Certamente, indivíduos de outras religiões e até mesmo ateus teriam percebido o rápido progresso econômico dos fiéis puritanos e começaram a imitar a ética do trabalho.
Pode-se dizer que as práticas econômicas que vieram depois adotaram essa ética do trabalho, mas o vínculo entre a religiosidade e a racionalidade evaporou. 
É interessante notar que a ética do trabalho e o individualismo proposto por Adam Smith contribuíram para consolidar a ética no cenário econômico capitalista. 
Revoluções - Kant
Na passagem do século XVIII ao XIX, surgiram novas reflexões éticas, voltadas a princípios morais que regulamentam o comportamento do bom cidadão e as boaspráticas de administração pública; racionalidade da ciência moderna, com métodos experimentais e matemáticos aplicados também na indústria. 
Diante da nova ordem política burguesa, fundamentada na igualdade jurídica e nas liberdades políticas, o poder dos reis absolutistas estava prestes a sucumbir.
Kant partirá da visão contempladora da razão moderna aplicada ao direito, à indústria e à ciência como fundamento para uma nova modalidade de ética, que se opõe à tradição maquiavélica, baseada na teleologia (nos fins).Kant concebe a deontologia (do grego deon, que significa obrigação ou dever moral) como uma ciência do dever, uma obrigação racional que deve ser realizada a todo custo, sem que as consequências sejam medidas, afinal de contas estabelece que tudo o que surge ou emana da razão é necessariamente benéfico à humanidade, não devendo haver suspeitas ou inquietações em relação à própria racionalidade. 
Kant compreendeu que não seria necessário medir as consequências da ética baseada na deontologia, pois importam os meios racionais, ou mesmo os meios passam a se confundir com os fins, tendo em vista que a razão sempre conduziria o homem ao bem e à verdade, não podendo ser questionada jamais.
Foi por meio da deontologia que Kant estabeleceu o imperativo categórico e a máxima muito conhecida que sintetiza sua nova ética: “Age como se a máxima de tua ação devesse tornar-se, através da tua vontade, uma lei universal” (KANT, 2009, p. 245). Isso significa tornar a ação inquestionável e universal, ou seja, difundir e aplicar toda ação racional, sendo sua validade aplicável em qualquer lugar ou tempo, o que revela a visão profundamente otimista de Kant diante da razão.
Liberdade, igualdade e responsabilidade como questões da ética
Kant
Rousseau na França e Locke, pai do liberalismo político na Inglaterra, muito apreciados por Kant no século seguinte, afirmavam que a igualdade e liberdade são naturais, devendo ser estes elementos fundamentais na vida política e na organização do Estado. A ética burguesa prezava agora pelas liberdades individuais que, conforme veremos no próximo capítulo, influenciarão na composição dos Direitos Humanos no século XX. Todos esses elementos oriundos da ética liberal e Iluminista inspiravam Kant na concepção de que a humanidade estava prestes a alcançar o que denominou como “paz perpétua” (nome também de um de seus livros publicado em 1795). A igualdade jurídica somada às liberdades de expressão e políticas seriam indícios de um verdadeiro império da razão e dela resultariam necessariamente benesses à humanidade.
Weber
No século XX, no entanto, diferentes pensadores se opuseram à deontologia de Kant, alertando para os riscos de ações irresponsáveis e inconsequentes quando há uma confiança exagerada ou cega diante da racionalidade. Max Weber produziu um ensaio em 1919 intitulado Política como Vocação (2004) em que estabelece a oposição entre os conceitos nomeados como ética da convicção (vinculada à deontologia) e ética da responsabilidade (vinculada à teleologia).
A Ética da convicção compreende um dever moral e racional que deve ser realizado a todo custo, sem que se leve em consideração as consequências desse ato. Weber remete à deontologia criada por Kant para definir esse conceito. Podemos tomar como exemplo dessa ética um indivíduo que exerce a profissão de médico e cria o valor moral e racional de jamais mentir. Caso o seu paciente em estado terminal lhe pergunte qual é a sua situação, certamente receberá a resposta mais desagradável possível, pois esse médico tem como dever moral não mentir. Weber considera que a ética da convicção é um tanto perigosa, na medida em que os fins ou resultados são coadjuvantes diante da confiança no exercício ético da razão. Suponhamos uma empresa que produz alimentos transgênicos e que queira obter lucros cada vez maiores, sem realizar estudos sobre os impactos de seus produtos sobre a saúde de seus consumidores. Nesse caso, como não mediu as consequências, é possível observar a ética da convicção, um indício de um ato irresponsável.
Ética da responsabilidade, como o seu próprio nome indica, é responsável porque mede as consequências, calcula e reflete sobre todos os resultados possíveis realizados a partir de uma ação. A ética da responsabilidade tem como principal característica valorizar os fins e não os meios. 
Por isso, Weber se inspira no padrão teleológico no interior da ética da responsabilidade. 
É importante perceber aqui como ambas as éticas, da convicção e responsabilidade, podem ter valores positivos ou negativos de acordo com pontos de vista distintos e justificados a partir de nossa consciência moral.
Hannah Arendt
A filósofa alemã Hannah Arendt (1906-1975) produziu outra importante crítica à ética kantiana por meio do conceito de banalidade do mal. 
A banalidade do mal é o fenômeno que se caracteriza pela renúncia da humanidade, negando a reflexão e produzindo a tendência em não assumir a iniciativa própria de seus atos, ou seja, ausência de responsabilidade sobre as consequências das ações. A banalidade do mal demonstra que muitas vezes o emprego da razão, ainda que pela via da obediência mais fiel às leis, pode se voltar contra a própria humanidade, afastando o indivíduo de sua conexão e responsabilidade com os outros humanos e tornando-o adepto de atitudes bárbaras e desumanas. 
Sartre
O filósofo francês Jean Paul Sartre (1905-1980), por sua vez, procurará definir o que podemos designar como ética existencialista. Sartre relaciona a conduta humana com as noções de liberdade e responsabilidade. A existência precede a essência. Isto significa dizer que não há nada de inato no ser humano, nem essência ou natureza humana, ou seja, ninguém nasce definido ou predestinado a ser e agir de alguma forma, muito menos ocupar uma posição social.
Sartre opõe-se à noção de natureza humana (vista como um elemento determinista e fatalista), pois limita a liberdade humana e condena os indivíduos a justificarem sua passividade perante a realidade que está sempre em movimento. Contra a noção de natureza humana, Sartre defende a concepção de condição humana, caracterizada por ser flexível, plástica e em permanente transformação, ou seja, o conceito é sinônimo ao mesmo tempo de liberdade e responsabilidade. A humanidade vive condenada à liberdade. Ser livre expressa a possibilidade de se fazer escolhas ou projetar a subjetividade no mundo. Porém a liberdade causa o que Sartre classifica como náusea ou angústia por dois motivos:
· Toda escolha (liberdade) implica no abandono ou anulação de todas as outras possibilidades de ação.
· Cada escolha (projeto) não irá se realizar no futuro tal como o planejado originalmente. Isto se deve porque “meu ser” se encontra numa relação de conflito com a realidade e com as infinitas subjetividades dos outros. Por isso, o filósofo considera que o inferno são os outros.
Portanto, angústia e náusea correspondem ao fenômeno da nadificação, segundo o qual o “meu ser” é resultado de todos os fracassos e escolhas que não se realizaram, ou mesmo desvios que minha liberdade operou sobre a realidade na qual estou inserido, transformando-a. Cada escolha, ou seja, cada liberdade exercida por um indivíduo está em relação de tensão com a realidade, pois nela estão presentes todas as demais subjetividades e formas de pensar diferentes do seu pensamento e em contradição com minhas escolhas. Ao perceber que somos livres e que a liberdade se exerce a partir da relação conflituosa (dialética) com todas as demais subjetividades, Sartre considera que cada ato ou escolha, cada passo de nossa liberdade tem ressonância universal, de forma que sempre somos responsáveis pelos outros. Nesse ponto Sartre demonstra que a responsabilidade perante o mundo é permanente – cada ato nosso está interligado com o universal.
