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TRAUMA CRANIOENCEFÁLICO Tatyane dos Santos Ferreira 1. INTRODUÇÃO 2. ANATOMIA 2.1 Couro cabeludo 2.2 Crânio 2.3 Meninges 2.4 Encéfalo 3. SISTEMA VENTRICULAR 4. COMPARTIMENTOS INTRACRANIANOS 5. FISIOLOGIA 5.1 Pressão intracraniana 5.2 Doutrina de Monro-Kellie 5.3 Fluxo Sanguíneo Cerebral 6. FISIOPATOLOGIA 6.1 Lesão cerebral primária 6.2 Lesão cerebral secundária 7. CLASSIFICAÇÕES DAS LESÕES CRANIOENCEFÁLICAS 7.1 Gravidade da lesão 7.2 Morfologia 7.2.1 Fraturas de crânio 7.2.2 Lesões intracranianas 7.2.2.1 Lesões cerebrais difusas 7.2.2.1.1 Concussão 7.2.2.1.2 Lesão axonal 7.2.2.1.3 Lesão hipóxia 7.2.2.1.4 Contusões múltiplas 7.2.2.2 Lesões cerebrais focais 7.2.2.2.1 Hematomas epidurais 7.2.2.2.2 Hematomas subdurais 7.2.2.2.3 hematomas intracerebrais 8. TRATAMENTO DE TRAUMA CRANIOENCEFÁLICO LEVE (ESCORE NA GCS 13-15} 9. TRATAMENTO DE TRAUMA CRANIOENCEFÁLICO MODERADO (ESCORE NA GCS 9-12} P O I A U T L M R A T I Z A D O S 10. TRATAMENTO DE TRAUMA CRANIOENCEFÁLICO GRAVE (ESCORE NA GCS < 8} 10.1 Avaliação primária e reanimação 10.1.1 Via aérea e ventilação 10.1.2 Circulação 10.1.3 Exame neurológico 10.2 Avaliação secundária 10.3 Procedimentos diagnósticos 11. TRATAMENTO CLÍNICO DO TRAUMA CRANIOENCEFÁLICO 11.1 Fluidos intravenosos 11.2 Hiperventilação 11.3 Manitol 11.4 Solução salina hipertônica 11.5 Barbitúricos 11.6 Anticonvulsivos 12. TRATAMENTO CIRÚRGICO 12.1 Lesões de couro cabeludo 12.2 Fraturas com afundamento de crânio 12.3 Lesões intracranianas de massa 12.4 Lesões cranioencefálicas penetrantes 13. PROGNÓSTICO 14. MORTE CEREBRAL 1. INTRODUÇÃO O Traumatismo crânio encefálico (TCE) segundo classificação internacional de doenças (CID-10) é qualquer lesão traumática que pode apresentar comprometimento anatômico ou funcional tanto do crânio em si, como do couro cabeludo, meninges e encéfalo. O TCE passou a ser relatado como importante fator de óbito em suas vítimas a partir de 1682, tomando dimensões cada vez maiores devido ao aumento de sua incidência estar diretamente relacionado com a evolução da humanidade e o desenvolvimento da tecnologia (SILVA et al., 2018). As lesões encefálicas decorridas do TCE são divididas em primárias, quando ocorrem no momento do trauma e secundárias quando é tardia ao acidente e dependem de fatores intra e extracerebrais (SILVA et al., 2018). Além disso, o trauma pode ser visto de duas formas, aberto e fechado. O aberto ocorre quando há penetração no crânio, nesse tipo de traumatismo acontece a laceração dos tecidos cranianos, com lesão da massa encefálica por fragmentos ósseos e, é possível ter uma complicação infecciosa intracraniana nesse tipo de lesão. Entretanto, o trauma fechado é aquele causado por um impacto e movimento de aceleração e desaceleração do cérebro dentro da calota craniana, como em acidentes automotores. Esse tipo de traumatismo acontece quando não há lesão estrutural do encéfalo, denominado concussão cerebral, esse traumatismo pode gerar contusão, hemorragias ou edemas, com lesão do parênquima cerebral devido à compressão do tecido cerebral adjacente (DE OLIVEIRA et al., 2020). Etiologicamente, as principais causas do TCE são acidentes automobilísticos, quedas, assaltos e agressões, esportes e recreações e por projétil por arma de fogo (SILVA et al., 2018). Sendo, segundo as Diretrizes de atenção à reabilitação da pessoa com traumatismo cranioencefálico (2015), 50% correspondente a acidentes automobilísticos em que neste grupo a principal faixa etária é de adolescentes e adultos jovens, 30% referente a quedas, neste grupo há elevado número de idosos e 20% de causas violentes que são relacionadas a ferimentos por projétil de arma de fogo e armas brancas. Os principais sinais do traumatismo craniano são: dor de cabeça forte, sonolência, alteração no nível de consciência, esquecimentos, náusea, sangue saindo pelo nariz ou pelas orelhas, falas desconexas, perda da orientação temporal e ferimentos extensos (DE OLIVEIRA et al., 2020). O TCE é considerado a maior causa de morte em todo mundo, sobretudo entre adultos e jovens. No Brasil, estima-se que mais de um milhão de pessoas vivam com sequelas neurológicas devido ao TCE. Os mais acometidos com TCE são indivíduos com menos de 40 anos e do sexo masculino (MAGALHÃES et al., 2017). Dessa forma, a prevenção continua sendo a medida mais eficaz para diminuir a incidência do trauma encefálico, isso inclui a utilização de cinto de segurança e airbags nos automóveis, assim como o uso de capacetes para os motociclistas. Além disso, há uma necessidade de campanhas mais rigorosas em relação ao consumo de álcool e direção, assim como uma educação para um trânsito mais seguro. Já em relação à prevenção de acidentes domésticos, melhor iluminação e readequação do ambiente FONTE:encurtador.com.br/lxELQ domiciliar, uso de barras e piso antiderrapante nos banheiros são maneiras que previnem a ocorrência de possíveis acidentes que podem provocar o TCE (DE OLIVEIRA., 2020). 2. ANATOMIA 2.1 Couro cabeludo O couro cabeludo consiste em pele e tecido subcutâneo, que recobre a calcária (MOORE et al., 2001). Quanto a sua localização, ele se estende-se na frente desde o topo da testa, até a linha nucal superior, na parte detrás. Na lateral, ele projeta-se para baixo em direção ao arco zigomático e meato acústico externo (MOORE et al., 2001; DRAKE et al., 2005). Ele é a cobertura mais externa da cabeça e proporciona proteção tanto ao crânio quanto ao cérebro (PHTLS, 2017). Quanto a sua composição, ele é composto por cinco camadas anatômicas distintas que são: S- pele, C- tecido subcutâneo, A – aponeurose e músculo, L- tecido areolar frouxo e P – pericrânio. Sendo assim, denominada de SCALP (ELLIS III et al., 2006; MARQUES et al., 2017). A pele e o tecido subcutâneo do couro cabeludo são cirurgicamente inseparáveis, diferentes dessas mesmas estruturas em outras regiões do corpo. Muitos folículos pilosos e glândulas sudoríparas são encontradas na gordura subcutânea, abaixo da derme (ELLIS III et al., 2006). A pele é fina exceto na região occipital e contém muitas glânculas sudoríparas e sebáceas e folículos pilosos (MOORE et al., 2001). FONTE:https://br.pinterest.com/pin/827184656545614748/ FONTE: ELLIS III et al., 2006 Quanto a inervação do escalpo anterior as orelhas ela é realizada através do nervo trigêmeo, e na região posterior as orelhas externas, o suprimento nervoso é proveniente dos nervos cutâneos espinhais, C2 e C3 (MOORE et al., 2001). Em relação a vascularização do couro, ele é ricamente vascularizado por artérias cutâneas provenientes do sistema carotídeo interno e externo. Nos quais esses vasos localizam-se no subcutâneo, superficialmente à aponeurose galeal, e formam uma extensa rede de colaterais, de forma que apenas um único pedículo pode ser capaz de manter todo o escalpo nos casos de avulsão total do couro cabeludo. Dentre os pedículos mais importantes, destacam-se os vasos temporal superficial, supraorbitário, supratroclear, auricular posterior e occiptal (MARQUES et al., 2017). Desse modo, as lacerações do couro cabeludo continuam a sangrar profusamente porque as fibras elásticas da gálea aponeurótica subjacente evitam a retração inicial do vaso. Logo, para o seu reparo é necessário que se faça uma técnica de fechamento de duas camadas para aproximar a gálea aponeurótica e as camadas da pele. A camada do pericrânio, caso esteja envolvida, geralmente não pode ser fechada porque se retrai (DRAKE et al., 2005). Assim, devido a sua irrigação abundante, a laceração do couro cabeludo pode levar a grandes perdas sanguíneas, choque hemorrágico e até mesmo a morte (ATLS, 2012). Quanto a fáscia superficial do couro cabeludo, ela é firme, densa, fibroadiposa e estreitamenteaderente à pele, ao músculo epicrânio subjacente e à aponeurose epicrânica. Posteriormente, a fáscia é contínua com a fáscia superficial da parte de trás do pescoço e lateralmente é prolongada para a região temporal, onde é de textura mais flexível (STANDRING, 2010). 2.2 Crânio FONTE: https://bityli.com/oiF76 A cabeça é constituída por um conjunto de 22 ossos, excluindo-se os ossículos da audição. Todos esses ossos, excluindo-se a mandíbula, são fixados entre si por suturas, são imóveis e formam o crânio. O crânio pode ser subdividido em uma parte superior (calvária e base do crânio), que envolve a cavidade do crânio contendo o encéfalo (neurocrânio) e em uma parte inferior, o esqueleto da face (viscerocrânio) (DRAKE et al., 2005). O neurocrânio (caixa ou cérebro ou calvaria) fornece um invólucro para o cérebro e as meninges encefálicas, partes proximais dos nervos cranianos e vasos sanguíneos. No adulto, o neurocrânio é formado por oitos ossos: 1 frontal, 2 parietais, 2 temporais, 1 occipital, 1 esfenóide e 1 etmóide. Quanto ao esqueleto da face (viscerocranio ou esplancnocrânio), ele forma a parte anterior do crânio contendo as orbitas e as cavidades nasais e inclui a maxila e a mandíbula. O esqueleto da face consiste de 14 ossos irregulares: 2 lacrimais, 2 nasais, 2 maxilares, 2 zigomáticos, 2 palatinos, 2 conchas nasais inferiores, 1 mandíbula e 1 vômer (MOORE et al., 2001). Além disso, na base do crânio há diversas aberturas pequenas, denominadas forames, que fornecem passagens para os vasos sanguíneos e os nervos cranianos, além disso ele apresenta uma grande abertura, forame magno, que serve de passagem para o tronco e a medula espinhal (PHTLS, 2017). A cavidade craniana contém o cérebro e as porções intracranianas dos nervos cranianos e espinais; os vasos sanguíneos que suprem e drenam o cérebro e a medula hematopoética dos ossos sobrejacentes; as meninges (dura-máter, aracnoide-máter e pia-máter) e o líquido cerebrospinal. Internamente, a base do crânio é dividida em fossa anterior, média e posterior do crânio, que contêm os lobos frontal e temporal dos hemisférios cerebrais e o cerebelo, respectivamente. Os forames nos ossos da base do crânio e do esqueleto da face dão passagem a feixes neurovasculares que podem ser comprometidos nestes locais por uma doença ou traumatismo (STANDRING, 2010). Logo, diante da irregularidade presente na base do crânio, há possibilidade de lesões quando o cérebro se desloca e desliza no interior do crânio devido aos movimentos de aceleração e desaceleração (ATLS, 2012). 