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RENATA LIMA – MEDICINA – 7º SEMESTRE – TUTORIA SP 1.1 – QUE DÁ DOR NO PEITO –PERICARDITE DISPNEIA, DOR TORÁCICA E EDEMA 1. ESTUDAR DIAGNÓSTICO DE DOR TORÁCICA AGUDA (QUADRO CLÍNICO E DIAGNÓSTICO) (SEMIOLOGIA - ANAMNESE E EXAME FÍSICO - E EXAMES COMPLEMENTARES) CONCEITO A dor torácica é um dos maiores desafios para o emergencista e uma das mais importantes causas de procura ao departamento de emergência (DE), com 8 milhões de atendimentos ao ano e entre 5 e 10% das consultas no DE, com 50 a 70% dos pacientes necessitando permanecer em unidades de dor torácica. Na maioria das vezes a dor torácica está associada a condições de baixo risco, mas na minoria dos casos em que se trata de alto risco, o risco de morbidade e mortalidade é alto. Além da síndrome coronariana aguda, a dor torácica pode representar outros quadros ameaçadores à vida. São as síndromes aórticas, a embolia pulmonar, o pneumotórax hipertensivo, o tamponamento pericárdico e a rotura esofágica. O foco no departamento de emergência deve ser a avaliação precoce dessas possibilidades e de outros diagnósticos que podem necessitar de internação. ____________________________________________ EPIDEMIOLOGIA Doenças do aparelho circulatório têm importância cada vez maior no Brasil. Segundo levantamento do DATASUS em 2019, doenças do aparelho circulatório foram a principal causa de morte, representando 27% dos óbitos. Foram registrados 364.132 óbitos por ano, sendo que entre as doenças do aparelho circulatório a principal causa registrada é a doença isquêmica, com 32,3% dos óbitos deste segmento (117.549 óbitos na média por ano). Na faixa etária dos 40 a 49 anos de idade, as doenças do aparelho circulatório são a segunda principal causa de morte na média por ano (a principal causa são as causas externas). Acima desta faixa etária as doenças cardiovasculares são isoladamente a principal causa de óbito. Entre 11.067.443 internações realizadas nos últimos 12 meses no SIH/SUS, 962.542 são por causas do aparelho circulatório (verificado de dezembro de 2020 a novembro de 2021). Trata-se da quarta causa de internações no SUS, estando atrás de causas externas, internações obstétricas e internações por COVID-19. Não existem dados nacionais sobre o número de atendimentos por dor torácica no DE. Estudos locais mostram que a dor torácica é uma das principais queixas de procura ao DE, representando de 4,7 a 6,2% dos atendimentos. ____________________________________________ DIAGNÓSTICO DIFERENCIAL DE DOR TÓRACICA (Resumo) 1) SISTEMA CARDIOVASCULAR: Dissecção de aorta*: Dor intensa, lancinante, irradiação para dorso, pulsos assimétricos, sinais neurológicos focais Tromboembolismo pulmonar*: Dor súbita, pleurítica, TVP Hipertensão pulmonar: Desequilíbrio demanda/oferta de O2, compressão coronária pela artéria pulmonar 2) SISTEMA PULMONAR Pneumonia: Dor na projeção do lobo envolvido Traqueobronquite: Queimação em linha média Pneumotórax espontâneo: Dor súbita + dispneia Pneumotórax hipertensivo*: Associado a trauma ou procedimento Pleurite: Infecciosa, inflamatória Asma: Exacerbação 3) SISTEMA GASTROINTESTINAL Síndrome péptica: Epigastralgia, associação com alimentação, cafeína Úlcera péptica perfurada*: Peritonismo Refluxo gastroesofágico: Dor retroesternal, associação com alimentação e com decúbito RENATA LIMA – MEDICINA – 7º SEMESTRE – TUTORIA Espasmo esofágico: Melhora com nitrato Mallory-Weiss: Vômitos, hematêmese, melena, dor abdominal Rotura esofágica*: Dor retroesternal lancinante, enfisema subcutâneo, alcoolismo, vômitos Colecistite: Sinal de Murphy Pancreatite: Dor em faixa 4) SISTEMA CARDÍACO Pericardite: Alterações de ECG, posição antálgica, atrito pericárdico Miocardite: História recente de IVAS/GECA, insuficiência cardíaca Emergência hipertensiva: Monitorização da pressão arterial Espasmo coronariano: Melhora com nitrato, visualização do vasoespasmo no cateterismo coronariano Takotsubo: Ecocardiograma Taquiarritmia: Palpitações, frogging. Buscar no ECG Tamponamento cardíaco*: Tríade de Beck: abafamento de bulhas cardíacas, hipotensão e estase jugular. Dispneia, fadiga, desconforto torácico, edema, choque cardiogênico Anemia: Desequilíbrio consumo/oferta; IAM tipo 2 Estenose aórtica: Sopro típico, idoso Síndrome coronariana aguda*: Alterações típicas de ECG, sudorese, náuseas/vômitos, associação com esforço, irradiação da dor 5) PELE E MÚSCULO ESQUELÉTICO Costocondrite: Dor reprodutível à palpação Neuralgia intercostal: Pós-procedimento Herpes-zóster: Alterações típicas em pele Fratura de costela: Dor localizada, crepitação na palpação Doença discal cervical: Dor na movimentação de coluna cervical 6) PSICOGÊNICA Somatização/conversão: Diagnóstico de exclusão Síndrome do pânico: Diagnóstico de exclusão Ansiedade: Diagnóstico de exclusão (* = Diagnósticos ameaçadores à vida em curto tempo) ____________________________________________ CAUSAS DE DOR TORÁCICA AGUDA (Expandido) Em uma população típica de pacientes que se apresentam para a avaliação de dor torácica aguda nos serviços de emergência, cerca de 15% a 25% têm IAM ou angina instável. Uma pequena porcentagem tem outras condições ameaçadoras à vida, como embolia pulmonar ou dissecção aguda de aorta. Esse tipo de patologia inclui síndromes musculoesqueléticas, distúrbios do trato gastrointestinal (incluindo doença do refluxo gastroesofágico) e alterações psicológicas. RENATA LIMA – MEDICINA – 7º SEMESTRE – TUTORIA • ISQUEMIA OU INFARTO DO MIOCÁRDIO A causa grave mais comum de desconforto torácico agudo é a isquemia ou o infarto do miocárdio, que ocorre quando a oferta de oxigênio para o miocárdio é inadequada em relação à sua demanda. ETIOLOGIA E FISIOLOGIA: A isquemia miocárdica manifesta-se, geralmente, nos casos de aterosclerose coronariana, mas também pode refletir os componentes dinâmicos da resistência vascular coronariana. O espasmo coronariano pode ocorrer em artérias coronárias normais ou em pacientes com doença coronariana, próximo a placas ateroscleróticas e em arteríolas menores. Outras causas menos comuns de redução de fluxo sanguíneo coronariano incluem síndromes que comprometem os orifícios ou o lúmen das artérias coronárias, como arterite coronariana, aortite proximal, dissecção espontânea de coronárias, dissecção de aorta proximal, embolia coronariana decorrente de endocardite infecciosa ou não infecciosa, ou trombo no átrio esquerdo ou ventrículo esquerdo, ponte miocárdica e anomalia congênita das artérias coronárias. QUADRO CLÍNICO: A manifestação clássica da isquemia é a angina, geralmente descrita como peso ou aperto no tórax, sensação de queimação ou dificuldade ao respirar. Frequentemente ocorre irradiação para o ombro esquerdo, pescoço ou braço. Na maioria das vezes, aumenta em intensidade em poucos minutos. A dor pode começar no esforço ou durante estresse psicológico, porém, na maioria das vezes, a SCA ocorre sem fatores precipitantes óbvios. Descrições atípicas da dor torácica reduzem a probabilidade de os sintomas representarem isquemia ou lesão miocárdica. As diretrizes do American College of Cardiology (ACC) e da American Heart Association (AHA) listam as seguintes definições de dor que não são características da isquemia miocárdica: • Dor pleurítica (i. e., dor aguda ou em facada provocada pelos movimentos respiratórios ou pela tosse) • Localização principal ou isolada do