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Herpes simplex 1 📄 Herpes simplex O herpes simples é uma infecção viral que causa uma erupção cutânea formada por bolhas pequenas e dolorosas que se transformam em ulcerações. As ulcerações desaparecem, mas o vírus permanece no corpo pelo resto da vida. O vírus pode se reativar e causar mais ulcerações. As infecções causadas pelo Vírus Herpes Simples HSV são causadas por dois tipos, o HSV tipo 1 HSV1 e o HSV tipo 2 HSV2. O HSV1 é responsável principalmente pelo quadro de herpes oral, mas também pode desenvolver herpes genital e é transmitido através de secreções orais infectadas durante o contato próximo. Já o HSV2 causa mais frequentemente herpes vaginal e é transmitido através do contato sexual, sendo considerado uma Infecção Sexualmente Transmissível IST. Vale ressaltar ainda que a maioria dos casos de herpes genital recorrente é originada pelo HSV2. *Herpes labial no lábio inferior causada pelo vírus herpes simples tipo 1 HSV1 Herpes simplex 2 Epidemiologia de Herpes Vírus A infecção por HSV, independente do tipo, é endêmica em todo o mundo e ocorre igualmente entre ambos os sexos e sem variação sazonal. Segundo a OMS, 67% da população mundial está infectada com o HSV1. Estima-se que sua prevalência seja mais alta em países de baixa e média renda, podendo chegar até 90% em alguns países. Além disso a taxa de prevalência para pessoas em países de alta renda tem declinado No Brasil, a herpes não é uma doença de notificação compulsória, o que torna difícil sua estimativa fidedigna. Associado a isso, existe uma grande porcentagem da população que não manifesta sintomas da doença, o que contribui para a subnotificação. Posto isso, sabe-se que a soroprevalência no Brasil é heterogênea, variando de 47% em Fortaleza para 73,3% em Manaus com infecção pelo HSV1. Populações em risco para HSV-1 Adolescente sexualmente ativos, especialmente mulheres jovens e homens que fazem sexo com homens Atletas envolvidos em esporte de contato Neonatos, pois o risco de transmissão das secreções genitais maternas durante o parto é substancial se a mãe adquiriu o HSV1 genital durante a gestação ou se a reativação do HSV1 ocorrer no trato genital no momento do parto Classificação de herpes simples A infecção por Herpes pode ser classificada de acordo com sua infecção e manifestação de sintomas. � Primária – refere-se à infecção em um paciente sem anticorpos preexistentes para HSV1 ou HSV2. � Não primária – trata-se da aquisição de um tipo de Herpes vírus após a infecção prévia de outro tipo viral. Ex.: infecção por HSV1 genital em um paciente Herpes simplex 3 com anticorpos pré-existentes para HSV2 ou a aquisição de HSV2 genital em um paciente com anticorpos preexistentes para HSV1. � Recorrente A infecção recorrente relaciona-se à reativação do HSV do mesmo tipo que já existe anticorpos no soro. Cada classificação pode se manifestar com sintomas ou assintomáticos (também denominado subclínico). Neste último caso, sua identificação só ocorre se houver teste por cultura ou por PCR. Transmissão A transmissão do HSV1 ocorre quando uma pessoa sem anticorpos (ou seja, sem infecção prévia) entra em contato com lesões herpéticas, secreções mucosas ou pele que contém o HSV1. Essa transmissão normalmente é através de contato oral-oral, oral- genital ou genital-genital, assim como por *Infecção no recém-nascido por vírus do herpes simples Herpes simplex 4 soluções de continuidade da pele com secreções orais infectadas. O período de incubação viral dura, em média, 8 dias, podendo variar de 1 a 26 dias. A transmissão do HSV2, por sua vez, ocorre através da relação sexual. Vale ressaltar que essa transmissão ocorre no período de liberação viral, ainda que esteja num período subclínico (sem sintomas aparentes). Acredita-se que pessoas com infecção oral por HSV1 não sejam vulneráveis à reinfecção por HSV1 genital. Ademais, pessoas previamente infectadas por HSV1 podem se infectar com HSV2, entretanto, o contrário é incomum. Fisiopatologia A infecção por HSV inicia-se com a fase aguda, onde há intensa replicação viral no local de contato. O vírus, então, se liga a células epiteliais e adentram nesta célula. A partir disso, penetra na terminação nervosa sensorial e é transportado para os gânglios sensoriais por meio de transporte retrógrado. Como consequência disso, o HSV estabelece infecção latente ao longo da vida nos gânglios do trigêmeo ou sacral, dependendo de onde foi a infecção, e por isso pode ser frequentemente reativado na mucosa e na pele. A reativação ocorre através do transporte axonal anterógrado viral para as células epiteliais. Ao