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HISTÓRIA Capítulo 9 A Era Vargas (1930-1945)52 O DIP, por sua vez, cumpriu a função de censor e construtor da imagem pública do governo, utilizando-se de modernos meios de comunicação (rádio, imprensa e filmes, por exemplo). Esse departamento foi responsável pela construção de uma verdadeira fobia ao comunismo no Brasil. Paralelamente, a polícia secreta do Estado Novo passaria a agir sob o comando do pró-nazista Filinto Müller, um ex tenente e ex membro da Coluna Prestes Fig. 12 Cartilha publicada pelo DIP com os dizeres “Fortes e unidos, os brasileiros do Estado Novo são guiados pela grande trindade nacional. Nossa pátria, nossa bandeira, nosso chefe”. Observe a fusão dos elementos Pátria, Estado e Nação, bem como o culto à figura do líder, inspirado em regimes totalitários. Quanto à legislação trabalhista, ela possuía, assim como outras leis do trabalho contemporâneas da época, traços que estavam presentes na Carta de Lavoro, da Itália fascista de Mussolini. Tal afirmação, no entanto, não oferece às leis trabalhistas um caráter fascista, mas indica que po deriam ser utilizadas como forma de barganha, visando ao enfraquecimento do conflito entre capital e trabalho. Pro- movia o desenvolvimento das corporações, sindicatos de trabalhadores ou de empresários, totalmente subordinadas ao Estado pela ação do governo e pela dependência eco- nômica. Proibia-se o direito de greve e as associações não filiadas ao sistema oficial. Assim, a lei reconhecia apenas um sindicato por profissão em nível local. As associações nacio- nais só seriam permitidas com autorização do Ministério do Trabalho, em casos excepcionais Diretorias e estatutos dos sindicatos ficariam sob o controle direto do Ministério do Trabalho, que poderia intervir sobre eles. Com isso, as lideranças sindicais passavam a ser exercidas por elemen- tos confiáveis ao regime. Nascia, dessa maneira, a figura do pelego, um dirigente sindical, teoricamente representante de uma classe, mas que, na verdade, seria uma espécie de correia de transmissão dos interesses do Estado para den- tro do sindicato. O Estado assumia, também, a bandeira do desenvolvi mento econômico. Em crise, a agricultura havia deixado de crescer substancialmente. Apesar da aparente boa vontade com relação às políticas de valorização do café, o apoio go- vernamental consistiu em comprar e queimar o estoque. Mas, agindo assim, abriu espaço para o investimento na indústria Esta, portanto, desenvolvia-se patrocinada, principalmente, pelo Estado. Foram providenciados investimentos no sistema de crédito, política cambial protecionista de controle de pre- ços, incentivos fiscais e tributários e contenção de salários E, naqueles setores básicos para o desempenho industrial, nos quais, porém, o empresariado nacional manifestava-se inca- paz de sustentar um investimento, o Estado criou empresas próprias. Estes foram os casos da Companhia Siderúrgica Nacional, em Volta Redonda, e da Companhia Vale do Rio Doce, para a exploração de minérios. Por fim, vale frisar que o modelo varguista prescindia de partidos, mesmo daqueles que aparentemente trilhavam uma linha política semelhante à sua. Assim, Vargas procurou lentamente reduzir a influência dos integralistas, os quais haviam aplaudido o golpe de 1937 Por isso, estes tentaram um golpe, em 1938, o Putsch Integralista, no qual eles ten- taram tomar o Palácio da Guanabara e depor o presidente. A reação do governo foi imediata. Todos os líderes foram presos, com Plínio Salgado exilado, e o integralis- mo definitivamente extinto, assim como já havia feito com a ANL. A Segunda Guerra Mundial e o Brasil Enquanto transcorria o governo Vargas, os países eu- ropeus davam início à Segunda Guerra Mundial. Apesar de todos os paralelos feitos entre o Estado Novo e os to- talitarismos europeus, o Brasil mostrou-se neutro durante a maior parte do conflito. A inclinação, quando ocorreu, foi favorável aos Aliados (em campo oposto ao bloco Itália e Alemanha) e devido às pressões dos Estados Unidos Durante os primeiros anos do conflito, Vargas valeu-se da dubiedade da sua posição. Se, por um lado, o governo brasileiro, com suas características autoritárias, apresen- tava certa semelhança ideológica com os países