desconforto na região mediana ou inferior do abdome • Dor que pode ser localizada com a ponta de um dedo, particularmente sobre o ápice do ventrículo esquerdo (VE) • Dor reproduzida com movimento ou palpação da parede do tóraxou dos braços • Dor constante que persiste por muitas horas • Episódios muito breves de dor que duram poucos segundos ou menos • Dor que se irradia para as extremidades inferiores. Ainda assim, dados obtidos de grandes grupos de pacientes com dor torácica aguda indicam que as SCAs ocorrem em indivíduos com sintomas atípicos em uma frequência suficiente para que nenhum fator isolado possa ser utilizado para excluir o diagnóstico de doença cardíaca isquêmica aguda. Os médicos devem estar cientes dos “equivalentes anginosos”, como dor na mandíbula ou no ombro na ausência de dor torácica ou dispneia, náuseas ou vômitos e diaforese. Particularmente mulheres, idosos e diabéticos têm maior probabilidade de apresentar sintomas atípicos de isquemia ou infarto. Dados do National Registry of Myocardial Infarction mostram que, entre os pacientes hospitalizados com IAM, as mulheres (particularmente as mais jovens) têm menor probabilidade de referir dor torácica do que os homens. Não surpreendentemente, pacientes sem dor torácica tiveram maior mortalidade intra-hospitalar. ------------------------------------------------------------------------ • DOENÇA VASCULAR A dissecção aguda da aorta geralmente causa dor intensa, de início súbito, excruciante e lacerante, cuja localização indica o lugar e a progressão da dissecção. As dissecções da aorta ascendente tendem a se manifestar como dor na linha média da parte anterior RENATA LIMA – MEDICINA – 7º SEMESTRE – TUTORIA do tórax, e as dissecções de aorta descendente, posterior, apresentam-se com dor na parte posterior do tórax. As dissecções de aorta são raras, com incidência anual estimada em 3/100.000, e geralmente ocorrem na presença de fatores de risco, como as síndromes de Marfan e Ehlers-Danlos, valva aórtica bicúspide, gravidez (para dissecções proximais) e hipertensão (para dissecções distais). A embolia pulmonar causa, frequentemente, dispneia e dor torácica pleurítica súbitas, embora possa ser assintomática. A incidência anual é de aproximadamente 1/1.000, conquanto esse número provavelmente esteja subestimado. A embolia pulmonar maciça causa dor retrosternal intensa e persistente, que é atribuída à distensão da artéria pulmonar. Êmbolos menores que levam ao infarto pulmonar podem provocar dor torácica pleurítica lateral. Embolia pulmonar hemodinamicamente significativa pode causar hipotensão, síncope e sinais de insuficiência cardíaca direita. A hipertensão pulmonar pode originar dor torácica semelhante à angina, presumidamente por hipertrofia cardíaca direita e isquemia. ------------------------------------------------------------------------ • DOENÇAS PULMONARES As patologias pulmonares que causam dor torácica levam comumente a dispneia e sintomas pleuríticos, cuja localização reflete o local da doença pulmonar. A traqueobronquite está associada à dor em queimação na linha média, ao passo que a pneumonia pode causar dor no pulmão envolvido. A dor do pneumotórax tem início súbito e geralmente está associada a dispneia. O pneumotórax primário normalmente acomete homens jovens, altos e magros; o pneumotórax secundário ocorre na presença de doença pulmonar, como doença pulmonar obstrutiva crônica (DPOC), asma ou fibrose cística. As exacerbações da asma podem ser acompanhadas de desconforto torácico, normalmente caracterizado como aperto. ------------------------------------------------------------------------ • DOENÇAS GASTROINTESTINAIS A irritação do esôfago pelo refluxo ácido pode produzir desconforto em queimação, que pode ser exacerbado por álcool, utilização de aspirina ou ingestão de determinados alimentos. Os sintomas normalmente são acentuados na posição de decúbito e aliviados quando o paciente se senta ereto e pelo uso de terapias que reduzem a acidez. O espasmo esofágico pode causar desconforto torácico “em aperto” semelhante ao da angina. As lacerações de Mallory-Weiss no esôfago podem ocorrer empacientes com episódios prolongados de vômitos. Vômito intenso também pode causar ruptura esofagiana (síndrome de Boerhaave) com mediastinite. A dor torácica decorrente de úlcera péptica ocorre, em geral, 60 a 90 minutos depois das refeições e é rapidamente aliviada pelas terapias que reduzem a acidez. Na maioria das vezes essa dor tem localização epigástrica, mas pode se irradiar para o tórax e os ombros. A colecistite apresenta ampla gama de síndromes dolorosas e costuma causar dor no quadrante superior direito do abdome, mas não é incomum ocorrer dor torácica ou no dorso. A dor é descrita, na maior parte das vezes, como cólica. A pancreatite geralmente causa dor epigástrica intensa que pode se irradiar para as costas. O alívio pelas terapias que reduzem a acidez é limitado ------------------------------------------------------------------------ • OUTRAS CAUSAS A dor torácica pode decorrer de distúrbios musculoesqueléticos que envolvem a parede torácica, como a costocondrite, de patologias que afetam os nervos da parede torácica, como doença do disco cervical, de herpes-zóster ou após exercício intenso. A dor torácica secundária a causas musculoesqueléticas costuma ser induzida por pressão direta sobre a área afetada ou por movimentos do pescoço do paciente. A dor, por si mesma, pode ser fugaz ou ter caráter surdo e durar horas. A síndrome do pânico é uma causa importante de desconforto torácico no serviço de emergência. Os sintomas incluem tipicamente desconforto torácico em RENATA LIMA – MEDICINA – 7º SEMESTRE – TUTORIA aperto acompanhado de dispneia e sensação de ansiedade, com duração de 30 minutos ou mais. ____________________________________________ CONSIDERAÇÕES DIAGNÓSTICAS Avaliação Clínica Ao avaliar pacientes com dor torácica aguda, o médico deve analisar uma série de questões relacionadas com o prognóstico e o manejo imediato. Os diagnósticos ameaçadores à vida devem ser confirmados ou afastados. Mesmo antes de chegar a um diagnóstico definitivo, devem-se abordar questões de alta prioridade, entre elas: • Estabilidade clínica: o paciente necessita de tratamento imediato para choque circulatório instalado ou iminente, ou insuficiência respiratória? • Prognóstico imediato: se o paciente estiver clinicamente estável, qual é o risco de ele apresentar doença ameaçadora à vida, como SCA, embolia pulmonar ou dissecção da aorta? • Segurança das opções de triagem: se o risco de uma patologia ameaçadora à vida for baixo, é seguro dar alta ao paciente para tratamento ambulatorial ou ele deve realizar testes ou observação adicional que orientem seu tratamento? ____________________________________________ ABORDAGEM INICIAL As diretrizes do National Heart Attack Alert Program recomendam que os pacientes com as seguintes queixas sejam imediatamente avaliados pelos enfermeiros de triagem e encaminhados à avaliação adicional: • Dor torácica em pressão, aperto ou peso; dor que se irradia para pescoço, mandíbula, ombros, dorso ou um ou ambos os braços • Indigestão ou azia; náuseas e/ou vômitos associados a desconforto torácico • Dispneia persistente • Fraqueza, tontura, perda da consciência. Para esses pacientes, a avaliação engloba a história, a realização de exame físico, a obtenção de ECG e radiografia do tórax e a dosagem de biomarcadores de lesão miocárdica. ____________________________________________ Avaliação do paciente estável ou estabilizado A dor torácica é um sintoma de diferentes doenças que podem levar a desfecho adverso grave em minutos, horas ou dias. A avaliação deve ser sequencialmente focada em cada um desses grupos de doenças, confirmando ou excluindo o diagnóstico. São passos nessa abordagem: ➢ ANAMNESE e EXAME FÍSICO dirigidos para causas de maior risco.