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F R E N T E 2 73 Havia, ainda, grandes interesses internacionais em jogo. À Inglaterra interessava a existência de pequenos paí- ses, onde seria mais fácil conseguir vantagens econômicas. Os Estados Unidos, expandindo-se para oeste, não queriam encontrar um México forte e unido. E o Brasil, monárquico e escravista, não desejava um vizinho forte que fosse seu oposto, republicano e com trabalho livre, na área platina. OCEANO PACÍFICO OCEANO ATLÂNTICO Trópico de Câncer Equador Tróp ico d e Cap ricórn io 0° 50° O Independências na América espanhola e na América portuguesa – século XIX imenso carisma, ele opunha-se à unificação da Argentina Além disso, era ligado aos latifundiários, por isso, constan- temente, confiscava terras dos indígenas e entregava as a esses grandes proprietários Rosas utilizava sua polícia política para prender, degolar e exilar os opositores do re- gime Aqueles que fossem fiéis a Rosas tinham obrigação de usar em público emblemas com a cor vermelha Nas províncias argentinas, organizou se um movimento contra Rosas, apoiado pelos governos do Brasil, de D Pedro II, e do Uruguai, de Joaquín de Rondelo. Em 1852, um exército liderado pelo general José de Urquiza, em aliança com esses dois países, derrubou o caudilho Rosas No Brasil, esse episódio ficou conhecido como Guerra contra Oribe e Rosas Em 1862, o governante de Buenos Aires, Bartolomeu Mitre, unificou a Argentina, estabelecendo, a partir de então, o voto censitário e indireto. Após a unificação ocorreria o massacre sistemático dos indígenas argentinos A partir de 1878, quando comandava o Ministério da Guerra, Julio Argentino Roca iniciou os massacres conhecidos como Campanhas do Deserto (1878 1885) Os exércitos argentinos, utilizando rifles importados, percorreram a área dos pampas argentinos até o rio Negro, com o objetivo de aniquilar todos os indígenas que encontrassem no caminho Outra parte do exército ficaria nas áreas dos Andes para massacrar os indígenas fugitivos. Cerca de 9 mil nativos foram mortos, e 19 mil foram presos. Dos 60 grandes caciques indígenas, apenas cinco morreram naturalmente, enquanto os demais foram assassinados, presos ou exilados Muitos dos indígenas detidos foram mandados para os engenhos de açúcar, nas distantes regiões de Tucumán, enquanto as mulheres tornaram-se empregadas dos criollos; as crianças foram adotadas por famílias brancas, para aprenderem os valores da civilização ocidental, abandonando sua religião e costumes Graças às imensas áreas tomadas dos indígenas, a Argentina tornou- -se a maior produtora de gado do mundo, exportando sebo, charque, couro e carne No início do século XX, o país já era o mais rico da América Latina e a oitava economia do mundo. Em 1913, inaugurava seu primeiro metrô. No caso do México, após a independência, dois grupos políticos foram organizados: o Partido Conservador e o Partido Liberal, ambos compostos de distintos setores das elites O Partido Conservador tinha fortes vínculos com a Igreja Católica (isenta de impostos e detentora de metade das terras do país) e defendia a manutenção dos privilégios da instituição O dízimo, por exemplo, era um imposto obrigatório a todos os mexicanos, independentemente da religião Alguns setores do Partido Conservador também eram favoráveis à chegada de um príncipe europeu para governar o México. Já o Partido Liberal era profundamente anticlerical e defendia reformas para acelerar a implantação do capitalismo liberal no país Em 1829, o México aboliu a escravidão, o que causou um grande descontentamento por parte dos fazendeiros escravocratas do Texas Dessa forma, as tropas texanas rebelaram-se e, com ajuda dos Estados Unidos, massacra- ram os mexicanos O Texas tornou-se independente do México em 1836 e, em seguida, uniu-se aos Estados Unidos. Resolvida a questão do Texas, o presidente estadunidense Dessa forma, os Estados que se originaram da América espanhola dividiram-se em várias repúblicas, sob o controle da elite criolla. Esses países passaram a exportar matéri- as-primas e produtos tropicais e a importar industrializados ingleses. Com isso, não alteraram estruturalmente suas bas- es econômicas. Politicamente, esses Estados tiveram enorme dificuldade em implantar administrações centralizadas, em razão da influência dos caudilhos. Esses chefes locais, originários das forças militares que lutaram pela independência, passaram a disputar o poder em suas regiões usando meios violentos e produzindo um quadro de anarquia e instabilidade política. Os caudilhos eram ricos e prestigiados líderes políticos. Controlando política e economicamente uma região específica, eles apoiavam-se em suas forças armadas particulares para, violentamente, manter seu poder na região e combater