2.3 Meninges O cérebro, assim como a medula espinal, é envolvido por três camadas de membranas denominadas de meninges, a qual possui uma camada externa firme, a qual é denominada de dura-máter, é composta por tecido fibroso rígido e está aplicada a tábua interna, uma camada média delicada chamada de aracnóide-máter e por fim uma camada interna firmemente aderida à superfície do encéfalo, a pia-máter (MOORE et al., 2001; DRAKE et al., 2005; MACHADO, 2007; ATLS, 2012). A aracnóide e a pia-máter, que no embrião constituem um só folheto, são, às vezes, consideradas como uma formação única, a leptomeninge, ou meninge fina, distinta da paquimeninge, ou meninge espessa, constituída pela dura-máter (MACHADO, 2007). No crânio, a dura-máter é um revestimento espesso, rijo e externo do encéfalo que é constituída de uma camada periosteal externa e uma camada meníngea interna. A camada periosteal externa é firmemente fixada ao crânio, representa o periósteo da cavidade craniana e é contínua com o periósteo da superfície externa do crânio no forame magno e outros forames intracranianos. Já a camada meníngea interna está em íntimo contato com a aracnóide-máter e é contínua com a dura-máter espinal, através do forame magno (MOORE et al., 2001; DRAKE et al., 2005; MACHADO, 2007). Entretanto, ao contrário do periósteo de outras áreas, o folheto externo da dura-máter não tem capacidade osteogênica, o que dificulta a consolidação de fraturas no crânio e torna impossível a regeneração de perdas ósseas na abóbada craniana. Esta peculiaridade, entretanto, é vantajosa, pois a formação de um calo ósseo na superfície interna dos ossos do crânio pode constituir grave fator de irritação do tecido nervoso. Além disso, ao contrário das outras meninges, é ricamente inervada. Como o encéfalo não possui terminações nervosas sensitivas, toda ou quase toda a sensibilidade intracraniana se localiza na dura-máter, responsável, assim, pela maioria das dores de cabeça (MACHADO, 2007). Cabe destacar também que a camada meníngea está intimamente fundida com a camada periosteal e não pode ser separada dela. Entretanto, essas camadas podem ser facilmente separadas dos ossos do crânio, como por exemplo quando a parte superior da calvária é removida, até mesmo diante de um golpe na cabeça em que pode haver separação das duas camadas sem ocorrer a fratura dos ossos do crânio (MOORE., 2001). Em relação a aracnóide-máter, ela é uma membrana delgada avascular, contra a superfície interna da dura-máter, mas não aderente a ela. A partir de sua superfície interna, processos ou trabéculas finas estendem-se para baixo, atravessam o espaço subaracnóideo e ficam contínuos com a pia-máter. A aracnóide-máter encontra-se contra a dura-máter e não penetra nos sulcos ou fissuras do encéfalo, exceto na fissura longitudinal, entre os dois hemisférios cerebrais (DRAKE et al., 2005). Por último, a pia-máter é uma membrana fina e delicada que reveste intimamente a superfície do encéfalo e da medula espinhal e dá resistência a esses órgãos, pois o tecido nervoso é de consistência muito mole (MACHADO, 2007). Segue os contornos do encéfalo, entrando nos sulcos e fissuras em sua superfície e também se aplica intimamente às raízes dos nervos cranianos em suas origens (DRAKE et al., 2005). Há uma disposição peculiar das meninges, juntamente com os espaços reais e em potencial na cavidade do crânio. Um espaço em potencial está relacionado com a duramáter, enquanto um espaço real existe entre a aracnóidemáter e a pia-máter. O espaço em potencial relacionado com a dura-máter é o espaço extra dural — o exterior da camada periosteal da dura- máter está firmemente aderido aos ossos que envolvem a cavidade do crânio, resultando em um espaço em potencial entre estas duas estruturas. Este espaço em potencial pode tornar-se um espaço real cheio de líquido quando um evento traumático resulta em hemorragia vascular. O sangramento no espaço extra dural por ruptura de uma artéria meníngea ou uma laceração de seio venoso durai resulta em hematoma extra dural. O sangramento por laceração de uma veia quando esta entra em um seio venoso dural resulta em hematoma subdural (DRAKE et al., 2005). Profundamente à aracnóide-máter está o único espaço cheio de líquido de ocorrência natural associado às meninges. Tal condição deve-se ao fato de que a aracnóide-máter está unida à superfície interna da dura-máter e não segue o contorno do encéfalo, enquanto a pia- máter, estando contra a superfície do encéfalo, segue de perto os sulcos e fissuras de sua superfície. Cria-se, portanto, um espaço estreito, o qual é chamado de espaço subaracnóideo, que está localizado entre estas duas membranas (DRAKE et al., 2005). O espaço subaracnóideo envolve o encéfalo e a medula espinal e contém o líquido cérebro-espinhal, ou liquor, havendo, assim uma ampla comunicação entre o espaço subaracnóideo do encéfalo e da medula (MACHADO, 2007). O líquido cerebroespinal é produzido pelo plexo coróideo, primariamente nos ventrículos encefálicos. É um líquido claro, FONTE: ATLS, 2012 incolor e sem células que circula através do espaço subaracnóideo que circunda o encéfalo e a medula espinal (DRAKE et al., 2005). 2.4 Encéfalo O encéfalo é constituído por cérebro, cerebeloe tronco cerebral. Sendo o cérebro composto pelos hemisférios direito e esquerdo, os quais são separados pela foice (MACHADO, 2007; DRAKE et al., 2012). O hemisfério esquerdo possui centros da linguagem em virtualmente todos os indivíduos destros e em mais de 85% dos indivíduos canhotos. O lobo frontal controla as funções de execução, as emoções, as funções motoras e, no lado dominante, a expressão da fala (área motora da fala). Já o lobo parietal dirige a função sensorial e a orientação espacial, o lobo temporal regula certas funções da memória. E, por fim o lobo occipital, que é responsável pela visão (ATLS, 2012). Quanto ao tronco cerebral, ele interpõe-se entre a medula e o diencéfalo, situando-se ventralmente ao cerebelo (MACHADO, 2007). O tronco cerebral é composto pelo mesencéfalo, ponte e bulbo em que o mesencéfalo e a parte superior da ponte contêm o sistema ativador da FONTE: https://bityli.com/HtB0Q FONTE: encurtador.com.br/nBUV9 formação reticular responsável pelo estado de alerta. No bulbo, que continua para formar a medula espinhal, alojam-se centros cardiorrespiratórios vitais. Mesmo pequenas lesões no tronco cerebral podem ser acompanhadas de défice neurológico grave (ATLS, 2012). O bulbo situa-se caudalmente, o mesencéfalo cranialmente e a ponte está situada entre ambos. Quanto ao bulbo, como não existe uma linha de demarcação nítida entre medula e bulbo, considera-se que o limite entre eles está em um plano horizontal que passa imediatamente acima do filamento radicular mais cranial do primeiro nervo cervical, o que corresponde ao nível do forame magno do occipital (MACHADO, 2007). Quanto a ponte, ela é a parte do tronco encefálico interposta entrego bulbo e o mesencéfalo. Está situada ventralmente ao cerebelo e repousa sobre a parte basilar do osso occipital e o dorso da sela túrcica do esfenóide. A parte ventral da ponte é separada do bulbo pelo sulco bulbo-pontino, de onde emergem de cada lado a partir da linha mediana o VI, VII e VIII pares cranianos (MACHADO, 2007). Por fim, o mesencéfalo interpõe-se entre a ponte e o cérebro, do qual é separado por um plano que liga os corpos mamilares, pertencentes ao diencéfalo, à comissura posterior. É atravessado por um estreito canal, o aqueduto cerebral, que une o III ao IV ventrículo. Aparte do mesencéfalo situado dorsalmente ao aqueduto é o tecto do mesencéfalo. ventralmente temos os dois pedúnculos cerebrais, que, por sua vez, se dividem em uma parte dorsal, predominantemente celular, o tegmento, e outra ventral, formada de fibras longitudinais, a base do pedúnculo (MACHADO, 2007). 