Ser livre significa driblar as nadificações, resultando em consequências imprevisíveis e talvez superiores às que orginalmente foram concebidas pela própria subjetividade. Sartre considera que age de má-fé o sujeitoque afirma não escolher ou não ser livre. Para ele, a condição humana é ser livre ou fazer escolhas, ainda que essas escolhas signifiquem não escolher ou mesmo escolher a submissão. Cada escolha tem ressonância no mundo, tornando cada ato responsável pela ordem e desordem da realidade.
VÍDEO – CONTRATUALISMO, RELATIVISMO, FUNDAMENTALISMO, EDONISMO E UTILITARISMO
Conclusão
No segundo tópico percorremos um breve histórico em torno de diferentes concepções filosóficas de ética na cultura ocidental:
· Partindo das noções éticas dos pensadores gregos da Antiguidade, verificamos que a preocupação central girava em torno da possibilidade da construção de um bem coletivo estabelecido pela razão. 
· Com o surgimento do pensamento moderno, as perspectivas éticas se modificaram. 
· Maquiavel relaciona a ética com uma concepção negativa do comportamento humano, fundamentado nos jogos de interesses pessoais, avareza e permanentes conspirações e traições. Distante da busca da virtude, Maquiavel procurou estabelecer parâmetros para a compreensão de como um governo se mantém no poder, ainda que usando de estratégias moralmente reprováveis e dissimuladas. 
· Nos séculos seguintes, com a ascensão do pensamento político e econômico burguês promoveu-se a defesa das liberdades individuais e da ética do trabalho. 
· A confiança exacerbada na ciência e na razão moderna fizeram com que Kant desenvolvesse um tipo de ética designado como deontologia, criticada no século XX por diferentes pensadores.
No terceiro tópico analisamos algumas das críticas realizadas à deontologia kantiana. 
· Weber procurou opor a ética da responsabilidade à ética da convicção (deontologia) e 
· Hannah Arendt associou o conceito kantiano à banalidade do Mal.
· Sartre, por sua vez, relaciona o comportamento humano à liberdade e responsabilidade, demonstrando a relação de conflito entre as diferentes subjetividades dispersas na realidade e a forma como cada escolha ou liberdade individual promove influências ou possui consequências no funcionamento do universo, isto é, no comportamento dos demais e na vida coletiva.
Unidade 1 – aula 2
Direitos humanos
O que são os direitos humanos
Sua consolidação se deu em 1948, logo depois da Segunda Guerra Mundial (1939-1945).
Com a Declaração Universal dos Direitos Humanos da ONU, buscou fortalecer o entendimento sobre uma ordem jurídica internacional ou universal para a proteção das liberdades individuais e do direito à vida e à igualdade jurídica de qualquer sujeito. 
Os direitos humanos devem zelar de forma universal pela dignidade da pessoa humana. Isso significa dizer que todos os seres humanos, independentemente de sua origem cultural ou territorial, de seu gênero ou temporalidade histórica, são providos, desde o nascimento (e deforma inalienável), de direitos fundamentais que devem ser protegidos necessariamente pela ordem jurídica formal, seja ela no nível nacional ou internacional.
A proteção do ser humano contra todas as formas de dominação ou do poder arbitrário é da essência do Direito Internacional dos Direitos Humanos.
A formulação do conceito de dignidade humana tem sua origem no final do século XVIII, na filosofia de Kant. Segundo Kant, a dignidade está relacionada ao problema do que é um valor. Nesse caso, a dignidade não poderia ser negociada ou mesmo trocada por qualquer outra coisa. Essa concepção, baseada na moralidade kantiana e que inspirou o primeiro artigo da Declaração da ONU (Artigo 1o Todos os seres humanos nascem livres e iguais em dignidadee em direitos. Dotados de razão e de consciência, devem agiruns para com os outros em espírito de fraternidade), tem um valor em si mesmo e, portanto, diz respeito à autonomia do sujeito. Considera-se que esse sujeito é dotado de consciência, liberdade, e deve-se zelar pela igualdade jurídica, de modo que estes elementos compõem a dignidade humana.
A dignidade humana representa a capacidade e o direito de viver e pensar livremente e o dever de respeitar a liberdade alheia.
Os direitos humanos convencionais são ambições universalistas ocidentais e modernas, isto é, expressam a imposição hegemônica eurocêntrica ou mesmo da chamada epistemologia do Norte sobre países econômica e culturalmente dominados por essa cultura. São caracterizados pela difusão do que se entende como a universalidade da dignidade humana a partir de uma visão do Norte. Trata-se de um ponto de vista que julga ser universal, quando na verdade se revela particular, sem levar em consideração as concepções de dignidade de outras sociedades distribuídas no Sul do globo, sobretudo as nações mais pobres, em desenvolvimento e que são ainda exploradas pelas sociedades do Norte. Dessa forma, os direitos humanos convencionais professam alguns valores como se fossem universais, porém são princípios próprios de determinadas dinâmicas e especificidades históricas e culturais; além disso, as conquistas políticas do Norte não possuem contextos que necessariamente se repetiram ou se repetiriam da mesma forma em outras sociedades, sobretudo as marginalizadas pelo processo de dominação do Norte.
Os autores defendem, na realidade, a sua ampliação, levando em consideração as reivindicações de outras comunidades humanas que possuem seu próprio entendimento do que vem a ser a dignidade.
Os autores propõem pensar os direitos humanos a partir de uma perspectiva da ecologia de dignidades pós-abissais, por isso referem-se à superação de abismos entre diferentes culturas e às suas múltiplas formas de conhecimento do mundo e de interpretação da realidade. Essa concepção permite que se compreendam e se estabeleçam juridicamente as concepções de dignidade humana dos diversos povos do Sul a partir de seus contextos políticos, culturais e econômicos específicos.
A intenção dos autores parece ser pensar além da ideia dos direitos humanos universais, ou seja, procurar a pluriversalidade dos direitos humanos, considerando a heterogeneidade das comunidades humanas que habitam a Terra.
Norberto Bobbio e Hannah Arendt compartilham as críticas às contradições de se busca ruma concepção universal de direitos humanos. Concordam com o fato de que os direitos humanos não envolvem um conceito claramente delimitado, devendo ser compreendido por meio dos contextos históricos, políticos e culturais de cada época.
As concepções jusnaturalistas contribuíram para a construção do conceito de dignidade humana elaborado por Kant no final do século XVIII e que influenciou a Declaração da ONU no século XX. O jusnaturalismo está relacionado àqueles que designamos direitos naturais e ao contratualismo.
O ponto de partida da teoria jusnaturalista é a distinção entre direito e lei. A origem dos direitos é a natureza, por isso, falamos de direitos naturais. Direitos são elementos presentes e arraigados universalmente aos indivíduos, à sua natureza, a exemplo da liberdade, da igualdade, do desejo de segurança ou do direito à vida, ao pensamento. Os direitos estão presentes no estado de natureza, portanto, não têm origem na sociedade ou nas convenções humanas. Por serem naturais, não podem ser usurpados ou infringidos. As leis, segundo esta mesma perspectiva filosófica, dizem respeito às convenções artificiais, ou seja, são criadas pelos indivíduos com o intuito de produzir a sociabilidade, a segurança e a paz. As leis existem no estado civil ou sociedade civil, isto é, a partir da existência de um Estado que regulamenta a vida social humana. Portanto, o direito é natural; a lei é humana.