qualquer projeto de Estado nacional que pudesse ferir seus interesses. Defendiam, por isso, um federalismo, que representava, na verdade, o controle regional dessas elites. Na província de Buenos Aires, por exemplo, governava um dos mais conhecidos dos caudilhos, Juan Manuel de Rosas. Eleito pelo voto universal masculino e dotado de um HISTÓRIA Capítulo 7 A América no século XIX74 James K Polk (1845 1849) reivindicou a posse de províncias do norte do México, declarando, então, mais uma dispu ta, em 1846: a Guerra Mexicano-Americana Empregando 105 mil soldados, os Estados Unidos derrotaram, novamen te, os mexicanos. Pelo Tratado de Guadalupe-Hidalgo, de 1848, o México foi obrigado a pagar imensas indenizações e a entregar aos estadunidenses aproximadamente a metade de seu território Dessa forma, o país perdeu o território onde hoje se localizam os estados Novo México, Califórnia, Utah, Colorado, Nevada e Arizona A derrota do México abriu caminho para que os liberais tomassem o poder e, com a Constituição de 1857, retirassem os privilégios do clero, separando Igreja e Estado. No campo econômico, eles tornaram todas as terras do país propriedade privada, acabando com as propriedades comunais indígenas, que existiam desde o período pré-colonial Cada nativo ficou com uma pequena porção de terras e menor capacidade de produção. Sem capital e incapazes de concorrer com os latifundiários, esses indígenas acabaram vendendo suas terras para grandes proprietários. Já a questão dos latifúndios só seria resolvida na Revolução Mexicana, no início do século XX Durante todo esse período de guerras e conflitos, o México adquiriu uma dívida imensa com a Espanha, a França e a Inglaterra. Tendo em vista a impossibilidade mexicana de sanar tal dívida, em 1864 os três países invadiram o México. Encontrando pela frente uma forte resistência da guerrilha organizada pelo zapoteca Benito Juárez, a Espanha e a Inglaterra preferiram deixar o país. Já a França, na época comandada por Napoleão III, não apenas continuou a guerra como também nomeou para governar o México Maximiliano de Habsburgo, um nobre de alta estirpe, irmão do rei da Áustria e primo-irmão de D. Pedro II Assim, até 1867, o México esteve em guerra civil: de um lado, as tropas comandadas pelo imperador europeu Maximiliano; de outro, os soldados liderados pelo indígena Benito Juárez Em 1867, as guerrilhas mexicanas venceram os franceses, e Maximiliano foi executado, fato que representa a consolidação do Estado Nacional Mexicano Juárez, reeleito presidente seguidamente, manteve-se no poder até sua morte, em 1872 O México, assim, livrou se do domínio da Igreja Católica e da ameaça de conquista estrangeira Entretanto, nas últimas décadas do século XIX, o país cairia nas mãos de uma nova ditadura, de Porfirio Díaz, que perduraria até a Revolução Mexicana, de 1910 Os Estados Unidos no século XIX Após sua independência, os Estados Unidos mantiveram uma postura isolacionista em relação aos conflitos europeus, buscando consolidar sua posição no continente. A postura foi bastante benéfica, pois o país pôde alimentar seu crescimento econômico e receber uma grande migração, que fez sua popu- lação dobrar. Da época da independência até 1810, o número de habitantes passou de3,5 milhões para mais de 7 milhões. A compra do vasto estado da Louisiana, em 1803, por 15 milhões de dólares, contribuiu muito para essa consolida- ção. A região, que pertencia à França, foi recuperada durante as Guerras Napoleônicas, em 1801. Entretanto, temendo per- dê-la para a Inglaterra e envolvido em intermináveis guerras, Napoleão resolveu vendê-la aos Estados Unidos. Embora praticamente despovoado, esse território foi fundamental para acomodar essa onda migratória, além de dar ao país acesso às férteis terras agricultáveis ao longo do rio Mississipi e, através do porto de Nova Orleans, ao golfo do México Por outro lado, a atitude isolacionista estadunidense teve que ser revista a partir de 1810. As Guerras Napoleônicas, o bloqueio inglês no Atlântico e o Bloqueio Continental francês atrapalharam o crescente comércio com a América Latina e a França. Além disso, a Inglaterra, prejudicada pelo Bloqueio, bus- cava consolidar seu comércio com algumas áreas, indo contra a concorrência representada pelos Estados Unidos no Caribe. As pressões inglesas para barrar o acesso norte-americano a essas áreas cresceram a ponto de deflagrar a Segunda Guerra de Independência (1812-1814). Travada em nome da “liberdade de navegação e comércio”, a guerra, encerrada pelo tratado de Gand (1814), apesar de não ter implicado em alterações ter ritoriais, teve enormes consequências para os Estados Unidos. A expansão para oeste A guerra de 1812-1814, fixando a fronteira norte entre os Estados Unidos e o Canadá inglês, bloqueou o