➢ Na ANAMNESE: Avaliar CARACTERÍSTICAS DA DOR, se intensidade desproporcional ao quadro, irradiação, tempo de instalação (súbito ou não), sintomas associados, associação com esforço, sintomas associados como náuseas e vômitos, antecedentes e fatores de risco. ➢ No EXAME FÍSICO: Inspeção local, avaliar simetria de pulsos, medir a pressão arterial nos quatro membros, ausculta pulmonar e cardíaca, testar dor à palpação e pesquisa de sinais focais neurológicos. ➢ ELETROCARDIOGRAMA (ECG) em todos os pacientes com dor torácica ou suspeita de equivalente anginoso em até 2 minutos de sua entrada no DE. Esse exame deve ser visto por um médico e avaliado em até 10 minutos de sua entrada. ------------------------------------------------------------------------- 1) ANAMNESE Caso o paciente não necessite de intervenção imediata decorrente de choque circulatório iminente ou instalado ou de insuficiência respiratória, a avaliação médica deve começar com história clínica que inclua as características da dor, seu tipo, localização e irradiação, o momento de seu início e o ritmo (súbito ou gradual), a duração dos sintomas, os fatores de melhora ou piora e quaisquer sintomas associados, principalmente pulmonares ou gastrointestinais. A SCA normalmente é descrita como uma pressão torácica difusa, retroesternal, que se inicia gradualmente, irradia-se para a mandíbula ou os braços, piora com o esforço e é aliviada com o repouso ou o uso de nitroglicerina. RENATA LIMA – MEDICINA – 7º SEMESTRE – TUTORIA Uma vez que a angina tende a se manifestar da mesma maneira no mesmo paciente (se a isquemia for no mesmo território), é útil comparar o evento atual com episódios prévios documentados de angina. Estudos mostraram que a resposta à nitroglicerina pode não diferenciar de forma confiável a dor torácica de causa cardíaca daquela não relacionada com causas cardíacas. Ao contrário do descrito na SCA, no que diz respeito ao ritmo da dor torácica, EP, dissecção da aorta e pneumotórax têm dor caracterizada como de início súbito e intenso. Adicionalmente, dor com características pleuríticas ou posicionais sugere EP, pericardite, pneumonia ou patologia musculoesquelética. Além das características do episódio agudo, a presença de fatores de risco para aterosclerose (p. ex., idade avançada, sexo masculino, diabetes) aumenta a probabilidade de que a dor torácica seja causada por isquemia miocárdica. A existência de história prévia de IAM associa-se não somente a elevado risco de doença arterial coronariana obstrutiva, mas também a maior probabilidade de doença multi arterial. Pacientes mais jovens apresentam risco mais baixo de SCA, mas devem ser submetidos a uma triagem mais cuidadosa em relação ao uso recente de cocaína. → DOR TIPO A: definitivamente anginosa (presença das 3 características típicas) → DOR TIPO B: provavelmente anginosa (presença de 2 características típicas) → DOR TIPO C: provavelmente não anginosa (presença de 1 característica típica) → DOR TIPO D: definitivamente não anginosa (nenhuma característica típica) A dor torácica pode ser classificada pela característica anginosa da dor: • Dor TIPO A: DEFINITICAMENTE ANGINOSA: Desconforto retroesternal precipitado pelo esforço, com irradiação típica para o ombro, mandíbula ou face interna do braço esquerdo, aliviado pelo repouso ou nitrato. Características que dão certeza de Síndrome Coronariana Aguda, independentemente dos exames complementares. • Dor TIPO B: PROVAVELMENTE ANGINOSA: Dor torácica cujas características faz da Síndrome Coronariana Aguda a principal hipótese diagnóstica, porém com necessidade de exames complementares para a confirmação do diagnóstico. Tem a maioria das características da dor definitivamente anginosa, podendo ser típica sob alguns aspectos, mas atípica em outras. • Dor TIPO C: PROVAVELMENTE NÃO ANGINOSA: Dor torácica cujas características não faz da Síndrome Coronariana Aguda a principal hipótese diagnóstica, mas devido à existência de múltiplos fatores de risco, doença coronária prévia ou mesmo dor sem causa aparente, necessita de outros exames para excluí-la. Definida como um padrão atípico de dor torácica que não se adapta à descrição da dor definitivamente anginosa. • Dor TIPO D: DEFINITIVAMENTE NÃO ANGINOSA: Dor torácica cujas características não incluem a Síndrome Coronariana Aguda no diagnóstico diferencial. Dor com aspectos evidentes de origem não cardíaca. ------------------------------------------------------------------------- 2) EXAME FÍSICO O exame inicial dos pacientes com dor torácica aguda deve ter por objetivo a identificação dos potenciais precipitantes de isquemia miocárdica (p. ex., hipertensão descontrolada); comorbidades importantes (p. ex., DPOC) e identificação de complicações hemodinâmicas (p. ex., insuficiência cardíaca congestiva [ICC], insuficiência mitral nova, hipotensão). RENATA LIMA – MEDICINA – 7º SEMESTRE – TUTORIA Além dos sinais vitais, o exame deve incluir a avaliação de sopros ou diminuição de pulsos que possam indicar doença vascular extracardíaca. Para os pacientes cujos achados clínicos não sejam sugestivos de isquemia miocárdica, a pesquisa de outras causas de dor torácica deve enfocar primeiro doenças potencialmente ameaçadores à vida (p. ex., dissecção da aorta, EP) e, em seguida, voltar-se para a possibilidade de outros diagnósticos cardíacos (p. ex., pericardite) e não cardíacos (p. ex., desconforto esofágico). Dissecção da aorta é sugerida pela diferença de pulsos ou pressão ou por um sopro novo de insuficiência aórtica na presença de dor no dorso ou na linha média anterior do tórax. Um som de fricção (atrito pericárdico) pode estar presente na pericardite. As diferenças nos sons respiratórios na presença de dispneia aguda e dor torácica pleurítica levantam a possibilidade de pneumotórax. A taquicardia e a taquipneia, bem como a hiperfonese da segunda bulha cardíaca (P2), podem ser as principais manifestações de embolia pulmonar ao exame físico. ------------------------------------------------------------------------ 3) ELETROCARDIOGRAMA Deve ser obtido um ECG, uma fonte de dados decisiva, nos primeiros 10 minutos da chegada de pacientes com desconforto torácico e, tão rápido quanto possível, daqueles com história de desconforto torácico compatível com SCA, mas cujo desconforto tenha passado no momento da avaliação, de modo que os pacientes que venham a se beneficiar de reperfusão imediata (mecânica ou farmacológica) possam ser identificados. Com esse objetivo, a obtenção de um ECG pré- hospitalar diminui o tempo porta-diagnóstico e, para os IAMs com elevação do segmento ST (IAMSST), o tempo porta-balão. Essencialmente, esses ganhos são obtidos sem qualquer aumento dos tempos no local ou do transporte e, até, com redução dos tempos no local e do transporte para os pacientes em que se identifica um IAMSST. O ECG é útil tanto para o diagnóstico como para o prognóstico. Alterações