0 cerebelo, órgão do sistema nervoso suprasegmentar. deriva da parte dorsal do metencéfalo e fica situado dorsalmente ao bulbo e à ponte, contribuindo para a formação do tecto do IV ventrículo. Repousa sobre a fossa cerebelar do osso occipital e está separado do lobo occipital do cérebro por uma prega da dura-máter denominada tenda do cerebelo. Liga-se à medula e ao bulbo pelo pedúnculo cerebelar inferior e à ponte e mesencéfalo pelos pedúnculos cerebelares médio e superior, respectivamente (MACHADO, 2007). O cerebelo, responsável principalmente pela coordenação e pelo equilíbrio, projeta-se posteriormente, na fossa posterior, e forma conexões com a medula, o tronco cerebral e, em última análise, com os hemisférios cerebrais (ATLS, 2012). Componente do sistema nervoso central (SNC), o cerebelo possui cerca de 80% dos neurônios presentes no SNC, porém seu peso corresponde a apenas 10% do peso total do SNC. Anatomicamente, o cerebelo é dividido em hemisférios cerebelares e verme, além disso o lobo cerebelar pode ser dividido em lobo anterior, lobo posterior e lobo floculo-nodular (DAMIANI et al., 2016). Em relação ao desenvolvimento do encéfalo, ele pode ser dividido em cinco partes contínuas em que de rostral (ou cranial) a caudal, são: Telencéfalo, diencéfalo, mesencéfalo, metencéfalo e mielencéfalo (DRAKE et al., 2005). O telencéfalo, que se transforma nos grandes hemisférios encefálicos cuja superfície consiste em elevações (giros) e depressões (sulcos) e é parcialmente separada por uma fissura longitudinal profunda, que preenche a área do crânio acima do tentório do cerebelo, e são subdivididos em lobos devido à sua posição (DRAKE et al., 2005). FONTE: https://bityli.com/rJ9UM O diencéfalo, que está encoberto no encéfalo do adulto pelos hemisférios encefálicos, consiste no tálamo, hipotálamo e outras estruturas relacionadas, sendo considerado, assim, a parte mais rostral do tronco encefálico (DRAKE et al., 2005). O mesencéfalo, que é a primeira parte do tronco encefálico vista quando um encéfalo adulto intacto é examinado. Situa-se na junção entre as fossas média e posterior do crânio e em ambas (DRAKE et al., 2005). O metencéfalo, que dá origem ao cerebelo (consistindo em dois hemisférios laterais e uma parte na linha média na fossa posterior do crânio, abaixo do tentório do cerebelo) e a ponte (anterior ao cerebelo, sendo uma parte abaulada do tronco encefálico na parte mais anterior da fossa posterior contra o clivo e o dorso da sela) (DRAKE et al., 2005).Por último, o mielencéfalo (bulbo) que é a parte mais caudal do tronco encefálico e termina no forame magno ou nas radículas mais superiores do primeiro nervo cervical, além disso é nele que os nervos cranianos VI a XII estão fixados (DRAKE et al., 2005). 3. SISTEMA VENTRICULAR O sistema ventricular encefálico é composto por uma série de espaços e canais interligados no encéfalo, que derivam da luz central do tubo neural embrionário e das vesículas encefálicas a que ele dá origem. Cada hemisfério cerebral possui um grande ventrículo lateral que se comunica próximo a sua extremidade rostral com o terceiro ventrículo pelo forame interventricular ou também denominado de forame de Monro (STANDRING, 2010). Além disso, o sistema ventricular contém o LCS, o qual é secretado sobretudo pelos plexos corióideos que estão localizados nos ventrículos laterais, no terceiro e no quarto ventrículos. Desse modo, esse líquido flui dos ventrículos laterais para o terceiro ventrículo, passa depois pelo aqueduto do mesencéfalo e, assim, chega ao quarto ventrículo. Posteriormente, esse líquido sai do quarto ventrículo pela abertura mediana do quarto ventrículo por meio do forame de Magendie e pela abertura lateral do quarto ventrículo pelo forame de Luschka para, assim chegar ao espaço subaracnóideo que circunda o encéfalo (STANDRING, 2010). A presença de sangue nesse líquido pode prejudicar a reabsorção do mesmo, produzindo aumento da pressão intracraniana. Além disso, o edema e as lesões de massa, como hematomas, são prejudiciais, pois podem provocar obliteração ou desvio dos ventrículos que frequentemente são simétricos. Tais alterações podem ser facilmente identificadas na Tomografia Computadorizada (TC) de crânio (ATLS, 2012). 4. COMPARTIMENTOS INTRACRANIANOS A cavidade do crânio é constituída pelo encéfalo, pelas porções intracranianas dos nervos cranianos e espinais, pelos vasos sanguíneos, pelas meninges e pelo líquido cerebrospinal. Suas paredes são formadas por partes dos ossos frontais, etmoide, parietais, esfenoides, temporais e occipitais (STANDRING, 2010). O cérebro é dividido em regiões por divisórias de meninges bem resistentes de modo que a tenda do cerebelo ou tentório divide a cabeça em compartimento supratentorial e o compartimento infratentorial. O mesencéfalo passa através de uma abertura no tentório conhecida como incisura da tenda do cerebelo. O nervo óculo motor (III nervo craniano) passa ao longo da margem da tenda do cerebelo, podendo ser comprimido contra ela durante uma herniação do lobo temporal. Fibras parassimpáticas, que são constritoras das pupilas, repousam sobre a superfície do III nervo craniano. A compressão dessas fibras durante a herniação causa dilatação pupilardevida à atividade simpática sem oposição, frequentemente chamada de pupila dilatada (ATLS, 2012). A região do cérebro que habitualmente hérnia através da incisura tentorial é a parte mediai do lobo temporal, conhecida como uncus. Herniação do uncus também causa compressão do trato córtico-espinhal (piramidal) do mesencéfalo. O trato motor cruza para o lado oposto do forame magno, e a sua compressão resulta em défice motor do lado oposto do corpo (hemiplegia contralateral). A dilatação da pupila ipsilateral associada à hemilegia contralateral é a síndrome clássica de herniação do uncus. Raramente, a lesão de massa pode empurrar o lado oposto do mesencéfalo contra a margem da tenda do cerebelo, provocando hemiplegia e dilatação da pupila no mesmo lado do hematoma (ATLS, 2012). 5. FISIOLOGIA Os conceitos fisiológicos relacionados ao trauma cranioencefálico incluem a pressão intracraniana, a doutrina de Monro-Kellie e o fluxo sanguíneo cerebral (ATLS, 2018). 5.1 Pressão intracraniana Em condições fisiológicas o conteúdo intracraniano é composto por: parênquima cerebral (80%), líquor (10%) e sangue (10%). Onde o compartimento intracraniano é protegido por uma estrutura rígida, o crânio, com o volume interno fixo. Sendo a manutenção da pressão intracraniana (PIC) em seus valores normais depende da preservação do volume intracraniano. Entretanto, estruturas patológicas podem estra presentes dentro desse compartimento, dentre elas lesões de massa, abcessos e hematomas provocando, assim, o aumento de volume de um componente intracraniano, de modo que obriga à diminuição dos outros componentes, para que não ocorra aumento da PIC. O processo de compensação frequentemente ocorre às custas da diminuição do volume de liquor e sangue, uma vez que a massa cerebral é menos compressível. Cerca de 30% da capacidade de diminuição do volume intracraniano é representada pelo líquor, que pode ser deslocado para o espaço espinhal subaracnóide ou absorvido pelas granulações aracnóides. Quando se esgotam os mecanismos de compensação, como consequência ocorre o aumento da PIC. A elevação da PIC, por sua vez, pode provocar a diminuição da perfusão tecidual, levando a agravamento do dano celular por isquemia, tendo como consequência a morte encefálica (GIUGNO et al., 2003). A PIC elevada pode reduzir a perfusão cerebral e causar ou exacerbar a isquemia. O valor da PIC normal no estado de repouso é aproximadamente 10 mm Hg. Já as pressões maiores do que 20 mm Hg, em especial se mantidas e refratárias ao tratamento, estão associadas a pior resultado (ATLS, 2018). A hipertensão intracraniana constitui-se na elevação quantitativa de conteúdo intracraniano, seja decorrente de edema ou de hemorragia. Ela está frequentemente associada aos traumas cranioencefálicos, os quais são responsáveis por cerca de 30% das mortes desencadeadas por trauma (FLORIDO et al., 2019). Dessa forma, após lesão cerebral traumática, a pressão intracraniana pode ser elevada por causa de um efeito de massa de hematomas intracranianos, contusões, edema cerebral difuso ou hidrocefalia (HUTCHINSON et al., 2016). A hipertensão intracraniana após o TCE está associada a um risco aumentado de morte na maioria dos estudos. Logo, o monitoramento da pressão intracraniana e a administração de intervenções para diminuir a pressão intracraniana são rotineiramente utilizados em pacientes com TCE, apesar da falta de evidência de nível (HUTCHINSON et al., 2016). Quanto a hipertensão intracraniana, a realização da craniectomia descompressiva é considerada como o método cirúrgico mais utilizado no tratamento. Inicialmente foi utilizada por Kocher em 1901 e, desde então, sua técnica continua a ser aprimorada e estudada. O método consiste basicamente na remoção de um retalho ósseo permitindo a expansão cerebral e consequente diminuição da HIC, mitigando os danos comumente irreversíveis a esse desequilíbrio (MOREIRA et al., 2017). FONTE: https://bityli.com/xIqeR 5.2 Doutrina de Moron-Kellie A discussão sistemática da pressão intracraniana e seus determinantes remonta ao trabalho do anatomista escocês Alexander Monro e de um cirurgião compatriota, George Kellie, na virada do século XVIII. Seu modelo de PIC, a doutrina Monro-Kellie, que mais tarde foi refinada pelo neurocirurgião americano Harvey Cushing, detalha os princípios básicos que governam a PIC (HARARY et al., 2018). O volume da cavidade intracraniana é constante em condições normais e, portanto, a manutenção de uma PIC constante depende do volume de seu conteúdo. O conteúdo intracraniano é constituído por tecido cerebral, sangue e líquido cefalorraquidiano (LCR). Como o tecido cerebral é incompressível, a PIC constante exige o equilíbrio da entrada e saída dos componentes fluidos, ou seja, deve haver um equilíbrio entre a entrada de sangue arterial e a saída de sangue venoso da cabeça, bem como entre a taxa de produção e drenagem de LCR (HARARY et al., 2018). Desse modo, o aumento da pressão intracraniana pode, portanto, resultar de qualquer mecanismo que aumente o volume de qualquer um dos três componentes. Além disso, a PIC pode ser elevada pela adição de um quarto componente, por exemplo massa, hemorragia intracraniana ou edema cerebral que se expande além da capacidade do sistema de compensar, diminuindo o volume de outro (HARARY et al., 2018). Assim sendo, de acordo com a doutrina Monro-Kellie, já que o crânio é uma cavidade fechada com volume fixo, qualquer aumento volumétrico de conteúdo intracraniano de edema ou hemorragia resultará em um aumento da PIC. Contudo, antes de uma elevação na PIC, o organismo possui a capacidade de compensar o volume adicional de uma lesão ao interferir nos volumes intracranianos, deslocando o líquido cefalorraquidiano e diminuindo o volume sanguíneo cerebral, sendo essa a base para a complacência intracraniana. Porém, uma vez esgotados os mecanismos compensatórios, a