antigo desejo norte-americano de anexar o território canadense. Com isso, os estadunidenses dirigiram seu expansionismo para oeste, onde uma enorme área estava parcamente ocu- pada por tribos indígenas e colonos do México. Embora tivesse um sentido econômico indisfarçável, a expansão para oeste encontrou respaldo na tese do Destino Manifesto, segundo a qual todo o continente era destinado, por Deus, aos colonos brancos, que deveriam “civilizá-lo” até o Oceano Pacífico, dominando os povos considerados “inferiores”: indígenas, mexicanos e mestiços. O Destino Manifesto popularizou a ideia da fronteira, segundo a qual os pioneiros que expandiam a nação, aven- turando-se por terras selvagens e desconhecidas, forjavam as características básicas da civilização estadunidense: o igualita- rismo, o individualismo, o espírito democrático e o espaço para a livre iniciativa. É interessante observar que os grandes heróis retratados pela historiografia estadunidense encarnam este “es- pírito da fronteira” (David Crockett, Daniel Boone, Buffalo Bill, os generais Custer e Sheridan, o presidente Lincoln, entre outros). Fig. 6 John Gast. Progresso americano, 1872. A figura faz alusão ao Destino Manifesto como uma figura divina, guiando a ação civilizatória dos pioneiros e afugentando indígenas e animais selvagens. A u tr y M u s e u m o f th e A m e ri c a n W e s t L o s A n g e le s C a lif o rn ia F R E N T E 2 75 40° N 110° O OCEANO ATLÂNTICO OCEANO PACÍFICO OCEANO PACÍFICO Mar de Bering No dia 2 de dezembro de 1823, durante o governo do presidente James Monroe, o secretário de Estado John Adams escreveu um documento em resposta às ameaças da Santa Aliança de invadir o continente americano e ajudar a Espanha a reconquistar suas colônias. Tal do cumento fundou o que ficou conhecido como Doutrina Monroe, o primeiro passo da política externa estaduni dense no século XIX Pela Doutrina Monroe, os Estados Unidos colocavam-se como país guardião e juiz de todos os povos da América incapazes de defenderem-se so zinhos diante da ameaça europeia A máxima “América para os americanos”, embora não tenha sido dita pelo presidente, traduz o princípio básico da Doutrina Monroe Dessa forma, por meio de compra de territórios, ane xação ou mesmo guerra de conquista, os Estados Unidos alcançaram as costas do Pacífico no final da década de 1840, transformando se em um país continental A Flórida foi comprada da Espanha em 1819. O Texas, que em 1836 conquistara sua independência do México por meio de uma revolta de colonos norte americanos, foi anexado em 1845. O território do Oregon, na costa norte do Pacífico, foi cedido pela Inglaterra em 1846, de modo a acabar com uma longa disputa judicial Por fim, a vitória na Guerra Mexicana (1846 1848), pelo Tratado de Guadalu pe Hidalgo (1848), permitiu a anexação de um território de 2 milhões de quilômetros quadrados, que deu origem aos estados de Nevada, Novo México, Arizona, Califórnia e Utah Em 1867, o México teve que ceder, em troca de US$ 10 milhões, uma área, atualmente, entre os estados do Arizona e do Novo México, conhecida como Faixa de Gadsden A expansão acelerou o desenvolvimento dos Estados Unidos A posse da Flórida permitiu a che- gada ao Mar das Antilhas e o relacionamento com os mercados da América Central A costa do Pacífi co vivenciou grande impulso populacional durante a chamada Corrida do Ouro (1848 a 1850), quando cen tenas de milhares de pessoas chegaram à região O controle dessa área lançou as bases para o acesso di reto aos mercados do Oriente A imigração acelerou, fazendo com que o país contabilizasse mais de 31 mi lhões de habitantes em 1860, ocasião em que já existiam mais de 50 mil quilômetros de ferrovias. O Homestead Act, de 1862, que transformava a posse de terras em propriedade legal após três anos de cultivo, possibilitou o povoamento do Centro Oeste. A expansão implicou, também, a democratização do processo eleitoral Andrew Jackson, herói da Segunda Guerra de Independência, agrupando pequenos agricul- tores e membros da camada média urbana, conseguiu eleger se presidente (1829 1837) e deu origem ao Parti do Democrata. Sua eleição marcou o início de uma forte mudança no panorama sociopolítico da América, abrindo espaço à ascensão de todo um setor médio, beneficia- do pelas transformações de cunho capitalista que o país começava a conhecer Jackson aboliu o voto censitário, estabelecendo o sufrágio universal masculino, e instituiu o spoil system, política segundo a qual os membros do par tido vencedor ocupavam todos os cargos administrativos. O domínio político-partidário dos whigs, cujos membros eram latifundiários da alta burguesia do Leste, estava, as- sim, encerrado A expansão dos Estados Unidos – século XIX
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