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RENATA LIMA – MEDICINA – 5º SEMESTRE – TUTORIA SP 1.4 – UMA PEDRA NO CAMINHO – DOR VISCERAL MÓDULO DE DOR 1. CONCEITUAR A DOR VISCERAL E DIFERENCIÁ- LA DA SOMÁTICA Dor somática e dor visceral fazem parte do conjunto de dores nociceptivas, ou seja, uma dor que acontece por lesão ou dano que irá estimular algum nociceptor. • No caso da dor somática ela está na pele, no aparelho locomotor (ossos, músculos e articulações, propriocepção) e no tecido conjuntivo (pleuras, pericárdio, peritônio). Dor bastante específica, sabemos dizer como é a dor. Possui a características de ser superficial (pele, fáscias) ou profunda (ossos, junturas, musculatura). • A dor visceral possui características completamente diferentes, ela é de órgãos internos (vísceras), dor vaga, difícil de localizar. Pode ser uma dor regional, na região em que os órgãos estão. E pode ser uma dor referida, quando é percebida em um local distante da origem. A dor visceral é mais comum do que dor somática e por isso mesmo, as alterações dolorosas viscerais merecem ser conhecidas em detalhes tanto pelos especialistas em dor como por todos os profissionais de saúde. Alguns exemplos comuns são: • A isquemia miocárdica, por exemplo, é a maior causa de morte em muitos países desenvolvidos, como os Estados Unidos. • A litíase renal afeta pelo menos um quinto da população, geralmente na idade ativa. • A Síndrome do Intestino Irritável (SII) acomete pelo menos 25% da população e corresponde a cerca de metade das consultas na clínica gastroenterológica. • A dismenorreia (cólica) afeta cerca de 50% das mulheres e em pelo menos 10% provoca prejuízos em dias de trabalho. A dor visceral tem CINCO CARACTERÍSTICAS DISTINTAS importantes, que merecem destaque: 1. A dor não é evocada de todas as vísceras. Órgãos como fígado, rim, a maioria das vísceras sólidas e o parênquima pulmonar não são sensíveis à dor, enquanto membranas serosas de órgãos ocos são mais sensíveis à dor. Isto ocorre devido a propriedades funcionais de receptores periféricos dos nervos de certos órgãos viscerais e também pelo fato de que muitas vísceras são inervadas por receptores que não evocam percepção consciente. 2. A intensidade da dor não é ligada diretamente com o grau de injúria visceral: o corte do intestino, por exemplo, não causa dor, sendo um exemplo de lesão sem dor, enquanto a distensão da bexiga é dolorosa e é um exemplo de dor sem lesão. 3. A dor é difusa e pobremente localizada devido a poucos aferentes viscerais, quando comparada com vias somáticas. Particularmente, a ausência de vias sensoriais viscerais individualizadas e a extensiva divergência no sistema nervoso central (SNC) podem também levar a diagnósticos errôneos. 4. A dor geralmente é referida para outros locais devido à convergência viscerossomática em vias de dor central. Pode ser, inclusive, a queixa mais importante, e pode confundir a exata localização da doença. 5. A dor é frequentemente acompanhada de reflexos autonômicos e motores, como náusea, vômito e tensão muscular lombar baixa, como ocorre na cólica renal. Estas alterações podem servir como sistema mantenedor e facilitador da transmissão dolorosa. RENATA LIMA – MEDICINA – 5º SEMESTRE – TUTORIA 2. DIFERENCIAR A DOR REFERIDA DA IRRADIADA Dor irradiada é aquela que irradia de um nervo. Por exemplo, a dor de um nervo ao ser comprimido segue o trajeto percorrido por ele, irradiando pelo membro. Dor referida: é a dor percebida e atribuída a um local distante daquele em que o estímulo doloroso é aplicado. A dor referida é uma dor que não tem relação com a mesma inervação que segue de um determinado tecido, ocorre uma intercomunicação da inervação de um tecido com outro devido a comunicação de plexos nervosos. A dor referida não segue o trajeto do nervo específico, mas obedece a intercomunicações de nervos que vão levar a dor