atingir o destino, o vírus se replica e pode ser transmitido de forma assintomática ou manifestar suas ulcerações clássicas. A reativação frequente em imunocomprometidos é explicada pela necessidade viral de uma imunidade celular intacta para que o microrganismo seja contido. Na sua ausência, as repetições se tornam mais comuns. Ademais, ainda que haja resposta imune competente, o HSV possui mecanismos de evasão imune, o que não permite sua erradicação do corpo. Herpes simplex 5 Quadro clínico de Herpes Simples As manifestações clínicas pela infecção herpética são variadas, podendo, em alguns casos, serem inexistentes. Outro ponto que deve ser considerado é se essa infecção é primária ou recorrente, pois isso influencia na intensidade da manifestação dos sintomas, sendo mais graves no primeiro caso. Vale ressaltar que esta infecção não tem cura, mas raramente é fatal e pode ser bem controlada. O HSV1 pode se apresentar através de infecções assintomáticas, de infecções orais, genitais, cutâneas, oculares e/ou manifestações mais graves. A manifestação mais frequente pelo HSV1 são as infecções orais. Nas infecções primárias, ocorrem com maior frequência a gengivoestomatite, que se apresenta comumente como lesões orais dolorosas, faringite e linfadenopatia local. Os sintomas sistêmicos podem incluir febre, mal-estar e dor de cabeça. *Bolhas (panarício herpético) nos dedos das mãos causadas pelo vírus herpes simples tipo 1 (HSV1. Herpes simplex 6 O herpes labial, por sua vez, é o sintoma mais frequente da reativação e se apresenta com dor local, pequeno edema, prurido e ardência em 24h antes do aparecimento das vesículas e bolhas características. Este último está relacionado a imunodeficiência, estresse e exposição solar. As lesões da infecção primária duram em média 12 dias. Período clínico de manifestação hérpetica recorrente em região peribucal e mucosa labial: As infecções genitais são mais frequentes no HSV2, mas podem ocorrer com o HSV1. Se apresentam com lesões eritemato-papulosas de um a três milímetros de diâmetro, que rapidamente evoluem para *Gengivoestomatite ou estomatite herpética Herpes simplex 7 vesículas sobre base eritematosa, muito dolorosas e de localização variável na região genital e linfadenopatia sensível. Podem ocorrer sintomas sistêmicos como febre, cefaléia e mialgia. Pode ocorrer reativação no primeiro ano após a primoinfecção, mas recorrência frequente é rara. Existe uma gama de manifestações associadas à infecção cutânea, dentre elas pegamento herpético, herpes gladiatorum, eritema multiforme, eczema herpético. Da mesma forma, as manifestações oculares por HSV1 podem se apresentar como ceratite, conjuntivite, coriorretinite. As manifestações graves, por sua vez, incluem manifestações neurológicas (encefalite, meningite), hepatite, acometimento das vias aéreas, entre outras. Queimaduras e outros distúrbios da pele Pacientes que interromperam a integridade da pele secundária a queimaduras graves ou distúrbios dermatológicos primários, como eczema e pênfigo vulgar, estão em risco de infecção grave pelo HSV. Deve-se suspeitar de HSV1 no local das queimaduras se as lesões parecerem descoloridas e ulceradas. A reativação*Lesões vesiculares em base eritematosa em pênis Herpes simplex 8 da infecção pelo HSV1 também pode levar à disseminação para o trato respiratório ou órgãos viscerais. A traqueobronquite necrosante após intubação em pacientes queimados foi descrita. Manifestações oculares ● Queratite - recorrente por HSV1 continua sendo uma das principais causas de cegueira da córnea em países de alta renda. A ceratite por HSV tem início agudo com sintomas de dor, desfoque visual e corrimento. O exame físico é notável para quemose, conjuntivite, diminuição da sensação da córnea e lesões dendríticas características da córnea ● Necrose retiniana aguda - ARN é uma doença retiniana rara, potencialmente ofuscante, resultante de infecção ocular por HSV ou vírus varicela zoster VZV. A ARN é caracterizada por diminuição da visão e foi relatada em hospedeiros imunocompetentes, mulheres grávidas e pacientes infectados pelo HIV. A ARN bilateral foi relatada em crianças. ● Conjuntivite e blefarite - O HSV1 pode se apresentar como conjuntivite unilateral e / ou blefarite com o desenvolvimento de vesículas na margem da tampa. Os sintomas associados incluem quemose, edema das pálpebras e lacrimejamento. ● Coriorretinite Também conhecida como uveíte posterior, é uma manifestação da infecção disseminada pelo HSV que pode ser vista em neonatos Manifestações neurológicas ● Encefalite O HSV1 causa casos esporádicos de encefalite com altas taxas de morbimortalidade. A