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1 RESUMO ADAPTADO POR SARA ESPELHO STORCH TRAUMATISMO CRÂNIOENCEFÁLICO (TCE) É qualquer agressão de ordem traumática que acarrete em lesão anatômica ou comprometimento funcional do couro cabeludo, crânio, meninges, encéfalo ou seus vasos. Questão de saúde pública porque leva a óbito ou causa sequelas em muitas pessoas no país. EPIDEMIOLOGIA: Trauma é principal causa de morte entre 1 e 44 anos. Dentro do Trauma o TCE é Maior causador de morbidade e mortalidade neste grupo. TCE grave tem Mortalidade 30 – 70%. 14 – 30 mortes/100.000 habitantes/ano. Homens > mulheres (2 a 3x) GRADUAÇÃO Escala de coma de Glasgow (GOS) o Leve: 14 a 15 pontos o Moderado: 13 a 9 pontos o Grave: 8 a 3 pontos → LEMBRAR! Decorticação: Flexão dos membros superiores e extensão dos membros inferiores Descerebração: Extensão de membros superiores e inferiores A pontuação 8 é considerada um número mágico, pois a partir disso para baixo o paciente necessitará de assistência ventilatória, paciente com TCE grave precisa ser entubado CLASSIFICAÇÃO LESÕES PRIMÁRIAS FOCAIS o LESÃO DO COURO CABELUDO: Geralmente são resolvidas com sutura, porém caso sejam extensas, podem levar a consequências hemodinâmicas. Em algumas situações, podem ocorrer lesões extensas no couro cabeludo (lesões com ferimentos abrasivos associados, necessitando assim de intervenção da cirurgia plástica); ou em alguns casos, ocorrem lesões extremamente extensas do couro cabeludo denominadas de escalpelamento, que podem inclusive levar o paciente ao choque hemorrágico. o FRATURAS DO CRÂNIO: Fatores que influenciam na conduta: - Desvios (afundamento do crânio): O crânio é também chamado de díploe (2 corticais entremeadas por uma medular); quando fratura a díploe, se desvia uma espessura inteira ou mais do crânio, precisa tratar cirurgicamente. Fratura de crânio pode ser uma FRATURA LINEAR, na qual não há desvio da tábua óssea, ou então existe apenas um desvio mínimo que não é maior que a extensão de toda tábua óssea. Uma fratura de crânio linear se consolida sozinha, não necessitando de intervenção cirúrgica; - Lesão aberta (exposta): conduta inclui limpeza do ferimento (lavar muito bem) e sutura do ferimento da pele, sendo que normalmente também entra com ATB profilático. o CONTUSÃO CEREBRAL: Lesão necro-hemorrágica intra-parenquimatosa. Na tomografia vão aparecer imagens hiperdensas entremeadas por imagens hipodensas (áreas de necrose causadas pelo trauma). 2 RESUMO ADAPTADO POR SARA ESPELHO STORCH Muitas vezes é indicativa de tratamento cirúrgico. Quando provocam efeito de massa (compressão de outras estruturas) levam HIC. Se não estiver causando HIC, pode tratar conservadoramente. Pode evoluir com piora nas primeiras 72h. Aumento da quantidade de sangue ou do edema ao redor das lesões (aumenta a compressão das estruturas ao redor, podendo levar a rebaixamento do nível de consciência). o LACERAÇÃO: Lesão da citoarquitetura meningoencefálica por penetração. Ocorre invasão do SNC, lesando couro cabeludo, ossos, meninges, e o próprio parênquima cerebral. São lesões complexas de péssimo prognóstico. Sempre causada por componente penetrante: podem ocorrer por arma branca ou projétil de arma de fogo. Componente necro-hemorrágico com perda de massa encefálica. Ocorre indicação de cirurgia se o causador da lesão ainda estiver presente, ou para limpeza local (retirada do tecido necro- hemorrágico e sutura da pele). Hematomas: 1. HEMATOMA EXTRA-DURAL: Se forma entre o crânio e a dura-máter. Não tem contato direto com a superfície do cérebro, e por isso tem melhor prognóstico. Lesão de artéria meníngea: Devido a pancada, associada ou não a alguma fratura óssea, ocorre ruptura da artéria meníngea e ela sangra entre a dura-máter e o osso (principal causa). Lesão em formato de lente biconvexa na tomografia de crânio ou formato de limão OBS: Podem ter outras causas para a formação do hematoma: - Fratura da díploe: A medular do osso pode sangrar para dentro e formar o hematoma entre o crânio e a dura-máter → Esse tipo de evolução é menos grave que a ruptura da artéria meníngea. - Ruptura do seio sagital superior: Ocorre sangramento venoso, e por isso é menos grave e urgente do que a ruptura da artéria meníngea Intervalo lúcido: O crescimento do hematoma costuma ser rápido, podendo levar o paciente ao coma. Do momento do intervalo até o momento que o paciente entra em coma, pode haver um intervalo que dura de minutos a hora (intervalo lúcido). Importante porque no hematoma subdural agudo NÃO tem isso! Tratamento Cirúrgico (em