Direitos naturais (ou jusnaturalismo) têm origem na natureza, e não na sociedade, sendo anteriores a ela. Por serem anteriores e independentes do surgimento da sociedade, do Estado ou de qualquer organização social, são tidos como inalienáveis e irrevogáveis.
É importante destacar que o debate em torno dos direitos naturais foi promovido pela corrente da filosofia política denominada contratualismo.
O termo “contratualismo”, quando aplicado à filosofia política, indica que o Estado, a sociedade e as instituições não são naturais,mas convenções resultantes do engenho humano, isto é, são criados mediante o estabelecimento de contratos, acordos, pactos, legislações e convenções sociais, permitindo a passagem do estado de natureza para o estado civil.
O termo “direitos humanos” está diretamente amparada na prerrogativa jusnaturalista de que, por serem naturais, esses direitos são irrevogáveis ou invioláveis por qualquer decisão humana ou por qualquer governo.
Hobbes afirma que o direito natural que deve se manter permanentemente inviolável é o direito à vida e à segurança pessoal. Hobbes não incluía a liberdade como um direito natural a ser protegido no estado civil por considerá-la um ato deliberado de poder realizar qualquer coisa, como matar ou usurpar objetos de outros indivíduos. Hobbes afirma que o direito natural à liberdade deve ser limitado pelo Estado e, portanto, apenas o direito natural à vida e à segurança pessoal devem ser mantidos.
Locke e Rousseau defenderão como direitos naturais (e com otimismo) a liberdade e a igualdade, afirmando que esses direitos devem ser preservados no estado civil.
Para Rousseau, os indivíduos nascem livres, iguais e vivem felizes no estado de natureza. Ao refletir sobre o que retirou os seres humanos do estado de natureza em direção ao estado civil, visto por Rousseau como um processo de decadência, o filósofo dirá que foi a invenção da propriedade privada, inaugurando as desigualdades entre os indivíduos, entre ricos e pobres. No entanto, antes, e pensando de forma diferente de Rousseau, Locke considera a propriedade privada um direito natural, ao lado da igualdade e da liberdade. Se para Rousseau a propriedade privada é a origem da desigualdade, em Locke ela será um direito fundamental, anterior ao surgimento do Estado, das leis e da sociedade. Na visão de Locke, a propriedade privada deve ser mantida e protegida pelo Estado quando ocorre a passagem do estado de natureza para o estado civil. 
Locke é o pai do liberalismo político. Compreende que o direito natural à liberdade está presente na liberdade de expressão (política e religiosa) e na autoridade que cada indivíduo tem sobre seu corpo (propriedade privada). O liberalismo impõe limites à atuação do Estado contra as liberdades individuais e a propriedade por considerá-las direitos naturais. Dessa forma, constituem direitos invioláveis.
Spinoza (em Ética e tratado teológico-político) observa a existência de continuidade entre o estado de natureza e o estado civil. No estado de natureza predomina a noção de conatus, conceito que permite identificar que os indivíduos promovem naturalmente interações, encontros e conflitos baseados em relações de afetos, portanto, empatia e aversão. Por natureza, potencialmente os sujeitos são impelidos a viver segundo esses encontros. Deve-se perceber aqui que surge com Spinoza uma concepção na qual o conatus confunde-se com a democracia, sendo esta última um tipo específico de direito natural. Com o aumento do número de indivíduos interagindo entre si e formando-se cada vez mais as multidões (potentia multitudo – potência da multidão), exige-se a elaboração de um contrato que garanta a liberdade inerente ao conatus. Contratos ou pactos sociais (passagem para o estado civil) devem estabelecer regimes democráticos para estarem de acordo com a natureza. Portanto, a democracia equivaleria a um direito natural, e qualquer regime que não seja democrático será contrário a ele, ou seja, opressor ao direito natural.
Rousseau, por sua vez, na obra O contrato social, afirma como direitos naturais a liberdade e a igualdade. Eles somente seriam mantidos verdadeiramente no estado civil por meio do que designou como vontade geral. Rousseau dirá que o direito natural apenas se exerce no estado civil quando o povo está reunido em assembleia, de modo que este deve constituir o poder soberano. O corpo político soberano deve realizar as deliberações, assumir a forma de Estado, fazendo com que o povo cumpra o que ele mesmo estabeleceu. No século XVIII, e pela primeira vez na história do pensamento político, se estabelece a ideia deque um governo apenas é legítimo quando o povo exerce sua vontade geral, por isso, quando se torna ao mesmo tempo soberano e súdito, deforma que o Estado deve ser reflexo da vontade popular, permitindo que o povo ao mesmo tempo referende as leis e se submeta a elas.
As concepções de Spinoza e Rousseau se fazem presentes na Declaração Universal dos Direitos Humanos por meio do conceito de vontade do povo e também com a noção explicitada pela ONU segundo a qual os governos são e se tornam legítimos quando suas respectivas sociedades referendam a existência e a manutenção de seus governos e modelos políticos. 
Estes aspectos presentes nos pensadores contratualistas fundamentam o que hoje designamos como Estado democrático de direito, responsável pela preservação dos direitos fundamentais que garantem a dignidade humana. Além disso, a Declaração da ONU entende como direitos fundamentais o acesso à educação, saúde, moradia e informação. Todas as nações signatárias do documento se comprometeram a proteger os direitos humanos no âmbito nacional e internacional.
Afirmação histórica dos direitos humanos
O século XVIII, chamado de Século das Luzes devido ao movimento filosófico iluminista e à Revolução Francesa, pode ser considerado um momento crucial na história da humanidade, em que os direitos civis e políticos – baseados na concepção de direitos naturais – foram disseminados pela burguesia revolucionária, de forma que perante a lei todos os indivíduos teriam adquirido os mesmos direitos.
Após a Revolução Gloriosa(1688) na Inglaterra, a Revolução Americana (1776) e a Revolução Francesa(1789) foram responsáveis por instituir o que no período eram considerados os direitos fundamentais. Estas últimas incorporam os princípios contratualistas e liberais, formalizando os direitos naturais nas suas legislações. A independência norte-americana consolidou a Constituição(a Declaração de Direitos, de 1787), que entrou em vigor em 1791 e limitou o poder do governo federal, sendo o seu papel garantir e proteger direitos como igualdade jurídica, liberdades políticas, propriedade e proteção à privacidade de todos os seus cidadãos. Na França, a revolução deu origem à Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão, que definiu como universais os direitos individuais inspirados na geração de pensadores contratualistas.
No entanto, nesse período a igualdade jurídica não significou igualdade econômica ou social, muito menos direitos políticos universalmente distribuídos entre todos os indivíduos que habitam a Terra.
Apenas no século XIX as classes operárias reivindicaram direitos à participação política por meio de lutas armadas e revoltas, até que conseguiram formar seus partidos e sindicados, alcançando a eleição de seus representantes na esfera pública. Isso significa que a ampliação dos direitos políticos representou a possibilidade de os mais pobres, ao lado da classe trabalhadora, votarem e elegerem os seus representantes. Ainda assim, os direitos políticos não são sinônimo de igualdade social, pois no capitalismo as fábricas e os interesses da burguesia promoviam a exploração da força de trabalho e com ela uma série de desigualdades sociais. As lutas operárias por direitos políticos conduziram, no final do século XIX, às primeiras lutas feministas em nome do sufrágio universal e do direito à representação política.
No século XX foi possível verificar uma evolução mais nítida dos direitos. Houve a acumulação de direitos dos cidadãos: civis, políticos e agora sociais. Mas o que eles significam? Para Marshall, trata-se do direito à cidadania, ou seja, de acesso a escolas públicas de qualidade, saúde, lazer, emprego, previdência, saneamento básico, elementos que se somam à igualdade jurídica e liberdade política. Portanto, vivemos a partir do século XX (e é o que se espera do século XXI) a era da cidadania, das conquistas sociais que podem levar à distribuição de renda e à redução das desigualdades sociais.
