Buscar

ESTUDOS ÉTNICOS-RACIAIS

Prévia do material em texto

UNIVERSIDADE FEDERAL DE ALAGOAS - UFAL
INSTITUTO DE CIÊNCIAS SOCIAIS - ICS
LICENCIATURA EM CIÊNCIAS SOCIAIS
EDUCAÇÃO E ESTUDOS ÉTNICO-RACIAIS
Prof. Drª. CLARA SUASSUNA FERNANDES
Charlesson Bezerra Da Silva
ALMEIDA, A. Uma flor de silêncio e assombro: memórias entrelaçadas na Coleção Perseverança. MODOS: Revista de História da Arte, Campinas, SP, v. 6, n. 1, p. 150–173, 2022. DOI: 10.20396/modos.v6i1.8667476. Disponível em: https://periodicos.sbu.unicamp.br/ojs/index.php/mod/article/view/8667476. Acesso em: 26 set. 2023.
O texto inicia–se com o poema “A flor e a náusea”, de Carlos Drummond de Andrade, onde a flor segundo ALMEIDA (2022), surge como uma reflexão e um olhar perante a coleção que surgiu às margens de uma barbárie que ocorreu entre os dias 1 e 2 de fevereiro de 1912, no estado de Alagoas, ação que afeta até os dias atuais a vida de diversos integrantes das religiões de matrizes africanas. O Quebra de Xangô, foi um movimento organizado e causado pelos Republicanos Combatentes de Maceió, onde a violência e a intolerância religiosa contra os terreiros e os praticantes da religião, esse acontecimento ainda permeou as questões de preconceitos contra os negros alagoanos e o abuso de autoridades dos agentes combatentes.
Um dos marcantes episódios desse acontecimento, foi a invasão do terreiro da Ialorixá Tia Marcelina, ela tentou resistir a invasão, mas os milicianos deram diversos golpes enquanto via o seu terreiro ser desfeito, quebrado e roubado, alguns objetos foram queimados durante essa ação, e os que não foram, eram levados para a sede onde ficavam a Liga, e postos no Instituto Histórico e Geográfico de Alagoas (IHGAL). A flor feia, segundo o autor, é a coleção Perseverança, cujos objetos passaram por um caminho árduo, longo e difícil, para que nos dias de hoje, fosse exposta nas vitrines do museu.
	Figura 1 - Liga dos Republicanos
Fonte: Tribuna hoje/Adailson Calheiros
Disponível em: <https://tribunahoje.com/especial/2022/10/28/6-alagoas-ainda-convive-com-fantasma-da-intolerancia-religiosa>
E nessas questões, com a ideia de se reeleger, o autor aborda as questões de como os opositores do governador da época o Euclides da Cunha, usaram a falácia que ele tinha dito que era filho de santo da Tia Marcelina, que as questões do Quebra de Xangô eclodiram, dando início a barbáries e desrespeitos. Quando os religiosos tinham suas casas invadidas, eram levados ao Instituto Médico Legal (IML), para que fossem assediados e castigados, eram obrigados a pegarem os objetos de seus ritos e saírem nas ruas dizendo que eram macumbeiros e eram colocados nos locais onde guardavam os restos de pessoas falecidas.
Alguns objetos da coleção ainda em seu estado físico, estão contidas as cinzas, o resíduo cujos nós ainda não foram desatados, onde as discussões e a busca pelos direitos dos religiosos das religiões de matriz africana foram cerceadas, esquecido, lembrados apenas nas datas comemorativas, em fevereiro e no dito mês da “Consciência Negra”. Fazendo analogia com a flor feia, o autor discute acerca do “assombro”, onde a feiura e assombro são necessários como elementos compositivos, que auxiliam nos debates e na história de um dos atos mais perversos que aconteceu em solo alagoano, e para concluir, Almeida (2022, p. 172), ressalta:
	Que continuemos a soprar, velozmente, entre as labaredas que sobem dos muitos detalhes que necessitam ser relidos. Que continuemos a remontar as pétalas arrancadas da flor/coleção para que nos aproximemos de outras/nossas histórias (Almeida, 2022, p. 172).
Sem sombra de dúvidas, a Coleção Perseverança traz em seus objetos, os questionamentos de um passado que jamais deve ser esquecido, ele não pode ser silenciado e nem deixado de lado, e para lembrar que o Quebra de Xangô jamais foi uma ação de limpeza, a coleção em sua prole, faz parte da essência da organização dos povos escravizados e que descendem de grandes reis, rainhas, príncipes e princesas, cujos saberes formaram o estado de Alagoas.

Continue navegando