caráter de emergência na maioria das vezes) 2. HEMATOMA SUBDURAL AGUDO: Entre a dura-máter e o encéfalo, ocorre lesão direta em cima do cérebro. Ruptura de veias e artérias da superfície do encéfalo. Mal prognóstico. Na tomografia fica uma imagem de lente côncavo-convexa/meia-lua/banana. Rebaixamento do nível de consciência desde o início. Tratamento Cirúrgico (em caráter de emergência na maioria das vezes) 3 RESUMO ADAPTADO POR SARA ESPELHO STORCH 3. HEMATOMA INTRAPARENQUIMATOSO: É muito parecido com a contusão cerebral, porém aqui o componente hemorrágico é muito maior que o componente necrótico. Precisa drenar se estiver causando hipertensão intracraniana ou efeito de massa. EXTRA-DURAL X SUBDURAL AGUDO: Na imagem tomográfica, a diferença entre esses 2 tipos de hematomas é que: - HEMATOMA SUBDURAL AGUDO: imagem em formato de uma LENTE CÔNCAVO-CONVEXA, de uma “banana” ou de uma “meia lua”. - HEMATOMA EXTRA-DURAL: imagem em formato de LENTE BICONVEXA ou de um “limão”. TRATAMENTO CIRÚRGICO DOS HEMATOMAS HED: feita abertura no osso, e de imediato já é possível observar o hematoma, que após aspirado permite a visualização da dura-máter, que está integra abaixo dele, não necessitando assim de sua abertura, uma vez que esse hematoma se formou fora dela. Após a drenagem, a dura-máter é ancorada na borda do osso com vários pontos para evitar que o hematoma se refaça. HSDa: feita uma abertura do crânio, abaixo do qual encontra-se a dura-máter – e não o hematoma; então, somente após a abertura da dura-máter é que se encontra o hematoma, o qual fica na superfície cortical dentro da dura-máter, junto do encefálo. MECANISMOS DE LESÃO DO HEMATOMA/CONTUSÃO: Quando fala de hematoma subdural agudo e contusão cerebral, as 2 entidades podem se formar por golpe ou por contragolpe. - No golpe o hematoma se forma exatamente onde bateu a cabeça. - No contragolpe o hematoma se forma em local diametralmente oposto ao que foi batido. A liberação da energia cinética se dá do lado que bateu, assim o encéfalo é jogado para o outro lado, e bate na parede craniana, formando a contusão ou hematoma. Para saber se foi por golpe ou contragolpe, na TC deve observar de qual lado está a lesão, e de qual lado está o hematoma/contusão 4 RESUMO ADAPTADO POR SARA ESPELHO STORCH LESÕES PRIMÁRIAS DIFUSAS o CONCUSSÃO CEREBRAL: processo fisiopatológico complexo, resultante de mecanismo traumático não penetrante no encéfalo, levando a alteração funcional do mesmo, sem alterações estruturais no exame de imagem. É dado por mecanismo traumático direto ou indireto, que leva a alteração de orientação, equilíbrio, capacidade de reação, ou declínio de compreensão verbal e memória, com ou sem perda da consciência. Quando o paciente perde a consciência e depois recobra-a, ele geralmente está em Glasgow 13 (mais difícil estar menor que isso) ➔EX: É o paciente que bate a cabeça e desmaia, e ao acordar pode estar com dificuldade de reconhecer pessoas próximas, de lembrar coisas simples.. Essa perda de memória vai sendo recobrada em questão de minutos, horas, dias, ou até semanas. Lembrar que o exame de imagem desse paciente é absolutamente normal! Esse tipo de lesão não traz maiores consequências se for algo isolado. Se for repetitivo pode ter consequências grave EX: Lutadores de MMA quesofrem concussões repetitivas, acaba gerando a chamada de encefalopatia traumática crônica, que pode levar a distúrbios degenerativos do sistema nervoso central, desde síndromes Parkinsonianas, até mesmo síndromes demenciais. o LESÃO AXONAL DIFUSA (LAD): lesão grave, com elevado índice de morbimortalidade. Lesões funcionais em grandes feixes de axônios descendentes e ascendentes. Em alguns graus pode ocorrer lesão anatômica. Ocorre estagnação dos impulsos nervosos nesses feixes descendentes e ascendentes. O paciente chega em coma, e paradoxalmente o seu exame de imagem é normal, ou pode ter no máximo pontos petequeais em estruturas da linha média (corpo caloso, tálamo, tronco encefálico). Dependendo da idade do paciente, esse tipo de lesão acaba tendo boa evolução. É decorrente de mecanismo de aceleração e desaceleração muito violento. NÃO é pelo impacto, é pelo movimento repetitivo de chicote do cérebro! O paciente deve ser colocado na UTI em respiração mecânica, e deve dar tempo para que ele se reestabeleça. NÃO faz tratamento cirúrgico para esse tipo de lesão. o TUMEFAÇÃO CEREBRAL (SWELLING): Vasoplegia cerebral traumática, ocorre ao nível dos capilares. Eles se estagnam em uma determinada dilatação e acabam não trocando oxigênio eficientemente. Forma um edema