Apóso holocausto e a perseguição aos judeus, ciganos, homossexuais e comunistas ocorrida durante a Segunda Guerra Mundial (encerrada no ano de 1945), as minorias sociais passaram gradualmente a adquirir direitos.
A generalizada perseguição às minorias promoveu a revisão e ampliação dos direitos. É o que vemos hoje no caso de deficientes, indígenas, dos movimentos negro e feminista e de outros grupos que nos últimos anos têm adquirido destaque por buscarem o reconhecimento de sua cidadania.
Trata-se de uma luta por respeito e pela dignidade humana, que visa obter possibilidades de ascensão social e econômica.
A expansão do terceiro setor e da responsabilidade social e ambiental está diretamente relacionada com a expansão dos direitos sociais e humanos a partir da segunda metade do século XX, permitindo e propondo a redução das desigualdades sociais, a criação de legislações ambientais e o respeito à biodiversidade e às comunidades tradicionais. 
As gerações dos direitos humanos
Estas gerações demonstram como os direitos humanos devem ser compreendidos.
O estudo das gerações de direitos humanos permite identificar como o que se entende por dignidade humana muda conforme os contextos históricos, as lutas políticas e as demandas sociais.
Não devem ser tomados como um conceito estático, senão como um movimento.
· A primeira geração está relacionada aos séculos XVII e XVIII, desperta com o pensamento jusnaturalista-contratualista e com afirmação dos direitos naturais e universais, os direitos políticos que promovem também a igualdade jurídica e liberdade. 
Seus principais documentos são a Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão e a Declaração de Direitos, fundamentadas nos direitos às liberdades individuais e na igualdade jurídica.
· A segunda geração dos direitos humanos é representada pela expansão dos direitos políticos (sobretudo para a classe trabalhadora e para as mulheres) e criação de direitos sociais, também conhecidos como direitos prestacionais. 
· A terceira geração, conhecida também como a dos direitos da solidariedade ou fraternidade, está contextualizada no período posterior à Segunda Guerra Mundial. Após a Declaração Universal dos Direitos Humanos (1948) e com a passagem do século XX para o XXI, os direitos humanos passam a ser entendidos também como proteção das sociedades tradicionais, como os povos indígenas, e proteção ao meio ambiente.
Além disso, na terceira geração estão presentes as políticas abarcadas pelo multiculturalismo, que são políticas promovidas por governos que visam integrar as sociedades multiculturais, alavancar novas demandas sociais e reduzir as desigualdades sociais.
Quadro 1 – As gerações de direitos humanos
	GERAÇÃO
	CARACTERÍSTICAS
	PRINCIPAIS CONQUISTAS
	1a GERAÇÃO(século XVIII)
	Direitos políticos: liberdades individuais e igualdade jurídica
	Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão (1789); Declaração de Direitos(Constituição dos Estados Unidos da América, 1787)
	2a GERAÇÃO(século XIX até a primeira década do século XX)
	Direitos sociais e direitos prestacionais: universalização dos direitos políticos
	Sindicatos e associações de trabalhadores adquirem direito ao voto; mulheres adquirem, no Ocidente, o direito de votar e eleger representantes
	3a GERAÇÃO(final do século XX até hoje)
	Direitos da solidariedade ou fraternidade
	Declaração Universal dos Direitos Humanos; direito ambiental; multiculturalismo (ou políticas multiculturais)
A Conferência de Direitos Humanos da ONU, que ocorreu em Viena no ano de 1993, buscou consolidar as concepções de desenvolvimento humano, resultando na percepção da indivisibilidade entre os direitos humanos, civis e políticos, econômicos, sociais e culturais. A Declaração de Viena destaca os direitos de solidariedade, paz, desenvolvimento e os direitos ambientais.
O debate ético em torno da manipulação genética, ou seja, dos limites da ciência genética aplicada aos seres humanos e das restrições que governos e convenções internacionais devem adotar constituiriam a quarta geração.
A validade da existência de uma quinta geração está também em discussão e gira em torno da percepção da rápida inovação envolvendo tecnologias de informação nos últimos anos. Elas têm exigido que diferentes governos construam a implementação dos direitos virtuais. Suas questões principais são expressas na preservação de dados pessoais e da privacidade dos internautas; na segurança de banco de dados de empresas e cidadãos; na criação de documentos eletrônicos; nos controles e nas possíveis violações de direitos individuais envolvendo aplicativos de celular.
VÍDEO – ONU
Breve histórica da ONU		A segunda guerra x garantia de direitos
	
Papel de cada país na ONU	Qual o papel da ONU?
		 
Instituições importantes e	
Relacionadas à ONU			Considerações finais
			
Unidade 2 – aula 3
Democracia no Brasil e grupos menorizados
introdução
Mundo
O regime democrático foi uma elaboração original da cidade de Atenas, isto é, nasceu entre os gregos na Antiguidade.
A democracia, tal qual praticada pelos atenienses, possuía algumas limitações, como a proibição da participação de mulheres e escravos, sendo considerados cidadãos apenas os homens proprietários de terras.
Brasil
Ainda nos reinados dos imperadores D. Pedro I e D. Pedro II, havia uma série de barreiras para a participação popular na escolha de alguns cargos eletivos. Após a proclamação da República, em 1889, permanecia o abismo entre representantes eleitos, representatividade, direito ao voto e participação popular. A partir da década de1930, com Getúlio Vargas e a criação da Justiça Eleitoral, houve uma gradual ampliação do direito ao voto, por exemplo, com o voto das mulheres. Porém, limitada pela ditadura varguista, entre 1930 e 1945, a expansão da participação política no Brasil apenas ganhará força entre1945 e 1964, quando foi liquidada pelos militares por meio de um golpe de Estado, que reduziu e eliminou opositores políticos.
Foi com o fim da ditadura, no final da década de 1980, e a construção de uma nova Constituição que se tornou possível a consolidação de instituições que ampliaram o direito à participação e à representatividade dos grupos considerados minorizados e excluídos no país.
Princípios da democracia
A primeira experiência democrática da história ocorreu na cidade (pólis) de Atenas, na Grécia antiga, no século VI a. C., quando Clístenes, tido como o pai da democracia, liderou uma rebelião popular contra o tirano Hípias, em 510 a. C.
Desde o início do século VI a. C., a sociedade ateniense vinha passando por uma série de transformações sociais, entre elas, crescimento demográfico, enriquecimento de comerciantes e aumento de escravizados por dívidas, todos eles exigindo maior participação política.
As reivindicações dos atenienses tiveram seu ponto culminante quando Clístenes consolidou a luta pelo direito de todos os cidadãos atenienses de participação direta na democracia.
A etimologia do termo “democracia” expressa o poder do povo: demos (povo) e kratos (poder ou hierarquia). 
A novidade política, cria-se um princípio civilizatório cujo regime está baseado no governo de origem popular e de decisões coletivas, e não mais fundamentado nos caprichos pessoais de tiranos ou de oligarquias. Interesses públicos e privados foram distanciados, a fim de produzir o bem coletivo e livrar a sociedade ateniense de decisões pessoais.
O regime de Atenas caracterizou-se por ser uma democracia direta:  participação ativa, aberta e permanente dos cidadãos, sem a intermediação de representantes eleitos.
Clístenes estabeleceu o chamado “ostracismo”, proibindo a participação dos cidadãos que ameaçassem o regime, de modo que estes deveriam permanecer no exílio por dez anos.