novas do segmento ST (≥ 0,05 mV), persistentes ou transitórias, que surgem durante um episódio sintomático em repouso e desaparecem quando os sintomas desaparecem sugerem fortemente isquemia aguda e doença coronariana grave. Alterações não específicas do segmento ST e da onda T definem-se como desvios menores do segmento ST ou inversão da onda T de 0,2 mV ou menos e não são tão úteis para a estratificação do risco. Um ECG completamente normal não exclui a possibilidade de uma SCA; o risco de IAM é aproximadamente 4% em pacientes com história de doença coronariana e 2% naqueles sem esse antecedente. Pacientes com um ECG normal ou quase normal têm, no entanto, melhor prognóstico do que aqueles com um ECG claramente alterado na avaliaçãoinicial. Adicionalmente, um ECG normal tem um valor preditivo negativo de 80% a 90%, independentemente de o paciente estar sentindo dor torácica ou não no momento em que o ECG foi realizado. Elevações difusas do segmento ST e depressão do segmento PR sugerem pericardite. Desvio do eixo para a direita, bloqueio de ramo direito, inversões da onda T de V1 a V4 e presença de S na derivação I com presença de Q e inversão de T na derivação III sugerem EP. A disponibilidade de ECG prévio melhora a acurácia diagnóstica e associa-se à redução do índice de admissões para os pacientes com traçado basal alterado. Traçados eletrocardiográficos seriados melhoram a capacidade de o médico diagnosticar o IAM, particularmente se combinados com medida seriada de marcadores cardíacos. A monitoração eletrocardiográfica contínua para detectar desvios no segmento ST é tecnicamente exequível, porém a contribuição ao tratamento do paciente é incerta. As derivações posteriores podem ser úteis para a identificação de isquemia no território irrigado pela artéria coronária circunflexa, que se encontra relativamente silenciosa em termos eletrocardiográficos. ____________________________________________ Atendimento do paciente instável A dor torácica pode ser o sintoma cardinal de um paciente instável. Os pacientes devem ser atendidos na sala de emergência e monitorizados com a chamada abordagem MOV: • Iniciar Monitorização cardíaca. • Oxigênio se saturação de O2 < 90%. RENATA LIMA – MEDICINA – 7º SEMESTRE – TUTORIA • Obter acesso Venoso periférico. A avaliação desses pacientes deve seguir a recomendada no Capítulo 1, “Abordagem inicial do paciente grave”. Deve-se focar no nível de consciência do paciente e em seus sinais vitais e prosseguir com a sistematização do ABCDE. A utilização dessa abordagem traz os benefícios de uma unificação da conduta da equipe e um sistema para não deixar de lado algum passo importante (como um check-list). O exame físico e o ultrassom à beira do leito ajudam no diagnóstico. No caso de identificação de pneumotórax hipertensivo e tamponamento cardíaco, estes devem ser prontamente tratados. Se for identificada uma dissecção de aorta, os antiagregantes e anticoagulantes estão contraindicados. O manejo clínico é feito por meio de controle da frequência cardíaca e da pressão arterial. Deve-se buscar a avaliação de cirurgia cardíaca ou vascular, dependendo do local da dissecção. No caso da síndrome coronariana aguda, devem ser feitos esforços para estabilização do paciente com o objetivo de levá-lo à intervenção coronariana. Deve-se buscar reunir evidências de que o quadro é isquêmico e sua instabilidade é decorrente da isquemia. A instabilidade hemodinâmica é indicação de cateterismo coronariano em até 2 horas, mesmo em infarto agudo do miocárdio sem supradesnivelamento do segmento ST. A dúvida que a instabilidade seja secundária ao quadro isquêmico é contraindicação a cateterismo de urgência. EXAMES INICIAIS NA DOR TORÁCICA ____________________________________________ ALGORITMO ABORDAGEM DIAGNÓSTICA INICIAL PACIENTE COM DOR TORÁCICA: RENATA LIMA – MEDICINA – 7º SEMESTRE – TUTORIA 2. ABORDAR AS SÍNDROMES DE PERICARDITE (ETIOLOGIA, EPIDEMIOLOGIA, FISIO, CLÍNICA, COMPLICAÇÕES, INTERVENÇÕES, TRATAMENTO) CONCEITO O pericárdio envolve o coração e os vasos da base, sendo responsável pela restrição diastólica dos ventrículos, pela proteção mecânica do coração e pela diminuição do atrito durante as contrações cardíacas. As reações inflamatórias do pericárdio podem manifestar-se de forma aguda, subaguda e crônica, e 85% a 90% dos casos de pericardite aguda são de etiologia viral e autolimitada. O quadro clínico característico da pericardite aguda apresenta dor tipo pleurítica, febrícula e atrito pericárdico. O eletrocardiograma exibe alterações do segmento ST- T em várias derivações e paredes ventriculares, não respeitando as regiões ventriculares. A presença de grandes derrames pericárdicos secundários à reação inflamatória pode levar ao tamponamento cardíaco, na dependência de sua velocidade de instalação. O uso de Aspirina® e antiinflamatórios não hormonais está indicado no tratamento da maioria das formas de apresentação da enfermidade, podendo-se utilizar corticosteróides nos casos mais arrastados. Nos casos recorrentes e naqueles com tamponamento cardíaco é indicado o tratamento cirúrgico com pericardiocentese, drenagem pericárdica ou pericardiectomia. ____________________________________________ ANATOMIA E FISIOLOGIA DO PERICÁRDIO O pericárdio é constituído por um saco fechado formado por duas camadas que recobrem o coração e a porção inicial dos vasos da base: • a camada externa constituída de tecido fibrocolágeno, relacionada com as estruturas do mediastino posterior, com o diafragma, e firmemente ligada ao tendão central do diafragma, denominada pericárdio fibroso; • a camada interna, constituída por uma fina membrana serosa rebatida sobre si mesma com aspecto de “dedo de luva”, apresentando uma lâmina externa aderida firmemente ao pericárdio fibroso (lâmina parietal) e outra interna aderida ao coração (lâmina visceral) denominada pericárdio seroso. A membrana serosa aderida ao coração é denominada pericárdio visceral, e é parte do próprio epicárdio; já sua deflexão aderida ao pericárdio fibroso é denominada pericárdio parietal. O espaço virtual formado entre as duas lâminas é denominado cavidade pericárdica e contém 15 a 35 ml de líquido seroso. A principal função do pericárdio parietal é a restrição do volume cardíaco durante a diástole, particularmente das câmaras direitas, além da estabilização do coração no mediastino e da proteção mecânica contra a disseminação de infecções de órgãos contíguos. O pericárdio visceral é responsável pela produção do líquido pericárdico, importante para a diminuição da fricção que ocorre entre as lâminas pericárdicas, secundária à movimentação cardíaca na sístole e na diástole. RENATA LIMA – MEDICINA – 7º SEMESTRE – TUTORIA As reações inflamatórias ou infecciosas do pericárdio podem manifestar-se de forma aguda, subaguda ou crônica. Devido à íntima relação entre as lâminas pericárdicas e o epicárdio, é de se esperar que os processos inflamatórios de uma estrutura comprometam a outra. É esperado também que haja alterações locais típicas de reação inflamatória aguda, com aumento da vascularização e infiltração de leucócitos e mediadores inflamatórios, gerando algum grau de efusão pericárdica. Portanto, as pericardites agudas ou crônicas podem evoluir com derrame pericárdico. ____________________________________________ CLASSIFICAÇÃO As pericardites são classificadas de acordo com a evolução e forma de apresentação clínica: • Pericardite aguda; • Pericardite crônica; • Derrame pericárdico e tamponamento cardíaco; • Pericardite constritiva; • Pericardite recorrente. 