síndrome clínica é frequentemente caracterizada pelo rápido início de febre, dor de cabeça, convulsões, sinais neurológicos focais e consciência prejudicada. Aproximadamente um terço dos casos ocorre em crianças e adolescentes, com outro pico entre os idosos, provavelmente refletindo infecção primária por HSV1 no primeiro e reativação no segundo. Foram identificadas várias deficiências genéticas raras nas vias de sinalização imunológica que resultam em encefalite por HSV1 recorrente em crianças. ● Paralisia de Bell - a reativação do HSV tornou-se aceita como causa da paralisia de Bell. Em um estudo, os genomas do HSV1 foram identificados no líquido endoneurial do nervo facial e no músculo auricular em 11 dos 14 pacientes submetidos à cirurgia de descompressão para paralisia de Bell, mas em nenhum dos controles. Herpes simplex 9 ● Meningite asséptica - a infecção por HSV pode ser associada a meningite asséptica no cenário da infecção genital primária por HSV, bem como uma forma de meningite asséptica recorrente benigna (meningite de Mollaret). No entanto, ambos são mais comuns com a infecção genital por HSV2 do que com infecção por HSV1. Outras manifestações ● Esofagite por HSV A esofagite por HSV pode se desenvolver em hospedeiros imunocompetentes e imunocomprometidos, embora pacientes imunocomprometidos apresentem um risco muito maior. A esofagite por HSV geralmente se apresenta com odinofagia, disfagia ou dor no peito retroesternal. Pode resultar da extensão direta da orofaringe ou da reativação e se espalhar pelo nervo vago para a mucosa. ● Infecções do trato respiratório As crianças podem desenvolver epiglotite ou laringite (garupa herpética) com tosse e estridor improdutivos. Na maioria dos pacientes, a doença é autolimitada, com duração de 10 a 14 dias sem complicações. Diagnóstico de Herpes Simples A abordagem do teste depende do local da doença (por exemplo, mucocutâneo, ocular, neurológico ou visceral). Os ensaios de reação em cadeia da polimerase surgiram como o método mais sensível para confirmar o diagnóstico. Os testes mais utilizados para diagnóstico de Herpes são a Reação de Cadeia da Polimerase PCR para HSV e a cultura viral. Já nos casos de doença ocular, o diagnóstico é clínico na Herpes simplex 10 maioria das vezes e requer experiência do oftalmologista para essa conclusão. Entretanto, a identificação do DNA viral através do teste de PCR do fluido intraocular é útil e sela esse diagnóstico. Tratamento de Herpes Simples Todos os pacientes que apresentarem um episódio de HSV devem ser tratados com terapia antiviral iniciada o mais rápido possível após o aparecimento da lesão e deve ser feita em até 72h. De modo geral, esse esquema terapêutico independe se trata-se de uma infecção primária ou não primária. Pode-se utilizar: Aciclovir 400 mg 3 vezes ao dia ou 200 mg 5 vezes ao dia; OU Famciclovir 250 mg 3 vezes ao dia ou 500 mg 2 vezes ao dia Valaciclovir 1g 2 vezes ao dia Essas medicações devem ser utilizadas por via oral, durante 7 a 10 dias. Em caso de persistência das lesões após conclusão da terapia em 10 dias, pode-se estender o curso por mais 5 a 7 dias. O Aciclovir IV deve ser reservado para o tratamento de infecções complicadas, como as manifestações neurológicas ou doença disseminada. Em alguns casos, como a manifestação de gengivoestomatite, pode ser necessária a administração tópica ou oral de analgésicos. Neste caso, pode-se utilizar bochechos de lidocaína viscosa ou benzocaína tópica para alívio da dor. Profilaxia de Herpes Simples Existe orientação para uso de protetor solar para aqueles que relatam reativação com a exposição solar. Não há recomendação para uso de terapia antiviral profilática com o propósito de prevenir as recorrências devido à luz solar. Em outros casos, como a reativação durante alguns procedimentos, como descompressão da raiz do nervo trigêmeo, dermoabrasão facial ou resurfacing a laser ablativo, a terapia oral profilática pode ser recomendada. Os anticorpos específicos do tipo para o HSV se desenvolvem durante as primeiras semanas após a infecção primária e persistem indefinidamente. No entanto, o teste sorológico tem um papel limitado no diagnóstico da infecção pelo HSV1, uma vez que pacientes com infecção aguda que são negativos ao anticorpo para o HSV podem ter evidências virológicas de infecção aguda. As Herpes simplex 11 sorologias podem ser mais úteis na determinação do prognóstico e da necessidade de prevenção. *Ceratite por herpes simples *Úlceras na boca em infecção por vírus do herpes simples Herpes simplex 12 Morgana Rodrigues Duarte- TXI
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