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Kethelen dos Santos Silva – DRE: 122151569 
 
Como a Sociologia Jurídica pode ajudar a superar vícios e hábitos prejudiciais na produção 
acadêmica de pós-graduação em Direito? 
O artigo intitulado “Não fale do Código de Hamurábi! Uma pesquisa sócio-jurídica na 
pós-graduação de Direito”, escrito por Luciano de Oliveira, professor na Universidade 
Estadual do Pernambuco, aborda a temática da Sociologia Jurídica direcionada principalmente 
a estudantes de pós-graduação. O texto apresenta uma visão pessoal embasada em 
experiências de vida, expressando convicções críticas e recomendações sobre o 
desenvolvimento de pesquisas na área do Direito por alunos de mestrado e doutorado 
(OLIVEIRA, Luciano, 2004, P.04). 
Inicialmente, o autor busca esclarecer a diferença entre pesquisa jurídica (Direito de 
dentro) e pesquisa sociológica (Direito de fora), com base em um trabalho anterior do próprio 
autor que discute o ensino de Sociologia Jurídica em instituições de Direito. Em seguida, são 
apontados problemas e vícios encontrados na produção acadêmica de pós-graduação, 
juntamente com um modelo de dissertação denominado “pesquisa sócio-
jurídica”(OLIVEIRA, Luciano, 2004, P.04). 
O autor reconhece que é uma tarefa desafiadora instruir juristas já formados, sem 
formação prévia nesse tipo de atividade, a realizar pesquisas em Sociologia Jurídica. Segundo 
suas vivências, Oliveira percebe que os pós-graduandos têm dificuldades em separar o campo 
jurídico do científico, resultando em textos “impuros” que afetam o desenvolvimento de suas 
pesquisas. Nesse sentido, o autor destaca hábitos prejudiciais à pesquisa acadêmica de pós-
graduação, como o manualismo, o reverencialismo, a falta de tempo e a ampliação exagerada 
do tema (OLIVEIRA, Luciano. 2004, P.04). 
O manualismo refere-se à redundância e ao uso excessivo de conteúdos semelhantes 
aos encontrados em manuais de Direito, enquanto o reverencialismo diz respeito ao uso 
exagerado de apelos retóricos e argumentos de autoridade, citando juristas e doutrinadores 
renomados. A falta de tempo decorre da maioria dos alunos já estarem inseridos no mercado 
de trabalho, resultando em comprometimento da qualidade final da dissertação. A ampliação 
exagerada do tema está relacionada à escolha de temas vastos que exigem mais tempo de 
pesquisa, muitas vezes utilizando o manualismo como fonte (OLIVEIRA, Luciano, 2004, 
P.04). 
O título do artigo deriva das críticas severas feitas pelo autor aos alunos que fazem 
contextualização histórica de suas pesquisas com base nos artigos presentes no Código de 
Hamurábi, tratando essa abordagem como uma confusão epistemológica e uma visão errônea 
do Direito Ocidental. Oliveira reflete sobre juristas que adotam tendências evolucionistas de 
forma ritualística, sem realizar pesquisas originais, mas sim compilando informações e 
autores diversos, retirados principalmente de manuais e livros de divulgação. Nesse contexto, 
faz reflexões sobre, e descreve: 
Assemelha ao cumprimento de um simples ritual, pelo fato dessas incursões históricas não 
serem o fruto de uma pesquisa original, mas, via de regra, uma compilacão de informacões e 
autores os mais diversos e variados – muitas vezes colocados lado a lado sem um fio que os 
costure -, hauridos mais uma vez em manuais ou livros de divulgação, e não em literatura 
especializada e específica. 
Ainda que uma perspectiva histórica de tipo evolucionista tendo o “europeocentrismo” como 
corolário. (OLIVEIRA, Luciano, 2004, p. 11-12) 
 Por fim, o autor propõe um modelo de pesquisa “sócio-jurídica” que envolve uma 
abordagem sociológica com base empírica, tendo o Direito como objeto de estudo. Esse modelo 
é recomendado para pós-graduandos e é fundamentado em pilares como trabalho individual e 
delimitação clara do tema/problema de pesquisa (OLIVEIRA, Luciano, 2004, P. 18). 