90% das pericardites agudas de causa idiopática ou viral podem ser classificadas como aguda, subaguda ou crônica dependendo do curso da doença de base. ____________________________________________ 1) PERICARDITE AGUDA EPIDEMIOLOGIA A pericardite aguda é diagnosticada em apenas 0,1% dos pacientes hospitalizados e em 5% dos pacientes atendidos nas salas de emergência com queixa de dor torácica, nos quais se afasta o diagnóstico de síndrome coronária aguda. Acomete predominantemente indivíduos do sexo masculino, jovens (idade entre vinte e cinquenta anos) e sem patologias pregressas. A mortalidade da doença varia com sua etiologia, sendo praticamente inexpressiva nas pericardites idiopáticas e significativa nas pericardites infecciosas. Considerando a grande variedade de patologias que podem cursar comacometimento do pericárdio, na maioria das vezes o agente etiológico não é identificado. O exemplo clássico da dificuldade de diagnóstico das pericardites é a pericardite aguda viral, apesar de ser responsável pela maior parte dos casos de pericardite idiopática. Nesses casos, em que quase sempre é precedida por doenças de vias aéreas superiores ou gastrointestinais, os sintomas se confundem com aqueles característicos da doença de base. ____________________________________________ ETIOLOGIA A reação inflamatória das membranas do saco pericárdico é a forma mais comum de apresentação das pericardites. Praticamente todas as doenças orgânicas apresentam possibilidade de acometer o pericárdio, seja direta ou indiretamente. A pericardite aguda, definida como conjunto de sinais e/ou sintomas resultantes da inflamação pericárdica com duração máxima de uma a duas semanas, pode ocorrer em uma gama de doenças. Contudo, a maioria dos casos é considerada idiopática. O termo idiopático é usado para designar a pericardite aguda para a qual nenhuma causa específica pode ser encontrada através dos exames diagnósticos de rotina, conforme demonstrado a seguir. Presume-se que a maioria dos casos idiopáticos possua uma etiologia viral, mas a determinação dos títulos RENATA LIMA – MEDICINA – 7º SEMESTRE – TUTORIA virais específicos não é parte da avaliação de rotina devido ao custo, à baixa taxa de detecção e pelo fato de raramente alterar o tratamento. Uma vez estabelecido o diagnóstico clínico de pericardite, deve-se identificar os possíveis fatores causais que possam justificar a patologia. Os portadores de insuficiência renal crônica, doenças neoplásicas tratadas com radioterapia em região torácica, recém-operados do coração ou que sofreram infarto agudo do miocárdio recentemente apresentam condições clínicas que podem justificar o diagnóstico etiológico da doença e a orientação terapêutica. Embora seja frequentemente associada à infecção viral (85% a 90% dos casos) e possa ser causada por vasto grupo de agentes e condições clínicas, mesmo em países desenvolvidos quando ocorre em indivíduos hígidos e carecendo de causa melhor definida é rotulada como idiopática. Além das infecções virais, várias doenças sistêmicas podem causar a inflamação do pericárdio, como as infectocontagiosas e parasitárias, as doenças do tecido conjuntivo, do sistema imunológico, metabólicas, os traumatismos torácicos e as neoplasias. ------------------------------------------------------------------------ CATEGORIAS DE DOENÇA PERICÁRDICA E ETIOLOGIAS ESPECÍFICAS SELECIONADAS ➢ Idiopática* ➢ Infecciosa: • Viral*: ecovírus, coxsakievírus, adenovírus, citomegalovírus, hepatite B, mononucleose infecciosa, HIV/AIDS. • Bacteriana*: Pneumococcus, Staphylococcus, Streptococcus, micoplasma, doença de Lyme, Haemophilus influenzae, Neisseria meningitidis e outras. • Micobacteriana*: M. tuberculosis, M. avium- intracellulare. • Associada ao HIV Fúngica: histoplasmose, coccidioidomicose. • Protozoários ➢ Inflamatória: • Doença do tecido conjuntivo: Lúpus eritematoso sistêmico, artrite reumatoide, esclerodermia, síndrome de Sjögren, mista. • Induzida por fármacos: Procainamida, hidralazina, isoniazida, ciclosporina etc. • Arterite: Poliarterite nodosa, arterite temporal. • Doença inflamatória intestinal • Pós-cardiotomia/toracotomia,* pós-lesão miocárdica* • Doenças sistêmicas genéticas imunes* (TRAPS, FFM) • Outras: sarcoidose, doença de Erdheim-Chester, doença de Churg-Strauss, doença relacionada com a imunoglobulina IgG4 ➢ Pós-infarto do miocárdio: • Precoce • Tardio: síndrome de Dressler* ➢ Câncer: • Primário: mesotelioma, fibrossarcoma, lipoma etc. • Secundário*: carcinoma da mama e do pulmão, linfomas, sarcoma de Kaposi ➢ Induzida por radiação* ➢ Pós-operatório imediato de cirurgia cardíaca e de transplante ortotópico cardíaco ➢ Hemopericárdio: • Trauma • Ruptura de parede ventricular livre pós-IM • Relacionado com dispositivos e procedimentos: procedimentos coronários percutâneos, desfibriladores implantáveis, marca-passos, pós- ablação de arritmia, pósfechamento de defeito do septo interatrial, pós-reparação/substituição valvar, reparação laparoscópica de hérnia do hiato RENATA LIMA – MEDICINA – 7º SEMESTRE – TUTORIA • Aneurisma dissecante da aorta ➢ Congênita: • Cistos, ausência congênita ➢ Outras Cardiomiopatia de estresse: • Colesterol (pericardite “dourada”) • Insuficiência renal crônica, relacionada à diálise* • Quilopericárdio • Hipotireoidismo e hipertireoidismo Amiloidose Pneumopericárdio *Causas que se manifestam como síndrome da pericardite aguda. ____________________________________________ FISIOPATOLOGIA A fisiopatologia da pericardite aguda não complicada é simples, ou seja, os sinais e sintomas resultam da inflamação do tecido pericárdico. Uma minoria dos casos é complicada e até 15% estão associados à miocardite. A coexistência dessa última normalmente se manifesta pela discreta liberação de biomarcadores, como a troponina I. A disfunção do VE é rara e o prognóstico em longo prazo de uma pericardite complicada de miocardite parece ser excelente. ____________________________________________ QUADRO CLÍNICO A pericardite aguda quase sempre surge com a dor torácica. Uns poucos casos sem esse sintoma são diagnosticados durante a avaliação de dispneia ou febre, ou incidentalmente em associação com manifestações não cardíacas de doenças sistêmicas (p. ex., lúpus eritematoso sistêmico). DOR: A dor da pericardite pode ser intensa. Ela é qualitativamente variável, mas quase sempre pleurítica. Em geral, não possui os aspectos constritivos ou opressivos típicos da isquemia miocárdica. A dor pericárdica possui, caracteristicamente, início relativamente rápido. LOCALIZAÇÃO: Comumente é de localização subesternal, mas pode estar centralizada na porção anterior esquerda do tórax ou no epigástrio. IRRADIAÇÃO: Pode irradiar para o pescoço, para as costas, para o ombro esquerdo e, mais raramente, para o braço esquerdo e o epigástrio, levando a confusão do diagnóstico de pericardite com síndromecoronária aguda, sobretudo quando não é do tipo pleurítico, embora raramente esteja relacionada ao esforço físico na fase aguda. Dor na região do músculo trapézio à esquerda devida ao comprometimento do nervo frênico é considerada patognomônica de irritação pericárdica, sendo um achado altamente específico para pericardite. FATORES PRECIPITANTES: Pode ser