As limitações do regime derivam do fato deque apenas eram considerados cidadãos com direito à participação democrática os homens livres, acima de 18 anos, o que incluía pobres, pequenos, médios e grandes proprietários e comerciantes, excluindo assim todas as mulheres, todos os escravos (geralmente prisioneiros de guerras)e estrangeiros até a terceira geração. 
Compreende-se o regime democrático ateniense como limitado porque a noção de cidadão não é universal, e sim restrita aos homens livres.
A crítica de Sócrates e Platão à democracia se devia à constatação de que os cidadãos aptos a participar eram, na verdade, manipulados pelos chamados sofistas (PLATÃO,1999), demagogos que dominavam a ágora com discursos eloquentes, mas não racionais, e comoviam os demais cidadãos.
Foi com Rousseau (1712-1778), no século XVIII, que o assunto foi mais bem enfatizado.
Inspirado no modelo ateniense de participação direta na democracia, Rousseau foi inovador e avançou em relação à concepção grega de democracia ao ressaltar em seu modelo de governo a universalidade da participação política. Para isso, seria necessário o fim da escravidão e a inclusão das mulheres no regime. 
As decisões teriam como resultado consensos coletivos que surgiriam a partir do debate, em que todos devem propor, opor e ceder alguns pontos, a fim de que o interesse coletivo predomine.
Seu modelo idealizado apenas seria possível em cidades com dimensões territoriais restritas e com número limitado de habitantes; caso contrário, a vontade geral não teria êxito.
Estados Unidos
Os pensadores norte-americanos, conhecidos como federalistas, se depararam com a questão de como expandir o direito à participação política em sociedades com grande extensão territorial e grande número de habitantes. Além disso, outro problema encontrado pelos federalistas era como garantir a manutenção dos direitos individuais (liberdade de expressão, igualdade jurídica e propriedade privada) sem que houvesse o risco de sua usurpação ou supressão por um governo de tendências tirânicas.
A solução do problema encontrada pelos federalistas foi reconhecer e promover uma série de transformações nas concepções de Rousseau, John Locke e Montesquieu. Os princípios incorporados, que veremos a seguir, fizeram com que os federalistas consolidassem o regime democrático republicano representativo presidencialista nos Estados Unidos – republicano (do latim res publica, coisa pública) porque as instituições são públicas e não pertencentes a um único soberano ou rei.
De Rousseau reconheciam que o governo é legítimo quando emanada soberania popular. Dos liberais, como John Locke (1632-1704), percebiam a necessidade de limitar a ação do Estado contra direitos individuais. De Montesquieu (1689-1755), herdaram o princípio de freios e contrapesos na composição de um governo tripartite, ou seja, dividido em três poderes: Executivo, Legislativo e Judiciário.
Como vimos, Rousseau defendia a democracia direta com o seu princípio de vontade geral. Observando a impossibilidade de promover consensos entre regiões distantes e um elevado número de habitantes na nova nação, o que impedia a realização da democracia direta, os federalistas encontraram como solução a representação política, ou seja, a eleição de políticos nos cargos representativos de presidente, deputados, senadores e juízes (para estes últimos nos níveis dos condados e Estados da federação), além da manutenção da autonomia jurídica de cada um dos então treze Estados que compunham originalmente os EUA.
Enquanto se distanciavam de Rousseau e da democracia direta e formulavam a democracia representativa americana, os federalistas se aproximavam de Locke, impondo limites à ação do Estado, devendo este defender os direitos naturais, como vimos.
Montesquieu estabeleceu a necessidade de divisão da soberania do Estado nos três poderes, a fim de garantir as liberdades individuais. O poder Executivo; o poder Legislativo e o poder Judiciário.
A ideia é produzir um sistema de freios e contrapesos, cujo objetivo é permitir que um poder controle e limite o outro. Locke e Montesquieu procuram limites à ação do Estado.
Os federalistas norte-americanos, pela primeira vez na história e conjugando as influências liberais, iluministas e democráticas, elaboraram um regime representativo presidencialista, ou o chamado presidencialismo, o presidente, eleito democraticamente por todos os cidadãos – porém, na visão dos federalistas, somente homens. 
A democracia norte-americana ainda teria que resolver, no século seguinte, a concessão de direitos políticos à população negra e a abolição da escravidão. 
Somente na década de 1960 o movimento negro norte-americano, comas pressões principalmente do movimento dos Panteras Negras e do ativismo de Martin Luther King (1929-1968), conseguiu a aprovação da Lei dos Direitos Civis (1964), que reconheceu, em todo o território norte-americano, os direitos à igualdade da população negra para eleger seus representantes. Em relação à participação das mulheres, somente a partir do ano de 1920 o movimento sufragista consolidou nos EUA o direito feminino de votar e eleger representantes, depois de muitos protestos e lutas políticas.
Europa
No século XIX na Europa, a democracia passou a sofrer pressões de novas demandas sociais, entre elas as das classes trabalhadoras e da reivindicação do direito ao voto das mulheres. Sindicatos, trabalhadores e mulheres não poderiam possuir organizações políticas e deviam se submeter à ordem jurídica burguesa, que se apresentava democrática apenas entre os membros dessa classe, não abrangendo a classe trabalhadora. As lutas também envolviam o direito ao voto secreto.
Surgiu a necessidade de se reconhecer o direito ao sufrágio universal, compreendido como o pleno direito ao voto secreto e a representação de todos os cidadãos adultos, não importando nível de alfabetização, classe, renda, sexo.
Diante desse contexto, foi desenvolvida a teoria utilitarista de John Stuart Mill (1806-1873), que permitiu a compreensão e aplicação da democracia representativa, levando em consideração as demandas de novos grupos sociais na participação política e a expansão do direito ao voto, representação e governabilidade.
John Stuart Mill, no conjunto de sua obra, especialmente no livro Considerações sobre o governo representativo (1861), estabeleceu o princípio ético utilitarista aplicado à democracia representativa a partir da concepção de que se deve visar destinar o maior benefício – e, quando necessário, o menor sofrimento – ao maior número de pessoas possível.
Nesse caso, é possível dizer que o interesse da maioria deve ser estabelecido, ainda que produza algum pequeno malefício ou descontentamento para uma minoria. Nos regimes parlamentaristas, como o britânico, o utilitarismo contribuiu para trazer proporcionalidade (número de cadeiras no parlamento) aos partidos e atender a demandas da sociedade, obrigando os próprios partidos a consolidarem e desfazerem alianças, com a finalidade de zelar pelo interesse da maioria.
Tal princípio contribuiu para que diferentes interesses políticos e sociais adquirissem voz nos diferentes parlamentos eleitos no mundo, promovendo a conquista de direitos sociais no século XX.
Parlamentarismo é um sistema de governo democrático indireto, em que o poder Executivo (o primeiro-ministro) é eleito pelo parlamento ou congresso, sendo este último eleito de forma direta pelos cidadãos. Portanto, o regime parlamentarista tem sua legitimidade no poder Legislativo.
Geral
Como vimos, na Inglaterra opera uma monarquia constitucional com representantes eleitos para o Legislativo, incluindo um primeiro-ministro eleito indiretamente pelo parlamento; já os EUA e o Brasil possuem cargos eletivos para os poderes Executivo e Legislativo. Há ainda uma porção de variações de composição de regimes democráticos. Na Alemanha e na França, por exemplo, há presidente e primeiro-ministro. 
Poliarquia, que deve ser compreendido a partir do estabelecimento, em maior ou menor grau, dos seguintes aspectos:
1) Liberdade de formar e aderir a organizações. 
2) Liberdade de expressão. 
3) Direito de voto. 
4) Elegibilidade para cargos públicos.
5) Direito de líderes políticos disputarem apoio e votos. 
6) Fontes alternativas de informação. 
7) Eleições livres e idôneas. 
