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Leia o soneto a seguir para responder às questões 45 a 47. Já rompe, Nise, a matutina Aurora O negro manto, com que a noite escura, Sufocando do Sol a face pura, Tinha escondido a chama brilhadora. Que alegre, que suave, que sonora Aquela fontezinha aqui murmura! E nestes campos cheios de verdura Que avultado o prazer tanto melhora! Só minha alma em fatal melancolia, Por te não poder ver, Nise adorada, Não sabe inda que coisa é alegria; E a suavidade do prazer trocada Tanto mais aborrece a luz do dia, Quanto a sombra da noite mais lhe agrada. Cláudio Manuel da Costa. Obras, 2002. 45 Uefs 2018 O termo que melhor descreve o estado de espírito do eu lírico é A entediado. B assustado. C indignado. triste. E otimista. 46 Uefs 2018 Uma característica típica do Arcadismo en- contrada nesse soneto é A o subjetivismo exacerbado. B a obsessão pela noite e pela morte. C o ideal da impessoalidade. a preocupação com o social. E a evocação da cultura greco-latina. 47 Uefs 2018 Um verso que remete à convenção arcádica do “locus amoenus” (“lugar aprazível”) é: A “O negro manto, com que a noite escura,” (1a estrofe) B “Aquela fontezinha aqui murmura!” (2a estrofe) C “Só minha alma em fatal melancolia,” (3a estrofe) “Não sabe inda que coisa é alegria;” (3a estrofe) E “Quanto a sombra da noite mais lhe agrada.” (4a estrofe) 48 UPF 2016 Basílio da Gama, em O Uraguai, de 1769, narra os sucessos da expedição militar empreendida por portugueses e espanhóis contra os Sete Povos das Missões. Sobre esse poema, de pretensões épi- cas, apenas é incorreto afirmar que: A se divide em cinco cantos compostos por decassí- labos brancos. B tenta conciliar a louvação de Pombal e o heroísmo do indígena. C glorifica a ação catequizadora desenvolvida pelo jesuíta junto ao índio. aborda fatos quase contemporâneos à composi- ção da obra. E apresenta passagens líricas que cativaram os leito- res ao longo do tempo. Leia o texto a seguir para responder à questão 49. [4] Eu, Marília, não sou algum vaqueiro, que viva de guardar alheio gado, de tosco trato, de expressões grosseiro, dos frios gelos e dos sóis queimado. Tenho próprio casal e nele assisto; dá-me vinho, legume, fruta, azeite; das brancas ovelhinhas tiro o leite, e mais as finas lãs, de que me visto. Graças, Marília bela, graças à minha estrela! (...) [5] Tu não verás, Marília, cem cativos tirarem o cascalho e a rica terra, ou dos cercos dos rios caudalosos, ou da minada serra. Não verás separar ao hábil negro do pesado esmeril a grossa areia, e já brilharem os granetes de oiro no fundo da bateia. (...) Não verás enrolar negros pacotes das secas folhas do cheiroso fumo; nem espremer entre as dentadas rodas da doce cana o sumo. Verás em cima da espaçosa mesa altos volumes de enredados feitos; ver-me-ás folhear os grandes livros, e decidir os pleitos. Enquanto revolver os meus consultos, tu me farás gostosa companhia, lendo os fastos da sábia, mestra História, e os cantos da poesia. Tomás A. Gonzaga, Marília de Dirceu. casal: pequena propriedade rural; assisto: resido, moro; bateia: utensílio empregado no garimpo; espécie de gamela; altos volumes: referência a processos judiciais, pois o poeta era magistrado. 49 FGV-RJ 2016 O excerto contém versos que atestam, de modo enfático, que, no Brasil, o Arcadismo, também chamado de Neoclassicismo, A desenvolveu-se em meio rural, ao contrário do ca- ráter citadino que tinha no Velho Mundo. B procurou situar na realidade local os temas e for- mas de sua matriz europeia. C tornou-se nacionalista, abandonando o internacio- nalismo que é inerente à sua filiação classicista. repudiou, em nome do maravilhoso cristão, as refe- rências à mitologia pagã, greco-latina. E imiscuiu-se na política, o que lhe prejudicou a inte- gridade estética. F R E N T E 2 313 Os fragmentos a seguir, extraídos da obra História concisa da literatura brasileira, de Alfredo Bosi, avaliam o surgimento das nossas primeiras manifestações literárias, confrontando-as com a situação de uma Europa já amadurecida literariamente. O problema das origens da nossa literatura não pode formular-se em termos de Europa, onde foi a maturação das grandes nações modernas que condicionou toda a histó- ria cultural, mas nos mesmos termos das outras literaturas americanas, isto é, a partir da afirmação de um complexo colonial de vida e de pensamento. A Colônia é, de início, o objeto de uma cultura, o “ou- tro” em relação à metrópole: em nosso caso, foi a terra a ser ocupada, o