generalizado do encéfalo. Na tomografia os sulcos, giros e ventrículos estarão completamente apagados. Pode ser bilateral ou unilateral (Pode proporcionar melhora para o paciente fazendo uma craniectomia descompressiva). É decorrente de mecanismo de aceleração e desaceleração muito violento. Alto índice de morbimortalidade Hemisférico (craniectomia descompressiva) ou difuso Monitorização da PIC: Indicado quando paciente sedado e/ou sob risco de HIC OUTRAS LESÕES o HEMATOMA SUBDURAL CRÔNICO: Quadro clínico insidioso e tardio (15 a 90 dias pós TCE). Mais frequente em idosos, etilistas. Nesses pacientes ocorre atrofia cortical, aumentando o espaço entre o córtex e a caixa 5 RESUMO ADAPTADO POR SARA ESPELHO STORCH craniana, faz com que veias pontes que drenam o sangue venoso para o seio sagital superior fiquem mais estiradas. Quando esse paciente bate a cabeça, uma dessas veias pode se romper formando um pequeno hematoma no espaço subdural. Forma um pequeno hematoma subclínico que evolui com envolvimento pseudocápsula e “cresce” decorrente de efeito osmótico e de sangramentos do próprio envoltório. Como as células inflamatórias chegam muito lentamente, se forma uma pseudocápsula ao redor do hematoma, e assim seu conteúdo fica mais osmótico que a periferia, fazendo com que entre líquido nesse hematoma, e ele cresce. A neovascularização da pseudocápsula joga sangue para dentro do “cisto”. Apesar de ser uma imagem hipodensa na tomografia, é um hematoma. Tratamento: Cirúrgico por trepanação o HSA TRAUMÁTICA: Causa mais frequente de hemorragia meníngea. Isolada não apresenta grandes riscos. Na maior parte das vezes o sangue é reabsorvido sem tratamento específico. Esses pacientes podem evoluir tardiamente com cefaleia persistente, sonolência, dificuldade visual e desenvolvimento de hidrocefalia (obstrução das granulações aracnoídeas). Causa muita cefaleia. Esse tipo de hemorragia na tomografia é algo sutil. Descartar a possibilidade de ser a causa → EX: Um paciente tem um acidente automobilístico e é levado ao PS. Na TC tem hemorragia subaracnóidea mais exuberante (Fisher mais alto), e por isso deve investigar melhor as causas desse sangramento, porque essa hemorragia pode não ter sido uma consequência do acidente, e sim a causa dele (quando aneurisma sacular congênito rompe, libera uma quantidade maior de sangue), nesses casos deve fazer a arteriografia para verificar. OBS: Lembrar que HSA espontânea é diferente de HSA traumática! A causa mais frequente de hemorragia subaracnoidea é o trauma de crânio, porém a causa mais frequente de hemorragia subaracnoidea espontânea é o aneurisma sacular congênito. LESÕES SECUNDÁRIAS, Lesão cerebral adicional àquela sofrida no momento do trauma em decorrência de diversos fatores. Podem ser causadas por: Hipotensão arterial; Hipóxia/hipercarbia; HIC; Hipoglicemia; Distúrbios hidroeletrolíticos; Intercorrências infecciosas NO PRONTO-SOCORRO: Quando chega com história de trauma, deve ser abordado PRIMEIRO de acordo com ATLS. Deve estar com via aérea pérvia (capacidade respiratória) e hemodinamicamente estável para poder ir para a tomografia! Trauma de crânio = TOMOGRAFIA➔ NÃO faz ressonância. SINAIS o Anisocoria: pupilas ficam de tamanhos alterados. O que interessa é a pupila midriática (maior), porque isso quer dizer que o III nervo daquele lado está sendo comprimido, e provavelmente essa compressão vem da porção mais medial do lobo temporal (úncus). A midríase ocorre porque as primeiras fibras a serem comprimidas são as parassimpáticas, que são responsáveis pela miose. Se as comprimir, o sistema nervoso simpático se exacerba. O tempo para esse paciente evoluir para uma hemiparesia contralateral e depois coma, é curto. 6 RESUMO ADAPTADO POR SARA ESPELHO STORCH o Sinal do guaxinim (hematoma periorbital): Sinal indireto de fratura de base de crânio. Houve energia cinética grande no trauma, paciente deve ser observado de 12 a 24h intra-hospitalar dependendo do seu Glasgow o Sinal de battle (hematoma retroauricular ou hematoma mastoideo): Sinal indireto de fratura de base de crânio. Houve energia cinética grande no trauma, paciente deve ser observado de 12 a 24h intra-hospitalar dependendo do seu Glasgow DENTRO DA UTI: Preservação da manutenção das condições hemodinâmicas e respiratórias, para manter: ✓ Pressão de perfusão cerebral (PPC) 45mmHg ✓ PAM de 60 a 150mmHg (2x PAD + PAS/3) ✓ PIC de 15 a 20mmHg. OBS: melhor cateter para monitorar é o intraventricular, porém muitas vezes não é possível colocar no ventrículo.
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