para locais distantes do problema real, já que muitas vezes a dor não é sentida na área doente. A dor referida se projeta na periferia, mas é designada como referida devido ao fato de originar-se de estruturas além do território da raiz nervosa. A dor referida projeta-se nos dermatômeros e é confinada aos segmentos de inervação. METAMERO (não dermatômero) Assim, cada víscera apresenta uma área referida específica em um dermatômero que pode ser avaliada por imagem IR. Por exemplo, a dor no ponto de McBurney em casos de apendicite aguda, a dor escapular posterior direita em casos de cólica biliar, a dor no flanco em direção à região inguinal em casos de cólica ureteral, a dor sacral posterior, suprapúbica e inferior em casos de anormalidades ovarianas, e a dor torácica da embolia pulmonar e do infarto do miocárdio. 3. COMPREENDER A DOR VISCERAL A) Fisiopatologia-nociceptores O trajeto dos aferentes viscerais tem estreita proximidade com o sistema nervoso autônomo e, devido à possibilidade de comunicação interneuronal, os sintomas relacionados aos nervos simpáticos e parassimpáticos são prevalentes. Todas as vísceras abdominais e torácicas têm inervação aferente associada com nervos simpáticos e parassimpáticos, com exceção do pâncreas. Transmitem informação da víscera para o SNC. A maioria destas informações não é percebida no nível consciente. • Vias parassimpáticas: originadas de estruturas cranianas (no tronco do encéfalo), bem como da porção sacral. • Vias simpáticas: originadas na medula espinhal em suas porções cérvico- torácicas. Após a sua saída, frequentemente se agrupam em cadeias (plexos), que em geral se localizam na porção pré-vertebral. Os receptores dos neurônios aferentes viscerais primários são localizados na mucosa, músculo e serosa de órgãos ocos e respondem a estímulos químicos locais e luminais e a estímulos mecânicos (distensão). São geralmente polimodais, respondendo às múltiplas modalidades de estímulos: mecânicos, térmicos e químicos. Sua ativação resulta em respostas a estímulos nocivos e reflete a sua intensidade. Há duas classes de nociceptores viscerais: 1. Receptores de alto limiar a estímulos naturais: que respondem a estímulos principalmente mecânicos de alcance nocivo. Estes receptores inervam exclusivamente órgãos cuja dor é a única sensação consciente, por exemplo: ureter, rim, pulmão, vias aéreas, coração, veias, vesícula biliar, esôfago, intestino delgado, cólon, bexiga e útero. 2. Receptores de baixo limiar para estímulos naturais: também principalmente mecânicos, que codificam a intensidade do estímulo na magnitude de suas descargas, desde estímulos inócuos até os de alcance nocivos, porém, são relativamente escassos em determinados órgãos, como por exemplo: cólon, estômago, esôfago, bexiga e testículos. RENATA LIMA – MEDICINA – 5º SEMESTRE – TUTORIA Os chamados nociceptores silenciosos estão presentes em larga escala nos órgãos viscerais e em condições normais são irresponsivos a estímulos, mas, geralmente se tornam ativados na presença de injúria tecidual: hipóxia ou inflamação, passando a transmitir estímulos de dor. _______________________________________ B) Vias e SNA A nocicepção é iniciada pela ativação de receptores viscerais e, se estes estímulos forem suficientemente fortes, são transmitidos para a coluna dorsal da medula espinhal, através das fibras Aô (pobremente mielinizadas) e C (amielinizadas). As fibras nervosas aferentes primárias que inervam as vísceras se projetam para o SNC por três vias: a) o nervo vago e seus ramos; b) dentro e ao longo de vias eferentes simpáticas (cadeias simpáticas e ramos esplâncnicos, inclusive ramos torácicos e lombares maior, menor e mínimo); c) no nervo pélvico, com eferentes parassimpáticos,e seus ramos A partir da medula espinhal, a entrada nociceptiva até o cérebro é transmitida por várias vias. A maioria dos aferentes ascende pelo trato