 
 
Qual é a importância da abordagem flexível na pesquisa de campo? Quais são os desafios e as 
imprecisões na pesquisa qualitativa? 
A abordagem da pesquisa de campo difere significativamente do método quantitativo 
típico. Os pesquisadores de campo adotam uma abordagem flexível, permitindo que suas 
investigações se desenvolvam ao longo do tempo, explorando fenômenos inesperados que 
surgem durante o processo. Em vez de planejar meticulosamente as técnicas de coleta de dados 
antecipadamente, eles desenvolvem ideias, teorias e hipóteses à medida que avançam, 
utilizando o conhecimento adquirido sobre as atividades e pessoas que estão estudando. A 
pesquisa de campo é frequentemente objeto de debates acalorados sobre métodos na pesquisa 
sociológica. Embora essa abordagem permita descobertas valiosas e insights profundos, 
também apresenta desafios, como a dificuldade de comparação entre grupos e a 
transferibilidade dos resultados para outros contextos. É importante enfatizar que os 
pesquisadores qualitativos devem evitar tirar conclusões sobre assuntos que não foram 
adequadamente investigados, tanto quantitativa quanto qualitativamente, nem no projeto inicial 
nem como resultado das descobertas feitas no campo (BECKER, Howard, 2022, p. 338-340). 
As imprecisões frequentes na pesquisa qualitativa surgem quando os pesquisadores 
tomam certas ideias como garantidas, sem questioná-las, mesmo que uma abordagem mais 
cética pudesse revelar sua falsidade. Em particular, os pesquisadores de campo tendem a 
negligenciar as mudanças contínuas nas comunidades, organizações e grupos que estão 
estudando. Somente quando eventos e observações inesperados contradizem suas suposições 
anteriores é que eles começam a considerar essas questões. Essa abordagem permite a revisão 
de ideias com base em novos dados, mas também pode levar a erros se as oportunidades não 
forem aproveitadas ou sua importância não for devidamente compreendida. Dois erros comuns 
são tratar a história como irrelevante, presumindo que a descrição atual reflete a realidade 
passada e futura, e negligenciar variáveis e condições que só se revelam em uma perspectiva 
temporal mais ampla. Essas descobertas inesperadas podem proporcionar insights valiosos, mas 
exigem a atenção e a reflexão cuidadosa por parte dos pesquisadores. 
Howard Becker diz, que é possível identificar casos em que cometeu erros e inventor conceitos 
com base em informações posteriormente consideradas erradas, mas que, apesar disso a ideia 
gerada ainda pode ser útil, embora as descobertas empíricas que a originaram tenham se 
revelado equivocadas (BECKER, Howard, 2022, p. 341-343) 
De acordo com Becker, tanto os sociólogos quanto o autor cometeram um equívoco ao 
atribuir as atividades proibicionistas dos governos a um puritanismo moralista, sem 
conhecimento das organizações e atividades por trás delas. François-Xavier Dudouet, ao 
estudar detalhadamente as organizações que regulavam o comércio de drogas ilícitas, revelou 
que seu interesse principal era controlar o mercado lícito dessas substâncias, especialmente na 
indústria farmacêutica. Os Estados Unidos, Grã-Bretanha e França, apoiados por representantes 
nos organismos internacionais, buscavam proteger seus monopólios e lucros financeiros. Essa 
descoberta questiona a visão anterior de que as políticas antidrogas eram motivadas 
principalmente por preconceitos morais, mostrando que a perpetuação de monopólios lucrativos 
era uma razão mais prática. Esse entendimento veio apenas anos depois, quando Dudouet 
corrigiu esse grave erro em sua pesquisa de doutorado, lançando luz sobre as verdadeiras 
motivações por trás das forças antidrogas (BECKER, Howard, 2022, p. 344-347). 