do Eixo, por outro lado, a posição econômica brasileira atrelava- nos aos Aliados. Assim, Vargas manteve uma postura neutra, procurando negociar a participação brasileira de um lado ou de outro. O presidente ainda tinha que considerar as dissensões entre seus próprios aliados. Filinto Müller, chefe da polí- cia varguista, o General Dutra, chefe das forças armadas, Francisco Campos, ministro da Justiça, eram favoráveis ao Eixo, ao passo que nomes como Osvaldo Aranha, ministro do Exterior, eram favoráveis aos Aliados. Dissensão: desavença, conflito, disputa. Para os Estados Unidos, a participação brasileira era fundamental por várias razões, dentre as quais a neces- sidade de uma base no Atlântico Sul, onde seus aviões pudessem reabastecer em direção ao norte da África, além do patrulhamento dessa faixa do oceano e do ras- treamento aéreo. Com isso, ao mesmo tempo que Vargas pronunciava discursos saudando as vitórias do Eixo, os Estados Unidos procuravam seduzir o governo com um empréstimo a fundo perdido de 20 milhões de dólares, para iniciar a construção da usina siderúrgica de Volta Redonda e forçar uma definição brasileira em direção aos Aliados, acenando ainda com promessas de que todo o material bélico e bases criadas pelos Estados Unidos no A c e rv o C P D O C /F G V F R E N T E 1 53 Brasil seriam, após a guerra, propriedade brasileira, bem como a concessão de aviões, que daríam origem à Força Aérea Brasileira (FAB). Um forte pretexto para a entrada do Brasil no conflito foi o afundamento de navios brasileiros por submarinos alemães, fato que colocou a opinião pública definitivamente ao lado dos Aliados. Foi assim que, em 21 de agosto de 1942, o Brasil de- clarou guerra à Itália e à Alemanha Mas, só em 1944, já no final da guerra, enviou um contingente de mais de 20 mil soldados para combater na Itália ao lado dos estadun- idenses. Este contingente formou a Força Expedicionária Brasileira (FEB) e participou das batalhas de Monte Castelo e Montese. Fig. 13 Cartaz sobre a participação do Brasil na Segunda Guerra Mundial ao lado dos Aliados. Este fato alterou a situação interna no Brasil O conflito internacional adquiria a forma de uma aliança dos países de regime democrático contra o nazismo e o fascismo. A posição de Vargas, cujas propostas para a organização do Estado inspiravam-se, em boa medida, no fascismo, acentuava contradições internas A oposição falaria em democracia partidária, liberdade de imprensa e liberdade de organização, elementos constantes na vida política dos aliados do Brasil na guerra Além do elemento ideológico, porém, a entrada efetiva dos Estados Unidos na guerra, a partir de 1942, abreviava o final do conflito: Hitler e Mussolini seriam derrotados em breve Os ventos sopravam na direção oposta ao nazifas- cismo e a diplomacia brasileira preocupava-se em estar posicionada do lado certo. Vargas percebeu cedo que o fim da guerra tornava impossível a manutenção de seu governo. Desde 1943, pro- meteu eleições quando o conflito internacional terminasse. A partir desse momento, sua política de redemocratização ganhou vulto e voltou se para as massas urbanas, en- fatizando as reformas sociais. Para isso, ele tinha armas poderosas: todo o aparelho sindical liderado pelo Ministério do Trabalho (o ministro era Marcondes Filho, que lançou os sindicatos na defesa do “pai dos trabalhadores”) e o DIP, que trabalhou intensamente a nova imagem do presidente. Começava a política conhecida como populismo, tantas vezes retomada por lideranças brasileiras. Fig. 14 Vargas (ao centro) e o presidente dos Estados Unidos, Franklin Roosevelt (à direita), em visita a Natal, em 1943. Na ocasião, foram promovidos acordos relacionados à participação do Brasil na Segunda Guerra.O fim da guerra e da Era Vargas A efetiva derrota do Eixo consumou-se em abril de 1945. Conquanto a guerra ainda continuasse no Pacífico, com a luta entre os Estados Unidos e o Japão (luta que se estenderia até agosto, com a rendição japonesa após o bombardeio de Hiroshima e Nagasaki), já desde 1944 a vitória dos Aliados estava garantida O descontentamento com o autoritarismo do regime varguista vinha à tona e, no início de 1945, os protestos se avolumaram. Em 28 de fevereiro de 1945, Vargas se adiantou à oposição e editou um Ato