pau-brasil a ser explorado, a cana-de-açú- car a ser cultivada, o ouro a ser extraído; numa palavra, a matéria-prima a ser carreada para o mercado externo. A colônia só deixa de sê-lo quando passa a sujeito da sua história. Mas essa passagem fez-se no Brasil por um lento processo de aculturação do português e do negro à terra e às raças nativas; e fez-se com naturais crises e desequilíbrios. Acompanhar este processo na esfera de nossa consciência histórica é pontilhar o direito e o avesso do fenômeno nati- vista, complemento necessário de todo complexo colonial. Importa conhecer alguns dados desse complexo, pois foram ricos de consequências econômicas e culturais que transcenderam os limites cronológicos da fase colonial. Nos primeiros séculos, os ciclos de ocupação e de ex- ploração formaram ilhas sociais (Bahia, Pernambuco, Minas, Rio de Janeiro, São Paulo), que deram à Colônia a fisionomia de um arquipélago cultural. E não só na fácies geográfica: as ilhas devem ser vistas também na dimensão temporal, momentos sucessivos que foram do nosso passado desde o século XVI até a Independência. Assim, de um lado houve a dispersão do país em subsis- temas regionais, até hoje relevantes para a história literária; de outro, a sequência de influxos da Europa, responsável pelo pa- ralelo que se estabeleceu entre os momentos de além-Atlântico e as esparsas manifestações literárias e artísticas do Brasil-Colô- nia: Barroco, Arcádia, Ilustração, Pré-Romantismo... Acresce que o paralelismo não podia ser rigoroso pela óbvia razão de estarem fora os centros primeiros de irradiação mental. De onde, certos descompassos que causariam espécie a um estudioso habituado às constelações da cultura europeia: coexistem, por exemplo, com o barroco do ouro das igrejas mineiras e baianas a poesia arcádica e a ideologia dos ilustrados que dá cor doutrinária às revoltas nativistas do século XVIII. [...] Convém lembrar, por outro lado, que Portugal, perdendo a autonomia política entre 1580 e 1640, e decaindo verti- calmente nos séculos XVII e XVIII, também passou para a categoria de nação periférica no contexto europeu; e a sua literatura, depois do clímax da épica quinhentista, entrou a girar em torno de outras culturas: a Espanha do Barroco, a Itália da Arcádia, a França do Iluminismo. A situação afetou em cheio as incipientes letras coloniais que, já no limiar do século XVII, refletiriam correntes de gosto recebidas “de se- gunda mão”. O Brasil reduzia-se à condição de subcolônia... A rigor, só laivos de nativismo, pitoresco no século XVII e já reivindicatório no século seguinte, podem considerar-se o divisor de águas entre um gongórico português e o baiano Botelho de Oliveira, ou entre um árcade coimbrão e um lírico mineiro. E é sempre necessário distinguir um nativismo estáti- co, que se exaure na menção da paisagem, de um nativismo dinâmico, que integra o ambiente e o homem na fantasia poética (Basílio da Gama, Silva Alvarenga, Sousa Caldas). O limite da consciência nativista é a ideologia dos in- confidentes de Minas, do Rio de Janeiro, da Bahia e do Recife. Mas, ainda nessas pontas-de-lança da dialética entre Metrópole e Colônia, a última pediu de empréstimo à França as formas de pensar burguesas e liberais para interpretar a sua própria realidade. De qualquer modo, a busca de fontes ideológicas não portuguesas ou não ibéricas, em geral, já era ruptura consciente com o passado e um caminho para modos de assimilação mais dinâmicos, e propriamente brasileiros, da cultura europeia, comose deu no período romântico. [...] BOSI, Alfredo. História concisa da literatura brasileira. Editora Cultrix: São Paulo. p. 11-13. (Adapt.). Texto complementar Quinhentismo y Carta de Caminha: a “certidão de nascimento” do Brasil. y A literatura de informação, com textos dos primeiros europeus que vieram ao Brasil. y O retrato do indígena – e de sua cultura – como um objeto exótico e selvagem. y Os primeiros esboços da história do Brasil. y A perspectiva de outros europeus com relação à terra “descoberta” pelos portugueses. y A literatura jesuítica e o esforço de aportuguesamento dos negros trazidos da África e dos indígenas. y José de Anchieta, nome de destaque da Companhia de Jesus, com sua obra, seu teatro de catequese e sua poesia devocional. Barroco y Movimento literário marcado pelo questionamento de uma época de crescimento econômico e imposição imperial europeia em termos re- ligiosos ou políticos. y Choque de valores, representado pelo exagero das formas e dos re- cursos