espinotalâmico até o tálamo. Outras vias conhecidas são: o trato espino-hipotalâmico, o trato espinorreticular, o trato espinosolitário, o trato espinoparatraqueal entre outros. Por sua vez, o tálamo projeta para ínsula, hipotálamo, amígdala e áreas corticais altas (córtex pré-frontal e cingular). CONVERGÊNCIA SINÁPTICA Fibras aferentes viscerais e também fibras aferentes somáticas, chegam a medula passando pelo gânglio da raiz dorsal, na região da lâmina I, II e algumas na V. A grande questão da CONVERGÊNCIA SINÁPTICA é porque o caminho do sistema somático e sistema visceral a partir do sistema nervoso central é o mesmo. Então o córtex pode perceber uma dor como vinda do sistema somático quando na verdade ela está sendo originada no sistema visceral, isso porque o caminho de subida é o mesmo. O que faz com que o córtex a perceba isso é porque há uma quantidade de fibras somáticas chegando no mesmo ponto da medula muito maior que a quantidade de fibras viscerais, que chega de forma difusa, tanto perifericamente quanto centralmente, e não tem tanta focalidade. Além disso, as fibras somáticas que chegam são tipo C e A delta, enquanto a fibra visceral chega predominantemente do tipo C. Então levando em consideração o segundo neurônio (que é o caminho que faz a informação subir), ele tem muito mais chance de ser estimulado por uma fibra somática, tanto pela QUANTIDADE quanto pela VELOCIDADE de chegada desses estímulos. Então mesmo quando o estímulo vem da víscera, existe uma tendência do córtex a perceber esse estímulo vindo do sistema somático. _______________________________________ C) Manifestações clínicas A dor visceral tem uma evolução temporal e em seu estágio inicial pode ser insidioso e difícil de identificar. A dor é vaga, difusa, além de pobremente definida. Independentemente do órgão específico de origem, é usualmente percebida na linha mediana no nível inferior do esterno ou abdômen superior. Se a origem da dor é do coração, esôfago, estômago, duodeno, vesícula biliar ou pâncreas, a dor vísceral na fase inicial pode ser percebida em geral no mesmo local. RENATA LIMA – MEDICINA – 5º SEMESTRE – TUTORIA A dor vísceral pode ser minimizada e negligenciada quando não é claramente descrita ou então quando descrita como sendo vaga, com sensação de desconforto, mal-estar ou opressão. Com frequência, é tipicamente associada com fenômenos autonômicos como: palidez, sudorese, náusea, vômito, alteração da pressão arterial e da frequência cardíaca, distúrbios gastrointestinais (por exemplo: diarreia) e alterações na temperatura corporal. Fortes reações emocionais estão comumente presentes, tais como: ansiedade, angústia e algumas vezes até mesmo sensação iminente de morte. Algumas enfermidades viscerais podem se manifestar principalmente através de reações vegetativas e emocionais, com mínima dor e desconforto. Um exemplo típico é o infarto do miocárdio sem dor, que pode se apresentar com sensação de plenitude gástrica, peso, pressão, compressão ou dispneia. Estes sintomas podem levar a um incorreto diagnóstico de doenças gastrointestinais, principalmente quando acompanhados de náuseas e vômitos. Sendo assim, a dor vísceral deve ser sempre suspeitada, quando sensações vagas de mal-estar na linha média são relatados pelos pacientes, especialmente se forem idosos. Apresentação clínica da dor visceral a) Dor visceral verdadeira: dor usualmente vaga, difusa e de localização imprecisa. Ocorre devido à baixa densidade de inervação sensorial visceral e à extensiva divergência de entrada dos estímulos com o sistema nervoso autônomo. Tem uma evolução temporal e pode ser difícil de identificar no estágio inicial. Algumas vezes apresenta-se somente como uma vaga sensação de desconforto, mal-estar ou opressão. Pode estar associada com marcados fenômenos autonômicos e com fortes reações emocionais. Um exemplo típico é a dor do infarto