Adicional, prevendo a convocação de eleições em um prazo de 90 dias, com sufrágio universal. Ao mesmo tempo, a vida partidária rearticulava se. A União Democrática Nacional (UDN) havia sido formada em abril daquele ano e reunia toda a oposição liberal a Getúlio Vargas. Tratava-se dos apoiadores de Eduardo Gomes que fora lançado como candidato à presidência. Em julho, formou-se o PSD (Partido Social Democrático) para disputar o apoio das oligarquias, tendo o próprio Vargas como presidente honorário do partido Esse partido lançou como candidato Eurico Gaspar Dutra, em um enor me comício no dia 1 o de maio Ficava clara a perspectiva de Vargas de buscar se apoiar nos setores populares, jogando com o prestígio da legislação trabalhista que ele R e p ro d u ç ã o /A b rR e p ro d u ç ã o HISTÓRIA Capítulo 9 A Era Vargas (1930-1945)54 criara e com a propaganda do DIP que agora o enaltecia como “o pai dos pobres” Completando o quadro partidá rio, em agosto era fundado o Partido Trabalhista Brasileiro (PTB), impulsionado pelo Ministério do Trabalho, e também presidido por Getúlio Vargas Ao mesmo tempo, voltava à legalidade o PCB, contando inclusive com a libertação de Luís Carlos Prestes. As eleições foram marcadas para 2 de dezembro e os meses que se seguiram após a indicação das candidaturas foram tomados pela campanha eleitoral e por surpresas no cenário político brasileiro. O PTB passava a ser o agente pelo qual Vargas articulava sua permanência no poder, lan çando a campanha do queremismo (“Queremos Vargas!”, frase que marcava todas as manifestações de massa do partido, propondo a convocação de uma Constituinte com Vargas no poder) Mas a principal dessas surpresas era, sem dúvida, a posição do PCB e, principalmente, de Prestes Este não apenas passara 10 anos preso, após a derrota do Levante, como ainda tivera sua esposa, Olga Benário, alemã, de origem judia e grávida, entregue pela polícia varguista aos nazistas, nas mãos de quem, inclusive, viera a morrer Fig. 15 Olga Benário, esposa de Luís Carlos Prestes, presa e deportada para a Alemanha pelo regime varguista em 1936. Dessa forma, causava enorme estranheza seu apoio a Vargas e à proposta do PTB, à qual o PCB aderiu com todas as forças. Na verdade, Prestes apenas seguia a orientação da Terceira Internacional, diretamente dirigida pelo Partido Comunista da União Soviética (PCUS), ao qual interessava consolidar sua posição junto aos países do Leste Europeu, dentro da divisão internacional definida nos tratados do pós-guerra. Assim, o PCUS, que centralizava as diretrizes dos partidos comunistas ao redor do mundo, indicou que o Partido Comunista Brasileiro deveria aproximar-se do de- sejo da classe operária e defendê-la independentemente das alianças necessárias. De qualquer maneira, o queremismo ganhava corpo, tomando as ruas das principais cidades, chegando a uma manifestação gigantesca em 3 de outubro, no Rio de Janei- ro. Assim, Vargas dava mostras de sua inegável habilidade política, procurando manter-se no poder, apoiado nos seto- res populares. Tal posição obviamente preocupava setores da elite e dos Estados Unidos, então claramente a nação hegemônica de um bloco capitalista já vivendo os primeiros anos da Guerra Fria Ao mesmo tempo, o Exército via com preocupação essa postura de Vargas, temendo uma guinada à esquerda Esse temor ganhou corpo quando Vargas demitiu Filinto Müller da chefia da polícia do Distrito Federal, substituindo-o por seu irmão, Benjamin Vargas. Era uma clara atitude de Vargas no sentido de ceder às pressões dos setores demo- cráticos que viam em Müller um remanescente da política ditatorial do Estado Novo. Diante dessa atitude, o candidato Dutra e o Ministro da Guerra, Góis Monteiro, depuseram o presidente em 29 de outubro de 1945. Getúlio Vargas retirou se para São Borja, deixando seu cargo nas mãos do presidente do Supremo Tribunal Fe deral, o ministro José Linhares Este manteve as eleições marcadas para 2 de dezembro de 1945, quando Eurico Gaspar Dutra saiu vencedor. 1 Embora tenham sido derrotados militarmente, os paulistas alardearam uma suposta vitória moral da Revolução de 1932 Em que bases essa afirmação poderia ser feita? Revisando G e rm a n F e d e ra A rc h iv e
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