PIC começa a subir em resposta a um aumento adicional do volume intracraniano, resultando em hipertensão intracraniana (HIC). A elevação para valores maiores que 20 mmHg já compromete a perfusão cerebral e valores maiores que 40 mmHg tem letalidade de 55,6%8 (FLORIDO et al., 2019). Assim, na fase inicial após o trauma, uma massa tal como um coágulo sanguíneo pode aumentar e a PIC permanecer normal. Contudo, uma vez atingido o limite de deslocamento do LCR e do sangue intravascular, a PIC aumenta rapidamente (ATLS, 2012). https://bityli.com/xIqeR 5.3 Fluxo sanguíneo cerebral As alterações do fluxo sanguíneo cerebral (FSC) são importantes na fisiopatologia da HIC, fundamentalmente no dano cerebral por trauma craniano (GIUGNO et al., 2003). De tal modo que a lesão cerebral suficientemente grave para produzir coma pode causar redução importante do fluxo no decorrer das primeiras horas após o trauma. Frequentemente o fluxo aumenta nos próximos 2 a 3 dias, contudo nos doentes que permanecem em coma, ele permanece abaixo do normal por dias ou semanas após o trauma. Estudos mostram que esses níveis baixos são inadequados para satisfazer a demanda metabólica do cérebro precocemente após o trauma. Aliás, por razões conhecidas e desconhecidas, a isquemia cerebral regional, e mesmo global, são comuns após o trauma cranioencefálico grave (ATLS, 2012). Geralmente, os vasos cerebrais pré-capilares possuem a capacidade de contrair ou dilatar reflexamente em resposta a mudanças na pressão arterial média (PAM). Clinicamente, a pressão de perfusão cerebral (PPC) é caracterizada como pressão sanguínea arterial média (PAM) menos a pressão intracraniana (PPC = PAM - PIC). A PAM entre 50 e 150 mm Hg é " autorregulada" para manter o FSC constante (autorregularão pressórica) (ATLS, 2012). Sendo assim, o FSC possui relação com a pressão de perfusão cerebral e responde a variações da PAM, pressão parcial de gás carbônicoarterial (paCO2) e pressão parcial de oxigênio arterial (paO2). Queda na paO2 provoca vasodilatação progressiva, podendo ocorrer um aumento de até 300% no FSC, quando a paO2 atinge 25 mmHg. O gás carbônico provoca vasodilatação cerebral. Para cada mmHg diminuído na paCO2, corresponde um decréscimo de 3% no FSC. As respostas às alterações na paCO2 ocorrem de forma rápida, sendo atingido o ponto de equilíbrio em poucos minutos. O FSC é também controlado pelo metabolismo regional, sendo tanto maior o FSC quanto maior o metabolismo de determinada área (GIUGNO et al., 2003). O trauma cranioencefálico grave pode prejudicar a autorregularão pressórica de tal modo que o cérebro fica incapaz de compensar adequadamente as mudanças na PPC. Assim, se a PAM for muito baixa pode ocorrer isquemia e infarto e se a PAM for muito alta pode ocorrer inchaço com aumento da PIC. Os vasos cerebrais também normalmente se contraem ou dilatam em resposta a alterações na pressão parcial de oxigênio (Pa02) ou na pressão parcial de dióxido de carbono (PaC02) do sangue (autorregularão química) (ATLS, 2012). Portanto, a lesão secundária pode ocorrer por hipotensão, hipóxia, hipercapnia ou por hipocapnia iatrogênica. Logo, deve ser feito todo esforço para aumentar perfusão e fluxo sanguíneo cerebrais pela redução da pressão intracraniana elevada, mantendo o volume intravascular normal, mantendo a PAM normal e restaurando a oxigenação normal e a normocapnia. Dessa forma, os hematomas e outras lesões que aumentam o volume intracraniano devem ser precocemente evacuados como um caminho de melhorar o FSC, é recomendada a manutenção da pressão de perfusão cerebral em níveis normais, entretanto, a PPC não é igual nem assegura o FSC. Uma vez que os mecanismos de compensação se encontram esgotados e existe um aumento exponencial da PIC, a perfusão cerebral fica comprometida (ATLS, 2012). 6. FISIOPATOLOGIA A lesão encefálica definitiva que se estabelece após o TCE é o resultado de mecanismos fisiopatológicos que se iniciam com o acidente e estendem-se por dias ou semanas. Esses dois mecanismos costumam associar-se em um mesmo paciente, embora, geralmente exista o predomínio de um tipo. Sendo assim, o trauma cranioencefálico pode ser dividido em duas categorias que são: Primário e secundário (ANDRADE et al., 2009). 6.1 Lesão cerebral primária É o trauma direto no cérebro e estruturas vasculares associadas que ocorre na ocasião do trauma original. Nela compreendem as contusões, hemorragias, lacerações e outras lesões mecânicas diretas no cérebro, sua vasculatura e suas coberturas. Como o tecido neural não se regenera bem, existe uma expectativa mínima de recuperação da estrutura e da função perdida devido à lesão primária (PTHLS, 2017). Logo, a lesão primária é o resultado direto das forças mecânicas que atuam no momento do impacto inicial e que são transmitidas ao crânio e ao seu conteúdo (OLIVEIRA et al., 2012). No paciente com ferimentos por projétil de arma de fogo ou arma branca que penetram o crânio, a lesão primária ocorre em virtude do trauma direto ao parênquima encefálico. Por outro lado, nos traumatismos fechados, caracterizados quando não ocorre contato com o conteúdo intracraniano, as lesões primárias podem resultar da movimentação cerebral associada à energia cinética do acidente. Nas lesões decorrentes de forças de aceleração e desaceleração não é necessário o impacto do crânio contra estruturas externas. Como o encéfalo e a caixa craniana possuem densidades diferentes, quando submetidos às mesmas forças inerciais, respondem de forma desigual. Esse descompasso de movimentos pode promover a ruptura de veias cerebrais que desembocam nos seios durais, bem como impacto e laceração do parênquima contra as estruturas rígidas do crânio. Somado a esse mecanismo como a região central do encéfalo é relativamente fixa em virtude da presença do tronco encefálico, as regiões periféricas do cérebro e cerebelo tendem a apresentar maior amplitude de movimento. Essa diferença na amplitude dos movimentos entre a região central e a periférica do encéfalo gera o estiramento de axônios e de vasos sanguíneos cerebrais, o que pode resultar desde uma disfunção temporária até ruptura dessas estruturas (ANDRADE et al., 2009). 6.2 Lesão cerebral secundária São os processos de lesão contínuos que são ativados pela lesão primária. Na ocasião da lesão, processos fisiopatológicos são iniciados que continuam a lesionar o cérebro durantes horas, dias e semanas após o traumatismo inicial (PTHLS, 2017). Dessa forma, as lesões secundárias são aquelas que se iniciam após o momento da agressão resultante da interação de fatores intra e extra cerebrais, levando à morte de células que não foram afetadas no momento exato do acidente, mas que sofrem consequências posteriores (ANDRADE et al., 2009; MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2015). Os mecanismos da lesão secundária incluem o seguinte (PTHLS, 2017): • Efeito em massa e subsequente PIC elevada e alteração mecânica do cérebro, que podem levar à herniação, morbidade e mortalidade significativas se não tratados. • Hipóxia, que resulta do fornecimento inadequado de oxigênio para o cérebro lesionado causada por falha ventilatória ou circulatória ou efeito em massa. • Hipotensão e fluxo sanguíneo cerebral inadequado, que podem causar fornecimento inadequado de oxigênio para o cérebro. Baixo fluxo sanguíneo cerebral também reduz o fornecimento de substrato energético (p. ex., glicose) para o cérebro lesionado e resulta em substrato inadequado (p. ex., glicose). • Mecanismos celulares, incluindo falha energética, inflamação e cascatas "suicidas", que podem ser acionados no nível celular, chamada apoptose. 7. CLASSIFICAÇÃO DAS LESÕES CRANIOENCEFÁLICAS As lesões cranioencefálicas podem ser classificadas de várias maneiras. Sendo assim, entre essas classificações, a que pode ser utilizada é a seguinte: (ATLS, 2018; BRENNAN et al., 2018). 7.1 Gravidade da lesão Sendo assim, para avaliar a gravidade do trauma cranioencefálico como leve, moderado ou forte é necessário utilizar o Escore da Escala (GCS) o qual é apresentado a seguir: Escala de coma de Glasgow (GCS) Escala original Escala revisada Score ABERTURA OCULAR Espontânea A estículo Verbal A estímulo doloroso Ausente ABERTURA OCULAR Espontânea Ao som à pressão Ausente Não testável 4 3 2 1 NT RESPOSTA VERBAL Orientada Confuso Palavras inapropriadas Sons incompreensíveis Ausente RESPOSTA VERBAL Orientado Confuso Palavras Sons Ausente Não Testável 5 4 3 2 1 NT MELHOR RESPOSTA MOTORA MELHOR RESPOSTA MOTORA 6 Classificações de lesão cerebral traumática Gravidade Leve Moderado Forte GCS Score 13-15 GCS Score 9-12 GCS Score <8 Morfologia Fraturas do crânio De calota Linear vs estrelada Com ou sem afundamento Basilares Com ou sem perda de LCR Com ou sem paralisia de VII nervo Lesões intracranianas Focais Epidural Subdural Intracerebral Difusas Concussão Contusões múltiplas Lesão hipóxica/ isquêmica Lesão axonal Obedece a comandos Localiza dor Flexão normal (retirada) Flesão anormal (decorticação) Extensão (descerebração) Ausente (flacidez) Obedece a comandos Localizadora Flexão normal Flexão anormal Extensão Ausente Não testável 5 4 3 2 1 NT (ATLS, 2018). Dessa forma, uma pontuação GCS igual ou menor que 8 tornou-se a definição frequentemente aceita de coma ou trauma cranioencefálico grave. Já os pacientes que obtiverem pontuação de 9 a 12, são classificados como trauma cranioencefálico moderado. E, por fim a pontuação de 13 a 15 os indivíduos são caracterizados por apresentar trauma cranioencefálico leve (ATLS, 2018). Ao avaliar o escore na GCS, quando existe assimetriadireita/esquerda ou superior/inferior, é importante que se use a melhor resposta motora no cálculo do escore porque esta é o preditor mais confiável do resultado. Entretanto, as respostas efetivas em ambos lados do corpo, face, braços e pernas ainda devem ser registradas (ATLS, 2018). 