agudo do miocárdio. Não tem correlação direta entre a intensidade da dor e a extensão da injúria. A correlação entre dor visceral e emoções negativas pode aumentar a ocorrência de dor relacionada à memória de dor- sensibilização central. b) Dor referida e hiperalgesia (convergência viscerossomática): a dor visceral pode se apresentar numa localização somática. Ocorre devido à convergência da inervação dos órgãos viscerais e áreas somáticas no mesmo neurônio sensorial espinhal. Esta dor se apresenta tipicamente como somática profunda, mais localizada e não acompanhada de francas reações simpáticas e emocionais. Pode estar associada com hiperalgesia e é usualmente limitada aos músculos, mas pode se estender superficialmente para o tecido subcutâneo e pele. Pode persistir até mesmo após o estímulo primário ter cessado. Hiperalgesia referida é com frequência acompanhada por alterações tróficas, tipicamente um espessamento do tecido subcutâneo e algum grau de atrofia muscular local. Estes eventos são presumidamente decorrentes da ativação de reflexos viscerossomáticos. c) Hiperalgesia visceral: definida como um aumento da sensibilidade de um órgão interno, de tal modo que até mesmo um estímulo não patológico ou normal pode produzir dor desse órgão. Isto é comumente associado com dor visceral e acredita-se ser decorrente de sensibilização periférica e central. Exemplo: dor após a ingestão de comida ou líquido em um esôfago ou estômago quando a mucosa está inflamada. d) Hiperalgesia víscero-visceral: é o aumento da dor devido à interação sensorial entre dois diferentes órgãos internos que dividem pelo menos parte de seus circuitos aferentes. Consiste de um aumento de ambos: sintomas diretos e referidos de toda a víscera envolvida, produzindo um quadro clínico complexo. Por exemplo: pacientes com doença cardíaca coronariana associada a cálculo biliar podem experimentar crises mais frequentes de angina e RENATA LIMA – MEDICINA – 5º SEMESTRE – TUTORIA cólica biliar em comparação com pacientes com uma condição única. Isso ocorre devido à sobreposição parcial de vias aferentes em T5 do coração e da vesícula biliar. _______________________________________ D) Tratamento Considerando os diversos mecanismos e a complexidade de estratégias de tratamento, a intervenção terapêutica deve ser baseada na doença específica, bem como nos mecanismos de dor subjacentes. A distinção entre disfunção visceral orgânica ou funcional é importante na decisão da opção do tratamento, embora seja um desafio, pois elas podem coexistir. O tratamento da dor visceral vai depender da doença e sua evolução, baseado inicialmente no uso de analgésicos e opioides. Em casos crônicos, especialmente de doenças de base sem cura, a medicina oferece procedimentos neuroaumentativos, que visam estimular e conservar a parte afetada (sistemas implantáveis de liberação de drogas analgésicas e neuroestimuladores) e procedimentos ablativos, que destroem e desligam o nervo condutor da dor (neurólises e cordotomias). O tratamento farmacológico consiste em bloquear as vias de processamento da dor, como o sistema colinérgico, a ativação da subfamília TRPV4 e P2X7R na micróglia espinal, sendo necessário o uso de analgésicos opioides, antidepressivos tricíclicos e anticonvulsivantes. Os analgésicos simples como o paracetamol, assim como anti-inflamatórios não hormonais (AINH), têm função limitada na dor visceral. O paracetamol, um fraco inibidor da cicloxigenase-2 e um seletivo inibidor da cicloxigenase-3, é usado para dor, mas pouco se conhece sobre sua respostaà dor visceral, desde que muitos estudos não têm focado neste tipo de dor. Os AINHs são efetivos na redução da dor no câncer. Muitos estudos têm demonstrado que eles são tão efetivos quanto opioides no tratamento da cólica biliar, com menos efeitos adversos. Um dos mecanismos do AINH em cólica renal ou biliar pode envolver o