8) Instituições para fazer com que as políticas governamentaisdependam de eleições e de outras manifestações de preferências. 
Marcos históricos que contribuíram para a construção da democracia no Brasil
Em 1822, com a independência em relação à metrópole portuguesa, constitui-se um novo império, cujo líder foi D.Pedro I, que em 1824 outorgou a primeira Constituição. Apesar de o monarca ter cargo hereditário e vitalício, permitia a eleição para o poder Legislativo.
No entanto, o voto era censitário, pois levava em consideração a renda, sobretudo oriunda da terra, excluindo assim praticamente todos os habitantes do Brasil.
Além disso, estavam aptos a votar os cidadãos do sexo masculino acima de 25 anos. A regra da idade mínima não era aplicada no caso de indivíduos casados, membros da Igreja, militares e bacharéis. Os analfabetos também poderiam votar e ser eleitos. Ainda, a Constituição concedia ao imperador o direito de exercer o poder Moderador, além do Executivo.
Na prática, havia um sistema liberal apenas aparente baseado na divisão dos três poderes, a qual acabava por se desfazer quando o imperador, no exercício do poder Moderador (o quarto poder, uma inovação genuinamente do Brasil).
Tratava-se de um misto de instituições políticas incorporadas do liberalismo com a manutenção do absolutismo monárquico.
Com a Proclamação da República, em 1889, a segunda Constituição (primeira republicana) foi aprovada em1891.
Afirmava o sistema presidencialista, além do federalismo; concedia autonomia legislativa e policial aos Estados e municípios, fortalecendo o poder local de proprietários de terras, os coronéis, e das oligarquias, ao passo que enfraquecia o poder da União. Inspirada na Constituição dos EUA e no seu federalismo, a Constituição de 1891 garantia a separação dos três poderes (Executivo, Legislativo e Judiciário), os princípios de defesa das liberdades individuais, como as liberdades de expressão, religião, reunião e associação política; a propriedade privada; e o direito ao habeas corpus. Permitiu também o Estado laico (separação entre Estado e Igreja) e estabeleceu eleições à presidência e a cargos legislativos de forma democrática a cada quatro anos, pondo fim ao voto censitário. No entanto, estavam aptos a votar apenas os homens, e não havia garantias de voto secreto, cujo efeito negativo era o voto de cabresto, sujeito à compra e a repressões violentas dos opositores.
Além das mulheres, estavam impedidos de votar os analfabetos(a maioria da população brasileira do período), soldados, miseráveis e membros de ordens religiosas. Com essas restrições, as eleições se restringiam a uma pequena elite que perpetuava o poder político oligárquico. 
Getúlio Vargas com um golpe de Estado em 1930, resultou na instituição, em 1934, da terceira das Constituições (a segunda republicana), conhecida como Constituição de 1934. 
O documento trouxe importantes inovações ao processo democrático eleitoral para os cargos legislativos. Entre as inovações eleitorais, destacam-se a implementação do voto feminino, o voto secreto e a criação da Justiça Eleitoral, com o objetivo de investigar e punir violações aos votos secretos ou a compra deles.
A Constituição de 1934 concedeu maior autonomia ao poder Judiciário, garantiu o direito à propriedade privada e à liberdade individual, instituiu direitos trabalhistas e afirmou o direito de expressão e associação política. Entre os direitos trabalhistas, a Constituição de 1934 consolidou o salário-mínimo, a jornada de 8 horas diárias e a proibição do trabalho infantil. Porém, apenas abrangia os trabalhadores urbanos e não rurais.
Em 1937, Getúlio Vargas operou uma nova Constituição, dando origem ao período chamado Estado Novo. A quarta Constituição da história do Brasil (terceira republicana) inovou ao estipular o direito à educação pública, decretou o fechamento do Congresso Nacional e tornou o poder Judiciário submisso ao Executivo, ocupado de forma ditatorial por Vargas. Manteve os direitos trabalhistas estabelecidos em 1934, com exceção do direito à greve.
Ao mesmo tempo, a nova Constituição afirmava ser responsabilidade do Estado a assistência social às famílias desamparadas. Partidos políticos foram proibidos.
Com o final da Segunda Guerra Mundial, em 1945, pressionado, Vargas retira-se do poder, eleições são convocadas, coma vitória do General Dutra, em 1945, e no ano seguinte é aprovada a Constituição de 1946, que promoveu o retorno ao regime democrático, garantiu a organização livre de partidos políticos e ampliou o direito ao voto e efetivamente a quantidade de eleitores, porém manteve excluídos ainda os analfabetos e não concedeu direitos trabalhistas aos trabalhadores rurais. Além disso, a Constituição de 1946 fornecia maior autonomia aos poderes Legislativo e Judiciário e limitou o mandato presidencial a 5 anos.
Golpe militar, operado pelo General Castelo Branco no ano de 1964 e que levou ao fim o breve período democrático.
o golpe tratou rapidamente de limitar os direitos individuais, com a decretação dos chamados Atos Institucionais (AI).
O Ato Institucional 1(1964) permitiu a alteração deliberada da Constituição de 1946, conforme os interesses dos militares. O AI-2 (1965) estabeleceu eleições indiretas para presidente, dissolveu os partidos políticos e os reduziu a apenas dois (MBD e Arena – na prática, ambos com congressistas apoiadores dos militares), além de ter aumentado o número de ministros do STF, a fim de manipular decisões judiciais, e permitido que o presidente determinasse estado de sítio sem a aprovação do Congresso Nacional. O Ato ainda autorizava os militares a demitirem opositores funcionários públicos. O AI-3 (1966) limitou as eleições para governador, sendo estas realizadas de forma indireta por candidatos previamente selecionados pelos militares. O AI-4 (1966) convocava compulsoriamente o Congresso, selecionado a dedo, a votar a favor da nova Constituição imposta pelos militares, conhecida como Constituição de1967. Seu principal objetivo era incorporar os Atos Institucionais ao texto constitucional, formalizando o caráter autoritário do regime ditatorial.
O AI-5 (1968) escancarou o período mais violento do século XX no Brasil, consolidando a ditadura. Decretou o fechamento do Congresso Nacional e a censura aos meios de comunicação e permitiu ao presidente decretar estado de sítio por tempo indeterminado quando bem entendesse. Proibiu o habeas corpus para presos que cometessem crimes considerados políticos. Autorizou a sumária demissão de funcionários públicos opositores ao governo, assim como ampliou a cassação de mandatos de políticos que ousassem se manifestar contra o governo. OAI-5 ainda autorizava o governo a intervir sobre os estados e municípios e a confiscar bens privados de presos políticos e reforçava o controle sobre todos os cidadãos, proibidos de se reunirem em aglomerações, sobretudo para tratar de assuntos políticos. 
A crise econômica da década de 1980 contrastava com a elevada expansão econômica industrial da década anterior, que contraditoriamente acentuou as desigualdades sociais e elevou a miséria entre os brasileiros. A crise levou a opinião pública e os meios de comunicação a pressionarem o governo militar por uma transição pacífica em retorno à democracia, inaugurando o período conhecido como redemocratização. O presidente militar João Figueiredo, em 1979, decretou o fim dos partidos Arena e MDB, autorizou a volta do multipartidarismo, aprovou a Lei da Anistia, comprometeu-se com a abertura do regime e a transição para a democracia. Os partidos autorizados e criados (PMDB, PT, PDT, PTB e PDS) puderam disputar eleições em 1982 para os governos estaduais, para o Congresso Nacional (deputados) e as assembleias estaduais.
