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História - Livro 3-052-054

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HISTÓRIA Capítulo 9 A Era Vargas (1930-1945)52
O DIP, por sua vez, cumpriu a função de censor e
construtor da imagem pública do governo, utilizando-se
de modernos meios de comunicação (rádio, imprensa e
filmes, por exemplo). Esse departamento foi responsável
pela construção de uma verdadeira fobia ao comunismo
no Brasil. Paralelamente, a polícia secreta do Estado Novo
passaria a agir sob o comando do pró-nazista Filinto Müller,
um ex tenente e ex membro da Coluna Prestes
Fig. 12 Cartilha publicada pelo DIP com os dizeres “Fortes e unidos, os brasileiros
do Estado Novo são guiados pela grande trindade nacional. Nossa pátria, nossa
bandeira, nosso chefe”. Observe a fusão dos elementos Pátria, Estado e Nação,
bem como o culto à figura do líder, inspirado em regimes totalitários.
Quanto à legislação trabalhista, ela possuía, assim
como outras leis do trabalho contemporâneas da época,
traços que estavam presentes na Carta de Lavoro, da Itália
fascista de Mussolini. Tal afirmação, no entanto, não oferece
às leis trabalhistas um caráter fascista, mas indica que po
deriam ser utilizadas como forma de barganha, visando ao
enfraquecimento do conflito entre capital e trabalho. Pro-
movia o desenvolvimento das corporações, sindicatos de
trabalhadores ou de empresários, totalmente subordinadas
ao Estado pela ação do governo e pela dependência eco-
nômica. Proibia-se o direito de greve e as associações não
filiadas ao sistema oficial. Assim, a lei reconhecia apenas um
sindicato por profissão em nível local. As associações nacio-
nais só seriam permitidas com autorização do Ministério do
Trabalho, em casos excepcionais Diretorias e estatutos
dos sindicatos ficariam sob o controle direto do Ministério
do Trabalho, que poderia intervir sobre eles. Com isso, as
lideranças sindicais passavam a ser exercidas por elemen-
tos confiáveis ao regime. Nascia, dessa maneira, a figura do
pelego, um dirigente sindical, teoricamente representante
de uma classe, mas que, na verdade, seria uma espécie de
correia de transmissão dos interesses do Estado para den-
tro do sindicato.
O Estado assumia, também, a bandeira do desenvolvi
mento econômico. Em crise, a agricultura havia deixado de
crescer substancialmente. Apesar da aparente boa vontade
com relação às políticas de valorização do café, o apoio go-
vernamental consistiu em comprar e queimar o estoque. Mas,
agindo assim, abriu espaço para o investimento na indústria
Esta, portanto, desenvolvia-se patrocinada, principalmente,
pelo Estado. Foram providenciados investimentos no sistema
de crédito, política cambial protecionista de controle de pre-
ços, incentivos fiscais e tributários e contenção de salários E,
naqueles setores básicos para o desempenho industrial, nos
quais, porém, o empresariado nacional manifestava-se inca-
paz de sustentar um investimento, o Estado criou empresas
próprias. Estes foram os casos da Companhia Siderúrgica
Nacional, em Volta Redonda, e da Companhia Vale do Rio
Doce, para a exploração de minérios.
Por fim, vale frisar que o modelo varguista prescindia
de partidos, mesmo daqueles que aparentemente trilhavam
uma linha política semelhante à sua. Assim, Vargas procurou
lentamente reduzir a influência dos integralistas, os quais
haviam aplaudido o golpe de 1937 Por isso, estes tentaram
um golpe, em 1938, o Putsch Integralista, no qual eles ten-
taram tomar o Palácio da Guanabara e depor o presidente.
A reação do governo foi imediata. Todos os líderes
foram presos, com Plínio Salgado exilado, e o integralis-
mo definitivamente extinto, assim como já havia feito com
a ANL.
A Segunda Guerra Mundial e o Brasil
Enquanto transcorria o governo Vargas, os países eu-
ropeus davam início à Segunda Guerra Mundial. Apesar
de todos os paralelos feitos entre o Estado Novo e os to-
talitarismos europeus, o Brasil mostrou-se neutro durante
a maior parte do conflito. A inclinação, quando ocorreu, foi
favorável aos Aliados (em campo oposto ao bloco Itália e
Alemanha) e devido às pressões dos Estados Unidos
Durante os primeiros anos do conflito, Vargas valeu-se
da dubiedade da sua posição. Se, por um lado, o governo
brasileiro, com suas características autoritárias, apresen-
tava certa semelhança ideológica com os países do Eixo,
por outro lado, a posição econômica brasileira atrelava-
nos aos Aliados.