bloqueio da acetilcolina. O diclofenaco também bloqueia a acetilcolina induzida pela contração da musculatura lisa. É provável que opioides por curto período de tempo representem uma opção custo-efetiva para pacientes com dor visceral orgânica (por exemplo: pancreatite crônica), embora sua função para o manuseio de desordens funcionais viscerais permaneça incerta. Além disso, a dor contínua pode induzir a sensibilização central e a alteração na modulação da dor, o que torna o opioide menos efetivo. Os antidiarreicos como a loperamida, um análogo opioide agonista, reduz a peristalse intestinal e secreção, sendo utilizado em quadros selecionados de diarreia, porém, não alivia a dor nem a distensão abdominal. Os analgésicos convencionais, como o paracetamol, anti-inflamatórios e opioides têm resposta limitada em dores funcionais. Os antiespasmódicos podem ter uma função importante no manuseio da dor visceral devido à presença de espasmos excessivos da musculatura lisa, por exemplo na dor associada da cólica renal, da dismenorreia14 e em casos de SII. Os analgésicos adjuvantes exercem a função principal no manuseio de dor visceral crônica e, em particular, devem ser iniciados quando sinais de sensibilização central (hiperalgesia e a lodínea) estão presentes. Os antidepressivos como os tricíclicos, inibidores da recaptação da serotonina e noradrenalina, bem como os inibidores seletivos da recaptação da serotonina, também são utilizados no tratamento da dor visceral crônica, especialmente em desordens funcionais. Antidepressivos tricíclicos demonstram ter propriedades analgésicas e neuromodulatórias, sendo importante iniciar em baixas doses e aumentá-la, titulando-a lentamente em semanas. 4. ESTUDAR A NEFROLITÍASE O cálculo renal, é uma doença muito comum, conhecido popularmente como pedra nos rins, é um quadro agudo que se instala mais nos homens do que nas mulheres e provoca dor inesquecível. É uma massa sólida formada por pequenos cristais, que podem ser encontrados tanto nos rins quanto em qualquer outro órgão do trato urinário. RENATA LIMA – MEDICINA – 5º SEMESTRE – TUTORIA Pode ser definida como concreções de cristais que se formam no trato urinário e causam sintomas apenas quando o tamanho atinge o suficiente para serem vistas nos exames de imagem. A) FISIOPATOLOGIA As pedras nos rins são formadas quando a urina apresenta quantidades maiores que o normal de algumas substâncias, ou que têm uma diminuição na quantidade de alguns fatores que impediriam a aglomeração desses cristais como por exemplo o citrato. Essas substâncias podem se precipitar e formar pequenos cristais que, depois, vão se aglutinar e se transformarão em pedras. A formação dos cálculos inicia-se com a supersaturação urinária contendo componentes insolúveis. Isso ocorre devido: CAUSAS: • baixo volume de urina • excreção excessiva ou insuficiente de certos compostos • fatores adversos que diminuem a solubilidade, como a redução do pH urinário, já que a urina ácida propicia a cristalização do ácido úrico, principalmente quando o Ph for menor que 5,5. Existem quatro tipos de cálculos renais, sendo que um se diferencia do outro no que diz respeito à sua formação: Cálculos de cálcio São os mais comuns. Aparecem no geral entre 20 e 30 anos. Tendem a reaparecer após tratamento. O cálcio pode combinar-se com outras substâncias, como o oxalato, o fosfato ou o carbonato para formar a pedra nos rins. Algumas doenças do intestino delgado, dietas ricas em vitamina D e distúrbios metabólicos aumentam o risco de formação dos cálculos de oxalato e cálcio. A maioria dos cálculos é formada de oxalato de cálcio, associando-se, geralmente à hipercalciúria e/ou hiperoxalúria. A hipercalciúria ocorre em casos de dieta muito rica em sódio, uso de diuréticos de alça, acidose tubular renal distal, sarcoidose, síndrome de Cushing, excesso de aldosterona ou distúrbios associados