Com baixa popularidade e criticados pela opinião pública, os militares procuraram restabelecer a democracia, porém de maneira rigorosamente controlada, não permitindo de maneira imediata a eleição direta à presidência, apenas de forma indireta, por meio do Congresso Nacional. Partidos políticos e movimentos da sociedade civil criaram uma frentede apoio às eleições diretas, conhecida como Diretas Já. No entanto, no ano de 1985, Tancredo Neves (PMDB) foi eleito de maneira indireta pelo Congresso como primeiro presidente após a ditadura militar. Morreu pouco antes de assumir, levando ao cargo o seu vice, José Sarney, que governou o Brasil até 1990. Coube ao Congresso Nacional, reunido na forma de Assembleia Constituinte, redigir a nova Constituição, a fim de estabelecer um novo contrato social, de maneira democrática, e a fim de preservar os direitos humanos. Foi nesse contexto que surgiu a atual Constituição, conhecida como Constituição de 1988, ou Constituição Cidadã.
Cabe destacar que o documento restabeleceu os direitos individuais(igualdade, liberdade e propriedade), concedeu o direito à greve, proibiu a censura e expandiu os direitos trabalhistas aos trabalhadores rurais. A nova Constituição declara a independência e a separação e o mútuo controle entre os três poderes (Judiciário, Executivo e Legislativo). Há ainda outras novidades, dadas pela afirmação da igualdade de gênero, criminalização do racismo, proibição da tortura e declaração do trabalho, da educação, moradia e saúde como direitos sociais. O documento também inclui direitos como transporte, lazer, previdência social, assistência social, proteção à maternidade e à infância. Além disso, as eleições passaram a ser universais, com dois turnos a cada quatro anos, e incluem de maneira facultativa analfabetos, sendo o direito ao voto secreto e obrigatório dos 18 aos 70 anos.
Afirmação política de grupos minorizados e movimentos sociais e formação da democracia no Brasil
A Constituição de 1988 instituiu o Estado democrático de direito e assegura direitos individuais. É conhecida como Constituição Cidadã porque tem como prerrogativa a promoção da justiça social, da dignidade da pessoa humana e dos direitos individuais.
O atual texto constitucional reconhece as falhas históricas dos governos brasileiros passados no que diz respeito às minorias. Isso se deve ao fato de a elaboração da Constituição ter contado com ampla participação popular, isto é, associações, comitês pró-participação popular, plenários de ativistas e sindicatos trabalharam ao lado dos deputados constituintes. Sendo assim, foram incorporadas ao texto demandas e reivindicações históricas da população antes apartada das decisões políticas. 
A Constituição de 1988 inseriu pela primeira vez a necessidade de proteção ao meio ambiente e às comunidades que vivem em função de habitats naturais. Além disso, procurou expandir os direitos das mulheres na sociedade. A Constituição abre margem também para que grupos desprovidos de moradia, como os sem-teto e os sem-terra, adquiram direitos, conforme veremos adiante.
Por minorias entendem-se os segmentos sociais que são subjugados pelos detentores de privilégios políticos, econômicos e sociais. As minorias representam a ausência, limitação ou restrição de direitos políticos e sociais por conta de seu gênero, origem étnica ou condição social.
Reconhecendo as graves consequências de mais de três séculos de escravidão da população negra, o Estado brasileiro, a partir da Constituição de 1988, observa a necessidade de promoção de políticas de redução de desigualdades sociais. Em 2010, no governo de Lula, institui-se o Estatuto da Igualdade Racial, que visa efetivar para a população negra a igualdade de oportunidades, “a defesa dos direitos étnicos individuais, coletivos e difusos e o combate à discriminação e às demais formas de intolerância étnica”
Quanto às populações indígenas, a Constituição concede ao Estado o direito de legislar sobre elas com o objetivo de proteger suas culturas tradicionais (os chamados direitos originários), os seus territórios e as riquezas naturais neles presentes.
Aliada à proteção da cultura indígena, a Carta Constitucional estabelece a necessidade de políticas ambientais por meio do artigo 23 – “proteger o meio ambiente e combater a poluição em qualquer de suas formas” (BRASIL, 1988) –,fortalecendo a permanente construção da legislação ambiental brasileira contra os crimes contra a flora e fauna nativas.
A Constituição de 1988 fornece também respaldo à consolidação da universalização do direito à educação, que veio a ser referendada por meio da Lei de Cotas, criada em 2012, que decreta a obrigatoriedade de reserva de 50% das vagas nas instituições federais para estudantes de escolas públicas. Reconhece ainda a igualdade de gêneros, abrindo caminho para a ampliação da participação das mulheres e de outros gêneros nos processos decisórios e cargos profissionais, e promove a defesa contra assédio e violência física, culminando na aprovação, em2018, do Estatuto da Igualdade Sexual e de Gênero.
Na Constituição, o direito à propriedade privada é um direito fundamental, porém consta no documento a necessidade de a propriedade cumprir uma função social, o que significa dizer que ela deve ser utilizada para moradia ou trabalho.
VIDEO
DÍVIDA SOCIAL
Unidade 2 – aula 4
Cidadania: bases históricas e princípios
Bases históricas da cidadania
Cidadania remete à noção de cidadão, definida pela relação entre indivíduos pertencentes a uma mesma comunidade, que se torna política, conforme aponta Strauss (2006), à medida que esses indivíduos passam a decidir em comum, de forma planejada e a partir de organizações políticas (ou instituições), a condução de seu destino. Os cidadãos compartilham algum grau de pertencimento a uma comunidade, “cuja tarefa primordial e mais urgente é a autopreservação e cuja tarefa mais importante é o melhoramento de si”.
Preservar, garantir e aperfeiçoar são os objetivos da comunidade política constituída por cidadãos que compartilham entre si essas intenções.
Uma concepção mais próxima do que hoje entendemos como cidadão, refere-se ao que hoje associamos a “ter direito à vida, à liberdade, à propriedade, à igualdade perante a lei: é, em resumo, ter direitos civis. É também participar no destino da sociedade, votar, ser votado, ter direitos políticos.
O conceito de cidadania é uma construção fundamentalmente histórica que comporta dimensões simultaneamente sociais, políticas e culturais, portanto, variando de sociedade para sociedade e de acordo com cada período histórico.
Hannah Arendt prefere definir cidadania como o direito a ter direitos, ou o direito de cada indivíduo de pertencer à humanidade.
A cidadania não é um conceito estático ou único, está em permanente metamorfose, pois envolve o direito a ter e conquistar direitos de decisão sobre a vida coletiva.
A humanidade, segundo a pensadora, expressa a pluralidade humana, que deve ser organizada na forma de comunidade política sob uma ordem jurídica. A finalidade é proteger os cidadãos portadores de direitos e deveres. A humanidade se exerce quando se reconhece, aos diferentes cidadãos, ou a uma parte deles, o direito de viver sob laços de pertencimento, em segurança e compartilhando decisões relevantes à vida em sociedade. Portanto, pertencer à humanidade atravessa a aquisição ou preservação da cidadania. 
Na Antiguidade, entre os hebreus, inaugura-se o que o autor designa como pré-história da cidadania, a partir das condições específicas históricas do surgimento do monoteísmo ético. Baseados na crença comum no monoteísmo, elemento que estabelece o pertencimento a uma comunidade e a identidade cultural.
Diferentes profetas hebreus, a partir de então, passaram a atuar realizando as primeiras manifestações do que entendemos como cidadania, estabelecendo limites ao poder do Estado, exigindo a redução de impostos abusivos e melhorias ao povo empobrecido. 
Considera-se a primeira construção mais elaborada de cidadania a praticada nas cidades-Estados gregas, as chamadas pólis.
A cidadania na pólis derivava de um elemento étnico, ou seja, do fato de que eram considerados cidadãos os indivíduos nascidos nessas cidades, que compartilhavam o mesmo idioma e a crença nos mesmos deuses gregos. Além disso, eram considerados cidadãos apenas homens e proprietários de terras.