7.2 Morfologia O trauma na cabeça pode incluir fraturas do crânio e lesões intracranianas, como contusões, hematomas, lesões por difusão e inchaço resultante (edema / hiperemia). 7.2.1 Fraturas do crânio As fraturas de crânio podem ocorrer na calota ou na base do crânio e elas podem ser lineares ou estreladas, além disso podem ser abertas ou fechadas. (ATLS, 2018). Sendo a fratura da abóbada craniana mais comum à do tipo linear a qual está associada a uma baixa incidência de lesão intracraniana (FONSECA et al., 2015). Entretanto, em relação as fraturas da base do crânio, elas frequentemente necessitam de uma tomografia computadorizada com "janela" para osso para a identificação (ATLS, 2018). Os sinais clínicos de uma fratura de base de crânio são: a equimose periorbital (olhos de guaxinim), a equimose retroauricular (sinal de Battle), fístula liquórica através do nariz (rinorreia) ou do ouvido (otorreia) e disfunção dos sétimo e oitavo nervos cranianos (paralisia facial e perda de audição) que podem ocorrer imediatamente ou poucos dias após a lesão inicial. Sendo assim, na presença desses sinais deve-se aumentar a suspeita e ajudar na identificação das fraturas de base do crânio (ATLS, 2018). Quanto a fratura da base do crânio, ela é composta por cinco ossos, os quais são: a placa orbital do osso frontal, a placa cribriforme do osso etmoide, o osso esfenoide, osso occipital e as porções escamosa e petrosa do osso temporal. Logo, as fraturas da base do crânio podem envolver as fossas anterior, média ou posterior. Sendo as regiões mais recorrente afetadas nos casos decorrentes de trauma devido à alta velocidade, a porção frontal e anterior da base do crânio (FONSECA et al., 2015). Um cuidado que se deve atentar são as fraturas da base do crânio que atravessam os canais carotídeos, pois elas podem lesar as artérias carótidas (dissecção, pseudoaneurisma ou trombose). Logo, deve-se considerar a realização de arteriografia cerebral (angio TC [ATC] ou por cateterismo arterial) (ATLS, 2018). Quanto as fraturas de calota, a convexidade da calvária - a parte do crânio semelhante a uma abobada — distribui, e assim minimiza, os efeitos de um golpe no crânio. Contudo. golpes violentos na cabeça nas áreas finas do crânio provavelmente vão produzir fraturas do crânio com afundamento. nas quais um fragmento ósseo é deslocado para dentro para comprimir ou lesar o cérebro. As fraturas lineares do crânio. o tipo mais frequente, normalmente ocorrem no ponto de impacto, mas as linhas de fratura frequentemente irradiam-se para longe deste ponto em duas ou mais direções. Nas fraturas cominutivas, o osso é quebrado em diversos pedaços. Se a área da calvária é espessa no local do impacto. o osso normalmente se curva para dentro sem sofrer fratura: contudo, uma fratura pode ocorrer a alguma distância do local do trauma direto onde a calvária é mais fina. Em uma fratura de contrecoup (contragolpe). não ocorre fratura no ponto de impacto mas no lado oposto do crânio (MOORE et al., 2001). FONTE: MOORE et al., 2001 O ptério é um ponto de referência clínico importante porque fica sobre os ramos anteriores dos vasos meníngeos médios, que se situam nos sulcos na face interna da parede lateral da calvária. Mais precisamente, o Ptério localiza-se na junção da asa maior do esfenóide, parte escamosa do temporal, frontal e parietal, sobrepõem-se ao trajeto da divisão anterior da artéria meníngea média. Logo, o ptério está à largura de dois dedos transversos acima do arco zigomático e à largura de um polegar atrás do processo frontal do zigomático. Um golpe no lado da cabeça pode fraturar os ossos finos que formam o ptério, rompendo o ramo anterior da artéria meníngea média que cruza o ptério. O hematoma resultante (acúmulo de sangue) exerce pressão sobre o córtex cerebral subjacente. A hemorragia da artéria meníngea média não tratada pode causar morte em poucas horas (MOORE et al., 2001). Fraturas de crânio abertas ou compostas podem estabelecer comunicação direta entre a laceração do couro cabeludo e a superfície cerebral, pois geralmente a dura-máter encontra-se rompida. Portanto, é necessário atenção as fraturas de crânio de modo que elas não devem ser subestimadas, já que para que ela ocorra é necessária a aplicação de força considerável. Aliás, cabe salientar que uma fratura linear da calota craniana em pacientes conscientes aumenta em cerca de 400 vezes a possibilidade de ocorrência de hematoma intracraniano (ATLS, 2018). 7.2.2 Lesões intracranianas As lesões intracranianas podem ser classificadas como focais ou difusas, porém as duas formas geralmente coexistem. 7.2.2.1 Lesões cerebrais difusas As lesões cerebrais difusas são causadas por esticão, esmagamento ou efeito direto no tecido cerebral. Este tipo de lesão inclui concussão, lesão axonal, lesão hipóxia e contusões (ROJAS-GALLEGO et al., 2018). As lesões cerebrais difusas variam de concussões leves, nas quais a TC da cabeça é habitualmente normal, até lesões hipóxicas isquêmicas graves. Com concussões, o paciente tem um distúrbio neurológico não focal transitório que frequentemente inclui perda de consciência. Sendo as lesões difusas graves resultantes geralmente de agressão hipóxica, isquêmica ao cérebro devido a choque prolongado ou apneia que ocorrem imediatamente após o trauma. Nesses casos, a TC pode ser inicialmente normal, ou o cérebro aparece com inchaço difuso com perda da distinção normal entre cinza e branco (ATLS, 2018). Outro padrão difuso, frequentemente visto em impactos de alta velocidade ou em lesões por desaceleração, pode produzir hemorragias pontilhadas por todos os hemisférios cerebrais, concentrando-se nos limites entre as substâncias cinzenta e branca. Essas "lesões por cisalhamento" mencionadas como LAD (lesão axonal difusa) definiram uma síndrome clínica de lesão cerebral grave, com desfecho variável, mas geralmente reservado (ATLS, 2018). 7.2.2.1.1 Concussão FONTE: https://bityli.com/UiDwy No início do século XX, Joseph Babinski já demonstrava interesse em entender o mecanismo de lesão das concussões cerebrais nos soldados da I Guerra Mundial. Mais tarde, Derek Denny-Brown tentou descrever a fisiopatologia da concussão. Atualmente, a concussão é definida como um complexo processo fisiopatológico cerebral, induzindo por forças biomecânicas externas, causando lesões. Originada por forças direcionadas contra o crânio, face e/ou pescoço, a concussão tipicamente resulta na disfunção neurológica rápida e transitória, resolvendo-se espontaneamente e não comprometendo, obrigatoriamente, o nível de consciência, como se acreditava no passado (DAMIANI et al., 2019). A concussão cerebral é uma perda repentina, transitória, da consciência imediatamente após uma lesão na cabeça. A consciência pode ser perdida por apenas 8 a 10 segundos, como ocorre em nocaute na luta de boxe, e em uma lesão mais grave, como em acidentes de carro, a consciência pode ser perdida por horas e até mesmo por dias. Caso o paciente retorne à consciência em 6 horas, o resultado a longo prazo é excelente, já se persistir por mais de 6 horas, normalmente ocorre lesão do tecido cerebral (MOORE et al., 2001). O diagnostico de uma concussão é feito quando um doente lesionado apresenta uma alteração temporária na função neurológica com subsequente retorno ao normal. Apesar da maioria das pessoas associarem a perda da consciência ao diagnóstico de concussão, a perda de consciência não é necessária para fazer o diagnostico de concussão; mais exatamente, amnésia pós-traumáticaé um indicador de concussão. Outras alteraç~pes neurológicas incluem o seguinte: Olhar vago (expressão facial atordoada); Respostas verbais e motoras demoradas (lentidão para responder perguntas ou seguir instruções); confusão e incapacidade para concentrar a atenção; desorientação; fala arrastada ou incoerente; perda da coordenação, entre outros (PHTLS, 2017). Dor de cabeça severa, tontura, náusea e vomito frequentemente acompanham a concussão. Doentes que exibem sinais de concussão, principalmente aqueles com náusea, vômitos ou achados neurológicos em uma avaliação secundaria, devem ser transportados imediatamente para uma avaliação adicional (PHTLS, 2017). Atualmente, a concussão cerebral é classificada em: possível, provável e definida. A possível ocorre quando o paciente tem outra causa clínica que explique melhor os seus sintomas, não podendo ser atribuída à concussão classicamente descrita. Nesse caso, o mecanismo de lesão não pode ser claramente estabelecido. Os sintomas presentes incluem cefaléia e cansaço durante as atividades físicas, que podem ser atribuídos a desidratação, enxaqueca, hipertermia ou infecções virais (DAMIANI et al., 2019). Já nas lesões prováveis, os sintomas não são mais bem explicados por outras causas que não seja concussão cerebral, porem há a presença de comorbidades, como enxaquecas, distúrbios do sono, ansiedade, transtornos do humor e transtorno do déficit de atenção com hiperatividade. Já na forma definida os sintomas somente podem ser explicados pela concussão cerebral (DAMIANI et al., 2019). Na concussão o cérebro sofre um processo de aceleração e desaceleração abruptas, no plano ântero-posterior, muitas vezes associados a movimentos rotacionais, colidindo contra a tábua interna do crânio, mantendo um ponto relativamente fixo, o tronco encefálico (DAMIANI et al., 2019). A concussão se caracteriza por uma perda transitória da consciência, com duração de segundos a minutos, seguida por um estado confusional que geralmente persiste por alguns minutos a horas, sendo caracterizado por importante amnésia retrógrada e anterógrada. Se examinado durante o período de inconsciência, o paciente apresenta reflexos pupilares e oculares normais, flacidez e respostas plantares em extensão. Uma TC pode ser feita para detectar possível hemorragia intracraniana pós-traumática em pacientes <16 ou > 65 anos, em pacientes que tomam anticoagulantes e naqueles com perda de consciência prolongada (> 1 minuto), cefaleia grave persistente, vômitos, intoxicação, sinais neurológicos focais, convulsões, fratura de crânio, ou sinais de tecidos moles que indicam lesão cerebral (GREENBERG et al., 2014). Os pacientes costumam se recuperar sem problemas, mas cefaleia, tontura ou leve comprometimento cognitivo (síndrome pós-concussão) podem persistir por semanas. Algumas evidências sugerem que a concussão aumenta o risco de concussão subsequente. Atletas que sofreram concussão ao praticarem esporte provavelmente devam retardar seu retorno às atividades esportivas até que os sintomas pós-concussão se tenham resolvido e, então, retomar gradualmente a atividade normal durante cerca de uma semana (GREENBERG et al., 2014). 