a hipercalcemia. Já a hiperoxalúria é observada em síndromes de má absorção intestinal, com secreção intestinal reduzida de oxalato ou ligação de cálcio intestinal pelos ácidos graxos existentes no lúmen intestinal, com absorção aumentada de oxalato livre e hiperoxalúria. Além dessas causas, os cálculos de oxalato de cálcio podem se formar devido à deficiência de citrato urinário (inibidor da formação de cálculos – o citrato é excretado insuficientemente na acidose metabólica) e hiperuricosúria. Cálculos de cistina Estes podem aparecer em pessoas que têm cistinúria, uma doença renal hereditária e que afeta tanto homens quanto mulheres. Cálculos de cistina são decorrentes de um defeito hereditário raro no transporte renal e intestinal de aminoácidos dibásicos, a excreção excessiva de cistina. A cistina é um composto insolúvel que leva à litíase renal, esses cálculos se formam mais frequentemente em urina de pH ácido. Cálculos de estruvita Encontrados principalmente em mulheres com infecção do trato urinário. Esses tipos de pedra nos rins podem crescer muito e bloquear o rim, o ureter ou a bexiga. Os cálculos de estruvita desenvolvem-se no sistema coletor quando há infecção por microrganismos produtores de urease (Proteus, Klebsiella, Serratia, Pseudomonas, Ureaplasma e Citrobacter). Isso resulta na formação de íons amônio e pH urinário alcalino, facilitando a combinação de fosfato com amônia, RENATA LIMA – MEDICINA – 5º SEMESTRE – TUTORIA magnésio e cálcio, que se precipitam e formam o cálculo. Os principais fatores de risco para formação de cálculos de estruvita são ITU prévia, nefrolitíase prévia, cateteres urinários e bexiga neurogênica. Cálculos de ácido úrico Correspondem a 7% de todos os cálculos renais tratados. Formam-se principalmente em pacientes que têm ácido úrico elevado. São mais frequentes em homens do que em mulheres. Podem, ainda, ocorrer juntamente com dietas ricas em proteína, gota ou quimioterapia. Fatores genéticos também podem contribuir para o surgimento de pedras no rim deste tipo. Cálculos de ácido úrico formam-se quando a urina está com excesso de ácido úrico, apresentando pH urinário ácido (entre 5 e 5,4). Geralmente os pacientes apresentam-se com síndrome metabólica e resistência à insulina, e com gota de aparência clínica. _______________________________________ B) QUADRO CLÍNICO Os sintomas de cálculo renal normalmente surgem de forma repentina, quando a pedra se desloca pelas vias urinárias, gerando uma dor muito forte nas costas que deve ser tratada o mais rápido possível em um hospital ou pronto- socorro. Cálculos localizados dentro do rim habitualmente não causam sintomas. Estes somente incomodarão quando se movimentarem para sair do rim e obstruírem o ureter (conduto que ecoa a urina do rim para a bexiga). Nesta situação pode se manifestar dor intensa e outros sintomas associados, como por exemplo: • Dor lombar variável e intensa, em cólica, que pode se irradiar (SER REFERIDA) para flanco, abdome inferior e região genital (até vulva ou testículo) (depende da localização do cálculo). • Urina rosada, devido à presença de algumas gotas de sangue na urina (hematúria macro e microscópica) • Náuseas e vômitos são comuns • Desejo aumentado de ir ao banheiro urinar mas não expelir muita urina • Desejo de evacuar mas sem eliminar nada – pouco comum • Ardência ou dor para urinar (disúria) • Febre e calafrios (em caso associado a infecçãourinária) • Suor excessivo. Ao exame físico, o paciente pode encontrar-se com fácies de dor, pálido, taquicárdico e, às vezes, hipertenso. _______________________________________ C) DIAGNÓSTICO O diagnóstico começa a partir de uma boa anamnese e exame físico. A manifestação da cólica renal e o trajeto da dor são muito sugestivos da Nefrolitíase. Para fechar o diagnóstico, são realizados exames de imagens. Os exames de imagem confirmam o diagnóstico de litíase