Assim, Vargas manteve uma postura neutra, procurando
negociar a participação brasileira de um lado ou de outro.
O presidente ainda tinha que considerar as dissensões
entre seus próprios aliados. Filinto Müller, chefe da polí-
cia varguista, o General Dutra, chefe das forças armadas,
Francisco Campos, ministro da Justiça, eram favoráveis ao
Eixo, ao passo que nomes como Osvaldo Aranha, ministro
do Exterior, eram favoráveis aos Aliados.
Dissensão: desavença, conflito, disputa.
Para os Estados Unidos, a participação brasileira era
fundamental por várias razões, dentre as quais a neces-
sidade de uma base no Atlântico Sul, onde seus aviões
pudessem reabastecer em direção ao norte da África,
além do patrulhamento dessa faixa do oceano e do ras-
treamento aéreo. Com isso, ao mesmo tempo que Vargas
pronunciava discursos saudando as vitórias do Eixo, os
Estados Unidos procuravam seduzir o governo com um
empréstimo a fundo perdido de 20 milhões de dólares,
para iniciar a construção da usina siderúrgica de Volta
Redonda e forçar uma definição brasileira em direção aos
Aliados, acenando ainda com promessas de que todo o
material bélico e bases criadas pelos Estados Unidos no
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Brasil seriam, após a guerra, propriedade brasileira, bem
como a concessão de aviões, que daríam origem à Força
Aérea Brasileira (FAB).
Um forte pretexto para a entrada do Brasil no conflito
foi o afundamento de navios brasileiros por submarinos
alemães, fato que colocou a opinião pública definitivamente
ao lado dos Aliados.
Foi assim que, em 21 de agosto de 1942, o Brasil de-
clarou guerra à Itália e à Alemanha Mas, só em 1944, já
no final da guerra, enviou um contingente de mais de 20
mil soldados para combater na Itália ao lado dos estadun-
idenses. Este contingente formou a Força Expedicionária
Brasileira (FEB) e participou das batalhas de Monte Castelo
e Montese.
Fig. 13 Cartaz sobre a participação do Brasil na Segunda Guerra Mundial ao lado
dos Aliados.
Este fato alterou a situação interna no Brasil O conflito
internacional adquiria a forma de uma aliança dos países
de regime democrático contra o nazismo e o fascismo. A
posição de Vargas, cujas propostas para a organização
do Estado inspiravam-se, em boa medida, no fascismo,
acentuava contradições internas A oposição falaria em
democracia partidária, liberdade de imprensa e liberdade
de organização, elementos constantes na vida política dos
aliados do Brasil na guerra
Além do elemento ideológico, porém, a entrada efetiva
dos Estados Unidos na guerra, a partir de 1942, abreviava
o final do conflito: Hitler e Mussolini seriam derrotados em
breve Os ventos sopravam na direção oposta ao nazifas-
cismo e a diplomacia brasileira preocupava-se em estar
posicionada do lado certo.
Vargas percebeu cedo que o fim da guerra tornava
impossível a manutenção de seu governo. Desde 1943, pro-
meteu eleições quando o conflito internacional terminasse.
A partir desse momento, sua política de redemocratização
ganhou vulto e voltou se para as massas urbanas, en-
fatizando as reformas sociais. Para isso, ele tinha armas
poderosas: todo o aparelho sindical liderado pelo Ministério
do Trabalho (o ministro era Marcondes Filho, que lançou os
sindicatos na defesa do “pai dos trabalhadores”) e o DIP,
que trabalhou intensamente a nova imagem do presidente.
Começava a política conhecida como populismo, tantas
vezes retomada por lideranças brasileiras.
Fig. 14 Vargas (ao centro) e o presidente dos Estados Unidos, Franklin Roosevelt
(à direita), em visita a Natal, em 1943. Na ocasião, foram promovidos acordos
relacionados à participação do Brasil na Segunda Guerra.O fim da guerra e da Era Vargas
A efetiva derrota do Eixo consumou-se em abril de
1945. Conquanto a guerra ainda continuasse no Pacífico,
com a luta entre os Estados Unidos e o Japão (luta que
se estenderia até agosto, com a rendição japonesa após
o bombardeio de Hiroshima e Nagasaki), já desde 1944 a
vitória dos Aliados estava garantida O descontentamento
com o autoritarismo do regime varguista vinha à tona e,
no início de 1945, os protestos se avolumaram. Em 28 de
fevereiro de 1945, Vargas se adiantou à oposição e editou
um Ato Adicional, prevendo a convocação de eleições em
um prazo de 90 dias, com sufrágio universal.