artísticos, como principal característica. y Contradição, imprecisão, excesso e retórica apurada como marca de seus textos literários. y Tendências básicas: – Cultismo: jogo de palavras. – Conceptismo: jogo de ideias. Padre Antônio Vieira y Principal nome do Barroco português e figura de destaque no Barroco brasileiro. y Importante nome político do século XVII, além de sermonista de prestígio. y Em sua obra, destacam-se os sermões, as cartas e os textos proféticos que escreveu valendo-se dos recursos barrocos. Gregório de Matos y Primeiro nome da poesia brasileira propriamente dita pelo interesse em retratar as questões brasileiras sem sua inserção no contexto maior do Império Português. Resumindo LÍNGUA PORTUGUESA Capítulo 3 Literatura Colonial: Quinhentismo, Barroco e Arcadismo314 Quer saber mais? sua própria língua (ao contrário do que acontece nos filmes westerns norte-americanos); e o símbolo da “preguiça brasileira” não vem dos indígenas, mas dos degredados portugueses que foram deixados no país, conforme descrito pela própria Carta de Caminha. y Palavra e utopia. Direção: Manoel de Oliveira, 2000. Trata-se de uma espécie de biografia do Padre Antônio Vieira, cons- truída a partir dos seus sermões, de suas cartas e de outros de seus escritos, demonstrando como o escritor enxergava a si mesmo no contexto do século XVI. y Gregório de Matos. Direção: Ana Carolina, 2003. É um filme que demonstra o contexto baiano contraditório em que viveu o Boca do Inferno, interpretado pelo poeta Waly Salomão. y Os inconfidentes. Direção: Joaquim Pedro de Andrade, 1972. Contrasta a versão oficial da história da Inconfidência Mineira com a literatura produzida na época. Assim, os poetas árcades da plêiade mineira protagonizam uma época de conflitos, sonhos e traições, sob passagens belíssimas de seus próprios poemas e do Romanceiro da Inconfidência, de Cecília Meireles. y Caramuru: a invenção do Brasil. Direção: Guel Arraes e Jorge Fur- tado, 2001. Classificação indicativa: 12 anos. É um filme que traz uma divertida sátira do poema épico de Santa Rita Durão e da história oficial do Brasil. Livro y MIRANDA, Ana. Desmundo. São Paulo: Companhia das Letras, 1996. Em seu romance, a escritora cearense contemporânea Ana Miranda narra a história fictícia de um grupo de adolescentes órfãs portugue- sas que vieram ao Brasil, em 1555, para se casar com os colonos e contribuir para o embranquecimento da população brasileira. O romance retrata a fragilidade e o sentido de impotência dessas moças diante do “desmundo” que encontram por aqui e focaliza a brutalidade do choque cultural resultante do processo colonial. O romance foi adaptado para o cinema por Alain Fresnot, em 2003, e ambos, livro e filme, são obras de referência para pensarmos, com os olhos de hoje, sobre os traços históricos do Brasil. Filmes y O descobrimento do Brasil. Direção: Humberto Mauro, 1937. Essa adaptação cinematográfica da Carta de Caminha é marcada por imagens-símbolo do colonialismo, como a caravela e a cruz, e, apesar de ser um filme oficial e romântico sobre a vinda dos por- tugueses ao Brasil, traz algumas sutilezas críticas: sugere-se que a chegada de Cabral não foi acidental como a carta descreve; os indígenas são interpretados por atores indígenas, os quais falam em y Poeta satírico, de alcunha Boca do Inferno, mas, como os demais artis- tas barrocos, com relação conflituosa com a fé católica e com os valores sociais da época, também com produção de poesia lírica e religiosa. Arcadismo y As características do estilo neoclássico. y O Pombalismo e suas relações com a arcádia lusitana. y A obra de Bocage, um dos principais poetas portugueses de todos os tempos. y As mudanças promovidas no Brasil por conta da descoberta do ouro em Minas Gerais. y A arcárdia ultramarina como primeira tentativa de formar uma literatura característica brasileira. y A Inconfidência Mineira e sua tentativa frustrada de Independência do Brasil. y A obra literária e as ideias políticas da plêiade mineira e dos poetas árcades brasileiros. y Cláudio Manuel da Costa, o mentor do Arcadismo no Brasil. y Tomás Antônio Gonzaga, o poeta árcade de maior destaque no país. y A épica árcade brasileira. 1 UFPE 2011 A relação do homem com a natureza sempre foi um tema presente na literatura universal, desde os seus primórdios. Leia os textos e considere a questão a seguir: Albert Eckhout, Índios.Albrecht Dürer, Adão e Eva. Exercícios complementares F R E N T E 2 315
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