O autor chama a atenção para a negligência dos pesquisadores qualitativos em relação 
à dimensão temporal em suas pesquisas, assim como aconteceu com Faulkner. A falta de 
previsão das mudanças que ocorreriam no ambiente em que ele estudava e a falta de atenção 
aos sinais de transformação afetaram a precisão de suas descrições. Por outro lado,o estudo de 
Annette Lareau sobre a socialização infantil em diferentes contextos sociais é elogiado por seu 
compromisso sério e vigoroso em evitar os erros comuns em estudos baseados em 
questionários. Lareau e sua equipe dedicaram tempo considerável ao convívio com as famílias, 
observando e registrando detalhadamente as atividades das crianças. Ao afirmar que crianças 
de classes médias estão constantemente ocupadas com atividades programadas, Lareau tem 
embasamento numérico para apoiar suas afirmações. Apesar do tamanho da amostra limitado, 
a precisão e profundidade das observações de Lareau são destacadas como valiosas 
contribuições para compreender os padrões de criação de filhos nas diferentes classes sociais. 
O autor aborda duas preocupações em relação ao estudo de Lareau. A primeira 
preocupação se refere ao tamanho da amostra, uma vez que o estudo é baseado em apenas doze 
crianças. Essa limitação pode afetar a generalização dos resultados. No entanto, o autor 
argumenta que o objetivo de Lareau era explorar e descrever os mecanismos que caracterizam 
os estilos de criação nas diferentes classes sociais, não sendo necessário um censo abrangente. 
Dessa forma, a abordagem intensiva e detalhada de Lareau fornece informações valiosas e 
interpretações necessárias para compreender a dinâmica familiar. A segunda preocupação 
aborda a natureza mutável dos padrões de criação de filhos ao longo do tempo. O autor 
reconhece que as práticas observadas no estudo de Lareau podem mudar no futuro, assim como 
ocorreram no passado. No entanto, ele argumenta que, mesmo com mudanças nos estilos de 
criação, os padrões de privilégio baseados na classe social provavelmente persistirão. O autor 
utiliza suas próprias experiências de crescimento em uma família de classe média como 
evidência para ilustrar a variabilidade do status e da cultura das classes sociais (BECKER, 
Howard, 2022, p. 354-366) 
Um erro comum cometido pelos pesquisadores de campo é a tendência de generalizar 
suas ideias desenvolvidas com base em estudos intensivos em locais específicos e com 
indivíduos particulares, aplicando-as indiscriminadamente a grupos maiores que aparentemente 
possuem características semelhantes. Isso foi exemplificado pelo sociólogo William Foote 
Whyte em seu estudo sobre um bairro empobrecido de Boston, onde ele extrapolou suas 
descobertas para uma concepção genérica de organização social em áreas degradadas. Contudo, 
atualmente compreendemos que cada local com essas características possui traços distintivos, 
e, portanto, é arriscado presumir que generalizações se aplicam universalmente. Embora seja 
tentador realizar grandes generalizações, uma abordagem mais segura e produtiva é identificar 
as dimensões subjacentes que podem variar entre essas organizações aparentemente 
semelhantes. Everett C. Hughes ofereceu uma solução perspicaz a essa questão ao analisar a 
divisão étnica do trabalho em uma pequena cidade de Quebec, destacando as variáveis que 
podem estar em jogo em diferentes contextos, adaptando a descrição dos processos e 
subprocessos à medida que novos casos são estudados. Essa abordagem permite uma 
compreensão mais precisa, evitando generalizações excessivas e amplas (BECKER, Howard, 
2022. P. 366-369) 
É enfatizada a importância da correção de erros em estudos de pesquisa, apresentando 
duas sugestões para evitá-los: evitar repetir o mesmo equívoco e estar consciente das possíveis 
fontes de erro. Exemplos de erros em amostragem e formulação de perguntas são discutidos, 
destacando a necessidade de integração mais estreita entre as equipes de planejamento e 
execução para lidar com essas questões. Os pesquisadores de campo possuem a flexibilidade 
de ajustar seus métodos e coletar dados de forma adaptável, descobrindo novas questões e 
comportamentos ao longo do processo de pesquisa (BECKER, Howard, 2002, P 371-377) 
 
Referências Bibliograficas: 
1 OLIVEIRA, Luciano. Não fale do Código de Hamurábi! A pesquisa sócio-jurídica na pós-
graduação de Direito. In: Sua Excelência o Comissário e outros ensaios de sociologia 
jurídica. Rio de Janeiro: Letra Legal, 2004. 
2 BECKER, Howard S. Evidências: Sobre o bom uso de dados em Ciências Sociais. Rio de 
Janeiro: Zahar, 2022.

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