7.2.2.1.2 Lesão axonal FONTE: PINTO et al., 2012 A lesão axonal é a mais comum associada ao TCE. Ocorre por tensão e estiramento axonal por forças de aceleração angular e rotacional podendo resultar num défice neurológico major, apesar da inexistência de volumosas lesões hemorrágicas. Imagilogicamente, são visíveis hemorragias punctiformes resultantes da ruptura de pequenos vasos, em regiões que sofrem forças de aceleração máximas como são o corpo caloso, núcleos da base ou tronco cerebral. Para identificar estas lesões, a Ressonância Magnética com estudo de difusão é o exame de imagem com maior sensibilidade prognóstica (OLVEIRA et al., 2012). O estiramento axonal é induzido pelo movimento brusco de aceleração/desaceleração ou por forças rotacionais no cérebro. Estas lesões tendem a ser difusas e bilaterais. O rompimento dos vasos penetrantes ao nível da junção entre a substância branca e cinzenta, corpo caloso, cápsula interna, núcleos da base e porção superior do tronco cerebral produz múltiplos pequenos focos hemorrágicos que constituem a principal característica tomográfica da lesão axonal difusa (PINTO et al., 2012). 7.2.2.1.3 Lesão hipóxia FONTE: https://bityli.com/GgzxK Uma das principais causas de lesão cerebral secundária, amplamente reconhecida há cerca de trinta anos, é a hipóxia cerebral, principalmente de origem isquêmica (MARÍN-CABALLOS et al., 2008). A lesão cerebral hipoxia as condições que levam à lesão são a queda do fluxo sanguíneo cerebral e o baixo conteúdo de oxigênio do sangue (OLVEIRA et al., 2012). Há 7 causas e principais tipos de hipoxia tecidual (MARÍN-CABALLOS et al., 2008): 1. Hipóxia isquêmica, devido à diminuição do fluxo sanguíneo cerebral. 2. Hipóxia por baixa extração ou extração, cuja causa é a diminuição da capacidade de extração de O 2 do sangue capilar, que por sua vez pode ser devido aos seguintes motivos: pO 2 insuficiente (hipóxia hipoxêmica); um baixo nível de Hb (hipóxia anêmica); una alta afinidad de la Hb por el oxígeno (hipoxia por alta afinidad) debida a factores que desplazan la curva de disociación de la Hb a la izquierda: hipocapnia, alcalosis, hipotermia o descenso del 2-3 difosfoglicerato (2-3DPG) por hipofosforemia entre outros. 3. Hipóxia devido a derivação ou derivação arteriovenosa. 4. Hipóxia de dispersão, ou alteração da difusão de O 2 do capilar para a mitocôndria. 5. Hipóxia histotóxica, devido a toxinas que bloqueiam a cadeia respiratória mitocondrial. 6. Desacoplamento da hipóxia, por agentes que desacoplam a redução do O 2 mitocondrial da síntese de ATP. 7. Hipóxia hipermetabólica, devido ao aumento do metabolismo celular. Na prática clínica de rotina, as duas causas mais frequentes de hipóxia são hipóxia devido à baixa extração secundária à hipocapnia devido à hiperventilação, que por sua vez causa vasoconstrição cerebral e aumento da afinidade da Hb pelo O 2, e hipóxia isquêmica devido à diminuição do PPC, seja devido à hipertensão intracraniana, hipotensão sistêmica, causas locais (vasoespasmo arterial, cone de pressão intracraniana etc.) ou a soma dessas circunstâncias (MARÍN-CABALLOS et al., 2008). 7.2.2.1.4 Contusão FONTE: PINTO et al., 2012 A contusão cerebral é resultante de trauma no cérebro no qual a pia mater se desprende da face lesada do cérebro e pode ser lacerada, permitindo que o sangue penetre no espaço subaracnóideo (MOORE et al., 2001). Logo, a contusão cerebral é constituída por áreas heterogêneas de necrose, isquemia, hemorragia e edema. É normalmente associada com outras lesões hemorrágicas intracranianas, como os hematomas. O comprometimento é maior na crista dos giros e a substância branca adjacente é atingida em intensidade variável (PINTO et al., 2012). Contusão cerebral é uma lesão do cérebro por pancada, ocasionada por um traumatismo craniano. Ela está associada com inconsciência inicial (concussão) da qual o paciente se recupera. O edema que circunda a contusão pode levar a flutuações do nível de consciência; convulsões e sinais neurológicos focais podem se desenvolver. Os pacientes devem ser cuidadosamente monitorados para detectar deterioração neurológica relacionada a edema progressivo e herniação. Uma punção lombar é desnecessária e potencialmente perigosa. TC e RM são os procedimentos diagnósticos de escolha. Diferente dos hematomas subdurais e epidurais, as contusões cerebrais raramente são operadas (GREENBERG et al., 2014). As contusões são causadas por lesões aos capilares, o que leva a pequena quantidade de hemorragia petequial e edema. A localização mais comum para contusões são as superfícies anterior e inferior dos lobos frontais e os polostemporal e occipital (FONSECA et al., 2015). Pode ocorrer contusão no nível do ponto de impacto, conhecida como lesões de golpe, as quais são produzidas pela deformidade da tábua óssea no ponto de impacto. As lesões mais graves geralmente são encontradas em regiões diametralmente opostas ao ponto do impacto, chamadas de lesões por contragolpe, principalmente em regiões frontotemporais, na sua superfície basal. Tais lesões são produzidas pelas irregularidades ósseas das fossas cranianas: anterior e média. No momento da desaceleração brusca, o encéfalo desliza sobre essas rugosidades, produzindo as lesões. As contusões também podem ocorrer na superfície mediai dos hemisférios cerebrais como resultado da aceleração do cérebro contra a foice (PINTO et al., 2012). As contusões são resultantes de movimentos de translação ao longo do assoalho anterior e médio da fossa craniana, em que as contusões da cortical podem resultar de lesões de golpe ou contragolpe. Sendo na lesão tipo golpe quando o cérebro atinge o crânio diretamente no local do impacto e na lesão do tipo contragolpe quando ocorre no lado oposto ao local de aplicação da força externa (FONSECA et al., 2015). Contusões cerebrais são bastante comuns (presentes em cerca de 20% a 30% dos traumas cranioencefálicos graves). A maioria das contusões ocorre nos lobos frontal e temporal, embora possam ocorrer em qualquer parte do cérebro. As contusões podem, em um período de horas ou dias, evoluir para formar um hematoma intracerebral ou uma contusão coalescente com efeito de massa suficiente para exigir evacuação cirúrgica imediata. Isso ocorre em aproximadamente 20% dos doentes que apresentam contusão na TC de crânio inicial. Por esta razão, doentes com contusão devem ser submetidos a TC repetidas para avaliar as mudanças nos padrões da contusão nas 24 horas após a TC de crânio inicial (ATLS, 2018). Os sinais e sintomas clínicos produzidos na contusão cerebral dependerão da localização da lesão, da gravidade do impacto e da presença de lesões associadas. Pequenas contusões podem não trazer ameaça à vida do paciente, mas, quando ocorrem em áreas como da fala ou córtex motor primário, podem resultar em deficit permanentes. Grandes contusões ou lesões múltiplas envolvendo o lobo frontal e temporal podem produzir elevações da PIC. No período seguinte à lesão, as áreas contusas tornam-se necróticas e heterogeneamente hemorrágicas. Embora a hemorragia seja eventualmente reabsorvida, o efeito de massa total, devido ao edema ao redor da contusão, pode elevar à PIC e produzir o aparecimento de sinais neurológicos focais e depressão do nível de consciência do paciente (PINTO et al., 2012). O diagnóstico é feito pela tomografia computadorizada e a maioria dos pacientes deve ser tomografada mais de uma vez durante o período crítico. As lesões aparecem como pequenas áreas de aumento da densidade, misturadas com áreas de maior densidade, características de edema e tecido necrótico cerebral (PINTO et al., 2012). Acidentes com lesões pequenas ou profundas são monitorizados sem procedimento cirúrgico. Em contusões maiores, com efeito de massa, é realizada uma craniotomia, com a retirada do tecido necrótico e de hematomas associados. A explosão do lobo temporal sempre tem indicação cirúrgica, devido ao alto risco de herniação lateral iminente. Embora o tratamento medicamentoso contra o aumento da PIC possa ser usado para evitar o ato cirúrgico, pacientes com aparente quadro neurológico estável podem evoluir subitamente para uma herniação ao longo de sete a nove dias do traumatismo. Por esta razão, grandes contusões são ressecadas para minimizar o risco de deterioração neurológica (PINTO et al., 2012). 7.2.2.2 Lesões cerebrais Focais As lesões cerebrais focais são produzidas principalmente por traumatismos direto no crânio e inclui os hematomas epidurais, os hematomas subdurais e hematomas intracerebrais (ROJAS-GALLEGO et al., 2018). 