frequência ventilatório-dependente, intensificada pela inspiração profunda e pela tosse (dor tipo pleurítica), perfurante ou em peso, indefinida ou localizada na região retroesternal ou precordial, de intensidade variável. Intensifica-se pela posição supina e pelo decúbito dorsal, ou seja, é agravada ao se deitar. E diminui quando o indivíduo senta-se com o tronco inclinado para a frente. SINTOMAS ASSOCIADOS: Os sintomas a ela associados podem incluir dispneia, tosse e, ocasionalmente, soluços. ATRITO PERICÁRDICO: A presença de atrito pericárdico, audível em 60% a 85% dos casos, é patognomônica da presença de inflamação pericárdica. Ele é, em geral, dinâmico, desaparecendo e retornando durante curtos períodos. O atrito ocorre pela fricção entre o pericárdio visceral e o parietal, sendo característica da inflamação pericárdica aguda, embora possa ser audível nas formas subaguda e crônica da doença. É definido como um ruído estridente e superficial, mais audível no mesocárdio e bordo esternal esquerdo, variando de intensidade aos movimentos respiratórios, sendo mais audível ao final da inspiração e com o paciente inclinadopara frente. A constatação do atrito pericárdico define o diagnóstico de pericardite, embora a ausência não descarte a presença da doença. Ele consiste em três componentes, correspondentes à sístole ventricular, ao enchimento protodiastólico e à RENATA LIMA – MEDICINA – 7º SEMESTRE – TUTORIA contração atrial, tendo sido associado ao som produzido ao se caminhar sobre neve crepitante. HISTÓRIA PREGRESSA: É frequente um histórico que sugere uma síndrome viral. É importante rever o passado clínico em busca de indícios diagnósticos etiológicos específicos. Portanto, um histórico de câncer ou de distúrbio autoimune, febre alta com calafrios, rash cutâneo ou perda ponderal são muitas vezes indícios de doenças específicas que podem causar pericardite. ____________________________________________ DIAGNÓSTICO DIFERENCIAL O diagnóstico diferencial da dor torácica é extenso. Os diagnósticos mais comumente confundidos com a pericardite incluem a pneumonia com pleurisia, a embolia/infarto pulmonar, a costocondrite e a doença do refluxo gastroesofágico. Normalmente, a pericardite aguda é de diferenciação relativamente fácil da isquemia miocárdica, mas a angiografia coronariana pode ser necessária para definir o diagnóstico. Outras possibilidades incluem dissecção aórtica, processos intra-abdominais, pneumotórax e dor secundária ao herpes-zóster antes do aparecimento das lesões cutâneas. Raramente, a pericardite pode sinalizar um IM silencioso precedente. ____________________________________________ 2) PERICARDITE CRÔNICA ____________________________________________ 3) DERRAME PERICÁRDICO Na maioria das vezes, o derrame pericárdico não causa sintomas ao paciente, nem sinais ao exame físico. Quando de moderada a grande quantidade, pode causar a dor descrita na pericardite subaguda/crônica, uma dor precordial ou retroesternal contínua e de caráter opressivo, geralmente de leve intensidade. Eventualmente, grandes derrames pericárdicos podem comprimir estruturas anatômicas adjacentes, como o esôfago, os brônquios, o parênquima pulmonar, o nervo frênico ou o nervo laríngeo recorrente, levando a sintomas como disfagia, tosse, seca, dispneia, soluços e rouquidão. No rx, o aumento da área cardíaca por derrame pericárdico é difícil de ser diferenciado da cardiomegalia. Algumas pistas para o diagnostico são o aspecto globular do contorno cardíaco - o coração em moringa. ____________________________________________ 4) TAMPONAMENTO CARDÍACO O saco pericárdico contém uma pequena quantidade de liquido que envolve o coração. Quando uma quantidade significativa de líquido se acumula e ultrapassa a capacidade de distensão do tecido fibroelástico pericárdico, ocorre progressiva compressão de todas as câmaras cárdicas decorrente do aumento da pressão intrapericárdica, redução do volume de enchimento cardíaco e maior interdependência ventricular. O tamponamento cardíaco é a condição na qual o débito cardíaco está significativamente reduzido devido ao enchimento ventricular prejudicado pelas altas pressões intrapericárdicas. O tamponamento cardíaco é provável quando ocorre um rápido acúmulo de líquido pericárdico, principalmente se o líquido for denso. Isso é muito comum quando o líquido é sanguinolento ou purulento. Contudo, o tamponamento pode ocorrer com qualquer tipo de derrame pericárdico. Uma consequência importante desse processo é o aumento progressivo das pressões de enchimento ventricular e atriais leva à síndrome congestiva aguda, RENATA LIMA – MEDICINA – 7º SEMESTRE – TUTORIA com congestão pulmonar e sistêmica, esta última caracterizada principalmente por uma turgência jugular patológica; As primeiras manifestações de um paciente com tamponamento cardíaco normalmente são taquipneia, dispneia e ortopneia. Os dois principais achados ao exame físico são a turgência jugular patológica (normalmente sem o “descenso y”) e o pulso paradoxal (redução da PA sistólica em mais de 10 mmHg e/ou a redução detectável da amplitude do pulso arterial, durante a inspiração). A tríade de Beck, composta por hipotensão arterial + bulhas hipofonéticas + turgência jugular patológica, sinaliza a forma grave de tamponamento, com risco iminente de vida. A principal causa de tamponamento grave é o hemopericárdio traumático, iatrogênico ou por dissecção aórtica. ____________________________________________ 5) PERICARDITE CONSTRITIVA É um tipo de pericardiopatia na qual o pericárdio está endurecido e exerce um efeito limitante ao enchimento ventricular diastólico, desencadeando uma síndrome congestiva. O pericárdio vai ficando progressivamente mais rígido e espesso, formando uma verdadeira “carapaça” em volta do coração. Os dois pericárdios (parietal e visceral) se fundem, obliterando o espaço pericárdico. O quadro clínico costuma manifestar-se com uma síndrome congestiva sistêmica, predominando a turgência jugular patológica, a hepatomegalia congestiva, a ascite e o edema de membros inferiores e da genitália. ____________________________________________ 6) PERICARDITE RECORRENTE É a complicação mais comum da pericardite aguda. Em 20-30% dos casos, semanas ou meses após o primeiro episódio, o paciente apresenta uma recorrência dos sintomas (dor pericárdica), algumas vezes, de forte intensidade. O tratamento, a princípio, pode ser o mesmo do primeiro episódio, dando preferência para os AINEs, em associação ou não com corticoides ou colchicina. Em casos de dor intratável, podemos recorrer à pericardiectomia, eficaz em uma minoria de pacientes, apenas. A colchicina, na dose de 1 mg/dia, pode ser utilizada na profilaxia de recorrências por até dois anos. ____________________________________________ DIAGNÓSTICO ELETROCARDIOGRAMA A inflamação do pericárdio gera concomitantemente comprometimento do miocárdio superficial ou epicárdio, sendo a responsável pelas alterações típicas da pericardite aguda com corrente de lesão subepicárdica e inscrição de desnivelamento para cima do segmento ST-T. Como o pericárdio envolve todo o coração, espera-se que estas alterações sejam registradas em todas as derivações do eletrocardiograma de doze derivações. As inflamações agudas do pericárdio podem apresentar alterações eletrocardiográficas características em até 80% dos pacientes, embora existam casos em que não