renal, indicam a posição, o tamanho do cálculo e evidenciam complicações, como a hidronefrose, por exemplo. • A partir da Radiografia, vê-se alguns cálculos e o aspecto radiográfico pode determinar o tipo de cálculo. Cálculos de fosfato de cálcio e de oxalato de cálcio são radiodensos, a estruvita (fosfato de magnésio e amônio) podem ser vistos quando formam complexos com carbono ou fosfato de cálcio; cálculos de cistina não são bem visualizados e os cálculos de ácido úrico são radiotransparentes. • O exame padrão-ouro é a Tomografia Computadorizada (TC), porém quando indisponível, a ultrassonografia é uma boa alternativa Outros métodos de análise também podem ser realizados, como urografia intravenosa – muito útil para definir grau e extensão da obstrução, porém é contraindicado nos pacientes com insuficiência renal, devido ao contraste – e pielografia retrógrada – permite a visualização do trato urinário sem necessitar de contraste. RENATA LIMA – MEDICINA – 5º SEMESTRE – TUTORIA 5. COMPREENDER O TRATAMENTO PARA NEFROLITÍASE A maioria dos pacientes podem ser manejados conservadoramente com analgesia durante o episódio agudo. Tratamento inicial da cólica renal é realizado com analgésico potente opiáceo ou AINE. Hidratação forçada na cólica renal aguda não é indicada. Deve-se encaminhar para tratamento hospitalar de urgência os pacientes sem controle adequado da dor, se existir a possibilidade de gravidez ectópica (mulher em idade fértil com atraso menstrual) ou aneurisma de aorta, infecção urinária, litíase com suspeita de obstrução em rim único e/ou anúria. É pouco provável que cálculos ureterais maiores que 10 mm sejam expelidos. Portanto, nesses casos, a avaliação com o urologista é necessária. Para cálculos ureterais menores ou iguais a 10 mm em pacientes que apresentam sintomas controláveis e não apresentam razão para remoção cirúrgica imediata, o acompanhamento pode ser conservador com analgesia e terapia medicamentosa que aumenta a probabilidade de liberação do cálculo. É utilizado preferencialmente bloqueador alfa- adrenérgico (tansulosina 0,4mg/dia ou doxazosina de 2 a 4mg/dia) por 4 semanas, para relaxar a musculatura lisa ureteral. Bloqueadores dos canais de cálcio, como a nifedipina (30mg/dia), também podem ser utilizados na indisponibilidade do bloqueador alfa- adrenérgico. Nesses casos, o paciente deve estar atento para a eliminação do cálculo e caso não seja expelido deve-se solicitar um novo exame de imagem em 6 semanas para identificar sua expulsão. _______________________________________ A) ANTIESPASMÓDICO - Mecanismo de ação Os antiespasmódicos são um grupo de substâncias que previnem ou interrompem a contração dolorosa e involuntária dos músculos MUSCULATURA LISA do intestino, abdômen e sistema reprodutor. Essa contração, conhecida também como espasmos, é a “culpada” pela sensação de cólica, seja ela gastrointestinal, das vias biliares e menstrual. São medicamentos parassimpaticolíticos, ou seja, bloqueiam o efeito do sistema parassimpático e, portanto, bloqueiam a acetilcolina, tendo assim atividade anticolinérgica. O tipo de medicamento nesse grupo é a atropina. Os medicamentos de uso comum nessa classe incluem a diciclomina e a hiosciamina. O mecanismo de ação dos antiespasmódicos é competir com a acetilcolina pelos receptores muscarínicos, e dessa forma vão atuar inibindo os receptores colinérgicos muscarínicos no plexo entérico e no músculo liso. ANTAGONISTA ADRENÉRGICO BETA ADRENÉRGICO – BLOQUEIA E FACILITA A PASSAGEM DO CÁLCULO, TRANSILOM. - Efeito adverso Quando administrados em baixas doses, exercem efeitos autônomos mínimos. Todavia, em doses mais altas, exibem efeitos anticolinérgicos adicionais significativos, como boca seca, distúrbios visuais, retenção urinária e constipação. Por essas razões, os antiespasmódicos raramente são utilizados.
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