7.2.2.2.1 Hematoma epidurais O hematoma extradural consiste em uma coleção sanguínea situada entre a tábua óssea interna do crânio e a dura-máter. Ocorre mais comumente na região temporal (70%) e na região frontal (10%) e normalmente ocorre por lesão cerebral primária. É raro ocorrer hematoma extradural (HED) em crianças com idade inferior a 2 anos e idosos com mais de 60 anos, devido à alta aderência da dura-máter no osso (PINTO et al., 2012; FONSECA et al., 2015). Os Hematomas epidurais são relativamente raros, ocorrendo em 0,5% de todos os doentes com trauma cranioencefálico e em 9% dos doentes com lesão cerebral traumática e que estão em coma. Esses hematomas tipicamente adquirem a forma biconvexa ou lenticular à medida em que empurram a dura aderente em direção oposta à da tabua interna do crânio. Sendo o intervalo lúcido entre o momento da lesão e a deterioração neurológica é a apresentação clássica do hematoma epidural (ATLS, 2018). Fonte do sangramento 85% do hematoma epidural é resultante do sangramento da artéria meníngea média, muitos dos casos restantes ocorrem por causa do sangramento da veia meníngea média ou do seio dural (GREENBERG, 2019). A apresentação clássica do hematoma epidural consiste em breve perda da consciência pós-traumáticas (por causa do impacto inicial), seguida por um “intervalo lúcido” que em geral dural de 6 a 8 horas e em seguida, prostração, hemiparesia contralateral, dilatação pupilar em consequência do efeito compressivo do hematoma. A deterioração geralmente ocorre ao longo de algumas horas, porém pode levar dias e, raramente, semanas (PINTO et al., 2012; GREENBERG, 2019) As características radiográficas dos hematomas epidurais são: Morfologicamente biconvexa, limites bem definidos, altamente relacionado e geralmente adjacente a fraturas e um hematoma subdural contralateral pode estar associado a uma lesão de contragolpe (SCARE, FONTE: ATLS, 2012 2019). Já, quanto as características clínicas dessa lesão, elas são: 56% dos pacientes são admitidos em coma (GCS <8), 20-30% têm anormalidades pupilares: midríase bilateral e anisocoria contralateral têm o pior prognóstico, 47% podem ter um intervalo lúcido, déficit neurológico focal: hemiparesia contralateral à lesão e podem apresentar-se neurologicamente íntegros, dependendo do tempo de evolução da lesão vascular que os origina e de seu volume (SCARE, 2019). Aliás, A midríase unilateral (anisocoria) é um dos sinais mais freqüentes e precoces a surgir, decorrendo da compressão do nervo oculomotor (herniação uncal). A hipertensão arterial, a bradicardia e alterações respiratórias (tríade de Cushing) podem ocorrer por HIC devido ao HED em evolução (PINTO et al., 2012). Logo após o traumatismo, a frequência cardíaca costuma ser alta e a pressão arterial normal. Quando o hematoma está instalando-se, a pressão arterial sobe e surge bradicardia. Em fases mais adiantadas, com o comprometimento do tronco cerebral, ocorre hipotensão arterial com bradi ou taquicardia (PINTO et al., 2012). Entretanto, a própria localização do hematoma pode alterar os sintomas, assim, nos hematomas subtemporais existe aparecimento precoce de anisocoria, enquanto nos frontais a evolução é mais arrastada, iniciando-se com confusão mental. Além disso, podem existir a presença de outras lesões, que podem falsear a evolução do quadro típico de Hematoma epidural (PINTO et al., 2012). Radiograficamente, os hematomas epidurais que estão indicados para cirurgia são aqueles maiores que 30 cm³, independente do GCS e os que apresentam um deslocamento maior que 5mm da linha média ou tem espessura maior que 15mm. Já clinicamente, os casos que estão indicados são aqueles que apresentam um estado de consciência prejudicado, déficit neurológico focal e síndrome de herniação (anormalidades pupilares) (SCARE, 2019). Frequentemente, esses hematomas localizam-se nas regiões temporoparitetal e temporal(FONSECA et al., 2015). Sendo, a região mais acometida é a porção escamosa do osso temporal, pois é onde o osso tem a menor espessura (PINTO et al., 2012). Geralmente, são causados por pancada de baixa velocidade na lateral da cabeça. Na maioria das vezes, o hematoma é unilateral, na porção onde ocorreu o impacto. Também pode ocorrer HED associado com outras lesões, como hematomas subdurais ou intraparenquimatosos (PINTO et al., 2012). E, apresentam leve predominância a ocorrência no lado direito, e de 2 a 5% dos pacientes têm HED bilateral. Historicamente, o sangramento da artéria meníngea média foi considerado a principal fonte de HED, embora possa resultar de lesão da veia meníngea média, veias diploicas e veias do seio (FONSECA et al., 2015). Além disso, as lesões intracranianas associadas, como contusões, hemorragia intracerebral, hematoma subdural e tumefação cerebral difusa podem ser encontradas em até 50% dos pacientes com hematoma epidural removidos cirurgicamente (FONSECA et al., 2015). Estes hematomas podem ser classificados em: tipo I (agudo ou hiperagudo – dia 1), tipo II (subagudo – dia 2-4) ou tipo III (crónico - dia 7-20).37 Os de tipo I correspondem a 58% dos casos, e classicamente cursam por um período de vigília que rapidamente se deteriora com a posterior instalação de hemiparesia e midríase da pupila homolateral (OLIVEIRA et al., 2012). Na identificação a TC é a modalidade de imagem de escolha. Sendo eficaz tanto na identificação da lesão como na determinação da presença de desvio de linha média hemorragia subaracnóidea, obliteração das cisternas basais e cálculo da espessura e volume do hematoma (FONSECA et al., 2015). Logo, para o diagnóstico, o primeiro exame de escolha para diagnosticar um HED é a tomografia computadorizada (TC) (PINTO et al., 2012). A condição da maioria dos pacientes pode ser estabilizada inicialmente com manitol e hiperventilação até ser realizada a TC de crânio. O tratamento é feito por meio de craniotomia imediata, com esvaziamento do hematoma e hemostasia dos vasos sangrantes. A localização da craniotomia é guiada pela TC. A cirurgia é completada com o ancoramento da dura-máter ao crânio, para evitar formação de novo hematoma, e fechamento dos planos superficiais (PINTO et al., 2012). Em média, a mortalidade dos pacientes com HED é de aproximadamente 15%. Boa parte dos pacientes com hematoma têm pior prognóstico devido ao tempo perdido, até que cheguem ao pronto-socorro e o diagnóstico de HED seja feito. Além do tempo até o início da drenagem do hematoma, outros fatores influenciam no prognóstico, como o grau de contusão cerebral associada, as condições gerais de atendimento (terapia intensiva) e principalmente o grau de acometimento do tronco encefálico. A compressão do tecido cerebral pelo hematoma provoca cones de pressão, podendo levar à herniação de estruturas através das fendas do crânio. Tais herniações acabam por comprimir o tronco encefálico, acarretando lesão (PINTO et al., 2012). 7.2.2.2.2 Hematoma subdurais FONTE: ATLS, 2012 Hematoma subdural é uma coleção de sangue no espaço situado entre a dura-máter e a aracnoide. O tratamento do hematoma subdural causando coma é feito por evacuação cirúrgica (GREENBERG et al., 2014). Os sintomas mais comuns são: Diminuição da consciência, vômitos, fraqueza, confusão, cefaleia, distúrbios de fala, convulsões, vertigem e distúrbio visual. Já os sinais comumente apresentados são: diminuição da consciência, pupilas desiguais, assimetria motora, confusão e perda da memória, afasia, papiledema, hemianopsia e fraqueza facial (GREENBERG et al., 2014). Os hematomas subdurais são mais comuns que os hematomas epidurais ocorrendo em aproximadamente 30% dos traumas cranioencefálicos graves. Eles ocorrem recorrentemente por dilaceração de vasos superficiais pequenos ou vasos ponte do córtex cerebral. Contrastando com a forma lenticular do hematoma epidural à TC, os hematomas subdurais frequentemente parecem assumir a forma do contorno do cérebro. O comprometimento cerebral subjacente ao hematoma subdural costuma ser muito mais grave do que nos hematomas epidurais devido à presença de lesão parenquimatosa concomitante (ATLS, 2018). Em relação as características radiográficas, elas são as seguintes: Lente côncava ou crescente, geralmente a convexidade está direcionada há uma superfície óssea, geralmente é uma lesão de recuo e é altamente relacionado a concussões e edema cerebral (SCARE, 2019). Quanto as características clínicas elas são: 37-80% dos pacientes são admitidos em coma (GCS <8), 50% têm anormalidades pupilares, 38% podem ter um intervalo lúcido e déficit neurológico focal: hemiparesia contralateral. (SCARE, 2019). Os hematomas subdurais que apresentam espessura maior que 10mm ou linha média maior que 5mm são indicados a cirurgia independente do GCS. Clinicamente, os casos que apresentam estado de consciência prejudicado, déficit neurológico focal, síndrome de herniação (uma normalidade pupilar ipsilateral e hemiparesia contralateral), são os casos que há indicação cirúrgica (SCARE, 2019). Quanto ao prognóstico, o que mais influência é a idade do paciente, sendo o principal alvo de pior prognóstico os pacientes com mais de 50 anos que são internados com EGC menor que 8 e o tempo entre a ocorrência da lesão e o atendimento em que foi verificado que um período de espera para o atendimento maior do que 2 Horas está associado a um resultado desfavorável em 80 % dos casos (SCARE, 2019). Normalmente, são divididos em hematomas subdurais agudos, quando os sintomas surgem até três dias a partir do traumatismo; subagudos, quando os sintomas aparecem do quarto até 21º dias após o traumatismo; e crônicos, quando os sintomas se iniciam após três semanas (PINTO et al., 2012). O hematoma subdural (HSD) agudo ocorre em aproximadamente 7,4% dos pacientes com história de TCE grave. A sobrevida funcional de pacientes é de 65%, para os que tiveram atendimento em menos de 4 horas do traumatismo