se observam alterações eletrocardiográficas ou nos quais essas alterações são inespecíficas. Nos casos típicos de pericardite, as alterações são divididas em quatro estágios: ➢ Estágio 1: apresenta elevação difusa do segmento ST-T com concavidade para cima (indicativo de lesão ventricular) e ondas T positivas. Os intervalos PR ou PQ podem estar infradesnivelados (indicativo de lesão atrial). Essas alterações podem durar por até duas semanas após o início dos sintomas. As alterações do segmento ST-T observadas neste estágio podem ser confundidas com as alterações eletrocardiográficas da fase aguda da síndrome coronária e com o padrão de repolarização ventricular precoce. RENATA LIMA – MEDICINA – 7º SEMESTRE – TUTORIA ➢ Estágio 2: apresenta normalização do segmento STT com retorno à linha de base. Essas alterações podem ocorrer de horas até alguns dias após o início dos sintomas. ➢ Estágio 3: ocorre entre a segunda e a terceira semanas após o início dos sintomas e pode durar por várias semanas. Apresenta inversão da onda T que pode voltar ao normal em alguns dias. Esse achado não deve ser interpretado como persistência da doença. ➢ Estágio 4: apresenta normalização do eletrocardiograma. Este estágio pode evidenciar-se até três meses após o início dos sintomas. Alterações eletrocardiográficas ocorrem em 90% dos pacientes portadores de pericardite aguda e ocasionalmentepodem tornar difícil o diagnóstico diferencial entre a pericardite aguda, a síndrome coronária aguda e o padrão de repolarização ventricular precoce. O supradesnivelamento do segmento ST-T típico do estágio 1 da pericardite aguda apresenta concavidade superior, enquanto na síndrome coronária aguda com supradesnivelamento do segmento ST-T a concavidade está voltada para baixo. A inversão da onda T vista no estágio 2 ocorre depois de o segmento ST-T retornar à linha de base, enquanto na síndrome coronária aguda com supradesnivelamento do segmento ST-T freqüentemente acompanha a elevação do ST. Na pericardite aguda, não ocorrem perda de voltagem da onda R nem aparecimento de onda Q de fibrose. A diferenciação com repolarização ventricular precoce (desvio do segmento ST-T variante da normalidade) pode ser muito difícil. Os critérios eletrocardiográficos considerados para o diagnóstico da doença são: • Ausência de alterações do intervalo PR. • Presença de desnivelamento do segmento ST- T apenas nas derivações precordiais. • A razão entre a amplitude do supradesnivelamento do segmento ST e a amplitude da onda T na derivação V6 acima de 0,24 confirma a presença de pericardite. A realização de eletrocardiogramas seriados pode facilitar o diagnóstico, muito embora somente 50% dos casos de pericardite aguda apresentem a sequência clássica de alterações eletrocardiográficas. Portanto, a observação clínica criteriosa associada à observação das alterações eletrocardiográficas podem permitir o diagnóstico da pericardite aguda. Normalmente, a pericardite aguda não está associada à ocorrência de distúrbio grave do ritmo cardíaco. A taquicardia sinusal é a alteração do ritmo cardíaco mais observada, embora raramente possa ocorrer taquicardia paroxística supraventricular, flutter atrial e fibrilação atrial. ____________________________________________ RADIOGRAFIA DO TÓRAX Nos pacientes portadores de pericardite aguda seca ou com derrame pericárdico discreto a moderado, a silhueta cardíaca na radiografia de tórax em ântero- posterior será normal. Um aumento da silhueta cardíaca aparece quando o volume de líquido no saco pericárdico é superior a 250 ml. Na pericardite aguda, a visualização de derrame pleural, particularmente em hemitórax esquerdo, é comum. ____________________________________________ ECOCARDIOGRAMA DOPPLER O ecocardiograma é o método diagnóstico mais utilizado para detecção de derrame pericárdico, porém limitado para volumes superiores a 15 ml. A presença de líquido pericárdico é identificada pelo aparecimento de espaço livre de ecos entre a parede anterior do ventrículo esquerdo e a parede torácica, e entre a parede posterior do ventrículo esquerdo e o pericárdio posterior, no corte paraesternal (eixo longitudinal). A soma dos espaços livres de ecos anterior e posterior durante a diástole define a presença de derrame pericárdico, além de possibilitar a quantificação do volume da efusão (discreto, moderado e severo). RENATA LIMA – MEDICINA – 7º SEMESTRE – TUTORIA O derrame pericárdico pode ser classificado como difuso (distribuição circunferencial) ou localizado (distribuição regional, ventrículo direito, ventrículo esquerdo, átrio direito, parede anterior, parede posterior, parede póstero-lateral). → Os derrames difusos são classificados em discretos (1 a 9 mm), moderados (10 a 19 mm) ou severos (> 20 mm), com base no cálculo da soma dos espaços pericárdicos livres de ecos das paredes anterior e posterior. → Já os derrames regionais são classificados em discretos (< 5 mm), moderados (5 a 9 mm) e severos (> 10 mm) de acordo com o tamanho do espaço pericárdico livre de ecos no segmento envolvido. ____________________________________________ ANÁLISE LABORATORIAL A análise hematológica completa do sangue com contagem de glóbulos vermelhos e brancos e determinação bioquímica deve ser realizada de rotina em todos os casos em que houver suspeita de pericardite aguda, sendo constatada a leucocitose na maioria dos casos. Da mesma forma, pode ocorrer elevação de marcadores de atividade inflamatória no plasma, como PCR e velocidade de hemossedimentação (VHS), e, dependendo da extensão da agressão subepicárdica, dos marcadores de necrose miocárdica, como a creatinofosfoquinase (CPK) e a fração MB da creatinofosfoquinase (CK-MB). Por outro lado, a presença de uréia aumentada no sangue pode direcionar o diagnóstico para pericardite urêmica. ____________________________________________ TRATAMENTO TRATAMENTO CLÍNICO Embora a maioria dos casos de pericardite aguda seja autolimitada, os sintomas podem persistir por semanas. O tratamento da pericardite aguda visa o alívio dos sintomas, a identificação do possível agente etiológico e a detecção de derrame pericárdico, que poderá levar ao tamponamento cardíaco. Nos casos de pericardite aguda viral ou idiopática, os pacientes devem ser orientados a manter repouso no leito enquanto durar a dor torácica e a febre. A maioria dos casos de pericardite aguda pode ser tratada ambulatorialmente, reservando-se a internação hospitalar para os casos que cursarem com febre alta, evolução subaguda, tamponamento cardíaco, grandes derrames pericárdicos, envolvimento miocárdico, imunodeprimidos e em pacientes em uso de anticoagulantes. MEDICAÇÃO: O uso de antiinflamatórios não-hormonais (AINH) é indicado para o alívio da dor, embora a utilização de corticosteróides possa ser necessária nos casos em que não houver alívio dos sintomas em até 48 horas. O efeito dos AINH decorre da inibição da síntese de prostaglandina I2 pelo pericárdio. O agente de primeira escolha é o ácido acetilsalicílico (AAS) na dose de 500 a 1.000 mg a cada seis horas, devendo ser mantido até a remissão da febre e da dor torácica. Com a diminuição dos sintomas, a dose de AAS deve ser progressivamente diminuída para 500 mg a cada oito horas por uma semana, e então para 250 mg a cada oito ou doze horas por duas semanas. Nos pacientes que não respondem ao AAS e naqueles que apresentam contra-indicações para o uso do