Ao mesmo tempo, a vida partidária rearticulava se.
A União Democrática Nacional (UDN) havia sido formada
em abril daquele ano e reunia toda a oposição liberal a
Getúlio Vargas. Tratava-se dos apoiadores de Eduardo
Gomes que fora lançado como candidato à presidência.
Em julho, formou-se o PSD (Partido Social Democrático)
para disputar o apoio das oligarquias, tendo o próprio
Vargas como presidente honorário do partido Esse partido
lançou como candidato Eurico Gaspar Dutra, em um enor
me comício no dia 1
o
 de maio Ficava clara a perspectiva
de Vargas de buscar se apoiar nos setores populares,
jogando com o prestígio da legislação trabalhista que ele
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HISTÓRIA Capítulo 9 A Era Vargas (1930-1945)54
criara e com a propaganda do DIP que agora o enaltecia
como “o pai dos pobres” Completando o quadro partidá
rio, em agosto era fundado o Partido Trabalhista Brasileiro
(PTB), impulsionado pelo Ministério do Trabalho, e também
presidido por Getúlio Vargas Ao mesmo tempo, voltava
à legalidade o PCB, contando inclusive com a libertação
de Luís Carlos Prestes.
As eleições foram marcadas para 2 de dezembro e os
meses que se seguiram após a indicação das candidaturas
foram tomados pela campanha eleitoral e por surpresas no
cenário político brasileiro. O PTB passava a ser o agente
pelo qual Vargas articulava sua permanência no poder, lan
çando a campanha do queremismo (“Queremos Vargas!”,
frase que marcava todas as manifestações de massa do
partido, propondo a convocação de uma Constituinte com
Vargas no poder)
Mas a principal dessas surpresas era, sem dúvida, a
posição do PCB e, principalmente, de Prestes Este não
apenas passara 10 anos preso, após a derrota do Levante,
como ainda tivera sua esposa, Olga Benário, alemã, de
origem judia e grávida, entregue pela polícia varguista aos
nazistas, nas mãos de quem, inclusive, viera a morrer
Fig. 15 Olga Benário, esposa de Luís Carlos Prestes, presa e deportada para a
Alemanha pelo regime varguista em 1936.
Dessa forma, causava enorme estranheza seu apoio a
Vargas e à proposta do PTB, à qual o PCB aderiu com todas
as forças. Na verdade, Prestes apenas seguia a orientação
da Terceira Internacional, diretamente dirigida pelo Partido
Comunista da União Soviética (PCUS), ao qual interessava
consolidar sua posição junto aos países do Leste Europeu,
dentro da divisão internacional definida nos tratados do
pós-guerra. Assim, o PCUS, que centralizava as diretrizes
dos partidos comunistas ao redor do mundo, indicou que
o Partido Comunista Brasileiro deveria aproximar-se do de-
sejo da classe operária e defendê-la independentemente
das alianças necessárias.
De qualquer maneira, o queremismo ganhava corpo,
tomando as ruas das principais cidades, chegando a uma
manifestação gigantesca em 3 de outubro, no Rio de Janei-
ro. Assim, Vargas dava mostras de sua inegável habilidade
política, procurando manter-se no poder, apoiado nos seto-
res populares. Tal posição obviamente preocupava setores
da elite e dos Estados Unidos, então claramente a nação
hegemônica de um bloco capitalista já vivendo os primeiros
anos da Guerra Fria
Ao mesmo tempo, o Exército via com preocupação
essa postura de Vargas, temendo uma guinada à esquerda
Esse temor ganhou corpo quando Vargas demitiu Filinto
Müller da chefia da polícia do Distrito Federal, substituindo-o
por seu irmão, Benjamin Vargas. Era uma clara atitude de
Vargas no sentido de ceder às pressões dos setores demo-
cráticos que viam em Müller um remanescente da política
ditatorial do Estado Novo. Diante dessa atitude, o candidato
Dutra e o Ministro da Guerra, Góis Monteiro, depuseram o
presidente em 29 de outubro de 1945.
Getúlio Vargas retirou se para São Borja, deixando seu
cargo nas mãos do presidente do Supremo Tribunal Fe
deral, o ministro José Linhares Este manteve as eleições
marcadas para 2 de dezembro de 1945, quando Eurico
Gaspar Dutra saiu vencedor.
1 Embora tenham sido derrotados militarmente, os paulistas alardearam uma suposta vitória moral da Revolução de
1932 Em que bases essa afirmação poderia ser feita?
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