Em Atenas, a concepçãode cidadania é tida como limitado, pois restringe a participação dos habitantes. A democracia e a cidadania ateniense são limitadas porque os cidadãos considerados livres gozavam do ócio, isto é, de tempo livre para legislar, enquanto seus escravos destinavam seus esforços unicamente ao trabalho braçal e as mulheres cuidavam das atividades domésticas.
Em Atenas, portanto, consolidaram-se de forma mais nítida os direitos do cidadão. A interação entre esses indivíduos garantia a existência da cidadania, cujo objetivo era o de garantir a manutenção da existência de seus direitos e aprimorar a vida em sociedade. 
Na Roma antiga a sociedade estava dividida em: a) patrícios: classe politicamente dominante e descendente dos fundadores dessa civilização, cujos membros eram considerados cidadãos e possuíam direitos políticos, civis e religiosos, podendo ocupar postos da administração pública, sobretudo os legislativos (cônsules e senado constituído por anciões) e militares, garantindo o confisco dos espólios de guerra; b) plebeus: embora livres, não eram considerados cidadãos, pois correspondiam aos descendentes de estrangeiros, tendo como origem as colônias itálicas ou nobrezas destituídas e dominadas pelas conquistas romanas; não eram portadores de direitos, havendo assim desigualdades em Roma; c) escravos: correspondiam aos prisioneiros de guerra ou romanos plebeus endividados. 
Trata-se na verdade de uma oligarquia de patrícios, ou seja, governo de poucos que gozavam de privilégios, produzindo desigualdades políticas, civis e econômicas em relação aos plebeus, cada vez mais empobrecidos. Havia, portanto, discriminações que acabavam por separar a sociedade romana. 
Foi no período republicano que Roma fez reformas civis e políticas graduais que conduziram à expansão da cidadania. O plebeu Terentílio propôs, em 462 a.C., a afixação pública, no fórum romano, de um código civil que permitisse à sua classe conhecer as leis e identificar abusos dos patrícios, substituindo leis antes transmitidas oralmente por leis escritas. Deu-se origem, assim, ao código civil romano, conhecido como Lei das 12 Tábuas, instituído apenas no ano de 451 a.C. após pressões dos plebeus.
As tábuas tratavam dos direitos públicos e religiosos, das punições por delitos, de propriedade e herança, dos deveres do poder pátrio sobre sua família e escravos.
A título de comparação, é importante destacar diferenças entre as concepções de cidadania na Grécia e na Roma antigas. Uma das diferenças consiste no fato de que o critério de cidadania na Grécia era étnico, ou seja, restringia-se aos homens livres que nasciam nas pólis, e lhes eram concedidos direitos de igualdade e liberdade. Em Roma, a cidadania estava relacionada aos direitos civis e políticos, em boa medida restritos aos patrícios e gradualmente conquistados pelos plebeus. Outra distinção importante diz respeito à ampla participação das mulheres em Roma na vida pública, enquanto as mulheres gregas estavam relegadas à vida privada.
A respeito da Idade Média ou do feudalismo (473 a.C. ao século XVI), argumenta-se que houve, na Europa, a extinção do direito à cidadania, considerando que compôs-se uma sociedade fomentada por privilégios que se revelavam nos estamentos, constituídos por uma minoria formada pelo clero e pela nobreza, e a esmagadora maioria era constituída por servos. Nas sociedades estamentárias, não há mobilidade social, a condição social é inerte, fazendo com que não exista ascensão social ou reivindicação de direitos, de forma que servos permanecerão sempre servos e assim será com todos os seus descendentes. O direito está inspirado em princípios religiosos do cristianismo. Dessa forma, as posições sociais eram justificadas por uma decisão divina, garantindo ao clero e à nobreza o direito à herança e a manutenção de suas propriedades. Além disso, os feudos eram unidades econômicas autossuficientes, o que significa dizer que tudo o que produziam era consumido, evitando-se contatos comerciais com outros feudos. Os senhores de terra eram responsáveis pela guerra contra invasores e a administração econômica do feudo. Seus servos destinavam-se ao trabalho braçal, devendo ao seu senhor a proteção, paga por meio de seu trabalho, da produção de alimentos e outros impostos abusivos, como a destinação da produção ao senhor devido ao uso das ferramentas ou mesmo o imposto referente à morte do patriarca servo, devendo este ser substituído por seus filhos. Esse modelo extinguiu também a existência de interesses coletivos, a liberdade ou a igualdade. 
Em relação à cidadania durante o Renascimento, houve a incorporação das tradições do direito romano.
Os florentinos fomentaram a cultura clássica por meio de seus estudos humanistas e criaram interpretações políticas com valores antropocêntricos, que revelavam a valorização do desenvolvimento do indivíduo. Estabeleceram o exercício da cidadania com a ideia de que o cidadão deve possuir liberdade para agir nas instituições do governo, sejam elas políticas ou econômicas, com o objetivo de zelar pelo bem comum. Ainda que Florença fosse dominada econômica e politicamente por famílias nobres, havia a percepção de que o bom funcionamento das instituições da cidade dependia das ações dos seus cidadãos. Entre essas instituições florentinas, destacavam-se corporações de financistas, da burocracia comercial, de diplomatas e juízes. Com o fomento da participação dos cidadãos nos negócios do governo, tornou-se possível alimentar críticas ao sistema e aos senhores feudais, assim como enaltecer o individualismo como elemento constitutivo das decisões políticas e econômicas. 
A novidade do pensamento florentino está na visão otimista da política e do exercício da cidadania, pois apenas as ações humanas dotadas de liberdade poderão configurar novas ou desfazer velhas configurações políticas e societárias. 
As concepções renascentistas influenciaram as construções políticas, econômicas e culturais da modernidade que se opuseram à ordem religiosa e política. A burguesia encontrava-se desprovida de direitos políticos e tinha direitos civis limitados, salvo quando participava dos negócios mercantilistas dos Estados absolutistas. Não havia uma separação explícita entre interesses privados ou públicos, posto que todas as atividades comerciais e instituições do governo pertenciam aos soberanos e eram hereditárias. 
A Revolução Inglesa (Revolução Gloriosa, de 1640 a 1688) foi precedida pelos abusos de autoridade do rei Carlos I, com cobranças de impostos em meio à grave crise econômica, além de perseguições religiosas aos puritanos, sendo a maioria constituída de burgueses. A solução encontrada foi limitar os poderes do monarca e fortalecer o sistema parlamentarista (parlamento eleito pelo povo, a Câmara dos Comuns) por meio da Declaração de Direitos (Bill of Rights), que, ao fim do processo político, tornou o príncipe de Orange rei da Inglaterra, com poderes reduzidos. O parlamento foi fortalecido, formalizando a monarquia constitucional. Sem derramamento de sangue, deu-se fim ao absolutismo. Foi permitida a liberdade individual, a liberdade de imprensa e de expressão e concedido aos burgueses o direito à propriedade privada e à liberdade econômica, motivo pelo qual a Revolução Gloriosa ocorreu ao mesmo tempo que o capitalismo se originava com a Revolução Industrial. 
A Revolução Americana (1776), ou a Independência dos Estados Unidos, produziu a separação das Treze Colônias e culminou na Declaração de Direitos (1791), liquidando os seus vínculos de submissão com a metrópole, a Inglaterra. Instituiu-se o regime federalista, republicano e democrático que fundamentou as liberdades políticas e econômicas, a igualdade jurídica, a divisão dos três poderes (Legislativo, Executivo e Judiciário) e as eleições livres, com a novidade da criação e eleição popular para o cargo de presidente da República. Tratava-se do regime ideal para a expansão dos interesses comerciais burgueses. 
A Revolução Francesa (1789) pôs fim ao absolutismo monárquico, levando à guilhotina

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