e que chegaram ao serviço com Glasgow maior que 4. A mortalidade para os pacientes atendidos após 4 horas do traumatismo, aumenta para 90% (PINTO et al., 2012). Os HSD agudos são causados pelas veias-ponte terem a sua capacidade de sensibilidade à tensão excedida, mesmo no cenário de um provável trauma menor e não necessariamente o impacto de um objeto entrando em contato com a cabeça (FONSECA et al., 2015).Os hematomas normalmente têm volumes bem variáveis, podendo ser laminares, com pequeno efeito compressivo sobre o parênquima cerebral, ou volumosos, a ponto de levarem á herniação de estruturas encefálicas e à compressão do tronco cerebral (PINTO et al., 2012). Os HSDs são causados pelo mecanismo de aceleração e desaceleração. Após um impacto de alta velocidade, o crânio e o cérebro adquirem aceleração, porém diferentes. Com isso, ocorrem lesões vasculares da própria superfície cortical (contusão ou laceração cortical) e lacerações de veias que atravessam o espaço subdural e drenam até os seios venosos (lesões de veias em ponte). O sangramento venoso, por causa da carência de adesão, tende a dissecar e espalhar-se por todo o espaço subdural, ao longo da convexidade do cérebro, sem ultrapassara foice cerebral. As maiores porções dos hematomas encontram-se nas regiões temporais e frontais, que são zonas do parênquima mais suscetíveis a lacerações cerebrais (PINTO et al., 2012) O quadro clínico de pacientes com HSD agudo é variável, pois esses hematomas normalmente estão associados a outras lesões cerebrais. Os achados clínicos dependem do tamanho, da rapidez do crescimento e da gravidade da lesão do impacto para o cérebro. O hematoma apresenta-se como uma massa intracraniana evolutiva. Em geral, os pacientes chegam ao pronto-socorro em coma, com sinais neurológicos de lesão focal e, inúmeras vezes, com posturas patológicas, comodecorticação e descerebração, e distúrbios neurovegetativos, envolvendo padrões cardíacos e pulmonares. A recuperação da consciência raramente ocorre sem que o hematoma seja removido e a pressão intracraniana controlada (PINTO et al., 2012). Os pacientes com tal quadro clínico deve ser obrigatoriamente explorados. A radiografia pouco ajuda no diagnóstico, pois menos de 50% tem fratura associada. Assim como no HED, a TC é o primeiro exame de escolha na avaliação, pois é capaz de mostrar o hematoma e outras lesões associadas, como contusão e brain swelling. Na tomografia, o hematoma agudo aparece como uma lesão hiperatenuante normalmente laminar, com forma côncavo-convexa, podendo também obliterar os sulcos. Para o tratamento do hematoma subdural agudo, faz-se uma craniotomia ampla, realizando-se a drenagem do hematoma também é feita a hemostasia dos vasos sangrantes, que alimentam o hematoma, e a retirada do parênquima contuso, normalmente associado a essas lesões. Após o procedimento cirúrgico, instala-se monitor da PIC (pressão intracraniana) para viabilizar o controle da HIC na UTI neurocirúrgica (PINTO et al., 2012). O prognóstico de pacientes com HSD agudo normalmente é insatisfatório e sombrio. A mortalidade encontra-se acima de 50%, podendo chegar a 80%. Dos pacientes que sobrevivem, a maioria não retorna à função normal e um número significante tem seqüelas e torna-se dependente. Inchaço cerebral (Brain Swelling) é o inchaço cerebral ocorre devido à perda da autorregulação do fluxo cerebral após o traumatismo e é observado em 10 a 20% dos TCEs graves. A incidência em crianças é duas vezes maior. O inchaço unilateral é chamado de inchaço hemisférico e geralmente está associado a hematoma subdural agudo ipsilateral na grande maioria dos casos, ocorrendo de forma isolada em apenas 4 a 5% dos pacientes (PINTO et al., 2012). O apagamento de sulcos corticais e as cisternas (em especial a quadrigeminal e a cisterna ambiens) constituem os principais achados tomográficos. Os ventrículos podem aparecer colabados ou reduzidos. O parênquima cerebral, devido ao aumento do conteúdo hídrico, apresenta-se difusamente hipoatenuante com perda da interface entre a substância branca e cinzenta. O cerebelo, por ser relativamente preservado devido à irrigação pela circulação posterior, pode aparecer hiperatenuante em relação ao restante do parênquima encefálico; este sinal é chamado de cerebelo branco. Quando ocorre o inchaço hemisférico, observa-se apagamento de sulcos corticais e cisternas ipsilaterais associados a sinais tomográficos de herniação cerebral (subfalcina e/ou uncal) e muitas vezes estes achados determinam a indicação imediata de cirurgia descompressiva (PINTO et al., 2012). Quanto ao Hematoma subdural crônico, eles são as coleções líquidas que produzem sintomatologia semanas ou meses depois do traumatismo. Entre 25 e 50% dos casos, a história de traumatismo cranioencefálico é passada despercebida. Esse tipo de hematoma é freqüente em recém-nascidos e após os 50 anos de idade, com idade média de 63 anos. O alcoolismo crônico e o uso de anticoagulantes facilitam seu aparecimento (PINTO et al., 2012). A evolução do HSD crônico inicia-se com uma coleção sanguínea pequena, normalmente não diagnosticada pelo exame de imagem. Com o tempo, o sangue acumulado sofre hemólise e o coágulo torna-se envolvido por uma membrana de tecido fibroso e por capilares friáveis. A parede externa é espessa e ricamente vascularizada com colágeno e a parede interna fina e intimamente aderida à aracnoide. A cápsula deste hematoma atua como uma membrana semipermeável. A partir de então, há passagem progressiva de água do liquor para o interior do hematoma, à custa da diferença de pressão oncótica. Há rompimento de vasos capsulares neoformados para o interior do HSD crônico corroborando para o aumento da pressão oncótica. O crescimento é lento até que, por efeito compressivo, começam a surgir sinais neurológicos (PINTO et al., 2012). No adulto, depois de um traumatismo craniencefálico leve, há um período assintomático de semanas ou até meses. O paciente pode apresentar cefaleia persistente, piorando com os movimentos da cabeça. Às vezes, associado à piora da cefaleia, pode haver aparecimento de quadro psíquico caracterizado por modificações do humor e comportamento. Os sintomas e sinais do HSD crônico são variáveis e não são patognomônicos. Normalmente está presente o quadro de alteração do estado mental, deficit neurológico focal, cefaleia, crises convulsivas ou efeito de massa, com sintomas de hipertensão intracraniana. É freqüente a bila teralidade dos sinais neurológicos, pois é comum ocorrer hematomas bilaterais. Devem-se pesquisar diagnósticos diferenciais, como demência, acidente vascular cerebral (AVC) e tumores intracranianos (PINTO et al., 2012). Após observar a história clínica do paciente, a TC é o exame mais bem indicado, aparecendo no mesmo padrão do HSD agudo, porém com uma lesão côncavo-convexa iso ou hipoatenuante. Isso ocorre porque esse hematoma é basicamente constituído por água, elemento com menor atenuação que o parênquima cerebral, e produtos da degradação da hemoglobina. O tratamento do HDS crônico consiste em trepanação e drenagem e lavagem da cavidade subdural com soro fisiológico, para a retirada de todo o hematoma. Nos casos em que persiste grande espaço morto, devido ao efeito de massa do hematoma, coloca-se um dreno externo por até 48 horas (PINTO et al., 2012). 7.2.2.2.3 Hematomas intracerebrais As características clínicas de um hematoma intracerebral são: Heterogêneo, focal, como hematomas ou contusões, eles aparecem nos lugares de "hit e counter", os hematomas, por definição, têm limites bem definidos e uma densidade mais homogênea. Quanto a sua localização, eles geralmente em áreas de proeminência óssea, como os pólos frontal e temporal. Entre suas indicações cirúrgicas, são indicados a cirurgia aqueles que apresentam qualquer lesão com volume superior a 30cm³ independente da condição clínica ou localização, hematomas frontal ou temporais maior que 20cm² e desvio de linha média maior que 5mm (SCARE, 2019). 8. TRATAMENTO DE TRAUMA CRANIOENCEFÁLICO LEVE (ESCORE NA GCS 13-15) O Trauma cranioencefálico leve (TCEL) está relacionado com o escore de 13 a 15 na GCS, e é definido por uma história de desorientação, amnésia, ou perda transitória da consciência em um doente que está consciente e falando. Quando há história de perda momentânea de consciência, ela é geralmente de difícil confirmação e muitas vezes o quadro fica confuso pela coexistência de abuso de álcool ou de outros tóxicos. Porém, as alterações do estado mental nunca devem ser atribuídas a fatores de confusão até que a lesão cerebral tenha sido definitivamente excluída (ATLS, 2018). A maioria dos doentes portadores de trauma cranioencefálico leve evolui com recuperação sem intercorrências. Entretanto, cerca de 3% desses doentes apresentam piora inesperada que resulta em disfunção neurológica grave, a menos que a deterioração do estado mental seja identificada precocemente (ATLS, 2018). O método preferido de imagem nesses casos é a Tomografia Computadorizada na qual deve ser realizada em todos os doentes com suspeita de lesão cerebral que apresentem suspeita clínica de fratura exposta de crânio, que apresentem qualquer sinal de fratura de base de crânio, ou nos que apresentarem mais do que dois episódios de vômito, ou naqueles que apresentem idade superior a 65 anos. Além desses casos, a TC também deve ser considerada se o paciente apresentou perda da consciência por mais de cinco minutos, amnésia retrógrada por mais de 30 minutos, um mecanismo de trauma importante, intoxicação por álcool ou drogas, cefaleia grave, ou défice neurológico focal que pode ser atribuído ao cérebro (ATLS, 2018). As vítimas de TCE leve constituem um grupo
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