fármaco, podem ser utilizados outros tipos de antiinflamatórios não-hormonais, como indometacina na dose de 75 a 225 mg/dia, ibuprofeno na dose de 1.600 a 3.200 mg/dia ou paracetamol na dose de 2 a 4 g/dia, isoladamente ou associados ao uso de AAS. Nos casos que cursam com dor torácica muito intensa, o uso de diclofenato é bastante efetivo. * Em todos os casos, é necessária a prevenção de efeitos colaterais no caso de AINH causar irritação da mucosa gástrica com potencial lesão grave da mucosa estomacal. O uso de protetores da mucosa gástrica está indicado em todos os casos (omeprazol, pantoprazol, lanzoprazol). O uso de corticosteróides deve ser evitado e seu uso deve ser restrito apenas às doenças de base que sabidamente necessitam do fármaco para o tratamento ou quando todas as tentativas de tratamento sem o fármaco falharam. Deve-se optar por baixas doses mantidas por curto período de tempo e prevenindo-se os possíveis efeitos colaterais. RENATA LIMA – MEDICINA – 7º SEMESTRE – TUTORIA Embora o tratamento com corticosteróides produza alívio rápido dos sintomas, seu uso está relacionado ao aparecimento de recidivas da doença. Portanto, deve ser restrito aos casos em que os sintomas da fase aguda permanecem por sete a dez dias mesmo em uso de AINH e sendo afastada a possibilidade de pericardite tuberculosa. O tratamento com corticosteróides deve ser limitado ao máximo de quatro semanas, a dose inicial indicada é de 40 a 60 mg de prednisona ou equivalente, podendo ser mantida enquanto durarem os sintomas e então gradualmente diminuída por até seis semanas. __________________________________________ TRATAMENTO CIRÚRGICOPericardiocentese: A pericardiocentese pode ser utilizada na vigência de tamponamento cardíaco, principalmente nas situações de urgência/emergência, pois pode ser realizada à beira do leito e com anestesia local. Após preparo habitual e anestesia tópica da junção costoxifóidea, insere-se uma agulha, em ângulo de 45º em relação ao plano sagital do paciente, voltada para a esquerda e em direção ao ângulo da escápula, e progride-se a agulha até a saída de líquido. No caso da aspiração de sangue, é importante lembrar que não deve ocorrer a formação de coágulos, devido à ausência de fibrina no sangue presente no saco pericárdico. Para maior segurança deste procedimento, temos recomendado que a punção seja orientada pelo ecocardiograma Doppler. Drenagem pericárdica: Habitualmente, a realização deste procedimento requer anestesia geral, mas este tipo de anestesia pode ser pouco tolerado por pacientes hemodinamicamente instáveis, requerendo pericardiocentese pré-operatória e/ou maior infusão de líquidos para manutenção da pressão arterial. Com o paciente posicionado e anestesiado, o pericárdio distendido é identificado após incisão subxifóidea, podendo-se fazer uma punção sob visão direta e, a seguir, a pericardiotomia. Ao término do procedimento, insere-se um dreno tubular conectado a um sistema em selo de água na porção anterior da cavidade pericárdica, que será mantido até que ocorra diminuição significativa do volume de drenagem. 3. EXPLICAR AS CONSEQUÊNCIAS DE UM DIAGNÓSTICO INCORRETO ACERCA DAS DORES TORÁCICAS AGUDAS E A IMPORTÂNCIA DE UM PROTOCOLO DE ATENDIMENTO A dor tóracica sugere o quadro de síndrome coronariana aguda (SCA), mas, depois de avaliação diagnóstica, somente 15% a 25% dos pacientes com dor torácica aguda de fato apresentam SCA. A maior dificuldade consiste na distinção entre os pacientes com SCA ou outras condições ameaçadoras à vida e aqueles com dor torácica de origem não cardiovascular, não ameaçadoras à vida. Considerando apenas a síndrome coronariana aguda (SCA), temos falhas diagnósticas em até 4% dos casos nos Estados Unidos. A mortalidade precoce dessa coorte chega a 25% e, quando sobrevivem, apresentam mais sequelas do que aqueles que não tiveram falha diagnóstica. O diagnóstico errado ocorre em aproximadamente 2% dos pacientes, o que pode levar a consequências significativas, como aumento da mortalidade em curto prazo em até duas vezes nos pacientes com infarto agudo do miocárdio (IAM) quando em comparação com a mortalidade esperada no momento da admissão para os pacientes internados com esse diagnóstico. Para os pacientes com baixo risco de complicações, entretanto, estas devem ser pesadas em relação a custos, desconforto da internação e riscos de complicações inerentes aos exames e procedimentos que têm baixa probabilidade de melhorar os desfechos clínicos. A busca de reparação judicial após erros diagnósticos ainda é uma realidade pouco comum em nosso país, mas provavelmente deve aumentar. Dessa forma, existe uma atitude bastante defensiva diante da suspeita de síndrome coronariana aguda, indicando internação para quase todos os pacientes, independentemente do risco. O resultado é o uso ou a indicação de recursos hospitalares para pacientes de baixo risco. Isso aumenta o custo, o uso de recursos e as internações sem gerar benefício para o paciente. Até a década de 1980, uma parcela considerável dos pacientes atendidos em unidades de emergência com queixa de dor torácica era internada em unidades coronárias por dois a três dias, devido à possibilidade de se tratar de uma síndrome coronária aguda (SCA), RENATA LIMA – MEDICINA – 7º SEMESTRE – TUTORIA permanecendo o paciente internado até que esse diagnóstico fosse estabelecido ou descartado. O custo médio de internações como essas variava de três a seis mil dólares por paciente; porém, menos de um terço dos casos tinha uma SCA como diagnóstico final, configurando um enorme, porém evitável, desperdício de recursos. Por outro lado, do total de pacientes liberados após a avaliação inicial, 2% a 5% encontravam-se em vigência de uma SCA não diagnosticada, ou viriam a desenvolver um evento isquêmico nas horas subsequentes ao atendimento, ou seja, deixaram de receber o diagnóstico e o tratamento corretos no momento apropriado, gerando assim grande número evitável de mortes e demais consequências clínicas relacionadas aos eventos isquêmicos. Gerou-se assim, ao longo das últimas duas décadas, grande pressão, de ordem sobretudo econômica, mas fundamentada em dados estatísticos consistentes, no sentido de se otimizar a estratificação de risco dos pacientes com dor torácica aguda, e, assim, reduzir custos com internações desnecessárias e, paralelamente, reduzir a taxa de altas indevidas. Em decorrência desta necessidade, aliada aos avanços do conhecimento médico e da tecnologia diagnóstica nesse período, foi possível o desenvolvimento de estratégias específicas voltadas para a avaliação desses pacientes, os chamados protocolos de dor torácica. Avanços recentes melhoraram a acurácia e a eficiência da avaliação de pacientes com dor torácica aguda, incluindo melhores marcadores séricos de lesão miocárdica, auxílio à estratificação dos pacientes de acordo com os riscos de complicação, teste ergométrico precoce, cintilografia para grupos de menor risco, tomografia computadorizada com múltiplos cortes para avaliação anatômica das artérias coronárias, embolia pulmonar (EP) e dissecção de aorta, além do uso de unidades de dor torácica e de abordagens padronizadas de atendimento para avaliação eficiente e rápida dos pacientes de baixo risco. RENATA LIMA – MEDICINA – 7º SEMESTRE – TUTORIA RENATA LIMA – MEDICINA – 7º SEMESTRE – TUTORIA
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